Uma Vida de Caráter VI - rl.art.br · Cristo; fardos que ... Isto é verdade em um sentido muito...
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Uma Vida de Caráter VI
Título original: A Life of Character
Por J. R. Miller (1840-1912)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
Out/2016
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M647
Miller, J. R. – 1840-1912
Uma vida de caráter VI/ J. R. Miller. Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2016. 28p.; 14,8 x 21cm Título original: A Life of Character 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230
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Sumário
Sobre Carregar o Nosso Fardo..........................
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Sobre Julgar os Outros..........................................
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Outras Pessoas..........................................................
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Amar o Próximo.......................................................
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Sobre Carregar o Nosso Fardo
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave
e o meu fardo é leve." (Mateus 11: 28-30)
Todos nós temos nossos fardos. É claro, que
não são os mesmos em todos. Alguns são mais evidentes do que outros. Há pessoas cujos
fardos todos nós vemos. Estes obtêm a nossa simpatia; chegamos até eles com amor e ajuda.
Há outros, entretanto, cujos fardos não são visíveis. Parece-nos que eles não têm qualquer
problema, nenhuma luta, nem cargas a transportar. Nós invejamos sua sorte.
Provavelmente, no entanto, se soubéssemos tudo o que Deus sabe sobre suas vidas - nossa
inveja mudaria para simpatia. Os fardos que o mundo não pode ver - são muitas vezes os mais
pesados. As dores que não são anunciadas nos obituários, e sofrimentos não observados - são
muitas vezes as mais difíceis de suportar.
Não é prudente para nós pensarmos que o nosso fardo é maior do que o do nosso próximo; talvez
o dele seja até realmente maior do que o nosso. Nós às vezes desejamos que pudéssemos trocar
de lugar com alguma outra pessoa. Imaginamos
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que nossas vidas seriam muito mais fáceis, se pudéssemos fazer isso, e que poderíamos viver
mais amavelmente ou sendo mais úteis e prestativos.
Mas, se realmente trocássemos de lugar com aquele que, pelo que sabemos, parece-nos ter
uma vida mais favorecida; se realmente ficássemos no lugar dessa pessoa, com todas as suas condições, as suas circunstâncias, suas
responsabilidades, suas preocupações, suas funções, e suas bênçãos - há pouca dúvida de
que rapidamente clamaríamos a Deus para nos dar de volta o nosso próprio lugar, e o nosso
próprio fardo! É porque nós não sabemos tudo sobre ele, que pensamos que o fardo do nosso
próximo seja mais leve e mais facilmente suportado, que o nosso.
Há três palavras da Bíblia sobre o carregar fardos. Uma nos diz que "cada qual levará a sua
própria carga" (Gal. 6: 5). Existem fardos que ninguém pode carregar para nós, nem mesmo
Cristo; fardos que ninguém pode até mesmo compartilhar. Isto é verdade em um sentido
muito real da própria vida, de dever, de sua relação com Deus, de sua responsabilidade
pessoal. Ninguém pode viver a sua vida no seu lugar. Os amigos podem ajudá-lo, incentivar,
simpatizar, ser um advogado, um orientador, mas, afinal de contas, no sentido mais íntimo de
sua vida, você deve vivê-la sozinho. Ninguém
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pode tomar suas decisões por você. Ninguém pode ter fé em Deus por você. Ninguém pode
obedecer aos mandamentos por você. Ninguém pode ter os seus pecados perdoados por você.
Ninguém pode fazer seus deveres ou atender às suas responsabilidades por você. Ninguém pode
tomar o seu lugar em qualquer uma das grandes experiências da vida. Um amigo poderia estar disposto a fazê-lo, mas isto é simplesmente
impossível. Davi teria morrido por causa de Absalão - ele amava seu filho o suficiente para
fazer isso, mas ele não poderia fazê-lo. Muitas mães levariam o fardo de dor de seu filho, assim
que o vissem em angústia e o carregariam para a criança, mas ela só pode sentar-se ao seu lado,
e vê-lo sofrer; ela não pode tomar o seu lugar. Todos devem viver sua própria vida.
Há outra palavra da Bíblia que nos diz que devemos "carregar os fardos uns dos outros" (Gal. 6: 2). Portanto, há cargas que outros podem
nos ajudar a transportar. Ninguém pode fazer o nosso dever para nós, ou levar a nossa carga de
sofrimentos, mas a amizade humana pode colocar força em nosso coração para fazer-nos
mais capazes de fazer ou suportar. É uma grande coisa ter ajuda fraterna na vida. Nós todos
precisamos uns dos outros. Nenhum de nós poderia continuar sem outros para
compartilhar o seu fardo. E nós começamos a ser como Cristo somente quando começamos a
ajudar os outros, para sermos úteis para eles,
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para tornar a vida um pouco mais fácil para eles, para lhes dar algo da nossa força na sua
fraqueza, algumas das nossas alegrias na sua tristeza. Quando tivermos aprendido esta lição -
começamos a viver dignamente.
Há uma outra palavra inspirada, que nos diz:
"Lança o teu fardo sobre o Senhor, e Ele te sustentará" (Salmo 55:22). A palavra "fardo" nesta passagem, na margem da versão King James é
traduzida como "dom". "Lança o teu dom no Senhor." Na versão revista, a leitura marginal é,
"Lança o que Ele lhe deu sobre o Senhor." Isto é muito sugestivo. Nosso fardo é o que Deus nos
deu. Pode ser dever; pode ser luta e conflito; pode ser tristeza; pode ser o nosso ambiente.
Mas seja o que for, é isso que Ele nos deu, e podemos lançá-lo no Senhor Jesus.
A forma da promessa também é sugestiva. Não nos é dito que o Senhor vai levar o nosso fardo
para nós, ou que Ele irá removê-lo de nós. Muitas pessoas inferem que este é o significado,
mas não é. Uma vez que é o que Deus nos tem dado, isto é, de alguma maneira, necessário
para nós. É algo pelo qual vamos crescer melhor em força e beleza espiritual. Nosso fardo tem
uma bênção para nós. Isto é verdade quanto ao dever, provações e tentações, todas as coisas
que para nós parecem obstáculos, nossas decepções e tristezas; tudo isto é ordenado por
Deus como o melhor meio para o
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desenvolvimento de nossas vidas. Por isso, não seria uma verdadeira bondade para nós, se Deus
removesse o nosso fardo, mesmo com a nossa mais sincera súplica. Isto faz parte do nosso
amadurecimento. Há uma bênção em suportá-lo.
A promessa é, portanto, não que o Senhor irá
remover o fardo que lançou sobre nós, nem que Ele vai levá-lo para nós, mas que Ele vai nos
sustentar, para que possamos levá-lo.
Ele não nos libertará do dever, mas Ele nos fortalecerá para ele. Ele não nos livrará da luta,
mas nos capacitará a vencer. Ele não reterá ou retirará a provação de nós, mas nos ajudará em
meio à prova, para sermos submissos e vitoriosos, e fará com que isto seja uma bênção
para nós.
Ele não atenua a dureza ou a gravidade da nossa situação, tirando os elementos não agradáveis,
removendo os espinhos, tornando a vida mais fácil para nós, mas coloca em nosso coração a
graça divina, de modo que possamos viver com serenidade em todas as circunstâncias difíceis e
adversas.
Esta é a lei de toda a vida espiritual – não o afastamento do fardo, mas a doação de ajuda
para que possamos carregá-lo com alegria.
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Muito amor humano, em sua miopia, erra sempre tentando remover a carga. Os pais
pensam que eles estão mostrando verdadeiro e sábio carinho aos seus filhos, quando eles fazem
suas tarefas e funções fáceis para eles, mas realmente eles podem estar fazendo um mal
irreparável a eles, atrapalhando suas vidas e estragando o seu futuro! Então toda terna amizade é capaz de superajudar e
superproteger. Isto ministra alívio e remove fardos, quando iria ajudar muito mais
sabiamente, procurando em vez disso, transmitir esperança, força e coragem.
Mas Deus nunca comete este erro com Seus filhos. Ele nunca nos falha na necessidade, mas
Ele nos ama demais para nos aliviar de fardos que precisamos carregar - para fazer o nosso
crescimento saudável e vigoroso. Ele nunca superajuda. Ele quer que nós cresçamos fortes
e, portanto, Ele nos capacita a lutar, suportar, para vencer; não atendendo nossos pedidos para
o alívio dos fardos, mas, em vez disso, colocando em nós mais graça quando o fardo fica mais
pesado, para que possamos viver sempre com coragem e vitoriosamente!
Este é o segredo da paz de muitos numa enfermaria, onde se vê sempre um sorriso no
rosto do sofredor cansado. A dor não é tirada, mas o poder de Cristo é dado, e o sofrimento é
suportado com paciência. É o segredo da alegria
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profunda, tranquila que frequentemente vemos no lar cristão do sofrimento. A dor é
esmagadora, mas o abençoado conforto de Deus vem em sussurros gentis, e o enlutado se alegra.
A dor não é retirada. Os mortos não são restaurados. Mas o amor divino entra no
coração, tornando-o forte para aceitar a dor e dizer: "Que a Tua vontade seja feita!" (Mateus 6:10)
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Sobre Julgar os Outros
Um dos conselhos de nosso Senhor aos seus
seguidores é: "Não julgueis, para que não sejais
julgados".
Não podemos julgar os outros de forma justa. Por exemplo, não sabemos o que possam ser as causas das falhas que nós condenamos nos
outros.
As fraquezas de algumas pessoas são
hereditárias. Ou pode haver algo em suas circunstâncias e experiências, que é a causa das
peculiaridades que estamos dispostos a censurar. Nós não sabemos quais problemas
escondidos as pessoas têm - quais tristezas secretas.
Alguém em certo lugar diz: "Se pudéssemos ler a história secreta de nossos inimigos, iríamos encontrar na vida de cada homem, tristeza e
sofrimento suficientes para desarmar toda a nossa hostilidade!" Se soubéssemos tudo o que
Deus sabe da vida das pessoas, a nossa censura viraria pena!
Estamos em perigo de menosprezar os atos e caráter dos outros, também, porque podemos
ver apenas um fragmento de sua vida. Há dois
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lados para a maioria das coisas e das pessoas, e costumamos ver apenas um.
Em um dia de Natal o poeta Whittier recebeu de um amigo uma flor pressionada entre dois
painéis de vidro. Um lado mostrava apenas uma massa borrada de folhas e caules, sem beleza. O
outro lado revelava toda a beleza da flor. O Sr. Whittier pendurou seu presente em sua janela,
e virou o lado bonito para dentro. Aqueles que passaram do lado de fora viam apenas "um disco
cinza de vidro nublado", e perguntavam por que o poeta pendurou uma coisa tão desagradável
em sua janela. Mas ele, sentado dentro, via toda a beleza requintada da flor. Outras coisas além
de flores prensadas têm dois lados, e Whittier escreveu:
"Reflexões mais profundas vieram a mim,
Minha meio-imortal flor, de ti;
Homens julgam de uma vista parcial;
Ninguém jamais conheceu sua irmã.
O olho eterno que vê o todo
Pode ler melhor a alma escura,
E encontrar a sensação escondida,
A flor em seu lado mais íntimo ".
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Demasiadas vezes vemos apenas o lado borrado das pessoas – e a maioria das pessoas têm um
lado turvo. Por trás de sua aparência rude, no entanto, pode haver um coração verdadeiro,
gentil e amável.
Conhecemos um homem no mundo entre os homens, e ele parece rude, severo, não gentil.
Mas algum dia nós o vemos em casa, onde seu filho doente sofre, e lá ele é outro homem -
pensativo, paciente, quase maternal. Teria sido muito injusto se tivéssemos feito o nosso
julgamento dele baseado apenas na visão de fora.
Um jovem foi severamente criticado por seus companheiros por sua avareza. Ele estava
recebendo um bom salário, mas vivia em uma forma comprimida, sem ter sequer os confortos
simples que ele poderia facilmente adquirir – seus companheiros de trabalho assim pensavam. Ele nunca gastou um centavo com
luxos e evitava as despesas que outros jovens achavam necessárias. Esse era um lado da vida
do jovem, e havia aqueles que o julgavam por isso.
Mas havia um outro lado. Ele tinha uma única irmã - eles eram órfãos – a qual era uma grande
sofredora. Ela foi confinada em seu quarto e cama, como inválida. Este irmão provia para ela.
Essa era a razão pela qual ele vivia de maneira
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tão econômica, sem comprar coisas para si mesmo. Ele fez esses sacrifícios pessoais, para
que sua irmã em sua solidão e dor, pudesse ter conforto. Esse era o outro lado do caráter, um
lado que parecia tão pouco atraente para os amigos do jovem.
Há inúmeros casos deste tipo. Nós vemos ações de uma pessoa e formamos uma opinião desfavorável - não conhecemos o verdadeiro
motivo ou razão para as ações.
Os fariseus julgaram Jesus e o condenaram amargamente por comer com publicanos e pecadores, e mostrando-se amigo dessas
classes proscritas. Viram-no apenas à luz do seu próprio preconceito, e eles inferiram que ele
não era um homem de Deus, ou ele não teria escolhido esses companheiros. Mas sabemos
que ele andou entre estes desprezados e caídos, para que pudesse salvá-los. O julgamento de
seus inimigos estava errado, porque era apenas um fragmento da verdade.
Nossas próprias imperfeições também nos tornam impróprios para julgar de forma justa.
Aquele que não tem conhecimento de arte não pode ser um crítico justo de obras de arte. Nós
com a nossa natureza moral desfigurada e imperfeita, não podemos julgar com justiça o
trabalho e caráter de outros.
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As próprias falhas que condenamos em nosso próximo - frequentemente existem em nós
mesmos de forma ainda mais grave! Jesus ensina isso quando ele diz: "Por que você vê o
cisco que está no olho do seu irmão - mas não considera a trave que está no teu próprio olho?"
Enquanto nós estamos encontrando pequenas manchas de culpa em outros e julgando e condenando-os por causa desses ciscos - nós
mesmos temos falhas maiores! Nós não somos aptos a ser juízes dos outros, porque temos as
mesmas falhas que vemos neles.
Além disso, enquanto estamos cuidando das
faltas dos outros - estamos em perigo de negligenciar o cuidado da nossa própria vida!
"Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal
de Cristo. Porque está escrito: Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, E
toda a língua confessará a Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.
Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr
tropeço ou escândalo ao irmão." (Romanos 14: 10-13)
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Outras Pessoas
"Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas." (Mateus 7:12)
Há outras pessoas. Nós não somos os únicos.
Alguns dos outros vivem perto de nós, e alguns
mais longe. Nós temos uma certa relação com estas outras pessoas. Eles têm reivindicações
sobre nós. Devemos-lhes deveres, serviços, amor. Não podemos nos desligar deles, de
qualquer um deles e dizer que não são nada para nós. Não podemos nos livrar das obrigações a
eles e dizer que nada lhes devemos. Então inexorável é este relacionamento com os outros
- que em toda a terra, não há um indivíduo que não tenha o direito de vir até nós com suas
necessidades, buscando o nosso ministério de amor. As outras pessoas são nossos
semelhantes, e não há um deles que tenhamos o direito de desprezar ou negligenciar ou lançar
para fora da nossa porta.
Devemos nos treinar – para pensar nas outras pessoas. Nós não podemos deixá-las fora de
qualquer um dos planos que fazemos. Eles têm direitos, bem como nós e devemos considerá-
los ao afirmar os nossos próprios. Nenhum homem pode definir sua cerca sobre a linha no
terreno de seu vizinho. Nenhum homem pode
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pegar ainda que seja um só grão de trigo do seu próximo. Ninguém pode entrar na porta do seu
vizinho espontaneamente. Nenhum homem pode fazer qualquer coisa que irá prejudicar o
seu vizinho. Outras pessoas têm direitos que são inalienáveis, que não podemos invadir.
Devemos a outras pessoas mais do que os seus direitos; devemos-lhes amor. Para alguns deles, não é difícil de pagar essa dívida. Eles são
amáveis e cativantes. Eles são absolutamente respeitáveis. Eles são espíritos agradáveis,
dando-nos em troca tanto quanto podemos dar-lhes. É natural amá-los, e ser muito amáveis e
gentis com eles. Mas não temos a liberdade de seleção neste amplo dever de amar outras
pessoas. Se pretendemos ser cristãos, não podemos escolher a quem amar.
O ensinamento do Mestre é inexorável: " E se amardes aos que vos amam, que recompensa
tereis? Também os pecadores amam aos que os amam. E se fizerdes bem aos que vos fazem bem,
que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de
quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores
emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto. Amai, pois, a vossos
inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e
sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno
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até para com os ingratos e maus." (Lucas 6: 32-35).
O Bom Samaritano é a resposta de nosso Senhor à pergunta: "Quem é o meu próximo?" e o
próximo do Bom Samaritano foi um amargo inimigo, que, em outras circunstâncias, teria
desdenhado da sua presença.
Outras pessoas podem não ser bonitas em seu caráter, nem amáveis em seus hábitos, costumes, e modos de vida, eles podem até ser
cruéis para nós, injustos, pouco razoáveis; e em estrita justiça totalmente indignos do nosso
favor; mas ainda, se persistirmos em sermos chamados cristãos, devemos-lhes o amor que
não pensa mal, que não procura o próprio interesse, que suporta todas as coisas, que
persevera em todas as coisas, e que nunca acaba.
Ou seja, devemos serviço a outras pessoas. Servindo com amor. Não podemos amar com sinceridade, e não servir. Amor sem servir, é
senão um sentimento de vazio, uma pobre zombaria. Deus amou o mundo, que lhe deu. O
amor sempre dá. Se não vai dar - isto não é amor. Ele é medido sempre por aquilo que ele dará. As
pessoas precisam de outras pessoas, portanto, são ordens divinas para nós, que não devemos
nos atrever a ignorar ou desobedecer.
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Recusar-se a ajudar um irmão que está diante de nós, em qualquer tipo de necessidade, é um
pecado tão grande como quebrar um dos mandamentos do Decálogo.
Nós gostamos de pensar que não há pecado em apenas não fazer. Mas Jesus, em Sua
maravilhosa imagem do Juízo Final, torna a condenação dos homens, ligada a não fazerem as coisas que eles deveriam ter feito. Eles
simplesmente não alimentaram os famintos, nem vestiram o nu, nem visitavam os doentes,
nem abençoavam o prisioneiro. Para tornar esses pecados de negligência parecerem ainda
mais graves, nosso Senhor faz uma questão pessoal de cada caso, coloca-se no lugar do
doente que precisa e não é atendido, e diz-nos que toda a negligência em atender com
bondade a qualquer necessidade – é uma negligência para com Ele. Esta palavra divina dá
um tremendo interesse para outras pessoas que são trazidas providencialmente para a esfera de
nossas vidas, de modo que suas necessidades de qualquer tipo, devam apelar para a nossa
simpatia e bondade. Negligenciá-los - é negligenciar Cristo.
Este assunto sobre serviço tem múltiplas formas. Às vezes, é a pobreza que está na nossa
porta, e a ajuda financeira é necessária. Mas mil vezes mais frequentemente, não é dinheiro,
mas outra coisa mais preciosa que temos de dar.
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Pode ser simpatia amorosa. A tristeza está diante de nós. O coração do outro está quebrado.
O dinheiro seria inútil; seria apenas uma zombaria amarga. Mas nós podemos colocar
nos lábios do sofredor, um copo cheio do nosso próprio coração, o que lhe dará uma nova força.
Ou isto é a angústia de uma vida de luta, um Getsêmani humano, ao qual somos chamados a experimentar. Nós não podemos dar qualquer
ajuda - a alma deve lutar suas batalhas sozinha - mas podemos ser como o anjo no Getsêmani do
Senhor, dando força e ajudando o sofredor cansado a conquistar a vitória.
O mundo está muito cheio de tristeza e tribulação, e não podemos viver entre os nossos semelhantes e ser fiéis a Cristo, sem
compartilhar suas cargas. O egoísmo deve morrer, ou a vida do nosso próprio coração deve
ser congelada dentro de nós. Começamos a felicitar-nos por alguma prosperidade especial,
e no momento seguinte alguma necessidade humana bate à nossa porta, e devemos
compartilhar nossas coisas boas com um irmão que sofre. Nós podemos construir nossas belas
teorias de cuidar de nós mesmos, de viver para o futuro, de colocar-se no verão de prosperidade
para o inverno de adversidade, de prover para a velhice ou para os nossos filhos - mas muitas
vezes todos esses planos frugais e económicos têm de ceder às exigências da necessidade
humana. Não podemos dizer que tudo é
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somente nosso quando o nosso irmão está sofrendo, por aquilo que podemos dar.
Não passa um dia nas experiências mais comuns de vida, em que outras pessoas não estejam
diante de nós com as suas necessidades, apelando a nós por algum serviço que possamos
prestar. Pode ser apenas cortesia comum, a bondade suave do círculo familiar, o tratamento do paciente de vizinhos ou clientes nas relações
comerciais, o interesse em pessoas idosas ou em crianças. Por todos os lados, a vida de outras
pessoas toca a nossa, e não podemos fazer exatamente o que quisermos, pensando apenas
em nós mesmos e em nosso próprio conforto e bem, a menos que nós escolhamos ser falsos
para com todos os instintos da humanidade, e todos os requisitos da lei do amor cristão. Temos
que pensar continuamente em outras pessoas. Nós não podemos buscar o nosso próprio prazer
de qualquer maneira, sem perguntar se ele irá prejudicar o conforto de alguma outra pessoa.
Por exemplo, temos de pensar na conveniência de outras pessoas, no exercício da nossa própria
liberdade e na satisfação dos nossos próprios gostos e desejos. Pode ser agradável para nós
nos levantarmos tarde pela manhã, e considerarmos este hábito como algo
inofensivo. Mas há um lado mais sério na prática, pois isto quebra o fluxo harmonioso da
vida familiar, e provoca confusão nos planos
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familiares para o dia. Isto traz trabalho extra para a esposa ou mãe. Isto tenta extremamente
a paciência do amor.
No outro dia, uma comissão importante de
quinze anos ficou à espera de um membro retardatário, por dez minutos, cuja presença era necessária antes que qualquer coisa pudesse ser
feita. Por fim, ele chegou sem sequer apresentar um pedido de desculpas por ter feito com que
quatorze homens ocupados tivessem uma perda de tempo que para eles era muito valioso, além
de ter colocado uma pressão sobre sua paciência e boa natureza. Não temos o direito de
esquecer ou ignorar a conveniência de outros. A aplicação consciente da Regra de Ouro deveria
nos curar de todos esses descuidos.
Estas são apenas ilustrações da forma como outras pessoas incidem sobre nossas vidas. Eles estão tão perto de nós que não podemos nos
mover sem tocá-los.
Não podemos falar sem ter nossas palavras afetando os outros. Não podemos agir na coisa mais simples sem primeiro pensar se o que
estamos prestes a fazer é a vontade de ajudar ou de prejudicar os outros. Somos apenas uma
pessoa na grande família da humanidade, e não ousamos viver para nós mesmos. Nunca
devemos esquecer que existem outras pessoas!
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Amar o Próximo
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Marcos 12:31)
Definições são importantes. Quem é o meu
próximo? O que é amar o meu próximo? Se podemos dizer "próximo" significa apenas uma
parte do conjunto de pessoas, o nosso próprio conjunto; e se podemos definir "amor" como
atender às nossas próprias noções egoístas, será relativamente fácil orar: "Senhor, inclina os
nossos corações para guardar esta lei." Mas as Escrituras não sustentam a nossa interpretação
dessa maneira. Não podemos tomar suas palavras, como o oleiro tem o barro, e moldá-las
para se adequar ao nosso prazer. Ambos, próximo e amor estão claramente definidos na
Bíblia.
Aconteceu uma vez que um certo homem perguntou a Jesus quem era seu próximo, e nós
temos a resposta na parábola do Bom Samaritano. Um próximo é qualquer um que
passa a estar perto de nós e está em alguma necessidade, angústia, ou perigo. Ele pode ser o
pior homem na terra, um fora da lei por seus próprios pecados; ainda se ele estiver perto de
nós e precisar da nossa ajuda, ele é nosso próximo, o homem que o mandamento nos
ordena a amar. Estaríamos dispostos
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suficientemente para amar o nosso próximo se pudéssemos escolhê-los, mas não podemos
fazer isso. Devemos deixar que Deus escolha o próximo em particular que Ele quer que
amemos.
O que é amar o nosso próximo? É o amor que é difícil. Poderíamos fazer quase qualquer outra
coisa, menos do que amar um próximo desagradável.
Mas o amor é a palavra, e nenhuma versão revisada a altera. Não importa o quão indignos, desagradáveis, os nossos próximos possam ser,
ainda assim o mandamento persistente e inexoravelmente nos diz: "Amarás o teu
próximo!"
Nossos próximos estão ao nosso redor todo o
tempo, precisando de nosso amor. Na verdade, eles tocam nossas vidas para sempre, que
devemos guardar cada olhar nosso, cada ação e palavra, com o fim de não ferir algum espírito
sensível.
Algumas pessoas parecem esquecer que as outras pessoas têm sentimentos. Eles estão
constantemente dizendo palavras e fazendo coisas que dão dor. O verdadeiro amor é
atencioso. Devemos treinar nossos corações para os mais delicados sentimentos de bondade,
para que nunca brinquemos com a dor de
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qualquer outro ser humano. Nossos próximos têm corações, e devemos a cada um deles, ao
mendigo que se encontra na rua, o pobre coitado que encontramos rastejando na lama da
degradação do pecado, o inimigo que arremessa seus insultos na nossa cara - a todos, devemos o
amor que é atencioso, gentil, e não faz qualquer dano.
Devemos nos treinar para tal reverência, para tal respeito pela vida humana, que nunca deveríamos ferir o coração de uma das criaturas
de Deus, mesmo por um olhar de desdém.
Nosso amor também deveria ser paciente. Nosso próximo pode ter seus defeitos. Mas nós
somos ensinados a suportar as enfermidades dos outros. Se conhecêssemos a história de vida
dos homens, os fardos ocultos que muitas vezes transportam para outros, a ferida não
cicatrizada no seu coração - teríamos paciência mais gentil com eles.
A vida é difícil para a maioria das pessoas, certamente difícil o suficiente sem a adição aos
seus fardos - por nossas críticas, zombaria, desprezo, e nossa falta de amor.
As coisas que o amor não faz, também devem ser consideradas. Muitos de nós falham em nossa negligência do dever – tanto quanto ao amor,
quanto às feridas que causamos aos outros. Nós
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caminhamos em silêncio frio ao lado de alguém cujo coração está doendo ou quebrado, não
dizendo a rica palavra de amor que poderíamos dizer, e que lhe daria tanto conforto.
Todos ao nosso redor estão famintos, e o Mestre está nos dizendo: "Dê-lhes algo para comer!"
(Marcos 6:37). Mas estamos negando-lhes - o que poderíamos dar; e eles estão morrendo de
fome, quando eles poderiam ser saciados.
Nós não pretendemos ser negligentes. O fato é
que nós não temos nenhuma ideia de que poderíamos ser tal bênção para os outros, como poderíamos ser. Nós não pensamos que com os
nossos pobres pães de cevada - poderíamos alimentar milhares.
Somos muito frugais com nossos dons de coração. Deus nos tem dado o amor – para que
com ele possamos fazer a vida mais doce, melhor, mais fácil, mais vitoriosa e alegre para
os outros.
Cometemos um erro doloroso para aqueles de nós, quando somos mesquinhos com a medida
do amor que lhes damos; quando retemos as palavras de ânimo, apreciação, incentivo,
carinho e conforto que estão em nossos corações para falar; ou quando deixamos de
fazer as coisas, que poderíamos facilmente fazer - para tornar a vida mais feliz e mais agradável
para eles. A lição é grande e tem uma mais
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ampla aplicação. Ela toca as nossas relações com todos os homens. Ela toca os nossos interesses
comerciais; na nossa ambição de obter, não devemos esquecer o nosso próximo. Ela toca a
nossa influência; não devemos fazer o que irá prejudicar o nosso próximo ou levá-lo a
tropeçar. Ela tem a sua influência importante sobre as missões; devemos amar aos que perecem longe ou perto, a quem podemos levar
o evangelho da salvação.
"Seu próximo" é qualquer homem, mulher ou criança, de qualquer caráter, condição, nação ou religião, a quem Deus pode colocar perto de
você em necessidade.
Mas há um círculo interno. Há uma
fraternidade em Cristo que está mais perto ainda. Devemos fazer o bem a todos os homens,
especialmente para aqueles que são da família da fé. Isso não significa, apenas a própria igreja particular.
Aquele que subiu em um balão disse que, assim que ele se elevou, as cercas que dividiam o país
em campos e fazendas desapareceram, até que em breve ele viu apenas uma grande e ampla
paisagem, bonita do prado e do campo e da floresta, com sinuosos riachos e rios, brilhando
na beleza rica sob os céus puros. Assim é, à medida que subimos mais perto de Deus no
amor e na fé e experiência cristã. As cercas que
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dividem a grande igreja de Deus em fazendas eclesiásticas e campos de pastagem, ficam cada
vez menores, até que finalmente desaparecem completamente; e vemos apenas uma grande
santa, igreja de Cristo.
Todos os verdadeiros cristãos são um em Cristo. A maioria das diferenças de
denominacionalismo, são senão de menor importância, em comparação com o amor de
Cristo, a cruz, a Bíblia, e com o céu – aquilo que todos os verdadeiros cristãos têm em comum.
Devemos aprender a amar uns aos outros como cristãos; o amor logo quebra as cercas. Devemos
consolar um ao outro e ajudar um ao outro, no caminho de casa.