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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A Indústria Cervejeira
Por: Katerina Kroupová
Orientador
Prof. André Cunha
Rio de Janeiro
2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A Indústria Cervejeira
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Marketing.
Por: Katerina Kroupová
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DEDICATÓRIA
A meus pais que tanto me apoiaram
para a realização deste curso com
carinho e dedicação ao longo do ano
que se passou.
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RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo apresentar um estudo das tendências do
mercado de cervejas no Brasil, os investimentos em publicidade, os movimentos
de fusões e aquisições.
Para isso, além das condicionantes sistêmicas, como competitividade
internacional, é necessário analisarmos variáveis que afetam tanto a estrutura,
quanto à conduta e o desempenho das empresas.
Podemos verificar uma incessante preocupação por parte dos departamentos de
marketing em firmar o nome de suas empresas na mente do consumidor; o que de
certa forma é ocasionado pela acirrada competição entre as empresas cervejeiras,
proporcionando ao consumidor final um leque de diversos produtos e promoções.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 06
CAPÍTULO 1 - A Indústria da Cerveja no Brasil 08
1.1 -A Origem 08
1.2 -Processo de Produção 10
1.3 -A Evolução da Produção até os anos Oitenta 13
CAPÍTULO 2 - Os Produtos; a Publicidade e a Propaganda; o Marketing e suas
Estratégias 15
2.1 -Os Produtos 15
2.2 -A Publicidade e a propaganda 15
2.3 -O Marketing e suas Estratégias 16
CAPÍTULO 3 -Competitividade Internacional 19
CAPÍTULO 4 -Concentração Industrial 21
CAPÍTULO 5 -O CADE e o caso Ambev 23
CAPÍTULO 6 - A Análise do Mercado; Desempenho das empresas pós-fusões 25
6.1 - A Análise do Mercado 25
6.2 -Desempenho das empresas pós-fusões 28
CAPÍTULO 7 – A Oposição da fusão Ambev e Interbrew 31
CURIOSIDADES 33
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 38
FOLHA DE AVALIAÇÃO 40
EVENTOS CULTURAIS 41
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Introdução Esse trabalho mostrará algumas das principais empresas do mercado cervejeiro,
assim como suas particularidades desde o início da atuação no mercado
brasileiro, suas estratégias de marketing, vendas e distribuição; seus produtos e
algumas fusões resultantes de acordos firmados entre algumas das principais
empresas do mercado cervejeiro brasileiro e algumas empresas do mercado
cervejeiro externo.
As transformações no processo de trabalho, os investimentos em publicidade, os
movimentos de fusões e aquisições e o alcance de indicadores de produtividade
devem ser encarados como aspectos cruciais na análise da conduta das
empresas.
No primeiro capítulo deste trabalho, faremos uma breve introdução da origem da
cerveja, de como era feita sua fabricação antigamente e de como os avanços
tecnológicos auxiliaram na sua produção, beneficiando não somente seus
produtores, mas também seus consumidores com uma diversidade de
produtos.Relataremos a evolução da indústria cervejeira brasileira até os anos
oitenta, mostrando as aquisições da época.Mostraremos as etapas da produção
de uma cerveja.
No segundo capítulo, mostraremos alguns dos vários tipos de cerveja brasileira
existentes no mercado, e, de como a publicidade e a propaganda auxiliam e ao
mesmo tempo, interferem no gosto e na escolha do consumidor final.
No terceiro capítulo, analisaremos o cenário internacional do mercado das
indústrias cervejeiras, apontando alguns fatores que ajudaram ou que foram
mesmo impulsionadores para que o mercado se tornasse o mais competitivo
possível.
No quarto capítulo, mostraremos a análise da estrutura do mercado cervejeiro, seu
grau de competição e os oligopólios formados.
7No quinto capítulo, mostraremos o início de uma grande estrutura de fusão de
companhias formada no ano de 2000-a AMBEV.Mostraremos a análise do
conselho administrativo de defesa econômica, o CADE, sua criação e seu
propósito em relação a este tipo de atividade no mercado cervejeiro.
No sexto capítulo, mostraremos o panorama do setor de bebidas e os efeitos das
fusões: Ambev, e mais recentemente a Interbrew.
No sétimo capítulo, verificaremos a grande oposição de algumas empresas
cervejeiras às fusões –Ambev e Interbrew.
.
8 Capítulo 1 – A indústria de cerveja no Brasil: Origem, Processo de Produção e Evolução até os anos Oitenta. 1.1 – Origem Produzida há mais de 6.000 anos pelos assírios e sumérios,a cerveja literalmente
começou sua história como “pão líquido”,uma bebida distribuída aos trabalhadores
a fim de fornecer uma saudável e nutritiva fonte de líquidos.
Primeiramente, o homem começou a cultivar cevada e outros grãos para fabricá-la
e somente depois do seu descobrimento, o homem percebeu como usar leveduras
cervejeira e cevada (mais tarde o trigo) para fabricar pão, tornando-se o alimento
principal das civilizações ocidentais.
Alguns anos mais tarde, a bebida chegou ao Egito - como demonstram hieróglifos
- e, no país, passaram a ser produzidas variedades como a Cerveja dos Notáveis
e a Cerveja de Tebas. Os egípcios divulgaram a cerveja entre os povos orientais e
foram os responsáveis pelo ingresso da bebida na bacia do Mediterrâneo e, de lá
para a Europa e todo o mundo.*
Na Idade Média, vários mosteiros fabricavam cerveja, empregando diversas ervas
para aromatizá-la, como mírica, rosmarinho, louro, sálvia, gengibre e o lúpulo,
utilizado até hoje e introduzido no processo entre os anos 700 e 800. Foi graças
aos monges do mosteiro San Gallo, na Suíça, que o lúpulo (flor de lúpulo)
começou a fazer parte, definitivamente, da composição da cerveja, o que deu à
cerveja seu característico sabor amargo.Os ingredientes básicos da bebida são
água, malte, lúpulo e leveduras. A variação desses ingredientes e do processo de
fabricação, no entanto, resultaram em diferentes tipos de cerveja.
Até esta época, eram produzidas apenas as cervejas escuras.E só em 1842, em
Plsen,na República Tcheca,surgiu a primeira cerveja clara.Seu sabor mais leve e
o baixo teor alcoólico vêm conquistando a preferência do público até os dias de
hoje.
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No Brasil, segundo documentos históricos, a cerveja foi trazida pela coroa
portuguesa, em 1808, quando D.João VI promoveu a mudança estratégica da
Família Real de Portugal para a colônia.Consta que o rei, apreciador inveterado de
cerveja, não podia se furtar a permanecer no exílio sem consumir a bebida.
Rapidamente, o hábito de beber cerveja espalhou-se entre os brasileiros.Porém, a
fabricação em território nacional esbarou nos contratos de primazia inglesa para
fornecimento de cerveja ao Brasil.Durante longas décadas, marcas estrangeiras
dominaram o mercado, resultado do rigor da dependência consumista
estabelecido pela política de importação.Até o 2ºReinado, os anúncios comerciais
nos jornais referiam-se, exclusivamente, à venda de cerveja, nunca à produção.
A produção de cerveja no Brasil começou em 1888, por iniciativa do engenheiro
suíço Joseph Villiger,que denominou sua empresa de “Manufactura de cerveja
Brahma,Villiger e Cia”. Da fusão dessa empresa com a “Preiss, Haussler e Cia”,
em 1904, resultou a “Companhia Cervejaria Brahma”.A Antartica inaugurou sua
primeira unidade produtiva em maio de 1891, em São Paulo.
Hoje em dia existem inúmeros fabricantes do produto.Americanos, belgas,
tchecos, holandeses e também brasileiros produzem cervejas distintas, do tipo
Pilsen,Bock,Stout,dentre outras.
Dentre as marcas mundiais mais tradicionais, podemos destacar a Pilsner
Urquell,da República Tcheca e a Irlandesa Guiness.
No Brasil, as cervejas do tipo Pilsen são as mais consumidas em marcas como
Skol ,Brahma , Kaiser e Antarctica,sendo o mercado,como em todo o
mundo,oligopolizado regionalmente.Por trás da satisfação e prazer do consumo,
existem estratégias empresariais competentes, que buscam afirmação e conquista
de mercados cativos, realizando constantes investimentos no parque produtivo,
em tecnologia e também em propaganda e marketing.
Aos poucos, a produção com características quase caseiras cedeu lugar à
produção em escalas cada vez maiores, transformando essas duas empresas nas
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maiores do país em algumas décadas.O processo de crescimento da Antarctica e
da Brahma foi acompanhado pelo surgimento de diversas empresas menores,
com produção e distribuição regionais, que, em sua maioria, não sobreviveram
num mercado onde à concorrência e as escalas cresciam sistematicamente.
__________________________________________________________________
*Fonte: Sindicerv,site Yahoo(cervejarias)
1.2 – Processo de Produção
Genericamente, define-se cerveja como bebida carbonatada de baixo teor
alcoólico, preparada a partir de malte, lúpulo, fermento e água de boa qualidade.
O processo produtivo evoluiu muito desde a antiguidade.Atualmente a cerveja é
produzida por maquinaria especial e o avanço da química colaborou para
aperfeiçoar a diferenciar o produto.
A primeira fase do processo produtivo ocorre na chamada sala de fabricação,
onde a matéria-prima (malte e adjuntos) são misturados em água e dissolvidas,
para que se obtenha uma mistura líquida açucarada chamada mosto, que é a
base para a futura cerveja.
Os processos envolvidos são:
- Moagem do malte e dos adjuntos
- Mistura com água
- Aquecimento para facilitar a dissolução
- Transformação do amido em açúcar pelas enzimas do malte
- Filtração para separar as cascas do malte e dos adjuntos
- Adição do lúpulo
- Fervura do mosto para dissolução do lúpulo e esterilização
- Resfriamento
O processo de produção do mosto baseia-se exclusivamente em fenômenos
naturais, tendo grande semelhança com o ato de cozinhar.A fase fundamental é a
transformação de amido em açúcar por meio das enzimas do malte.Enzimas são
substâncias que ocorrem na natureza e que são a chave da vida: todos os
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fenômenos envolvendo os seres - respiração, crescimento, procriação, etc. – são
regulados por enzimas.
Fermentação Após o resfriamento, o mosto recebe fermento e é acondicionado em grandes
tanques, chamados de fermentadores,dando início à fase de fermentação.Nessa
fase, o fermento transforma o açúcar do mosto em álcool e gás – carbônico,
obtendo assim, a energia necessária à sua sobrevivência.Esse fenômeno é similar
à respiração. É muito importante o controle preciso da temperatura, normalmente
entre 10º C e 13º C, durante todo o processo de fermentação, pois somente
nessas temperaturas baixas o fermento produzirá cerveja com o sabor adequado.
A fermentação é certamente a fase mais importante para o paladar da cerveja,
visto que,paralelamente à transformação de açúcar em álcool e gás carbônico,o
fermento produz outras substâncias,em quantidades muito
pequenas,responsáveis pelo aroma e o sabor do produto.O desenvolvimento das
técnicas de análise química nos últimos anos permitiram obter uma visão mais
completa da composição de cerveja.Em uma cerveja tipo Pilsen,pode-se encontrar
mais de 3 mil compostos químicos diferentes,a maior parte deles originada
durante a fermentação.É,portanto, durante a fermentação que o carácter da
cerveja é formado.
Maturação Uma vez concluída a fermentação, a cerveja é resfriada a grau zero, a maior parte
do fermento é separada por decantação (sedimentação),e tem início a fase de
maturação.Nela, pequenas e sutis transformações ocorrem, que ajudam a
arredondar o sabor da cerveja. Algumas substâncias indesejadas, oriundas da
fermentação, são eliminadas e o açúcar residual é consumido pelas células de
fermento remanescente, em um fenômeno conhecido como fermentação
secundária.A maturação costuma levar de seis a 30 dias, variando de uma
cervejaria para outra, em razão da cepa de fermento e do toque pessoal do
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cervejeiro.Ao término dessa fase, a cerveja está praticamente concluída, com
aroma e sabor finais definidos.
Filtração
Depois de maturada, a cerveja passa por uma filtração, que busca a eliminação de
partículas em suspensão, principalmente células de fermento, deixando a bebida
transparente e brilhante.A filtração não altera a composição e o sabor da cerveja,
mas é fundamental para garantir sua apresentação, conferindo-lhe um aspecto
cristalino.
Enchimento
O enchimento é a fase final do processo de produção.Pode ser feito em garrafas,
latas ou barris.A cerveja é basicamente a mesma em qualquer das embalagens.O
processo de enchimento não altera as características do produto.
Pasteurização
Logo após o enchimento, é prática comum nas cervejarias submeter a cerveja ao
processo de pasteurização,principalmente quando as embalagens garrafa e lata
são utilizadas(no barril,a cerveja normalmente não é pasteurizada e por
isso,recebe o nome do chope).A pasteurização nada mais é do que um processo
térmico, na qual a cerveja é submetida a um aquecimento a 60ºC e posterior
resfriamento, buscando conferir maior estabilidade ao produto. Graças a esse
processo, é possível às cervejarias assegurar uma data de validade ao produto de
seis meses após a fabricação.O processo de pasteurização é muito difundido em
toda a indústria de alimentos e bebidas, e em nada altera a composição do
produto.
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1.3 -Evolução da produção até os anos Oitenta O resultado da fusão em 1904 de Manufactura de cerveja Brahma, Villeger e Cia
e Preiss, Häussler e Cia , resultou na Companhia de cerveja Brahma . A
Antarctica Paulista inaugurou sua primeira unidade produtiva em maio de 1891,
em São Paulo.
Aos poucos a produção com características quase caseiras cedeu lugar à
produção em escalas cada vez maiores, transformando essas duas empresas nas
maiores do país em algumas décadas. O processo de crescimento da Antarctica e
da Brahma foi acompanhado pelo surgimento de diversas empresas menores,
com produção e distribuição regionais, que em sua maioria, não sobreviveram
num mercado onde a concorrência e a escala crescem sistematicamente.
Estas empresas foram sendo adquiridas pelas duas maiores do setor :.a
Antarctica comprou as cervejarias Niger , Original , Serramalte , Pérola , Polar
e Boêmia.
A Brahma, ela mesma resultante de uma fusão de empresas, iniciou seu processo
de absorção de competidores de menor porte em 1921 com a compra da Cia
Guanabara. Em 1941, a Brahma adquiriu a Companhia Hanseática e suas
controladas: Cervejaria Moravia e Paranaense. Neste mesmo ano comprou a
Cervejaria Atlântica. No ano de 1946, incorporou a Cervejaria Continental com três
unidades. A Cia Paulista de Cervejas Vienense foi comprada em 1960.A Brahma
associou-se à Cervejaria Astra S. A em 1971.Em 1973, a empresa adquiriu o
controle acionário da Cia de Bebidas da Bahia; e em 1980 adquiriu as Cervejarias
reunidas Skol-Caracu com sete fábricas.
Ao lado dos grandes produtores, coexistem pequenas empresas, como é o caso
da Cerpasa e da Cervamar que produzem a cerveja Cerpa, exporam a qualidade
do produto como estratégia competitiva básica.Porém, o produto ainda apresenta
baixa penetração nos mercados das regiões Sul e Sudeste devido ao elevado
custo de transporte, o que torna seu preço pouco competitivo ainda.
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No final dos anos setenta, a indústria cervejeira se caracterizava por um duopólio
diferenciado, apesar da presença de uma franja de pequenos produtores.Apesar
da falta de informações mais precisas, arriscava-se dizer, que Antarctica e Brahma
juntas dominavam 90% do mercado.As duas empresas são empresas de capital
nacional, constituindo um dos poucos exemplos de oligopólio diferenciado cujas
empresas líderes são nacionais e não subsidiárias de empresas
multinacionais.Outra característica importante e que difere a indústria cervejeira do
padrão típico das empresas nacionais, é o controle acionário que em ambos os
casos não é familiar.No caso da Brahma, até 1989, as ações estavam
pulverizadas na Bolsa de Valores.Já a Antarctica é controlada pela fundação
Antônio Helena Zerrenner,instituição sem fins lucrativos,fundada pelo casal
Zerrenner por não terem filhos.A fundação possui do controle acionário da
Companhia Antarctica Paulista de Bebidas e Conexos e tem por finalidade, além
de dar continuidade às empresas cervejeiras da família Zerrenner,diversas ações
no campo assistencial.
O duopólio descrito acima sofreu significativa alteração na década de oitenta com
a entrada e consolidação da Kaiser.Seguiu-se, em 1990, a entrada da Schincariol.
A produção “caseira” de cerveja ainda é inexpressiva se compararmos pequenas
cervejarias com àquelas que têm tradição e nome de marca expressivos no
mercado.Na Europa, os pequenos produtores têm se multiplicado, porém são
grandes as desvantagens de custos e de qualidade, no que diz respeito à
homogeneidade do produto, e a escala de produção deve ser elevada para
atender as imposições de preço e qualidade.
Microcervejarias e Cervejaria para Gastronomia são aquelas que produzem para
consumo no próprio local, ou transferem para outros locais. Nos USA existem
1.300 micro cervejarias,na Alemanha operam 2.000 cervejarias e no Brasil
funcionam 35 micros, tendo previsão que este número cresça em 30% nos
próximos anos.E podemos até dizer que cerveja não é modismo.De Norte a Sul do
Brasil estão em franca atividade várias cervejarias regionais, que, juntas,
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responderam em junho/2003 por 3,7% do market share do segmento, segundo a
AC Nielsen. É um índice respeitável, já que, de acordo com o Sindicato da
Indústria da Cerveja, o consumo no Brasil é alto, com 46,8 litros per capita. Para
conquistar seu lugar no mercado, essas cervejarias investem em produtos
premium, reforçam características regionais e passam, agora, a se preocupar mais
com propaganda e com o design de seus rótulos e embalagens.
Capítulo 2 – Os Produtos; a Publicidade e a Propaganda; o Marketing e suas estratégias. 2.1 Os Produtos A linha de produtos da Companhia Cervejaria Brahma, por exemplo, conta com
seis cervejas diferenciadas: Brahma Chopp claro e escuro, Brahma Extra, Brahma
Light, Brahma Malzbier, Skol,,Caracu.. A Antarctica mantém uma linha de
produtos ainda mais diferenciada, que inclui Pilsen extra, Cristal, Antarctica
Malzbier,Original, Krönenbier , Bohêmia,Miller,Carlsberg,Serra Malte,Polar e os
chopps claro e escuro.A Kaiser conta com: Kaiser Pilsen,Kaiser Summer
Draft,Kaiser Bock,Kaiser Gold,Bavária Pilsen,Bavária Premium,Bavária sem
álcool,Santa Cerva e Xingu.A Skol conta com: Skol Pilsen, Skol Beats,chopp claro
e escuro.
A maioria das marcas apresenta embalagens long-neck,garrafas tradicionais de
600ml e embalagens em latas de alumínio.
Vale a pena ressaltarmos que o setor de bebidas abrange produtos como cerveja,
refrigerantes ,isotônicos,água,sucos,entre outros.
2.2 A Publicidade e a Propaganda
O esforço permanente de conquistar a lealdade do consumidor é uma batalha
constante, onde a propaganda tenta associar o produto a uma determinada
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marca.As empresas disputam “gole-a-gole”, conforme o jargão da indústria, a
preferência dos consumidores.
Nota-se que o setor, na tentativa de conseguir a lealdade dos consumidores,
realiza permanentemente gastos em publicidade e propaganda, não se
restringindo apenas aos lançamentos.De fato, é quase uma imposição do
mercado, com vocação à diferenciação, que as empresas mantenham em caráter
permanente as campanhas publicitárias.
A distribuição é tão importante que ao longo da história da indústria, como se viu,
diversas empresas tentaram entrar no mercado e fracassaram em parte pela
deficiência neste setor.Podem-se citar como exemplos a Skol e a Polar,
compradas posteriormente pela Brahma e Antarctica respectivamente.
Atualmente,há uma grande preocupação por parte das cervejarias brasileiras
quanto à seus comerciais,alertando para o consumo moderado de álcool.
2.3 O Marketing e suas estratégias O marketing entendido como uma atividade mais abrangente que a propaganda,
envolvendo diversas modalidades de esforço de venda, além da publicidade
caracteriza-se também como uma forte barreira à entrada nesta indústria.As
atividades de marketing possuem interfaces com diversos setores da empresa. A
distribuição, a seleção de compradores, a relação com os distribuidores são
exemplos de áreas onde o marketing se faz presente, especialmente, nas
empresas maiores do setor cervejeiro.
Neste sentido, as três empresas líderes(Skol, Brahma e Antarctica) e também a
Kaiser e a Schincariol,empregam diversas práticas mercadológicas num esforço
de aumentar suas vendas.É muito comum o contrato de exclusividade nos pontos
de venda que,dependendo de seu posicionamento estratégico,poderá receber
placas,cartazes,mesas e cadeiras personalizadas,congeladores,etc. Enfim,as
empresas podem aparelhar um bar ou restaurante em troca da exclusividade na
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venda de seus produtos.Outra prática usual é o patrocínio de eventos.Nota-se que
os instrumentos utilizados objetivam o reforço da marca, procurando conquistar a
lealdade do consumidor e associar a marca da cerveja à modernidade, arrojo,
prazer, competitividade, qualidade, etc.
O contrato de exclusividade que os bares e restaurantes celebram com as
empresas cervejeiras prevêem que os bares não poderão comprar de terceiros
nenhum produto similar aos fabricados pela cervejaria.O contrato não proíbe
claramente um determinado produto, mas impede a compra de similares de seus
concorrentes.
Este fato é relevante para compreender-se o acordo firmado entre a Brahma e as
PepsiCo International,em 1984,para a fabricação,comercialização e distribuição da
Pepsi. A Brahma, principalmente a partir da entrada da Kaiser no
mercado,apresentava desvantagem clara em relação aos concorrentes por não
possuir um refrigerante “forte” enquanto a Kaiser conta com a Coca-Cola e a
Antarctica com o seu guaraná.Os refrigerantes da Brahma tinham participação
baixa no mercado.
Podemos citar também uma estratégia usada pelas cervejarias que auxilia impor
seu nome no mercado e se faz presente junto aos formadores de opinião, tais
como: cantores, atores e atrizes famosos que recebem sua marca de cerveja
preferida em suas casas, junto a congeladores para um bom armazenamento.
As estratégias
As expectativas de investimento em marketing, no mercado brasileiro de cervejas,
para o ano de 2003, apontam para um montante na ordem de R$500 milhões. A
Kaiser e a Molson, donas da Bavária, estimam, para este ano, um aumento em até
30% em seus investimentos em publicidade.Já a concorrente Ambev vem
informando ao mercado que pretende investir R$350 milhões, em 2005, para
publicidade de todas as suas marcas de bebidas, incluindo refrigerantes.Outra
empresa do mercado brasileiro, a Shincariol,apostou R$60 milhões neste mesmo
18ano como meio de aumentar sua participação de mercado,(em torno de 8% a
9%),para 15%.
Vale ressaltar que a Kaiser e a Antarctica foram as empresas que mais investiram
em publicidade nos últimos anos: a Kaiser,como meio de contestar a posição
dominante da Ambev e com isso tentar chegar ao 3º lugar no mercado de
cervejas,e a Antarctica com o objetivo de reconquistar a fatia de mercado que
perdeu nos últimos anos. O gráfico 1 mostra a evolução dos investimentos em
publicidade nos anos 2001 e 2000.
Dentre os principais motivos para essa corrida por investimentos no setor
podemos destacar dois: i) em primeiro lugar, o mercado brasileiro de cervejas é o
4º.Maior do mundo, porém só o 28ºem consumo per capita. A análise desses
indicadores de mercado aponta para um potencial de crescimento notório, o que
implica estratégias de conquista de mercado minimamente baseadas em
propaganda em marketing, como meio de exposição das marcas.ii)Em segundo
lugar, na busca de diferenciação dos produtos, com novas marcas e novos nichos,
como o Premium, de cervejas mais leves, as empresas apostam nos novos
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segmentos como conquistar mais consumidores.Hoje no Brasil, as cervejas do tipo
Pilsen, representam mais de 90% do mercado.
A diferenciação do produto advém da idéia do consumo de um produto ser
considerado mais vantajoso que os novos concorrentes.Os investimentos em
propaganda não só expõem as marcas aos consumidores, mas também os
convence dessas diferenças.Além disso, as empresas que operam com
economias de escopo e escala conseguem contratos de publicidade mais
vantajosos em relação ao montante necessário para sua exposição.Assim, a
expansão das marcas e dos produtos está diretamente ligada ao desempenho do
mercado em questão.Como podemos observar, a conduta das empresas
influencia diretamente esse desempenho sendo que os objetivos traçados podem
se contrastar com os resultados obtidos.
Capítulo 3- Competitividade Internacional O cenário internacional aponta para crescentes transformações econômicas, em
torno da conhecida globalização, que pode não ser um fenômeno tão recente, mas
é certamente inovadora no que concerne à velocidade das mudanças tecnológicas
e como elas são difundidas aos países.Enquanto as características de consumo
parecem se homogeneizar, mais as empresas e instituições deixam de ser locais e
atingem o status de transnacionais, requerendo um esforço direcionado ao
alcance de padrões de qualidade internacionalmente aceitos.
A criação de vantagens competitivas é a maneira pela qual os países alcançam
resultados positivos no comércio internacional.O conceito, porém, não pode ser
pensado como uma questão de preços, custos e câmbio.A idéia de
competitividade dos países deve ser construída a partir da competitividade das
empresas, e como estas são influenciadas pelo sistema econômico.Assim, o
desempenho de uma empresa, indústria ou nação é condicionado a fatores
internos, como gestão, capacidade produtiva e recursos humanos; estruturais,
20como configuração da indústria e da concorrência; e sistêmicos, como aspectos
macroeconômicos, internacionais e tecnológicos.
A visão de Baumann (1996), segundo a qual a idéia de globalização é
correlacionada e alguma controvérsia, parece pertinente.Em uma perspectiva
comercial, identifica-se uma crescente semelhança nas estruturas, tanto de oferta
quanto de demanda, em torno de uma competição por acesso à tecnologia, além
de semelhanças institucionais, no sentido de convergência dos princípios de
regulação.Porém, existem características que são inerentes a cada país e que
mostram um gap econômico, político e social de difícil redução.Assim, novos
desafios da integração econômica e da competitividade internacional, bem como
aspectos relacionados à complementaridade entre economias dos diversos
países, devem ser encarados como características a serem desenvolvidas e
superadas como condicionantes da regionalização.
Nesse cenário, os países vêm direcionando seus esforços á busca de acordos
comerciais, principalmente em torno de áreas de livre comércio.Por isso, a
formação de blocos regionais, em um sistema multilateral, pode ser considerada
variável preponderante na determinação de fluxos de comércio, à medida que a
integração entre os países objetiva promover a aproximação entre as diversas
economias e faz convergir os interesses dos estados e das empresas.Com a
expansão dos fluxos de comércio, é possível esperar que haja maior nível de
investimentos e que, direcionados aos parques produtivos, estes acelerem o nível
competitivo das diversas economias.
Para o mercado de cerveja, foco deste trabalho, a importância deste tema está
refletida diretamente nos esforços das empresas brasileiras de se tornarem
competitivas.Frente a um mercado que exige produtividade elevada e produção
em escala como condições iniciais para aceitação e conquista dos produtos, as
empresas investem em qualificação de mão-de-obra e estabelecem acordos
comerciais.Além disso, a busca de parceiros com vantagens competitivas dentro
dos blocos regionais faz parte das decisões empresariais que objetivam não só a
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exportação de seus produtos, mas também a penetração das marcas para
possíveis estratégias de produção e distribuição nos diversos mercados regionais.
O setor de bebidas, em especial o de cervejas, vem apostando em programas de
qualificação de mão-de-obra e excelência nos serviços de distribuição como
variável – chave para o alcance de padrões competitivos além de criar barreiras à
entrada de produtores estrangeiros nos mercados nacionais.A análise de barreiras
à entrada também será feita neste trabalho, porém é importante adiantar que nos
processos de formação de blocos, com eliminação de barreiras alfandegárias, os
setores que estiverem mais preparados no tocante a índices de produtividade,
produção em escala e estratégias de marketing, serão os que terão mais
assegurados nos mercados regionais, podendo também, almejar a conquista de
mercados externos.O acesso às redes de distribuição e a contestação de marcas
regionais com alto market-share não podem ser consideradas tão prováveis como
pode se tornar à entrada de novos competidores em outros setores da economia,
como o de tecnologia e informática.Isso, porém, não impede que haja entrada de
grandes empresas do setor de cerveja, como a americana Anheuser-Bush, mas
impõe uma taxa de retorno de projetos produtivos com um prazo maior.
Capítulo 4- Concentração Industrial Uma estrutura de mercado que comporta vários pequenos competidores é
conhecida como competição pura.Outra forma de estrutura de mercado possível, o
monopólio, é aquela na qual uma única grande firma escolhe nível de preços e
produtos que maximizam seus lucros.Há, porém, uma situação conhecida como
oligopólio, na qual há mais de um número de competidores no mercado, mas não
tantos para considerar cada um deles como tendo efeito desprezível sobre o
preço.
O estudo de concentração industrial normalmente se depara com as situações de
oligopólio e tenta explicar as estratégias de mercado que as firmas adotam.Em
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mercados concentrados, as empresas detêm um poder que define, normalmente,
um nível de preço elevado e uma oferta menor do que se houvesse competição
perfeita.Existe uma ineficiência distributiva e uma ineficácia alocativa.Nestas
condições, normalmente, há uma perda de renda total da sociedade, provocada
por um custo unitário de produção superior ao custo em concorrência perfeita.Por
vezes, esta perda pode ser compensada pelas economias de escala, à medida
que os ganhos de produtividade e o rateio dos custos fixos influenciam
positivamente as funções de produção.
Os reguladores da política econômica normalmente devem atentar para dois
fatores que podem influenciar os mercados negativamente no tocante ao bem
estar da sociedade: i)composição de preços em conjunto pelas grandes empresas;
ii)barreiras a novos concorrentes no mercado.
O primeiro fator é conhecido nos estudos de economia industrial como cartel,
acordos entre empresas que devem ser coibidos pelos gestores de política
econômica, ou pelos reguladores, de forma que possa ser impedido o exercício de
poder de mercado, por parte daqueles que detém posição dominante.O segundo
fator é amplamente estudado e conhecido em teorias de barreiras à entrada.
Os oligopólios podem, entretanto, estar representados em casos nos quais a
concorência mesmo não sendo a perfeita, impeça que haja certo grau de
arbitrariedade, principalmente devido a uma ação da regulação eficiente e que
compartilha as informações simetricamente com as empresas atuantes.Para
mensurar o market-share nos mercados específicos, três variáveis podem ser
utilizadas, como faturamento, quantidade vendida e capacidade
produtiva.Dependendo do mercado, cada uma dessas variáveis pode ser mais
adequada, sendo que o importante é que ao analisá-las, o grau de concentração
do mercado possa ser informado corretamente.
Algumas considerações sobre esse índice podem ser feitas alertando para o fato
de que, por vezes, as informações de share,principalmente quando existem muitas
23
empresas no mercado,podem não ser totalmente íntegras.A quantidade de
produtos vendidos e o faturamento das empresas podem se tornar premissas nem
sempre confiáveis.Além disso, para a análise de concentração, o importante não é
somente o grau, mas quanto ele se reflete em poder de mercado.
A idéia central da diferenciação do produto baseia-se no consumo de um produto
ser considerado mais vantajoso que o dos concorrentes.Isso depende de fatores
diversos, como controle de canais de distribuição, durabilidade dos produtos,
importância de marca e acesso à tecnologia.No mercado de cervejas, o controle
dos canais de distribuição, com operações e contratos em grandes montantes,
resulta em maior acessibilidade de certas marcas ao consumidor em detrimento
de outras.Os programas de treinamento em distribuição e os investimentos em
garrafas PET, que são mais resistentes, reafirmam a importância desses fatores
como preponderantes no estabelecimento de vantagens competitivas das
empresas, gerando barreiras à entrada no mercado.
CAPÍTULO 5 – O CADE e o caso AMBEV O CADE,Conselho Administrativo de Defesa Econômica,foi criado em 1962 e tinha
a função de prevenir contra abuso de poder econômico,estimulando e
preservando a concorrência.A autarquia ampliou sua esfera de atuação e hoje tem
basicamente três funções fundamentais: i)reprimir práticas anticompetitivas
(função repressiva),ii)controlar as estruturas de mercado(função
preventiva);iii)difundir a cultura da concorrência(função educativa).Entretanto,
essas funções, por serem atribuídas aos agentes públicos, gestores dos
interesses da coletividade, adquirem conotação de um poder-dever.(Santa
Cruz,2000)
A lei nº8884/94 em seu artigo 54, permite que o CADE autorize a realização de
operações que possam limitar ou prejudicar de alguma forma a livre concorrência,
caso algumas condições sejam atendidas.Dentre elas, o objetivo de aumentar
24
produtividade, com melhoria da qualidade dos bens e eficiência no
desenvolvimento tecnológico (sendo os benefícios distribuídos entre os
consumidores e produtores).Estes objetivos descritos terão importância nos atos
de concentração, pois como foi o caso da Brahma e da Antarctica, sempre serão
adicionadas justificativas como ganhos em produtividade e eficiência nos
processos produtivos.Por isso, o papel do regulador é o de avaliar se esses
ganhos que a sociedade e a empresa terão, serão de fato esperados.
Neste ato de concentração citado acima foi necessária a atuação do CADE,pois a
operação de fusão resultante na empresa Ambev, ( American Beverage ou Cia de
Bebidas das Américas),foi proveniente da Cia Cervejaria Brahma e da
Antarctica,que juntas detinham parcela significativa no mercado de
bebidas,principalmente no mercado de cervejas.Além disso, as empresas também
atuam no mercado de refrigerantes, aproveitando de sua escala na distribuição
dos produtos.
A Ambev,companhia resultante pós-fusão,apresenta como objetivo empresarial*
ser catalisadora da consolidação do setor de bebidas na América Latina,passando
a ser a maior fabricante de bebidas da região.As vantagens competitivas e os
ganhos de sinergia**foram os principais argumentos do ato de concentração.A
empresa alegava que conquistaria ganhos de eficiência na ordem de R$500
milhões por ano.
Ao CADE, alguns fatores mereceram destaque com a preocupação de que o
resultado fosse coerente com os princípios da regulação e, por isso, o parecer
final resultou em um termo de compromisso assinado por ambas as partes, CADE
e Ambev.Algumas condições foram impostas para a aprovação da fusão, como a
venda de cinco fábricas, em regiões diferentes do país, o compartilhamento da
rede de distribuição e a venda da marca Bavária, que segundo as pesquisas se
apresentava como detentora de mais de 4%do mercado nacional de cervejas.
25
________________________________________________________
*Relatório Anual da Cia Cervejaria Brahma, 2001.
**Idem
Capítulo 6– A Análise do Mercado;Desempenho das
empresas-fusões
6.1 A Análise do Mercado
O setor de bebidas abrange uma vasta gama de produtos, porém a cerveja pode
ser considerada um dos principais produtos do setor, sendo consumida em larga
escala em todo o mundo.
Ainda sobre o produto, este pode ser considerado rico em vitaminas do complexo
B. Com bom valor alimentar, o mercado consumidor é cativo e crescente em
diversos países, atingindo dentro do segmento de bebidas um consumo per capita
alto, normalmente perdendo apenas para os refrigerantes.Em países com
população jovem, como o Brasil, o produto normalmente é produzido por grandes
empresas regionais, o que levando em consideração as estratégias de marketing
e difusão das marcas nos mercados,aponta para crescimentos ainda esperados
em várias regiões do mundo.
No mercado de cerveja, o Brasil só perde, em volume para os Estados Unidos
(23,6 bilhões de litros/ano), China (22,5 bilhões de litros/ano) e Alemanha (10,5
bilhões de litros/ano). O consumo da bebida, em 2003, apresentou leve queda em
relação ao ano anterior, totalizando 8,22 bilhões de litros.
Em relação ao consumo per capita, no entanto, o Brasil, com uma média de 46,8
litros/ano por habitante, está abaixo do total registrado por países como México
(50 litros/ano) e Japão (56 litros/ano), como demonstra a tabela a seguir:
26
”
CONSUMO PER CAPITA ( litros/habitante ) Rep. Checa 158 Alemanha 115 Reino Unido 97 Austrália 92 Estados Unidos 84 Espanha 75 Japão 56 México 50 Brasil 47 França 36 Argentina 34 China 18
Fonte: Brewers of Europe, Alaface e Sindicerv (2002-2003)
Embora esse consumo tenha sido incrementado nos primeiros anos de
implantação do Plano Real (1994/1995), saltando de 38 litros/ano por pessoa para
50 litros/ano/habitante, o nível se mantém estável desde então, especialmente
porque, ao se levar em conta o baixo poder aquisitivo de parte de seus
consumidores, o preço do produto é alto. Na saída da fábrica, seu custo, de R$
0,50 por litro, é um dos menores do mundo. Porém até chegar ao consumidor final
a cerveja sofre a incidência de uma série de tributos, conforme demonstra o
gráfico a seguir:
27O setor, que emprega mais de 150 mil pessoas, entre postos diretos e indiretos,
não pára de investir. Nos últimos cinco anos, as indústrias cervejeiras investiram
mais de R$ 3 bilhões, com 10 novas plantas industriais entrando em operação,
além de ampliações e modernizações em fábricas já existentes.
Elas atuam com políticas próprias de avaliação do mercado global, do market
share de suas marcas e do desempenho de suas concorrentes, razão pela qual
não existem estatísticas ou dados oficiais sobre a produção e o consumo de
cerveja no Brasil. Além disso, o mercado está fortemente sujeito à sazonalidade,
com picos acentuados de consumo nos meses de dezembro e janeiro e quedas
nos meses de junho e julho e esse desequilíbrio pode provocar distorções no
volume estimado com base na arrecadação mensal do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) incidente na cerveja.
Veja, abaixo, um panorama do mercado brasileiro:
28
O panorama mundial reflete tendências de mercado que vem ocorrendo em vários
segmentos: o número de fusões e aquisições vem aumentando significativamente
em todo o mundo.Nesse cenário descrito, alguns países apresentam maior nível
de consumo.Além disso, a concentração de mercado continua sendo uma das
características mais marcantes.
Em relação ao mercado geográfico, foram identificadas 5 regiões no Brasil,de
acordo principalmente com critérios de custos de transporte e distribuição:
MERCADO 1– PR, SC, RS.
MERCADO 2 - SP, RJ, MG, ES, GO.
MERCADO 3- MT e MS
MERCADO 4 – BA, SE, AL, PE, PB, RN, CE, PI, MA, AC, PA, TO e AP.
MERCADO 5 – AM, AC, RO, RR.
6.2 O Panorama no mercado cervejeiro pós-fusões
Conhecidas pela excepcional qualidade de seus produtos e pela legião de
consumidores fiéis, Antarctica e Brahma atravessaram todo o século XX num
29
contínuo e vigoroso processo de expansão, até a decisão de unirem forças,
anunciada em 1ºde julho de 1999.Formou-se, então, a maior cervejaria da
América do Sul: Ambev – Companhia de Bebidas das Américas. A Ambev
estabeleceu como definição estratégica à expansão internacional, na condição de
multinacional brasileira.Passou a ocupar espaços na América do Sul, América
Central e Caribe.
O ano de 2004 agregou mais uma forte aliança ao mercado cervejeiro: a Ambev e
a cervejaria belga Interbrew fecharam uma aliança global, resultando na maior
cervejaria do mundo, com 15%de toda a produção global. Juntas, as duas
cervejarias têm cerca de 70 mil empregados, têm unidades em 32 mercados e
produzem cerca de 19 bilhões de litros de cerveja por ano.Seu valor de mercado
seria hoje equivalente à cerca de US$10,6 bilhões.Juntas, Ambev e Interbrew
produzem hoje em torno de 19 bilhões de litros por ano.
Tanto Ambev como Interbrew estão situadas no seleto grupo das cinco maiores
cervejarias do mundo, segundo o critério de valor de mercado.Ambev possui duas
de suas marcas entre as 10 mais consumidas globalmente – Skol e Brahma.
Um dos pontos fortes da Aliança é unir duas empresas com expressiva
lucratividade: o lucro líquido da Ambev alcançou US$487 milhões em 2004,
enquanto o da Interbrew foi de US$570 milhões; no mesmo período Ambev é
reconhecida internacionalmente pela sua excelência operacional, enquanto
Interbrew se destaca no gerenciamento de marcas.Outro aspecto positivo da
aliança global é que as empresas possuem elevado grau de complementaridade.
Ambev está presente em 11 países, enquanto a Interbrew em 21 países.Ambev
tem uma forte posição no mercado das Américas, ao mesmo tempo em que
Interbrew destaca-se na Europa e na Ásia.
A história da Interbrew também está assentada numa forte tradição, recuando no
tempo até a metade final do século XVI com a cervejaria Den Hoorn.Em 1717, o
mestre cervejeiro Sebastien Artois funda na Bélgica a cervejaria Artois.Interbrew
surge em 1987, após a união de fabricantes tradicionais belgas e, a partir dos
30
anos 90, dá início a um contínuo processo de expansão internacional.Desde
então, Interbrew adquiriu empresas líderes em mercados como Canadá, Rússia,
Coréia do Sul, Reino Unido e Alemanha.
Essa Aliança Ambev – Interbrew tem três marcas globais: a brasileira Brahma, a
belga Stella Artois e a alemã Beck’s. Há uma expressiva conquista para o Brasil,
pois pela primeira vez uma cerveja brasileira será vendida no mundo inteiro,
abrindo mercado para outras marcas, principalmente para o guaraná Antarctica.
31
Capítulo 7-A oposição à fusão Ambev e Interbrew Há algum tempo, a aliança entre as principais companhias cervejeiras
brasileiras ,denominada Ambev, ,e posteriormente sua aliança com a belga
Interbrew vem causando recentemente a oposição de um grupo de sete
cervejarias que entregaram á órgãos antitruste um documento reforçando sua
oposição á aliança, alegando que o negócio pode acabar com a competitividade
do setor no país.
A reclamaçăo formal de cervejarias acontece depois de um protesto da
Schincariol, segunda maior cervejaria do Brasil, em 2004. Os argumentos săo
similares: alegam que a fusăo acentua preocupaçĘes sobre a implantaçăo de
práticas comerciais que prejudicam a concorrência,com evidentes prejuízos ao
mercado, ás redes de distribuiçăo e certamente aos consumidores.
Recentemente, a AmBev teve seus ratings elevados pelas agências de
classificaçăo de risco Standard & Poor's e Fitch, devido á geraçăo de caixa no
exterior pela incorporaçăo da canadense Labatt, como parte do acordo com a
Interbrew. A medida tem como reflexo reduçăo do custo do capital da AmBev, que
detém dois terços do mercado brasileiro de cerveja.
A fusăo de AmBev e Interbrew, anunciada em março de 2004 e que cria a maior
cervejaria mundial em volume produzido, foi aprovada pela Secretaria de
Acompanhamento Econômico (Seae) e pela SDE (Secretaria de Direito
Econômico). Para os órgăos, o acordo năo altera a participaçăo de mercado da
AmBev, dada a participaçăo irrelevante da Interbrew no mercado brasileiro de
cerveja.
Segundo o diretor jurídico da AmBev, Pedro Mariani, năo haverá mudança dos
ratings seja exemplo prático do aumento do poder econômico da AmBev pela
associaçăo ao grupo belga.
32PRÁTICAS COMERCIAIS
Em agosto de 2004,a SDE anunciou investigaçăo sobre dois programas de
fidelizaçăo e bonificaçăo de revendedores da AmBev, estimulada por denúncias
da Schincariol.
Em um documento recente assinado pelas cervejarias Petrópolis (dona da marca
Itaipava), Cintra e Belco, entre outras as empresas também criticam o programa
de fidelizaçăo da AmBev "Tô Contigo". Segundo as cervejarias em questão, isso
pressionaria os pontos-de-venda a dedicar exclusividade aos produtos AmBev, em
troca de dinheiro, bonificaçĘes e prêmios, expulsando os concorrentes.
Segundo Mariani ,diretor jurídico da Ambev,o programa existe desde 2002 e de lá
para cá o mercado tem aumentado para os concorrentes. O programa năo tem
exclusividade pois năo oferece dinheiro e năo há multa para quem o abandona.
O "Tô Contigo" é similar a programa de milhagens. A cada caixa de produto
AmBev adquirida, o ponto-de-venda recebe um ponto e os pontos valem prêmios.
Segundo a assessoria do Cade o material entregue pelas cervejarias será
incluído no processo geral que analisa a uniăo de AmBev e Interbrew. A autarquia
é quem dará a autorizaçăo final, em termos concorrenciais, sobre o negócio.
__________________________________________________________________ Fonte: Reuters-tradução de César Bianconi & Patricia Duarte-Brasilia
33
Curiosidades:
Tipos de Cervejas
As cervejas são classificadas pelo teor de álcool e extrato, pelo malte ou
de acordo com o tipo de fermentação. As cervejas de alta fermentação
são aquelas cujas leveduras flutuam, durante o processo, em temperatura
de 20ºC a 25ºC, após fermentar o mosto, gerando um produto de cor
cobre-avermelhada, de sabor forte, ligeiramente ácido e com teor
alcoólico entre 4% e 8% (as alemãs, por exemplo). A maior parte das
cervejas são de baixa fermentação, ou seja, quando expostas a
temperaturas entre 9ºC e 14ºC, o levedo fica depositado no fundo do
tanque.
Conhecidas como large, as cervejas de baixa fermentação só começaram
a ser produzidas em larga escala no século passado, com a descoberta
de Linde, que inventou a máquina frigorífica. Os tipos mais conhecidos de
lager são as Pilsener, Munchener, Vienna, Dortmund, Einbeck, Bock,
Export e Munich - a maioria delas um tributo às cidades de onde vieram
as fórmulas.
Pilsener
A cerveja do tipo Pilsener nasceu em Plsen, na
antigaTchecoslováquia(atual República Tcheca)em 1842, e é a mais
conhecida e consumida no mundo. De sabor delicado, leve, claro e de
baixo teor alcoólico (entre 3% e 5%), é também a preferida dos
brasileiros. No Brasil, o consumo da pilsen - a que mais se adequa ao
nosso clima - chega a 98% do total ingerido, ficando o restante para as do
tipo bock, light, malzbier e stout.
Bock
A cerveja tipo bock é outra lager de aceitação mundial por ter um sabor
mais forte e encorpado, geralmente de cor escura. É originária da cidade
de Einbeck, na Alemanha. Tem baixa fermentação e alto teor alcoólico.
34
Stout
Originária da Irlanda, a stout é feita com cevada torrada e possui um
sabor que associa o amargo do lúpulo ao adocicado do malte. É
elaborada com maltes especiais - escuros - e extrato primitivo de 15%. A
fermentação é geralmente alta. Sua cor é escura e seu teor de álcool e
extrato são altos.
Ice
A cerveja ice nasceu em 1993 no Canadá. É fabricada por meio do "ice
process". Depois de fermentada, sofre um resfriamento à temperaturas
abaixo de zero, quando a água se transforma em finos cristais de gelo. No
estágio seguinte, esses cristais são retirados e o que permanece é uma
cerveja mais forte e refrescante.
Quantidade
Estima-se que existam atualmente mais de 20 mil tipos de cervejas no
mundo. Pequenas mudanças no processo de fabricação, como diferentes
tempos e temperaturas de cozimento, fermentação e maturação, e o uso
de outros ingredientes, além dos quatro básicos: água, lúpulo, cevada e
malte - são responsáveis por uma variedade muito grande de tipos de
cerveja.
Classificação Básica
Pela legislação brasileira, além das denominações tradicionais, a cerveja
pode ser também do tipo Export e Large (características semelhantes a
Pilsen).
35
As cervejas são classificadas em 5 itens:
1 - Pela fermentação:
Alta fermentação
Baixa fermentação
2 - Extrato primitivo:
Leve: > 5% e <10,5%
Comum: > 10,5% e < 12%
Extra: >12,0% e <14%
Forte: > 14%
3 - Cor:
Clara: Menos de 20 unidades EBC (European Brewery Convention)
Escura: 20 ou mais unidades EBC
4 - Teor alcoólico
Sem álcool: Menos de 0,5% em volume de álcool
Alcoólica: Igual ou maior que 0,5% em volume de álcool
5 - Teor de extrato
(final):
Baixo: Até 2%
36
Médio: 2% a 7%
Extra: >12,0% e
<14%
Alto: Mais de 7%
TIPOS DE CERVEJA
CERVEJA ORIGEM COLORAÇÃOTEOR
ALCOÓLICO FERMENTAÇÃO
Pilsen República
Checa Clara Médio Baixa
Dortmunder Alemanha Clara Médio Baixa
Stout Inglaterra Escura Alto Geralmente
Baixa
Porter Inglaterra Escura Alto Alta ou Baixa
Weissbier Alemanha Clara Médio Alta
München Alemanha Escura Médio Baixa
Bock Alemanha Escura Alto Baixa
Malzbier Alemanha Escura Alto Baixa
Ale Inglaterra Clara e
Avermelhada
Médio ou
Alto Alta
Ice Canadá Clara Alto -
37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
• Relatório anual Ambev-2003
• Santa Cruz, R.(1980)Prevenção Antitruste.Tese de Doutoramento, IE/UFRJ
• Baumann,R.(1996)”Uma visão econômica da globalização”,em
Baumann(org.)1996,pp.33-54-(org.)”O Brasil e a Economia Golbal”,Rio de
Janeiro:Campus,1996
• Coutinho, L.Ferraz, J.C. (1994) “Estudo da competitividade da Indústria
Brasileira. Campinas: Papirus”.
• Cosentino ,Maria Teresa(1994)Tese de doutoramento-Economia-UFRJ/IEI
• Monografia UFRJ /CCJE (2001)
38
Bibliografia Citada
• Sites – Ambev
• Site da Internet – Yahoo Cervejarias
• Sindicerv
• Site - Interbrew
39
CONCLUSÃO Ao analisarmos o mercado de cerveja, verifica-se que as tendências de mercado
são diretamente dependentes das estruturas e da conduta das empresas que nele
atuam.Assim, considerar mudanças nesse mercado requer primeiramente um
estudo das variações dessas condicionantes estruturais, e também relacioná-las
com o desempenho histórico das empresas.
Em um mercado altamente concentrado, como o de cervejas, o risco de haver
exercício de posição dominante é alto.Por isso, é necessário que haja um
acompanhamento de perto das condutas das empresas para que o consumidor
final não saia prejudicado.Esse é um dos papéis do CADE, que vê na função
preventiva a maneira de controlar ações do mercado provenientes da estrutura
oligopolizada e das barreiras à entrada aos potenciais competidores.
Nesse cenário, as empresas que atuam no segmento de cerveja apostam em
algumas estratégias para se tornarem competitivas no mercado interno e
externo.Em situações que exigem economias de escala e altos investimentos, os
acordos comerciais e também as fusões e aquisições aparecem como soluções
imediatas para continuidade das operações no mercado.Aquelas que têm acesso
a financiamento e desenvolvem políticas de qualidade e produtividades
conseguem atingir um nível de competitividade capaz de mantê-las no mercado e
também de almejar crescimento em share de valor.
Para isso, é fundamental que as empresas invistam não só no parque produtivo, e
em produtividade de seus trabalhadores, mas também em marketing e
distribuição, à medida que esses dois fatores podem ser considerados primordiais
para diferenciação do produto e para acessibilidade aos consumidores.Essa tem
sido a estratégia de todas as empresas que pretendem se manter no mercado.
40
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Título da Monografia: “LATO SENSU”
Autor: KATERINA KROUPOVÁ
Data da entrega: 11/02/2005
Avaliado por: ANDRE CUNHA Conceito: