UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO BRASILEIRO DE … · O JC, como é carinhosamente chamado aqui na...
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UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO BRASILEIRO DE ANÁLISES SOCIAIS E ECONÔMICAS VENDA PROIBIDA
IMPRESSO ESPECIALCONTRATO
Nº 050200487-8/2001ECT/DR/RJ
IBASE(INSTITUTO BRASILEIRO DE ANÁLISES
SOCIAIS E ECONÔMICAS)
ENVELOPAMENTO AUTORIZADO – PODE SER ABERTO PELA ECT
CULTURAArte e fragmentação em debate
Pág. 4
MEIO AMBIENTEMudanças climáticasQual o futuro do mundo?
Pág. 8
Nº 140 – OUTUBRO DE 2007 – ANO 11
LEIA E PASSE ADIANTE
BIDU – RAÍZESEMM
OVIMENTO
ESPORTEBasquete de rua
Pág. 11
02 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’07
O Jornal da Cidadania passou por uma transformação radical no visual e na
linha editorial. Nosso objetivo é fi car cada vez mais perto de vocês na lingua-
gem, nas imagens, dúvidas e certezas. Queremos estabelecer diálogo perma-
nente, trocar idéias, escutar anseios e impressões do mundo; mostrar que a
juventude tem propostas e pode ser protagonista de iniciativas importantes.
O JC, como é carinhosamente chamado aqui na redação, pode e deve servir
de meio de troca de experiências entre escolas, alunos(as) e professores(as).
Várias páginas estão dedicadas a isso, como as vinhetas Fala aí e Na fi la. A
participação do leitor e da leitora do Jornal da Cidadania é fundamental. Por
meio de cartas, e-mails ou telefonemas, todas as pessoas são bem-vindas em
propor temáticas para debates e matérias, pessoas para serem entrevistadas.
Também podem enviar trabalhos feitos com o jornal em sala de aula e/ou
resultados de debates realizados. Queremos ouvir vocês.
Estamos a pleno vapor com o projeto “Ibase vai às escolas”. Com ele,
pretendemos levar filmes, promover debates nos estabelecimentos de
ensino. Basta a escola interessada agendar uma visita.
Outra novidade é a comunidade do Jornal da que são importantes para
a juventude, para o professorado, fazer sugestões e críticas. É mais um
canal de diálogo. Participe!
Esperamos que vocês gostem.
CONSELHO EDITORIAL
André Guimarães (Educafro)Elaine Ramos (jornalista)Eliane Ribeiro (Uerj)Marina Maria (Escola de Gente Comunicação em Inclusão)Mario Osava (IPS) Mônica Francisco Santos (Agenda Social Rio) Paulo Carrano (Observatório Jovem/UFF)Professoras Sonia Américo de Mello (Coordenadoria Metro-politana/RJ) e Inalva Mendes (E. M. Finlândia)Pelo Ibase: Marina Ribeiro (coord. do Pré-vestibular Popular CJ/Campo) e Luciano Cerqueira (cientista social)
Diretora responsável: Dulce Pandolfi Edição: Jamile Chequer Subedição: Flávia Mattar Revisão: AnaCris BittencourtEstagiários: Carlos Daniel da Costa e David da SilvaProdução: Geni MacedoDistribuição: Elaine Amaral de MelloProjeto gráfico e diagramação: DotzdesignIlustrações: Guto MirandaDivulgação: Diego HerediaTiragem: 61.000 exemplares
Uma publicação do Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e EconômicasAv. Rio Branco, 124 / 8º - Centro - 20040-916 Rio de Janeiro/RJ - Tel.: (21) 2178 9400Fax: (21) 2178 9401
[email protected] www.ibase.br
As matérias assinadas não traduzem, necessariamente, a posição do Ibase.
O JC MUDA DE CARA!PALAVRA DA REDAÇÃO
O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econô-
micas (Ibase), criado em 1981 pelo sociólogo Beti-
nho, é uma organização não-governamental, sem
fins lucrativos, sem vinculação religiosa e a partido
político. Sua missão é a construção da democracia,
combatendo desigualdades e estimulando a partici-
pação cidadã. Um de nossos objetivos é contribuir
para uma cultura democrática de direitos. Defen-
der, valorizar e fortalecer a participação social e polí-
tica como direito e responsabilidade cidadã de todos
e todas, sem desigualdades ou discriminações, sem
racismo ou machismo.
Venho expressar o meu agradecimento pelo belíssimo trabalho informativo e formativo que é o Jornal da Cidadania,
especialmente para as classes menos favorecidas. A variedade e seriedade com que são apresentadas as suas matérias têm
conscientizado e apoiado os movimentos de base de que uma nova sociedade é possível. Gostaria de ressaltar que o Jornal
da Cidadania tem sido importante veículo de comunicação, estudo e pesquisa para professores e alunos da rede pública
municipal de ensino de Lagoa Real, que muito se identifica com o Ibase no que diz respeito à formação de cidadãos e cida-
dãs comprometidos com uma sociedade mais justa e igualitária.
O jornal tem beneficiado o trabalho dos professores do Programa Brasil Alfabetizado/ AJA Bahia.
Gilmar Teixeira dos Santos – Orientador pedagógico do Programa Brasil Alfabetizado/AJA Bahia – Lagoa Real, BA.
Dê a sua opinião sobre o novo
Jornal da Cidadania.
04 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’07
Em 22 de junho deste ano, o jornal O Globo
divulgou a estréia da ópera eletrônica O Guarani
– baseada na opera-balé do brasileiro Carlos
Gomes, que, por sua vez, é baseada no romance,
de mesmo título, de José de Alencar. O diretor
e idealizador da novidade, Coy Freitas, definiu a
adaptação como uma festa-espetáculo. A “ver-
são eletrônica” contou com parceria entre o DJ
Mau Mau e o maestro Fabio Gomes de Oliveira.
Os brasileiros e as brasileiras que acompanham
A Voz do Brasil escutam, diariamente, um trecho de
O Guarani. O de Carlos Gomes, é claro. Nossa polí-
tica ainda não entrou na era da música eletrônica.
Chama a atenção, sobretudo, o objetivo do
projeto: “levar novos públicos a apreciar a música
erudita, mas de forma inovadora e contemporâ-
nea”. No site do Ministério da Cultura, o maestro
Gomes de Oliveira declara: “A música erudita já
tentou de tudo. Agora, estamos oferecendo um
caminho novo”.
Mas pera aí. O que favorece o surgimento de
tal novidade? Por que a música erudita se abriria
para o eletrônico? Nada melhor do que o desper-
tar de perguntas para que possamos desenvol-
ver uma reflexão crítica acerca das informações
e dos fatos que nos cercam.
O Guarani original conta com quatro atos. A his-
tória se passa nos arredores do Rio de Janeiro
por volta de 1560, quando indígenas Aimorés e
Guaranis travavam uma guerra.
Cecília, filha do colonizador português Dom
Antônio de Mariz, apaixona-se pelo índio Peri, líder
dos Guaranis. Contra a concretização do amor
está Gonzáles, aventureiro português que pla-
neja seqüestrá-la, e o cacique dos Aimorés, que
se apaixona por ela. Ciente do amor entre Peri e
Ceci, o cacique resolve sacrificá-los, assassinato
impedido pelo pai da moça.
Em seguida, Gonzáles faz com que Dom Antô-
nio e Cecília sejam encarcerados em seu próprio
castelo. Peri, sabendo que Dom Antônio pretende
se matar e levar Ceci consigo, implora pela vida
da dama. O pai, emocionado com a força do senti-
mento que une os amantes, batiza Peri, tornando-o
cristão. Ceci e Peri fogem e, ao longe, contemplam
a explosão do castelo onde está Dom Antônio, que
sacrifica a vida para salvar a filha.
O Guarani, de Carlos Gomes, estreou em
março de 1870, em Milão, na Itália. Ou seja,
137 anos o separam da ópera eletrônica ide-
alizada por Coy Freitas. Tempo suficiente para
transformações na forma como percebemos o
mundo, transformações essas apoiadas, entre
outros fatores, no desenvolvimento tecnológico
e científico.
Podemos ver a tecnologia invadindo e trans-
formando O Guarani. Na obra de Coy Freitas,
Peri e Ceci vivem num mundo imaginário onde
a selva invadiu a cidade. As crises ambientais
foram dominadas pela evolução da tecnologia.
Os(as) indígenas não são representados como
pertencentes a povos, mas como personagens
no estilo Matrix, Mad Max. Durante a apresen-
tação que ocorreu em São Paulo, 17 telões pro-
jetaram animações, vídeos, imagens manipula-
das ao vivo por VJs (visual jóquei, um DJ de
imagens), design gráfico. Personagens reais
contracenaram com virtuais. Ou seja, uma ver-
dadeira revolução na concepção da obra de
Carlos Gomes.
Longe de defender ou atacar a iniciativa ele-
trônica, de questionar seu valor artístico, o que
interessa é pensarmos um pouco sobre o mundo
onde vivemos, mundo este que possibilitou o
surgimento de uma ópera eletrônica e de tantas
outras criações e novidades.
Seria interessante nos voltarmos para a Segunda
Guerra Mundial (1939–1945). Tratou-se de uma
guerra de máquinas: aviões, tanques, colunas
motorizadas, artilharia pesada, navios e submari-
nos. Antes da explosão do conflito, os Estados Uni-
dos esforçaram-se por desenvolver a indústria de
guerra. Nos anos de 1943 e 1944, fabricavam um
navio por dia e um avião a cada cinco minutos.
As artes, assim como outros âmbitos da vida,
foram impactadas pela guerra de diferentes formas.
Entre as transformações ocorridas, podemos citar
o que se passou com o cinema. A forma como era
Flávia Mattar
TÚNEL DO TEMPO QUE MUNDO É ESTE?
05JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ‘07
concebido durante a ascensão (1933) e após a
queda de Hitler mudou de forma relevante. E não
é para menos. O ditador apostou na sétima arte
com fi ns de propaganda política. Ele contou com
o trabalho da cineasta alemã Leni Riefenstahl, que
realizou, entre outras obras, o fi lme O triunfo da
vontade, considerado uma das melhores obras de
cinema já produzidas. Nela, Leni faz crer na ade-
são em peso de um povo ao Nazismo. Não se sabe
ao certo se a adesão de fato ocorreu, mas o fi lme
nos seduz nesse sentido.
Como continuar fazendo cinema da mesma
forma depois do uso, muito eficiente, que foi
feito por Hitler? Os(as) cineastas verdadeiramente
comprometidos com a arte precisavam se dedi-
car a uma estética condizente com uma ética
totalmente distanciada da empregada por Hitler.
Disso dependia o futuro do cinema. E foi isso que
muitos diretores fizeram, tornando a arte cinema-
tográfica ainda mais rica. O grande pontapé foi o
neo-realismo italiano, movimento artístico e cul-
tural surgido na Itália ao final da Segunda Guerra
Mundial, que teve como pai-maior o cineasta
Roberto Rossellini.
A resposta dos(as) cineastas após a guerra é a
fragmentação. Os fi lmes não apresentam imagens
bem articuladas, uma “história bem contada”, que
possui começo, meio e fi m. Uma história possível
de ser reproduzida numa roda de amigos(as). A
montagem cinematográfi ca muda de rumo. Parece
não querer mais dar respostas, mas suscitar novas
perguntas, sempre. Uma arte fragmentada para
seres humanos fragmentados – traumatizados(as)
por idéias totalitárias, pela venda de supostas ver-
dades, pelo pensamento único –, pertencentes a
um tempo no qual a dúvida permeia a nossa rela-
ção com o mundo. Uma tensão constante, que
não se resolve.
O surgimento de O Guarani eletrônico é bem
condizente com o pós-guerra. A música eletrônica,
cujo surgimento remonta ao início do século 20 –
caracterizada pela colagem de sons de outros com-
positores, pela criação de novos ritmos e timbres
com o auxílio dos computadores, num processo
de apropriação, recorte e reciclagem de informa-
ções –, representa uma revolução na música feita
até então. E essa revolução foi possibilitada por
inúmeros fatores: o avanço tecnológico, as fendas
escancaradas por adventos incontestáveis como
uma guerra. Enfi m, fatores capazes de redimen-
sionar a forma de estar no mundo. E esse, como
qualquer redimensionamento, vai se dando lenta-
mente, num crescente, como uma gestação que
chega num clímax: o nascimento do novo, sempre
carregado do que o precede.
Assim como a arte cinematográfi ca fortalecida
no pós-Segunda Guerra Mundial, a música eletrô-
nica, com seus sons desconexos, que parecem não
fazer sentido, só poderia ter surgido neste mundo
de fragmentos, de paradoxos, repleto de informa-
ções ambígüas. Neste espaço, neste tempo que
não são piores nem melhores do que aqueles que
os antecedem. São apenas diferentes.
Cc CANAL CULTURAL
06 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’0706 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’07
A organização Criar Brasil abre espaço na programação de emis-
soras de rádio para abordagem de temas ligados à juventude e
à cidadania. O projeto Rede de Cidadania nas Ondas do Rádio já
capacitou jovens de projetos sociais ligados(as) à comunicação e
a rádios comunitárias de todo o país para atuarem diretamente na
produção e execução de programas, e conta com corresponden-
tes fora do estado do Rio.
Segundo Vinícius Sacramento, estagiário de produção, o pro-
jeto está sendo um grande aprendizado. “Tive a chance de conhe-
cer certos equipamentos e adquirir experiência que seria quase
impossível fora do Criar Brasil. A Rede de Cidadania é muito inte-
ressante porque tivemos a oportunidade de conhecer gente nova,
de vários estados. É um trabalho extremamente dinâmico e muito
gratificante”, diz.
Já foram produzidos 21 programas em formato jornalístico e 21
radionovelas, que são distribuídos gratuitamente para 600 rádios
comunitárias e educativas no Brasil. A idéia é que esses programas
sirvam de modelo para outros que serão feitos por cada emissora.
Segundo a coordenadora geral do Criar Brasil, Rosangela Fernan-
des, o projeto é feito para jovens e por jovens e este é o principal
motivo dos bons resultados. “É bem interessante porque eles fazem
sugestões e trazem materiais que têm a ver com a realidade que vivem.
Os programas têm a cara deles. E o retorno das rádios comuni-
tárias também está sendo ótimo”, anima-se. A coordenadora
prevê o crescimento do projeto, ampliando a oportunidade para
um número maior de jovens, por meio das escolas. “Nossa inten-
ção é ampliar a participação de jovens em 2008. Muitos profes-
sores entraram em contato conosco pedindo para receber o mate-
rial. Enviaremos os programas e radionovelas em CD para essas
escolas e, principalmente, para as rádios”, conclui. A idéia é que
os(as) professores(as) possam promover debates após a audição
de alunos(as) em sala de aula.
Para participar da rede, as emissoras de rádio devem acessar o
site do Criar Brasil <www.criarbrasil.org.br> e preencher um ques-
tionário de adesão. Os programas serão enviados pelo correio em CD
ou podem ser baixados pela Internet em MP3.
Professores(as) interessados(as) devem entrar em contato pelo
e-mail: [email protected] ou tel: (21) 2242-867 / 2508-5204.
O CENTRO DE IMPRENSA, ASSESSORIA E RÁDIO (CRIAR BRASIL) TEM POR OBJE-TIVO APOIAR ORGANIZAÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS NA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL. ANTES DE ADOTAR O NOME CRIAR, HÁ 12 ANOS, A ONG SE CHAMAVA CENTRO DE IMPRENSA ALTERNATIVA (CRIA), E ERA UM SETOR DO IBASE. EM 1994, COMEÇOU A TRABALHAR DE FORMA INDEPENDENTE. A EQUIPE É COMPOSTA POR RADIALISTAS E JORNALISTAS COM EXPERIÊNCIA EM CAPACITAÇÃO E NA PRODUÇÃO DE PROGRAMAS DE RÁDIO.CR
IAR
BRAS
IL
Beatriz GredilhaColaborou: Carlos Daniel da Costa
07JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ‘07
Maioridade
PENALA Comissão de Constituição e Justiça do Senado
(CCJ) aprovou proposta de emenda constitucional
(PEC), que reduz de 18 para 16 anos a maioridade
penal no Brasil. Segundo a emenda, seriam passí-
veis de cumprir regime prisional jovens que come-
teram crimes hediondos. A PEC ainda precisa de
aprovação em segundo turno no Senado e em dois
turnos na Câmara dos Deputados. As votações
estão previstas para este semestre.
A pesquisadora do Ibase, Manoela Roland,
defende que a redução da idade penal não pode-
ria ser tema de pauta no Congresso Nacional,
já que é inconstitucional. “A Constituição prevê
garantia ao menor de 18 anos, que se encontra
na seara dos direitos e garantias fundamentais”,
argumenta. Ela destaca trecho do artigo 60, que
dispõe: “Não será objeto de deliberação a pro-
posta de emenda tendente a abolir: IV – os direi-
tos e garantias individuais”.
Somado à declaração de inconstitucionali-
dade, seria importante conhecer dados divulga-
dos pela Secretaria Nacional de Direitos Huma-
nos em 2004. A pesquisa revela que, nesse ano,
apenas 0,2% de jovens de 12 a 18 anos cometeu
ato infracional. Destes(as), 73,8% eram crimes
contra o patrimônio, e não contra a vida.
Para a presidenta do Conselho Nacional de
Juventude e representante da Pastoral da Juven-
tude, Elen Lilith, tais dados praticamente não são
levados em conta. “A discussão é feita no calor
das emoções”, diz.
Levantamento da Universidade de São Paulo
(USP) mostra que, de 1980 a 2002, a população
de 0 a 19 anos foi alvo de 110.320 homicídios.
Um aumento de 316% nesse período, resultando
em pouco mais de 13 homicídios diários contra
crianças ou adolescentes.
Apesar dessas estimativas – mostrando que
jovens têm sido alvos constantes de violência e
que seus atos infracionais não estão de acordo
com o que pensa o senso comum –, boa parte da
população tem anseios por medidas drásticas, de
curto prazo.
Divulgada em abril, pesquisa realizada pelo ins-
tituto DataSenado mostra que 69% das pessoas
entrevistadas desejam o aumento da pena máxima
de 30 anos. Outras 93% são favoráveis à pena inte-
gral para crimes hediondos, sem concessão de
benefícios. Na opinião de 87%, jovens infratores(as)
devem receber punição igual a pessoas adultas.
Em relação à maioridade penal, para 36%, jovens
devem adquirir maioridade penal aos 16 anos. Para
29%, a partir dos 14 anos. A punição aos 12 anos é
defendida por 21%. De acordo com 14%, a maiori-
dade penal sequer deveria existir, com infratores(as)
sendo punidos em qualquer idade.
MÍDIA E CRIMINALIZAÇÃOEpisódios que causam comoção na população,
como o assassinato do menino João Hélio Vieites,
de 6 anos, em fevereiro, no Rio, têm sido decisi-
vos para aquecer as questões sobre juventude e
EM FOCO
Alfredo Boneff, jornalista, colaborador do Ibase
criminalidade. Na ocasião, o menino ficou preso
ao cinto de segurança do carro de sua mãe,
quando os assaltantes – entre eles, um com 16
anos – arrancaram com o veículo.
O crime instiga reflexões acerca da participa-
ção da mídia neste debate. O historiador e mem-
bro do Fórum de Juventudes do Estado do Rio de
Janeiro, Fransergio Goulart, não hesita em credi-
tar à abordagem dos grandes veículos de comu-
nicação o preconceito sofrido por jovens negros
e pobres. “O jovem sempre é colocado de forma
negativa e vinculado à questão da criminalidade
e violência, principalmente o jovem negro, pobre
e morador de comunidades”, critica.
Manoela Roland tem opinião semelhante: “A
abordagem da mídia sobre o tema da violência
como um todo é alarmista e preconceituosa, ali-
mentando um clima de pânico, que não propor-
ciona o debate sobre as causas da violência; na
verdade, prejudica-o, pois apenas aumenta a
onda de radicalização em direção a preconceitos
já arraigados na sociedade”.
Para o deputado estadual Alessandro Molon
(PT–RJ), o componente da comoção termina por
gerar distorções. “A abordagem da mídia normal-
mente é apaixonada. É mobilizada pelo excesso,
em alguns casos. E, mesmo que nem todos os
envolvidos sejam menores, a atenção recai mais
sobre o menor”, diz.
08 JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’07
Há 15 bilhões de anos, o universo começou a ser
formado por uma explosão, conhecida como Big
Bang. No começo do universo, o espaço era pre-
enchido com matéria, que estava muito quente
e densa. Essa expandiu, esfriou e produziu as
estrelas e as galáxias que vemos hoje.
A Terra foi formada e, cerca de 1 bilhão de anos
após essa formação, a evolução molecular já havia
dado origem à vida. Durante milhares de anos, a
temperatura no planeta foi se alterando, assim como
as formas de vida que foram se adaptando a essas
mudanças. O Homo Sapiens aparece 3,8 bilhões de
anos (ou há 300 mil anos) depois de a Terra ter pas-
sado por muitas mudanças climáticas. Nós, Homo
Sapiens Sapiens, temos apenas cerca de 130 mil
anos de existência e, uma das conseqüências de
nossa existência, a civilização, tem apenas 10 mil
anos. Surge após o fim da última era do gelo.
A nossa espécie e seus ancestrais viveram
em cavernas, construíram ferramentas de pedra,
descobriram o fogo e a roda. Por muitos milê-
nios, a tecnologia não avançou muito. O avanço a
plenos vapores – literalmente – vem com a Revo-
lução Industrial, na segunda metade do século
18, na Inglaterra. Seu impacto foi tão grande que
influenciou o processo produtivo econômica e
socialmente. Foi com ela que a era agrícola foi
superada pela máquina e o capitalismo se tornou
o sistema econômico vigente.
Se antes a Terra havia passado por transfor-
mações climáticas naturais, a partir da Revolução
Industrial, boa parte das transformações seriam
– e são – sua conseqüência. A queima de com-
bustíveis fósseis para abastecer veículos, aque-
cer casas, produzir e vender produtos, e gerar
energia lança na atmosfera gases de efeito estufa,
dentre eles o dióxido de carbono (CO2), cuja con-
centração na atmosfera aumentou em 31% desde
a Revolução Industrial. O efeito estufa é um fenô-
meno natural para manter o planeta aquecido. É
assim que a vida na Terra é possível. Mas ao lan-
çar muitos gases de efeito estufa na atmosfera, o
planeta se torna cada vez mais quente e o resul-
tado pode ser a extinção da vida.
Hoje, a quantidade de CO2 na atmosfera é
maior que em qualquer outro período nos últi-
mos 420 mil anos. Sendo ele o responsável por
mais de 80% da poluição que gera o aqueci-
mento global. De acordo com a organização
WWF Brasil, são várias as conseqüências das
mudanças climáticas: aumento da intensidade
de eventos de extremos climáticos (furacões,
tempestades tropicais, inundações, ondas de
calor, seca ou deslizamentos de terra); esta-
ções de esqui com menos neve; derretimento
das calotas polares, causando o aumento do
nível do mar – na Ásia, um quinto das geleiras
do Himalaia estará derretido até 2030 – e até o
aumento da temperatura média do planeta em
0,8ºC desde a Revolução Industrial.
Além de confirmar uma informação que há
muito se imaginava, mas pouco se tinha cora-
gem de dizer – o ser humano é responsável
pelas mudanças climáticas –, o recente relató-
rio do Painel Intergovernamental sobre Mudan-
ças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Uni-
das (ONU), revela que, até o fim do século 21, a
temperatura da Terra pode subir de 1,8ºC a 4ºC.
Nada comparado aos 0,8ºC que já tem efeitos
catastróficos suficientes. E ainda que, nos pró-
ximos 30 anos – é isso mesmo que você leu –,
a chapa vai mais do que esquentar, vai ferver.
No ritmo que estamos, até 2040, a temperatura
média global passará dos 15ºC. Uma tempera-
tura que parece amena, mas que influencia, e
muito, o sensível equilíbrio do planeta.
VILÕES DA HISTÓRIAO coordenador da Campanha de Energias Reno-
váveis do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo,
explica que os países industrializados são os
responsáveis pelo consumo de mais de 70% da
energia global, logo, os maiores emissores de CO2
do planeta. Os países em desenvolvimento seriam
responsáveis pelos outros 30%. Porém, Brasil e
China estariam no bloco dos grandes poluidores,
em quarto e primeiro lugares, respectivamente.
“Cabe a eles uma parcela de contribuição pela
redução de emissões globais”, defende.
Ele diz que, no caso do Brasil, o Ministério
de Ciência e Tecnologia identifica a mudança
no uso da terra e das florestas como responsá-
vel por 75% das emissões nacionais e o setor de
energia por outros 23%. “Dessa forma, as prio-
ridades para a mitigação das emissões nacionais
estão direcionadas ao fim do desmatamento e ao
Jamile Chequer
09JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ‘07
aumento de energias limpas na matriz energética.
A composição dessa matriz deve incluir a diversi-
ficação de energias renováveis, a redução de uti-
lização de combustíveis fósseis e o aumento da
eficiência energética”, indica.
Essa roupagem de vítima e vilão dá ao Brasil
uma responsabilidade enorme. O desmatamento
cresce a passos largos. Já perdemos 17% da Flo-
resta Amazônica, por exemplo. De 2000 a 2005,
o desmatamento na Amazônia significou 42% da
perda líqüida de áreas florestais no mundo.
As conseqüências também chegarão por aqui.
Além de possibilidade de aumento do nível do
mar, prejudicando as cidades costeiras, a produ-
ção de grãos pode ficar comprometida, a vazão
dos rios diminuirá por falta de chuva. A própria
região Norte poderá se tornar um grande cer-
rado. “Esperam-se também impactos severos no
semi-árido brasileiro, que tenderia a ficar mais
seco, atingindo diretamente 25 milhões de habi-
tantes da região”, explica o professor da Univer-
sidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coor-
denador de Projetos da ONG Naper Solar, Heitor
Scalambrini Costa, em artigo para a Articulação
no Semi-Árido Brasileiro (ASA).
Politicamente, um dos entraves para que
medidas mais sérias de prevenção – e por que
não dizer, de remediação – sejam tomadas pelos
países mais ricos está no fato de, por exemplo, os
Estados Unidos não terem assinado o Protocolo
de Quioto (principal mecanismo de negociação
global de redução de emissões de gases de efeito
estufa). Não se identificam – ou não querem se
assumir – como grandes poluidores e alegam que
não há ligação direta com as mudanças climáti-
cas. O Brasil ratificou o documento no dia 23 de
agosto de 2002.
Apesar do clima catastrófico – mais uma vez,
temos que dizer, literalmente –, ainda existem
possibilidades de, no futuro, vivermos um cenário
não tão sombrio. É preciso mudar de atitude. Isso
começa dentro de casa, na escola, na rua. Lem-
bra daquele celular novo? Se o seu velho ainda
funciona, para quê comprar outro? Pense onde a
bateria do seu celular vai parar. Lembra do banho
demorado; da luz acesa sem ninguém estar na
sala; de escovar os dentes com a torneira aberta;
de lavar calçada com mangueira?
Parece pouco, mas imagine se cada cidadão
e cidadã brasileira começasse a separar o lixo de
casa para ser reciclado, se cada pessoa fizesse a
sua parte. Comece hoje. Comece agora.
FRITANDO OVONa era do “ano mais quente que já vi”, em
ordem crescente, foram 1998, 2002 e 2003
(juntos); 2001, 1997, 1995, 1990 e 1999
(juntos); 1991 e 2000 (juntos); e 2005.
Quando a temperatura passou a ser compa-
rada de dois em dois anos, 2002 e 2003
se tornaram os mais quentes da história.
Fonte: WWF Brasil.
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’0710
dias confusos de milicoDAVID DA SILVA
Braço forte,
mão amiga. Até hoje, não entendo
isso. O Exército foi minha primeira experiência
real de emprego. Já tive outras, mas nessa fui
obrigado a permanecer por um ano. Por uma
grande influência paterna, queria muito entrar,
mas, logo na primeira semana, percebi que a dis-
ciplina rígida da vida militar estava distante do
que imaginara inicialmente.
No armário, entre fotos eróticas e ferrugens,
mantive um calendário para viver um dia de cada
vez, almejando, ansioso, o último. “Acorde!”, o
corneteiro anuncia a alvorada. Meu uniforme
está suado, ainda do dia anterior. Meu corpo
cansado física e mentalmente. Uma voz invade
e ecoa no ambiente, trazendo um ar de superio-
ridade e incontestabilidade: “Não é mais hora de
dormir, cães!”. Torço para meus cadarços esta-
rem no lugar correto, torço para não me atrasar
para a primeira refeição do dia. Que, por sinal,
sempre foi a melhor.
Íamos até o rancho vibrando, em fila e com
cadência, cânticos da infantaria ou cavalaria,
mas sem molengar, isso podia comprometer
horas, você passa a
desconhecer o que acontece no seu interior,
são sentimentos raros em seu coração e mente.
É necessário saber equilibrá-los. Imagine: flexões
com as pontas dos dedos até esmorecer.
Se não fosse o bom humor, os dias seriam
mais longos, as refeições não seriam saborosas,
a saudade do elo familiar seria mais profunda.
Tentava encarar os fatos corriqueiros e estar-
recedores de forma alegre. O sorriso estampado
na face do soldado recruta é sinal de plena felici-
dade. Acredite, talvez seja o sorriso mais sincero
que já vi até hoje.
Amizades saudáveis e verdadeiras são feitas.
Todos vivem a mesma ansiedade e dificuldade.
Compartilham as mesmas dores e alegrias. Ape-
lidamos cada um do nosso ano de inserção e
grande parte dos oficiais. As menininhas adora-
vam nos ver fardados pela rua. No fim dos dias,
o cansaço estava estampado no olhar, mas, de
certo modo, valia a pena. Valeu a pena viver
esses momentos: 300 dias de aprendizado.
O tempo é rei. Quando se está prestando ser-
viço militar obrigatório e sem vontade, deve-se
acreditar nesse conceito sobre o tempo. É nele
que se concentra a maior parte de nossos pensa-
mentos. É ele que acompanha o recruta nas bata-
lhas, na madrugada fria e chuvosa, na solidão do
posto a cada hora de serviço, o tempo passa a
ter mais valor. Não posso negar uma coisa: saí
de lá diferente.
nosso sono. Afinal, qualquer equívoco levava,
no mínimo, a uma noite inteira em alojamento
fechado. A lua não era a mesma, seu brilho era
ofuscado pelo nevoeiro trazido pelas lágrimas nos
olhos. Talvez saudade da família ou até mesmo
dos amigos. Percebo o valor que eles têm na
minha vida. Mas não me preocupo, a solidão é
ilusória, além dos ratos e insetos, terei sempre a
companhia dos pensamentos.
O dia amanhece, o camuflado das roupas pesa-
das, acessórios de guerra, a postura ereta e sem-
pre séria dos oficiais, parecendo árvores secas,
passam uma sensação de inferioridade, de domi-
nação. O respeito se soma ao medo e a vibra-
ção de alguns se amplia ao anseio do comando.
O silêncio ou o “Sim, senhor!” entoado em bom
som são as melhores e únicas respostas a serem
dadas em qualquer situação em que um recruta
se encontra. Nunca esqueça da continência.
Cara na lama, marcha sem fim ao redor de
árvores, “sentado um, dois, de pé um, dois”. Cenas
inesquecíveis. O soldado deve aprender a ter
controle. A dor é a maior inimiga nessas
NESTA COLUNA, O ASSUNTO É O PRIMEIRO EMPREGO. NESTE NÚMERO, DAVID CONTA A SUA EXPERIÊNCIA NO EXÉRCITO. QUAL DEVE SER O ASSUNTO NA PRÓ-XIMA EDIÇÃO? ESCREVA, LIGUE, PARTICIPE! O QUE VOCÊ QUER SABER SOBRE O PRIMEIRO EMPREGO?
NfNA FILA
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’0710
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ‘07 11
Um basquete inovador está tomando conta das ruas.
Atletas trocaram o piso liso dos ginásios por quadras de
cimento. A batida da bola, os jogadores, a torcida são
embalados pelo ritmo do hip hop em quadras improvisadas com diversidade
cultural predominante: skate, grafite, dança, capoeira etc. Tudo acontece
paralelamente às partidas, criando um espaço atraente para a juventude.
Por ter um perfil urbano, o basquete de rua já é considerado por muitos(as)
praticantes um dos elementos formadores da cultura hip hop, ao lado do
rap, do grafite e do break.
Mesmo com um bom número de adeptos(as), o basquete de rua demo-
rou a ganhar espaço. No Brasil, acabava ofuscado pelo futebol e pela difi-
culdade de espaços para a prática. Apesar disso, da zona Norte à zona Sul,
em quadras poliesportivas ou no asfalto cru, era possível presenciar par-
tidas informais. Oficializado desde 2001, carrega uma proposta que ultra-
passa o contexto de diversão: favorece maior liberdade nas criações das
jogadas, além de ter compromisso com a formação cidadã dos(as) que par-
ticipam dessa manifestação cultural.
Foi em 2001, em um dos galpões do Cais do Porto no Rio de Janeiro,
quando acontecia o Hutúz Rap Festival, evento de hip hop mais importante
do Brasil, promovido pela Central Única das Favelas (Cufa), que ganhou
força. Começa, então, a empreitada para o basquete de rua se tornar uma
atividade formal e reconhecida pela sociedade.
Uma das coordenadoras da Cufa, a rapper Nega Gizza, diz que tudo come-
çou de forma inusitada. “Gigantes jogavam basquete com um cesto de lixo.
Me chamaram para ver e eu achei que fosse alguma briga.” Não era. Eram
Aqueles(as) que pensam que esse basquete está restrito a homens se
enganam. As mulheres vêm se apropriando e ganhando espaço nas qua-
dras e nas competições, criando um estilo próprio. E, quando o assunto
é machismo, são bem objetivas: “Tem um pouco de preconceito, sim. Os
homens não gostam de jogar com as mulheres, mas com a gente não tem
essa, jogamos sempre de igual para igual”, argu-
menta Cristal, atuante da equipe paulista Red
Nose, time campeão feminino de 2007. A vontade
de romper com a barreira do preconceito torna
essas jogadoras lutadoras pela igualdade, não só
no basquete, mas em todos os âmbitos em que
haja diferenciação entre homens e mulheres.
Para quem está iniciando e quer se aperfei-
çoar nessa modalidade, a Cufa tem as escolinhas
no Viaduto de Madureira, no Rio, com aulas às segundas, quartas e sextas
a partir das 15h, com o professor Vanderson. E, para a galera que já está
dando seus saltos e enterradas, participe das “peladas”, às terças e quin-
tas, a partir das 19h, também no viaduto.
rapazes fazendo do cesto uma cesta de basquete. Era preciso pensar numa
solução que fosse, principalmente, inclusiva. “Na Cufa, falei com o pessoal
que a gente precisava dar atenção ao basquete de rua, ele estava crescendo
e tinha também a ver com o hip hop, também tem uma proposta social.”
O basquete deixou de ser uma simples brincadeira e foi incorporado
aos eventos e planejamento didático da Cufa. Em 2002, nasce o primeiro
campeonato carioca de basquete de rua. Em 2004, deixa de ser a única
disputa do gênero no Rio e passa a fazer parte do calendário nacional
de esportes. A manifestação cultural e social foi expandida. A Cufa cria
a Liga Brasileira de Basquete de Rua (Libbra), hoje reconhecida pela
Federação de Basquete do Estado do Rio de Janeiro e pela Confederação
Brasileira de Basquete.
O basquete de rua como transformação social e socialização de valores
culturais é o que mobiliza a Libbra a promover eventos e estimular ainda
mais a prática desse esporte no Brasil. Os(as) jogadores(as) também con-
cordam: “Com certeza! Isso aqui é um modo de socializar todas as classes,
independente de nível social, pobre, rico, branco, negro, quando entram em
quadra são unidos, todos em prol do basquete de rua”, afirma Tim, jogador
da equipe Cufa – campeã 2007.
LINKS INTERESSANTES:
Cufa – Central Única de Favelaswww.cufa.org.br
Libbra – Liga Brasileira de Basquete de Ruawww.libbra.com.br
Sebar – Seletiva Estadual de Basquete de Ruawww.realhiphop.com.br/sebar/index.html
Lub – Liga Urbana de Basquetewww.lub.org.br
And One Brasilwww.and1.com.br
Ja JOGO ABERTO
DAVI AMEM
BASQUETE DE RUA, um esporte que diverte e conscientizaDa redação – Colaborou: David da Silva
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’0712
Núcleo de Mulheres Jovens da Camtra* Nós, mulheres do século 21, vivemos em uma
sociedade onde nos parece haver igualdade
entre mulheres e homens. Natural, então,
podermos estudar, trabalhar, votar e, até
mesmo, usar calças. Mas nem sempre
foi assim. Você já parou para pensar
como éramos vistas e tratadas no
tempo de nossas avós e mães?
No Brasil, por exemplo, as mulheres só
conquistaram o direito ao voto em 1932. Con-
tudo, esse direito era assegurado apenas às
solteiras ou viúvas. Casadas só votavam
com autorização expressa do marido. A
garantia do direito pleno ao voto foi con-
quistada com muita luta e organização das
mulheres, sendo regulamentada por lei em 1934.
O acesso à educação foi vedado às mulhe-
res até 1827, quando passaram a ser admitidas
somente nas escolas elementares. Foram neces-
sários mais 50 anos para sermos aceitas nas ins-
tituições de ensino superior, ainda restritas às
“profissões consideradas femininas”.
De lá pra cá, o que mudou? Será que já alcan-
çamos a tão sonhada igualdade?
Apesar dos vários avanços, ainda existem mui-
tos casos de violência contra a mulher, repres-
são da sexualidade feminina, diferença salarial
entre os sexos, mercantilização do corpo femi-
nino... Quando nossos namorados(as) nos man-
dam trocar de roupa ou querem escolher nos-
sas amizades, com quem e para onde sairmos,
são situações cotidianas que nos parecem nor-
mais. Porém, atitudes que podem passar des-
percebidas, sob as alegação de amor e ciúmes,
escondem o sentimento de posse e dominação
do homem sobre a mulher, camuflando excesso
de cuidado que faz parte de um ciclo. Podemos
notar tarde demais, apenas quando se manifesta
na forma de violência física.
A sexualidade é ainda um limite para nós,
mulheres. Somos constantemente reprimidas,
principalmente as jovens. Você já percebeu que
os meninos, desde crianças, são estimulados a
sair com várias meninas? Ao contrário, escuta-
mos que devemos ser recatadas, e se não temos
relacionamento fixo, somos taxadas de “piranha,
galinha etc”. A obrigação de reprodução e do cui-
dado com a gravidez continua sendo da mulher.
Conseqüentemente, assumimos sozinhas as res-
ponsabilidades de ter ou não e criarmos as(os)
filhas(os), às vezes sendo necessário abandonar
a escola e o trabalho.
Nesta sociedade, alguns padrões de beleza
são impostos: mulheres bonitas são magras, têm
cabelos lisos, usam roupas da “moda”.
O importante ao ressaltarmos todas essas ques-
tões sutis, aos olhos deste modelo de sociedade
– onde tudo é mercadoria e que expõe o corpo
e a imagem das mulheres como objetos (atraen-
tes e disponíveis) –, é pensarmos o que queremos
e o que podemos fazer para mudar. Apesar das
inúmeras conquistas e avanços, ainda não temos
igualdade de oportunidades entre os sexos.
A organização das mulheres, no Brasil e no
mundo, em torno das bandeiras feministas, sim-
boliza bem isto: autonomia, direitos sexuais e
reprodutivos, oportunidades iguais de trabalho,
liberdade de sexualidade, escolher ter ou não
filhas(os) sem sentir-se culpada, ser bonita, inde-
pendentemente da cor da pele, do tipo de cabelo
e de quanto pesa. Enfim, livres. Tudo isso só será
possível com a superação do machismo e com a
construção de uma verdadeira igualdade de direi-
tos entre mulheres e homens.
Junte-se a nós!
Venha para esta luta também!!!!
A SEXUALIDADE É AINDA UM LIMITE
PARA NÓS, MULHERES. SOMOS
CONSTANTEMENTE REPRIMIDAS,
PRINCIPALMENTE AS JOVENS
(21) 2544-0808
www.camtra.org.br
*Uma organização não-governamental, que tem
como missão ir ao encontro de outras mulheres,
com a perspectiva de colaborar para o fortale-
cimento de sua autonomia e despertá-las para a
importância de sua participação na construção
de uma sociedade mais justa e igualitária.
AeAGORA É QUE SÃO ELAS
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ‘07 13
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“Levamos nosso
afilhado de três
anos numa festa e
uma criança, da
mesma idade, disse
pra ele: minha mãe
detesta gente preta
e eu também.”
A história de Ana Carolina
Delgado e Luis Henrique
Mendes acontece todo dia, em
todos os cantos do Brasil. E é
para entender o preconceito
racial e descobrir como acabar
com ele que a campanha
"Onde você guarda o seu
racismo?" reúne dezenas de
instituições na iniciativa
Diálogos Contra o Racismo.
Entre em contato, conheça e
faça parte desse movimento.
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www.dialogoscontraoracismo.org.br
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JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ’0714
No primeiro exame de qualificação da Uerj deste ano, cerca de 54,17%
de 61.877 vestibulandos(as) foram reprovados(as). Significa que 33.518
pessoas terão que esperar a segunda oportunidade de fazer a prova. E esses
dados ficam ainda mais assustadores se pararmos para pensar nas notas
dos(as) aprovados(as). Apenas 0,98% – ou seja, 606 candidatos(as) –
conseguiu alcançar o maior conceito da prova, acertando mais que 43 das
60 questões.
Esses dados demonstram que tais exames exigem, a cada dia, um conhe-
cimento maior. E um dos obstáculos das provas é a exigência da disciplina
de língua estrangeira. A dificuldade se dá porque esse estudo, principal-
mente nas escolas públicas, é diferente do de outras disciplinas. Ela é ensi-
nada de maneira instrumental, o(a) estudante só é capaz de ler, interpretar
e responder sobre textos simples. Muito diferente da maneira como a lín-
gua é abordada nas provas de vestibular, nas quais é pedida a interpreta-
ção de textos grandes e mais complexos do que o(a) vestibulando(a) está
acostumado(a) a lidar.
Segundo Mônica C.F.M. Brandão, licenciada em Português/Inglês, “o
interesse do aluno é primordial. A pesquisa feita fora de sala de aula é
importante para o nível vocabular se expandir. Até porque, o inglês apren-
dido na escola não é suficiente. Um curso extra é fundamental. Caso o
aluno não tenha condições financeiras para pagar, o melhor caminho é cor-
rer atrás, mesmo que seja sozinho”.
Geralmente, na primeira fase, aquela que elimina candidatos(as) com
provas de conhecimento geral, o(a) vestibulando(a) pode escolher o idioma.
Na maioria das universidades, as opções oferecidas são inglês, francês ou
espanhol. Passado esse momento, o candidato(a), se aprovado(a), sub-
mete-se a uma prova específi ca, na qual deverá responder a questões rela-
tivas ao curso escolhido. Comumente, as provas específi cas abordam duas
disciplinas, sendo uma delas língua estrangeira, sem direito de escolha.
Sendo assim, o(a) candidato(a) deverá fazer o exame discursivo no idioma
pré-determinado. Responder a questões em uma língua que, na maioria
das vezes, não se domina, é algo que aumenta a dificuldade.
Apesar desses obstáculos, não devemos desistir. Como diz Mônica
Brandão, quando não é possível apelar para cursos de línguas para melho-
rar nosso desempenho, precisamos nos apoiar em nós mesmos. A receita
para o sucesso é estudar, dedicar-se e nunca, jamais, desistir.
VESTIBULAR: LÍNGUA ESTRANGEIRA
AS ESTATÍSTICAS MOSTRAM QUE A PREOCUPAÇÃO DA JUVENTUDE EM NÃO PASSAR NO VESTIBULAR TEM FUNDAMENTO. APENAS 11% DE JOVENS ATÉ 29 ANOS NO BRASIL ESTÃO NA FACULDADE. E UM NÚMERO AINDA MAIS REDUZIDO CONSEGUE INGRESSAR EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA. O PROBLEMA COMEÇA ANTES DO INGRESSO NA UNIVERSIDADE, NA HORA DE ENFRENTAR AS PROVAS DE VESTIBULAR.
Daiana e Daniele Santos
Estudantes de pré-vestibular comunitário. Participaram do Grupo Focal
do JC para mudança gráfica e editorial.
COM A PALAVRA, OS(AS) VESTIBULANDOS(AS)Fernanda dos Santos Vieira,18 anos. Estudante do 3º ano da rede particular
de ensino. Nunca prestou vestibular – Curso pretendido: Direito – Cursou
inglês durante 6 meses.
“Vou escolher espanhol, acho bem mais fácil que o inglês. Acho que o inglês
que aprendo não me dá base, mesmo estudando em escola particular. Mas
estou um pouco mais adiantada do que alunos de escola pública, pois, nas
escolas particulares, as turmas são menores e os professores podem dar mais
atenção. Mesmo que soubesse que a minha disciplina específi ca seria língua
estrangeira, não deixaria de prestar vestibular para o curso que escolhi.”
Flávia Simplício André, 19 anos. Estudou na rede pública de ensino. Prestou
vestibular e, atualmente, estuda Serviço Social na Uerj. Nunca fez curso de
língua estrangeira.
“Eu acho que é uma forma de integração do vestibulando com a sociedade
e uma maneira de entender outras culturas. Na minha prova específica,
caiu espanhol, mesmo assim, não pensei em mudar de curso. A prova me
dificultou em parte, pois só tive contato com a língua pelo pré-vestibu-
lar. Isso fez com que não me sentisse preparada o suficiente. Eu diria aos
jovens para estudar pesquisando em livros, procurar aulas gratuitas.”
Bruno Pires Bezerra, 19 anos. Estudou na rede pública de ensino e já prestou ves-
tibular – Curso pretendido: Administração – Cursou inglês durante 7,5 anos.
“A língua estrangeira é importante, mas é um pouco desnecessária no ves-
tibular, porque não será o foco principal de estudo na faculdade. É válida
como conhecimento, mas não como critério de avaliação. Apesar disso,
considero-me preparado. Acho que o ensino das escolas com relação a
línguas estrangeiras, tanto públicas como particulares, é falho, servem só
para não ficar “perdido”.
A coluna é um espaço de expressão para professores(as), diretores(as),
estudantes. Use o espaço para contar algo legal sobre seu cotidiano na
escola ou fora dela, compartilhar dúvidas e certezas. É possível também uti-
lizar o espaço para um debate entre professor(a) e estudante sobre deter-
minado assunto. Pode ter letra de música, poesia, desenho. Nosso canal de
contato por e-mail é: [email protected]. Participe!
FaFALA AÍ
JORNAL DA CIDADANIA | Nº 140 | OUTUBRO ‘07 15
JC - O que devemos avaliar na hora de escolher uma profissão?
Alexandre – O jovem deve buscar informações sobre as profissões e esco-
lher algo que goste de fazer. Ajudar na escolha deveria ser papel das esco-
las, dos cursos pré-vestibulares, mas, infelizmente, acaba não acontecendo.
Aquela história de escolher pelo mercado de trabalho quase sempre é ruim.
Fazer o que não gosta só porque há mais chances pode ser um grave erro.
JC – Quais são os assuntos que merecem maior atenção?
Alexandre – O vestibular ainda é um leque de várias disciplinas. Temas do
momento são sempre cobrados em redações. É preciso acompanhar os
conteúdos das disciplinas e também manter-se informado pelos jornais,
revistas e internet, formar opinião própria. O PAC [Programa de Aceleração
do Crescimento] e a questão aérea serão temas pedidos, com certeza.
JC – O que deve ser feito para que uma pessoa com dificuldades financeiras
consiga se manter na faculdade?
Alexandre – Programas de cotas, como o ProUni, e outros que têm por
aí, são resultado da luta de movimentos sociais. Sobretudo, da luta dos
movimentos negros, com parcela significativa do trabalho do pré-vestibular.
Os programas existem por causa dos próprios pré-vestibulares populares.
A existência de pré-vestibulares é, em si, a exigência de uma reforma uni-
versitária que ainda precisa ser completa. Outra questão, em termos de
políticas públicas, é que a universidade deve ter programas de permanên-
cia, bolsas de estudos para os mais necessitados, acesso a materiais, livros
e melhorias nas bibliotecas. Alguns estudantes não conseguem se manter
na universidade por causa de custos com transporte, alimentação, cópias e
outros materiais. Uma pessoa que estuda é produtiva para a sociedade. E,
a partir do momento que a sociedade entender isso como um investimento,
vai pagar uma bolsa para esse jovem que não tem condição.
Em novembro, o PVNC divulgará suas vagas para 2008. <www.pvnc.org>
UERJ
Todos(as) os(as) candidatos(as) que realizaram um dos dois exames de
qualificação, no dia 17 de junho e/ou no dia 16 de setembro, e realizaram
suas inscrições de 20 de setembro a 5 de outubro de 2007, farão prova dis-
cursiva no dia 2 de dezembro.
UFF
– A prova da 1ª etapa, em 15 de novembro (quinta-feira) de 2007, é elimi-
natória. Nela serão propostas 75 questões de múltipla escolha, que abran-
gerão conhecimentos de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Biolo-
gia, Física, Geografia, História, Matemática, Química e Língua Estrangeira
(Francês, Inglês ou Espanhol).
– As provas da 2ª etapa, em 9 de dezembro (domingo) de 2007 – ou em
9 e 11 de dezembro de 2007, para candidatos(as) ao curso de Arquite-
tura e Urbanismo –, serão classificatórias.
Em 9 de dezembro, farão redação em Língua Portuguesa e duas provas
com questões predominantemente discursivas, que abrangerão conheci-
mentos de duas matérias pertencentes à base nacional comum dos currí-
culos do ensino médio, dependendo do curso pretendido.
Em 11 de dezembro, será realizada uma prova de Expressão Plástica.
UFRRJ
Inscrições no período de 3 de setembro a 11 de outubro de 2007. As provas
serão realizadas nos dias 15 e 16 de dezembro de 2007.
UFRJ
As provas serão realizadas nos dias 11 e 25 de novembro. No 1º dia, exames
de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, de Redação e das disciplinas
não-específicas para o grupo escolhido. No 2º, provas das disciplinas espe-
cíficas. A duração é de 5 (cinco) horas para cada dia e os portões de acesso
ao local de prova serão fechados às 9h. Será exigida a apresentação da iden-
tidade original.
Alguns cursos do Grupo 5 foram transferidos para o Grupo 6, composto
pelas graduações em Direito, Ciências Sociais, Filosofia, História e Música
e, para eles, está incluso prova de Filosofia.
IMPORTANTE
A partir deste ano, haverá coleta das impressões digitais de candidatos(as)
nos dias de prova para confrontação no ato da matrícula. O coordenador da
Comissão de Vestibular, Luís Otávio Teixeira, explica que essa medida é uma
forma de reforçar a segurança no concurso. “Isso evita que outra pessoa
venha fazer a prova no lugar do verdadeiro candidato.”
Por Marina Ribeiro,
Coordenadora e prof.ª do Pré-vestibular Popular CJ/Campo, estagiária do Ibase
Em ritmo de última fase e provas discursivas do vestibular das universida-
des públicas do Rio em 2008
VESTIBULAR É UM MOMENTO CRUCIAL. PREPARAR-SE PARA O MERCADO DE TRABALHO E ESCOLHER A PROFISSÃO “CERTA” SÃO PRESSÕES CONS-TANTES QUE TODO(A) JOVEM SOFRE PARA CHEGAR, UM DIA, AO SUCESSO PROFISSIONAL E PESSOAL. O PROFESSOR E UM DOS MEMBROS-FUNDA-DORES DO PRÉ-VESTIBULAR PARA NEGROS E CARENTES (PVNC), ALE-XANDRE NASCIMENTO, DÁ DICAS PARA AJUDAR A SE PREPARAR MELHOR PARA ESSE MOMENTO.
Da redaçãoColaborou: Carlos Daniel da Costa