uma revelação surpreendente e ela fica presa entre o amor ... · Um sorriso torto, cheio de...

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Transcript of uma revelação surpreendente e ela fica presa entre o amor ... · Um sorriso torto, cheio de...

  • A história está se repetindo, e as coisas não correram bem da última vez.

    Alexandria não tem certeza de que vai conseguir sobreviver até seu aniversário de dezoito anos – até o seu Despertar. Uma ordem fanática há muito esquecida está tentando matá-la, e se o Conselho alguma vez descobrir o que ela fez no Catskills, ela é um caso perdido... e Aiden também.

    Se isso não é ruim o suficiente, sempre que Alex e Seth passam tempo "treinando" - o que realmente é apenas a palavra de código de Seth para algum tempo de contato próximo e pessoal - ela acaba com outra marca de Apollyon, o que a traz um passo mais perto de Despertar antes do previsto. Ótimo.

    Mas à medida que o seu aniversário se aproxima, seu mundo inteiro quebra com uma revelação surpreendente e ela fica presa entre o amor e o destino. Um vai fazer de tudo para protegê-la. Um tem mentido para ela desde o início. Uma vez que os deuses se revelarem, libertando sua ira, vidas serão irrevogavelmente mudadas... e destruídas.

    Os que sobreviverem vão descobrir se o amor é realmente maior do que o destino...

  • Guia de

    pronunciação

    para

    Daimon: DEE-mun

    Aether: EE-ther

    Hematoi: HEM-a-toy

    Apollyon: a-POL-ee-on

    Agapi: ah-GAH-pee

    Akasha: ah-KAH-sha

    Zoi mou: ZOY moo

  • S

    Um

    eda vermelha se agarrava aos meus quadris, torcendo-se em um

    corpete apertado que acentuava as minhas curvas. Meu cabelo estava solto,

    sedoso em volta dos meus ombros como as pétalas de uma flor exótica. As luzes

    no salão pegavam cada curva do tecido, de modo que, a cada passo, parecia que

    eu estava florescendo do fogo.

    Ele parou, lábios se abrindo como se a simples visão de mim tivesse o

    tornado incapaz de fazer qualquer outra coisa. Um rubor quente tomou a minha

    pele. Isso não terminaria bem - não quando nós estávamos cercados por pessoas

    e ele estava olhando para mim desse jeito, mas eu não podia me forçar a ir

    embora. Eu pertencia aqui, com ele. Essa havia sido a escolha certa.

    A escolha que eu... não havia feito.

    Os dançarinos se moviam lentamente a minha volta, seus rostos escondidos

    atrás de impressionantes máscaras incrustadas de joias. A melodia assombrosa

  • que a orquestra tocava deslizava pela minha pele e se afundava nos meus ossos

    enquanto os dançarinos se separavam.

    Nada nos separava.

    Eu tentei respirar, mas ele não havia roubado apenas o meu coração, mas o

    ar que eu precisava.

    Ele estava parado lá, vestido com um smoking preto de corte feito para se

    ajustar às linhas duras do seu corpo. Um sorriso torto, cheio de malícia e

    brincadeira, curvava seus lábios enquanto ele se curvava na cintura, estendendo

    seu braço na minha direção.

    Minhas pernas estavam fracas quando eu dei o primeiro passo. As luzes

    cintilantes de cima iluminaram o caminho até ele, mas eu o teria encontrado no

    escuro se necessário. A batida de seu coração parecia com a minha.

    Seu sorriso aumentou.

    Esse era todo o incentivo que eu precisava. Eu disparei na direção dele, o

    vestido fluindo atrás de mim em um rio de seda escarlate. Ele se endireitou,

    pegando-me pela cintura enquanto eu colocava meus braços ao redor de seu

    pescoço. Eu enterrei meu rosto contra seu peito, absorvendo o cheiro do oceano e

    de folhas queimadas.

    Todo mundo estava assistindo, mas isso não importava. Nós estávamos em

    nosso próprio mundo, onde apenas o que nós queríamos - o que nós desejamos

    por tanto tempo - importava.

    Ele riu profundamente, enquanto me girava. Meus pés nem mesmo tocavam

    o piso do salão. — Tão imprudente. — Ele murmurou.

    Eu sorri em resposta, sabendo que ele secretamente amava essa parte de

    mim.

  • Colocando-me de pé, pegou minha mão e colocou a outra na parte debaixo

    das minhas costas. Quando falou novamente, sua voz era um sussurro baixo,

    abafado. — Você está tão linda, Alex.

    Meu coração se encheu. — Eu te amo, Aiden.

    Ele beijou o topo da minha cabeça, e então nós giramos em círculos

    vertiginosos. Casais lentamente se juntaram a nós, e eu peguei vislumbres de

    sorrisos largos e olhos estranhos por trás das máscaras - olhos completamente

    brancos, sem íris. Uma inquietação tomou conta. Aqueles olhos... Eu sabia o que

    eles significavam. Nós fomos levados para um canto onde eu ouvi choros suaves

    vindo da escuridão.

    Olhei para o canto escuro do salão. — Aiden...?

    — Shh. — Sua mão deslizou pela minha espinha e segurou a minha nuca. —

    Você me ama?

    Nossos olhos se encontraram e pararam. — Sim. Sim. Eu te amo mais do

    que qualquer coisa.

    O sorriso de Aiden desapareceu. — Você me ama mais do que a ele?

    Paralisei em seu repentino abraço frouxo.

    — Mais do que quem?

    — Ele, — Aiden repetiu. — Você me ama mais do que ele?

    Meu olhar passou por ele e foi novamente para a escuridão. Um homem

    estava de costas para nós. Ele estava pressionado contra uma mulher, seus

    lábios no pescoço dela.

    — Você me ama mais do que ele?

  • — Quem? — Tentei chegar mais perto, mas ele me segurou longe. Incerteza

    floresceu na minha barriga quando eu vi a decepção em seus olhos prateados. —

    Aiden, o que há de errado?

    — Você não me ama. — Ele deixa suas mãos caírem, dando um passo para

    trás. — Não quando você está com ele, quando você o escolhe.

    O homem vira, ficando de frente para nós. Seth sorri, seu olhar oferecendo

    um mundo de promessas obscuras. Promessas que eu havia concordado, que

    havia escolhido.

    — Você não me ama, — Aiden disse de novo, sumindo nas sombras. — Você

    não pode. Nunca pôde.

    Eu tento alcança-lo. — Mas...

    Era tarde demais. Os dançarinos se juntaram e eu estava perdida em um

    mar de vestidos e palavras sussurradas. Eu os empurrei, mas não consegui

    passar por eles, não conseguia encontrar Aiden ou Seth. Alguém me empurrou e

    eu caí de joelhos, a seda vermelha se rasgando. Gritei por Aiden e então por Seth,

    mas nenhum deu atenção aos meus pedidos. Eu estava perdida, encarando os

    rostos atrás das máscaras, encarando os olhos estranhos. Eu conhecia aqueles

    olhos.

    Eles eram os olhos dos deuses.

    Eu me levantei repentinamente da cama, uma fina camada de suor cobrindo

    o meu corpo enquanto o meu coração continuava tentando sair do meu peito.

    Vários momentos se passaram antes que os meus olhos se ajustassem à

    escuridão e eu reconhecesse as paredes vazias do meu dormitório.

    — Que diabos? — Eu passei minha mão sobre a minha testa quente e

    úmida. Fechei os meus olhos lacrimejantes.

    — Humm? — Murmurou um meio acordado Seth.

  • Eu espirrei em resposta, uma vez, e então duas vezes.

    — Isso é sexy. — Ele cegamente alcançou a caixa de lenços. — Não acredito

    que você ainda está doente. Aqui.

    Suspirando, peguei a caixa de lenços dele e embalei a caixa no meu peito

    enquanto pegava alguns lenços. — É culpa sua... atchim! Foi sua ideia estúpida

    de ir nadar num... atchim!... Clima de dez graus, seu idiota.

    — Eu não estou doente.

    Limpei meu nariz, esperando mais alguns segundos para me certificar que

    eu tinha terminado de espirrar meu cérebro para fora, e então deixei a caixa de

    lenços cair no chão. Resfriados são uma droga. Nos meus dezessete anos de vida,

    eu nunca havia pegado um resfriado até agora. Eu nem mesmo sabia que podia

    pegar um. — Você não é simplesmente tão malditamente especial?

    — Pode apostar, — Foi sua resposta abafada.

    Virando-me pela cintura, eu encarei a nuca do Seth. Ele quase parecia

    normal com seu rosto plantado no travesseiro - meu travesseiro. Não como

    alguém que se tornaria um Matador de Deuses em menos de quatro meses. Para

    o nosso mundo, Seth era como qualquer outra criatura mística: lindo, mas

    francamente mortal. — Eu tive um sonho estranho.

    Seth virou de lado. — Vem aqui. Volte a dormir.

    Desde que nós retornamos do Catskills uma semana atrás, ele estava

    pegando no meu pé como nunca antes. Não era como se eu não entendesse o

    porquê, com todo o problema com as fúrias e eu matando um puro. Ele

    provavelmente nunca iria me deixar sair da vista dele novamente. — Você

    realmente precisa começar a dormir na sua própria cama.

    Ele virou um pouco sua cabeça. Um sorriso sonolento se espalhou em seu

    rosto. — Eu prefiro a sua cama.

  • — Eu preferia que nós realmente celebrássemos o Natal aqui, e então eu

    ganharia alguns presentes de Natal e cantaria músicas de Natal, mas não consigo

    tudo o que quero.

    Seth me puxou para baixo, seu braço fez um peso que me prendeu de

    costas. — Alex, eu sempre consigo o que quero.

    Arrepios se espalharam pela minha pele. — Seth?

    — Sim?

    — Você estava no meu sonho.

    Um olho cor de âmbar se abriu. — Por favor, me diga que nós estávamos

    pelados.

    Eu revirei meus olhos. — Você é tão pervertido.

    Ele suspirou pesarosamente enquanto se aproximava. — Vou tomar isso

    como um não.

    — Pode estar certo disso. — Incapaz de voltar a dormir, comecei a morder

    meu lábio. Tantas preocupações surgiram de uma vez que o meu cérebro girou.

    — Seth?

    — Humm?

    Eu o vi se aconchegar mais no travesseiro antes que eu continuasse. Havia

    algo de encantador sobre o Seth quando ele estava assim, uma vulnerabilidade e

    infantilidade que faltava quando estava totalmente acordado. — O que aconteceu

    quando eu estava lutando com as fúrias?

    Seus olhos se abriram em fendas finas. Esta era uma pergunta que eu havia

    feito diversas vezes desde que nós retornamos da Carolina do Norte. O tipo de

    força e poder que eu havia demonstrado enquanto enfrentava os deuses era algo

    que apenas o Seth, um Apollyon completo, deveria ter sido capaz de realizar.

  • Eu, como uma mestiça não-Despertada? Sim, acho que não. Eu deveria ter

    meu traseiro espancado quando lutei com as fúrias.

    A boca do Seth ficou tensa. — Volte a dormir, Alex.

    Ele se recusou a responder. De novo. Raiva e frustração chegaram à

    superfície. Eu tirei o braço dele de mim. — O que você não está me contando?

    — Você está sendo paranoica. — Seu braço pousou no meu estômago de

    novo.

    Tentei sair do seu alcance, mas seu aperto aumentou. Rangendo os dentes,

    eu virei de lado e me acomodei ao lado dele. — Não estou sendo paranoica, seu

    idiota. Algo aconteceu. Eu te falei isso. Tudo... tudo parecia ter a cor âmbar.

    Como seus olhos.

    Ele soltou um longo suspiro. — Eu já ouvi que pessoas em altos níveis de

    estresse têm um aumento na força e nos sentidos.

    — Não foi isso.

    — E que as pessoas podem alucinar quando sob pressão.

    Balancei meu braço para trás, por pouco não acertando a cabeça dele. — Eu

    não alucinei.

    — Não sei o que te dizer. — Seth ergueu seu braço e virou de costas. — De

    qualquer forma, você vai voltar para as aulas de manhã? — Instantaneamente

    uma nova preocupação surgiu.

    Aulas significavam encarar todo mundo - Olívia - sem o meu melhor amigo.

    A pressão cresceu no meu peito. Eu apertei meus olhos, mas o rosto pálido do

    Caleb apareceu, olhos arregalados e cegos, uma adaga do Covenant enfiada

    profundamente em seu peito. Parecia que eu apenas conseguia me lembrar como

    era realmente a aparência dele nos meus sonhos.

  • Seth sentou-se, e eu senti os olhos dele fazendo buracos nas minhas costas.

    — Alex...?

    Eu odiava a nossa super ligação especial - absolutamente odiava que seja

    qual fosse o meu sentimento, isso passava para ele. Não havia mais privacidade.

    Suspirei. — Estou bem.

    Ele não respondeu.

    — Sim, eu vou para a aula de manhã. Marcus terá um ataque quando voltar

    e perceber que eu não estou indo para a aula. — Coloquei-me de costas. — Seth?

    Ele inclinou a cabeça na minha direção. Sombras camuflavam suas feições,

    mas seus olhos cortaram a escuridão. — Sim?

    — Quando você acha que eles vão voltar? — Por eles eu queria dizer Marcus

    e Lucian... E Aiden. Minha respiração ficou presa. Isso acontecia sempre que eu

    pensava no Aiden e no que ele havia feito por mim - o que ele havia arriscado.

    Acomodando-se na cama, Seth me alcançou e pegou a minha mão direita.

    Seus dedos se entrelaçaram nos meus, uma palma na outra. Minha pele formigou

    em resposta. A marca do Apollyon - aquela que não deveria estar na minha mão -

    esquentou. Eu encarei nossas mãos juntas, nem um pouco surpresa quando vi

    os leves traços - também marcas do Apollyon - subindo pelo braço do Seth. Eu

    virei minha cabeça, observando as marcas se espalharem pelo rosto do Seth.

    Seus olhos pareciam ter ficado mais claros. Eles estavam fazendo isso com mais

    frequência ultimamente, as runas e seus olhos.

    — Lucian disse que eles voltariam logo, possivelmente mais tarde hoje. —

    Muito lentamente, ele moveu o seu polegar pela linha da runa. Meus dedos do pé

    se curvaram quando a minha mão livre se afundou nas cobertas. Seth sorriu. —

    Ninguém mencionou o Guarda puro-sangue. E Dawn Samos já retornou. Parece

    que a compulsão do Aiden funcionou.

  • Eu queria soltar minha mão. Era difícil se concentrar quando o Seth mexia

    com a runa na minha mão. Claro, ele sabia disso. E sendo o idiota que era, ele

    gostava.

    — Ninguém sabe o que realmente aconteceu. — O polegar dele agora traçava

    a linha horizontal. — E permanecerá dessa forma.

    Meus olhos se fecharam. A verdade de como o Guarda puro-sangue havia

    morrido teria que permanecer em segredo, ou tanto Aiden quanto eu estaríamos

    em apuros. Não apenas nós tínhamos quase ficado durante o verão - e então eu

    tive que ir e contar a ele que eu o amava, o que era totalmente proibido - eu havia

    matado um puro-sangue em auto-defesa. E Aiden havia usado compulsão em

    dois puros para encobrir tudo. Matar um puro significava morte para um

    mestiço, não importa a situação, e um puro era proibido de usar compulsão em

    outro puro. Se alguma coisa sobre isso escapasse, nós dois estaríamos totalmente

    ferrados.

    — Você acha? — Sussurrei.

    — Sim. — A respiração de Seth estava quente na minha têmpora. — Vá

    dormir, Alex.

    Deixando a sensação calmante de seu polegar contra a runa me acalmar, eu

    voltei a dormir, momentaneamente esquecendo todos os erros e decisões que

    tomei nos últimos sete meses. O meu último pensamento consciente foi o meu

    maior erro - não no garoto ao meu lado, mas naquele que eu nunca poderia ter.

    Em um dia bom e normal, eu odiava a aula de trigonometria. Quem se

    importava com Pitágoras quando eu estava frequentando o Covenant para

  • aprender como matar coisas? Mas hoje o meu ódio pela aula tinha atingido outro

    nível.

    Quase todo mundo estava com os olhos em mim, até a Sra. Kateris. Eu

    afundei no meu assento, enfiando o meu nariz no livro que eu não iria ler nem

    que o Apollo descesse e exigisse que o fizesse. Apenas um par de olhos realmente

    me afetava. O resto podia ir se ferrar.

    O olhar de Olivia era pesado, condenador.

    Por que, ah por que, nós não podíamos trocar de lugares? Depois de tudo

    que aconteceu, sentar ao lado dela era o pior tipo de tortura.

    Minhas bochechas queimavam. Ela me odiava, me culpava pela morte do

    Caleb. Mas eu não havia matado Caleb - um daimon mestiço havia feito isso. Eu

    apenas tinha sido aquela que havia feito ele sair escondido do campus que estava

    sob toque de recolher, que no final das contas, era mesmo preciso.

    Então de uma forma, era minha culpa. Eu sabia disso, e deuses, eu faria

    qualquer coisa para mudar aquela noite.

    A explosão de Olivia no funeral de Caleb era provavelmente o motivo de todo

    mundo estar me olhando. Se eu me lembrava corretamente, acho que ela gritou

    algo como, — Você é o Apollyon. — Enquanto eu a encarava.

    Lá no Covenant de Nova Iorque no Catskills, os garotos mestiços haviam

    achado que eu era bem legal, mas aqui - nem tanto. Quando eu encontrava os

    olhares deles, eles não desviavam o olhar rápido o bastante para esconder o seu

    desconforto.

    No final da aula, enfiei meu livro na mochila e me apressei para a porta, me

    perguntando se o Deacon falaria comigo na próxima aula. Deacon e Aiden eram

    polos opostos em quase tudo, mas tanto Aiden quanto seu irmão mais novo

    pareciam ver os mestiços como seus iguais - uma coisa rara entre a raça puro-

    sangue.

  • Sussurros me seguiram pelo corredor. Ignorá-los era mais difícil do que eu

    imaginei. Cada célula no meu corpo exigia que eu os confrontasse. E fazer o quê?

    Pular neles como uma aranha macaca louca e derrubar a todos? Sim, eu não

    ganharia nenhum fã com isso.

    — Alex! Espera!

    O meu coração se afundou com o som da voz de Olivia. Eu acelerei minha

    passada, praticamente derrubando alguns mestiços mais jovens que me

    encaravam com olhos arregalados e assustados. Por que eles estavam com medo

    de mim? Não era eu que viraria Matadora de Deuses logo. Mas ah não, eles viam

    o Seth como se ele fosse um deus. Apenas mais algumas portas e eu poderia me

    esconder na aula de Verdades Técnicas e Lendas.

    — Alex!

    Reconheci o tom de Olivia. Era o mesmo que ela usava sempre que ela e

    Caleb estavam prestes a ter uma de suas desavenças - determinada e teimosa

    como o inferno.

    Merda.

    Ela estava bem atrás de mim agora e eu estava apenas a um passo da minha

    aula. Eu não iria conseguir. — Alex, — ela disse. — Nós precisamos conversar.

    — Não vou fazer isso agora. — Porque realmente, me dizer que era minha

    culpa que o Caleb estava morto não estava no topo da minha lista de coisas para

    ouvir hoje.

    Olivia pegou o meu braço. — Alex, eu preciso falar contigo. Sei que você está

    chateada, mas você não é a única que tem permissão de sentir falta de Caleb. Eu

    era a namorada dele...

    Eu parei de pensar. Me virando, deixei minha bolsa cair no meio do corredor

    e a peguei pelo pescoço. Em um segundo, eu a tinha contra a parede e na ponta

    dos dedos. De olhos arregalados, ela pegou o meu braço e tentou me empurrar.

  • Eu apertei um pouquinho.

    Do canto dos meus olhos eu vi a Lea, seu braço não mais com a braçadeira.

    O daimon mestiço que havia quebrado o braço dela também havia matado o

    Caleb. Lea deu um passo para frente como se ela quisesse interferir.

    — Olha, eu entendo, — Sussurrei roucamente. — Você amava Caleb.

    Adivinha? Eu também. E sinto a falta dele, também. Se pudesse voltar no tempo

    e mudar aquela noite, eu faria isso. Mas eu não posso. Então, por favor, apenas

    me deixe...

    Um braço do tamanho da minha cintura apareceu do nada e me jogou para

    trás uns bons três metros. Olivia desabou contra a parede, esfregando seu

    pescoço.

    Eu me virei e gemi.

    Leon, o Rei do Tempo Impecável, me olhava de cara feia. — Você está

    precisando de uma babá profissional.

    Abri minha boca, mas então a fechei. Considerando algumas coisas que o

    Leon interrompeu no passado, ele não tinha ideia de como a afirmação dele era

    verdadeira. Mas então eu percebi algo mais importante. Se Leon estava de volta,

    então meu tio e Aiden também haviam voltado.

    — Você, — Leon gesticulou para Olivia, — Volte para a aula. — Ele virou sua

    atenção de volta para mim. — Você vai vir comigo.

    Mordendo minha língua, peguei minha mochila do chão e comecei a minha

    caminhada da vergonha pelo corredor agora lotado. Eu peguei um lampejo de

    Luke, mas desviei o olhar antes que pudesse avaliar sua expressão.

    Leon pegou as escadas - deuses sabem como eu as amava - e nós não

    conversamos até estarmos no lobby. As estátuas das fúrias tinham sumido, mas

    o espaço vazio deixou um buraco no meu estômago. Elas voltariam. Eu tinha

    certeza disso. Era só uma questão de quando.

  • Ele se elevou sobre mim quando ele parou, quase 2.10 metros de puro

    músculo. — Por que é que toda vez que eu te vejo, você está prestes a fazer algo

    que não deveria?

    Dou de ombros. — É um talento.

    Um divertimento relutante cintilou através de seu rosto enquanto ele tirava

    algo do seu bolso traseiro. Parecia como um pedaço de um pergaminho. — Aiden

    me pediu para dar isso a você.

    Meu estômago afundou quando alcancei a carta, as mãos tremendo. — Ele...

    Ele está bem?

    Suas sobrancelhas se enrugaram. — Sim. O Aiden está bem.

    Eu nem mesmo tentei esconder o meu suspiro de alívio quando virei a carta.

    Estava selada com um carimbo vermelho de aparência oficial. Quando eu olhei

    para cima, Leon havia sumido. Balançando minha cabeça, fui até um dos bancos

    de mármore e sentei. Eu não tinha ideia de como o Leon conseguia mexer um

    corpo tão maciço de forma tão furtiva. O chão deveria tremer quando ele

    passasse.

    Curiosa, deslizei meu dedo sob o vinco e quebrei o selo. Desdobrando a

    carta, eu vi a assinatura elegante da Laadan na parte inferior. E rapidamente li o

    pergaminho de uma vez, e então voltei para o início e li novamente.

    E eu li uma terceira vez.

    Senti um calor e um frio insuportável de uma vez. Minha boca secou, a

    garganta se fechou. Leves tremores atormentavam meus dedos, fazendo com que

    o papel se mexesse. Eu fiquei em pé e então me sentei. As quatro palavras sendo

    repetidas diante dos meus olhos. Era tudo o que eu podia ver. Tudo que eu

    queria saber.

  • Seu pai está vivo.

  • C

    Dois

    om o coração acelerado, eu subi dois degraus por vez. Espiando Leon

    perto do escritório do meu tio, eu comecei a correr. Ele parecia levemente

    alarmado quando me viu.

    — O que foi Alexandra?

    Eu parei repentinamente. — Aiden deu isso a você?

    Leon franziu a testa. — Sim.

    — Você leu?

    — Não. Não era endereçado a mim.

    Apertei a carta ao meu peito. — Você sabe onde Aiden está?

    — Sim. — O franzido na testa dele se tornou severo. — Ele está de volta

    desde ontem à noite.

  • — Onde ele está nesse momento, Leon? Eu preciso saber.

    — Não vejo por que haveria alguma razão para você precisar do Aiden tanto

    assim para interromper o treinamento dele. — Ele cruzou seus grossos braços no

    peito. — E você não deveria estar indo para a aula?

    Eu o olhei por um momento antes de me virar e dar o fora novamente. Leon

    não era estúpido, então não havia me dito acidentalmente onde o Aiden estava,

    mas eu não me importava o bastante para procurar o motivo por detrás disso.

    Se Aiden estava treinando, então eu sabia onde encontra-lo. Uma brisa

    úmida e fria pulverizou minhas bochechas quando eu passei pelas portas do

    lobby e segui na direção da área de treinamento. O céu cinza leitoso era típico do

    final de novembro, fazendo parecer como se o verão já tivesse sido há muito

    tempo atrás.

    As aulas para as turmas de nível inferior estavam sendo dadas nas salas

    maiores de treinamento. O latido impaciente do treinador Romvi por detrás de

    uma das portas fechadas seguiu meus passos rápidos por um corredor vazio. Em

    direção ao final do último prédio, cruzando a sala médica onde o Aiden havia me

    trazido depois que o Kain havia me dado uma surra no treinamento, era uma sala

    menor equipada com necessidades básicas e uma câmara de privação sensorial.

    Eu ainda não havia treinado naquela coisa.

    Espiando pela fresta da porta, eu vi Aiden. Ele estava no meio do tapete,

    brigando com um saco de pancadas. Um brilho fino de suor revestia seus

    músculos enquanto ele balançava, derrubando o saco para trás por alguns

    metros.

    Qualquer outra hora eu teria admirado-o bem obsessivamente, mas meus

    dedos tremiam, apertando a carta. Eu deslizei pela abertura e cruzei a sala.

    — Aiden.

  • Ele virou, os olhos esquentando de um cinza frio para um tom estrondoso.

    Ele deu um passo pra trás, limpando a testa com o braço. — Alex, o que... O que

    você está fazendo aqui? Você não deveria estar na aula?

    Eu ergui a carta. — Você leu o que estava na carta?

    Ele tinha o mesmo olhar que Leon. — Não. Laadan me pediu para ter certeza

    que você a recebesse.

    Por que ela havia confiado no Aiden com essa notícia? Eu não podia sequer

    começar a entender isso, a menos que... — Você sabia o que estava nessa carta?

    — Não. Ela apenas me pediu para entrega-la a você. — Ele se inclinou,

    pegando uma toalha do tapete. — O que tem nessa carta que fez você vir atrás de

    mim?

    Uma pergunta totalmente sem importância e estúpida veio à tona. — Por que

    você a entregou para o Leon?

    Ele desviou os olhos, ficando em silêncio. — Eu pensei que seria o melhor.

    Meu olhar caiu de seu rosto até o seu pescoço. Lá estava aquela corrente

    prateada fina novamente. Eu me cocei para saber o que ele usava, já que ele não

    era o tipo de cara que usava joia. Arrastei meus olhos de volta para o seu rosto.

    — O meu pai está vivo.

    Aiden inclinou sua cabeça na minha direção. — O quê?

    Uma sensação amarga se acomodou no meu estômago. — Ele está vivo,

    Aiden. E ele está no Covenant de Nova Iorque há anos. Ele estava lá quando eu

    estava lá. — O turbilhão de emoções que eu senti quando li a carta pela primeira

    vez voltou. — Eu vi ele, Aiden! Eu sei que vi. O servo com os olhos castanhos. E

    ele sabia... Ele sabia que eu era a filha dele. Deve ter sido por isso que sempre me

    olhava de uma maneira estranha. Provavelmente era por isso que eu era tão

    atraída a ele sempre que o via. Eu apenas não sabia.

  • Aiden parecia pálido embaixo de seu bronze natural. — Posso?

    Entreguei a ele a carta e então passei minhas mãos trêmulas pelo meu

    cabelo. — Sabe, havia algo diferente nele. Ele nunca parecia dopado como os

    outros servos. E quando o Seth e eu estávamos indo embora, eu o vi lutando com

    os daimons. — Pausei, respirando fundo. — Eu apenas não sabia, Aiden.

    Suas sobrancelhas se franziram enquanto ele examinava a carta. — Deuses.

    — Ele murmurou.

    Afastando-me dele, abracei meus cotovelos. A sensação doentia que eu

    estava protelando fluiu através do meu estômago. A raiva ferveu o sangue em

    minhas veias. — Ele é um servo - um maldito servo.

    — Você sabe o que isso significa, Alex?

    Eu o encaro, chocada por vê-lo tão próximo. De uma vez, sinto o cheiro de

    loção pós-barba e água salgada.

    — Sim. Que tenho que fazer alguma coisa! Eu tenho que tira-lo de lá. Sei

    que não o conheço, mas ele é meu pai. Eu tenho que fazer algo!

    Os olhos do Aiden se arregalaram. — Não.

    — Não o quê?

    Ele dobrou a carta em uma mão e pegou o meu braço com a outra. Eu pisei

    firme nos meus calcanhares. — O que você...

    — Não aqui. — Ele ordenou baixinho.

    Confusa e um pouco atordoada com o fato de que o Aiden estava realmente

    me tocando, eu o deixei me levar para o consultório médico do outro lado do

    corredor. Ele fechou a porta atrás dele, virando a fechadura. Um calor

    desconfortável inundou meu sistema quando percebi que nós estávamos sozinhos

    em uma sala sem janelas, e Aiden havia acabado de trancar a porta. Sério, eu

  • precisava me controlar porque essa realmente não era a hora para os meus

    hormônios ridículos. Ok, realmente não havia hora nenhuma para isso.

    Aiden me encarou. Sua mandíbula ficou tensa. — O que você está

    pensando?

    — Hum... — Dei um passo para trás. De jeito nenhum eu iria admitir isso.

    Então percebi que ele estava bravo - furioso comigo. — O que eu fiz agora?

    Ele colocou a carta na mesa que eu havia sentado. — Você não vai fazer algo

    louco.

    Meus olhos se estreitaram enquanto eu pegava a carta de volta, finalmente

    entendendo por que ele estava tão bravo. — Você espera que eu não faça nada? E

    apenas deixe o meu pai apodrecer na servidão?

    — Você precisa se acalmar.

    — Me acalmar? Aquele servo em Nova Iorque é o meu pai. O pai que haviam

    me falado que tinha morrido! — De repente, eu me lembrei de Laadan na

    biblioteca e como ela havia falado do meu pai, como se ele ainda estivesse vivo. A

    raiva meu deu um soco no estômago. Por que ela não me contou? Eu poderia ter

    falado com ele. — Como posso me acalmar?

    — Eu... Eu não posso imaginar o que você está passando, ou o que está

    pensando. — Ele franziu a testa. — Bem, sim, posso imaginar o que está

    pensando. Você quer entrar com tudo em Catskills e libertá-lo. Sei que é isso que

    está pensando.

    Claro que estava.

    Ele começou a se aproximar de mim, seus olhos um tom de prata brilhante.

    — Não.

    Recuei, apertando a carta de Laadan ao meu peito. — Tenho que fazer

    alguma coisa.

  • — Eu sei que você acha que tem que fazer algo, mas Alex, você não pode

    voltar ao Catskills.

    — Eu não entraria com tudo. — Dei a volta na mesa quando ele se

    aproximou. — Pensarei em algo. Talvez eu me meta em problemas. Telly disse que

    tudo que eu precisava fazer era cometer mais um erro e eu seria mandada para

    Catskills.

    Aiden me encarou.

    A mesa estava agora entre nós. — Se pudesse voltar lá, então poderia falar

    com ele. Eu nunca falei com ele.

    — Absolutamente não. — Aiden grunhiu.

    Meus músculos ficaram tensos. — Você não pode me impedir.

    — Quer apostar? — Ele começou a dar a volta na mesa.

    Na verdade não. A ferocidade em sua expressão me disse que ele faria

    qualquer coisa para me impedir, o que significava que eu precisava convencê-lo.

    — Ele é o meu pai, Aiden. O que você faria se fosse o Deacon?

    Golpe baixo, eu sei.

    — Nem ouse trazer ele nisso, Alex. Não vou permitir que você se mate. Não

    me importo por causa de quem. Eu não vou permitir.

    Lágrimas queimaram no fundo da minha garganta. — Eu não posso deixá-lo

    naquele tipo de vida. Não posso.

    Dor cintilou em seu olhar de aço. — Eu sei, mas ele não vale a sua vida.

    Meus braços caíram nas minhas laterais e eu parei de tentar conseguir uma

    vantagem sobre ele. — Como você pode tomar essa decisão? — E então as

    lágrimas que eu estava tentando segurar se libertaram. — Como eu posso não

    fazer nada?

  • Aiden não diz nada enquanto ele coloca as mãos nos meus antebraços e me

    guia até ele. Ao invés de me puxar para o seu abraço, ele vai para trás contra

    uma parede e desliza para baixo, me trazendo junto com ele. Eu estava aninhada

    em seus braços. Minhas pernas curvadas contra ele, uma das minhas mãos

    agarrando sua camiseta.

    O fôlego que eu puxei era raso, cheio com um tipo de dor que eu nunca

    poderia esquecer. — Estou cansada das pessoas mentirem para mim. Todo

    mundo mentiu sobre a minha mãe, e agora isso? Pensei que ele estava morto. E

    deuses, eu queria que ele estivesse, porque a morte é muito melhor do que o que

    ele tem vivido. — Minha voz se quebrou e mais lágrimas se derramaram pelas

    minhas bochechas.

    Os braços de Aiden se apertaram ao meu redor e sua mão fez círculos nas

    minhas costas para me acalmar. Eu queria parar de chorar porque era fraco e

    humilhante, mas eu não podia parar. Descobrir o verdadeiro destino do meu pai

    era aterrorizante. Quando o pior das lágrimas passou, me afastei um pouco e

    ergui meu olhar lacrimejante.

    Ondas sedosas de cabelo escuro grudavam na sua testa e têmporas. A luz

    fraca da sala ainda iluminava bochechas salientes e lábios que eu havia

    memorizado há muito tempo. Aiden raramente sorria, mas quando ele o fazia, era

    de tirar o fôlego. Foram poucas as vezes que eu havia me regozijado naquele raro

    sorriso; a última vez havia sido no zoológico.

    Vendo ele agora, verdadeiramente vendo-o, a primeira vez depois que ele

    havia arriscado tudo para me proteger... Eu queria começar a chorar de novo. Na

    última semana, eu havia repassado o que havia acontecido várias vezes. Poderia

    ter feito algo diferente? Desarmado o Guarda ao invés de enfiar minha lâmina

    profundamente em seu peito? E por que Aiden havia usado compulsão para

    encobrir o que eu havia feito? Por que ele arriscaria tanto?

    E nada disso parecia importante agora, não depois de descobrir sobre o meu

    pai. Limpei os meus olhos com as mãos. — Desculpa por... chorar em você todo.

  • — Nunca se desculpe por isso, — Ele disse. Esperava que ele fosse me soltar

    naquela hora, mas seus braços ainda estavam ao meu redor. Eu sabia que não

    deveria, porque apenas me traria um monte de dor depois, mas me deixei relaxar

    contra ele. — Você tem uma reação precipitada a tudo.

    — O quê?

    Ele baixou um braço e deu um tapinha no meu joelho. — É a sua reação

    inicial. O pensamento imediato que você tem quando ouve algo. Você age ao invés

    de analisar as coisas.

    Enterro minha bochecha contra seu peito. — Isso não é um elogio.

    Sua mão se moveu para a minha nuca, seus dedos se enroscando na

    bagunça do cabelo na minha nuca. Perguntando-me se ele estava ciente do que

    estava fazendo, segurei minha respiração. A mão dele se apertou, me segurando

    de uma maneira que eu não pudesse me afastar muito. Não que eu fosse - não

    importa o quão errado era, o quão perigoso e estúpido.

    — Não é um insulto, — ele disse suavemente. — É apenas quem você é. Você

    não para pra pensar no perigo, somente no que é certo. Mas algumas vezes não

    é... certo.

    Eu ponderei sobre isso. — Usar compulsão na Dawn e no outro puro foi uma

    reação precipitada?

    Ele pareceu demorar para sempre para responder. — Foi, e não foi a coisa

    mais inteligente a se fazer, mas eu não poderia fazer outra coisa.

    — Por quê?

    Aiden não respondeu.

    Eu não tentei forçar. Havia um conforto em seus braços, na maneira como

    sua mão traçava círculos calmantes ao longo das minhas costas, que eu não

    encontraria em outro lugar. Não queria estragar isso. Em seus braços, eu era

  • mais calma - estranhamente. Eu podia respirar. Sentia-me segura, confiante.

    Ninguém oferecia isso. Ele era como a minha receita particular de calmante.

    — Se tornar Sentinela foi uma reação precipitada, — Eu sussurrei.

    O peito do Aiden subiu e desceu embaixo da minha bochecha. — Sim, foi.

    — Você... Se arrepende?

    — Nunca.

    Eu queria ter esse tipo de confiança. — Não sei o que fazer, Aiden.

    O queixo dele se abaixou, roçando na minha bochecha. Sua pele era macia,

    quente, arrebatadora, e calmante, tudo de uma vez. — Nós vamos descobrir uma

    maneira de entrar em contato com ele. Você disse que ele nunca parecia estar sob

    o efeito do Elixir? Nós podíamos mandar uma carta para a Laadan; ela poderia

    passar para ele. Esse seria o passo mais seguro.

    Meu coração fez uma dança feliz e estúpida. Esperança estava se tornando

    descontrolada dentro de mim. — Nós?

    — Sim. Eu posso facilmente mandar uma carta para a Laadan - uma

    mensagem. É a maneira mais segura nesse momento.

    Eu queria apertá-lo, mas me segurei. — Não. Se você for pego... Não posso

    deixar isso acontecer.

    Aiden riu suavemente. — Alex, nós provavelmente já quebramos cada regra

    que há. Não estou preocupado sobre ser pego por passar uma mensagem.

    Não, nós não havíamos quebrado todas as regras.

    Ele se afastou um pouco, e eu podia sentir o seu olhar intenso no meu rosto.

    — Você pensou que eu não ajudaria com algo tão importante como isso?

  • Mantive meus olhos fechados, porque olhar para ele era uma fraqueza. Ele

    era minha fraqueza. — As coisas estão... diferentes.

    — Eu sei que as coisas estão diferentes, Alex, mas sempre vou estar do seu

    lado. Sempre vou te ajudar. — Ele pausou. — Como você pode duvidar disso?

    Como uma tola, eu abri meus olhos. Eu fui sugada totalmente. Era como se

    tudo que havia sido dito, tudo que eu conhecia, não importasse mais. — Não

    duvido disso. — Sussurrei.

    Seus lábios se inclinaram de um lado. — Algumas vezes eu apenas não te

    entendo.

    — Eu não me entendo metade do tempo. — Abaixei meus olhos. — Você já

    fez... tanto. O que você fez em Catskills? — Engoli o caroço na minha garganta. —

    Deuses, nunca te agradeci por aquilo.

    — Não...

    — Não diga que não vale a pena te agradecer. — Meu olhar subiu, se

    prendendo ao dele. — Você salvou minha vida, Aiden, ao risco da sua própria.

    Então, obrigada.

    Ele desviou o olhar, seus olhos se focando em um ponto acima da minha

    cabeça. — Eu te falei que nunca deixaria nada acontecer contigo. — Seu olhar

    voltou ao meu e divertimento cintilou naquelas piscinas prateadas. — Parece

    mais como um trabalho integral, no entanto.

    Meus lábios se curvaram. — Eu estive realmente tentando, sabia. Hoje foi o

    primeiro dia que fiz algo remotamente estúpido. — Deixei de fora a parte onde eu

    tinha ficado isolada em meu quarto com uma gripe horrível.

    — O que você fez?

    — Você realmente não quer saber.

    Ele riu de novo. — Imaginei que Seth estaria te mantendo fora de problemas.

  • Percebendo que eu não havia pensado em Seth desde o momento em que

    havia lido a carta, eu endureci. Nem havia pensado sobre a ligação. Droga.

    Aiden respirou fundo e deixou seus braços caírem. — Você sabe o que isso

    significa, Alex?

    Eu me esforcei para me recompor. Havia coisas importantes a tratar. Meu

    pai, o Conselho, Telly, as fúrias, uma dezena ou mais de deuses enfurecidos, e

    Seth. Mas meu cérebro parecia mingau. — O quê?

    Aiden olhou para a porta, como se ele tivesse medo de falar em voz alta. — O

    seu pai não era mortal. Ele é um mestiço.

  • N

    Três

    ão voltei para as minhas aulas. Ao invés disso, voltei para o meu

    dormitório e me sentei na cama, a carta descansando na minha frente como uma

    cobra pronta para espalhar o seu veneno. Estava confusa em saber que o meu

    pai ainda estava vivo e... eu me sentia tão estúpida por não ter descoberto isso

    logo de cara. A carta da Laadan não disse explicitamente. Obviamente, eu

    entendia o porquê ela contornou a bomba verdadeira que havia colocado nessa

    carta breve. De que forma o Conselho tinha conseguido ter meu pai sob o

    controle deles? E eu havia visto ele lutar. Ele era como um ninja com aqueles

    castiçais.

    O meu pai era um maldito mestiço - um mestiço treinado. Inferno, ele

    provavelmente havia sido um Sentinela, o que totalmente explicava como a minha

    mãe o conheceu antes de conhecer o Lucian.

    Então o que, pelo sagrado Hades, isso me tornava?

  • A resposta parecia tão simples. Eu me joguei de costas, encarando

    cegamente o teto. Deuses, eu queria o Caleb para falar sobre isso, porque isso

    não poderia ser o que era.

    Uma pura que tinha um filho com outros puros faziam pequenos e felizes

    bebês puros. Um puro que ficava com um mortal criava os sempre úteis mestiços.

    Mas um puro-sangue e um mestiço ficando juntos - o que era tão proibido, tão

    tabu, que eu não podia pensar em uma situação onde uma criança havia

    realmente sido produzida - fazia... O quê?

    Eu me ergui subitamente, com o coração trovejando. A primeira vez que

    Aiden havia estado no meu dormitório e eu havia olhado para ele - bem, eu estava

    cobiçando-o, mas tanto faz - e me perguntei por que os relacionamentos entre os

    mestiços e os puros haviam sido proibidos por eras. Não era por medo de um

    Ciclope de um olho, mas meio que era.

    Um puro-sangue e um mestiço faziam um Apollyon.

    — Merda, — eu disse, encarando a carta.

    Mas tinha que ser mais do que isso. Havia normalmente um Apollyon

    nascido a cada geração, com a exceção de Solaris e o Primeiro, e Seth e eu. O que

    deveria significar que um mestiço e um puro apenas produziram uma criança

    umas cinco vezes desde o tempo que os deuses andavam nessa terra. Devem ter

    havido mais vezes quando isso aconteceu. Ou esses bebês foram mortos? Eu não

    descartaria que os puros e os deuses fariam tal coisa se eles soubessem o que

    poderia sair ao juntar um puro e um mestiço. Mas por que Seth e eu havíamos

    sido poupados? Obviamente eles sabiam o que o meu pai era já que eles o

    mantiveram por perto seja por qual for a razão. Meu coração se apertou, assim

    como os meus punhos. Empurrei a raiva para longe para voltar a ela depois. Eu

    havia prometido a Aiden que não faria nada precipitado, e minha raiva sempre

    me levava a algo idiota.

    Um arrepio percorreu a minha espinha. Um som veio da porta, bem parecido

    com uma fechadura sendo aberta. Eu olhei para a carta, mordendo meu lábio

  • inferior. Então olhei para o relógio ao lado da cama. Estava atrasada para o meu

    treinamento com Seth.

    A porta se abriu e fechou. Eu peguei a carta, rapidamente dobrando-a. Eu

    sabia o momento que ele parou no batente da porta sem olhar para cima. Um

    nível de consciência dançou pela minha pele e o ar se encheu de eletricidade.

    — O que aconteceu hoje? — Ele perguntou simplesmente.

    Havia pouco que eu podia esconder de Seth. Ele deve ter sentido minhas

    emoções desde o momento que eu li a carta e tudo o que eu havia sentido

    enquanto estava com Aiden. Ele não saberia exatamente o que estava causando

    para deixar meus sentimentos ensandecidos - graças aos deuses - mas o Seth

    não era burro. Eu estava um pouco surpresa que ele havia esperado tanto para

    vir me encontrar.

    Ergui meu olhar. Ele parecia como uma daquelas estátuas de mármore que

    enfeitavam a frente de cada prédio daqui, exceto que sua pele era de um tom

    único de dourado - uma perfeição de outro mundo. Algumas vezes ele parecia

    frio, impassível. Especialmente quando o seu cabelo loiro que batia nos ombros

    estava preso, mas ele estava meio solto agora, suavizando as linhas de seu rosto.

    Seus lábios carnudos normalmente estavam curvados em um sorriso pretensioso,

    mas agora eles estavam pressionados em uma linha dura e tensa.

    Aiden havia sugerido que eu mantivesse a carta e seu conteúdo para mim

    mesma. Laadan havia quebrado sabe se lá quantas regras ao me contar sobre o

    meu pai, mas eu confiava no Seth. Nós éramos, afinal de contas, destinados a

    ficar juntos. Há uns dois meses eu teria rido se alguém tivesse dito que nós

    estaríamos fazendo isso que estamos fazendo hoje. Foi um caso de desgosto

    mútuo quando nós nos conhecemos, e nós ainda tínhamos momentos épicos. Não

    foi há muito tempo atrás que eu havia ameaçado esfaquear ele no olho. E eu

    estava falando sério.

    Silenciosamente, eu estendi a carta.

  • Seth a pegou, rapidamente desdobrando com dedos longos e ágeis. Enfiei

    minhas pernas embaixo de mim, observando-o. Não havia nada na expressão dele

    que entregava o que estava pensando. Depois do que pareceu ser uma

    eternidade, ele olhou para cima. — Ah, deuses.

    Não era exatamente a resposta que eu estava pensando.

    — Você vai fazer algo incrivelmente estúpido em resposta a isso.

    Joguei minhas mãos para cima. — Afe, todo mundo acha que eu vou invadir

    Catskills?

    As sobrancelhas do Seth se levantaram.

    — Que seja, — Resmunguei. — Eu não vou atacar o Covenant. Tenho que

    fazer algo, mas não será... Precipitado. Contente? De qualquer forma, você se

    lembra do mestiço que nós passamos quando nós estávamos vendo o Conselho

    no primeiro dia?

    — Sim. Você ficou encarando-o.

    — É ele. Eu sei disso. É por isso que ele parecia tão familiar para mim. Seus

    olhos. — Mordi meu lábio, desviando o olhar. — Minha mãe sempre falava sobre

    os olhos dele.

    Ele sentou ao meu lado. — O que você vai fazer?

    — Vou mandar uma carta de volta para a Laadan, uma carta para o meu

    pai. Depois disso, não sei. — Olhei para ele. Grossas mechas de cabelo cobriam

    seu rosto. — Você sabe o que isso significa, certo? Que ele é um mestiço. E isso...

    — Eu gesticulei para nós. — Nós somos a razão por que as relações do tipo

    divertidas são proibidas entre mestiços e puros. Os deuses sabem o que

    acontecerá se um puro e um mestiço ficarem juntos.

    — É provavelmente mais do que isso. Os deuses gostam da ideia de subjugar

    os mestiços. O que você acha que eles fizeram com os mortais durante o auge

  • deles? Os deuses subjugaram os mortais até ter ido longe demais. Eles ainda

    tratam os mestiços como sujeira apenas válida para ser pisada em cima.

    Cara, Seth estava em um humor de odiar os deuses ou o quê? Eu encarei a

    minha mão direita, o traço fraco da runa que apenas o Seth e eu podíamos ver. —

    Era ele - meu pai - na escadaria. Eu não consigo explicar, mas sei que era.

    Seth olhou para cima então, seus olhos um tom estranho de amarelo. —

    Quem sabe sobre isso?

    Balanço a cabeça. — O Conselho tem que saber. Laadan sabia porque ela

    era amiga da minha... da minha mãe e pai. Não me surpreenderia se o Lucian e o

    Marcus soubessem, também. — Franzi a testa. — Você se lembra quando nós

    ouvimos o Marcus e o Telly conversando?

    — Eu me lembro de ter te derrubado de bunda.

    — Sim, você fez isso porque estava encarando a Peitos.

    Seus olhos se arregalaram e ele soltou uma risada chocada. — Peitos? O

    quê?

    — Você sabe... Aquela garota que estava toda em cima de você em Catskills.

    — Quando as sobrancelhas dele levantaram, eu revirei os olhos. Bem a cara do

    Seth, ter problemas para se lembrar qual garota era. — Estou falando sobre

    aquela que tinha, bem... Peitos enormes.

    Ele encarou o nada por um momento e então riu de novo. — Ah. Sim, ela...

    Espera um segundo. Você a chama de Peitos?

    — Sim, e eu aposto que você nem lembra o nome dela.

    — Ah...

    — Fico contente que estamos na mesma página agora. De qualquer forma,

    lembra como o Telly disse que eles já tinham um lá? Que eles podiam manter os

    dois juntos? Você acha que eles estavam falando do meu pai e de mim? — Se

  • Marcus e Lucian soubessem, eu queria quebrar a cabeça dos dois, mas

    confrontá-los iria colocar a Laadan em perigo.

    Seth olhou para a carta. — Isso faria sentido. Especialmente considerando o

    quanto o Telly queria que você fosse colocada em servidão.

    O Ministro Telly era o Ministro Chefe de todos os Conselhos e ele me

    persegue desde o começo. O meu testemunho sobre os eventos em Gatlinburg

    fora uma artimanha completa para me colocar na frente do Conselho inteiro para

    que eles pudessem votar e me colocar em servidão. E eu realmente acreditava que

    o Telly estava por trás da compulsão que havia sido usada em mim na noite que

    eu quase fui transformada em um picolé humano. Se o Leon não tivesse me

    encontrado, teria congelado até a morte. E daí houve a noite que o equivalente a

    um boa noite cinderela olimpiano havia sido dado a mim em uma tentativa

    grosseira de me pegar em uma posição comprometedora com um puro. Teria

    funcionado se não fosse pelo Seth e o Aiden terem me visto com a bebida.

    Minhas bochechas queimaram quando me lembrei daquela noite. Eu

    praticamente havia molestado o Seth - não que ele tenha reclamado. Seth sabia

    que eu estava sob a influência da bebida e ele havia tentado se controlar, mas a

    ligação entre nós havia derramado toda a minha luxúria amplificada sobre ele.

    Eu teria perdido minha virgindade se não tivesse terminado a noite vomitando

    meu estômago. Eu sabia que a situação toda incomodava o Seth. Ele se sentia

    culpado por ter cedido. E o punho do Aiden havia feito um estrago no olho do

    Seth depois de ter me descoberto no chão do banheiro... com as roupas do Seth.

    Aiden não podia entender como eu havia perdoado Seth - e algumas vezes eu não

    entendia também. Talvez fosse a ligação, porque o que nos conectava era tão

    forte. Talvez fosse algo mais.

    E então havia o Guarda puro-sangue que havia tentado me matar, dizendo

    que ele precisava ‘proteger o seu povo’. Eu suspeitava que o Ministro Telly

    estivesse por detrás disso, também.

    — Quem mais sabe sobre isso? — Seth me tirou das minhas reflexões.

  • — A Laadan pediu a Aiden para me entregar a carta, mas foi o Leon que me

    entregou. O Leon diz que ele não olhou a carta, e eu acredito nele. Estava selada.

    Viu. — Apontei para o selo rasgado. — Aiden não sabia o que estava nela,

    também.

    A mandíbula do Seth se mexeu. — Você foi até o Aiden?

    Eu sabia que precisava proceder com cuidado. Seth e eu não estávamos

    juntos nem nada, mas também sabia que ele não estava ficando com mais

    ninguém nesse momento. Os calorões que eu havia sentido desde que nós

    retornamos de Catskills haviam sido apenas quando ele estava perto de mim, na

    maioria das vezes durante nossas sessões de treinamento mano-a-mano. Seth

    era, acima de tudo, um cara. Acontecia... bastante.

    — Eu pensei que talvez ele soubesse, já que Laadan confiou nele com a

    carta, mas ele não sabia. — Eu disse finalmente.

    — Mas você contou a ele?

    Não havia motivo para mentir. — Sim. Ele sabia que eu estava chateada.

    Obviamente, é confiável. Não vai dizer nada.

    Seth ficou em silêncio por um momento. — Por que você não veio até mim?

    Ah, não. Eu estava concentrada no chão, então em minhas mãos, e

    finalmente na parede. — Eu não sabia onde você estava. E Leon me disse onde o

    Aiden estava.

    — Você pelo menos tentou me encontrar? É uma ilha. Não teria sido algo

    difícil de fazer. — Ele colocou a carta na cama, e do canto do meu olho, eu vi seus

    pés apontados para mim.

    Mordi meu lábio. Não devia nada a ele, não é? De qualquer forma, eu não

    queria ferir seus sentimentos. Seth podia agir como se ele não tivesse nenhum,

    mas eu sabia que não era assim. — Eu apenas não estava pensando. Não é

    grande coisa.

  • — Ok. — Ele se aproximou e sua respiração esquentou minha bochecha. —

    Eu senti suas emoções essa tarde.

    Engoli. — Então por que você não veio me procurar?

    — Estava ocupado.

    — Então qual é o grande problema de eu não ter ido te procurar? Você

    estava ocupado.

    Seth tirou uma mexa grossa de cabelo do meu pescoço, jogando-a por cima

    do meu ombro. Meus músculos ficaram tensos. — Por que você estava tão

    chateada?

    Eu virei minha cabeça. Nossos olhares se prenderam. — Eu havia acabado

    de descobrir que o meu pai está vivo, e que ele é um servo. Esse tipo de coisa é

    emocional.

    Seus olhos ficaram com um tom quente de âmbar. — Esse é um bom motivo.

    Não havia muito espaço entre nossas bocas. Um nervoso repentino tomou

    conta. Seth e eu não havíamos nos beijado desde o dia no labirinto. Eu acho que

    a minha gripe deixou ele com nojo, e não era como se eu estivesse forçando algo,

    mas não havia espirrado e fungado desde hoje cedo. — Você sabe o quê?

    Ele sorriu de leve. — O quê?

    — Você não parece muito surpreso sobre o meu pai. Você não sabia, sabia?

    — Segurei o meu fôlego, porque se ele soubesse, nem sei o que eu faria. Mas não

    seria bonito.

    — Por que você pensaria uma coisa dessas? — Seus olhos se estreitaram. —

    Você não confia em mim?

    — Não. Eu confio. — E eu realmente confiava... Na maior parte do tempo. —

    Mas você não está nem um pouco surpreso.

  • Seth suspirou. — Nada me surpreende mais.

    Pensei em outra coisa. — Você sabe qual dos seus pais era mestiço?

    — Eu acho que teria que ser o meu pai. A minha mãe era uma pura em

    todas as formas.

    Eu não sabia disso. Mas então, havia bem pouca coisa que sabia sobre o

    Seth. Claro, ele gostava de falar sobre si mesmo, mas era tudo em um nível

    superficial. Então havia o grande mistério de todos. — Qual é o seu sobrenome?

    — Alex, Alex, Alex, — Ele me repreendeu suavemente, ficando de joelhos.

    Apertei minhas mãos juntas, reconhecendo a extremidade calculada em seu

    olhar. Ele estava totalmente tramando algo. — O quê?

    — Eu quero tentar algo.

    Já que nós estávamos na minha cama e o Seth era um pervertido na maior

    parte do tempo, o meu nível de suspeita estava bem alto. Isso saiu na minha voz.

    — Como o quê?

    Seth me pressionou para trás até eu estar deitada de costas. Ele pairou em

    cima de mim, uma leve curva em seus lábios. — Me dê sua mão esquerda.

    — Por quê?

    — Por que você é tão desconfiada?

    Eu arqueei uma sobrancelha. — Por que você sempre invade o meu espaço

    pessoal?

    — Porque eu gosto. — Ele deu um tapinha no meu estômago. — E lá no

    fundo você gosta quando eu faço isso.

    Meus lábios se pressionaram juntos. Estava bem certa que a ligação entre

    nós gostava quando ele fazia isso. Eu podia senti-la nesse momento. Ela

  • praticamente ronronava. Se eu gostava era algo que ainda estava tentando

    descobrir.

    — Me dê sua mão esquerda, — Ele ordenou de novo. — Nós vamos trabalhar

    na sua técnica de bloqueio.

    — E nós temos que dar as mãos para fazer isso? — Na minha cama?, eu

    queria acrescentar.

    — Alex.

    Suspirando alto, dei a ele minha mão. — Nós vamos cantar músicas agora?

    — Bem que você queria. — Ele montou minhas coxas, colocando um joelho

    de cada lado. — Tenho uma adorável voz para cantar.

    — Nós temos que fazer isso justo agora? Eu realmente não estou no clima

    depois de tudo. — Praticar técnicas de bloqueio do tipo mental requeria

    concentração e determinação - duas coisas que eu não tinha no momento. Bem,

    para ser honesta, concentração era algo que eu normalmente não tinha na

    maioria dos dias.

    — Agora é a melhor hora. As suas emoções estão em todo lugar. Você precisa

    aprender como passar por isso. — Seth pegou minha outra mão, entrelaçando

    seus dedos nos meus. Ele se abaixou tanto que as pontas de seus cabelos

    roçaram nas minhas bochechas. — Feche seus olhos. Imagine os muros.

    Fechar meus olhos era algo que eu não queria fazer com Seth sentando em

    cima de mim. A ligação entre nós estava ficando mais forte a cada dia. Eu podia

    senti-la se movendo na minha barriga, zumbindo até a superfície. Meus dedos do

    pé se curvaram dentro das minhas meias peludas. A mesma sensação que eu tive

    no dia que explodi aquela pedra me inundou. Eu queria tocá-lo. Ou a ligação

    queria que eu tocasse nele.

    Seth inclinou sua cabeça para o lado. — Sei o que você está sentindo agora.

    Eu totalmente aprovo.

  • Minhas bochechas queimaram. — Deuses, eu te odeio.

    Ele deu uma risada. — Imagine os muros. Eles são sólidos, não podem ser

    invadidos.

    Imaginei os muros. Na minha cabeça, eles eram de um rosa néon. Com

    brilhos. Pus brilhos nos muros porque eles me davam algo no qual me

    concentrar. Seth havia dito que a técnica podia funcionar contra as compulsões

    se fosse feita corretamente, mas ao lidar com emoções, os muros não eram

    construídos ao redor da mente, eles eram construídos pelo estômago e através do

    coração. Os muros se formavam na minha mente primeiro e então iam para

    baixo, dando a mim mesma uma armadura corporal.

    — Eu ainda posso senti-la. — Seth disse, se mexendo incansavelmente em

    cima de mim.

    Isso realmente deve ser horrível para ele, eu percebi. Ele podia sentir que eu

    ainda estava obcecada com o Aiden, chateada com o meu pai, e em conflito sobre

    ele. E a única coisa que eu conseguia sentir dele era quando ele estava se

    sentindo excitado.

    A maldita corda dentro de mim - a minha conexão com o Seth - começou a

    zumbir, exigindo que eu prestasse atenção. Era como um bichinho de estimação

    querendo atenção - ou como o Seth. Eu me perguntei se podia usar a corda para

    bloquear minhas emoções. Abrindo meus olhos, eu comecei a perguntar mas

    então fechei minha boca.

    Seth estava com seus olhos fechados e ele parecia como se estivesse

    realmente se concentrando em algo. Suas pálpebras vibravam frequentemente,

    lábios desenhados em uma linha apertada, tensa. Então as marcas correram

    sobre sua pele, movendo-se tão rápido que os glifos não eram nada mais do que

    um borrão enquanto eles corriam pelo pescoço dele, sob o colarinho de sua

    camiseta.

  • Meu coração pulou. E também a corda dentro de mim. Eu tentei puxar

    minha mão antes que aquelas marcas chegassem à minha pele. — Seth.

    Seus olhos se abriram repentinamente, vidrados. As marcas deslizaram

    sobre sua pele. Uma explosão de luz âmbar irradiava de seu antebraço. Lutando

    para sair de debaixo dele e para longe daquela corda, eu apenas consegui ter as

    minhas mãos presas.

    Pânico se desenrolou, rasgando-me. — Seth!

    — Está tudo bem. — Ele disse.

    Mas não estava tudo bem. Eu não queria que aquela corda fizesse o que eu

    sabia que ela iria fazer. E então ela estava fazendo. A corda âmbar se envolveu ao

    redor das minhas mãos, estalando e faiscando, se espalhando pelo meu braço.

    Eu me afastei, tentando ir para longe, mas Seth me segurou, seus olhos presos

    nos meus.

    — A corda - é o poder mais puro. Akasha, — ele disse. Akasha era o quinto e

    último elemento, e apenas podia ser colhido pelos deuses e o Apollyon. As matizes

    dos olhos de Seth se tornaram luminosas. Elas quase pareciam loucas. —

    Segure-se.

    Ele não estava me dando muita escolha. Meu olhar caiu para nossas mãos.

    Pulsando, a corda ficou tensa e queimou um âmbar brilhante. Uma corda azul se

    mexeu por debaixo da corda âmbar, derramando gotas de luz incandescente

    sobre a colcha. Vagamente, eu esperava que a cama não pegasse fogo. Isso seria

    difícil de explicar.

    A corda azul cintilou, vibrando. Vagamente, eu percebi que era minha e mais

    fraca do que a âmbar. Então a azul pulou e pulsou. Minha mão esquerda

    começou a queimar enquanto a dele começava a picar. Reconhecendo a sensação,

    eu me apavorei.

    Contorci-me, tentando fugir. Eu não queria outra runa, e nós não havíamos

    nos segurado por tanto tempo da última vez. Alguma coisa estava muito diferente

  • nisso. — Seth, isso não parece... — Meu corpo estremeceu, cortando minhas

    próprias palavras.

    O corpo do Seth ficou tenso. — Bons deuses...

    E então eu senti - akasha - mexendo pelas cordas, deixando-me e entrando

    no Seth. Era tipo como uma mordida de daimon, mas não dolorosa. Não... Isso

    era legal, inebriante. Parei de lutar, deixando o puxão glorioso me puxar para

    longe. Não pensei sobre nada. Não havia preocupações ou medos. A dor na minha

    cabeça sumiu, deixando apenas uma dor maçante que estava se espalhando em

    outro lugar. Havia apenas isso - e o Seth. Meus olhos se fecharam e um suspiro

    vazou. Por que eu estive com tanto medo disso?

    Houve um lampejo de luz que eu ainda podia ver mesmo com os meus olhos

    fechados. Seth soltou a minha mão e ela caiu mole na minha lateral. A cama

    afundou ao lado da minha cabeça, onde ele colocou suas mãos. Eu senti a

    respiração dele na minha bochecha, e era como ar quente e salgado saindo do

    oceano.

    — Alex?

    — Humm...?

    — Você está bem? — Ele colocou seus lábios na minha bochecha.

    Eu sorri.

    Seth riu, e então sua boca fez seu caminho até a minha, e eu a abri para ele.

    As pontas de seu cabelo faziam cócegas nas minhas bochechas enquanto o beijo

    se aprofundou. Seus dedos se direcionaram para a frente da minha blusa e então

    eles estavam deslizando sobre a pele nua do meu estômago. Eu coloquei minhas

    pernas ao redor dele, e nós estavamos nos movendo juntos na cama. Seus lábios

    estavam praticamente dançando sobre a minha pele quente enquanto suas mãos

    deslizavam para baixo, seus dedos encontrando os botões do meu jeans.

  • Um segundo depois, houve uma batida na porta e uma voz estrondosa. —

    Alexandria?

    Seth congelou acima de mim, ofegante. — Você tem que estar brincando

    comigo.

    Leon bateu novamente. — Alexandria, eu sei que você está aí.

    Atordoada, eu pisquei diversas vezes. O quarto lentamente voltou ao foco,

    assim como a expressão descontente de Seth. Eu quase ri, exceto que me sentia...

    Estranha.

    — É melhor você responder a ele, anjo, antes que invada aqui dentro.

    Eu tentei, mas falhei. Respirei fundo. — Sim. — Limpei minha garganta. —

    Sim, estou aqui.

    Houve uma pausa. — Lucian está requerendo sua presença imediatamente.

    — Outro intervalo de silêncio se seguiu. — Ele também está requerendo a sua

    presença, Seth.

    Seth fez uma careta enquanto o brilho nos seus olhos desapareceu. — Como

    ele sabe que estou aqui dentro?

    — Leon... Apenas sabe. — Eu o empurrei sem força. — Sai1.

    — Eu estava tentando fazer isso. — Seth virou para o lado, correndo suas

    mãos pelo seu rosto.

    Fiz uma careta para ele e me sentei. Uma onda de tontura me inundou. Meu

    olhar se moveu do Seth para a minha mão curvada. Lentamente, eu a abri.

    Brilhando em um azul iridescente estava um glifo com um formato de um

    grampo. Minhas duas mãos estavam marcadas.

    Ele se inclinou sobre o meu ombro. — Ei, você conseguiu outra.

    1 Aqui é um trocadilho, porque o que ela diz no original é ‘get off’, que significa sai mas

    também pode significar dar amassos.

  • Tentei acertá-lo e errei por um quilômetro. — Você fez isso de propósito.

    Seth deu de ombros enquanto endireitava sua camiseta. — Você não se

    importou, não é?

    — Não é esse o ponto, seu idiota. Eu não deveria estar com elas.

    Ele olhou para cima, sobrancelhas arqueadas. — Olha, eu não fiz de

    propósito. Não tenho ideia de como ou por que isso aconteceu. Talvez esteja

    acontecendo porque tem que ser assim.

    — As pessoas estão esperando, — Leon chamou do corredor. — O tempo é

    essencial.

    Seth revirou os olhos. — Eles não podiam esperar outros trinta ou sessenta

    minutos?

    — Eu não sei o que você acha que vai conseguir nesse tempo extra.

    Ainda me sentindo um pouco zonza, eu balancei quando fiquei em pé e olhei

    para a minha camiseta desabotoada e meu sutiã. Agora, como isso aconteceu?

    Seth sorriu para mim.

    Eu me atrapalhei com os botões, ficando em milhares tons de vermelho.

    Minha raiva com o Seth ardia dentro de mim, mas eu estava muito cansada para

    entrar em uma luta verbal. E então havia o Lucian. Que infernos ele queria?

    — Você falhou um. — Seth se levantou e fechou o botão acima do meu

    umbigo. — E pare de corar. Todo mundo vai pensar que nós não estávamos

    treinando.

    — Nós estávamos?

    Seu sorriso se espalhou, e eu queria bater na cabeça dele. Mas eu aproveitei

    o tempo para ajeitar meu cabelo e alisar os amassados na minha camiseta.

  • Quando nós encontramos o Leon no corredor, a minha sensação é que eu estava

    bem decente.

    Leon me olhou como se ele soubesse exatamente o que havia acontecido no

    dormitório. — Que bom que vocês dois finalmente decidiram se juntar a mim.

    Seth enfiou as mãos em seus bolsos. — Nós levamos o treinamento bem a

    sério. Algumas vezes nós ficamos tão imersos nisso, que demora alguns minutos

    para nós voltarmos a si.

    Eu fiquei boquiaberta. Agora eu realmente queria bater nele.

    Os olhos de Leon se estreitaram no Seth e então ele se virou tensamente,

    gesticulando para nós o seguirmos. Eu trilhei atrás dos dois, me perguntando por

    que Leon iria se importar com o que eu estava fazendo no quarto. Todo mundo

    queria que nós assumíssemos o nosso Apollyon interior. Então eu pensei no

    Aiden e o meu coração parou.

    Bem, provavelmente não todo mundo.

    Uma sensação estranha e sinuosa tomou contra do meu estômago. O que

    havia acontecido lá?

    Nós fomos de conversar para nos pegar quando nada como isso havia

    acontecido desde Catskills. Eu olhei para as minhas mãos.

    A corda super especial havia acontecido.

    Eu me senti um pouco doente quando olhei e vi o Seth pavonear-se pelo

    corredor. Bochechas brilhando, ele parecia como se mal pudesse conter a energia

    percorrendo dentro dele. Confusão me atingiu. Todo o negócio de transferir

    energia tinha uma sensação realmente boa, e também o negócio depois, mas o

    rosto do Aiden me assombrava.

  • Seth olhou por cima do ombro para mim enquanto o Leon abria a porta.

    Escuridão já havia começado a cair, mas a sombra que havia subido no rosto do

    Seth não era um produto da noite.

    Eu tentei subir o muro ao meu redor.

    E eu falhei.

  • E

    Quatro

    u estava exausta quando caí na cadeira mais distante possível da mesa

    do Marcus. Aqueles degraus eram uma droga, mas eu estava grata por não ter

    que caminhar até a ilha vizinha, onde Lucian morava. Não acreditava que eu teria

    conseguido isso. Tudo o que queria fazer era me enrolar em uma bola e ir dormir

    - ir para qualquer outro lugar ao invés dessa sala bem iluminada.

    — Onde estão todos? — Seth perguntou, em pé atrás de mim. Suas mãos

    repousavam sobre o encosto da cadeira, mas seus dedos, protegidos pelo meu

    cabelo, estavam pressionados nas minhas costas. — Eu pensei que tempo era

    essencial.

    Leon parecia presunçoso. — Eu devo ter confundido a hora.

    Um sorriso cansado puxou meus lábios enquanto eu colocava minhas

    pernas para cima, dobrando-as embaixo de mim. Como eu disse, Leon era o Rei

    do Timing Impecável. Talvez eu poderia tirar uma soneca antes que todos

  • aparecessem. Fechei meus olhos, mal prestando atenção a Leon e Seth sendo

    sarcásticos um com o outro.

    — A maioria dos treinamentos não ocorrem no dormitório, — Leon disse. —

    Ou eles mudaram drasticamente os métodos?

    Dois pontos de sarcasmo para Leon.

    — O tipo de treinamento que nós temos que fazer não é convencional. —

    Seth pausou e eu sabia que ele tinha aquele sorriso horrível no rosto. Aquele que

    eu quis chutar tantas vezes. — Não que um Sentinela entenderia completamente

    a quantidade de esforço necessária para preparar um Apollyon.

    Três pontos de sarcasmo para Seth.

    Eu bocejei enquanto deslizava para baixo na cadeira, descansando minha

    bochecha nas costas da cadeira.

    — Tem alguma coisa errada, Alexandria? — Leon perguntou. — Você parece

    terrivelmente pálida.

    — Ela está bem, — Seth respondeu. — Nosso treinamento foi bastante...

    exaustivo. Você sabe, exige muito movimento. Suor, treme...

    — Seth. — Eu disparei, relutantemente entregando os pontos quatro, cinco e

    seis de sarcasmo para ele.

    Felizmente as portas do escritório do Marcus se abriram e uma comitiva de

    pessoas entrou. Primeiro estava meu tio puro-sangue, o Diretor do Covenant da

    Carolina do Norte. Atrás dele estava meu padrastro puro-sangue Lucian, o

    Ministro do Covenant da Carolina do Norte. Ele estava em seu robe branco

    ridículo, seu cabelo absolutamente preto pendurado nas costas, preso em uma

    tira de couro. Ele era um homem bonito, mas sempre havia um nível de frieza e

    falsidade nele não importa quão calorosas suas palavras podiam ser. Estava

    acompanhado por quatro de seus Guardas, como se esperasse que uma frota de

    daimons pulass nele e chupasse todo o seu éter. Suponha, dado os eventos

  • recentes, que não se podia ser demasiado cuidadoso. E atrás deles estavam o

    Guarda Linard e Aiden.

    Desviei meus olhos e rezei que Seth realmente mantivesse sua boca fechada.

    Marcus olhou para mim enquanto sentava atrás da sua mesa, sobrancelhas

    levantadas curiosamente. — Nós estamos impedindo-a de um cochilo,

    Alexandria?

    Sem, como você está? Ou bom ver você viva. Sim, ele me amava muito.

    Leon recuou para o canto, cruzando os braços. — Eles estavam treinando, —

    ele pausou, — No quarto dela.

    Eu queria morrer.

    Marcus franziu a testa, mas Lucian - oh, querido Lucian - tinha uma

    resposta típica. Sentando em uma das cadeiras do outro lado de Marcus, ele

    espalmou o robe e riu. — É o esperado. Eles são jovens e destinados um para o

    outro. Você não pode culpa-los por procurar privacidade.

    Eu não podia me impedir. Meus olhos encontraram Aiden. Ele estava em pé

    ao lado de Leon e Linard, seus olhos esvoaçando pela sala, parando e demorando

    em mim antes de desviarem. Deixei escapar a respiração que estava segurando e

    foquei no meu tio.

    Os olhos de Marcus eram como joias de esmeralda, assim como os da minha

    mãe, mas mais duros. — Destinados ou não, as regras do Covenant ainda se

    aplicam a eles, Ministro. E do que eu tenho ouvido, Seth tem tido dificuldade em

    permanecer em seu próprio quarto na sua casa durante a noite.

    Agora isso seriamente não poderia ficar ainda mais embaraçoso.

    Seth se inclinou nas costas da minha cadeira e abaixou a cabeça. Ele

    sussurou no meu ouvido. — Eu acho que nós fomos descobertos.

  • Não havia maneira de que Aiden pudesse ter ouvido Seth, mas raiva rolou

    para fora dele em ondas, tanto que Seth inclinou a cabeça para cima, encontrou o

    olhar de Aiden, e sorriu.

    Era o suficiente. Sentando reta, soquei o braço de Seth para fora da cadeira.

    — É por isso que nós estamos tendo a reunião? Porque, seriamente, eu poderia

    tirar um cochilo ao invés disso.

    Marcus me olhou friamente. — Na verdade, nós estamos aqui para discutir

    os eventos do Conselho.

    Gelo encharcou meu estômago. Tentei manter meu rosto em branco, mas

    meus olhos dispararam para Aiden. Ele não parecia muito preocupado. De fato,

    ele ainda estava em uma batalha de olhar com o Seth.

    — Há muitas coisas que nós descobrimos em relação a nossa viagem. —

    Lucian disse.

    Marcus assentiu, seus dedos formando uma torre sob seu queixo. — O

    ataque daimon é um deles. Eu sei que alguns têm sido capazes de planejar

    ataques.

    Minha mãe tinha sido uma deles. Ela estava por trás do ataque no Lago Lure

    durante o verão, era a primeira prova de que alguns daimons podiam formar

    planos coesos.

    — Mas esse tipo de ataque em larga escala é... É inédito, — Marcus

    continuou, olhando para mim. — Eu sei... Eu sei que sua mãe tinha insinuado

    que tal coisa estava vindo, mas ter algo assim daquele tipo de natureza parece

    improvável.

    Aiden inclinou a cabeça para o lado. — O que você está dizendo?

    — Eu acho que eles tiveram ajuda.

    Meu coração tropeçou. — De dentro - de um mestiço ou um puro?

  • Lucian bufou. — Isso é um absurdo.

    — Eu não acho que isso está totalmente fora de questão. — Leon disse, os

    olhos estreitando no Ministro.

    — Nenhum mestiço ou puro estaria disposto a ajudar de bom grado um

    daimon. — Lucian cruzou as mãos.

    — Pode não ter sido de bom grado, Ministro. O puro ou o mestiço pode ter

    sido coagido. — Marcus continuou, e onde eu deveria ter encontrado alívio,

    alguma coisa feia ainda estava me martelando. E se alguém tivesse realmente os

    deixado passar nos portões?

    Não. De forma alguma isso poderia ter acontecido. Se as suspeitas de

    Marcus estivessem certas, tinha que ser sob coação.

    Marcus olhou para mim. — É algo que nós temos que ter em mente pela

    segurança de Alexandria. Os daimons estavam lá por ela. Eles podem tentar isso

    de novo. Capturar um Guarda ou Sentinela mestiço ou puro, levaria os daimons

    direto para ela. É algo para se ter em conta.

    Fiquei muito quieta e imaginei que Seth e Aiden também ficaram. Os

    daimons não tinham estado atrás de mim. Isso tinha sido uma mentira que nós

    contamos para eu poder partir do Catskills imediatamente depois... Depois que

    eu tinha matado um Guarda puro-sangue.

    — Eu concordo. — A voz de Aiden estava notavelmente calma. — Eles

    poderiam fazer outra tentativa.

    — Falando da segurança dela, — Lucian se virou em seu assento na minha

    direção. — As intenções do Ministro Telly foram dolorosamente claras, e se eu

    tivesse tido conhecimento sobre o que ele estava planejando, nunca teria

    concordado com a sessão do Conselho. Minha prioridade máxima é ver que você

    permanece segura, Alexandria.

  • Mexi-me desconfortavelmente. Enquanto eu crescia, Lucian não tinha sequer

    fingido se importar comigo. Mas desde que eu tinha retornado ao Covenant no

    fim de Maio, ele tinha atuado como se eu fosse sua filha perdida há muito tempo.

    Ele não me enganava. Se eu não fosse a segunda Apollyon, ele não estaria

    sentado aqui bem agora.

    Quem eu estava tentando enganar? Eu teria provavelmente sido comida por

    daimons em Atlanta.

    Seus olhos encontraram os meus. Nunca tinha gostado daqueles olhos. Eles

    eram de um preto não-natural - a cor de obsidiana2 e frios. Bem de perto, não

    parecia ter nenhuma pupila. — Tenho medo de que o Ministro Telly possa ter

    estado por trás da compulsão e do ato repugnante de te dar aquela bebida.

    Eu também suspeitava disso, mas ouvi-lo dizer me deixou enjoada. Como o

    Chefe de todos os Ministros, Telly exercia muito controle. Se não tivesse sido pelo

    voto da Ministra mais velha, Diana, eu teria sido mandada para a escravidão.

    — Você acha que ele vai tentar mais alguma coisa? — A voz profunda e

    melódica de Aiden era difícil de não responder.

    Lucian balançou a cabeça. — Gostaria de dizer não, mas temo que ele

    tentará alguma coisa de novo. O melhor que podemos fazer nesse ponto é

    assegurar que Alexandria fique fora de problema e não dê nenhuma desculpa ao

    Ministro Chefe para colocá-la em servidão.

    Vários pares de olhos pousaram em mim. Sufoquei outro bocejo e inclinei

    meu queixo para cima. — Eu tentarei não fazer nenhuma loucura.

    Marcus arqueou a sobrancelha. — Isso seria uma boa mudança.

    Olhei para ele, esfregando minha palma esquerda sobre meu joelho dobrado.

    Ainda sentia a pele estranha e formigando.

    2 Obsidiana: É uma pedra de cor escura, produzida pelo esfriamento rápido de lavas de

    vulcão. Considerada um vidro natural.

  • — Não há um método mais proativo? — Seth perguntou, inclinando-se na

    minha cadeira. — Acho que todos nós podemos concordar de que Telly tentará

    alguma coisa de novo. Ele não quer que Alex Desperte. Ele tem medo de nós.

    — Medo de você. — Murmurei, então bocejei novamente.

    Seth inclinou minha cadeira para trás em resposta, me fazendo agarrar os

    braços dela. Ele sorriu para mim, o que estava tão em desacordo com suas

    próximas palavras. — Ele quase conseguiu, Alex. Era apenas um único voto para

    a servidão. Quem diz que ele não vai construir alguma acusação forjada contra

    ela e balançar seus votos em seu favor?

    — Diana nunca comprometeria sua posição para servir aos desejos de Telly.

    — Marcus disse.

    — Uau. Chamando-a pelo primeiro nome? — Eu disse.

    Marcus ignorou meu comentário. — O que você sugere, Seth?

    Seth empurrou as costas da minha cadeira e se moveu para ficar em pé ao

    meu lado. — E quanto a removê-lo da sua posição? Então ele não tem nenhum

    poder.

    Lucian observou Seth com um olhar de aprovação em seus olhos e eu juraria

    que Seth sorriu. Quase como se tivesse trazido seu boletim para casa com todos

    os A’s nele e estava prestes e conseguir um afago na cabeça. Estranho. Estranho

    e extremamente assustador.

    — Você está sugerindo um golpe político? Que nós nos rebelemos ao

    Ministro Chefe? — Marcus virou sua descrença para Lucian. — E você não tem

    nenhuma resposta para isso?

    — Eu nunca iria querer rebaixar-me para algo tão detestável, mas o Ministro

    Chefe Telly está enraizado nos velhos tempos. Você sabe que ele não quer nada

    mais do que nos ver regredir como uma sociedade, — Lucian respondeu

    suavemente. — Ele irá a grandes extremos para proteger suas crenças.

  • — Quais são as crenças dele, exatamente? — Eu perguntei. O couro fez um

    ruído pouco atraente espremendo enquanto em afundava no assento.

    — Telly amaria nos ver não nos misturarmos mais com os mortais. Se ele

    pudesse, não faria nada além de nos mandar adorar os deuses. — Lucian alisou

    uma mão pálida sobre seu robe. — Ele sente que é o dever do Conselho proteger o

    Olimpo ao invés de liderar a nossa espécie para o futuro e entrar em nosso lugar

    de direito.

    — E ele nos vê como uma ameaça aos Deuses, — Seth disse, cruzando seus

    braços. — Ele sabe que não pode vir atrás de mim, mas Alex é vulnerável até que

    Desperte. Alguma coisa tem que ser feita sobre ele.

    Fiz uma careta. — Não sou vulnerável.

    — Mas você é, — Os olhos de Aiden estavam de um cinza metálico quando

    pousaram em mim. — Se o Ministro Chefe Telly verdadeiramente teme que Seth

    será uma ameaça no caminho, então ele vai procurar tirá-la fora da equação. Ele

    tem o poder para tanto.

    — Entendo isso, mas Seth não vai ficar louco no Conselho. Ele não vai

    tentar dominar o mundo depois que eu Despertar. — Olhei para ele. — Certo?

    Seth sorriu. — Você estaria ao meu lado.

    Ignorando-o, passei meus braços em volta das minhas pernas. — Telly não

    pode querer me tirar do caminho baseado apenas em uma ideia de ameaça. —

    Pensei no meu pai. Eu sabia sem dúvida de que ele estava por trás disso,

    também. — Tem que ser mais do que isso.

    — Telly vive para servir os Deuses, — Lucian disse. — Se ele sentir que eles

    podem ser ameaçados, isso é toda a razão que ele precisa.

    — Você não vive para servir aos Deuses? — Leon perguntou.

    Lucian mal olhou na direção do Sentinela puro-sangue.

  • — Eu vivo, mas também vivo para servir aos melhores interesses do meu

    povo.

    Marcus esfregou a testa cansativamente. — Telly não é nossa única

    preocupação. Também há os próprios Deuses.

    — Sim. — Lucian assentiu. — Também há a questão das fúrias.

    Corri minha mão sobre a testa, me forçando a concentrar nessa conversa.

    Era um grande negócio que eles sequer estavam me incluindo nela. Então eu

    achava que devia prestar atenção e manter o sarcasmo no mínimo.

    — As fúrias atacam somente quando percebem uma ameaça para os puros-

    sangue e para os Deuses, — Marcus explicou. — Suas aparições nos Covenants

    antes do ataque daimon foi apenas um ato de precaução dos Deuses. Foi um

    aviso de que se nós não pudermos manter a população daimon sob controle, ou

    se nossa existência for exposta aos mortais através das ações dos daimons, eles

    responderiam. E quando os daimons lançaram seu ataque ao Covenant, as fúrias

    foram liberadas. Mas elas foram atrás de você, Alex. Muito embora houvesse

    daimons que elas poderiam ter lutado, elas perceberam você como a maior

    ameaça.

    As fúrias tinham rasgado através de daimons e inocentes de forma igual

    naqueles momentos sangrentos depois do cerco daimon e tinham vindo atrás de

    mim. Não vou mentir - eu nunca tinha estado com tanto medo em toda a minha

    vida.

    — Elas voltarão, — Leon adicionou. — É a natureza delas. Talvez não

    imediatamente, mas virão.

    Minha cabeça estava girando. — Mas eu não fiz nada de errado.

    — Você existe, minha querida. Isso é tudo o que elas precisam, — Lucian

    disse. — E você é a mais fraca dos dois.

    Eu também era a mais dorminhoca dos dois.

  • Seth balançou para trás em seus calcanhares. — Se elas voltarem, vou

    destruí-las.

    — Boa sorte com isso. — Fechei meus olhos, dando-lhes uma pausa da dura

    luz. — Elas só vão queimar e voltar de novo.

    — Não se eu as matar.

    — Com o quê? — Aiden perguntou. — Elas são Deuses. Nenhuma arma feita

    pelo homem ou semideus irá matá-las.

    Quando eu abri meus olhos, Seth estava sorrindo. — Akasha, — ele disse. —

    Isso as colocaria abaixo permanentemente.

    — Você não tem esse tipo de poder agora. — Leon declarou, a mandíbula

    tensa.

    Seth apenas continuou a sorrir até que Lucian clareou a garganta e falou. —

    Eu nunca consegui ver as fúrias. Isso seria... Algo para testemunhar.

    — Elas eram lindas, — eu disse. Todos se viraram para mim. — A princípio,

    elas eram. Então se transformaram. Nunca tinha visto algo como aquilo. De

    qualquer forma, uma disse que Thanatos não ficaria satisfeito com seu retorno

    depois... Que eu me livrasse delas. Ela disse alguma coisa sobre o caminho que

    os Poderes tinham escolhido e que eu seria uma ferramenta. O oráculo tinha dito

    alguma coisa assim também, antes de desaparecer.

    — Quem são “os Poderes”? — Leon perguntou.

    Aiden assentiu. — Essa é uma boa pergunta.

    — Isso não é uma preocupação. As fúrias são. — Lucian respondeu,

    descartando o conceito com um movimento de seu pulso delgado. — Como Telly,

    elas estão operando em velhos medos. As fúrias são leais a Thanatos. Se as fúrias

    vierem novamente, temo que Thanatos não estará tão longe.

  • Marcus derrubou a mão no topo da mesa de mogno brilhante. — Não posso

    ter os deuses atacando a escola. Tenho centenas de alunos que devo manter em

    segurança. As fúrias não mostram nenhuma discriminação em seus

    assassinatos.

    Nenhuma vez ele mencionou me manter em segurança. Isso meio que

    machucou. Nós podiamos estar relacionados, mas isso não nos fazia uma família

    de verdade. Marcus nunca sequer sorriu para mim - nem uma vez. Eu realmente

    não tinha mais ninguém. Isso fazia com que chegar ao meu pai fosse mais

    importante.

    — Eu sugiro movermos a Alex para um local seguro, — Lucian ofereceu.

    — O quê? — Minha voz chiou.

    Lucian me olhou. — As fúrias sabem procurar por você aqui. Nós podíamos

    muda-la para algum lugar seguro.

    Seth sentou no braço da minha cadeira, cruzando suas pernas longas no

    tornozelo. Ele não parecia surpreso por nada disso.

    Eu dei um tapa nas costas dele, ganhando sua atenção. — Você sabia sobre

    isso? — Sussurrei. Ele não respondeu.

    O olhar que dei a ele prometia problemas mais tarde e não era do tipo

    divertido. Seth poderia ter ao menos me dado uma ideia sobre isso.

    Aiden franziu a testa. — Onde vocês a levariam?

    Meus olhos foram para ele de novo. Os músculos no meu peito apertaram

    quando nossos olhares se travaram momentaneamente. Nesse instante, se me

    concentrasse o bastante, eu ainda podia sentir seus braços ao meu redor. Não é a

    melhor tática quando todos estão discutindo meu futuro como se eu nem sequer

    estivesse sentada aqui.

  • — Quanto menos pes