UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento,...

64
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A DEPRESSÃO E QUAL A IMPLICAÇÃO DA FAMÍLIA – DA PREVENÇÃO AO TRATAMENTO Por: Renata da Silva Gaspar Lucas Orientadora Prof. Fabiane Muniz Niterói 2012

Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento,...

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A DEPRESSÃO E QUAL A IMPLICAÇÃO DA FAMÍLIA – DA

PREVENÇÃO AO TRATAMENTO

Por: Renata da Silva Gaspar Lucas

Orientadora

Prof. Fabiane Muniz

Niterói

2012

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A DEPRESSÃO E QUAL A IMPLICAÇÃO DA FAMÍLIA – DA

PREVENÇÃO AO TRATAMENTO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Terapia de Família.

Por: Renata da Silva Gaspar Lucas

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me dado

forças para prosseguir nessa

caminhada.

A minha família que sempre me

apoiou nas minhas escolhas.

A Orientadora Fabiane Muniz pela

atenção e a todos os professores que

muito contribuíram para o meu

aprendizado.

Aos amigos que fiz durante o curso

Norma Mello, Elizangela Rodrigues,

que com certeza já fazem parte da

minha vida e em especial a Marcia

Lima por sua generosidade em

compartilhar comigo sua sabedoria.

Aos meus pacientes, pois sem eles

não seria possível à realização deste

trabalho.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

4

DEDICATÓRIA

... dedico a minha família que sempre me

apoiou e me incentivou para que eu

pudesse me aprimorar cada vez mais na

busca de conhecimentos. Sem vocês eu

nada seria.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

5

RESUMO

Este trabalho abrange o conceito da depressão, contendo dados de sua

etiologia e descrições clínicas. Serão, abordados, as classificações deste

transtorno como, distimia, ciclotimia, transtorno bipolar, depressão ansiosa,

depressão pós-parto.

Faremos uma trajetória do conceito que Freud deu sobre a melancolia

relacionando-a ao luto como afeto, com a diferença de que no luto a

perturbação da autoestima está ausente; como também sobre o ponto de vista

psicológico, que a depressão tem uma relação fundamental com as

experiências de perda. Passando por Lacan que diferentemente de Freud, que

nomeou o objeto como perdido, ele preferiu chamar de subtraído.

Quanto ao tratamento há uma exposição no que diz respeito à

farmacologia, apresentando os antidepressivos tricíclicos, ISRS – Inibidores

Seletivos de Recaptação da Serotonina, Inibidores Seletivos de Recaptação de

NA e SE, IMAO – Inibidores Seletivos da Mono Amino Oxidase,

Benzodiazepínicos (BDZ) e os moduladores do humor. E a importância das

psicoterapias, onde serão abordadas: psicoterapia Analítica, Psicoterapia

Breve, Psicoterapia Comportamental, Psicoterapia Familiar, Psicoterapia de

Apoio e a Psicoterapia em Grupo. A psicoterapia vai ajudar o paciente na

busca do seu autoconhecimento e na redescoberta de sua individualidade

reintegrando-o a sociedade. São tratamentos complementares e o quanto é

importante o paciente e a família procurar ajuda nestas duas áreas.

O trabalho vai mostrar também o quanto é importante à família para a

autoestima do paciente e qual o seu papel fundamental durante este processo.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

6

Este trabalho poderá servir de instrumento para suscitar futuras

pesquisas servindo de fio condutor no desenvolvimento e aprofundamento dos

conceitos aqui abordados.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

7

METODOLOGIA

O presente trabalho tem como objetivo, responder a questão: será que a

família está preparada para entender e aceitar a sua participação dentro desse

distúrbio?

Minhas fontes de levantamento de dados necessários para a elaboração

do trabalho serão: livros, artigos, sites, que abordem sobre a depressão,

priorizando os conceitos da Psicologia, Psicanálise, Neurociência, Psiquiatria.

Os principais autores e teóricos utilizados para a realização desta

pesquisa foram Freud, Françoise Dolto, Lacan, Paulo Delgalarrando, Paulo

Miguel Velasco, Haim Grunspun, Sofia Bauer, entre outros.

Palavras chave: Depressão, Afeto, Autoestima, Prevenção, Tratamento,

Família.

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - ENTENDENDO O QUE É A DEPRESSÃO 11

CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO 32

CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA 42

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59

ÍNDICE 63

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

9

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância de conhecer e

entender melhor sobre a depressão, seus sintomas, causas e tratamentos

como também demostrar o papel fundamental da família, da prevenção ao

tratamento de um de seus membros, sobre esse mal que tem afligido cada vez

mais a população.

As síndromes depressivas são atualmente reconhecidas como um

problema prioritário de saúde pública. Segundo a organização mundial de

saúde (OMS), a depressão afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo

todo, sendo considerada a primeira causa de incapacidade entre os problemas

de saúde.

A depressão vem se destacando como a principal doença do século

atual, a ponto de ser considerada pela ciência hoje como a quarta doença mais

frequente, podendo ser a segunda ou a primeira na próxima década.

O indivíduo que sofre desse transtorno é vítima muitas vezes de

preconceito, e por incrível que pareça esse preconceito vem primeiro por parte

da família, que por não entender o que se passa com o seu familiar e não

saber o que é a depressão acaba por fazer julgamentos errôneos, contribuindo

ainda mais para a baixa autoestima do paciente, que é uma das características

principais do portador dessa patologia, como também o sentimento de culpa,

por às vezes saber o motivo de sua depressão mais não saber como sair da

mesma.

O presente trabalho consta de três capítulos. O primeiro busca definir e

explicar o conceito de depressão e suas formas existentes. No segundo

capítulo mostraremos a importância do tratamento, destacando a psiquiatria

com a parte medicamentosa e as psicoterapias existentes para melhor ajudar o

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

10

paciente e a família neste processo. E no terceiro capítulo, abordaremos a

autoestima e o que a família tem haver com isso, qual a influencia dela sobre o

familiar como causada e como causadora da depressão, qual é o seu papel

diante e durante esse transtorno, chamando a atenção para o risco de suicídio

fazendo um alerta como a família pode ajudar e ser ajudada.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

11

CAPÍTULO I

ENTENDENDO O QUE É A DEPRESSÃO

“Podemos facilmente perdoar uma criança que

tem medo do escuro; a real tragédia da vida é

quando os homens tem medo da luz.” (Platão).

A depressão do ponto de vista psicopatológico tem como elemento

central o humor triste. Entretanto, ela se caracteriza por uma multiplicidade de

sintomas instintivos, cognitivos, neurovegetativos, relativos à autovaloração, a

psicomotricidade e por sintomas afetivos.

O termo afetividade é genérico, compreendendo várias modalidades de

vivências afetivas como o humor, as emoções e os sentimentos. É a

afetividade quem dá valor e representa a nossa realidade. Sem afetividade a

vida mental se torna vazia, sem sabor, “a fronteira entre a percepção e a

afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma

fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando, 2000, pg.100).

O termo afeto é usado também para designar, qualquer estado de

humor, sentimento ou emoção.

Assim sendo, a depressão é um transtorno afetivo (ou do humor),

caracterizada por uma alteração psíquica e orgânica global, com consequentes

alterações na maneira de valorizar a vida.

Como a depressão é uma doença afetiva, abordaremos primeiramente o

afeto para que possamos melhor compreende-la.

1.1- O Afeto

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

12

O afeto é a parte de nosso psiquismo responsável pela maneira de sentir

e perceber a realidade. A afetividade é então, a parte psíquica responsável

pelo significado sentimental de tudo aquilo que vivemos. Se as coisas que

vivenciamos estão sendo agradáveis, prazerosas, angustiantes, causam medo

ou pânico, todos esses valores são atribuídos pela nossa afetividade. Será

através de nosso afeto que o mundo, no qual vivemos, chega até nossa

consciência com o significado emocional que tem para nós.

“Um afeto inclui, em primeiro lugar, determinadas inervações

ou descargas motoras e, em segundo lugar, certos

sentimentos; estes são de dois tipos: percepções das ações

motoras que ocorreram e sensações diretas de prazer e

desprazer que, conforme dizemos, dão ao afeto seu traço

predominante. Não penso, todavia, que com essa enumeração

tenhamos chegado à essência de um afeto. Parecemos ver em

maior profundidade no caso de alguns afetos e reconhecer que

o cerne que reúne a combinação que descrevemos é a

repetição de alguma experiência significativa determinada.”

(Freud, Vol.XVI pg. 396)

A afetividade funciona como as lentes dos óculos através das quais

enxergamos emocionalmente nossa realidade. Através dessas lentes podemos

perceber nossa realidade com maior clareza ou não, com mais colorido ou não,

com mais esperança ou não e assim por diante. Existem alguns estados em

que a pessoa enxerga sua realidade como se estivesse usando óculos

escuros, ou seja, tudo é percebida de maneira cinzenta, escura e nublada.

Outros percebem a realidade como se estivessem usando óculos cor-de-rosa,

onde tudo parece mais exuberante. Alguns veem o mundo através de uma

lupa, onde as questões adquirem dimensões maiores.

Tendo em vista o fato, da afetividade, ser diferente entre as pessoas

alguns sofrerão mais que outros diante de um mesmo problema. Devido a essa

sensibilidade pessoal diferente para com a realidade, cada um de nós reagirá a

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

13

essa realidade também de maneira muito pessoal. Aqueles que se sentem

ameaçados reagem de uma forma, aqueles que se percebem inseguros de

outra, os tímidos, os expansivos e por aí a fora, cada um reagindo à vida de

maneira própria e pessoal.

“Além disso, deve-se recordar que nas experiências que

conduzem a uma neurose traumática o escudo protetor contra

os estímulos externos é desfeito e quantidades excessivas de

excitação incidem sobre o aparelho mental, de forma que

temos aqui uma segunda possibilidade — a de que a

ansiedade está não apenas emitindo sinais como um afeto,

mas também sendo recriada a partir das condições

econômicas da situação.” (Freud, Vol. XX pg.129).

Deve ficar claro que a afetividade não pode ser simplesmente submetida

à influência da vontade, portanto, ninguém deseja ter um afeto depressivo,

assim como, também, dificilmente alguém conseguirá melhorar seu estado

afetivo simplesmente porque um amigo ou pessoa de sua intimidade lhe dê

bons conselhos e palavras de otimismo.

A afetividade pode ser melhorada e adequada mediante dois

procedimentos: com a utilização de medicamentos que atuam nos

neurotransmissores e nos neuroreceptores cerebrais e, através de práticas

psicoterápicas.

Devido ao afeto depressivo e negativo, as sensações físicas corriqueiras

e habituais em qualquer pessoa são valorizadas pessimistamente nos

deprimidos. Uma simples tontura, por exemplo, apesar de ser um

acontecimento perfeitamente trivial na vida de qualquer pessoa, é percebida

como algo mais sério pelo deprimido, como uma ameaça de desmaio ou coisa

assim. Por causa do afeto depressivo as pessoas passam a observar com

certo exagero para o funcionamento de seus organismos. Ora verificando o

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

14

ritmo intestinal, ora prestando muita atenção às sensações vagas, as

indisposições, palpitações e assim por diante.

1.2- A Depressão

Estamos vivendo a democratização da tristeza em sua dimensão mais

aguda. Não é mais uma forma de se situar no mundo, porém uma

característica do homem da atualidade. Globaliza-se um estado d’alma.

A depressão é uma das grandes doenças do século, tem sido

denominada como, “o grande mal do século”.

Segundo Paulo (2005), a depressão é um conceito amplo que se

estende da psiquiatria a psicanálise e suas inúmeras correntes e as definições

variam de acordo com o enfoque teórico utilizado.

De acordo com Peres (2006) a psicanálise privilegia o termo melancolia

e confronta-nos com a dificuldade, ou mesmo a impossibilidade de clareza

diagnóstica. Por isso, é colocada do lado ou das psicoses ou das neuroses.

Freud apresenta uma nova maneira de pensar e designá-la como “Neurose

Narcísica”, categoria que pode franquear os limites rígidos entre a neurose e a

psicose.

A autora nos diz que hoje a melancolia cede terreno à depressão, que

implica diminuição, redução e decréscimo. A psiquiatria introduz o uso dessa

palavra que melhor se aplica a um estado de doença do que a romântica

melancolia. Mas o que define de fato, essa forma de mascarar a tristeza?

Como transformar em doença a dor de existir?

Segundo Paulo (2005) as definições da depressão que se encontram

nos trabalhos de psiquiatria se baseiam no DSM- IV (AMERCAN

PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994) e no CID – 10 (Organização Mundial de

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

15

Saúde, 1996) onde se descreve os sintomas expressos e observados no

paciente, dá presença de um padrão de sintomas com duração e curso, que

descreve esse quadro clínico.

A depressão é uma doença tipicamente traçada por mudanças no

comportamento, no ânimo, no pensamento, compromete o físico, e

principalmente, nos estados de humor dos indivíduos portadores da doença.

Interage no metabolismo orgânico, provocando distúrbios diversos,

afetando com mais seriedade a região neurocerebral, podendo causar com o

tempo, distúrbios psíquicos e doenças psicossomáticas de variados níveis.

A depressão altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a

realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o

prazer com a vida. Afetando a maneira como a pessoa se alimenta e dorme,

como se sente em relação a si próprio, e como pensa sobre as coisas.

“Esse quadro de um delírio de inferioridade (principalmente

moral) é completado pela insônia e pela recusa de se

alimentar, e – o que é psicologicamente notável – por uma

superação do instinto que compele todo ser vivo a se apegar à

vida.” (Freud, vol.XIV pg.252).

A depressão é uma doença afetiva ou do humor, não é simplesmente

estar na “fossa” ou com “baixo astral”, os sentimentos de tristeza predominam

mais que os outros sintomas decorrentes da depressão, e nem sempre, tem

um motivo especial. Não é sinal de fraqueza, de falta de pensamentos positivos

ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou

com esforço. Os não depressivos sabem lidar com seus problemas seja de que

natureza for, sem que isso atrapalhe os seus propósitos de vida. As pessoas

com doença depressiva não podem, simplesmente, melhorar por conta própria

e através de pensamentos positivos, conhecendo pessoas novas, viajando,

passeando ou tirando férias. Sem tratamento, os sintomas podem durar

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

16

semanas, meses ou anos. A pessoa deprimida sabe e tem consciência das

coisas boas da vida, sabe que tudo poderia ser bem pior, pode até saber que

os motivos para seu estado sentimental não são tão importantes assim,

entretanto, apesar de saber isso tudo e de não desejar estar dessa forma,

continua muito deprimido.

Segundo Velasco (2009), estudos mostram que o desencadeamento das

crises depressivas é em virtude dos múltiplos fatores, variando de pessoa para

pessoa, dependendo de maior ou menor tendência à doença em pauta.

O autor destaca que existe uma tendência de predisposição hereditária

como fator desencadeante das crises depressivas. As pessoas tendem a se

deprimir com facilidade, até mesmo sem motivos agravantes, um exemplo, uma

pessoa que fica desempregada, o que não quer dizer que todas as pessoas

que ficarem desempregadas terão depressão, mas aquelas com predisposição

estarão mais sensíveis ao desencadeamento do distúrbio depressivo.

O autor ainda alerta para o fato de que todas as pessoas podem

desenvolver a doença. A depressão não escolhe uma pessoa para atuar.

Podendo acontecer com pessoas de qualquer idade, classes e raças

diferenciadas, independente do sexo. No entanto, a maioria das pessoas que

sofrem com depressão são aquelas que não procuram ajuda e nem tratamento

adequado, acarretando conseqüências graves, da incapacitação total até o

suicídio.

Qualquer pessoa com maior senso de observação poderá notar quando

um indivíduo está triste e quando essa tristeza persevera por longo tempo.

É preciso constatar se a pessoa se sente melancólica na maior parte dos

dias, sem querer demonstrar sequer, nenhum momento de reação. A

inatividade é um dos destaques no comportamento do depressivo. O

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

17

depressivo despreza-se como ser humano, considera-se um “zero à esquerda”

no convívio social e familiar, sente-se culpado injustificavelmente.

“O paciente representa seu ego para nós como sendo

desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e

moralmente desprezível; ele se repreende e se envilece,

esperando ser expulso e punido. Degrada-se perante a todos,

e sente comiseração por seus próprios parentes por estarem

ligados a uma pessoa tão desprezível.” (Freud, idem).

A falta de esperança toma conta dele, deixando-o incapaz e sem

vontade de viver, podendo levar a pessoa depressiva ao suicídio.

De acordo com Freud (1917[1915]), ele afirma que na melancolia pode

haver uma perda de objeto, claramente constatada, como no caso de alguém

querido, mas, também pode ocorrer uma perda de objeto, só ao nível do ideal;

há ainda, diz Freud, a perda de objeto que nem o sujeito sabe dizer qual é. E

conclui: “Isso sugeriria que a melancolia está de alguma forma relacionada a

uma perda objetal retirada da consciência”. (Freud, Vol.XIV pg. 251).

Segundo Ferrari (apud Lacan 2006), no melancólico, como o objeto a

enquanto subtração de gozo (o que faz o dinamismo da libido) enquanto causa

de desejo está fora do jogo, o que fica é a pura perda e a sombra da morte que

cai sobre o sujeito que passa ao ato suicida, joga-se pela janela, isola-se na

indiferença, no desapego, na abulia, no silêncio, na catatonia, na vivência de

perda, de culpa, na dor de existir.

De acordo com Ferrari (2006), Lacan conclui que a perda e culpabilidade

andam juntas na melancolia e levam o sujeito à construção delirante de sua

indignidade moral, a que ele chamou de dor de existir em estado puro, ou seja,

o sujeito que não é culpado pela perda se responsabiliza por ela e se sente

culpado e indigno. Essa culpa enfatiza Lacan, não é relativa à insuficiência do

gozo, mas ao injustificado da vida, do gozo da vida.

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

18

1.2.1- Os Sintomas da Depressão

O DSM-IV e o CID-10 descrevem os principais sintomas de depressão

como:

Rebaixamento do humor ou humor depressivo a maior parte do dia;

redução da energia e da atividade; diminuição do interesse ou prazer nas

atividades (anedonia); rebaixamento da capacidade de concentração;

irritabilidade; fadiga acentuada, mesmo após um mínimo esforço; significativa

perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia quase todos os dias, ou

despertar matinal precoce, várias horas antes do habitual; agitação ou retardo

psicomotor; desinteresse por atividades laborativas; redução ou perda da libido;

diminuição da autoestima e autoconfiança; sentimento de desesperança;

sentimento de menos valia ou culpa imprópria; sentimento de indignidade;

choro constante ou dificuldade de chorar; diminuição da habilidade para pensar

e tomar decisões; pensamentos recorrentes de morte; ideias suicidas ou

tentativas suicidas.

A depressão pode se manifestar como Depressão Típica ou Depressão

Atípica.

A Depressão Atípica é a maneira disfarçada da depressão se

apresentar. Acontece em pessoas que não se permitem a sentimentos sem

motivos e, apesar de já terem freqüentado vários consultórios médicos com

queixas diversas, continuam achando que a medicina ainda não descobriu a

causa de seus problemas.

A Depressão Típica se manifesta com todos os sintomas emocionais e

típicos. A depressão pode ser entendida como um estado afetivo rebaixado.

Porém, o que mais se constata neste tipo de depressão é um cansaço ou

inibição das atividades físicas e psíquicas como se ocorresse uma perda de

energia geral. Para pessoas deprimidas todas as atividades parecem mais

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

19

cansativas e tediosas. Havendo inclusive um comprometimento para as

atividades que deveriam dar prazer.

A Depressão Típica se apresenta através de sintomas afetivos. Podendo

haver angústia, acompanhada ou não de ansiedade, tristeza, desânimo, apatia,

desinteresse e irritabilidade. Não sendo obrigatória a presença de todos esses

sintomas ao mesmo tempo.

Na parte intelectual, o pensamento torna-se lento e trabalhoso. Havendo

diminuição da memória, dificuldade para resolver problemas antes

considerados fáceis e tendência a pensamentos negativos ou pessimistas.

Surgindo assim, insegurança e autoestima diminuída.

Na parte física, pode aparecer indisposição geral, apatia, sensação de

peso ou pressão na cabeça, zonzeira e queixa de “bolo na garganta”. É comum

também impotência sexual ou frigidez, devido ao desinteresse ou mesmo falta

de energia para o sexo. Todo o organismo é prejudicado, podendo haver até

maior tendência à infecções viróticas ou bacterianas (herpes, resfriados, etc.).

Outros problemas físicos que já existiam podem piorar na depressão,

como, gastrite, diarréia, intestino preso, diabetes, hipertensão arterial,

enxaquecas, labirintites e outros. Aparecem queixas físicas vagas, como, falta

de ar, dores incaracterísticas, crises de sudorese, tremores etc. Esses

sintomas físicos, apesar de serem comuns nas Depressões Atípicas, também

aparecem nas Depressões Típicas.

De acordo com Ballone (2005), a depressão proporciona ao paciente um

estado que pode ser chamado de Inibição Psíquica Global, uma espécie de

lentificação de todos os processos mentais, como uma preguiça cerebral geral.

Essa baixa performance psíquica resulta em dificuldades para resolução dos

afazeres do cotidiano e para tomar decisões. Para a pessoa deprimida tudo

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

20

parece mais difícil como se não houvesse energia suficiente comprometendo

até a vontade.

A perda do interesse do deprimido típico é um sintoma marcante. Em um

estado normal a pessoa está constantemente ligada aos acontecimentos da

vida em geral, já a pessoa deprimida não quer saber nem daquilo que antes a

interessava.

Na Depressão Atípica a pessoa não se percebe deprimida e sem a

maioria das queixas contidas na Depressão Típica. Algumas pessoas

acreditam que para ter a depressão precisa-se ter um motivo de vida

existencial. Quando esse motivo justo não existe acham impossível manifestar

um sentimento depressivo. Acreditam que se estivessem deprimidas sem

motivo, seriam considerados emocionalmente descontrolados.

Por uma questão biológica e natural, as emoções não obedecem à razão

e, apesar de sabermos racionalmente não haver motivos suficientes para

depressão, esta alteração afetiva acaba aparecendo mascaradamente e com

sintomas diferentes da Depressão Típica. Sintomas estes que representam um

sinal de alerta sobre uma falência psíquica ou esgotamento. Portanto, as

alterações do humor aparecem independentemente de nosso eventual

controle.

Segundo Ballone (2005), estima-se que até 40% dos portadores de

depressão tem, como manifestação principal, a ansiedade. Porém, como a

ansiedade apresenta um quadro mais exuberante que o sintoma depressivo, os

depressivos atípicos acabam se achando ansiosos e não depressivos. Esse

quadro de ansiedade é reconhecido como sendo um quadro de esgotamento.

As Depressões Atípicas podem ser divididas em dois grupos, um com

sintomas predominantemente físicos e outro com sintomas psíquicos.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

21

Sintomas de natureza física são quando aparecem em qualquer órgão;

quando são psíquicos se manifestam em determinadas emoções que

equivalem aos sentimentos depressivos. Os sintomas físicos ou psíquicos

serão predominantes em cada caso, porém a mesma pessoa pode apresentar

tanto um quanto o outro sintoma ao mesmo tempo. Acontecendo com maior

freqüência, a pessoa além da ansiedade, da fobia ou do pânico que são os

sintomas psíquicos, apresentar ainda palpitação, taquicardia, hipertensão que

são sintomas físicos e assim por diante.

1.2.2 – As Causas da Depressão

As causas da depressão, quanto à medicina, esta declara que a

provável explicação esta no desequilíbrio da bioquímica cerebral,

principalmente, nos controladores dos estados de humor.

De acordo com Bauer (2010), as pessoas que tem tendência à

depressão ou doenças correlatas tem deficiência de fabricação de serotonina.

Assim, o neurônio vizinho, que fabrica noradrenalina é acionado para substituir

o companheiro. Mas, infelizmente, o neurotransmissor secretado não será a

serotonina e, sim, a noradrenalina. Também foi comprovado pela ciência que

os antidepressivos interagem de forma satisfatória para a melhoria dos

pacientes. E são os antidepressivos que irão aumentar a baixa de serotonina

na fenda sináptica no cérebro.

O estresse físico e emocional também é apontado como fator

desencadeante, mas nem por isso, pode ser considerado responsável

diretamente pela depressão. O estresse se instala com facilidade em pessoas

que se encontram vulneráveis e predispostos emocionalmente,

desencadeando, assim, os episódios depressivos. A vida urbana é considerada

um fator de risco para desencadear a depressão. O desemprego como já foi

citado anteriormente, lembrando que como o exemplo acima, pode ser um fator

de risco para desencadear a depressão e não criá-la.

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

22

Segundo Ballone (2007), a depressão frequentemente ocorre junto com

certas doenças orgânicas, como por exemplo, o derrame ou Acidente Vascular

Cerebral (AVC), doença cardíaca, esclerose múltipla, câncer, doença de

Parkinson, doença de Alzheimer e diabetes. Este tipo de depressão é chamado

de depressão co-ocorrente ou depressão comórbida e é importante que ela

seja tratada juntamente com a doença física, pois, observa-se com freqüência

a formação de um círculo vicioso: doença – depressão – demora para sarar –

depressão – piora da doença.

Doenças graves e deteriorantes também podem levar à depressão na

medida em que são dolorosas ou que oferecem perspectivas sombrias.

De acordo com Lima (2011) ela chama atenção para as alterações dos

hormônios, pois também podem predispor à depressão se os níveis de alguns

hormônios entrarem em desequilíbrio, como por exemplo, os hormônios

tireoidianos. Assim, o tratamento clínico-medicamentoso é feito com hormônios

tireoidianos (em particular o T4) e não com antidepressivos, pois necessita ser

tratado antes de qualquer intervenção psicoterapêutica.

Segundo Ballone (2007) um dos fatores preditores da depressão é a

própria biografia afetiva da pessoa, ou seja, quem já teve um quadro

depressivo tem maior probabilidade de desenvolver um segundo episódio.

O autor ainda nos diz que existem vários estados psicopatológicos com

componentes hereditários e/ou familiares. Quanto maior o número de

antecedentes deprimidos entre familiares, maior a probabilidade de

desenvolver uma depressão de natureza constitucional. Há uma significativa

porcentagem de filhos de pais deprimidos que desenvolve a doença, assim

como, os suicídios em membros da família a probabilidade dessa atitude se

repetir em descendentes.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

23

O autor alerta que alguns medicamentos, como os anti-hipertensivos,

antituberculosos, medicamentos para labirintite, podem causar depressão.

Assim, como o álcool e algumas drogas ilegais podem piorá-la. Não é

recomendável que os deprimidos façam uso dessas substâncias.

1.3- As Classificações da Depressão

1.3.1 – Classificação dos Transtornos do Humor

De acordo com o DSM-IV e a CID-10 entre os transtornos mentais e de

comportamento encontram-se os transtornos de humor, nos quais a principal

alteração refere-se ao estado de humor ou do afeto para depressão com ou

sem ansiedade associada. Entre os transtornos de humor estão às desordens

depressivas que podem ser ainda diagnosticadas mais especificamente em

depressão maior, moderada, leve, episódio recorrente e distimia.

Como o objetivo deste trabalho não é se aprofundar no diagnóstico

psiquiátrico e sim na abordagem psicológica desses quadros será feito uma

síntese do que é relevante à compreensão da depressão.

Ø Depressão Melancólica ou Endógena = predominam os sintomas

endógenos, sendo uma depressão de natureza mais neurobiológica,

mais independente de fatores psicológicos. Os sintomas típicos são:

• Anedonia

• Hiporreatividade geral

• Tristeza vital

• Lentificação psicomotora

• Perda de apetite e do peso corporal

• Depressão pior pela manhã, melhorando ao longo do dia.

• Insônia terminal (indivíduo acorda de madrugada e não consegue

mais dormir)

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

24

• Diminuição da latência do sono REM (inversão da arquitetura do

sono)

• Ideação de culpa.

Ø Depressão Psicótica = é uma depressão grave, ocorrem um ou mais

sintomas psicóticos (além dos sintomas depressivos). Os sintomas

psicóticos podem ser congruentes (culpa, morte, doença, punição) ou

incongruentes (delírio de perseguição, inserção de pensamentos,

autorreferentes, etc.).

Ø Estupor Depressivo = é um estado grave, no qual o paciente

permanece dias em uma cama, em estado de catalepsia (imóvel,

geralmente rígido), com negativismo que se exprime pela ausência de

respostas às solicitações ambientais, via de regra em estado de

mutismo, recusando a alimentação, frequentemente urinando e

defecando no leito. O paciente nesse estado precisa ser internado, pois

pode vir a falecer por desidratação, pneumonia, etc.

Ø Depressão Secundária = é uma síndrome depressiva causada ou

associada a uma doença ou quadro clínico somático, primariamente

cerebral ou sistêmico. Doenças como hipo ou hipertireoidismo, doença

de Parkinson, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), apresentam com

muita freqüência um quadro depressivo.

Ø Distimia = significa “mau humor”. É uma depressão crônica, geralmente

de intensidade leve, mas muito duradoura, com sintomas permanecendo

intensos durante pelo menos dois anos para ser diagnosticada. É

caracterizada por sintomas depressivos leves, e prolongados. Os

pacientes com o transtorno são introspectivos e introvertidos, podendo

delinear quadros hipomaníacos, ou seja, tendências de humor

deprimido, chamada de Disforia Temperamental. Diferente da neurose

depressiva quando os pacientes exibem-se ansiosos, obsessivos e

propensos à agressividade.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

25

Os pacientes para serem considerados distímicos devem apresentar

pelo menos quatro dos sintomas a seguir:

• Insônia e hipersonia

• Baixa autoestima

• Déficit de concentração

• Dificuldades de tomar decisões

• Falta de esperança

• Perda do apetite e apetite em excesso.

É uma doença que afeta em maior número as mulheres. Estudos apontam

que as pessoas que tem a Distimia apresentam perda do prazer ou do

interesse, isolamento social e inadequação a lugares desconhecidos.

Ø Ciclotimia = é um distúrbio considerado como um leve gênero de

transtorno bipolar. A variação de humor que descreve quadros

hipomaníacos concomitantemente com episódios depressivos é a sua

característica.

Nas teorias de Emil Kraepelin e Kurt Schneider (Velasco apud Emil K. e

Kurt S., 2009), as fases ciclotímicas demonstram alterações de personalidade e

oscilações no estado psíquico. Emil Kraepelin subdividiu os transtornos de

personalidade em quatro etapas:

• Depressivo

• Maníaco

• Irritável

• Ciclotímico

Emil Kraepelin concluiu que a personalidade maníaca é o principal

transtorno desencadeante da ciclotimia.

O ciclotímico tem sensações de bem-estar o que faz com que ele evite

auxílio médico. Pacientes hipotímicos extravasam energia física e mental,

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

26

tornando seu estado de humor elevado. Porém, os graus de indícios negativos

são constantes descontroles emocionais, como a explosão de temperamento,

levando-o a depressão.

Ø Depressão Pós-Parto = é um distúrbio emocional que se inicia entre os

primeiros cinco dias após o nascimento do bebê, reduzindo-se pela

segunda semana de nascido, e aproximadamente, 50% das mulheres

apresentam esses distúrbios emocionais. Caracteriza-se por

sentimentos de tristeza e choros, com variações da sobrecarga

doméstica com os cuidados com o bebê, e às vezes sem motivo

justificável que explique esses sentimentos.

As manifestações emocionais e clínicas são as mesmas características das

outras depressões.

O quadro perseverante pode abranger outra forma de distúrbio como a

“Psicose Puerperal”, se apresentando em formas de alucinações e delírios,

persistindo desde os primeiros dias após o parto, até três meses depois,

podendo se arrastar por mais tempo.

Os sintomas da depressão pós-parto são:

• Irritação

• Tristeza permanente

• Alterações no apetite

• Choro incontrolável

• Insônia

• Desinteresse pelo bebê

• Medo de machucar o bebê

• Sentimento de culpa

• Variações drásticas do humor.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

27

Ø Depressão Agitada ou Ansiosa = depressão com forte componente de

ansiedade e inquietação psicomotora. O paciente se queixa de uma

angústia intensa associada aos sintomas depressivos, irritado, insone,

inquieto, andando de um lado para o outro e acaba por se desesperar.

Neste caso corre-se grande risco de suicídio.

Ø Transtorno Afetivo Bipolar = a depressão e a mania são apontadas

como transtornos afetivos, porém a patologia em questão é a do humor.

A mania é especificada como um comportamento de super excitação do

sistema psíquico, caracterizado pela elevação do humor e pelo aumento da

coordenação psicomotora.

No DSM-IV, os eventos maníacos devem apresentar, uma semana de

permanência no mínimo, ou pelo menos, três sintomas classificados na tabela

global.

O DSM-IV subdivide os transtornos bipolares em:

Transtorno Bipolar I = episódios depressivos leves a graves, intercalados com

fases de normalidade e de fases maníacas bem caracterizadas.

Transtorno Bipolar II = sua principal característica é a trajetória clínica com

acontecimentos de um ou mais quadros depressivos seguidos por, no mínimo,

uma passagem hipomaníaca, porém não confundido com dias de humor

equilibrado que acompanham a trajetória do evento depressivo maior. Podendo

ser coordenados com eventos ocorridos mais recentemente como, episódio

recentemente maníaco ou episódio recentemente depressivo.

Transtorno Bipolar III = é determinado pela influência de eventos depressivos

em pacientes com históricos familiares de mania. O destaque é a seriedade do

evento recente e a freqüência ou não da psicose.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

28

As causas do transtorno maníaco podem ser de origem hormonal,

neuroquímica ou genética.

1.3.2 – Classificação da Depressão Nas Fases Existenciais

Ø Depressão Infantil

A depressão na infância é comum quando as relações da vida afetiva

das crianças são acometidas por diversos fatores que desencadeiam a

depressão, como a separação dos pais, o falecimento de parentes próximos,

abandono dos pais e outros.

Segundo Velasco (2009), a depressão infantil é um transtorno do

comportamento e do desenvolvimento da criança, apresentando baixo

rendimento, dificultando sua mobilidade, tanto na sociedade, no lar, quanto na

escola. Com sintomas de perda ou aumento de apetite; insônia ou hipersonia;

fadiga; sentimento de inutilidade e culpa; falta de atenção e concentração; fobia

escolar; isolamento; tristeza; pensamento recorrente sobre morte; choro

freqüente; ansiedade; mal estar estomacal; cansaço matinal; dores abdominais

e etc., e que poucas vezes, são diagnosticados de forma correta.

Algumas crianças apresentam comportamento de rebeldia, irritabilidade

e agressividade.

“Esses sentimentos são considerados atípicos por

representarem simbolicamente uma “máscara” de seus

verdadeiros sentimentos, e esses quadros não são

reconhecidos com exatidão pelos pediatras, pais e familiares.

Por isso, é importante que a criança seja também avaliada por

profissionais da área de saúde mental.” (Velasco, 2009 pg.26).

O autor relata que a crescente evolução da depressão infantil tem sido

objeto de preocupação entre profissionais da área de saúde mental,

principalmente dos neuropediatras por motivos de suspeita de complicações

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

29

mais sérias no desenvolvimento mental da criança, onde a conservação da

saúde é ponto factível para um bom funcionamento mental adulto.

Embora seja rara a intenção de suicídio na criança, esse fato também

tem sido objeto de preocupação.

Ø Depressão na Adolescência

O Adolescente é aquela pessoa que ainda não se descobriu como adulto

dotado de responsabilidades.

A adolescência é um momento de profundas transformações, tanto no

corpo quanto no convívio com a sociedade. A psicanálise define essa fase

como sendo a relação do jovem com o luto, quando o mesmo tem um

desligamento com os seus pais, caracterizando-se assim um extremo

rompimento com a fantasia infantil.

Segundo Silva e Silva (2012), nossa sociedade define a inserção do

adolescente no mundo adulto a partir dos seus relacionamentos com

maturidade, a independência, autodeterminação, a responsabilidade e a

atividade sexual efetivamente adulta. O adolescente é uma pessoa em crise,

no momento em que está desestruturando e reestruturando tanto seu mundo

interior quanto o exterior.

A depressão nos adolescentes traz implicações bastante sérias, uma vez

que não diagnosticadas corretamente no início do seu desenvolvimento, podem

provocar grandes sequelas.

Segundo as autoras a depressão dos adolescentes está mais presente no

sexo feminino.

As principais causas que levam um adolescente à depressão são a falta

de diálogo com os pais, casos de divórcio, maus tratos infantis, conflitos

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

30

matrimoniais, pais inflexíveis ou autoritários, ausência dos mesmos,

dificuldades econômicas e a utilização de bebidas alcoólicas pelos pais.

De acordo com Barbosa e Gaião (1999), os principais sintomas da

depressão nos adolescentes são a irritabilidade, crises de explosão, raiva e

graves problemas de comportamento, insônia, pesadelos e terrores noturnos,

vertigens, tremores e sudorese, tiques, taquicardia, palpitações, falta de ar,

anorexia ou bulimia. Quando o adolescente está em depressão, segundo a

psicanálise, ele pode estar querendo se afastar do mundo para encontrar

novas escolhas para a sua vida.

Segundo Grunspun (1992) os adolescentes podem procurar

experiências que sejam compensatórias de suas sensações de vazio. Sessões

poéticas, sessões musicais, álcool, maconha e outras drogas, promiscuidade

sexual e perversões diversas, na tentativa de aliviar os sintomas mais

profundos, procurando fugir de si mesmos.

De acordo com Velasco (2009), o autor alerta para as práticas suicidas

nos adolescentes que acaba sendo praticado pelo jovem, por não superar as

dificuldades que o próprio desencadeou, e sucumbe perante as dores físicas e

morais que o acometem. “A imagem da morte é leve para o jovem, porque a

morte ou passa silenciosamente ou caricaturizada (na televisão). Daí uma

representação mágica da morte, concebida como não irremediável”. (Dolto,

1990 pg.259)

Conforme Velasco (2009) o índice de morte entre os adolescentes por atos

suicidas é considerado alarmante pelas pesquisas realizadas na última década

com altíssimos índices de crescimento divulgados nos últimos 25 anos. As

ocorrências de óbitos dos jovens por suicídio variam na faixa de 14 a 20 anos

de idade.

Ø Depressão no Idoso

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

31

A idade avançada é, relacionada fatidicamente com sintomas

depressivos.

Segundo Velasco (2009) nos casos de depressão, a atenção se concentra

na distinção dos aspectos episódicos depressivos nas situações senis,

involutivas, pré-senis etc. Se o idoso já apresentava distonias ou episódios

depressivos em seu histórico clínico, é considerada a predisposição como fator

decisivo para a sua inclinação.

O autor pontua que o principal sintoma que diferencia a depressão do idoso

das outras faixas etárias é a hipocondria. Se ele sente uma dor no peito, por

exemplo, ele logo associa a uma cardiopatia e com isso, acelera o processo

depressivo causando piora na enfermidade.

A baixa do humor é devido às perdas exacerbadas de amigos e entes

queridos, desatenção da família, problemas físicos, baixa resistência

imunológica, problemas de locomoção, dependência financeira, perda do status

ocupacional, isolamento em asilos etc.

Nos quadros depressivos o idoso apresenta variados sintomas como

retraimento, redução de atividades sociais, dificuldades nas relações

interpessoais, pouco reflexo psicomotor, desesperança, perda de memória,

perturbações do sono, retardo psicomotor, perda de interesse pela vida e até

mesmo idéia suicida.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

32

CAPÍTULO II

A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO

“Se durante nossa própria vida, assistimos a

uma deterioração corporal irreversível, a

brevidade de nossa existência só faz torná-la

mais excitante. Uma flor conhece apenas por

uma noite sua plena floração, mas nem por

isso sua eclosão nos parece menos suntuosa”.

(Sigmund Freud)

A forma correta de ajudar um depressivo é incentivando-o a procurar um

profissional capacitado, para que seja possível um tratamento específico ao

doente.

A depressão jamais poderá ser curada em casa ou até mesmo com o

tempo, acreditando que tratamento médico e psicoterápico é “coisa para

maluco” e que com o tempo o indivíduo irá se equilibrar, bastando se distrair,

ocupar a mente ou algo parecido.

De acordo com Velasco (2009) o equilíbrio bioquímico do cérebro só

será controlado com a assistência médica necessária.

O tratamento para a depressão é a psicoterapia ou análise e com a

ajuda dos medicamentos antidepressivos que são prescritos pelo psiquiatra. E

destacando que o paciente deve tomar a medicação sem interrupção.

O autor nos diz que os medicamentos antidepressivos tem função de

regular os componentes substancias do cérebro, trazendo alívio temporário ao

paciente que se anima com o resultado parcial se empenhando ao máximo

para a solução do problema, o que não quer dizer que ele deva interromper o

tratamento, pois poderá haver recaída grave do mesmo.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

33

O uso do medicamento pode levar meses ou anos, dependendo de cada

caso, levando de quatro a oito semanas para fazer efeito desejado no

organismo, também dependendo de cada caso.

O autor enfatiza que a psicoterapia também necessita de um tempo para

obter melhora esperada. Os dois tipos de tratamento são fundamentais e

devem ser feitos conjuntamente para melhor atuação do bem-estar do

paciente.

.

2.1- Psiquiátrico

É fundamental o tratamento medicamentoso para o equilíbrio físico e

mental do paciente. Sabemos que a psicofarmacologia nos oferece recursos

para a supressão de sintomas da depressão. Uma parte importante do

tratamento do paciente será feita com a medicação.

De acordo com Bauer (2010) são muitos modelos de antidepressivos e eles

trabalham para manter a fenda sináptica cheia de serotonina. Entre eles: os

Antidepressivos Tricíclicos; os IMAO – Inibidores Seletivos da Mono Amino

Oxidase; os Antidepressivos ISRS – Inibidores Seletivos de Recaptação de

Serotonina; e os Antidepressivos ISRNaSe – Inibidores seletivos de

Recaptação de Noradrenalina e Serotonina

Ø Tricíclicos = vão fazer o aumento de três neurotransmissores na fenda

sináptica: serotonina, noradrenalina e dopamina de forma

indiscriminada. Existem vária drogas, como Cloimipramina (anafranil),

Imipramina (tofranail), Amitripitilina (tryptanol), entre outras.

Essa categoria de antidepressivos é antiga e bem testada, mais

infelizmente traz inúmeros efeitos colaterais. Engordam, deixam a boca seca,

intestino preso, sonolência e outros.

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

34

Ø ISRS – Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina = uma

segunda geração de antidepressivos surgiu fazendo apenas aumentar a

fenda sináptica em especial, a serotonina. Como o nome já diz, eles

não deixam que pouca serotonina que você fabrica vá embora pela

degradação que o próprio neurônio faz recaptando a que ele próprio

soltou na fenda para comunicar sua mensagem. Esse mesmo neurônio

libera a serotonina que se comunica com a célula seguinte e, logo em

seguida, ela é recaptada de volta e degradada por suas enzimas

celulares. Transforma-se em lixo. São elas: Fluoxetina (prozac, verotina,

fluoxene, daforin etc.); Sertralina (zoloft, assert, tolrest, serenata, etc.);

Citalopran (cipramil, procimax, cittá, alcytam etc.); Paroxetina (aropax,

paxil, cebrilin, pondera, paxtrat etc.); Lovoxamina (luvox); Escitalopran

(lexapro, exodus).

Cada uma das drogas citadas acima tem um perfil diferente para cada tipo

de pessoa, a fluoxetina, por exemplo, deixa a pessoa mais ligada, tirando o

sono. A sertralina é a mais indicada de todas, pois traz bons resultados. A

paroxetina é a que mais acalma podendo ser indicada para pacientes com

depressão ansiosa, em compensação como efeito colateral ela engorda. O

citalopran e o escitalopram são ótimas opções principalmente para pacientes

que tem pressão alta e sofrem do coração, pois elas não tem tanto efeito

colateral. E a luvoxamina tem como efeitos colaterais, tonteira, dor de barriga,

insônia ou sonolência, retardo na ejaculação, diminuição da libido para

algumas pessoas, anorgasmia e pequenos formigamentos no início do

tratamento em algumas pessoas. Os ISRS são os medicamentos mais

comumente prescritos.

Ø Inibidores Seletivos de Recaptação de NA e SE = essas medicações

são muito usadas no caso de depressões mais severas e no transtorno

de ansiedade generalizado. Seu princípio básico é o mesmo, mas

recaptam também a noradrenalina, antes mesmo que ela venha a ser

descarregada abruptamente. Se já tiver um pouco de noradrenalina na

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

35

fenda sináptica pronta pra ser usada, seus neurônios não vão precisar

dar uma descarga violenta. Os seguintes medicamentos são:

Venlafaxina (efexor, venlift, venlaxin); e Desvenlafaxina (pristiq);

Duloxetina.

A Venlafaxina tem como efeito colateral, observado em alguns casos, um

aumento de pressão arterial e aumento de apetite. Porém, sua eficácia é

sensacional. Por isso, é recomendado quando se tem um caso grave de

depressão associado. A Desvenlafaxina é um metabólito da venlafaxina,

melhorado. Com a vantagem de não interferir na libido e nem engordar. Já a

Duloxetina é semelhante à venlafaxina e tem ótimos resultados com a

depressão.

Ø IMAO – Inibidores Seletivos da Mono Amino Oxidase = ao

bloquearem a desanimação oxidativa das mono-aminas

neurotransmissoras pelo Monamino Oxidase (MAO), aumentam a

biodisponibilidade de dopamina, noradrenalina e serotonina. Não

havendo metabolização intracelular, maior quantidade de

neurotransmissores se armazena nas vesículas que, ao se romperem

na fenda sináptica, liberarão uma maior quantidade de aminas

biogênicas que entraram em contato com receptores pré e pós-

sinápticos. São eles: Tranilcipromina e Moclobemida que possui

sintomas físicos como efeitos colaterais.

Segundo Bauer (2010) existe também os Benzodiazepínicos (BDZ) que

são mais prescritos pela classe médica e são comumente chamados de

ansiolíticos. Seus nomes de droga terminam em “an”. São utilizados em

pacientes para diminuir a ansiedade que comumente os acometem quando

iniciam a medicação com os antidepressivos. Eles funcionam como uma “fita

isolante” no neurônio pós-sináptico, vedando a entrada e a comunicação da

noradrenalina com esse segundo neurônio na hora do derramamento desta

substância. Dependendo da dose usada, a pessoa pode ficar mais ou menos

“lerda”, ou calma. O uso contínuo dessas substâncias não é recomendado, pois

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

36

causam tolerância e podem também causar dependência. Não é uma regra,

mas pode acontecer. Entre eles estão o Clonazepan (Rivotril); Alprazolan

(frontal, apraz etc.); Bromazepan (lexotan, somalium, etc.); Lorazepan (lorax

etc.); Cloxazolan (olcadil, cloxazolan etc.).

A autora pontua que existem outras modalidades de medicamentos que

podem ser usados nos casos de transtorno bipolar do humor, são os chamados

moduladores de humor. Nesses casos, a medicação se torna necessária para

acalmar o cérebro, que fica muito mais agitado do que o normal. São eles os,

Divalproato de Sódio (depakote), Carbamazepina (tegretol), Oxcarbazepina

(trileptal). Todos são excelentes medicamentos no tratamento do espectro

bipolar, bem como no transtorno bipolar e para o ciclotímico já que este é uma

forma atenuada do transtorno bipolar.

2.2- Psicoterapias

Os tratamentos psicoterapêuticos funcionam como apoio e

complementação da terapêutica psiquiátrica, obtendo com isso, uma

intervenção mais efetiva e prevenindo recidivas ou recorrências e restauração

do funcionamento psicossocial. Segundo Moretti (2006) o autor afirma que,

além disso, algumas pessoas com formas mais leves de depressão podem

evoluir bem somente com psicoterapia apenas.

O atendimento psicoterapêutico se faz necessário para o paciente

retornar suas atividades normais, para construção de um processo de

aprendizagem de novas atitudes não só do paciente como também a família

aprender novos comportamentos e novas estratégias de atuação. No

tratamento da depressão cada caso é um caso, isto é, esta doença requer uma

abordagem individualizada, já que cada um recebe os acontecimentos de

maneira única, levando em conta todos os fatores, morais, éticos, hereditários

e etc.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

37

A grande dificuldade em tratar o paciente depressivo vem pela própria

falta de motivação do mesmo. Pois, este se sente desmotivado, sem iniciativa e

muito menos consegue enxergar uma perspectiva de melhora, que são um de

seus traços característicos. Para essas pessoas é um grande desgaste de

energia. E muitas vezes acabam desistindo do tratamento no meio do caminho,

achando que não estão conseguindo alcançar os resultados desejados.

É importante que o paciente procure um profissional qualificado para o

tratamento da depressão. Para que este possa reconhecer os sintomas para a

realização de um diagnóstico correto, se, por exemplo, o paciente apresenta a

chamada Comorbidade, ou seja, uma doença orgânica coexiste com uma

doença psíquica de modo independente ou a primeira desencadeia a segunda

(por exemplo, o distúrbio ansiedade-depressão).

“Os fatores psíquicos podem influenciar ou

comprometer a doença orgânica: vários estudos

demonstraram que a sobrevivência depois de

infarto cardíaco ou após diagnostico de tumor é

significativamente reduzida por depressão

simultânea”. (Revista Mente e Cérebro Ed. Especial

14 – Linguagem do corpo, 2008).

Citaremos alguns dos tratamentos psicoterápicos, são eles:

Ø Psicoterapia Analítica = auxilia consideravelmente o entendimento das

resistências à medicação, e, com isso, consolida a aderência. Visando á

importância aos processos inconscientes da mente, trabalhando

conflitos, sentimentos, sonhos, fantasias, associada à primeira infância.

Esta terapia é geralmente conduzida por vários anos. Ela é a

modalidade psicoterapêutica orientada para distimia, onde o insight é

considerado principal registro para subsídios terapêuticos.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

38

Ø Psicoterapia Familiar = A terapia familiar tem sido bastante eficaz,

auxiliando tanto o paciente quanto a família, a desenvolverem métodos

de apoio e a lidarem melhor com os sintomas da depressão. É um

trabalho de grande valia no tratamento do transtorno bipolar, em função

de os episódios maníacos afetarem o relacionamento familiar. Esses

pacientes tendem a gastar grande volume de dinheiro ou atuar com

promiscuidade no sexo, gerando sentimentos de ódio, culpa e

humilhação na família, e esses fatos podem ser amenizados com esse

tipo de terapia. Essa terapia pode auxiliar a compreensão dos

transtornos e a distinção dos fatores desencadeantes.

Ø Psicoterapia Comportamental = é mais eficaz na terapêutica de

pacientes hospitalizados, para auxiliar o emprego de limitações do

temperamento impulsivo, agressivo ou explosivo, por meio de métodos

comportamentais de suporte positivo ou negativo.

Ø Psicoterapia Breve = é um tratamento de natureza psicológica, de

inspiração psicanalítica, cuja duração é limitada, buscando obter uma

melhora na qualidade de vida em curto prazo, escolhendo um

determinado problema mais premente que a pessoa esteja passando no

momento e focando esforços na sua resolução. Como por exemplo, ela

é indicada especialmente no tratamento da depressão situacional, ou

seja, as que foram causadas por reações a situações inesperadas como

o luto pela morte de alguém próximo, uma doença inesperada dentre

outras. Estas situações geram um desconforto emocional que precisam

ser trabalhadas o mais rápido possível para não se correr o risco de um

desequilíbrio psíquico.

Ø Psicoterapia Breve de Apoio = trata-se de um processo de ação

terapêutica que tem como objetivo diminuir a ansiedade de um

paciente. Recomendada exclusivamente para as fases de crises

crônicas. Poucos pacientes aceitam somente esta modulação de

tratamento.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

39

Ø Psicoterapia de Grupo = funciona também como a psicoterapia de

família. Também contribui em termos de superação de problemas

interpessoais na sociedade pelo seu caráter apoiador, educativo e

terapêutico.

2.3- Relaxamento

Apesar dos inúmeros medicamentos antidepressivos e das demais

técnicas de tratamento para depressão, um grande percentual dos pacientes

acaba procurando algum tipo de ajuda complementar ao tratamento

convencional.

De acordo com Moretti (2006) atualmente tem se dado maior

importância para a opinião do paciente no que diz respeito ao seu próprio

tratamento, sendo essa opinião um requisito importante para o sucesso

terapêutico.

O uso de técnicas complementares exige, assim como num plano de

tratamento padrão, um rigoroso critério de elegibilidade e precisa de tantas

pesquisas quanto às desenvolvidas com medicamentos e com as

psicoterapias.

Algumas modalidades terapêuticas que podem favorecer o paciente

deprimido são Acupuntura, Massagem e Relaxamento entre outros. De acordo

com o autor, não foi feita citação a estes tratamentos em pacientes com

transtornos depressivos de caráter bipolar. E a modalidade que daremos

destaque neste trabalho é o Relaxamento.

Apesar da origem relativamente nova dos procedimentos de

relaxamento, seus antecedentes históricos são antigos. Nos murais da

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

40

Babilônia, encontravam-se evidencias do uso do relaxamento e da hipnose,

assim como os egípcios já praticavam o relaxamento e o hipnotismo.

As técnicas de relaxamento constituem um conjunto de procedimentos

de intervenções úteis também no âmbito da Psicologia Clínica. O relaxamento

engloba algumas técnicas responsáveis por promover um estado de equilíbrio

da ansiedade e da tensão muscular, oferecendo alternativas de como lidar com

o estresse e com as alterações somático-mentais.

A prática de meditação deve ser realizada entre 10 e 20 minutos, de

uma a duas vezes ao dia. Deve ser realizada na posição deitada ou sentada,

num lugar calmo a meia luz. Além disso, um aspecto interessante da meditação

é que o paciente pode gerir seu próprio tratamento.

Grande parte das técnicas de relaxamento preocupa-se com a

concentração e com a respiração, sendo estas partes importantíssimas do

relaxamento.

O paciente deve ser orientado a imaginar que as energias negativas são

retiradas de seu corpo e que seu sangue está ficando oxigenado e limpo.

Pede-se ao paciente que imagine partes de seu corpo em diferentes e diversos

momentos e a dor e o incomodo devem ser esquecidos. O próximo passo é

pedir que o indivíduo imagine-se em um lugar que se sinta bem e longe de

seus problemas de cotidiano e que, provavelmente, estejam causando seu

desconforto. O paciente deve ser sempre influenciado com pensamentos e

palavras boas.

Outra possível técnica de tratamento para a depressão é o relaxamento

progressivo pode ser praticado em posição deitado ou sentado com a cabeça

apoiada. Cada músculo ou agrupamento muscular é tensionado de 5 a 7

segundos e então relaxado, de 20 a 30 segundos. Este procedimento é

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

41

repetido pelo menos uma vez. Se determinada região continuar tensa, pode-se

praticar até cinco vezes.

Segundo Moretti (2006) devemos lembrar que a técnica de relaxamento

e as outras citadas acima, são apenas para complementação no tratamento

caso seja o desejo do paciente, pois ainda não existe um consenso criterioso

sobre a utilização devida destas técnicas como sendo único recurso para o

tratamento do paciente depressivo.

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

42

CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA

“Não se deve ser mesquinho com o afeto, o

que se gasta das reservas é renovado pelo

próprio ato de gastar”. (Sigmund Freud)

A depressão é uma doença castigada socialmente. Muitas vezes a

família é a primeira a discriminar o paciente, por não saber e entender o que

está acontecendo com este. É sempre considerada como se o indivíduo não

tivesse força de vontade para reagir; como se fosse preguiça ou coisa

parecida. Esse estigma associado à depressão dificulta não apenas o

diagnóstico como também a própria percepção do problema pela pessoa

doente.

A depressão está muitas vezes ligada a uma mudança de

comportamento. Os doentes muitas vezes revelam dificuldades em se

relacionar com os outros. A sua conversação pode ser dominada por

pensamentos negativos, incluindo a tristeza e o desespero.

A depressão pode também ter um impacto significativo no padrão de

comportamento dos outros membros da família. Como exemplo, a depressão é

muitas vezes acompanhada por um aumento das discussões conjugais. O

humor, afeta as relações criando um padrão negativo de comportamento,

levando o deprimido a cada vez mais ter sua autoestima baixa. Outro fator que

os familiares têm que estar atentos é que as pessoas com depressão tem

maior risco de suicídio.

Alguns estudos mostram que o envolvimento e o apoio familiar pode ter

grande influência no decurso da doença depressiva. Pois, da mesma forma que

a família muitas vezes recrimina o doente ao mesmo tempo é ela quem pode

ajudá-lo, levando-o a procurar ajuda especializada de profissionais habilitados

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

43

como um psicoterapeuta e um psiquiatra, tratando de forma adequada não

agindo como se fosse apenas uma tristeza profunda e que irá passar com o

tempo.

3.1 – Autoestima

O conceito de autoestima reside no cerne do nosso ser. É o que eu

penso e sinto sobre mim mesmo, não o que o outro pensa e sente sobre mim.

A autoestima é a soma da autoconfiança com o autorrespeito. Ela

reflete o julgamento implícito da nossa capacidade de lidar com os desafios da

vida, entender e dominar os problemas, e o direito de ser feliz respeitando e

defendendo os próprios interesses e necessidades.

Ter uma autoestima elevada é sentir-se confiantemente adequado à

vida. Ter uma baixa autoestima é sentir-se inadequado a vida, errado como

pessoa.

Segundo Branden (2008) quando crianças, nossa autoconfiança e nosso

autorrespeito podem ser alimentados ou destruídos pelos adultos – conforme

tenhamos sido amados, respeitados, valorizados e encorajados a confiarmos

em nós mesmos. Mas, em nossos primeiros anos de vida, nossas escolhas e

decisões são muito importantes para o desenvolvimento futuro da nossa

autoestima. Estamos longe de sermos receptáculos da visão que as outras

pessoas têm sobre nós. E de qualquer forma seja qual tenha sido nossa

educação, quando adultos o assunto está em nossas mãos.

Todos deveriam desfrutar de um alto nível de autoestima, vivenciando

tanto a autoconfiança intelectual como a forte sensação de que a felicidade é

adequada. Entretanto infelizmente, uma grande maioria de pessoas não se

sente assim. Muitas sofrem de inadequação, insegurança, dúvida, culpa e

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

44

medo de uma participação plena na vida, um sentimento vago de “eu não sou

suficiente”.

É o que acontece com os pacientes deprimidos. Além de problemas

biológicos, não tem como não se pensar em uma única dificuldade psicológica

que não esteja relacionada com uma autoestima negativa.

Uma pessoa com baixa autoestima se enxerga de maneira negativa,

mas consegue levar uma vida normal. Quem tem depressão, além dessa visão

negativa, perde a motivação para viver. “Mas o indivíduo com depressão

sempre tem autoestima baixa, pois essa sensação de incapacidade é um dos

aspectos que podem torna-lo depressivo”. (João Freire Filho, 2011).

Em muitos pacientes deprimidos encontram-se sentimentos profundos

de menos-valia, de redução da autoestima e auto-depreciação. O indivíduo se

sente sem valor, não merece viver e ser amado deveria morrer para deixar de

incomodar os outros. Aqui, torna-se patente a dimensão de fracasso

existencial, relativo à realização de um destino pessoal. Limitado fisicamente e

mentalmente tende a sentir-se sem valor, como um peso para a família, um

fracassado, um inútil, o que muitas vezes, vem associado a um descuido

crônico de si mesmo, autonegligência, falta de higiene e, mesmo, atos e

condutas suicidas.

“Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo

profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo

externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e

qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de

autoestima a ponto de encontrar expressão em auto-

recriminação e auto-envilecimento, culminando numa

expectativa delirante de punição”. (Freud vol.XIV, pg.250)

Segundo Branden (2008) ele nos pergunta como nós podemos fazer

para elevar a nossa autoestima? E responde dizendo que precisamos aprender

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

45

novos comportamentos; e precisamos tomar medidas específicas em assuntos

onde nos sentimos verdadeiramente culpados, para resolvê-los ao invés de

apenas sofrer passivamente.

E com o depressivo não é diferente. O depressivo pode estar

vivenciando o conforto do conhecido – estar acostumado com as crises de

ansiedade e depressão, e achar que crescer em autoestima é abandonar

aquela zona de segurança e entrar no desconhecido. Pois, acredita que

mesmo com as crises mantém o controle da situação.

O autor ainda alerta que diante desse processo de crescimento da

autoestima o depressivo terá que ter cuidado com os boicotes familiares, pois o

depressivo não está mais naquela posição de bode expiatório.

Porém, o autor enfatiza que de um modo ou de outro, a vida não será

mais como era. E assim o paciente depressivo estará em busca de seu amor

próprio, maior autoconfiança e autoaceitação.

3.2 – A Influência da Família

O conceito de família vem sofrendo grandes mudanças nas últimas

décadas, acompanhando as tendências de desenvolvimento nos âmbitos

econômico, tecnológico, político e cultural. No Brasil, principalmente após a

entrada da mulher no mercado de trabalho, podemos observar grandes

transformações nos papéis familiares, relação de poder, valores individuais e

coletivos, estrutura e capacidade de decisões referentes à família.

Segundo Baptista, Baptista e Dias (2001) a família pode ser descrita

como sendo um processo no qual ocorre o desenvolvimento psicológico do

indivíduo, de um estado de fusão/ indiferenciação para um estado de

separação/ individualização cada vez maior. Este ciclo é determinado não

apenas por estímulos biológicos e pela interação psicológica, mas também por

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

46

processos interativos no interior do sistema familiar. Igualmente, o curso da

história futura do indivíduo pode ser prevista à base do clima emocional

predominantemente na família de origem. Porém, nem sempre a família é

bastante flexível para proporcionar este desenvolvimento, de acordo com as

mudanças das contingências que ocorrem, principalmente na passagem da

fase da infância para adolescência.

Os autores destacam que várias pesquisas objetivaram a estudar as

relações familiares e algumas características de adolescentes, bem como a

influência da família na etiologia e manutenção de problemas pessoais,

distúrbios e transtornos desenvolvidos ou acentuados na fase da adolescência.

Dentre eles podemos citar: abuso de drogas, violência familiar associada à

depressão, performance escolar, abuso de álcool e suicídio além de outros. O

divórcio entre os pais é um dos fatores determinantes também para

desencadear alguns transtornos principalmente a depressão. Pois, representa

para a criança perda da segurança e instabilidade quanto ao futuro dos

mesmos, ocasionando sentimentos negativos além de influenciar no

autoconceito dos adolescentes, no que diz respeito atitudes sociais e

autocontrole.

De acordo com Hoffman (2005) quando somos crianças aprendemos

comportamentos positivos e negativos através da programação dos pais.

Infelizmente, a maioria teve pais que exprimiam padrões de comportamentos

negativos, e por infelizmente não sabermos nada melhor adotamos esses

comportamentos de modo inconsciente como nossos para comprar o amor dos

pais. O adulto que nos tornamos depois age com atitudes da infância.

“Alguns perderam o pai ou a mãe na infância por separação ou

morte. Outros foram abandonados por um ou ambos os pais,

viveram com pais substitutos ou em instituições. A ausência

dos pais biológicos e a falta do sustento e do amor deles, a

despeito de quanto amor vocês possam ter recebido dos

substitutos, é a causa básica de sua inabilidade de se

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

47

relacionar amorosamente com vocês mesmos e com os outros.

Muitos tiveram pais que estavam fisicamente presentes, mas

emocionalmente ausentes. O resultado é o mesmo, pois, vocês

não receberam um consciente fluxo de amor e de aceitação

incondicionais dos seus pais e por isso sentem que não

merecem amor. Desta forma nasce à falta de autoestima

acompanhada de sentimentos de desmerecimento e

incapacidade de amar.” (Hoffman, 2005).

Segundo Baptista, Baptista e Dias (2001), foi feito um estudo com

famílias intactas que tenderam a favorecer maior estabilidade e afeto para seus

filhos do que famílias reconstituídas ou divididas. A autoestima dos

adolescentes em famílias intactas era significativamente mais alto do que

proveniente de famílias reconstituídas ou divididas.

“A relação família-depressão, tem-se fundamentado nos

princípios da aprendizagem e sugerem que os relacionamentos

familiares, para contribuírem de forma positiva para o

tratamento do adolescente depressivo devem dar uma atenção

especial nas condições afetivas, que são experenciadas por

todos os integrantes da família. A experiência de, amar e ser

amado são uma das condições essenciais para o

desenvolvimento sadio do homem, um sólido alicerce de amor

paterno durante a infância dá ao jovem recursos incalculáveis

ao ingressar na adolescência, assim, o adolescente se sente

amado, não corre o risco de se sentir rejeitado pela família,

facilitando uma visão satisfatória sobre o suporte familiar,

proporcionando sentimentos de bem estar no adolescente, o

que se torna inconsciente com a depressão.” (Baptista;

Baptista; Dias apud Gonçalves, 2006 pg.42).

De acordo com Baptista, Baptista e Dias (2001) os sintomas

depressivos, podem ser influenciados por consequência da insatisfação do

indivíduo com o suporte fornecido pelo seu grupo social. Quanto maior a

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

48

depressão apresentada por adolescentes, maior o número de problemas que

os mesmos tiveram na infância. Relacionamentos sociais construtivos com os

membros da família e amigos podem propiciar sentimentos de bem-estar no

adolescente, o que é preventivo a depressão. Os relacionamentos pessoais, os

primeiros relacionamentos seguros e a relação pais-criança durante a infância,

propiciam um crescimento com sentimentos de maior autoestima e autoeficácia

na vida de um indivíduo.

Os autores dizem que em geral, o comprometimento do bem estar dos

pais debilita o sistema de suporte familiar. A depressão dos pais, conflitos

familiares e infelicidades conjugais afetam negativamente a qualidade afetiva

dos relacionamentos familiares e, particularmente, o relacionamento entre mãe

e filha. Os níveis de tolerância das famílias em relação à individualidade e

intimidade de seus filhos possui ligação com o futuro ajustamento pessoal do

adolescente, além de correlação com as variáveis: depressão e ansiedade.

Quanto maior o controle da família em relação ao adolescente, menor a

capacidade que ele terá para enfrentar as situações, por ter menor capacidade

de desenvolver sua individualidade.

Segundo Dolto (1990) a juventude atual tem mais dificuldade do que as

gerações precedentes em encontrar seu lugar na sociedade. E a sociedade por

seu turno encontra dificuldades para enfrentar esse mal estar. O adolescente

não se acha necessário à sociedade, nem de ser verdadeiramente desejado.

Os pais não possuem mais tempo para exercerem a função de pais. Por outro

lado, sobre os adolescentes fragilizados, os pais exercem uma pressão

fantástica onde eles têm que entrar para uma boa escola, fazer a escolha da

carreira certa, conseguir resultados superiores ao dos seus colegas, esperando

que seu filho consiga resultados acima da média, o que é totalmente absurdo.

Quanto aos colegas, querem que o adolescente se inicie tão cedo no sexo e na

droga que criam outro tipo de tensão. Tornando a vida complexa e intolerável.

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

49

De acordo com Barbosa e Gaião (1999) pais ansiosos são os que mais

criticam os filhos, levando-os a apresentar conduta disruptiva. Pais com caráter

autoritário e/ ou permissivo tem forte influência na incidência da depressão

infantil, apresentando sintomas mais frequentes de choros, obesidades, apatia,

e outros.

Os autores chamam atenção para a forte evidência de um continuum

entre a deficiência do funcionamento social do adulto, e antecedentes de

transtornos de ansiedade e depressão, quando na idade adulta. A ansiedade

da criança implicará em um mau ajustamento na idade adulta. Ansiedade e

depressão precoces são associadas com baixo nível de aprendizagem, baixa

autoestima, tentativas de suicídio e depressão recorrente no adulto. Estes

adultos que tiveram ansiedade e depressão precoces na infância apresentaram

inadequação de competência social, relações defeituosas ou anômalas com

amigos, familiares e esposas/os, ou seja, apresentam comprometimento na

área afetiva.

É importante observar a fundamental importância que existe na relação

entre a família e o adolescente depressivo, afinal, essa influencia e é

influenciada pelo adolescente, tendo grande destaque neste processo. A

relação familiar pode vir a influenciar a origem, a evolução e recuperação do

adolescente depressivo, sendo que não existe apenas um fator isolante e sim

um conjunto de fatores, no qual o suporte familiar faz parte.

Parece haver uma coerência teórica e prática em dizer que o suporte

familiar pode ser considerado como um importante preditor de transtornos

afetivos em crianças, adolescentes e adultos, pois ele influencia diretamente de

forma como o indivíduo se autoavalia e como avalia as informações provindas

do meio exterior.

3.3- O Papel da Família

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

50

De acordo com a Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e

Bipolares (ADEB), falaremos sobre o papel da família, como esta poderá ajudar

o depressivo e se ajudar diante desse transtorno que afeta á todos de uma

maneira geral.

Primeiramente reconhecer que a pessoa está doente e que o tratamento

é prioritário.

Quando alguém está com sintomas de depressão, a melhor forma de

lidar com a doença é estar preparado. E isso significa aprender a cerca da

depressão e dos seus efeitos, para ajudar a compreender o que está

acontecendo e desenvolver estratégias de atuação. Como também discutir

estas estratégias com um profissional de saúde, seja o psiquiatra ou o

psicoterapeuta, porque eles estão aptos a fornecer mais ideias ou a mostrar

modos de usá-las no seio de um ambiente familiar específico.

É importante que os familiares possam fornecer a pessoa deprimida um

ambiente carinhoso e de apoio. É natural que se espere que os sintomas da

depressão desapareçam rapidamente, mas é preciso reconhecer que o doente

irá progredir ao seu próprio ritmo. Tente não se colocar a si e a pessoa

deprimida em situações que possam provocar desapontamentos e tente não

pressionar o doente a animar-se.

Lembre-se que o primeiro tratamento pode não ser a melhor resposta

para a depressão e que o processo de tentativa e erro pode levar algum tempo.

Encoraje o deprimido, faça vê-lo suas melhoras. Como o depressivo tem uma

visão negativa da vida, os familiares necessitam de compreender e de tentar

encontrar maneiras para lidar com a frustração que poderá surgir de vez em

quando.

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

51

O desânimo provocado pela depressão pode levar o doente a pensar

que não vale a pena consultar um médico ou tomar medicação. Ajude-o a

seguir as orientações do médico.

Procure ser sensível com o doente. Trate a pessoa normalmente quanto

possível, mas não o faça como se nada estivesse acontecendo. A pessoa

deprimida apreciará que não se ignore sua doença.

É importante destacar também o impacto que a depressão tem nas

relações conjugais. Os cônjuges de pessoas deprimidas tem tendência a

ficarem frustrados com estes. Muitas vezes o paciente deprimido apresenta

redução do desejo sexual, e se o parceiro/a não compreende, pode causar

desentendimentos conjugais.

No geral, as relações das pessoas deprimidas com os seus cônjuges

são caracterizadas por um maior nível de irritação e hostilidade. Os problemas

conjugais parecem ter uma forte influência no decurso da depressão.

É preciso que o cônjuge não julgue as atitudes e sim compreenda, pois o

deprimido está fazendo o melhor que ele pode fazer. Esta pessoa já se sente

só, ficará realmente desamparada, e na companhia dos piores sentimentos que

poderá experimentar.

Um apoio conjugal forte poderá resultar em melhorias mais rápidas e

duradouras dos sintomas depressivos. De igual modo, o apoio e participação

de outros familiares podem ser essenciais na diminuição desses sintomas. A

colaboração de todos os familiares poderá ajudá-los a lidar com os seus

sentimentos e a fortalecer a sua relação.

Algumas vezes os familiares precisarão se ajustar a divisão dos afazeres

de casa, pois com a depressão a capacidade do doente em realizar as tarefas

diminui, e os familiares poderão ter dificuldades em se adaptá-las. Tornando

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

52

mais flexível, por exemplo, preparando refeições mais simples. O cônjuge e os

filhos poderão assegurar mais tarefas domésticas.

Lembre-se que procurar tratamento é um sinal de força e é o primeiro

passo para se sentir melhor. Reconheça que a melhoria sintomática é uma

etapa em direção a um objetivo mais global – resolver os problemas

relacionados com o episódio depressivo, melhorando o relacionamento e os

aspectos afetivos e emocionais que terão conduzido à depressão.

Este processo demora algum tempo, mas pode levar a uma vida mais

saudável e feliz.

É importante que a família também se envolva no processo de

recuperação. Segundo Grunspun (1992) ele faz um alerta no caso de crianças

onde diz que “a criança não toma remédio; a família é que dá o remédio;

portanto na prescrição, cuidar da família.” (Grunspun, 1992, pg.440).

Algumas famílias se beneficiam da participação em terapia familiar ou

aconselhamento. Trabalhar com um terapeuta pode também ajudar os casais e

famílias a aprenderem estratégias de comunicação mais eficazes e a melhorar

a maneira de combater a depressão em casa.

Um grupo de apoio para pessoas com doença depressiva e seus

familiares pode também tranquilizar e informar, assim como serem encorajados

por outros que tenham vivido experiências semelhantes.

Os familiares não deverão ficar surpreendidos se se sentirem mais

fatigados ou menos tolerantes, uma vez que a depressão pode ser

acompanhada de um aumento do nível de estresse na família. Por isso, é

importante que os familiares mantenham as suas rotinas normais e que

dispensem tempo, para cuidarem de si próprios.

Page 53: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

53

3.3.1- O Suicídio

Como já foi falado anteriormente, sobre o suicídio e as tentativas do

mesmo não são infrequentes em pacientes de todas as idades e principalmente

em crianças e adolescentes.

Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o

comportamento suicida destaca-se pelo impacto e pelos números de suicídios

entre as seguintes faixas-etárias: de 15 – 20 – 35 anos está entre as três

maiores causas de morte. E recentes pesquisas mostram que nos últimos

anos, a mortalidade global por suicídio vem migrando de grupos idosos para

grupos mais jovens, entre 15 a 45 anos. A faixa-etária de indivíduos entre 15 a

44 anos, o suicídio é a sexta causa de incapacitação. E entre cada suicídio

existem em média, 5 a 6 pessoas próximas ao falecido que sofrem

consequências emocionais, sociais e econômicas.

Segundo Dolto (1990) do ponto de vista sociológico, as estatísticas

concernentes ao suicídio nem sempre são fiéis. A polícia prefere falar em

acidente em vez de suicídio e também para não atormentar a família. Só é

falado em suicídio quando a vítima deixa uma carta explicando suas intenções,

o que constitui uma pequena minoria. Se a constatação legal fosse menos

recatada, perceberíamos que o fenômeno é bem mais grave do que as

estatísticas fazem crer.

Conforme Grunspun (1992) a própria família faz questão de esconder o

ato suicida praticado pelo familiar, primeiramente, por ser visto como um ato

punível, chegando o indivíduo a ser visto como perigoso, e por não

compreenderem o verdadeiro motivo pelo qual o levou a cometer tal ato.

De acordo com as pesquisas, o suicídio hoje é compreendido como um

transtorno multidimensional, que resulta de uma interação complexa entre

fatores ambientais, sociais, fisiológicos, genéticos e biológicos. Estima-se que o

Page 54: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

54

risco de suicídio ao longo da vida em pessoas com depressão é de 15%. E

uma grande parte delas morre sem nunca terem ido a um profissional da área

de saúde mental. Assim, a melhora na detecção, referenciamento e manejo

dos transtornos psiquiátricos e psicológicos na atenção primária são passos

importantes na prevenção do suicídio.

Segundo Nogueira (2012) a depressão não está sendo tratada

corretamente pelos brasileiros, pois, na maioria das vezes as pessoas não

buscam tratamento por confundi-la com uma tristeza profunda.

Por isso, o autor chama atenção para os aspectos psicológicos

predisponentes ao suicídio que são as perdas recentes; perda de um amigo ou

parente próximo; crítica dos familiares; dinâmica familiar conturbada; ameaça

de separação dos pais ou a separação em si; impulsividade, agressividade,

humor lábil entre outros.

No caso dos adolescentes, a sucessão de momentos alternantes entre

excitação e depressão, caracterizando uma oscilação de humor, é um fator

importante a se considerar nessa fase. Esses momentos podem ser de longa

duração e há um período de profunda tristeza, pessimismo, diminuição de

atividade e isolamento são característicos. Os conflitos de gerações com os

pais, além da autodesvalorização podem levá-los a passar por sentimentos de

culpa, que aumentam ainda mais os aspectos depressivos nessa fase.

“A análise da melancolia mostra agora que o ego só pode se

matar se, devido ao retorno da catexia objetal, puder tratar a si

mesmo como objeto – se for capaz de dirigir a si mesmo a

hostilidade relacionada a um objeto, e que representa a reação

original do ego para com os objetos do mundo externo.” (Freud,

vol.XIV pg.257)

Page 55: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

55

De acordo com Nogueira (2012) as pesquisas mostram que a maioria

das pessoas com idéia de morte comunica seus pensamentos e intenções

suicidas, direta ou indiretamente aos amigos, familiares e colegas de trabalho.

Segundo Lima (2011) no senso comum dizem que “quem ameaça não

se mata”. Pura inverdade. Não há critérios estatísticos que confirmem isso,

muito ao contrário: os casos de tentativa de suicídio (em que, portanto o doente

pode se manifestar e expressar os sentimentos depois do ato) foram

previamente sinalizados e avisados a parentes próximos e/ ou amigos. Por

isso, fiquem atentos aos sinais como, por exemplo, frases do tipo “eu não sirvo

pra nada”; “eu sou um perdedor e um peso pros outros” e assim por diante.

Todos esses pedidos de ajuda não podem ser ignorados. “O suicídio é o ato de

matar a si mesmo”. (Grunspun, 1992 pg.322)

“Existem alguns mitos a respeito do suicídio. Principalmente o

mito que pretende que o suicídio “não avisa”. O que é uma

inverdade. O candidato ao suicídio emite sinais de angústia e

espera que alguém consiga captá-los” (Dolto, 1990 pg.259).

Se um familiar com depressão expressou pensamentos suicidas, chame o

seu psiquiatra imediatamente. Não menospreze ou espere que a crise passe,

embora seja importante não entrar em pânico nesta situação. Mantenha uma

comunicação aberta com o seu familiar, colocando questões diretas e que

mostrem sua preocupação. Deixe que a pessoa deprimida saiba que a vida

dela é muito importante e valiosa para si. Procure não atribuir culpas. Lembre-

lhe que estes pensamentos são sintomáticos de uma doença médica e que

existem tratamentos disponíveis e eficazes.

Uma vez que nem sempre é possível prevenir o suicídio, o torne mais

difícil, retirando de casa armas, álcool e medicamentos desnecessários. Os

membros da família devem procurar aconselhamento para serem ajudados

perante o choque que é ter um membro da família com uma doença que pode

levar ao suicídio como a depressão.

Page 56: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

56

CONCLUSÃO

A depressão do ponto de vista psicopatológico tem como elemento

central o humor triste. E se caracteriza por uma multiplicidade de fatores

biológicos, genéticos e neuroquímicos. A depressão surge com muita

frequência após perdas significativas: de uma pessoa querida, de um emprego,

do status socioeconômico, ou de algo puramente simbólico.

A depressão sendo um problema tão relevante de saúde pública, devido

a sua alta incidência em todas as idades, sexos e classes sociais, necessita de

tratamento psiquiátrico e psicoterápico. Devendo se trabalhar conjuntamente

em busca do êxito e da cura do paciente. Existem outras técnicas de

tratamento que são complementares como a do relaxamento, lembrando que

cada técnica possui sua aplicação específica e a preferência do paciente é um

fator de grande valia.

A forma apática do depressivo o prejudica consideravelmente nas suas

atribulações da vida social, no trabalho, no sono, no relacionamento familiar e

social, nos hábitos alimentares, no desejo sexual e em tudo que possa

ocasionar gozo na vida. A depressão promove crises de tristeza profundas,

levando o indivíduo à prostração, dependendo do grau ou da intensidade com

que se manifesta.

A família deve orientar a procurarem tratamentos com profissionais

capacitados que possam fazer o diagnóstico preciso. Se tratados corretamente

e com determinação, as chances de obterem a cura são equivalentes às de

outra doença qualquer. A depressão tem cura na maioria dos casos em

tratamento.

Existe uma grande resistência por parte dos familiares sejam os

cônjuges, passando a tratar o outro com indiferença por não representarem em

Page 57: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

57

suas vidas e que “de repente” deixou de ser; filhos que não conseguem aceitar

que suas mães deixaram de cuidar e tiveram que ser cuidadas pelos mesmos;

pacientes depressivos que relatam como eram tratados por seus pais de forma

pejorativa no qual justifica hoje sua baixa autoestima acreditando serem seres

inferiores e familiares que arranjaram vários outros significados e explicações

para o que pode estar acontecendo negando a realidade.

A família precisa entender que sua participação é importante tanto na

instalação do problema; na prevenção; no tratamento do paciente; como

também entender que precisa de ajuda tanto quanto este.

Ela precisa ter consciência da doença, sair da negação para começar

ajudar o doente.

As rápidas mudanças sociais e, principalmente familiares, que estão

ocorrendo atualmente parecem ter alguma relação com a prevalência de

depressão na população adolescente. É claro que seria ingênuo pensar que

somente estes fatores estariam contribuindo para isto, porém não deve ser

desprezado que a família funciona como um amortecedor para os eventos

estressores, pelos quais os adolescentes enfrentam no seu cotidiano.

Quanto aos afetos, somos o que nossos pais representam para nós,

porém devemos lembrar que sem intenção nos programaram, embora sendo a

causa, não são culpados.

O depressivo pode e tem condições de trabalhar sua autoestima, pois

com a autoestima elevada o indivíduo terá condições de buscar alternativas

que o ajudem na busca de novas estratégias para o enfrentamento de

situações de dificuldade. Pois, a depressão pode ser utilizada pelo indivíduo

como refúgio, numa tentativa de justificar o medo de enfrentar desafios e os

riscos da vida. Muitas vezes a tristeza e a angústia são chamadas de

“depressão”, sendo tratadas como doença, dignas de serem curadas. Sentindo-

Page 58: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

58

se diferentes dos outros, o doente geralmente é excluído e se exclui das

possibilidades que os outros gozam, e como consequência, permanece isolado

e ilusoriamente protegido.

Considera-se que para a causa do suicídio haveria um conjunto de

fatores intrínsecos que se agrupam, constituídos por uma vertente social e uma

vertente individual, uma interferindo na outra, com múltiplos fatores

determinantes.

O clínico e as autoridades ligadas à área de saúde precisa, estar atentos

e desenvolverem projetos ligados à prevenção de depressão em adolescentes,

utilizando como um grande aliado à família, pois, a sociedade prefere especular

sobre as causas e os remédios em vez de investir em programas de

prevenção.

Primeira medida de prevenção é assegurar a criança um lar caloroso e

harmonioso. Depois, associar o adolescente as atividades da coletividade a fim

de que ele se sinta útil. E finalmente, reforçar ou criar a comunicação entre pais

e filhos. É preciso que os pais fiquem realmente à escuta do filho. E acima de

tudo entender que não é um capricho, e que as pessoas são diferentes e que

cada um recebe os fatos de formas e maneiras diferenciadas.

Quando se tem um entendimento sobre o assunto a família pode

perceber sua importância neste tratamento, desde seu primeiro sintoma até a

descoberta do diagnóstico, até onde ela foi à causada ou a causadora desse

distúrbio. Incentivando o tratamento, sabendo da importância do mesmo, tanto

medicamentoso quanto psicoterápico.

Page 59: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

59

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BALLONE, GJ. Causas da Depressão, in Psiqweb, internet, disponível em

http://www.psiqweb.med.br, 2007. Acessado em 09/03/12.

BARBOSA, Genário Alves; GAIÃO, Adriana de Andrade. Ansiedade e

depressão infanto-juvenil: um só transtorno? Pediatria Moderna. Jan/Fev 99 V

35 N 1/2.

www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=921 Acessado em

08/03/12.

BAPTISTA, Makilim Nunes; BAPTISTA, Adriana Said Daher; DIAS, Rosana

Righetto. Estrutura e Suporte Familiar como fatores de risco na depressão de

adolescentes. Brasília, 2001.

www.pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-

98932001000200007&script=sci_arttext Acessado em: 09/03/12.

BAUER, Sofia. Para Entender o Transtorno do Pânico. Rio de Janeiro: Wak

Editora, 2010.

BRANDEN, Nathaniel. AUTO-ESTIMA: Como aprender a gostar de si mesmo.

2008. www.visionvox.com.br/biblioteca/a/auto-estima-como-aprender-a-gostar-

de-si-mesmo-nathaniel-branden.pdf Acessado em: 20/05/12.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos

Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2000.

DOLTO, Françoise. A Causa dos Adolescentes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

1990.

FERRARI, Ilka Franco. Melancolia: de Freud a Lacan, a dor de existir. Latin –

American Journal of Fundamental Psychopathology on Line, ano VI, n.1, 2006.

Page 60: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

60

http://pt.scribd.com/doc/64104129/A-Dor-de-Existir-Melancolia Acessado:

15/03/12

FILHO, João Freire. O poder em si mesmo. Porto Alegre, 2011.

http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/103

79/7279 Acessado em: 09/03/12.

FREUD, Sigmund. Rascunho E. Como se Origina a Angústia. Ed. Standard

Brasileira, Vol. I. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_______________. Rascunho G. Melancolia. Ed. Standard Brasileira, Vol. I

(1894). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_______________. Rascunho N. Notas III. Ed. Standard Brasileira, Vol. I

(1897). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_______________. Luto e Melancolia. Ed. Standard Brasileira, Vol. XIV

(1917[1915]). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_______________. O ego e o Id. Ed. Standard Brasileira, Vol. XIX (1923). Rio

de Janeiro: Imago, 1996.

_______________. Inibições, Sintomas e Ansiedade. Ed. Standard Brasileira,

Vol. XX (1926[1925]). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_______________. Conferência Introdutórias Sobre a Psicanálise. Ed.

Standard Brasileira, Vol. XVI (1916-1917[1915-1917]. Rio de Janeiro: Imago,

1996.

GRUNSPUN, Haim. Distúrbios Psiquiátricos da Criança – 3ª ed. Rio de Janeiro

São Paulo, 1992.

Page 61: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

61

HOFFMAN, Bob. O Problema: Amor Negativo Um Estado de Se Sentir Indigno

de Ser Amado. Porto Alegre, julho de 2005.

www.processohoffman.com/texto/SindromedoAmorNegativo.pdf Acessado:

24/05/12.

LIMA, Helena. Módulo II – Psicopatologia – Introdução ao Estudo dos

Transtornos Mentais. Curso de Neuropsicologia para Psicopedagogia Clínica:

Fundamentos e Contribuições à distância. São Paulo: O Espaço do Saber,

2011.

MORETTI F A, Caro LG. Terapias Complementares no Tratamento da

Depressão: acupuntura, exercício físico terapêutico, massoterapia e

relaxamento. in. Psiqweb, internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br,

2006. Acessado em: 09/03/12.

NOGUEIRA, Gelci. Suicídio e Transtornos Psicológicos – Atenção aos 4 D:

Depressão, Desesperança, Desamparo e Desespero. Março, 2012.

http://artigos.psicologado.com Acessado em 23/03/12.

PAULO, Maria Salete Lopes de. Depressão e Psicodiagnóstico Interventivo:

Proposta de Atendimento. São Paulo: Vetor, 2005.

PERES, Urania Tourinho. Depressão e Melancolia – 2ª ed. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Ed., 2006.

RELVAS, Marta Pires. Neurociência e Transtornos de Aprendizagem. As

Múltiplas Eficiências para uma Educação Inclusiva – 5ª ed. Rio de Janeiro: Wak

Ed., 2011.

SILVA, Érika Vanessa Rodrigues da; SILVA, Juliany Christine Paiva e. A

influência do suporte familiar na depressão em adolescentes. 2012.

Page 62: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

62

http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/saude-mental/a-influencia-do-

suporte-familiar-na-depressao-em-adolescentes#ixzz1w5FSVRtK Acessado

em: 08/03/12.

VELASCO, Paulo Miguel. Depressão e Transtornos Mentais: Tudo o que você

precisa saber – 3ª ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.

Revista Mente e Cérebro – Edição Especial – nº14 – Linguagem do corpo- São

Paulo: Duetto Editorial, 2008.

www.adeb.pt/sobre_adeb/publicacoes/guias/texto/familia.htm Acessado em:

09/06/12.

www.gballone.sites.uol.com.br/voce/dep.html Psiqweb Psiquiatria Geral, 2005.

Acessado em: 08/03/12.

Page 63: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

63

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 08

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - ENTENDENDO O QUE É A DEPRESSÃO 11

1.1 - O Afeto 11

1.2 - A Depressão 14

1.2.1 - Os Sintomas da Depressão 18

1.2.2- As Causas da Depressão 21

1.3 – As Classificações da Depressão 23

1.3.1- Classificação dos Transtornos do Humor 23

1.3.2- Classificação nas Fases Existenciais 28

CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO 32

2.1- Psiquiátrico 33

2.2 – Psicoterápico 36

2.3 – Relaxamento 39 CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA 42

3.1- Autoestima 43

3.2- A Influência da Família 45

3.3- O Papel da Família 49

3.3.1- O Suicídio 53

CONCLUSÃO 56

Page 64: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · afeição, entre a sensação e o sentimento, entre o saber e o sentir é a mesma fronteira entre o eu e o não eu” (Dalgalarrando,

64

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59

ÍNDICE 63