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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
EDUCAÇÃO CRISTÃ. A DIVI�DADE DE JESUS CRISTO
RICARDO LEITE
ORIENTADOR
MARCELO SALDANHA
Rio de Janeiro
2010
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
EDUCAÇÃO CRISTÃ. A DIVI�DADE DE JESUS CRISTO
Rio de Janeiro
2010
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior. Por: RICARDO LEITE
RESUMO
As bases do pensamento e os conceitos elaborados por Paulo Freire ,
tendo por objetivo a alfabetização, mostra bem o educador que foi, e como
suas idéias ainda repercutem.
A divindade de Jesus. Por envolver pesquisas detalhadas e
argumentos técnicos, todas as obras citadas, mesmo as de outras línguas,
aparecerão na bibliografia no final da segunda parte, que será publicada na
próxima edição desta revista.
METODOLOGIA
Este trabalho foi fonte de várias pesquisas bibliográficas. Vários
autores foram responsáveis pelo desenvolvimento desse trabalho, porém,
alguns aqui merecem destaque, são eles : Vigotsky, Piaget e Paulo Freires .
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPITULO I
Pedagogia de Paulo Freires
CAPITULO II A Divindade de Jesus Cristo CAPITULO III Perspectiva da Educação Cristã CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA INDICE
INTRODUÇÃO
Este trabalho de monografia foi feito com o conteúdo retirado da bíblia ,
contando um pouco do velho testamento, usando os métodos de ensino de
Paulo Freires , com uma linguagem de fácil compreensão .
A perspectiva da educação cristã , nos dias de hoje .
Pedagogia de Paulo freires
Método Paulo Freire consiste numa proposta para a alfabetização de
adultos desenvolvida pelo educador Paulo Freire, que criticava o sistema tradicional, o
qual utilizava a cartilha como ferramenta central da didática para o ensino da leitura e
da escrita. As cartilhas ensinavam pelo método da repetição de palavras soltas ou de
frases criadas de forma forçosa, que comumente se denomina como linguagem de
cartilha, por exemplo Eva viu a uva, o boi baba, a ave voa, dentre outros.
1. Etapa de Investigação: busca conjunta entre professor e aluno das palavras e
temas mais significativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da
comunidade onde ele vive.
2. Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através
da análise dos significados sociais dos temas e palavras.
3. Etapa de Problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno
a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.
O método
• As palavras geradoras: o processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo
levantamento do universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais,
o educador observa os vocábulos mais usados pelos alunos e a comunidade, e
assim seleciona as palavras que servirão de base para as lições. A quantidade de
palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras, aproximadamente. Depois
de composto o universo das palavras geradoras, apresenta-se elas em cartazes
com imagens. Então, nos círculos de cultura inicia-se uma discussão para
significá-las na realidade daquela turma.
• A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada
através da divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional. Cada sílaba
se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. (i.e.,
BA-BE-BI-BO-BU)
• As palavras novas: o passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as
famílias silábicas agora conhecidas, o grupo forma palavras novas.
• A conscientização: um ponto fundamental do método é a discussão sobre os
diversos temas surgidos a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire,
alfabetizar não pode se restringir aos processos de codificação e decodificação.
Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos é promover a
conscientização acerca dos problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o
conhecimento da realidade social.
Freire propõe a aplicação de seu método nas cinco fases seguintes:
• 1ª fase: Levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase ocorrem as
interações de aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das
palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu linguajar típico.
• 2ª fase: Escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza
fonética, dificuldades fonéticas - numa seqüência gradativa das mais simples
para as mais complexas, do comprometimento pragmático da palavra na
realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade.
• 3ª fase: Criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de
situações inseridas na realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de
abrir perspectivas para a análise crítica consciente de problemas locais, regionais
e nacionais.
• 4ª fase: Criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para os debates,
as quais deverão servir como subsídios, sem no entanto seguir uma prescrição
rígida.
• 5ª fase: Criação de fichas de palavras para a decomposição das famílias
fonéticas correspondentes às palavras geradoras.
As bases do pensamento e os conceitos elaborados por Paulo Freire ,
tendo por objetivo a alfabetização, mostra bem o educador que foi, e como
suas idéias ainda repercutem. Segundo ele, “o papel do educador” era de
grande importância para que a prática educativa contribuísse para o processo
de libertação, onde o diálogo entre educador, educando e objeto do
conhecimento seria um dos pontos fortes desta nova alfabetização: “Eu sempre
disse, se escolhemos o processo de alfabetização que liberta e humaniza, não
podemos começar usamos nossas palavras como palavras geradoras” ou
ainda; “A leitura da palavra escrita implica a fala, implica oralidade. A
capacidade de falar por sua vez, demanda antes o transformar a realidade. É
isso que eu chamo de ‘escrever o mundo’.” As contribuições de Paulo Freire
reforçam e confirmam aspectos essenciais para uma compreensão maior do
processo da aprendizagem da leitura e escrita. Por exemplo:
· O motor da alfabetização é a capacidade de pensar dos educando e não
a memorização mecânica das letras e sílabas;
· Não há leitura nem escrita sem uma compreensão do lido ou escrito.
Esta compreensão depende da ‘leitura de mundo que o educando é capaz de
fazer;
A Divindade de Jesus Cristo
A divindade de Jesus. Por envolver pesquisas detalhadas e argumentos
técnicos, todas as obras citadas, mesmo as de outras línguas, aparecerão na
bibliografia no final da segunda parte, que será publicada na próxima edição
desta revista.
A questão da divindade de Jesus Cristo, há muito tempo, tem sido um
assunto debatido. Desde o tempo em que Jesus viveu na terra, as pessoas
têm tido vários pontos de vista a respeito dele. Alguns o chamaram de
embusteiro (Mateus 27:63). Alguns disseram que ele desencaminhava as
multidões; outros disseram que ele era um bom homem (João 7:12). Alguns
declaravam que ele era um dos profetas, como Elias ou Jeremias (Mateus
16:14). Seus discípulos confessaram sua fé em que ele era o Cristo, o Filho de
Deus (Mateus 16:16). Depois do primeiro século houve continuados debates
sobre a natureza e a identidade de Jesus. “As controvérsias cristológicas do fim
do segundo século e do início do terceiro foram assim uma parte da dialética
interna da fé cristã” (Ferguson 18). Para evitar os extremos do adopcionismo
(Jesus era um bom homem a quem Deus adotou como seu Filho) e do
modalismo (Jesus era a mesma pessoa que o Pai, que se manifestava em
diferentes modos), “a solução ortodoxa foi afirmar ao mesmo tempo a unidade
de Deus, a divindade de Cristo, e a distinção entre o Filho e o Pai” (Ferguson
18). Devido aos esforços para tentar explicar tudo isto, as controvérsias
“trinitárias” do quarto século nasceram. Ainda que sempre tenha havido
dissidentes, a posição ortodoxa definida por diversos concílios que se
conveniaram durante os próximos poucos séculos foi que Jesus era
verdadeiramente Deus, e que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são
personalidades distintas. Aqueles que negavam isto foram considerados
“anátemas” (Hardy 379). Em tempos modernos, o debate não diminuiu. A
teologia liberal do último par de séculos tem questionado o ponto de vista
“ortodoxo”, e tem tentado redescobrir o histórico Jesus. O resultado tem sido
uma negação da divindade de Jesus nesta era moderna de ceticismo.
O propósito deste estudo é considerar o que a Bíblia ensina sobre a identidade
de Jesus. A Bíblia contém a verdade histórica sobre Jesus, e estamos
buscando entender as muitas passagens bíblicas relativas à questão de sua
identidade. Mesmo dentro de modernos círculos religiosos, entre aqueles que
declaram aceitar a Bíblia como verdadeira, tem havido desacordo muito
espalhado quanto a se Jesus era Deus ou não. Há também a questão bíblica a
respeito do que Jesus renunciou quando veio à terra. Alguns ensinam que
Jesus era Deus enquanto estava no céu mas, quando veio à terra, despiu sua
divindade e se tornou nada mais do que um humano. Estas questões
teológicas têm grandes implicações práticas. Se Jesus realmente era Deus,
então ele merece pleno compromisso e submissão. Se não era quem declarava
ser, então era uma fraude e merece ser relegado ao status de charlatão ou
louco.
Nesta dissertação, o foco será sobre o que a própria Bíblia diz a respeito de
Jesus Cristo. Será feita menção às modernas tendências que se afastam da
aceitação de Jesus como Deus, mas será dada especial atenção aos textos
bíblicos. A intenção é mostrar que a Bíblia de fato ensina a divindade de Jesus
Cristo. Atenção especial será dada aos versículos específicos que ensinam
sobre Jesus.
A moderna tendência de rejeitar a divindade de Jesus
Alguém que escreveu sobre esta questão fez a seguinte observação:
“Hoje em dia, pode-se encontrar evidência virtualmente em toda
parte – em todos os continentes, tanto nos círculos católicos
romanos como nos protestantes – que o que está
teologicamente “na moda” é contender por um Jesus que era
somente um homem por natureza e por uma Bíblia que
virtualmente silencia a respeito da clássica cristologia da
encarnação de um Cristo de dupla natureza – verdadeiro Deus e
verdadeiro homem na única pessoa de Jesus Cristo. Está muito
em voga acreditar que a melhor solução pode ser entender
Jesus como somente um homem – um homem muito incomum,
naturalmente, com uma missão especial de Deus – e explicar as
atribuições bíblicas a ele de qualidades divinas em termos não
ontológicos” (Reymond 2-3).
Esta citação descreve com precisão o pensamento religioso moderno
daqueles que são crentes professos em Deus. Tanto estudiosos protestantes
como católicos romanos estão ensinando que Jesus não era realmente Deus.
Eles estão dizendo que ele nem mesmo declarou ser Deus, mas discípulos
mais tarde atribuíram divindade a ele. Parte da razão por que a tendência
moderna tem estado afastada da crença na divindade de Jesus é devida à
questão da confiabilidade das narrações do evangelho. A questão geral tem
sido levantada sobre se os evangelhos, como os temos, são ou não
verdadeiras representações da vida e das declarações de Jesus Cristo.
Rudolph Bultmann era um importante estudante liberal que questionou a
crença na veracidade histórica das narrações do evangelho. A teologia de
Bultmann estava baseada no conceito de que se precisa “desmitologizar” as
narrações. Isto significa que é preciso ficar por trás do que é dito para tentar
achar o que a verdade real é, o que pode estar escondido em algum lugar nas
profundezas do ensinamento mítico. Bultmann questionou a idéia de que Jesus
tivesse uma consciência messiânica (Bultmann 26). Ele apoiou o conceito que
diz que pontos de vista como estes sobre Jesus foram sobrepostos sobre
Jesus por discípulos posteriores. Esta abordagem básica é agora adotada por
um grande número de estudiosos. Ele assumiu que os relatos do evangelho
são informação de segunda mão e que eles contêm tradições humanas sobre
Jesus. A “forma de crítica” de Bultmann tomou o mundo teológico como uma
tempestade no vigésimo século (Praamsma 61).
Talvez o mais significativo desenvolvimento na era moderna do
entendimento bíblico seja a popularização de um “novo” Jesus histórico pelo
“Seminário de Jesus”. Este seminário, realizado primeiramente em 1985 sob a
liderança de Robert Funk, reuniu-se em várias ocasiões para chegar a
conclusões a respeito de quem Jesus realmente foi e quais, dos relatos do
evangelho, são suas palavras e declarações reais. “Poderia a fé ter feito com
que os escritores de todos os quatro Evangelhos embelezassem o fato real?
Teriam as políticas da igreja primitiva feito com que eles alterassem ou
acrescentassem à história de Jesus? Quais partes do Novo Testamento
poderiam ser relatos puros e não mitificações piedosas?” (Ostling e Towle 54-
55). Eles decidiram, através de um processo de votação com contas coloridas,
que menos do que um quinto dos tradicionais ditos de Jesus são autênticos.
Suas conclusões estão publicadas numa obra chamada The Five Gospels
(significa “Os Cinco Evangelhos”). Suas conclusões têm recebido muita
atenção dos meios de publicação, e a popularização de suas idéias parece que
terá um forte impacto sobre a opinião pública nos anos vindouros. Ainda que
não esteja dentro do objetivo desta dissertação comentar o Seminário de
Jesus, precisa-se questionar o processo de votação sobre as palavras de
Jesus por pessoas que estão perto de dois mil anos afastadas dos eventos. O
ponto é que há um continuado esforço para redefinir o Jesus dos relatos
evangélicos. Tudo isto parece realçado por uma tendência anti-sobrenatural e a
recusa a considerar os relatos do evangelho como documentos históricos por
causa do tipo de material que ele contém. Eles assumem que ele não pode
conter material contemporâneo, e que qualquer registro de eventos notáveis ou
declarações são automaticamente não confiáveis. “E eles então chegam a
conclusões baseadas na fé, freqüentemente de sua própria criação”
(Woodward 2).
Um escritor conservador, que tem devotado trabalho à crítica do revisionismo
moderno, mostra que ainda há boas razões para se aceitarem os relatos
históricos do evangelho. Depois de criticar a evidência da confiabilidade do
evangelho de Marcos, ele observa o seguinte:
“O Jesus sobrenatural do Evangelho de Marcos, naturalmente, é difícil
de ser aceito por muitas pessoas do vigésimo século. Não é o tipo de
retrato que se pudesse esperar que um moderno aceitasse, se boa
evidência não houvesse aí em seu favor. Mas a evidência aí está. E,
antes que ajustar a evidência para fazer Jesus mais palatável às
sensibilidades do século vinte, parece mais razoável deixá-la intacta e
simplesmente permitir que o enigma deste judeu do primeiro século
confronte nossas sensibilidades do século vinte. Pode mesmo ser que a
história, afinal, não seja um continuum, fechado!” (Boyd 243).
Como é o caso em muitos campos, a tendência é freqüentemente o fator
determinante de a pessoa aceitar ou não Jesus como os relatos do evangelho
o apresentam. Há sempre um outro lado das histórias que é popularizado nos
meios de comunicação. Em qualquer caso, a fé é envolvida no processo de
aceitação. “Assim, se a pessoa mantém que Jesus era o Filho de Deus e foi
levantado dos mortos, ou se a pessoa acredita que Jesus era um filósofo cínico
cujo corpo foi finalmente devorado pelas bestas selvagens, a fé é
necessariamente envolvida” (Boyd 293). Há muita especulação e pouca
evidência objetiva que existe por parte de muitos revisionistas. Em vez disso, “a
narrativa dos Evangelhos é descartada e pedaços da Escritura são
embaralhados para revelar o ‘Jesus histórico’ do próprio estudioso” (Woodward
65). Parece mais razoável considerar os evangelhos à sua luz
histórica. Eles declaram ter sido escritos e confirmados por testemunhas
oculares (1 João 1:1-3; Lucas 1:1-4; 2 Pedro 1:16). Jesus foi visto, ouvido e
seguido. Somente demonstrando que estes escritores eram mentirosos,
iludidos, ou de algum outro modo os desacreditando, poderemos assumir que
os relatos do evangelho não são designados a serem entendidos
historicamente.
A questão se Jesus era ou não o Filho de Deus parece ser mais um assunto
filosófico nesta era moderna. Muitos não crêem nele simplesmente porque
pensam que é tolice aceitar que um homem que viveu dois mil anos atrás
possa ser um salvador numa era moderna. Alguns não aceitarão o conceito de
ressurreição sem se importar com quanta evidência é mostrada para isso. A
própria Bíblia antecipa que muitos pensariam deste modo (1 Coríntios 1:18 e
segs.). Não obstante, houve milhares de cristãos que deram suas vidas pela
sua fé na ressurreição, inclusive aqueles que andaram com Jesus. Há “pouca
dúvida de que o levantamento de Jesus por Deus para uma nova vida foi uma
convicção cristã primitiva” (Woodward 66). Eles podem ter sido “tolos,” mas
estavam convencidos e convictos. E mais, poderia parecer lógico que estas
pessoas que viveram com Jesus, e durante um tão curto tempo depois de
Jesus, soubessem mais sobre a vida, os cenários e os tempos de Jesus do que
qualquer pessoa moderna saberia. Eles não podem ser desacreditados porque
aceitaram Jesus como o Filho de Deus: seus atos baseados em suas
convicções deverão dar-lhes credibilidade. Naturalmente, eles também tinham
uma tendência, como todos têm; mas pode ser que sua tendência realmente
fosse fundada em terreno sólido.
A partir deste ponto, o foco mudará para os textos escriturais e
perguntará: a Bíblia, de fato, ensina que Jesus era Deus? Há muitos que
professam que a Bíblia é historicamente verdadeira, mas que não crêem que
Jesus fosse Deus. É este problema que será enfrentado.
Divindade é, geralmente, uma referência a um ser que está no
estado de ser Deus. Ao dizer que um ser é “divino”, está-se dizendo que este
ser possui a natureza de Deus, ou está no estado de ser Deus. Na Bíblia,
Theos, Deus, refere-se “ao ser supremo sobrenatural como criador e
mantenedor do universo: Deus” (Louw e Nida 137). A Bíblia se refere a Deus
como aquele que “fez o mundo e tudo o que nele existe” (Atos 17:24). Palavras
derivadas de theos, como theotes, se referem à “natureza ou estado de ser
Deus” (Louw e Nida 140). Esta é a idéia como é encontrada em Colossenses
2:9, que afirma com referência a Jesus, “nele habita corporalmente toda a
plenitude da Divindade”. Ao afirmar que Jesus é divino, está-se dizendo que
Jesus possui certas características divinas. Antes, está-se dizendo que ele é
propriamente Deus, o ser supremo sobrenatural que criou e sustenta o
universo.
Pode ser mostrado pela Bíblia que Jesus possui a natureza de Deus,
então será mostrado que a Bíblia ensina que ele é Deus. A “natureza” se refere
aos atributos, características e qualidades que fazem de alguma coisa o que
ela é. São os traços essenciais que pertencem a alguma coisa. Se alguém é
desprovido destes traços essenciais de divindade,essa pessoa não é Deus.
Gálatas 4:8 se refere “àqueles que por natureza não são deuses”. Essas
pessoas tinham adorado alguma coisa que não era Deus; esses ídolos não
continham a essência da divindade. Conquanto seja impossível definir todos os
atributos essenciais de Deus, e isso não esteja dentro do alcance deste estudo,
algumas das características específicas que se ajustariam dentro desta
categoria incluem a onipotência e a eternidade. Somente Deus é “Todo-
Poderoso” e eterno, no sentido em que ele não teve princípio e não tem fim.
Qualquer ser que possuísse esta característica seria certamente considerado
divino. A questão é: são tais atributos atribuídos a Jesus Cristo na Bíblia? Este
estudo responde afirmativamente, e procurará mostrar algumas das várias
provas bíblicas da divindade de Jesus. Evidências de ambos, do Velho como
do Novo Testamento, serão consideradas.
O Velho Testamento
Para mostrar que Jesus é o Messias, é comum ir ao Velho
Testamento para considerar as muitas profecias e alusões (mais de 300) a
respeito do Messias. Depois, deve mostrar no Novo Testamento como Jesus
cumpriu estas profecias. Algumas destas profecias incluem referências ao
Messias como sendo divindade.
Isaías 9:6 se refere ao Messias como “Deus Poderoso” (El Gibbor). Em
Jeremias 32:18, o nome de “Deus Poderoso” é identificado como “SENHOR
(Yahweh) dos exércitos”. Alguns têm argumentado que “Deus Poderoso” não é
o mesmo que “Deus Todo-Poderoso” e, portanto, Jesus não era realmente
Yahweh. Jeremias responde essa questão. O “Deus Poderoso” é “Yahweh dos
exércitos.”
“Yahweh” (Jeová ou Javé) é usado 6.800 vezes no Velho Testamento. É o
nome mais precioso para Deus. “Jesus,” como abreviação de Jehoshua,
significa “Jeová, o Salvador”. Para seus pais terrestres, foi dada a mensagem
que seu filho se chamaria “Jesus” (Mateus 1:21). Isto não foi acidental. A Bíblia
de fato ensina que Jesus era Yahweh feito carne (João 1:1,14). Considere as
seguintes ligações bíblicas:
Isaías 8:13-14 se refere a Yahweh como aquele que se tornaria uma pedra de
tropeço e uma rocha de ofensa. O Novo Testamento aplica isto a Jesus em 1
Pedro 2:8.
Isaías 40:3 fala daquele que viria diante de “Yahweh” no deserto. Isto é
aplicado a João Batista quando preparava o caminho para Jesus, o Cristo
(Mateus 3:3; Lucas 1:76; João 3:28).
Em Isaías 42:8, Yahweh fala da glória que pertence somente a ele, e que ela
não seria dada a outro. Jesus pregou sobre a glória que ele partilhava com o
Pai antes que houvesse mundo (João 17:5). Em Isaías 6 é relatada uma visão
na qual Isaías viu Yahweh sentado em seu trono. João 12:36-41 registra que
afirmações feitas por Isaías foram pronunciadas “porque ele viu sua glória, e
falou dele”. No contexto, isto é claramente uma referência a Jesus. Isaías viu
“sua” glória e falou “dele”, de Jesus. Isto liga Jesus a Yahweh.
Isaías 44:6 faz uma afirmação clara a respeito de Yahweh: “Eu sou o primeiro e
eu sou o último, e além de mim não há Deus”. Seria lógico que alguém que
declarasse isto teria que ser Deus, ou teria que ser um mentiroso. O Novo
Testamento atribui esta mesma frase, “o primeiro e o último”, a Jesus
(Apocalipse 1:17-18; 2:8: 22:13-16). Estas referências ensinam que Jesus é
Yahweh.
Salmo 102 começa uma oração a Yahweh. Uma parte desta mesma
oração é aplicada a Jesus em Hebreus 1:10-12. Seria difícil conciliar como uma
oração (ou mesmo uma parte de uma) feita a Yahweh pudesse ser assim
aplicada a alguém que não é Deus.
Estas e outras referências tomadas juntamente provêem um apoio muito forte
para a divindade de Cristo sendo ensinada pelo Velho Testamento. Não parece
ser por acidente que tais ligações fossem feitas entre os Testamentos. Jesus
não estava vindo a esta terra para ser só qualquer outro homem; ele estava
vindo para ser o salvador do mundo. Definitivamente, somente o próprio Deus
poderia preencher este papel.
Os relatos do Evangelho não fornecem biografias completas da vida
de Jesus. Eles, contudo, dão eventos relevantes, atos, declarações
ensinamentos de Jesus enquanto ele vivia nesta terra. Portanto, é apropriado
considerar o testemunho destes registros. Ensinam eles que Jesus é
divindade? Nem todos os registros dão o mesmo destaque aos atos e
ensinamentos que outros. Cada evangelho foi escrito por propósito pretendido
e para uma audiência especial. Diferentes ângulos são considerados nos
ensinamentos de Jesus, e diferentes fatos são enfatizados.
As declarações de Jesus. Conquanto Jesus não tenha feito nenhuma
declaração explícita de que era Deus, ele de fato fez declarações que
definitivamente o identificavam como Deus. Tomadas em conjunto, elas apóiam
uma questão para o entendimento de Jesus, que ele é Deus.
Ele declarou ter uma relação inigualável com o Pai. Ele não declarou
apenas crer ou amar a Deus; ele declarou que ele e o Pai eram um (João
10:30). Ele não se referiu a si mesmo como um filho de Deus, mas o Filho de
Deus. João 5:17-18 registra uma ocasião quando Jesus tinha feito um milagre
justamente no sábado. Ele disse aos judeus: “Meu Pai trabalha até agora, e eu
trabalho também”. Isto enfureceu os judeus, por isso “ainda mais procuravam
matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus
era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”. Eles entenderam que Jesus
estava alegando ter uma relação com o Pai num sentido incomparável, e
creram que isto era blasfêmia, pois ele estava “fazendo-se igual a Deus”.
Ele declarava ter autoridade para perdoar pecados. Marcos 2 registra
quando Jesus, confrontado com um homem paralítico, simplesmente disse:
“Filho, teus pecados são perdoados”. Os judeus pensaram que isto era errado,
pois ninguém “pode perdoar pecados a não ser Deus somente”. De modo a
provar que ele tinha autoridade para perdoar, Jesus curou o homem. O direito a
perdoar pecados é um direito divino.
Ele se declarou sem pecado (João 8:29,46; 18:23). Outras passagens
bíblicas apóiam esta declaração (Hebreus 4:15), que põe Jesus em nítido
contraste com todos os outros, pois pecaram (Romanos 3:23).
Ele declarou ter autoridade para julgar o mundo (João 5:25-27). Ele disse
que suas palavras haveriam de julgar no último dia (João 12:48). Ou ele se
entendia como Deus, ou era o homem mais convencido e arrogante que jamais
viveu.
Ele declarou falar as próprias palavras de Deus. Ele disse: “Minhas
palavras não passarão” (Mateus 24:35). Ele colocou suas próprias palavras em
igualdade com as palavras de Deus.
Ele declarou ser o único caminho para a salvação. Ele disse: “Eu sou o
caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6).
Não se pode ficar neutro diante de uma declaração como esta. Ela é estreita e
exclusiva. Mais tarde, os apóstolos testemunharam que não há outro nome
dado pelo qual podemos ser salvos (Atos 4:12). Se não, a Bíblia está afirmando
salvação através de alguém que não tem direito a declarar ser o único caminho
até Deus.
Ele declarou ser o Autor e Doador da vida. “O Filho do homem dá vida a
quem ele quer” (João 5:21). Ele se chamou o “pão da vida” (João 6:48), e a
“ressurreição e a vida” (João 11:25).
Jesus exigiu a mais alta lealdade da humanidade. Ele disse que seus
seguidores têm que negar a si mesmos e segui-lo (Lucas 9:23). Ele disse a
seus seguidores que eles têm que amá-lo acima de tudo o mais, incluindo
membros da família (Lucas 14:26; Mateus 10:34-39). Se Jesus não pensasse
que ele era Deus, o que mais poderia ele estar pensando?
Ele declarou cumprir todas as profecias do Velho Testamento a respeito do
Messias. (Lucas 24:44). Considerando quantas profecias há sobre o Messias,
esta é uma admirável declaração. Uma vez que, conforme já foi demonstrado,
o Velho Testamento liga o Messias a Yahweh, então a declaração de Jesus de
ser o Messias é também uma declaração de divindade.
Jesus declarou ser Deus. Ao falar aos judeus sobre Abraão, Jesus disse:
“Antes que Abraão fosse, eu sou” (João 8:58). Isto levaria os judeus de volta ao
tempo quando Yahweh falou a Moisés no arbusto ardente, declarando ser “EU
SOU O QUE SOU” (Êxodo 3:14). Por causa desta declaração os judeus
pegaram pedras para atirar em Jesus, pois eles sabiam as suas implicações.
Nesta afirmação, Jesus estava declarando existência eterna e auto-suficiência.
Se ele não fosse Deus, então isto realmente seria blasfêmia.
Estas declarações demonstram o ensinamento bíblico que Jesus tinha uma
consciência messiânica e divina. Rejeitar todas elas como sendo sobrepostas a
Jesus por discípulos ulteriores não é consistente com a evidência, e retrata os
discípulos ulteriores como sendo tão espertos e fraudulentos que se torna difícil
imaginar. Estas declarações são sutis, ainda que fortes. Tomadas em conjunto,
elas argumentam que Jesus declarou ser Deus.
As obras de Jesus. Não era suficiente para Jesus fazer declarações
espetaculares. Ele precisava apoiar o que dizia. Este era o propósito das obras
dele. Em João 5, Jesus afirmou que seu próprio testemunho, por si só, não
seria válido. Ele defendeu-se apelando para outros testemunhos. Um destes
testemunhos são as obras que ele realizava: “as obras que o Pai me confiou
para que eu as realizasse, essas que eu faço, testemunham a meu respeito, de
que o Pai me enviou” (João 5:36). Nicodemos tinha vindo antes a Jesus e
disse: “Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus; porque ninguém
pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (João 3:2).
Mais tarde, Jesus disse aos judeus: “Se não faço as obras de meu Pai, não me
acrediteis; mas, se faço, e não me credes, crede nas obras; para que possais
saber e compreender que o Pai está em mim, e eu estou no Pai” (João 10:37-
38). João 20:30-31 afirma que as obras que Jesus fez tinham a intenção de
acender a fé naqueles que sabiam delas. Pedro disse a alguns judeus no
Pentecostes que Jesus era “varão aprovado por Deus diante de vós, com
milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio
dele entre vós, como vós mesmos sabeis” (Atos 2:22). É impossível separar
Jesus de suas atividades. Os milagres e as obras que Jesus fez são
inseparavelmente ligados com sua vida na terra; e não podem ser rejeitados
simplesmente por serem milagrosos.
Jesus fez diferentes tipos de milagres, mas podem todos ser classificados em
três categorias: milagres sobre a natureza (p. ex., acalmando a tempestade),
milagres de curas físicas (p. ex., curando o homem paralítico), e milagres de
ressurreição (p. ex., Lázaro). Houve muitas testemunhas da maioria destes
milagres. Mesmo os inimigos de Jesus os admitiam. O ponto aqui é que a
Bíblia ensina que Jesus operou milagres de modo a apoiar suas declarações.
Portanto, o que quer que seja que Jesus declarou, de acordo com a Bíblia, foi
provado por suas obras. Desde que suas declarações implicam, direta ou
indiretamente, que ele é Deus, então as obras que ele fez verificam isto e a
proposição deste estudo é verdadeira: a Bíblia ensina a divindade de Jesus
Cristo.
A aceitação de adoração. Outra importante prova bíblica da divindade de
Jesus é sua aceitação de adoração. A Bíblia ensina que o único que deve ser
adorado é Deus. O próprio Jesus reconheceu isto (Mateus 4:10). Conquanto
seja possível para alguém que não é Deus aceitar adoração, a aceitação de
adoração por Jesus mostra, pelo menos, que ele pensava ser divino. Muitos
exemplos disto são dados nos relatos do evangelho (cf. Mateus 8:2; 9:18;
14:33; 28:9,17). Merecem observação especial três passagens do Novo
Testamento ligadas com isto:
João 5:23. Jesus afirmou que todos deverão honrar o Filho (Jesus) exatamente
assim como ele honrava o Pai. Se ele não pensasse que era Deus, então ele
era culpado de blasfêmia. Esta afirmação sozinha demonstra o ensinamento
bíblico da divindade de Jesus. Para que alguém declare que merece a mesma
honra que o Pai, teria que ser Deus, ou teria que ser um mentiroso.
João 20:28. Depois da ressurreição, Jesus apareceu aos seus discípulos.
Tomé não estava presente no primeiro aparecimento, e duvidou que Jesus
tivesse realmente sido visto. Quando Jesus apareceu novamente, Tomé viu e
fez a seguinte afirmação a Jesus: “Meu Senhor e meu Deus”. Não há indicação
de que Jesus tentasse corrigir isto. Jesus aceitou esta adoração, tanto como a
referência a sua divindade. De fato, ele respondeu a Tomé: “Porque tu me
viste, acreditaste?” (20:29).
Hebreus 1:6. Referindo-se a Jesus, o texto diz: “Que todos os anjos de
Deus o adorem”. Esta instrução é dada pelo Pai. A Bíblia mostra que os anjos
sabiam que o único que poderiam adorar corretamente era Deus. (Apocalipse
19:10). Se lhes é dito por Deus para adorarem Jesus, então esta é uma clara
implicação do ensinamento de que Jesus é Deus.
A ressurreição. Se há um evento no qual todo o ensinamento bíblico repousa, é
a ressurreição. Pela ressurreição, Jesus foi “designado Filho de Deus com
poder” (Romanos 1:4). Este é o único milagre na Bíblia que, se historicamente
verdadeiro, valida a possibilidade de todos os outros milagres, e a história
como registrada na Bíblia. Por esta razão, é uma das questões mais
acaloradamente debatidas. Os revisionistas têm buscado várias explicações
para o corpo de Cristo desaparecido do túmulo. “A ressurreição é excluída a
priori do tribunal porque ela transcende tempo e espaço. Os historiadores têm
então que arranjar outra razão para explicar as origens do cristianismo”
(Woodward 65). Um estudioso do Novo Testamento argumentou que a
ressurreição é uma “fórmula vazia” que precisa ser rejeitada por alguém que
tenha um “ponto de vista científico” (Woodward 62). Assim, alguns, como
Crossan, argumentam que o corpo de Jesus foi devorado por cães selvagens.
Outros dizem que ele apenas pareceu estar morto. Outros argumentam que
seu corpo apodreceu no túmulo, e que os discípulos foram à sepultura errada.
Então alguns argumentam que os aparecimentos de Jesus foram somente
experiências psicológicas, “um êxtase de massa”. É interessante que, na busca
pelo Jesus “histórico,” estudiosos especulem sobre estas coisas para as quais
eles não têm evidência histórica concreta, objetiva. Ainda assim, esperam que
esqueçamos a evidência bíblica e aceitemos as especulações.
Contudo, como muitos outros argumentam, há forte evidência histórica para a
declaração de Jesus de ser o Messias, e para sua ressurreição corporal (cf.
Ostling e Towle 58). Para descartar definitivamente a evidência bíblica por
causa da suposição de que milagres como a ressurreição não poderiam ter
ocorrido reflete falta de investigação honesta de matérias históricas.
Testemunhas oculares declaram ter visto Jesus vivo depois que ele tinha
morrido. O corpo tinha sumido do túmulo depois do sepultamento, e “nenhuma
explicação natural convincente é disponível para responder por este fato”
(Craig 280). Na verdade, qualquer outra explicação envolverá necessariamente
especulação, pois não há nenhuma evidência contemporânea primitiva crível
que responda pelos fatos de outra maneira. Se alguém está indo buscar o
Jesus histórico, então os registros do evangelho têm que ser trazidos para
testemunho, pois não tem havido “nenhum dado novo sobre a pessoa de Jesus
desde que os Evangelhos foram escritos” (Woodward 70).
A evidência histórica é suficientemente maciça para convencer o investigador
de mente aberta. Por analogia com qualquer outro evento histórico, a
ressurreição tem evidência eminentemente crível por trás dela. Para
desacreditar, precisa-se deliberadamente fazer exceção às regras que se usam
em toda parte na história. Agora, porque alguém haveria de querer fazer isso?
(Kreeft e Tacelli 197).
A ressurreição atesta a identidade de Jesus. Ela declara, com poder, que Jesus
foi o Filho de Deus (Romanos 1:4). A Bíblia usa a ressurreição para reforçar a
crença em Jesus como o Filho de Deus. Os discípulos que ficaram
grandemente desalentados com a morte de Jesus, ficaram convencidos de que
Jesus se levantou e se mostraram, subseqüentemente, dispostos a morrer para
pregar isso. De todos os milagres e notáveis eventos registrados na Bíblia, a
ressurreição é o mais significativo. Se ela não aconteceu, então aqueles que
dedicam suas vidas a Jesus fazem-no em vão (1 Coríntios 15:12-19). Se ela,
de fato, aconteceu, “valida sua declaração de ser divino e não meramente
humano, pois a ressurreição da morte está além do poder humano; e sua
divindade convalida a verdade de tudo o mais que ele disse, pois Deus não
pode mentir” (Kreeft e Tacelli 176).
Títulos atribuídos a Jesus
Jesus se refere a si mesmo por vários títulos, e outros escritores do
Novo Testamento se referem a ele por vários descrições. Estas referências a
Jesus demonstram uma alta Cristologia na Bíblia. Elas mostram tanto a
concepção que Jesus faz de si mesmo como os pontos de vista de outros
sobre ele. Esta parte discutirá quatro dos importantes e debatidos títulos, bem
como descrições que foram usadas para Jesus, tanto nos relatos do Evangelho
como nas epístolas.
Filho de Deus. A Bíblia se refere freqüentemente a Jesus como o Filho
de Deus. Ainda que Jesus não usasse isto para referir a si mesmo, ele de fato
falou de tal modo que apoiaria seu entendimento de que ele era o Filho de
Deus (João 5:17-19). Alguns tomaram a frase “Filho de Deus” para significar
que Jesus era o “descendente” de Deus. Ela é usada, então, para dizer que a
Bíblia ensina que Jesus foi um ser criado. Contudo, a frase “filho de” é aberta
para diferentes significados na Bíblia. Ela pode significar “descendente”, porém
não necessariamente em todo contexto. Ela pode também ter o significado de
identidade, aquele que compartilha da mesma natureza ou exibe as mesmas
características que outro. Por exemplo, Jesus se referiu a Tiago e João como
“filhos do trovão” (Marcos 3:17). Ele falou de “um filho de paz” (Lucas 10:6).
Judas foi mencionado como o “filho da perdição” (João 17:12). Portanto, “filho
de” nem sempre traz uma idéia física, literal, de “descendente.”
Com respeito a Jesus, Filho de Deus significa “aquele que tem as
características essenciais e a natureza de Deus” (Louw e Nida 141). Quando
Jesus declarou ser o Filho de Deus, ele estava declarando ter uma relação
inigualável com o Pai. Os judeus entenderam que Jesus quis dizer que ele era
“igual a Deus” (João 5:17-18; 10:30-38). Assim, ao afirmar que Jesus é o Filho
de Deus, está-se afirmando que Jesus compartilhou da mesma natureza que o
Pai. Ele é, em essência, “Deus o Filho.” Jesus é o Filho de Deus naquele muito
inigualável sentido que ele é uno com o Pai. Isso nada tem a ver com sua
origem.
Filho do Homem. Jesus referiu a si mesmo freqüentemente como o “Filho do
Homem”. Isso é usado cerca de 82 vezes nos Evangelhos. A primeira
impressão que se tem do uso deste título é que ele identifica Jesus com a
humanidade. A Bíblia ensina que Jesus era um humano real. “Filho do Homem”
pode certamente implicar que Jesus compartilhava da natureza e caráter da
humanidade. Parece, contudo, que isto não explica adequadamente a frase.
Jesus nunca teve que provar que ele era humano, era óbvio ao se olhar para
ele. Este uso do termo era uma auto-designação, mas parece haver aí mais do
que isso. A evidência indicaria que a frase “Filho do Homem” também era
messiânica por natureza. O melhor apoio para isto pode ser dado pelas
afirmações messiânicas em Daniel 7:13-14, onde o Messias é retratado como
um “Filho do Homem”, ou figura de aparência humana, a quem é dado
“domínio, glória e um reino”. Isto prepara o ambiente para o uso do título por
Jesus.
Jesus usou a frase “Filho do Homem” em diferentes situações. Primeiro, ele
usou-a para falar de si mesmo quando cumpria seu ministério na terra (p. ex.,
Mateus 8:20; 11:19). Segundo, ele usou a frase para falar de si mesmo como
sofredor nas mãos dos homens, que o maltrataram e o executaram (p. ex.,
Marcos 9:12, 31; Lucas 24:7). Terceiro, ele usou-a para se referir ao seu
aparecimento em glória, como juiz supremo (p. ex., Mateus 16:27; 25:31; João
5:27). Jesus é tanto o “servo sofredor” como o juiz de toda a terra. Reymond
observou:
“Não pode haver dúvida, então, que todos os quatro evangelistas, quando
interpretados corretamente, pretenderam que seus leitores entendessem que
Jesus é o Salvador do homem nos papéis de servo sofredor, que veio tanto
para ‘buscar e salvar o perdido’ (Lucas 19:10), como ‘não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos’ (Marcos 10:45; Mateus
20:28), bem como vinha como juiz e Rei escatológico” (Reymond 57).
Primogênito. A Bíblia se refere a Jesus como “primogênito” (Colossenses 1:15-
18; Romanos 8:29). Este termo também é aberto a um par de significados. Ele
poderia significar primogênito em tempo (Gênesis 27:19; Êxodo 11:5; Lucas
2:7). Neste sentido ele se refere ao primeiro filho nascido numa família. Alguns
têm tomado este significado e concluído que o uso da palavra “primogênito”,
com referência a Jesus, significa que ele foi o primeiro ser criado. Contudo, isto
não se mantém. O termo “primogênito” também é usado para representar
posição superior. Por exemplo, a Bíblia fala de “primogênito de morte”,
significando a doença mais fatal e mortal (Jó 18:13). Isaías 14:30 fala de
“primogênito dos desamparados”, significando aqueles que mais precisam de
auxílio. Outras passagens usam o termo deste modo (Êxodo 4:22; Jeremias
31:9; Salmo 89:27). Nestes casos ele significa “preeminente”.
A respeito de Jesus, “primogênito” significa aquele que é primeiro e
preeminente sobre todos. Jesus existia antes da criação, e é superior à criação
(Louw e Nida 117). Ele é chamado “primogênito entre muitos irmãos”, o que se
refere a posição e não a tempo (Romanos 8:29). Ele é chamado o “Primogênito
dos mortos”, significando que ele foi o primeiro a ser levantado para nunca
mais morrer (Apocalipse 1:5). Colossenses 1:15 deverá ser entendido como
significando que Jesus é preeminente sobre toda a criação porque ele mesmo
é o Criador. “A palavra enfatiza a preexistência e incomparabilidade de Cristo
com sua superioridade sobre a criação. O termo não indica que Cristo foi uma
criação ou um ser criado” (Reinecker 567). Portanto o título “Primogênito”
mostra uma alta Cristologia; Jesus é superior a tudo. Isto demonstra ainda mais
o ensinamento bíblico que o próprio Jesus é Deus.
Unigênito. A expressão “unigênito” (monogenes) aparece cinco vezes com
referência a Jesus (João 1:14,18; 3:16,18; 1 João 4:9). Novamente, isto nada
tem a ver com a decisão sobre se Jesus é ou não um ser criado. É uma outra
afirmação da posição ímpar mantida por Jesus. Em cada caso, ela significa
“único” ou “só”: “pertencente ao que é único no sentido de ser o único da
mesma qualidade ou classe” (Louw e Nida 591). Por esta razão, a Nova Versão
Internacional explica, numa nota sobre João 3:16, que “unigênito” indica
“único”. O mesmo termo é usado para Isaque, como o “único” filho (Hebreus
11:17). Isto lança luz sobre o significado do termo. Isaque não era o “unigênito”
de Abraão em sentido estrito, literal. Nem Isaque era o filho primogênito em
tempo. Contudo, Isaque ocupou uma posição singular e superior como o
“único” filho da promessa de Abraão. Por esta razão, Isaque foi o único filho de
seu tipo, e o termo pode ser usado adequadamente para ele. Isto é o que o
termo significa com referência a Jesus. Ele foi o Filho único de Deus, o único
de sua qualidade. É um título de posição, e não de origem.
Há outros termos aplicados a Jesus que são significantes. Por
exemplo, Jesus é chamado “o resplendor da glória” de Deus e “a expressão
exata de seu ser” (Hebreus 1:3). Jesus não era apenas um reflexo de Deus; a
glória de Deus resplandecia através dele de tal modo que quando se via Jesus,
via-se Deus (cf. João l4:9-11). Estes termos não poderiam ser corretamente
aplicados a alguém que fosse um homem comum. Se eles forem aplicados
adequadamente, eles implicarão que o próprio Jesus é Deus. Todos esses
termos tomados conjuntamente demonstram a alta Cristologia da Escritura. O
ensinamento uniforme é que Jesus foi Deus manifestado em carne.
Testemunho do Novo Testamento
Até este ponto, têm sido considerados os textos que têm tremendas
implicações. Agora nos voltamos para alguns textos mais específicos que se
referem a Jesus como Deus e afirmam que ele é, de fato, o Criador. Se puder
ser demonstrado que Jesus é o Criador e o mantenedor do mundo, de acordo
com a Bíblia, então teremos demonstrado que a Bíblia ensina que Jesus é
divino. Mais ainda, se há passagens específicas que se referem a Jesus em
termos especiais identificando-o como Deus, então o ensinamento bíblico
sobre Jesus ficará claro.
Alguns acreditam que a Bíblia ensina que Jesus é um ser criado.
Alguma consideração já tem sido dada a isto. Outras passagens verificam que
Jesus não foi criado. Por exemplo, Miquéias 5:2 fala do Messias como sendo
“dos dias de eternidade,” ou “de eternidade a eternidade.” Isaías 9:6 fala do
Messias como o “Pai eterno.” Isto não identifica Jesus com sendo a mesma
pessoa que o Pai; identifica-o como o Criador, o originador. Ele é chamado
“eterno.” Ainda que o Messias tenha nascido neste mundo no “tempo,” sua
existência como um ser não teve um início. Esta foi pelo menos uma parte da
declaração que Jesus fez quando disse aos judeus: “Antes que Abraão
existisse, eu sou” (João 8:58). As Escrituras se referem a Jesus como o
Criador. Colossenses 1:15-16 fala de Jesus como o “primogênito de toda a
criação”, o que, como foi antes considerado, significa que Jesus é preeminente
sobre a criação. Por quê? Porque “nele foram criadas todas as cousas, nos
céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e
para ele”. É evidente que, se Jesus criou “todas as coisas,” é porque ele fica
fora da classe dos seres criados. João 1:3 diz: “Todas as coisas foram feitas
por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. Se esta afirmação
é verdadeira, então Jesus é o Criador, não a criatura. Portanto, Jesus é o Deus
Criador, de acordo com a Bíblia.
As Escrituras também ensinam que Jesus é o mantenedor de todas as
coisas. Voltando ao contexto de Jesus como o Criador, a Bíblia afirma que “ele
é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste” (Colossenses 1:17). A
expressão “subsiste” (sunesteken) aqui indica “juntar ou manter junto algo em
seu lugar próprio ou apropriado ou relação apropriada” (Louw e Nida 614).
“Todas as coisas são dependentes do Filho para sua continuação em
existência” (Reymond 248). Isto ensina que Jesus é o sustentador do que ele
criou. Hebreus 1:3 afirma que Jesus “sustenta todas as coisas pela palavra de
seu poder”. Aqui Jesus é descrito como aquele que faz todas as coisas
continuarem. Assim, estas passagens ensinam que Jesus é aquele que
preserva e sustenta todas as coisas. Elas implicam que Jesus é Deus,
atribuindo a ele qualidades divinas.
Jesus é chamado “Deus”
Outras Escrituras são ainda mais explícitas em sua afirmação da divindade de
Jesus. Ele é referido como “Deus” em diversos versículos específicos. Nesta
parte, algumas dessas passagens serão brevemente citadas.
João 1:1-18. João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus.” Há três pontos afirmados neste versículo. Primeiro,
o “Verbo” já estava em existência quando o tempo e a criação começaram;
segundo, o Verbo estava sempre em comunicação com o Pai, e terceiro, o
Verbo sempre participou da divindade. “O Verbo era Deus” é uma declaração
que afirma a natureza divina do Logos. Theos, que aqui é anarthrous
[substantivo usado sem o artigo], descreve a natureza do Logos, em vez de
identificar sua pessoa. Jesus como o Logos é pessoalmente indistinto do Pai
(vers. 1b), contudo é uno com o Pai em natureza (vers. 1c) (Harris 93). Neste
versículo, então, o Novo Testamento está ensinando a respeito da divindade de
Jesus. “Aqui, então, João identifica o Verbo como Deus (totus deus) e assim
fazendo atribuir a ele a natureza ou essência da divindade” (Reymond 304).
Isto não significa que deveria ser traduzido como “o Verbo era divino,” como
alguns têm feito. Que “o Verbo” é uma referência a Jesus é facilmente visto no
contexto. O versículo 14 diz: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. O
contexto identifica mais adiante o “Verbo” como Jesus (vers. 15-17).
João 1:18 tem alguma dificuldade ligada a ele. A segunda parte do versículo, “o
Deus unigênito, que está no seio do Pai,” tem algumas variantes nos
manuscritos gregos. A alternativa mais notável é “o Filho unigênito.” Como foi
explicado antes, “unigênito” se refere a unicidade (uno e único). A maioria dos
críticos, contudo, “concorda que monogenes theos era o escrito original” (Harris
93). Reymond indica: “O respeitável crítico textual precisa admitir que a
evidência aponta muito decisivamente em favor de um theos original” (306).
Parece que haja uma pequena dúvida, em termos da evidência dos
manuscritos, sobre o uso aqui da expressão que significa “uno e único Deus”.
Se for o sentido original, seria então outra instância de ensinamento a respeito
da divindade de Jesus. Contudo, uma vez que esta passagem tem em si
alguma ambigüidade, seria difícil repousar um caso inteiro nela. Em ambos os
casos, ela não contradiz o resto do testemunho do Novo Testamento da
divindade de Jesus.
João 20:28. A Bíblia registra que, depois que Jesus se levantou dentre os
mortos e apareceu aos seus discípulos pela primeira vez, Tomé não estava
presente. Quando ouviu que Jesus fora visto, Tomé duvidou, e disse que teria
que vê-lo por si mesmo para que cresse nisso. Jesus apareceu a eles
novamente, e quando Tomé ficou convencido, respondeu a Jesus: “Meu
Senhor e meu Deus”. Alguns têm tomado esta como uma exclamação de
louvor a Deus (não a Jesus). Contudo, o texto afirma que Tomé disse isto “a
ele.” Ele estava se dirigindo a Jesus como Senhor e Deus. Outros têm dito que
esta foi uma exclamação num momento de excitação. Contudo, não há registro
de uma repreensão de Jesus. Ele aceitou esta saudação e levou-a um passo
adiante”: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e
creram” (vers. 29). Isto se torna a base para a declaração de João do motivo
porque ele escreveu o livro (vers. 30-31). Não pode haver dúvida de que Jesus
dê evidência aqui, por sua aceitação expressa da apreciação dele por Tomé,
que ele era em seu próprio entendimento seu Senhor para ser servido e seu
Deus para ser adorado” (Reymond 213). “Em nenhum outro lugar no Novo
Testamento Jesus é identificado mais claramente como Deus” (Erickson 461).
Esta declaração de Tomé, como está, é por si mesma um tremendo
testemunho do ensinamento do Novo Testamento da divindade de Jesus.
Romanos 9:5. Paulo escreveu a respeito dos israelitas: “... deles são os
patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre
todos, Deus bendito para todo o sempre.” A NVI traduz como “Cristo, que é
Deus acima de todos, bendito para sempre”. Ainda que alguns tenham tentado
fazer “Deus bendito para sempre” separado do contexto como uma doxologia
dirigida ao Pai, “é muito mais natural considerar as palavras finais do versículo
como uma descrição ou doxologia do Messias, Jesus Cristo” (Harris 95). Esta
passagem, na sua leitura mais natural do texto grego, atribui plena divindade a
Jesus Cristo. Ele permanece como o Senhor e dominador do universo, e
merece pleno louvor. O argumento de Paulo neste contexto é que ainda que
muitos companheiros israelitas tivessem rejeitado Jesus como Messias, Jesus
é, realmente, supremo sobre o universo e, como Deus, merece ser servido e
louvado. Nenhuma Cristologia mais alta pode ser encontrada.
Tito 2:13 e 2 Pedro 1:1. Estas duas passagens podem ser consideradas juntas
por causa de sua frase idêntica: “Deus e Salvador” (theou kai soteros). Em
ambas as passagens, “Jesus Cristo” é o objeto da frase. Alguns argumentam
que “Salvador” se aplica a Jesus, mas “Deus” é uma referência ao Pai: “Deus
(o Pai) e Salvador Jesus Cristo.” Contudo, isto não é apoiado pela construção
grega. Esta frase é aplicada a uma pessoa: Jesus Cristo. Primeiro, esta é a
leitura mais natural do texto. Segundo, os dois nomes ficam sob um artigo, que
precede “Deus.” Isto indica que eles têm que ser construídos juntos, não
separadamente. E mais, esta frase foi uma fórmula comum e sempre denotou
uma divindade, não duas pessoas separadas. Quando ambos Paulo e Pedro
usaram a frase, então, “seus leitores sempre a entenderiam como uma
referência a uma só pessoa, Jesus Cristo. Simplesmente não ocorreria a eles
que ‘Deus’ pudesse significar o Pai, com Jesus Cristo como o ‘Salvador’”
(Harris 96-97). O que isto tudo significa é que Pedro e Paulo entenderam que
Jesus era ambos, “Deus e Salvador”.
Hebreus 1:8. Em Hebreus 1 há um contraste entre o Filho e os seres
angelicais. Isto mostra a superioridade do Filho sobre os anjos. Para defender
este ponto, é feito o argumento que Jesus é o único Filho (vers. 5). Ele tem de
ser adorado, até mesmo pelos anjos (vers. 6). Então, no versículo 8 o próprio
Pai chama Jesus Deus: “do Filho ele diz, teu trono, ó Deus, é para todo o
sempre”. Ainda que haja alguma controvérsia envolvendo se “ó Deus” é ou não
para ser construído vocativamente (como na maioria das traduções) ou como
um nominativo (“Deus é teu trono”) ou como predicado nominativo (“teu trono é
Deus”), a avassaladora maioria dos gramáticos, comentaristas, autores de
estudos gerais e traduções para o inglês dão força a este vocativo (Reymond
296). Na passagem da qual isto é tirado (Salmo 45:6), o vocativo é visível. Os
versículos 10 e 11 são ligados aos versículos 8 e 9 pela conjunção kay, que
indica que estes versículos caem sob a mesma introdução que os versículos 8-
9. No versículo 10, Jesus é saudado como “Senhor”, o que também liga-o com
Yahweh (Salmo 102). Isto fortalece a decisão para “ó Deus” ser entendida
vocativamente no versículo 8. Isto significa que o Filho é saudado como “Deus”
nestes versículos, num sentido ontológico.
A consideração das passagens precedentes mostra que o Novo Testamento
atribui consistentemente divindade a Jesus Cristo. Pelo menos quatro
escritores – João, Paulo, Pedro e o autor de Hebreus – usam o título “Deus”
com referência a Jesus. O uso deste título foi primitivo, começando pouco
tempo depois da ressurreição (Tomé) e continuando até o final do primeiro
século. Os escritos, dirigidos a várias pessoas, foram espalhados através de
várias regiões, incluindo a Grécia, a Judéia e Roma. Entre o título de Deus
aplicado a Jesus, as declarações de Jesus e o resto das Escrituras que
implicam sua divindade, o Novo Testamento está repleto de ensinamento sobre
Jesus sendo Deus. Se a pessoa deseja ou não aceitar isto, é outro assunto. Se
a pessoa aceita a Bíblia como verdade, então ela precisa também aceitar que
Jesus é Deus.
Há duas passagens que ainda não foram consideradas, ambas as quais têm
ponto de vista significante sobre o ensinamento do Novo Testamento a respeito
da divindade de Jesus. São Colossenses 2:9 e Filienses 2:1-11. Elas merecem
consideração especial.
Colossenses 2:9
“...porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”.
Este único versículo, “além de todos os outros no Novo Testamento, afirma que
cada atributo divino é encontrado em Jesus” (Harris 66). Ele não diz que
“muita” ou “alguma” divindade mora nele, mas a “plenitude da divindade”. Todo
elemento que existe como divindade está em Cristo, de acordo com este
versículo.
Neste contexto, Paulo fala de “filosofia e vãs sutilezas, de acordo com a
tradição dos homens” e “conforme os rudimentos do mundo” como sendo
contrários a Cristo (vers. 8). A afirmação no versículo 9, “... porquanto nele
habita corporalmente toda a plenitude da divindade”, foi feita para se contrapor
a estas vãs filosofias e dar uma fundação sobre a qual se pode ser completo
em Cristo. Uma das filosofias contra as quais os escritores do Novo
Testamento falaram foi a doutrina gnóstica, que negava que Deus poderia
realmente vir na carne. Os gnósticos acreditavam que a matéria era
inerentemente má, e a partir disto raciocinavam que Deus não poderia morar
num corpo carnal. João abordou este mesmo problema (1 João 4:2; 2 João 7).
Os gnósticos ofereceram uma filosofia adicional. Paulo responde que Cristo é
suficiente para fazer alguém completo porque nele está a plenitude da
divindade, e ele está acima de tudo porque ele criou tudo. Assim, Colossenses
2:9 afirma que a plenitude da divindade realmente estava em Cristo, não
importa o que os filósofos gnósticos, ou quem quer que seja, ensinasse. Nada
mais era necessário. Esta, por sua vez, era a base sobre a qual os cristãos
deveriam agir. “Por que seus leitores têm que ‘andar’ em Cristo para ‘ficar em
guarda’ de modo que ninguém os faça cativos por meio da busca de
conhecimento que procede da filosofia humana e da tradição?” (Reymond 249-
250). A resposta está no versículo 9.
O termo “plenitude” (pleroma) significa “quantidade total, com ênfase na
totalidade” (Louwn e Nida 597). “Mora” (katoikei) indica o assentamento em um
lugar fixo. É “estar em casa”. Vincent aponta que o tempo presente de “mora”
denota “uma característica eterna e essencial do ser de Cristo. A moradia da
plenitude divina nele é característica dele como Cristo, desde todas as eras até
todas as eras” (487). O que está permanentemente “em casa” em Cristo é a
“totalidade” da divindade. A palavra “deidade” (theotes) é o mesmo que
“divindade” em várias traduções. O termo significa “a natureza ou estado de ser
Deus” (Louw e Nida 140). É isso que é Deus, o estado de divindade. Esta
afirmação não está simplesmente dizendo que Jesus é Deus em sua pessoa,
mas que ele é tudo o que é Deus. A natureza divina completa está em casa em
Cristo.
Há dois significados compulsivos alternativos no termo “corporal” (somatikos)
neste contexto. O primeiro é que ele significa “corporalmente,” uma referência
ao corpo físico, humano, de Cristo. “A palavra refere-se ao corpo humano de
Cristo” (Reinecker 573). Tomada neste sentido, aqui está uma afirmação do
conceito que Jesus era plenamente Deus mesmo quando humano. A plenitude
da divindade se tornou encarnada. Ao vir a este mundo, não houve nenhuma
mudança em sua divina natureza. Tudo o que ele é como Deus continuou a
morar em sua forma corpórea. O segundo significado possível de “corporal” é
“incorporado” ou concentrado numa forma visível, tangível. Neste sentido, a
idéia é que à plenitude da divindade foi dada expressão completa através de
Jesus. Ele era “completamente” e “substancialmente” Deus e, portanto,
plenamente incorporou a natureza divina. Isto ainda incluiria o tempo que Jesus
passou na terra, como a palavra “mora” indica. Eu prefiro tomar o termo pelo
que aparenta ser para referir à encarnação de Jesus. Em qualquer caso,
contudo, este versículo mostra uma alta Cristologia. A passagem ensina que
Jesus é divino.
Filipenses 2
Uma das passagens mais controversas da Bíblia é Filipenses 2:5-8.
Tem havido muitas explicações para a passagem; e as diferenças de
interpretação são significativas. O modo como se interpreta a passagem afeta
seu ponto de vista de Jesus Cristo. Foi ele sempre Deus? Se ele era Deus
anteriormente à encarnação, ele reteve sua natureza divina quando veio à
terra? Se ele reteve sua divindade ao vir à terra, o que significa quando se diz
que ele “esvaziou-se”? Ele deixou sua divindade para ser exatamente um
homem comum? Todas as questões como estas têm tremendas implicações. É
preciso ser cuidadoso ao considerar uma passagem como esta, evitando uma
interpretação que não se ajuste bem com o resto do testemunho do Novo
Testamento a respeito de Jesus.
É provável que Filipenses 2:6-11 contenha, pelo menos em parte, um hino
primitivo (Reymond 251). Há desacordo sobre se este hino foi composição do
próprio Paulo, ou se ele foi escrito antes de Paulo, que simplesmente usou o
hino para servir aos seus propósitos nesta epístola. Em qualquer caso, é difícil
negar que ele foi um hino primitivo. Neste texto estão as características
estilísticas e hinárias, tais como paralelismo de pensamento, inversões,
vocabulário incomum e estilo elevado (Reymond 252). Baseado em estudos
anteriores de Lohmeyer, agora é geralmente aceito que “o que aqui [vemos] é
uma confissão cristã primitiva que pertence à literatura de liturgia antes que
prosa epistolar” (Martin 106). Se isto é verdade, então este é um forte
argumento por uma alta Cristologia primitiva entre os cristãos do primeiro
século. Mesmo que não fosse um hino, é ainda evidência que os cristãos
primitivos tinham uma forte fé na divindade de Jesus.
Este é um texto no qual as palavras são muito cuidadosamente escolhidas.
Cada palavra parece significante. Portanto, numa interpretação deste texto, as
palavras precisam ser definidas e entendidas. Primeiro, contudo, uma
consideração do texto completo está em ordem. Sem considerações
contextuais, o texto pode facilmente ser mal entendido e mal aplicado. Parece
que isto tem sido uma parte do problema que tem levado a algumas das
controvérsias.
Não parece provável que alguém entenda os versículos 5-8 sem primeiro
entender os versículos 1-4. No todo, a carta de Paulo aos filipenses é muito
positiva. O único perigo que ameaçava a igreja, contudo, era a divisão. Estes
versículos são escritos para tentar salvaguardar contra a desunião os cristãos
dali. No versículo 1 Paulo apela para o encorajamento em Cristo, o poder do
amor, o fato da camaradagem, e a necessidade de compaixão e afeição. Se
um cristão entende e se empenha com estas coisas, então a unidade
prevalecerá. Ele então apela para sua necessidade de ser “de um mesmo
pensamento” e “tendo um mesmo sentimento” (vs. 2). Como isto pode ser
feito? Ele responde nos versículos 3-4. Nestes versículos há três causas dadas
para a desunião (Barclay 31): ambição egoísta, prestígio pessoal, e a
concentração em si mesmo. Para os propósitos de explicar os versículos 6-7,
deve-se notar especialmente estes versículos, pois eles servem de fundamento
para o argumento de Paulo a respeito de Jesus. Barclay observa:
“Paulo está pleiteando com os filipenses para viverem em harmonia,
porem de lado suas discórdias, deixarem suas ambições pessoais e seu
orgulho e seu desejo de proeminência e prestígio, e terem em seus corações
aquele desejo humilde e desprendido de servir, que foi a essência da vida de
Cristo. Seu apelo final e irretorquível foi apontar para o exemplo de Jesus
Cristo” (34-35).
Com os pensamentos precedentes em mente, Paulo apela para Jesus Cristo
como o exemplo definitivo de alguém que nada fez por egoísmo ou vã
presunção. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus” (vs. 5). Este é o arremate final dos pontos de Paulo nos versículos 1-4:
“aprendam a pensar exatamente como Jesus”. Isto também serve para
introduzir o que Paulo está para dizer a respeito de Jesus. “Pensem como
Jesus”, Paulo disse. O que Jesus pensou? O que ele fez para demonstrar sua
despretensiosa atitude? Ele responde nos versículos seguintes.
O versículo 6 ensina que Jesus “existiu na forma de Deus” O termo “existiu”
(sendo, huparchon) não é o termo usual para sendo (hon). Como um particípio
presente, ele denota continuação de uma condição antecedente. Em outras
palavras, Jesus é e sempre tem sido “em forma de Deus”. “Isso descreve
aquilo que um homem é em sua própria essência e que não pode ser mudado.
Isso descreve aquela parte de um homem que, em quaisquer circunstâncias,
permanece o mesmo” (Barclay 35). Paulo começa afirmando que Jesus é
inalteravelmente Deus. Seja o que for que Jesus esvaziou, não foi sua
essência divina. Portanto, qualquer posição que ensine que Jesus deixou sua
divindade não está sendo fiel a este texto.
O significado de “forma de Deus” tem sido acaloradamente debatido. Martin
(96) dá dois significados alternativos para o termo “forma” (morphe). O primeiro
é o entendimento mais tradicional e filosófico que “forma de Deus” significa
atributos essenciais de Deus. Um segundo ponto de vista, mais recente, é que
a frase tem uma forte ligação com a “glória” (doxa) de Deus; e assim Jesus
deixou a glória da divindade, não necessariamente a essência da divindade,
quando veio para a terra. Esta posição, contudo, parece carecer de prova.
Outros consideram a “forma de Deus” como uma referência à aparência visível
como Deus. Esta é outra posição insatisfatória, pois ela dificilmente pode
significar a mesma coisa com referência à “forma de um servo”. Parece mais
provável, contudo, que a “forma de Deus” seja uma referência à divina
natureza, que inclui os atributos e características que fazem de Deus o que ele
é, “que é inseparável de sua pessoa e que o ser divino se realiza em sua divina
glória e atributos divinos imanentes, inerentes” (Muller 78 79). Warfield
observou que a “forma de Deus” se refere a “todas aquelas qualidades
características de Deus que fazem dele Deus, a presença das quais constitui
Deus, e na ausência das quais Deus não existe. Aquele que está na forma de
Deus é Deus” (567). Isto também seria verdadeiro quanto à “forma de um
servo.” Jesus assumiu todas as qualidades características de servidão. Dizer,
então, que Jesus “existiu na forma de Deus” é dizer que Jesus tem sido sempre
Deus, com todas as qualidades que pertencem a Deus.
A seguir, Paulo diz que Jesus não “considerou a igualdade com Deus uma
coisa a ser agarrada”. Isto, também, tem dado alguma dificuldade à
interpretação abrangente do texto. Alguns tomam isto para significar que Jesus
não considerava sua divindade como algo a ser segurado e, portanto, ele a
abandonou ao vir à terra. Isto, contudo, contradiz o que Paulo tinha dito a
respeito da natureza divina inalterável de Jesus. Primeiro, ele afirma que Jesus
de fato tem “igualdade com Deus”. Isto, somente, é evidência do ensinamento
bíblico da divindade de Jesus. Nada menos do que o próprio Deus pode ter
“igualdade com Deus”. Mesmo enquanto estava na terra, Jesus declarou
igualdade com o Pai (João 5:17-23). Esta igualdade é em natureza, não
necessariamente no papel desempenhado. Neste papel, Jesus tomou uma
posição subordinada (1 Coríntios 11:3). Em natureza, ele é igual ao Pai.
Teria Jesus considerado esta igualdade com Deus como algo a ser “agarrado”,
ou como algo a ser “segurado”? Ambos os significados são possíveis com a
palavra grega (harpogmos). Qual significado faz mais sentido no contexto?
“Como quer que tomemos isto, ele mais uma vez ressalta a divindade essencial
de Jesus” (Barclay 36). Como foi afirmado antes, não parece provável pelo
contexto que isto signifique que Jesus gozou de igualdade com Deus mas
dispensou-a ao se tornar um homem. Muitas outras passagens mostram que
Jesus foi muito mais do que um homem. Parece mais provável que o
significado seja que Jesus não se agarrou à igualdade com Deus através de
algum exercício de sua própria vontade, separado do Pai. Diversos
comentaristas vêem nesta afirmação um paralelo com o relato, em Gênesis, da
queda de Adão e Eva. Baseado na afirmação da serpente, “serás igual a
Deus”, o pecado de Adão e Eva foi, em essência, uma tentativa de agarrar a
divindade. Através do exercício de sua própria vontade, separados de Deus,
eles tentaram se tornar seus próprios deuses. Jesus não fez isto. Antes, ele
voluntariamente submeteu-se à vontade do Pai, ainda que ele pudesse ter sido
tentado a fazer sua própria vontade (cf. João 5:30; Mateus 26:39). Reymond
argumenta que esta afirmação deveria ser interpretada contra o cenário de sua
tentação em Mateus 4 (262). Ele escreve, “este ‘pensamento’ de ‘apreensão de
igualdade’, isto é, a tentação de não mais caminhar na trilha do servo mas
antes conseguir ‘o senhorio’ sobre ‘todos os reinos deste mundo’ (Mateus 4:8)
por uma rota (um ato ‘rebelde’ de exaltação’) não mapeada para o servo no
plano da salvação. Cristo Jesus resistiu firmemente” (263). Eu creio que este é
o ponto de vista correto porque se ajusta melhor ao contexto anterior. Cristo
não fez nada por egoísmo ou vã presunção mas, com humildade, estimou os
outros como melhores do que ele mesmo. Nenhum ato mostrou esta atitude
mais do que sua disposição a morrer.
Ao contrário de buscar igualdade com o Pai através do exercício de sua própria
vontade, Jesus “esvaziou-se”. Isto está no ponto crucial da discussão a
respeito da natureza de Jesus nesta terra. Umas poucas observações podem
ser feitas sobre isto à luz dos comentários anteriores e do contexto inteiro:
Qualquer posição que destrói efetivamente a divindade de Jesus é errada,
porque ela contradiria não somente a passagem, mas também um grande
número de outras passagens que afirmam sua divindade. Este é o efeito de
uma posição que ensina que Jesus deixou seus atributos e características
divinas. A natureza de uma coisa é os atributos e características que fazem-na
o que ela é. Se Jesus não tivesse a natureza de Deus, ele não seria Deus (cf.
Gálatas 4:8).
O texto não diz que Jesus se esvaziou “de” alguma coisa.
Acrescentando “de” à frase, e então enumerando tudo o que ele supostamente
deixou para vir à terra não é ser fiel ao texto. Isto é ler no texto o que ele não
diz. Ele “esvaziou-se”. Ele não se esvaziou “de” um punhado de coisas.
Insistir que “esvaziou-se” deverá ser tomado literalmente para significar que
Jesus teve que despejar alguma coisa fora de si antes que pudesse tomar
qualquer outra coisa é um abuso do texto. Diz o texto: “ele esvaziou-se
tomando a forma de um servo cativo.” Isto se explica por si mesmo. A
aceitação por ele da servidão foi um ato de auto-esvaziamento.
Uma boa comparação pode ser feita com Isaías 53, um texto que
descreve o servo sofredor. Note no versículo 12 a frase: “Ele se derramou na
morte”. Não tem isto uma tocante semelhança com “esvaziou-se”, e “humilhou-
se, tornando-se obediente até a morte” (Filipenses 2:7-8)? Como o servo
sofredor, ele esvaziou-se, derramou-se até a morte.
Novamente, o próprio contexto de Filipenses 2 mostra o que quer dizer com
a frase “esvaziou-se.” O ponto de Paulo no texto é insistir com os irmãos para
que sejam de um só sentimento, que sejam unidos e decididos por um único
propósito (vers. 2). Para cumprir isto ele instrui: “Não façam nada por egoísmo
ou vã presunção, mas com humildade de pensamento que cada um considere
o outro como mais importante do que si mesmo; não olhe meramente para
seus próprios interesses pessoais, mas também para os interesses dos outros”
(vers. 3-4). Para atingir o ponto de desprendimento, precisa-se olhar para
Jesus. Por quê? Porque ele é o exemplo perfeito destas instruções. Ainda que
ele mesmo seja Deus, enquanto esteve na terra ele não se agarrou a sua
divindade tentando, separado do Pai, exercer sua própria vontade
independente. Antes, ele “esvaziou-se”, que é a frase perfeita para descrever a
atitude dos versículos 3-4. Assim, o que significa que Jesus “esvaziou-se”?
Jesus Cristo, em seu papel do servo, nada fez por egoísmo ou vã pretensão,
mas em humildade de pensamento ele considerava os outros como mais
importantes do que ele mesmo. Ele se interessava pelos interesses pessoais
dos outros. Como ele fez isto? Em última instância, morrendo na cruz. Assim, o
ponto de Paulo é que, como Jesus se esvaziou, assim todos temos que nos
esvaziar. É simplesmente outro modo de dizer que precisamos negar a nós
mesmos (Lucas 9:23), pois isto é o que Jesus fez quando cumpriu sua missão
para o mundo perdido. Ele se pôs de parte para que tudo o que ele fez fosse
desprendido. Marcos diz isso deste modo: “Pois o próprio Filho do homem não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”
(Marcos 10:45). Estas passagens dizem a mesma coisa.
A idéia de que Jesus se esvaziou de atributos e características é
completamente estranha ao argumento de Paulo. Ele aponta Jesus como
nosso exemplo de auto-humilhação. Se Jesus esvaziou de si uma quantidade
de atributos, então como podemos seguir seu exemplo? Não podemos despir-
nos de nossa natureza humana. A linha de raciocínio que Paulo usa para dizer
que deveremos ser altruístas se torna sem significado através de uma tal
interpretação.
Muito simplesmente, então, o texto nos diz que deveremos esvaziar-nos.
Deveremos negar a nós mesmos, não fazendo nada por egoísmo. Fazemos
isto tomando a atitude de Jesus, o supremo exemplo de abnegação. Ele
esvaziou-se. Como um servo, ele se submeteu completamente ao Pai e
derramou-se na morte. Depois disso, ele foi exaltado. Se nós, também, nos
humilharmos do mesmo modo, Deus promete que seremos exaltados (Tiago
4:10). Este é o ponto de toda esta passagem.
O texto ensina a divindade essencial de Jesus Cristo. Ensina que Jesus nada
fez por egoísmo, e que ele é o exemplo supremo de abnegação. Ensina, ainda,
uma Cristologia extremamente alta; não ensina que ele jamais fosse menos do
que tinha sempre sido: Deus.
Outras considerações
É impossível sermos neutros sobre Jesus Cristo. De fato, aceitamos ou não
aceitamos Jesus como o Filho de Deus. As implicações da posição que
tomamos sobre Jesus alteram nossa vida. Se alguém aceita Jesus como o
Filho de Deus, então precisa tomar a decisão de seguir ou não Jesus. Se
alguém não aceita Jesus como o Filho de Deus, então a Bíblia é relegada
como mito e fábula. Em conseqüência, esta pessoa não sentirá a necessidade
de submeter-se aos ensinamentos da Bíblia. Nossa filosofia a respeito de
Jesus determinará o curso da vida.
Há quem argumente que Jesus foi um bom homem, porém não foi o Filho de
Deus. O problema com isto é que, se Jesus não era o Filho de Deus, então ele
era um mentiroso. Se fosse um mentiroso, então como pode alguém
argumentar que ele era um bom homem? Não se tem simplesmente a opção
de chamar Jesus um bom homem. Teria de rejeitá-lo como uma fraude, porém
não se pode ser neutro sobre ele. C. S. Lewis, um ex-agnóstico, expôs este
problema com as seguintes palavras:
“Estou tentando aqui evitar que alguém diga a coisa realmente tola que
pessoas freqüentemente dizem sobre ele: “Estou pronto a aceitar Jesus como
um grande mestre moral, porém não aceito sua declaração de ser Deus.” Esta
é a coisa que temos que não dizer. Um homem que era meramente um homem
e disse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um grande mestre moral. Ele
seria ou um lunático – no nível do homem que se diz ser um ovo frito – ou
então seria o Diabo do Inferno. Temos que fazer nossa escolha. Ou este
homem era, e é, o Filho de Deus, ou então é um louco ou algo pior. Podemos
calá-lo como tolo, podemos cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou
podemos cair-lhe aos pés e chamá-lo Senhor e Deus. Mas não venhamos com
qualquer tolice como ‘panos quentes’ sobre ele ser um grande mestre humano.
Ele não deixou isso aberto para nós. Ele não pretendeu deixar” (55-56).
Há quem objete contra o conceito que Jesus não poderia ser tanto Deus como
homem. Qualquer atribuição de divindade a Jesus jamais foi levianamente
considerada. Tem havido sempre tensões teológicas sobre a natureza de
Jesus. O problema, eu creio, é que temos dificuldade em conciliar o Cristo de
dupla natureza devido às nossas próprias limitações. Eu serei o primeiro a
confessar que não entendo como isto poderia acontecer de outro modo que
não por meio da aceitação do poder e conhecimento de um Criador. Se
permitirmos que os documentos bíblicos apóiem-se em suas próprias
evidências, eles parecem sólidos e bastante confiáveis. O problema aparece
quando nossa fé é desafiada a aceitar algumas coisas que não são normais,
nem ocorrências de todo dia nesta era científica moderna. Eu não creio que se
possa dizer honestamente que é impossível para Deus vir na carne. Tal
afirmação é equivalente a jactar-se de ter todo o conhecimento. Como
podemos saber que Deus não poderia fazer isto a menos que, primeiro,
assumamos que Deus não existe e, em segundo lugar, que Deus não pode
“interferir” com sua própria criação? Obviamente, a fé desempenha um papel
maior neste assunto; mas esta não é uma fé cega, como muitos alegam. Se
podemos aceitar Deus pelo número de evidências que ele mesmo deixou,
então podemos aceitar o que Deus tem feito por nós. Aceitação e pleno
entendimento são dois assuntos diferentes.
Alguns que aceitam a existência de Deus negam a divindade de Jesus
baseados em que há um único Deus. Eles rejeitam qualquer conceito de uma
“Trindade.” Eu creio que nós todos temos um entendimento básico da
possibilidade de haver “uma” de alguma coisa, e contudo essa alguma coisa
pode ter elementos plurais. Por exemplo, uma equipe pode consistir de cinco,
nove, ou onze jogadores num campo esportivo, dependendo do esporte. Um
único casamento consiste de duas pessoas, e uma família pode ter muitos
membros. Biblicamente, o conceito é confirmado. A Bíblia diz, a respeito do
casamento, que dois “se tornarão uma só carne” (Gênesis 2:24). Dois se
tornam um, contudo permanecem personalidades distintas. Ninguém
argumentaria que eles formam dois casamentos. Qualquer comparação deste
conceito com Deus é inadequada, mas pelo menos a idéia é compreensível. Há
um Deus, um estado de divindade; mas há três personalidades distintas às
quais a divindade é atribuída. Isto não faz três deuses; antes, há um Deus
composto de três personalidades. Tire qualquer personalidade do quadro e a
unidade de Deus é destruída.
Na maioria dos casos, parece que a rejeição de Jesus como o Filho de Deus é
mais em bases filosóficas do que em bases históricas. É virtualmente
impossível refutar a Bíblia em bases históricas. Rejeitar sua historicidade por
causa de eventos ou mensagens que ela contém em bases filosóficas não é
histórico. Francamente, ultimamente não tenho visto uma rejeição de Jesus em
qualquer outra base.
Perspectivas de Educação Cristã
Em conferência anterior, discutíamos a base humana da educação
cristã. Lembrávamos o princípio: a graça não só não destrói a natureza, mas
até mesmo a pressupõe. E, portanto, não há um conteúdo moral
especificamente cristão: o cristão assume a moral natural, a mesma que se
impõe a todo homem que pretenda ser bom, ser verdadeiramente homem.
Nesta conferência, vamos expor em que consiste uma educação cristã - ou,
mais especificamente, católica - hoje, tomando como base o novo Catecismo
Católico (doravante, abreviado por CC). Naturalmente, só com enunciar esse
referencial, torna-se imediatamente claro que não se trata de práticas externas
(ter um crucifixo na sala de aula ou rezar determinadas orações etc., tudo isto
pode ser muito interessante, porém não atinge o núcleo da proposta do CC),
mas de uma educação coerente com a compreensão do alcance e do
significado da vocação cristã, tal como proposto pelo CC. Esse "alcance e
significado da vocação cristã", a estatura humana e cristã à qual todo batizado
está chamado, é mesmo o fato novo e o princípio que informa toda a proposta
da Igreja. Adiantando os temas de que nos ocuparemos, trata-se de uma
autêntica descoberta (ou "redescoberta", se pensamos nos primeiros
cristãos...) da dimensão do cristianismo no mundo e na vida quotidiana.
Infelizmente, essa revolução profunda de compreensão do Evangelho,
continua bastante à margem da consciência do cidadão comum, do ordinary
people, do Seu João e da D. Maria, ainda que seja precisamente ao cidadão
comum (a cada um de nós, portanto...) que se dirige esta revolucionária
proposta do CC, que apresenta perspectivas insuspeitadas no próprio conceito
de cristão... É precisamente por ignorarem o alcance e o significado do
cristianismo que, para muitos católicos, o catolicismo aparece como algo
esvaziado e sem sentido, reduzido, quando muito, a algumas poucas práticas
isoladas do resto da vida... Vale a pena, portanto, recordar alguns pontos
essenciais da doutrina da Igreja sobre precisamente o que significa ser
católico. Trata-se de algo importantíssimo e rico em conseqüências práticas...
O que significa ser cristão? O que o diferencia de alguém que pratica
uma outra religião? A resposta a esta pergunta traz, na verdade, uma distinção
radical, total, tão de outra dimensão, que torna o catolicismo absolutamente
irredutível, incomparável a qualquer outra religião. Quem erradamente
imaginasse o catolicismo uma religião a mais como as outras (o que, na
prática, acaba sendo a idéia da maioria dos próprios católicos...), concebê-lo-ia
essencialmente como um conjunto de regras de comportamento junto com a
participação em certas cerimônias da comunidade. Mas isso, afinal, só
diferenciaria perifericamente o catolicismo da doutrina pregada, digamos, pelo
judaísmo, islamismo ou espiritismo ou por outras igrejas cristãs. Porque quanto
ao código moral, os dez mandamentos são os mesmos para o católico, para o
Alcorão e para a Toráh, e quase não há religião que pregue prejudicar o
próximo, invejá-lo ou odiá-lo... E o menino católico integrar-se-ia à comunidade
pelo Batismo, enquanto o menino judeu integrar-se-ia à dele pela circuncisão e
a confirmaria pelo Bar-Mitzvá etc.
Falaremos, pois, do tema que é de decisiva importância para o cristão:
a diferença essencial que nos situa a anos-luz de distância de qualquer outra
religião: a graça. É precisamente pela sua peculiar concepção da graça que o
catolicismo (junto com algumas outras igrejas cristãs) não é uma doutrina
religiosa a mais, nem consiste em uma série de preceitos (mais ou menos
comuns a outras religiões como o Islam ou o judaísmo...). Há esta diferença
essencial: Trata-se no catolicismo de uma vida nova, participação na própria
vida íntima de Deus: a vida da graça que principia no sacramento do Batismo.
O alcance e o significado da vocação cristã estão ligados a uma compreensão
do alcance e do significado do Batismo que um dia recebemos.
Ao começarmos a tratar deste tema é muito conveniente
"desacostumarmo-nos", recordar (ou, talvez, considerar pela primeira vez...)
esta espantosa realidade, a própria essência do cristianismo: a graça, a vida
sobrenatural. Tudo começa quando o Filho de Deus ao se fazer homem e
habitar entre nós, misteriosamente comunica-nos sua divindade pelo Batismo
de tal modo que somos - e essa formulação é importante - participantes da vida
divina de Cristo: como diz o texto essencial de Hbr 3,14. Esta doutrina
evangélica é explicada detalhadamente pelo apóstolo Paulo. Aliás, desde o
primeiro momento de sua conversão, quando Cristo lhe aparece já lhe propõe a
inquietante e infinitamente sugestiva questão: "Saulo, Saulo, por que ME
persegues?". E quando Saulo pergunta: "Quem és tu, Senhor?", ouve a
resposta: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues". E aí precisamente começa a
revolucionária revelação: para Saulo, Cristo estava morto e ele perseguia
cristãos... e de repente descobre que Cristo é Deus, que Ele ressuscitou e está
vivo, não só à direita de Deus Pai, mas de algum modo, em Pedro, João,
André, Estevão..., nos cristãos, como dirá o próprio Paulo no essencial Gal
2,20: "Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim". Nesse sentido o CC
afirma que, pelo Batismo, estamos como que plugados, on line, em Cristo. Ou
para usar a palavra chave (de Hbr 3, 14): participação.
CC - 1265 O batismo não só purifica de todos os pecados, mas faz também do
batizando "um nova criação" (II Cor. 5, 17), um filho adotivo de Deus tornando-
o "participante da natureza divina" (II Pe. 1, 4), membro de Cristo (I Cor. 6, 15;
15,27) e co-herdeiro com Ele (Rom 8,17), templo do Espírito Santo (I Cor. 6,
19).
CC - 1277- O batismo constitui o nascimento para a vida nova em Cristo.
A graça nos dá uma união íntima com Cristo: pelo Batismo somos como
que enxertados em Cristo (Rom 6,4 e ll, 23) e principia em nós a in-habitação
da Trindade, que se chama vida sobrenatural. Essa nova vida não é que
elimina a vida natural, nem a ela está justaposta; pelo contrário, empapa-a,
informa-a, estrutura-a por dentro. A espiritualidade cristã - esta é a grande
novidade consagrada pelo Vaticano II - dirige-se a que descubramos e
cultivemos essa vida interior, também e principalmente em nossa vida
quotidiana. Pois, pelo Batismo, Cristo habita em nós e a vida cristã - alimentada
pelos demais sacramentos - nada mais é do que a busca da plenitude desse
processo - realizado pelo Espírito Santo - de identificação com Cristo, que
principia no Batismo e tende no limite àquele: "Já não sou eu que vivo, é Cristo
que vive em mim" (Gal 2,20) de S. Paulo.
CC - 2813 Pela água do Batismo ... durante toda nossa vida nosso Pai "nos
chama à santificação"
Cristo vive em seus "terminais": cada cristão não é só nem
principalmente alguém que segue um código, é alguém que recebeu e tem a
própria vida de Cristo. Cada cristão está chamado a ser outro Cristo... Uma das
formas de Cristo perpetuar sua presença no mundo - em todos os lugares do
mundo, em todas as épocas - é estando presente nos cristãos. Esta presença
principia pelo Batismo... E isto é o que se chama graça: a participação da vida
divina em nós. Isto é precisamente o que outras religiões não aceitam: que
nossa vida passa a ser (em participação) a própria vida íntima divina.
CC - 108 (...) Todavia a fé cristã não é uma "Religião de Livro". O cristianismo é
a religião da "Palavra", não de um verbo escrito e mudo, mas do Verbo
encarnado e vivo"(S. Bernardo).
O conceito fundamental é, portanto, o de graça: uma palavra "técnica"
que toca as profundidades da teologia. Graça, no sentido religioso, não por
acaso é a mesma palavra que se usa em expressões como "de graça",
"gratuito" etc.: a graça é o dom por excelência. Para entendermos isto,
detenhamo-nos um pouco numa comparação entre a criação (onde Deus nos
dá em participação o ser) e a graça (onde Deus nos dá em participação sua
própria vida íntima). Graça e criação: ambos são dom, favor e amor gratuito de
Deus; mas a criação é, como diz S. Tomás, o amor comunnis (o amor geral) de
Deus às coisas: o amor com que Deus ama as plantas, a formiga, a estrela;
entes que são por um ato de Amor e de Volição divina. Mas, além desse "amor
comum", há ainda (formulação também de Tomás) um amor specialis, pelo
qual Deus eleva o homem a uma vida acima das condições de sua natureza
(vida sobrenatural) e o introduz numa nova dimensão do viver.
A graça, que recebemos no Batismo, é uma realidade nova, uma vida
nova, uma luz nova, uma qualidade nova que capacita nossa alma a acolher
dignamente, para nela habitarem, as três pessoas divinas. Este amor absoluto
(S. Tomás) é uma participação na vida íntima de Deus; a alma passa assim a
ter uma vida nova: nela habita (ou para usar o termo teológico: inhabita -
inhabitatio, habitação imediata, sem intermediários) a Trindade. Assim, quando
se trata de definir a graça, Tomás vale-se das mesmas comparações de
participação no ser. Não se trata de um panteísmo porque é participação: ter
por oposição a ser. E o próprio conceito de participação, utilizado neste
sentido, a teologia de Tomás encontrou-o em textos do Novo Testamento, por
exemplo na Epístola aos Hebreus (3, 14): somos participantes (participes,
metáchoi) de Cristo. E o próprio S. Pedro diz que somos divina natura
consortes "participantes da natureza divina" (2 Pe 1,4). Cristo é o Filho de
Deus; nós temos a filiação divina. Sem entrar em detalhes técnicos: participar é
ter por oposição a ser: o fogo é calor; o metal - que participa do calor que é no
fogo - tem calor. Assim, também, a Filiação do Verbo (que traz consigo toda a
vida íntima da Trindade) nos é dada em participação por Cristo, pelo Batismo.
Daí que ser católico não se restrinja a cerimônias, a práticas ou a
cumprir regras de conduta; mas sim a alimentar um processo de identificação
com Cristo, por assim dizer, 24 horas por dia. Assim, quando o Catecismo da
Igreja Católica declara o Batismo o sacramento da iniciação cristã por
excelência está afirmando algo de muito distinto do que um mero "entrar no
clube" ou "tirar a carteirinha" de cristão...
CC - 1212 Pelos sacramentos da iniciação cristã... são colocados os
fundamentos de toda vida cristã. A participação na natureza divina...
Precisamente esta novidade: a graça conferida pelo Batismo (que - frisa
o Catecismo - alcança a totalidade da vida quotidiana) é, e sempre foi, a
diferença infinita entre o cristianismo e as outras religiões: essa espantosa
realidade, a própria essência do cristianismo: a graça, a vida sobrenatural, a
participação na vida divina. Certamente, a doutrina da graça não é nova, desde
sempre tem sido ensinada pela Igreja. Que há, então, de novo? Novo é a
ampliação, a extensão e o aprofundamento que o novo Catecismo dá a ela:
CC - 533 A vida oculta de Nazaré permite a todo homem estar unido a Jesus
nos caminhos mais quotidianos da vida...
Nova é a afirmação de que essa identificação com Cristo dá-se - para a
imensa maioria dos cristãos - na e a partir da imitação da vida oculta de Cristo
(a vida oculta de Cristo, que nem sequer era mencionada no Catecismo
anterior - de Trento - e agora ocupa o destaque de todo um capítulo no novo
Catecismo). Porque Cristo, princípio da Criação (Jo 1) e autor da Redenção,
assumiu toda a realidade humana e toda a realidade do mundo. E assim como
misteriosamente no pecado de Adão - Paulo desenvolve isto no Cap. 15 da I
Cor - houve para todos um decremento; em Cristo, novo Adão, há um re-
erguimento (Ele, pontífice - construtor de pontes - advogado, primogênito,
primícias, "nossa paz" - nosso integrador, etc.). E - tanto em Adão como em
Cristo - é afetada toda a criação: Ele é a cabeça do Corpo que é a Igreja. Ele é
o Primogênito, o princípio em tudo. E por meio dele Deus reconciliou - e está a
reconciliar - consigo todas as criaturas. É o Cristo de Nazaré, em seus 30 anos
de vida oculta, anos em que não fez nenhum milagre e viveu uma vida
(também ela divina e redentora) com toda a aparência de absolutamente
normal: vida de família normal no lar de Nazaré, de trabalho normal na oficina
de José, de relacionamento social normal, vida religiosa normal etc.
CC - 531 Durante a maior parte de sua vida, Jesus compartilhou a condição da
imensa maioria dos homens: uma vida quotidiana sem grandeza aparente, vida
de trabalho manual, vida religiosa judaica submetida à Lei de Deus, vida na
comunidade...
CC - 564 ...Durante longos anos de trabalho em Nazaré, Jesus nos dá o
exemplo de santidade na vida quotidiana da família e do trabalho...
Cristo vivo nos cristãos, nos batizados. Cristo vivo no seo João da
esquina e na D. Maria... a grande redescoberta da infinita responsabilidade dos
fiéis leigos... Cristo que quer levar sua obra redentora à vida de família, ao
mundo do trabalho, às grandes questões sociais etc... Isto não estava dito pelo
Antigo Catecismo. Nele, após afirmar nosso "plugamento" em Cristo pelo
Batismo, o que se dizia era que, pelo Batismo, o cristão torna-se apto a todos
os ofícios da piedade cristã (e é certo que o Batismo é a porta para a recepção
de outros sacramentos etc.), mas não se falava em identificação com Cristo na
vida quotidiana):
Antigo Cat. Rom II, II, 52 Pelo Batismo também somos como membros
incorporados, plugados, conectados a Cristo cabeça ... o que nos torna aptos a
todos os ofícios da piedade cristã. Per Baptismum etiam Christo capiti
tamquam membra copulamur et connectimur ... quae nos ad omnia christianae
pietatis officia habiles reddit.
A Igreja, hoje, convoca cada cristão, o homem da rua, o profissional, o
João da esquina e a D. Maria, cada um de nós a ter uma vida espiritual plena,
não apesar de, mas precisamente por estar no meio do mundo, no dia de
trabalho, na vida de família, de relacionamento social etc. É pelo Batismo que
cada cristão está chamado - é uma vocação - a reproduzir na sua vida a vida
de Cristo (Gal. 2, 20)... A Criação e a Redenção são projetos que se estendem
aos cristos que são os cristãos. A partir do momento em que ocorre a
Encarnação, o mundo - o mundo do trabalho, a vida quotidiana, a vida de
família, a vida política, econômica e social etc. - torna-se algo do maior
interesse religioso (cfr. p. ex. os capítulos 8 de Romanos e 1 de Colossenses: a
criação anseia pela manifestação dos filhos de Deus, pois Cristo quer reformá-
la em Si). Naturalmente, isto não tem nada que ver com integremos ou
clericalismos (tema de que tratamos em outra conferência, neste mesmo site:
http://www.hottopos.com.br/notand5/algeb.htm).
Deus, que tem poder para fazer das pedras filhos de Abarão (Lc 3,8),
quer contar com o amor conjugal de Seu João e D. Maria para criar uma nova
vida. Deus, que poderia fazer as crianças nascerem sabendo inglês e álgebra,
quer contar com a tarefa educadora dos professores. Deus quer contar com
engenheiros que canalizem córregos ("não tem um Cristo para acabar com as
enchentes em São Paulo?"), com médicos que identifiquem vírus etc... A
redescoberta da Igreja é a da vida quotidiana como chamado a uma plenitude
da existência cristã. Cristo, que passou 30 anos trabalhando na vida corrente
sem fazer nenhum milagre, é modelo para - "já não sou eu que vivo é Cristo
que vive em mim" - o engenheiro, o taxista, o empresário, o torneiro mecânico,
a dona de casa, o professor...; para cada cristão que assuma o chamado que
recebeu no Batismo. Toda a proposta da Igreja é reformulada a partir do
alcance dessa filiação divina que temos porque nos é dada em participação da
Filiação que é em Cristo. Se pensamos nas quatro grande partes do CC: a
doutrina da fé está centrada neste fato fundamental; a liturgia e os
sacramentos, também; e o mesmo a moral e a vida de oração.
CC - 1692 O Credo professou a grandeza... de Sua criação e da redenção e da
obra da santificação. Isto que a fé confessa, os sacramentos comunicam: pelos
"sacramentos que os fizeram renascer" os cristãos se tornam "filhos de Deus"
(Jo 1,12; 1 Jo 3,1), "participantes da natureza divina" (2 Pe 1,4). E,
reconhecendo essa nova dignidade, são chamados a viver desde então "uma
vida digna do Evangelho de Cristo" (Fil 1, 27). É pelos sacramentos e pela
oração que recebem a graça etc.
Assim, a moral, longe de ser um código ou um manual, é um convite ao
reconhecimento da dignidade desse "Viver em Cristo" (título da parte moral do
CC): Agnosce, christiane, dignitatem tuam! (S. Leão, CC 1691). Para além de
proibições e castigos, a moral é uma questão de retribuição de amor a essa
presença de Cristo no cristão. Que vou fazer do Cristo que habita em mim? A
que vou associá-lo? Com o que vou misturá-lo? "Não sabeis que vossos corpos
são membros de Cristo. Ides fazer deles membros de uma prostituta?" (I Cor
6,15) "Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito Santo habita em
vós?" (I Cor 3,16). É o homem novo de quem tantas vezes fala o Apóstolo, para
quem tudo é lícito mas nem tudo convém (I Cor 6,12).
CC - 1691 "Cristão, reconhece a tua dignidade. Por participares agora da
natureza divina, não te degeneres retornando à decadência de tua vida
passada. Lembra-te da Cabeça a que pertences..." (S. Leão Magno)
Neste mundo, em que tantos estão desprovidos de qualquer motivação,
a vida do cristão - que sabe que Cristo vive nele e está interessado em
transformar toda a criação pela ação dos cristãos - torna-se fascinante. Sua
vida fora desta consciência parece-lhe como o verso de Adélia Prado: "De de
vez em quando Deus me tira a poesia e eu olho pedra e vejo pedra mesmo".
Nesse quadro ressalta a importância da Santa Missa: é por ela que
nosso quotidiano é - por Cristo, com Cristo e em Cristo - enviado ao Pai. O CC,
ao falar da Missa, conclui:
1332 (chama-se) Santa Missa porque a liturgia na qual se realiza o mistério da
salvação se conclui pelo envio dos fiéis (missio) a fim de que eles cumpram a
vontade de Deus em sua vida quotidiana.
Na Missa, se exerce de modo absolutamente único aquela união com
Cristo-Cabeça. E "por Cristo, com Cristo e em Cristo" somos levados ao Pai.
Do mesmo modo que o Sol, que é luz, dá a participar luz ao ar e o fogo, que é
calor, dá a participar calor a um metal a ele exposto, assim a Filiação do Verbo
nos é dada em participação por Cristo. Pelo Batismo somos como que
"plugados" nEle, e na S. Missa Cristo nos une a seu Sacrifício ante o Pai.
1367 - O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Missa são um único sacrifício: "A
mesma e única Vítima, o mesmo e único Sacerdote que, pelo ministério dos
padres, se oferece agora como se ofereceu na Cruz. A única diferença é o
modo de oferecer: então, de maneira sangrenta; sobre o altar, de maneira
incruenta".
1368- A missa é também o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o Corpo de
Cristo, participa da oferenda de sua Cabeça. Com Ele, ela se oferece toda
inteira. Ela se une à Sua intercessão junto ao Pai por todos os homens. Na
Missa, o sacrifício de Cristo torna-se também o sacrifício dos membros de Seu
Corpo. A vida de cada fiel, seu louvor, suas dores, sua oração, seu trabalho é
unido aos de Cristo e à Sua oferenda total e adquire assim um valor novo. O
sacrifício de Cristo presente sobre o altar dá a todas as gerações de cristãos a
possibilidade de se unir a Seu sacrifício.
É interessante notar que a própria palavra missa é o particípio plural
neutro de enviar, mittere (as coisas que foram enviadas; os fiéis que são
enviados); de mesma raiz que míssil (enviável), emissão, demissão,
missionário, missão etc. Isto é, todo o nosso dia adquire um valor novo; o valor
da Cruz de Cristo, é enviado ao Pai "por Cristo, com Cristo e em Cristo". E isto
dá um sentido novo à nossa vida quotidiana. Na verdade, nosso principal título
diante de Deus é essa união com o Filho pela qual apresentamos ao Pai nosso
sacrifício de adoração, de petição, de ação de graças e de reparação. Isto está
expresso de maneira incomparavelmente precisa na própria Oração Eucarística
III da Missa:
"Respice, quaesumus, in oblationem, Ecclesiae tuae et, agnoscens Hostiam
cuius voluisti immolatione placari... - Olhai, ó Pai, nós vo-lo pedimos, para a
oferenda de Vossa Igreja e reconhecendo a Vítima por cuja imolação quisestes
devolver-nos Vossa amizade...".
Isto é, Deus Pai - que não teria por que se interessar pelas nossas
oferendas - olha para elas, porque vendo-nos a nós, não nos vê a nós mas a
Seu Filho Jesus, e nos acolhe, por assim dizer, no arrasto da Cruz de Cristo na
S. Missa... Cristo, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim (Gal 2,20),
associa-me a Seu sacrifício. São Paulo que afirma que o sacrifício de Cristo foi
superabundante ("onde avultou o pecado, superabundou a graça" Rom 5, 18-
20) é o mesmo que diz - de modo aparentemente contraditório: "Eu completo
(?) em minha carne o que falta (?) aos sofrimentos de Cristo" (Col 1, 24). E é
que Cristo vive nos cristãos: pelo Batismo, participamos de Sua vida e de sua
Cruz redentora... Cristo recebia, do alto da Cruz, não só as ofensas / consolos
dos que ali estavam presentes, mas também, sendo Deus, via exatamente a
atitude de cada um de nós, hoje, 13 de dezembro de 1999, ante sua Cruz:
podemos "completar em nossa carne o que falta à Cruz de Cristo". Pois,
Cristo sofreu in genere todas as dores, mas não viveu concretamente,
digamos, a fila do Banespa ou o trânsito engarrafado (vive essas dores em
mim, se eu as uno à Missa).
A consciência dessa participação na filiação divina, que alcança as
realidades mais prosaicas do nosso quotidiano, é, parece-me, a essência da
educação cristã para o nosso tempo.
Conclusão
O propósito deste estudo tem sido mostrar que a Bíblia, de fato, ensina
que Jesus é Deus. Isto tem sido demonstrado por meio de numerosas
passagens bíblicas. O Velho Testamento apóia o ensinamento da divindade de
Jesus, e o Novo Testamento irresistivelmente ensina que Jesus é Deus. As
Escrituras também confirmam que o entendimento de si próprio por Jesus é
consistente com este ensinamento. Ainda que ele não tenha promovido sua
própria identidade, ele fez declarações que são equivalentes a declarações de
divindade. E, mais ainda, suas obras demonstraram sua identidade, e sua
aceitação de adoração mostrou seu próprio entendimento. Em última análise, a
ressurreição é a testemunha mais significativa da divindade de Jesus. Ela
declara poderosamente que Jesus é o Filho de Deus (Romanos 1:4).
O resto do Novo Testamento retrata Jesus como divino. Ainda que a Bíblia
ensine que Jesus era um ser humano, ela ensina que ele era muito mais do
que isso. Ela atribui a ele a natureza essencial e caráter de divindade. Ela não
ensina que ele deixou sua divindade quando veio à terra. Antes, ela ensina que
Jesus tomou a natureza essencial de servidão; seu maior ato de serviço foi a
dádiva de sua vida.
A questão sobre a identidade de Jesus não terminará tão cedo. Questões
recentes sobre Jesus têm renovado muito da discussão. Seja qual for a
posição com que se termine, ela será aceita através de algum processo de “fé”.
Isto é inevitável. A questão permanece, contudo, sobre qual “é” a mais
razoável. Baseado em considerações bíblicas, históricas e outras, eu escolhi
crer que Jesus foi, e ainda é, Deus. Ele nunca pode ser menos do que isso.
BIBLIOGRAFIA
PIAGET, J. O Nascimento da Inteligência na Criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
PIAGET, J. Epistemologia Genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990, 115 p.
PIAGET, J. O espírito de solidariedade na criança e a colaboração internacional. In: Sobre a pedagogia - textos inéditos. São Paulo: Silvia Parrat, Ed. Casa do Psicólogo, 1998, p.59-78.
VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
www.wikipedia .org/ paulo _Freires
www.estudobiblico.com
ÍNDICE
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPITULO I
PEDAGOGIA DE PAULO FREIRES
1.1 Método
CAPITULO II
A DIVINA DE JESUS CRISTO
2.1 A Modernidade Tendência de Rejeitar a Divindade de Jesus
2.2 O Velho Testamento
2.3 Título Atribuído a Jesus
2.4 Testemunho do Novo Testamento
2.5 Clossenses 2:9
2.6 Filipenses 2
2.7 Outras Considerações
CAPITULO III
PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO