Unidaes de Paisagem

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  • Projecto Coordenao de SIG e dos IOT para o desenvolvimento dos espaos rurais de baixa densidade

    IDENTIFICAO E CARACTERIZAO DE UNIDADES DE PAISAGEM DE PORTUGAL CONTINENTAL

    Alexandre Cancela dAbreu

    Universidade de vora Departamento de Planeamento Biofsico e Paisagstico

    Teresa Pinto Correia Universidade de vora Departamento de Planeamento Biofsico e Pais agstico

    RESUMO

    A identificao e caracterizao de unidades de paisagem de Portugal Continental um estudo encomendado pela Direco Geral de Ordenamento do Territrio e Desenvolvimento Urbano (DGOTDU) Universidade de vora, no mbito do Programa Interreg. Pretende-se identificar e caracterizar os tipos de paisagens e registar a sua distribuio, agregando-os em unidades relativamente homogneas com expresso correspondente. A cada uma destas unidades esto associadas um conjunto de indicaes relativamente aos seus valores, degradaes, ameaas e directrizes para o ordenamento e gesto territorial. A escala do trabalho a 1: 250 000, o que permite a sua utilizao no processo de ordenamento do territrio. Simultaneamente esto a ser desenvolvidos estudos de caso que permitem testar a metodologia e aprofundar a caracterizao para um conjunto de reas que so, de alguma forma, representativas dos principais tipos de paisagem de Portugal Continental. Tanto uma como outra componente da metodologia de trabalho se baseiam na utilizao de SIG, bem como em verificaes no terreno e contactos com interlocutores privilegiados para as vrias regies. A elaborao deste estudo decorre em simultneo ao trabalho que decorre em Espanha, com os mesmos objectivos, e as equipas responsveis da Universidade de vora e da Universidade de Madrid estabelecem contactos frequentes para que os resultados finais possam ser apresentados de forma conjunta. A Secretaria Regional do Ambiente e Ordenamento do Territrio dos Aores solicitou Universidade de vora a elaborao do mesmo tipo de estudo para o territrio aoreano, estudo esse que est a decorrer com base numa metodologia de trabalho semelhante. O Estudo para Portugal Continental estar concludo em Junho de 2001 e o Estudo para o Aores em Agosto de 2001.

    Palavras-chave : Unidades de Paisagem de Portugal Continental.

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    RESUMEN La identificacin y caracterizacin de unidades de paisajes de Portugal Continental es un estudio encomendado por la Direccin General de Ordenacin del Territorio y Desarrollo Urbano (DGOTDU) a la Universidad de vora, en el mbito del Programa de Interreg. Se pretende identificar y caracterizar los tipos de paisajes y registrar su distribucin, agregndolos en unidades relativamente homogneas con su expresin correspondiente. A cada una de estas unidades estn asociadas un conjunto de indicadores, relativo a sus valores, degradaciones, amenazas y directrices para el ordenamiento y gestin territorial. La escala de trabajo es a 1:250.000, lo que permite su utilizacin en el proceso de ordenacin del territorio. Simultneamente se van a desarrollar estudios de casos que permitan iniciar la metodologa y profundizar en la caracterizacin para un conjunto de reas que son, de alguna forma, representativas de los principales tipos de paisajes de Portugal Continental. Tanto uno como otro componente de la metodologa de trabajo se basa en la utilizacin del SIG, tanto en verificaciones sobre el terreno como en contactos con interlocutores privilegiados para las diversas regiones. La elaboracin de este estudio discurre simultneamente al trabajo que se desarrolla en Espaa, con los mismos objetivos, y los equipos responsables de la Universidad de vora y de la Universidad de Madrid establecen contactos frecuentes para que los resultados finales puedan ser presentados de forma conjunta. La Secretara Regional de Ambiente y Ordenacin del Territorio de las Azores solicit a la Universidad de vora la elaboracin del mismo tipo de estudio para el territorio de las Azores, estudio que se desarrollar en base a la misma metodologa de trabajo semejante. El estudio para Portugal Continental estar concluido en junio de 2.001 y el estudio para las Azores en agosto de 2.001. Palabras claves: unidades de paisajes de Portugal Continental.

    INTRODUO Este texto apresenta o estudo "Identificao e caracterizao das paisagens em Portugal Continental", a decorrer no Departamento de Planeamento Biofsico e Paisagstico da Universidade de vora entre Julho de 1999 e Julho de 2001. Este estudo responde a uma encomenda da Direco Geral do Ordenamento do Territrio e Desenvolvimento Urbanstico. Enquadra-se no programa INTERREG II e decorre em paralelo com um estudo equivalente para o territrio espanhol, sob a responsabilidade de uma equipa da Universidade Autnoma de Madrid e encomendado pela Secretaria de Estado das guas e Costas, do Ministrio do Ambiente Espanhol. Embora os dois estudos no sigam exactamente a mesma metodologia, houve um contacto permanente entre as duas equipas e preocupaes especficas quanto faixa de fronteira, o que garante a coerncia entre os resultados de ambos os pases.

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    A identificao e caracterizao da paisagem, assim como a definio e o aperfeioamento de mtodos de monitorizao e de medidas de gesto que assegurem a utilizao racional dos recursos naturais e a multifuncionalidade da prpria paisagem, tm sido aspectos muito desenvolvidos nas ltimas dcadas, essencialmente no Norte da Europa. No entanto, durante a dcada de 90, a tomada de conscincia das potencialidades da paisagem como base para uma abordagem integrada gesto do territrio e das actividades humanas, levaram a que se desenvolvessem em vrios pases europeu, tanto do Norte como do Sul, estudos nacionais de identificao e caracterizao da paisagem (Countryside Commission 1998; Helmfrid 1994; Mansikka et al 1993; Marusic et al 1998; Usher 1999; Walder and Glam 1998). Alguns destes estudos encontram-se terminados, outros ainda em fase de elaborao. semelhana dos estudos portugus e espanhol, aqueles tm sido maioritariamente elaborados por equipas universitrias e de investigao, respondendo a encomendas de entidades estatais ligadas sobretudo ao ordenamento do territrio. O objectivo destas entidades tem sido fundamentalmente o de adquirir informao de base, para todo o territrio nacional, que sirva de suporte necessria abordagem integrada para a gesto do territrio. Em 1996, foi adoptada pelo conjunto dos pases do Conselho da Europa, a Estratgia Pan-Europeia da Diversidade Biolgica a Paisagstica, preparada pelo Conselho da Europa, o PNUA e o European Centre for Nature Conservation (ECNC 1996). Esta estratgia, resultante da Conferncia do Rio e dos trabalhos relativos Conveno sobre a Diversidade Biolgica, salienta a necessidade da poltica de conservao se preocupar tambm com a diversidade de paisagem, e no s com a diversidade biolgica. A diversidade da paisagem considerada como a expresso formal das numerosas relaes existentes num determinado perodo entre a sociedade e o territrio. A Estratgia defende a necessidade de uma poltica para as paisagens, se possvel uma poltica europeia, integrando a especificidade de todos os tipos de paisagem que constituem a diversidade da Europa. Mais recentemente, foi aprovada pelo Conselho da Europa a Conveno Europeia das Paisagens (Conselho da Europa 2000), j assinada por vrios pases, encontrando-se o processo de ratificao actualmente a decorrer. Esta Conveno baseia-se no reconhecimento de que a paisagem integra o patrimnio natural e cultural europeu, contribuindo de uma forma marcante para a construo das culturas locais e para a consolidao da identidade europeia, sendo tambm um elemento fundamental na qualidade de vida das populaes. Os objectivos da Conveno partem da constatao de que as paisagens europeias, devido a uma diversidade de factores, se encontram num processo acelerado de transformao em vrias e diferentes direces, o que justifica a necessidade de interveno. Assim, os pases que ass inam a Conveno comprometem-se: a) a reconhecer juridicamente a paisagem como elemento fundamental da qualidade de vida das populaes, expresso da diversidade do seu patrimnio comum, tanto cultural como natural, e portanto, parte importante da sua identidade; b) a definir e a pr em prtica polticas de paisagem visando a sua proteco e gesto; c) a implementar processos de participao do pblico, das autoridades locais e regionais, e dos outros actores que possam ser implicados na concepo e aplicao de polticas para a paisagem; d) a integrar a paisagem nas polticas de ordenamento do territrio, urbanismo, nas polticas cultural, ambiental, agrcola, social e econmica, tal como em todas as polticas que tenham um efeito directo ou indirecto sobre a paisagem.

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    Para que estes processos possam avanar necessrio, num primeiro momento, que as paisagens de cada pas sejam identificadas e caracterizadas, e mesmo avaliadas quanto a um conjunto de qualidades reconhecidas como necessrias para a sua multifuncionalidade. A DGODU encomendou assim este estudo Universidade de vora no mbito de uma tendncia europeia generalizada de reconhecimento e estudo da paisagem, antecipando-se Conveno Europeia das pais agens, que viria de qualquer forma a tornar este estudo necessrio. Segundo o que foi definido inicialmente, pretende-se que todo o territrio nacional seja tratado de uma forma homognea, com as mesmas bases de informao, de forma a identificar e a caracterizar unidades de paisagem, e a poder identificar linhas orientadoras para a sua gesto. O incremento da consciencializao do pblico e da sensibilizao da administrao local e regional, embora no sendo objectivos primordiais, so tambm considerados como aspectos importantes. PAISAGEM O conceito de paisagem complexo, e permite um largo espectro de definies e aproximaes, largamente determinadas pela abordagem e especialidade de quem o utiliza. tambm um conceito que tem vindo a ser cada vez mais utilizado, em diferentes contextos e por uma grande variedade de disciplinas. assim importante que, em cada abordagem paisagem, seja esclarecido o conceito e a forma como este utilizado. A paisagem constitui um sistema complexo e dinmico, onde os diferentes factores naturais e culturais se influenciam uns aos outros e evoluem em conjunto ao longo do tempo, determinando e sendo determinados pela estrutura global (Forman and Godron 1986; Naveh and Lieberman 1994; Zonneveld 1990). A compreenso da paisagem implica o conhecimento de factores como a litologia, o relevo, a hidrografia, o clima, os solos, a flora e a fauna, a estrutura ecolgia, o uso do solo e todas as outras expresses da actividade humana ao longo do tempo, bem como a compreenso da sua articulao, constituindo uma realidade multifacetada. A expresso visual desta articulao, num determinado momento, constitui a paisagem que pode ser vista por cada observador, segundo a sua percepo e os seus interesses especficos. A paisagem assim, na generalidade do territrio europeu, uma paisagem cultural, expresso dos diversos recursos naturais existentes mas tambm da aco humana sobre esses recursos. A paisagem natural aquela onde a articulao dos diversos factores naturais ao longo do tempo no foi afectada pela aco humana, o que raro na Europa. Em geral de uma forma directa, mas tambm de uma forma indirecta, praticamente todas as paisagens europeias registam em maior ou menor grau o impacte da aco humana. Para alm das suas caractersticas e complexidade intrnsecas, a paisagem tem tambm uma componente perceptiva e emotiva (Saraiva 1999), que fundamenta o seu papel de relevo na construo da identidade local, tal como salientado na Conveno Europeia das Paisagens. Este papel da paisagem j foi destacado por Orlando Ribeiro, ao afirmar que a paisagem de hoje, correspondendo a um produto do passado, constitui um registo da memria colectiva (Ribeiro 1986). Tal como salienta Jorge Gaspar (1993), "a paisagem torna-se um elemento to poderoso de identificao cultural que, como a lngua e

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    a religio - no que ela transporta de cdigo comportamental - entra no pano de fundo do universo onrico (...) E o mais espantoso ainda que, ainda como a lngua e a religio, tambm a paisagem se actualiza permanentemente". Na lngua francesa, o conceito de "pays" exprime de forma clara esta ligao: o "pays" considerado com um territrio, com uma paisagem que lhe prpria, com caractersticas naturais, sociais e culturais suficientemente homogneas, para contriburem para a existncia e reconhecimento da sua identidade, pelos que l vivem e pelos que o consideram de fora (Janin 1995). A definio de unidades de paisagem deve tomar em conta esta multiplicidade de factores, tanto da componente mais objectiva, ou material, como da componente mais subjectiva. Assim, para esta aproximao escala nacional, foram consideradas unidades de paisagem reas com caractersticas relativamente homogneas no seu interior, sendo estas normalmente reflectidas num padro especfico e que se repete, que diferencia a unidade em causa da rea que a envolve. Para alm deste padro, para que se defina uma unidade, deve haver uma coerncia interna e um caracter prprio, identificvel do interior e do exterior e directamente associado s representaes da paisagem na identidade local e/ou regional. Esta definio de unidade de paisagem corresponde em traos largos ao conceito de "landscape character area", utilizado pelos ingleses e escoceses (Countryside Commission 1998; Usher 1999). ABORDAGEM METODOLGICA De forma a assegurar a medida do possvel a integrao interdisciplinar que o estudo da paisagem requer, a equipa formada para o estudo uma equipa interdisciplinar, composta sobretudo por arquitectos paisagistas e gegrafos, mas com diferentes percursos e reas de investigao, tendo todos experincia no estudo e/ou gesto da paisagem. Para alm disso, a equipa apoia-se num grupo de consultores com formaes disciplinares e abordagens muito diversas. Este estudo composto por vrias tarefas, com duraes e investimento em termos de trabalho de mbitos diferentes, mas todas importantes e complementares entre si. So estas: a) Reviso da bibliografia referente a estudos equivalentes noutros pases da Europa e nomeadamente abordagem escolhida e metodologia utilizada; b) Reviso da bibliografia existente quanto caracterizao e classificao do territrio portugus; seleco e caracterizao de grandes unidades territoriais como forma de enquadrar a identificao e caracterizao das unidades de paisagem; c) Identificao das unidades em todo o pas e definio dos seus limites; d) Caracterizao das unidades definidas, incluindo tendncias, potencialidades e ameaas, bem como a respectiva apreciao; e) Seleco e elaborao de estudos de caso diversificados, a uma escala de maior pormenor; f) Formulao de linhas orientadoras para gesto da paisagem. Pela sua natureza, so a identificao e a caracterizao das unidades de paisagem as componentes centrais do estudo, que exigiram o desenvolvimento e sucessivo aperfeioamento de uma metodologia prpria .

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    Para a definio das unidades de paisagem em todo o territrio, podem distinguir-se duas fases complementares: 1) Trabalho de gabinete, composto por: - Seleco de variveis a serem consideradas explicitamente: litologia, morfologia, altimetria, hidrografia, solos, uso do solo, estrutura da propriedade, tipos do povoamento. Outras variveis fundamentais, como o clima, ou a proximidade do oceano, so consideradas implicitamente. Deciso sobre a escala base de trabalho: 1:250 000. - Recolha da informao disponvel para todo o pas, para cada uma das variveis, e tratamento da mesma informao, quando necessrio, de forma a obter a respectiva cartografia, para todo o territrio. Recolha de informao complementar, tal como imagem de satlite e fotografia area (ortofotomapas). - Cruzamento da informao relativa s variveis consideradas, ponderado pelo conhecimento dos membros da equipa e informao recolhida atravs da bibliografia, sobre as paisagens portuguesas. Deste cruzamento resultou um primeiro esboo de delimitao de unidades de paisagem. - Verificao deste primeiro esboo, com base na imagem de satlite e nos ortofotomapas e em sesses contnuas de trabalho envolvendo vrios membros da equipa em simultneo. - Primeira aproximao designao das unidades, de forma a obter designaes coerentes mas tambm facilmente reconhecveis pelos tcnicos da administrao e, sobretudo, pelo pblico. 2) Trabalho de campo, composto por: - Verificao da coerncia e dos limites definidos no esboo de gabinete, atravs de percursos no terreno, com um trajecto previamente definido de forma a cobrir todas as unidades e sobretudo as reas onde maiores dvidas tinham sido detectadas. - Apresentao das unidades a interlocutores privilegiados, seleccionados previamente a nvel regional, de forma a recolher informao e opinies quanto coerncia das unidades e dos seus limites, ao seu carcter e sua designao. Esta fase ainda seguida de mais um momento de trabalho em gabinete, por vrios membros da equipa em conjunto, para mais uma vez verificar a coerncia e os limites das unidades e introduzir as correces necessrias. Esta abordagem, claramente baseada no conhecimento e capacidade de sntese dos peritos, permite uma real flexibilidade na seleco do ou dos parmetros que so determinantes em cada situao para a individualizao de uma unidade de paisagem. E faz tambm com que automaticamente a paisagem mais objectiva, "material", seja combinada com a paisagem mais subjectiva, do domnio das suas representaes. Quanto caracterizao das unidades, esta feita fundamentalmente em gabinete, com base na cartografia produzida e na bibliografia seleccionada, sendo esta informao enriquecida substancialmente pela informao recolhida no campo, tanto nos trajectos percorridos como no contacto com os interlocutores privilegiados, assim como pelo conhecimento das paisagens portuguesas existente entre o conjunto de peritos da equipa.

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    Para alm das fontes de informao j mencionadas, de forma a identificar as actuais dinmicas e tendncias de mudana no padro de paisagem de cada unidade, so ainda recolhidos vrios tipos de dados por concelho ou freguesia, como a populao e a evoluo demogrfica, as reas de floresta actual e as reas plantadas com as diversas espcies, nos ltimos anos ao abrigo da Reg. 2080/92 da Unio Europeia, as reas ardidas nos ltimos anos, as reas submetidas s diferentes medidas agro-ambientais, etc. Quanto avaliao da paisagem, tendo em conta a escala de trabalho e a informao que possvel tratar neste estudo, de carcter integrado e sem aprofundar nenhuma rea cientfica em particular, trata-se mais de uma apreciao descriptiva, feita por peritagem e baseada em critrios previamente definidos e iguais para todas as unidades. Os critrios seleccionados resultam de uma anlise de bibliografia especfica relativa a mtodos desenvolvidos noutros pases, com finalidades semelhantes, e tambm de um debate prolongado dentro da equipa e desta com os consultores. So estes: a) caracter da paisagem, que reflecte a sua capacidade narrativa, o seu peso em termos histricos e culturais; b) coerncia de usos, ou seja, de cada uso em relao s caractersticas biofsicas do territrio e de uns usos em relao aos outros, permitindo uma maior ou menor multifuncionalidade; c) riqueza biolgica, tanto quanto a biodiversidade como a presena de espcies de elevado valor para a conservao; d) raridade da paisagem em causa, em Portugal ou em termos internacionais; e) impresso pictrica, aspectos sensoriais da paisagem. De forma a assegurar uma maior homogeneidade na apreciao de todas as unidades, so os mesmos peritos dentro da equipa que o fazem para o conjunto das unidades consideradas. Para cada unidade construda uma ficha de caracterizao, contendo, alm do texto segundo campos e parmetros definidos, cartografia especfica da unidade assim como fotografias significativas. As fichas de cada unidade so completadas com a informao contida noutro tipo de fichas, contemplando grandes unidades de paisagem referidas acima, dentro das quais se organizam as unidades de paisagem definidas no estudo. Complementarmente, foram seleccionadas algumas reas, tentando cobrir a maior diversidade de situaes no contexto nacional, nas quais se desenvolveram estudos de caso. Alguns destes estudos de caso correspondem totalidade de uma unidade de paisagem, outros s a parte de uma unidade, outros ainda atravessam vrias unidades. O objectivo destes estudos de caso foi descer a um maior pormenor, permitindo um tratamento mais aprofundado da paisagem, das suas caractersticas e da sua dinmica. assim possvel testar a abordagem seleccionada e a metodologia desenvolvida. Os estudos de caso serviram tambm para testar a possvel utilizao de outras metodologias, como por exemplo a definio de unidades baseada numa anlise de clusters. Em relao ao estudo desenvolvido em Espanha, e tal como foi referido inicialmente, a metodologia diferente, o que se prende com diferentes abordagens da equipa, mas sobretudo com as diferenas nas dimenses do territrio a considerar e com as caractersticas desses mesmos territrios. No entanto, os critrios para a definio das unidades de paisagem so semelhantes. Por outro lado, as duas equipas acompanharam de perto os trabalhos uma da outra, tendo a preocupao de verificar a coerncia e eventual continuidade das unidades definidas nos dois pases ao longo da fronteira, o que deve permitir ter uma imagem final de conjunto de toda a Pennsula Ibrica (Fig.1).

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    Figura 1 - Esboo de Unidades de Paisagem Portugal (Alentejo Interior) - Espanha (Extremadura)

    RESULTADOS Foram definidas cerca de 128 unidades de paisagem para todo o territrio de Portugal Continental (Fig.2). Estas unidades foram reunidas em grupos de unidades segundo caracterizaes geogrficas j existentes para o pas e que dizem respeito sobretudo a caractersticas de clima, morfologia e vegetao (Fig.2). Foram considerados 22 grupos de unidades, de dimenses variveis. Quanto s unidades, algumas foram subdivididas em sub-unidades. Apesar dos esforos para respeitar critrios claramente definidos, muitas vezes foi difcil a deciso entre a individualizao de uma unidade ou a considerao da mesma rea como sub-unidade de uma unidade maior.

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    Foram consideradas como unidades de paisagem reas com caractersticas de paisagem relativamente homogneas no seu interior, no por serem exactamente iguais em toda a rea, mas por terem um padro especfico que se repete e que diferencia a unidade em causa da rea envolvente. O factor determinante para a especificidade da paisagem numa Unidade no sempre o mesmo: podem ser as formas do relevo, a altitude, o uso do solo, a urbanizao, etc. Para alm do padro de paisagem especfico, para que se defina uma Unidade considerou-se tambm que devia existir uma coerncia interna e um carcter prprio, identificvel do interior e do exterior e directamente associado s representaes da paisagem na identidade local e/ou regional. Na generalidade, foram consideradas como sub-unidades reas com caractersticas claramente diferentes do que as envolve, mas com dimenso demasiado reduzida para corresponder a uma unidade, ou reas que tinham caractersticas semelhantes envolvente mas que sofreram recentemente alteraes significativas provocadas pela actividade humana, ou ainda reas de grandes dimenses com caractersticas semelhantes ao resto da unidade mas distintas por algum aspecto particular. A individualizao de unidades, mesmo com dimenses reduzidas, foi considerada justificada em caso de paisagens com um caracter muito prprio, com uma forte identidade, claramente diferente da envolvente. A delimitao das unidades mostrou ser uma das tarefas mais difceis, uma vez que raramente a transio de uma unidade de paisagem para uma outra se faz atravs de uma linha de mudana brusca. O caracter de cada unidade de paisagem, reflectido num padro que lhe caracterstico, geralmente muito claramente definido numa rea central da unidade, constituindo uma espcie de ncleo dessa unidade de paisagem. Para cada unidade, entre essa rea nuclear e as reas nucleares das unidades que a envolvem, h um espao de transio mais ou menos extenso. Nalguns casos esta transio atinge tais dimenses que justifica a individualizao de uma unidade, cujo caracter pouco definido e as caractersticas so exactamente de transio. Em qualquer caso, o limite estabelecido no deve ser considerado como uma linha claramente definida e perceptvel no terreno, mas sim como uma transio progressiva. A localizao do limite poderia na maioria dos casos ser ligeiramente alterada sem que tal implicasse questionar a coerncia das unidades em questo ou o seu carcter. As unidades obtidas, assim como os seus limites, correspondem aos critrios e abordagem da equipa do estudo, que reconhece e assume uma certo grau de subjectividade no mtodo desenvolvido, tendo sempre a preocupao de explicitar as opes tomadas. Outros peritos poderiam chegar a resultados prximos ou a decises claramente diferentes, num ou em vrios casos. Por outro lado, a identificao e caracterizao agora definida corresponde ao contexto temporal em que foi feito o estudo. Tendo em conta a dinmica da paisagem, o mesmo estudo levado a cabo num outro momento teria, ou ter, certamente resultados diferentes. CONCLUSO A metodologia desenvolvida tem demonstrado vrias caractersticas importantes para o estudo e compreenso da paisagem. Por um lado, o ser flexvel, adaptvel a vrios tipos de paisagem, podendo considerar diferentes factores como determinantes em reas com caractersticas tambm diferentes. Apresenta tambm flexibilidade para poder ser utilizvel a vrios nveis, podendo-se aprofundar mais ou menos a anlise, tanto cartogrfica como baseada na recolha de informao de outras fontes.

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    Por outro lado, o trabalho desenvolvido pressupe-se como processo, com continuidade. Ou seja, no se assume como definitivamente acabado, mas permite aperfeioamentos, verificaes, correces, actualizaes futuras a vrias escalas de aproximao paisagem. tambm uma abordagem aplicada, tendo em vista a gesto da paisagem e considerando as questes que hoje se lhe pem e os instrumentos de interveno existentes, e que visa resultados que possam servir de base a uma reflexo integrada no mbito do ordenamento do territrio. E, finalmente, a metodologia utilizada pretende conciliar a informao objectiva com informao mais subjectiva, o que visto pela equipa como essencial para a compreenso da paisagem e da sua dinmica, e tambm para qualquer processo efectivo de gesto da mesma, uma vez que nela esto envolvidas comunidades humanas com comportamentos, sensibilidades e reaces no enquadrveis em modelos racionais, redutores da natureza humana. Para todo o pas, assim como para cada unidade, foi recolhida e trabalhada de forma integrada uma enorme quantidade de informao, que permitiria prolongar e aprofundar muito mais o estudo. Por outro lado, ao longo de todo o processo de reflexo em conjunto pela equipa para a definio e aperfeioamento da metodologia e para a identificao das unidades, foi sendo acumulado conhecimento e experincia sobre as questes da paisagem e da sua compreenso, com potencial para o desenvolvimento de estudos complementares, mais aprofundados e com vrias possveis abordagens sobre a paisagem. Espera-se assim que este trabalho possa vir a constituir um contributo til para uma abordagem integrada e com perspectivas de continuidade sobre a paisagem e a sua gesto em Portugal. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS COUNTRYSIDE COMMISSION (1993) - Countryside Character. The character of England's natural and man-made landscape. Countryside Commission , Walgrave. Northampton FORMAN R. AND GODRON M (1986) - Landscape Ecology. John Wiley and Sons. New York GASPAR J., (1993) - As Regies Portuguesas. Direco Geral do Desenvolvimento Regional, Lisboa HELMFRID S., (1994) - Landscape and Settlements . National Atlas of Sweden. SNA. Stockolm JANIN C., (1995) - Peut-on "faire l'conomie" du paysage pour grer le territoire? L'agriculture dans le paysage, une autre manire de faire du dveloppement local. Dossier de la Revue de Geographie Alpine, 15:11-30 MANSIKKA M., HEIKKILA T. AND STRANDEL C., (1993) - National Landscapes . Ministry of the Environment, Finland. Helsinki MARUSIC J., (1998) - Regional Distribution of Landscape Types in Slovenia. Methodological Bases . National Office for Physical Planning. Republic of Slovenia NAVEH Z. AND LIEBERMAN A., (1994) - Landscape Ecology - Theory and Application. Springer-Verlag. New York RIBEIRO O., (1986) - Portugal, o Mediterrneo e o Atlntico. Ed. S da Costa. Lisboa SARAIVA G., (1999) - O Rio como paisagem. Gesto de corredores fluviais no quadro do ordenamento do territrio. Fundao Calouste Gulbenkian e Fundao para a Cincia e Tecnologia. Lisboa USHER M.B.(Editor), (1999) - Landscape Character. Perspectives on Management and Change. The Stationery Office. Scottish Natural Heritage and Macaulay Land Use Research Institute. Edinburgh WALDER B. e GLAM A. (1998)- Swiss Landscape Concept. Partners for Landscape. Switzerland

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