UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ......

44
UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS

Transcript of UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ......

Page 1: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS

Page 2: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

1

Sumário Dedicação ................................................... 2 Meus pais ................................................... 3 Filhos do casal ............................................ 4

Nasci! .......................................................... 5

1962 ............................................................ 6

Breve histórico da cidade de Indiaporã ....... 7 ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS .. 9 1963 .......................................................... 12

Os heróis dos campos .............................. 14 Permanência em Votuporanga ................. 18

Vida na Kentinha ...................................... 22 Meus primeiros contatos com o livro da capa preta ................................................. 24

Entardecer de minha vida ......................... 32

Page 3: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

2

Dedicação

Dedico estas memórias aos meus adoráveis filhos

que sempre me deram apoio nos momentos mais

difíceis em nossas vidas:

Oséias do Nascimento Ferreira

Osiane do Nascimento Ferreira

Osiel do Nascimento Ferreira

Também ao meu genro Michel Lopes dos Santos

que foi um dos primeiros a ler meus manuscritos e

fazer as devidas críticas.

Page 4: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

3

Meus pais

Após leituras de vários livros de biografias de

pessoas famosas, sinto desejo de registrar para

conhecimento de minha família e de todos que por

ventura se der ao prazer de perder o seu precioso

tempo nestes dados, alguns fatos sobre minha vida

e de meus adoráveis pais e irmãos.

Transcorre o ano de 1934, e em uma cidade do

grande Estado de Minas Gerais, chamada de São

Francisco de Sales, é feito na igrejinha local o

matrimônio de João Gabriel Ferreira e Maria

Geralda de Jesus, ambos nascidos em Campo Belo

MG. “Estes são meus queridos pais”. Ela com doze

anos de idade, uma menina que brincava com

bonequinha de pano, era acostumada a árdua vida

do sertão. Ele “papai” também acostumado à vida

de cultivar a terra nos seus vinte e quatro anos.

Mamãe não sabia o sentido real do casamento e

pensava que casar era para ganhar roupas novas,

ela nasceu em 04 de abril de 1920 ele em 06 de

janeiro de 1910. Mamãe nunca foi alfabetizada e,

contudo me ensinou muitas coisas das quais foram

muito úteis neste mundo que eu vivo.

Page 5: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

4

Filhos do casal

É difícil registrar dados dos filhos de papai e

mamãe, 5 filhas eles tiveram. Mamãe dizia que se

elas fossem Ter a mesma “sina” que ela teve, que

Deus às recolhessem aos céus. Assim aconteceu!

Uma a uma faleceram. No céu, junto eu verei todas

elas, estas que eu nunca pude conhecê-las na terra.

11 de Fevereiro de 1935 São Francisco de Sales

MG Nasce o primogênito João Gabriel Ferreira

filho. “Meu irmão” Meus pais mudam para Tanabi

SP onde é feito o registro do João constando que

ele nasceu nesta cidade de Tanabi SP.

19 de Outubro de 1938 em Tanabi SP nasce

Delcides Gabriel Ferreira, e meus pais mudam

para Álvares Florence SP próximo a cidade de

Votuporanga SP e passam a residir numa fazenda

chamada Arrôio.

11 de Fevereiro de 1942, Nasce Antônio Gabriel

Ferreira

15 de Março de 1943 nasce Ataydes Gabriel

Ferreira

25 de Julho de 1947 nasce Walter Custódio

Ferreira

16 de Setembro de 1950 nasce Arsênio José

Ferreira

Page 6: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

5

Nasci! Aos cinco de Dezembro de 1956 em uma Quarta

feira, na fazenda do Arrôio município de Álvares

Florence SP, nasci! Uma parteira que para mim

nunca a conheci, fez o parto de mamãe.

Prontificaram-se para serem meus padrinhos o

Senhor Segundo e a D. Juliana ambos espanhóis

residentes na fazenda. Diz mamãe que a madrinha

colocava açúcar na chupeta e dava para mim! Meus

irmãos me levavam à roça para mamãe me dar de

mamar. Aos três anos de idade, papai e mamãe

mudam para Votuporanga SP e eu não falava, e

quando ia à venda comprar doces eu apontava com

o dedinho para a maria-mole de dizia “hum hum”

deveria ter problemas na fala. Em 1959 eu já com 3

anos papai e mamãe mudam para o sertão de Minas

Gerais num lugar pertencente ao município de

Iturama MG. Mato por todo lado, à noite só via

algumas lamparinas acesas nas casinhas distantes,

onças pintadas deixavam seus rastros nos trilhos

dos matos, A noitinha ouvia-se os lobos uivarem e

eu cobria a cabeça de medo. Ia pescar com meus

irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me

lembro que quando eu pegava um lambari, gritava

bem alto “peguei, peguei” atrapalhando a pescaria

do pessoal. Meu primo e meus irmãos gostavam de

caçar e sempre traziam Inhambus e codornas para

fazer parte de nossa alimentação, algumas

lembranças me vêm à mente: um dia eu coloquei

Page 7: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

6

meu dedinho na boca de uma traíra que eles haviam

pescado e fiquei com o dedinho a sangrar. Minhas

brincadeiras eram de colocar um pedaço de pau

entre as pernas e correr atrás de cavalos e

potrinhos, certa vez levei um coice violento no

rosto e quando voltei a si estava na cama suando

muito frio e até hoje tenho no rosto abaixo do olho

esquerdo uma cicatriz que recebi na infância dos

tempos que vivi no sertão de Minas Gerais.

1962

Com seis anos de idade meus pais mudam para

Indiaporã SP e passamos a morar na casa dos

fundos de uma marcenaria do Sr. João de Matos.

Era uma casinha de dois cômodos de tábua e do

lado de fora viam as luzes da rua, no quintal tinha

uma parreira que sempre estava carregada de uvas

rosadas, e debaixo da parreira, mamãe lavava

roupas para várias casas. Alguns irmãos moravam

em São Paulo e numa das visitas do Delcides, e

como ele gostava muito de mim, levou-me para

morar com ele em Santo André SP. Morando na

Rua Potiguares comecei a freqüentar uma escola

Estadual, Ainda tenho boas lembranças deste

tempo que eu tinha meu caderninho e fazia as

lições.

A saudade da mamãe foi um suplício para mim e eu

chorava e reclamava com o Delcides meu irmão, e

dizia:- Prefiro puxar água no balde para mamãe

lavar roupas e buscar trouxas de roupas do que

Page 8: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

7

ficar aqui longe dela. Até que um dia, o meu irmão

não agüentou mais minhas reclamações e levou-me

de volta para Indiaporã SP.

Breve histórico da cidade de Indiaporã

A cidade teve seu início no dia 8 de agosto de

1.939, quando três jovens, Hipólito Moura,

Alcides Borges e Francisco Leonel Filho

combinaram de adquirir do senhor Luís

Antônio do Amorim (clique aqui),

conhecido popularmente por Luís Caetano,

uma gleba de terras.

Tinham eles, um ideal de, com estas terras, formar

um patrimônio no interior paulista, que

posteriormente se transformaria em uma

cidade.

Luís Antônio do Amorim, animado pelo mesmo

ideal, disse que faria uma doação do terreno

da praça central, a qual leva, em

homenagem póstuma, o seu nome, e que o

restante seria loteado e vendido.

Na época, eram 94 datas de terras, cujas

propriedades eram de 47 contribuintes, e a

escritura foi lavrada no Cartório do Registro

Civil de Monte Aprazível, sob número

14.021.

Estas datas foram medidas pelo engenheiro Dr.

José Dantas, da vizinha cidade de Cardoso

e, logo em seguida, no dia 15 de janeiro de

Page 9: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

8

1.940, foi implantado na praça central o

Cruzeiro, simbolizando a fundação do

Patrimônio de Indianópolis.

Inaugurou-se a primeira capela, e os festejos foram

realizados nos dias 11 e 12 de maio do

mesmo ano, e a primeira missa foi celebrada

pelo Padre Ovídio.

Francisco Leonel Filho e esposa

Antonio Sylvio Cunha Bueno e esposa. O

Deputado Estadual que auxiliou na criação

do Distrito de Paz de Indiaporã

Em 24 de dezembro de 1.948, Indianópolis foi

elevado à categoria de distrito de Paz, sob

empenho do senhor Francisco Leonel Filho,

auxiliado pelo deputado estadual Antonio

Sylvio Cunha Bueno e, a partir daí, passou a

ser chamada de Indiaporã, que na linguagem

tupi-guarani, significa "Índia Bonita", em

homenagem aos índios Cayapós, que viviam

nas proximidades do Rio Grande.

Indiaporã passou a município através da Lei

Estadual n. 2.456, em 26 de dezembro de

1.953, tendo como primeiro Prefeito

Municipal o senhor Djalma Castanheira,

empossado no cargo, no dia 1 de janeiro de

1.955, juntamente com a Câmara Municipal,

composta de 9 vereadores.

Djalma Castanheira - Prefeito Municipal

Page 10: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

9

Vicente Ribeiro Soares - Vice Prefeito

Atacil Luiz Arantes

Adelino Francisco do Nascimento

Alfredo Arthur Pagioro

Cláudio Ribeiro Corrêa

Eunápio Antonio Cotrim

José Oliveira de Souza

Manoel Jerônimo da Silva

Paulo Campos

ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS

O município de Indiaporã, que compreende

também o bairro de Tupinambá, possui uma

área de 275 km2. Está situado na região

noroeste do stado de São Paulo e faz parte

da região Administrativa de São José do Rio

Preto.

Localização:

- Latitude 19,59

- Longitude 50,17

- Altitude 440 m acima do nível do mar.

Regiões limítrofes: Limita-se ao norte com o Rio

Grande, que corta o município, fazendo uma

linha divisória entre Indiaporã e o município

de Iturama, Estado de Minas Gerais. Ao sul,

limita-se com o município de Macedônia,

ao leste com o município de Mira Estrela e

Page 11: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

10

a oeste com os municípios de Guaraní

D'Oeste e Ouroeste.

Solo: Em sua composição, o solo do município se

apresenta em 3 tipos:

- Hidromórficos: localizados no extremo norte do

município às margens do Rio Grande.

- Latosol Roxo: Se apresenta na zona central do

município.

- Latosol Vermelho escuro: É identificado na

totalidade da parte sul do município,

representando mais de 50% da composição

total.

Observação: O lençol freático do município

apresenta-se a uma média de 10 metros de

profundidade.

Clima: O clima é tropical semi-úmido, com inverno

seco e verão chuvoso.

A precipitação pluviométrica tem uma média anual

de 1.363 mm.

As temperaturas médias atingem mínimas de

17,5QC e máximas de 33,5QC.

ACONTECIMENTOS

No dia 1 de janeiro de 1.940, houve um mutirão

para roçar o local onde seria a praça da

capela. Compareceram 22 pessoas, com

foices, machados, enxadões e enxadas.

Dentre as pessoas destaca-se a presença de

um rapaz de nome Benevenute Garapa,

Page 12: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

11

vulgo Negrinho Barbeiro, que transportava

água na cabaça. Fez-se a roçada,

arrancaram-se os tocos e foi marcado o local

da capela e, logo em seguida, fizeram um

poço de água. Neste dia houve pagode à

noite toda. Durante o dia, na hora do

trabalho, foi servida uma suculenta

merenda, constando de arroz doce e café,

fornecidos pelo doador do terreno, senhor

Luís Caetano, que morava à beira do

ribeirão Água Vermelha. Estava fundada a

Vila de Indianópolis.

O contingente de pessoas que aportaram nestas

plagas, após o surgimento da Vila de

Indianópolis, são famílias que vieram tanto

para habitar a zona rural, como também o

vilarejo.

Todos estes prestimosos dados foram extraídos do

livro "MEMÓRIAS DE INDIAPORÃ" de

Adelino Francisco do Nascimento.

Indiaporaense ilustre por quem a família

Arantes tem o maior apreço

Page 13: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

12

1963 Já com sete anos de idade, e no fim do ano,

curti a doce vida ao lado de mamãe ajudando-a no

serviço de carregar trouxas de roupas e puxar água

no poço! Janeiro de 1964 com oito anos de idade,

fui matriculado no Grupo Escolar Otaydes Luiz

Arantes cursando o primeiro ano primário.

Nesta idade comecei a fumar não sabia que eu

iria arrepender-me amargamente e sofrer para

deixar este vício tão cruel, catando pontas de

cigarros nas estradas quando ia tomar banho nos

córregos com as molecadas. Passei a ser engraxate

na pequena Indiaporã e o dinheiro que ganhava,

gastava em picolés e maços de cigarros que eu

fumava escondido de mamãe, algumas vezes

fumava até debaixo dos cobertores com medo de

ser visto por ela (como era inocente).

Mamãe sempre mudava de casa e eu creio que

moramos nos quatro cantos da cidade de Indiaporã.

Moramos algum tempo em uma casa de tábua com

um terreno enorme sendo que muitos circos eram

armados no local, eu vendia doces para os

moradores do circo e entrava de graça para assistir

os espetáculos. Em uma das mudanças de mamãe,

passamos a morar no sítio do Sr. Teotônio ficava

Page 14: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

13

distante de Indiaporã quatro quilômetros, mesmo

assim eu não faltava às aulas, se faltasse apanhava

muito de mamãe. Como não tinha bolsa para

carregar o material para a escola, mamãe fazia

embornal de pano e cabia certinhos os lápis e

cadernos. A vida neste sítio era uma maravilha,

pois todos os dias eu ajudava o Sr. Teotônio a tirar

leite das vacas, e eu com a caneca com café forte e

açúcar cristal, tomava leite tirado na hora dos

úberes das vacas. Ganhamos um pedacinho de terra

e nós plantávamos milho. Papai ia constantemente

para Minas Gerais e trabalhava na roça e mamãe

com meus irmãos trabalhavam na roça como bóias

frias. Eu fui um bom aluno e consegui terminar o

primário em 1969 com a nota de 78,33 (setenta e

oito inteiros e trinta e três centésimos) Dos

professores que eu me lembro foram: D. Ágda, D.

Irene e Wanderley. A colação de grau foi no

cinema da cidade, recebi o diploma do primário das

mãos de minha madrinha, O fotógrafo que registrou

a cerimônia perdeu todas as fotos e fiquei sem esta

lembrança.

Final de meus primeiros passos escolares, já com

doze anos de idade dedico-me a ajudar mamãe e

meus irmãos trabalhando na roça em colheita de

algodão e arroz.

Cada época tinha o tempo de certos brinquedos:

Bolinhas de gude, papagaio (pipa) pião, arquinho,

salva pegas. Este brinquedo era de correr e salvar

Page 15: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

14

os moleques que eram capturados, divertíamos

muito nas noites quentes desta cidade

Os heróis dos campos A cidade de Indiaporã, bem pequenina,

fundada na região centro oeste do grande Estado de

São Paulo, fica distante de São Paulo 650

quilômetros. Em Maio, a pequenina cidade era

agitada por grandes movimentos de bóias frias.

Os bóias frias eram pessoas acostumadas à árdua

vida, de acordar de madrugada quando os galos

saudavam o novo dia, os fogões a lenha são acesos

pelas heroínas dos lares, isto era após de muito

choro por causa da fumaça que toldavam as

pequeninas casinhas de barro. O forte cheiro de

gordura de suínos a aquecer os dentes de alhos,

atraia os gatos e cachorros, que se assentavam

próximo ao fogão a olhar suas donas. Ao término

do “almoço” que era feito nas madrugadas, o

alimento era colocado nos caldeirões que

juntamente com os talheres são embalados nos

embornais de pano. Pronto! Está feito o “moleque”,

apelido que os bóias frias davam ao almoço que

serão levado às roças! O tempo neste mês de Maio

é frio e as mãos enrijecem, o orvalho tinge de

branco as ervas e as plantas dos quintais das casas,

a tina com água, acumula-se pequenos flocos de

gelo na superfície das águas, as flores exalam seu

adocicado olor enchendo-o o ar desta fragrância.

Mamãe, com meus irmãos, Arcênio, Ataydes e eu

já com nossos chapéus mexicanos de abas largas,

caminham para a praça da matriz a aguardar o “pau

Page 16: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

15

de arara” nome que é dado ao caminhão, com uma

tora de madeira de um extremo ao outro na

carroceria que serve de sustento aos bóias frias.

Mamãe com meus irmãos se ajuntam as outras

pessoas e picando fumo de corda que é enrolado

em palha de milho, enchem o lugar com o forte

cheiro, ficam a conversar enquanto aguardam a

chegada do motorista José Pinheiro. Enfim chega o

motorista com o seu caminhão soltando um grande

tufo de fumaça de óleo diesel queimado. Todos

sobem pelos pneus e se acomodam na carroceria e

ficam segurando os grande chapéus, algumas

mulheres, queridinhas do motorista, vão na boleia

do caminhão, e assim começa a viagem até a

lavoura de algodão, cujo local era do outro lado do

rio grande. O rio grande, como o próprio nome diz

é grande mesmo e divido os dois Estados, Minas e

São Paulo. A fazenda da qual íamos trabalhar

ficava próximo a esse rio. Na viagem, o olor de

capim gordura, misturado a poeira impregnam as

roupas, cortante vento faz tremer os bóias frias, e a

única alternativa é se proteger abaixando a cabeça

até o fim da viagem. Muitos acidentes aconteciam

nesta época, devido a imprudência dos motoristas,

pois em alta velocidade, nestas estradas

esburacadas, muitos caminhões tombavam nas

curvas, ceifando muitas vidas destes humildes

trabalhadores. Há uma curva na estrada que

recebeu um cômico nome de “curva da morte”

porque lá muitos bóias frias perderam a vida. Até

nos dias de hoje as pessoas passam neste fatídico

local e tiram os seus chapéus e fazem o sinal da

Page 17: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

16

cruz em reverencia às pessoas que perderam a

vida.

As seis horas da manhã, o nosso caminhão

chega no grande rio, e aguarda a chegada da balsa

que fará a travessia para a outra margem, no Estado

de Minhas Gerais, o caminhão sobe na plataforma

da balsa e nós os bóias frias ficamos dentro da

balsa contemplar as águas a correr, pois o tempo de

travessia era de vinte minutos. O tempo ainda está

frio e os fortes ventos obrigam alguns dos bóias

frias a buscarem refugio na frente do caminhão ao

calor do motor já desligado. Pela correnteza do rio,

observa-se madeiras, folhas e alguns peixinhos

como lambaris nas águas turvas a correr. Faltando

uns duzentos metros para a balsa chegar nas

margens do grande rio, por imprudência o

motorista José Pinheiro entra no caminhão e dá

partida, esquecendo que o caminhão estava

engrenado, acontece o imprevisto, o veículo dá um

arrancada para frente e retorna, e com o impacto

projeta para as águas gélidas quatro bóias frias.

desespero total das histéricas mães, que pulam na

embarcação aos gritos de “salvem meu filho por

amor de Deus”, eles com suas pesadas botinas,

embornais pendurados, grossas roupas de frio são

levados pelas fortes correntezas, junto com eles vão

também pãezinhos levados com a correnteza.

Alguns barqueiros num gesto de civilidade

consegue trazer para a balsa alguns náufragos

enquanto outros num forte instinto de se salvarem,

nadam e retornam à balsa.

Page 18: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

17

O dia inicia-se com este fato marcante na

vida dos bóias frias, e o motorista quase apanha

das mulheres revoltosas. Chegamos à lavoura de

algodão e tudo volta a rotina, apesar das

murmurações gerais. Mamãe e meus irmãos

penduram os embornais nas frondosas árvores e

começamos a colher algodão, as nove horas da

manhã o sol começa a lançar seus fortes raios na

terra bronzeando os bóias frias. Os mosquitos

borrachudos atacam sem parar, calor torna-se forte

e as quatro horas da tarde vários moleques e entre

eles eu também vamos a pé até o rio para aguardar

a chegada do caminhão. Aproveitamos estas horas

de lazer para se refrescar no rio. Agora sim um

nado voluntário e não forçado.

Mais uma vez em casa com mamãe e meus

irmãos a alegria invade nosso humilde lar. O banho

era tomada em uma bacia de alumínio, com sabão

de soda, à noitinha as lamparinas à querosene eram

acesas e íamos ao quintal contar alguns “causos.”

Os bóias frias são realmente uns heróis dos

campos, pois mesmo enfrentando esta árdua vida,

nas colheitas de algodão são felizes e ainda sobra

tempo a noitinha para irem à praça da matriz para

conversarem e gargalhar dos seus problemas e

desgraças dos outros. Sim são felizes porque estão

ajudando a construir este próspero país.

Page 19: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

18

Permanência em Votuporanga

Em 1973, eu com dezessete anos de idade,

mamãe com meus irmãos resolvem mudar para

Votuporanga SP, é arrumado um caminhão e foi

colocado os (móveis) juntamente com as galinhas,

chegamos em Votuporanga já bem cedo e só ouvia

o cacarejar das aves em plena cidade grande.

A vida em Votuporanga foi um pouco

melhor do que em Indiaporã, mas continuamos a

trabalhar como bóias frias. Sendo ainda menor de

idade com dezessete anos, morávamos numa casa

de meu irmão João distante do centro da cidade

quatro quilômetros. Nossa casa não tinha luz

elétrica e usávamos lamparina que nós

colocávamos querosene, não tínhamos água

encanada, mas dentro da varanda havia um poço

que fornecia uma excelente água, fogão a gás,

também não tínhamos, eu e mamãe íamos nos

matos e trazíamos lenhas para que pudéssemos

cozinhar os nossos alimentos. À tardinha e a noite

devido o forte calor que fazia, éramos atacados por

nuvens de pernilongos que atacavam cruelmente,

em uma lata de dezoito litros, colocávamos fogo

em fezes de gado e com a fumaça dentro de casa

ficávamos livres alguns instantes destes insetos.

Em nossa casa habitavam: Eu, mamãe,

papai e o Ataydes. Papai sempre viajava para

Minas Gerais para trabalhar em fazendas do grande

sertão. Em casa eu e o Ataydes trabalhava nas roças

para poder manter nossa casa com gêneros

Page 20: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

19

alimentícios, colheitas de café, maracujá,

arrancando tocos nas fazendas dos ingleses,

colhendo algodão, em lavoura de amoras para

alimentar bichos da seda.

Em épocas sem colheitas, eu e mamãe,

íamos ao lixão da cidade reciclar lixo. Vendíamos

papel, vidro, alumínio, cobre e tudo que desse

alguns trocados. Com o cheiro forte de lixo podre

suportávamos tudo isso para conseguir algum

dinheiro. Freqüentava bailes nas fazendas mesmo

não sabendo dançar tinha minhas diversões, e na

volta para casa passa nos cafezais já tarde da noite

e furtávamos melancias que nas estradas

cortávamos e além de matar a sede servia de

alimento. Também ia à cidade de Votuporanga,

aos domingos de manhã para trocar revistas e gibis

em frente ao cinema, com estes materiais novos

tinha muita coisa para ler durante a semana, a noite

eu ia tomar vitamina nas lanchonetes e assistir

filmes de bang - bangs, e terror, de volta para casa

pelas estradas desertas morria de medo de

fantasmas. Duas vezes por semana, munido de um

gancho num pau, e um farolete da everedy de três

pilhas eu entrava nos córregos para caçar rãs, que

serviam de mistura para levar para a roça no dia

seguinte. Para quem não sabe a carne de rã é

deliciosa. Mamãe também criava galinhas, e

tínhamos ovos e frangos diariamente como mistura.

Pescávamos nos córregos e conseguíamos

boa mistura para variar o nosso cardápio, bagres

traíras, lambaris davam em abundância nos

córregos. Meu irmão Walter quando nos visitava

Page 21: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

20

trazia roupas que eram úteis para os passeios dos

finais de semana. Com cabelos longos e lisos, e

dentes cariados na boca passava muita vergonha

quando no contato com as pessoas, mas

infelizmente não possuía dinheiro necessário para

cuidar dos dentes.

Completei dezoito anos, e tirei fotos, para o

RG, carteira profissional etc. Consegui um

emprego em uma firma por nome de Sotril, esta

firma trabalhava em canteiros de obras e prestava

serviço para a CESP uma empresa que construía

usina hidrelétrica em Ilha solteira SP. O trabalho

era distante de Votuporanga oitenta quilômetros e

todos os dias em uma caminhão mercedes, coberto

embarcávamos para as obras, trabalhávamos em

diversas cidades como Guarani do Oeste, Ouro

este, Ilha Solteira e até na adorável Indiaporã. O

salário era muito baixo, mas já era melhor do que

trabalhar de bóia fria.

Fevereiro de 1976 mudança para São

Caetano do Sul

Tendo sonhos de uma vida mais digna e

próspera, senti o chamado da grande cidade de São

Paulo. Já havia feito várias viagens, quando menor

de idade, e eu tinha certeza que já estava gostando

imensamente desta cidade da garoa. Apesar do frio

intenso e garoa, que fazia parte da paisagem

citadina. Comuniquei o desejo para mamãe e ela

com lágrimas nos olhos disse: - Faça o que você

quiser meu filho, sei que Deus vai te abençoar.

Page 22: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

21

Parti, só com minhas roupas de passeio que

foram ganhas, e em uma malinha de couro fui

morar na casa de meu irmão Walter na rua Henrica

Grigolleto Rizzo no. 202 Bairro Santa Maria em

São Caetano do Sul SP. Minha permanência na

casa do Walter foi por pouco tempo. Em Março de

1976, fui informado pelos irmãos da Bete esposa

do Walter que uma firma por nome de Kentinha,

em São João Clímaco S. Paulo estava com vagas

para ajudante de caminhão. Esta firma ficava

distante 40 minutos da casa do Walter, eu tomava

dois ônibus, um até Vila São José em São Caetano

do Sul e outro para São João Clímaco São Paulo,

quando não podia pagar o ônibus eu ia a pé da Vila

São José à São João Clímaco. Fui admitido em 05

de Março de 1976.

Certo dia, o Walter me chamou e disse:-

Jerônimo, me desculpa mas a Bete não te quer mais

em casa pois sua permanência tira a nossa

privacidade, e achamos melhor você procurar um

local para morar. disse com certa tristeza.- Parti, e

fui morar e fui morar em uma pensão no largo de

São João Clímaco nos fundos do “bar do tio”. A

vida na pensão foi terrível, pois dormia num quarto

com oito rapazes recém chegados do nordeste, o

banheiro estava sempre entupido e vivíamos com o

mal cheiro das fezes que boiavam na bacia, a

comida era de péssima qualidade e chorava em

silêncio de saudades da casa da mamãe e de sua

comida quentinha e seu amor por mim. Agora

distante, aquilo que eu nunca preocupava passei a

dar muita importância.

Page 23: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

22

Vida na Kentinha

Kentinha ficava na estrada de São João

Clímaco no. 471, era uma produtora de embalagens

para alimentos e copos descartáveis, tinha dois

prédios, um era a fábrica e outro fica a expedição

de onde partiam os caminhões e kombis para a

distribuição dos produtos. Meu trabalho era de

ajudante de caminhão, e trabalhava das 7:30 às

17:30 horas e haviam os seguintes motoristas: José

Lima, Walter, Joel e Pinheiro. Dos ajudantes eu

me lembro muito bem do José Carlos Dias um

jovem baixinho, mas muito comunicativo. O senhor

José Lima era um pernambucano, sempre disposto

e muito conversador, trabalhávamos nas ruas de

São Paulo fazendo as entregas num caminhão baú

Ford rodando pelas marginais Tietê e Pinheiro e

vários bairros como Vila Maria, Parque Novo

Mundo etc. No depósito de expedição desta firma,

trabalhavam mais ou menos 20 pessoas e a maioria

professavam a fé evangélica, criam em um Deus

Vivo criador de todas as coisas, este Deus era

diferente daquele que eu acreditava. Eu ia às missas

aos domingos desde que eu morava no interior,

fazia minhas orações a vários santos e tinha em

meus bolsos várias rezas para santos que eu julgava

que poderiam me ajudar nos momentos mais

angustiantes da vida, era devoto da Senhora

Aparecida, e minha mente era invadida por muitas

superstições, era viciado em cigarros desde a

Page 24: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

23

meninice, bebia bebidas alcoólicas socialmente e

algumas vezes ficava bêbado.

Minha fé no futuro após a morte era

confusa, não sabia para onde iria minha alma após

meu corpo ser colocado na terra fria, cria num

purgatório, pois desde que eu era criança,

juntamente com a mamãe nós íamos aos cemitérios,

e nas capelinhas deste campo santo queimávamos

vários maços de velas para as almas do purgatório.

Em uma enorme cruz, chamada de cruzeiro,

fazíamos as queimas das velas também. Era

atormentado por arrepios e sempre desmaiava,

dormia com a cabeça coberta por medo de

fantasma. Assim vivendo nesta crendice, conheci

vários crentes que trabalhavam na kentinha, entre

eles estavam: Joel Cirilo Dias, José Carlos Dias,

José Lima, e um chefe de expedição chamado de

João Batista, quase todos pertenciam à igreja

Presbiteriana Renovada de São São João Clímaco,

que fica na mesma rua da firma. A igreja tinha um

salão de adoração nos fundos de um terreno,

outrora era uma centro de macumba, os bancos

eram vermelhos e tinham um compartimento para

os fiéis colocarem suas bíblias e hinários, nas

caixas de som erradiava alguns hinos que o diácono

Hermindo colocava antes do culto. O pastor da

igreja era o senhor Osvaldo Mendes, que era

auxiliado pelos presbíteros: Victor, Joel, José

Antonio, e mais alguns que eu não lembro seus

nomes.

Page 25: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

24

Meus primeiros contatos com o livro da capa preta

Nesse início de 1976, trabalhava com uma

roupa azul, pesava 70 quilos, não usava óculos

apesar de não saber que eu tinha visão míope.

Como ajudante de caminhão, quando não tínhamos

entrega para fazer, ficávamos no interior do

depósito fazendo arrumações das caixas de

embalagens, durante o serviço conversávamos,

sobre vários assuntos. Em uma destas conversas

com o José Carlos eu disse que fazia rezas para

Santa Catarina para arrumar uma namorada para

casar. – O quê? Jerônimo, - disse o José Carlos com

seu ar de gozação – Jerônimo você precisa aceitar

Jesus como teu Salvador e quando você tiver esse

encontro com ele você vai aprender que não é

preciso usar rezas para falar com Deus, pois você

será um filho de Deus e como filho poderá

conversar de filho para pai sem necessidades de

rezas decoradas. - Jogue fora suas rezas e escutar

mais o que eu quero te ensinar. – assim falou e

continuou a mostrar dentro da bíblia vários

assuntos que antes eu desconhecia. Às vezes saia

para fazer entregas na grande São Paulo, com o

caminhão cheio de mercadorias. Em minhas mãos

estavam as notas fiscais e um guia de ruas, na

direção do grande caminhão estava o Joel, sempre

entoando alguns hinos ao seu Jesus, tinha uma

linguagem diferente das que eu era acostumado a

ouvir no meu dia-a-dia. No painel do caminhão,

havia a causa de sua vida ser tão bela e feliz, “uma

Page 26: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

25

Bíblia” livro gasto pelo manuseio diário, rabiscado

em suas páginas, um evidente sinal que este livro

era importante para seu leitor assíduo, este livro

tinha os preceitos que ditavam normas à sua

conduta de vida, e enchia de alegria sua vida com

as promessas Divinas, cada momento de folga eu

via o Joel ler, e fechava os seus olhos em atitude de

adoração, nos restaurantes quando parávamos para

o almoço, antes de nós almoçarmos, ele inclinava

sua fronte e dava graças ao Pai pelo alimento. –

Jerônimo – disse ele – Você precisa aceitar Jesus

como teu Salvador, para onde vai sua alma depois

que você morrer? Você tem certeza de tua

salvação? com esta vida que você leva, para onde

vai sua alma depois que você morrer? Pegue esta

Bíblia e veja o que diz Marcos 8: 36. Eu com muita

vergonha pegava o livro e me atrapalhava

desfolhando, mas ele com paciência achava o texto

e eu lia: - Que aproveita ao homem ganhar o

mundo inteiro e perder sua alma? – palavras de

Jesus. Com estas palavras poderosas eu estava

sendo orientado na nova fé, mas foi muito difícil

largar os vícios, pois mesmo dentro do caminhão,

eu enchia a cabina de fumaça de cigarros, mas

algumas vezes eu tentava por conta própria deixar

os vícios, chegava em casa e ia destruindo algumas

rezas e aquilo que eu considerava que desagradava

a Deus. Este livro semelhante a força e o corte de

uma navalha feriu meu coração e uma operação no

meu modo de pensar teve início. Senti como um

soldado que é rendido por soldados inimigos e

levado à prisão, feito o julgamento é condenado a

Page 27: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

26

execução à cadeira elétrica. A bíblia teve este

impacto em minha vida.

Foi me indicado pelo Joel à pessoa

de Jesus Cristo como um advogado que podia me

libertar dos vícios e dar-me a certeza de um perdão

da pena de morte, e a luz começou a brilhar nas

trevas de minha pobre vida maculada pelos pecados

e uma vida distante de Deus, sentia com muita sede

de ler as verdades contidas neste livro de capa

preta.

Secretamente no recôndito de minha

pensão onde residia, jogava fora, isqueiros, cigarros

e ficava até três dias sem fumar, mas voltava

novamente, cada tragada eu sentia no meu íntimo

duas batalhas, uma vontade de me libertar com as

próprias forças e o desejo de conhecer mais este

Jesus e seu livro de capa preta.

Em uma Quinta-feira, rendi ao poder

soberano de Jesus, fui pela primeira vez à igreja

Presbiteriana Renovada em São João Clímaco, um

local diferente, uma paz inundava o meu coração,

tinha vontade de chorar tamanha era a emoção que

atingia o fundo de minha alma, pelas caixinhas que

estavam fixadas nas paredes da igreja ecoava uma

melodia evangélica, a música era linda e era

cantada pelo cantor evangélico Feliciano Amaral.

A música falava de um banquete em babilônia, e

dizia assim:- Numa orgia nefanda o rebelde

Baltazar com os súditos do seu reino todos eles a

alegrar, com espanto parou quando viu uma mão

que na parede escrevia.

Page 28: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

27

Ouvi a pregação da mensagem

bíblica, e saí da igreja transformado e professando

ser um crente. Destruí tudo aquilo que eu sabia que

não agradava a Deus, encomendei uma bíblia ao

pastor Osvaldo Mendes e passei a lê-la. Transcorria

o ano de 1976.

Continuo a trabalhar na Kentinha, mas agora como

crente, e a cada entrega que eu fazia nas

transportadoras, hospitais, churrascarias e onde

quer que fosse ali deixava folhetos evangelísticos.

Às quintas feiras as entregas eram feitas na baixada

santista. Em Novembro de 1976, tornei-me

membro da Igreja Presbiteriana Renovada,

admitido através do batismo em uma represa. Com

uma toga branca, num lugar com muitas árvores,

com uma camisa vermelha por baixo, uma calça

super apertada de boca de sino, devido Ter

engordado alguns quilinhos, nesta época eu estava

com 75 quilos. Peguei a fila com outros membros

de toga branca e caminhei para a represa onde era

aguardado pelo pastor Osvaldo Mendes e o

presbítero Eduardo. Ao som dos hinos entoados

pelo povo de Deus, apoiado pelo pastor, fui

empurrado para traz na represa, enquanto ouvia a

voz que dizia:- Eu te batizo em nome do Pai e do

Filho e do Espírito Santo amem. As águas me

encobriram simbolizando morte para este mundo,

levantei das águas e as águas escorrendo pelo meu

rosto simbolizando ressurreição com Cristo. Talvez

meu corpo estará consumido pelas larvas, mas meu

espírito estarás ao lado de meu salvador Jesus

Cristo e juntamente com aqueles que já partiram

Page 29: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

28

para a eternidade. Todos que estiverem lendo estas

humildes notas aceitem esta mesma fé que eu

aceitei um dia.

Como membro da igreja, dedico aos trabalhos da

igreja, juntamente com a leitura intensa da bíblia,

aos sábados a tarde eram realizados trabalhos em

um hospital no bairro do Brás, passei a pregar as

mesmas mensagens que um dia havia me

conduzido a Cristo.

Em Fevereiro de 1977 fiz uma ficha na

Mercedes Benz do Brasil para trabalhar de ajudante

de produção, fui chamado, mas estava trabalhando

ainda na Kentinha, e a Mercedes precisava urgente

de fazer a admissão, mas a Kentinha não queria me

dispensar, pedi a conta mas fui obrigado a cumprir

30 dias de aviso prévio. Fiquei desesperado e com

medo de perder o emprego da Mercedes. Falei com

o Joel e relatei meus medos e ele olhando bem

firme nos meus olhos disse:- Jerônimo, se você não

crê no teu Deus e não tem fé que este emprego é

seu pegue sua bíblia jogue fora em não vem mais

para a igreja. Chegue em sua casa e leia o capítulo

11 de Hebreus! Foi uma bronca e tanto mas serviu

para eu testar o meu Deus! Passei 30 dias de aviso

prévio, e no dia 20 de Março de 1977 fui admitido

na Mercedes Benz do Brasil S/A como ajudante de

produção. Cumpriu-se os planos de Deus nesta

nova jornada de fé.! No ano de 1978 freqüentando

a igreja conheci uma jovem por nome de Eunice,

filha do me antigo motorista era kentinha, ela

pernambucana, de baixa estatura, usando óculos de

grau, saia com botões no meio, começamos a

Page 30: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

29

conversar após o culto e iniciamos um namoro. Ela

trabalhava no laboratório Zambom próximo a via

Anchieta. Eu buscava no seu serviço e

namorávamos em sua casa e aproveitava também

para “serrar a bóia” de Dona Dulce assim quase

sempre escapava da péssima comida da pensão.

Neste mesmo ano de 1978 ficamos noivos e em 23

Setembro casamos. A cerimônia foi realizada pelo

pastor Osvaldo, ainda hoje tenho algumas fotos e

uma fita k7 do casamento. Fomos morar na rua

Imoroti no Sacomã no ano seguinte mudamos para

rua Alencar Araripe nos fundos da casa do Senhor

Claudionor. A Eunice sofre o primeiro aborto, mas

em 1979 fica grávida do Oséias e em 1980 nasce

nosso primeiro filho, em 1981 nasce a Osiane, nós

mudamos para rua Caripurá nos fundos de uma

casa que pertencia ao Senhor Sérgio. Na igreja

continuo a trabalhar e já era eleito presbítero. Fui

demitido da Mercedes em 24 de Janeiro de 1983,

mas consegui em emprego como vigilante do banco

Itaú. A direção da igreja me colocou para dirigir

uma pequena congregação no Jardim Maria Estela,

estas atividades trouxe muitos benefícios para

minha vida espiritual pois tive meus conhecimentos

enriquecidos com diversas experiências, mas

comecei a Ter sérios problemas com os ciúmes da

Eunice e trouxe muitas dificuldades para continuar

a trabalhar na igreja. Mudamos para Estrada de São

João Clímaco numero 414 e em seguida para rua

Otaviano L.R da Silva Neste ano no dia 30 de Julho

de 1985 nasce nosso adorável filho: Osiel. Neste

mesmo ano fiz minha cirurgia de vasectomia para

Page 31: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

30

evitar mais filhos. O Osiel nasceu com um tumor

chamado de angioma gigante em seu joelho

esquerdo, foi preciso uma delicada cirurgia na

Clínica Infantil do Ipiranga. Após a cirurgia vieram

as complicações trazendo fortes anemias que

debilitaram o seu frágil corpinho. Ainda me lembro

que todos os dias de manhã, eu enrolava ele em um

chale verde e levava à casa da prima da Eunice

chamada de Irani, sendo ela enfermeira aplicava

fortes doses de injeções em suas nádegas tão

macérrimas, eu gostaria de receber aquelas

injeções, tamanha era o dó que eu sentia deste meu

filho. Os médicos nos alertaram que o período mais

crítico de sua vida seria aos doze anos de idade.

Em 1986 fiz mais uma vez uma ficha na

Mercedes para trabalhar como segurança. Mais

uma vez Deus me abençoou e eu pela Segunda vez

voltei a trabalhar nesta tão boa empresa. Em

Setembro de 1995 fui demitido e passei a trabalhar

em entrega de compras como clandestino na porta

do Rhodia em São Bernardo do Campo fiquei

quatro anos, mesmo assim mantendo meu lar,

porém tive algumas dificuldades antes de

pagamentos porque tinha muitos gastos com a

variante.

Em Junho recebi notícias que mamãe estava

internada com graves complicações, fique

desesperado e ansioso por ir lá a Indiaporã, porém

estava sem dinheiro, mas graças a Deus ela

melhorou e quando foi o último dia de aula 8 de

Julho comprei passagem e viajei para lá

Page 32: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

31

permanecendo 10 dias até 18 de julho, neste

período conheci a Ana Lucia amiga da minha

sobrinha Jéssica, com as duas fomos até a casa da

Fabiana em Iturama Mg, fomo muito bem

recebidos. Havia levado a Web câmera do Oséias e

aproveitei para registrar momento maravilhosos

cujas fotos estão no meu site! Comi muitos

espetinhos com cervejas na lanchonete do Pedro,

visitei muitas vezes o Clube do ARACI e assisti

jogos do São Paulo futebol clube, principalmente

no dia em que ele sagrou-se tri campeão das

libertadores. Nestes dias, em que lá permaneci o

meu primo Tonhão esposo da prima Nega, me

emprestou a bicicleta, fiz algumas trocas de catraca

e usei todos os dias, indo até pescar no córrego três

tubos distante de Indiaporã 5 Quilômetros, no

caminho quebrou e eu tive que empurrá-la. Viajei

de volta para São Paulo dias 18 e quando cheguei

em casa, ouvi muitos xingatórios da Eunice, meu

velho computador estava jogado na lavanderia,

minhas roupas também, mesmo assim suportei, dia

20 de Julho vou visitar meu netinho no hospital

Beneficência Portuguesa,vejo a felicidade no rosto

de meu filho Oséias, e relembro do dia de seu

nascimento! O Oséias me paga um almoço

(feijoada) regada com uma caipirinha e uma

deliciosa cerveja, e ele me fez lembrar que fazia

muitos anos que nós não almoçávamos juntos. No

dia 21 a Eunice me expulsou de casa! Fez

escândalos no quintal ameaçando de chamar a

polícia se eu não fosse embora, como eu não gosto

de escândalo, arrumei uma Kombi pagando 20,00

Page 33: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

32

reais, e num quartinho no Patente recomecei minha

vida, agora com paz! Saí apenas com minhas

roupas algumas rasgadas pela Eunice, computador,

fogareiro sem gás, e meus adoráveis livros, colchão

apenas com a espuma. Deus continua a me olhar e

eu agradeço muito a pessoas especiais que muito

me ajudaram. A Maria da Paz mandou seu filho até

o posto da ultragás, com duas sacolas e 20,00 reais,

na sacola tinha alimentos e panelas, comprei meu

gás e pude assim cozinhar meus alimentos.

Também recebi da professora Elizete uma

frigideira e um toalha, da Patrícia também

professora, recebi um televisor de 5 polegadas, e

alimentos que tão gentilmente ela com seu esposo

vieram trazer aqui no meu quartinho!

A passagem do ano para mim foi um pouco triste,

ainda tenho muitas mágoas da Eunice Hoje apenas

a Osiane almoçou aqui, O Michel chegou em casa

embriagado. A tarde a Osiane brigou muito com o

Michel e quebrou vidros na rua causando muitos

escândalos

Entardecer de minha vida

Uma bela manhã no intervalo de aulas,

vieram algumas enfermeiras até a escola Ataliba de

Oliveira, foi feito um chekup em mim e constatou

que sou hipertenso pressão 160x100. Após

Page 34: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

33

consulta no hospital Servido público, no setor de

emergência passei a fazer uso de medicamentos

para controle da hipertensão, inciei com enalapril,

captomed, lodipil e losartana. Uma manhã após

jogar bola no pátio da escola descalço, senti fortes

dores no calcanhar que me atormentaram muitos

dias. Após fazer radiografias no local das dores,

constatou esporão no calcâneo. Pronto, tomei

injeções e mais alguns remédios para dor. Esporão

continua a me atormentar. Estou tendo muitos

gastos com aluguel a 300, reais luz telefone,

produtos matinais e misturas, além de ainda vir

descontada em meu pagamento a pensão

alimentícia de 28 por cento. Isto tem sido um

câncer que me corrói intimamente, tenho tristezas e

sinto a grande ingratidão do cônjuge, minha

esperança é conseguir um advogado e entrar com

pedido de revisão desta pensão.

A chegar em meu lar após um dia de trabalho 2 de

junho de 2006 devido não ter mistura em casa,

passei no restaurante Campeão e trouxe um

marmitex de costela

Qual não foi a minha surpresa ao abrir a caixa de

correspondências lá estava uma intimação policial

de SBC convocando-me para 22 de junho deste ano

uma audiência com o delegado de policia para

esclarecer uma apropriação indébita referente á

pensão alimentícia.

Sexta-feira 19 de Março 2006 comecei a Ter

algumas decepções com o filho caçula. Estando eu

Page 35: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

34

com dificuldades financeiras ao vê-lo sair para

trabalhar disse para que me emprestasse 20, reais.

Ele me disse que nem sabe se iria receber nesse dia.

A noite ele chegou em casa com roupas e sapatos

novos. Fiquei triste pela ingratidão e creio que

minhas dificuldades serão sanadas e terei uma vida

sem humilhação de suplicar ajuda dos filhos.

Sempre recebo gozações dos filhos e do cônjuge

devido algumas reclamações que eu faço sobre

minha saúde, tenho tomado resoluções de não mais

reclamar ou dizer o que sinto para evitar

consternações. Abril 28, peguei 6 aulas numa

escola por nome Caran Apparecido Gonçalves

próximo ao hospital Campo limpo. Trabalho no

período noturno. Saio da escola Café Filho as 13.30

viajo para casa, viajem que dura 2 horas. Descanso

um pouco e retorno para lecionar para o EJA

ensino de suplência na escola Caran.

Final de Agosto passo por uma situação financeira

muito difícil e sem dinheiro para o transporte, peço

para o Osiel após seu pagamento de adiantamento e

ele se recusa a me ajudar. Falatórios da Eunice,

acusações, e por não agüentar mais a crise

conjugal, contatei o Silas funcionário da Unasp,

reservei um quartinho na rua Bracará 154 fundos.

Lugar sossegado, porém acreditei que encontraria o

sossego que precisaria. Numa quarta feira enquanto

a Eunice foi trabalhar, preparei um saco de lixo

mais uma sacola, peguei meu monitor, roupas e fiz

a viagem para minha nova morada. Fiz uma

segunda viagem e levei a tv mais algumas coisas e

Page 36: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

35

deixei um bilhete manifestando minhas mágoas e

iniciando uma vida nova.

O quartinho, ou melhor, minha suíte, pois tem um

banheiro interno, coloquei minhas coisas no chão,

caixotes de frutas serviram para apoiar o

computador e a TV. Pregos na parede seguraram

minhas roupas. Um colchão esquecido pelo antigo

morador serviu para eu dormir. Durmo no chão e

não tenho cadeira para sentar. Almoço na escola

Café filho, e a noite como algum lanche, lavo

minhas roupas e um barbante serviu de varal.

A vida só, tem suas tristezas, a solidão minha

amiga inseparável às vezes faz quase chorar de

saudades de meu filho e minhas netinhas e o

netinho Gustavo. A TV me traz notícias e assisto

alguns filmes, a imagem está ruim porque não

tenho antena ainda. Hoje enquanto digito estas

linhas estou um pouco mais feliz, barriga cheia,

acabei de comer um lanche que sai debaixo de

chuva para comprar. A professora Joana do Café

me emprestou 50, reais, ainda tenho bons amigos.

Ontem 31/8 a Mary me ofereceu ajuda nestes

momentos difíceis.

É interessante que certas desilusões ás vezes vem

para o nosso bem, estava com dificuldades

financeiras, pois meu pagamento seria pouco para

cumprir meus compromissos devido o pagamento

de pensão para a Eunice. Havia um compromisso

íntimo com a MP no Metrô V. Mariana cheguei

atrasado e não tive contato com a pessoa, fui para

uma lanchonete e comecei a jogar numa máquina

caça níqueis, estava muito nervoso pois estava

Page 37: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

36

perdendo uns 20 reais, passou uma criança e me

pediu um lanche, não dei atenção e ela me disse:

Boa sorte hein? Após alguns minutos ganhei R$

700,00 na máquina. Paguei algumas dívidas e pude

comprar uma antena para TV e sair do crédito

especial do banco. Hoje enquanto digito estas notas

tenho no bolso 150,00 e vai dar para terminar o

mês.

Nas notas anteriores disse que estava dormindo no

chão, hoje após 7 de Setembro já tenho meus

móveis na suíte: caminha de ferro, cobertor, mesa

para TV e computador, alimentos para jantar.

“Estou feliz” De manhã liguei para Osiane e a

mesma disse que a Eunice quer falar comigo, ainda

não telefonei para ela, demorei 26 anos para

libertar do jugo do matrimonio e não vou voltar

assim tão fácil. Que Deus me ajude a viver só e

com saúde.

A Larissa fez 2 anos fala em monossílabos como

vi, (vidro) tal hospital e algumas vezes ela diz bye

bye com sua voz meio grossa. Quando fica brava

não olha para ninguém, abaixa a cabeça e cruza os

braçinhos, outras vezes e quase sempre joga no

chão com toda a força a mamadeira e o que tiver

nas mãos, vai até a geladeira e abre a porta com

tudo. Em Outubro de 2007 ao subir um degrau da

escada aqui de casa indo atrás de mim porque

queria balas, ela tropeçou e cortou a sobrancelha,

levei-a até o posto de saúde do Heliópolis teve que

suturar com 3 pontos, tive muito dó.

Page 38: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

37

A Mikelly tem 5 anos faz muitas birras, não gosta

de tomar banho, e quando percebe que vai embora

e a Eunice começa a arrumar sua mochila faz a

maior gritaria. As duas ficam com a Dona Zilar

uma vizinha da Osiane que tomam conta das duas,

apesar que as vezes a Larissa vem com feridas na

boca.

Algumas anotações a partir de hoje virá em conta

gotas.

Novembro de 2007 ao aferir a pressão no posto

constatei para meu desespero que a pressão estava

20x12. Permaneci 3 horas no posto tomando

medicamentos, preciso manter o uso dos remédios,

enalapril 10mg, hidrocloritiazida, atenolol. Creio

que se eu manter os remédios poderei viver um

pouco mais.

Hoje 1/12/07 o Osiel trouxe para nós uma deliciosa

feijoada com coca cola, fiz um comentário sem

intenção que ele parece “cachorro louco”, pois

chega muito tarde e sai rapidamente, fui mal

interpretado por ele e a Eunice. Quis comparar

sobre o desespero em chegar e sair e ficar sem

sossego.

Tenho no computador um arquivo de uma vaca

louca que quando os mosquitos mexem com ela e

dá um mugido e começa a dançar muito louca.

A Larissa com dois anos morre de medo e nem

chega perto do computador, alguns fatos são muito

engraçados.

Page 39: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

38

Ontem dia 5/12/07 fiz 51 anos e ao chegar em casa

aqui estavam a Osiane e o Michel para me darem

os parabéns. Fui cumprimentado pelo Osiel a

noite, durante o dia o Oséias me ligou dando os

parabéns, na escola os alunos da 8 ª vierem quase

todos me cumprimentar.Faço parte da comunidade do

Orkut e faço muitos amigos.

Ao cair da tarde de 8/12/07 lá pelas 18:00 horas

fritei um ovo e comi com arroz feijão, pois estava

com fome. Em casa a Eunice cuidava da limpeza,

no quarto as netinhas brincavam sem parar e

brigavam também.Tocou a campanhia e pensei que

fosse apenas a Osiane para buscar as crianças,mas

era oOséias, Osiane, Raquel Gustavo, trouxeram

um bolo para comemorar meu aniversário.

Pela primeira vez na vida alguém me presenteou

com um bolo. Fiquei muito feliz.

17/12/07 Hoje ganhei do professor Carlos na escola

Itaúna, 2 pares de sapatos usados, mas em bom

estado e um paletó para que eu possa usar na

formatura de amanhã. Fiquei muito feliz.

20/12/07 Hoje às 16 horas compareci à escola

Itaúna entreguei relatórios do ano letivo.

Foi preparado pela diretora, uma lauta mesa de

alimentos: Arroz com frutas, maionese, castanha

portuguesa, carne de pernil, vinhos, champanhas,

muitas frutas, e principalmente a s cristalizadas,

como damasco, tâmara, castanhas etc.

Page 40: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

39

Foi solicitado ao professor Carlos que abrisse a

garrafa de champanha gigante e ao abri-la caiu na

mesa quebrando várias taças, ele não se incomodou

e “levou tudo na esportiva” .

Acho que nunca participei de um final de ano em

escola como aqui no Itaúna. O ano foi difícil mas o

final foi maravilhoso. Presentes os professores do

noturno: Cíntia, Angela, Vandoir, Carlos e outros.

Boca maldita

O que está contribuindo para o fim desta vida junto

com a Eunice este 4º retorno para casa é a

facilidade que ela tem para ofender com suas

palavras, ela não mede as conseqüências e xinga

mesmo. Hoje o Osiel estava pintando a casa, com a

tinta que ele comprou, eu falei que ia pintar a

lavanderia. A Eunice disse:- Não compra tinta e

fica pegando carona na tinta do Osiel. – Ela se

esquece que se tem dinheiro na conta dela veio

tudo de mim que anda pago esta maldita pensão.

- Ontem 21/12/07 ela após muito xingar disse que

minha mãe é puta etc.

- Ainda faço planos de ir embora definitivo para

Campinas e dar uma adeus para sempre para a

Eunice e viver minha vida por lá.

020108 - Engano seu de pensar que o que você faz,

fica por isso mesmo. Você se “fode” e não percebe.

Com essas palavras eu deduzi que ela comete

algum mal sem eu saber. Alguma vingança cruel.

Não dá para eu ficar mais nesta casa.

Page 41: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

40

27/12/2007 Após uma grande discussão com

Eunice fui até o terminal Tietê e viajei para São

Sebastião. Meu genro Michel estava reformando

uma casa lá. Cheguei 20.00 horas e curti a vida até

sábado.

A casa estava sem energia, para conter os

pernilongos era necessário acender uma fogueira,

os alimentos eram preparados num fogãozinho

velho. Assim que eu cheguei o Michel estava

usando energia do vizinho, desligaram a luz!

A praia é maravilhosa, águas límpidas, areia muito

branca, muito calor, andei muito e criaram-se

bolhas nos pés.

A minha netinha Mikelly com apenas 5 anos de

idade fez a seguinte pergunta para a Eunice- Vó, o

Osiel lavou a roupa dele? – Não, disse a Eunice, Eu

lavei! A Mikelly tinha percebido que eu tenho

sempre lavado minhas roupas. Eu constantemente

lavo e cozinho em casa porque a Eunice não faz

nada por mim.

Livros lidos nas férias dezembro 07 jan 08

Terminei o livro pássaros feridos

Guerra de botões

Os três mosqueteiros

Vida de droga Walcyr Carrasco

Vidas amargas

Consegui ficar em casa até ao final das finas

de final de ano, não suportando mais os maus tratos

do cônjuge no dia 24 de Janeiro peguei algumas

roupas e livros e saí de casa mesmo sendo

Page 42: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

41

praguejado pela Eunice,estando numa rua deserta

em São João Clímaco minha amiga Mary as 17

horas me deu uma carona até sua casa, fiquei até o

dia de ir para Sumaré SP.

Fui acolhido pela minha prima Kenia e sua

colega dona da casa Márcia, a vida num mês

transcorreu bem até que senti que a Márcia estava

um pouco diferente comigo, aí senti que “era hora

de colocar a viola no saco e cantar em outra

freguesia”

Após um mês em Sumaré consegui através

do professor Agostinho, uma casa próximo da

escola 3 cômodos rua Brás Cubas 843 jardim

Amanda II Hortolandia. A casa é um pouco velha

com problemas de vazamentos na cozinha e

banheiro, encontrei na casa um colchão de casal e

uma coberta, me apossei! Não tinha nenhum

móvel, para tomar minhas refeições, consegui num

pequeno restaurante na avenida Brasil, uma mulher

cristã que passou a me vender fiado, fiz amizade

com o zelador de minha escola senhor Manuel e

sua companheira D. Paulina, foi muito útil pois eu

ganhei uma cama um colchão uma bi cama uma

mesa uma cadeira talheres e panelas cômoda etc. e

me vendeu uma geladeira usada por 100,00. Graças

a Deus e espero poder recompensá-la. Assim que

ganhei a bi cama a D. da casa D. Josefa me pediu

para devolver o colchão e uma antena da

casa.Recebei também do professor Agostinho uma

TV usada que muito tem me ajudado em minhas

horas de insônia.

Page 43: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

42

Ao receber o pagamento de Março fiquei

um pouco decepcionado pois recebi apenas 400,00

e não foi possível honrar meus compromissos pois

ainda estava devendo para a Márcia 241,00 do

aluguel em Sumaré. Comprei um botijão 40,00 um

fogão 70,00, gás 32,00 e alguns gêneros

alimentícios no mercadinho Lisboa.

Conheci uma pessoa que muito conversou

comigo, criamos um boa amizade, é a Isabel um

maravilhosa mulher que cuidava da casa da

proprietária, tomamos cerveja no mercadinho com

sua filha e irmã, constantemente nós conversamos

na rua ou no portão, pois ela receosa das más

línguas dos vizinhos evita entrar em casa, mesmo

assim algumas vezes ela veio como beija-flor bem

rapidinho e olhamos algumas fotos de minha

família. Tenho gostado muito dela acho difícil ficar

alguns dias sem a vê-la. Fui até a chácara da Bel,

ela iria sair para uma consulta as 10.00 horas,

peguei alguns abacates e um jaca. Saí com ela,

deixei as frutas em casa e acompanhei até uma

unidade básica de saúde, senti muita atração por

ela, seu lindo corpo me fez tomar algumas decisões

que achei que me envergonharia muito, toquei em

seu ombro , alisei suas costas, forcei um beijo,

porém ela virou o rosto e a beijei. Ela me disse para

dar um tempo e o que tiver que acontecer

acontecerá. Fui aferir a pressão e constatei que

estava 17x12, passei com uma médica e a mesma

me disse para continuar os remédios que eu tomo.

Voltamos! Ela foi até o mercado e eu fui para casa.

Hoje ao voltar da escola as 23horas, tive insônia e

Page 44: UMESP AUTOBIOGRAFIA, CONTOS E CRÔNICAS · irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me ... Com seis anos de idade meus pais mudam para ... 13 distante de Indiaporã quatro

43

só fui conseguir dormir as 2 horas. Estou sofrendo

muito com a abstinência sexual. Dia 12 de Abril

2008 num sábado, sai com destino ao um barzinho

próximo de casa, para tomar uma cerveja e passar

algumas horas, senti a mão esquerda com um

pequeno formigamento, passei na farmácia para

aferir a pressão e levei um susto, ela estava 18x12,

rapidamente fui ao pronto socorro do bairro e fui

medicado, ficando lá umas 3 horas, no dia seguinte

após tomar os medicamentos receitados pelo

médico a pressão voltou a melhorar, fiquei

preocupado com um dos medicamentos o atenolol,

o mesmo estava tendo um efeito colateral que

mexe com a libido, mesmo sendo obrigado a tomar,

tenho tomado outros que não me causam tantos

danos.

26/04/2008

Sábado, acordei cedo, lavei algumas meias,

cuecas, fiz faxina em casa passando pano molhado

com cândida e desinfetante, corrigi algumas

redações da escola.