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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVALIAÇÃO: UM NOVO OLHAR, UMA ABORDAGEM INVESTIGATIVA DO PROFESSOR Por: Ana Claudia da Costa Paula Ribeiro Orientador: Profª. Fabiane Muniz Co-orientadora: Profª. Narcisa Castilho Melo Petrópolis 2011 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVALIAÇÃO: UM NOVO OLHAR,

UMA ABORDAGEM INVESTIGATIVA DO PROFESSOR

Por: Ana Claudia da Costa Paula Ribeiro

Orientador: Profª. Fabiane Muniz

Co-orientadora: Profª. Narcisa Castilho Melo

Petrópolis

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVALIAÇÃO: UM NOVO OLHAR,

UMA ABORDAGEM INVESTIGATIVA DO PROFESSOR

Por: Ana Claudia da Costa Paula Ribeiro

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes - como

requisito parcial para obtenção do título de

especialista em Psicopedagogia Institucional.

Orientador: Profª. Fabiane Muniz

Co-orientadora: Profª. Narcisa Castilho Melo

Petrópolis

2011

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AGRADECIMENTOS

Na elaboração deste

trabalho, devo meus agradecimentos a

Deus, pela força e coragem; Aos meus

familiares pelo apoio e carinho; Aos

amigos que me auxiliaram; A Profª.

Narcisa Castilho Melo pelas

orientações prestadas.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu marido

Ribeiro e à minha filha Natália.

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RESUMO

Este trabalho teve por objetivo investigar o tipo de ação avaliativa desempenhado por professores da Escola pesquisada, observando as atividades desenvolvidas por eles, analisando se estas favoreciam a interação dos alunos, o avanço no processo de aprendizagem e se faziam parte de uma prática investigativa que visa favorecer a reflexão do docente sobre suas ações. O referencial teórico foi construído com base em autores especialistas em avaliação, como Celso Antunes, Carlos Cipriano Luckesi, Jussara Hoffman, Edmar Henrique Rabelo, Maria Teresa Esteban, e também os PCNs de Educação, mais especificamente o de avaliação. Utilizou-se de uma pesquisa qualitativa, onde a metodologia aplicada foi a de coleta de dados por meio de questionário aplicado aos profissionais da educação, mais especificamente, professores e gestores da Escola pesquisada. Foi possível com esta pesquisa, obter informações relevantes ao processo de avaliação desenvolvido na escola e o quanto ela favorece o educando, no sentido de não excluí-lo com notas ou conceitos, mas sim de incluí-lo no processo, observando seus saberes e suas potencialidades, respeitando seu tempo e sua individualidade, oportunizando condições para que avancem em suas aprendizagens. Além de observar o olhar diferenciado dos professores em relação à avaliação, espera-se com esta pesquisa que a partir das considerações acerca do processo avaliativo, possamos torná-la objeto de reflexão por parte dos educadores, no sentido de direcionamento de suas ações pedagógicas com vistas à investigação, a fim de compreender a todos os alunos, na observância de suas particularidades por meio de acompanhamentos individuais e coletivos, para que possam ser avaliados de forma mais justa, mediadora, por meio de uma relação dialógica onde professor e alunos se sintam integrados na ação avaliativa. PALAVRAS-CHAVE: avaliação, investigação, papel do professor.

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METODOLOGIA

A presente pesquisa foi desenvolvida em quatro capítulos e elaborada a

partir de leitura preliminar (bibliográfica) para levantamento das contribuições

científicas existentes sobre o tema. Segundo Pádua (2004, p.32), “a pesquisa

tem por finalidade colocar o pesquisador em contato com o que já se produziu

a respeito do seu tema de pesquisa.”

O embasamento teórico teve o enriquecimento dos seguintes autores:

Celso Antunes, Carlos Cipriano Luckesi, Jussara Hoffman, Edmar Henrique

Rabelo, Maria Teresa Esteban. Assim, a partir do apresentado, optou-se por

pesquisa de concepção qualitativa, como método de investigação para efetivar

este estudo. Ao realizar exame intensivo dos dados, foi possível observar que

os métodos qualitativos tratam as unidades sociais investigadas como

totalidades que desafiam o pesquisador. Assim, “a grande preocupação do

cientista social é a estreita aproximação dos dados, de fazê-lo falar da forma

mais completa possível, abrindo-se à realidade social para melhor apreendê-la

e compreendê-la.” (MINAYO,1994, p. 290).

Foi selecionada como locus de pesquisa, uma escola da Rede Municipal

de Petrópolis localizada em um tradicional bairro, indicada por realizar um

trabalho diferenciado, na busca da excelência em educação. A escola atende

ao 1º segmento e gradativamente vem implantando o 2º segmento com

atualmente quatro turmas de 6º ano e três turmas do 7º ano do Ensino

Fundamental.

Vencidos os procedimentos necessários de aproximação do pesquisador

ao local de pesquisa, através de contatos administrativos necessários,

investigação focalizada com leituras e estudo do Projeto Político Pedagógico

(PPP) da instituição, além de observações acerca do processo avaliativo

utilizado pelos professores, foi realizada a coleta de dados através da aplicação

de questionários individuais estruturados a partir de questões abertas e

fechadas, que abordam conteúdos relevantes aos objetivos definidos no

trabalho. Foram distribuídos 25 questionários para professores de 1º e 2º

segmentos, de diferentes idades e 5 para a Equipe Gestora, compreendida por

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1 Diretora Geral, 2 Diretoras Adjuntas e 2 Orientadoras Pedagógicas. Desta

forma, a pesquisa de campo contemplou o seguinte roteiro, abordando os

seguintes objetivos:

• Investigar o tipo de avaliação utilizada na escola pesquisada;

• Analisar a importância de uma nova postura do professor acerca da

avaliação escolar;

• Pesquisar como a avaliação diferenciada pode auxiliar o aluno.

A opção pela aplicação do questionário se deu por ser método de

pesquisa adequado para se coletar informações essenciais ao conhecimento

de uma determinada população pesquisada. Segundo Quivy e Campenhoudt

(1992, p.191), “o questionário apresenta como vantagem a possibilidade de

quantificar uma multiplicidade de dados e de proceder a numerosas análises de

correlação.”

Na análise e interpretação dos resultados obtidos foram considerados o

percentual dos cálculos e os mesmos organizados em gráficos, levando a uma

análise qualitativa dos conteúdos analisados, segundo referencial teórico

adotado na pesquisa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 09

CAPÍTULO I - AVALIAÇÃO NUMA PERSPECTIVA INOVADORA E

INVESTIGATIVA ......................................................................................................... 12

1.1 - Os Processos de Avaliação como Elemento Integrador de Ensino

Aprendizagem .................................................................................................. 13

1.2 - Avaliação: Professores e Alunos num Processo de Parceria ................... 15

CAPÍTULO II - AVALIAÇÃO: VISÃO DA ESCOLA PESQUISADA .................. 18

2.1 – O que diz a LDB ...................................................................................... 19

2.2 - Práticas de Avaliação na Escola Pesquisada .......................................... 21

CAPÍTULO III – O ERRO E A INVESTIGAÇÃO DOCENTE ............................ 23

3.1 - O Que Sabe Quem Erra? ......................................................................... 25

3.2 - O Papel do Professor Investigador .......................................................... 26

CAPÍTULO IV – RESSIGNIFICANDO A AVALIAÇÃO NA ESCOLA: O PAPEL

DO PSICOPEDAGOGO ................................................................................... 30

4.1 - Problematizar para Avaliar ....................................................................... 32

ANÁLISE QUALITATIVA DOS DADOS ........................................................... 35

CONCLUSÃO ................................................................................................... 44

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 46

ANEXOS .......................................................................................................... 48

Anexo 1 ............................................................................................................ 49

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INTRODUÇÃO

A avaliação escolar nunca foi tão discutida e questionada como nos dias

atuais. Muito se fala sobre novas práticas, novos paradigmas, mas o que

vemos são professores inseguros e presos a práticas conservadoras de

avaliação onde o que interessa é o julgamento de resultados alcançados pelo

aluno.

Sabemos da importância de avaliar corretamente os alunos nos dias de

hoje, mas qual o verdadeiro significado de avaliação? É aquela que auxilia no

desenvolvimento cognitivo do aluno ou a que o classifica?

A avaliação deve orientar e acompanhar o processo educativo dos

alunos e também favorecer a reflexão do professor sobre suas ações.

A forma usada pelos professores para avaliar o desenvolvimento escolar

dos alunos, muitas vezes é difusa e complexa, pois:

O fato de considerá-la reduzida a uma dimensão de procedimento terminal, dissociada da ação educativa, limita o aprofundamento necessário em relação ao significado das interferências constantes dos professores nas manifestações dos alunos. Resume-se a discussão sobre avaliação à questão de aprovação, reprovação. (HOFFMANN, 2001, p.34)

Muitos professores agindo sem questionamento, sem reflexão, a

respeito do significado da avaliação na Escola, consideram o aluno apenas um

receptor passivo dos conteúdos e quando estes não atingem os objetivos

estipulados pelo docente, são considerados propensos à reprovação.

Pretendi, com este estudo, ressaltar que o papel do professor deve ser o

de mediador, propiciando uma relação franca com os alunos, onde prevaleça a

troca de ideias e o conhecimento vá sendo construído com base em situações

concretas e contextualizadas, numa profunda integração entre educando e

educador.

A avaliação neste contexto se baseia no acompanhamento e no diálogo.

No acompanhamento do professor junto aos alunos em todos os momentos

possíveis, observando o seu desenvolvimento e os seus resultados individuais.

Através do diálogo, o professor despertará o interesse e a atenção pelo

conteúdo a ser transmitido. Esta interação no decorrer do desenvolvimento dos

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alunos possibilita a intervenção do professor no sentido de melhoria do

desempenho dos educandos. Desta forma a avaliação deverá incluir e não

excluir.

A avaliação é compreendida como um conjunto de atuações que têm a função de alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua e sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do conhecimento construído pelo aluno. (PCN, 1999, p.81)

Não se pode confundir avaliação com nota e muito menos permitir que

se continue usando o termo nota como sinônimo de avaliação.

Objetivou-se com este estudo que o professor tenha em mente que o

acompanhamento dos alunos no processo de construção de sua aprendizagem

está relacionado também à avaliação que se fará, pois possibilita conhecer o

aluno como um todo, lembrando que cada um é único e tem suas

individualidades, portanto cada um aprende de um jeito e no seu tempo. Desta

forma, cabe ao professor desenvolver uma ação avaliativa mediadora e,

portanto, uma prática inclusiva, onde compreenda que todos fazem parte do

processo e possuem saberes necessários a ação avaliativa.

Neste sentido, são objetivos desta pesquisa:

• Investigar o tipo de avaliação utilizada na escola pesquisada;

• Analisar a importância de uma nova postura do professor acerca da

avaliação escolar;

• Pesquisar como a avaliação diferenciada pode auxiliar o aluno.

Ainda hoje no sistema escolar a situação em termos de avaliação é

muito problemática. Não é um problema apenas de uma disciplina, série ou

escola, mas sim, um problema de todo o sistema educacional que ainda tem

profundas raízes no modelo avaliativo tradicional.

Sendo assim, o motivo da escolha do tema avaliação para estudo, foi o

fato de sentir-me insatisfeita com a forma como a avaliação escolar ainda é

aplicada. Percebi na prática pedagógica, que a avaliação em alguns momentos

pode ser realizada de forma a excluir os alunos, na medida em que ainda é

classificatória.

Diante dessa insatisfação, procurei um embasamento teórico onde a

avaliação se promovesse de forma justa, mediadora. Onde os saberes dos

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alunos fossem realmente levados em consideração e não somente o que o

professor estipulasse como objetivo a ser alcançado.

A forma de lidar com o erro também é um fator preocupante. A partir de

leituras realizadas nota-se que a complexidade da aprendizagem não admite

mais o certo e o errado. O erro em si é a expressão da aprendizagem, é o que

o aluno sabe até aquele momento.

De acordo com Hoffmann (2001, p.42) “é urgente encaminhar a

avaliação, a partir da efetiva relação professor e aluno, em benefício à

educação do nosso país, contrapondo-se à concepção sentenciva, grande

responsável pelo processo de eliminação de crianças e jovens da escola.” Para

que haja uma avaliação justa, é necessário que o professor amplie seu olhar,

mantenha intenso diálogo com o educando e envolva-se de fato no processo.

A prática investigativa em relação à avaliação sugere a formação de

sujeitos críticos, conscientes, capazes de tomar decisões e criar suas próprias

ações, a partir do momento que insere educandos no processo ensino-

aprendizagem, de forma a respeitar seus tempos e individualidades, mediando

situações, criando problemáticas e levando-os à construção do conhecimento.

Neste ponto de vista, espera-se que a partir da leitura deste projeto, os

docentes possam refletir sobre suas práticas avaliativas, reformulando seus

conceitos e ampliando o olhar acerca de suas práticas cotidianas.

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CAPÍTULO I

AVALIAÇÃO NUMA PERSPECTIVA INOVADORA E

INVESTIGATIVA

Um dos obstáculos que mais desafiam os educadores quando se fala

em avaliação, parece ser o “como” avaliar a aprendizagem do aluno.

Ao se diferenciar a avaliação do rendimento escolar da avaliação da

aprendizagem, procura-se discutir as possibilidades metodológicas de uma

avaliação com um olhar diferenciado, inovador.

“Toda avaliação é o núcleo da ação de formação, pois todas as

informações ali contidas podem ser úteis ao ajuste do processo ensino-

aprendizagem.” (ANTUNES, 2002, p.35)

Avaliar a aprendizagem do aluno numa perspectiva inovadora, é uma

tarefa complexa que exige não só olhar para os resultados objetivos das

provas, mas também investigar os processos utilizados pelos alunos na

resolução das situações-problema. Uma avaliação sob esse novo olhar está

inserida numa pedagogia diferenciada que contextualiza as respostas dos

alunos. Numa avaliação investigativa, os erros são considerados como

momentos na aprendizagem e não como falhas que simplesmente são

corrigidas. O erro é uma questão que o aluno coloca ao professor, que deve

propor novas estratégias para a solução do mesmo.

Uma prática avaliativa investigativa requer que o professor assuma uma

nova postura que se inicia no momento em que reflete sobre os significados

dos erros e acertos dos alunos, interpretando dados e compreendendo os

diferentes processos que levam os mesmos a aprenderem. Permite inclusive

que o professor estabeleça uma constante reflexão sobre sua prática,

reformulando-a quando necessário. Sob essa nova perspectiva, a avaliação se

caracteriza como formativa, pois estabelece diálogo com o processo, visando a

formação do indivíduo. Segundo Antunes (2002, p.14) “compreender a

avaliação enquanto processo investigativo, centrado nos significados atribuídos

pelos alunos às suas ações, requer colocá-la dentro de um contexto,

estabelecendo relações que os sujeitos estabelecem com o saber.”

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Assumir a avaliação como uma prática investigativa, é mais que um

compromisso, é uma atitude profissional voltada para ajudar o aluno a

aprender. Na medida em que o professor conhece, analisa e interpreta os

pontos de vista dos alunos, também obtém informações para as suas ações

pedagógicas. Para Hoffmann:

O compromisso do avaliador passa a ser o de mobilizar o aluno a buscar sempre novos conhecimentos, o de ajustar experiências educativas às necessidades e interesses percebidos ao longo do processo, e de provocá-lo a refletir sobre as idéias em construção para que seja cada vez mais autônomo em suas buscas. (2001, p.77)

Pensando a avaliação como uma prática de permanente troca de

mensagens e de significados, podemos considerá-la então como um processo

dialógico, um espaço de encontros e confrontos de ideias entre educador e

educando na busca de conhecimentos cada vez mais qualitativos. Desta forma,

o processo avaliativo, em sua perspectiva inovadora, destina-se a acompanhar,

entender, favorecendo a progressão do aluno a novas possibilidades.

Para que o aluno construa o seu conhecimento, a sua autonomia, é

necessário que ele esteja inserido em um ambiente em que haja intervenções

pedagógicas, respeito mútuo e onde o professor seja um mediador entre o

sujeito e o conhecimento. A partir de uma aprendizagem mais significativa, o

aluno passa a compreender a realidade e prepara-se para atuar na sociedade.

1.1 – Os Processos de Avaliação como Elemento Integrador de

Ensino e Aprendizagem

Colocar a avaliação da aprendizagem no contexto de uma pesquisa

qualitativa, é assumir como princípio que os alunos são diferentes e nunca

desenvolvem um mesmo percurso de aprendizagem. Dessa forma, os

processos avaliativos não podem ser estanques e nem iguais para todos.

O processo de avaliação deve incluir instrumentos e procedimentos

diversificados. É da análise diária dos alunos que surgem maneiras de fazer

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com que todos aprendam. Em lugar de apenas provas, o professor utiliza

várias estratégias de avaliação de acordo com os objetivos.

Se o professor compreende as funções da avaliação, as provas parciais

ou finais serão apenas o reflexo do seu trabalho. Pois o professor adotará

também procedimentos de acompanhamento diário dos alunos, que serão de

grande valor na compreensão da aprendizagem e o ajudarão a traçar também

um perfil qualitativo. Segundo Libâneo (2007, p.214), “A observação visa

investigar, informalmente, as características individuais e grupais dos alunos,

tendo em vista identificar fatores que influenciam a aprendizagem e o estudo

das matérias e, na medida do possível, modificá-los.”

Uma vez que os professores estão sempre interagindo com os alunos

nas suas mais variadas situações escolares, seja em debates, nas

intervenções dos alunos durante as aulas, nos trabalhos em grupo, no

raciocínio, e também em situações fora da sala, como em rodas de conversa,

no relacionamento com outros colegas, em passeios, o professor poderá extrair

dados, de maneira informal, que permitam um melhor conhecimento dos alunos

individualmente e em grupo para aperfeiçoar a relação ensino-aprendizagem.

Outro procedimento que pode ser adotado é a auto-avaliação, onde os

alunos são levados a expor suas análises, relatar suas dificuldades, o que não

aprenderam, num constante diálogo com o professor, que de acordo com

Hoffmann (2001):

Este processo reflexivo se desenvolve no cotidiano da sala de aula, pelo exercício do aluno de pensar sobre o seu pensamento, pensar sobre suas atitudes, analisar criticamente idéias defendidas, observar seus exercícios e tarefas para complementá-los, enriquecê-los. (p.53)

As conclusões da auto-avaliação podem servir para redefinir os rumos

da ação pedagógica, além de mostrar como está a relação entre os alunos e

com o professor.

Vale ressaltar que os procedimentos são variados e devem ser utilizados

de acordo com cada conteúdo ou matéria, mas que, além disso, para que a

ação avaliativa seja efetiva, ela precisa ser coerente com a prática diária e

contínua. Segundo a autora acima, “Os registros de avaliação da

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aprendizagem são instrumentos metodológicos essenciais ao

acompanhamento efetivo dos alunos pelos professores.” (p. 34)

O professor ao utilizar o registro, que é uma forma de relatar fatos

importantes referentes ao desenvolvimento dos alunos durante as aulas, deve

preocupar-se para que sejam claros e compartilhados por todos. Estes fatos se

tornarão imprescindíveis ao final de uma etapa da aprendizagem para resgatar

memórias e fazer uma avaliação mais justa e de qualidade.

Ao investigar os conhecimentos prévios, o professor tem a oportunidade

de elaborar um planejamento significativo e instituir a prática do diálogo que se

torna constante na relação com os alunos, pois:

Os conhecimentos prévios formam-se a partir de concepções espontâneas e intuitivas acerca de situações e fenômenos da vida cotidiana, de representações sociais transmitidas culturalmente e a partir de analogias: quando o aluno não possui imagens concretas para determinado conhecimento, faz determinadas associações, cria modelos para entendê-lo. (Id Ibid)

Promover o espaço de convívio, de troca, é compromisso do professor e

tarefa essencial na busca da aprendizagem.

A todo momento, estes conhecimentos prévios são expressos pelos

alunos e o professor pode estimular o surgimento dos mesmos, propondo

situações-problema que envolvam questionamentos, experiências, entrevistas,

debates.

Buscar os conhecimentos prévios, exige do professor o espírito de

investigação permanente, uma investigação contínua, sobre o que pensam os

alunos e por que pensam de determinada forma.

1.2 – Avaliação: Professores e Alunos num Processo de

Parceria

Conceber a avaliação como uma prática inovadora, é reconhecer que

esta envolve verdadeira parceria entre professor e alunos, pois avaliar é uma

tarefa complexa que não se resume à realização de provas e atribuição de

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notas. É através dela que os resultados obtidos no decorrer do processo são

comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos,

dificuldades e orientar o trabalho de professores e alunos.

As tarefas avaliativas, portanto, são instrumentos de dupla função para

professores e alunos.

Para o professor: elemento de reflexão sobre os conhecimentos expressos pelos alunos x elemento de reflexão sobre o sentido da sua ação pedagógica. Para o aluno: oportunidade de reorganização e expressão de conhecimentos x elemento de reflexão sobre os conhecimentos construídos e procedimentos de aprendizagem. (HOFFMANN, 2001, p.112)

Ao promover ações e desafiar os alunos a refletir, o professor também

está refletindo sobre sua prática, tomando consciência sobre o seu fazer, num

processo de auto-avaliação, que só tem sentido no dia a dia da sala de aula e

no estabelecimento de uma relação dialógica.

Assim, professores e alunos desenvolvem processos reflexivos no

sentido de buscar a melhor forma de prosseguir.

Para Hoffmann (1996, p.113) “No sentido de mediar a construção de

sentido pelo educando, o papel essencial do educador é desencadear

processos metacognitivos. O aluno precisa ser mobilizado à tomada de

consciência sobre a qualidade de suas respostas”. Se o professor atribui uma

nota à tarefa de um aluno, este não pode analisar seus erros, nem avançar em

suas hipóteses e condutas de aprendizagem. Assim, o aluno passa a estudar

para obter notas e pontos e não para superar-se, para alcançar novos saberes.

Todo estudante é capaz de analisar suas condições de aprendizagem.

Fazer comparações que lhe permitam reconhecer erros e acertos, refletir sobre

o que aprendem e como aprendem.

Nesse sentido, o professor como mediador das aprendizagens, favorece

a tomada de consciência do aluno sobre limites e possibilidades no processo

de conhecimento e avaliação.

A avaliação reflete também valores e expectativas do professor em

relação aos alunos. É na maneira como age e interage com eles que o

professor demonstra suas crenças, valores.

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Para Libâneo (2007, p.203), “A avaliação escolar envolve a objetividade

e a subjetividade, tanto em relação ao professor como aos alunos.”

A avaliação é um ato pedagógico. Através dela o professor mostra as

suas qualidades de educador na medida em que trabalha com propósitos bem

definidos em relação ao desenvolvimento das capacidades físicas e intelectuais

dos alunos, visando principalmente o convívio social. É nessa interação

professor-aluno que a avaliação se promove, na relação que estabelecem no

dia a dia, no diálogo que promovem durante as aulas e nas diversas situações

de aprendizagem. E justamente por essa relação de parceria que se

desenvolve, é que os aspectos qualitativos devem prevalecer sobre os

quantitativos no processo avaliativo.

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CAPÍTULO II

AVALIAÇÃO: VISÃO DA ESCOLA PESQUISADA

A Escola entende que avaliar é antes de tudo, diagnosticar para obter

resultados mais satisfatórios.

Desta forma, desenvolve sua metodologia baseada nas teorias que

buscam uma aprendizagem significativa, que incentivam a construção do

conhecimento, como as teorias de Jean Piaget, Vygotsky e Emília Ferrero,

trabalhando com projetos que visam motivar os alunos, buscando suas áreas

de interesse e que propiciam aos professores um olhar diferenciado a respeito

da avaliação.

A Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner é também considerada,

pois cada ser humano dispõe de graus variados de cada uma das inteligências

propostas pelo autor e maneiras diferentes com que elas se combinam e

organizam. Cada um de nós se utiliza dessa capacidade para resolver

problemas e criar produtos. Assim, avalia-se o aluno, buscando compreender o

fazer, agir, operar, criar, a partir da realidade vivida por eles.

A escola procura desenvolver a memória lógica, que faz com que o

aluno primeiramente, procure entender a significação e sentido do material a

ser memorizado. Isso envolve a análise do material, a percepção de seus

aspectos mais importantes, de suas relações recíprocas e de sua referência a

experiências mais amplas. Acredita-se que desenvolver a memória lógica

significa estimular o desenvolvimento do raciocínio infantil.

Percebe-se que há uma correlação entre a memória lógica e a

inteligência. O aluno que compreende fatos significativos e pode recordá-los e

utilizá-los, age de forma inteligente. O aluno atento, que compreende a

significação dos trabalhos escolares e sabe organizar seus estudos, é um

aluno que se recorda de ideias logicamente relacionadas. Considerando as

diferenças individuais e buscando um trabalho eficiente, a escola desenvolve

hábitos de estudo diário, fazendo com que o aluno perceba a importância do

estudo contínuo e saiba que a avaliação se processa no dia a dia, por meio das

produções e avanços na aprendizagem.

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Sempre que possível, a escola procura trabalhar o conteúdo de forma

interdisciplinar, fazendo com que os alunos percebam a interação entre as

áreas, contextualizando conhecimentos, de forma a garantir que haja

valorização do conhecimento construído.

As principais características de trabalho são a construção do

conhecimento em sua interação com o meio físico e social através da

linguagem, do desenvolvimento da memória lógica, do estudo diário e da

interdisciplinariedade. Acredita-se que com todos esses fatores reunidos,

através das variadas estratégias utilizadas, os alunos terão uma aprendizagem

mais significativa e poderão ser avaliados de forma mais justa, num processo

dinâmico e investigativo.

2.1 - O que diz a LDB

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB nº 9394/96, em seu Art.

24 §V, ao falar de avaliação esclarece que a mesma se dará de forma

contínua, através do acompanhamento do professor.

A verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) a avaliação contínua e cumulativa do desempenho do

aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;

c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado;

d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência

paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos.(LDB, 1996, p.14)

Esse caráter ativo da avaliação, é visto como um acompanhamento

contínuo do aluno e requer que o educador assuma uma postura de conceber a

avaliação como ação-reflexão-ação, em contraponto às práticas aplicadas de

exame e classificação.

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O que há de novo é uma visão mais efetiva da ação avaliativa, que

propõe ao professor o acompanhamento do processo de aprendizagem dos

alunos, observando-os, refletindo sobre suas manifestações, dificuldades,

replanejando decisões e ações pedagógicas.

Porém, não basta simplesmente mudar, fazer diferente, é preciso pensar

diferente sobre o que se faz.

Um processo avaliativo mediador, passa por mudanças importantes. Uma

delas é conceber a avaliação enquanto investigação. Nesse sentido a

avaliação representa um compromisso do professor em investigar e

acompanhar o processo de aprendizagem do aluno no seu cotidiano, buscando

compreender, intervir, oportunizando a expressão de ideias, sugerindo leituras

ou outras ações pedagógicas.

Outro fator importante, é a análise do desempenho dos alunos, feita

através da observação e interpretação dos seus erros e acertos, dando uma

dimensão qualitativa às suas respostas. É a análise qualitativa que fornece ao

educador os subsídios ao processo mediador.

Finalmente, o professor deve considerar os registros feitos sobre o

desempenho dos alunos durante o processo como provisórios e não definitivos.

Os alunos muitas vezes demonstram dificuldades iniciais que serão superadas

mais à frente, uma vez que estão em processo de construção do

conhecimento. Nesse sentido, cabe ao professor promover intervenções que

possibilitarão aos alunos avançarem dentro de suas hipóteses e acompanhá-

los continuamente nesses avanços. De forma que os dados qualitativos

prevaleçam sobre os quantitativos, como é citado na LDB.

Uma análise qualitativa tem o caráter descritivo, pois envolve o nível de

compreensão dos alunos e as possibilidades cognitivas que possuem. Tem por

objetivo acompanhar a trajetória individual de cada educando, de forma

contínua.

Outro ponto abordado na LDB, é a recuperação paralela durante o ano

letivo, que prevê a recuperação das dificuldades dos alunos que não puderam

ser sanadas em determinado período.

Este tipo de recuperação possibilita ao professor trabalhar com grupos

pequenos de alunos, em suas dificuldades específicas e que pode significar

muito, pela possibilidade de diálogo e de interação entre educandos e

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educadores, mas que só será efetiva a partir do conhecimento das dificuldades

individuais que o professor tiver dos alunos, feita por meio da análise qualitativa

e contínua durante o processo ensino-aprendizagem.

Portanto, a prática avaliativa nas escolas só mudará através do

compromisso dos educadores com a realidade que enfrentamos e a reflexão

constante de seu papel.

2.2 – Práticas de Avaliação na Escola Pesquisada

A escola entende que a avaliação se dá a todo instante e de diferentes

maneiras, por isso a proposta em seu Projeto Político Pedagógico, de uma

prática avaliativa continuada, que contemple os vários momentos da

aprendizagem.

Dessa forma, os professores utilizam-se de vários mecanismos que

favorecem o processo avaliativo o que permite um olhar diferenciado sobre a

construção do conhecimento pelos alunos.

As intenções avaliativas do educador definem o instrumento a ser utilizado. Somente elaborados a partir de objetivos e intenções claramente delineados é que os instrumentos serão significativos em termos do acompanhamento da construção do conhecimento. (HOFFMANN, 2001, p.106)

Cada professor tem seu jeito e estratégias próprias ao avaliar seus

alunos, porém a proposta da escola versa em se oportunizar diversas situações

de avaliação.

Nesse contexto, avaliar as expressões orais e escritas dos alunos e as

respostas construídas, acarreta reflexão e interpretação por parte dos

professores, no sentido de que fornecem indícios à intervenção pedagógica.

Além de serem orientados a registrarem avanços e dificuldades em relação à

aprendizagem, são utilizados também trabalhos em grupo com desafios à

participação de todos, tanto em atividades didáticas quanto lúdicas,

favorecendo a avaliação do aluno como um todo em suas especificidades.

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A própria LDB determina o princípio de continuidade da avaliação e o caráter qualitativo na análise da progressão do estudante, reforçando o seu caráter mediador, o que só poderá ocorrer através de muitas e variadas expressões de sentido do aluno sobre as aprendizagens que constrói em progressão.(Id Ibid)

Sendo assim, toda e qualquer manifestação dos alunos em testes,

tarefas, representa um instrumento de investigação e avaliação para o

professor.

À medida que se valoriza o diferente, sem considerá-lo melhor ou pior,

se favorece o convívio entre os alunos, priorizando o que há de mais

importante na escola que é a vida em grupo, a socialização, a cooperação.

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CAPÍTULO III

O ERRO E A INVESTIGAÇÃO DOCENTE

Frequentemente nos deparamos com situações em que alunos são

“avaliados” somente em função dos seus acertos e obtêm-se uma nota que

reflete a quantidade de questões corretas. E os erros?

Refletem que o aluno não sabe ou não aprendeu e, portanto não

alcançou os objetivos propostos. Mas, será que o erro é mesmo só isso?

Há, atualmente, uma crítica aos procedimentos e instrumentos de

avaliação utilizados na sala de aula, de maneira uniforme, que classificam os

alunos em escalas, não permitindo um olhar mais atento sobre suas

produções.

Faz-se necessário então refletir sobre a finalidade de alguns

instrumentos e repensar o processo de avaliação, buscando-se práticas

pedagógicas que contemplem a todos os alunos e não somente àqueles que

obtêm nota máxima.

Sabemos que a escola é um espaço onde convivemos com a

diversidade, portanto não se comporta mais a avaliação feita pelo professor

fundamentada na fragmentação do processo ensino-aprendizagem e na

classificação das respostas de seus alunos.

A avaliação escolar, nesta perspectiva excludente, silencia as pessoas, suas culturas e seus processos de construção de conhecimentos; desvalorizando saberes fortalece a hierarquia que está posta, contribuindo para que diversos saberes sejam apagados, percam sua existência e se confirmem como a ausência de conhecimento. (ESTEBAN, 2000, p.15,16)

Ao classificar as respostas de seus alunos em certas ou erradas, o

professor está contribuindo para reforçar essa prática histórica de exclusão e

reforçando a ideia de que seja possível avaliar de maneira homogênea.

A necessidade de se repensar a avaliação nos indica que a

classificação, o exame, já não são suficientes. Torna-se necessária uma

reconstrução da prática avaliativa, vista agora como um processo, que

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articulado ao desenvolvimento de uma prática pedagógica dialógica, favoreça a

inclusão, o respeito às diferenças, a construção coletiva.

Segundo Esteban, “Ao dialogar com o aluno, ainda que brevemente, e

ao se dispor a aprender com ele, o professor desfaz muros e restabelece laços”

(2000, p.18). Estando aberto ao outro, o professor pode, no campo do diálogo,

refletir sobre o desenvolvimento de seu aluno e sobre a avaliação que possa

ter feito.

Reconhecer a existência da diversidade, é reconhecer que os diferentes

resultados são conhecimentos construídos a partir de pontos de vista pessoais,

da bagagem que cada um possui e que portanto, não podem ser vistos sob um

único olhar.

Quando a avaliação é utilizada pelo professor para acompanhar e

reorientar o processo de construção do conhecimento do aluno, ela o levará ao

sucesso escolar. Esse aluno terá condições de elaborar seu conhecimento e

desenvolver suas potencialidades, porque o professor estará empenhado,

sabendo que o seu compromisso e o papel que representa, perante a

sociedade e frente ao seu aluno, não será só atribuir uma nota, mas criar

condições de melhoria cognitiva e social para o seu aluno avançar não só em

relação ao sucesso escolar, mas também em relação às condições de vida,

podendo contribuir para uma sociedade mais igualitária.

A construção da escola democrática deve continuar a ser um dos objetivos de todos os educadores e professores que acreditam numa sociedade mais igualitária e com menos injustiças sociais. Mas não se aceite uma escola qualquer. É necessário que essa escola, bem como os seus alunos e professores, tenham todas as condições para poder reconstruir quotidianamente o sentido de uma escola promotora das aprendizagens e dos saberes que são imprescindíveis a uma participação ativa, digna e com espírito crítico, numa sociedade cada vez mais complexa. (ESTEBAN, 2000, p. 87 e 88)

Dentro de uma proposta de escola democrática, onde pretende-se

romper com uma estrutura excludente, o professor investigador deve ser capaz

de ler nos erros, respostas que o levem a repensar o processo e sinalizem

novos pontos de partida.

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3.1 - O Que Sabe Quem Erra?

O erro nem sempre reflete uma falha no conhecimento ou ausência dele,

mas muitas vezes pontua o que o aluno sabe até aquele momento e indica

novos rumos que devem ser tomados para que o aluno consiga avançar.

O erro passa a ser visto por outro prisma, como momento do processo de construção de conhecimentos que dá pistas sobre o modo como cada um está organizando seu pensamento, a forma como está articulando seus diversos saberes. (ESTEBAN, 2000, p. 21)

O erro, visto como pontuador do que o aluno sabe, revela a

aprendizagem como um processo, assinalando também o que ele ainda não

sabe, possibilitando assim ao professor uma reorganização de sua prática

buscando oportunizar condições para que ele possa “vir a saber”. Sob essa

perspectiva, oferece ao professor a possibilidade de refletir sobre sua prática,

direcionando-a para auxiliar o aluno em suas dificuldades, buscando uma

avaliação desse processo articulado a construção do conhecimento.

Esta perspectiva de avaliação insere na prática pedagógica uma ação concreta que fomenta a ação coletiva e contribui para que o professor reflita sobre seu contexto, sobre o processo de aprendizagem/desenvolvimento de seus alunos, sobre sua atuação profissional e sobre seu próprio processo de construção de conhecimentos. (ESTEBAN, 2000,p.22)

Considerar a avaliação como prática de investigação leva o professor a

reconhecer a heterogeneidade de seus alunos, observando os diferentes

saberes que se constituem na interação entre os sujeitos. O erro passa a

representar indícios do processo de construção de conhecimentos, que

passam por etapas e tempos diferentes de acordo com cada um.

O erro aponta aspectos significativos para o processo de investigação ao sinalizar que a criança está seguindo trajetos diferentes (originais, criativos, novos, impossíveis?) dos propostos e esperados pelo professor. (Id. Ibid)

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Cabe ao professor procurar compreender como se dá o processo de

construção do conhecimento, direcionando sua prática para que favoreça este

processo.

A avaliação como prática de investigação propõe romper com

concepções arraigadas, proporcionando a contextualização de conhecimento

em sintonia com o processo ensino-aprendizagem. Facilitando também

resgatar conteúdos e alunos em dinâmicas que possibilitem ampliar

conhecimentos, sabendo que cada um tem seu tempo e percorre caminhos

diferentes.

O objetivo é que todos possam ampliar os conhecimentos que possuem,

com a ajuda do coletivo, utilizando diferentes recursos e nesse sentido, avaliar

as respostas construídas pelos alunos acarreta a reflexão sobre a interpretação

das condições oferecidas para se obter tais respostas.

Para acompanhar cada aluno, em seus avanços ou entraves, é

necessário oportunizar diversas atividades avaliativas que num conjunto

favorecerão ao professor uma visão processual e complementar dos

conhecimentos expressos pelos alunos.

Faz-se necessário também neste momento, que se estabeleça uma

relação de diálogo e troca entre educando e educador, no sentido de que o

aluno tome consciência sobre a qualidade de suas respostas e reflita sobre seu

processo de aprendizagem. O estabelecimento dessas relações se faz no

cotidiano da sala de aula, em comentários que o professor tece sobre testes ou

tarefas, na discussão que estabelece em relação às diferentes respostas dos

alunos, abrindo espaço para perguntas ou mesmo nas análises individuais, em

duplas ou em grupos.

3.2 - O Papel do Professor Investigador

O professor investigador interroga e interroga-se. Parte da premissa de

que a investigação deve ser contínua para o conhecimento dos processos de

aprendizagem, mas que também revela-se importante instrumento de reflexão,

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reformulação e aperfeiçoamento. Muitas vezes, é preciso reconstruir o olhar,

redimensionar a prática, arriscar-se para permitir a mudança.

Investigando o processo de ensino-aprendizagem o professor redefine o sentido da prática avaliativa. A avaliação como um processo de reflexão sobre e para a ação contribui para que o professor se torne cada vez mais capaz de recolher indícios, de atingir níveis de complexidade na interpretação de seus significados, e de incorporá-los como eventos relevantes para a dinâmica ensino-aprendizagem. (ESTEBAN, 2000, p.24)

Quando se propõe a investigar o processo de construção de

conhecimentos de seus alunos, o professor vai compreendendo que cada um

tem o seu próprio meio de construir, o que torna inválido um só método de

ensinar e avaliar. Compreender a heterogeneidade é ver o que antes não se

via e auxiliar os alunos ao avanço e ao sucesso.

Reportando-nos ao século XVII, segundo Esteban, “Comenius, ao

considerar o exame um problema metodológico, convida a repensar a prática

pedagógica, a melhor ensinar para que “todos possam aprender tudo” (2000,

p.32). Para ele, se o aluno não aprendesse, havia que se repensar o método,

para que a prática docente se adequasse ao aluno. Era preciso procurar

compreender como os alunos compreendem o que lhes é ensinado para numa

relação dialógica, em que dois sujeitos interagem, um pudesse influir e auxiliar

o outro.

Um professor comeniano hoje, é aquele que vê a necessidade da

investigação em seu cotidiano pedagógico, que se sente incomodado com os

resultados de suas avaliações, que procura meios, maneiras de melhor ajudar

seus alunos atuando de forma mais favorável, consolidando também um

vínculo de afeto com seus alunos.

Porém, essa mudança deve acontecer primeiramente de forma interna,

partindo de um incômodo vivenciado pelo professor em relação às práticas

avaliativas que utiliza. A partir daí, o professor deve refletir, procurar reconstruir

seu olhar, substituir crenças e permitir-se arriscar.

Esse movimento de transformação e de visão do processo avaliativo,

sugere um novo sentido para a escola.

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A avaliação está a serviço da ação, colocando o conhecimento obtido, pela observação ou investigação, a serviço da melhoria da situação avaliada. Observar, compreender, explicar uma situação não é avaliá-la; essas ações são apenas uma parte do processo. Para além da investigação e da interpretação da situação, a avaliação envolve necessariamente uma ação que promova a sua melhoria. (HOFFMANN, 2001, p. 17)

Portanto, uma avaliação a serviço da ação implica não só a verificação e

o registro de dados do desempenho dos alunos, mas a observação

permanente das manifestações de aprendizagem para definir as ações

educativas que possibilitem avanços coletivos e principalmente individuais.

Nesse sentido, o professor assume o papel de investigador, de

organizador de experiências significativas de aprendizagem. Seu papel é o de

agir, criando e recriando alternativas pedagógicas adequadas, partindo das

observações e reflexões que fez sobre seus alunos, em situações individuais e

em grupo, pois entende-se que o conhecimento também se dá em situações de

interação.

O professor investigador é por essência um profissional reflexivo. A

reflexão tem como principal objetivo fornecer ao professor informações sobre

sua ação, numa tentativa de compreender-se na sua atuação como professor e

também procurando melhorar o ensino.

A prática é sujeita a um processo constante de idas e vindas, que

conduz a transformações e a investigações futuras. Este processo

desenvolvido pelo professor não é solitário, mas coletivo, pois as interrogações

surgem num cenário de diálogo com o grupo.

Um professor que não reflete sobre o ensino, atua de acordo com a

rotina, aceitando a realidade da escola e os seus esforços encaminham-se no

sentido de encontrar as soluções que outros definiram para ele.

O professor reflexivo é o que busca o equilíbrio entre a ação,

pensamento e uma nova prática que implica sempre numa investigação sobre

sua experiência, suas crenças e valores. Para que este processo tenha lugar é

necessário que o professor questione e reflita sobre situações de sala de aula e

promova discussões em grupo.

O desenvolvimento de uma prática reflexiva e investigativa confere

poder emancipatório ao professor e não deve ser dissociada do contexto social

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e cultural em que se insere a escola. Implica acima de tudo um desejo ativo de

transformação, pois o professor reflexivo é alguém que atribui importância a

questões pontuais da educação, preocupa-se com as finalidades e

consequências de suas ações e de seus alunos, com a racionalidade dos

métodos e do currículo e acima de tudo com a sua prática em sala de aula.

Incomoda-se e busca autonomia e melhoria da sua prática num quadro ético de

valores, na valorização da construção da cidadania e de indivíduos críticos e

atuantes na sociedade.

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CAPÍTULO IV

RESSIGNIFICANDO A AVALIAÇÃO NA ESCOLA: O

PAPEL DO PSICOPEDAGOGO

Atualmente, acompanhamos em diversas conversas entre educadores,

questionamentos em relação à avaliação escolar, sua real função,

aplicabilidade e resultados. Entretanto, para que a avaliação cumpra sua

função, é preciso reconhecer alguns princípios fundamentais, tais como:

técnicas, instrumentos e recursos adequados a cada situação.

A ação do psicopedagogo nas escolas se dará, sobretudo em uma

perspectiva preventiva e institucional.

Em relação à sua atuação, o psicopedagogo poderá construir protocolos

de acompanhamento dos alunos, para que em contato constante com seus

professores, possa auxiliar no diagnóstico e na intervenção adequados a cada

especificidade, superando as dificuldades que impeçam os alunos de avançar

em suas aprendizagens.

O professor que não avalia a ação educativa, no sentido investigativo,

instala sua prática em verdades absolutas, enrijecendo-a, e acaba negando ao

aluno o papel que realmente lhe cabe no processo de aprendizagem, que é o

de ser sujeito, aquele que constrói o conhecimento.

Percebe-se aí a importância de se criar espaços na instituição escolar

onde o professor possa questionar, refletir e avaliar sua prática, falar dos seus

receios. É preciso investir, incentivar a qualificação dos professores, a formação

continuada, a auto-avaliação, a participação efetiva nos projetos da instituição

escolar.

Em parceria com a equipe gestora, o psicopedagogo atuará no sentido

de contribuir para melhorar as decisões de natureza educacional, o processo de

ensino e aprendizagem, o planejamento, o processo avaliativo da instituição

escolar, onde o aluno deixe de ser visto apenas como objeto da avaliação.

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A ação avaliativa mediadora se desenvolve em benefício ao educando e dá-se fundamentalmente pela proximidade entre quem educa e quem é educado, pela curiosidade de conhecer a quem educa e conhecendo a descoberta de si próprio. Conhecimento das possibilidades dos educandos de contínuo vir a ser, desde que lhe sejam oferecidas as oportunidades de viver muitas e desafiadoras situações de vida, desde que se confie neles diante dos desafios que lhes oportunizamos. Posturas de avaliação? Posturas de vida! (PORTO, 2009, p.95)

Logo, a criação de espaços de diálogo entre alunos e professores, passa

a fazer parte da atuação do psicopedagogo, que poderá também organizar

encontros, momentos de estudo, aperfeiçoamento de práticas, troca de

experiências, no sentido de que a avaliação deixe de ser vista como algo

pontual, e passe a ser um processo que acontece continuamente, fruto de

observação, investigação e construção de conhecimentos.

O desenvolvimento da intervenção psicopedagógica precisa também

privilegiar a autoria do próprio grupo de educadores no tocante a elaboração de

novas estratégias em relação às aprendizagens. Sua atuação na instituição é

também voltada a observação e a (re)construção coletiva.

À medida, porém, que o observador procura ver e compreender melhor o que se passa ali, ele acaba percebendo o sentido de tudo, a tal lógica singular de organização e funcionamento da Escola da Ponte. E percebe que a filosofia subjacente ao projeto pedagógico daquela comunidade é extraordinariamente simples e coerente com tudo o mais. Ele percebe que naquela escola o currículo não é o professor, mas o aluno. A educação naquela escola, mais do que um caminho, é um percurso – e um percurso feito à medida de cada educando e, solidariamente, partilhado por todos. O resto são estratégias, são instrumentos, são meios. (ALVES, 2001, p.17)

A avaliação só tem significado se juntos entendemos o problema e

encontramos a solução. Para isso, é fundamental ao psicopedagogo que crie

vínculos com a equipe de professores, desenvolvendo parcerias onde a troca

de ideias, sugestões, dúvidas, considerações, faça parte do cotidiano num

processo de intervenções que oportunizem ao aluno o avanço de suas

aprendizagens e uma avaliação mais coerente com os saberes que possui

sendo, portanto mais justa.

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Desta forma, a ação do psicopedagogo estará centrada na prevenção do

fracasso e das dificuldades escolares, não só do aluno como também dos

educadores e demais envolvidos neste processo.

4.1 - Problematizar para avaliar

Avaliar é essencialmente questionar. É observar e promover

experiências educativas que signifiquem provocações intelectuais significativas

no sentido do desenvolvimento do aluno. Dessa forma, as perguntas mudam

radicalmente de lugar e de importância no contexto escolar. Enquanto na

avaliação tradicional elas ocupam lugar de verificação, comprovação, numa

premissa de que primeiro o professor ensina e depois pergunta, numa visão

mais recente, onde o professor tem uma concepção de investigador, as

perguntas assumem características de mobilização, de provocação.

Professores e alunos questionam-se, buscam informações pertinentes,

constroem conceitos, resolvem problemas.

Avaliar é, então, questionar, formular perguntas, propor tarefas desafiadoras, disponibilizando tempo, recursos, condições aos alunos para a construção das respostas. Os conteúdos não deixam de existir, eles são mais do que nunca importantes, assim como a visão interdisciplinar, e é compromisso do professor sugerir e disponibilizar variadas fontes de informação. (HOFFMANN, 1996, p. 73)

Entende-se, portanto, que faz parte das atribuições do professor, ao

elaborar seu planejamento, estabelecer condições para disponibilizar aos

alunos muitas e diversificadas oportunidades de pensar, reformular suas

hipóteses, na busca por avanços perpassando as dificuldades em que se

encontram.

Uma avaliação nesta perspectiva requer o acompanhamento do

psicopedagogo institucional na construção do conhecimento que se faz a cada

dia, a cada intervenção, a cada problematização que o professor lança para

desestabilizar concepções prévias e possibilitar a reflexão do aluno e a

construção de novos conhecimentos.

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A dinâmica de acompanhamento do professor pelo psicopedagogo se

dará na articulação entre as experiências educativas em grupo e no

acompanhamento das construções individuais.

Despertar o desejo de aprender nos alunos, é compromisso de todo

educador, que se utilizará de estratégias para instigá-los, questioná-los,

envolvê-los, criando um cenário educativo em suas aulas de forma a tornar os

alunos ativos, participantes e curiosos. Uma vez despertado o interesse, eles

irão viver diversificadas experiências que poderão favorecer ou não a

construção do conhecimento, conforme as oportunidades ou o tempo de cada

um.

Caberá então ao psicopedagogo instigar o professor, a partir para a

observação, investigação, acompanhando o aluno num processo que envolve

ação-reflexão-ação, promovendo intervenções que não serão facilitadoras da

aquisição do conhecimento, mas sim desafiadoras e possíveis de se realizar,

levando o aluno a buscar a resolução de situações-problema.

Esses encaminhamentos pedagógicos são feitos no sentido de respeitar

as diferenças e necessidades de cada aluno, sabendo-se que o conhecimento

percorre diversos caminhos de pessoa para pessoa, porém não deixando

também de valorizar o que há de mais importante na escola que é a vida em

grupo, a socialização, a cooperação.

Segundo Hoffmann (1996), “Mediar a mobilização exigir-lhe-á manter-se

flexível, atento, crítico sobre o seu planejamento. Propor, sem delimitar;

questionar e provocar, sem antecipar respostas possíveis; articular novas

perguntas à continuidade observada dos estudantes” (p.86). Mas, será essa

uma tarefa simples ao educador?

Acredita-se que não. Há muito tempo o professor é visto como único

detentor do saber, transmite conhecimentos aos seus alunos e “avalia-os” para

certificar-se de que aprenderam. Ultimamente, essa concepção não atende

mais a demanda de nossos alunos, pois a cada ano que passa recebemos

alunos mais críticos, indagadores, desejosos de mais conhecimento e

antenados com o mundo.

Nesse sentido, o papel psicopedagogo aliado ao professor é o de tentar

conhecê-los cada vez melhor, buscando questões que verdadeiramente os

provoquem a agir, partindo muitas vezes de suas próprias questões, propondo

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em conjunto situações que lhes sejam problemáticas a ponto de despertar a

curiosidade e consequentemente a atividade.

Para muito além da visão tradicional, a prática do professor

problematizador, envolve a adequação de novas propostas e situações-

problema suscitados às necessidades dos alunos, de forma que possam se

envolver na busca de novos conhecimentos porque lhe são significativos, ou

seja, estão relacionados a desafios e interesses possíveis de ser enfrentados

em vista de seu desenvolvimento.

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ANÁLISE QUALITATIVA DOS DADOS

Considerando que a avaliação deve ser uma prática constante no dia a dia

do professor e que, para que realmente seja justa e reflita a aprendizagem dos

alunos, deva ser uma prática investigativa, orientada pela observação contínua

das atividades aplicadas, foi elaborado um questionário com perguntas

pertinentes ao tema e aplicado aos professores do 1º e 2º segmentos do

Ensino Fundamental na Escola pesquisada.

A seguir, análise das respostas obtidas com a aplicação dos

questionários.

1) Para você avaliar é:

Na escola onde foi aplicado o questionário, 80% responderam ser

acompanhar o aluno em seus progressos e fracassos no dia a dia, enquanto

que 20% responderam ser observar como o aluno está aprendendo.

Segundo Hoffmann (2001) mediação é aproximação, diálogo,

acompanhamento do jeito de ser e aprender de cada educando, dando-lhe a

mão, com rigor e afeto, para ajudá-lo a prosseguir sempre, tendo ele a opção

de escolha de rumos em sua trajetória de conhecimento. Acompanhá-lo, passo

a passo, exige conhecê-lo enquanto sujeito, protagonista de sua história,

produtor do seu conhecimento.

0

50

100

%

0 020

80

atribuir uma nota

verificar o que o aluno sabe

observar como o aluno está aprendendo

acompanhá-lo em seus progressos e fracassos

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Ao pensar em avaliação é importante que o professor saiba que esta se

fundamenta na aprendizagem dos alunos e, portanto deve se pautar no

acompanhamento de seus progressos e fracassos para que possa também

reorientar o trabalho docente. Este acompanhamento se faz através de

observações constantes das produções dos alunos.

2) Ao avaliar os alunos, seu objetivo é:

Quanto aos objetivos ao avaliar, 50% responderam ser ajudar os alunos

a perceberem suas dificuldades e 50% assinalaram ser observar, acompanhar

e intervir com os alunos utilizando-se de estratégias para ajudá-los a avançar,

verificando o que aprenderam para se ter uma boa aprendizagem.

Como afirma Hoffmann (2001) os estudos contemporâneos em relação à

avaliação da aprendizagem, apontam novos rumos teóricos, tendo como

diferencial básico o papel interativo do avaliador no processo, influenciando e

sofrendo influências do contexto avaliado.

O professor que observa seus alunos durante o processo é capaz de

utilizar-se de estratégias diferenciadas, porém há alunos que nem sempre

avançam como o esperado e para esses casos há que se procurar meios de

atendê-los para que caminhem e atinjam os objetivos.

Para tanto, o professor assume o papel de mediador da aprendizagem,

lançando atividades desafiadoras, porém possíveis de serem realizadas, num

processo contínuo de ação-reflexão-ação.

0

20

40

60

%

0 0

50 50

identificar os alunos fracos

cobrar conteúdos que foram ensinados

ajudar os alunos a perceberem suas dificuldades

outro

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Nessa interação desenvolvida entre alunos e professor, caberá ao

mesmo oportunizar situações que façam com que os alunos que tenham mais

dificuldades possam avançar em suas hipóteses e construir seus

conhecimentos.

3) Esse objetivo traçado ao avaliar, lhe permite:

Quanto aos objetivos traçados ao avaliar, 80% responderam que estes

lhe permitem buscar soluções que propiciem a aprendizagem de todos e 20%

pontuaram que permitem refletir sobre sua prática.

Segundo Antunes (2002) a avaliação tem como pressuposto oferecer ao

professor oportunidade de verificar, continuamente, se as atividades, métodos,

procedimentos, recursos e técnicas que ele utiliza estão possibilitando ao aluno

o alcance dos objetivos propostos. Assim, o professor avalia a si, o aluno e,

ainda, o processo ensino-aprendizagem.

Traçar objetivos e seguir metas é fator essencial para nortear o trabalho

do professor, porém cabe ao mesmo perceber se os objetivos traçados estão

sendo atingidos, em que escala e reorientar sua prática, redefinindo-os caso

perceba que os mesmos não foram totalmente atingidos. Isto só é possível se o

professor observar, acompanhar e refletir sobre os resultados e sobre sua

prática, numa busca constante de significados para suas ações e para as de

seus alunos.

0

20

40

60

80

%

0 0

80

20

classificar para aprovar ou reprovar

identificar as dificuldades

buscar soluções que propiciem a aprendizagem

refletir sobre sua prática

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4) Como você verifica o desempenho do seu aluno?

Quando questionados sobre a forma como verificam o desempenho de

seus alunos, 80% responderam ser através de observações feitas do processo

de aprendizagem, 10% promovem trabalhos em grupo, 5% utilizam-se de

testes pontuais e 5% aplicam provas ao final do bimestre.

Para Antunes (2002) A avaliação só será eficiente e eficaz se ocorrer de

forma interativa entre professor e aluno, ambos caminhando na mesma

direção, em busca dos mesmos objetivos. Uma avaliação precisa se alicerçar

em objetivos claros, simples, precisos, que conduzem, inclusive, à melhoria do

currículo.

Por meio de observações feitas durante todo o processo de

aprendizagem, é possível ao professor desenvolver atividades diferenciadas,

que atendam as diferentes dificuldades, além da utilização de trabalhos em

grupo que favorecem a interação, propiciando assim o alcance dos objetivos.

Nessas situações, os alunos interagem entre si e com o professor que

atua como mediador e também problematizador, na medida em que participa

das discussões tecidas nos grupos, observando também o desenvolvimento de

cada aluno.

Importante ressaltar aqui que os testes e provas têm seu papel no

contexto avaliativo, porém cabe ao professor uma melhor utilização destes

instrumentos, levando-se em conta que não devem ser o único instrumento

0

20

40

60

80

%

5 5 10

80

aplica provas ao final do bimestre

utiliza-se de testes pontuais

promove trabalhos em grupos

através de observações feitas do processo de aprendizagem

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utilizado, bem como que é preciso interpretá-los, buscando realizar também

uma análise qualitativa além da quantitativa que apresentam.

5) Se o desempenho do seu aluno não vai bem, você:

Em relação ao procedimento adotado em relação ao desempenho dos

seus alunos quando não vão bem, 80% assinalaram que promovem situações

em sala de aula que os auxiliam no avanço da aprendizagem, enquanto que

20% sinalizaram atender individualmente o aluno para solucionar o problema.

Segundo Hoffmann (2001) o professor assume o papel de investigador,

de esclarecedor, de organizador de experiências significativas de

aprendizagem. Seu compromisso é o de agir refletidamente, criando e

recriando alternativas pedagógicas adequadas a partir da melhor observação e

conhecimento de cada um dos alunos, sem perder a observação do conjunto e

promovendo sempre ações interativas.

Este professor, que assume em sua prática pedagógica, o papel de

investigador, é um professor que avalia para promover, pois compreende a

finalidade dessa prática a serviço da aprendizagem, da melhoria de ação

pedagógica, visando à promoção moral e intelectual dos alunos. Tem em vista

o desenvolvimento integral do aluno e percebe seu papel nesse contexto,

adotando um compromisso em conhecer e respeitar as diferenças.

0

50

100

%

5 5 10

80

atende-o individualmente para solucionar o problema

encaminha-o ao Orientador Pedagógico

comunica aos responsáveis

promove situações que o auxiliarão a avançar na aprendizagem

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6) O que você valoriza mais na avaliação dos seus alunos?

Quanto ao que valorizam mais na avaliação dos seus alunos, 65%

consideram o desenvolvimento de hábitos, atitudes e habilidades, enquanto

35% a participação dos mesmos durante as aulas.

Como afirma Hoffmann (2001) uma avaliação a serviço da ação tem por

objetivo a observação permanente das manifestações de aprendizagem para

proceder a uma ação educativa que otimize os percursos individuais.

Assim, o professor é capaz de mostrar suas qualidades de educador,

trabalhando com propósitos bem definidos na busca do desenvolvimento das

capacidades físicas e intelectuais dos alunos com vistas ao ingresso e

participação na vida social.

A compreensão de seu papel nesse contexto, faz com que o professor

compreenda os novos rumos da ação avaliativa, exige uma reflexão constante

por parte do professor e de todos os envolvidos, porque torna necessário a

retomada de concepções de democracia, de cidadania e essa compreensão

exige assumir compromissos.

O professor ao comprometer-se com uma prática avaliativa que

compreende além da aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento de

hábitos, habilidades e atitudes, compromete-se acima de tudo com o

desenvolvimento global de seus alunos, assume para si a função de educador

e torna significativa sua prática pedagógica.

0

50

100

%

35

0 0

65

a participação durante as aulas

o resultado dos testes e provas

o resultado dos trabalhos

o desenvolvimento de hábitos, atitudes e habilidades

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7) Como você definiria a sua avaliação?

Quando questionados sobre a sua definição de avaliação, 90%

responderam que ela é formativa, tipo de avaliação contínua que se dá no dia a

dia, no acompanhamento da aprendizagem do aluno e 10% que é somatória,

onde o aluno é avaliado em diferentes situações e faz-se uma soma dos

resultados.

Como afirma Esteban (2000) é a avaliação formativa que lhes possibilita

acompanhar a par e passo as aprendizagens dos alunos, que permite ajudá-los

no seu percurso escolar cotidiano e que é talvez a única modalidade de

avaliação fundamentada no diálogo e congruente com um reajustamento

contínuo do processo de ensino, para que todos cheguem a alcançar com

sucesso os objetivos definidos e a revelar as suas potencialidades criativas.

Este tipo de avaliação é realizada com o propósito de informar ao

professor e ao aluno sobre os resultados da aprendizagem, durante o

desenvolvimento das atividades escolares.

Nesse sentido, a avaliação serve como parâmetro que revela o que o

aluno já sabe, os caminhos que percorreu para alcançar os conhecimentos,

seu processo de construção, além de pontuar o que ainda não sabe, revelando

ao professor a necessidade de replanejar seus objetivos e reorientar sua

prática.

0

50

100

%

010

90

0

classificatória, ao final do bimestre, atribuindo uma nota

somatória, em diferentes situações, com soma de resultados

formativa, avaliação contínua, acompanhamento da aprendizagem do aluno não parei para pensar neste aspecto

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Por ser contínua, exige também bastante empenho do professor, no

sentido de dispor algum tempo para realizar registros, elaborar estratégias,

planejar. Contudo, sabe-se que se caracteriza como um tipo de avaliação mais

justa, pois permite maior conhecimento dos alunos e de seus diferentes

percursos e tempos de aprendizagem.

8) Você acredita ser possível avaliar os alunos a partir de uma visão

diferenciada do professor, onde se observe o que cada um sabe?

Finalmente, quando questionados se acreditam ser possível avaliar os

alunos a partir de uma visão diferenciada, onde o professor observe o que cada

aluno sabe, 85% responderam que sim, afirmando que é necessário que o

professor conheça cada aluno, suas descobertas e fracassos para que possa

utilizar estratégias diferenciadas e auxiliá-lo no processo ensino-aprendizagem,

refletindo constantemente sobre sua prática, 15% assinalaram talvez,

justificando que é preciso para tal que o professor tenha seus objetivos muito

bem definidos, sabendo o que é primordial para o aluno e que durante o

processo ele possa vir a adquirir a prontidão necessária ao seu aprendizado,

utilizando atividades diversificadas.

Para Esteban (2000) reconhecer a existência da diversidade significa

que os vários conhecimentos não são formas “aceitáveis” para se atingir ao

“verdadeiro” conhecimento, a diferença nos mostra que os resultados variados

0

20

40

60

80

100

%

85

015

0

sim não talvez não sei

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são conhecimentos construídos a partir de óticas diferentes, articulando de

maneira peculiar os fragmentos de conhecimento que cada um possui.

Confirmando todas as colocações feitas, os professores encerram a

pesquisa acreditando ser possível avaliar os alunos a partir de uma visão

diferenciada, onde o professor possa observar o que cada aluno sabe para

então emitir um “valor”.

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CONCLUSÃO

Ao analisar as respostas obtidas com a aplicação dos questionários, pude

observar que os professores demonstram uma preocupação muito grande com

o desempenho de seus alunos, valorizando também o desenvolvimento de

hábitos, habilidades e atitudes.

A maioria dos professores desenvolve uma avaliação contínua, de acordo

com o Projeto Político Pedagógico da escola caracterizado pelo

acompanhamento diário das atividades dos alunos, preocupando-se em criar

situações que favoreçam o avanço da aprendizagem quando percebem que os

mesmos não estão conseguindo avançar.

Para os professores que responderam ao questionário, é importante ainda

acompanhar seus alunos em seus progressos e fracassos, refletindo sobre sua

prática, na busca de soluções que propiciem a aprendizagem de todos.

Este perfil dos professores questionados reflete uma tendência atual, que

direciona a avaliação para uma prática mais investigativa, caracterizada pela

observação, acompanhamento e valorização do que cada aluno sabe. Deste

modo, o professor passa a conhecê-los melhor, identificando suas dificuldades

e intervindo na busca de melhorias.

Sob esse ponto de vista, acredita-se que os docentes realmente tenham

um olhar diferenciado, um olhar que observe o qualitativo, que reconheça

mesmo nos erros, algo de positivo e que possa servir de objeto de estudo para

direcionar ou redirecionar suas práticas. Um olhar reflexivo que contemple cada

aluno como único, respeitando seus saberes, seu tempo.

Um professor com esta concepção assume, portanto, o papel de

professor investigador que orienta sua prática, não só a favor dos objetivos

previamente estabelecidos, mas que orienta seus alunos sempre que percebe

ser necessário, atende às suas dificuldades, buscando dessa forma dar

significado e valoração ao que faz.

Segundo Hoffmann (2001) Quando o professor estabelece uma relação

de confiança com o estudante e troca com ele mensagens pertinentes e

significativas sobre seus processos, os primeiros passos estão dados na

direção de uma postura reflexiva de ambos.

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Um educador reflexivo é mediador de uma educação reflexiva, na

medida em que compartilha com o aluno sentimentos e descobertas, enfrenta

com ele dúvidas e obstáculos, dá e recebe sugestões. Não apenas aponta a

direção, mas acompanha-os durante o percurso, é um professor formador.

Sendo assim, é possível avaliar os alunos de forma mais justa, incluindo-

os no processo ensino-aprendizagem, procurando dirimir anos de exclusão que

só fazem aumentar a evasão escolar.

O papel da avaliação então passa a ser o de formadora, no sentido que

orienta, conduz, oportuniza situações, leva a experimentar, desenvolve o senso

crítico, forma opiniões e encaminha os alunos à cidadania, a ocuparem seu

lugar na sociedade.

Portanto, conclui-se que a pesquisa realizada atingiu os objetivos

propostos, pois confirma que a prática avaliativa atualmente não comporta mais

um olhar único e pontual. Ao contrário, pode e deve ter um caráter

investigativo, observador, que possibilite ao professor direcionar sua prática

para a busca de soluções individuais e coletivas, no sentido de que oportuniza

conhecer melhor os alunos e busca no diálogo e na interação maneiras de

realizar e conduzir aprendizagens mais significativas e avaliações mais justas.

Espera-se que a leitura desta pesquisa possa contribuir para a reflexão de

outros educadores em relação ao sentido que a avaliação escolar tem em suas

práticas revelando outro olhar que possibilite a revisão de conceitos,

direcionando o agir a situações mais contextualizadas e que os resultados se

tornem mais justos e coerentes para alunos e professores.

É na vivência do cotidiano, no diálogo, na busca e na possibilidade de

tornar a escola menos excludente que devemos dedicar os nossos esforços,

pois se a escola estiver a serviço da aprendizagem dos alunos, certamente, se

transformará significativamente, pois passará a valorizar a formação do

cidadão, a promoção social e a coletividade.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Questionário.

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ANEXO 1

Este questionário faz parte de uma pesquisa que desenvolvo sobre a

avaliação escolar como processo de investigação do professor em sua prática

docente e gostaria de saber sua opinião.

Responda, assinalando apenas a alternativa que mais se encaixa na sua

prática pedagógica.

1) Para você avaliar é: ( a ) atribuir uma nota. ( b ) verificar o que o aluno sabe. ( c ) observar como o aluno está aprendendo. ( d ) acompanhá-lo em seus progressos e fracassos no dia-a-dia. 2) Ao avaliar os alunos, seu objetivo é: ( a ) identificar os alunos fracos. ( b ) cobrar conteúdos que foram ensinados. ( c ) ajudar os alunos a perceberem suas dificuldades. ( d ) outro. Qual? __________________________________________ 3) Esse objetivo traçado ao avaliar, lhe permite: ( a ) classificar para aprovar ou reprovar. ( b ) identificar as dificuldades. ( c ) buscar soluções que propiciem a aprendizagem de todos. ( d ) refletir sobre sua prática. 4) Como você verifica o desempenho do seu aluno? ( a ) aplica provas ao final do bimestre. ( b ) utiliza-se de testes pontuais. ( c ) promove trabalhos em grupo. ( d ) através de observações feitas do processo de aprendizagem do aluno. 5) Se o desempenho do seu aluno não vai bem, você: ( a ) atende-o individualmente para solucionar o problema. ( b ) encaminha-o para o Orientador Pedagógico. ( c ) comunica aos responsáveis. (d ) promove situações em sala de aula que o auxiliarão no avanço da aprendizagem.

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6) O que você valoriza mais na avaliação dos seus alunos? ( a ) a participação durante as aulas. ( b ) o resultado dos testes e provas. ( c ) o resultado dos trabalhos. ( d ) o desenvolvimento de hábitos, atitudes e habilidades. 7) Como você definiria a sua avaliação? ( a ) Classificatória, é feita ao final do bimestre, atribuindo uma nota. ( b) Somatória, o aluno é avaliado em diferentes situações e faz-se uma soma dos resultados. (c ) Formativa, avaliação contínua que se dá no dia-a-dia, no acompanhamento da aprendizagem do aluno. (d ) Não parei para pensar nesse aspecto. 8) Você acredita ser possível avaliar os alunos a partir de uma visão diferenciada do professor, onde se observe o que cada um sabe? ( a ) sim. ( b ) não. ( c ) talvez. ( d ) não sei. Justifique sua resposta:

_______________________________________________________________

______________________________________________________________

Agradeço a sua colaboração.

Ana Claudia da Costa Paula Ribeiro. Pós-graduanda em Psicopedagogia