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1
UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
ROSELE HASSELMANN ZIELINSKI
A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA PERCEPÇÃO DE CANDIDATOS A
1ª CNH NO MUNICÍPIO DE COLOMBO - PR
MACEIÓ - AL
2014
2
ROSELE HASSELMANN ZIELINSKI
A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA PERCEPÇÃO DE CANDIDATOS A 1ª CNH NO
MUNICÍPIO DE COLOMBO - PR
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof. Ms. Alessio Sandro de Oliveira Silva
MACEIÓ - AL
2014
3
ROSELE HASSELMANN ZIELINSKI
A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NA PERCEPÇÃO DE CANDIDATOS A 1ª CNH NO
MUNICÍPIO DE COLOMBO - PR
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
APROVADO EM ____/____/____
_____________________________________________________
PROF. MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA
ORIENTADOR:
_____________________________________________________
PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA
BANCA EXAMINADORA
4
RESUMO
Várias pesquisas mostram que a Avaliação Psicológica é aplicada em diversas áreas da psicologia e existem vários instrumentos psicológicos que podem ser utilizados para que a mesma seja concluída. A avaliação psicológica realizada em candidatos a habilitação os instrumentos indicados são: entrevista psicológica, testes psicológicos e observação. Sendo que a entrevista psicológica deve ser realizada em caráter inicial. Desta forma o presente trabalho teve como objetivo apresentar a preferencia desta colocação pela percepção dos candidatos a 1ª CNH do município de Colombo-PR, assim como a opinião dos mesmos a respeito da diminuição do nível de ansiedade e o aumento do desempenho quando a entrevista psicológica é realizada antes da avaliação coletiva. Foram realizadas no total 80 entrevistas, sendo 42 mulheres e 38 homens, separados em dois grupos. O grupo A fez a entrevista psicológica depois da avaliação coletiva e o grupo B fez a entrevista psicológica antes da avaliação coletiva. Comprovou-se, pelos grupos pesquisados, principalmente pelo grupo B, que os candidatos à habilitação preferem que a entrevista psicológica seja realizada antes da avaliação coletiva. Em relação ao nível de ansiedade, constatou-se, essencialmente por parte das mulheres, que a entrevista psicológica aplicada antes da testagem diminui a ansiedade; assim como a opinião que melhora o desempenho na avaliação coletiva quando a entrevista é realizada primeiro. Diante desses dados conclui-se para este trabalho, que os candidatos a CNH, do município de Colombo-PR, preferem que a entrevista psicológica seja realizada antes da avaliação coletiva, e a mesma diminui a ansiedade e melhora o desempenho dos mesmos na avaliação coletiva. Todavia recomenda-se um estudo mais detalhado a respeito dos fatores existente na entrevista psicológica e os fenômenos subjetivos que contribuem naqueles aspectos para auxiliar o profissional em seu trabalho e garantir maior qualidade dessa prestação de serviço na Psicologia. Palavras chave: Avaliação Psicológica, Entrevista psicológica, Ansiedade, Desempenho.
5
ABSTRACT
Many researches have shown that psychological evaluation is applied in many fields of the psychology and there are many psychological tools which may be applied for the conclusion of this evaluation. The psychological evaluation applied on person who are trying to have drive license the tools are: psychological interview, psychological tests and observation. Psychological interview, must be applied for instance at test initial. Therefore, this study aimed to present the preference by placing the candidates perception looking for their first CNH at city of Colombo/PR, as well as the opinion of the candidates concerning the reduction of tension and the increased performance when the psychological interview is carried out before the collective evaluation. In a total of 80 interview were done, where 42 women and 38 men, separated in two groups. Group A did the psychological interview after collective evaluation and group B did the psychological interview before the collective evaluation. It was proved by the researched groups mainly by group B that candidates to the license prefer that the psychological interview should be done before the collective evaluation. Regarding to the anxiety level, it was found essentially by women that, psychological interview applied before testing reduces anxiety; as well as the opinion that improve the performance on collective evaluation when the interview is performed by first. Considering this information, it is concluded for this study that the candidates for the CHN of city of Colombo-PR, prefer that the psychological interview should be carried out before the collective evaluation, and it reduce the anxiety and improves the performance of the candidates on the collective evaluation. However, a more detailed study is recommended regarding the existent factors on the psychological interview and the subjective phenomena that contribute those aspects that contribute in those aspects to help the professional in your job and ensure the higher quality on this service provision in psychology. Key words: Psychological Evaluation, Psychological interview, Anxiety, Performance
6
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
Gráfico 1: Preferência da entrevista psicológica ser aplicada antes da
avaliação coletiva. ................................................................................ 42
Gráfico 2: Frequencia de respostas entre o grupo A e o grupo B em relação
a preferencia da entrevista aplicada antes da avaliação coletiva. ........ 43
Gráfico 3: Frequencia de respostas entre homens e mulheres de ambos os
grupos em relação a entrevista ser aplicada antes do coletivo. ........... 43
Gráfico 4: Opinião a respeito de a entrevista psicológica ser aplicada antes
da avaliação coletiva diminuir o nível de ansiedade. ............................ 47
Gráfico 5: Frequencia de respostas entre o grupo A e o grupo B em relação
a ansiedade diminuir quando a entrevista é aplicada antes do
coletivo. ................................................................................................ 47
Gráfico 6: Frequência de respostas entre homens e mulheres de ambos os
grupos em relação a ansiedade diminuir quando a entrevista é
aplicada antes do coletivo .................................................................... 48
Gráfico 7: Opinião a respeito de o desempenho melhorar quando a
entrevista psicológica é aplicada antes da avaliação coletiva. ............. 52
Gráfico 8: Frequencia de respostas entre o grupo A e o grupo B em relação
ao desempenho melhorar quando a entrevista é aplicada antes
do coletivo. ........................................................................................... 53
Gráfico 9: Frequencia de respostas entre homens e mulheres de ambos os
grupos em relação ao desempenho melhorar quando a etrevista
é aplicada antes do coletivo. ................................................................ 54
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CFP – Conselho Federal de Psicologia
CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito
CNH – Carteira Nacional de Habilitação
CRP – Conselho Regional de Psicologia
CTB – Código de Trânsito Brasileiro
IDATE – Inventário De Ansiedade Traço - Estado
ISOP - Instituto de Seleção e Orientação Profissional
SATEPSI - Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 12
2.1 Avaliação Psicológica em Motoristas.............................................................. 14
2.2.1 Tipos de Entrevista ........................................................................................ 23
2.2.2 Tipos de Perguntas ........................................................................................ 25
2.2.3 Etapas da Entrevista ...................................................................................... 26
2.3 Teste Psicológico .............................................................................................. 27
2.4 Observação ........................................................................................................ 31
2.5 Fatores Intrínsecos à Avaliação Psicológica .................................................. 33
3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 40
3.1 Ética .................................................................................................................... 40
3.2 Tipo de Pesquisa ............................................................................................... 40
3.3 Universo ............................................................................................................. 40
3.4 Sujeitos da Amostra .......................................................................................... 41
3.5 Instrumentos de Coleta de Dados ................................................................... 41
3.6 Plano para Coleta dos Dados ........................................................................... 41
3.7 Plano para a Análise do Dados ........................................................................ 41
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 42
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61
APÊNDICE ................................................................................................................ 65
ANEXO ..................................................................................................................... 66
9
1 INTRODUÇÃO
O ser humano diferencia-se de outros seres vivos pela sua capacidade de
avaliar, julgar e transmitir valores que servem de base à construção de um sistema
de comportamentos individuais e sociais, podendo ser retificado e ratificado, de
acordo com a necessidade ou interferência de novas avaliações que o indivíduo ou a
sociedade apresenta como forma de modificar seu meio ou adaptar-se a ele.
O indivíduo para atender as suas indigências, individuais e sociais,
primeiramente avalia aquilo que já aprendeu com aquelas que o grupo ou a
sociedade, de certa forma, julga adequado responder e praticar. Como exemplo
disso, uma pessoa irá comportar-se em um determinado ambiente diferentemente
de como comporta-se em sua casa devido aos valores e condutas a serem seguidas
e instituídas pelo grupo social e ou institucional.
O grupo também exerce e estabelece um importante papel frente aos
parâmetros daquilo que julga adequado a sociedade e ao indivíduo; feito a partir de
avaliações pertinentes do meio, com imposição de regras e condutas necessárias ao
convívio. O contrario disso o sujeito estará submetido ao julgamento e as
consequências que o comportamento inverso provocou. Um exemplo disso é a
avaliação psicológica realizada em candidatos a Carteira Nacional de Habilitação
(CNH) que julga se o indivíduo é apto ou não a direção veicular.
Quando o sujeito deseja obter a licença para dirigir sabe que é necessário
passar por uma avaliação psicológica, mais conhecida popularmente e pronunciada
como psicotécnico, devido à forma como os próprios profissionais da área a
denominavam e foi sendo divulgada pela população.
Desde 2008 o psicotécnico foi substituído pela nomenclatura: Avaliação
Psicológica. Esta é realizada a partir de critérios definidos pelos órgãos de trânsito e
o Conselho Federal de Psicologia (CFP) que instituem padrões referentes à forma
como a avaliação deve ser realizada, assim como, os requisitos necessários que o
candidato a CNH deve preencher e obter.
A Avaliação Psicológica a obtenção da CNH é realizada há algumas décadas
e desde então tem passado por diversas mudanças. Atualmente a mesma é
aplicada, segundo as exigências institucionais, em duas etapas: a primeira delas
destina-se a entrevista psicológica e a segunda refere-se à avaliação coletiva com o
emprego de testes psicológicos. Tal avaliação será abordada no presente trabalho,
10
pois sabe-se que dependendo das necessidades sociais a avaliação psicológica vai
sendo modificada e edificada pelo fenômenos psicológicos descobertos.
O tema referido considera a importância de discutir sobre a forma, ou a
ordem, como são aplicados os instrumentos psicológicos a obtenção da CNH, tendo
em vista seu caráter compulsório e que é imposta de acordo com as
regulamentações dos órgãos de trânsito e o CFP.
O trabalho tem como objetivo discutir como a Avaliação Psicológica deve ser
aplicada, porém sobre a percepção do candidato a 1ª CNH do município de Colombo
– PR. Além da opinião dos mesmos de a entrevista ser aplicada antes da avaliação
coletiva, o trabalho também irá apontar a opinião desses candidatos quanto a
diminuição da ansiedade e o desempenho relacionados a tal preferencia.
A pesquisa pretende identificar o procedimento mais adequado a avaliação
psicológica, pela percepção do candidato, propiciando aos mesmos, menor nível de
ansiedade e favorecer condições para se obter um desempenho condizente a suas
reais habilidades, assim como proporcionar melhoria a qualidade da prestação
desse serviço na Psicologia.
Para o desenvolvimento deste trabalho, serão citados conteúdos de autores
que abordam o tema em questão e fatores intrínsecos a avaliação como: ansiedade
e desempenho. Durante a utilização dos materiais pesquisados (livros, artigo
periódicos, revistas científicas), verificou-se a existência sobre o assunto e
informações a respeito do procedimento quanto à qualidade da técnica a ser
utilizada pelo profissional, mas pouco relacionada à problemática apresentada,
devido ao fato da Avaliação Psicológica envolver diversos instrumentos e ser
aplicada em diferentes áreas da Psicologia.
Para a compreensão do tema o mesmo estará divido em tantos capítulos que
tratam, respectivamente, sobre: avaliação psicológica; entrevista psicológica; testes
psicológicos; observação e aspectos intrínsecos na avaliação psicológica.
No capítulo relacionado à Avaliação Psicológica será levantada algumas
definições sobre ela, seu caráter técnico-científico, assim como a contextualização
da avaliação psicológica em motoristas até a atualidade.
No capítulo sobre a entrevista psicológica serão colocadas suas
conceituações, técnicas, práticas e etapas de execução; bem como o emprego da
entrevista devolutiva presente nesse instrumento psicológico. Neste capítulo
também serão colocadas às regulamentações do CFP quanto à relevância e
11
primazia desse instrumento em relação a outros instrumentos psicológicos na área
do trânsito.
O capítulo que trata dos testes psicológicos irá referi-los como um instrumento
capaz de mensurar habilidades cognitivas e emocionais do sujeito devido às
exigências e critérios que o tornam recomendável e comercializado. Assim como sua
utilização na avaliação psicológica em candidatos a CNH.
O capítulo sobre observação será exposto à importância desse instrumento
na área da psicologia, inclusive como meio indispensável em qualquer instrumento
de avaliação psicológica.
E no último capítulo referente ao desenvolvimento serão abordados os
aspectos relacionados à ansiedade e o desempenho dos quais a pessoa pode
apresentar frente à situação de avaliação.
Nos capítulos destinados a metodologia; resultados e discussão, será
detalhada, respectivamente, a forma que a pesquisa foi realizada; e a análise da
coleta de dados de forma quantitativa e qualitativa no intuito de investigar a
problemática do estudo.
Por fim, no capítulo referente à conclusão será realizado o fechamento do
trabalho, bem como possíveis considerações que possam ser realizadas para o
aprimoramento desta pesquisa para possibilitar maior garantia ao procedimento da
avaliação psicológica em candidatos a 1ª CNH e a qualidade da prestação desse
serviço na psicologia.
12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Considera-se que o termo avaliação é muito recente e caracterizado como
formal e informal. Informal pelo fato de que todo ser humano avalia seu meio para
melhor se adaptar ao sistema e manter um nível próprio de desenvolvimento. E
formal quando utiliza-se de códigos de condutas no intuito de julgar e estabelecer
julgamento ao comportamento do semelhante; nesse caso deve-se ao psicólogo, no
final do século XIX, a origem da avaliação formal e sistemática. (PASQUALI1, apud
GOUVEIA, 2002)
Num processo de intervenção é inconcebível o fato sem que se tenham
precedido algum tipo de avaliação, pois a mesma é essencial para uma atuação
adequada, inclusive a avaliação psicológica, considerada como uma necessidade
primária e serve para orientar uma ação mais segura e adequada ao trabalho do
profissional. (WITTER2, et al, 1996, apud NORONHA, et al, 2002)
Pode-se dizer que a Avaliação Psicológica é uma subárea da Psicologia e seu
desenvolvimento está intimamente ligado à história da construção da ciência
psicológica no Brasil juntamente com as necessidades práticas de responder as
demandas industriais, educacionais e clínicas; como por exemplo: motivações,
habilidades, condições intelectuais e psicopatológicas entre outras. Além desses
setores, ampliou-se a aplicação da avaliação psicológica ao ato de dirigir e no
campo jurídico pelas condições e às novas lacunas sociais. (ALCHIERI, 2012, p. 10)
A avaliação psicológica é uma função privativa do psicólogo e está
normatizada na lei 4.119 de 27 de agosto de 1962 e tem por tradição, segundo o
autor Achieri (2012, p. 21) “descrever e explicar fenômenos ou processos
psicológicos por meio da atribuição de valor ou medida as suas propriedades”. Além
da instrumentação o autor Primi (2010) acrescenta que a avaliação psicológica é
uma área responsável pela operacionalização das teorias psicológicas em
acontecimentos observáveis, ou seja, permite que as teorias sejam testadas,
contribuindo na evolução do conhecimento psicológico, a ciência e atuação
profissional.
1 PASQUALI, L. Instrumentos psicológicos: manual prático de elaboração. Brasília : LabPam/IBAPP. 2 WITTER, G. P. & DAVID, J. B. Avaliação da pós-graduação na PUCCAMP. Auto e hetero-avaliação. Estudos de Psicologia, 13(2), 1996, p. 3-10.
13
Para a autora Machado, et al (2007) a avaliação psicológica é um processo
científico e dinâmico de conhecimento do outro pela obtenção de amostra do
comportamento através de um trabalho especializado. A mesma adiciona que é um
processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretações de dados
sobre o fenômeno psicológico, resultantes da interação do sujeito com a sociedade.
A avaliação psicológica é um procedimento clínico com princípios teóricos,
métodos e técnicas de investigação, tanto da personalidade como de outras funções
cognitivas, por meios da entrevista psicológica e observações clínicas; testes
psicológicos; técnicas projetivas e outros procedimentos de investigação como o uso
de jogos, dinâmicas, etc. A escolha das estratégias e dos instrumentos empregados
é feita de acordo com o referencial teórico, o objetivo (clínico, profissional,
educacional, forense etc.) e a finalidade (diagnóstico, indicação de tratamento e/ou
prevenção). (OCAMPO3 et al, apud ARAUJO, 2007)
Os instrumentos constituem-se em procedimentos organizados de coleta de
informações importantes e confiáveis e servem de base ao processo mais amplo e
complexo da avaliação psicológica. (PRIMI, 2010)
Nesse processo de avaliação, o psicólogo é capaz de prover informações
importantes que levem a compreensão das características psicológicas da pessoa
ou de um grupo, em relação à forma como irão desempenhar uma dada atividade,
às interações interpessoais, entre outras possibilidades de comportamentos
sustentados em métodos científicos com respostas muito mais confiáveis que às
opiniões leigas ou feitas ao acaso. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2007)
Diante desse contexto a avaliação psicológica orienta-se de métodos para
explicar e resolver problemas humanos em termos psicológicos, pois, parte de
elementos e critérios que a caracterizam como disciplina científica com seus
específicos objetos de estudo; objetivo; campo teórico e o método praticado. Esses
elementos são compreendidos respectivamente como os fenômenos e processos
psicológicos específicos (exemplo: ansiedade); interpretações, variações e valores
desses fenômenos; teorias psicológicas sistematizadas na forma de conceitos e por
último os métodos representados através da observação, inquérito (sendo a
³ OCAMPO, M. L. S.; et al. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. 11ª ed. São PAULO
: Martins Fontes, 2005.
14
entrevista psicológica o meio mais utilizado) e a mensuração (por meio de medida
construídos ou utilizadas para o fim a que se destina). (ALCHIERI, 2012)
Depois de realizado o processo avaliativo o psicólogo irá elaborar um
diagnóstico e o correspondente prognóstico, se necessário, e realizar a
comunicação do resultado da avaliação psicológica, conhecida como informes
psicológicos, embasado e respaldado por base de um processo metodológico
científico. (ALCHIERI, 2012). Como também sugerir ou não algum tipo de
intervenção seja para cura, prevenção ou mesmo autodesenvolvimento do
avaliando. (PASQUALI4, 2001, apud STELMACKUK, 2002, p. 7)
Portanto percebe-se que a avaliação psicológica foi sendo construída a partir
de demandas sociais para compreender o comportamento humano e responder as
exigências de determinadas áreas sociais, como exemplo a do trânsito, no intuito de
organizar e estabelecer critérios de julgamento diante daquilo que o indivíduo
apresenta a si e a sociedade, tanto em termos positivos ou negativos, como no caso
em estar apto ou inapto a dirigir. A conclusão desse trabalho deverá ser respaldado
por métodos cientificamente comprovados que possa garantir ao profissional uma
resposta confiável e o exercício de sua profissão.
2.1 Avaliação Psicológica em Motoristas
As primeiras notícias sobre automóvel no Brasil aconteceu no final do século
XIX assim como os primeiros registros de acidentes no país, mas antes, no século
XVI, estudiosos de diversas partes do mundo já inclinavam sua atenção a respeito
do comportamento humano com o aparecimento do automóvel devido ao
desenvolvimento e aperfeiçoamento mecânico e os males que isto poderia causar
com a substituição das carruagens. (HOFFMANN, et al, 2012, p. 104).
Segundo Soler5, et al (1987, apud BIANCHI, 2011) o fenômeno da condução
humana de direção automotiva teve início a partir do ano de 1866 com a fabricação
do primeiro veículo movido a motor na Alemanha e os exames de aptidão para
condutores passaram a ser exigidos a partir de 1880, principalmente dos motoristas
4 PASQUALI, L. Técnica de exames psicológicos – TEP/Manual – Volume I: fundamentos das
técnicas psicológicas/CFP. São Paulo : Caso do Psicológo, 2001. 5 SOLER, J., & TORTOSA, F. Psicologia y seguridade vial em Espanã: uma perspectiva histórica.
Valencia : Nau Livros, 1987.
15
profissionais, na preocupação pela conduta e comportamento necessários para
manejar este novo evento.
Ao passo desse histórico e com o aparecimento das duas grandes guerras
mundiais houve a necessidade de criar outros mecanismos para sustentar a
economia assim como toda infraestrutura dos países. Dessa forma a indústria
automobilística passou a substanciar a economia de várias nações ampliando o
volume de veículos e consequentemente o aumento de acidente de trânsito. Isso fez
com que surgisse a chamada Psicologia do Trânsito no sentido de coletar dados
para diminuir o número de acidentes, por meio de avaliação psicológica, mas
também na prevenção dos acidentes pelo processo de educação da população.
(RUEDA, 2011, p. 103)
De acordo com o trabalho da autora Bianchi (2011) sobre a psicologia do
trânsito, a mesma apontou que no ano de 2009 morreram no ano mais de 1.200.000
pessoas vítimas de acidente de trânsito no mundo; sendo que no Brasil são 35.000
mortes anuais em acidente de trânsito. Além de um grande contingente de pessoas
mutiladas e com sequelas desconhecidas e não contabilizadas, as que sofrem e
gera sofrimento a família dos mesmos, assim como o ônus causado as organizações
e a sociedade. (THIELEN, 2011, p. 77-78)
A frota de veículos, na sociedade brasileira, passou de aproximadamente um
milhão para quase trinta milhões nas últimas três décadas, e os motoristas têm sido
responsáveis por mais de 70% do total de acidentes. Portanto é necessário cautela
no momento que uma pessoa decide dirigir sem antes conhecer de quem se trata;
sendo que o exame prévio nesse contexto constitui uma ferramenta indispensável
para isso. (GOUVEIA, et al, 2002)
De acordo com Rozeztraten6 (1988 apud ROCHA, 2008, p. 19) estudar os
acidentes e as causas que o provocam “é uma fonte importante de informações para
a psicologia do trânsito [...]. O acidente é consequência de um mau comportamento,
de algum processo psicológico que não funcionou bem”. O autor aponta que o
comportamento humano é o principal causador dos acidentes de trânsito, assim
como outros processos que podem levar a disfunção do sistema homem-veículo-via.
6 ROZESTRATEN, R. J. A. Psicologia do trânsito: conceitos e processos básicos. São Paulo : E.P.U.,
1988.
16
Conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) de 1998 o ato de conduzir
um veículo não é um direito do cidadão, mas uma concessão ao mesmo desde que
atenda a determinados critérios de condições físicas e características psicológicas
apropriadas às categorias veiculares, além de conhecer as leis de trânsito, noções
de mecânica e domínio veicular. Nesse caso a avaliação psicológica fornece
indicadores dos fenômenos psicológicos envolvidos no ato de dirigir que auxiliam o
processo de tomada de decisões em relação às exigências requeridas desse usuário
estar apto ou inapto a condução de veículo. (SAMPAIO, 2011, p. 18)
O código também propõe aos profissionais da área de trânsito a intensificação
de estudos e análise referente à circulação humana, não somente a segurança
pública a partir dos meios de transporte, mas a uma realidade que demanda política
de saúde e educação provocadas e relacionadas ao caótico trânsito da atualidade.
(HOFFMANN, et al, 2011, p. 23)
A avaliação psicológica em motoristas no Brasil teve início na década de 40 e
50 através da seleção médica e psicotécnica com a finalidade de restringir o acesso
à direção de pessoas propensas a se envolver em acidente de trânsito por meio de
testes e exames para aumentar a segurança no trânsito. (SILVA; GUINTHER, 2009,
p. 164)
Tal avaliação surgiu em virtude da forte demanda social da época e de
justificativas científicas para implementar um processo de avaliação psicológica de
condutores. Em 1951 por meio ao Decreto-lei n° 9.545 em 5 de agosto de 1946
torna-se obrigatório os exames psicotécnicos, contudo aplicado a critério da junta
médica para a aquisição da carteira de habilitação. Porém essa avaliação não tinha
caráter eliminatório, mas para estudar o comportamento dos condutores realizado
pelo Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) e executar uma atividade
preventiva direcionada aos profissionais da condução. (SILVA; GUINTHER, 2009, p.
164-165)
No ano de 1953 o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) institui
obrigatório o exame psicotécnico para todos os candidatos à profissão de motorista.
Nesse mesmo ano publicaram-se trabalhos a respeito dos constructos psicológicos -
personalidade e a atenção - mensurados na avaliação e a realização de uma
entrevista psicológica no decorrer dessa avaliação. Por fim em 1962 o exame foi
estendido a todos os candidatos a CNH. (RUEDA, 2011, p. 104)
17
Com o passar dos anos em decorrência das reflexões e as críticas sobre a
seleção psicotécnica, as causas de acidentes, a elaboração de testes usados para a
habilitação e do reconhecimento da profissão; surgiram teóricos propondo
modificações na legislação de trânsito ao especificar os processos psíquicos
comportamentais do motorista; exames complementares; preparação do profissional
avaliador e a fiscalização desse trabalho. Juntamente a isso, em 1988, foi criado
pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), a Comissão Especial do Exame
Psicológico para Condutores, no intuito de obter dados e critérios relacionados ao
exame psicológico e oferecer ao CONTRAN uma reformulação normativa àquela
vigente na época. No entanto não há registros desse momento que possam ser
pesquisados a respeito desses resultados. (RUEDA, 2011, p. 106-107)
O exame psicológico em motorista é realizado pelo psicólogo, desde 1962,
seguindo os ditames legais dos órgãos de trânsito e as orientações dos seus
respectivos órgãos da classe profissional (HOFFMANN, et al, 2011, p.193).
Atualmente o trabalho do psicólogo avaliador é balizado pela Resolução n° 267/08 e
muda o termo exame psicotécnico – avaliação psicológica obrigatória - para
avaliação psicológica – associada ao trabalho clínico e diagnóstico de forma mais
individual - através de técnicas e instrumentos como entrevistas diretas e individuais;
testes psicológicos vigentes pelo CFP; dinâmica de grupo; escuta e intervenções
verbais. Além dos critérios apontados no candidato, tem-se a exigência de
especialista aos psicólogos que queiram realizar avaliação psicológica para CNH a
partir do ano de 2013, e não somente o curso de perito como tratava a resolução n°
80/98 do CTB. (ROCHA, 2008)
Naquela resolução foram estabelecidas as áreas que deverão ser avaliadas
pelo psicólogo capacitado, divididas em cinco grandes blocos de características
psicológicas e a entrevista individual. (RUEDA, 2011)
Dentro das áreas avaliadas estão: tomada de informação com a avaliação de
pelos menos três tipos de atenção, detecção, discriminação e identificação;
processamento da informação através da avaliação da inteligência, memória,
orientação espacial e julgamento crítico; tomada de informação pela averiguação da
capacidade de escolher o melhor comportamento seguro na situação do trânsito;
comportamento adequado às situações no trânsito e a personalidade composta pelo
equilíbrio emocional entre diversos aspectos emocionais da personalidade. Todos
18
eles conferidos através de técnicas e instrumentos como: entrevistas; testes
psicológicos; dinâmica de grupo; escuta e intervenções verbais. (BRASIL, 2008)
A avaliação psicológica de trânsito é de extrema importância, pois oferece
indicadores para a tomada de decisão em relação às condições desse indivíduo
estar apto ou não a dirigir através da investigação dos fenômenos psicológicos a
partir das capacidades gerais e específicas do indivíduo. E assim atuar de forma
preventiva e preditiva no processo de avaliação psicológica evitando a exposição em
situações de perigo que o sujeito pode provocar a si e aos outros que circulam no
trânsito. (LAMOUNIER7, et al, 2005, apud SAMPAIO, et al, 2011, p. 16)
Além das avaliações pertinentes as habilidades cognitivas e emocionais do
usuário é dever do psicólogo realizar a entrevista devolutiva e discutir com o mesmo
o resultado de sua avaliação psicológica para que possa auxiliá-lo na sua
adequação futura caso haja a necessidade de uma avaliação complementar.
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2006, p. 30)
Portanto a utilização do termo avaliação psicológica para motorista, tem o
intuito de suprir a associação dessa avaliação a uma simples aplicação de testes
psicológicos, mas a um método que utiliza-se de técnicas científicas, observação e
entrevista no cuidado de considerar o ser humano como um todo e revelar se o
sujeito possui habilidade cognitivas, emocionais e comportamentais para dirigir.
(ROCHA, 2008)
Todavia a avaliação psicológica para motorista não é a única forma de
atuação na área de trânsito, mas é a forma mais empregada pelos psicólogos nessa
área. Até o momento a avaliação das habilidades gerais e específicas de cognição e
de personalidade do candidato a CNH e dos motoristas profissionais são os
indicadores que norteiam o processo de avaliação do psicólogo e indicadores de que
o usuário estará apto ou inapto, em termos psicológicos, a boa direção veicular;
assim como propiciar maior segurança a si e para quem divide o mesmo ambiente.
2.2 Entrevista Psicológica
A entrevista psicológica é um dos instrumentos mais utilizados e necessários
para a realização do trabalho do psicólogo seja qual for seu campo de atuação.
7 LAMOUNIER, R.; RUEDA, F. J. M. Avaliação psicológica com o PMK no contexto do trânsito.
Psicologia: pesquisa e trânsito, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 25-32, dez.2005a.
19
Existem várias conceituações e denominações referentes à entrevista
psicológica, assim como autores que pesquisam sobre o assunto, contudo há dois
pontos indiscutíveis inerentes a ela que são: comunicação entre as pessoas e que é
efetuada pelo psicólogo no exercício de suas atividades. (ALMEIDA, 2004, p. 34)
A conceituação clássica de entrevista psicológica, base para muitos autores é
definida por Sullivan8, (apud ALMEIDA, 2004, p. 35) como:
Uma situação de comunicação vocal entre duas pessoas (a tow-group) mais ou menos voluntariamente integrados num padrão terapeuta-cliente que se desenvolve progressivamente com o propósito de elucidar formas características de vida das pessoas entrevistadas, e vividas por elas como particularmente penosas ou especialmente valiosas e, de cuja elucidação ela espera tirar algum benefício.
Em conformidade, Cunha9 (1991, apud RABITTO, 2008) descreve que a
entrevista psicológica é uma comunicação entre duas pessoas e o psicólogo
estimula a interação entre ele e o entrevistado. Sendo que toda informação e
aparecimento de emoções fazem parte da investigação sobre a personalidade do
sujeito e seus sistemas defensivos.
A autora Machado, et al (2007) refere-se a entrevista psicológica como uma
conversação dirigida a um propósito estabelecido e sua função básica é prover o
avaliador de subsídios técnicos acerca do comportamento do sujeito, inteirando os
dados com os demais instrumentos utilizados.
O autor Bleger (1998) acrescenta que a relação, entrevistador e entrevistado,
possuem características particulares, dentre elas destaca-se ao conhecimento dos
dados obtidos pelo entrevistador, ou seja, não consiste em saber apenas os dados
da vida do cliente, mas compreender o comportamento total no decorrer da
entrevista.
Por meio a essa complexidade, a entrevista psicológica é uma técnica de
investigação científica e como técnica possui regras específicas ou indicações
práticas de execução e a teoria da técnica. Esta influenciada por conhecimentos
provenientes da psicanálise através do conhecimento da dinâmica do inconsciente;
a Gestalt que levou a compreensão do “todo” incluindo o entrevistador como
8 SULLIVAN, R. S. The psychiatric interview. New York : The Norton Library, 1970. 9 CUNHA, J. A.; et al. Psicodiagnósticos. 3ª ed. Porto Alegre : Artes Médicas, 1991. p.400.
20
integrante na entrevista; a topologia com o delineamento do enfoque situacional e do
Behaviorismo com a importância da observação do comportamento. Tornando-a
mais restrita devido as suas condições metodológicas, sistematização de aplicações
e em seus resultados. (BLEGER, 1998)
Utilizada em diferentes áreas e profissionais (psiquiatra, assistente social,
sociólogo, etc); para o psicólogo interessa a busca do objetivo psicológico
(investigação, diagnóstico, terapia, etc), com regras que possibilitam seu emprego
correto e eficaz. (BLEGER, 1998)
Além do conteúdo, domínio teórico e objetivo a entrevista pode ser
diferenciada segundo o beneficiário do resultado que se distingui em: quando a
entrevista é realiza em benefício do entrevistado; a entrevista cujo objetivo é a
pesquisa, que visa os resultados científicos e finalmente a entrevista que se realiza
para um terceiro como, por exemplo, a pedido de uma instituição. (BLEGER, apud
ALMEIDA, 2004, p. 36)
Em conformidade a isso Tavares10 (2002, apud ALMEIDA, 2004) afirma que
“as diversas técnicas de entrevista tem em comum o objetivo de avaliar para fazer
algum tipo de recomendação, seja diagnóstica ou terapêutica”; e acrescenta que o
sucesso da entrevista dependerá da qualidade de um bom contato social, pois é
feito entre duas pessoas e pela execução da técnica influenciada pelas habilidades
interpessoais para com o cliente.
A essas habilidades a autora Souza (2008) coloca que é papel do psicólogo
proporcionar um espaço de colocação das expectativas de ambos (entrevistado e
entrevistador). Essa zona de encontro refere-se ao rapport que proporciona a
compreensão aos propósitos da avaliação e a colaboração para sua realização. Por
isso a importância do indivíduo sentir-se acolhido e confortado, caracterizado pela
capacidade do profissional conseguir ser empático, e a forma de comunicar-se
através da postura e o uso adequado das palavras por parte do psicólogo.
Na entrevista psicológica realizada pelo psicólogo credenciado ao DETRAN, o
cuidado relacional deve estar internalizado porque trata-se de uma avaliação
compulsória e a conduta profissional influenciará demasiadamente na expressão do
candidato. O mesmo possui a preocupação de não ser apto e de não colaborar com
10 TAVARES, M. A entrevista clínica. In: J. A. Cunha, Psicodiagnóstico – V. 5ª ed. Porto Alegre :
Artmed, 2002.
21
a investigação em falar sobre si ou a sua vida, devido a essas particularidades
nesse âmbito de avaliação o psicólogo deve ser cordial e manter um bom rapport.
Diferenciada da consulta (contextualizada pela assistência técnica ou
profissional por diferentes formas, entre elas pela entrevista) e da anamnese (que
implica na compilação de dados do paciente e sua interferência é desnecessária ao
profissional) a entrevista psicológica objetiva o estudo e a utilização do
comportamento total do sujeito estabelecida durante todo o percurso da relação com
o técnico e não somente os dados relatados pelo sujeito sobre toda sua vida.
(BLEGER, 1998)
Relacionada a essa diferenciação o autor Tavares11 (2002, apud ALMEIDA,
2004, p. 35) determina que a entrevista psicológica proporciona à variáveis de
estruturação e a relação para com o outro, devido a facilidade de adaptar as
diversidades individuais e de contexto, além de possibilitar a expressão de
particularidades que outros procedimentos não conseguem alcançar.
Porém, apesar da entrevista proporcionar acesso a uma série de repertórios
de comportamentos e expressão de sentimentos, o mesmo autor descreve que a
“entrevista utilizada isoladamente, não substitui outros procedimentos de
investigação da personalidade, mas completa os dados obtidos por outros
instrumentos”. Ou seja, nenhum instrumento utilizado isoladamente consegue
esgotar ou concluir as possibilidades de comportamento e atuação de personalidade
do sujeito.
O fato de a entrevista psicológica proporcionar uma relação entre duas
pessoas e de estarem trabalhando juntas, deve-se realizar como fator integrante a
mesma a entrevista devolutiva que tem por intenção comunicar a pessoa o resultado
da avaliação. Esse processo julga-se importante porque favorece o psicólogo em
observar a resposta do cliente ante a recepção do que é colocado e emitir
corretamente o diagnóstico e o prognóstico com determinada segurança.
(OCAMPO12 et al, 1995, apud ALMEIDA, 2004, p. 38)
11 Ver referencia do autor mencionado na nota de rodapé na página 8.
12 OCAMPO, M. L. S., et al. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo : Martins
Fontes, 1995.
22
Tavares13 (2002, apud ALMEIDA, 2004, p. 38) comenta que a finalidade da
entrevista devolutiva “é consistir ao entrevistado exprimir seus pensamentos e
sentimentos em relação às conclusões e recomendações do entrevistador”; isso
favorece e mantém seu aspecto avaliativo proporcionando ao psicólogo a
oportunidade de averiguar as atitudes do cliente em relação à avaliação, as
recomendações e seu desejo de segui-las ou rejeitá-las, além de remover distorções
ou fantasias negativas em relação as suas necessidades.
Pode-se dizer que a entrevista devolutiva é um espaço importante para o
cliente em obter acesso aquilo que está sendo avaliado, mas também um momento
que favorece a investigação de dados e a observação de atitudes e expressões de
sentimentos, ainda não percebidos ou identificados pelo profissional, mas
enriquecedores à entrevista psicológica. Ou em caso de avaliação psicológica
relacionada à obtenção da CNH.
Com relação à entrevista psicológica no processo de avaliação a obtenção da
CNH o Conselho Federal de Psicologia instituiu-se a resolução n° 012/00 incorporou
o manual para avaliação psicológica de candidatos a CNH e refere-se à entrevista
psicológica como um dos instrumentos mais conhecidos na avaliação psicológica e
sua função é prover o avaliador de subsídios técnicos acerca da conduta do
candidato e completar com os demais instrumentos utilizados. No referido manual
também menciona a obrigatoriedade da entrevista devolutiva para discutir de forma
clara e objetiva o resultado ao candidato, e orientar os aptos temporários e os
inaptos temporários sobre os procedimentos que poderão subsidiar na sua
adequação. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2006, p. 30-31)
Além de observar o comportamento do candidato perante o seu resultado na
avaliação; a entrevista devolutiva é realizada para adicionar aquilo que o candidato
poderá aprimorar numa avaliação complementar, discutir e desmitificar ideias
relacionadas ao seu desempenho e no que pode ter contribuído para seu resultado.
Em 2008 o CONTRAN estabeleceu a resolução n° 264/08 que dispões sobre
os procedimentos que o psicólogo deve realizar e aferir em candidatos a CNH,
assim como um roteiro de entrevista psicológica conforme modelo anexado a
mesma. Em conformidade a resolução e na necessidade de atualizar e qualificar os
13 Ver referencia do autor mencionado na nota de rodapé na página 8.
23
procedimentos na avaliação psicológica o CFP revoga a resolução n°012/00 e fixa a
resolução CFP n° 007/2009 e anexa roteiro sugestivo para entrevista a obtenção a
CNH. Tal resolução ainda declara que é obrigatória e individual e deve:
ser utilizada em caráter inicial e faz parte do processo de avaliação psicológica. É durante esse procedimento que o psicólogo tem condições de identificar situações que possam interferir negativamente na avaliação psicológica, podendo o avaliador optar por não proceder a testagem naquele momento, para não prejudicar o candidato. Nesse, caso, o candidato deverá retornar em momento posterior. O psicólogo deve, portanto, planejar e sistematizar a entrevista a partir de indicadores objetivos de avaliação correspondentes ao que pretende examinar.
A mesma resolução coloca que o psicólogo deve verificar na entrevista as
condições físicas e psíquicas do examinando que possam interferir no desempenho
do sujeito, como por exemplo, uso de medicação ou se está alimentado e
descansado; assim como fatores situacionais ou existenciais. Como regra padrão
estabelecer um rapport esclarecendo dúvidas e o objetivo da avaliação antes de
iniciar a testagem.
Diante desses pressupostos, seja qual for a área de atuação do psicólogo, ao
se realizar uma entrevista psicológica é necessário o conhecimento das técnicas e
objetivo inerentes desse instrumento, assim como as habilidades por parte do
técnico para que consiga finalizar o trabalho de forma eficaz, correta e ética,
contemplando questões relacionadas a cientificidade do trabalho profissional e as
regulamentações que a classe profissional institui no intuito de melhor proceder e
desempenhar o trabalho.
2.2.1 Tipos de Entrevista
Não existe um único tipo de entrevista, porém a mesma atende a diferentes
critérios de classificação. As classificações atendem ao grau de estruturação
(estruturada, semi-estruturada e não estruturada); finalidade ou objetivo
(diagnóstica, investigação, terapêutica, etc); e sobre o enquadramento teórico do
psicólogo entre eles psicanalítico, fenomenológico ou cognitivo-comportamental.
(ROS, s.d.)
Alguns autores estruturam a entrevista psicológica conforme a maneira em
que a pergunta é realizada. O autor Bleger (1998, p. 3-4) aponta alguns tipos como:
24
a) entrevista aberta: quando o entrevistador possui ampla liberdade para as
perguntas ou para suas intervenções. Essa favorece maior flexibilidade ao
entrevistador estruturar o campo da entrevista pelas variáveis do
comportamento do entrevistado, possibilitando uma investigação mais
ampla da personalidade;
b) entrevista fechada: as perguntas são fechadas, assim como a maneira de
formula-las e a sua ordem, nenhuma dessas disposições podem ser
alteradas. É um método padronizado e sistemático, cuja organização da
entrevista facilita a possibilidade da aplicação de um questionário;
c) Entrevista individual e grupal: configura-se pelo número de entrevistado(s)
e/ou entrevistador(es). Contudo o autor citado acima descreve que na
realidade toda entrevista é de grupo, pois compõe no mínimo de duas
pessoas e nela se estabelece uma dinâmica relacional.
Além dessas citadas o autor Oliveira (2005), descreve as de tipo:
a) não dirigida: conhecida também como entrevista clínica ou não estrutural
ou ainda entrevista livre, que segue livremente a expressão, opiniões e
atitudes em relação ao objeto da entrevista;
b) entrevista semidirigida: quando o entrevistador pode iniciar falando sobre o
que escolher e o entrevistador intervém no intuito de buscar maiores
esclarecimentos, dissolver ambiguidades e ampliar informações. Pode
considera-la como intermediária, pois possui característica de entrevista
aberta e fechada.
No contexto do trânsito o psicólogo possui indicadores de informação básica
que deverão ser investigados na entrevista psicológica a respeito do candidato a
CNH citados nas resoluções CONTRAN n°267 e CFP n°007/2009. Esta deixa
explícito o caráter sugestivo de um roteiro de entrevista, com ela o profissional pode
aprimorar e enriquecer os dados fornecidos a respeito do sujeito. O roteiro permite a
flexibilidade para investigar aspectos mais específicos sobre a vida do candidato
sem torna-la aberta, como no caso de uma avaliação terapêutica, ou fechada sem a
possibilidade de ampliá-la quando ocorrer dúvidas, falta de clareza ou ambivalência.
25
2.2.2 Tipos de Perguntas
Conforme dito anteriormente a atuação do psicólogo na entrevista psicológica
possui caráter expressivo na relação entrevistado e entrevistador; essa atuação
pode ser influenciada através de como a pergunta é realizada.
Independente da finalidade da entrevista a forma como o psicólogo comunica-
se com o entrevistador é de fundamental importância, tanto para o andamento da
entrevista como para a expressão do sujeito, pois dependendo da pergunta pode
gerar confusão, dificuldade em respondê-la ou tornar a entrevista um interrogatório
distanciando um relacionamento positivo e cordial. (BENJAMIN, 1988)
O autor (BENJAMIN, 1988) coloca que muitos entrevistadores comportam-se
convencidos que seu principal papel é fazer perguntas, porém cada tipo de pergunta
possui seu próprio propósito. As perguntas podem ser classificadas como fechadas
e abertas. A pergunta aberta é ampla e permite ao entrevistado maiores
possibilidades em acessar seu campo perceptivo, opiniões, pensamentos e
sentimentos. No caso da pergunta fechada a mesma é restrita, limitada e objetiva a
fatos.
Outras classificações referem-se aquelas perguntas que são diretas
realizadas de forma precisa e interrogativa; as indiretas geralmente aparecem sem
um ponto de interrogação no final, mas fica explícito que está sendo colocada a uma
resposta procurada, e por fim as perguntas de tipo dupla que devem ser evitadas,
pois limita o entrevistador a uma de duas alternativas. (BENJAMIN, 1988, p. 92-93)
Além dessas classificações existem situações que independente do tipo de
pergunta, pode ocorrer por parte do psicólogo um bombardeio de perguntas e o
instrumento se tornar uma arma apontada ao cliente dificultando uma relação de
confiança. O uso desmedido do “porquê” também deve ser observado e até mesmo
evitado, pois não necessariamente entende-se a causa, a razão, a motivação e a
explicação do comportamento investigado, mas a uma situação embaraçosa para o
cliente que tenta justificar algo ou até mesmo omitir com o receio de ser punido ou
prejudicado. (BENJAMIN, 1988, p. 92-93)
O autor Bleger (1998, p. 20-21) também afirma que a palavra tem um papel
de enorme importância na entrevista psicológica e na inter-relação do entrevistado e
entrevistador, pois a conduta de um interfere e atua na conduta do outro. Assim
como a expressão verbal, o mesmo autor aponta outros fatores não-verbais que
26
influenciam ativamente na personalidade do entrevistado, ou seja, atitudes, timbre e
tonalidade de voz por exemplo, ativam condicionantes no sujeito que servirão como
respostas observadas ou orientação à condução da entrevistas.
Portanto é conveniente para o profissional estar ciente de todas essas
possibilidades durante a entrevista, pois cada uma delas possui suas peculiaridades,
positivas ou negativas, que podem interferir na relação e na qualidade do processo
investigativo.
2.2.3 Etapas da Entrevista
Além da classificação para a realização da entrevista psicológica há a
necessidade do profissional ter em mente que existem determinadas passos desde
a elaboração até a solução desse trabalho.
Além do objetivo e da finalidade da entrevista psicológica, o autor Oliveira
(2005) refere a etapas existentes na entrevista que organizam e ajudam a definir os
objetivos específicos do entrevistador e do cliente. Essas podem ser denominadas
como:
a) Início da entrevista: significa a primeira fase e prevalece a observação e
valoração do outro tanto por parte do entrevistado como por parte do
entrevistador. A forma como o profissional irá comportar-se será importante
para o entrevistado e objeto de observação para o entrevistador, assim
como adaptação as diferenças pessoais, cultural, étnico, tradicional etc. É o
momento que se recebe e se faz reconhecer no entrevistado uma pessoa e
indivíduo propiciando a diluição de angústia com a defrontação imediata do
problema específico. (OLIVEIRA, 2005, p. 17)
b) Desenrolar da entrevista: está relacionada às atitudes de respeito e
interesse, percepção, atenção e escuta do profissional. Nesse momento
deve-se cuidar com avaliações pré-concebidas e não forçar e tratar de
encaixar a padrões ou diagnósticos. Esse tipo de comportamento no
profissional desfavorece a linguagem não-verbal e ainda coloca-se numa
posição de superioridade em relação ao cliente. Essas ações impedem a
criação de um rapport e a atitude de equilíbrio e neutralidade. (OLIVEIRA,
2005, p. 18-19)
27
c) Final da entrevista: a despedida é tão importante quanto o início da
entrevista, pois nessa fase deposita-se, por parte do entrevistado, uma
espécie de diagnóstico ou avaliação (BLEGER, 1998, p. 39). Com relação
a isso o autor Oliveira (2005, p. 21) acrescenta que o entrevistado espera e
tem direito a isso, mas dependerá do profissional a sensibilidade e empatia
daquilo que o entrevistador conseguirá assimilar, aceitar, entender e
compreender o que será exposto. Contudo existem situações em que as
decisões finais não dependem do entrevistador e isso também deve ser
comunicado, como é o caso na seleção de pessoal a uma vaga de
emprego.
A essas etapas o autor Bleger (1998) acrescenta que além das atitudes
técnicas e o papel do entrevistador, que abrange todos os fatores (características de
personalidade) e intervém no enquadramento da entrevista, os limites com relação
ao(s) objetivo(s), o lugar e o tempo da entrevista também devem ser colocados e, às
vezes definido pelo entrevistador.
No caso do psicólogo perito o mesmo deve ater-se a elas pelo fato do tempo
estipulado a entrevista psicológica ser limitado a um período curto para que não haja
delongas desnessários ou ao comprometimento da qualidade da entrevista. O
profissional deverá alcançar o objetivo da entrevista (investigar a personalidade)
através de todo um processo técnico e metodológico relacionada à entrevista
psicológica juntamente ligada a relação entre candidato e o psicólogo.
Diante do que foi abordado sobre a entrevista psicológica, conclui-se que a
relação entrevistado e entrevistador é primordial a realização de uma entrevista
efetiva. A mesma só poderá ser concluída dependendo da qualidade da
comunicação (verbal e não-verbal) entre os participantes, sendo que para isso será
importante a consciência do profissional a postura colocada, conhecimento teórico e
práticos (estrutura, finalidade) submetidas a entrevista psicológica.
2.3 Teste Psicológico
Além da entrevista psicológica os testes psicológicos são instrumentos que
também auxiliam na avaliação psicológica, possuem características de
regulamentação; técnicas próprias à aplicação e objetivos.
28
Para muitos a avaliação psicológica é sinônimo de testagem em inúmeros
aspectos. Contudo a avaliação psicológica é um processo amplo que abrange a
associação de diversos recursos técnicos sendo que a testagem é considerada uma
das etapas da avaliação psicológica, e um dos meios mais utilizados pelos
psicólogos. (ALCHIERI, et al, 2012, p. 53)
O interesse a criação de testes começou a ter efetividade no final do século
XVIII e início do XIX com a mensuração das diferenças individuais por parte de um
grupo de cientistas, e por outro com o foco no que há em comum entre as pessoas e
nas descrições generalizadas do comportamento. (WERLANG, et al, 2010, p. 87)
No que se refere à conceituação de teste psicológico muitos afirmam que é
um instrumento de medida do qual se busca avaliar um fenômeno psicológico,
padronizado e objetivo de uma amostra comportamental (FILHO; et al, 2006). O
autor Alchieri (et al, 2012) complementa que além de padronizado através de
técnicas, metodologias específicas e construtos teóricos para a análise de seus
resultados; os testes informam sobre as respostas e a organização normal dos
comportamentos desencadeados pelos testes (por figuras, sons, etc), ou de suas
perturbações em circunstâncias patológicas. Pasquali14 (1996, apud ALCHIERI, et
al, 2012, p. 59) ainda contribui que eles tem por suposição que é a melhor maneira
de observar e medir um fenômeno psicológico.
A partir disso subentende-se que o teste psicológico é o melhor meio utilizado
pelos psicólogos ao precisar ponderar um determinado comportamento, tanto em
termos patológicos ou padronizado.
Embora o início da atividade profissional visasse a aferir quantitativamente as
características individuais com a finalidade de saber se o indivíduo estava ajustado
ou não aos padrões estabelecidos. A partir da metade do século XX, com os
avanços sobre a compreensão de doença mental e com o enfoque psicodinâmico
(psicólogo-cliente) surgiu o interesse da área em desenvolver instrumentos que
propiciassem a integração da dinâmica e aspectos qualitativos do universo subjetivo
com relação às individualidades. Esse enfoque favoreceu o aparecimento dos testes
chamados projetivos, capazes de avaliar a personalidade possibilitando a medição
14 PASQUALI, L. Teoria e métodos de medida em ciências do comportamento. Brasília : Unb/Finep,
1996.
29
orientada no sentido de separar grupos de indivíduos semelhantes ou diferentes em
algum padrão de ações e atitudes. (WERLANG, et al, 2010)
Quanto a essa aferição os testes psicológicos podem ser distinguidos de
acordo com as características teórico-metodológicas, entre testes objetivos e testes
projetivos. Este consiste na ideia de singular e único, de natureza essencialmente
descritiva como é o caso de testes projetivos; e aquele ao aspecto do
comportamento por meio da caracterização universal do comportamento humano
considerada normativa, pois é embasada na mensuração comparativa entre grupos.
(ALCHIERI, et al, 2012, p. 56-57)
Com essa diferenciação e diversidade os psicólogos possuem instrumentos
capazes de mensuração características específicas quando o interesse é avaliar de
forma pontual e padronizado a algum traço peculiar ou testes relacionados ao
julgamento descritivo do indivíduo, como por exemplo, a personalidade na sua
totalidade.
Os testes psicológicos tiveram uma grande influência de atuação e identidade
profissional, contudo a partir da década de 50 do século passado instalaram-se
várias críticas com relação à qualidade desse instrumento e consequentemente a
um suposto uso abusivo dos mesmos. Diante desse cenário, o teste para ser
confiável, além de ser padronizado quanto à uniformização na aplicação do
instrumento, interpretação e resultados obtidos; também deve atender aos requisitos
de fidedignidade e validade. Tais quesitos correspondem à coerência sistemática,
precisão e estabilidade do teste em termos de pontuação; e a validade que significa
dizer que tal instrumento mede realmente o que pretende medir. (WERLANG, et al,
2010)
Assim como na entrevista psicológica, a utilização de testes padronizados
requer a necessidade de direcioná-lo. Fundamentalmente podem ser empregados
para: (1) classificar ou comparar desempenho como no caso de seleção de pessoal
e diagnóstico psicológico em geral; (2) habilidades sociais ou psicológicas para
orientação vocacional/profissional; (3) para planos de intervenção e tratamento em
saúde ou institucional, ou ainda para coleta de dados na investigação científica.
(ALCHIERI, et al, 2012, p. 55-56)
No caso da avaliação psicológica realizada em clínicas credenciadas ao
DETRAN o objetivo da aplicação de testes psicológicos é destinado à classificação
ou comparação de desempenho e seu diagnóstico psicológico geral conforme
30
descreve a resolução n°267 do CONTRAN e CFP n°007/2009 referente às
habilidades mínimas que o candidato deve apresentar para condução veicular nos
aspectos cognitivos e emocionais.
Para tanto os testes psicológicos devem ser usados para os contextos e
propósitos para os quais os estudos empíricos foram destinados, além de obter
aprovação no Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), conforme
dita a resolução CFP n° 002/2003. Os mesmos devem seguir um conjunto mínimo
de estudos que atesta sua qualidade e utilização para algum propósito e contexto
específico. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2007)
Os testes psicológicos utilizados pelos psicólogos do trânsito é uma das
técnicas aplicadas para auxiliar na identificação de adequações cognitivas e
emocionais para o correto e seguro ato de dirigir, seja para motorista profissional ou
amador, no intuito de prover a segurança do condutor e dos demais envolvidos no
trânsito, assim como tentativa para prever a probabilidade do condutor de se
envolver em acidentes. (GROEGER15, 2003, apud SAMPAIO, 2011, p. 16)
Nesse caso os testes psicológicos utilizados em candidatos a CNH são
aqueles que medem as funções mentais implícitas no ato de dirigir estipulados pelo
CONTRAN resolução n° 267, e CFP resolução 007/2009, mensuráveis por teste
psicológico tais como: a atenção e seus diferentes tipos; memória; raciocínio lógico e
traços de personalidade.
De acordo com a resolução 007/2009 as etapas pertinentes ao trabalho com
os testes devem seguir recomendações contidas em toda a regulamentação do CFP
que trata do assunto (uso, elaboração e comercialização de testes psicológicos). É
necessário ainda que traga instruções para aplicação, bem como atualizações
divulgadas, para garantir a qualidade técnica do trabalho.
Ainda com relação à qualidade do trabalho envolvido na aplicação de teste
psicológico, é indispensável que o psicólogo avalie se o avaliando está
emocionalmente e fisicamente apropriado para a testagem; ater-se rigorosamente as
instruções do manual; estabelecer o rapport e objetividade para inspirar
tranquilidade e evitar o aumento da ansiedade situacional para a realização da
avaliação. Esses fatores estão intimamente relacionados a uma série de variáveis
15 GROEGER, J. A. Testes psicológicos podem predizer habilidade para dirigir? In: RISSER, R.
(Org.). Estudos sobre a avaliação psicológica de motorista. São Paulo : Casa do Psicólogo, 2003, p.
79-95.
31
que o examinador deve cuidar a fim de garantir uma testagem fidedigna. (ALCHIERI,
et al, 2012). O rapport contribui ao interesse dos testando pelo(s) teste(s),
cooperação e encorajamento em responder de maneira adequada aos objetivos dos
testes dentro daquilo que consegue fazer, sem que haja superestimação ou
subestimação das suas habilidades. (ANASTASIA, et al, 2000, p. 27-28)
Dentro dessas variáveis que compõe o rapoort destacam-se à seleção da sala
com boa iluminação, ventilação e aos móveis necessários a acomodação dos
candidatos; e a preparação antecipada do profissional na aplicação do teste e
familiaridade aos procedimentos específicos de testagem grupal ou individual.
(ANASTASIA, et al, 2000, p. 26)
Portanto, assim como na entrevista psicológica, o uso de teste psicológico
deve seguir critérios de aplicação que consiste no objetivo e as características
teórico-metodológica que o teste se propõe a avaliar; e as de realização que implica
na postura do profissional, as circunstâncias físicas e emocionais do candidato, e as
ambientais para que se possa atingir uma avaliação confiável e de qualidade.
2.4 Observação
A observação é um instrumento avaliativo utilizada no estudo ou na avaliação
de algo. A mesma pode ser aplicada em diversas áreas inclusive no campo da
Psicologia.
O método observacional é uma das opções metodológicas aplicadas na
psicologia para entender o que os organismos fazem e sob que circunstâncias
fazem, ou em interações humanas que dificilmente poderiam ser captadas ou
apreendidas de outra forma. A observação científica possui uma importância pelo
fato da sociedade se beneficiar com a descrição detalhada do comportamento, pois
permite aos profissionais, inclusive de outras áreas, comunicar-se acerca de um
fenômeno observado a partir de suas principais características, como no caso da
elaboração do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM).
(CANO; et al, 2007)
32
O autor Dessen16, et al (apud CANO; et al, 2007, p. 200) acrescenta que tem-
se acentuado o interesse por estratégias observacionais, “tanto para a coleta de
dados quanto para a avaliação psicológica e construção de instrumentos de medidas
de comportamentos”. Ou seja, a observação favorece o aprimoramento daquilo que
se quer investigar e a expansão e criação do conhecimento, como por exemplo, a
construção de um teste psicológico.
É importante destacar que a observação parte de critérios estabelecidos que
a torna favorável e reconhecida cientificamente nas diversas áreas do
conhecimento; além de auxiliar a comunicação entre profissionais, proporciona e
favorece o estudo de inúmeros questionamentos inclusive do comportamento
humano.
De acordo com o autor Alchieri, et al (2012), a observação é um dos primeiros
modos de avaliar o comportamento de uma pessoa ou de um grupo através de
constâncias e a criação de representação dos padrões de ação e reação em várias
circunstâncias. Essa observação favorece a elaboração de hipóteses e os
procedimentos de investigação acerca delas mesmas; ou ainda a utilização de
outros métodos de investigação – questionamento - a fim de verificar o que não foi
possível observar, os motivos de determinadas atitudes e o que elas representam ao
sujeito ou ao grupo.
Em relação a isso o autor Cano, et al (2007, p. 200) argumenta que os dados
apreendidos a partir da observação fornecem subsídios para diagnosticar uma
situação problema, favorece nas escolhas relacionadas as técnicas e procedimentos
que poderão ser empregados na pesquisa e na sua eficácia. Esse tipo de técnica é
bastante utilizada e importante para psicólogos, modificadores do comportamento e
pesquisadores, pela obtenção que esse tipo de instrumento lhes oferece na
compreensão a respeito do comportamento sob investigação.
A autora Machado (2007, p. 28) comenta que a observação é o primeiro
instrumento que o profissional de Psicologia aprende a utilizar e o método mais
aberto de avaliação psicológica. O mesmo possibilita mensurar o comportamento
manifesto pelo sujeito; assim como as reações ou sensações que esse produz no
observador, através dessa identificação e de formulação de hipóteses.
16 DESSEN, M. A. C., et al. Estratégias de observação do comportamento em psicologia do
desenvolvimento. Em G. Romanelli, et al (Org.), Diálogos metodológicos sobre prática de pesquisa
(pp. 31-50). Ribeirão Preto : legis Summa, 1998.
33
Na resolução CFP n°007/2009, que institui normas e procedimentos para
avaliação psicológica no contexto do trânsito, além da entrevista e dos testes
psicológicos - instrumentos mais utilizados na avaliação psicológica - cita a
observação como uma das técnicas de instrumentos empregada para aquela
finalidade. (CONSELHO FEDREAL DE PSICOLOGIA, 2009). Nesse contexto é
possível observar os estados emocionais e comportamentos não verbais do
candidato como a atenção, orientação, conduta, linguagem, entre outros que de
outra forma poderiam passar despercebidos. (MACHADO, 2007)
Pode-se dizer que a observação é empregada e articulada com outros
instrumentos de avaliação psicológica em vários campos da Psicologia. A isso o
autor Almeida (2004) descreve que a observação é o ponto básico e principal na
utilização de uma entrevista psicológica no sentido de avaliar os aspectos
psicológicos da personalidade do entrevistado, e que o próprio comportamento do
entrevistador interfere na conclusão desse trabalho. Nesse sentido a observação é
indispensável e inerente ao papel do psicólogo, ou observador participante dessa
interação dinâmico-participante.
Essa técnica auxilia na avaliação sobre o candidato a respeito de suas
atitudes e comportamentos que possam interferir no processo, ou seja, o psicólogo
poderá observar na entrevista se o examinando está preparado para uma testagem;
ou mesmo na observação de ações ou fatores que podem ser negativas ao ato de
dirigir.
Diante desses pressupostos considera-se que a observação está vinculada a
entrevista e a aplicação de testes psicológicos na avaliação psicológica para
obtenção da CNH. Com a união desses dados o psicólogo perito de trânsito possuirá
uma variedade de recursos com seus respectivos resultados que definirá a
conclusão da investigação psicológica, neste caso, da pessoa estar apta ou inapta a
dirigir veículo, através dos métodos aplicados juntamente com as observações
apresentadas nesse processo.
2.5 Fatores Intrínsecos à Avaliação Psicológica
Em toda relação observa-se diferentes formas da pessoa de se comportar,
agir e sentir. No caso das emoções sentimentos existem momentos que esses
podem facilitar a expressão ou a comunicação de valores e sensações, ou então
34
prejudicar em algo que o sujeito deseja, principalmente em situações que exige-se o
controle das mesmas.
De acordo com Ochsner, et al (apud SANTOS, 2010, p. 271), as emoções são
“estímulos internos e/ou externos de representações mentais que envolvem
mudanças em todos os sistemas de respostas, [...] identificáveis, podem ser
intrínsecos ou aprendidos sendo composto por múltiplos processos de avaliação”.
As emoções podem ser compostas por: acontecimentos precipitadores, avaliação,
alterações fisiológicas, tendência para expressão e ação da emoção e ainda, a
regulação da emoção. (CRUVINEL, apud SANTOS, 2010, p. 271)
O resultado dessa avaliação cognitiva determina as reações (ativação
fisiológica e respostas afetivas) e que quando geradas diante de uma ameaça,
ocorre ansiedade. A ansiedade envolve algum tipo de impotência a uma dada
conjuntura, condição aversiva ou penosa e algum grau de incerteza ou dúvida.
(PESSOTTI, 1978, p. 80- 90).
Odriozola17 (2001, apud MAGALHÃES, 2007, p. 10-11) entende que a
ansiedade é uma emoção que sobrevém quando a pessoa sente-se em perigo
perante algo realmente ameaçador ou imaginário e se prepara para reagir a essa
situação como sendo uma resposta normal e adaptativa do organismo. Freitas18
(2009 apud JANEIRO, 2013, p. 15) acrescenta que a ansiedade está associada à
emoção de medo. Sendo que o medo consiste por uma reação de defesa a algo
ameaçador externo identificável ou reconhecível. E a ansiedade algo mais difuso
ativado por algo dificilmente reconhecível ou de perigo incerto.
Num estudo realizado por Gama, et al (2008, p. 20) sobre ansiedade, os
mesmos, encontram dois conceitos que são: a ansiedade-estado caracterizada por
um estado emocional transitório de sentimentos subjetivos de tensão que podem
variar ao longo do tempo em intensidade; e a ansiedade-traço a qual se refere a
uma disposição pessoal em responder com ansiedade a situações estressantes e
uma tendência em julgar com maior frequência as situações como ameaçadora.
17 ODIOZOLA, E. E. Perturbações da ansiedade na infância. MacGraw-Hill Editora, 2001. 18 FREITAS, A. Ansiedade nas avaliações escolares: uma abordagem psicoterapêutica sob estados
modificados de consciência num grupo de universitários. Tese de doutoramento – Universidade da
Madeira, 2009.
35
Liebert e Morris19 (1967, apud JANEIRO, 2013, p. 17) apresentaram a
emocionalidade (afetividade) e a preocupação (cognitiva) como as componentes da
ansiedade e organizaram uma escala para avaliar a ansiedade aos testes/avaliações
que inseria a componente preocupação, correspondente aos pensamentos e
expectativas negativas de um possível insucesso e suas consequências; e a
emocionalidade referindo-se às reações e a ativação dos sintomas fisiológicos
desagradáveis como tensão, apreensão, taquicardia, etc.
O autor Bernik20 (1999, apud D’EL REY, 2005, p. 379) afirma a presença de
quatro manifestações de ansiedade, entre elas, as manifestações cognitivas
(pensamento referente a um desfecho negativo de uma situação), emocionais
(vivência de desprazer), comportamentais (inquietação, evitação, etc) e somática
(tensão muscular, inquietação, entre outros).
Tendo em vista as definições e implicações sobre a ansiedade, existem
alguns estudos que definem a “ansiedade de desempenho” ou a “ansiedade
relacionada com as avaliações/exames” descrita como “um sentimento desagradável
ou estado emocional que tem componentes fisiológicas e comportamentais, e que é
experimentado por ocasião de testes formais ou de outras avaliações” (HILL;
WIGFIELD21, 1984, apud JANEIRO, 2013, p. 17).
Spielberger22, et al (1995, apud MAGALHÃES, 2007, p. 13) no âmbito da
teoria da ansiedade, referiram a ansiedade face ao teste como uma situação
particular de traço de personalidade devido à “disposição individual para reagir com
estados de ansiedade de forma mais intensa e frequente, com cognições de
preocupações, pensamentos irrelevantes que interferem com a atenção,
concentração e realização de teste”. Pessoas com ansiedade face ao teste seriam
mais suscetíveis a evitação do insucesso pelo fato de perceberem a situação de
19 LIEBERT, et al . Cognitive and emotional components of test anxiety: A distinction and some initial
data. Psychological Reports, 20, 1967, p. 975-978. 20 BERNIK, M. A. Ansiedade normal e patológica. In: Benzodiazepínicos: quatro décadas de
experiência. São Paulo : Edusp, 1999. 21 HILL, K.T., et al. Test anxiety: a major educational problem and what can be done about it.
Elementary School Journal, 85, 1984, p. 105-126. 22 SPIELBERGER, C. D., et al. Test Anxielty: a transactional process. In C. D. SPIELBERGER, et al
(Eds), Test anxiety: theory, assessement, and treatment (pp. 3-14). Washington, DC: Taylor &
Francis, 1995.
36
avaliação como uma séria ameaça a sua auto-estima (ROSÁRIO23, 2004, apud
MAGALHÃES, 2007, p. 12)
Outro fator que também tem sido sugerido a ansiedade de desempenho está
relacionada a corrente motivacionais ligadas as atribuições e expectativas de
sucesso e auto-eficácia, “sendo o medo de falhar uma das características principais
das pessoas ansiosas” (MAGALHÃES, 2007, p. 39). Os autores Atkinson24 (1977,
apud MAGALHÃES, 2007, p. 40) descreve que nessa teoria sujeitos com elevada
ansiedade face aos testes são caracterizadas como mais motivadas para evitar o
fracasso do que para obter o sucesso, enquanto que as com baixa ansiedade são
diferenciadas como mais motivadas para alcançar o sucesso.
Bandura25 (apud DAVIDOFF, 2001) em sua abordagem de aprendizagem
conceitua como auto-eficácia a capacidade de uma pessoa para enfrentar e dominar
de forma efetiva as situações e conseguir resultados desejados, através da
aquisição de padrões comportamentais que geram resultados positivos, como
sucesso ou aprovação, e os insatisfatórios são enfraquecidos.
A autora Anastasi, et al (2000) argumenta sobre o feedback nos escores de
testes no desempenho subsequente do indivíduo como fator motivacional, operando
amplamente através dos objetivos que o sujeito estabelece para si mesmo em
desempenhos posteriores como uma profecia auto-realizadora. Ou seja, os efeitos
negativos ou positivos de experiências ou atividades precedentes a uma avaliação.
O feedback para a autora Moscovici26 (1985, apud THIELEN, 2011, p.81) constitui-
se “na informação sobre o resultado do funcionamento do sistema permitindo
ajustes”, e aborda que nas relações interpessoais essas informações são essenciais
para permitir trocas e aprimorar o desempenho humano.
O autoconceito seria outro construto relacionada a ansiedade de
desempenho, sendo esse definido como relativo, composto pela percepção que o
sujeito tem de si, formada através das interações que o sujeito institui com os outros
significativos e das atribuições que este faz ao seu próprio comportamento.
23 ROSÁRIO, P. (Des) Venturas do testas. Estudar o estudar. Porto Editora, 2004 24 ATKINSON, J. W., et al. Personality, motivation and achievement. New York : Hemisphere, 1977. 25 BANDURA, A. Self-efficacy mechanism in human agency. Amer. Psychol.,37:122-147. 26 MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal. 3ª ed. Rio de Janeiro : LTC, 1985.
37
(SALEIRO27, et al, 2004, apud JANEIRO, 2013, p. 26). Este construto é dinâmico,
tornando-se mais estável com o passar do tempo, construído através de uma
percepção holística, principalmente pelas dimensões social e emocional.
Compreendidas, respectivamente, pela aceitação social por parte dos outros e as
emoções mais subjetivas e internas do indivíduo. (JANEIRO, 2013)
Na avaliação psicológica a obtenção da CNH pode-se observar essas
condições pelo fato da preocupação que o candidato pode apresentar em não
conseguir lidar com a situação de ser avaliado e as possíveis consequências do seu
desempenho, isto é, não possuir as habilidades necessárias ao que deseja, no caso
a habilitação.
Para Urbina28 (apud SOUZA; et al, 2008), a perspectiva de ser avaliado, na
maioria dos testando, gera certo grau de apreensão, especialmente se os escores
são usados como base para a tomada de decisões que terão consequências
importantes, como é caso da avaliação psicológica em DETRANS’s, segunda
autoras SOUZA; et al (2008, p. 14), em que esse “resultado depende a concessão
ou o impedimento da obtenção da CNH”.
Em seu trabalho sobre a entrevista psicológica o autor Bleger (1998, p. 24-26)
coloca que a ansiedade é o motor do interesse na investigação e difícil de ser
manipulado por parte do entrevistador, pois toda investigação implica a presença do
desconhecido e o mesmo deve tolerá-la para instrumentaliza-la e realizar uma
investigação eficaz. No entrevistado esse sentimento pode aumentar porque o
desconhecido que enfrenta não é somente a situação externa nova, mas também o
perigo daquilo que desconhece em sua própria personalidade; diante dela o
entrevistador deverá articular suas habilidades para que o cliente possa lidar com
ela levando-se em conta as características de personalidade que este possui em
tolerá-la, pois existem circunstâncias que a ansiedade pode ultrapassar o limite de
tolerância e perturbar a relação interpessoal ou ativá-la sem necessidade ou
suporte.
27 SALEIRO, F. Objectivos motivacionais e rendimento escolar. Relação com a auto-estima, o auto-
conceito acadêmico e a qualidade da relação familiar em alunos do 12º ano de escolaridade. Tese de
mestrado – Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa, Portugal, 2004. 28 URBINA, S. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre : Artmed, 2007.
38
É importante que o psicólogo avalie o grau de tolerância que o candidato
possui em relação à ansiedade como fator a personalidade e como pode interferir na
direção; tomando-se o cuidado em investiga-la e não comprometer nas avaliações
subsequentes de testagem. Nesse sentido o autor Skinner29 (1998, apud SOUZA,
2008, p. 17) argumenta que quando o indivíduo foi submetido a situações
desagradáveis e precisa passar por ela novamente, poderá apresentar respostas
emocionalmente negativas pelo fato de prever que a situação será novamente
aversiva. Por outro lado, se as condições foram favoráveis e agradáveis essas
emoções tendem a diminuir.
Ainda em relação à entrevista psicológica o autor Oliveira (2005, p. 14)
caracteriza fatores conscientes e inconscientes que intervém na mente humana e
inevitáveis em toda situação de entrevista. A primeira são fatores conhecíveis pelo
sujeito, por meio de uma reflexão pessoal sobre eles e procedem da situação real e
da lógica. Na segunda elas não são conscientes e mais difíceis de serem detectados
pelos sujeitos, muitas vezes apresentados de forma irracional e influenciam com
maior força do que os fatores conscientes. Estas ocorrem pela identificação
inconsciente de experiências vivenciadas anteriormente e o entrevistado atua sem o
perceber.
Nesse momento é que podem surgir sentimentos de empatia ou antipatia por
parte de quem está sendo entrevistado para com o profissional, ou mesmo o
aparecimento de outros sentimentos negativos ou positivos em decorrência de
lembranças ocorridas no passado e interferir no processo ou desempenho do sujeito
na avaliação.
Há essas possibilidades de atuação muitos autores descrevem sobre a
transferência e a contratransferência como dois fenômenos altamente significativos
nesse instrumento de avaliação. O autor Bleger (1998, p. 21-24) refere que o
primeiro é a atualização de sentimentos, atitudes e condutas inconscientes,
atribuindo papéis ao entrevistador e se comporta em função deles; fornecendo
aspectos irracionais ou imaturos de sua personalidade, pensamentos e sentimentos.
Na contratransferência são as respostas e os efeitos que o entrevistado provoca no
entrevistador por conta da própria estrutura psíquica deste, mas que, também
29 SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. 10ª ed. São Paulo : Martins Fontes, 1998.
39
devem ser levados em consideração pelo fato das reações que o entrevistado
provoca na relação.
A identificação desses fenômenos contribui e interfere no aspecto avaliativo,
tanto na forma funcional da avaliação psicológica, como no sentido prático da
mesma, pois a primeira relaciona-se a avaliação da personalidade e a segunda no
resultado do processo, sendo que o resultado pode ser alterado devido algum tipo
de sentimento perturbador gerado ou evocado no avaliando durante o momento da
avaliação.
Portanto, nas avaliações a obtenção da CNH é importante o psicólogo estar
atento as interferências intrínsecas ligadas a esse momento que podem permanecer
no candidato do início ao fim da avaliação e que pode interferir no comportamento e
resultado do mesmo durante a avaliação. Ou ainda na interpretação subjetiva,
negativa ou positiva, que o sujeito pode fazer à avaliação facilitando ou não seu
desempenho durante o processo avaliativo.
40
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Ética
Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa,
assim como a ausência sobre qualquer tipo de risco ou prejuízo, conforme apregoa
a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, que
tem nos Comitês de Ética em Pesquisa com Seres Humanos o atendimento aos 4
princípios da Bio-ética, a saber, autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça.
Assim como o sigilo das informações e a liberdade de retira-las a qualquer momento
sem passar por retaliações ou prejuízos ao processo de obtenção da CNH.
Foram coletados dados a respeito sobre a preferência de a entrevista
psicológica ser aplicada antes ou após a avaliação coletiva; grau de ansiedade e
desempenho em relação à ordem de aplicação dos instrumentos de avaliação
psicológica, para que se possa obter maiores informações sobre a percepção
desses dados pela população pesquisada.
3.2 Tipo de Pesquisa
Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, através de dados bibliográficos
e de campo, de forma a abordar quanti-qualitativamente os dados apresentados.
3.3 Universo
O presente estudo foi realizado na CLINITRAN – Clínica de Avaliação Médica
e Psicológica LTDA, localizada na rua: Av. Prefeito João B. Stocco, n° 161 –
Guaraituba do município de Colombo, área metropolitana de Curitiba-PR. A clínica é
credenciada ao DETRAN – PR desde abril de 2010 e efetua avaliação médica e/ou
psicológica em candidatos a CNH, renovação, alteração de categoria e exercício de
atividade remunerada (EAR).
41
3.4 Sujeitos da Amostra
Procurou-se reunir dois grupos homogêneos, ambos com 40 participantes e
candidatos a 1ª CNH. O primeiro grupo de participante foi abordado entre o período
de 07/11/2012 a 30/11/2012 que realizavam a avaliação coletiva primeiramente à
entrevista psicológica, sendo 18 homens e 22 mulheres. E depois mais 40
candidatos à obtenção da CNH entre o período de 21/8/2013 a 04/9/2013 que
realizavam a avaliação coletiva posterior à entrevista psicológica, sendo 20 homens
e 20 mulheres.
3.5 Instrumentos de Coleta de Dados
Construiu-se um questionário estruturado (anexo 1), com 03 (três) perguntas
fechadas conforme o anexo 1, das quais interroga a preferência da entrevista
psicológica ser aplica antes ou após a avaliação coletiva, grau de ansiedade e
desempenho em relação à ordem de aplicação, com alternativa de resposta “sim”,
“não” ou “indiferente”.
3.6 Plano para Coleta dos Dados
O questionário foi entregue aos candidatos que foram realizar avaliação para
obtenção da 1ª CNH na CLINITRAN, na sala de avaliação coletiva antes de começar
a testagem psicológica, em dois períodos distintos. Primeiro nos candidatos que
ainda realizavam a avaliação coletiva primeiramente a entrevista psicológica e
depois naqueles que passaram a realizar a entrevista psicológica anteriormente à
avaliação coletiva. Participaram 80 candidatos, que concordaram em responder e
participar da pesquisa. Antes dessa coleta fez-se contato com o proprietário da
clínica para autorizar a reunião dos dados.
3.7 Plano para a Análise do Dados
Os dados foram tratados e analisados com auxílio de um software (EXCEL)
para o tratamento estatístico. Quanto à parte qualitativa recorreu-se a análise de
conteúdo enquanto técnica para comparar os dados coletados.
42
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir serão apresentados os gráficos e a análise estatística em relação
aos dados coletados a partir da frequência encontrada a cada pergunta do
questionário pelo grupo A (que fez a avaliação coletiva antes da entrevista
psicológica) e pelo grupo B (que fez a entrevista psicológica anteriormente a
avaliação coletiva), a frequência de respostas diante das três alternativas de
resposta (“sim”, “não” ou “indiferente”) em ambos os grupos, e por último a
diferenciação do número de respostas exibidas entre o sexo feminino e masculino.
Na questão referente à preferência da entrevista psicológica ser realizada
antes da avaliação coletiva, o gráfico 1 constata que mais da metade dos candidatos
(57,5%) preferem que a entrevista psicológica seja aplicada antes da avaliação
coletiva.
Gráfico 1: Preferência da entrevista psicológica ser aplicada antes da avaliação coletiva.
Fonte: Dados da pesquisa. Colombo-PR. 2013.
O gráfico 2 mostra que essa preferência é maior pelo grupo B, que fez a
entrevista psicológica antes da avaliação coletiva, já no grupo A que fez a entrevista
psicológica depois da avaliação coletiva a metade também prefere que a entrevista
seja feita antes da avaliação coletiva, porém 40% responderam que a ordem da
aplicação é indiferente.
43
Gráfico 2: Frequencia de respostas entre o grupo A e o grupo B em relação a preferencia da entrevista aplicada antes da avaliação coletiva.
Fonte: Dados da pesquisa. Colombo-PR. 2013.
Apesar dos grupos preferirem que a entrevista psicológica seja feita antes da
avaliação coletiva, observou-se no gráfico 3 que essa questão é maior entre as
mulheres (45,5% do grupo A e 70% do grupo B) que nos homens (45,5% do grupo A
e 60% do grupo B), no entanto, houve igualdade na porcentagem das mulheres do
grupo A que responderam afirmativamente à preferência, assim como a indiferença
na ordem da aplicação.
Gráfico 3: Frequencia de respostas entre homens e mulheres de ambos os grupos em relação a entrevista ser aplicada antes do coletivo.
Fonte: Dados da pesquisa. Colombo-PR. 2013.
44
Conforme o resultado dos gráficos existe uma preferência por parte dos
candidatos a CNH do município de Colombo-PR que a entrevista psicológica seja
realizada antes dos testes psicológicos. Essa preferência pode estar relacionada ao
fato da entrevista psicológica, conforme descreve o autor Tavares (2002, apud
ALMEIDA, 2004), favorecer uma relação para com o outro e a expressão de
particularidades, sendo que a qualidade da entrevista dependerá de um bom contato
social e execução da técnica influenciada pelas habilidades interpessoais para com
o cliente. O autor Cunha (1991, apud RABITTO, 2008, p. 20) complementa que,
além de investigar a personalidade do entrevistado e seus métodos defensivos, a
entrevista é uma comunicação entre duas pessoas e o momento em que o psicólogo
estimula a interação entre ele e o entrevistado. Segundo Midões (20--, p. 3) é
praticamente nula a interação sem conversação e vice-versa, sendo esta encarada
como qualquer tipo de interação oral, formal ou informal, sujeita aos princípios da
cooperação.
Portanto pode-se dizer que a entrevista psicológica, além do seu caráter
técnico-científico, estimula a integração e interação do sujeito para com o
profissional e avaliações posteriores que seria a avaliação coletiva. Entende-se que
essa relação favorece o clima de cooperação e compreensão da avaliação imposta
aos candidatos a CNH e por isso possam ter exibido a preferência pela entrevista
psicológica ser aplicada antes da avaliação coletiva.
Em ambos os grupos da pesquisa constatou-se a primazia pela entrevista
psicológica antes da aplicação dos testes, porém essa preferência ficou menos
evidente pelo grupo A. Essa diferença pode ter sido influenciada pela ausência do
contato que a entrevista psicológica possibilita. De acordo com a autora Souza
(2008) um dos papéis do psicólogo é proporcionar um espaço de colocação das
expectativas de ambos (entrevistado e entrevistador). Essa zona de encontro refere-
se ao rapport que proporciona a compreensão aos propósitos e a colaboração da
avaliação. Em relação ao rapport a autora Oliveira (2005) aponta que se estabelece
desde o início até o fim da entrevista psicológica. Talvez tenha sido a falta do rapport
pré-estabelecido na entrevista psicológica que o grupo A não demonstrou tanto
interesse pela mesma ser aplicada antes da avaliação coletiva quanto pelo grupo B.
Em se tratando das diferenças encontradas pela preferência da entrevista
psicológica aplicada antes da testagem por parte das mulheres ao número de
respostas vista pelos homens, o grupo B confirma aquilo que a teoria argumenta a
45
respeito sobre as diferenças de gênero quando se trata de comportamento social e
as emoções. De acordo com a autora Davidoff (2001), as mulheres destacam-se em
habilidades verbais e tendem a conversar mais sobre assuntos interpessoais e a
busca de ‘cartase’ por expressar mais seus sentimentos em relação aos problemas
que os homens; enquanto que os homens os assuntos são mais relacionados a
política, esportes e de trabalho.
Portanto, embora tenha ocorrido o antagonismo com relação à ordem da
entrevista psicológica com a avaliação coletiva na preferência das mulheres com dos
homens entre o grupo A e o grupo B; destaca-se a primazia pela entrevista
psicológica aplicada antes da avaliação coletiva. Talvez essa preferência tenha sido
optada, devido ao fato desse instrumento favorecer a interação entre o entrevistado
e entrevistador, a expressão de sentimentos e a comunicação, fatores que
estimulam a cooperação e a colocação das expectativas de ambos no processo
avaliativo.
Num relatório realizado pelo CFP junto com os CRP em 2006 ao levantar a
situação da avaliação psicológica nas instituições credenciadas pelos DETRAN’s
apontou que 82% dos profissionais realizam a avaliação psicológica de forma
individual e coletiva; sendo que 55,7% realizam a entrevista individual antes da
avaliação coletiva e 44,3% depois dos testes psicológicos. (CONSELHO FEDERAL
DE PSICOLOGIA, 2006). Nesse estudo observa-se que apesar da maioria aplicar a
entrevista psicológica antes de outros instrumentos, ainda existe muitas instituições
que procedem de forma contrária à estabelecida pela resolução CFP n°007/2009.
Atualmente o trabalho do psicólogo avaliador é balizado pela Resolução n°
267/08 do CONTRAN que dispõe sobre a avaliação psicológica através de técnicas
e instrumentos como entrevistas diretas e individuais; testes psicológicos; dinâmica
de grupo; escuta e intervenções verbais, além das orientações de seus respectivos
órgãos de classe. Dentre as técnicas utilizadas para a coleta de dados Hoffmann, et
al (2011) comenta que é importante estabelecer, se possível, a ‘triangulação’ entre
essas técnicas de coleta de dados diferenciados, porém centrados no mesmo foco.
Machado (2007, p. 19) argumenta que a avaliação psicológica requer um
planejamento adequado para que se possa realizar o resultado da mesma.
Como pode-se observar esses autores não especificam o modo ou a ordem
correta entre um instrumento psicológico ao outro, apenas referem sobre a
46
importância de um conjunto de instrumento na reunião de dados e realização do
trabalho avaliativo.
No entanto, o CFP impõe a resolução n° 007/2009 que normatiza os
procedimentos da avaliação psicológica no contexto do trânsito em conformidade as
exigências dos órgãos nacionais de trânsito (CONTRAN e CTB) declarando que a
entrevista psicológica é obrigatória e deve ser utilizada em caráter inicial para que se
possa, também, identificar situações que interfiram negativamente a testagem.
Na clínica que foi coletado os dados para a pesquisa, assim como as clínicas
credenciadas no estado do Paraná, a mesma seguia o sistema configurado pelo
DETRAN-PR que ainda não praticava tal nomenclatura com relação à entrevista
psicológica. A partir do dia 1° de janeiro de 2013 o DETRAN regularizou e atualizou
o sistema de agendamento e a avaliação psicológica passou a ser realizada
conforme a resolução CFP n° 007/2009, isto é, a entrevista psicológica passou a ser
feita antes da avaliação coletiva.
Portanto não foi encontrado na literatura pesquisada nenhum dado que
justifique a primazia da entrevista psicológica a outras técnicas de avaliação
psicológica. Porém, a forma como foi estabelecida para o contexto do trânsito, pode
ser justificada a partir de uma análise a respeito das particularidades que envolvem
a avaliação psicológica a obtenção da CNH, como exemplo seu caráter compulsório.
Diante dessa complexidade a resolução CFP n°007/2009 determina que a entrevista
psicológica seja realizada em primeira instância norteando e normatizando o
trabalho do profissional, assim como facilitar a identificação de situações que
possam interferir negativamente na continuidade da avaliação psicológica, ou seja,
se o candidato está preparado psicologicamente e/ou fisicamente a testagem. Para
isso é ideal a realização da entrevista psicológica anterior à avaliação coletiva.
No caso da questão 2, referente de a entrevista psicológica ser aplicada antes
da avaliação coletiva diminuir a ansiedade na percepção dos candidatos, o gráfico 4
mostra que mais da metade dos mesmos (58,6%) acredita que diminui a ansiedade.
47
Gráfico 4: Opinião a respeito de a entrevista psicológica ser aplicada antes da avaliação coletiva diminuir o nível de ansiedade.
Fonte: Dados da pesquisa. Colombo-PR. 2013.
Conforme o gráfico 5, o número de respostas afirmativas a diminuição do
nível de ansiedade foi maior no grupo B (65%), que fez a entrevista psicológica
antes da avaliação coletiva, comparado ao grupo A, que fez a avaliação coletiva
primeira a entrevista psicológica.
Gráfico 5: Frequencia de respostas entre o grupo A e o grupo B em relação a ansiedade diminuir quando a entrevista é aplicada antes do coletivo.
Fonte: Dados da pesquisa. Colombo-PR. 2013.
O gráfico 6 mostra a evidência desse aumento da porcentagem positiva pelo
sexo feminino do que pelo sexo masculino, principalmente se observado o número
de respostas afirmativas encontrada no grupo de homens do grupo A. Neste grupo a
frequência de respostas foi um pouco mais diluída entre as três alternativas, porém,
48
maior na alternativa sim, que a entrevista psicológica quando realizada antes da
avaliação coletiva diminui o nível de ansiedade.
Gráfico 6: Frequência de respostas entre homens e mulheres de ambos os grupos em relação a ansiedade diminuir quando a entrevista é aplicada antes do coletivo
Fonte: Dados da pesquisa. Colombo-PR 2013.
De acordo com o resultado dos gráficos constata-se que os candidatos a CNH
no município de Colombo-PR acreditam que a ansiedade diminui quando a
entrevista psicológica é aplicada antes da avaliação coletiva, principalmente pelo
grupo B que fez a entrevista psicológica antes da avaliação coletiva. Esse tipo de
percepção pode estar relacionado ao fato de que quando se faz um contato social e
adequada execução das técnicas na entrevista psicológica garante-se a qualidade e
o efetividade da entrevista (TAVARES, 2002, apud ALMEIDA, 2004). Assim como o
estabelecimento de um rapport que favorece a colocação das expectativas de
ambos (entrevistado e entrevistador) proporcionando a compreensão aos propósitos
da avaliação e a colaboração para sua realização. (SOUZA, 2008)
Além do estabelecimento do rapport, o autor Benjamin (1988) argumenta que
a forma como o psicólogo comunica-se com o entrevistador é de fundamental
importância, pois dependendo da forma como é feita a comunicação entre esses
dois sujeitos pode-se gerar confusão, dificuldade em respondê-la ou tornar a
entrevista um interrogatório distanciando um relacionamento positivo e cordial.
Pode-se dizer que diante da postura do profissional na entrevista psicológica
no processo de obtenção a CNH, favorece um clima de cordialidade e respeito para
com o outro, diferente quando isso não for praticado e percebido pelo candidato e o
49
mesmo sentir-se ignorado ou ameaçado pelo avaliador. Nesse sentido o autor
Skinner (1998, apud SOUZA, 2008, p. 17) argumenta que quando o indivíduo foi
submetido a situações desagradáveis e precisa passar por ela novamente, poderá
apresentar respostas emocionalmente negativas pelo fato de prever que a situação
será novamente aversiva. Por outro lado, se as condições foram favoráveis e
agradáveis essas emoções tendem a diminuir.
Existem também outras formas de comunicação observadas na entrevista
psicológica que também interferem na aproximação ou distanciamento do sujeito
para com o profissional. Os autores Bleger (1998) e Machado (2007) referem-se aos
aspectos não-verbais (atitudes, timbre e tonalidade de voz por exemplo) que
influenciam ativamente na personalidade do entrevistado e que ativam
condicionantes no sujeito.
A autora Oliveira (2005, p. 14) caracteriza fatores conscientes e inconscientes
que intervém a mente humana numa situação de entrevista e que despertam
sentimentos de empatia ou antipatia por parte de quem está sendo entrevistado. Há
essas possibilidades de atuação vários autores denominam a transferência e a
contratransferência. A primeira refere-se à atualização de sentimentos, atitudes e
condutas inconscientes, atribuindo papéis ao entrevistador e se comporta em função
deles. Na contratransferência são as respostas e os efeitos que o entrevistado
provoca no entrevistador. (BLEGER, 1998, p. 21-24)
Diante desses aspectos relacionados a comunicação verbal e não-verbal,
pode-se afirmar que elas ativam pensamentos e atitudes da personalidade do
candidato - transferência e contratransferência – influenciando na forma como o
sujeito percebe o entrevistador, ativando mecanismos defensivos do entrevistado
que podem aumentar ou diminuir emoções como a ansiedade.
Com relação ao grupo A, apesar do número de respostas corresponder a
52,5% da afirmação, não houve a conotação comparada ao grupo B, assim como o
aumento da alternativa “indiferente” daquele grupo. Sobre esses dados pode-se
entender aquilo que a autora Urbina (apud SOUZA; et al, 2008) argumenta sobre a
perspectiva de ser avaliado, que na maioria dos testando a avaliação gera certo grau
de apreensão, especialmente se os escores são usados como base para a tomada
de decisões que terão consequências importantes, como é caso da avaliação
psicológica em DETRANS’s. O autor Bleger (1998) comenta sobre essa expectativa
de ser avaliado, em seu trabalho sobre a entrevista psicológica apontando que a
50
ansiedade pode aumentar porque o desconhecido que enfrenta não é somente a
situação externa nova, mas também o perigo daquilo que desconhece em sua
própria personalidade.
Nesse sentido tanto a avaliação coletiva, comentada pela autora Urbina,
como a entrevista psicológica pelo autor Bleger, num primeiro momento de avaliação
podem gerar no candidato a CNH certo grau de desconforto emocional, nesse caso
a ansiedade. Pode ser que, em razão dessa expectativa e de um rapport individual,
não houve tanta afirmação na questão 2 pelo grupo A devido ao fato de qualquer
avaliação que eles enfrentassem iria provocar ansiedade.
Quando a entrevista psicológica não puder ser realizada em primeira ordem,
como foi o caso do grupo A, é indispensável que o psicólogo avalie se o avaliando
está emocionalmente e fisicamente apropriado para a testagem; ater-se
rigorosamente as instruções do manual; estabelecer o rapport e objetividade para
inspirar tranquilidade e evitar o aumento da ansiedade situacional para a realização
da avaliação. (ALCHIERI, et al, 2012). O rapport contribui ao interesse dos testando
pelo(s) teste(s), cooperação e encorajamento em responder de maneira adequada
aos objetivos dos testes dentro daquilo que consegue fazer, sem que haja
superestimação ou subestimação das suas habilidades. Assim como, à seleção da
sala com boa iluminação, ventilação e os móveis necessários a acomodação dos
candidatos; bem como a preparação antecipada do profissional na aplicação do
teste. (ANASTASIA, et al, 2000, p. 27-28)
Sobre o fato das mulheres optarem mais, em comparação aos homens, pela
entrevista psicológica aplicada antes da avaliação coletiva diminuir o nível de
ansiedade, poderia estar relacionado aos achados do autor Gama et al (2008, p. 20)
que citam dois conceitos distintos sobre ansiedade, que é a ansiedade-estado,
caracterizada por um estado emocional transitório de tensão que pode variar ao
longo do tempo em intensidade; e a ansiedade-traço que se refere a uma disposição
pessoal em responder com ansiedade situações estressantes e a tendência em
julgar com maior recorrência as situações como ameaçadora. Nesse mesmo estudo
constataram, através de uma versão do IDATE, mais especificamente a II parte
desse inventário que avalia a tendência do sujeito responder de forma ansiosa as
situações de vida (ansiedade-traço), que as mulheres, solteiros e pessoas com até
30 anos de idade são considerados mais ansiosos. Os mesmos autores justificam
esse dado pela possível predisposição associada ao fato das mulheres
51
apresentarem naturalmente um traço mais ansioso que os homens, e ainda, maior
predisposição para desenvolver transtornos ansiosos durante a vida.
Os autores Fioravanti, et al (2006) também encontraram dados, através do
inventário IDATE, afirmando que as mulheres apresentaram maior escores em
relação aos homens na escala estado (IDATE-E) como na escala traço (IDATE-T),
corroborando com estudos existentes relativamente bem estabelecidos desse
fenômeno às diferenças de gênero.
Portanto, pode-se afirmar que o número de mulheres que responderam a
questão ser maior que o número de homens, estaria relacionado ao fato das
mesmas enfrentarem de forma mais ansiosa as situações da vida por apresentarem
naturalmente um traço-ansioso comparado aos homens.
Em se tratando desse diferencial entre os gêneros a autora Davidoff (2001)
denomina como ‘papéis sexuais’ as normas estabelecidas com base no gênero.
Segundo a autora espera-se que os homens sejam dominadores, ativos,
realizadores e tranquilos, orientados para a tarefa, desempenhando papéis
instrumentais; já as mulheres desempenham o papel expressivo, ou seja, promovem
a harmonia e atendem as necessidades psicológicas e físicas de seus familiares.
Apreendidas a partir de comportamentos e questões sociais por meio a teoria da
socialização - aprendizagem social através de observação, classificação,
recompensas e punições como principais mecanismos de socialização do papel
social - e a visão cognitiva pela obtenção de ideias, ou esquemas, sobre quais ações
e traços são ligados ao gênero.
Além dos fatores culturais e sociais que explicam o porquê dos homens e
mulheres tomarem decisões distintas, o autor Seiffge-Krenke (1995, apud
MAGALHÃES, 2007, p.54) comenta que o gênero afeta a quantidade, percepção de
estresse e os recursos subsequentes utilizados para lidar com agentes estressores.
Os homens mostram mais frequentemente ansiedade estimulante, conhecida como
facilitadora; e as mulheres mais ansiedade debilitante em face de uma situação
avaliativa; comportamentos característicos como medo, preocupação, raiva e baixa
auto-estima, assim como maior diferença a componente emocionalidade do que a
componente preocupação.
Sobre a ansiedade em momento de avaliação relacionado ao gênero conclui-
se que as mulheres tendem a sentir mais esse tipo de emoção comparada aos
homens, talvez pelo aprendizado cultural que contribui em codificações cognitivas e
52
de emocionalidade respondendo com maior frequência e intensidade situações de
vida que os homens. Isso pode ser observado na porcentagem apresentada pelas
candidatas a CNH ao afirmarem que a entrevista psicológica aplicada antes da
avaliação coletiva ajudaria as mesmas na diminuição da ansiedade.
Portanto, entende-se que a entrevista psicológica aplicada antes da avaliação
coletiva diminui a ansiedade em candidatos a CNH, principalmente na opinião das
mulheres por estas, segundo estudos, apresentarem maior traço-ansiedade em
julgar situações como ameaçadora ou estressante. Também acredita-se que a
comunicação e o rapport estabelecido durante a entrevista psicológica favorecem a
diminuição da ansiedade devido ao diálogo e esclarecimento de dúvidas que o
candidato possa ter, assim como a técnica do profissional em identificar e conduzir
determinadas angustias do sujeito como parte integrante da personalidade e
aparecem no momento da entrevista, denominadas como transferência e
contratransferência, importantes nas impressões que o candidato a CNH pode vir a
realizar no momento da avaliação e desencadear sensações desfavoráveis no
decorrer de seu processo avaliativo.
Na questão referente à opinião do candidato sobre seu possível desempenho
melhorar quando se aplica a entrevista psicológica antes da avaliação coletiva, o
gráfico 7 demonstra que a maioria dos candidatos a CNH (53,8%) apresentou
resposta afirmativa.
Gráfico 7: Opinião a respeito de o desempenho melhorar quando a entrevista psicológica é aplicada antes da avaliação coletiva.
Fonte: Dados da pesquisa. Colombo-PR. 2013.
53
O gráfico 8 mostra que o número de respostas positivas é maior no grupo B
(62,5%) que fez a entrevista psicológica antes da avaliação coletiva, já no grupo A
maior porcentagem foi a resposta “indiferente” (47,5%).
Gráfico 8: Frequencia de respostas entre o grupo A e o grupo B em relação ao desempenho melhorar quando a entrevista é aplicada antes do coletivo.
Fonte: Dados da pesquisa Colombo-PR. 2013.
O gráfico 9 mostra a diferença entre os homens e mulheres, de ambos os
grupos, com relação ao possível desempenho melhorar quando a entrevista é
aplicada antes. No grupo A metade dos homens acha que o desempenho melhora
quando a entrevista psicológica é aplicada antes da avaliação coletiva e 59,1% das
mulheres responderam ser indiferente a ordem de aplicação. No grupo B, 62,5% dos
candidatos acredita que o desempenho melhora, porém entre as mulheres a
porcentagem de respostas afirmativas foi maior.
54
Gráfico 9: Frequencia de respostas entre homens e mulheres de ambos os grupos em relação ao desempenho melhorar quando a etrevista é aplicada antes do coletivo.
Fonte: Dados da pesquisa. Colombo-PR. 2013.
De acordo com os resultados apresentado à opinião do desempenho nos
testes psicológicos melhorar quando a entrevista psicológica é aplicada antes da
avaliação coletiva, constata-se que os candidatos a CNH do município de Colombo-
PR acreditam que isso ocorre. Esse fato pode ter sido influenciado aquilo que a
autora Anastasi (2000, p. 28) argumenta a respeito do rapport, que o mesmo pode
ser “estabelecido mais completamente na testagem individual”, ou seja, a entrevista
psicológica pode ter favorecido esse tipo de vínculo e desmistificado fantasias com
relação ao desempenho dos testes. A autora Davidoff (2001, p. 635) comenta que os
julgamentos sociais podem ser estabelecidos a partir das primeiras impressões, e
exercem influencias poderosas nas expectativas e atribuições.
A resolução CFP nº 007/2009 reforça esses cuidados ao colocar que o
psicólogo deve garantir ao candidato, sobretudo na entrevista psicológica em
averiguar as condições físicas e emocionais antes da testagem, assim como,
esclarecer eventuais dúvidas e informar os objetivos dos testes.
Esses aspectos relacionados à entrevista psicológica e atitudes do
profissional aplicada antes da avaliação coletiva pode causar no candidato a CNH a
impressão de que poderá obter um bom desempenho a partir de uma restruturação
cognitiva através da compreensão daquilo que irá fazer na avaliação coletiva. As
impressões a primeira etapa da avaliação, no caso quando a entrevista psicológica é
aplicada antes da testagem, pode-se entender aquilo que a autora Anastasi, et al
(2000) comenta sobre o feedback como fator motivacional, operando nos objetivos
55
que o sujeito estabelece para si mesmo em desempenhos posteriores como uma
profecia auto-realizadora. Isto é, os efeitos negativos ou positivos de experiências ou
atividades precedentes a uma avaliação através da realização de atividades menos
complexas para as mais complexas. O feedback desses processos poderão
favorecer pensamentos e sentimentos que levarão a uma reavaliação da situação
como menos, ou mais, ameaçadoras dependendo daquilo que o indivíduo vai
conseguindo realizar, ou ao aprimoramento do desempenho. (MAGALHÃES, 2007;
MOSCOVICI, 1985, apud THIELEN, 2011). Ou ainda, a percepção da auto-eficácia
em conseguir resultados desejados, ao perceber efeitos positivos ou de aprovação.
(BANDURA, apud DAVIDOFF, 2001)
Entende-se até aqui, que o rapport individual e as primeiras impressões que o
candidato a CNH atribui ao psicólogo na entrevista psicológica; o feedback realizado
a partir de uma avaliação menos intensa e sua percepção de aprovação do
candidato com relação a todos esses fatores, podem estimulam atribuições referente
ao seu potencial de desempenho na avaliação coletiva.
Outro fator que a autora Anastasi (2000, p. 29) descreve e que pode contribuir
na avaliação do desempenho do testando refere-se a “influência do comportamento
do examinando imediatamente precedente ou durante a aplicação dos testes”, a
mesma exemplificou numa investigação que houve diferenças significativas no
desempenho em testes em função de um relacionamento interpessoal “amigável”
versus ‘frio’ entre o examinador e examinando, ou rígida e distante por uma conduta
natural por parte do examinador.
Esse tipo conduta ou relacionamento para com o candidato pode ser melhor
empregada e realizada quando aplicada a entrevista psicológica antes da testagem,
pois torna-se possível que o candidato adquira uma ideia de que poderá obter um
bom desempenho, consequentemente atingir resultados mais favoráveis no
processo avaliativo a obtenção da CNH devido as influências de um comportamento
amistoso do psicólogo para com o candidato.
Outro fator que pode ter favorecido à opinião do candidato a questão de um
possível desempenho seria ao construto de autoconceito que o autor Shavelson, et
al (1976, apud JANEIRO, 2013, p. 25) descreve como relativo e composto pela
percepção que o sujeito tem de si, formado através das interações que o sujeito
institui com os outros significativos e das atribuições que a pessoa faz ao seu próprio
comportamento. Ou seja, pela aceitação social por parte dos outros e as emoções
56
mais subjetivas e internas do indivíduo. Nesse caso o candidato ao ter realizado a
entrevista psicológica pôde relacionar outra imagem do profissional, principalmente
do psicólogo que realiza a concessão da CNH muitas vezes representado de forma
negativa, considerando-se aceito pelo outro, além de entrar em contato com
aspectos da própria personalidade durante a entrevista psicológica que pode
favorecê-lo na outra etapa do processo que seria a avaliação coletiva.
Apesar da porcentagem geral entre os grupos A e B ser favorável à aplicação
da entrevista psicológica antes da avaliação coletiva e achar que isso melhora o
desempenho nos testes, o grupo A não expressou esse tipo opinião tanto quanto o
grupo B. O contrário disso foi o aumento de respostas na alternativa “indiferente” a
opinião deles sobre o assunto. A indiferença desse grupo pode ter sido evidenciada
a falta de um rapport prévio a testagem e por isso sem algum tipo de julgamento
negativo ou positivo a questão. Sobre essa indiferença poder-se-ia relacionar ao que
a autora Davidoff (2001, p. 639 - 643) descreve sobre a falta de clareza, pois quando
algo é vago e ambíguo, as pessoas possuem menor probabilidade de intervir do que
quando é claro e determinado; ou a submissão e obediência aos poderes existentes
sem questioná-los, dominadas por uma visão administrativa, e não moral.
Em se tratando da diferença de gênero ao desempenho, principalmente no
grupo B, este pode-se entender aquilo que a autora Davidoff (2001) argumenta que
os homens acreditam mais em seu desempenho em condições competitivas do que
as mulheres, expansão de si, status de poder, de domínio e aprendem a acreditar no
controle de suas ações que favorecem sentimentos de confiança e competência.
Enquanto que as mulheres quando confrontadas com problemas, geralmente
sentem-se desamparadas.
Portanto, entende-se que os homens costumam acreditar mais em seu
desempenho que as mulheres em condições avaliativas devido a atitudes e
comportamentos adquiridos pela aprendizagem cultural. Sobre a opinião dos
candidatos acreditarem que seu desempenho melhora quando aplicada a entrevista
psicológica antes da avaliação coletiva, acredita-se que esteja relacionada ao fato
da mesma propiciar o feedback, que motiva o autoconceito e auto-eficácia, realizado
através do rapport de forma individual na entrevista, favorecendo pensamentos
positivos devido a compreensão que o sujeito obtém do processo avaliativo; a
consciência da(s) capacidade(s) que o mesmo possui das quais serão testadas
57
posteriormente e um comportamento mais brando e moderado que o psicólogo
expressa na entrevista psicológica.
58
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do aspecto formal e informal do ser humano remeter-se a avaliação
individual e social, a Psicologia tornou a Avaliação Psicológica um método
mensurável, em termos cognitivos e subjetivos, digno de confiança científica pelo
seu aparato teórico-metodológico e aplicável pela profissão.
A avaliação psicológica é utilizada em diversas áreas da Psicologia e conta
com um arsenal de instrumentos psicológicos que possuem suas técnicas, regras e
métodos das quais comprovam sua utilidade e fidedignidade.
Sabe-se que na área da Psicologia do Trânsito, a avaliação psicológica
realizada em candidatos a 1ª CNH passou por diferentes formas de aplicação, mas
desde a implantação da Resolução nº 267/08, a mesma deve ser realizada a partir
de instrumentos psicológicos como: a observação; a entrevista psicológica; testes
psicológicos, entre outros. Porém o órgão de classe determina que a entrevista
psicológica seja realizada em caráter inicial.
Diante das diferentes formas que a avaliação psicológica permite realiza-la e
a imposição feita pelo Conselho Federal de Psicologia desde 2009 com relação à
entrevista psicológica ser realizada antes da avaliação coletiva, os candidatos a 1ª
CNH do município de Colombo – PR confirmam a preferencia da mesma ser
aplicada antes da avaliação psicológica, principalmente pelos participantes da
pesquisa que fez a entrevista psicológica antes da avaliação coletiva, constando o
interesse da mesma ser feita em primeira ordem.
Apesar de não haver dados científicos que comprovem sua primazia perante
outro instrumento psicológico de avaliação, a entrevista psicológica, além do seu
caráter avaliativo da personalidade, permite a interação entre o candidato e o
psicólogo, a expressão de sentimentos e a comunicação, fatores que influenciam a
cooperação e a colocação das expectativas do profissional e, principalmente, do
candidato no processo avaliativo.
Outro aspecto constatado, através da opinião dos candidatos da pesquisa, foi
que quando a entrevista psicológica é aplicada antes da avaliação coletiva diminui o
nível de ansiedade, especialmente na opinião das mulheres.
Esses dados podem estar relacionados ao fato de a entrevista psicológica
estimular a comunicação e o estabelecimento do rapport que proporciona um
59
momento de cordialidade e de respeito para com o outro favorecendo a diminuição
da ansiedade devido ao diálogo e esclarecimento de dúvidas que o candidato possa
ter. Assim como a técnica do profissional em identificar durante a entrevista,
determinadas angustias que podem ativar pensamentos e atitudes da personalidade
do sujeito que contribuem no nível de ansiedade, e o candidato transferir a avaliação
subsequente que seria a avaliação coletiva.
Em relação às mulheres, estudos comprovam que as mesmas respondem as
situações da vida de forma mais ansiosa interpretando-as como mais ameaçadoras
ou estressantes e, naturalmente, apresentarem maior traço-ansioso comparadas aos
homens. No caso da avaliação psicológica para obtenção da CNH pode-se dizer que
a entrevista psicológica estimula um clima menos assustador e competitivo
diminuindo a ansiedade para a avaliação coletiva, tanto para os homens como para
as mulheres, devido as suas características técnicas de execução que proporcionam
a comunicação e a interação entre entrevistado e entrevistador.
Em relação ao desempenho melhorar quando a entrevista psicológica é
realizada antes da avaliação coletiva a pesquisa apontou que na opinião dos
candidatos, em maior evidência nos homens, isso pode acontecer devido a
entrevista psicológica provocar impressões favoráveis ao processo avaliativo
gerando um feedback positivo a avaliação conseguinte, ao contato que o candidato
obtém de suas atribuições e de sua auto-eficácia, compreendidas durante o rapport
individual que a entrevista psicológica pode propiciar de maneira mais adequada.
Essas características relacionadas à entrevista psicológica afirmam que a mesma
quando é aplicada antes da avaliação coletiva podem estimular pensamentos
referentes a um bom desempenho do candidato na avaliação coletiva.
Portanto pode-se dizer que quando a entrevista psicológica é aplicada antes
da avaliação coletiva em candidatos a 1ª CNH a mesma diminui o nível de
ansiedade e proporciona melhor desempenho dos mesmos no momento de
testagem, além dos candidatos preferirem que a entrevista seja realizada
primeiramente a avaliação coletiva.
Diante desses dados, faz-se necessário uma investigação mais aprofundada
do assunto em relação aos fatores emocionais e cognitivos a respeito da preferencia
a entrevista psicológica ser aplicada antes da avaliação coletiva, bem como os
fenômenos de ordem subjetivas existentes na avaliação psicológica de candidatos a
CNH que favorecem a diminuição da ansiedade e oferece melhores condições ao
60
desempenho dos mesmos, garantindo melhor adequação ao processo de habilitação
e a qualidade desse serviço na Psicologia. Um estudo aprofundado desses fatores e
possíveis interferências dos mesmos no processo avaliativo a obtenção da CNH
contribuirão a um maior conhecimento, formação e condutas que o profissional deve
atentar-se para assegurar a qualidade aqueles que trabalham com avaliação
psicológica para motorista.
61
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65
APÊNDICE
QUESTIONÁRIO
Você gostaria que a entrevista psicológica fosse realizada antes da avaliação coletiva?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) INDIFERENTE
Você acha que a entrevista psicológica individual aplicada antes da avaliação coletiva
diminui o nível de ansiedade?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) INDIFERENTE
Você acha que a entrevista psicológica individual aplicada antes da avaliação coletiva
melhora o desempenho nos testes psicológicos?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) INDIFERENTE