Universidade Candido Mendes Instituto a Vez do Mestre Pós … · possibilita que a mesma coisa...
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Universidade Candido Mendes
Instituto a Vez do Mestre
Pós-graduação “Lato Sensu”
O preconceito lingüístico: o ensino de língua portuguesa e a exclusão social
Autora:
Simone Lima de Oliveira da Silva
Orientadora
Professora: Simone Ferreira
Niterói
2012
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Universidade Candido Mendes
Instituto a Vez do Mestre
Pós-graduação “Lato Sensu”
O preconceito lingüístico: o ensino de língua portuguesa e a exclusão social
Monografia apresentada à
Universidade Candido Mendes –
instituto a vez do mestre, como requisito
parcial para a conclusão do curso de pós-
graduação “Lato Sensu” em
psicopedagogia.
Por Simone Lima de Oliveira da Silva.
Niterói
2012
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AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus
porque por mais árdua que seja a luta,
por mais distante que um ideal se
apresente, por mais difícil que seja a
caminhada existe sempre uma maneira
de vencer. A nossa fé em Deus e ao meu
marido Wilson que foi meu grande
incentivador para que eu continuasse a
caminhada, ele foi mais que um marido,
foi meu grande amigo que acreditou que
eu era capaz de vencer mais esse desafio.
Muito Obrigado!
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METODOLOGIA
Quanto aos meios, essa pesquisa é baseada em revisão bibliográfica, em que
foram coletados artigos de livros e periódicos publicados impressos ou divulgados pela
rede virtual, os quais foram resumidos e são comentados para que possa ser extraída a
conclusão que encerra a monografia.
Buscando entender a dificuldade de se aprender a língua materna e a partir desse
entendimento mudar toda metodologia pedagógica a fim de alcançar o aluno com
dificuldade. Tendo um olhar para esse aluno diferenciado compreendendo suas
limitações. Citando as teorias de Paulo Freire e o que Simaia Sampaio e Laura Monte
Serrat escrevem sobre esse aluno com dificuldades.
Quanto aos fins, tem natureza avaliativa e descritiva, pretende “observar e
registrar fatos do cotidiano”.
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RESUMO
Este projeto de conclusão de curso tem como objetivo principal discutir sobre a existência de preconceito lingüístico na sociedade e também no ensino de língua. Os estudos lingüísticos observam que a língua, ao contrário do que muitos afirmam, é um sistema heterogêneo e multiforme. Sendo assim, a influência de diversos fatores externos ocasiona a variação lingüística. O preconceito lingüístico surge pelo fato de as pessoas desconhecerem a riqueza do sistema lingüístico que possibilita que a mesma coisa seja dita de diversas maneiras e ignorarem que as variações, embora se distanciem das regras estabelecidas pela gramática tradicional, também são coerentes reguladas e sistemáticas. No entanto, os falantes que adotam as variações rotuladas como “erros” são vítimas de preconceito e, muitas das vezes, excluídos da sociedade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I - O CARATER HETEROGÊNEO DA LÍNGUA 09
CAPÍTULO II - O PRECONCEITO LINGUISTICO 12
CAPÍTULO III –
DIFICULDADES NO APRENDIZADO E SUAS CONSEQUENCIAS 16
CONCLUSÃO 20
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA 34
ÍNDICE 35
7
Introdução
Nesta monografia de conclusão do curso de pós-graduação, serão estudados os
fenômenos lingüísticos sob o prisma das variações que ocorrem no idioma. Essa
realidade da língua, muitas vezes, é ignorada por parte da sociedade que desprestigia
algumas variações e, conseqüentemente, tornam vítimas de preconceito os falantes do
português que não dominam a norma culta ou que apresentam uma linguagem distante
daquela corrente em um determinado grupo sociolingüístico.
Os estudos modernos acerca da linguagem mostram que a língua sofre diversos
tipos de influência de fatores externos e, por isso, se modifica. Portanto, é falacioso
definir a linguagem como um complexo sistema homogêneo de convenções que permite
não só a comunicação entre indivíduos, mas também expressa toda a cultura de um
povo.
A partir do desenvolvimento desses estudos, é indiscutível a heterogeneidade da
Língua portuguesa, visto que essas pesquisas apontam alguns fatores que interferem na
linguagem.
São eles: na região geográfica na qual vive o falante; os aspectos singulares
característicos de um indivíduo que faz uso da língua, tais como, os fatores
socioeconômicos e socioculturais; e, a exigência, ou não, de formalidade lingüística na
situação comunicativa.
As situações de preconceito lingüístico têm incomodado bastante os
profissionais da educação – sobretudo os professores de língua portuguesa -, pois é
muito comum a desvalorização de algumas variantes que não correspondem às
exigências da gramática tradicional e ao grupo dominante da sociedade. Por
conseguinte, o preconceito lingüístico resulta na exclusão social, já que aqueles que não
tiveram acesso à escola e ao aprendizado da norma culta são renegados pela sociedade e
vistos como aqueles que não sabem falar a própria língua e, por isso, não têm uma
oportunidade de inserção social e progresso.
Conforme a ilustração de Bagno (op. Cit), a utopia de que o Brasil é um país
monolíngüe ainda é disseminada, equivocadamente, nas instituições educacionais,
sociais, religiosas e políticas. Essa prática, ainda de acordo com a dissertação do autor,
prejudica a qualidade do ensino da língua portuguesa, porque não explicita ao discente
as variações que acontecem na língua. Conseqüentemente, o professor de língua
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portuguesa não encontra meios para desenvolver as capacidades lingüísticas dos alunos,
mostrando-lhe a importância do conhecimento prévio sobre linguagem que este chega à
escola e estimulando-o a aprimorá-la de modo à permitirlhe, também, o domínio da
norma culta.
Diante da complexidade das questões introduzidas até aqui, o objetivo principal
deste trabalho é pesquisar sobre as variações e o preconceito lingüísticos, observando os
fatores que interferem ativamente na linguagem, a fim de que a sociedade e escola se
integrem com o propósito de admitir a variabilidade da língua, reconhecer que a
multiplicidade lingüística é constitutiva do sistema lingüístico, garantido-lhe mais
beleza e riqueza e, sobretudo, advertir que a discriminação lingüística, muitas vezes
consequência da discriminação social, impede que milhões de indivíduos participem
ativamente da sociedade, restringindo seus direitos e deveres enquanto cidadãos
brasileiros.
O primeiro capítulo deste projeto visa descrever a variação do idioma,
explicitando o preconceito sofrido por muitas variações que não obedecem às
imposições gramaticais. O segundo aborda o preconceito lingüístico de modo mais
restrito a fim de estabelecer uma relação entre preconceito lingüístico e preconceito
social, e por fim, serão investigados os impedimentos causados no avanço do ensino de
língua portuguesa devido ao não reconhecimento do sistema lingüístico como algo
multiforme e heterogêneo.
O terceiro capítulo desse projeto visa descrever as dificuldades do sujeito
em sua aprendizagem entendendo que o problema muitas vezes tem sido de ensinagem
não só de aprendizagem, abordaremos questões relacionadas como esse sujeito
“APRENDENTE’’ tem recebido essas informações que hoje o que ouvimos da escola é
que o aluno que não consegue aprender é tido como anormais, pois existe a concepção
de que a causa do fracasso se deve a uma anormalidade orgânica
Para cumprir os objetivos iniciais e contemplar os questionamentos teóricos
levantados neste estudo, será realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema.
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Capítulo I – O Caráter heterogênico da língua
Os estudos da lingüística moderna admitem a língua como um fenômeno
diversificado e centralizam as suas pesquisas sobre a linguagem associada à interação
social, pois a língua precisa ser analisada como algo concreto. Isso, na prática, significa
observá-la dentro de suas circunstâncias históricas, culturais, sociais etc. Logo, a língua
é decorrente de uma atividade social que permite ao falante organizar sua maneira de
falar ou escrever através da interação verbal com outros indivíduos de sua comunidade.
O reconhecimento da influência que a sociedade exerce sobre a linguagem
facilita a compreensão de que as pessoas que fazer parte de uma mesma comunidade
compartilham das mesmas regras lingüísticas. Neste caso, através da investigação dos
grupos lingüísticos é possível observar que a diversidade surge, entre outros fatos,
devido à organização particular de cada grupo.
Como decorrência da relação entre a linguagem e a sociedade, o falante emprega
a língua de acordo com as regras da comunidade de que faz parte. Por isso, a mesma
língua permite que alguém dia “Nós fumus prantá” enquanto o outro diz “Nós fomos
plantar”.
Esses dois exemplos, além de ilustrarem uma variante da língua, mostram a
diferença da linguagem entre dois falantes do mesmo idioma; o registro do emprego da
mesma ordem de palavras apoiado ao sistema da língua portuguesa garante que
qualquer pessoa, mesmo que integrante de outra comunidade, compreenda a mensagem.
É importante lembrar que o primeiro exemplo, apesar de infringir as regras de
concordância estabelecidas pela gramática, não pode ser considerado como “erro”
porque obedece à estrutura da língua.
De acordo com os estudos sociolingüísticos, a variação da língua refere-se às diversas
possibilidades disponíveis no sistema de se falar alguma coisa. Neste campo de estudo,
Esse fenômeno é entendido como um processo positivo, pois enriquece o idioma. Logo,
não é possível rotular a variabilidade lingüística como algo destrutivo, visto que garante
ao falante a liberdade de adequar a sua linguagem à situação comunicativa na qual se
encontra.
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1.1 – As Variações Lingüísticas:
A origem geográfica, a condição cultural e social e a circunstância comunicativa
em que o falante se encontra são fatores que estão relacionados à variação lingüística.
Sendo assim, as principais variações que ocorrem na língua são as variações diatópica,
diastrática e diafásica.
a) Variação diatópica: diz respeito aos falares de uma determinada localidade e às
variantes regionais. A variação diatópica pode ser observada entre regiões geográficas
diferentes de um mesmo idioma como, por exemplo, o falar “gaúcho”, o “carioca”, o
“paulistano” etc. Essa variação é válida para que os diferentes grupos regionais
personalizem-se através da linguagem. Deste modo, a linguagem representa a região na
qual o falante está inserido, pois explicita as particularidades do sistema idiomático que
conduz o seu grupo regional. O dialeto denota a mudança lingüística que acontece entre
os falantes de regiões diferentes devido às múltiplas influências que cada região sofre; a
comunidade lingüística desenvolve e aprimora o comportamento lingüístico a fim de
identificar-se e distinguir-se das outras.
b) Variação diastrática: é decorrente dos aspectos socioculturais e socioeconômicos
do indivíduo. Esse tipo de mudança lingüística está relacionado à identidade do falante e
às diferenças no uso da língua entre os diversos agrupamentos que constituem a
sociedade, já que cada grupo apresenta características singulares de acordo com as
possibilidades lingüísticas oferecidas pelo sistema. O comportamento lingüístico dos
diversos grupos sociais é bastante variado e diversificado. Os aspectos particulares
como classe social, a idade, o sexo etc., são fatores que influenciam diretamente na
linguagem. Isto significa que um professor, por exemplo, tem uma linguagem diferente
de um motorista, do mesmo modo que esta vai se diferenciar da língua dos advogados e
assim por diante.
c) Variação diafásica: ocorre, na maioria das vezes, devido à intenção estilística, ou
seja, o falante utiliza linguagens diferentes em situações comunicativas diferentes. A
riqueza do sistema lingüístico oferece liberdade ao falante para que este utilize uma
linguagem apropriada a cada ato de comunicação, logo a modalidade expressiva
determina diferenças entre a língua falada, a língua escrita, a língua usual, a língua
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literária, as línguas gensespeciais etc. Segundo Bechara (op. Cit.), a variação diafásica
ocorre, dentro de um mesmo nível sociocultural, entre os grupos biológicos como, por
exemplo, os homens, as mulheres, os jovens, as crianças e, além disso, os profissionais.
Assim, um professor, por exemplo, pode ser analisado em duas situações diferentes: a
primeira, durante uma aula e a segunda numa conversa com amigos.
Certamente na primeira situação, o professor será mais cauteloso em relação à
sua linguagem porque a situação exige um grau de formalidade maior e,
conseqüentemente, a norma culta será privilegiada. No entanto, o contexto
comunicativo é mais informal na segunda situação, por isso é perfeitamente cabível uma
linguagem mais espontânea e usual.
O capitulo a seguir vai abordar a discriminação social em relação à dificuldade
que o sujeito tem de aprender a língua materna e muitas vezes excluído dessa sociedade
que tanto privilegia a norma culta.
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CAPITULO II – O PRECONCEITO LINGUISTICO
2.1 – DISCRIMINAÇÃO E EXCLUSÃO SOCIAL
Os estudos sobre linguagem associados à camada social a que o falante pertence
têm despertado bastante interesse dos lingüistas modernos. Normalmente, a variação
lingüística prestigiada é aquela utilizada por integrantes de um grupo social que detém
mais “status” na sociedade. Por conseguinte, a variação adotada pelos falantes da “elite
social” é considerada superior em relação às demais, ou seja, o dialeto mais prestigiado
é aquele dos falantes das classes mais elevadas passando a ser entendido, não como
dialeto, mas sim como a própria língua.
Os detentores do poder econômico e intelectual entendem que somente são
válidas as manifestações lingüísticas que surgem em meio e querem impô-las a toda a
sociedade. Em decorrência desse pensamento, milhões de brasileiros, que estão fora da
“elite social”, são excluídos.
A discriminação da variação dos falantes das classes populares é fundamentada
no conceito de que, normalmente, essa parcela da sociedade não domina a norma padrão
de prestigio e, através dos recursos próprios utilizados na manifestação lingüística,
contamina a língua com formas desprestigiadas. Mas, conforme já ressaltado
anteriormente, a partir do momento em que o “erro” passa a ser utilizado pelos falantes
da elite social, deixa de ser rotulado como tal e passam a ser privilegiado.
Segundo Possenti (1996), existe um preconceito difundido intensamente na
sociedade de que as variantes divergentes da norma culta são lingüisticamente inferiores
e quanto às variedades lingüísticas, o autor acrescenta que “diferenças lingüísticas não
são erros, são apenas construções ou formas que divergem de um certo padrão” (op. cit).
Devido à realidade econômica, política, social e cultural atual do país, uma
pequena parcela da sociedade tem acesso à norma culta da língua. Então, a prática do
preconceito lingüístico priva milhões de brasileiros da ascensão cultural, pessoal, social
e profissional.
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2.2 – AS IMPLICAÇÕES DO PRECONCEITO LINGUISTICO NO
ENSINO DE LINGUA:
No interior de uma multiplicidade de formas de preconceito uma vem se
destacando e possui ma relação mito estreita com o processo educacional: o preconceito
lingüístico. A maioria das abordagens do preconceito lingüístico e se limita a descrevê-
lo e denunciá-lo sem apresentar suas raízes sociais e seu envolvimento na dinâmica das
lutas sociais, inclusive as travadas no interior do sistema escolar.
(...) a gramática descritiva nada mais é do que ma
descrição de como a língua funciona e de seus usos.
É um conjunto de regras sobre o funcionamento da
língua através de suas realizações concretas nos seus
dialetos. A gramática descritiva é, portanto, o
conhecimento que se tem da estrutura e
funcionamento e usos de uma língua, nos seus mais
diversos aspectos e níveis, como fonético
fonológico, morfológico, semântico, pragmático, do
discurso, sociolingüístico, psicolingüístico etc.
(TRAVAGLIA, 1990, p.39).
Através de uma discussão que envolve toda a problemática da variação da
linguagem seria possível reavaliar a noção tradicional de erro. Em relação à variação da
fala e seus mais diversos grupos dialetais, não existe certo ou errado, e sim, o diferente.
É importante destacar que dentro do próprio dialeto também existo o certo e o errado,
linguisticamente, obedecendo também à estrutura da própria língua.
A escola pretende corrigir a linguagem do aluno que é considerado como um
“deficiente lingüístico”. Por isso, as instituições de ensino costumam desconsiderar o
conhecimento prévio do aluno, principalmente, todo o contato que ele teve com a língua
materna através do seu grupo social. Este método ignora os usos intuitivos, eficazes e
criativos disponibilizados pelos recursos da língua.
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A proposta pedagógica tradicional estabelece a língua como algo homogêneo, o
seja, o resultado final, um processo finalizado, reduzindo a língua à norma culta e,
conseqüentemente, a gramática tradicional. No entanto, a gramática não dá conta de
registrar as infinitas possibilidades de manifestação que a língua oferece quanto ao uso,
principalmente pelo fato de o contexto extralingüístico estar presente no texto, seja ele
falado ou escrito. Então, é possível concluir que há uma grande distancia entre a
norma-padrao, inspirada na gramática tradicional que limita seu objeto de estudo à
prescrição da língua escrita e o uso real da língua.
O ensino do português reduzido ao ensino das nomenclaturas determinadas pela
gramática tradicional anula a possibilidade de os alunos formularem teorias sobre o
vastíssimo universo acerca do fenômeno lingüístico, além de contribuir para a
disseminação do preconceito lingüístico e dificultar a propagação dos avanços dos
estudos da linguagem realizados pelas correntes lingüísticas contemporâneas.
O reconhecimento da variação é mito importante para registrar a diversidade do
sistema idiomático, possibilitar a ampliação da competência lingüística e transformar o
falante da língua portuguesa em poliglota dentro do seu próprio idioma com capacidade
para refletir sobre a sua própria língua, mas a diversidade lingüística é vista como algo
negativo, pois estaria deturpando a língua portuguesa.
Nesse sentido, o papel da escola não é o de ensinar
uma variedade no lugar da outra, mas de criar
condições para que os alunos aprendam também às
variedades que não conhecem, ou com as quais não
tem familiaridade, aí incluída, claro, a que é peculiar
de uma cultura mais elaborada (POSSENTI, 1996,
p.83).
A escola deve assumir a responsabilidade de mostrar aos alunos que os falantes
de um mesmo idioma não falam exatamente iguais, mas que a convenção ortográfica
estabelecida existe para garantir o entendimento da leitura.
Outro equivoco da escola é valorizar a linguagem escrita por considerá-la correta
e, conseqüentemente, desconsiderar a linguagem oral. A escola não percebe que se trata
de dois usos diferentes, cada qual com suas características próprias e com finalidades
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especificas. Portanto, não há como definir a linguagem escrita como clara objetiva e
lógica, enquanto a oral seria obscura, confusa e ilógica.
A necessidade de substituir a concepção tradicional de língua é reforçada a partir
da percepção do dinamismo social que vigora nos tempos atuais contrapondo com o
ensino da gramática tradicional como a reflexão lingüística proposta pelos
pesquisadores do fenômeno da linguagem. Logo, para desenvolver a competência
comunicativa dos usuários é necessário que a escola admita a pluralidade da linguagem.
O mais importante seria que o estudo da língua portuguesa em sala de aula
deixasse de dar exclusividade às variações que envolvem as camadas sociais de maior
prestigio para se tornar um local de intensa e continua pesquisa do idioma em seus mais
diversos usos.
É necessário, urgentemente, incluir no ensino do português as contribuições da
ciência lingüística moderna, desviando esse ensino dos preconceitos da gramática
tradicional. A perpetuação do ensino de português dificulta que os avanços dos estudos
lingüísticos sejam aplicados na sala de aula.
É claro que muitas das dificuldades de se dominar essa norma culta, ela também
de outro fator relevante. A dificuldade que o aluno traz desde sua alfabetização onde já
se apresenta algumas dificuldades em relação à aprendizagem é que precisam
reconhecer se o problema é de fato aprender a língua materna ou é uma questão de
dificuldade desse aluno de interagir nesse universo de informações.
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CAPITULO III
PRECONCEITO LINGÜÍSTICO: DIFICULDADES NO APRENDIZADO E SUAS
CONSEQUENCIAS
A exclusão social e a dificuldade de aprendizagem na relação sujeito e escola.
Outra questão relevante é a questão dessa aprendizagem dentro da escola,
apresentam-se divergentes sintomas para revelar que algo não vai bem. Cada sujeito é
único na sua forma de ser, de aprender bem como de não aprender. Perguntamo-nos,
enquanto docentes por que alguns conseguem aprender e outros não, se a forma de
ensinar é a mesma.
Um vínculo que é fundamental para a aprendizagem é a autoestima desse sujeito
é isso é construído por professores, que percebem a dificuldade desse sujeito em
aprender, mas o trata com um olhar diferente, não de exclusão, mas inclusão lembrando
sempre que cada um de nós tem seu tempo para aprender, é isso não o torna o aluno
mais ou menos inferior. A escola muitas vezes não abre espaço para o aluno se
manifestar e a timidez os impede de se posicionar. Ao invés de serem estimulados, com
recursos diversificados a mostrarem o que fazem de melhor são-lhes oferecidos o papel
de coadjuvantes enquanto o papel principal fica para os alunos mais extrovertidos e
desinibidos. Todos os alunos são capazes é claro que de forma diferente, e um olhar
diferenciado poderá descobrir o que cada um tem de especial, ajudando-os no
desenvolvimento de novas competências.
Muitos professores manifestam o desejo de uma pratica renovada, mas ainda
acreditam na aprendizagem pela repetição, pela transmissão de informação técnicas e
conseqüentemente, crêem no modelo tradicional.
Talvez ainda não tenham estado em contato real com a teoria construtivista, que
os fizessem perceber o sujeito como construtor do seu próprio conhecimento e não
alguém à espera de informações prontas.
Para que o aluno possa se desenvolver e aprender, ele precisa ter construído
condições internas de raciocínio, a fim de que possa interpretar o conteúdo, ao contrario
sem essas condições internas ela irá apenas memorizar esquecendo logo depois fato este
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que presenciamos diariamente em muitas escolas estigmatizando esse sujeito.
Aprender, na escola supõe um movimento constante entre aluno-professor. Este
movimento implica em troca descoberta construção e reconstrução tanto do
conhecimento, quanto das relações e ações.
Aprendizagem é um processo que resulta de constante interação do indivíduo
com o seu meio a dificuldade para aprender se caracteriza por um impedimento
momentâneo ou persistente do indivíduo diante do obstáculo que surge nessa interação.
Dependendo da característica do obstáculo do repertorio do indivíduo e da valorização
social da aprendizagem a ser realizada haverá mais ou menos possibilidades para
enfrentar a situação para superar as dificuldades é para transformá-la em aprendizagem
real.
O processo de aprender não acontece em linha reta, mas apresentando um
traçado acidentado. Apesar do ditado popular “É errando que se aprende”, a escola
muitas vezes não consegue trabalhar considerando os dois pólos necessários para a
interiorização do conhecimento, da relação e da ação. Errar ainda traz consigo a marca
do pecado que é proibido e que precisa ser confessado para então ser perdoado por uma
autoridade que analisa o grau e institui o castigo necessário para a purificação. Acertar
para muitos ainda, significa falar o que o outro diz, pensar como o outro pensa, sem
criticar, sem refletir apenas reproduzir.
O erro é castigado enquanto o acerto é premiado. É comum encontrarmos nos
adultos, posturas rígidas diante do desempenho escolar da criança, cobrando apenas o
sucesso a nota o produto final, independente do que realmente foi aprendido durante o
processo. Isso não significa aceitar passivamente o erro da criança, mas, saber lidar
com ele, compreendê-lo e promover o aproveitamento para que a percepção do erro
possa servir de modificadora da hipótese que levará ao acerto.
Isso, no entanto, só será possível quando a escola, como um todo se envolver no
processo, valorizando inicialmente as aquisições reais da criança e não se prendendo
apenas ao produto final da atividade escolar. A dificuldade na aprendizagem é um
elemento que faz parte do processo e não deve ser vista de forma estanque e
desvinculada do mesmo. Sem dificuldade não existe aprendizagem real; não havendo
desequilíbrio, não há busca de equilíbrio e a aprendizagem não se faz
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3.1 – Algumas considerações importantes sobre inteligência/aprendizagem.
Jeam Piaget, explica que o desenvolvimento intelectual partindo da idéia de que
os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico, de igual modo ele concede o
desenvolvimento intelectual. Em sua teoria do conhecimento procurou demonstrar que
a inteligência era o “saldo adaptativo do homem nas suas interações com o
meio”(Oliveira et al.2001, p.33). Essa troca que o indivíduo realiza com o meio dariam
origem ao conhecimento e a formação de estruturas específicas para o ato de conhecer.
De acordo com Piaget o conhecimento é gerado pela interação do sujeito com seu meio,
a partir de estruturas previamente existente no sujeito. Concluindo assim que a
aquisição do conhecimento depende de certas estruturas cognitivas inerentes ao próprio
sujeito como de sua relação com o objeto (o saber).
Piaget, quando fala sobre aprendizagem, distingue no processo cognitivo
inteligente dois momentos. A aprendizagem estaria relacionada à aquisição de uma
resposta particular aprendida em função da experiência obtida de forma sistemática ou
não. O desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo este o responsável pelo
conhecimento. O homem é um ser essencialmente social, impossível portanto, de ser
pensado fora do contexto da sociedade em que nasce e vive, o homem imune aos
legados da história e da tradição, este homem simplesmente não existe.
3.2 – Ensinar/aprender
Ensinar é fundamentalmente aprender. Aprender é enfrentar o desafio da
vinculação da emoção com a razão no processo de conhecer e além disso, enfrentar o
desafio de criar recursos, instrumentos, estratégias táticas e operacionais que mobilizem
no educando sua emoção em paralelo com sua razão.
Na verdade, continua-se ainda vivendo o modelo tradicional mecanicista, que
separa o mundo da razão e o mundo da emoção, o sujeito do objeto, a vida, razão,
indivíduo, ambiente, fragmentar então conhecimento e pensamentos humanos. Quando
se aprende com a cabeça e com o coração sempre se tem algo a dizer sobre o que parece
ter aprendido. A aprendizagem torna-se mais impregnada mais verdadeira.
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O professor tem um desafio, de descobrir em sua extrema singularidade, emerge,
como um dos mais importantes profissionais do século, aquele que tem o privilégio de
colaborar diretamente na formação integral do indivíduo para os novos tempos. Esse
processo de aprendizagem tão questionado se dá em forma espiral, no qual a relação
com o objeto de aprendizagem é visto como uma estrutura complexa que supõe em
sujeito, um objeto e sua mútua interrelação com os processos de comunicação,
possibilitando que as relações intersubjetivas transformem-se em intrassubjetivas. Esta
forma de perceber a aprendizagem é marca pela concepção de vínculo, uma ampliação
realizado por Pichón-Rivieré, do conceito da relação de objeto desenvolvido pela teoria
psicanalista.
A adaptação ativa à realidade e a aprendizagem são vistas como indissociáveis,
pois a medida em que se aprende, transforma-se a realidade e também se promove uma
modificação de si mesmo caracterizando um processo verdadeiramente dialético a
atitude operativa de um professor está ligada à ação de promover o movimento interno
para a adaptação ativa naqueles que precisam se movimentar para aprender. Atitude
operativa de um professor consiste em criar, manter e fomentar a comunicação para que
os envolvidos possam se desenvolver progressivamente ao ponto de poderem se
aproximar afetivamente da tarefa e realizá-la.
Para assumir uma atitude operativa é necessário que se aprenda a fazer a leitura
dos processos de adaptação ativa e de aprendizagem, assim como dos obstáculos que
podem surgir decorrentes do sentimento de gratificação ou frustração que acompanha a
configuração do vinculo inicial estabelecido com aquela situação de aprendizagem.
Um processo de aprendizagem tem sempre duas tarefas a cumprir: uma que é
objetiva e que esta diretamente relacionada aos objetivos que se quer atingiu, e outra
que é subjetiva e que esta atrelada aos vínculos afetivos que se estabelecem com as
situações de aprendizagem.
3.3 Metodologia em sala de aula
Além de compreensão do respeito ao ritmo do aluno e da paciência a
metodologia aplicada em sala de aula deve ser criativa porque o aluno com problemas
em casa são realmente propensos a se desconcentrarem mais, porém uma aula dinâmica
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já é um grande passo para conseguir segurar a atenção deste aluno. Por muito tempo
falava-se da dificuldade de assimilar ou até mesmo entender o conteúdo de língua
portuguesa, hoje repensamos em sala de aula para ministrar as aulas de língua
portuguesa entendendo que muita das vezes o que falta é realmente uma aula criativa
dinâmica onde esse ser aprendente tinha interesse pelo conteúdo aplicado. Deixando
então de culpar o conteúdo e o aluno e avaliar a metodologia que está sendo aplicada.
Alguns professores costumam atribuir problemas de aprendizagem a conflitos
familiares quando o aluno possuí uma mãe alcoólatra ou depressiva, ou pai agressivo
por exemplo. São problemas que, de fato contribuem muito para desencadear a
dispersão, a falta de concentração a baixa autoestima e o desinteresse pela
aprendizagem mas o fato é que quando isso ocorre, tal situação é vista como o único
motivo do fracasso escolar, aí fica mais fácil para a escola que se isenta de qualquer
responsabilidade. Não existe um olhar diferenciado para esse tipo de situação quando é
muito mais fácil culpar esse aluno e diagnosticá-lo com um aluno com problemas em
aprender o conteúdo, aluno com problemas de aprendizagem. Pais e mães são
chamados, orientados mas nada se modifica, até que esse aluno é encaminhado para um
psicólogo ou psicopedagogo. Algo que às vezes torna-se desnecessário o próprio
professor poderia intervir e ajudar esse aluno nessa fase, modificando sua forma de
ensino, para que consigam prestar mais atenção à aula do que aos problemas
enfrentados em casa, mudando toda sua metodologia de ensino. Nestes casos, a escola,
o professor principalmente deve ter uma postura ainda mais acolhedora, para que o
aluno comece a se sentir seguro amparado olhado. Caso contrário esse aluno ao sentir-
se inseguro, incapaz de aprender ou assimilar o conteúdo exposta começara a acreditar
que realmente eu não consigo aprender se excluindo da sociedade porque não
conseguem aprender, por isso vemos um numero grande de pessoas que se acham
inferiores porque não dominam a norma culta, ou não conseguem aprender a língua
materna, se formos observar a trajetória desse sujeito enquanto na escola iremos
esbarrar em metodologias ultrapassadas, que na verdade querem engessar esse sujeito,
fazendo com que ele não tenha sua própria opinião, mas a verdade é o que a escola
coloca com metodologia. Pensamento esse que acredita que todos são iguais e
aprendem no mesmo tempo, na mesma ora. Somos indivíduos cada um de nós temos
21
nosso tempo de aprendizagem, aprendemos de várias formas não existe uma receita,
cada um é um.
É imprescindível que o educador seja alguém capaz de não apenas transmitir
conhecimento, mas também de construir com o aluno este conhecimento, transmitindo
valores e emoções para que a criança não permaneça enrijecida com os sentimento
provocados pelas dificuldades porque passa e seja capaz de descobrir que existem outras
formas de lidar com seus sentimento, seja por meio da música, do contar e ouvir
estórias, do teatro ou das artes plásticas.
O caminho se faz ao caminhar. Desse modo, cabe
ao educador facilitar situações para uma
aprendizagem autodirigida, com ênfase na
criatividade em lugar da padronização da
planificação e dos currículos rígidos presente na
educação tradicional. Mais do que programas que
visam resultados preciosos imediatos, é preciso
contar com princípios metodológicos que favorecem
o relacionamento entre o conhecimento (em suas
diversas áreas) a sociedade, o indivíduo,
estimulando, e não tolhendo o ser criativo que habita
em cada um de nós.
(BRITTO, 2001, p.31)
Transmitir informação por meio das artes desperta no aluno outras vias de
conhecimento que neste momento não está sendo possível chegar apenas pela audição
que se encontra bloqueada e saturada por criticas. Outros sentidos devem ser
desenvolvidos para que o aluno perceba o mundo de todas as maneiras possíveis e
descubra outras formas de aprendizagem.
Para que a construção do conhecimento aconteça no sujeito aprendiz, é
necessário que quem ensine tenha formado com ele um vinculo positivo e vice-versa.
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Assim, o aluno pode transformar este conhecimento, mas isto só irá acontecer se houver
confiança nesta relação de ensino e aprendizagem, pois, para aprender é necessário que
o sujeito autorize a aprender; do contrário, poderá existir um bloqueio de qualquer
ordem funcionando como uma sombra negativa sobre o sujeito, e a aprendizagem ficará
impossibilitada.
Uma palavra, uma frase ou mesmo um gesto de critica negativa diante de
alguma produção do sujeito bastará para que este inicie um processo de introversão e
medo de errar, de se mostrar de ser alvo de ser ridicularizado. Ás vezes o professor não
compreende que embora a produção do sujeito não tenha saído como ele queria, foi o
que o sujeito pode dar nesse momento, não mais que isto e a critica em nada ajudará.
Para Pichon Rivière (2000) o mecanismo fundamental em todo grupo é a
interação que se dá por meio de diferentes vias de comunicação. Fazendo uma analogia
de suas palavras com a relação de comunicação entre professor e aluno, podemos
afirmar que este canal de comunicação deve existir em todo grupo, inclusive no grupo
escolar, onde encontramos o receptor e emissor e o aluno como receptor, mas este
conceito não cabe mais, já que o professor poderá ser o emissor (quando passa seu
conhecimento) e o receptor (quando ouve as experiências dos alunos o que sabem o que
conhecem) o aluno também poderá ser emissor em alguns momentos e receptor em
outros, existindo uma troca mútua de informação e conhecimento. Esta comunicação
em geral, encontra-se problematizada e os sujeitos envolvidos parecem falar línguas
diferentes, dificultando o entendimento. O problema está justamente quando o
professor quer ser apenas o emissor e deixa o papel de receptor apenas para o aluno, não
havendo troca de informações. O aluno desta forma não se sente valorizado como
sujeito aprendente e também, possuidor de experiências que poderão ser compartilhadas
em sala de aula em cima do conteúdo visto.
Muitas crianças adquirem conhecimento desarticulado nas escolas, ou seja,
informações decoradas, sem conexão com sua vida, difundidas por professores que não
fazem uma ponte do assunto com o cotidiano dos alunos para que possam fazer uma
associação. Nas escolas públicas, isto é ainda mais grave, onde crianças com várias
repetências chegam a ter suspeita de retardo mental e quando chegam ao consultório
psicopedagógico são diagnosticadas como crianças intelectualmente normais, mas com
23
alguma defasagem em seu nível cognitivo, possivelmente acarretado por falta de
estimulo no ambiente em que convive, seja familiar ou escolar.
Crianças com baixa autoestima em geral, são cabisbaixas, com letras e desenhos
muito pequenos. Crianças com principio de depressão de que estejam passando por
problemas emocionais, costumam sentir dores na barriga, nas pernas ou na cabeça. O
corpo fala e traduz algo que não vai bem.
Podemos igualmente no lembrar de todos os momentos em que tivemos a
sensação de receber um soco no estômago. Que então de todas as más noticias que
recebemos no estômago e das perturbações e doenças que elas geraram. Todos nós
temos coisas difíceis a digerir nem sempre dependem do estado ode nossa cozinha e sim
de certas palavras que escutamos, de certos olhares, de certos gestos e de certos
3.4 Aprendizagem escolar
A educação ou processo educativo é social que se desenvolve que se desenvolve
como um sistema, pelo qual se busca o ato de provocar ou produzir mudanças
comportamentais naqueles indivíduos que se encontram em atividade educativas.
No estabelecimento do “marco” ou do modelo instrutivo no processo de uma
aprendizagem estabelecida como “formativa”, a polaridade ensino-aprendizagem se
configura como:
- Ao processo de ensinar, cabe a premissa de ser o fator que proporciona
conhecimentos e habilidades ao discente, sendo uma tarefa docente por excelência;
- o processo de aprendizagem, ao contrario, refere-se aos procedimentos de
aquisição de ditos conhecimentos e habilidades, sendo uma atividade executada por
aqueles que aprendem e, portanto, “exclusividade” do descente.
O afeto influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, po8is,
quando as pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade. O papel do
professor é especifico e diferenciado do das crianças. Ele prepara e organiza o universo
onde as crianças atuam, buscam e se interessam. A postura do professor se manifesta na
24
percepção e na sensibilidade aos interesses das crianças de sentir o mundo. Portanto,
sua atuação deve ser para encorajar a criança a descobrir e inventar sem ensinar ou dar
conceitos prontos.
O professor (educador) obviamente precisa conhecer
a criança. Mas deve conhecê-la não apenas na sua
estrutura biofisologica e psicossocial, mas também
na sua interioridade afetiva, na sua necessidade de
criatura que chora, ri, dorme, sobre e busca
compreender o mundo que o cerca, bem como o que
ela faz ali na escola (SALTINI, 2002, p.70).
Neste caso, cabendo o docente, bem como às instituições, a tarefa de elaborar
estratégias de ação para a promoção e a condução do desenvolvimento.
Educar visa influenciar a aprendizagem alguém
buscando a formação de individuo para uma
sociedade. O ato educativo é um procedimento cuja
intenção envolve o desenvolvimento de uma
personalidade integrada, na qual o individuo é visto
como uma totalidade, por incluir no seu processo os
fracos afetivos, os cognitivos e os volitivos
(FALCÃO, 2003, p. 95)
Na interação entre professor e aluno, estabelecida na escola, a afetividade e a
cognição exercem influência decisiva. Por meio desta interação, tanto os alunos quando
o professor vão construindo imagens um do outro, atribuindo-lhes certas características,
intenções e significados. Criam-se, então, expectativas recíprocas entre professor e
alunos, que podem ser ou não harmônicos.
25
Desta forma, o trabalho mais importante a ser desenvolvido pelo professor com
os alunos é o incentivo dos motivos que eles trazem. Cabe ao professor tornar o
processo de aprendizagem incentivador, em si mesmo, levando as crianças a direcionar
toda sua energia e as motivações no enfrentamento dos desafios intelectuais propostos
pela escola, para o desempenho do trabalho de construção do conhecimento. O prazer
virá não só da aprendizagem em si, mas também do sentimento de competência pessoal,
da segurança de ser hábil para solucionar problemas.
O educador não pode ser aquele indivíduo que fala
uma relação e um dialogo intimo com ele, bem
como uma afetividade que busca mobilizar sua
energia interna. É aquele que acredita que o aluno
tem essa capacidade de gerar idéias e colocá-las ao
serviço de sua vida (SALTINI, 2002, p.60).
A escola e a família como fatores externos podem
ser consideradas fontes de recursos ou de limites
para a criança no seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento. (HURTANO, 1997, p.105).
Na maioria das culturas, o ingresso da criança na escola corresponde a uma fase
de desenvolvimento socialmente decisiva. Nessa etapa, a criança experimenta a
necessidade de ser reconhecida pela realização das tarefas valorizadas pelo meio
ambiente. O aprender na escola, especialmente nas etapas iniciais de escolarização,
cumpre papel no processo do desenvolvimento da criança. No processo de aprender,
variáveis afetivas e cognitivas são consideradas como importantes na compreensão e no
envolvimento da criança, influenciando o desempenho escolar.
O educador precisar ter a compreensão de sua responsabilidade no
encaminhamento do procedimento educacional, afim de que o aluno, no final do
26
processo, possa estar capacitado a lidar com o conhecimento adquiridos. Tais
conhecimentos podem ser converter em novas atitudes, crenças e opiniões, favorecendo
os processos de tomada de consciência, dando ao aluno um sentido de integridade e
estruturação psicológica, diante das situações de vida a serem enfrentados.
A aprendizagem é um fator simbólico, pelo qual o aluno, no final de sua
instrução, estará (ou deverá estar) capacitado a “dominar o mundo” (conseguir um
estado de equilíbrio diante das necessidades de adaptação às suas necessidades
ambientais) e poder orientar-se.
Todo conhecimento é fruto de alguma experiência e
está só se transforma num conhecimento pleno
quando se converte com “autentico” para aquele que
aprendeu, isto é, quando adquire a dimensão de
significado ou de vivencia significativa. (COLL,
1997, p.125).
Falar da relação entre aprendizagem e desenvolvimento intelectual do aluno
refere-se necessariamente à teoria dos dois fatores da convergência. Pela teoria dos dois
fatores, tem-se o aluno, ou homem, que é um ser ou uma idade biológica que se realiza
em um ambiente. Os dois fatores assim classificados por suas funções internas (o
aspecto corporal) e suas funções externas (o ambiente onde a identidade física se
expressa). Por esta teoria, vê-se que determinantes biológicos são transformados em
função de mudanças ocorridas pela experiência e este seria o terreno no qual a
aprendizagem resulta como fenômeno.
Assim, quando a aprendizagem é o elemento que resulta da união destes dois
fatores: exigências do mundo interno com as exigências do mundo externo,
configurando-se em um estágio de equilibrarão ou de organização interna, pode-se dizer
do surgimento de fatores que levaram a uma convergência, ou o novo estado de ser ou
estar neste mundo de relações, por um processo educativo. Educar é uma preparação
para a vida e tem como objetivo determinar quais são as funções mentais necessárias à
execução de uma tarefa cognoscitiva.
27
A dificuldade de aprendizagem e os comportamentos divergentes podem levar o
aluno ao fracasso, causando grandes angustias nos professores e a relação se dá entre
alunos e professores, principalmente por meio da “fala”. Todos esses fatos na podem
ser visto como peças enguiçadas que não têm mais consertos.
Importante é entender o que se passa em um processo educativo e os motivos
que levam essas dificuldades ao fracasso escolar, levando então esse aluno a uma
exclusão social, tornando-se muitas vezes fracassos de vida. Importante e desafiante é
repensar as práticas educativas, envolvendo não só os alunos, mas também professores,
coordenadores, diretores e todos que fazem parte do processo educativo.
Portanto, na atuação do professor existe uma fragilidade em relação ao aluno que
não se sustenta pela pedagogia, principalmente nos dias atuais. Basta lembrarmos em
nossas experiências como elas se processam.
Profecias autorrealizadoras em sala de aula: as
expectativas dos professores como determinantes
não intencionais da capacidade intelectual dos
alunos que podem funcionar como uma profecia
educacional que se autorrealiza. O professor
consegue menos por esperar menor. (ROSENTHAL
e HACOBSON, 1981, p.258).
Assim, conseguem mais por esperar mais. As dificuldades de aprendizagem do
aluno implicam o estudo de rede de relações cotidianas nas quais ele está inserido.
Muitas pesquisas qualitativas e relatos de trabalhos têm nos possibilitados conhecer a
produção do fracasso escolar em nossas escolas publicas. As pesquisas revelam
históricas de crianças, que em virtude das séries de repetências, evadiram-se da escola.
Revelam, acima de tudo, práticas que produziram o fracasso dessas crianças, mostrando
falhas na formação profissional dos professores.
28
Nós, educadores, deveríamos saber que aquilo que o
aluno apresenta aquilo que o aluno apresenta, quilo
que salta aos olhos é o efeito mais aparente de uma
causa subjacente. O efeito geralmente é limitado e
pode ser descrito em termos concretos. A causa, por
sua vez, é complexa e abaxa fatores e situações que
levam a pessoa ao desequilíbrio, o, em outras
palavras, à doença. (LIMA, 2000, p.49).
É verificado, nos dias atuais em nossas escolas, um desequilíbrio muito grande
em relação ao social e também aos aspectos relacionados ao pedagógico, lembrando as
dificuldades de aprendizagem, as depressões, as fobias, as violências, as frustrações e as
somatizaçoes.
Na educação, sinais de enfermidade aparecem
diariamente, como a evasão, a violência, a retenção,
a indisciplina, e o que é pior, a recusa a aprender.
Esse estado de coisas jamais pode gerar nos
educando uma predisposição para aprendizagem
(LIMA, 2000, p.51).
A exclusão sutil de crianças e jovens com dificuldades de aprendizagem da
política de educação não tem sido ocidental. As crianças e os jovens com dificuldades
de aprendizagem não desfrutam ainda de uma categoria educacional própria por isso
têm sido encaradas como uma ameaça em termos de recursos financeiros limitados,
quando entre nós a aplicação do produto nacional bruto na educação é ainda dos mais
baixos da Europa, apesar de sofrer nos últimos anos um ligeiro acréscimo.
De acordo com KEOGH (1980) apud FONSECA (1995) as dificuldades de
aprendizagem representam um dos maiores desafios educacionais e clínicos e,
simultaneamente, um tópico estimável da investigação cientifica.
29
Conclusão
Finalizando este trabalho de pesquisa, depois de estudar sobre o fenômeno da
variação e o preconceito lingüístico, posso concluir que o preconceito lingüístico é
motivado pelo desconhecimento da sistematização que rege as variações que não
seguem as exigências da gramática tradicional.
Os falantes de língua portuguesa que praticam o preconceito lingüístico não
reconhecem que a língua se manifesta diferentemente dependendo da região geográfica,
da exigência de formalidade ou informalidade da situação de comunicação, de acordo
com o nível socioeconômico e sociocultural do individuo e, até mesmo, por
particularidades do individuo, mas esta observação não é entendida como algo aceitável
no idioma, pois, de um modo em geral, as pessoas não percebem que as variações,
mesmo que não estejam regidas pelas exigências da gramática tradicional, também são
lógicas e sistemáticas.
O fato de as regras estabelecidas pela gramática tradicional serem entendidas
como a própria língua acaba incentivando o preconceito lingüístico já que contribui com
o conceito de que as construções que não obedecem a tais regras são erros. Conforme
foi estudado, a linguagem é um meio de interação social e é constantemente
influenciada por fatores externos. Como não existe uma homogeneidade lingüística, o
idioma não é composto por apenas uma variante e sim, por varias.
O preconceito lingüístico também está presente na escola, sobretudo no ensino
de língua portuguesa. A distinção do que é certo e o que é errado ainda faz parte do
cotidiano escolar. A presença do preconceito lingüístico na escola é conseqüência da
perpetuação da noção de erro equivocadamente fundamentada na idéia de que o idioma
é constituído apenas pelas construções que estão registradas na gramática tradicional.
Esta atitude está tão impregnada na pratica educacional que alguns professores ainda
não conseguiram incorporar às suas atividades os estudos desenvolvidos pelos
lingüistas. Todos os problemas e as soluções discutidas no meio acadêmico e que
parecem eficazes, não chegam à escola, lugar crucial da expansão ou do combate ao
preconceito.
A escola como uma instituição estritamente ligada ao ensino, principalmente, o
de língua portuguesa, é um importante canal de auxilio para a erradicação da pratica do
preconceito e, para isto, deveria implantar no ensino de gramáticas discussões que
propiciem o reconhecimento de que a linguagem é um processo dinâmico, variável e
30
heterogêneo. No entanto, o que vejo nesse rico ambiente de diferenças é a
desinformação, a discriminação e atitudes preconceituosas, ou seja, escola que deveria
ser um lugar reservado para a discussão de preconceitos e injustiças sociais, reproduz,
comandada pelos fios do preconceito e do poder, o mito da unidade lingüística, a
exaltação da norma culta como instrumento de ascensão social e a falácia da democracia
social.
O processo de aprender é um ato transformador que pode sempre modificar as
relações estabelecidas com o mundo. O fato de alguém não poder aprender num
determinado momento, ou ter dificuldade para tal, não o condena a esta “não
aprendizagem” ou dificuldade para o resto da vida.
A princípio, todos nascem com as condições para aprender o que a espécie
humana é capaz de aprender, mas é na relação com o mundo que se desenvolvem mais
ou menos estas condições, dependendo da constituição do homem e do meio em que
está inserido.
Este processo de aprendizado, segundo PICHON-RIVIÈRE (1998), inclui
movimentos de fechamento e abertura que, dependendo do tempo em que o individuo
permaneça em cada um, pode resultar em dificuldades que impeçam o desenvolvimento
do mesmo.
A dificuldade para aprender é considerada como obstáculo que aparece na
relação do aluno com seu meio ou com os mediadores que o sistematizam. O obstáculo
não está somente pelo meio, ele aparece na relação entre os principais protagonistas do
processo do ensino e da aprendizagem (aquele que ensina aquele que aprende e o objeto
do conhecimento).
A escola, um dos mediadores sintetizadores da cultura, precisa posicionar-se
quanto à visão de aprendizagem e de dificuldade de aprendizagem que possui, pois
deste posicionamento resulta a postura diante do aluno, o encaminhamento
metodológico e o processo de avaliação.
Numa visão sócio-interacionista, a pré-escola, como a primeira instituição
escolar presente na vida do aluno, precisa considerar seu papel mediador entre a
aprendizagem assistemática (intensa neste período) e a aprendizagem sistemática
(elaboração cultural) que inicia como instituição de ensino.
A criança da continuidade, na instituição de educação infantil, ao processo de
aprendizagem já iniciada no seio familiar. Ela chega à escola como um ser histórico
31
que traz, como resultado de sua interação com o mundo, um conhecimento que precisa
ser considerado na ação pedagógica da qual vai participar.
Os alunos podem apresentar dificuldades normais inerentes ao processo de
aprender, assim como podem apresentar paradas globais ou parciais, diante dos
obstáculos diversos.
PICHON-RIVIÉRE (1998) fala de um obstáculo chamado por BACHELARD,
de obstáculo epistemológico, que se caracteriza pela dificuldade que os homens
possuem em adquirir um novo conhecimento que contradiga sua concepção de mundo e
de homem.
Na medida em que as concepções e os valores já aprendidos pela criança, ou
grupo de crianças é desconsiderado, para o conhecimento novo possa ser aprendido,
surge a resistência de mundo.
Ninguém, nem mesmo a criança pode jogar fora o que já aprendeu, pois desta
forma não pode ampliar ou transformar sua visão de mundo.
Existem escolas que se preocupam em adiantar o processo de aprendizagem, de
maneira aleatória, somente em nome da vaidade própria ou para atender uma demanda
de pais que gostariam de ter filhos “gênios” sem respaldo teórico nenhum. Estas
instituições desenvolvem uma pratica pedagógica que passa a ser obstaculizadora do
processo de aprender ao invés de cumprir seu papel de promotora da aprendizagem.
A partir do momento em que a escola domine o conhecimento do
desenvolvimento do aluno, poderá adotar práticas coerentes, deixando cristalizar como
dificuldades aspectos do desenvolvimento normal sem permanecer no nível de
desenvolvimento atual, e sem o nível de desenvolvimento potencial estudado por
VYGOTSKY (1998).
Os obstáculos que aparecem na interação entre aluno e a instituição de educação,
podem se transformar em dificuldades de aprendizagem e de ensino, bem como assumir
graus de dificuldades que podem ir do necessário ao paralisador.
O conhecimento e a analise destes obstáculos permitem que a escola destes
obstáculos permitem que a escola se instrumentalize, não para prevenir ou curar a
dificuldade de aprendizagem no aluno, mas para desenvolver uma ação pedagógica
capaz de promover o desenvolvimento de seus alunos sem criar situações que
provoquem ou mantenham dificuldades; e para atuar sobre as dificuldades existentes,
não como um medico que cura uma ferida do outro, mas como um elemento que faz
32
parte das dificuldades, portanto precisa modificar-se também para que a situação de
dificuldade se modifique.
33
Bibliografia consultada
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TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. 7. ed. São Paulo: Ática, 2001.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de
gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.
35
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
METODOLOGIA 04
RESUMO 05
SUMÁRIO 06
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I 09
O CARATER HETEROGÊNEO DA LÍNGUA
1.1 AS VARIAÇÕES INGÜÍSTICAS 10
CAPITULO II 12
O PRECONCEITO LINGUISTICO
2.1 DICRIMINAÇÃO E EXCLUSÃO SOCIAL 12
2.2 AS IMPLICAÇÕES DO PRECONCEITO LINGUISTICO NO ENSINO DE
LINGUA: 13
CAPÍTULO III 16
PRECONCEITO LINGÜÍSTICO: DIFICULDADES NO APRENDIZADO E SUAS
CONSEQÜÊNCIAS
3.1 CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES SOBRE
INTELIGÊNCIA/ APRENDIZADO 18
3.2 ENSINAR/APRENDER 18
3.3 METODOLOGIA EM SALA DE AULA 19
3.4 A APRENDIZAGEM ESCOLAR 23
CONCLUSÃO 29
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34
ÍNDICE 35