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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
PÓS-GRADUAÇÃO
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO
DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR
A EDUCAÇÃO NA RELIGIÃO
A EDUCAÇÃO E A RELIGIÃO PEDAGÓGICA NO BRASIL
THÉO COSTA FILHO
Monografia Apresentada à Universidade Candido Men-
des, como requisito parcial à obtenção do Título de Espe-
cialista em Docência do Ensino Superior, sob a orienta-
ção da Professora Maria Esther.
Rio de Janeiro, 2002
Aos meus mestres especiais,
meus filhos Bruno, Fernanda e Théo.
E à incansável Estela, minha esposa.
“Os únicos demônios deste mundo são aqueles
que estão em nossos próprios corações, e é aí
que todas as nossas batalhas devem ser travadas”. Mahatma Gandhi
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................
INTRODUÇÃO ............................................................................
CAPÍTULO 1 - A EDUCAÇÃO EM DIVERSAS CULTURAS .
1.1 - Helenista .....................................................
1.2 - Grega ..........................................................
1.3 - Hebreu ........................................................
CAPÍTULO 2 - O PROCESSO EDUCATIVO NA TRADIÇÃO
HEBRAICA .........................................................
CAPÍTULO 3 - FORMAS INSTITUCIONAIS DO PROCESSO
EDUCATIVO .......................................................
CAPÍTULO 4 - O PROCESSO EDUCATIVO E A
PRESERVAÇÃO DE UM POVO ......................
CAPÍTULO 5 - UMA TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO ........
CAPÍTULO 6 - A EDUCAÇÃO A PARTIR DO
CRISTIANISMO. UM BREVE HISTÓRICO ...
6.1 - As características Filosóficas do Cristianismo
6.2 - Características Gerais do Pensamento Cristão
6.3 - A Filosofia Medieval e o Cristianismo........
6.4 - Conflitos e Conciliação entre a Fé e Saber .
6.5 – Patrística .....................................................
6.6 – Escolástica ..................................................
CAPÍTULO 7 - A SOCIEDADE E SEU SISTEMA
EDUCACIONAL ..................................................
7.1 - Dominadores e Carismáticos ...........................
7.2 - As Instituições mais Antigas ...........................
7.3 - Escolas e Igrejas: Proximidade e Conflito .....
7.4 - Conhecimentos Últimos x Conhecimentos
Práticos ........................................................
7.5 - Monopólio, Meritocracia e Hierarquia .........
7.6 – Acesso ..........................................................
7.7 - Autonomia e Integração ................................
7.8 - Tensões e Reformas ......................................
7.9 Novas funções para novos Tempos ................
CAPÍTULO 8 - O CUSTO DA EDUCAÇÃO NA
REORGANIZAÇÃO DEMOCRÁTICA
DA SOCIEDADE BRASILEIRA .........................
CAPÍTULO 9 – A EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO ...........................
CAPÍTULO 10 – O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA
REORGANIZAÇÃO DEMOCRÁTICA DA
SOCIEDADE BRASILEIRA .............................
CONCLUSÃO .................................................................................
ANEXOS .........................................................................................
BIBLIOGRAFIA ............................................................................
RESUMO
O Brasil precisa de maneira objetiva , experimentar novos caminhos que sir-
vam, entre outras coisas, como moldura ao renascimento cabal da educação
superando suas contradições estruturais e seus paradigmas.
Precisamos de uma forma original para pensar a realidade da educação com
seus modelos e teorias. Precisamos, sem deixar de ser o que somos, de um
ponto de encontro que seja um espaço entre o “think-tank” americano e a es-
cola d relexão à francesa. Uma ação empreendedora negocial que entenda o
social como parte da riqueza responde em boa parte ao que necessitamos.
Qualquer mudança de modelo, naturalmente, requer competência conceitual.
Seria leviano mudar para mudar. Nada é mais prático que uma boa teoria.
Temos que buscar clareza conceitual. E com oportunidade, podemos dizer
que tempos de ajuste na educação significam também tempos de ajuste con-
ceitual, questões impostergáveis.
A verdade que estamos nos dirigindo para uma economia e educação “Pós-
Fordistas”. As políticas centralizadas de desenvolvimento educacional, ora
em mudança, objetivaram dar suporte ao esquema “Fordista” de produção que
contemplava, por excelência, ciclópicos programas educacionais.
O desprezo pela educação desde o descobrimento e a modelagem conceitual
acabou estimulando enorme concentração de renda e poder político, tendo
sido determinante na criação deformada de um país educacionalmente assimé-
trico e socialmente injusto. Possivelmente ainda teremos um largo período de
convivência com esta realidade, que para ser superada deverá ser contraposta
por uma estratégia educacional de desenvolvimento pleno das potencialidades
individuais.
Temos uma estrutura social com manchas expressivas de pobreza e um legado
econômico-social e educacional onde mesclou-se o autoritarismo e a moder-
nização conservadora que acabou por produzir uma temária concentração de
renda e oportunidade de acesso ao ensino.
O projeto geopolítico educacional da modernidade conservadora elaborado
nos gabinetes centralizados nos “anos de chumbo”trouxe efetivamente pro-
gresso. Mas, embuçou muito os resultados efetivos do desenvolvimento do
País como um todo. Sabemos, lamentavelmene, que foi reforçada a clivagem
histórica entre ricos e pobres, golpeando-se a base da formação democrática.
No Brasil do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso é comoven-
te vivenciar o novo desenho econômico-social e educacional que se costura
com a sociedade. Há consciência histórica de que a grande obra democática
para o futuro é fazer com que abriguemos o embrião renovado da liberdade e
não o ovo da serpente. Acredito que a educação possa responder por grande
parte desta construção.
I. Introdução
Este estudo pretende analisar o tema levando em consideração, o ambiente
dos problemas sobre a condição da Educação e a religião pedagógica no Bra-
sil.
Acreditamos que os problemas de hoje, são os mesmos dos tempos homéri-
cos, há três mil anos, na Grécia Antiga, com sua avançada explicação mitoló-
gica, um berço de nossa filosofia. Para isso precisamos compreender que há
diversas profundidades no levantamento e no tratamento dos problemas edu-
cacionais, pode-se ir do modelo da LDB ao conhecimento filosófico, socioló-
gico, econômico, religioso, político, cultural, jurídico, etc. Os questionamen-
tos continuam os mesmos, mas as abordagens são diferentes.
Nosso objetivo básico é colocar de forma contundente que as verdades reve-
ladas pelos profetas de DEUS visam a busca incessante pela conciliação de
todo o conhecimento e de todas as filosofias, a fim de estabelecer, cada vez
mais, uma idéia mais completa da Verdade Universal e despertar em todos, as
faculdades latentes do Ser Humano, possibilitando uma vida mais equilibrada
e progressiva.
Há muito tempo atrás, nas antigas civilizações vamos encontrar símbolos da
plenitude da sabedoria de DEUS.
Séculos após o trabalho de codificação do conhecimento, feita pelos Santos
Padres no período da Patrística, propagou-se pelo mundo e se faz presente nos
nossos dias tão significante contribuição para o campo educacional. Pela sua
grandeza e profundidade dos seus conteúdos, mantém viva a Luz da Sagrada
Sabedoria de DEUS dentro da Educação Tradicional. Ligadas à grande inte-
ração e Fraternidade Universal, a fim de que suas máximas possam ser trans-
mitidas novamente, a todos aqueles que a buscam com o âmago de seu ser,
para que contribuam ativamente para a evolução da humanidade em todos os
sentidos, não apenas no tocante a Educação.
De tempos em tempos, torna-se necessário portanto, que os Sagrados Ideais
de Ensinar e Educar de outrora possam ser relembrados por todos aqueles que
tenham condições de se unir aos mais altos princípios da nobre busca e mis-
são de educar.
Neste período de grandes mudanças, estes nobres ideais se tornam novamente
necessários a humanidade.
Por isso, nos cabe resgatar a verdade e à justiça no processo ensino aprendi-
zagem, a fim de restabelecr os Sagrados Princípios Espirituais do passado, de
uma forma moderna e adaptada às necessidades atuais dos seres humanos.
Portanto, nossa ação educativa deve ajudar o aluno, em sua dimensão singu-
lar, a conseguir, o próprio conhecimento; a aceitação e a superação de si
mesmo; a capacidade de autonomia; a decisão do senso crítico no exercício da
liberdade.
Nossa linha Educativa filosófica deve ajudar o aluno em sua dimensão social,
pois o homem é um ser que só pode realizar-se em comunhão com outros,
num processo dinâmico, partindo da análise crítica da realidade para a formu-
lação de pensamentos e ações novas e criativas. Esta metodologia estimula o
desenvolvimento do raciocínio, da criatividade, gerando o pensamento autô-
nomo e promovendo o crescimento integral do educando. Exige sua inserção
num projeto social, a partir do qual desenvolva a capacidade de pensar en-
quanto cidadão, enquanto pessoa que participa da construção de uma socieda-
de, na qual prevaleçam os valores que geram o bem de todos.
Partindo de uma concepção evangelizadora, onde DEUS faz novas todas as
coisas, o processo ensino-aprendizagem se transforará e o melhor está por vir,
nos lançando no caminho da possibilidade que DEUS tem para nós.
Esta nova perspectiva e visão na educação, promove a esperança de que algo
maravilhoso que DEUS tem para nós.
Quando nós obedecemos a vontade de DEUS, aceitamos o seu desafio. Ele
começa a mudar os valores da nossa vida.
Assim sendo, a Educação Tradicional mata a expectativa, mas os mistérios de
DEUS na educação visam promover além do conhecimento a esperança, a
justiça, a verdade e a realização plena.
Nosso projeto propõe uma educação voltada para a formação global do edu-
cando favorecendo o desenvolvimento de suas potencialidades frente aos de-
safios que ele vai enfrentar na sua vida pessoal e profissional e que seja uma
pessoa sensível, atuante e comprometida, capaz de aplicar o saber em benefí-
cio do bem comum.
Dentro dessa visão evangelizadora, consideramos o homem imagem de
DEUS, conceito que orienta todas as atividades da nossa vida.
1. A Educação em Diversas Culturas
1.1Helenista
A onda do helenismo desencadeada pelas conquistas de Alexandre ameaçam
vários povos e entre os quais encontra o povo hebraico despreparado fazendo
com que o povo assumisse uma atitude de enrijecimento. Apesar de alguns
helenizantes terem preferido se entregar a nova cultura outros se recusam pre-
ferindo uma revolta aberta, tendo com líder o sacerdote Matatias e depois de
sua morte. Judas Macabeus (Judas o Martelo) com o objetivo de uma inde-
pendência política e ressuscitar o antigo reino Judaico. Sua vitória em 164
a.C. inicia um anti-helenismo intenso, e a destruição de cidades gregas, a per-
seguição de judeus helenizantes.
Atrvés da escola esperava-se conter a onda de helenização, pois os judeus que
se encontravam fora da Palestina já eram culturalmente helenizados e muitos
falam grego.
A luta contra a helenização fracassa do ponto de vista político e não ideológi-
co. E 64 a.C. Pompeu utiliza o militarismo poderoso de Roma para aniquilar
os últimos vestígios do poder judaico. Em 70, o templo de Jerusalém, símbo-
lo da nação seria destruído por Tito, e o imperador Adriano acaba expulsando
todos os judeus definitivamente.
A cultura helenista deve servir de instrumento que proporcione o acesso à sa-
bedoria, pois como a mente é mais poderosa que a mão, a sabedoria é mais
admirável que a cultura das escolas, ou seja, a cultura helenista.
1.2 Grega
Nesse momento, nos questionamentos do verdadeiro papel da Educação e da
Religião no processo de intermediação do ensino para resgatar a cidadania das
pessoas, já que a sociedade se apresenta desinformada da Virtú que predomi-
na nos bastidores dos detentores do poder e conseqüentemente, estamos nos
referindo ao Estudo.
Haja visto que as fontes da educação estão inseridas nos costumes, nas tradi-
ções, que são partes que se acham substanciadas na própria sociedade. Pois
bem, dentro dessa linha de pensamento vamos contrariar frontalmente os en-
sinamentos e as proposições deixados por nossos antepassados, os gregos. Já
naquela época, a educação era reconhecida como fator determinante para con-
servar e propagar no homem a sua forma de existência Social e Espiritual por
meio das forças pelas quais a criou, ou seja, por intermédio da vontade cons-
ciente e da razão.
Os gregos ressaltavam que uma educação consciente pode até mudar a natu-
reza física do homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível
superior, isto é, o desenvolvimento crítico e analítico.
1.1 Hebraica
A inserção na História do povo hebreu conduz-nos a origem da civilização
ocidental, ou seja, a influência que herdamos dos povos orientais, especifica-
mente com a humanidade no terreno religioso, doravante na consolidação do
Cristianismo presente em diversas culturas existentes no mundo contemporâ-
neo.
É indubitável que este povo buscou sempre a consolidação de sua culutra, a-
pesar das diásporas e das opressões que sofreram no tempo e no espaço dos
milenares impérios invasores.
A história do povo hebreu está contida na Bíblia aba de cunho religioso, lite-
rário e histórico, que divide-se em duas partes: Velho Testamento e Novo
Testamento, possuem também um livro religioso, o Tahmud (comentário,
homilias e interpretações da Lei Oral).
O Judaísmo fundamenta-se no Antigo Testamento que, conseqüentemente
influenciará todas as realizações culturais dos hebreus: do Direito à educaçào,
à literatura e às artes.
É através do processo educativo que os hebreus lutam veementemente contra
a helenização de seu povo, resgatando sua identidade nacional, a cultura é a
fé, portanto, consistia na resistência em absorver a cultura dos conquistadores,
devendo manter-se fiéis na preservação do povo santo.
Arrolar o respeito das contribuições do povo hebreu no processo de educar e
conservar suas raízes é extremamente laborioso, isso decorre das escassas
fontes arqueológicas e de tamanha riqueza que nos chegaram através de bi-
phos ou dos povos que mantiveram um contato mais próximo durante esse
período obscuro de sua história.
2.O Processo Educativo na Tradição Hebraica
Depois de conseguir sobreviver e conservar o seu patrimônio cultural, o qual
isto se deve ao fato de ter atingido um desenvolvimento específico no período
pós-exílio (57 a.C./70 a.D.) período especialmente relevante para a institucio-
nalização do processo educativo, o problema fundamental da comunidade he-
braica, consistia em reavivar as instituições culturais. Entretanto, não era
mais possível pensar em restaurar a cultura da nação pré-exílio. Agora o obje-
tivo era encontrar meios de elaborar algum esquema dentro do qual fosse pos-
sível garantir a preservação da identidade, a cultura e a fé, três elementos in-
distinguíveis para o povo hebraico.
Porém, as contingências políticas constiuiam obstáculos terminante a qual-
quer possibilidade dessa monta, pois entre outros obstáculos, a diáspora era
fato consumado.
O único elemento que podia servir de elo de união era a Lei da Aliança.
Essa lei consistia tanto nas prescrições como nas leis estipuladas por Josué no
código de Deuteronômio, ou seja, do processo educativo, a lei Judaica grada-
tivamente assume forma escrita e também incrementa a criação da sinagoga
como local de, não só de culto mas de instrução religiosa, onde se aprendem
as verdades da Bíblia, sobretudo os escribas, dedicados ao estudo da lei.
Com o passar do tempo, a responsabilidade pela transmissão da lei aos escri-
bas aprendizes será assumida pelos chefes da sinagoga. Devido a dispersão
ou diáspora, a sinagoga torna-se elemento indispensável a toda a comunidade
judaica. A diáspora e a opressão política servem para transformar o judaísmo
numa fé viva e força de conservação de um povo, enquanto que a sinagoga
torna-se garantia de sobrevivência.
Trata-se de manter puros e sem mancha os restos de Israel, mediante a instru-
ções aos jovens e de relembrar as promessas da Aliança a cada nova geração,
através do processo educativo.
3.Formas Institucionais do Processo Educativo
A princípio, na educação das primeiras sociedades não havia instituições edu-
cacionais formalmente organizadas. Consistia apenas em transmitir oralmen-
te as tradições do povo a qual eram instruídas na família através do pai, res-
ponsável pela educação dos filhos.
A família na sociedade sempre ocupou uma posição privilegiada, já que esta
mantinha além da tradição, um relacionamento entre Deus e o seu povo. A
estrutura da família era a mesma entre o povo e Deus. O pai cobrava obedi-
ência de seus filhos, assim como Deus exige de seu povo.
A prática educativa é apreendida através da observação, pelo exemplo e pela
participação nas atividades familiares.
Há também a prática nas cerimônias religiosas cujos mais importantes são: a
observância do sábado, as festas sazonais e a vida comum. A vida familiar
também é marcada por comemorações nacioanais tais como a páscoa.
Igualmente aos romanos, o pai na tradição hebraica exercia duas funções, a de
mestre e sacerdote. Tanto ensinava a lei aos filhos como também realizava os
rituais do culto.
Já no século VIII há evidências de que as crianças obtiveram aprendizado na
leitura e na escrita muito embora a instrução formal era responsabilidade so-
mente do escriba e do sacerdote, haja vista que estes eram mais conhecedores
da literatura e da história. Os sacerdotes além de conhecerem o sistema sacri-
ficial que era bastante complicado, tinha também que dominar o corpo de có-
digos jurídicos.
Muito embora o povo em sua maioria analfabeto, pois não se dava importân-
cia à prática da leitura e da escrita, surge a escola dos profetas que assumiam
inflência tão grande que contradizia às vezes o sacerdócio cerimonial. Com o
passar do tempo foram surgindo irmandades dentro do movimento profético,
formando grupos de estudos. Estes reuniam-se em colégios contando com
450 alunos, geralmente filhos de profetas, para aprender aos pés de um instru-
tor. Este tipo de ensino informal.
Quando surge a classe de escribas, pessoas que desempenham papel de advo-
gados, intérprete, copiador e instrutor profissional. Esta classe aumenta em
número, que se tornam o setor mais importante da sociedade. Esta classe ti-
nha um formação de vários anos, com intensiva instrução na lei escrita e em
sua interpretação. Entre elas estavam as observâncias ritualísticas, as exigên-
cias jurídicas e a multiplicidade de prescrições. Os mais sublimes entre os
escribas tornaram-se instrutores e expoentes da lei, ensinando nos portais do
templo.
As escolas dos escribas serviam de arenas de disputa na qual os estudiosos
podiam esclarecer os pontos obscuros ou difíceis da lei. Estas escolas mais
tarde tornaram-se tão importante junto ao povo que vieram a ser chamadas de
escolas rabínicas. O ensino popular era composto sobre o sistema jurídico, a
moral e o ritual. No século III, surge a Casa do Livros, isto é, a Escola Sina-
goga Elementar. Já em torno de 75 a.C. Simão Bem-Shetac introduz uma sé-
rie de reformas educacionais que visavam ampliar os sitemas de Escolas Ele-
mentares.
O povo judeu se destaca por ser um dos primeiros povos da antiguidade a in-
sistir em alguma forma de ensino formal para todo o povo, primeiro ensino foi
estendido à alfabetização dos adultos, depois o programa de educação a popu-
lação em geral na qual incluía os meninos, estes começavam os estudos aos 6
ou 7 anos de idade e continuavam até os 13 anos sobre a tutela do escriba.
Eles estudavam a Tora, eu além do Pentateuco,
inclui o corpo de tradições e interpretações que tratam da liturgia, estudavam
ainda a aritmética e o hebraico antigo, haja vista que o aramaico já era o meio
de expressão popular, e em outros lugares sob influências helênicas, a língua
corrente era o grego.
No ensino secundário estudavam a lei oral ou Mishma, codificada em fins do
século II. Depois da destruição do templo pelos romanos, em 70 a.D., os es-
cribas ensinavam a tradição mosaica fora da Tora. Suas escolas atraiam mui-
tos jovens onde aprendiam traduzir as escrituras para o aramaico ou grego,
além de seguir estudos superiores sobre a lei escrita, estudavam também al-
guns elementos de filosofia e a literatura helênica. O centro de estudos supe-
riores situavam em Jerusalém.
Nos 3 níveis de ensino havia uma complexa influência provinda de vários se-
tores da sociedade. Existiam 2 extremos, de um lado existiam os conservado-
res ou fundamentalistas que ensinavam as tradições mosaicas ao pé da letra,
onde se destacavam os Hassadim e que mais tarde seriam substituídos pelos
fariseus.
No outro extremo estavam os saduceus, a facção helenizante composta de sa-
cerdotes políticos que queriam o controle sobre o templo sob a influência dos
detentores do poder.
4. O Processo Educativo e a Preservação de um Povo.
Os homens procuravam compreender a nova realidade através da revelação
religiosa manifestada por Deus. Procuravam sempre conhecer a vontade de
Deus, pois esse conhecimento vai sevir de base para a sua conduta moral. É
por causa desse modo de pensar que o encontro da cultura hebraica com a cul-
tura helenista (gregos) não foi nada fácil, uma vez que os gregos valorizavam
a razão humana.
O processo educativo inculca no aluno não só o orgulho, conhecimento (in-
formação), mas também a piedade, a humildade e generosidade. Só a retidão
pode restaurar ou salvar o povo. Assim, percebe-se que a educação procura
criar uma consciência cultural e cívica totalmente religiosa nas pessoas, não
só quanto ao conteúdo, mas também quanto ao objetivo, quer dizer, o conteú-
do educativo estava voltado para ensinar valores individuais, a integridade
moral e religião.
O processo educativo foi formado para fazer com que o indivíduo tomasse
consciência de que possui limitações humanas diante da onipotência do cria-
dor Deus, e não o homem é o criador e a medida de todas as coisas.
A educação é uma arma de conquista espiritual que une o povo, mantendo sua
identidade, seus hábitos e costumes mediante o conhecimento da fé. Toda
existência humana está imbuída de consciência religiosa e, essa se faz através
do processo educativo.
Como se vê, o significado da educação dentro deste ponto de vista cria uma
resistência e também debilidade porque a crença fervorosa pode fechar hori-
zonte para outras atividades da vida e da culura.
5. Uma Tentativa de Conciliação – FILÓ
Em Alexandria, centro cosmopolita e tolerante, o sábio Filó, dito O Judeu,
tenta resolver o conflito entre conceitos apaentemente irreconciliáveis, ou se-
ja, o deus patriarcal dos judeus e o deus da filosofia grega.
Judeu fiel, Filó oferece novo conjunto de idéias em torno da razão, palavra
que expressa o ideal do pensamento filosófico helenista.
Para Filó, o logos vem significar a sabedoria de Deus ou a manisfestação des-
ta sabedoria através da filosofia. O problema, para ele, está em saber como o
homem aprende a sabedoria de Deus e o que esta pode significar para o ho-
mem.
A reconciliação deve levar em conta tanto as preocupações judaicas, isto é, o
estudo intensivo das Escrituras Sagradas, como também as pretensões e atra-
tivos evidentes no pensamento grego. Entretanto, a rejeição pura e simples do
pensamento grego é uma atitude sem futuro e até impossível de realizar.
Filó encontra a solução paa o dilema nas próprias Escrituras, na distinção en-
tre história e alegoria. A função do processo educativo consiste em reconhe-
cer a legitimidade e a necessidade de estudo que consistirá nas artes liberais,
quais sejam, a gramática, a geometria, a astronomia, a retórica, a música e os
demais ramos dos estudos intelectuais. Esses estudos servem para alimentar a
infância da alma e lhe fornecer uma introdução adequada para quase todas as
preocupações humanas. Enfim, proporciona-lhe acesso à sabedoria e à virtu-
de.
O estudo do corpo de conhecimentos que vai desde disciplinas básicas até a
filosofia e as Escrituras leva, através da contemplação à meta final de toda a
sabedoria: a visão de Deus. É nisso que consiste o seu valor essencial. Abre
os olhos da alma e a leva a apreensões distintas e brilhantes, acima e além de
todas aquelas alcançadas pelos sentidos.
6. A Educação a partir do Cristianismo . Um breve histórico
6.1 As Características Filosóficas do Cristianismo
Não há propriamente uma história da filosofia cristã, assim como há uma his-
tória da filosofia grega ou da filosofia moderna, pois no pensamento cristão, o
máximo valor, o interesse central, não é a filosofia, e sim a religião.
Soluciona o problema do mal precisamente mediante os dogmas fundamentais
do pecado original e da redenção da cruz. A justificação da revelação em ge-
ral, e a determinação, dilucidação, sistematização racional do conteúdo da
mesma, têm uma importância indireta com respeito à filosofia, porquanto im-
plicam sempre numa intervnção da razão. Foi esta, especialmente, a obra da
Patrística e, sobretudo, de Agostinho.
6.2 Características Gerais do Pensamento Cristão
Foi conquistada a cidade que conquisotu o universo. Assim definiu São Jerô-
nimo o momento que marcaria a virada de uma época. Era a invasão de Ro-
ma pelos germanos e a queda do Império Romano.
A alavanca dos bárbaros arrasou também grande parte das conquistas cultu-
rais do mundo antigo.
A Idade Média inicia-se com a desorganização da vida política, econômica e
social do ocidente agora transformado num mosaico de reinos bárbaros.
A filosofia clássica sobrevive, confinada nos mosteiros religiosos. O aristote-
lismo dissemina-se pelo oriente bizantino, fazendo florescer os estudos filosó-
ficos e as realizações científicas. No ocidente, fundam-se as primeiras uni-
versidades, ocorre a fusão de elementos culturais greco-romanos, cristãos e
germânicos, e as obras de Aristóteles são traduzidas para o latim.
Sob a influência da Igreja, as especulações se concentram em questões filosó-
fico-teológicas, tentando conciliar a fé e a razão. E é nesse esforço que Santo
Agostinho e Santo Tomás de Aquino trazem à luz reflexões fundamentais pa-
ra a história do pensamento cristão.
6.3 A Filosofia Medieval e o Cristianismo
Ao longo do século V d.C., o Império Romano do Ocidente sofreu ataques
constantes dos povos bárbaros. Do confronto desses povos invasores com a
civilização romana decadene desenvolveu-se uma nova estruturação européia
de vida social, política, educacional e econômica, que corresponde ao período
medieval.
Em meio ao esfacelamento do Império Romano, decorrente em grande parte,
das invasões ermânicas, a Igreja Católica conseguiu manter-se como institui-
ção social mais organizada. Ela consolidou sua estrutura religiosa e difundiu
o Cristianismo entre os povos bárbaros, preservando muitos elementos da cul-
tura pagã greco-romana.
Apoiada em sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer im-
portante papel político na sociedade medieval. Desempenhou por exemplo, a
função de órgão supranacional, conciliador das elites dominantes, contornan-
do os problemas da fragmentação política e das rivalidades internas da nobre-
za feudal. Conquistou também,
vasta riqueza material, tornou-se dona de aproximadamente um terço das á-
reas cultiváveis da Europa ocidental, numa época em que a terra era o princi-
pal base de riqueza. Assim, pôde estender seu manto de poder “universalis-
ta”sobre diferentes regiões européias.
6.4 Conflitos e Conciliação entre a Fé e Saber
No plano cultural, a Igreja exerceu amplo domínio, traçando um quadro inte-
lectual em que a fé cristã era o pressuposto fundamental de toda sabedoria
humana. Consistia na crença irrestrita ou na adesão incondicional às verda-
des reveladas por Deus aos homens. Verdades expressas nas Sagradas Escri-
turas e devidamente interpretadas segundo a autoridade da Igreja.
De acordo com a doutrina católica, a fé representava a fonte mais elevada das
verdades reveladas. Especialmente aquelas verdades essenciais ao homem e
que dizem respeito à sua salvação. Neste sentido, afirmava Santo Ambrósio
(340-397, aproximadamente): “Toda verdade, dita por quem quer que seja, é
do Espírito Santo”.
Assim, toda investigação filosófica ou científica não poderia, de modo algum,
contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica. Segundo essa orientação
os filósofos não precisavam se dedicar à busca da verdade, pois ela já havia
sido revelada por Deus aos homens. Restava-lhes, apenas, demonstrar racio-
nalmente as verdades da fé.
Entre os grandes nomes da filosofia católica medieval destacam-se, Agostinho
e Tomás de Aquino. Eles foram os responsáveis pelo resgate cristão das filo-
sofias de Platão e de Aristóteles, respectivamente.
“Tomai cuidado para que ninguém vos escravize por vãs e enganadoras espe-
culações da filosofia, segundo a tradição dos homens, segundo os elementos
do mundo, e não segundo Cristo”. (São Paulo)
6.5 Patrística
“A fé em busca de argumentos racionais de uma matriz platônica”.
Desde que surgiu o Cristianismo, tornou-se necessário explicar seus ensina-
mentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com o estabele-
cimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja Católica sabia que esses
preceitos não podiam simplesmente ser impostos pela força. Eles tinham de
ser apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de conquista
espiritual. Foi assim que os primeiros padres da Igreja se empenharam na ela-
boração de inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristã. O conjunto desses
textos ficou conhecido como patrística por terem sido escritos principalmente
pelos grandes padres da Igreja.
Esse projeto de conciliação entre o Cristianismo e o pensamento pagão teve
como principal expoente o Padre Agostinho.
“Compreender para crer, crer para compreender”. (Santo Agostinho)
6.6 Escolástica
“Os caminhos de inspiração aristotélica levam até Deus”.
No século VIII, Carlos Magno resolveu organizar o ensino por todo o seu im-
pério e fundar escolas ligadas às instituições católicas. A cultura greco-
romana, guardada nos mosteiros até então, voltou a ser divulgada, passando a
ter uma influência mais marcante nas reflexões da época. Era a renascença
Carolíngia.
Tendo a educação romana como modelo, começaram a ser ensinadas as se-
guintes matérias: gramática, retórica e dialética, (o trivium) e geometria, a-
ritmética, astronomia e música (o quadrivium). Todas elas estavam, no entan-
to, submetidas à teologia.
A fundação dessas escolas e das primeiras universidades do século XI fez
surgir uma produção filosófica-teológica denominada escolástica (de escola).
A partir do século XIII, o aristotelismo penetrou de forma profunda no pen-
samento escolástico, marcando-o definitivamente. Isso se deveu à descoberta
de muitas obras de Aristóteles, descobertas até então, é a tradução para o la-
tim de algumas delas, diretamente do grego.
A busca da harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se, no entanto,
como problema básico da especulação filosófica.
7. A Sociedade e seu Sistema Educacional
Permanência e Mudanças da Educação
O ensino hoje, em todo o mundo, é muito diferente do que era apenas vinte ou
trinta anos atrás. Tudo é muito maior, mais complexo, mais caro, mais con-
traditório. Além disto, existem diferenças profundas entre culutras e socieda-
des. Uma palavra, no entanto escola parece permanecer constante no espaço e
no tempo. A universalidade das instituições escolares se explica, em parte
pelo menos, pelo fato de que elas desempenham papéis similares em todas
sociedades relacionadas com a existência de instituições e pessoas dedicadas à
criação, manuntenção e transmissão da cultura escrita e sistematizada. Por
esta razão, é possível, e na realidade indispensável, examinarmos os proble-
mas relativos ao ensino a partir de uma perspectiva histórica e comparada.
7.1 Dominadores e Carismáticos
Todas as sociedades apresentam um potencial de disputa entre lideranças polí-
ticas, estabelecidas pela via de ação militar, ou do poder pátrio, e lideranças
de tipo intelectual ou moral, estabelecidas pelo acesso privilegiado ao conhe-
cimento, seja ele de origem religiosa, mágica, medicinal, ou outro. Freqüen-
temente, no passado, lideranças políticas, intelectuais e espirituais atuaram
unidas e inseparáveis. Em estados teocráticos, como no Egito ou no Tibet, o
líder político é a própria encarnação da divindade, e a organização eclesiástica
não se distingue da administração da coisa pública. Sociedades puramente
teocráticas, no entanto, foram raras mesmo na antiguidade.
O surgimento de tradições religiosas e procedimentos administrativos escritos
tende a fazer do acesso ao conhecimento uma especialidade, à qual se associa
um estilo de vida próprio, freqüentemente ascético e exemplar, que serve para
justificar as pretensões à autoridade moral e ao exercício do poder dos sacer-
dotes e escribas sobre a sociedade como um todo. Esta pretensão à liderança
se confronta, desde início, com as lideranças de tipo carismático ou mágico,
que pretendem ter um acesso direto e imediato às verdades mais profundas
pela via da revelação ou dos inatos, sem passar pelo crivo da educação e do
apendizado. Ela se confronta também, com o poder que se estabelece por ou-
tras vias a conquista militar, o acúmulo de riquezas pelo comércio, mas aos
quais faltam os princípios de legimitade moral e intelectual. Se estas tendên-
cias muitas vezes conflitam, muito freqüentemente, também, elas se aliam, a
Igreja se associa ao Estado, os religiosos educam os filhos dos reis e dos no-
bres, e ambos cooperam para manter a sociedade como um todo estável e res-
peitosa das autoridades temporais e espirituais. Tem razão, pois, os que vem
nas organizações, instituições e pessoas dedicadas à administração do conhe-
cimento aliados freqüentes dos que detêm o poder temporal, mas se enganam
os que acham que esta é uma aliança simples, automática e inquebrantável.
De fato, assim como o conhecimento é uma forma de poder e controle social,
ele também funciona como uma via de mobilidade social, rebeldia e revolu-
ção. A história está cheia de exemplos de sistemas de dominação estabeleci-
dos que se vêm desafiados por novos grupos que trazem consigo idéias, co-
nhecimentos e interpretações do mundo das coisas e dos homens que se con-
frontam com aqueles do poder. Seria simplista, evidentemente, interpretar
estes movimentos somente como disputas por idéias, já que, junto a elas, vêm
geralmente todo um conjunto de atividades de tipo econômico, militar e social
que buscam sua legitimação. O exemplo clássico moderno é o da reforma
protestante, que se desenvolve no ímpeto da revolução capitalista e burguesa;
outro exemplo atual é a associação entre o islamismo fundamentalista e o na-
cionalismo árabe, assim como o revivalismo ortodoxo judaico.
7.2 As Instituições mais Antigas
As escolas modernas têm muito em comum com todos estes fenômenos de
abrangência histórica tão universal. Dizem que escolas e igrejas são as insti-
tuições mais antigas que existem, e isto não pode ser simples coincidência.
De fato, escolas e igrejas compartem algumas características importantes:
ambas proclamam ser o repósitório das formas mais elevadas do conhecimen-
to, cultivado zelosamente pelos iniciados, que são por isto admirados, respei-
tados e invejados pelos demais. O conhecimento que proclamam ter não é
somente prático e útil (ainda que a ciência, o milagre e a mágica tenham cer-
tamente sua utilidade), mas principalmente, consiste no acesso às verdades
consideradas mais profundas e fundamentais, qualquer que seja o sentido que
se atribua, em cada sociedade e em cada era, a estas palavras. É um tipo de
certeza em um mundo incerto e inseguro, que só pode ser vislumbrado de
longe pelos que estão fora.
Pertencer a este círculo fechado a Verdade é codificada e transmitida pode
significar prestígio, autoridade, e muitas vezes poder e riqueza. Nem todos
conseguem chegar lá. Escolas e igrejas conseguem combinar as formas mais
extremas de universalismo e seletividade. Todos podem participar, todos são
chamados desde que tenham as qualidades necessárias. O valor de cada um
deve ser estabelecido por atos e palavras, e quando os atos não existem, ou
são difíceis de precisar, as palavras e, principalmente, os rituais devem estabe-
lecer a ponte entre o eleito de hoje e as tradições que remontam a certezas in-
questionáveis do passado, tanto mais inquestionáveis quanto mais antigas.
Rituais de passagem marcam a entrada e a saída dos eleitos no mundo do co-
nhecimento; rituais diários de leitura e estudo, e o uso apropriado de certas
expressões e palavras que os leigos não entendem asssinalam a socialização
bem feita dos jovens ao círculo fechado dos velhos e sábios. Os rituais ser-
vem, também, para proteger as escolas e igrejas da intervenção externa; e sua
pretensão ao conhecimento supremo faz com que estas instituições tendam ao
monopólio intelectual, e não aceitem com facilidade os ideais de uma episte-
mologia pluralista.
Esta descriçào é um tipo-ideal, ou caricatura, de instiutições que parecem e-
xistir em todas as sociedades de linguagem escrita e conhecimentos codifica-
dos. No mundo real, evidentemente, existem escolas e religiões as mais varia-
das e as características que desenvolvem para assegurar sua estabilidade e
longevidade o culto da tradição, a luta pela autonomia e auto-regulação, o
monopólio da Verdade, a organização burocrática, o comportamento rituali-
zado nem sempre alcançam seus objetivos. Escolas, tanto quanto as igrejas,
estão sujeitas a conflitos e tensões, com mudanças em seus objetivos e em
seus membros, e disputas sobre a validade de suas tradições passadas e a
legitimidade de seus representantes atuais.
Tipos ideais são úteis porque ajudam a identificar as questões que motivam as
pessoas e levam ao conflito e às transformações; no nosso caso, ele nos ajuda
a entender o fascínio que sempre esteve presente no estudo das religiões e das
instituições de ensino. Para os
intelectuais, o estudo destas instituições é inseparável de sua própria busca de
identidade e reconhecimento social. Instituições que lidam com os valores e
os conhecimentos mais elevados lidam também, acredita-se muitas vezes,
com o próprio destino de suas sociedades: como os homens devem ou podem
lidar com a natureza e com outros homens, como devem lidar com o desco-
nhecido, que tipo de autoridade devem aceitar ou rejeitar, que hierarquias so-
ciais são legítimas ou não. Seria ingênuo acreditar que tudo o que ocorre no
mundo encantado das igrejas e das escolas ocorre também no mundo real;
mas seria também ingênuo pensar que escolas e igrejas não seriam senão a
sombra, ou reflexos, de outras realidades.
7.3 Escolas e Igrejas: Proximidade e Conflito
O fato de escolas e igrejas cumprirem funções similares explica muito de sua
proximidade e de seus conflitos. Na Idade Média, assim como nos impérios
espanhol e português nos séculos XVI e XVII, a Igreja dominava completa-
mente, e as escolas não passavam de instituições de ensino a seu serviço, e
por isto mesmo intelectualmente pouco interessantes.
Mesmo nestas condições, no entanto, surgem conflitos sobre pretensões alter-
nativas de autoridade em matéria religiosa, burocrática e acadêmica, disputa
estas que freqüentemente buscam apoio fora dos muros da academia. A pró-
pria existência de um sistema educacional à parte da organização eclesiástica
faz supor que os conhecimentos desenvolvidos e transmitidos pela corporação
religiosa tenham se tornado insuficientes para alguns setores da sociedade.
Estabelecidas na transição da época medieval para o período renascentista, as
primeiras escolas européias eram, em essência, corporações de estudantes e
professores que buscavam conseguir, muitas vezes a duras penas, o direito ao
trabalho intelectual independente, a autonomia administrativa e mesmo o di-
reito a foro especial para seus membros, em relação às autoridades eclesiásti-
cas e políticas de então. As primeiras escolas se dedicavam ao ensino das
profissões liberais da época (teologia, direito canônico, medicina) que era
precedido pelas chamadas disciplinas propedêuticas, o trivium (gramática,
retórica e lógica) e o quatrivium (geometria, aritmética, música e astronomia),
que em conjunto formavam as sete artes liberais. Na prática, no entanto, as
artes liberais assumiam freqüentemente mais importância dentro das escolas
do que o ensino profissional, propiciando um desenvolvimento cultural e inte-
lectual no interior das escolas que nem sempre se acomodava com facilidade
ao dogma da identidade entre a verdade conhecida pela via racional e a ver-
dade religiosa, que era o fundamento legitimador da coexistência entre as es-
colas e a igreja.
Em outras palavras, as escolas européias cristalizaram o surgimento e a dife-
renciação de uma nova forma de organização para o conhecimento, de tipo
secular, de base racional, produzido por uma comunidade freqüentemente
cosmopolita, ociosa de sua independência em relação aos poderes locais, as-
sim como de seus direitos e autonomia. Ao valorizar acima de tudo o uso da
razão e a competência intelectual, as escolas inevitavelmente se chocam com
a autoridade da Igreja que se baseia, sobretudo, na autoridade constituída se-
gundo a tradição e o dogma. Por isto, as escolas sempre foram terreno fértil
para heresias e secessões, e serviram de terreno para os conflitos entre Estado
e Igreja que marcaram o desenvolvimento dos estados nacionais contemporâ-
neos.
As escolas nos países ocidentais evoluíram, de pequenos apêndices da Igreja,
para se constituirem na principal instituição para o processamento do conhe-
cimento do mundo moderno. A separação, e eventual supremacia, das escolas
em relação à Igreja, foi um processo difícil, que se deu de forma diferente de
uma sociedade para outra, e que produziu resultados também distintos. A I-
greja Católica lutou longa e bravamente por sua supremacia, e ainda não de-
sistiu. O Vaticano mantém sua própria Academia de Ciências, e universida-
des católicas existem em todo o mundo. As religiões protestantes, de uma
maneira geral, aceitaram a supremacia do conhecimento leigo em matérias
deste mundo, e tendem a se limitar às questões da fé individual, moralidade
pessoal e das verdades de foro íntimo. O renascimento do fundamentalismo
religioso, no entanto, principalmente nos Estados Unidos, e as disputas legais
sobre o ensino do evolucionismo e do creacionismo nas escolas públicas,
mostra que esta aceitação está começando a ser revista por muitos.
A história das escolas européias dos últimos duzentos anos, que seria eviden-
temente impossível resumir aqui, gira ao redor de alguns conflitos e tensões
básicas. Por uma parte, é a tensão entre as tendências e transformá-las em
simples mecanismos de formação profissional, segundo critérios definidos
externamente a elas, e as aspirações freqüentemente mais altas dos que pas-
sam pelas novas formasde estudo propedêutico e ou aí ficam, muitas vezes,
como sacerdotes de um novo tipo de conhecimento. Depois, é o cnflito que se
estabelece as formas mais tradicionais e estabelecidas de cultura, baseadas no
conhecimento das artes liberais e no acesso aos clássicos gregos e latinos, e as
novas formas de conheciemtno que ganham força junto ao desenvolvimento
da ciência experimental e da crença no valor da convicção subjetiva e íntima,
em contraposição ao predomínio da autoridade. Este conflitos ressurgem em
roupagens modernas no confronto entre o desejo de fazer das escolas centros
de reflexão e pesquisa científica autônomos e independentes, e a tentativa de
transformá-las em centros de formação especializada para atender, tão eficien-
temente quanto possível, as demandas de profissionais especializados para a
gestão econômica, política e administrativa das sociedades modernas.
A generalização da chamada “educação de terceiro grau”nos dias de hoje faz
com que os conceitos mais clássicos de universidade se diluam, aparentemen-
te, em um sistema educacional muito mais amplo e complexo do que jamais
tenha existido. No Brasil, fala-se hoje de “sistema universitário”para se refe-
rir a todas estas instiutições. Ainda que exista formalmente uma distinção
entre universidades e estabelecimentos de ensino isolados, na prática esta é
uma questão meramente burocrática, e não há diferença legal ou social entre
títulos emitidos por um outro tipo de instituição. Diante de fatos como este,
não seriam as universidades tradicionais fenômenos passados e ultrapassa-
dos? Em que medida pensar sobre as universidades medievais, a universida-
de alemã no século XIX, ou mesmo sobre os ideais que presidiram a formação
da Universidade de São Paulo na década de 30, nos ajuda a entender e a pro-
por algo que faça sentido para os prolemas da educação superior no mundo
atual?
A razão pela qual o passado nos ajuda a entender o presente é que os sistemas
educacionais contemporâneos estão sujeitos aos mesmos fenômenos de dispu-
ta entre os princípios de liderança política e os princípios de liderança
intelectual, moral e espiritual que caracterizavam as sociedades do passado.
A principal diferença é que, nas sociedades modernas, o processo de
racionalização avançou muito mais, levando à criação de novos papéis e
fontes de solidariedade e liderança. A revolução burguesa consagra um novo
tipo de liderança, baseada exclusivamente em posições conquistadas no
mercado de trocas, que são as lideranças de cunho econômico enquanto tal; e
a revolução política que a acompanha gera novas formas de liderança política,
que se estabelecem dentro dos sistemas partidários e eleitorais, e se firmam
como um componente central das novas formas de dominação política de base
racional-legal. A separação iniciada pelas universidades tradicionais entre o
conhecimento religioso, sagrado e revelado, e o conhecimento de base
racional, é levado ao extremo pelo desenvolviemtno das ciências naturais de
base experimental, que tratam de se instituir como uma nova filosofia natural,
legitimadora e instrumentadora do individualismo, do racionalismo, da ordem
democrática e da revolução industrial burguesa. Além disto, as sociedades
modernas propiciam o desenvolvimento de sistemas organizacionais cada vez
mais complexos, de tipo governamental ou privado, que exercem um controle
de tipo “técnico”, ou “administrativo” (na realidade, tecnocrático) sobre
grupos sociais cada vez maiores. Estas novas formas de liderança, dominação
e participação social não eliminam, no entanto, as antigas: a Igreja continua a
existir e a desempenhar seu papel em suas diversas formas; o poder político
de base militar não se subordina com facilidade às instituições políticas de
base racional-legal; e os antigos mecanismos de liderança e dominação
baseados na nobreza, na língua, na nacionalidade e na raça não se desfazem
com tranqüilidade, mostrando, na realidade, surpreendente vitalidade ante o
qüilidade, mostrando, na realidade, surpreendente vitalidade ante o assédio
sistemático dos processos de racionalização das sociedades modernas.
As maneiras pelas quais a educação superior é organizada hoje – o tamanho
relativo do setor público, a autonomia que as universidades possuem ou não, a
distância que elas mantém ou não das igrejas, partidos políticos e outras insti-
tuições tudo isto tem a ver com a forma pela qual estes antigos conflitos fo-
ram encaminhados.
7.4 Conhecimentos Últimos x Conhecimentos Práticos
O resultado dos conflitos entre universidade e igreja nas sociedades ocidentais
foi uma divisão kantiana de trabalho: as universidades cuidariam do conhe-
cimento empírico valorativamene neutro, enquanto que a Igreja cuidaria dos
valores e das verdades mais profundas e substantivas.
Esta divisão do trabalho explica muito do extraordinário sucesso das universi-
dades ocidentais desde, pelo menos, o início do século XIX. Livres de dog-
mas inquestionáveis e controles externos, as universidades tradicionais abri-
ram gradualmente seus muros para o conhecimento científico e técnico, e lhe
proporcionou um terreno fértil para crescer e se desenvolver. Este arranjo
funcionou tanto melhor porque, na realidade, ninguém acreditava realmente
nele.
Racionalismo, evolucionismo, e empirismo foram idéias poderosas na forma-
ção das universidades modernas, e se constituíam em autênticas alternativas
filosóficas às verdades consagradas pelos dogmas religiosos. Igrejas e movi-
mentos religiosos jamais abdicaram de seu desejo de estar presentes e influ-
enciar a vida quotidiana das instituições universitárias, e, quando se tornou de
todo impossível, criaram suas próprias instituições.
A situação contemporânea, evidentemente, é muito mais complexa, porque
existem muito mais participantes. O conhecimento científico, tecnológico e
social é produzido hoje em muitas outras instituições além de igrejas e univer-
sidades, e os mercados para sua difusão e decantação são também outras soci-
edades científicas, revistas especializadas, mercados de tecnologia, escritórios
de registro de patentes. Em algumas situações mais extremas, as instituições
contemporâneas de ensino superior se transformam em simples mecanismos
administrativos para dar às pessoas as habilidades e informações básicas de
que necessitam para ganhar acesso a outras instituições onde os conhecimen-
tos são efetivamente produzidos e processados. Na maioria dos países socia-
listas, por exemplo, a elaboraçào das formas mais nobes de conhecimento são
atribuições seja do partido político dominante, seja, na área científica e técni-
ca, das academias de ciência, não cabendo às universidades senão o papel de
transmitir os conhecimenos gerados em outros contextos. Isto também ocorre
na maioria das instituições de educação pós-secundária, na maioria dos países
ocidentais. Nestes casos, as universidades perdem suas funções clássicas de
geração e codificação do conhecimento, e a “questão universitária” se reduz a
um problema estritamente técnico e operacional: como formar um número
adequado de pessoas, com as habilidades requeridas, e a um custo razoável
para a sociedade.
As instituições contemporâneas de ensino superior têm um interesse mais do
que técnico, no entanto, porque elas dificilmente se deixam reduzir a este pa-
pel instrumental, por razões semelhantes às quais as universidades antigas se
rebelavam contra a Igreja: as universidades recrutam talento, e pessoas acos-
tumadas a valorizar o talento não aceitam com facilidade outras formas de
autoridade. Uma boa parte da pesquisa científica e tecnológica mais avançada
ainda ocorre hoje dentro de instituições universitárias, e esta é uma tendência
que parece estar aumentando, e não diminuindo. E o apelo que a educação
superior tem como algo desejável em si mesmo, como parte do ciclo de vida
das novas gerações, também parece tender a aumentar, muito além, e inde-
pendentemente do que seria previsível em termos de análises dos eventuais
ganhos pecuniários da educação em relação a outras alternativas de carreira.
7.5 Monopólio, meritocracia e hierarquia
No passado as instituições educacionais controladas pela Igreja eram a única
forma pela qual uma pessoa poderia ter acesso aos conhecimentos codificados
de sua sociedade e, assim, aos privilégios e prestígio social a eles associados.
Este monopólio era mantido, paradoxalmente, por mecanismos meritocráticos
e pelo menos em princípios igualitários. Se todos querem atingir os mesmos
objetivos, e concordam com a validade dos mecanismos de acesso a estes ob-
jetivos, esta é a melhor maneira de validar o prestígio e a autoridade dos que
conseguiram chegar ao topo.
Assim o princípio democrático da meritocracia não somente fortalecia o mo-
nopólio, como também contribuía para a manuntenção da hierarquia.
O controle monopolístico do conhecimento e da educação não servia para ga-
rantir vantagens e privilégios para alguns, mas funcionava também como me-
canismo de manuntenção da solidariedade social e de seu controle.
Estas funções não teriam como se manter com a divisão kantiana que gerou a
educação laica e aparentemente separada do mundo dos valores. Não é por
acaso que o surgimento das sociedades modernas foi acompanhado por todo
um pensamento de tipo conservador que buscava e pregava a volta a um pas-
sado medieval mítico onde o poder espiritual e o poder temporal se manti-
nham indissolúveis sob a tutela moral da Igreja, à qual se subordinavam a ati-
vidade econômica, o sistema educacional, a vida política e as instituições mi-
litares. Menos radicais, os sociólogos da chamada linha funcionalista, de É-
mile Durkheim a Talcott Parsons, dedicaram sua obra à busca dos princípios
unificadores que pudessem manter a coerência e garantir a estabilidade social
dentro da multiplicidade e da diferenciação. Para Durkheim, era exatamente
ao sistema educacional que este papel integrador, pela transmissão de valores
de coesão e integração social em uma sociedade moderna e laicizada. Para
Parsons, o sistema social tenderia ao equilíbrio graças aos valores básicos
transmitidos pelos sistemas integrativos da sociedade – de novo a educação.
É curioso como, em certo sentido, os ideais de Durkheim e Parsons se materi-
alizaram. De fato, os sistemas univeritários nas sociedades industriais e pós-
industriais de hoje ainda mantém grande parte de sua estrutura hierarquizada e
de sua pretensão ao contole monopolístico da cultura superior. O Estado da
Califórnia, os Estados Unidos, talvez seja um exemplo extremo. Por uma pa-
te, o ensino superior naquele estado é totalmente aberto e, de fato, ao alcance
de quem quizer. Por outra parte, as instituições de ensino superior da Califór-
nia são estritamente hierarquizadas em termos de prestígio, autonomia, volu-
me de recursos e qualidade dos alunos, com a Universidade da Califórnia no
topo e os “community colleges”na base. Anos de críticas, às vezes radicais,
contra as consequências socialmente regressivas desta estratificação não tive-
ram o menor efeito; continua a haver um forte consenso a respeito de em que
mãos o controle das formas mais elevadas de produção e transmissão do co-
nhecimento devem estar. Na Califórnia (como no Japão, outro sistema forte-
mente hierárquico de ensino superior), o monopólio é mantido pelo princípio
meritocrático que coloca a culpa do fracasso nos indivíduos, antes que no sis-
tema social que os exclui.
Este resultado traz, evidentemente, tensões, e outras sociedades resolveram o
problema de outra maneira, ou simplesmente não conseguiram resolvê-lo.
Homens de negócios, políticos e militares em todas as sociedades sempre re-
sistiram às pretensões hegemônicas dos intelectuais do mundo acadêmico, e
desenvoleram sistemas alternativos de valores e verdades últimas, baseados
em virtudes como o patriotismo, a força pessoal, o espírito prático e empreen-
dedor, o sentido comum, a coragem e a esperteza. O antiintelectualismo,
quando pode, trata de impor seus valores às instituições de ensino superior,
seja pela posição de certos conteúdos (como foi o caso, no Brasil, da Educa-
ção Moral e Cívica), seja pela implantação de sistemas educacionais alternati-
vos, de cunho “prático” e aplicado, seja, finalmente, pelo ataque direto aos
princípios meritocráticos das universidades. A criação de quotas positivas ou
negativas para determinados grupos raciais e econômicos, os ataques genera-
lizados aos sistemas de seleção e avaliação de estudantes e professores são
outras tantas formas de assédio às pretensões hegemônicas das universidades.
Somente em sociedades pequenas e ricas, como a dos países do norte da Eu-
ropa, é possível tentar combinar de forma adequada os princípios do mérito
com a igualdade social efetiva. Em outras sociedades, a tentativa de juntar
estas duas coisas leva ao prejuízo de ambas. As universidades latinoamerica-
nas são todas iguais perante a lei, e em muitos países os princípios meritocrá-
ticos foram totalmente abolidos e substituídos por sistemas de livre matrícula
e pela baixa geral de padrões para a aprovação de alunos nos cursos e outorga
de diplomas. Em muitos casos o princípio do mérito não é efetivamente abo-
lido, mas transferido para outros lugares e instituições - cursos de pós-
graduação, instituiçoes privadas, ou, seguindo o modelo francês, para escolas
especializadas e colocadas estrategicamente fora do alcance do sistema de
ensino superior massificado. Em alguns casos extremos, como na Revolução
Cultural chinesa e em alguns dos países muçulmanos mais radicais de hoje,
todos os valores associados ao conhecimento codificado e ao valor da educa-
ção são substituídos outros princípios e valores de cunho religioso ou político.
Quando isto ocorre, os sistemas universitários são, na prática, destruídos.
O fato de que, nas modernas sociedades, conhecimentos sejam constantemen-
te produzidos e reproduzidos fora das universidades, e até mesmo fora dos
sistemas de educação e pesquisa científica formalmente estabelecidos, poderia
levar à conclusão de que pouco resta, nas universidades de hoje, das antigas
pretensões ao monopólio ou hegemonia em relação às formas mais elevadas
de conhecimento. No entanto, estes desenvolvimentos paralelos raramente
levam a questionar o papel desempenhado pelas universidades nas sociedades
modernas, e as demandas por educação superior e pesquisa universitária pare-
cem aumentar continuamente. Nesse sentido, a hegemonia das universidades
em relação às formas superiores de conhecimento parece ser maior hoje do
que nunca.
7.6 Acesso
O princípio meritocrático nunca significou que o acesso estivesse, de fato,
aberto a todos. Restrições formais e informais sempre exitiram de um modo
ou outro – numerus clausus, restrições religiosas, raciais e nacionais, taxas,
dotes, patronagem. Poder competir bem em sistemas meritocráticos dependeu
sempre de um nível prévio adequado de educação formal ou informal, o que
é, por sua vez, função do ambiente familiar e de um investimento prévio em
educação. Estes aspectos “perversos”, ou regressivos, da educação, tem sido
objeto de estudos e demonstrações detalhadas que ganharam grande populari-
dade nas últimas décadas.
O que tem sido menos analisado é como que esta nova percepção da educa-
ção, como mais um instrumento de estratificação social e desigualdade, surgiu
após um longo período em que a educação era entendida exatamente como
seu oposto, ou seja,como um instrumento de progresso social, democracia e
igualdade. Teria sido esta uma simples ilusão, agora desmascarada pelos pes-
quisadores contemporâneos? Na realidade, não. A expansão da educação
moderna de fato coincidiu com a expansão da mobilidade social em todas as
partes. Muitos autores interpretaram isto como significando que a educação
criava, por ela mesma, novos produtos e novas oportunidades de trabalho.
Para eles, a educação passou a ser vista como um investimento econômico de
grande rentabilidade, e possível de ser medido pelas suas “taxas de retorno”,
ou seja, estimativas de renda gerada pela educação em relação a seus custos.
Esta visão da educação como “capital humano”é fartamente comprovada por
evidência originada das nações industrializadas, mas leva a resultados estra-
nhos e paradoxais quando transferidas para contextos como a Índia, África ou
América Latina, onde as instituições educacionais se expadiram com grande
rapidez e de forma independente de uma expansão correspondente do setor
industrial. Nestas sociedades é ainda possível detectar benefícios econômicos
para o investimento individual em educação, que de fato são freqüentemente
maiores do que nos países industrializados. Mas, nelas, o acesso à educação é
muito mais restritivo e dependente de recursos sociais e econômicos prévios,
e a soma dos benefícios individuais não se traduz em benefícios para a socie-
dade como um todo. Para estas sociedades a visão cética da educação, desen-
volvida por autores como Randall Cllins, Pierre Bourdieu e Raymond Bou-
don, parece a mais apropriada: o que a educação formal proporciona é, prin-
cipalmente, status, credenciais e oportunidades para monopólios profissionais
e sinecuras.
Houve quem tentasse esclarecer esta questão distinguindo entre a educação
como “investimento produtivo”(como por exemplo em engenharia) e a educa-
ção como “consumo”(como por exemplo em literatura, dança ou ciências so-
ciais). A maioria dos produtos da educação, no entanto, só pode ser vendida
ou utilizada por outros como serviços, e se determinado serviço (como a ad-
ministração profissionalizada, um projeto arquitetônico bem feito, o atendi-
mento legal ou médico, o turismo bem organizado, a boa música ou a publici-
dade) é considerado ou não como algo de valor é uma questão totalmente sub-
jetiva e dependente de cada cultura. O que é inquestionável é que por muitos
anos os produtos da educação foram considerados com coisas boas e valoro-
sas, e por isto mesmo geraram benefícios que todos apreciavam. É facil ima-
ginar como esta situação pode se reverter: pode haver gente demais oferecen-
do serviços e mercadorias por preços demasiado altos, gozando de privilégios
e monopólios injustificáveis, injustos e sem relação definida com a qualidade
dos produtos que oferecem. Tudo isto é subjetivo e dependente de valores,
tradições, e do marketing dos provedores de bens e serviços; suas conseqüên-
cias, no entanto, em temos da maneira pela qual as instituições educacionais e
os setores educados funcionam em determinada sociedade, são muito reais, e
afetam diretamente a capacidade de autonomia e auto-regulação de que as u-
niversidades podem dispor.
7.7 Autonomia e Integração
Autonomia, ou auto-regulação, é uma característica constante de instituições
baseadas na produção e transmissão de conhecimento, que funciona melhor
em duas condições opostas. A primeira é quando esta autonomia é dada como
óbvia, e ocorre de forma natural e não questionada. Isto se dá quando as uni-
versidades estão bem integradas com o resto da sociedade, ou seja, quando
seus professores são reconhecidamente competentes, seus produtos intelectu-
ais reconhecidos como importantes, seus formados apreciados por sua compe-
tência, e seus custos não demasiadamente elevados. O fato de os professores
participarem diretamente da gestão das universidades, como na Europa, ou de
existir um corpo especializado d administradores profissionais, como nos Es-
tados Unidos, é relativamente secundário desde este ponto de vista. A outra
condição ocorre quando a sociedade é de tal maneira segmentada que o mun-
do acadêmico dificilmente cruza seus caminhos com os de outros grupos so-
ciais, e, por isto, não entram em colisão.
A autonomia se transforma em problema quando a integração com a socieda-
de se interrompe, ou quando as comunicações entre os diversos setores se in-
tensifica. A autonomia universitária em relação a sociedade mais ampla é ho-
je fortemente questionada na Europa Ocidental, por exemplo, por razões de
custo, e em nome do princípio democrático da igualdade de oportunidades.
Na medida em que mais pessoas buscam as universidades, elas se tornam
mais caras e dependentes do apoio e da aprovação externa de contribuintes,
estudantes, legisladores, ministros, empregadores, planificadores. Cada um
destes setores pressiona por melhores produtos, melhor uso do dinheiro públi-
co, e melhor atendimeno a seus objetivos específicos, que freqüentemente não
coincidem com os dos demais.
As universidades sempre lidaram com as pressões externas da cooptação de
personalidades públicas e ilustres, que recebem títulos honorários e são cha-
madas a tomar assento em comissões consultivas importantes (mas quase
sempre de pouca capacidade de decisão); pela criação de instituições interme-
diárias, como o famoso University Grants Committee na Inglaterra, ou os
conselhos de ciência e educação em outras sociedades, incluindo, pelo menos
em intenção, o Conselho Federal de Educação no Brasil; e pela colocação de
seus próprios membros como conselheiros dos políticos e funcionários públi-
cos, que são mais ou menos facilmente convencidos de sua imcopetência para
decidir as questões do ensino superior e da pesquisa. Estes mecanismos são
geralmente suficientes para proteger as universidades em tempos de relativa
estabilidade e crescimento limitado. Não há porque imaginarmos que se trata,
tão e simplesmente, de manipulação. Por estes meios, o público leigo e as
autoridades terminam por conhecer mais de perto as universidades, e estas,
através de suas lideranças mais significativas, encontram oportunidades de
sentir melhor, e se ajustar gradualmente, às demandas cambiantes de seu am-
biente externo.
Interferências externas se tornam particularmente perigosas quando vão além
das tentativas de orientar as instituiçoes educacionais e se transformam em
verdadeiros assaltos aos recursos e meios de que estas instituições dispõem.
Políticos de inclinação anti-intelectual podem decidir cortar recursos do ensi-
no e transferí-lo para fins mais populares, ou supostamente mais produtivos;
instituições educacionais podem ser percebidas, e utilizadas, como mais uma
fonte de empreguismo e clientelismo político; companhias privadas, ou insti-
tutos governamentais, podem roubar as universidades de seus cérebros, ou
utilizar seus laboratórios e centros de pesquisa de acordo com seus interesses
de curto prazo. Estas práticas dificilmente prosperam quando a legitimidade
das instituições educacionais está bem definida; em outras circunstâncias, no
entanto, seus efeitos podem ser devastadores.
Pressões externas coincidem, freqüentemente, com conflitos internos. Dizem
que as primeiras universidades italianas eram totalmente controladas pelos
estudantes, que pagavam os professores e, por isto, os contratavam ou demiti-
am a seu bel-prazer. Se isto de fato ocorreu, não deve ter durado muito. Os
professores eram geralmente mais velhos e mais sábios que os estudantes, e
agiam com a autoridade da Igreja e das famílias. Conflitos entre profesores e
estudantes, no entanto, são tão antigos quanto as próprias universidades, e de
alguma maneira fazem parte de um fenômeno muito mais geral, que é o dos
conflitos inter-geracionais.
Ensinar em uma universidade pode significar coisas muito distintas para pes-
soas diferentes- uma atividade de tempo parcial para um advogado ou médico,
um envolvimento integral com o ensino e a pesquisa para um cientista, um
simples emprego para um professor . Cada um destes profissionais tem sua
própria maneira de vivenciar e entender sua atividade, e a instituição na qual
ela se desenvolve. Nas universidades de pesquisa dos países anglo-saxões, o
que predomina é o professor-pesquisador, que define os padrões e os modelos
para o resto; nas universidades latinoamericanas mais tradicionais, o que pre-
domina é o profissional liberal que ensina em tempo parcial; nos grandes sis-
temas de educação de massas das sociedades modernas, o que predomina é o
professor contratado em regime de tempo integral para dar aulas, que não é
nem um profissional liberal como os velhos catedráticos, nem um cientista
pesquisador. A coexistência de pelo menos estes três tipos de personagem tão
diferentes nas mesmas instituições, e desempenhando aparentemente os mes-
mos papéis, é uma fonte óbvia de tensão, que ocorre principalmente quando
se tenta enxertar ao mesmo tempo, como foi no caso do Brasil, algumas ca-
racterísticads das universidades de pesquisa, e outras do ensino superior de
massas, em organizações acadêmicas tradicionais.
Os estudantes são o segundo elemento importante nas disputas de poder den-
tro das instituições acadêmicas. Sendo os destinatários mais óbvios dos servi-
ços acadêmicos, eles se sentem naturalmente no direito de fazer prevalecer
sua vontades. A questão importante, naturalmente, é saber em que condições
esta sensação difusa se traduz em ação efetiva. A experiência de muitos paí-
ses parece sugerir que a politização e participação estudantil é mais alta quan-
do os estudantes são oriundos da elite, mas suas oportunidades de obter posi-
ções de prestígio e autoridade depois de formados são vistas como limitadas.
O oposto ocorre quando as perspectivas ocupacionais para os estudantes de
elite são promissoras, ou quando o recrutamento é ampliado para incluir estu-
dantes de origem social menos privilegiada. Nestes casos há uma sensação de
realização pessoal que em geral reduz a motivação que o estudante possa ter
em se envolver em atividades coletivas ligadas ao meio no qual ele se encon-
tra a título temporário. É possível especular, a partir destas constatações, a
respeito dos prováveis efeitos da massificação do ensino superior sobre a poli-
tização estudantil. Em geral, na medida em que mais pessoas são trazidas pa-
ra as instituições educacionais, poderemos esperar que sua capacidade de mo-
bilização diminua, e isto parece ter acontecido em contextos tão diferentes
quanto, por exemplo, o Brasil e os Estados Unidos nos últimos 20 anos. Por
outro lado, existe um novo tipo de mobilização estudantil nas sociedades mo-
dernas que parece estar relacionado com os fenômenos de “cultura de juven-
tude” que estão ocorrendo nas sociedades mais industrializadas. Um de seus
componentes é o desemprego estrutural dos jovens, e a extensão da faixa etá-
ria considerada como de “juventude” até próximo dos 30 anos, o que gera to-
do um novo conjunto de conflitos inter-geracionais que se utilizam das
instituições de ensino superior como campo de batalha.
Um último participante das disputas de poder dentro das instituições de ensi-
no superior são os funcionários. A complexidade crescente destas instituições
tem levado, em muitas partes, ao desenvolvimento de uma nova profissão, a
dos administradores universitários e educacionais, que têm suas próprias idéi-
as a respeito de seu papel, e sua necessidade de reconhecimento, poder e auto-
ridade. Mesmo quando este tipo de desenvolvimento não ocorre, funcionários
administrativos são cada vez mais numerosos, se organizam em associações e
sindicatos profissionais, e clamam por sua fatia do poder.
7.8 Tensões e Reformas
Em última análise, as tensões que ocorrem dentro dos sistemas de ensino su-
perior, e em sua relação com a sociedade mais ampla, dependem basicamente
de se a sociedade está expandindo ou não suas oportunidades ocupacionais, se
ela está ou não submetida a pressões demográficas, e se o sistema educacional
está funcionando como canal efetivo de mobilidade social ou, ao contrário, de
resistência contra novos grupos sociais emergentes. Na Europa e provavel-
mente também no Japão a expansão do ensino superior ao final do século XIX
e início deste proporcionou um espaço para grupos ascendentes que não ti-
nham como ser absorvidos com facilidade pelo setor industrial, mas puderam
se engajar em um processo modernizador, ou “civilizatório”, que deu um des-
tino socialmente significativo a suas energias. Existe um claro paralelo entre
a modernização das instituiçoes de ensino nestas sociedades e o processo que
Barrington Moore descreveu em relação à modernização da agricultura no
surgimento das democracias modernas. Em muitas socieddades, não somente
a agricultura não se modernizou, como que seus sistemas educacionais tam-
bém permaneceram fechados , levando, em ambos os casos, a tensões poten-
cialmente explosivas.
A politização tradicional das universidades latinoamericanas é um bom e-
xemplo desta condição. As sociedades latinoamericanas sempre foram muito
segmentadas, e suas instituições de ensino superior eram provavelmente ade-
quadas, até o início deste século, para dar a suas elites a quantidade limitada
de educação formal que elas desejavam. Tensões começaram a surgir, no en-
tanto, quando novos grupos sociais – filhos de imigrantes, ou de classes mé-
dias incipientes nas cidades começaram a entrar no sistema educacional e per-
ceber que estas instituições estavam demasiadamente rigidificadas para ex-
pandir e assumir novos papéis.
Nas primeiras décadas deste século, muitos países latinoamericanos foram
sacudidos pelo que ficou conhecido como o “Movimento da Reforma”, que se
iniciou na cidade de Córdoba, Argentina, em 1918. Ao lermos os documentos
e proclamações associados ao movimento, dois aspectos chamam logo a aten-
ção. O primeiro é a condenação veemente da qualidade do ensino, a denúncia
de que as universidades latinoamericanas haviam deixado cumprir seu papel
central de portadoras do conhecimento. A segunda é a idéia de que só os es-
tudantes poderiam mudar esta situação. Na realidade, a Reforma não consa-
grou o governo das universidades pelos estudantes, mas sim a divisão tri-
partite dos órgãos de governo entre estudantes, professores e ex-alunos, os
quais deveriam se inscrever junto às universidades para eleger seus represen-
tantes (não há evidência de que os ex-alunos jamais tenham chegado a de-
sempenhar um papel muito significativo). Na conturbada histórica do Movi-
mento da Reforma, os conflitos entre estudantes, professores e autoridades
governamentais eram freqüentemente traduzidos em termos político-
partidários, gerando muitas vezes lideranças de grande projeção nacional e
internacional, como Alfredo Palácios na Argentina, Haya de la Torre no Pe-
ru, Raul Roa em Cuba, e Rómulo Betancourt na Venezuela. As demandas por
autonomia resultaram no estabelecimento de uma tradição de extraterritoriali-
dade para as cidades universitárias em muitos países latinoamericanos, dando
aos estudantes e professores direitos e privilégios com os quais os cidadãos
comuns dificilmente sonhariam. Estes privilégios poderiam ser interpretados
como indicando o sucesso do Movimento, levando ao reconhecimento e pres-
tígio públicos das universidades. O mais provável, no entanto, é que eles ex-
pressem simplesmente uma trégua temporária entre grupos antagônicos de
elite, muitas vezes rompida por confrontações violentas e derramamentos de
sangue.
As universidades latinoamericanas parecem ter levado ao extremo um tipo
específico de auto-regulação e autonomia, baseado essencialmente na capaci-
dade de mobilização política, e não na ocupação efetiva de uma posição de
centralidade entre as instituições de geração e transmissão de conhecimento
em suas sociedades. As razões históricas para isto são muitas, e impossível
de apresentar aqui. Mais importantes, de qualquer forma, são suas conse-
quências. Uma comparação sistemática entre os processos de modernização
das universidades na América Latina, Japão, India, África, a Rússia do século
XIX e a Europa Ocidental traz ensinamentos preciosos. Em nenhum país as
universidades deixaram de mudar. Em todos os casos elas tiveram que abrir
espaço para novas idéias, novas gerações, e em muitos casos compartir o po-
der com novos grupos. Somente em alguns casos, no entanto, elas consegui-
ram se transformar de maneira tal que pudessem reter sua função histórica de
centros geradores e transmissores de conhecimento. Em outros, elas termina-
ram ocupadas por outros grupos, com outros interesses, e nunca conseguiram
ir muito além de suas funções clássicas de agentes de legitimação de posições
de status e poder adquiridas por meios que têm pouco a ver, na realidade, com
o conhecimento enquanto tal.
7.9 Novas funções para novos tempos
A experiência histórica indica que a vitalidade das instituições universitárias,
como núcleo gerador de novas idéias, conhecimentos e valores tem estado e
deve estar intimamente relacionada com sua integração relativamente frouxa
(ou, em outros termos com sua relativa independência) em relação às fontes
de liderança e dominação econômica, política e religiosa que existem em to-
das as sociedades. A univerisdade “bem comportada”, que funcionasse de
maneira integrada e sem tensões com outros setores da sociedade, seria quase
certamente uma universidade burocratizada, desmotivada, sem vida e, em úl-
tima análise, sem maior relevância.
É importante também que, neste processo de competição com outros setores
da sociedade, as universidades não terminem vitoriosas e percam, sem sentir,
sua identidade prórpria. É importante também que, neste processo de compe-
tições com outros setores da sociedade, as universidades não terminem vitori-
osas e percam, sem sentir, sua identidade própria. É próprio da universiade
não ser a fonte de conhecimentos sagrados ou ideológicos, nem do poder eco-
nômico, nem do poder político; ela deixa de ser universidade quando se trans-
forma em Igreja, empresa ou partido. Encontrar seu espaço próprio, não se
submeter nem se descaractrizar, é chave para sua permanência e relevância.
Finalmente, os sistemas universitários modernos têm em si o germe da uni-
versidade clássica, mas também muitas outras coisas que têm pouco a ver
com ela. Por isto mesmo, eles são necessariamente instáveis e contraditórios,
e sujeitos a um processo constante de disputa e competição. Esta é uma situa-
ção inevitável, que não se corrigida sem que algumas das funções mais impor-
tantes dos sistemas educacionais modernos sejam sacrificadas. O que é im-
portante, aqui, é aprendermos a conviver com a variedade, a diferenciação e a
pluralidade de objetivos e princípios que são inerentes aos sistemas sociais
modernos. Com o surgimento do ensino superior de massas, dramatizado pe-
las mobilizações estudantis de 1968, a questão da reforma universitáia voltou
à ordem do dia em todo o mundo. A experiência acumulada desde então pa-
rece sugerir que os sistemas de ensino superior atuais são grandes demais, po-
litizados demais para poder ser alterados por grandes projetos reformadores,
que, ou são bloqueados por interesses afetados, ou se frustam em sua imple-
mentação. Isto não significa, no entanto, que não exista espaço para mudan-
ça; mas ela não pode se dar a partir de um amplo consenso a respeito de um
“novo”papel para o sistema universitário, e sim da diferenciação progressiva
de suas funções, e no atendimento particularizado a suas diferentes clientelas.
É a partir destas perspectivas que podemos pensar melhor a crise de legitimi-
dade que hoje atinge nossas instituições de ensino superior. Como elas se de-
senvolverão nos próximos anos, que tipo de relações estabelecerão com outras
instituições produtoras e difusoras de conhecimento nas sociedades modernas,
em que medida permanecerão ou não como lugares privilegiados da geração e
expansão da fronteira intelectual e científica, de que forma poderão se ajustar
às múltiplas demandas que recebem sem perda de autonomia e responsabili-
dade e, finalmente, em que medida sua autonomia será fruto de seu prestígio,
ou de sua alienação são estas as questões que deveremos observar, e que defi-
nirão o futuro desta instituição milenar. A sina da universidade, se podemos
utilizar esta figura, é estar senpre descontente com suas limitações, sem per-
der, no entanto, sua identidade, forjada na evolução das sociedades modernas
nos últimos séculos. Na medida em que ela possa se manter fiel a esta sina,
ela será, ainda por muito tempo, um fator de perturbação, discussão, eventu-
almente conflito mas também de esperança para um mundo melhor.
Notas
2. Estas idéias estão contidas, de forma mais elaborada e complexa, em
Economia e Sociedade, de Max Weber.
3. 3. Um “tipo ideal”, em linguagem sociológica, é uma representação
conceitual estilizada, onde as características mais marcantes de um fe-
nômeno social são acentuadas. “Ideal”, aqui, se refere a idéia conceito,
e não a ideal como modelo a ser buscado ou conseguido.
8. O Custo da Educação no Brasil
A princípio, a manuntenção das escolas no Brasil estava a cargo da própria
Companhia de Jesus, ao contrário do que acontecia em Portugal, onde a Coroa
destinava recursos para o amparo dessas instituições. Baseado nisso, o padre
Manuel da Nóbrega, assim que pôs os pés em terras americanas, fez uma re-
quisição na qual propunha o estabelecimento de propriedades territoriais para
as escolas.
Com o apoio financeiro cresceram e multiplicaram-se as escolas e as casas
missionárias no Brasil. Entre as mais importantes estão o próprio Colégio da
Bahia, fundado por Manuel da Nóbrega, e o Colégio de São Vicente, fundado
por Leonardo Nunes, que também chegou ao Brasil com a expedição de Tomé
de Souza, o primeiro governador-geral. Além desses foram fundados os de
São Paulo (1554), Rio de Janeiro (1568), Olinda (1576), Ilhéus (1604), São
Luís, Paraíba, Santos, Belém, Alcântara (1716), Vigia (1731), Paranaguá
(1738) e Desterro (1750).
9. A Educação no Império
Graças aos conflitos da Corte portuguesa com Napoleão em 1808, a família
real portugesa muda-se para a colônia brasileira.
E devido as exigências da burocracia administrativa, a vida em Vila Rica,
Salvador e Recife, sofrem mudanças.
Com a chegada de D. João VI, o Brasil rompe gradualmente com o governo
Britânico, e passa assumir uma caminhada em prol da independência.
As transformações culturais são evidenciadas com a criação da imprensa, mu-
seu, biblioteca e academias.
O Barão de Mauá, incentiva a industrialização, com a produção de navios a
vapor, construção de estradas de ferro e instalação de bancos e telégrafos.
9.1 O Papel da Educação na Reorganização Democrática da Sociedade brasi-
leira
Neste final de século, a escola brasileira ainda luta para concretizar a necessá-
ria democratização do ensino básico. Pode-se dizer que houve um significati-
vo avanço no acesso ao Ensino Fundamental, alcançando-se uma taxa de es-
colarização d 95,8%. No entanto, os dados relativos à evasão e à repetência
atingem cerca da metade dos alunos matriculados, refletindo a precária quali-
dade do ensino e a existência de enormes desigualdades sociais em nosso pa-
ís.
O Estado é o principal, responsável por garantir à população um Ensino Fun-
damental de qualidade, mas problemas que afetam a escola são questões de
toda a sociedade, e superá-los é responsabilidade de todos. Nesse sentido, os
desafios a serem enfrentados são inúmeros, situando-se em diferentes âmbi-
tos, desde a gestão dos sistemas e a consequente redefinição do papel do Es-
tado, passando pela formação dos educadores e até a construção de consensos,
redes e parcerias, de forma a criar uma nova mentalidade da sociedade em
geral, na qual os diferentes segmentos sociais se percebam com protagonistas
da construção de uma educação de qualidade para todos.
A mobilização social por educação visa desenvolver ações articuladas que
vinculem vários espaços educativos de objetivos claramente definidos para a
fomação da cidadania.
Dentro desta contextualização, percebemos que a história da educação está
essencialmente condicionada pela transformação dos valores válidos para ca-
da sociedade. Dessa maneira o grego, estabelece pela primeira vez de modo
consciente um ideal de cultura como princípio formativo. A idéia de educa-
ção representava o sentido de todo o esforço humano para garantir a plena
realização e o exercício consciente de cidadania. Os gregos veslumbraram a
importância universal da educação em vista de uma nova concepção do lugar
do indivíduo na sociedade, só assim que o povo poderá atingir a consciência
de si prórpio e descobrirá pelo caminho do espírito, as leis e normas objetivas
cujo conhecimento dá ao pensamento e a ação uma segurança, respeito, a auto
estima antes desconhecida.
Este retrospecto visa exatamente demonstrar que o único caminho que produz
a certeza da vontade geral, e capacita ao povo questionar a efetiva participa-
ção do poder do Estado em prol do Bem Comum, necessariamente é pela via
da educação.
Essas questões que envolvem alocação de prestações de serviços e benefícios,
são evidenciados nas obras de Émile Durkheim, Karl Max, Marx Weber, onde
os autores através da historicidade das relações e interações sociais apontam
direcionamentos econômicos que atingiram drasticamente a esfera social, o-
casionando nos fatos sociais amplitudes diversas que atualmente, descaracte-
rizaram a visão objetiva dos imaginários e paradigmas que homogenizam as
relações, deixando os jovens cativos, tornando os homens alienados, subjuga-
dos, inoperantes, passivos e desprovidos e distanciados do direito da educação
e da garantia da cidadania.
Com estratégias ousadas na educação, será possível a aspiração do indivíduo
ao valor máximo que os tempos modernos lhe reconhecem, colocando o ho-
mem no sentido clássico do Humanismo, integrando-o no seio da comunida-
de.
Conclusão
Quem de nós se arriscaria a dizer o que é certo em se tratando de Educação.
Talvez nós jamais vamos saber. O exercício da dúvida proposta por Descar-
tes se torna perfeitamente compreensível. É preciso entender que a condição
de vida implica na necessidade e o ser humano encontra-se no topo dessa di-
versificação de necessidades. A pirâmide de necessidades de Maslow mostra
isto de uma forma mais detalhada. Outro aspecto que a vida traz é a polarida-
de ou seja os lados opostos (aspectos positivos e negativos ao mesmo tempo
nos modelos e propostas para a Educação). Deus e a Educação estão além da
nossa imaginação. O filósofo Nietzsche já tinha previsto que a menos que o
homem compreenda sua religiosidade, este não terá condições de educar e de
reconstruir a civilização sobre novas bases. As coisas se resumem mais as
atribuições que damos a educação e os seus efeitos virão e é de seus efeitos
que a consciência humana se alimenta. Quando falo em atribuições parece ser
simples, mas não é. Envolve também além dos processos pedagógicos todos
os aspectos de um procedimento religioso. A espiritualidade que muitas pes-
soas carregam no seu interior e que muitas vezes estas não se dizem religio-
sas, na verdade com uma educação que respeite e harmonize as diferenças
possibilitará o desabrochar e fluir gradativamente à consciência e a religiosi-
dade. Penso que, o que o homem tem de mais rico é a arte de suas relações e
o conhecimento adquirido. E do acordo entre os modelos e teorias pedagógi-
cas poderemos evoluir para o entendimento e alcançar a meta desejada que é
educar para construir um mundo de oportunidades iguais para todos.
Muitos dos que lerem e compreenderem estas páginas, vão preferir o silêncio
ou darão os ombros. E isto é lógico. Porque desta vez é o nosso próprio in-
consciente em ação. Afinal, bem ou mal, estruturados com teorias ou carre-
gados emocionalmente nós já estamos.
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