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INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL Av. Mauro Ramos, 1624, sala 202 - Centro Florianópolis (SC) – CEP 88.020-302 Fone (48) 3028-4400 E-mail: [email protected] Web site: www.observatoriosocial.org.br COMPORTAMENTO SOCIAL E TRABALHISTA DA EMPRESA UNILEVER DO BRASIL RELATÓRIO EXECUTIVO AGOSTO/2004

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INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL Av. Mauro Ramos, 1624, sala 202 - Centro Florianópolis (SC) – CEP 88.020-302 Fone (48) 3028-4400 E-mail: [email protected] Web site: www.observatoriosocial.org.br

COMPORTAMENTO SOCIAL E TRABALHISTA DA EMPRESA

UNILEVER DO BRASIL

RELATÓRIO EXECUTIVO

AGOSTO/2004

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INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL

COMPORTAMENTO SOCIAL E TRABALHISTA

DA EMPRESA UNILEVER DO BRASIL

RELATÓRIO EXECUTIVO

FLORIANÓPOLIS

AGOSTO/2004

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INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL

CONSELHO DIRETOR Presidente: Kjeld A. Jakobsen (CUT) João Vaccari Neto (Secretaria de Relações Internacionais, CUT ) Rosane da Silva (Secretaria de Políticas Sindicais, CUT) Artur Henrique dos Santos (Secretaria de Organização, CUT) José Celestino Lourenço (Secretaria Nacional de Formação, CUT) Maria Ednalva B. de Lima (Secretaria da Mulher Trabalhadora, CUT) Gilda Almeida de Souza (Secretaria de Políticas Sociais, CUT) Antonio Carlos Spis (Secretaria de Comunicação, CUT) Wagner Firmino Santana (Dieese) Mara Luzia Feltes (Dieese) Francisco Mazzeu (Unitrabalho) Silvia Araújo (Unitrabalho) Tullo Vigevani (Cedec) Maria Inês Barreto (Cedec)

DIRETORIA EXECUTIVA Kjeld A. Jakobsen: Presidente Artur Henrique dos Santos (SNO/CUT) Ari Aloraldo do Nascimento (CUT) Carlos Roberto Horta (UNITRABALHO) Clemente Ganz Lúcio (DIEESE) Clóvis Scherer (Coordenador Técnico) Maria Inês Barreto (CEDEC) Maria Ednalva B. de Lima (SNMT/CUT) Odilon Luís Faccio (Coordenador de Desenvolvimento Institucional)

COORDENAÇÃO TÉCNICA Arthur Borges Filho: Coordenador Administrativo Clóvis Scherer: Coordenador Técnico Maria José H. Coelho: Coordenadora de Comunicação Odilon Luís Faccio: Coordenador de Desenvolvimento Institucional Pieter Sijbrandij: Coordenador de Projetos Ronaldo Baltar: Coordenador do Sistema de Informação

EQUIPE TÉCNICA - PESQUISA UNILEVER Coordenação Geral: Clemente Ganz Lúcio e Odilon Luís Faccio Coordenação: João Paulo Veiga Pesquisadores: Fernanda Raquel e Vanuzia Rodrigues

Revisão gramatical e ortográfica: Jane Maria Viana Cardoso Pesquisa realizada no período entre março de 2002 e fevereiro de 2003

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS, GRÁFICOS E TABELAS ........................................................... IV

LISTA DE SIGLAS................................................................................................................. V

APRESENTAÇÃO ...............................................................................................................VII

1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................1

2 PERFIL GERAL DA UNILEVER ......................................................................................3

3 UNILEVER NO BRASIL .....................................................................................................7

3.1 A UNILEVER E O CADE.......................................................................................................... 9

3.2 O COMITÊ NACIONAL INTERSINDICAL UNILEVER BRASIL.................................................... 10

3.3 A DIVISÃO DE HIGIENE E BELEZA.................................................................................. 12

3.4 O FECHAMENTO DA UNIDADE DE VESPASIANO (MG).............................................................. 13

4 UNILEVER - UNIDADE VINHEDO................................................................................15

4.1 DIREITOS TRABALHISTAS E AMBIENTAIS: RESULTADOS DA PESQUISA............. 16

4.1.1 Liberdade Sindical............................................................................................................ 16

4.1.2 Negociação Coletiva ........................................................................................................ 17

4.1.3 Discriminação de Gênero e Raça..................................................................................... 18

5 UNILEVER - UNIDADE VESPASIANO .........................................................................20

5.1 DIREITOS TRABALHISTAS E AMBIENTAIS: RESULTADOS DA PESQUISA............. 20

5.1.1 Liberdade Sindical............................................................................................................ 20

5.1.2 Negociação Coletiva ........................................................................................................ 21

5.1.3 Discriminação de Gênero e Raça..................................................................................... 23

6 SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO.....................................................................25

7 MEIO AMBIENTE .............................................................................................................32

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8 RESPONSABILIDADE SOCIAL......................................................................................33

9 CONCLUSÕES GERAIS ...................................................................................................35

LISTA DE QUADROS, GRÁFICOS E TABELAS

TABELA 1 - TRABALHADORES DA UNILEVER NO MUNDO (EM MILHARES)....4

TABELA 2: MAPEAMENTO DAS UNIDADES DA UNILEVER NO BRASIL............10

TABELA 3 – UNIDADES DA DIVISÃO HIGIENE E LIMPEZA DA UNILEVER DO BRASIL ...................................................................................................................................12

GRÁFICO 1 – MÉDIA DAS DOENÇAS MAIS FREQÜENTES NAS UNIDADES VALINHOS E VESPASIANO DA UNILEVER .................................................................29

TABELA 4 – DOENÇAS MAIS FREQÜENTES NAS DUAS UNIDADES DA UNILEVER .............................................................................................................................30

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LISTA DE SIGLAS

ART - Análise de Risco de Tarefa CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica CAT - Comunicação de Acidente do Trabalho CEDEC – Centro de Estudos de Cultura Contemporânea CNQ/CUT - Confederação Nacional dos Químicos da CUT CONTAC/CUT – Confederação Nacional da Alimentação da CUT CUT – Central Única dos Trabalhadores DGB - Deutsche Gewerkschaftsbund (Central Sindical Alemã) DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos DRT – Delegacia Regional do Trabalho EPI - Equipamentos de Proteção Individual FNV - Federatie Nederlandse Vakbeweging (Central Sindical Holandesa) GO - Goiás HPC – Home and Personal Care (Divisão de Higiene e Beleza) INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social IOS – Instituto Observatório Social ISO 14000 - International Organization for Standardization 14000 (Sistema de Gerenciamento

Ambiental) LER/DORT – Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho MEC – Ministério da Educação e Cultura MG – Minas Gerais OIT – Organização Internacional do Trabalho PE – Pernambuco PPR - Programa de Participação nos Resultados RAP - Recuperação da Atividade Produtiva RH - Recursos Humanos RSE - Responsabilidade Social Empresarial SHE – Safety, Health and the Environment (Segurança, Saúde e Meio Ambiente) SIAS - Sistema Internacional de Avaliação de Segurança SIPAT - Semana Interna de Prevenção aos Acidentes de Trabalho SP – São Paulo TPM – Total Productive Maintenance (sigla em inglês para o método de gestão da UNILEVER) Unitrabalho – Rede Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho

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NOTA EXPLICATIVA

Ao finalizar a fase de pesquisa para elaboração do Relatório Geral da

UNILEVER em 2003, o Instituto Observatório Social enviou uma cópia do material

organizado para que a empresa pudesse fazer suas observações acerca das informações

apresentadas. Na mesma ocasião em que a empresa enviou seus comentários sobre o

relatório da última pesquisa, aproveitou para incluir sua apreciação sobre o Relatório

de Pesquisa da Divisão Bestfoods, realizada em 2000, fornecendo dados atualizados

sobre a unidade de Goiânia.

A resposta da empresa foi incorporada como anexo no Relatório Geral,

divulgado no início de 2004, porém optamos em não incorporá-la no Relatório

Executivo devido à estrutura e à natureza deste documento.

De qualquer modo, divulgamos a existência deste material, em sua versão

integral, disponível na seguinte página da internet:

www.observatoriosocial.org.br/download/ReGeUNILEVER2.pdf

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APRESENTAÇÃO

A pesquisa "O Desempenho Social e Trabalhista da UNILEVER" faz parte

do Projeto "Monitor de Empresas" (Company Monitor), patrocinado pela central

sindical holandesa Federatie Nederlandse Vakbeweging (FNV), cuja finalidade é

estudar e comparar quatro empresas de capital holandês, instaladas no país - a

UNILEVER, a Ahold, a Akzo Nobel e a Philips -, sob o ângulo do seu comportamento

frente aos chamados Direitos Fundamentais no Trabalho e ao meio ambiente.

Este projeto contribui para fornecer subsídios ao Observatório Social Europa,

que é uma cooperação entre a Central Única dos Trabalhadores (CUT Brasil), o

Instituto Observatório Social (IOS), a central sindical alemã Deutsche

Gewerkschaftsbund (DGB) e a central sindical holandesa FNV. O projeto consiste em

pesquisas e monitoramento do comportamento sociotrabalhista de três empresas

holandesas – UNILEVER, Ahold e Philips - e, também, de três empresas alemãs - a

Bayer, a Bosch e a Thyssen Krupp.

O Instituto Observatório Social é uma iniciativa da CUT Brasil em parceria

com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), o Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e a Rede

Interuniversitária de Estudos do Trabalho (Unitrabalho). Sua meta é gerar e organizar

informações sobre o desempenho social e trabalhista de empresas, tomando como

referência os princípios os direitos fundamentais do trabalho, definidos pela

Organização Internacional do Trabalho (OIT), e os princípios relativos ao meio

ambiente, definidos na Declaração do Rio e Agenda 21. São abordados os seguintes

temas: liberdade sindical, negociação coletiva, trabalho infantil, trabalho forçado,

discriminação de gênero e raça, segurança e saúde no trabalho e meio ambiente.

Entre abril de 2002 e março de 2003, o Instituto Observatório Social (IOS)

realizou uma extensa pesquisa acerca do comportamento social e trabalhista da

empresa UNILEVER no Brasil. Na realidade, a pesquisa é a continuidade do estudo

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que começou em 2000, e que estudou a divisão de alimentos da empresa, hoje sob a

denominação UNILEVER Bestfoods. O trabalho, nas duas fases da pesquisa, contou

com a parceria de diversas confederações e sindicatos de trabalhadores de base do

setor da alimentação, rurais e do ramo químico filiados à CUT e à Força Sindical.

A realização da pesquisa contou com a colaboração da direção da

UNILEVER no que se refere às entrevistas com executivos e à organização da

aplicação dos questionários aos funcionários nas unidades selecionadas. No entanto, a

empresa não forneceu parte dos documentos requisitados pelo Observatório Social. O

contato com a direção da UNILEVER não se manteve estável durante o período de

realização deste trabalho que, além disso, foi interrompido diversas vezes em razão de

dificuldades em envolver outros sindicatos de trabalhadores da UNILEVER e em

função de dúvidas acerca dos procedimentos da pesquisa.

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1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este Relatório Executivo apresenta os principais resultados da pesquisa sobre o

desempenho social e trabalhista de duas unidades industriais da empresa UNILEVER do

Brasil, localizadas em Vinhedo (SP) e Vespasiano (MG), pertencentes à divisão de higiene e

beleza.

Este estudo da empresa UNILEVER do Brasil é o resultado de um processo de

análise cumulativo, no qual diferentes fontes de informação foram consultadas, permitindo

uma visão ampla e apurada sobre o comportamento sociotrabalhista da empresa.

O objetivo geral da pesquisa é avaliar as práticas da empresa UNILEVER do

Brasil no tocante aos direitos e aos princípios fundamentais no trabalho, conforme definidos

pela OIT nas suas convenções sobre a liberdade sindical, negociação coletiva, discriminação

de gênero e raça, trabalho infantil, trabalho forçado, além das questões relacionadas à saúde

e segurança no trabalho e meio ambiente.

No quadro a seguir, sintetizamos as convenções da OIT, suas centralidades e a

situação no Brasil com relação à ratificação dessas convenções:

Quadro 1 – CONVENÇÕES DA OIT – TEMAS E CENTRALIDADE

Convenções Centralidade Situação no Brasil

Liberdade Sindical 87 e 135

Liberdade de organização dos trabalhadores, sem interferência dos empregadores e do Estado.

A C87 não está ratificada e a C135 foi ratificada em 18/05/1990.

Negociação Coletiva 98 e 151

Direito de todos os trabalhadores à negociação coletiva sem interferência.

A C98 foi ratificada em 18/11/1952, e a C151, que trata de trabalhadores no serviço público, não está ratificada.

Trabalho Forçado 29 e 105

Abolição do trabalho exercido por meio de coação ou castigo.

A C29 foi ratificada em 25/04/1957 e a C105, em 18/06/1965.

Trabalho Infantil 138 e 182

Efetiva erradicação do trabalho infantil. C138 (Idade mínima) ratificada em jun./2001 e C182 (Piores formas) ratificada em 02/02/2000.

Discriminação de Gênero e Raça 100 e 111

Não discriminação por motivos de sexo, origem racial, religião, opinião política e ascendência.

C100 ratificada em 25/04/1957 e C111, em 26/11/1965.

Saúde e Segurança no Trabalho 148, 155, 170 e 174

Adequação do meio ambiente interno à segurança e à saúde no trabalho.

C148 (meio ambiente interno) ratificada em 14/01/82; C155 (segurança e saúde), em 18/05/92; C170 (produtos químicos), em 23/12/96; C174 (acidentes industriais maiores) não ratificada.

Fonte: Observatório Social, 2002.

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É preciso destacar que esta análise baseou-se em documentos fornecidos pela

empresa, dados secundários sobre esta, materiais entregues pelos sindicatos e outras fontes

públicas, e entrevistas com gerências da empresa e representantes sindicais. Além disso,

foram obtidas informações sobre outras unidades nos três encontros de trabalhadores da

UNILEVER, na oficina sindical realizada em Vinhedo (SP) e nos questionários aplicados a

trabalhadores das duas unidades pesquisadas.

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2 PERFIL GERAL DA UNILEVER

A UNILEVER é uma empresa limitada, de capital anglo-holandês, registrada

junto às autoridades contábeis e no mercado de capitais tanto da Inglaterra (UNILEVER

P.L.C.) quanto na Holanda (UNILEVER N.V.). As duas empresas operam como uma única

entidade para fins contábeis nos dois países.

Em fevereiro de 2000, a UNILEVER lançou um programa de reestruturação

global - “Path to the Growth”, no qual anunciou que reduziria seu portfólio de 1.600

produtos para 400 até o final de 2004. Além disso, o planejamento também incluía a venda

de marcas pouco lucrativas, a aquisição de novas empresas com produtos de alto valor

agregado (Bestfoods, Amora Maille, Slim Fast e Bem & Jerry), e a eliminação de fábricas

em todo o mundo dentro do mesmo período.

Como conseqüência dessa estratégia, cerca de 100 fábricas serão fechadas e

25.000 trabalhadores demitidos ao mesmo tempo. Com a compra da Bestfoods, esses

números foram alterados: estima-se que o número de unidades fechadas tenha subido para

130 plantas e o número de empregados a serem demitidos passou para 33.0001.

Entre as aquisições que a empresa fez nos últimos anos, a mais expressiva foi a

compra da empresa americana Bestfoods, no ano 2000, porque permitiu a concentração de

marcas líderes no setor de alimentação e produtos pessoais. A transação total foi estimada

em US$ 24,3 bilhões. A Bestfoods era uma empresa com cerca de 140 fábricas em todo o

mundo, ea maior parte delas localizadas na América do Norte. Outro fator importante a ser

destacado é o fato de os mercados da Bestfoods serem, em sua maioria, complementares aos

da UNILEVER.

A nova estrutura organizacional da UNILEVER está baseada em duas divisões, a

de Alimentos e a de Higiene Pessoal. Ambas começaram a operar em sua nova configuração

1 Estes dados não foram confirmados pela empresa no Brasil. Trata-se de uma estimativa, baseada no fato de que o plano “Path to the Growth” foi anunciado em fevereiro de 2000, enquanto a compra da Bestfoods ocorreu em agosto daquele ano, ou seja, o número de fábricas fechadas e de demissões iniciais não contabilizou as possíveis sobreposições de negócios e produtos entre a UNILEVER e a Bestfoods.

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a partir de janeiro de 2001. A antiga divisão de produtos químicos (limpeza industrial) está

sendo terceirizada em alguns países e se transformando em cadeia de suprimentos e matérias

primas.

Na América Latina, a UNILEVER Higiene e Beleza e a UNILEVER Alimentos

estão presentes nos seguintes países: Brasil, México, Peru, Chile, Bolívia, Argentina,

Paraguai e Uruguai. A empresa possui, ainda, duas subdivisões para a América Latina: a

UNILEVER Andina, composta pelas seguintes nações: Colômbia, Equador e Venezuela; e a

UNILEVER Centro America, que atua na Costa Rica, em El Salvador, na Guatemala, em

Honduras e no Panamá. A UNILEVER também possui representações no Haiti, Cuba,

Trinidad e Tobago, Jamaica e República Dominicana.

O setor de sovertes e congelados, na América Latina, possui uma gestão

administrativa própria, diferente da gestão do setor de alimentação, embora faça parte da

Divisão Internacional UNILEVER Alimentos.

A UNILEVER, antes da aquisição da Bestfoods, já era uma das maiores empresas de

produtos de consumo no mundo. As suas vendas estavam em torno de US$ 45 bilhões, e a

Companhia já atuava em 88 países com cerca de 300 empresas associadas, atuando, também,

em outros 60 países através de distribuidores. Atualmente, a Empresa contrata diretamente

quase 250 mil trabalhadores; a América Latina representa 12,9% do total e o Brasil, 5,8%

(14.500). Pela tabela 3, comparando-se 2000 (ano de aquisição da Bestfoods) com 2002,

pode-se ter uma idéia do que significou a incorporação da Bestfoods pela UNILEVER em

número de empregos. Na América do Norte, país-sede da Bestfoods, o emprego caiu quase

50%, assim como aconteceu na Europa e na América Latina, crescendo apenas nos países

africanos e no Oriente Médio.

TABELA 1 - TRABALHADORES DA UNILEVER NO MUNDO (EM MILHARES) REGIÕES 2002 2001 2000 1999 1998 Europa 60 71 82 76 82 América do Norte 21 22 39 22 23 África, Oriente Médio e Turquia 52 49 46 48 57 Ásia e Pacífico 82 85 84 71 72 América Latina 32 38 44 29 31 TOTAL 247 265 295 246 265 Fonte: UNILEVER Annual Review, 2002. Elaboração: Observatório Social, 2003.

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A empresa possui um Código de Princípios de Negócios no qual divulga ao

público em geral o seu estilo e o perfil de sua administração, afirmando seu compromisso

com:

• a diversidade no ambiente de trabalho, permitindo a existência de confiança

e respeito mútuos (condições que permitiriam aos trabalhadores sentirem-se

responsáveis pelo desempenho e reputação da empresa);

• garantir condições de trabalho seguras e saudáveis para todos os

empregados;

• a não utilização de qualquer forma de trabalho forçado, compulsório

ouinfantil.

A empresa também faz a defesa do direito à liberdade sindical e à negociação

coletiva quando afirma respeitar “a dignidade individual e o direito dos empregados à

liberdade de associação”. Quanto ao direito à informação, diz que “manterá uma boa

comunicação com os empregados através de informações qualificadas e de um

procedimento de consultas”.

No mesmo documento, a UNILEVER ainda especifica políticas voltadas para

consumidores, acionistas, fornecedores e investidores: “A UNILEVER compromete-se em

estabelecer relações benéficas mútuas com nossos fornecedores, consumidores e

investidores. Em nosso negócio e com os nossos contatos, nós esperamos de nossos

parceiros uma adesão aos princípios de negócios consistentes com os nossos”.

É preciso ressaltar, no entanto, que no Brasil onde há inúmeros casos de

fornecedores terceirizados e, até mesmo, quarteirizados, a UNILEVER não mostrou ter

garantias seguras e nem procedimentos regulares que verifiquem o atendimento destes

princípios, expressos em seu Código de Conduta por parte das empresas contratadas. Afirma

a empresa que, caso haja uma informação dando conta de uma violação ao Código, a

UNILEVER age no sentido de resolver o problema.

O Código também trata de temas como envolvimento com a comunidade,

atividades públicas e meio ambiente. Neste último caso, segundo os diretores entrevistados,

a UNILEVER procuraria ir além da legislação local ou nacional. Sua política global para o

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tema ambiental estaria comprometida “a fazer melhorias contínuas na administração dos

impactos ambientais que nossa atividade pode trazer e no desenvolvimento sustentável na

condução de nossos negócios como um objetivo de mais longo prazo”. Diz, ainda, o

documento que a empresa “trabalhará em conjunto com outros atores para a promoção de

cuidados ambientais, aumentar o entendimento das questões ambientais e disseminar boas

práticas”.

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3 UNILEVER NO BRASIL

A UNILEVER surgiu no Brasil, em outubro de 1929, sob a razão social S.A. Irmãos

Lever. Em 1960, ao adquirir a Cia. Gessy Industrial, passou a adotar o nome Gessy Lever.

Em 1970, a Gessy Lever entrou no mercado de alimentos do Brasil com a margarina

Doriana, e criando a sua quarta divisão no Brasil, a Van den Berg Alimentos. A Gessy

Lever adquiriu a CICA em 1993 e a Kibon, em 1997. Em 1999, inaugurou o Centro Latino

de Inovação Alimentar, em Valinhos (SP).

No ano 2000, o grande passo para a expansão da UNILEVER no Brasil foi conquistado

com a aquisição da Bestfoods nos Estados Unidos (e no controle das unidades no Brasil) e

pela inauguração da, então, mais moderna fábrica de processamento de tomate da cidade de

Rio Verde (em Goiás, inaugurada em 1999). A compra da Bestfoods significou a

incorporação, no Brasil, da Refinações de Milho Brasil (RMB) à UNILEVER. Com isso, a

Empresa passou a ter, também, o controle da Arisco, que havia sido comprada pouco antes –

em fevereiro de 2000 – pela RMB.

O Brasil é o maior mercado da UNILEVER na América do Sul, respondendo por

cerca de 5% de seu faturamento bruto global. A sede administrativa da empresa localiza-se

na cidade de São Paulo. Em 2002, o faturamento bruto da UNILEVER no Brasil foi de

pouco mais de R$ 7 bilhões, assim distribuídos:

a) UNILEVER Brasil: R$7,3 bilhões;

b) Divisão de Higiene e Beleza: R$4,4 bilhões;

c) Divisão de Alimentos: R$2,3 bilhões;

d) Divisão de Sorvetes: R$ 0,6 bilhões.

O grupo UNILEVER no Brasil possui, atualmente, três divisões em operação, até

2003 apresentava em seu quadro 16 fábricas com cerca de 14 mil trabalhadores.

- HPC (Home and Personal Care): divisão de higiene e beleza, com sete fábricas

• Estado de São Paulo: Valinhos, Vinhedo, Itatiba e Indaiatuba;

• Estado de Minas Gerais: Vespasiano (fechada em março de 2004);

• Estado de Pernambuco: Igarassú e Recife.

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Principais marcas: Omo, Brilhante, Lux, Dove, Fofo, Minerva, Comfort, Seda,

Rexona e Close Up.

Principais concorrentes: Procter&Gamble, L’Óreal, Colgate-Palmolive, Jonhson

& Jonhson.

- Kibon: divisão de sorvetes, com duas fábricas

• Estado de São Paulo: cidade de São Paulo;

• Estado de Pernambuco: Jaboatão.

Principais marcas: Cornetto, Magnum, Fruttare, Chicabon e Eskibon.

- UNILEVERBestfoods: divisão de alimentos, com sete fábricas

• Estado de São Paulo: Valinhos e Mogi Guaçu;

• Estado de Goiás: Rio Verde e Goiânia;

• Estado de Pernambuco: Garanhuns;

• Estado de Minas Gerais: Patos de Minas e Pouso Alegre.

Principais marcas: Doriana, Hellmann’s, Arisco, Cica, Knorr, Ades, Maizena e

Lipton.

A UNILEVER está colocando em prática um deslocamento regional da produção,

processo este que está combinado a uma maior concentração operacional em algumas

fábricas. No segmento de alimentos, a principal fábrica de atomatados deve continuar sendo

a unidade de Goiânia, já reestruturada após a compra da Bestfoods. A unidade de Rio Verde

(GO) construída com grandes investimentos e com incentivos concedidos pelo governo de

Goiás, acabou sendo esvaziada. Pela economia de escala, a UNILEVER não manteria duas

fábricas de alimentos, baseadas na produção de atomatados, tão perto uma da outra.

Unidades produtivas como Valinhos (alimentos), Garanhuns e Patos de Minas

perderam produtos para as unidades de Pouso Alegre e de Goiânia, sofrendo uma

considerável redução no número de empregos. Com esta estratégia, a UNILEVER espera

ganhar economia de escala (concentrando a produção em um número menor de fábricas,

para elevar os níveis de produtividade e reduzir custos na logística da distribuição).

A terceirização é praticada pela UNILEVER basicamente nas áreas de segurança,

limpeza, restaurante e tratamento de água. Os trabalhadores desses serviços não são

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representados pelo sindicato da categoria que atende os empregados da UNILEVER e, em

geral, estão sujeitos a condições de trabalho e benefícios inferiores.

Em algumas unidades da UNILEVER, há contratação de trabalhadores

temporários, os quais recebem salários equivalentes aos demais funcionários contratados por

tempo indeterminado. A vantagem deste tipo de contratação para a UNILEVER está na

diminuição dos encargos trabalhistas pagos pela empresa.

A UNILEVER tem disponibilizado a assessoria de uma empresa especializada em

recolocação de profissionais no mercado para os empregados demitidos. Na antiga unidade

de higiene e beleza de Anastácio (SP), fechada no início de 2001, houve 80% de

recolocação de trabalhadores no mercado de trabalho, segundo informações fornecidas pela

própria empresa. A produção de materiais de limpeza em pó foi transferida para a unidade

de Vespasiano (MG) e a de produtos de limpeza em líquido para a fábrica de Indaiatuba

(SP). O prédio desta unidade foi reutilizado como escritório de administração das funções

regionais da UNILEVER para a América Latina.

3.1 A UNILEVER E O CADE

A UNILEVER aguarda a decisão do Conselho Administrativo de Defesa

Econômica (CADE), ligado ao Ministério da Justiça, da Secretaria do Direito

Econômico(SDE), ligada ao Ministério da Justiça, e da Secretaria de Acompanhamento

Econômico (SEAE), do Ministério da Fazenda), em relação à aprovação de sua fusão com a

Bestfoods no Brasil, para definir a situação de algumas unidades. Os três órgãos de governo

compõem o chamado sistema de defesa da concorrência no Brasil. Embora a expectativa

geral seja a de que a aquisição da Bestfoods seja aprovada, é possível que o CADE imponha

algumas restrições2. Se a concentração de mercado for, de fato, observada pelo órgão

2 De acordo com notícia publicada pelo jornal “Gazeta Mercantil” em 01/09/04, a SDE recomendou ao CADE a aprovação, com restrições, da incorporação da Bestfoods pela UNILEVER. A SDE quer que a operação só seja autorizada no Brasil se a UNILEVER vender a marca “Pic” de catchup, mostarda e maionese. A imposição de restrições já havia sido sugerida pela SEAE, mas a decisão do CADE ainda não havia sido tomada até a finalização deste relatório.

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regulador, sabe-se que a operação da UNILEVER (Cica) e a Bestfoods no Brasil vão

concentrar cerca de 60% do mercado doméstico de atomatados e 75% do mercado de

maionese industrializada, com as marcas Hellmann’s, Gourmet e Arisco. TABELA 2: MAPEAMENTO DAS UNIDADES DA UNILEVER NO BRASIL

Região / Cidades Central Sindical Produtos Trabalhadores Trab. Sindicalizados Pernambuco Igarassú CUT Sabão em pó e tablete 215 110 Garanhuns CUT Cobertura de sorvetes 172 25 Recife (Sorvetes) Independente Produtos Kibon 350 Recife (HPC) CGT Desodorante, shampoo São Paulo Valinhos (HPC) Independente Sabonetes 450 São Paulo (Sorv.) Força Sindical Produtos Kibon 1200 Valinhos (Alim.) Força Sindical Margarina 600 70 Indaiatuba Independente Sabão em pó 500 Mogi Guaçu CUT Amido de milho 63 43 Vinhedo CUT Linha Higiene e Beleza 800 420 Itatiba Sabão em pó Minas Gerais Patos de Minas CUT Produtos de tomate 100 10 Vespasiano Independente Sabão em pó 394 3 Pouso Alegre CUT Caldos, molhos, sucos 800 230 Goiás Goiânia Força Sindical Toda linha de alimentos 2600 Rio Verde Força Sindical Atomatados 38

Fonte: Sindicatos. Elaboração Instituto Observatório Social, 2003.

3.2 O COMITÊ NACIONAL INTERSINDICAL UNILEVER BRASIL

No início de 2002, por iniciativa da CUT, foi feita uma tentativa inédita, no caso

da UNILEVER, de organização dos trabalhadores da Empresa em um comitê sindical, com

base na experiência das montadoras de veículos européias, como a Volkswagen e a

DaimlerChrysler, que já possuem esse instrumento de diálogo junto a seus trabalhadores.

Em um seminário realizado na cidade de São Bernardo do Campo (SP), em abril

de 2002, participaram diversos sindicalistas de diferentes regiões do Brasil, além da

participação de diversos representantes da Empresa, notadamente da área de recursos

humanos. Nessa ocasião, o diretor de Recursos Humanos expôs as políticas da Empresa

para as áreas de trabalho e meio ambiente, grande parte delas baseadas nos princípios do

Global Compact do qual a UNILEVER é oficialmente signatária. Um Comitê de

Trabalhadores da UNILEVER com oito representantes, todos funcionários da Empresa, foi

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constituído na mesma ocasião.

Por diversas razões, esse comitê teve dificuldade de funcionamento. Não houve

troca significativa de informações no sentido de fortalecer a comunicação entre os próprios

integrantes do comitê e, entre eles e a Empresa. No final de 2002, a direção da Empresa

manifestou-se favorável a um contato oficial com o comitê, desde que não envolvesse temas

da negociação coletiva com os diferentes sindicatos que, tradicionalmente, negociam com a

UNILEVER.

A UNILEVER manifestou-se contrária à constituição de uma agenda com itens

como salários e direitos trabalhistas, porque isso caracterizaria um processo amplo de

negociação coletiva, o qual a Empresa não tem interesse em iniciar de forma centralizada e

representativa no âmbito dos vários sindicatos que compõem a base: alimentos, produtos de

higiene e beleza e sorvetes. A Empresa está disposta a discutir temas amplos como o seu

engajamento no programa Global Compact, ou mesmo assuntos como trabalho infantil e

responsabilidade social.

Em 20 de março de 2003, como o trabalho desse comitê não avançou, foi formado

um novo comitê sindical com o mesmo objetivo do anterior, ou seja, iniciar um processo de

diálogo amplo com a UNILEVER no Brasil. A intenção é de que toda planta da

UNILEVER esteja representada, preferencialmente, por um trabalhador/sindicalista de cada

unidade. Esse procedimento garante a representatividade das unidades da Empresa no

comitê. No caso de não haver trabalhador dirigente em uma determinada unidade, um

dirigente do sindicato que representa a base pode ocupar esse lugar, do contrário haverá

unidades que ficarão sem representantes.

No último seminário de trabalhadores da UNILEVER, o tema que se refere às

atribuições e competências do comitê sindical da Empresa voltou a ser discutido . Em linhas

gerais, os principais problemas apontados pelos trabalhadores, nesse seminário promovido

pela CUT, foram as diferenças na remuneração de trabalhadores da mesma categoria, entre

as unidades da Empresa, nas diversas regiões do país e a grande heterogeneidade nas

condições de trabalho entre as diferentes unidades.

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Embora a UNILEVER se esforce para tornar homogênea a qualidade de seus

produtos nas diferentes partes do país, percebe-se que não há uma política de promoção de

igualdade no que concerne às condições de trabalho, política salarial, questões de gênero e

raça, entre outros, o que prejudica o resultado das negociações para os trabalhadores. Em

última análise, não há uma política geral para o trato com os sindicatos no que diz respeito à

negociação coletiva. Vale a regra de que as questões relativas ao trabalho ainda são locais,

ou seja, a UNILEVER não incorporou a agenda global desse tema à compatibilização de

práticas adotadas no país, com aquelas praticadas em outras partes do mundo, referenciadas

nas Convenções da OIT.

3.3 A DIVISÃO DE HIGIENE E BELEZA

A pesquisa do Instituto Observatório Social concentrou-se apenas na divisão de

higiene e beleza da UNILEVER do Brasil, cujos principais produtos são: detergentes em pó

e em barra, e produtos de beleza como sabonetes, condicionadores, hidratantes, shampoos,

desodorantes, entre outros.

Esta divisão, como vimos, possui sete unidades produtivas, distribuídas por três

estados brasileiros: São Paulo, com quatro plantas; Pernambuco, com duas; e Minas Gerais,

com uma. TABELA 3 – UNIDADES DA DIVISÃO HIGIENE E LIMPEZA DA UNILEVER DO BRASIL

UNIDADE ESTADO PRODUTOS EMPREGADOS Itatiba SP Sabão em pó

Igarassú PE Sabão em pó e tablete 215

Indaiatuba SP Sabão em pó 500

Recife PE Desodorantes e shampoos 100

Valinhos SP Produtos cuidados pessoais 450

Vespasiano MG Sabão em pó 394

Vinhedo SP Produtos cuidados pessoais 800 Fonte: UNILEVER. Elaboração: Observatório Social, 2003.

Há importantes diferenças entre essas fábricas da UNILEVER do Brasil. Valinhos

é uma unidade tradicional; está localizada no centro da cidade; os trabalhadores têm uma

faixa etária média mais elevada; e, um nível de rotatividade menor. A unidade de Vinhedo é

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a mais moderna dentro da divisão de higiene e beleza, e é a fábrica na qual a empresa está

automatizando as linhas de produção com maior vigor.

A unidade sediada em Valinhos é a mais antiga fábrica da UNILEVER no Brasil,

enquanto a fábrica de Recife é a mais recente, tendo sido inaugurada no final dos anos 90.

Por esta razão, ambas são muito diferentes entre si. A fábrica de Recife é a mais nova de

todas, tem um perfil produtivo similar ao de Vinhedo, embora não esteja tão automatizada.

Parte de sua produção de itens de cuidados pessoais é exportada, como é o caso da linha

Dove (sabonetes, shampoos, desodorantes e condicionadores).

As fábricas de Itatiba, de Vespasiano e de Indaiatuba produzem sabão em pó.

Deve-se ressaltar, contudo, que a unidade de Itatiba foi adquirida com a compra da

Bestfoodsque, por sua vez, a havia comprado, recentemente, da empresa brasileira Arisco,

proprietária da marca de sabão em pó Biju, que ainda é produzido na planta de Itatiba.

Esta pesquisa concentrou-se em apenas duas unidades - Vinhedo e Vespasiano –

que serão analisadas em maior profundidade a seguir.

3.4 O FECHAMENTO DA UNIDADE DE VESPASIANO (MG)

No dia 22 de maio de 2003, cerca de três meses depois de o IOS ter realizado a

pesquisa de campo na unidade de Vespasiano (grande Belo Horizonte), a Empresa anunciou

o seu fechamento, em carta endereçada aos sindicatos de trabalhadores das outras unidades

da divisão de Higiene e Beleza (HPC). O comunicado da Empresa falava em 340

trabalhadores “afetados diretamente”. A Companhia oferecia um pacote de benefícios além

do que prevê a lei brasileira nesses casos. O pacote de benefícios era extensivo aos

funcionários transferidos, que poderia chegar a 30%. A Empresa informava que a completa

transferência das operações teria a duração de aproximadamente 12 meses, finalizada,

portanto, em maio de 2004.

O comunicado oficial da Empresa, assinado por Vinicius Prianti, informa que

problemas relativos a "ganho de escala" e ao "investimento tecnológico" motivaram a

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decisão da Empresa em optar pelo seu fechamento. Ganhos de economia de escala serão

obtidos com a transferência da produção do sabão em pó para a unidade de Indaiatuba – SP,

informação confirmada por dirigentes sindicais. Ainda segundo eles, a UNILEVER teria

optado por aumentar os investimentos em tecnologia e automação na unidade de Indaiatuba.

Executivos da UNILEVER prometeram compensar o Estado de Minas Gerais investindo em

outras unidades.

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4 UNILEVER - UNIDADE VINHEDO

A fábrica de Vinhedo (SP) foi inaugurada em 1978, para atender às demandas do

aumento de produção da linha de higiene pessoal da UNILEVER, antiga Divisão Elida

Gibbs. Em 2002, as linhas de desodorante spray, que combinam apenas a mistura de álcool,

água e perfume, sem muito valor agregado, foram transferidas para a fábrica de Recife.

No momento da pesquisa, havia nesta unidade 808 trabalhadores: 765 contratados

por tempo indeterminado, pertencentes, basicamente, aos setores produtivo e administrativo,

e 43 empregados contratados por tempo determinado.

Além destes funcionários, vinculados diretamente à empresa, trabalham, também

nesta unidade, 319 trabalhadores terceirizados que estão alocados nos setores de serviços

gerais, mecânica, manutenção, engenharia, transporte, pintura, produção, segurança

patrimonial, serviços, recepção, cópias, TPM (Total Productive Maintenance) e na

Sinimplast, uma fábrica localizada no interior desta planta da UNILEVER, que produz todas

as embalagens plásticas, utilizadas pelos produtos ali fabricados.

Os trabalhadores da unidade em Vinhedo da UNILEVER são representados pelo

Sindicato dos Trabalhadores Químicos e Abrasivos de Vinhedo e Região, que é filiado à

Confederação dos Químicos e à CUT. Do total de 810 trabalhadores desta unidade,

aproximadamente, 580 estão alocados na área de produção, e mais de 50% são

sindicalizados, índice considerado alto entre as fábricas da região.

Deste universo, foram pesquisados 147 trabalhadores distribuídos nos três turnos.

As entrevistas foram realizadas com questionários padronizados e cujos resultados estão

expostos nas próximas seções.

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4.1 DIREITOS TRABALHISTAS E AMBIENTAIS: RESULTADOS DA PESQUISA

4.1.1 Liberdade Sindical

Segundo a UNILEVER, existe um sistema de comunicação interno para interagir

com os trabalhadores, que é composto por reuniões de diferentes grupos e áreas, um jornal

eletrônico, um jornal sobre Meio Ambiente e quadros de aviso. Esse sistema de informação

não está estruturado da mesma forma em todas as unidades produtivas, embora esteja

organizado na maioria delas. É preciso ressaltar que não houve negociação sindical na

construção desse sistema e a participação dos dirigentes sindicais é muito restrita, o que

poderia explicar a percepção dos trabalhadores de que este seria um instrumento utilizado

pela empresa para afastar ou enfraquecer a presença do sindicato.

Em Vinhedo, as características regionais e econômicas e a forma de atuação do

sindicato local (52% de filiação) influenciam as relações de trabalho daquela fábrica.

De maneira geral, segundo depoimentos entrevistados, a empresa tenta evitar a

interação entre os empregados e o sindicato. Para 30% destes, a UNILEVER dificulta a

participaçãodos trabalhadores em atividades sindicais, principalmente, através de

recomendações contrárias ao envolvimento destes em assembléias e manifestações. Foram

citadas, também, outras formas de pressões diretas - como ameaças de demissão e críticas à

organização sindical-, ou indiretas (a possibilidade de mudança da fábrica para outro

município ou por meio da não promoção na carreira de trabalhadores envolvidos com o

sindicato).

Alguns entrevistados relataram que, quando a empresa está em negociação com o

sindicato, os gerentes e os chefes convocam os funcionários para pequenas reuniões para

falar da conjuntura social, da dificuldade existente no mercado de trabalho, da situação

delicada da empresa, do baixo padrão de benefícios de outras empresas, lembrando da

responsabilidade dos funcionários em relação às suas famílias e insinuando que suas

atitudes poderiam prejudicar seu emprego.

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Nesta unidade, não há uma comissão de fábrica constituída. Os dirigentes sindicais

têm acesso ao local de trabalho, mas com restrição ao trabalho sindical. Ou seja, as

atividades sindicais, como assembléias e reuniões,só podem ser realizadas fora da empresa e

o uso do mural de avisos não é livre.

Nas entrevistas com dirigentes sindicais de outras unidades da UNILEVER, em

que há um tipo de ação sindical semelhante à existente em Vinhedo, verificaram-se os

mesmos problemas.

4.1.2 Negociação Coletiva

As negociações entre UNILEVER e os sindicatos variam, em cada unidade, de

acordo com alguns fatores: atuação do sindicato, data base e se a empresa está filiada ao

sindicato patronal da localidade.

Em Vinhedo, pelo fato de o sindicato ser bem atuante, os entrevistados

consideram que este obtém, geralmente, acordos mais favoráveis aos trabalhadores. O piso

salarial desta unidade é de R$ 407,00 (valor referente a novembro de 2002) e a jornada de

trabalho é de três turnos, de oito horas cada.

Nesta fábrica podemos elencar alguns benefícios, acordados com a empresa:

- regime de horas extras (sindicato negociou a não implantação do banco de

horas);

- Programa de Participação nos Resultados (PPR);

- serviço de saúde;

- assistência médica (convênio com a Unimed);

- convênio odontológico;

- seguro de vida em grupo;

- assistência funeral familiar;

- previdência privada; e

- transporte.

Na unidade de Vinhedo, o restaurante é administrado pela própria UNILEVER. O

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refeitório possui sistema self-service, que oferece refeições para funcionários, terceiros,

estagiários e visitantes. Além disso, serve desjejum para os horistas entre 5h40 e 6hda

manhã, e à tarde, para os horistas que ficam trabalhando em regime de horas extras.

Todas as áreas de trabalho possuem máquinas automáticas que disponibilizam

café, chá, chocolate e leite.

Em relação ao pagamento do PPR, a UNILEVER tem uma política que visa

incentivar e estimular os funcionários horistas e mensalistas a alcançarem metas definidas

pela empresa. Isto é estimulado por meio do pagamento de uma remuneração variável, de 0

a 1,2 salários, dependendo do nível de atendimento dos resultados. As metas da empresa se

dividem em três partes: Nível I - Meta da Divisão com peso de 30%; Nível II – Meta da

fábrica com peso de 30%; Nível III – Meta da área/departamento com peso de 40%.

O Sindicato de Vinhedo reivindicou para os trabalhadores, dessa unidade da

UNILEVER, um prêmio de natureza monetária, proporcional aos ganhos produtivos da

empresa, oriundos do método de gestão - chamado TPM. Os representantes sindicais

consideram que as citadas metas provocam danos aos trabalhadores devido ao aumento

excessivo de horas extras, elevação no índice de doenças ocupacionais e no nível de stress.

A empresa considera o TPM como um processo contínuo de capacitação pessoal para o

trabalhador, com efeito positivo para este, pois estaria preparando-o melhor para o mercado,

caso venha a ser demitido.

Após as árduas negociações, concluídas em dezembro de 2002, – durante as quais

essa unidade de Vinhedo chegou a ficar em estado de greve por alguns dias durante o mês

de novembro –, o sindicato conseguiu um ganho adicional ao PPR no valor de R$ 570,00,

que não foi reconhecido pela empresa como prêmio do TPM.

4.1.3 Discriminação de Gênero e Raça

Na unidade de Vinhedo, a distribuição de trabalhadores por sexo é de 83% de

homens e 17% de mulheres, índices que se aproximam aos verificados no setor da indústria,

na Região Metropolitana de São Paulo.

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Nesta unidade, a maioria das mulheres está concentrada na área administrativa.

Dos 54 gerentes da fábrica, 18 são do sexo feminino, representando 33% do total. Este

percentual é superior ao da participação de mulheres no total de atividades da empresa, cujo

índice é de aproximadamente 17%. Este dado indica que não haveria limites à participação

das mulheres, nos postos de trabalho, em cargos de chefia, nesta planta produtiva.

No entanto, é importante destacar que há uma diferença entre a percepção dos

homens e das mulheres quanto às oportunidades e condições destas últimas para progredir

no emprego. Apenas 10% dos homens acreditam que as condições sejam piores para as

mulheres. Quando consideradas apenas as respostas das trabalhadoras, verifica-se que 38%

delas definem que suas possibilidades de ascensão profissional são piores que a dos homens.

Estes números indicam que, no grupo que sofre o constrangimento da

discriminação, a percepção sobre oportunidades identifica piores condições, que naqueles

que não sentem esse problema.

A situação de discriminação reflete-se na pergunta sobre a presença de mulheres

em cargos de chefia na empresa: independente de ser homem ou mulher, nesta unidade,

quase 62% dos entrevistados responderam que há poucas mulheres ou nenhuma delas

ocupando estes postos de trabalho.

Nesta unidade, segundo a empresa, a distribuição racial seria: 1% de trabalhadores

negros, 7% de pardos e 91% de brancos. Na pesquisa, o resultado obtido a partir dos

questionários, nos quais utilizou-se o critério da a autoclassificação, foi o seguinte: 1%

declararam-se negros, 11%, pardos; 1%, amarelos; e 81%, brancos.3

3 A diferença para 100% refere-se à situação ignorada ou não respondida.

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5 UNILEVER - UNIDADE VESPASIANO

A unidade de Vespasiano (MG), juntamente com a de Indaiatuba, foi construída

em 1989 para produzir detergente em pó. Sua inauguração, no entanto, aconteceu somente

em 1994. A planta fica próxima à cidade de Belo Horizonte. Em 1995, a unidade

automatizou o processo de embalagem, ampliando sua capacidade produtiva.

Em Vespasiano, trabalham 394 pessoas, das quais cerca de 350 estão empregados

na produção, 30, no setor administrativo e 14 são estagiários. A maioria tem vínculo

empregatício, embora uma pequena parcela trabalhe em regime temporário. Algumas

atividades da empresa são terceirizadas: distribuição (sob responsabilidade da Excel) que

inclui logística e transporte, mecânica, recepção, alimentação, jardinagem e segurança

patrimonial.

Os trabalhadores da fábrica de Vespasiano são representados pelo Sindicato dos

Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Plásticas e Farmacêuticas de Belo Horizonte e

Região. Diferentemente da realidade encontrada em Vinhedo, o índice de sindicalização

nesta unidade é próximo a zero, pois apenas três dos 394 trabalhadores são sindicalizados.

Nesta planta, foram entrevistados 95 trabalhadores, utilizando-se o mesmo

questionário aplicado em Vinhedo. A seguir serão apresentados os resultados destas

entrevistas.

5.1 DIREITOS TRABALHISTAS E AMBIENTAIS: RESULTADOS DA PESQUISA

5.1.1 Liberdade Sindical

Em Vespasiano, de modo geral, os trabalhadores consideram que a empresa não

ajuda nem se opõe à sua participação em atividades sindicais. Contudo, a maior parte dos

entrevistados considera a atuação dos dirigentes sindicais, nesta unidade, pouco significativa

e, não associa as possíveis conquistas trabalhistas ao esforço desenvolvido pelo sindicato.

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A localização do sindicato, na cidade de Contagem, é entendida como um

elemento que dificulta a interação sindicato-trabalhador, pela distância existente e a pouca

comunicação do primeiro com sua base.

5.1.2 Negociação Coletiva

A UNILEVER adota três turnos, fixos ou rotativos, de oito horas em todas as

unidades de maior produção. As fábricas que adotam os turnos fixos dão dois dias de folga

determinados para os trabalhadores, sendo um deles o domingo. No domingo e em feriados,

as plantas produtivas que seguem esse esquema ficam fechadas , salvo em períodos de forte

produção. Em unidades de produção menor há apenas dois turnos de oito horas, com folgas

para os trabalhadores nos finais de semana e feriados.

O esquema de turnos rotativos é ininterrupto, ou seja, não há descanso aos

domingos e em feriados. Adotado em algumas unidades, como a de Igarassú (PE), os

trabalhadores não têm dias pré-fixados para suas folgas, mas as fazem de acordo com o

descanso obrigatório, após as 44 horas semanais trabalhadas, carga de trabalho máxima

permitida em lei.

A UNILEVER pretende estabelecer a harmonização dos turnos fixos, como já

ocorreu em Vespasiano. Nesta unidade, a escolha dos trabalhadores para os turnos foi

estabelecida por alguns critérios: livre escolha de cada trabalhador; as mulheres e os homens

casados com filhos tiveram preferência para o turno da manhã; enquanto, para o turno da

noite, tiveram preferência os solteiros.

Alguns dos trabalhadores entrevistados disseram ter escolhido o turno da noite por

terem mais autonomia em relação à administração da empresa, a qual funciona no horário

das 8 às 17h, além do estímulo por receber um valor adicional no salário.

O diretor de Recursos Humanos (RH) da unidade de Vepasiano relatou que, desde

que os turnos foram modificados para o esquema fixo, uma vez por semana uma pessoa da

área de Recursos Humanos é disponibilizada no turno da noite para resolver problemas dos

trabalhadores.

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De acordo com informações fornecidas pela empresa, a planta de Vespasiano

trabalhava com cinco turmas. A partir de 2001, passou para três turnos, o que gerou uma

diminuição no número de folgas. Com a reestruturação do regime em 2002, houve redução

de um dia de trabalho por semana, com parada no domingo. Às terças, quartas e quintas-

feiras não há folgas, há, então, um pequeno excedente de trabalhadores na fábrica, por isto

são dias aproveitados para a realização de reuniões e treinamentos.

Os trabalhadores da área produtiva têm apenas 30 minutos para as refeições

(tempo estabelecido em acordo) que são realizadas no refeitório da própria empresa,

enquanto os horistas têm uma hora.

Nesta unidade, os trabalhadores recebem basicamente os mesmos benefícios da

planta de Vinhedo:

- Programa de Participação nos Resultados (PPR): deve-se destacar que esta

unidade também obteve o ganho adicional ao PPR (no valor de R$ 570,00), resultante das

negociações feitas pelo Sindicato de Vinhedo, no final de 20024;

- serviço de saúde: programa de controle médico de saúde ocupacional, estudos

ergonômicos dos postos de trabalho, higiene ocupacional nos setores produtivos e

escritórios, serviço assistencial emergencial, atendimento a acidentes do trabalho, exames

médicos ocupacionais, testes ocupacionais, atendimento e orientação nos acidentes

domésticos, administração do plano de assistência médica e treinamento de educação e

saúde;

- assistência médica: convênio com a Unimed a todos os funcionários e

respectivos dependentes;

- convênio odontológico: a UNILEVER mantém um consultório dentro da fábrica

para atendimento de seus funcionários. Os dependentes são atendidos em consultórios fora

da unidade. O custo desse benefício é arcado pela empresa;

- seguro de vida em grupo para todos os funcionários: o valor do seguro é igual a

24 vezes o salário, base para morte natural, e 48 vezes, no caso de morte acidental. Cada

4 Não é possível afirmar que este adicional tenha sido pago a todas as unidades no Brasil.

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funcionário contribui com 0,288% de seu salário mensal;

- assistência funeral familiar: propicia aos beneficiários, em caso de falecimento

do segurado titular, cônjuge e filhos dependentes, economicamente menores de 24 anos, um

auxílio e prestação de serviços relativos ao funeral;

- previdência privada: é um plano destinado à complementação do benefício de

aposentadoria do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), com a participação do

funcionário e a contra-partida da empresa idêntica à essa contribuição. Também oferece:

benefício mínimo, pensão por morte e pensão por invalidez.;

- transporte: a UNILEVER mantém contratos com empresas terceirizadas, em

cada unidade produtiva, para a prestação do serviço de transporte, com vários itinerários

para cada turno, em direção às cidades da região, das quais provêm os trabalhadores.

As diferenças em relação à unidade de Vinhedo referem-se a dois pontos:

implantação, na unidade de Vespasiano, do Banco de Horas e de refeitório terceirizado.

Neste último caso, deve-se ressaltar que, em todas as unidades produtivas no

Brasil, a UNILEVER mantém um refeitório administrado por uma mesma empresa

terceirizada.

5.1.3 Discriminação de Gênero e Raça

Em fevereiro de 2003, de acordo com a lista fornecida pela empresa, havia nesta

unidade 372 trabalhadores, dos quais 5% eram mulheres, ou seja, 18 trabalhadoras. A

grande maioria destas funcionárias (14) trabalhava na área administrativa. Em Vespasiano

(MG), a porcentagem de mulheres trabalhadoras é menor que a porcentagem de mulheres na

indústria na RM, de Belo Horizonte. Dos entrevistados, 53% afirmaram que, nesta unidade

da UNILEVER, poucas mulheres estariam em cargo de chefia.

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Segundo informações fornecidas pela empresa, na fábrica de Vespasiano, 7% dos

trabalhadores são negros, 25% são pardos, 0,3% são amarelos e 60% são brancos. No

entanto, quando aplicado o questionário em que este item era determinado por

autoclassificação, encontrou-se a seguinte distribuição: 10% são negros; 40%, pardos; 6%,

amarelos; e 37%, brancos.

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6 SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO

Em relação aos temas de Saúde e Segurança e Meio Ambiente, a UNILEVER tem

políticas bastante definidas, conhecidas pelos trabalhadores, sobretudo por meio de

treinamentos realizados no período de trabalho e atualizados periodicamente. Tais políticas

são adotadas de forma homogênea pela empresa em todas as suas unidades.

As informações repassadas nestes treinamentos são, geralmente, sobre os

Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a Análise de Risco de Tarefa (ART).

Freqüentemente, há um responsável pela disseminação da informação nos grupos de

trabalho, que informa como os trabalhadores devem proceder em caso de acidente.

Quando ocorre algum acidente, há uma reunião para explicar a falha que causou o

problema. Esta postura resulta da preocupação com a contenção de acidentes, tema

apontado como uma das prioridades da empresa. Além disto, há quadros de aviso, colocados

em lugares estratégicos nas fábricas para divulgação das informações, e e-mail

compartilhado, ao qual todos os trabalhadores têm acesso.

Todas as unidades da UNILEVER na América Latina adotam o Sistema

Internacional de Avaliação de Segurança (SIAS), e têm auditorias oficiais, realizadas

periodicamente.

Assim sendo, a análise dos resultados, nas unidades de Vinhedo e Vespasiano, foi

realizada conjuntamente, já que, de acordo com as informações fornecidas por diretores e

gerentes do SHE (Safety, Health and the Environment) no Brasil – área da UNILEVER

responsável pelas questões relacionadas aos temas de Saúde, Segurança e Meio Ambiente –

,a empresa adota para esses temas uma política uniforme em todas as unidades. Tal situação

reflete-se na homogeneidade dos resultados obtidos nas duas unidades pesquisadas.

Mais de 83% dos trabalhadores, que responderam à pesquisa nas unidades de

Vespasiano e Vinhedo, indicaram ter recebido treinamento sobre saúde e segurança de

forma clara e com linguagem acessível. 97% dos entrevistados responderam que a

UNILEVER disponibiliza EPIs em quantidade suficiente para atender a todos os

trabalhadores e 95% disseram usar sempre os equipamentos, afirmando que a não utilização

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destes implica punição e, até mesmo, advertência por parte da empresa.

Dos trabalhadores entrevistados 86% acreditam estar bem informados acerca dos

riscos de doenças e acidentes no local de trabalho. Em contrapartida, houve trabalhadores

que reclamaram da falta de conhecimento do processo em sua totalidade, partindo da

realidade de cada unidade. Para tanto, foi apontada a necessidade de abertura de espaço para

os alertas dos trabalhadores da produção, durante os treinamentos, fato que ainda não

acontece, segundo os entrevistados.

Além disso, houve reclamações de que, muitas vezes pela rapidez da produção,

principalmente no final da linha, é difícil aplicar na prática as orientações teóricas, como por

exemplo, adotar as posturas mais adequadas para trabalhar, evitando problemas de saúde.

A empresa tem políticas bastante definidas no que concerne ao quesito Saúde e

Segurança, que parecem ser claramente conhecidas pelos trabalhadores. No entanto, isto não

impede que os trabalhadores sofram problemas de saúde, decorrentes da atividade que

desenvolvem e das condições físicas e psicológicas dos postos de trabalho.

Dos trabalhadores da UNILEVER nas duas unidades pesquisadas, 53% avaliaram

que as condições físicas nos postos de trabalho não são ideais; 14% as consideram

inadequadas e 40%, pouco adequadas. As principais reclamações quanto à inadequação das

condições físicas nos postos de trabalho foram: a posição das bancadas, que faz com que o

funcionário tenha que se locomover muito; a repetição de movimentos; a necessidade de

carregar material pesado; o uso de cadeiras inadequadas; muitas horas ininterruptas de

atividades na posição de pé.

A avaliação feita pelos trabalhadores da UNILEVER, na unidade de Vespasiano,

resultou no seguinte quadro: 42% consideram que as condições físicas nos postos de

trabalho não são ideais; destes6% as consideram inadequadas e 35%, pouco adequadas.

Na unidade de Vinhedo, 61% consideram que as condições físicas nos postos de

trabalho não são ideais, destes 18% as consideram inadequadas e 42% pouco adequadas. A

ginástica laboral, realizada 10 minutos antes de começar o trabalho, foi citada como uma

melhoria introduzida. Por outro lado, foi indicado que, quando o ritmo da produção está

muito intenso, essa pausa para a ginástica não é realizada.

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Fazendo-se uma média entre as respostas das duas unidades, tem-se o seguinte

resultado: 54% avaliam de maneira negativa as condições físicas nos postos de trabalho,

14% destes as consideram inadequadas e 40%, pouco adequadas.

Considerando a média das duas unidades pesquisadas, 60% dos trabalhadores

apontam como regular ou ruim as condições de temperatura, 62% fizeram a mesma

avaliação para as condições de ventilação, e ambas estão, freqüentemente, associadas.

A reclamação mais comum foi a falta de equilíbrio na temperatura do ambiente,

muito calor nas estações climáticas mais quentes e muito frio nas épocas de temperaturas

mais baixas. Deve-se frisar, contudo, que o calor foi identificado como o problema que gera

maior insatisfação aos trabalhadores.

Os funcionários apontaram como fatores que contribuem para uma temperatura

ambiente desequilibrada: a construção inadequada para o tipo de trabalho (a área de

produção muito próxima ao teto, máquinas muito próximas umas das outras), a quantidade

insuficiente de exaustores e ventiladores e a ausência de mecanismos para a circulação de

ar. Houve a sugestão do uso de uniformes mais leves, que poderia melhorar as condições de

trabalho.

Em Vinhedo, as condições de temperatura e ventilação foram identificadas como

ruins ou regulares por mais de 72% dos trabalhadores da área de produção. Por conta do

aumento da produção, houve, recentemente, ampliação desta fábrica. No entanto, os

entrevistados afirmam que, mesmo o espaço ampliado não apresenta todas as condições

apropriadas, principalmente, no que diz respeito à ventilação. Foi relatado que, nos

primeiros dias de funcionamento desta área, não havia bebedouros, e houve o caso de uma

trabalhadora que passou mal devido à alta temperatura e à falta de ventilação. Após muitas

reclamações e a parada de algumas linhas para reivindicação de melhorias, a empresa

atendeu a algumas demandas, instalou bebedouros de água e permitiu a abertura das portas

do “barracão” em dias muito quentes. Estas mudanças são consideradas insuficientes pelos

trabalhadores.

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Em Vespasiano, a avaliação é mais positiva. De modo geral, os trabalhadores

consideram boas as condições de trabalho no que se refere ao item temperatura. A soma de

respostas das categorias bom e ótimo chega a quase 60%.

No total da amostra pesquisada, o ruído foi avaliado por 58% dos trabalhadores

como ruim ou regular. O nível excessivo de ruído, mesmo com o uso do protetor auricular,

foi associado, principalmente, à falta de enclausuramento das máquinas - algumas bastante

antigas. De acordo com o relato de um sindicalista, este mesmo problema ocorre na unidade

de Mogi Guaçu (SP), onde já foi feita uma perícia pelo Ministério do Trabalho e Emprego,

que considerou o local insalubre por conta do nível de barulho.

Na unidade de Vinhedo, mais de 60% consideram a condição do ruído regular ou

péssima. O alto nível de ruído foi relacionado ao fato de as máquinas serem muito antigas.

Também foi indicada a falta de peça silenciadora no sistema de ar. O barulho é considerado

excessivo, principalmente nas áreas próximas às bombas de fabricação, mesmo com o uso

do protetor auricular.

Dos problemas de saúde mais freqüentes, a Lesão por Esforço

Repetitivo/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) aparece

como o mais apontado; 61% dos trabalhadores citaram esta doença como uma das mais

freqüentes em seu setor de trabalho; em segundo lugar, estão as doenças relacionadas ao

ritmo intenso de trabalho (como stress e depressão) com 42%. Esta porcentagem é a média

entre as respostas obtidas nas duas unidades.

Em reunião com sindicalistas, que representam diferentes unidades da

UNILEVER no Brasil5, o alto índice de casos de LER/DORT foi apontado como um

problema recorrente, em diferentes setores de atuação. Além disso, esse problema seria

agravado pela falta de abertura de Comunicação de Acidente do Trabalho (CATs) por parte

da empresa, mesmo em situações em que estas eram necessárias.

5 Vinhedo (SP), Mogi Guaçu (SP), Garanhuns (PE), Igarassú (PE), Goiânia (GO) e São Paulo (SP).

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No que se refere ao item doenças, há diferenças entre as duas unidades analisadas

(ver Tabela 2). Em Vespasiano, o problema de saúde, citado com mais freqüência, foi o das

doenças relacionadas ao esforço físico no ambiente de trabalho (42%); em seguida, as

doenças relacionadas ao ritmo intenso de trabalho com 37% e, depois a LER (35%).

GRÁFICO 1 – MÉDIA DAS DOENÇAS MAIS FREQÜENTES NAS UNIDADES VALINHOS E VESPASIANO DA UNILEVER

Elaboração Observatório Social, 2003.

Nesta fábrica, as atividades, que geram mais problemas de coluna e LER/DORT,

são a etiquetagem e o empacotamento manual. Alguns trabalhadores informaram que os

chamados curingas – trabalhadores sem função fixa - estão mais sujeitos a problemas de

saúde por estar envolvidos em diferentes tipos de atividades e em turnos diferentes, e não

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gozam das mesmas proteções de um trabalhador que se dedica a apenas uma função.

Também foram citados problemas como rinite e doenças respiratórias, em decorrência da

aspiração de substâncias químicas e do pó do sabão, produzido na fábrica.

Em geral, as atividades, que geram mais problemas de coluna e LER/DORT,

foram identificadas com as realizadas manualmente. O final das linhas de produção de

Vinhedo é composto, em geral, por esse tipo de atividade. Nesta unidade, as doenças

indicadas como mais freqüentes no setor de trabalho foram aquelas relacionadas a LER,

78% dos trabalhadores apontaram essa alternativa como resposta.

TABELA 4 – DOENÇAS MAIS FREQÜENTES NAS DUAS UNIDADES DA UNILEVER DOENÇAS RELACIONADAS COM VESPASIANO VINHEDO Total N % N % N % Lesões por Esforço Repetitivo – LER 34 35.4 114 77.6 148 60.9 Ritmo intenso de trabalho 35 36.5 66 44.9 101 41.6 Esforço físico no ambiente de trabalho 40 41.7 36 24.5 76 31.3 Não respondeu 14 14.6 5 3.4 19 7.8 Outras 12 12.5 5 3.4 17 7 Ruído no ambiente de trabalho 2 2.1 11 7.5 13 5.3 Condições climáticas no local de trabalho 4 4.2 8 5.4 12 4.9 Inalações de gás e outros produtos 7 7.3 3 2 10 4.1 Total 96 147 243 Fonte: Observatório Social - 2003 Elaboração Observatório Social - 2003

Além disso, a intensificação do trabalho tem causado muitos problemas de saúde

aos trabalhadores, tais como tendinite e LER/DORT, provocados pelo tipo de trabalho e

pela velocidade das máquinas. Esse é um problema generalizado nas linhas de produção das

unidades de Vinhedo e Patos de Minas (MG), de acordo com o relato de sindicalistas.

Doenças relacionadas ao esforço físico no ambiente de trabalho também foram bastante

citadas, com 25% de freqüência.

Os entrevistados informaram que, o ritmo da produção não é reduzido e as metas

produtivas mantêm-se, mesmo com a ausência de algum trabalhador na célula de produção,

havendo com isso sobrecarga de trabalho. Este fato também explica porque cerca de 45%

dos entrevistados indicaram que doenças relacionadas com o ritmo intenso de trabalho –

distúrbios emocionais, depressão, stress – são as mais freqüentes no seu setor. Estes

problemas de saúde são comumente associados ao alto nível de cobrança e exigência,

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exercido pela chefia sobre os trabalhadores, e, também, à competição entre os próprios

funcionários de um mesmo grupo de trabalho.

Quando há necessidade de afastamento, o trabalhador procura ficar o mínimo de

dias possíveis fora, pois quanto mais prolongada for a sua ausência, maior será a

possibilidade de perda de seu lugar no grupo e, conseqüentemente, ficará numa situação na

qual sua função torna-se indefinida (por exemplo, cobrindo folgas e faltas).

A UNILEVER diz seguir os laudos médicos e os nexos causais. No entanto,

entende que pode demitir funcionários lesionados, quando os médicos da empresa não

comprovam que a doença do trabalhador está diretamente vinculada à atividade exercida

dentro da fábrica.

De acordo com o relato de um dirigente sindical, a UNILEVER nunca entregou

cópia de CAT para o Sindicato que representa os trabalhadores da unidade de Vinhedo,

mesmo sendo legalmente obrigatório. A empresa alega que isto ocorre por falta de cobrança

por parte dos dirigentes sindicais.

A reivindicação mais freqüente entre os trabalhadores, além de melhores salários,

é a redução do ritmo intenso do trabalho para o alcance das metas de produção, pois este

estaria gerando forte fadiga, dores generalizadas no corpo e muito stress.

O stress também está associado, segundo os relatos colhidos, à sensação de

insegurança, gerada pela falta de informações sobre o futuro de algumas unidades e linhas

de produção, em conseqüência do processo de reestruturação da empresa, como é o caso das

unidades de Garanhuns (PE), da UNILEVER Bestfoods de Valinhos (SP) e Patos de Minas

(MG).

Nas entrevistas realizadas com os trabalhadores das unidades de Vinhedo e

Vespasiano, essa insegurança em relação ao futuro também foi identificada a partir de

alguns discursos.

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7 MEIO AMBIENTE

A UNILEVER apresenta um Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA), que tem o

objetivo de identificar os aspectos ambientais relacionados às suas operações e desenvolver

programas de gerenciamento ambiental (PGA), para minimizar os respectivos impactos

ambientais gerados. Como parte da estratégia global “O Caminho para o Crescimento”,

também foi lançada uma estratégia ambiental, cujo objetivo é compatibilizar as atividades

da UNILEVER com o desenvolvimento sustentável, com foco nas áreas de agricultura,

peixes e água.

Pelas mesmas razões apontadas no item Saúde e Segurança, a UNILEVER adota

uma política uniforme em todas as unidades no tema Meio Ambiente. A homogeneidade dos

resultados permitiu uma análise conjunta das unidades de Vinhedo (SP) e Vespasiano (MG).

Pouco mais de 96% dos trabalhadores pesquisados responderam ter conhecimento do

programa de gestão ambiental da Empresa, enquanto que 80% consideram-se bastante

informados (bem informado + muito bem informado) sobre os impactos da atividade da

Empresa no meio ambiente.

Em Vinhedo (SP), há um gráfico, que mostra o tratamento dos resíduos gerados,

sobretudo os relacionados à água – a grande preocupação é com a poluição da lagoa que fica

dentro da área da Empresa. Em cada linha, há uma tabela com o tipo de lixo gerado para

fazer a coleta seletiva, que é considerada a principal atividade ambiental, pela maioria dos

entrevistados nessa unidade. Essa prática não ocorre somente em Vinhedo (SP), mas em

ambas as unidades pesquisadas. O forte investimento da UNILEVER em marketing

ambiental foi identificado por alguns trabalhadores, que consideram esse um forte elemento

para a imagem da Companhia.

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8 RESPONSABILIDADE SOCIAL

Em 2001, foi criada a gerência de Responsabilidade Social sob a coordenação da

Diretoria de Assuntos Corporativos. Um dos objetivos, de acordo com o site oficial da

Empresa, é adotar em todas as unidades os mesmos padrões para doenças ocupacionais e

segurança, segurança do consumidor e cuidados ambientais. A UNILEVER mundial

publica, desde 2001 (referente ao ano de 2000), o chamado Social Review, uma espécie de

Balanço Social da Empresa. Além disso, também publica um relatório ambiental

denominado de Environmental Performance Summary Report, cujo volume de 2002 está

disponível no website da Companhia, em inglês. No Brasil, a Empresa mantém um

relacionamento com o Instituto Ethos.

Em maio de 2002, a Empresa lançou o Instituto UNILEVER, associação de

caráter assistencial e educativo, o qual tem, também, o intuito de consolidar a marca

UNILEVER no Brasil e centralizar as iniciativas de natureza “social”.

Uma iniciativa da Empresa, relacionada ao tema “Responsabilidade Social”, é a

sua adesão ao Global Compact – uma iniciativa do Secretário-Geral da ONU para a

promoção dos direitos humanos, trabalho e meio ambiente. O Global Compact é um

compromisso de cooperação internacional para o seguimento de nove princípios de

cidadania empresarial.

Muitas ações caracterizam-se mais por marketing social do que por

Responsabilidade Social Empresarial. A variedade, o caráter e o escopo desses projetos são

muito diferentes, a ponto de ser difícil encontrar, através deles, o conceito de RSE,

sustentado pela empresa. Por fim, há um traço de voluntarismo exacerbado nas ações da

Empresa, não se percebe iniciativas que trabalhem parcerias com entidades e/ou

interlocutores em um modelo de rede de relacionamentos com outros atores, que não sejam

aqueles diretamente beneficiados pela UNILEVER.

Ainda no âmbito da Responsabilidade Social Corporativa, há a questão da relação

entre a UNILEVER e os fornecedores, dentro da relação entre a Empresa e os chamados

stakeholders.

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A empresa oferece treinamento aos trabalhadores quando estes vão ocupar novas

funções ou exercer suas atividades de trabalho em novas máquinas. Além deste treinamento

de caráter profissional, a empresa apresentou dois projetos relacionados à educação de seus

funcionários:

- Projeto Educare: esteve em atividade de outubro de 1995 a dezembro de 1999, na

unidade de Vinhedo, e teve por objetivo possibilitar o acesso dos trabalhadores dessa fábrica

ao 1º e 2º graus . Em 1997, esse projeto recebeu do Ministério da Educação e Cultura

(MEC) o prêmio Educação para a qualidade do trabalho – destinado aos melhores projetos

educacionais de empresas. Atualmente, 95% dos funcionários desta planta possuem o 2º

grau completo, segundo dados da própria UNILEVER.

- Projeto Aprender: desenvolvido pela unidade da Kibon, em São Paulo, com o

objetivo de erradicar a baixa escolaridade entre os seus funcionários.

Há, claramente, uma tendência à melhoria da escolaridade entre os trabalhadores

da UNILEVER, seja pela política de admissão ou pelos programas educacionais,

promovidos pela empresa. Esta melhora nos índices de escolaridade está ligada às suas

necessidades atuais, especialmente com a maior automatização da linha de produção que,

conseqüentemente, demanda um trabalhador mais qualificado.

Em algumas unidades, como a de Vinhedo, percebe-se um processo de

automatização que, embora provoque redução no número de trabalhadores, possui o aspecto

positivo de diminuir a distância entre as atividades consideradas pesadas - masculinas por

excelência -, e aquelas, classificadas como leves. Nas fábricas, consideradas de padrão

mundial (pelos níveis de produtividade e por variáveis como exportação, etc.), essa

tendência deve continuar. Nas fábricas de trabalho intensivo, o processo tenderá a ser mais

lento.

Dentre as unidades da empresa a apresentar a certificação ISO14001 estão: na

divisão HPC, as unidades de Vinhedo, Indaiatuba, Valinhos, todas em São Paulo; na divisão

Bestfoods, a unidade de margarinas de Valinhos.

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9 CONCLUSÕES GERAIS

A UNILEVER está passando pela maior reestruturação de sua história, processo

que deve se encerrar ao final de 2004, quando muitas fábricas serão fechadas, demissões

terão ocorrido. Mas em contrapartida, a empresa espera ter de volta a rentabilidade perdida e

o seu valor de mercado recuperado.

Pode-se caracterizar a reestruturação da UNILEVER, no que diz respeito às

relações de trabalho, em três grandes mudanças:

1. Uma reestruturação geral dos negócios, com foco centrado em marcas e

produtos globais, que orienta a realocação produtiva de fábricas em países/regiões. Na

América Latina, o Brasil se destaca pelo tamanho de seu mercado doméstico e pelo

dinamismo de sua economia, que produziu crescimento substantivo nas áreas de Alimentos

e de Higiene e Beleza, principalmente, depois do plano Real, em 1994.

Com a compra da Bestfoods, a divisão de Alimentos da UNILEVER sofreu uma

reestruturação mais profunda, que ainda não terminou. Provavelmente, depois que o CADE

julgar o caso e, dependendo de sua decisão, a UNILEVER conclua esse processo.

2. Um processo constante e não linear de automação dos sistemas produtivos,

com a redução significativa do emprego e o aumento da produtividade entre as divisões da

UNILEVER. Neste caso, os produtos de maior valor agregado passam a ser gerados em

fábricas intensivas em capital e os produtos commodizados ficam naquelas, ainda, intensivas

em trabalho.

Nas unidades intensivas em trabalho, surgem com mais evidências os problemas

relativos às doenças profissionais, reclamações quanto às funções que necessitam de muito

esforço físico (força). Esse tipo de problema acaba se relacionando com outras questões do

universo fabril, como o papel e a posição da mulher no processo da manufatura, aspectos da

promoção de mulheres e negros aos cargos de chefia, entre outros. Processos produtivos

intensivos em trabalho acabam justificando posições discriminatórias como a que defende a

impossibilidade da formação de um núcleo só de mulheres, devido ao uso da força bruta

para operar máquinas e finalizar a produção manualmente.

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3. Uma mudança qualitativa no ambiente corporativo das grandes empresas

multinacionais, no que se refere ao seu papel no âmbito da chamada Responsabilidade

Social Empresarial ou Corporativa. Pouco a pouco, essas empresas vão definindo a forma

como esse tema vai sendo incorporado ao seu gerenciamento.

Na pesquisa, os sinais desse processo foram percebidos na relação da empresa

com seus fornecedores. A idéia é mostrar que a UNILEVER está comprometida direta ou

indiretamente com a cadeia produtiva, que se organiza em torno de uma marca e/ou produto

final.

Diferentemente do, declarado no Código de Conduta da UNILEVER, a pesquisa

verificou que, na relação entre a empresa, os trabalhadores e seus representantes, há

problemas relativos à liberdade sindical. Há inconsistências na política geral da UNILEVER

em relação aos sindicatos de trabalhadores. Diretrizes comuns para lidar com os sindicatos

na negociação coletiva não são, previamente, explicitadas pela Empresa, ou esta não as

desenvolveu no âmbito de sua política de Recursos Humanos. A Empresa parece se

acomodar às variáveis locais/regionais de cada unidade produtiva sem se preocupar em

definir standards para a relação com os sindicatos em âmbito mais geral. Os sindicatos com

atuação mais intensa junto à sua base enfrentam dificuldades reais para desempenharem

suas funções. Muitas atitudes apontadas pelos trabalhadores, ainda que não façam parte da

política geral defendida pela empresa em seus documentos, estão presentes nas práticas

gerenciais ou de pessoas em cargos de chefia em algumas unidades da UNILEVER.

Ademais, o constrangimento promovido pela gerência aos dirigentes sindicais em

algumas unidades produtivas é uma não conformidade às normas internacionais do trabalho,

especificamente quanto à liberdade sindical, como consta no Código de Princípio de

Negócios da própria UNILEVER.

O acesso à informação é uma questão não resolvida na relação com os sindicatos,

principalmente quando se trata de questões estratégicas com impactos sobre o emprego.

Exemplo disso é o caso da aquisição da Bestfoods pela UNILEVER, que acabou

dificultando aos trabalhadores e representantes sindicais a identificação dos negociadores.

Trata-se de um problema de comunicação da UNILEVER porque o direito à informação,

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neste caso, não é praticado corretamente pela empresa.

As negociações entre UNILEVER e os sindicatos dão-se em uma data base, que

muda conforme a categoria e as cidades onde suas unidades fabris estão localizadas. Além

disso, a UNILEVER não está associada aos sindicatos patronais em todos os locais onde

possui plantas, assumindo, por vezes, atitudes unilaterais que dificultam as negociações

coletivas com os sindicatos destas, já que não é possível negociar de maneira mais ampla.

Não existe uma negociação em âmbito nacional.

Verificou-se que, em geral, os sindicatos mais atuantes conseguem acordos mais

favoráveis aos trabalhadores, como é o caso de Vinhedo e Valinhos (Alimentação), em São

Paulo; Patos de Minas e Pouso Alegre, em Minas Gerais. De acordo com relatos de

sindicalistas, há dificuldade no estabelecimento de negociações em períodos fora da data-

base.

Localmente, o contato com os sindicatos é realizado pelo gerente de Recursos

Humanos de cada unidade, auxiliado por uma Comissão de Relações do Trabalho da

empresa, centralizada em São Paulo, para as diferentes divisões, que coordenaria o processo

de maneira geral. Fazem parte desta comissão: o diretor de Recursos Humanos, dois

advogados trabalhistas e um médico corporativo.

A discussão em conjunto, com a presença do sindicato e dos trabalhadores, ocorre

em algumas unidades, mas não é a regra e depende do relacionamento construído em cada

base de produção. Chama atenção o fato de não haver uma política geral de relacionamento

com os sindicatos, que consiga harmonizar minimamente a negociação da empresa com

estes.

Assim sendo, a UNILEVER acaba adotando posturas e atitudes distintas em

função da realidade sindical e trabalhista de suas plantas. Questões como convenções

coletivas e dissídios variam: por exemplo, em Vinhedo (SP) funciona o regime de horas

extras, enquanto em Vespasiano (MG) há banco de horas. A UNILEVER apresenta pisos

salariais muito variados entre suas unidades nos diferentes estados do Brasil. Os dirigentes

sindicais entrevistados disseram estar buscando mecanismos de equiparação dos valores em

suas respectivas campanhas salariais, ao que a empresa resiste, alegando que as realidades

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são muito diferentes em cada fábrica, impedindo o pagamento de um único piso.

O banco de horas é rejeitado por boa parte dos sindicatos que o consideram como

uma perda na renda do trabalhador. Apesar disso, a UNILEVER vem implementando-o de

forma generalizada, com a justificativa de que não há outra maneira de obter rentabilidade

nas operações, dado que as horas extras seriam muito caras, enquanto o acúmulo das horas

trabalhadas além do horário normal dos funcionários, sem pagar o adicional legal, gera uma

grande economia, mantendo a produtividade financeira em altos níveis.

O discurso da empresa é a implementação do Banco de Horas em troca de uma

maior garantia de emprego. No entanto, esse acordo não está formalizado e, dessa forma,

não garante que a unidade não faça novas demissões, mesmo com o funcionamento do

Banco de Horas.

Na maior parte das fábricas da empresa UNILEVER, os trabalhadores da área

produtiva são horistas (recebem por hora trabalhada) e os da área administrativa são

mensalistas, incluindo-se nesta categoria os gerentes.

Diferentemente do que ocorre em muitas empresas brasileiras, na UNILEVER as

mulheres não recebem menos do que os homens pelo exercício de funções equivalentes, de

acordo com os próprios trabalhadores. Os pesquisadores do IOS não tiveram acesso à

estrutura salarial da empresa.

No entanto, na formação dos núcleos de trabalho a exclusão das trabalhadoras é

comum. Em algumas unidades, não há mulheres no setor de produção. O principal motivo

alegado pelos trabalhadores é que o tipo de função exige o uso de força física e, um

possível, fraco desempenho das mulheres poderia prejudicar o alcance das metas. Este ponto

de vista justificaria a menor participação das mulheres nas chamadas células de trabalho,

como também nas oportunidades de promoção e na possibilidade de obterem melhores

salários.

A situação de discriminação reflete-se na pergunta sobre a presença de mulheres

em cargos de chefia na empresa: 59% do total de entrevistados nas duas unidades respondeu

haver poucas mulheres, ou nenhuma, no exercício de tais funções. A não proporcionalidade

entre o percentual de homens e mulheres nas diferentes unidades da UNILEVER é um fato.

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O tema de gênero não foi incorporado pela empresa como um valor importante a ser

trabalhado em ações corporativas, que contribuam para o maior equilíbrio de oportunidades

entre os sexos. A empresa alega que assumir posições mais ativas neste tema poderia gerar

discriminação.

A UNILEVER afirma não haver discriminação positiva em empresas do mercado

nacional. Tal afirmação não procede, pode-se citar o exemplo de empresas como a Basf, no

setor químico. De qualquer maneira, na Convenção 111, um dos princípios é a promoção da

mulher no local de trabalho. Se a UNILEVER não estiver observando a recomendação da

Convenção, é um sinal de que a Empresa, de forma unilateral, colabora para que os

problemas de discriminação contra a mulher continuem existindo. Os problemas observados

dizem respeito à situação desfavorável das mulheres referente ao trabalho localizado em

algumas áreas da Empresa e/ou em relação a algumas funções, bem como à pequena

presença de mulheres em cargos de chefia.

Na unidade de Goiânia, há 29% de mulheres no quadro de trabalhadores da unidade.

O IOS informa: é importante observar não apenas se a Empresa tem orientações explícitas

de discriminação em função do sexo, idade, raça ou etnia dos trabalhadores, pois, na maioria

dos casos, essas desigualdades ocorrem em função de fatores ou mecanismos indiretos. É

importante observar onde está alocada a maioria das mulheres e se a possibilidade de

ascensão e promoção é igual entre todos os funcionários. Além disso, se os postos

hierárquicos sob o comando de mulheres são equivalentes ou proporcionais aos postos

hierárquicos dos homens.

No que se refere à temática da discriminação racial, percebe-se que, nas unidades

pesquisadas, as consideráveis diferenças dos resultados refletem não apenas possíveis

diferenças raciais e de cor das populações das regiões de Vinhedo e Vespasiano, mas

também a ausência de uma política de promoção de igualdade no que se refere à questão

Cor ou Raça.

A distribuição racial da população brasileira é de 6% de negros, 40% de pardos,

53% de brancos e 1% de outras etnias, incluindo índios. A situação da empresa se distancia

consideravelmente desse quadro. Em comparação aos dados apresentados pelo “Mapa da

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População Negra no Mercado de Trabalho”, qualquer das porcentagens consideradas está

abaixo do percentual de distribuição da população negra no mercado de trabalho nessas

localidades.

De maneira geral, as perguntas sobre cor são recebidas com dificuldade pelos

trabalhadores, já que falta entendimento sobre essa questão, o que pode ser considerado

também como um indício de que este tema não entra na pauta de discussões e nem é

negociado pela empresa.

Tal situação indica a ausência de políticas de promoção de igualdade no quesito

cor, por parte da empresa, postura esta que é assumida pela direção da companhia e

justificada com o argumento de que uma posição pró-ativa poderia gerar discriminação,

negando a possibilidade desta já existir. Verifica-se, assim, que as questões relativas à

temática racial também não fazem parte da pauta das prioridades da empresa UNILEVER

no Brasil.

Na UNILEVER, não foram detectados casos de menores de 16 anos trabalhando,

o que segue as políticas gerais desta empresa - como a de admissão, e o Código de

Princípios de Negócios - que não permitem o emprego de trabalho infantil.

No caso de terceirizados e fornecedores de serviços, insumos e matérias primas,

há contratos tailor made, que podem conter ou não cláusulas, que responsabilizam o

parceiro da UNILEVER no caso de emprego de mão-de-obra infantil. No entanto, a empresa

não aplica mecanismos de controle que garantam a não utilização do trabalho de crianças

por parte de seus fornecedores e prestadores de serviço.

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A respeito do processo de credenciamento de fornecedores, a UNILEVER possui

cerca de 40 minutas padrão, que cobrem a maior parte dos contratos firmados entre a ela e

seus fornecedores e clientes. No entanto, devido ao grande número de fornecedores da

UNILEVER e à diversidade entre eles6, em alguns casos, os procedimentos para a

contratação tornam-se mais flexíveis, possibilitando o desrespeito à política da UNILEVER

em relação ao trabalho infantil.

O Instituto Observatório Social realizou uma pesquisa em 2000, na fábrica da

UNILEVER de Goiânia (antiga unidade da Arisco), na qual apontou o risco de utilização de

trabalho infantil naquela região, em diversas culturas, entre elas a do tomate. Nessa ocasião,

o Ministério do Trabalho já havia elaborado um levantamento indicando as cidades e as

culturas com maior incidência de trabalho infantil.

A partir de várias denúncias, a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) de Goiânia

promoveu, entre 1998 e 1999, uma campanha sistemática pela erradicação do trabalho

infantil na região. Na ocasião, na condição de maior compradora individual de tomate, a

UNILEVER assinou um acordo com a DRT - “Pacto para Erradicação do Trabalho

Infantil” -para não mais adquirir tomate de produtores rurais que utilizassem crianças no

trabalho da lavoura.

Nessa ocasião, constatou-se que, no contrato entre a UNILEVER Bestfoods e seus

fornecedores de tomate, não havia nenhum item especificando que a empresa deixaria de

comprar os produtos caso se verificasse que em sua produção havia sido utilizado trabalho

infantil. A empresa não adotava medidas de fiscalização nas lavouras sobre essa questão e, ,

tampouco apresentava qualquer forma de política voltada a beneficiar ou estimular os

produtores que não utilizam crianças em seu processo produtivo.

6 A UNILEVER possui desde grandes fornecedores (como a empresa Dixie-Toga, do setor de embalagens) a pequenos fornecedores de serviços. Os representantes da empresa disseram que existe uma clara tendência à diminuição de fornecedores pequenos e locais para médios e grandes fornecedores globais que atendem à UNILEVER em várias unidades ao redor do mundo.

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Para a elaboração do presente relatório, o Instituto Observatório Social entrevistou

o diretor jurídico corporativo da UNILEVER, em São Paulo, em janeiro de 2003, que

afirmou, na oportunidade, que a empresa aprimorou os mecanismos de controle sobre seus

fornecedores. Segundo ele, existe agora uma cláusula específica sobre trabalho infantil,

embora não esteja citado textualmente que a UNILEVER deixará de comprar o volume de

tomate se essa prática for constatada7.

Segundo a empresa, mesmo sem a referência textual, a compra do tomate é

imediatamente suspensa e o fornecedor, descredenciado. Se houver uma denúncia, a

UNILEVER investiga e apura a sua veracidade. Esta é uma mudança importante em seu

comportamento.

Ainda assim, pode-se dizer que a UNILEVER não dispõe de uma garantia

absoluta, de que o tomate comprado na região de Goiânia não tenha sido plantado, colhido e

distribuído sem o uso de mão-de-obra infantil.

Em nenhuma das fábricas estudadas foi constatado o uso de trabalho forçado.

No que se refere à temática da Responsabilidade Social Empresarial (RSE), a

UNILEVER vem desenvolvendo projetos de acompanhamento de algumas culturas, que

produzem matérias-primas e insumos importantes para a sua cadeia produtiva. As

informações referentes a estes projetos encontram-se no website mundial da companhia.

Os chamados “projetos piloto” são considerados práticas positivas de engajamento

da empresa para a promoção de técnicas de cultivo sustentáveis do ponto de vista ambiental.

Há ênfase, também, nas técnicas de irrigação que poupam água e procedimentos para a

redução do uso de pesticidas.

No caso da lavoura do tomate, há um projeto específico que trata dos casos

brasileiro, australiano e norte-americano (Califórnia). Deve-se ressaltar que o tomate é a

matéria prima básica para a produção de molhos e ketch-chup com as marcas da

7 O Observatório Social não teve acesso aos contratos firmados entre a UNILEVER e seus fornecedores de tomate em Goiás. No entanto, na entrevista, o representante da empresa leu como está disposta, no contrato, a referência à proibição ao trabalho infantil, bem como as obrigações e responsabilidades dos fornecedores a respeito do assunto.

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UNILEVER, que utiliza cerca de 7% do volume mundial deste produto.

O projeto Piloto conduzido na cidade de Rio Verde (GO) é de responsabilidade da

UNILEVER Bestfoods Latin America, a divisão de alimentos da UNILEVER. Ele foi

iniciado, segundo o website institucional da empresa no ano 2000, por ocasião da abertura

da fábrica nessa localidade.

Depois da compra da Bestfoods, que significou a incorporação da fábrica da

Arisco, em Goiânia, a unidade de processamento de Rio Verde foi praticamente desativada e

o projeto acabou sendo relançado em 2002.

De acordo com o projeto inicial, foram cadastradas nove fazendas com,

aproximadamente, 4 mil hectares e a produção total de 50 mil toneladas de tomate por

safra. No entanto, a UNILEVER não faz qualquer referência ao trabalho infantil neste

projeto.

Em resumo, podemos dizer que um dos principais problemas da UNILEVER no

Brasil é o fato de não possuir uma conduta, um comportamento e atitudes comuns em

relação aos sindicatos de trabalhadores em suas unidades produtivas, e tampouco em suas

divisões. A UNILEVER tem políticas globais para Meio Ambiente, Saúde e Segurança

adaptadas ao “local”. No entanto, no que se refere ao direito à “Liberdade Sindical” e à

“Negociação Coletiva”, a situação não é a mesma e os dirigentes sindicais são

desrespeitados como representantes legítimos dos trabalhadores.

Um segundo problema da UNILEVER no Brasil diz respeito ao fato de a empresa

não ter políticas de promoção de igualdade racial e de gênero. Isso pode ser percebido,

através da análise destes itens, nas unidades que participaram da pesquisa realizada pelo

Instituto Observatório Social. A heterogeneidade de condições pode ser vista também nos

seguintes itens: vínculo empregatício, condições salariais, forma de interpretação e registro

das horas a mais trabalhadas (horas extras ou banco de horas).

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Nesse último caso, o agravante é que a decisão da empresa em interromper sua

produção por meio de férias coletivas ou paradas (sistemáticas ou contingenciais), via de

regra, implica em aumento do número de horas devidas pelos trabalhadores. Alguns

entrevistados explicaram que, desse modo, os funcionários permanecem sempre devendo

horas à empresa.

Em seminário realizado pela CUT no mês de fevereiro de 2003, os principais

problemas apontados pelos trabalhadores foram: diferenças na remuneração entre as

unidades da empresa para empregados da mesma categoria, nas diversas regiões do país;

data e resultados diferenciados dos acordos e convenções coletivas; qualidade das condições

de trabalho, como por exemplo, diferenças brutais entre o maquinário utilizado pelas

fábricas, o que pode gerar problemas de saúde para os trabalhadores.

Embora a UNILEVER se esforce para tornar homogênea a qualidade de seus

produtos nas diferentes partes do país, percebe-se que não há uma política de promoção de

igualdade no que concerne às condições de trabalho, política salarial, questões de gênero e

raça.