universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

72
UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP ALINE DUARTE EDILSON ANÁLISE DO PERFIL SOCIOECONÔMICO, CARACTERIZAÇÃO DE ACIDENTES E AVALIAÇÃO DO ACESSO A INFORMAÇÕES SOBRE MEDIDAS PREVENTIVAS DE ACIDENTES OCASIONADOS POR ANIMAIS AQUÁTICOS A PESCADORES DA BACIA DO ALTO PARAGUAI, MATO GROSSO DO SUL CAMPO GRANDE MS 2014

Transcript of universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

Page 1: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

ALINE DUARTE EDILSON

ANÁLISE DO PERFIL SOCIOECONÔMICO, CARACTERIZAÇÃO DE

ACIDENTES E AVALIAÇÃO DO ACESSO A INFORMAÇÕES SOBRE

MEDIDAS PREVENTIVAS DE ACIDENTES OCASIONADOS POR ANIMAIS

AQUÁTICOS A PESCADORES DA BACIA DO ALTO PARAGUAI, MATO

GROSSO DO SUL

CAMPO GRANDE – MS

2014

Page 2: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

ALINE DUARTE EDILSON

ANÁLISE DO PERFIL SOCIOECONÔMICO, CARACTERIZAÇÃO DE

ACIDENTES E AVALIAÇÃO DO ACESSO A INFORMAÇÕES SOBRE

MEDIDAS PREVENTIVAS DE ACIDENTES OCASIONADOS POR ANIMAIS

AQUÁTICOS A PESCADORES DA BACIA DO ALTO PARAGUAI, MATO

GROSSO DO SUL

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da

Universidade Anhanguera-Uniderp, como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Mestre em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. José Sabino

Prof. Dr. Celso Correia de Souza

CAMPO GRANDE – MS

2014

Page 3: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...
Page 4: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...
Page 5: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me dar saúde, coragem, paciência e força neste e em todos

os outros momentos da minha vida.

A minha família, por todo o apoio, carinho, incentivo e paciência

dispensados nesta minha jornada.

Ao meu pai pela essencial contribuição e suporte para a realização das

pesquisas e conclusão do trabalho.

A minha mãe querida pelo carinho e incentivo que foram fundamentais

durante esta jornada.

Ao meu namorado pelo apoio, ajuda e principalmente pela compreensão

na reta final desta jornada.

Aos meus amigos pela ajuda e apoio durante a realização das

pesquisas.

Ao meu orientador, Prof. Dr. José Sabino, por todas as correções,

sugestões e orientações durante este trabalho.

Ao meu coorientador, prof. Dr. Celso Correa de Souza, pelo incentivo

durante esta jornada e orientação na parte estatística.

Ao tesoureiro da colônia de pesca de Miranda João Simões, pelo apoio,

recepção e ajuda durante a execução da pesquisa.

A presidente da Colônia de pescadores de Corumbá Luciene de Lima

pela recepção e apoio durante a realização da pesquisa.

A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino

Superior) pelo apoio financeiro e concessão da bolsa de mestrado para

realização desta pesquisa.

A Prof. Dra. Elisabeth Nogueira Ferroni Schwartz coordenadora geral do

projeto de Toxinologia da Capes: “Peixes Continentais Peçonhentos:

Epidemiologia dos Acidentes, Ações Preventivas, Mecanismos Fisiopatológicos

e Bioprospecção”. Ao financiamento concedido por este projeto.

A todos os docentes do curso de Mestrado em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-Uniderp, pela

contribuição fundamental para minha formação.

Page 6: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

LISTA DE FIGURAS

Artigo I

Figura 1. Localização da Bacia do Alto Paraguai, no Brasil...........................26

Figura 2 Colônia de Pescadores Profissionais do município de Miranda (P1),

Mato Grosso do Sul...........................................................................................27

Figura 3. Colônia de Pescadores Profissionais do município de Corumbá (P2),

Mato Grosso do Sul...........................................................................................27

Figura 4. Quadro de lesão causada por mordida de piranha (Pygocentrus

nattereri)...........................................................................................................39

Artigo II

Figura 1. Localização da Bacia do Alto Paraguai, no Brasil...........................54

Figura 2 Colônia de Pescadores Profissionais do município de Miranda (P1),

Mato Grosso do Sul...........................................................................................55

Figura 3. Colônia de Pescadores Profissionais do município de Corumbá (P2),

Mato Grosso do Sul...........................................................................................55

Page 7: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

LISTA DE TABELAS

Artigo I

Tabela 1. Perfil socioeconômico, escolaridade e faixa etária dos pescadores

profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do

Sul......................................................................................................................31

Tabela 2. Tempo de atuação na profissão, número de acidentes e local do

corpo atingido em pescadores profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato

Grosso do Sul....................................................................................................35

Tabela 3. Faixa etária em relação ao número de acidentes de pescadores

profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do

Sul......................................................................................................................36

Tabela 4. Tempo de atuação em relação ao número de acidentes sofridos por

pescadores profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do

Sul......................................................................................................................37

Tabela 5. Animal causador do acidente e tipo de lesão ocasionada em

pescadores profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do

Sul....................................................................................................................39

Tabela 6. Tipo de dor e sintomas dos acidentes ocasionados por animais

aquáticos em pescadores profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso

do Sul.................................................................................................................41

Tabela 7. Tratamento empregado nas lesões, tempo de afastamento do

trabalho por acidentes envolvendo animais aquáticos em pescadores

profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do

Sul......................................................................................................................44

Artigo II

Tabela 1. Pescadores que tiveram ou não acesso a informações sobre

prevenção de acidentes ocasionados por animais aquáticos, na Bacia do Alto

Paraguai, Mato Grosso do Sul...........................................................................58

Page 8: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

Tabela 2. Meios de comunicação pelos quais os pescadores, tiveram acesso a

informação de prevenção de acidentes envolvendo animais aquáticos na Bacia

do Alto Paraguai, Mato Grosso do Sul...............................................................59

Tabela 3. Uso de Equipamentos de proteção (EPI’s) por pescadores

profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do

Sul......................................................................................................................60

Page 9: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

SUMÁRIO

1 Introdução Geral.............................................................................................8

2 Revisão de Literatura...................................................................................11

3 Referências Bibliográficas...........................................................................17

Artigo I..............................................................................................................21

Análise do perfil socioeconômico e caracterização de acidentes

ocasionados por animais aquáticos a pescadores da Bacia do Alto

Paraguai, Mato Grosso do Sul........................................................................21

Resumo.............................................................................................................21

Abstract............................................................................................................23

Introdução........................................................................................................24

Material e Métodos...........................................................................................26

Resultados e Discussão..................................................................................30

Conclusões.......................................................................................................46

Agradecimentos...............................................................................................47

Referências Bibliográficas..............................................................................48

Artigo II.............................................................................................................50

Avaliação do acesso a informações sobre prevenção de acidentes

ocasionados por animais aquáticos a pescadores da Bacia do Alto

Paraguai, Mato Grosso do Sul........................................................................50

Resumo.............................................................................................................50

Abstract............................................................................................................51

Introdução........................................................................................................52

Material e Métodos...........................................................................................54

Resultados e Discussão..................................................................................58

Conclusões.......................................................................................................63

Agradecimentos...............................................................................................64

Referências Bibliográficas..............................................................................65

Conclusão Geral..............................................................................................68

Apêndice 1........................................................................................................69

Page 10: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

8

1 Introdução Geral

A pesca em águas interiores é amplamente reconhecida como

importante fonte de alimento em diferentes continentes (FAO, 2000; 2002). De

modo geral no mundo, mas particularmente no Brasil, a pesca continental

atende a populações ribeirinhas detentoras de baixos indicadores

socioeconômicos (FERNANDEZ-BACA, 1998; KULBICKI, 2003; BENNETT e

THORPE, 2008). Tal perfil se aplica à pesca profissional artesanal em água

doce no Brasil, cuja atividade emprega milhares de pessoas em locais onde a

assistência médica e previdenciária são precárias.

Em cidades ribeirinhas e vilarejos no interior do país, grande parte das

pessoas trabalha por conta própria e sem carteira assinada, o que favorece a

não notificação de acidentes de trabalho e a limitação da estimativa e controle

(GARRONE NETO et al., 2005). Os acidentes de trabalho ocorridos com

trabalhadores que apresentam registro na carteira de trabalho, ainda que em

um sistema deficiente, têm maior número de notificações (GARRONE NETO et

al., 2005).

A pesca comercial, notadamente a marítima, é considerada uma das

ocupações laborais mais perigosas: Um estudo retrospectivo de um ano entre

os pescadores comerciais dinamarqueses revelou que a taxa global de lesão

durante a atividade de pesca foi de 20,4 por 100 pessoas/ano, mostrando a

elevada ocorrência de acidentes de trabalho (JENSEN,1996).

Na BAP e na região do Pantanal a pesca se tornou uma das principais

atividades econômicas, sociais e ambientais da região (CATELLA, 2006). A

pesca ainda é realizada de modo artesanal, expondo os profissionais a riscos

(SILVA et al., 2010). Segundo GARRONE NETO et al. (2005), a maior causa

de acidentes em pescadores está relacionada a lesões envolvendo animais

aquáticos e, devido a sua elevada frequência e gravidade, é considerado um

problema de saúde pública que causa sofrimento e prejuízos socioeconômicos.

Várias espécies de animais causadoras de acidentes podem conter

toxinas e apresentar peçonha. Segundo HADDAD JR (2013), toxinas são

substâncias produzidas por animais que, dentro do organismo de outro animal,

reagem com determinadas células e órgãos, causando efeitos deletérios e as

peçonhas são toxinas que provocam seus efeitos após serem injetadas por

Page 11: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

9

espículas, presas ou ferrões. A ação das toxinas é variável, mas os principais

efeitos são neurotóxicos, proteolíticos, miotóxicos, hemotóxicos (hemolíticos) e

citotóxicos (HADDAD JR, 2013).

Os peixes fazem parte do grupo de animais aquáticos capazes de

provocar acidentes em seres humanos, principalmente em profissionais

relacionados à pesca. A gravidade dos acidentes vária de acordo com a

espécie envolvida e a circunstância do acidente. Segundo (HADDAD JR,

2008), os acidentes por bagres são os mais comuns no Brasil, especialmente

aqueles da família Pimelodidae, como os mandijubas (Pimelodus clarias Bloch,

1752) e os mandis-chorões (Pimelodus maculatus Lacépède, 1803), maiores

responsáveis pelos acidentes envolvendo veneno.

Acidentes por animais aquáticos venenosos e traumatizantes podem

provocar morbidez importante em humanos (HADDAD JR, 2013). Em 236

ocorrências por animais marinhos, os ouriços-do-mar causaram cerca de 50%

dos acidentes, os cnidários (cubomedusas e caravelas) 25% e peixes

venenosos (bagres, arraias e peixes-escorpião) 25% dos episódios. Nos rios e

lagos, as arraias, bagres e mandis causam acidentes; estes animais

apresentam mecanismos de envenenamento e os efeitos das toxinas são

semelhantes aos das espécies marinhas. Em uma série de cerca de 200

acidentes em pescadores de água doce, quase 40% foram causados por

bagres e mandis, 5% por arraias de água doce e 55% por peixes

traumatogênicos, como as piranhas e as traíras (HADDAD JR, 2013).

Os pescadores sobrevivem da captura e venda de produto pescado,

mas a atividade tem sido cada vez mais desvalorizada no mercado, devido à

ação de atravessadores. Ao impor baixos preços ao pescado, induzem os

pescadores a estender suas jornadas de trabalho, o que os deixam mais

expostos a situações de risco e acidentes (GARRONE NETO et al., 2005).

Dessa forma, a maior parte desses profissionais não se atenta para sua saúde

e segurança durante a realização de suas atividades laborais, preocupando-se

apenas em trabalhar para garantir o sustento da família. A maioria dos

pescadores desconhece ou ignora medidas de prevenção, primeiros socorros e

uso de equipamentos de segurança, isto acaba muitas vezes por agravar o

quadro de saúde destes profissionais (DOIMO et al., 2012), fatos que reforçam

a importância do presente estudo.

Page 12: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

10

SILVA et al. (2010) ressaltam a necessidade da elaboração de material

educativo, adequadamente ilustrado, com uso de recursos modernos de

desenho gráfico e focado em linguagem acessível ao público alvo. A

importância da educação e prevenção acerca do tema assume alta relevância

e tem desdobramentos e impactos socioeconômicos, na medida em que o

pescador bem orientado pode prevenir-se de traumas e, caso acidentado,

assumir a conduta mais adequada.

Pelo exposto, o objetivo desta investigação é realizar uma análise do

perfil socioeconômico dos profissionais da pesca, da ocorrência e

caracterização dos acidentes e verificar se eles têm acesso a informações

quanto à prevenção de acidentes ocasionados por animais aquáticos.

Page 13: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

11

2 Revisão de Literatura

O Brasil apresenta a maior rede hidrográfica do mundo, com a mais rica

ictiofauna continental do Planeta (REIS et al., 2003). Essa fauna de peixes, por

vezes, pode ser perigosa e causar acidentes com frequência em pescadores

(HADDAD JR, 2008).

Segundo a Lei n. 11.959/09 a pesca artesanal é a praticada diretamente

por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia

familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria

(BRASIL, 2009). A pesca artesanal está fundada nos conhecimentos dos

antepassados que são transmitidos ao pescador, através das gerações, pela

tradição e efetivada pela interação com os companheiros de profissão. É

frequentemente realizada em pequenas embarcações a remo ou a vela, ou

mesmo motorizada, e a pesca, geralmente, é realizada sem instrumentos de

apoio à navegação e equipamentos obrigatórios. Desta maneira, os

pescadores trabalham apenas com a experiência e conhecimento rudimentar

(LEBRE et al., 2012).

Segundo (JENSEM, 1996), acidente de trabalho em pescadores tornou-

se um problema global de difícil solução. Estudos com pescadores

dinamarqueses mostram que existe um alto índice de lesões fatais e que estas

são mais conhecidas e registradas, e as lesões não fatais são menos

conhecidas e merecem importância devido a sua elevada frequência sendo

geralmente causadas pela falta de atenção durante a realização das atividades.

As Autoridades Marítimas da Dinamarca não fornecem informações confiáveis

sobre a significância do problema (JENSEM, 1996).

Estudos mostram que a pesca de arrastão está entre as ocupações mais

perigosas na Grã-Bretanha: taxas de acidentes fatais indicam145, 143, e 116

por 100.000 trabalhadores/ano (STEPHEN, 2002). Pescadores têm de lidar

com os riscos ocupacionais e aqueles relacionados ao clima; estes, juntamente

com as pressões econômicas, muitas vezes fazem essa indústria não receptiva

à introdução de medidas de segurança (STEPHEN, 2002).

A Austrália tem uma zona de pesca exclusiva de 9 milhões de km².

Estudos publicados sugerem que a pesca comercial na Austrália também é

Page 14: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

12

uma ocupação de alto risco, com taxas de mortalidade bem acima da maioria

dos outros grupos profissionais (DRISCOLL et al., 1994).

Parece que a fadiga é um dos indutores dos acidentes, potencializada

pelo trabalho árduo, sem períodos adequados de descanso e sono pode ser

um fator importante na causa da alta taxa de acidentes fatais. Ela pode

também ter um efeito adverso sobre a saúde geral (SCHILLING, 1966).

No Brasil, os acidentes envolvendo animais aquáticos estão entre os

mais comuns. Segundo GARRONE NETO et al. (2005), em um estudo

realizado na região do médio Araguaia, 86% dos acidentes laborais envolvendo

pescadores são ocasionados por animais aquáticos.

Segundo DOIMO et al. (2012), 90% dos pescadores artesanais marinhos

da Estação Ecológica de Juréia-Itatins, no estado de São Paulo desconhecem

o uso de equipamentos de proteção, apenas 1% conhece o uso de EPI’s e 3%

fazem uso de botas. Todos os pescadores carregam coletes salva vidas em

embarcações, mas somente 80% os utilizam, enquanto que 90% apresentaram

ferimentos nas mãos devido à manipulação do pescado sem fazer uso de

luvas.

Em conjunto, todos esses dados reforçam a alta ocorrência de acidentes

envolvendo animais aquáticos e o desconhecimento da importância de

medidas de prevenção e proteção por parte dos trabalhadores, que acabam

colocando suas vidas em risco. Tal realidade, reforça a necessidade da criação

de material educativo que contenha informações adequadas sobre prevenção

de acidentes envolvendo animais aquáticos.

Na Bacia do Alto Rio Paraguai, particularmente nos municípios da

Região do Pantanal, ferimentos e envenenamentos em pescadores

profissionais são comuns e pouco estudados (SILVA et al., 2010).

O rio Paraguai nasce em território brasileiro e sua bacia hidrográfica

abrange uma área de 1.095.000 km². Segundo BEZERRA e OLIVEIRA (2011),

a importância do rio Paraguai na percepção do pescador está ligada à questão

de sobrevivência, notadamente como oportunidade de pesca. Por outro lado,

considera o rio sua vida, sua existência. Por meio do rio, criaram seus filhos, e

o ambiente é fonte de renda e de vida.

A Bacia do Alto Rio Paraguai (BAP) ocupa uma área de

aproximadamente 600.000 km² na América do Sul, dos quais 363.442 km²

Page 15: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

13

estão em território brasileiro. O Pantanal brasileiro tem 147.629 km², está

totalmente inserido na BAP e responde por 41% desta região (PROJETO

PANTANAL et al., 2004). As nascentes dos rios da BAP ocupam uma área de

215.813 km² localizadas nos planaltos do seu entorno e representam 59% da

área da Bacia. Isso significa que uma porção expressiva da drenagem

hidrográfica central do continente sul-americano depende da BAP (PROJETO

PANTANAL et al., 2004).

Os Municípios de Corumbá e Miranda estão entre os mais importantes

formadores do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, pelas suas contribuições no

desenvolvimento socioeconômico da região e seus recursos hídricos. Segundo

o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), a população

estimada para os dois municípios é de 134.017 habitantes (cerca de 107.347

em Corumbá e 26.670 em Miranda). Suas economias são baseadas

essencialmente na agropecuária e na pesca, que representa a segunda

atividade econômica, agregando valores diretos, com a atividade pesqueira

profissional artesanal e, valores indiretos, com o turismo de pesca amadora.

Segundo dados médios do Sistema de Controle de Pesca -

SCPESCA/MS (CATELLA et al., 2010), a quantidade de pescado capturado e

vistoriado, para a pesca profissional e esportiva, na Bacia do Alto Paraguai, em

Mato Grosso do Sul, foi de 362 toneladas. A maioria do pescado é vendida

informalmente a restaurantes e hotéis por preços melhores que os pagos pelas

peixarias, evidenciando a importância deste setor na econômica dos municípios

da região.

No Pantanal são reconhecidas em torno de 270 espécies de peixes

(BRITSKI et al., 2007). Entre estas estão as espécies de peixes nobres e de

interesse para a pesca que apresentam alto valor comercial como: pacu

(Piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887), surubins (Pseudoplatystoma spp.)

dourado (Salminus brasiliensis Cuvier, 1817), jaú (Paulicea luetkeni

Steindatchner, 1875), piavuçu (Leporinus macrocephalus Garavello e Britski,

1988), piraputanga (Brycon hilarii Valenciennes, 1849), barbado (Pinirampus

pinirampu Spix e Agassiz, 1829), jurupoca (Hemisorubim platyrhinchos

Valenciennes, 1840) e jurupencem (Sorubim lima Bloch e Schneider, 1801)

(SILVA et al,. 2010). Muitas espécies são capazes de provocar acidentes

graves por ferrões ou mordidas, a maioria dos acidentes são ocasionados por

Page 16: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

14

espécies de baixo valor comercial, com destaque para as piranhas (subfamília

Serrasalminae), mas também por mordidas de traíras (Hoplias malabaricus

Bloch, 1794), e ferrões de arraias (Potamotrygon spp.), mandis (Pimelodus

spp., Pimelodella spp. e Rhamdia spp.), armaus (família Doradidae) e cascudos

(família Loricariidae).

Algumas espécies de bagre mandijubas (Pimelodus maculatus

Lacépède, 1803) e mandis-chorões (Pimelodella brasiliensis Steindachner,

1877) são os maiores responsáveis pelos acidentes em pescadores amadores

e profissionais (HADDAD JR e LASTORIA, 2005). Outros peixes de couro,

como os pintados (Pseudoplastytoma corruscans Spix e Agassiz, 1829) e

surubins (Pseudoplatystoma spp.), que apresentam alto valor comercial e

importante valor culinário, junto de armaus (Oxydoras spp.), portam ferrões que

podem apresentar toxinas, que, quando presentes, causam dor e necrose

(HADDAD JR, 2008).

SILVA et al. (2010) relatam que todos os pescadores entrevistados no

município de Coxim e Corumbá, em Mato Grosso do Sul, alegaram ter sofrido

algum tipo de trauma causado por animal aquático, principalmente peixes, e

que as situações que os levaram aos traumas foram ações corriqueiras durante

o exercício de suas atividades durante a pesca.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (BRASIL, 2001), a

pesca artesanal expõe os pescadores a vários riscos de acidentes, que podem

ser reunidos em grupos como: ergonômicos (problemas de postura), naturais

(incidência de sol na pele e olhos, friagem, ventos frios, ondas fortes), físicos

(lesões nas mãos e nos pés), químicos (contato com secreções venenosas ou

de substâncias químicas) e biológicos (contato com algas e coliformes fecais).

Para evitar estes riscos, existem os equipamentos de proteção individual

(EPIs) que são definidos pela norma regulamentadora 6 (NR6) como todo

dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, designado a

proteção contra riscos capazes de ameaçar a sua segurança e a sua saúde

(BRASIL, 1978). Na população de pescadores os EPI’s são recursos pouco

utilizados e não existe fiscalização de nenhuma instituição pública quanto ao

uso destes equipamentos, ficando a responsabilidade para o próprio pescador.

A norma regulamentadora que tem por objetivo a proteção e a

regulamentação das condições de segurança e saúde dos trabalhadores

Page 17: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

15

aquaviários é a NR 30 (BRASIL, 1978). Porém, esta norma tem aplicação

limitada à pesca artesanal.

Os riscos que os trabalhadores que atuam na atividade de pesca e

aquicultura está classificado com grau de risco médio (GR-3) conforme o CNAE

– Classificação Nacional de Atividades Econômicas (DOIMO et al., 2012).

O processo de captura dos peixes em condições naturais expõe o

pescador a uma série de riscos, desde o preparo dos apetrechos e

enfrentamento das condições naturais adversas, passando pelo manuseio do

pescado, durante ou depois da pesca (DALL’OCA, 2004). Nesse ambiente e

condições, acabam ocorrendo momentos de desatenção e não se tem o uso de

equipamentos primários de segurança que são essenciais. Muitos deles

trabalham descalços, são imprudentes na hora de manusear o pescado vivo,

seja na hora da retirada do anzol ou da rede de pesca, no deslocamento de um

local para outro ou dentro do barco; essas são causas facilitadoras dos

acidentes, que acabam por acometer as mãos e os pés dos pescadores

(DALL’OCA, 2004).

Segundo GARRONE NETO et al. (2005), os acidentes laborais com

pescadores constituem importante problema de Saúde Pública no Brasil, visto

sua elevada frequência e gravidade. Por acometerem principalmente pessoas

jovens e em idade reprodutiva, acarretam, além de sofrimento para os

trabalhadores acidentados e seus familiares, graves consequências sociais e

econômicas.

Associado aos acidentes é provável que o desconhecimento de medidas

preventivas e de primeiros socorros por parte dos pescadores agrave o quadro

das lesões, fatos que mostram a importância da criação e do uso de materiais

educativos que levem informações adequadas sobre acidentes envolvendo

animais aquáticos ao público alvo.

A comunicação e a educação estão intimamente ligadas, pois mesmo

independentes, possuem objetivos comuns para o atendimento das

necessidades essenciais de comunicação e aprendizagem do ser humano. No

contexto da saúde, essa relação se expressa por meio da aprendizagem, o ser

humano obtém conhecimentos, habilidades e atitudes e desenvolve diferentes

formas e graus de receber e responder as mensagens de saúde. Por outro

Page 18: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

16

lado, a eficiência da comunicação entre emissor e receptor determinará o grau

de aproveitamento da mensagem (MOREIRA et al., 2003).

Segundo MOREIRA et al. (2003), material educativo impresso é definido

como folhetos, panfletos, folder, livreto cuja idéia é proporcionar informação

sobre promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e autocuidado.

Dentro deste contexto, entende-se necessário analisar o perfil

socioeconômico desses profissionais, fazer um levantamento geral

caracterizando os acidentes, e averiguar se eles têm acesso a algum tipo de

informação quanto a prevenção de acidentes ocasionados por animais

aquáticos.

Page 19: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

17

3 Referências Bibliográficas

BENNETT, E.; THORPE, A. Review of river fisheries valuation in central

and south america. IDDRA Institute for Sustainable Development E Aquatic

Resources. University of Portsmouth, 50p. 2008.

BEZERRA, D. O. S.; OLIVEIRA, T. H. Impactos socioambientais no Rio

Paraguai, Cáceres, Mato Grosso, Brasil - Percepção dos pescadores da

Colônia Z – 2. Ciência & Educação, Bauru v. 17, n. 4, p. 957-973, sem mês,

2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil.

Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços

de saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos. n.114, Brasília, 2001. 580 p.

BRASIL. Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009. Dispõe sobre a Política

Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca. Diário

Oficial (da) República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 30

jun. 2009. Seção 1.

BRASIL. Ministério do trabalho (Norma Regulamentadora 6 – EQUIPAMENTO

DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI). Diário Oficial da União. Poder

legislativo, Brasília, DF, Portaria GM n.º 3.214, de 08 jun. 1978. 7p.

BRASIL. Ministério do trabalho (Norma Regulamentadora 30 – SEGURANÇA E

SAÚDE NO TRABALHO AQUAVIÁRIO). Diário Oficial da União. Poder

legislativo, Brasília, DF, Portaria SIT n.º 34, 04 de dez. 2002. 17p.

BRITSKI, H. A.; SILIMON, K. Z. S.; LOPES, B. S. Manual de Identificação de

Peixes do Pantanal. 2 ed. Brasília: Embrapa Informações Tecnológica, 2007.

227p.

Page 20: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

18

CATELLA, A. C.; ALBUQUERQUE, S. P.; CAMPOS, F. L. de R.; SANTOS,

D.C. Sistema de Controle da Pesca de Mato Grosso do Sul SCPESCA/MS–

17, 2010. Corumbá, MS: Embrapa Pantanal/IMASUL-SEMAC, 2012. 54p.

(Embrapa Pantanal. Boletim de Pesquisa, 118).

CATELLA, A. C. Uma nova visão do manejo pesqueiro. Corumbá, MS:

Embrapa Pantanal, 2006. 3p. ADM – Artigo de Divulgação na Mídia, n. 099.

Disponível em:<http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/ADM099>.

Acesso em: 15 nov. 2012.

DALL’OCA, A. V. Aspectos socioeconômicos, de trabalho e de saúde de

pescadores do Mato Grosso do Sul. 2004. 71f. Dissertação (Mestrado em

Saúde Coletiva) - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Campo

Grande.

DOIMO, R. A. F.; BARELLA, W.; MELLO, A. L. R.; RAMIRES, M.

Equipamentos e doenças laborais dos pescadores artesanais da estação

ecológica Juréia-Itatins (SP). UNISANTA-Law and Social Science, São Paulo,

v. 1, n. 1, p. 7-11, nov 2012.

DRISCOLL, R. T.; ANSARI, G.; HARRISON, E. J.; FROMMER, S. M.; RUCK,

A. E. Traumatic work related fatalities in commercial fishermen in Australia.

Occupational and Environmental Medicine, Sydney, v. 51, n. 9, p. 612-616,

may 1994.

FERNANDEZ-BACA, J. Amazonian Fisheries: Socio-Economic Issues and

Management Implications. Environmental Economics Programme

Discussion Paper, Lima, DP98-02, IIED, dec 1998.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION (FAO). 2000a. Capture Fisheries

Production. FAO, Rome. 2000.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION (FAO). 2002. The State of World

Fisheries and Aquaculture. FAO, Rome. 2002.

Page 21: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

19

GARRONE NETO, D.; CORDEIRO, R.; HADDAD JR, V. Acidentes do trabalho

em pescadores artesanais da região do Médio Rio Araguaia, Tocantins, Brasil.

Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 795-803, mai/jun

2005.

HADDAD JR, V. Animais aquáticos potencialmente perigosos do Brasil.

São Paulo: Roca, 2008. v. 1. 268p.

HADDAD JR, V.; LASTORIA, J.C. Acidentes por mandijubas (mandis-

amarelos): aspectos clínicos e terapêuticos. Diagnóstico & Tratamento, São

Paulo, v. 10, n. 3, p. 132-133, set 2005.

HADDAD JR, V. Dermatologia Ambiental: Manifestações dermatológicas de

acidentes por animais aquáticos (invertebrados). Anais Brasileiros de

Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 88, n. 4, p. 496-506, jul/Ago 2013.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística. Cidades. Disponível em:

<http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php>. Acesso em: 20 mar. 2014.

JENSEN, O. C. Work related injuries in Danish fishermen. Occupational

Medicine, Esbjerg, Denmark, v. 46, n. 6 p. 414-420, may/Aug 1996.

KULBICKI, M. Considerations of General Ecology in a Global Comparison of

Fisheries in a North-South Perspective, FISHGOVFOOD Working paper,

MARE: Amsterdam, 2003.

LEBRE, E. A. T.; JUNIOR, M. J. S.; CARVALHO, R. M. Um Projeto de

Extensão sobre a segurança da navegação e a prevenção de acidentes na

pesca artesanal. In: Seminário de Extensão Universitária da Região Sul, 2012,

Rio Grande. Anais do 30° SERUS. Rio Grande: UFSC, 2012. Disponível em:

<http://www.proexc.furg.br/?s=ebooks>. Acesso em: 05 dez. 2013.

Page 22: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

20

MOREIRA, M. F.; NÓBREGA, M. M. L.; SILVA, M. I. T. Comunicação escrita:

Contribuição para a elaboração de material educativo em saúde. Revista

Brasileira de enfermagem, Brasília, v. 56, n. 2, p. 184-188, mar/abr 2003.

PROJETO PANTANAL ANA, GEF, PNUMA, OEA. Implementação de

práticas de gerenciamento integrado de bacia hidrográfica para o

Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai: programas de ações estratégicas para

o gerenciamento integrado do pantanal e Bacia do Alto Paraguai. GEF.

Relatório Final. Brasília: Athalaia Gráfica e Editora, 2004. 513p.

REIS, R. E.; KULLANDER, S. O.; FERRARIS Jr, C. J. (Eds.) Checklist of the

freshwater fishes of South and Central America. Porto Alegre: Edipucrs.

2003. 729p.

SILVA, G. C.; SABINO, J.; ALHO, C. J.; NUNES, V. L.; HADDAD, V. JR.Lesões

e envenenamento por animais aquáticos em pescadores de Coxim e

municípios de Corumbá, Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil: identificação

dos agentes causais, aspectos clínicos e medidas de primeiros

socorros.Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 43, n. 5, p.

486 – 490, set 2010.

SCHILING, R. S. F. Trawler Fishing: An Extreme Occupation. Section of

Occupational Medicine, v. 59, n. 5, p. 405-410, May 1966.

STEPHEN, E. R. Hazardous occupations in Great Britain. The Lancet, v. 360 n.

9332, p. 543-544, Aug 2002.

Page 23: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

21

Artigo l

Análise do perfil socioeconômico e caracterização de acidentes

ocasionados por animais aquáticos a pescadores da Bacia do Alto

Paraguai, Mato Grosso do Sul

Aline Duarte Edilson¹

1Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento

Regional

Resumo

No estado do Mato Grosso do Sul, localizado na região do Pantanal, existe um

total de 3255 pescadores profissionais oficialmente registrados e agrupados em

colônias. Estes profissionais estão sujeitos a acidentes com animais aquáticos

durante a atividade de pesca. O objetivo deste trabalho foi realizar uma análise

do perfil socioeconômico dos pescadores, da ocorrência e caracterização de

acidentes envolvendo animais aquáticos, o que faz evidente conexão da

temática destes acidentes à linha do programa Sociedade, Ambiente e

Desenvolvimento Regional Sustentável. O estudo foi realizado nos municípios

de Miranda e Corumbá, Mato Grosso do Sul, por meio de questionário semi

estruturado aplicados em 140 pescadores, 93 pertencentes à comunidade de

Corumbá, e 47 pertencentes à comunidade de Miranda. Os dados foram

analisados por meio do software Sphinx 5.0. A análise dos dados revelou que

entre os profissionais da pesca avaliados, 86,4% tem idade superior a 30 anos,

66,4% são do sexo masculino, 72,9% não concluíram o ensino fundamental,

15% são analfabetos e 48% têm renda inferior a um salário mínimo. As

principais espécies envolvidas nos acidentes são peixes comuns da região que

apresentam estruturas capazes de causar ferimentos como: bagres que

representaram 32,1% dos acidentes e outros peixes, destacando-se as

piranhas (35% dos acidentes), outros peixes como pintado e jurupencem (24%)

e as arraias (8,6% dos eventos). Os dados permitem concluir que os

pescadores, em sua maioria tem idade superior a 30 anos, apresenta baixo

Page 24: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

22

grau de escolaridade, tem renda inferior a um salário mínimo e que acidentes

envolvendo animais aquáticos são comuns e causado por espécies de peixes

comuns da região.

Palavras-chave: Pantanal-Sul, pescador artesanal, injúrias, saúde pública.

Page 25: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

23

Abstract

In the state of Mato Grosso do Sul, located in the Pantanal region, a total of

3255 professional fishermen grouped in colonies, which are prone to accidents

with aquatic animals during the fishing activity. The aim of the study was to

analyze the profile of fishermen, the occurrence and characterization of

accidents involving aquatic animals, which makes clear the connection to the

theme of these accidents online Society, Environment and Sustainable

Regional Development. The study was conducted in the municipalities of

Miranda and Corumbá, Mato Grosso do Sul State, through semi structured

survey applied to 140 fishermen, 93 belonging to the community Corumbá, and

47 belonging to the community of Miranda. The data were analyzed by the

Sphinx 5.0 software. Data analysis revealed that among the fishermen reviews,

86,4% age above 30 years, 66,4% were male, 72,9% had not completed

primary school, 15% are illiterate and 48% is below the minimum wage. The

main species involved in accidents are common fish in the area that have

structures capable of causing injury as catfish representing 32,1% of accidents

and other fish highlighting the piranhas representing 35%, other fish as spotted

surubim and jurupencem represented 24%, and stingrays 8,6%. It was

concluded that fishermen have mostly older than 30 years, has a low level of

education, has less than one minimum wage and that accidents involving

aquatic animals are common and caused by species of fish common in the

region.

Keywords: Pantanal-Sul, artisanal fisherman, injuries, public health.

Page 26: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

24

Introdução

A pesca é uma importante atividade econômica e social realizada no

Pantanal e em toda a Bacia do Alto Paraguai em Mato Grosso do Sul

(BAP/MS), nas modalidades profissional, artesanal, esportiva (amadora) e de

subsistência. As características físicas do Pantanal, associadas ao regime de

inundação anual, propiciam uma grande produção natural de peixes. Em

decorrência das características ambientais e da amplitude e riqueza dos

sistemas aquáticos, a atividade pesqueira se tornou importante atividade

econômica do Estado (CATTELA, 2006).

A atividade pesqueira é marcada por grandes dificuldades e

complexidades, das quais se ressaltam tanto os seus potenciais elementos

agressivos à vida e à saúde do profissional da pesca, como o exotismo da

convivência entre a mais aprimorada tecnologia da pesca e os instrumentos

mais antigos e rústicos servindo ao mesmo fim (DALL‟OCA, 2004).

De acordo com os dados do IMASUL - Instituto de Meio Ambiente de

Mato Grosso do Sul, existe um total de 3255 pescadores registrados agrupados

em várias colônias (IMASUL, 2013). Estes profissionais são oriundos do próprio

Estado ou de outras unidades da federação, como São Paulo, Paraná, Minas

Gerais, Bahia e Ceará, indicando a extensão do mercado de trabalho e da

dimensão da população de pescadores no estado que estão sujeitos a

acidentes com animais aquáticos durante a atividade de pesca (DALL‟OCA,

2004).

É comum a ocorrência de acidentes em humanos provocados por

animais aquáticos, sejam eles marinhos ou fluviais, podendo ser observados

em diversas situações, levando a processos dolorosos, necroses, mutilações,

morbidades e até óbitos. Estudos anteriores mostram que os acidentes são

causados por diferentes estruturas físicas, como dentes com capacidade de

lacerar ou perfurantes, além de ferrões (SILVA et al., 2010).

Acidentes com animais aquáticos acabam por ser comuns não só em

pescadores profissionais como amadores e ocorrem, em geral, por imprudência

ou imperícia humana, uma vez que as estruturas e peçonhas fazem parte do

mecanismo de defesa de alguns animais. Raramente se vê uma agressão na

Page 27: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

25

qual o animal não tenha sido provocado ou manipulado de forma inadequada,

quando não é pisoteado ou retirado de anzóis (HADDAD JR, 2008).

Os acidentes com peixes apresentam gravidade variável. Os venenos

presentes nos ferrões são termolábeis e a aplicação de água quente de

temperatura tolerável no membro atingido, por 30 a 90 minutos, atenua a dor,

mas não exclui a necessidade do paciente ser encaminhado a um serviço

médico para limpeza do ferimento e extração de possíveis fragmentos de

ferrões ou espículas do ferimento (HADDAD JR, 2008). Associado aos

acidentes é provável que o desconhecimento de medidas preventivas e de

primeiros socorros por parte dos pescadores agrave o quadro, fatos que

reforçam a importância deste estudo.

O tema é relevante não só para as comunidades pesqueiras do

Pantanal, mas também para o desenvolvimento do turismo de pesca esportiva

na região, devido à alta ocorrência de acidentes causados por animais fluviais

peçonhentos e traumatizantes (SILVA et al.,2010).

Por tudo que foi apresentado, o objetivo do trabalho foi realizar uma

análise do perfil socioeconômico dos profissionais da pesca na Bacia do Alto

Paraguai e caracterizar os acidentes envolvendo animais aquáticos.

Page 28: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

26

Material e Métodos

Os estudos foram realizados em duas colônias de pescadores, situadas

no Pantanal, inseridos na Bacia do Alto Paraguai (Figura1), nos municípios de

Miranda (Latitude: -20.2429, Longitude: -56.364, 20°14‟34‟‟ Sul, 56°21‟50‟‟

Oeste), (P1 Figura 2) rio Miranda, e Corumbá (Latitude: -19.0098, Longitude: -

57.6547, 19°0‟35‟‟Sul, 57°39‟17‟‟Oeste) (P2 Figura 3), rio Paraguai. A coleta

dos dados foi realizada no mês de julho de 2013.

Figura 1. Localização da Bacia do Alto Paraguai, no Brasil.

Fonte: PROJETO PANTANAL ANA, GEF, PNUMA, OEA (2004).

Corumbá

Miranda

Page 29: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

27

Figura 2. Colônia de Pescadores Profissionais do município de Miranda (P1),

Mato Grosso do Sul.

Foto: Aline Duarte (2013).

Figura 3. Colônia de Pescadores Profissionais do município de Corumbá (P2),

Mato Grosso do Sul.

Foto: Aline Duarte (2013).

O dimensionamento da amostra foi realizado utilizando o cálculo de

variável nominal ou ordinal e população finita conforme a equação (1)

(FONSECA e MARTINS, 2006).

Page 30: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

28

qpzNe

Nqpzn

ˆˆ)1(

ˆˆ22

2

(1)

onde:

- n tamanho da amostra aleatória;

- z abscissa da curva normal padrão, fixado o nível de confiança

em 95% (z = 1,96);

- p̂ estimativa da verdadeira proporção de um dos níveis da

variável escolhida para o estudo.

- pq ˆ1ˆ ;

- e erro amostral, expresso em decimais, e representará a

máxima diferença que o pesquisador admite suportar entre a média

populacional e a média estimada, isto é: epp ˆ , em que p é a

verdadeira proporção (frequência relativa) do evento a ser calculado

a partir da amostra; e

- N é o tamanho da população.

De acordo com a equação (1), a amostra de pescadores investigados foi

de 140, com nível de confiança de 95% e erro amostral de 7%. Foram

investigados 93 pescadores na cidade de Corumbá e 47 em Miranda, de forma

proporcional ao número total de 942 pescadores nas duas cidades.

A abordagem aos entrevistados foi não probabilística, sendo

entrevistados aqueles pescadores que primeiro se apresentaram.

Na elaboração do questionário semi estruturado (Apêndice 1) contou-se

com o auxílio do software Sphinx 5.0 optando-se tanto por questões fechadas

únicas, múltiplas e escalares, quanto por questões abertas, dividido em três

grupos, totalizando três questões, explorando os seguintes constructos:

a) Perfil do entrevistado: Questões abertas e fechadas únicas sobre

nome, local da entrevista, sexo, faixa etária, instrução, renda e tempo

de atuação na pesca;

b) O questionário contém questões abertas e fechadas sobre o número

de acidentes sofridos, a circunstância do acidente, local do corpo

atingido, animal causador;

Page 31: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

29

c) Informações sobre os tipos de lesões e sintomas associados,

contendo questões sobre tempo e intensidade da dor, sintomas

secundários, tratamentos empregados, atendimento médico e o

tempo de afastamento do trabalho por causa do acidente.

A tabulação e análise estatística dos dados foram realizadas com o

auxílio do software Sphinx 5.0, aplicando-se as análises univariadas e

bivariadas (Quanto ao perfil socioeconômico e caracterização dos acidentes),

com os dados tratados e analisados tendo em vista os objetivos de pesquisa

previamente definidos.

Visando cumprir requisitos legais, a pesquisa foi submetida ao Comitê

de Ética da Universidade Anhanguera-Uniderp e teve parecer favorável.

Número do processo: 322.161.

Page 32: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

30

Resultados e Discussão

Os dados do perfil sócioeconômico estão apresentados na Tabela 1.

Quanto à faixa etária, há uma menor quantidade de indivíduos jovens

com idade entre 18 e 30 anos atuando na profissão (13,6 %), o que mostra que

há certa dificuldade na renovação da força de trabalho dessa categoria. O

maior número de pescadores está concentrado entre as faixas etárias de 30 a

60 anos, correspondendo um total de 98 dos 140 entrevistados (70% da

amostra), e esse perfil é corroborado por DALL‟OCA (2004) em um estudo com

pescadores do estado de Mato Grosso do Sul. Isso indica que a maior parte

dos pescadores encontra-se em idade madura e que há pescadores com mais

de 60 anos atuando na profissão por necessidade para manutenção de suas

famílias. Esses profissionais acabam se submetendo a riscos, pois muitos já

apresentam algumas enfermidades e menor agilidade para realizar certas

atividades.

A atividade de pesca foi durante muito tempo uma atividade herdada

por gerações, pelo fato de existirem famílias em que todos os membros são

pescadores, atualmente este fato vem se modificando devido a falta de

individuos jovens neste mercado de trabalho (DALL‟OCA, 2004). Cabe

destacar ainda que os pescadores profissionais encaminham-se para a velhice

sem assegurar melhores condições de vida, pois a necessidade de trabalhar

para garantir a sobrevivência e a falta de outra opção tornam difícil, para o

pescador mais maduro, iniciar ou procurar um novo tipo de trabalho

(DALL‟OCA, 2004).

Quanto ao sexo, os resultados evidenciaram que há um grande número

de mulheres atuando na profissão, correspondendo a 33,6 %, mas a maioria

ainda é representada por homens (66,4%).

GARRONE NETO et al. (2005), em um estudo realizado na região do

médio Araguaia, apresentaram resultado menor para o número de mulheres

que atuam na pesca, fato que mostra que na região do Pantanal há um maior

número de mulheres atuando na profissão.

Page 33: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

31

Tabela 1. Perfil socioeconômico, escolaridade e faixa etária dos pescadores

profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do Sul

Variável Frequência (%)

Faixa etária

<18 anos

0

0,0

18 - 30 19 13,6

30 - 40 31 22,1

40 - 50 34 24,3

50 - 60 33 23,6

>60 anos 23 16,4

Total 140 100

Escolaridade

Analfabeto 21 15,0

Fundamental Incompleto 102 72,9

Fundamental Completo 6 4,3

Médio Incompleto 5 3,6

Médio Completo 5 3,6

Superior 1 0,7

Total 140 100

Renda familiar

<1 Salário Mínimo 68 48,6

1 - 2Salários Mínimos 62 44,3

2 - 3 Salários Mínimos 10 7,1

3 - 4 Salários Mínimos

Total

0

140

0,0

100

Total observado de cada variável 140 100

As mulheres atuam na profissão muitas vezes para acompanharem seus

maridos, porém durante as entrevistas houve muitos relatos de mulheres que

trabalham por necessidade de contribuir com a renda familiar. Todavia, muitas

alegam serem sozinhas e estão na profissão por necessidade de se manter e

Page 34: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

32

por falta de outras oportunidades no mercado de trabalho, principalmente

devido à baixa escolaridade, ficando evidente o crescente número de mulheres

que estão se tornando chefes de família e precisam garantir o sustento de seus

filhos.

Relato de uma pescadora : ‘‘É uma vida difícil, mas precisamos nos manter e

já que temos pouco estudo, temos que continuar trabalhando aqui mesmo’’.

Quanto à escolaridade, a maior parte dos profissionais da pesca (72,9%,

correspondente a 102 pessoas), tem baixo nível de instrução. Desse quadro

emergem inclusive 15% de analfabetos (correspondendo a 21 pessoas dentre

as 140 entrevistadas) (Tabela 1). Os dados do presente estudo corroboram

com as análises de DALL‟OCA (2004) e GARRONE NETO et al. (2005).

A maioria da população de pescadores tem o ensino fundamental

incompleto e não teve oportunidade de concluir seus estudos. Muitos aliam a

baixa escolaridade com a falta de tempo e a necessidade de trabalhar longos

períodos para garantir o sustento da família.

A não exigência de estudos para a atuação na profissão é um fato que

acaba por contribuir com o elevado índice de baixa escolaridade, já que os

conhecimentos são adquiridos na atividade prática do profissional.

O segmento da pesca vive um processo de exclusão social de origem

econômica. Tal quadro apenas reforça que no Brasil, por muito tempo, a

educação escolar foi um bem social exclusivamente dirigido as classes

economicamente mais favorecidas (DALL‟OCA, 2004).

Em relação à renda familiar (Tabela 1), 48,6% possuem renda de até um

salário mínimo. A maioria dos entrevistados alegou que durante muitos meses

teve renda inferior a este valor de referência, fato corroborado por GARRONE

NETO et al. (2005) e DALL‟OCA (2004).

As rendas de até um salário mínimo geralmente são de famílias nas

quais trabalham uma ou duas pessoas. Uma segunda categoria, com 44,3%

dos entrevistados, alegou ter uma renda entre 1 a 2 salários mínimos,

composta de famílias que apresentam duas ou mais pessoas que trabalham na

pesca. Apenas 7,1% declararam ter uma renda maior que dois salários.

Deste modo, a maioria dos pescadores sobrevive com renda média de

certa forma insuficiente para oferecer uma boa qualidade de vida a sua família

Page 35: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

33

e acabam sobrevivendo com dificuldades, necessitando prolongar suas horas

de trabalho, na tentativa de melhorar suas rendas.

Para minimizar os baixos ganhos e em função da suspensão da pesca

durante o período da piracema (entre os meses de outubro a março), os

pescadores cadastrados no Registro Geral de Pesca recebem um salário

mínimo do Governo (SILVA et al., 2007).

Quanto ao tempo de atuação na profissão, 74,4% dos entrevistados

atuam a mais de 10 anos na pesca (Tabela 2). Todos alegam ter iniciado a

atividade precocemente por falta de opção, por não vislumbrar uma melhor

perspectiva de vida, dados similares aos de DALL‟OCA (2004) e GARRONE

NETO et al. (2005).

Muitos alegaram adquirir a profissão por herança familiar, já que a

maioria afirmou ter aprendido a pescar com o pai, tio ou avô ou faz parte de

uma família de pescadores.

A atividade pesqueira exige conhecimentos e experiência do pescador

para lidar com as situações adversas durante a execução das atividades, o que

é adquirido com o tempo de atuação na profissão e muitas vezes com os

companheiros ou familiares mais experientes.

Muitos entrevistados estão descontentes com a atividade pesqueira,

porque alegam sofrerem riscos e que a profissão é desvalorizada, mas mesmo

assim não mostraram interesse em mudar de profissão.

Quanto ao número de acidentes sofridos (Tabela 2), todos os

pescadores entrevistados sofreram algum tipo de ferimento envolvendo animal

aquático, que geralmente é ocasionado pelo contato com estruturas que estão

presentes no corpo do animal que são capazes de provocar ferimentos.

Os traumas ocorrem geralmente durante a realização de atividades

corriqueiras do exercicíco da profissão (SILVA et al., 2010). Os pescadores

afirmaram ser comum a ocorrência de acidentes envolvendo animais aquáticos

(tabela 2) e que é difícil calcular quantas vezes já sofreram. Dentre os

entrevistados, 44,3% afirmaram ter sofrido mais de 10 acidentes, enquanto

32,1% alegaram ter sofrido menos de 4 acidentes por terem cuidados durante a

atividade laboral.

Os pescadores relataram que a maioria dos acidentes ocorreu por

atividades simples durante o manuseio do pescado, tais como tirar o peixe do

Page 36: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

34

anzol, entrar na água, limpar e manipular o peixe no barco, fatos corroborados

por GARRONE NETO et al. (2005) e SILVA et al. (2010).

Os acidentes por animais aquáticos são um agravo à saúde e em alguns

casos podem levar a incapacidade temporária para o trabalho (GARRONE

NETO et al., 2005; SILVA et al., 2010).

Segundo (JENSEN, 1996), um estudo realizado com pescadores

dinamarqueses, mostrou a alta de incidência de acidentes que ocasionam

lesões, incluindo acidentes envolvendo animal aquático.

Os dados do presente estudo apontam que a maior parte dos

profissionais (97,9%) se utiliza de embarcações para a pesca, fato corroborado

por DALL‟OCA (2004), que relata tipos como a canoa, chalana, lanchas e

barcos motorizados. Este último permite deslocamentos mais rápidos rio acima

ou abaixo, são menos cansativos que os utilizados a remo e possibilita que se

desloquem para diferentes locais, podendo obter maior quantidade de peixes.

Alguns pescadores afirmaram pescar com companheiros quando não possuem

embarcação. Apenas 2,1% pescam em barranco sem nenhum tipo de

embarcação.

Quanto ao período em que os acidentes ocorrem, observou-se que

45,7% dos entrevistados preferem pescar no período matutino e,

consequentemente, sofrem muitos acidentes neste período, de modo similar

aos registrado por GARRONE NETO et al. (2005), enquanto 29,3% se

acidentam no perído da tarde e 25,0% sofreram alguma lesão no período

noturno. Todos alegaram sofrer acidentes nos três períodos, mas consideram o

período noturno mais propenso a acidentes, visto que a visibilidade fica mais

dificultada e os profissionais mais expostos à situações de risco tanto de

elementos do ambiente, quanto de equipamentos utilizados na atividade

pesqueira. DALL‟OCA (2004) relata que pode haver redução da eficiência no

trabalho e alterações na saúde.

Quanto ao local do corpo afetado por ferimento, acima de 75% dos

entrevistados sofreram ferimentos nas mãos (Tabela 2), a maior parte se feriu

no momento da retirada do peixe do anzol, no manuseio ou no momento de

limpar o pescado com ferrões ou mordidas e, 24% ferimentos nos pés por

arraias ou peixes com ferrões, geralmente andando no barco, dentro da água

ou no barranco, fato corroborado por SILVA et al. (2010).

Page 37: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

35

Tabela 2. Tempo de atuação na profissão, número de acidentes e local do

corpo atingido em pescadores profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato

Grosso do Sul

Variável Frequência (%)

Tempo de atuação

<5 anos 14 10,0

5 - 10 anos 22 15,7

10 - 20 anos 46 32,9

20 - 30 anos 33 23,6

>30 anos 25 17,9

Total 140 100

Número de acidentes

<2 7 5,0

2 – 4 38 27,1

4 – 6 21 15,0

6 – 8 9 6,4

8 – 10 3 2,1

10 – 12 28 20,0

>12 34 24,3

Total 140 100

Local do corpo

Mãos

Braços

Costas

Pés

Pernas

Tórax

Cabeça

Total

106

2

0

24

8

0

0

140

75,7

1,4

0,0

17,1

5,7

0,0

0,0

100

Total observado de cada

variável

140 100

Page 38: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

36

Segundo JENSEN (1996), em um estudo realizado com pescadores da

Dinamarca, os membros superiores são os mais atingidos em acidentes de

trabalho com pescadores, as mãos representarem 20% dos acidentes

ocasionados nos membros superiores. De fato, as mãos são os membros mais

expostos, pois estão em contato com os equipamentos e os animais

capturados, ficando sujeita a riscos se não forem protegidas (Tabela 2).

Quando se compara a faixa etária com o número de acidentes sofridos

pelos pescadores, pode-se perceber que a dependência é pouco significativa

(Tabela 3). Independentemente da idade, a maioria dos entrevistados sofreu

mais de dois acidentes durante todo o período de atuação na atividade

pesqueira, porém geralmente quanto maior a idade, maior é o tempo de

atuação na profissão e consequentemente maior é o número de acidentes

sofridos.

Tabela 3. Faixa etária em relação ao número de acidentes de pescadores

profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do Sul

Faixa etária/n° de acidentes

Menos de 2.0 (%)

De 2.0 a 4.0 (%)

De 4.0 a 6.0 (%)

De 6.0 a 8.0 (%)

De 8.0 a 10.0 (%)

De 10.0 a 12.0 (%)

12.0 e mais (%)

TOTAL (%)

De 18 a 30 anos

15.8 21.1 21.1 0.0 0.0 26.3 15.8 100

De 30 a 40 anos

6.5 41.9 19.4 9.7 3.2 12.9 6.5 100

De 40 a 50 anos

2.9 14.7 14.7 5.9 2.9 23.5 35.3 100

De 50 a 60 anos

3.0 24.2 12.1 0.0 0.0 24.2 36.4 100

Acima de 60 anos

0.0 34.8 8.7 17.4 4.3 13.0 21.7 100

TOTAL (%)

5.0 27.1 15.0 6.4 2.1 20.0 24.3 100

A dependência é pouco significativa. Qui2 = 33.86, gl = 24, 1-p =

91.27%.

Fica evidente que os pescadores são expostos a acidentes com animais

aquáticos durante suas jornadas de trabalho independente da idade que

possuem. Tanto os indivíduos mais jovens com sua pouca experiência na

profissão e maior agilidade, quanto os indivíduos de meia idade e até os mais

Page 39: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

37

velhos que possuem mais experiência, conhecimento e talvez uma menor

agilidade para realização das atividades cotidianas da profissão são vítimas de

acidentes que acarretam em lesões causadas pelo contato com estruturas

presente nos animais aquáticos.

Os ferimentos durante a pesca são acontecimentos frequentes e muitas

vezes graves neste tipo de atividade laboral. Segundo GARRONE NETO et al.

(2005), os pescadores minimizam a importância desses acontecimentos pelo

receio de assumir um estado de fragilidade que um evento como esse pode

impor.

Quanto ao tempo de atuação relacionada ao número de acidentes

(Tabela 4), a dependência foi muito significativa (Qui² foi de 77,73).

Profissionais da pesca que tiveram um menor tempo de atuação na profissão

sofreram menos acidentes, enquanto profissionais que atuam há mais tempo

(acima de 20 anos) tiveram índice de mais de 40% para doze ou mais

acidentes sofridos envolvendo animais aquáticos durante suas atividades

laborais.

Tabela 4. Tempo de atuação em relação ao número de acidentes sofridos por

pescadores profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do Sul

A dependência é muito significativa. Qui² = 77.73, gl = 24, 1-p =

>99.99%. As células marcadas em azul (rosa) são aquelas para as quais a

frequência real é claramente superior (inferior) à frequência teórica.

Tempo de atuação/n° de acidentes

Menos de 2.0 (%)

De 2.0 a 4.0 (%)

De 4.0 a 6.0 (%)

De 6.0 a 8.0 (%)

De 8.0 a 10.0 (%)

De 10.0 a 12.0 (%)

12.0 e mais (%)

TOTAL (%)

Menos de 5 anos

28.6 21.4 21.4 7.1 7.1 0.0 14.3 100

De 5 a 10 anos

9.1 40.9 22.7 9.1 0.0 18.2 0.0 100

De 10 a 20 anos

2.2 45.7 17.4 0.0 0.0 21.7 13.0 100

De 20 a 30 anos

0.0 6.1 12.1 3.0 6.1 27.3 45.5 100

Acima de 30 anos

0.0 12.0 4.0 20.0 0.0 20.0 44.0 100

TOTAL 5.0 27.1 15.0 6.4 2.1 20.0 24.3 100

Page 40: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

38

Fica evidente que quanto maior o tempo de atuação na profissão, o

profissional pescador, apesar da experiência adquirida com os anos de

profissão fica mais exposto a riscos e consequentemente sofrem mais

acidentes envolvendo animais aquáticos.

Segundo GARRONE NETO et al. (2005), a maioria dos profissionais da

pesca atuam há mais de dez anos na profissão, muitas vezes com uma jornada

de mais de 12 horas por dia ficando expostos a riscos de acidentes durante

um tempo prolongado.

Quanto ao animal causador (Tabela 5), pode-se percebe que as arraias

(Potamotrygon spp.) representaram 8,6% dos acidentes. HADDAD JR et al.

(2004), em investigação sobre acidentes em humanos causados por arraias,

relatam que todos os casos apresentaram os mesmos sintomas e, ainda,

afirmam ser um dos casos mais graves de infecções envolvendo traumas de

peixes em humanos. Esta categoria de acidente necessita de tratamento

controlado e profissional, muitas vezes com uso de analgésicos opiáceos e

antibióticos (HADDAD JR et al., 2004). Estes autores destacam ainda

complicações secundárias como neurotoxicidade, cardiotoxicidade e

perturbações circulatórias (isquemias), provavelmente pelo efeito direto sobre o

miocárdio das toxinas presentes nos ferrões de ações semelhantes às

prostaglandinas e acetilcolina.

O maior número de ocorrência, totalizando 35%, é ocasionado por

outros tipos de peixes como dourado (Salminus brasiliensis Cuvier, 1817) e

traíra (Hoplias malabaricus Bloch, 1794) (Tabela 5). Porém, o acidente mais

comum relatado nas entrevistas é por mordida de piranha (Pygocentrus

nattereri Kner, 1860) (Figura 4), e (Serrasalmus marginatus Valenciennes,

1847).

Ferroadas de bagres e mandis (Pimelodus, Pimelodella e Rhamdia)

totalizaram 32,1%. Estudos sobre aspectos clínicos e terapêuticos dos

acidentes causados por mandijubas (mandis amarelos) é citado que o veneno

é altamente vasoconstritor e a vasodilatação provocada pela água quente é

responsável pela melhora (HADDAD JR e LASTORIA, 2005). A imersão da

extremidade afetada na água quente, em torno de 50º C, traz alívio rápido ao

paciente, que deve permanecer com a extremidade afetada imersa na água

quente por 30 a 90 minutos (HADDAD JR e LASTORIA, 2005).

Page 41: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

39

Figura 4. Quadro de lesão causada por mordida de piranha (Pygocentrus

nattereri). Foto: Vidal Haddad Junior (2003).

Tabela 5. Animal causador do acidente e tipo de lesão ocasionada em

pescadores profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do Sul

Variável Frequência (%)

Animal causador

Bagre 45 32,1

Arraia 12 8,6

Outros peixes (dourado, cachorra,

piranhas, traíra)

49 35,0

Outros animais (não constam da

lista)

34 24,3

Total 140 100

Tipo de lesão

Eczema 104 74,3

Ferimentos Puntiformes 78 55,7

Ferimentos Lacerados 67 47,9

Edema 136 97,1

Eritema 111 79,3

Necrose 6 4,3

Prurido

Total

4

140

2,9

100

Total observado de cada variável 140 100

Page 42: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

40

As espécies de peixes que mais causam lesões nos pescadores como

bagre e mandi (Pimelodus, Pimelodella e Rhamdia) e piranhas (Pygocentrus

nattererie e Serrasalmus marginatus) são espécies de baixo valor comercial e

são mais utilizadas como iscas, ou servem de alimentos para os próprios

pescadores.

Vertebrados como jacaré (Caiman yacare Daudin, 1802) e outros

peixes como jurupencem (Sorubim lima Bloch E bloche Schneider, 1801),

pintado (Pseudoplatystoma corruscans Spix & Agassiz, 1829) e até mesmo

crustáceos representaram outros 24,3% dos acidentes.

Dentre os diferentes tipos de lesões, 74,3% dos ferimentos causam

eczema (inflamação) na região atingida (Tabela 5). Lesões como laceração,

hematoma e edema, fratura, entorse e distensão são alguns dos principais

tipos de lesões e ocorrem com frequência nos acidentes de trabalho com

pescadores marinhos da Dinamarca (JENSEN, 1996).

Os ferimentos puntiformes representaram 55,7% e foram causados por

animais que apresentam ferrão, como arraias (Potamotrygon spp.), bagre e

mandi (Pimelodus, Pimelodellae, Rhamdia), jurupencem (Sorubim lima Bloch e

Schneider, 1801) e pintado (Pseudoplatystoma corruscans Spix & Agassiz,

1829), que ao penetrarem nos tecidos da vítima, os ferrões liberam a peçonha

do tecido glandular que os recobrem, fluindo no ferimento acompanhado de dor

intensa, instantânea e latejante. O local fica edematoso e eritematoso,

persistindo por mais de seis horas, podendo progredir para um quadro

infeccioso permanecendo por vários dias, o que pode indicar a presença de

fragmentos do ferrão (HADDAD JR e LASTÓRIA, 2005).

Os ferimentos lacerados representaram 47,9% e foram causados por

animais que mordem e laceram como dourado (Salminus brasiliensis Cuvier,

1817), traíra (Hoplias malabaricus Bloch, 1794), piranha (Pygocentrus nattereri

Kner 1860, (Serrasalmus marginatus Valenciennes, 1847). Segundo HADDAD

JR (2008), as infecções bacterianas são fatores complicadores dessa categoria

de acidente e, na maioria das vezes, são causadas por estafilococos e

estreptococos, mas podem estar associadas a bactérias como Vibrio vulnificus

(água salgada) e Aeromonas hidrophyla (água doce), que causam infecções

muito graves com necroses dos tecidos próximos ao local da injúria, podendo

se espalhar por todo o órgão afetado.

Page 43: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

41

Um total de 97,1% das lesões (Tabela 5) acarretaram em edema

(inchaço) na região ferida, 79,3% ocasionaram eritema (vermelhidão) e 4,3%

dos entrevistados afirmaram ter sofrido necrose devido a lesões ocasionadas

por arraias, com 2,9% alegando ter tido prurido (coceira) quando os ferimentos

estavam cicatrizando.

Todos os entrevistados alegaram sentir dor ao sofrer qualquer tipo de

lesão (Tabela 6), dos quais 85% afirmaram sentir dor forte a muito forte, nos

diferentes tipos de lesão, sejam laceradas ou puntiformes.

Tabela 6. Tipo de dor e sintomas dos acidentes ocasionados por animais

aquáticos em pescadores profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso

do Sul

Variável Frequência (%)

Tipo de dor

Sem Dor 0 0,0

Constante 0 0,0

Leve 3 2,1

Moderada

Forte

Muito forte

Total

18

46

73

140

12,9

32,9

52,1

100

Dormência

Não resposta 80 57,1

Baixíssima intensidade 8 5,7

Baixa intensidade 15 10,7

Média intensidade 25 17,9

Alta intensidade 9 6,4

Altíssima intensidade

Total

3

140

2,1

100

Page 44: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

42

Continuação tabela 6...

Irradiação da dor

Não resposta 100 71,4

Baixíssima intensidade 4 2,9

Média intensidade 11 7,9

Alta intensidade 16 11,4

Altíssima intensidade

Total

7

140

5,0

100

Febre

Não resposta

Baixíssima intensidade

114

5

81,4

3,6

Baixa intensidade 8 5,7

Média intensidade 9 6,4

Alta intensidade 3 2,1

Altíssima intensidade

Total

1

140

0,7

100

Total observado de cada

variável

140 100

Pode-se observar que a dor é de grau elevado e pode diferir de acordo

com o organismo da pessoa e também depende da espécie causadora da

lesão. A dor leve a moderada foi relatada nas entrevistas nos casos de lesões

mais superficiais somando um total de 15% (Tabela 6).

As análises mostraram que 55,7% dos entrevistados alegaram ter

sofrido outros sintomas além da dor local: os resultados mais marcantes foram

para dormência totalizando 42,8%; destes 28,6% apresentaram dormência de

baixa a média intensidade, irradiação da dor no membro representou 28,6%;

dentre estes 11,4% foram de alta intensidade (Tabela 6). Febre representou

18,5%; dentre estes 12,1% foram de baixa a média intensidade (Tabela 6).

Page 45: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

43

Sintomas como náuseas e vômitos representaram 0,7%, mal estar 3,5%,

espirros 0,7%, arritmia 1,4%, sudorese 8,6% e infecção secundária 4,2%. É

importante lembrar que os sintomas dependem da reação do organismo, do

tipo de lesão e da presença de substânicas tóxicas nas estruturas responsavéis

por ocasionar acidentes.

Apenas 20,7% dos entrevistados procuraram tratamento médico,

geralmente ao terem complicações no ferimento ou sofrerem acidentes por

arraia (Potamotrygon spp.), que ao ferroar libera toxinas que podem provocar

sintomas mais graves. A busca por serviço médico também foi registrada no

caso de ferimento lacerado, como mordida de jacaré, (Caimam yacare) ou por

ocorrência de uma infecção secundária.

Merece destaque o fato de que 79,3% dos entrevistados que sofreram

acidentes com animais não procuraram tratamento médico, percentual similar

ao registrado por GARRONE NETO et al. (2005) em estudo na região do médio

Araguaia. Naquela região, 87,9% dos entrevistados também não procuraram

tratamento médico ao sofrer algum tipo de acidente de trabalho.

Quando se trata de acidentes de trabalho com pescadores, mesmo em

países com altos indicadores socioeconômicos como a Dinamarca, apesar da

redução do número de lesões que necessitam de tratamento médico ainda é

elevada a ocorrência de lesões que precisam ser tratadas por profissional e em

ambiente hospitalar (JENSEN, 1996).

Muitos alegaram falta de informação, falta de tempo e conhecimento, ou

acreditaram que não havia necessidade de procurar atendimento médico e

disseram utilizar diferentes tipos de substâncias para tratamento das lesões

(Tabela 7) como plantas medicinais, líquido do olho do animal, salmoura,

vinagre e até substâncias nocivas como gasolina, urina e querosene na

tentativa de curar a lesão ou ao menos amenizar a dor do momento. Segundo

SILVA et al. (2010), a utilização dessas substâncias pode agravar ainda mais

as lesões e em alguns casos contribuir para o aumento da intensidade da dor e

necroses dos tecidos locais das injúrias.

Dos entrevistados, 62,9% afirmaram utilizar álcool no momento em que

sofreu o ferimento, para que a região ficasse limpa e não ocorresse infecção

(Tabela 7).

Page 46: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

44

Quanto ao tempo de afastamento do trabalho, a maioria dos pescadores

entrevistados (57,9%) declarou continuar trabalhando normalmente após sofrer

ferimentos, e quando se afastou, 23,6% procuram ficar o menor tempo

possível, geralmente de 1 a 7 dias, por terem sofrido lesões superficiais, de

menor gravidade e pelo fato de necessitarem trabalhar para manter suas

famílias (Tabela 7).

Aqueles entrevistados que tiveram necessidade de ficar mais de 15 dias

afastados do trabalho (Tabela 7), alegaram ter causado sofrimento a seus

familiares e prejuízos econômicos, fato corroborado por GARRONE NETO et

al. (2005).

Tabela 7. Tratamento empregado nas lesões, tempo de afastamento do

trabalho por acidentes envolvendo animais aquáticos em pescadores

profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do Sul

Variável Frequência (%)

Tratamento empregado

Não resposta 24 17,1

Álcool 88 62,9

Gelo 15 10,7

Vinagre 3 2,1

Urina 2 1,4

Assistência Médica 29 20,7

Outros (especificar) 1 0,7

Total 140 100

Ausência do trabalho

Continuou trabalhando 81 57,9

1 - 7 dias 33 23,6

8 - 15 dias 8 5,7

16 - 30 dias 11 7,9

>30 dias 7 5,0

Total 140 100

Total observado de cada

variável

140 100

Page 47: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

45

Segundo JENSEN (1996), dos pescadores dinamarqueses que sofreram

acidentes de trabalho, 63,2% ficaram incapacitados de realizar suas atividades

laborais por pelo menos um dia, apontando a causa de grandes prejuízos

socioeconômicos.

As arraias são responsáveis pelos afastamentos mais prolongados dos

pescadores de suas atividades laborais, isso porque possuem um ou dois

ferrões na base da cauda, que contêm veneno capaz de ocasionar

incapacidade física temporária ou até permanente (HADDAD JR, 2008).

Há um indicativo que, provavelmente a exposição prolongada e

tratamentos inadequados dos ferimentos, estão associados a infecções

secundárias bacterianas, que obrigaram os pescadores a se afastar do trabalho

por períodos prolongados para tratamento médico (SILVA et al., 2010).

Relato de um pescador : „„Não podemos parar, nosso sustento depende

da quantidade de peixe que pescamos, se pararmos passaremos fome’’.

Os resultados mostraram que a maioria dos pescadores tem idade

superior a 30 anos, 66,4% pertencem ao sexo masculino, um total de (72,9%

tem ensino fundamental incompleto) evidenciando a baixa escolaridade.

Quanto a renda 48,6% apresentam renda inferior a um salário minimo.

Em relação ao tempo de atuação 74,4% atuam há mais de 10 anos na

profissão, 44,3% sofreram mais de 10 acidentes, o local do corpo mais atingido

foram as mãos representando 74,4% dos entrevistados.

Os animais causadores dos acidentes são espécies de peixes comuns

da região, como piranhas e bagres, e a maioria das vítimas (79,3%) não

procurou tratamento médico e utilizando-se de produtos alternativos para tratar

as lesões o que pode acarretar em complicações.

Page 48: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

46

Conclusões

Quanto ao perfil socioeconômico, os profissionais em sua maioria

apresentou baixo grau de escolaridade, renda inferior a um salário mínimo,

idade superior a 30 anos e exercem a profissão a mais de 10 anos.

Acidentes causados por animais aquáticos são vistos como comuns e

corriqueiros. Os animais evolvidos nos acidentes são principalmente peixes

comuns da região que portam estruturas capazes de causar ferimentos

lacerantes ou puntiformes por dentes ou ferrões, que muitas vezes podem

estar associados a toxinas.

A maioria dos profissionais, ao sofrer um acidente, não procura

tratamento médico, fazendo uso de produtos alternativos para tratar suas

lesões e prosseguem exercendo suas atividades laborais normalmente, quando

necessitam se afastar, permanecem o menor tempo possível, colocando desta

forma sua saúde em risco.

Page 49: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

47

Agradecimentos

Agradeço a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Ensino Superior) pelo apoio financeiro e concessão da bolsa de mestrado para

realização desta pesquisa. À Universidade Anhanguera-Uniderp e ao

financiamento concedido pelo Projeto de Toxinologia - Capes: “Peixes

Continentais Peçonhentos: Epidemiologia dos Acidentes, Ações Preventivas,

Mecanismos Fisiopatológicos e Bioprospecção”.

Page 50: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

48

Referências Bibliográficas

CATELLA, A. C. Uma nova visão do manejo pesqueiro. Corumbá, MS:

Embrapa Pantanal, 2006. 3p. ADM – Artigo de Divulgação na Mídia, n.099.

Disponível em:<http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/ADM099>.

Acesso em: 15 Set. 2012.

DALL‟OCA, A. V. Aspectos socioeconômicos, de trabalho e de saúde de

pescadores do Mato Grosso do Sul. 2004. 71f. Dissertação (Mestrado em

Saúde Coletiva) - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Campo

Grande.

FONSECA, J. S.; MARTINS, G. A. Curso de Estatística. São Paulo: Atlas,

2006. 320p.

GARRONE NETO, D.; CORDEIRO. R.; HADDAD JR, V. Acidentes do trabalho

em pescadores artesanais da região do Médio Rio Araguaia, Tocantins, Brasil.

Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 795-803, mai/jun

2005.

HADDAD JR, V. Animais aquáticos potencialmente perigosos do Brasil.

São Paulo: Roca, 2008. v. 1. 268p.

HADDAD JR, V.; LASTORIA, J. C. Acidentes por mandijubas (mandis-

amarelos): aspectos clínicos e terapêuticos. Diagnóstico &Tratamento, São

Paulo, v. 10, n. 3, p. 132-133, set 2005.

HADDAD JR, V.; GARRONE NETO, D.; BARBARO, K.; PAULA NETO, J.B.;

MARQUES, F.P.L. Freshwater stingrays: study of epidemiologic, clinic and

therapeutic aspects based in 84 envenomings in human and some enzymatic

activities of the venom. Toxicon, v. 43, n. 3, p. 287-294, mar 2004.

Page 51: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

49

HADDAD JR, V. Animais aquáticos de importância médica no Brasil.

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 36, n. 5, p. 591-597,

Set /Out 2003.

IMASUL - INSTITUTO DE MEIO AMBIENTE DO MATO GROSSO DO SUL.

Relatório de Pescadores Profissionais de Mato Grosso do Sul. [S.l: s.n.],

2013. 2p.

JENSEN, O. C. Work related injuries in Danish fishermen. Occupational

Medicine, Esbjerg, Denmark, Vol. 46, n.6, p. 414-420, may/Aug 1996.

PROJETO PANTANAL ANA, GEF, PNUMA, OEA. Implementação de

práticas de gerenciamento integrado de bacia hidrográfica para o

Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai: programas de ações estratégicas para

o gerenciamento integrado do pantanal e Bacia do Alto Paraguai. GEF.

Relatório Final. Brasília: Athalaia Gráfica e Editora, 2004. 513p.

SILVA, M. C.; OLIVEIRA, A. S.; NUNES, G. Q. Caracterização socioeconômica

da pesca artesanal no município de Conceição do Araguaia, estado do Pará.

Ciência & Desenvolvimento, Belém, v. 2, n. 4, p. 37-51, jan/jun 2007.

SILVA, G. C.; SABINO J.; ALHO C. J.; NUNES V. L.; HADDAD, V. JR. Lesões

e envenenamento por animais aquáticos em pescadores de Coxim e

municípios de Corumbá, Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil: identificação

dos agentes causais, aspectos clínicos e medidas de primeiros socorros.

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 43, n. 5, p. 486-490,

set 2010.

Page 52: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

50

Artigo II

Avaliação do acesso a informações sobre prevenção de acidentes

ocasionados por animais aquáticos a pescadores da Bacia do Alto

Paraguai, Mato Grosso do Sul

Aline Duarte Edilson¹

1Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento

Regional

Resumo

A pesca artesanal é uma importante atividade econômica e social realizada no

Pantanal. O objetivo do estudo foi avaliar se os pescadores profissionais têm

acesso a informações sobre prevenção de acidentes envolvendo animais

aquáticos, por quais meios essas informações foram transmitidas, se as

mesmas contribuíram para a redução de acidentes, além de verificar quanto ao

uso de equipamentos de proteção individual. Tais características fazem

evidente conexão da temática destes acidentes à linha do programa

Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Foi aplicado

questionário semi estruturado a 140 pescadores, 93 pertencentes à

comunidade P1 (Corumbá), e 47 pertencentes à comunidade P2, (Miranda). Os

dados foram analisados por meio do software Sphinx 5.0. A análise dos dados

revelou que 90% dos entrevistados não têm acesso à informação sobre

prevenção de acidentes com animais aquáticos e apenas 10% alegaram saber

sobre cuidados com equipamentos de pesca, 6,4% adquiriram a informação

através de palestra e 57,14% utilizaram algum tipo de Equipamento de

Proteção Individual. Pode-se concluir que os pescadores profissionais

necessitam de informações qualificadas sobre prevenção de acidentes

envolvendo animais aquáticos.

Palavras-chave: Pantanal, pesca profissional, acidentes, precaução.

Page 53: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

51

Abstract

Artisanal fishing is an important economic and social activity performed in the

Pantanal. The aim of the study was to assess whether professional fishermen

have access to information about prevention of accidents involving aquatic

animals, by what means this information was transmitted, if they contributed to

the reduction of accidents and check on the use of personal protective

equipment, which makes clear the connection to the theme of these accidents

online Society, Environment and Sustainable Regional Development. Semi-

structured questionnaire to 140 fishermen, 93 belonging to P1 (Corumbá)

community, and 47 belonging to P2, (Miranda) was applied community. The

data were analyzed by the Sphinx 5.0 software. Data analysis revealed that

90% of respondents did not have access to information on accident prevention

with aquatic animals, only 10% claimed to know about caring for fishing tackle,

6,4% acquired the information through lecture and 57,14% use some kind of

Personal Protective Equipment. It can be concluded that professional fishermen

need qualified information on the prevention of accidents involving aquatic

animals.

Keywords: Pantanal, professional fishing, accidents, prophylactic.

Page 54: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

52

Introdução

Na Bacia do Alto Paraguai (BAP), onde está situado o Pantanal, a pesca

profissional-artesanal e a comercialização de pescado constituem uma

importante atividade econômica e social. As colônias de pesca de Miranda e

Corumbá estão entre as que abrigam o maior número de pescadores

cadastrados no Registro Geral de pesca (RGP) (BUENO et al., 2010).

A pesca artesanal é uma das atividades cujas condições de trabalho são

ainda precárias, deixando os profissionais desprotegidos e sujeitos a riscos de

acidentes e doenças (DOIMO et al., 2012).

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (BRASIL, 2001), a

pesca artesanal expõe os pescadores a vários riscos de acidentes, que podem

ser reunidos em grupos como: ergonômicos (problemas de postura), naturais

(incidência de sol na pele e olhos, friagem, ventos frios, ondas fortes), físicos

(lesões nas mãos e nos pés), químicos (contato com secreções venenosas ou

de substâncias químicas) e biológicos (contato com algas e coliformes fecais).

Para GARRONE NETO et al. (2005), as principais causas de acidentes

no trabalho de pescadores são as lesões causadas pelos animais do ambiente

aquático.

Este tipo de acidente ocorre em geral por imprudência dos profissionais,

que entram em contato com estruturas que fazem parte do mecanismo de

defesa desses animais. Os eventos geralmente ocorrem ao manipular o

pescado, no momento da retirada do anzol ou através do pisoteio (HADDAD

JR, 2008).

Para evitar estes riscos e prevenir acidentes, existem os equipamentos

de proteção individual (EPI’s) que são destinados à proteção contra riscos

capazes de ameaçar a segurança e saúde do trabalhador. No caso do

pescador artesanal, o uso de EPI’s é de responsabilidade própria já que não

existe uma relação empregatícia (DOIMO et al., 2012).

Os pescadores profissionais não se preocupam com sua segurança e

saúde, deixando sua atividade laboral em lugar secundário, pois não procuram

por atendimento médico, não fazem exames periódicos e acidentes de trabalho

vêm ocorrendo cada vez mais pelo não uso dos EPI’s (MELLO et al., 2012).

Page 55: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

53

Diante dessa realidade, torna-se necessária a utilização de ferramentas

educativas sobre prevenção de acidentes de trabalho envolvendo animais

aquáticos. Materiais educativos já fazem parte da cultura dos serviços de

saúde pública e atuam como dispositivos na dinâmica de mediação entre

políticas e práticas de saúde (SANTOS et al., 2009).

Segundo MONTEIRO et al. (2004), as imagens, quando coletadas,

processadas, organizadas e divulgadas, tornam-se instrumentos de excelência

na conscientização e apreensão de dados referentes a assuntos previamente

almejados, podendo se fazer o uso que assim desejar.

O objetivo deste trabalho foi analisar se os pescadores de duas regiões

do Pantanal têm acesso a informações de prevenção sobre acidentes

envolvendo animais aquáticos, por quais meios as informações foram

transmitidas, se estas informações contribuíram para a redução de acidentes e

verificar se há uso de equipamentos de proteção individual.

Page 56: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

54

Material e Métodos

Os estudos foram realizados em duas colônias de pescadores, situadas

no Pantanal, nos municípios de Miranda P1 (Latitude: -20.2429, Longitude: -

56.364, 20°14’34’’ Sul, 56°21’50’’ Oeste), (rio Miranda) e Corumbá P2 (Latitude:

-19.0098, Longitude: -57.6547, 19°0’35’’Sul, 57°39’17’’Oeste), (rio Paraguai),

localidades situadas na Bacia do Alto Paraguai (Figura1).

Figura 1. Localização da Bacia do Alto Paraguai, no Brasil.

Fonte: PROJETO PANTANAL ANA, GEF, PNUMA, OEA (2004).

Miranda

Corumbá

Page 57: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

55

Figura 2. Colônias de Pescadores Profissionais do município de Miranda P1,

Mato Grosso do Sul.

Foto: ALINE DUARTE (2013).

Figura 3. Colônia de Pescadores Profissionais do município de Corumbá P2,

Mato Grosso do Sul.

Foto: ALINE DUARTE (2013).

O dimensionamento da amostra foi realizado utilizando o cálculo de

variável nominal ou ordinal e população finita conforme a equação (1)

(FONSECA e MARTINS, 2006).

Page 58: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

56

qpzNe

Nqpzn

ˆˆ)1(

ˆˆ22

2

(1)

onde:

- n tamanho da amostra aleatória;

- z abscissa da curva normal padrão, fixado o nível de confiança

em 95% (z = 1,96);

- p̂ estimativa da verdadeira proporção de um dos níveis da

variável escolhida para o estudo.

- pq ˆ1ˆ ;

- e erro amostral, expresso em decimais, e representará a

máxima diferença que o pesquisador admite suportar entre a média

populacional e a média estimada, isto é: epp ˆ , em que p é a

verdadeira proporção (frequência relativa) do evento a ser calculado

a partir da amostra; e

- N é o tamanho da população.

De acordo com a equação (1), a amostra de pescadores investigados foi

de 140, com nível de confiança de 95% e erro amostral de 7%. Foram

investigados 93 pescadores na cidade de Corumbá e 47 em Miranda, de forma

proporcional ao número total de 942 pescadores nas duas cidades.

O questionário foi aplicado no mês de julho de 2014, a abordagem aos

entrevistados foi não probabilística, sendo entrevistados aqueles pescadores

que primeiro se apresentaram.

Na elaboração do questionário semi estruturado (Apêndice 1) contou-se

com o auxílio do software Sphinx 5.0 optando-se tanto por questões, fechadas

únicas e múltiplas, quanto por questões abertas explorando os seguintes

constructos:

a) Verificar se existe acesso à informação de prevenção de acidentes com

animais ligados à atividade de pesca;

b) Qual o meio de comunicação transmitiu a informação e se esta informação

contribuiu para a prevenção;

Page 59: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

57

c) Se os pescadores profissionais fazem o uso de Equipamentos de Proteção

Individual (EPI’s).

A tabulação e análise estatística dos dados foram realizadas com o

auxílio do software Sphinx 5.0, aplicando-se as análises univariadas (sobre

prevenção de acidentes com animais aquáticos) com os dados tratados e

analisados tendo em vista os objetivos de pesquisa previamente definidos.

Visando cumprir requisitos legais, a pesquisa e o questionário foram

submetidos ao Comitê de Ética da Universidade Anhanguera-Uniderp e teve

parecer favorável. Número do processo: 322.161.

Page 60: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

58

Resultados e Discussão

Quanto à informação sobre prevenção de acidentes com animais

aquáticos, pode-se perceber a carência de informações qualificadas sobre o

assunto por parte do público alvo. Tal deficiência é ressaltada pelo baixo

percentual dos entrevistados (apenas 10%) que alegaram ter conhecimento

sobre algum tipo de medida preventiva. Noventa por cento dos entrevistados

não tiveram acesso a qualquer informação sobre prevenção de acidentes e

apenas 10% alegaram ter tido alguma informação sobre prevenção de

acidentes e primeiros socorros (Tabela 1),

Tabela 1. Pescadores que tiveram ou não acesso a informações sobre

prevenção de acidentes ocasionados por animais aquáticos, na Bacia do Alto

Paraguai, Mato Grosso do Sul

Prevenção de acidente Frequência ( % )

Sim 14 10,0 Não 126 90,0

Total obs. 140 100,0

Portanto, é possível perceber que praticamente não existe acesso a

informações de prevenção, ficando evidente que esses profissionais têm

carência de informações adequadas e necessitam de orientações educativas.

Dos entrevistados que tiveram acesso à informação, a maioria alegou saber

sobre cuidados com equipamentos e apetrechos utilizados na atividade de

pesca e cursos de primeiros socorros, mas negam saber como prevenir-se de

acidentes com animais. Tais limitações podem ser associadas ao baixo acesso

à informação qualificada sobre o assunto, o que reforça a necessidade de

orientações adequadas. Tais resultados corroboram as informações de SILVA

et al. (2010), de que estes profissionais não têm informações adequadas sobre

medidas de prevenção de acidentes, o que torna necessária a elaboração de

materiais como folheto educativo ilustrado. Os materiais devem ainda ter

linguagem adequada ao público alvo, com o objetivo de informar quanto aos

equipamentos de proteção, diminuir acidentes, prejuízos econômicos e trazer

melhor qualidade de vida para a população em questão.

Page 61: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

59

Dentre os pescadores que tiveram acesso à informação, 6,4%

adquiriram informações através de palestra, 1,4% pelo rádio, 1,4% pela TV e

apenas uma pessoa afirmou ter recebido uma cartilha, mas com informações

sobre acidentes com equipamentos de pesca (Tabela 2).

Tabela 2. Meios de comunicação pelos quais os pescadores, tiveram acesso à

informação de prevenção de acidentes envolvendo animais aquáticos na Bacia

do Alto Paraguai, Mato Grosso do Sul

Meio de comunicação Frequência ( % )

Sem acesso à informação 126 90,0

Rádio 2 1,4

TV 2 1,4

Jornal 0 0,0

Palestras 9 6,4

Cartilha 1 0,7

Pôster 0 0,0

Total obs. 140 100,0

A comunicação e a educação estão intimamente ligadas, pois mesmo

independentes, possuem objetivos comuns para o atendimento das

necessidades essenciais de comunicação e aprendizagem do ser humano. No

contexto da saúde, essa relação se expressa por meio da aprendizagem, o ser

humano obtém conhecimentos, habilidades e atitudes e desenvolve diferentes

formas e graus de receber e responder as mensagens de saúde. Por outro

lado, a eficiência da comunicação entre emissor e receptor determinará o grau

de aproveitamento da mensagem (MOREIRA et al., 2003).

Segundo MOREIRA et al. (2003), material educativo impresso é definido

como folhetos, panfletos, folder ou livreto, cuja ideia é proporcionar informação

sobre promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e autocuidado.

O material educativo produzido para o público deve visivelmente exibir a ideia,

que garanta o entendimento e evite mal-entendidos que possam designar

conceitos e ações inapropriadas.

Page 62: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

60

A ausência de conhecimento suficiente pode explicar a falta de interesse

na prevenção de lesões não fatais de profissionais da pesca. Estudos

anteriores não estimam as taxas de lesões não fatais em pescadores

profissionais, destacando dados estatísticos para lesões fatais (JENSEN,

1996).

Quanto ao aproveitamento das informações, de todos os entrevistados

que tiveram acesso a algum tipo de informação, um pescador relatou que a

informação não ajudou na prevenção de acidentes, por que o mesmo não

aderiu às orientações transmitidas. A outra parcela afirmou que as informações

transmitidas contribuíram para seu conhecimento e ajudaram a prevenir

acidentes.

A informação, quando transmitida de forma adequada, e se o pescador

estiver receptível a mesma, acaba por gerar bons efeitos que podem contribuir

para a redução do número de acidentes.

Quanto ao uso de equipamentos de proteção, a maior parte dos

entrevistados (57,14%) alega utilizar, algum tipo de Equipamento de Proteção

Individual - EPI’s (Tabela 3). Porém, pode-se perceber que estes profissionais

fazem o uso intuitivo, afirmando não ter informações qualificadas quanto ao uso

correto dos equipamentos; outra parcela dos entrevistados (42,86%) ignora ou

desconhece o uso, afirmando que certos EPI’s atrapalham suas atividades

laborais, desconsiderando a importância de se prevenir.

Tabela 3. Uso de Equipamentos de proteção (EPI’s) por pescadores

profissionais da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso do Sul

Categoria Frequência (%)

Bota/Botina 38 27,15

Colete 9 6,43

Luvas 0 0,0

Dedeiras 2 1,42

Mais de um equipamento 31 22,14

Nenhum equipamento 60 42,86

Total obs. 140 100

Page 63: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

61

Nenhum dos entrevistados faz uso de luvas como equipamento de

segurança para se proteger de ferimentos, o que explica a alta incidência de

leões nas mãos. Esses dados corroboram a análise de DOIMA et al. (2012) de

que na população de pescadores o uso de certos EPI’s é um recurso ainda

pouco utilizado, uma vez que grande parte dos profissionais da pesca ignora ou

desconhece o uso deste tipo de equipamento.

A norma regulamentadora 6 (NR6), define EPI - Equipamento de

Proteção Individual como: Todo dispositivo ou produto, de uso individual

utilizado pelo trabalhador, designado a proteção contra riscos capazes de

ameaçar a sua segurança e a sua saúde (BRASIL,1978).

O uso adequado dos EPI’s diminui os riscos de exposição e acidente no

trabalho principalmente onde existe manuseio de materiais perfuro cortantes,

ferroadas de peixes, fraturas e esmagamentos (DOIMA et al., 2013).

Não existe fiscalização de nenhuma instituição pública quanto ao uso

destes equipamentos ficando a responsabilidade para o próprio pescador. O

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas classifica o Código

A – 03 (Pesca e Aquicultura) com grau de risco médio (GR-3). No caso de

pescadores artesanais, onde raramente possuem relação empregatícia o uso

de EPI’s é total responsabilidade própria (DOIMO et al., 2012).

A norma regulamentadora 30 (NR30) tem por objetivo a proteção e a

regulamentação das condições de segurança e saúde dos trabalhadores

aquaviários (BRASIL, 2002). É aplicada aos trabalhadores de embarcações

comerciais, de bandeira nacional, bem como as de bandeiras estrangeiras

utilizadas no transporte de mercadoria, passageiros ou de prestação de

serviços. Esta norma possui um Anexo, de mesmo objetivo, destinado aos

trabalhadores de bordo que se enquadram em outras categorias, como de

embarcações artesanais, comerciais e industriais de pesca, entre outras. Esta

norma é geral para o sistema aquaviário e tem aplicação limitada à pesca

artesanal.

Dessa forma, não existe uma legislação específica que normatize o uso

de equipamentos de proteção individual (EPI´s) a pescadores artesanais, ou

que fiscalize o uso destes equipamentos.

A precariedade da legislação trabalhista e a realização de pesca ainda

de modo artesanal são citadas como alguns dos problemas que podem intervir

Page 64: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

62

na condição de vida e de saúde dos trabalhadores, especificamente com

relação aos pescadores do Brasil (ROSA e MATTOS, 2010).

Este estudo aponta para lacunas de educação e prevenção de acidentes

com organismos aquáticos do Pantanal com a comunidade pesqueira. Além de

evidenciar a importância do processo educativo, é possível destacar a

amplitude do problema e a urgente necessidade de produzir e levar

informações e ações educativas de prevenção desses acidentes envolvendo

animais aquáticos, incluindo orientações sobre o uso correto de EPI’s. Espera-

se que os dados possam contribuir para a redução de impactos

socioeconômicos e diminuição do número de acidentes, na medida em que o

pescador bem orientado e informado pode prevenir-se de traumas e, caso

acidentado, possa agir de maneira adequada.

Page 65: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

63

Conclusões

Os profissionais da pesca praticamente não têm acesso à informação

sobre prevenção de acidentes ocasionados por animais aquáticos, revelando

ainda a limitada difusão do tema sobre prevenção de acidentes durante a

pesca.

O uso de certos EPI’s é ignorado ou desconhecido e os equipamentos

de proteção são utilizados de forma intuitiva, sem o conhecimento de sua real

importância e aplicabilidade.

É evidente a carência de informações qualificadas por parte do público

alvo, fato que aponta para a necessária criação de material educativo

informativo que aborde o tema em linguagem adequada e de fácil

compreensão.

Page 66: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

64

Agradecimentos

Agradeço a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Ensino Superior) pelo apoio financeiro e concessão da bolsa de mestrado para

realização desta pesquisa. À Universidade Anhanguera-Uniderp e ao

financiamento concedido pelo Projeto de Toxinologia - Capes: “Peixes

Continentais Peçonhentos: Epidemiologia dos Acidentes, Ações Preventivas,

Mecanismos Fisiopatológicos e Bioprospecção”.

Page 67: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

65

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil.

Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços

de saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos, Brasília, n.114, p.580, 2001.

BRASIL. Ministério do Trabalho (Norma Regulamentadora 6 – EQUIPAMENTO

DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI). Diário Oficial da União. Poder

legislativo, Brasília, DF, Portaria GM n.º 3.214, de 08 jun.1978. 7p.

BRASIL. Ministério do Trabalho (Norma Regulamentadora 30 –SEGURANÇA E

SAÚDE NO TRABALHO AQUAVIÁRIO). Diário Oficial da União. Poder

legislativo, Brasília, DF, Portaria SIT n.º 34, 04 de dez. 2002. 17p.

BUENO, B.; GINDRI, B. S.; SPACKI, V.; CATELLA, A. C. Censo Estrutural da

Pesca na Bacia do Alto Paraguai Estado de Mato Grosso do Sul. In:SIMPÓSIO

SOBRE RECURSOS NATURAIS E SOCIOECONÔMICOS DO PANTANAL,n.

5, 2010,Corumbá-MS. Anais..., Corumbá: EMBRAPA, 2010. 1p. Disponível em:

<http://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/869530/1/014R.pdf>. Acesso

em: 10 nov. 2013.

DOIMO, R. A. F.; BARELLA, W.; MELLO, A. L. R.; RAMIRES, M.

Equipamentos e doenças laborais dos pescadores artesanais da estação

ecológica Juréia-Itatins (SP). UNISANTA-Law and Social Science, São Paulo,

v.1, n.1, p. 7-11, nov 2012.

DOIMO, R. A. F.; BARELLA, W.; MELLO, A. L. R.; RAMIRES, M. A importância

do uso de equipamentos de proteção individual para a redução de acidentes

no trabalho dos pescadores artesanais da Baixada Santista. UNISANTA-Law

and Social Science, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 48-53, nov 2013.

FONSECA, J. S.; MARTINS, G. A. Curso de Estatística. São Paulo: Atlas,

2006. 320p.

Page 68: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

66

GARRONE NETO, D.; CORDEIRO, R.; HADDAD JR, V. Acidentes do trabalho

em pescadores artesanais da região do Médio Rio Araguaia, Tocantins, Brasil.

Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 795-803, mai/jun

2005.

HADDAD JR, V. Animais aquáticos potencialmente perigosos do Brasil.

São Paulo: Roca, 2008. v. 1. 268p.

JENSEN, O. C. Work related injuries in Danish fishermen. Occupational

Medicine, Esbjerg, Denmark, v. 46, n. 6, p. 414-420, may/Aug 1996.

PROJETO PANTANAL ANA, GEF, PNUMA, OEA. Implementação de

práticas de gerenciamento integrado de bacia hidrográfica para o

Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai: programas de ações estratégicas para

o gerenciamento integrado do pantanal e Bacia do Alto Paraguai. GEF.

Relatório Final. Brasília: Athalaia Gráfica e Editora, 2004. 513p.

MELLO, R. L. A.; BARELLA, W.; DOIMO, F. A .R.; RAMIRES, M. Perfil da

saúde dos trabalhadores da pesca artesanal da estação ecológica de Juréia-

Itatins - Peruíbe/SP. UNISANTA-Law and Social Science, São Paulo, v. 1, n.

1, p. 12-15, nov 2012.

MONTEIRO, M. B. Projeto BIOS: a fotografia como elemento de percepção,

visão e interferência nas questões ambientais. Revista em Questão, Porto

Alegre, v. 10, n. 2, p. 359-372, jul/dez 2004.

MOREIRA, M. F.; NÓBREGA, M. M. L.; SILVA, M. I. T. Comunicação escrita:

Contribuição para a elaboração de material educativo em saúde. Revista

Brasileira de enfermagem, Brasília, v. 56, n. 2, p. 184-188, mar/abr 2003.

ROSA, M. F. M.; MATTOS, U. A. O. A saúde e os riscos dos pescadores e

catadores de caranguejo da Baía de Guanabara. Ciências e Saúde Coletiva,

Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 1543-1552, jun 2010.

Page 69: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

67

SANTOS, K. A.; MONTEIRO, S.; ROZEMBERG, B. Significados e usos de

materiais educativos sobre hanseníase segundo profissionais de saúde pública

do Município do Rio de Janeiro, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de

Janeiro, v. 25, n. 4, p. 857-867, abr 2009.

SILVA, G. C.; SABINO, J.; ALHO, C. J.; NUNES, V. L.; HADDAD, V. JR.

Lesões e envenenamento por animais aquáticos em pescadores de Coxim e

municípios de Corumbá, Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil: identificação

dos agentes causais, aspectos clínicos e medidas de primeiros socorros.

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 43, n. 5, p. 486–490,

set 2010.

Page 70: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

68

Conclusão Geral

A maioria dos pescadores entrevistados apresentou baixo grau de

escolaridade, renda inferior a um salário mínimo e idade superior a 30 anos.

Os acidentes envolvendo animais aquáticos ocorrem com elevada

frequência, tornando-se comuns durante as jornadas de trabalho.

Os acidentes geralmente são causados por espécies de peixes comuns

da região que portam estruturas capazes de causar ferimentos por dentes ou

ferrões, que podem estar associados a toxinas.

Os pescadores profissionais praticamente não têm acesso a

informações sobre prevenção de acidente envolvendo animais aquáticos,

ficando evidente a necessidade da divulgação de informações qualificadas

sobre o assunto. Nesse contexto, poucos profissionais tiveram acesso a

informações sobre prevenção de acidentes com equipamentos de pesca.

Muitos equipamentos de proteção individual (EPI’s) são utilizados de

forma intuitiva, sem o conhecimento adequado da sua real importância e

aplicabilidade, entretanto, outros são desconhecidos ou ignorados por parte

dos profissionais.

Torna-se evidente a necessidade da criação de materiais educativos que

apresentem imagens e conteúdos informativos, em linguagem adequada ao

público alvo e com destaque para informações sobre prevenção e tratamento

de acidentes envolvendo animais aquáticos.

Page 71: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

69

Apêndice 1: PROTOCOLO DE ACIDENTES COM PESCADORES DO PANTANAL 2012/2013

1. Local:

2. Nome:

14. Animal causador:

1. Bagre

2. Arraia

3. Outros peixes (dourado, cachorra, piranhas, traíra)

4. Outro animal (não consta da lista)

3. Faixa etária:

1. Até 18 anos 2. De 18 a 30 anos

3. De 30 a 40 anos 4. De 40 a 50 anos

5. De 50 a 60 anos 6. Acima de 60 anos

15. Tipo de lesão na pele:

1. Eczema ( inflamação) 2. Ferimentos Puntiformes

3. Ferimentos Lacerados 4. Edema (inchaço)

5. Eritema ( vermelhidão) 6. Necrose (morte de parte do tecido)

7. Prurido (coceira)

16. Dor (dar detalhes): tempo, intensidade, etc.

4. Sexo:

1. Masculino 2. Feminino

1. Sem Dor 2. Constante 3. Leve

4. Moderada 5. Forte 6. Muito Forte

5. Escolaridade:

1. Analfabeto

2. Ensino Fundamental Incompleto

3. Ensino Fundamental Completo

4. Ensino Médio Incompleto

5. Ensino Médio Completo

6. Superior

6. Renda familiar:

1. Até 1 Salário Mínimo 2. De 1 a 2 Salários Mínimos

3. De 2 a 3 Salários Mínimos 4. De 3 a 4 Salários Mínimos

5. De mais de 4 Salários Mínimos

7. Tempo de atuação na pesca:

1. Menos de 5 anos 2. De 5 a 10 anos

3. De 10 a 20 anos 4. De 20 a 30 anos

5. Acima de 30 anos

8. Quantas vezes sofre u acidente (tipo de pesca)?

17. Outros sintomas:

1. Sim 2. Não (vá p ara questão 29)

Outros sintomas:

18. Náuseas/vômitos: 19. Febre: 20. Mal-estar (fadiga, tontura): 21. Falta de ar: 22. Espirros: 23. Arritmia (bate de ira): 24. Sudorese fria: 25. Infecção secundária: 26. Agitação psicomotora: 27. Irradiação da dor para a raiz do membro. 28. Dormência:

1 2 3 4 5

9. Data e horário do acidente:

10. Você conhece algum tipo de medida preventiva ou utiliza algum

equipamento de proteção para evitar a ocorrência de acidentes? (de

talhes).

11. Como ocorreu o acidente? Procurar obter detalhes do momento do

contato.

Baixíssima intensidade (1), Baixa intensidade (2), Média intensidade (3),

Alta intensidade (4), Altíssima intensidade (5).

29. Você procurou tratamento médico?

1. Sim 2. Não

30. Tratamento sempre gados?

1. Álcool

2. Gelo

3. Vinagre

4. Urina

5. Assistência Médica

6. Outros

(especificar):

12. Você já teve acesso a algum tipo de informação sobre acidentes

causados por animais aquáticos a pescadores?

31. Tempo que ficou ausente do trabalho por causa do acidente?

1. Continuou trabalhando 2. De 1 a 7 dias

3. De 8 a 15 dias 4. De 16 a 30 dias

5. Acima de 30 dias

13. Local do corpo atingido:

1. Mãos 2. Braços 3. Costas 4. Pés

5. Pernas 6. Tórax 7. Cabeça

32. Você teve acesso a algum tipo de informação para prevenir acidentes com peixes ou outro animal? (durante a pesca)?

1. Sim 2. Não

Page 72: universidade anhanguera-uniderp aline duarte edilson análise do ...

70

33. Se a resposta anterior for sim, que tipo de informação foi

veiculada? Qual meio?

Radio Palestra

TV Cartilha

Jornal Pôster

34. Essa informação ajudou na prevenção de acidentes?

1. Sim 2. Não