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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
APOLOGIA DE LOVELOCK
ERIK JEFFERSON DA SILVA BATISTA
Prof. Orientador: Maria Esther de Araújo
Co-orientadora: Prof. Giselle Böger Brand.
RIO DE JANEIRO
2014
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
APOLOGIA DE LOVELOCK
ERIK JEFFERSON DA SILVA BATISTA
Monografia apresentada ao Instituto A
Vez do Mestre como requisito parcial
para a obtenção do título de
especialista em Educação Ambiental
Orientador:
Prof. Maria Esther de Araújo
Co-orientadora: Prof. Giselle Böger Brand
RIO DE JANEIRO
2014
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RESUMO
Esta monografia de Conclusão de Curso tem por finalidade expor a importância
do conhecimento acerca dos inúmeros assuntos que ilustram o fenômeno
conhecido como Aquecimento Global. O Educador Ambiental, para não cair na
mecanicidade do discurso catastrófico e apocalíptico, intimamente relacionado
ao tema, deve aprofundar-se em determinados tópicos, a fim de construir uma
visão mais realista sobre o tema. Ou seja, uma visão mais pautada dentro da
própria Educação Ambiental, como ferramenta de prevenção face às mudanças
climáticas. Inquestionavelmente, o conhecimento sobre os principais problemas
ambientais, dos últimos tempos, é fundamental para dissiparmos os “achismos”
que permeiam esse tema. Esse trabalho é ilustrado pela Teoria de Gaia, os
impactos sociais ambientais ao longo do tempo; como a cultura de
determinados grupos, num primeiro momento, foi favorável a natureza; o efeito
estufa e outros apontamentos. O Brasil como pano de fundo é um cenário que
serve como síntese de todos os dilemas que o mundo enfrentará no futuro:
gestão dos recursos hídricos; produção de alimentos; desenvolvimento
sustentável; planejamento frente às mudanças climáticas; energia limpa;
redução de emissões de gases na atmosfera; planejamento ambiental e o
grande desafio de promover um desenvolvimento humano capaz de produzir
um cenário preparado para receber os impactos negativos provocados pelo
desarranjo climático, sinalizado por pensadores como James Lovelock e os
inúmeros relatórios que apontam para um futuro cenário de grandes
transformações.
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METODOLOGIA
O presente trabalho monografico segue os moldes da pesquisa
bibliográfica qualitativa, ou seja, de caráter exploratório, levando em
consideração o pensamento livre de diversos pesquisadores. Sendo assim,
com espaço para múltiplas interpretações sobre o objeto de estudo. A
Hipótese de Gaia [hoje, Teoria de Gaia] é o pressuposto teórico que
fundamenta esse trabalho.
A Educação Ambiental permeia o texto, como pano de fundo,
ilustrando a fundamentação teórica do trabalho. Dois autores serviram como
eixo central, durante a coleta de informações da etapa descrita desse trabalho,
são eles: James Loveloch, Kurt G Bluchel e Eduardo Galeano. Conforme o
desenvolvimento e o avanço da pesquisa outros autores foram sendo
incorporados. É importante ressaltar que, outros meios foram utilizados como
instrumento de coleta de informações; como artigos publicados em revistas,
textos e vídeos (entrevistas) disponíveis na Internet.
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SUMÁRIO
Introdução .............................................................................................. ............7
Capítulo 1 - A Gaia Ciência ................................................................................9
Capítulo 2 - O Planeta está mais quente? ........................................................17
Capítulo 3 - O Brasil no Cenário ......................................................................23
Conclusão .........................................................................................................29
Bibliografia ........................................................................................................31
Webgrafia .........................................................................................................32
Anexos ..............................................................................................................33
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INTRODUÇÃO
O termo "aquecimento global", por essas épocas, parece
cristalizado no vocabulário universal como sinônimo de um caminho sem volta.
Um desequilíbrio que vem açoitando o planeta - de uns tempos pra cá. No
entanto, o senso comum vem associado esse termo somente ao degelo das
calotas polares ou fazendo alusão aos dias de temperaturas elevadas. Afinal
de contas, qual é a verdadeira natureza desse fenômeno de ordem climática?
Neste trabalho, evocamos o pensamento do cientista britânico
James Lovelock, criador da Teoria de Gaia, como uma espécie de elemento-
chave na compreensão dos inúmeros elementos que compõe o mosaico do
complexo fenômeno das mudanças climáticas. Podemos dizer que o tema
desta monografia é o Planeta Terra, o pensamento do ambientalista James
Lovelock e os impactos produzidos no cenário do suposto aquecimento do
planeta. Aquecimento global: mito ou realidade? O ponto central deste trabalho
é justamente encontrarmos a resposta para essa pergunta.
Julgamos que o tema desta monografia é de grande importância,
pois esse tema [aquecimento global], por essas épocas, é presença constante
nos livros didáticos do ensino fundamental e médio. E, por vezes, os alunos
questionam-se à cerca desse fenômeno ilustrado nos livros. Sendo assim,
podemos dizer que esse trabalho serve como um instrumento capaz de ampliar
o horizonte de conhecimento do professor à cerca desse fenômeno discutido
por inúmeros pesquisadores contemporâneos.
A Educação Ambiental, como disciplina inovadora, é capaz de
promover uma série de debates e levantar questionamentos, por vezes
filosóficos, à cerca do mundo e da realidade na qual estamos inseridos. Ao
contrário das inúmeras práticas de Educação Ambiental, que visam estabelecer
ações voltadas para a preservação e manutenção do meio ambiente, o
8
compromisso deste trabalho é sintetizar os principais tópicos que envolvem
essa questão que envolve o clima do nosso planeta.
O capítulo I desta monografia é ilustrado pelo recorte de um
cenário intimamente relacionado a I Revolução Industrial, como eixo de ligação
entre o homem e a natureza; um pequeno histórico sobre a Teoria de Gaia,
exemplos originários de textos literários e exemplo de culturas que promovem
uma maior conscientizarão à cerca do meio ambiente, idéias de James
Lovelock e alguns exemplos de degradação ambiental.
Já no capitulo II mencionamos o aquecimento global e os seus
desdobramentos teóricos; efeito estufa, as previsões sobre o aquecimento do
planeta, questões energéticas e as revelações do pesquisador Kurt G. Bluchel.
No capitulo III, usando o Brasil como pano de fundo, falaremos
sobre a importância do planejamento ambiental; trechos de uma entrevista de
James Lovelock para a Folha de São Paulo, uma informação de grande
relevância levantada por Eduardo Galeano - autor do livro As Veias Abertas da
América Latina -, o Brasil no cenário do aquecimento e possibilidade da
Educação Ambiental no cenário da Amazônia.
Sendo assim, podemos dizer que os objetivos dessa pesquisa se
resumem no conhecimento à cerca dos principais problemas de ordem
ambiental dos últimos tempos; informações de grande importância na formação
do profissional que trabalha como mediador de informações de ordem
ambiental, no intuito de passar um conhecimento - à cerca das mudanças
climáticas - de forma cada vez mais consciente.
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CAPÍTULO I
A GAIA CIÊNCIA
A I Revolução Industrial foi o pontapé inicial de uma espécie de
“exploração especializa”. Um processo dotado de uma lógica de produção que,
lentamente, foi estigmatizando o homem e, posteriormente, o meio ambiente. O
prelúdio dos tempos modernos foi escrito a todo vapor. E o homem, distante do
seu habitat natural, figurou como uma espécie de criança longe do colo da mãe
- Natureza.
“Um americano, ao descrever uma fiação de
lã em Yorkshire, em 1815, observou que
aproximadamente 50 meninos e meninas
estavam trabalhando, chegando às 6 horas
e saindo às 19 horas. No inverno, chegavam
no escuro e saiam no escuro. A criança mais
velha não tinha mais de 10 anos de idade.
Todos estavam lambuzados de poeira e óleo
vindos da lã crua que eles manipulavam. A
nova fábrica, ao contrário dos trabalhos
rurais, tais como cuidar dos gansos e
ordenhar as vacas, era um tirano incansável
que exigia a atenção das crianças o dia
inteiro, mesmo quando estavam a ponto de
adormecer por exaustão”. (BLAINEY, 2004,
p.260, grifo nosso).
Num segundo momento, podemos dizer que a Terra também
começou a esboçar os primeiros sintomas de anomalia. Ou seja, se o homem
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estava se desequilibrando - por conta de determinas ações - a Terra não ficaria
de fora. A idéia de que todos os elementos da natureza estão conectados,
formando um único organismo, nos remete a Hipótese de Gaia, desenvolvida
pelo cientista britânico James Lovelock, juntamente com a bióloga estado-
unidense Lynn Margulis. Segundo a Hipótese de Gaia, nosso planeta seria um
organismo vivo que se auto-regula - com auxilio de outros componentes físicos.
Mas esse sistema capaz de promover equilíbrio, produzindo um ambiente
favorável à vida de inúmeras espécies, não estaria tão resistente como no
passado.
Durante o longo período da Guerra Fria, na época das conquistas
espaciais, a Terra foi comparada a uma nave, onde os homens eram os
tripulantes. Hoje, com a Teoria de Gaia, o homem deixa de ser um mero
passageiro para assumir um papel muito mais significativo como parte
integrante desse organismo vivo.
Lovelock (2006) diz que, num primeiro momento, a Terra criou
condições favoráveis para o surgimento da vida. Hoje, é justamente essa vida
que mantém a Terra como ela é - favorável a vida. A Terra é um organismo
vivo, os homens e toda forma de vida são células do seu tecido. E o mais
interessante de tudo: Gaia, a Terra, possui um sistema auto-regulador. O
sistema que permite o equilíbrio da concentração dos gases na atmosfera é
apenas um dos exemplos. As plantas consomem gás carbônico, através da
fotossíntese. E através da respiração, queimando substancias orgânicas, os
animais produzem gás carbônico. Ou seja, devolvendo à atmosfera aquilo que
as plantas consomem.
No passado, identificamos o embrião da teoria de Lovelock no
campo da mitologia, dotada de um simbolismo de grande magnitude.
Originalmente, Gaia, a Mãe da Terra, é uma Deusa do panteão grego, citada
pelo filósofo Hesíodo. O insigne pensador sinaliza o Caos como elemento
precursor - Gaia, a Deusa da Terra, teria brotado desse Caos.
Inquestionavelmente, a Terra foi compreendida como um elemento feminino.
Mitos de criação de inúmeros povos sinalizam nessa mesma direção. Bartlett
(2009, p. 221) descreve que “entre os povos Pueblo, do sudoeste da América
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do Norte, os kares acreditavam que um criador do sexo feminino estava no
comando.”
Os místicos acreditam que cada planeta possui uma consciência,
uma alma, uma espécie de gênio que habita dentro de cada corpo celeste. Algo
que descende diretamente do cosmos, do mais elevado. A literatura parece
brincar com essa idéia, faz tempo. A idéia de projetar, nos demais elementos
da natureza, adjetivos tipicamente humanos. No livro As Aventuras do Barão
de Munchausen, Rudolf Erich Raspe escreve: “Logo despedi-me da Rússia, e
foi um inverno inusitadamente severo por toda a Europa, tanto que o sol parece
ter ficado machucado pelo frio, e os efeitos ainda podem ser vistos em sua
face.”
É possível estabelecermos uma ponte entre o imaginário e o
científico? Se o objetivo for à promoção da Educação Ambiental, certamente, a
resposta é sim. A Educação Ambiental é um terreno fértil para uma gama de
pensadores, por vezes filósofos, no que diz respeito à construção de uma nova
consciência, capaz de produzir mudanças significativas no meio ambiente. E a
teoria de Gaia, em termos mecanismo de conscientização, reluz como uma
espécie de farol.
Na Islândia, por exemplo, a construção de determinadas estradas
é adaptada à topografia do terreno. Afloramentos rochosos são preservados
mediante curvas sinuosas. Segundo a cultura daquele povo, alguns elementos
da paisagem, tais como rochas, lagos, etc. não podem ser depredados, pois se
trata do habitat natural de “seres imaginários”. E a resposta para essa
mentalidade - com reflexos positivos no meio ambiente - reside no fato de que
esse país foi o berço de boa parte das fontes escritas, que serviram como base
para a criação da mitologia nórdica. É obvio que o pano de fundo de
determinados povos de outrora, principalmente em termos de relação com o
meio ambiente, nos remete à possibilidade de identificarmos a idade da Terra
que alguns autores rotularam de idade de outro. O pequeno trecho a seguir
ilustra muito bem esse assunto. Lovelock (1999, p. 150) também descreve algo
interessante nesse sentido: “Na Idade Média de nossa história, as ordens
religiosas, em seus mosteiros, conservaram a essência do que nos torna
12
civilizados”. É demasiado interessante como podemos aprender, em termos de
conservação, meio ambiente, etc. através do registro de determinados grupos
que, desprovidos da engrenagem da industrialização, prezava por um mundo
melhor. Um mundo menos nocivo, mais limpo e desprovido de tantos sistemas
que, de certa forma, terminam por degradar o ser humano juntamente com o
meio ambiente.
“Uma quantidade considerável de literatura
nórdica apareceu na Islândia durante os séculos
XI a XIV EC e as obras mais conhecidas são os
Eddas e as Sagas, narrativas e poesia e prosa,
algumas anônimas, outras escritas como
enigmas ou alusivas a idéias e ensinamentos dos
antigos mitos”. (BARTLETT, 2009, p. 128).
Em relação aos demais países do Norte, essa mentalidade
verificável na Islândia é algo que se perdera nas brumas do tempo. Na Europa,
durante a I Revolução Industrial, florestas inteiras foram dizimadas. Nesse
sentido, o filósofo norueguês Arne Naess, criador da Ecologia Profunda,
defende um retorno ao passado. Familiarizado com a Ecologia Profunda,
Lovelock (2006, p. 146) diz o seguinte: “Poucos de nós conseguiríamos agora
mudar nossas vidas o suficiente para expressar o nosso apoio a Gaia, como
fazem os ecologistas profundos.”
A visão de James Lovelock, da Terra como um sistema auto-
regulador formado pela totalidade dos organismos, é comprovada
cientificamente. No entanto, as previsões do cientista - à cerca do clima - foram
contestadas por inúmeros pesquisadores da área. O próprio Lovelock
reconhece que foi um pouco alarmista em relação às questões climáticas.
Entretanto, se a Terra é um sistema auto-regulador - como diz sua teoria - fica
difícil fazer previsões certeiras. A Terra, mesmo sendo açoitada por inúmeros
agentes externos, mediante o seu sistema auto-regulador é capaz de manter
13
um ambiente favorável à vida. Segundo Lovelock (2006) a Terra, Gaia, apenas
poderia não estar tão forte como no passado.
Hoje, existem os cursos de segurança no trabalho. Ou seja,
depois de inúmeros acidentes uma estratégia foi elaborada no intuito de evitar
acidente nesses ambientes. O mesmo aconteceu com o meio ambiente:
inúmeros acidentes, com profundas cicatrizes. E no caso da relação do homem
com a natureza temos a Educação Ambiental como ferramenta de instrução.
Em termos de meio ambiente, existe uma realidade muito mais
tangível do que as oscilações do clima. Os recursos hídricos, o solo, e a
qualidade do ar precisam de uma atenção maior. Talvez, pelo seu caráter de
necessidade imediata. O ser humano, nesse momento, precisa inclinar-se à
possibilidade de edificar um modelo de desenvolvimento sustentável, mais
voltado para a preservação do meio ambiente.
No Brasil, cerca de 36% do gado bovino de corte é criado na
Amazônia. Até a década de 70, o gado era criado para consumo regional
desenvolvendo-se em áreas de pastagens naturais, formadas pelos campos e
cerrados. Moreira (2006) afirma que, a partir desse período, empresas
agropecuárias com grande potencial financeiro começaram a se instalar na
região, derrubando grandes trechos de floresta, substituindo-os por pastos.
O mais interessante dessa questão é estabelecermos uma
relação entre a ação humana e o fenômeno do aquecimento global, de maneira
isolada. Ou seja, de um lado algumas estimativas cientificas sugerem que um
aumento de 5 graus Celsius seria o suficiente para desestabilizar toda floresta
amazônica, transformando-a em um tipo de savana, de deserto. Independente
das questões climáticas, por conta da ação humana, é verificável um quadro de
desertificação na floresta. Sobre essa questão, Lovelock diz que é essencial
preservar determinadas florestas tropicais, pois uma migração de várias
espécies pode ocorrer, futuramente, justamente para essas regiões de florestas
tropicais.
James Lovelock defende a idéia da criação de um livro, uma
espécie de manual de sobrevivência de nossos sucessores. Ou seja, uma das
características mais marcantes da Educação Ambiental, o seu caráter de
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preservação, é verificável no discurso do cientista inglês. Vejamos o exemplo
que ilustrado no texto a seguir:
“Precisamos de um livro de
conhecimentos tão bem escrito que
mereça ser considerado literatura. Algo
para qualquer um interessado em nosso
estado e no da Terra - um manual para viver
bem e sobreviver. A qualidade do texto deve
permitir que seja lido como passatempo,
leitura religiosa, fonte de fatos e até texto de
escola primária. Abrangeria de coisas
simples, como instruções para acender uma
fogueira, até o nosso lugar no sistema solar e
universo”. (LOVELOCK, 2006, p. 149, grifo
nosso).
A degradação ambiental, produzida de uns tempos pra cá, além
de deixar inúmeras marcas no meio ambiente produziu cicatrizes em distintos
povos. Em seu livro A Gaia Ciência, o filosofo Nietzsche parece desabafar:
“Onde está Deus?, exclamou, é o que vou lhes dizer! Nós o matamos - vocês e
eu! Nós todos somos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como
pudemos esvaziar o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? ”
Segundo Lovelock (2010), o primeiro artigo a mencionar a Teoria
de Gaia foi publicado no periódico Proceedings of the American Astronautical
Society, no ano de 1968. O título do artigo era Atmosferas planetárias:
alterações na composição e outras mudanças associadas à presença de vida.
O artigo se dedicava principalmente à análise atmosférica como um
experimento de detecção de vida extraterrestre. O artigo passou despercebido.
A seguir destacamos um trecho desse artigo que foi publicado no livro Gaia:
Alerta Final, de 2010. Num primeiro momento, a Teoria de Gaia foi rechaçada
justamente pelo momento histórico de seu nascimento - juntamente com a
cultura Hippie nos anos 60. Sendo assim, rotulada como “utopia hippie”.
15
“Se a atmosfera da Terra é uma agregação
biológica, então é razoável considerar que
seus componentes são mantidos em uma
composição ideal ou próxima do ideal para o
ecossistema. Por exemplo, o clima da Terra é
fortemente dependente da pressão
atmosférica, isto é, a quantidade total de
oxigênio e nitrogênio, e da concentração dos
gases de absorvância na faixa do
infravermelho, como o dióxido de carbono e o
vapor d’ água”. (LOVELOCK, 2010, p. 158).
Afinal de contas, o que realmente seria Gaia dentro do contexto
cientifico preconizado por Lovelock? Inquestionavelmente, encontramos a
resposta no capítulo 2 do livro A Vingança de Gaia. Embora utilize a metáfora
da “Terra Viva” fazendo alusão a Gaia, Lovelock não imaginou a Terra viva de
forma sensível, ou mesmo como uma bactéria ou um animal.
“Gaia é um invólucro esférico fino de
matéria que cerca o interior
incandescente. Começa onde as rochas
crustais encontram o magma do interior
quente da Terra, um 160 quilômetros abaixo
da superfície, e avança outros 160
quilômetros para fora através do oceano e ar
até a ainda mais quente termosfera, na
fronteira com o espaço”. (LOVELOCK, 2006,
p. 27, grifo nosso)
Sem sombra de dúvidas, os astronautas que tem a chance de
olhar a Terra do espaço podem contemplar a face de Gaia - uma espécie de
aura permanente que envolve todo o globo terráqueo.
16
A idéia de que a terra pode ser um organismo, é possível do
ponto de vista fisico, biológico. Mas digamos que não seja, mesmo do ponto de
vista poético já está valendo, entrevista de Lala Deheinzelin1 para o Instituto
EcoSocial em outubro de 2011.
1 Lala Deheinzelin é uma mobilizadora sociocultural e consultora em economia criativa.
17
CAPÍTULO II
O PLANETA ESTÁ MAIS QUENTE?
O efeito estufa é um fenômeno natural indispensável para a
existência da vida na Terra. Ou seja, os gases da atmosfera, em especial o
dióxido de carbono, impedem a dispersão do calor acumulado pelo globo
terráqueo, conservando a média térmica global de 15ºC. Por essas épocas, a
elevação da temperatura média do planeta, causado pelo aumento da
concentração de gases de efeito estufa, recebe o nome de aquecimento global.
No entanto, o tema é bastante polemico e parece dividir opiniões.
“Há pelo menos duas correntes que
explicam o aquecimento global. Uma delas
defende que o aumento da emissão de gases
de efeito estufa é causado fundamentalmente
por fatores naturais, entre eles, a dinâmica
das massas de ar e as correntes marítimas. A
outra, com um maior número de adeptos,
acredita que a intensificação do fenômeno
deve-se a ação humana.” BRAICK, 2011, p
318, grifo nosso)
As previsões sobre o aquecimento do planeta apontam para um
aumento da temperatura média do planeta que pode variar de 1,4°C até 5,0° C.
Essas alterações poderiam provocar secas em algumas regiões, inundações
catastróficas em outra, elevação dos oceanos e derretimento das geleiras. Ou
seja, fenômenos que vem sendo observados, com bastante freqüência, de uns
tempos pra cá. Entretanto, alguns pesquisadores afirmam que não existe
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aquecimento global, pois não existe um clima global. O que existe é o clima
urbano, micro-climas.
Em entrevista para O Programa 3 a 1 (2009) o professor Luiz
Carlos Molion, físico e meteorologista, diz o seguinte sobre essa questão:
“nesse debate de aquecimento global, de mudanças climáticas, tem muito de
achismo, tem muita coisa que é afirmada e que não é comprovada”.
Nas últimas décadas, aquecimento global é um tema presente
nos livros didáticos do ensino fundamental e médio - transitando entre
disciplinas como geografia, biologia e história. Por conta dos impactos
causados ao meio ambiente, o atual modelo de desenvolvimento econômico é
alvo de inúmeras criticas. Questões como a diminuição da biodiversidade, a
destruição das florestas e o próprio aquecimento global, ao extrapolarem as
fronteiras dos países, entraram para o quadro de discussões de vários
organismos diplomáticos e internacionais. Alguns ambientalistas, como o
próprio James Lovelock, acreditam que o atual modelo de produção de energia
deve ser substituído por alternativas mais eficazes.
“(...) a manutenção desse modelo de
produção e consumo em massa tem sido
responsável pela depredação dos recursos
naturais, pelo aumento da concentração de
gases de efeito estufa na atmosfera e pela
produção de dejetos poluentes dos mais
variados tipos” (BRAICK, 2011, p. 317)
Lovelock defende o uso de tecnologias voltadas para a produção
de energia nuclear. Segundo ele, a energia nuclear é a melhor das opções,
mas infelizmente uma cultura do medo foi disseminada - por conta dos
acidentes catastróficos envolvendo usinas nucleares, como Chernobyl. No
entanto, Lovelock (2006 p, 72) diz “acredito que a energia nuclear seja a única
fonte de energia que atenderá nossas necessidades sem prejudicar Gaia”.
19
Segundo o painel da ONU para mudanças climáticas (IPPC), as
ações humanas são responsáveis pelo aquecimento global. No entanto,
inúmeros cientistas discordam dessas afirmações. Através das crônicas do
clima podemos compreender que os fenômenos similares são bem anteriores à
industrialização. O próprio Lovelock (2009) diz que há 55 milhões de anos, o
clima era muito parecido com o atual. Uma quantidade enorme de dióxido de
carbono foi lançada na atmosfera como resultado de um acidente geológico,
não da ação do homem, mas o resultado foi o mesmo. Isso aumentou a
temperatura em 5 graus Celsius. O Oceano polar ártico ficou tão quente que
animais tropicais viviam nele. A temperatura da água era de 23 graus Celsius.
Havia animais como crocodilos perto do Pólo Norte.
Sobre essa questão, o pesquisador Kurt G. Bluchel - autor do
livro A fraude do Efeito Estufa - faz algumas afirmações interessantes.
Segundo Bluchel (2007), existe uma espécie de manipulação ou total falta de
compromisso com a realidade dos fatos que envolvem as dinâmicas do clima.
Inquestionavelmente, suas considerações não descaracterizam o trabalho de
Lovelock, pois a Teoria de Gaia pressupõe que, independente de qualquer
previsão, etc. o nosso planeta, Gaia, possui um sistema auto-regulador. Ou
seja, um mecanismo que está sempre procurando, dentro de seus limites,
manter o equilíbrio, um ambiente favorável à vida.
As questões climáticas, na interpretação de pesquisadores como
Kurt G. Bluchel, possui características bem distintas da versão do senso-
comum, do discurso propagado de maneira mais abrangente.
De acordo com Bluchel (2007) há um novo medo, intimamente
relacionado à mudança do clima. Alguns surgiram falando à cerca de uma
histeria do clima. Buraco na camada de ozônio? Morte de florestas? Tudo
coisas de outrora. Guerras mundiais? Epidemias? Acidentes em usinas
nucleares? Por essas épocas são as catástrofes do clima que nos imobiliza.
Antes de existir homens, o clima já era uma montanha russa. Tempestade do
século? Tudo coisas velhas da natureza
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“As instituições orientadas mais
politicamente, junto com seus grupos de
peritos pendentes a estes grêmios,
alimentam seus computadores gigantes e
pecaminosamente caros, estranhamente, só
com conjuntos de dados dos últimos 150
anos, quando na Terra começou, mais uma
vez, um período quente”. (BLUCHEL, 2008,
p. 97)
De acordo com Bluchel (2008), de um pequeno buraco no fundo do
Mar do Norte escaparam significativas quantidades de metano, como
conseqüência de um acidente de perfuração, em 21 de novembro de 1990.
Com o auxilio de um submarino, colaboradores --- constataram que do fundo
escapam, já há quase 17 anos, 1000 litros de gás metano por segundo. O
acidente aconteceu quando a empresa de petróleo inglesa Móbil North Sea
Limited, durante uma perfuração, encontrou uma bolha de metano. Um porta-
voz da empresa disse que, desde o acidente não teria mais acorrido, neste
local, saídas maciças de gás. Apesar disso, o governo britânico marcou o local
- em cartas náuticas - como local de perigo. Através de bolhas borbulhantes,
até na superfície a saída de gás pode ser constatada. Atualmente, o gás
metano escapa com intensidades diferentes - de dez fontes. Todas fazem parte
da cratera da explosão de 1990. Dois terços do gás são diluídos na água ou
oxidados por bactérias. O restante chega à superfície do mar e, com isso,
atinge a atmosfera. Como gás-estufa, o metano é 30 vezes mais agressivo que
o dióxido de carbono.
Independente do atual processo de desequilíbrio climático
patrocinado pelas ações humanas é verificável que o próprio planeta possui um
sistema próprio que poder ser responsável pela produção de determinado
elementos nocivos. Bluchel (2008, p. 199) comentado sobre o hidrato de
metano, também chamado de “gelo de metano”, diz o seguinte: “Os animais
marítimos mortos e descidos ao fundo do mar ou as plantas que crescem nos
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oceanos como, por exemplo, enormes tapetes de algas, podem ser fontes de
metano.
Bluchel (2008) diz, em seu estudo, que hoje a ciência está
praticamente certa que este gelo de metano pode ser a explicação de muitos
eventos catastróficos da história da Terra, também como responsável direto
para determinados eventos climáticos de um passado não tão distante - 12.000
a 15.000 anos.
No esquema abaixo podemos conferir a participação do metano
como um dos gases que compõe o quadro de vilões do efeito estufa.
Fonte: Projeto Agora, 2009.
Através do trabalho de Kurt G. Bluchel conclui-se que, existe uma
autentica simbiose entre argumentos embasados cientificamente e fatores
naturais no que diz respeito às questões climáticas. Inúmeras são as vertentes
de análise dos fenômenos climáticos. E, através de informações que não são
divulgadas abertamente, conclui-se que a engrenagem da economia não é o
único elemento responsável pelo suposto aquecimento global. Pesquisadores
independentes, como James Lovelock e Kurt G. Bluchel, reconhecem que,
atualmente, o mundo atravessa uma fase de mudanças. Sendo assim, é
necessário deixar de lado o lobby do medo, conectado no mundo inteiro, para
22
promovermos uma Educação Ambiental positiva nesse sentido. Por exemplo: o
que podemos fazer para apaziguarmos o clima urbano, durante os meses de
verão? Como diz Lovelock (2010, p. 43) “ como parte de Gaia, nossa presença
começa a tornar o planeta mais consciente. Deveríamos estar orgulhosos de
poder fazer parte desse gigantesco passo, aquele que poderá ajudar Gaia a
sobreviver”.
Através do estudo, adquirimos uma espécie de clarividência
positiva à cerca desse tema climático. O próprio Lovelock reconhece que, num
primeiro momento, foi um pouco alarmista. No entanto, não podemos
desconsiderar o trabalho de Lovelock, uma vez que a própria Teoria de Gaia
define a terra como um organismo dotado de um sistema auto-regulador, ou
seja, capaz de buscar o equilíbrio. Equilíbrio esse que, de certa forma, é o
sistema que patrocina a vida na Terra.
23
CAPÍTULO III
O BRASIL NO CENÁRIO
A pouca preocupação com a questão ambiental foi um aspecto
bastante negativo do período socialista na URSS - porque a energia e a
matéria-prima eram muito baratas e, por conta disso, utilizadas em excesso. O
Brasil tem a vantagem de possuir uma elevada participação de energia
renovável na matriz energética. Mas o desmatamento - principalmente da
Amazônia - se deve a tradição, herdada dos tempos coloniais, de expansão da
fronteira agrícola sem a preocupação com o uso adequado da terra. No
cenário das mudanças climáticas, cada país possui uma herança ambiental do
planejamento; e a questão energética sempre esteve lado a lado com as
mudanças climáticas, dentro desse contexto contemporâneo.
É impossível desassociarmos energia de planejamento -
planejamento para produzir, planejamento para administrar, planejamento para
consumir. Num primeiro momento, a falta de um planejamento - em termos de
meio ambiente - foi o grande responsável por um legado catastrófico.
“O açúcar arrasou o Nordeste. A úmida faixa
litorânea, bem regada pelas chuvas, tinha um
solo de grande fertilidade, muito rico em
húmus e sais minerais, coberto de matas da
Bahia ao Ceará. Essa região de matas
tropicais se transformou, como disse Josué
de Castro, numa região de Savanas.
Naturalmente nascida para produzir
alimentos, passou a ser uma região de fome”.
(GALEANO, 2010, p. 91)
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Sendo assim, não podemos desacreditar dos teóricos - como
James Lovelock - que afirmam categoricamente que, em termos climáticos, o
homem foi o grande responsável por uma espécie de “aceleração” de um
processo outrora natural. A fome, por exemplo, sempre esteve presente nas
sociedades primitivas. E continuará presente no porvir na ausência de um
planejamento preventivo e permanente. Lovelock critica a produção de
biocombustiveis, como o etanol, por ocuparem terras que serviriam para a
produção de alimentos. Para Lovelock (2006), a energia nuclear é a melhor
opção de geração de energia limpa em países populosos. Em entrevista para a
Folha de São Paulo, em 2010, James Lovelock diz: “E eu creio que esta não
seja a melhor opção para o Brasil. Vocês têm feito um bom trabalho com a
geração de energia hidrelétrica”. Questionado à cerca da produção brasileira
de biocombustiveis, Lovelock diz que o Brasil está indo bem com a produção
de etanol. E que a extração de combustível da cana-de-açúcar não produz
grande impacto ambiental, como é o caso do etanol vindo do milho. Ele afirma
que isso é uma contribuição para o mundo, e não somente para o Brasil. No
entanto, diz que o Brasil poderia fazer melhor, encontrando mecanismos de
lidar com os resíduos. Segundo ele, os índios fazem isso há séculos,
enterrando grande parte das sobras e, assim, reduzindo o carbono na
atmosfera. Através da Educação Ambiental aprendemos que é impossível
desassociarmos o homem do meio ambiente, em termos de preservação.
Conforme ilustra a Teoria de Gaia... Tudo está conectado.
Hoje, através dos pressupostos da própria Educação Ambiental,
podemos compreender melhor a luta de homens como Chico Mendes, em prol
dos povos da floresta. Por essas épocas, dentro desse contexto, é possível
desenvolver um grandioso trabalho mediado pela Educação Ambiental. Por
incrível que pareça, quando o assunto é Amazônia, as aparências enganam.
Edeodato (2007, p.39) diz num artigo da revista Horizonte Geográfico: “Apesar
de possuir florestas a perder de vista, a Amazônia não é vazia e desabitada ou
um imenso espaço aberto que precisa ser ocupado e colonizado. Ali vivem 20
milhões de pessoas.”
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Em nome do progresso coletivo e individual, muitas nações
(homens) usam de forma insustentável os recursos naturais. É hora de mudar
para não comprometer, de vez, as condições de vida do próximo - e das futuras
gerações. Uma vez mencionadas algumas questões de planejamento,
voltemos para o aquecimento global, ou melhor, para o clima. No intuído de
identificar o Brasil nesse cenário de aquecimento. Marengo (2013, p. 30) diz o
seguinte: “O Nordeste é a região mais vulnerável. No Sul, as chuvas poderão
se concentrar em poucos dias ou meses”.
Segundo o relatório AR5 do IPCC, é muito provável que a
temperatura suba em toda América do Sul, com maior projeção de
aquecimento para o sul da Amazônia. A previsão converge para um aumento
da temperatura média do Brasil de 0,5 grau (Centro-Sul) a 1,5 grau (Norte,
Nordeste e Centro-Oeste) até o fim do século, no cenário mais favorável, e de
3 graus (Sul e litoral do Nordeste) a 7 graus (Amazônia), no pior cenário. Em
relação às chuvas, figura regiões como o Sul do Brasil e a Bacia do Prata, onde
as chuvas devem aumentar. Conclui-se que não existe um aquecimento
conforme pressupõe o termo “aquecimento global” O aquecimento global é um
processo natural agravado pelo homem. Sendo assim, existem fatores naturais
e há fatores promovidos pelo homem. O clima urbano, por exemplo, pode ser
um exemplo - pavimentação, edificações, inúmeros veículos em movimento
produzindo uma temperatura acima da média, nas principais avenidas que
cortam as cidades grandes - do Brasil e do mundo. No cenário das mudanças
climáticas, o Brasil é um país que vai oscilar entre secas e tempestades.
Segundo estudos já publicados sobre o impacto do aquecimento
global na agricultura, a combinação de altas temperaturas e escassez de
recursos hídricos diminuiria a produção de café nos principais Estados
produtores no Brasil, como São Paulo e Minas Gerais.
"Essa tendência já vem sendo observada nos últimos anos. Entre
1998 e 2008, somente o Estado de São Paulo perdeu 35% de área cultivada
com café arábica, a maioria substituídas por seringueira e cana-de-açúcar, que
são plantas mais tolerantes ao calor e às estiagens mais longas. Nessas áreas,
as temperaturas médias subiram mais de 1,5ºC, afetando diretamente o
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florescimento (dessas plantas)", afirmou à BBC Brasil Hilton Silveira Pinto,
professor da Unicamp e um dos autores do estudo citado no relatório do IPCC.
No Brasil, o abastecimento energético e de segurança alimentar
correm sérios riscos, se temperatura subir até 6 ºC nas próximas décadas e o
regime de chuvas diminuir, conforme projeções do Painel Brasileiro de
Mudanças Climáticas (PBMC). O abastecimento de lençóis freáticos e a vazão
dos principais rios do país podem sofrer grandes impactos. Nesse cenário,
Carvalho (2013) escreve: “a agricultura e o setor de energia do Brasil poderão
ser fortemente impactados, sob risco de queda brusca do Produto Interno Bruto
(PIB)”.
Nenhum relatório representa “o fim do mundo”. Entretanto, alguns
convergem para o seguinte ponto: a situação pode se agravar, caso o atual
quadro de emissões de gases permanecer e nada for feito pelo governo para
prevenir eventos naturais extremos. É justamente o que sinaliza o "Modelo
Brasileiro do Sistema Terrestre”, um sistema de simulação “nacional” do clima
global que abrange todo o continente sul-americano, dentro desse contexto.
Segundo relatório produzido por esse sistema nacional, o Brasil pode sofrer as
seguintes alterações em seu cenário: em todo o litoral, volume de pesca pode
cair 6% em 40 anos; redução de chuvas no Norte e Nordeste; aumento no Sul
e Sudeste, com risco de inundações; risco para o abastecimento das águas
subterrâneas; queda na produtividade do café, soja, arroz e outras culturas. Em
suma, a agricultura pode perder até R$ 7 bilhões por ano com o clima.
Em relação aos oceanos, relatórios sinalizam que a acidificação
pode ser acentuada se as emissões de gases permanecerem elevadas. Nos
próximos 40 anos, o potencial de pesca verificável em toda costa brasileira
poderá diminuir em 6%. Mergulhados nesse cenário de desenvolvimento
sustentável, inúmeras empresas se comprometem com o meio ambiente. A
Petrobrás, por exemplo, mantém de prontidão, durante 24 horas, vários
Centros de Defesa Ambiental. Segundo consta, o compromisso da empresa,
com o meio ambiente vai além da sua produção. A Petrobrás quer alcançar a
liderança e a excelência no setor ambiental. Isso se traduz, na prática, num
esforço continuo para conciliar o aumento da produção com o uso cada vez
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mais racional de insumos naturais, como energia e água, e a menor geração de
efluentes, resíduos e emissões em suas unidades. Além da utilização de
energias renováveis, como a solar, a eólica e a de biomassa, e criar inúmeros
instrumentos de proteção à biodiversidade.
Independente de qualquer oscilação de ordem climática é
necessário um planejamento de duas vertentes, pois o meio ambiente é um
cenário continuo para as futuras gerações. Os desarranjos de ordem social
podem potencializar a percepção de qualquer oscilação do clima, juntamente
com a degradação do meio ambiente. Já sabemos que as mudanças climáticas
podem afetar a produção de alimentos no Brasil. Por incrível que pareça, o
grande vilão do futuro cenário, sinalizado por pensadores como James
Lovelock, pode ser justamente a falta de um planejamento sério voltado para
as necessidades básicas do ser humano.
Galeano (2010) descreve Terras ricas, subsolos riquíssimos,
homens muito pobres num cenário de abundancia e desamparo. O
subemprego rural transformando-se em subemprego urbano; o menino
esfarrapado orgulhoso de seu país, mas é analfabeto e furta para comer; a
cidade que torna os pobres ainda mais pobres, pois cruelmente lhes oferece
miragens de riquezas às quais jamais terão acesso, ao mesmo tempo em que
um emprego seguro parece algo impossível.
A região da Amazônia, juntamente com os povos da floresta, é
um exemplo para o mundo, de que o cuidado com o meio ambiente deve
caminhar lado a lado com o homem. Os ambientalistas costumam dizer coisas
do tipo: vai sobreviver quem cumprir as exigências de manutenção da mata. No
entanto, as exigências de manutenção do homem não podem ser ignoradas. A
floresta Amazônica é habitada por inúmeros povos que preservam
conhecimento, práticas de manejo da floresta e tradições milenares. A pergunta
é: ao agredirmos o meio ambiente original de determinados grupos não
estaríamos produzindo a degradação, em médio prazo, em outros espaços? Os
problemas climáticos, dentro da lógica do desenvolvimento econômico não
seria apenas ponta de um grande iceberg? É justamente no Brasil que
encontramos o material necessário que serve como reflexão para essas
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questões. Galeano (2010, p.92) diz que “O nordeste do Brasil é, na atualidade
a região mais subdesenvolvida do hemisfério ocidental 2”. É justamente no
Brasil que encontramos o exemplo mais próximo das matrizes de meio
ambiente degradadas pelo mundo afora. Se os relatórios sinalizam quadro de
mudanças climáticas em nosso país, num primeiro momento é mais próximo da
nossa realidade preocuparmos com o atual modelo de desenvolvimento e
planejamento. O atual modelo de desenvolvimento, como herança do passado,
continua sendo responsável por inúmeros desarranjos. A discurso da cultura,
por vezes, funciona como uma maquiagem na cútis da degradação. Esse é o
Brasil no cenário.
2 O Nordeste padece, por várias vias, uma espécie de colonialismo interno em beneficio do industrializado Sul.
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CONCLUSÃO
Uma vez frente às intempéries da natureza, o homem vive o grande
desafio de organizar o espaço, para uma breve existência. Talvez, se
tivéssemos a consciência dessa breve existência avançaríamos muito pouco
em termos de alteração de construção desse espaço geográfico. No entanto,
como uma espécie de células em constante processo de reprodução e
expansão, o ser humano segue dotado da estranha necessidade de perpetuar
sua própria espécie. E para isso segue produzindo significativas mudanças e
grande avanços na malha da superfície terrestre. Através da Educação
Ambiental, entendemos o meio ambiente como algo que deve ser preservado
para as futuras gerações. No entanto, o modelo de desenvolvimento que
serviu como engrenagem para as grandes transformações concebidas pela
civilização moderna, face às forças da natureza - nesse exato momento - são
colocadas em xeque, num jogo em que a própria natureza figura como peça
adversária do próprio homem.
A Terra sempre esteve em movimento. A Terra é viva! O Planeta Terra
possui inúmeras cicatrizes como testemunha da queda de inúmeros corpos
celestes, de grande magnitude, num passado remoto. Fósseis de troncos de
árvores são trazidas da Antártica por cientistas que estudam essas regiões;
provando que o pólo nem sempre foi um pólo - de gelo. Pesquisas
paleobotânicas afirmam que o atual deserto do Saara outrora foi uma densa
floresta tropical, cuja flora e fauna foram de grande magnitude. É demasiado
irracional pensarmos que seremos capazes de construir cidades “permanentes”
fincadas num cenário lento, porem, em constante movimento. Segundo
estudiosos, grandes impérios pré-colombianos sucumbiram por conta de
fenômenos da natureza que, misteriosamente passaram ditar uma nova regra:
secas severas destruíram o que conhecemos pelo nome de agricultura. A fome
foi se alastrando e os impérios foram sucumbindo. Somente no fundo do Mar
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Mediterrâneo, segundo pesquisadores, existem mais de 200 pontos de restos
de cidades.
Através da Teoria de Gaia, legitimamos a importância de James
Lovelock, como uma espécie de filósofo, cujo pensamento serve como base
para uma nova forma de enxergarmos o Planeta Terra - nossa casa. Através
da leitura de Kurt G. Bluchel compreendemos que os fenômenos rotulados pela
mídia contemporânea como sinais de um caminho sem volta não passa de
repetições de eventos devidamente observados em tempos passados.
Mediante uma tênue leitura do clássico livro de Eduardo Galeano, As Veias
Abertas da América Latina, concluímos o quanto pode ser desastroso, para o
meio ambiente, a falta de um planejamento - uma vez que, a falta de um
também produz uma herança. O Aquecimento Global, como conhecemos, nada
mais é do que um cenário de repetição. A única diferença é: por essas épocas,
o interesse econômico e a liderança de determinados blocos figuram no ar.
Mudanças já estão acontecendo. No entanto, através desse trabalho
concluímos que chegou o momento de planejarmos o futuro - um futuro de
modificações de cenários. Ao invés de adotarmos o discurso alarmista, a única
coisa que está mais próxima de nós é justamente um planejamento, mediado
por uma filosofia de Educação Ambiental, capaz de promover uma maior
resistência face às adversidades que são eminentes num futuro não tão
distante. E que as futuras gerações sejam herdeiras desse planejamento.
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BIBLIOGRAFIA
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mitologia. São Paulo: Pensamento, 2011.
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LOVELOCK, James. Gaia: Alerta Final. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.
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WEBGRAFIA
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disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=pjFc2EwXzZo> Acesso em:
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EDUARDO CARVALHO. Relatório diz que mudança do clima pode afetar
alimento e energia no país. G1, São Paulo, 08/09/2013, Natureza. Disponível
em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/09/relatorio-diz-que-mudanca-
do-clima-pode-afetar-alimento-e-energia-no-pais.html>. Acesso em: 02/07/2014
GIULIANA MIRANDA. Energia nuclear não é o melhor para o Brasil. Folha de
São Paulo, São Paulo, 16/01/2010, Ciência. Disponível em:
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Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Kjs_LNbTrN8>. Acesso em:
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