UMA TAREFA COM CUBOS COLORIDOS PARA RESOLUÇÃO DE · essa afirmação estão nos estudos da...

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UMA TAREFA COM CUBOS COLORIDOS PARA RESOLUÇÃO DE

PROBLEMAS: GEOMETRIA ESPACIAL + MEDIDAS DE VOLUME

Autora: Lauriane dos Santos Lima1

Orientadora: Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino2

RESUMO

O presente artigo é um relato de experiência a partir da implementação de uma produção didática (unidade didática), a qual faz parte de um caderno pedagógico com abordagem na Resolução de Problemas, dentro do tema Tendências em Educação Matemática. Apresenta a utilização de conteúdos básicos do ensino fundamental (8°ano) para a formalização de conceitos de geometria e medidas de volume, considerando a composição e elaboração do conhecimento do aluno no desenvolvimento do projeto. Os encaminhamentos metodológicos estão fundamentados na proposta para ensinar Matemática através da Resolução de Problemas apresentada em Onuchic (1999) e Allevato e Onuchic (2009). O trabalho realizado teve como objetivo propiciar a articulação de alguns conteúdos do ensino fundamental, como também oportunizar a outros professores a implementação de uma tarefa desenvolvida com esta estratégia metodológica. A Resolução de Problemas apresenta-se como alternativa metodológica para prática escolar. Além de auxiliar na construção do conhecimento do aluno nos processos de ensino e aprendizagem, propicia sua colaboração, cooperação em grupo.

PALAVRAS CHAVE: Resolução de Problemas; geometria; potência; volume; cubo.

1 Especialista em Matemática, Licenciada em Matemática, professora do ensino fundamental e médio e integrante do Programa de Desenvolvimento da Educação do Governo do Paraná. 2 Doutora em Educação pela USP. Professora do Departamento de Matemática e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de

Matemática do Estado do Paraná, os “conteúdos propostos devem ser abordados

por meio de tendências metodológicas da Educação Matemática que fundamentam

a prática docente” (PARANÁ, 2008, p. 63). Já os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN) de Matemática do terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental,

apresentam como um de seus princípios norteadores a respeito da atividade

matemática escolar, que “não é olhar para as coisas prontas e definitivas, mas a

construção e a apropriação de um conhecimento pelo aluno, que se servirá dele

para compreender e transformar sua realidade” (BRASIL, 1998, p.56).

Nesse sentido, a Resolução de Problemas apresenta-se como uma

alternativa metodológica para prática escolar. Além de auxiliar na construção do

conhecimento do aluno nos processos de ensino e aprendizagem, propicia sua

colaboração, cooperação em grupo. De acordo com os PCN “o professor deve levar

em conta que os alunos adolescentes/ jovens atuam mais em grupo do que

individualmente [...]” (BRASIL, 1998, p.39).

A utilização dessa metodologia se opõe à mera reprodução de técnicas

rápidas de cálculos, repetidos problemas que podem ser resolvidos aplicando como

um “carimbo” de rápidas respostas. Como exposto nos PCN (1998, p.39) “em

contrapartida à simples reprodução de procedimentos e ao acúmulo de informações,

educadores matemáticos apontam a resolução de problemas como ponto de partida

para a atividade matemática.”

Diante do exposto, foi elaborada uma produção didático-pedagógica

“Uma tarefa com cubos coloridos para Resolução de Problemas: Geometria

Espacial + Medidas de Volume”, decorrente de um estudo a respeito da Resolução

de Problemas enquanto estratégia metodológica para o ensino e a aprendizagem da

Matemática. A produção integra um caderno pedagógico, correlacionado com esse

tema, composto por unidades didáticas elaboradas individualmente por nove

professores do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Governo do

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Paraná, turma 2010 a 2012, orientados pela Professora Doutora Márcia Cristina de

Costa Trindade Cyrino, da Universidade Estadual de Londrina.

No presente artigo, é apresentado o relato da experiência vivenciada na

implementação da produção didático-pedagógica anteriormente mencionada, em

que foram abordados conteúdos matemáticos por meio da Resolução de Problemas,

mais especificamente os elementos de um cubo para a formalização do cálculo de

seu volume.

2 APONTAMENTOS TEÓRICOS

Problemas e suas soluções ocuparam lugar de destaque no transcorrer

da História da Matemática (ONUCHIC; ALLEVATO, 2005). Exemplos que ilustram

essa afirmação estão nos estudos da Grécia Antiga, e seus sábios como Aristarco

de Samos, século III, a.C., da escola de Alexandria, comparando as distâncias da

Terra à Lua e da Terra ao Sol; Eratóstenes (276-196 a.C.) que apresentou o valor

aproximado do raio da Terra; e Ptolomeu (aproximadamente 150 d.C), astrônomo e

autor da obra “Almagesto” e de um método para o cálculo da distância da Terra à

Lua (ÁVILA, 2004).

Outros exemplos que podem ser citados são os problemas que os

números negativos começaram a impor no dia a dia do homem e sua formalização

inicial com os indianos (século VII d.C.), destacando Brahmagupta (598-670),

descrevendo em sua obra as regras para quantidades com negativos (CYRINO;

PASQUINI, 2010). No campo da Geometria, as interpretações sobre operações com

segmentos dadas por René Descartes (1596-1650), em 1637, ao publicar La

géométrie e as construções geométricas com segmentos também consideradas pelo

matemático David Hilbert (1862-1943) (CYRINO; PASQUINI, 2010).

Os problemas impulsionaram muitas formalizações necessárias ao

desenvolvimento da sociedade e do conhecimento matemático desde os tempos

antigos. Mas a discussão em torno do ensino de Matemática por meio da resolução

de problemas, não é tão antiga assim.

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Conforme Onuchic e Allevato (2005, p. 215), foi na década de 1970, que

“tiveram início investigações sistemáticas sobre Resoluções de Problemas e suas

implicações curriculares.” No entanto, apenas no fim da década de 1980 ela “passa

a ser pensada como uma metodologia de ensino, como um ponto de partida e um

meio de se ensinar matemática” (ALLEVATO; ONUCHIC, 2009, p. 5).

Allevato e Onuchic (2009), baseadas no estudo de Schroeder e Lester

(1989), apresentam caminhos diferentes de abordar resolução de problemas que

expressam diferentes concepções, a saber: teorizar sobre resolução de problemas;

ensinar a resolver problemas; ensinar Matemática através da resolução de

problemas. Teorizar sobre resolução de problemas ressalta o modelo de resolução

de George Polya que tratou do assunto no livro A Arte de Resolver Problemas. Para

ensinar a resolver problemas, o professor se concentra na maneira como a

Matemática “é ensinada e o que dela pode ser aplicada na resolução de problemas

rotineiros e não rotineiros” (ALLEVATO; ONUCHIC, 2009, p. 5). Uma proposta para

ensinar Matemática através da Resolução de Problemas é apresentada em Onuchic

(1999) e Allevato e Onuchic (2009).

Trata-se de um trabalho onde um problema é ponto de partida e orientação para a aprendizagem, e a construção do conhecimento far-se-á através de sua resolução. Professor e alunos, juntos, desenvolvem esse trabalho e a aprendizagem se realiza de modo colaborativo em sala de aula [...] (ALLEVATO; ONUCHIC, 2009, p. 7).

Ainda de acordo com essas autoras, não há “formas rígidas para colocar

em prática essa metodologia” (ibidem). Uma proposta, sugerida por elas, de

organização das tarefas em etapas a serem desenvolvidas pelo professor e pelos

alunos, é a seguinte:

1) Preparação do problema – Selecionar um problema visando à construção de um novo conceito, princípio ou procedimento. Esse problema será chamado problema gerador. É bom ressaltar que o conteúdo matemático necessário para a resolução do problema não tenha sido ainda trabalhado em sala de aula. 2) Leitura individual – Entregar uma cópia do problema para cada aluno e solicitar que seja feita sua leitura.

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3) Leitura em conjunto – Formar grupos e solicitar nova leitura, agora nos grupos. Se houver dificuldade na leitura do texto, o próprio professor pode auxiliar os alunos, lendo-lhes o problema. Se houver, no texto do problema, palavras desconhecidas para os alunos, surge um problema secundário. Busca-se uma forma de poder esclarecer as dúvidas e, se necessário, pode-se, com os alunos, consultar um dicionário. 4) Resolução do problema – De posse do problema, sem dúvidas quanto ao enunciado, os alunos, em seus grupos, num trabalho cooperativo e colaborativo, buscam resolvê-lo. Considerando os alunos como co-construtores da “matemática nova” que se quer abordar, o problema gerador é aquele que, ao longo de sua resolução, conduzirá os alunos para a construção do conteúdo planejado pelo professor para aquela aula. 5) Observar e incentivar – Nessa etapa o professor não tem mais o papel de transmissor do conhecimento. Enquanto os alunos, em grupo, buscam resolver o problema, o professor observa, analisa o comportamento dos alunos e estimula o trabalho colaborativo. Ainda, o professor como mediador leva os alunos a pensar, dando-lhes tempo e incentivando a troca de ideias entre eles. O professor incentiva os alunos a utilizarem seus conhecimentos prévios e técnicas operatórias já conhecidas necessárias à resolução do problema proposto. Estimula-os a escolher diferentes caminhos (métodos) a partir dos próprios recursos de que dispõem. [...]. 6) Registro das resoluções na lousa – Representantes dos grupos são convidados a registrar, na lousa, suas resoluções. Resoluções certas, erradas ou feitas por diferentes processos devem ser apresentadas para que todos os alunos as analisem e discutam. 7) Plenária – Para esta etapa são convidados todos os alunos para discutirem as diferentes resoluções registradas na lousa pelos colegas, para defenderem seus pontos de vista e esclarecerem suas dúvidas. O professor se coloca como guia e mediador das discussões, incentivando a participação ativa e efetiva de todos os alunos. Este é um momento bastante rico para a aprendizagem. 8) Busca do consenso – Após serem sanadas as dúvidas e analisadas as resoluções e soluções obtidas para o problema, o professor tenta, com toda a classe, chegar a um consenso sobre o resultado correto. 9) Formalização do conteúdo – Neste momento, denominado “formalização”, o professor registra na lousa uma apresentação “formal”- organizada e estruturada em linguagem matemática- padronizando os conceitos, os princípios e os procedimentos construídos através da resolução do problema, destacando as diferentes técnicas operatórias e as demonstrações das propriedades qualificadas sobre o assunto. (ALLEVATO; ONUCHIC, 2009, p.7-8, grifo nosso).

A implementação do trabalho “Uma tarefa com cubos coloridos para

Resolução de Problemas: Geometria Espacial + Medidas de Volume”, relata a

seguir, uma dinâmica de organização das tarefas com base nessas etapas

apresentadas pelas autoras.

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3 RELATO DA EXPERIÊNCIA

A produção didático-pedagógica foi implementada com 27 alunos, em

uma turma de oitavo ano, do ensino fundamental, na disciplina de matemática, de

um Colégio da rede Estadual, da área rural de Londrina, Paraná.

O problema envolveu a exploração de pequenos cubos, subdividido em

4 questões, com o objetivo de trabalhar com os conceitos de geometria e medida de

volume por meio da metodologia Resolução de Problemas. Foram utilizadas 27

cópias do problema, pequenos cubos coloridos para o trabalho em grupos, de 4 e 5

alunos, folhas para anotações de cada grupo, dicionários da língua portuguesa,

livros didáticos de Matemática, folha de anotação do professor para relatório de

avaliação de cada grupo e 27 cópias da formalização da primeira etapa do

problema. Para cada grupo foi entregue um conjunto de 80 cubos coloridos, de 1 cm

de aresta, sendo 8 cubos de cada uma das seguintes cores: amarelo, vermelho,

azul, verde, branco, preto, lilás, laranja, marrom, salmão.

Figura 1: Exemplos de pequenos cubos coloridos Fonte: Lauriane S Lima.

Figura 2: Distribuição dos pequenos cubos coloridos Fonte: Lauriane S Lima.

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O desenvolvimento foi proposto com a finalidade de formalizar o

conteúdo volume do poliedro cubo, além da investigação da regularidade das cores

do problema apresentado a seguir:

3.1 PROBLEMA

Considere um pequeno cubo de dimensão 1 cm x 1 cm x 1 cm.

1) Com o auxílio de um dicionário e de livros investigue o que é um cubo.

2) Quais são os elementos que compõe um cubo? Um cubo tem quantas

dimensões?

3) A partir de uma coleção de pequenos cubos, onde cada cubo tem uma única

cor, investigue qual o menor número possível de cores, que podem ser

utilizadas para montar um cubo com:

Montagem A – 8 pequenos cubos de modo que qualquer cubo pequeno, com

vértice, aresta ou face encostados nas peças vizinhas, não seja da mesma cor;

Montagem B – 27 pequenos cubos de modo que qualquer cubo pequeno, com

vértice, aresta ou face encostados nas peças vizinhas, não seja da mesma cor;

Montagem C – 64 pequenos cubos de modo que qualquer cubo pequeno, com

vértice, aresta ou face encostados nas peças vizinhas, não seja da mesma cor.

(Fonte: adaptado do Canguru Matemático de Portugal/ Canguru Brasil, 2010).

4) Preencha o quadro a seguir:

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Questões

Assumindo o cubo de aresta 1

cm como unidade de medida, determine a

medida da aresta dos cubos:

Assumindo o cubo de aresta 1 cm como unidade de medida,

determine a quantidade de cubos necessárias para as

montagens dos cubos:

Reescreva, utilizando a notação de potência

(baseexpoente

= potência), a quantidade de cubos

necessária para a montagem, levando em conta a aresta do

cubo maior.

Pequeno Cubo

Cubo maior da montagem A

Cubo maior da montagem B

Cubo maior da montagem C

Quadro 1: Organização das informações das montagens com pequenos cubos. Fonte: Lauriane S Lima 06/11.

Questões 1 e 2 - Investigação a respeito do cubo, seus elementos e quantidade

de dimensões, utilizando livros e dicionários.

Esta etapa, contemplou uma investigação a respeito do cubo pelos

grupos de alunos. A resolução dessas questões resultou em uma movimentação

positiva na sala de aula, alguns exemplos de comentários nos grupos como “o cubo

não é um corpo redondo”; “o tijolo seria um cubo?”; “o dado é um exemplo de cubo”;

“o quadrado é um cubo?”. Quanto aos questionamentos, com a verificação da

disposição dos conteúdos de Geometria nos livros didáticos e até mesmo

brincadeiras de montagens diversas com os cubos coloridos, contribuiu para

esclarecimentos feitos pelos próprios alunos. O efeito de organizar conceitos pela

investigação foi um bom começo para a discussão e participação dos alunos na

resolução do problema.

Na plenária dos grupos, com a iniciativa dos alunos, foram eleitos

representantes de cada grupo. Os grupos apresentaram entre 2 a 5 definições

sobre o cubo. A principal discussão gerada pela variação de definições foi para

sistematizar os conceitos com base nos significados apresentados para eles no

dicionário, relacionados à Geometria, bem como nos significados apresentados em

livros didáticos. Tendo como exemplo os cubos coloridos, um grupo, denominado

Grupo 5 e último a apresentar sua investigação, chegou a um consenso com a

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turma a respeito do conceito de dimensão de um cubo e o reconhecimento das três

dimensões, comprimento, largura e altura ou profundidade. Além disso, também

obteve o consenso na resposta dos elementos do cubo (arestas, vértices e faces),

embora alguns alunos ainda estivessem um pouco confusos na localização destes

elementos no cubo.

O trabalho da professora para organizar o início das tarefas em aula e a

atenção na investigação que estava sendo realizada pelos alunos, foi retribuído na

formalização dos conceitos, pelo envolvimento de todos os grupos. Nesta etapa foi

possível abordar o conceito de Geometria Espacial, dentro do conteúdo

estruturante Geometrias; o cubo como um poliedro; um exemplo de poliedro

convexo e do poliedro não-convexo.

Alguns alunos adiantaram a conclusão de que o cubo seria um poliedro

convexo. Com base em um livro didático, um grupo acrescentou à denominação

hexaedro regular, e a professora então aproveitou para acrescentar que o cubo

além de ser um poliedro convexo, também é um poliedro regular porque as faces

são polígonos regulares e congruentes entre si, e que de cada vértice do poliedro

parte o mesmo número de arestas, e que a classificação dos poliedros regulares é

de acordo com o números de faces que possui, daí a denominação hexaedro regular

apresentada pelo grupo, pois o cubo possui 6 faces quadradas.

Complementando a formalização, com o auxílio dos alunos, foi possível

localizar os elementos do cubo, bem como realizar a contagem das 6 faces

quadradas, 12 arestas e 8 vértices desse sólido geométrico, de modo a esclarecer

as dúvidas que ainda haviam por parte de alguns alunos quanto a localização destes

elementos no cubo.

Após a formalização, a professora entregou uma folha com o resumo dos

conceitos aos alunos.

Questão 3 – Investigação a respeito do menor número possível de cores que

pode ser utilizada para montar um cubo com 8, 27 e 64 pequenos cubos

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coloridos, apresentando como critério que qualquer cubo pequeno, com

vértice, aresta ou face encostados nas peças vizinhas, não seja da mesma cor.

Para esta questão foi necessário mais tempo considerando a realização

de tarefas como montagem, plenária, busca de consenso, com os três itens da

questão, distribuídos e montados separadamente.

Para a montagem com 8 pequenos cubos coloridos, foi utilizado menos

tempo. Uma das dificuldades apresentada por alguns grupos, foi em relação à forma

do cubo, um grupo montou um paralelepípedo, Figura 3a, e outro um “cercado

quadrado” conforme denominação deste grupo, apresentado na Figura 3b, o que

constituiu uma oportunidade para revisar o conceito do cubo com esses grupos e

reafirmar dentro da Resolução de Problemas “que o conhecimento matemático

ganha significado quando os alunos tem situações desafiadoras para resolver e

trabalham para desenvolver estratégias de resolução.” (BRASIL,1998, p.39-40).

Figura 3a – Paralelepípedo e Figura 3b – “cercado quadrado”. Fonte: Lauriane S Lima

Quanto ao consenso das cores, um grupo questionou a situação de peças

vizinhas do seguinte modo:

“– Professora, vizinho é o que mora do meu lado e na minha frente, assim as

peças de cima pode repetir a cor, porque o céu não é meu vizinho”.

Situações como essa são comuns em sala de aula, a professora então

questionou:

“– E quem mora em apartamento, morador de um prédio, onde há vários

andares, onde estão os vizinhos?”

Um aluno do grupo respondeu:

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“– Nunca pensei nisso, mas tem vizinho no andar debaixo e em cima.”

Pode-se considerar o questionamento compatível à realidade desses

adolescentes que, em sua maioria, vivem em chácaras.

Na plenária da primeira montagem todos os grupos apresentaram 8 cores

para a solução, embora alguns alunos, durante a montagem, ainda tivessem

dificuldade quanto a localização de vértices, arestas e faces. Para esclarecer estas

dúvidas, o próprio trabalho em grupo contribuiu, considerando que a organização

das cores exigia do grupo a compreensão destes conceitos.

Na segunda montagem, a plenária foi a exposição na própria mesa de

cada grupo, sem diferença na quantidade de cores apresentadas na resolução, e

todos chegaram novamente a 8 cores. Todavia, a organização dos 27 pequenos

cubos não foi uma solução imediata, nesta etapa precisaria de atenção para iniciar a

percepção de como o volume do cubo é definido. Assim na Figura 4, são mostrados

os 27 pequenos cubos dispostos, inicialmente, em uma camada (as camadas foram

justapostas posteriormente para a montagem do cubo maior), por um grupo

denominado grupo 1. Já na Figura 5, mostra as 8 cores seguindo os critérios da

questão 3, por um grupo 5, preparadas para montagem do cubo maior e

apresentação na plenária:

Figura 4: Montagem com 27 pequenos cubos disposto em uma dimensão.

Fonte: Lauriane S Lima.

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Figura 5: Pré montagem com 27 pequenos cubos com as 8 cores seguindo o critério da questão 3,

preparadas para a montagem em 3 dimensões do cubo maior. Fonte: Lauriane S Lima.

Durante terceira montagem, com 64 pequenos cubos coloridos, os grupos

perceberam o resultado 8 cores de acordo com os critérios da questão. Nesta etapa

restou o trabalho de ajustar os cubos da montagem, utilizando diferentes estratégias

como mostra a Figura 6 e o grupo 1, organizando as cores e as dimensões ao

mesmo tempo. O grupo 1 conseguiu resolver a questão, embora tenha utilizado

mais tempo para organizar as cores e atender aos critérios:

Figura 6: Montagem com 64 pequenos cubos com as 8 cores sendo organizadas nas 3 dimensões,

ainda não atendendo os critérios da questão 3. Fonte: Lauriane S Lima.

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Já o grupo 3, organizou as cores inicialmente no esboço em folha a parte,

seguiu para a organização, conforme a figura 6, terminando com a montagem do

cubo maior. O grupo 3 utilizou esta estratégia para as 3 montagens.

Figura 7: Pré montagem com 64 pequenos cubos com as 8 cores seguindo o critério da questão 3,

Utilizando esboço em folha a parte. Fonte: Lauriane S Lima.

Os grupos restantes, denominados grupos 2, 4, 5 e 6, apresentaram

estratégias similares com a pré montagem mostrada nas Figuras 8, 9 e 10:

Figura 8: Pré montagem com 64 pequenos cubos com as 8 cores seguindo o critério da questão 3,

preparadas para a montagem em 3 dimensões do cubo maior. Fonte: Lauriane S Lima.

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Figura 9: Pré montagem com 64 pequenos cubos com 8 cores, conforme critério da questão 3,

preparadas para a montagem em 3 dimensões do cubo maior. Fonte: Lauriane S Lima.

Figura 10: Finalizando montagem com 64 pequenos cubos com 8 cores, conforme critério da questão 3,

preparadas para a montagem em 3 dimensões do cubo maior. Fonte: Lauriane S Lima.

Embora visível o resultado, nos grupos nenhum aluno expôs algum

argumento sobre a regularidade envolvendo as cores. Então, a professora pediu aos

grupos para refazerem a montagem com 8 cubos e investigar o resultado 8 cores. A

investigação se estendeu para a aula seguinte e com a colaboração de um grupo

chegou-se ao seguinte:

“– Um cubo encosta em 7 cores diferentes”.

A partir dessa afirmação, e não havendo mais progresso quanto a isso na

plenária, a professora acrescentou a discussão que a montagem envolvendo os 7

pequenos cubos satisfaz o critério “cores diferentes a um pequeno cubo de

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referência”, perfazendo o total e a regularidade 8 cores. Exemplificando com a

Figura 11, apresentada na “Tvpendrive”, televisão e recurso disponível na sala de

aula, a professora expôs que um vértice do pequeno cubo preto pode ter contato

com no máximo 7 outros pequenos cubos: lilás, vermelho, marrom, azul, amarelo,

verde e salmão.

Figura 11: Um vértice do pequeno cubo preto e 7 outros pequenos cubos

em 7 cores diferentes. Fonte: Lauriane S Lima.

Outro exemplo também apresentado pela professora, foi na Figura 12,

em que um vértice do pequeno cubo azul pode ter contato com no máximo 7

coloridos, amarelo, verde e salmão, lilás e preto, vermelho e marrom.

Figura 12: Um vértice de um pequeno cubo, exemplo azul, pode ter contato com

7 coloridos pequenos cubos. Organizamos as 8 cores. Fonte: Lauriane S Lima.

No exemplo da Figura 13, também apresentado pela professora, as 7

cores dos pequenos cubos podem se repetir apenas para outro vértice de um

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pequeno cubo, como o lilás, para o qual as cores azul e amarela se repetem, como

também as cores verde e salmão, mas para vértices diferentes. A partir das Figuras

13 e 14, foi possível organizar a regularidade onde cada vértice de um pequeno

cubo pode encostar em até 7 cores como os apresentados nas plenárias com 8, 27,

64 pequenos cubos.

Figura 13: As 7 cores dos pequenos cubos podem se repetir para outro vértice de um pequeno cubo, por exemplo, as cores azul e amarela repetem, como também as cores verde e salmão. Fonte : Lauriane S Lima.

Complementando a Figura 13, foi apresentada a Figura 14, onde as 7

cores dos pequenos cubos podem se repetir apenas para outros vértices dos

pequenos cubos preto e lilás, perfazendo uma organização de 8 cores na pré

montagem de cubos maiores.

Figura 14: Estas 7 cores dos pequenos cubos podem se repetir apenas para outros vértices dos pequenos cubos preto e lilás,

perfazendo uma organização de 8 cores na pré montagem de cubos maiores. Fonte: Lauriane S Lima.

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A última etapa, a Questão 4, compreendeu o preenchimento do quadro 1 e apresentação em plenária, conforme Figuras 15 e 16:

Questões

Assumindo o cubo de aresta 1

cm como unidade de medida, determine a

medida da aresta dos cubos:

Assumindo o cubo de aresta 1 cm como unidade de medida,

determine a quantidade de cubos necessárias para as

montagens dos cubos:

Reescreva, utilizando a notação de potência

(baseexpoente

= potência), a quantidade de cubos

necessária para a montagem de cubo maior, levando em conta a aresta

do cubo maior.

Pequeno Cubo

1 1 1³ = 1

Cubo maior da montagem A

2 8 2³ = 8

Cubo maior da montagem B

3 27 3³ = 27

Cubo maior da montagem C

4 64 4³ = 64

Quadro 1 preenchido: organização das informações das montagens com pequenos cubos. Fonte: Lauriane S Lima.

Na discussão dos valores do quadro 1, houve divergência no pequeno

cubo:

Questões

Assumindo o cubo de aresta 1

cm como unidade de medida, determine a

medida da aresta dos cubos:

Assumindo o cubo de aresta 1 cm como unidade de medida,

determine a quantidade de cubos necessárias para as

montagens dos cubos:

Reescreva, utilizando a notação de potência

(baseexpoente

= potência), a quantidade de cubos

necessária para a montagem de cubo maior, levando em conta a aresta

do cubo maior.

Pequeno Cubo

1 1 11 = 1 e 11 = 1 . 1 = 1

Quadro 1 parcial: organização das informações das montagens com pequenos cubos. Fonte: Lauriane S Lima.

Foi necessário discutir a escrita apresentada por mais de um grupo,

Figuras 15 e 16 (11=1x1=1), após a argumentação de um dos grupos:

“– Não pensamos no 3, porque o 1 já dava o resultado 1. Nos outros foi

preciso o 3 para conseguirmos o resultado. Só agora percebemos que 1 servia, mas

não está certo”.

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Figura 15: Organização da plenária da questão 4. Fonte: Lauriane S Lima.

Figura 16: Parte da organização da plenária da questão 4. Fonte: Lauriane S Lima.

Embora, alguns grupos percebessem que a quantidade de dimensões

(comprimento, altura e largura) 3, não variasse nesta e em outras montagens de

cubos, não utilizaram essa informação para reescrever a informação referente ao

pequeno cubo em forma de potência. Talvez pelo fato de ser a primeira informação a

ser reescrita no quadro, e ainda no momento em que a preencheram não haviam

percebido essa regularidade, ou mesmo porque se elevassem o número 1 a

qualquer outro expoente, o resultado continuaria sendo 1, e como só havia número 1

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na linha do quadro, escolheram então o 1. Os alunos perceberam também que a

medida da aresta do cubo maior, possuía uma variação à medida que se alterava o

total de cubos pequenos.

Após discutir a respeito disso com os alunos e eles chegarem a um

consenso, quanto ao preenchimento correto do quadro, a professora, a partir da

notação de potência, sistematizou com os alunos, a fórmula para o cálculo do

volume do cubo. Também apresentou-lhes a unidade de medida de volume utilizada

neste problema, o centímetro cúbico, enfatizando o metro cúbico como unidade

padrão do Sistema Internacional de Unidades para medir o volume, originário do

cubo com um metro de medida da aresta.

A pergunta “Qual a relação entre o volume dos pequenos cubos e o

volume dos cubos maiores montados?”, foi abordada pela professora para

contribuir na discussão do conceito de Volume onde quantificamos o espaço

ocupado por um corpo, neste problema, utilizamos o cubo 1cm x 1cm x 1cm, onde

seu comprimento de aresta é 1cm e o volume 1cm3.

Na formalização dos conteúdos matemáticos foi possível expressar o

cálculo do volume do poliedro cubo. Neste cálculo, a professora acrescentou que

para o volume do cubo, podemos adotar a letra “V”; e para a medida da aresta do

cubo, podemos adotar a letra “a”; e, 3 o expoente constante que representa o

número de dimensões do cubo (comprimento, largura e altura). Sistematizando:

volume do cubo corresponde à medida da aresta do cubo elevada a quantidade de

dimensões do cubo, V = a3. Estabelecendo a relação com a fórmula matemática

para o cálculo do volume do cubo.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a estratégia metodológica Resolução de Problemas foi possível

abordar por meio desse problema conceitos de geometria e medida de volume.

Ao propor as montagens com os pequenos cubos, foi possível constatar

diferentes estratégias entre os grupos de alunos, além das estimativas. Como

exemplo, na primeira montagem, 8 pequenos cubos, onde logo após uma sequência

de investigações, plenárias e formalização sobre o cubo, a professora deparou-se

com o primeiro procedimento de montagem em dois grupos, um “ cercado

quadrado”, denominação dos alunos, e um paralelepípedo. Este conceito, não

estava, conforme Brasil (1998) “pronto, construído, apropriado” pelo grupo, pois a

proposta exigia outro procedimento a ser organizado coletivamente com base na

apropriação dos conceitos sobre o cubo. Ainda citando Brasil (1998), foi preciso

atuar “mais em grupo do que individualmente” para esclarecer dúvidas e reconhecer

erros e acertos no decorrer da tarefa.

Uma consideração na última etapa, Questão 4, quanto à divergência dos

grupos no preenchimento para o pequeno cubo na notação científica (baseexpoente

=

potência), na tentativa de amenizar o erro de escrita apresentada por mais de um

grupo em 11=1, é a reestruturação do quadro. Como sugestão de aprimoramento,

apresentar o quadro partindo da montagem com 64 pequenos cubos e decrescendo

esta quantidade para 27, 8 e 1. Desta maneira, as 3 dimensões ficam evidenciadas

na potência para o pequeno cubo.

Na investigação sobre a regularidade das cores dos pequenos cubos na

sequência das montagens os grupos apresentaram mais dificuldade. Para esta

etapa foi preciso intervenções constantes da professora para condução de um

consenso e, pode-se afirmar um momento de atenção, pois a formalização desta

etapa precisou de esclarecimentos tanto nos grupos quanto para a turma inteira.

Quanto à avaliação do trabalho realizado, considero que apresentou

resultados satisfatórios durante esta implementação, o que pode ser constatado nas

montagens, nas plenárias, nas participações dos alunos e na formalização do

conteúdo.

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5 REFERÊNCIAS

ALLEVATO, N. S. G; ONUCHIC, L. R. Ensinando Matemática na sala de aula

através da Resolução de Problemas. Boletim GEPEM, n.55, 2009.

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