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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”
PROJETO VEZ DO MESTRE
SUPERVISÃO ESCOLAR
“UMA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA DE SUPERVISÃO
ESCOLAR”
ELAINE INCUTTO SILVA
ORIENTADORA: ANA CRISTINA GUIMARÃES
RIO DE JANEIRO
2004
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”
PROJETO VEZ DO MESTRE
SUPERVISÃO ESCOLAR
“UMA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA DESUPERVISÃO
ESCOLAR”
Monografia apresentada à Universidade
Cândido Mendes como condição prévia
para conclusão do curso de Pós
graduação “Lato Sensu” em Supervisão
Escolar.
Por: ELIANE INCUTTO SILVA
... A sucessão histórica, para os evolucionistas, tem o sentido cumulativo
e conservador de uma essência que se escandi, aprimora-se, agiganta-se,
enfim, evolui. São, portanto, “fases” ou “estágios”, vistos no tempo, de um
“todo” (a sociedade) que se mantém em suas relações básicas.
A visão marxista da história e o método que lhe é próprio ressaltam que a
história e, portanto, a sociedade sofre rupturas, através das quais o velho
cede ao novo, isto é, a novas relações, diversas das antecedentes, ainda que
surgidas no estado anterior das relações sociais. As novas relações – e mais
detidamente – o novo modo de reprodução, supera as antigas relações
negando-as. Não há, desse ponto de vista, uma “essência” que se conserve e
não é possível explicar o desenvolvimento anterior pelas relações
encontradas no momento “inicial”...1
1 Luís Carlos Frídmam, A consciência bizarra – Filosofia e cultura das classes subalternas, dissertação de
mestrado apresentada no programa de pós-graduação de antropologia social da UFRJ, 1985, p.92.
AGRADECIMENTOS
A DEUS, pois sem ele nada sou.
A minha família, pela paciência e carinho.
As minhas colegas da pós-graduação Adriana, Lourdes e outras.
Também às amigas do período passado (Geni, Carla e Avany) com seus
incentivos, muito contribuíram para a conclusão deste meu trabalho
monográfico.
A minha coordenadora Ana Cristina, pela atenção e carinho na
orientação deste trabalho monográfico.
A amiga psicóloga Diana, que sempre esteve disposta a me ajudar nas
buscas de resoluções em momentos difíceis em minha vida. A minha
coordenadora Cláudia, Marilene e Vera que sempre estiveram dispostas a me
ajudar, incentivando-me em todos os momentos de minha vida.
A professora Elaine Turk Faria, Supervisora Escolar, Mestre em
Educação (PUCRS-Porto Alegre-RS), por me instruir nas bibliografias mais
adequadas ao meu tema, mostrando-se solidária.
RESUMO
Neste trabalho acadêmico, buscou-se delinear a função supervisora, no
sentido de direcionar, contrapondo-se mais adiante, com a profissão
supervisora, ainda com objetivos capitalistas, visando fiscalizar, controlar o
trabalho. Relacionando-se, agora, a supervisão nas instituições escolares,
pouco mudou, ainda encontramos muitos supervisores com ações burocráticas,
com posturas autoritárias, se sentindo com “superpoderes”, tendo como
objetivo, controlar, fiscalizar, inspecionar o trabalho do professor,
desvalorizando sua experiência e sua prática pedagógica.
Procurou-se, entretanto, neste trabalho, enfatizar o desempenho do
supervisor em sua função, anterior e atual, na perspectiva de se ampliar a
visão democrática, participativa do profissional supervisor, possibilitando ao
professor, tê-lo como um parceiro, e nesta parceria, juntos, possibilitarão
uma educação de qualidade visando atender não só os interesse das
instituições, como também, às necessidades do professor e alunos em
geral, procurando orientar seus docentes, de forma que o mesmo, se sinta
mais seguro, e capaz de mudar, para que este profissional mostre o seu
verdadeiro papel.
DEDICATÓRIA
Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor
da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a
licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de
esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra
qualquer forma de discriminação, contra a dominação
econômica dos indivíduos ou classe sociais. Sou professor a
favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou
professor contra o desengano que me consome e me imobiliza.
Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática,
boniteza que dela some se não cuido do saber que devo
ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas
condições materiais necessárias sem as quais meu corpo
descuidado corre o risco de se amofinar e de já não ser o
testemunho que deve ser do lutador pertinaz, que cansa, mas
não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se, cheio
de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso
de mi admira.
Paulo Freire
Ao meu esposo e filhos, por estarem sempre presentes em todos
momentos alegres e tristes de minha vida.
METODOLOGIA
A partir de investigações em obras literárias a respeito da temática “Uma
perspectiva democrática de supervisão escolar”, englobando à mesma, novos
conhecimentos, no sentido de melhor compreende-la, interpreta-la e
transforma-la.
Nesta perspectiva, os caminhos que foram investigados, foram
abordados de leituras teóricas de outros autores que analisaram esta temática,
possibilitando assim, uma visão mais ampla do verdadeiro papel do supervisor
nas instituições de ensino, não só como aquele que orienta, mas também como
parceiro, compartilhando com o professor para uma educação de qualidade.
FREIRE, (1996, p. 166), conceituava: A educação não é sinônimo de
transferência de conhecimento pela simples razão de que não existe um saber
feito, acabado, suscetível de ser captado e compreendido pelo educador e em
seguida, depositado nos educandos. O saber não é uma simples cópia ou
descrição de uma realidade estática. A realidade deve ser decifrada e
reinventada a cada momento...
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................
CAPÍTULO I – RETROSPECTIVA SOBRE SUPERVISÃO
ESCOLAR .................................................................................
CAPÍTULO II – DIFERENTE POSTURA: DEMOCRÁTICA E
AUTORITÁRIA DO SUPERVISOR ESCOLAR ........................
CAPÌTULO III – O SUPERVISOR ESCOLAR DESEMPENHANDO
SUAS FUNÇÕES NA ATUALIDADE ........................................
CAPÍTULO IV – A ÉTICA NA SUPERVISÃO ....................................
CONCLUSÃO .....................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................
ANEXOS .............................................................................................
ÍNDICE...............................................................................................
FOLHA DE AVALIAÇÃO..................................................................
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO ....................................................................................
CAPÍTULO I – RETROSPECTIVA SOBRE SUPERVISÃO
ESCOLAR .................................................................................
I.1 – A idéia de supervisão dos tempos primórdios para a ação
supervisora, isto é, o profissional supervisor .............................
I.2-Função Supervisora .......................................................................
CAPÍTULO II – DIFERENTE POSTURA: DEMOCRÁTICA E
AUTORITÁRIA DO SUPERVISOR ESCOLAR ........................
II.1 – Supervisão: um exercício de democracia ou de autoritarismo?
II.2- Supervisor: sem autoritarismo, um agente de apoio ao
professor ....................................................................................
II.3- Supervisor e Democracia, idéias fundamentais ..........................
CAPÌTULO III – O SUPERVISOR ESCOLAR DESEMPENHANDO
SUAS FUNÇÕES NA ATUALIDADE ........................................
III.1 – Supervisão Pedagógica: do modelo burocrático ao Processo
participativo ................................................................................
III.2 – Prática Pedagógica corrente ao desempenho do Supervisor ...
III.3 – Estratégia da ação supervisora ................................................
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CAPÍTULO IV – A ÉTICA NA SUPERVISÃO ....................................
IV. 1- A ética: um tema íntegro, integrado e integrador ......................
IV. 2- Ética: formação da consciência e transformação social ...........
IV.3- A ética da supervisão .................................................................
IV.4- Código de ética do supervisor escolar .......................................
IV.5- Reflexão acerca da prática pedagógica .....................................
CONCLUSÃO .....................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................
ANEXOS .............................................................................................
Projeto de Lei ......................................................................................
ÍNDICE ...............................................................................................
FOLHA DE AVALIAÇÃO ...................................................................
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresentado é resultado de inúmeras pesquisas
sobre a função supervisora à profissão de supervisora, buscando-se investigar,
o verdadeiro sentindo da ação do supervisor nas escolas, sua prática, sua ética
e a interação do mesmo junto aos profissionais escolares, de forma que essa
interação possibilite mudanças significativas em sua prática, visto que a mesma
adquiriu historicamente, sentidos diversos, com deferentes aplicações
“fiscalização” e “inspeção.”
Desta forma, observou-se a necessidade de se refletir os conceitos e
valores pedagógicos do supervisor escolar, refletindo no ambiente escolar,
influenciando e sendo influenciado pelo mesmo.
Buscou-se analisar neste trabalho, a trajetória da supervisão escolar em
seu verdadeiro papel, evidenciando as idéias arraigadas que confundem a ação
investigadora, delatora, ou melhor, “dedo duro”, entre outros, cujos objetivos
seriam de fiscalização ao professor em sua ação pedagógica contrapondo-se,
com a postura democrática, que todo supervisor deveria ter, ser um parceiro,
junto as dificuldades do professor, orientando-o para uma educação de
qualidade.
Abordando os aspectos históricos da supervisão escolar, sua trajetória
ao longo dos tempos, não só como função, também como profissão, e seus
múltiplos papéis assumidos, que não deveriam ser apenas em contato com os
professores, mas também interagindo com os alunos, comunidade, diretores,
enfim, todos os profissionais da escola cujos objetivos são de uma melhor
educação, repensando o passado, transformando-o em novas perspectivas
para o futuro, em busca de uma educação de qualidade.
Apresentando, entre outros, diferenças marcantes entre a ação do
supervisor tradicionalmente fiscalizador, e o renovador, aquele que coordena,
facilita a construção participativa das propostas pedagógicas junto ao professor
e demais funcionários escolares ou seja: A ação facilitadora no modelo
tradicional versus a ação problematizadora e mediadora dos processos de
aprendizagem para o modelo de supervisão atual.
Possibilitando também uma visão mais abrangente do papel do
supervisor, permitindo, neste sentido, mudanças significativas, tanto em nível
de sistema como de unidade escolar e os vínculos implícitos em toda prática
educativa.
Em muito, a ação supervisora foi marginalizada pelos interesses
capitalistas. Todavia, as mudanças chegaram, e com elas, a preocupação do
verdadeiro papel do supervisor nas instituições de ensino, possibilitou-se,
assim, uma visão mais clara e necessária, quanto a prática deste profissional,
cuja prática, agora, é de formar professores comprometidos com o “querer
mudar”, buscando melhorar sua prática, fazendo parte da construção da
personalidade do aluno, atribuídos à necessidades e interesses do mesmo,
para uma educação de qualidade.
Anterior à essa postura democrática do supervisor, analisou-se neste
trabalho, a ação autoritária deste profissional com seus “superpoderes”, não só
desestimulavam o professor, como também, desvalorizavam a sua prática,
deixando-os inseguros, com medo das mudanças, não buscavam seu
crescimento profissional.
CAPÍTULO – I
RETROSPECTIVAS SOBRE A SUPERVISÃO ESCOLAR
Delineando as origens da supervisão, transportei-me a “Idade média”, aos senhores feudais, as classes dos que não possuíam propriedades (servos), cuja função supervisora, implicitamente acompanhava a ação educativa desde suas origens.
I.1 – A idéia de supervisão dos tempos primórdios para a ação
supervisora, isto é, o profissional supervisor.
Entende-se a supervisão como “a ação de velar sobre alguma coisa ou
sobre alguém, a fim de assegurar a regularidade de seu funcionamento ou de
seu comportamento” (Foulquié, 197:452), pode-se observar que nas
comunidades primitivas, a educação se dava de forma difusa e indiferenciada,
estando a presença do supervisor nestas comunidades, os homens se
apropriavam coletivamente dos meios de vida fornecido pela natureza, com
objetivo a satisfazer suas necessidades existenciais denominadas
“consumismo primitivo”, não estando ainda o homem dividido em classes,
todos praticavam sua subsistência em comum, relacionando-se entre si, eles se
educavam e educavam as novas gerações.
Começa-se, agora, a delinear o que seria “educação”, de forma espontânea, essas comunidades, implicitamente, já se fazia presente a função supervisora, cujas ações educativas era exercida pelo ambiente, pelo meio, pelas relações vitais passadas para as novas gerações, as novas gerações, as quais, por essa forma se educavam. Os adultos, por meio de uma vigilância discreta, protegiam e orientavam as novas gerações, supervisionando-as, segundo Kieffer, “a supervisão deve aparecer aos olhos dos alunos como uma simples ajuda às suas fraquezas. (in Fouquié,1971:452).
O homem se fixou nas terras, surgem agora, os proprietários de terras, e
com eles, as propriedades privadas, ocorrendo assim, a divisão dos homens
em classes. Como na antiguidade havia a classe dos proprietários de terras
contrapondo-se à dos não proprietários, aquele que trabalhava para os
proprietários, predominantemente escravos, obrigados a assumirem os
encargos de manter a si próprio e também aos seus senhores, incutindo assim,
a classe dos dominantes e dos dominados.
O trabalho se denominou como ócio, da classe dominada, e foi a partir
desse ócio que localiza a origem da “escola”, palavra derivada do grego, que
etimologicamente, significa, o lugar do ócio.
Na Idade Média havia a classe dos proprietários, constituídos como
senhores feudais e a classe dos não proprietários, os servos,
conseqüentemente, nesta mesma época, à educação escolar, era destinada
aos dominantes que não precisavam viver do próprio trabalho, diferente à
educação da maioria da população, determinada pelo trabalho.
Todos esses períodos, correspondentes à época antiga medieval,
embora a educação fosse diferenciada como já citada, entre os dominantes,
ainda não se havia escrito a ação supervisora nas escolas em sentido estrito,
isto porque, a escola, via de regras, constituíra uma estrutura simples, limitada
à relação de um mestre com seus discípulos. À semelhança do artesanato em
que o artesão individualmente realizava o trabalho por completo, desde sua
concepção até o produto final, também na escola, determinado mestre
realizava por inteiro o trabalho de formação de seus discípulos.
A função supervisora, desta forma, é constatada da divisão de trabalhos
implicitamente no contexto acima. Entretanto, sua presença vai assumir
claramente a forma de controle, de conformação, de fiscalização e até mesmo,
segundo a época, a coerção expressa nas punições e castigos físicos.
Configura-se, agora, na Grécia, a função supervisora na figura do
pedagogo, que etimologicamente, significando àquele que conduz a criança ao
local de aprendizagem, inicialmente na Grécia Antiga, como na figura do
escravo, aquele que tomava conta da criança e a conduzia até o mestre do qual
recebia lição. Mais tarde passou a significar o próprio educador, não só porque
ele passou a se encarregar do próprio ensino das crianças, tomando conta
delas, vigiando-as, controlando-as, supervisionando seus atos.
Na Grécia, o “lavrador”, não era quem trabalhava à terra, mas quem
administrava e alentava os seus trabalhos como um general, também, alentos
aos seus escravos,que estavam debaixo das ordens de um intendente, um
liberto, ou um escravo de confiança que cuidava atentamente das rendas do
seu patrão. “Assim, os escravos eram educados no trabalho e para o trabalho
e para a submissão, submetida às ordens de seus senhores (Ibidem: 64)”.
Observou-se, assim, que ao pedagogo que supervisionava a educação
(Paidéia) das crianças da classe dominante, correspondia ao capataz, que
supervisionava a educação dos escravos.
Com o aumento das produções no campo, a agricultura passa a ser
subordinada à cidade e as indústrias, rompendo-se o tradicional passado de pai
para filho, segundo os laços de sangue, essas relações naturais passaram a
ser dominantemente sociais, além das descobertas da escrita e da tecnologia
do momento, que viabilizou em muito o progresso no campo e na cidade.
Em vias de grandes transformações da época, a escola assumia a
posição de principal, e dominante da educação, visto que na Idade Média, o
domínio da escrita era restrito as elites dominantes, com a disseminação dos
códigos formais (a escrita), houve a necessidade da generalização da escola.
Conseqüentemente, a escola como Expressão objetiva da institucionalização
da escola que já se encontrava em desenvolvimento a partir das formações
econômicas – sociais anteriores, foi colocada na posição de forma principal e
dominante de educação.
Com o deslocamento do eixo do processo produtivo do campo para a
cidade e da agricultura para a indústria, ao deslocamento do eixo do processo
cultural do saber espontâneo sistemático para o saber metódico, sistemático,
científico correspondente o deslocamento do eixo do processo de produção da
existência, para formas específicas e institucionais ligadas e identificadas com
a escola. (Saviani, 1991 a: 87).
I.2 – Função Supervisora
Com o processo de institucionalização generalizada da educação, já se
começa a esboçar a idéia de supervisão educacional, se evidencializa na
organização de supervisão nas instituições públicas desde a sua manifestação
ainda religiosa nos séculos XVIII e XIX, as propostas de organização do
sistema estatais e nacionais, de origem laica, até as amplas redes escolares no
século atual.
Com os primeiros jesuítas, inicia-se a organização das atividades
educativas em nosso país, no plano de ensino formulado pelo padre Manuel da
Nóbrega, observa-se a presença da função supervisora, não como a idéia de
supervisão do nosso tempo ,ainda, mas no plano geral dos jesuítas, o Ratio
Studiorum, adotado no Brasil . Após a morte do Padre Manuel da Nóbrega em
1570, se faz aí, presente, a idéia de supervisão.
Pode-se, observar o desenrolar da função de supervisão no decorrer dos
tempos antigos até chegar ao nosso tempo.
As origens do Ratio Studiorum remontam às constituições da companhia
de Jesus, elaboradas por seu fundador, Inácio de Loyola que entrara em vigor
em 1552, cujas linhas mestras da organização didática e, sobretudo, sublinhara
o espírito que deveria animar toda atividade pedagógica da Ordem.
Desta forma, o Ratio Studiorum previa a figura do prefeito geral de
estudos como assistente do reitor para auxiliá-lo na “boa ordenação dos
estudos”, a quem os professores e todos os alunos deveriam obedecer a esse
prefeito de disciplina, subordinados, ambos, ao prefeito geral.
Explicita-se, pois, o Ratio Studiorum, a idéia de supervisão educacional,
ou seja, a função supervisora, sendo destacada (abstraída) das demais funções
educativas e representada na mente como tarefa específica para a qual, em
conseqüência, é destinado um agente, também específico, distinto do reitor e
dos professores. Em decorrência da expulsão dos jesuítas, e extinção de seu
“sistema” de ensino, foram criadas as aulas régias. Neste sentido, a idéia de
supervisão englobava os aspectos políticos – administrativos (inspeção e
direção).
Com a lei de 15 de Outubro de 1827, o Brasil, inaugura a questão da
organização autônoma da instrução pública, que instituiu as escolas de
primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares populosos do Império. O
artigo 5° dessa lei, determinava que os estudos deveriam ser realizados de
acordo com o “ método mútuo”, método cujo professor observa as funções de
docência e também de supervisão, este, instrui os monitores e supervisores, as
suas atividades de ensino, assim como a aprendizagem do conjunto dos alunos
.
Constitui-se, no Império, a idéia de supervisão, cuja função era exercida
por agentes específicos. Pelo regulamento de 17 de Fevereiro de 1854, no
âmbito das reformas Couto Ferraz, estabeleceu-se como missão do inspetor
geral “supervisionar, seja pessoalmente, seja por seus delegados ou pelos
membros do conselho diretor, todas as escolas, colégios, casas de educação
estabelecimento de instrução primária e secundária, pública e particular”.
Foram muitos os debates travados no final do período monárquico,
como: Do Império Paulisno de Souza (1869), do João Alfredo (1871), em torno
da reforma Leônica, de Carvalho em (1879), até aparecer projeto Rui Barbosa
(1882) e o projeto do Barão de Mamoré (1886), todos, convergiam para um
ponto comum: a necessidade de articulação de todos os serviços de educação
numa coordenação nacional de educação, sendo esta questão, a intenção dos
principais países no final do século passado: A estruturação e implantação dos
respectivos sistemas nacionais de ensino.
Em sumo, apesar de lenta, a idéia da função supervisora, desde os
tempos primórdios, não estava ainda preocupado com a ação da supervisão
que implicitamente estava presente nas formas de supervisionar, pelos
escravos, que cuidava e direcionava as ações das gerações as quais estavam
sobre seus cuidados, eles, certamente, educavam-nas, pois, esse era o seu
papel, na classe dos não proprietários de terras (servos, escravos). A partir daí,
a humanidade veio passando ao longo dos tempos, por transformações, a cada
momento histórico,novas funções foram dadas aqueles que supervisionava as
novas gerações.
Emerge-se, bem mais tarde, no período Republicano a reforma da
instrução pública, implementada na forma de grupos escolares (CF. Reis Filho,
1995). Através desta reforma, foi instituído o Conselho Superior da Instrução
Pública, que considerou a dominância de atribuições burocráticas sobre as
técnicas – pedagógicas, nas funções de inspetor, considerando a própria
definição de fiscalização, acarretando prejuízo pedagógico na função do
mesmo.
A partir daí, com a implantação de leis (lei n° 430,520), entre outras, a
função de fiscalizar as instituições escolares estaduais, seria delegadas ao
representante da própria municipalidade. (Ibidem: 128).
Entre um e outro momento histórico, como (República Velha) e pelos
interesses governamentais, pela década de 20, ocorre o surgimento dos
profissionais da educação, ou melhor, “técnico em escolarização”, constituindo-
se assim, uma nova categoria profissional. (CF. Nagle. 1974: 102).
Em decorrência a inúmeras reformas, no plano educativo, separando-se
das
funções administrativas do técnico – pedagógico na fiscalização
educacional, ficando assim, segundo Saviane, na divisão do trabalho nas
escolas, ao diretor a parte administrativa, ficando o supervisor com a parte
técnica.
Foi no “Manifesto dos Pioneiros da educação nova”, de 1932, que se
formulou um plano de conjunto para a reconstrução educacional, segundo a
visão dos novos profissionais da educação. (Manifesto, 1984:409).
Entretanto, após a Revolução de 1930, a mobilização nacional passa a
ser coordenada pelo poder central. Assim, com as reformas Francisco campos
(1931), a reforma Capanema de 1942 à 1946, dão seqüência ao âmbito
nacional ao processo de estruturação/reestruturação do ensino brasileiro que
desembarcou na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional a 20 de
Dezembro de 1961.
No final da década de 60, período militar decorrente da ruptura política
consumada com o golpe de 1964, buscou-se ajustar a educação à nova
situação por intermédio de novas reformas do ensino. Neste contexto, é
apropriado então o parecer, ao invés de formar o “técnico em educação”,
pretendendo-se especializar no quadro mais amplo do processo educativo,
cujas funções dadas a esse educador, fossem denominadas “habilitações”, nas
áreas técnicas, individualizadas por função, a saber: administração, inspeção,
supervisão e orientação.
Desejando delinear a trajetória da supervisão nesta perspectiva de
tempo em tempo, possibilitou-se, uma visão mais clara sobre a temática
analisada neste trabalho, buscando-se mais a frente, analisá-la, como
“profissão supervisora”, até a chegada destes profissionais nas instituições
escolares.
A partir do Parecer n° 252 de 1969, novas tentativas foram feitas com
objetivo à profissionalização da função do supervisor educacional ainda com
uma certa indefinição quanto ao seu papel na educação.
A nova estrutura do curso de Pedagogia decorrente do Parecer n°
252/69 abria, pois, uma perspectiva de profissionalização da supervisão
educacional, de preparo a esse novo profissional passou-se, do curso de
Pedagogia reaparelhado para formar, entre os vários especialistas, o supervisor
educacional.
Em 1981 Nereide Saviani defendia sua dissertação de mestrado sobre o
tema “Função técnica e função política do supervisor em Educação”. Definindo
um universo abrangente que incluía supervisores com atuação diferenciada
quanto ao grau, ramo, instância de ensino a que se ligassem; quanto às
características da clientela (professor - aluno) a que atendessem; quanto à
experiência profissional, etc. (Saviani, 1981:36).
Nesta dissertação Saviani interrogou supervisores das redes municipais,
estaduais, particulares, chegando assim, a algumas conclusões das quais
foram destacadas:
- Nem sempre o Supervisor percebe que cumpre uma função política;
- Se o Supervisor não se dá conta de que cumpre uma função política,
tampouco tem consciência de qual função é essa e, menos ainda,
sabe explicitá-la;
- Numa primeira análise, é possível dizer que a função política que os
Supervisores (em sua maioria) desempenham não é a que gostariam
de estar desempenhando. (Ibidem: 363-364).
Este questionamento referiu-se à função política do supervisor, que se
ocultava sob a ênfase em seu caráter técnico, desenvolveu-se, também, a
crítica no que se refere à especificidade das habilitações, de modo geral, e da
supervisão, em particular.
Esta foi a grande importância social e política dos profissionais de
educação: o seu compromisso com a Educação Básica. É preciso que os
supervisores aprofundem-se nos estudos e discussões sobre a Educação
Básica, onde se delinearão muitas perspectivas para sua atuação, contribuindo
para a garantia do padrão de qualidade da escola.
Tratava-se de repensar, segundo Gonçalves (1998), a ação do
supervisor em seu trabalho, como:
- a participação ativa em grupos de trabalho empenhados no
conhecimento da realidade específica em que se situa sua escola,
para propor projetos adequados a essa realidade;
- a participação na construção coletiva do projeto político-pedagógico
da escola, quer como colaborador, quer como coordenador escolhido
pelo pessoal da escola;
- a promoção de articulações dos professores entre si para uma
integração efetiva do processo pedagógico, coerente com os
objetivos educacionais selecionados conjuntamente para a escola;
- a contribuição criação de uma “cultura de avaliação”, que reduza o
peso de testes e notas e realize avaliações diagnósticas e pesquisas
investigativas em conseqüência das quais o aluno seja capaz de
participar do processo de construção do seu saber e do processo de
sua própria avaliação;
- a colaboração no aperfeiçoamento contínuo dos professores,
treinamentos em serviços e cursos de atualização, que se estendam
a outras instituições da comunidade;
- a sua própria inclusão como cliente em cursos de atualização ou de
formação continuada para estar permanentemente em dia com a
evolução do processo educacional.
Muitas outras ações podem ser lembradas pelo supervisor.
A preparação final é a de fortalecer o supervisor educador, não só
aquele que contribui para educar a cada dia, no desenvolvimento do seu
próprio trabalho, sepultando de vez a idéia, tão difundida nos últimos 20 anos,
de ser tão somente uma peça na engrenagem da divisão de trabalho na escola.
Seu papel seria, sobretudo, de articulação e integração contribuindo para
recolocar a visão de totalidade no tratamento que será dado ao conhecimento,
no currículo escolar. Somente quando o supervisor for educador, será capaz de
compreender o sentido dessa totalidade e ajudar a escola na criação e
desenvolvimento de projetos pedagógicos que viabilizem o trabalho integrador
em que a escola deverá se empenhar, com a participação de todos os seus
profissionais (AMAE Educando, março de 1998 – n° 273 –p.18-20).
A seguinte proposta neste capítulo destinou-se a delinear a ação
supervisora numa linha do tempo, antes como função, não percebida nos
primórdio, passando, da idade média ao ano de 1996, sendo referida como
profissão, não muito definida sua função, entretanto, já se percebia o objetivo
da ação supervisora nas escolas, que até nossos tempos ainda encontra-se
engatilhando, em busca do verdadeiro papel deste profissional, o supervisor.
Ainda na linha do tempo, buscou-se mostrar a profissão supervisora no
projeto de Lei, regulamentando o exercício da mesma, tendo em vista que, tal
projeto ainda está tramitando até sua aceitação ou mesmo reforma, segundo as
necessidades e interesses do tempo de sua aceitação.
Não muito distante, a abordagem, da nova LDB e o Supervisor Escolar,
na revista Educando por Dalva Cifuentes Gonçalves, analisando o referencial
da educação na Lei de 1996, com as atribuições dadas ao supervisor escolar,
com sua contribuição como um trabalho integrador nas escolas.
Eu tenho um sonho: ...de que um dia esta nação se erguerá para
aplicar na prática o verdadeiro significado de sua fé. Nós acreditamos que essa verdade é auto-evidente: que todos os homens foram criados iguais. (Martin Luther King., 1963).
Sonho, ideal, utopia, é o que se deseja e espera do supervisor, que não
seja o solucionador de problemas, mas, aquele que em sua ação possa
transformar sonhos em realidades, sendo o mediador na busca de
possibilidades ao lado do professor, para uma educação de qualidade, para
que o mesmo, se sinta mais confiante diante aos obstáculos, não só junto às
necessidades do educando, mas também das necessidades e interesse da
escola em si, colocando também.
Procuro-se, assim, a partir das leis, regulamentar a profissão de
Supervisor Educacional, ou Supervisor Escolar, sendo alterada na Lei N° 7132
de janeiro de 1978, revogando o parágrafo único do Art. 2°.
A escola é uma das instituições sociais que necessita de constantes
ajustamentos à realidade externa, a fim de cumprir o seu papel na sociedade.
A realidade brasileira tem demonstrado que, apesar de profundas
alterações na estrutura e no funcionamento das escolas, estas, na maioria das
vezes, permanecem relegadas ao plano de proposições teóricas, com base em
um ideal educacional, sem, contudo, atingir a escola e renovar a ação
educativa. Para que a escola, como instituição social, possa participar desse
processo de desenvolvimento e transformação, necessita-se revisar e redefinir
papéis até agora existentes, a fim de adaptar-se às novas exigências sociais,
transformando a educação escolar em um dos instrumentos do
desenvolvimento individual, social e econômico.
A Lei N° 9394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, em seu Art.° 12, define as incumbências dos estabelecimentos de
ensino e Art. 13, as incumbências dos docentes. Torna-se necessário,
igualmente, definir as incumbências dos outros profissionais da educação que
atuam nesses estabelecimentos de ensino, entre eles o Supervisor
Educacional, ou Supervisor Escolar.
Projetos foram analisados, procurando delinear os regulamentos e
exercício da profissão (Supervisora), entretanto, não só este projeto como
outros ainda permanecem nas gavetas, ou tramitando, entre idas e vindas,
como outros projetos educacionais que levaram anos a serem aceitos, não
sendo diferente o destino deste projeto aqui analisado, quanto a sua aceitação,
haverá passado anos, e até lá, as necessidades e interesses já serão outros.
Não generalizando, acreditando-se que algumas instituições, leve a sério, o
verdadeiro papel do Supervisor,e que já estejam delegando ao mesmo suas
funções, e que este, esteja auxiliando as instituições de ensino em busca de
uma educação de qualidade.
Delineou-se, assim, neste primeiro capítulo, a postura do “supervisor
escolar”, antes, como função, implicitamente àqueles que fiscalizavam,
inspecionavam, em prou ao capitalismo do momento, agora, sendo vista, de
acordo com as necessidades educacionais, como profissão, cujos objetivos
ainda estava entranhado, o de fiscalizar a prática do professor.
CAPÍTULO II
DIFERENTE POSTURA: DEMOCRÁTICA E AUTORITÁRIA DO
SUPERVISOR ESCOLAR
II.1 – Supervisão: um exercício de democracia ou de
autoritarismo?
A supervisão educacional em perspectiva histórica (1999) – assume, com a divisão técnica do trabalho, seu caráter de permanência e identificação, tendo como estatuto epistemológico o positivismo que define seus contornos e dá suporte aos empreendimentos.
O controle como aspecto essencial da gerência através da sua história, adquiriu no taylorismo uma concepção nova, quando asseverou uma necessidade absoluta para a gerência adequada à imposição do trabalhador da maneira rigorosa pela qual o trabalho deve ser executado. Anteriormente cabia à gerência o direito de “controlar” o trabalho, o que significava fixação de tarefas. Com Taylor houve uma inversão dessa prática substituída pelo seu oposto; passa a ser de competência da gerência o controle do modo concreto de execução de toda a atividade no trabalho, desde a mais simples até a mais complexa, isto é o controle do trabalho através do controle das decisões que são tomadas no curso do trabalho. (...) O conceito de racionalidade é aplicado à administração, cujo objetivo é o aumento da produtividade da mão-de-obra através da divisão técnica do trabalho separando a decisão da execução. (Silva Apud Ferreira 1998, pp. 42-43).
“Um Vizir em Desgraça”.
Um sultão tinha um vizir (primeiro-ministro) que aumentava dia a dia o número de seus inimigos pelo seu apego à justiça e pela sua capacidade e retidão. Seus caluniadores o acusavam de crimes imaginários e incitavam o sultão contra ele, e este condenando-o à morte.
O sultão possuía dez cães ferozes, aos quais jogava os condenados, garroteados, para que os rasgassem e despedaçassem.
Condenado, o vizir solicitou ao sultão um prazo de dez dias para que pudesse pagar suas dívidas, recuperar seus créditos, devolver aos depositantes o que lhe confiaram e partilhar seus bens entre os membros de sua família.
O sultão concordou, após exigir garantias de que o condenado não fugiria.
O vizir apanhou cem moedas de ouro e foi ao monteiro-mor e disse-lhe:
- Deixe-me servir aos cães durante dez dias. Confiaram-lhe com as próprias mãos e acariciando-os, até que se
acostumaram com ele e lhe manifestaram uma lealdade total. No dia da execução, o sultão mandou ligotear o vizir e joga-lo aos
cães.Mas os cães reconheceram-no e começaram a girar em volta dele, brincando, sem fazer mal algum. O sultão ficou estupefato e mandou comparecer o vizir à sua presença.
- Dize-me a verdade, pediu-lhe. O que houve para que esses cães se comportassem assim para contigo?
O vizir respondeu: - Servi esses cães durante dez dias. O resultado foi o que o sultão
viu. Servi-vos durante trinta anos. O resultado foi a minha condenação à morte na base de calúnias de meus inimigos.
O sultão envergonhou-se e presenteou o vizir com roupas cerimoniais, acalmou sua inquietude e livrou-lhe os que havia haviam caluniado. O vizir tratou-os bem e devolveu-lhes a liberdade. (Consolação das almas). (CHALLITA Mansour. A arte da política, p.205).
Segundo Morin (1965), apesar de se considerar que a política se encontra em crise em todos os escalões, entende-se que o tema Supervisão; um exercício de democracia ou de autoritarismo tem:
a) como pano de fundo: uma política a explicar;
b) como quadro de referência: uma burocracia a superar; c) como tarefa pedagógica: um sentido libertário a se
reapropriar e; d) como problema prático: a proposta de novas estratégias
na divisão do trabalho escolar.
Volta-se aí um olhar crítico que politicamente os supervisores vêm, em geral desempenhando nas escolas.Percebe-se que o sistema de supervisão, seja a nível de escola ou de outras instâncias, tem sua atuação sempre atrelada a decisões impostas de cima para baixo e alheias aos interesses e necessidades da comunidade escolar.
Conseqüentemente, os modelos, pedagógicos ou administrativos, que ela – supervisão – deverá incrementar serão sempre decididos apriorística e arbitrariamente.
E é nestes sistemas de autoritarismo que o supervisor acaba exercendo um papel controlador principalmente dos aspectos burocráticos da estrutura escolar. Um papel isolado e pouco motivador. Um papel de policial do sistema escolar, pouco crítico e criativo, distante e antagônico à formação teórica que permeou sua especialização.
Estas e muitas outras considerações a respeito da prática do supervisor precisam ser repensadas, de forma que estes especialistas em supervisão deixem de ter esta postura autoritária, e passem a assumir, uma postura participativa. Estamos hoje, vivendo um momento de mudanças.Ventos democráticos começam a arejar nossa sociedade e atingir brandamente os porões das nossas escolas. É preciso repensar esta escola e seus quadros técnicos em função dessas mudanças.
A prática do Supervisor se dá numa sociedade de classes, que apresenta sérias contradições tanto no próprio sistema educacional como na forma de se encarar a educação.Para que possamos sair dessas situações muitas coisas devem ser feitas e o supervisor deve desempenhar um papel importante nessa luta. Neste sentido, é necessário que o supervisor tanto a nível de sistema como de unidade escolar revejam os vínculos implícitos em sua prática educativa, pois observou-se, que ao invés de Supervisores Escolares (educador) temos atuando como um Supervisor Gerente (controlador). As relações educativas têm sido substituídas por relações burocráticas (crescimento e amadurecimento substituídos por controles e programações).
Educação é uma tarefa e um encargo coletivo, no mundo de hoje. Portanto, é imperioso que o Supervisor contribua decisiva e decididamente para a formulação coletiva de projetos de saídas para os desafios propostos. “Os discursos foram ouvidos sempre juntos, muito pensados juntos e jamais formulados juntos”.(Alves, 1982, p. 145).
Se não existe espaço, se as dificuldades são muitas, cabe a cada um, em seu nível, trabalhar e exercer o papel de educador, mão como um missionário ou exercendo um sacerdócio, mas como um profissional realista e consciente do seu papel, esclarecido quanto às limitações e possibilidades que existem de se fazer educação hoje. (Moura, p. 8-13).
Durante o século XVIII e princípio do século XIX, a supervisão manteve-
se dentro de uma linha de inspecionar, reprimir, checar e monitoriar (Niles e
Lovell 1975). Somente em 1841, em Cincinnatti, surgiu a idéia de supervisão
relacionada ao processo de ensino, sendo que até 1875 estava voltada
primordialmente para a verificação das atividades docentes (Alfonso et al.
1975).
No final do século XIX e início do século XX, a supervisão passou a
preocupar-se com o estabelecimento de padrões de comportamento bem
definidos e de critério de aferição do rendimento escolar, visando à eficiência
do ensino.
No começo do século XX, pode-se verificar a utilização dos
conhecimentos científicos na melhoria de ensino e na medida dos resultados de
aprendizagem dos alunos. A supervisão, então, se propõe a transmitir, explicar,
mostrar, impor, julgar e recompensar (Niles e Lovell: 1975).
A partir de 1925, percebe-se uma influência maior das ciências
comportamentais na supervisão. Além disso, observa-se uma grande tendência
de introduzir princípios democráticos nas organizações educacionais,
aplicando-os ao papel do supervisor como líder democrático.
Já em 1930, a supervisão vai assumir um caráter de liderança, de
esforço cooperativo para o alcance dos objetivos, com a valorização dos
processos de grupo na tomada de decisões. A partir de 1960, a ação
supervisora voltou-se para o currículo, tendo a pesquisa lugar proeminente na
busca de novas soluções para a melhoria da qualidade do ensino.
No Brasil, a supervisão surgiu pela primeira vez com a reforma Francisco Campos – Decreto-Lei 19.890 de 18/4/1931, concebida de forma bem diferente da que se vinha realizando até aquele momento – simples fiscalização para assumir o caráter de supervisão.
Desta vez, o “olhar sobre a supervisão” percorre fatos e conceitos da sua
história, para que se possa entende-la em suas origens e em seus avanços, até
chegar à década de 1990 e introduzir os anos 2000, notando-se o possível
papel do supervisor em relação aos novos “Parâmetros Curriculares”:
(...) com a implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, MEC, 1997), a supervisão educacional poderá ser uma grande aliada do professor na interpretação, associada à avaliação crítica desses parâmetros. Mas, para que se possa alcançar esse objetivo é necessário que a supervisão seja vista de uma perspectiva baseada na participação, na cooperação, na integração e na flexibilidade. Nesse sentido, reconhece-se a necessidade de que o supervisor e o professor sejam parceiros, com posições e interlocuções definidas e garantidas na escola.
II.2 – Supervisor: Sem autoritarismo, um agente de apoio ao
professor.
Segundo BOMTEMPO (1995), já se foi o tempo em que o papel do
supervisor era o de ser “bedel de professores”. Hoje, o supervisor participante é
co-elaborador do processo educativo junto com os mestres, mobilizador cultural
e agente da cidadania dentro da escola.
Mas, este posicionamento não é fácil. Primeiro é necessário QUERER.
Querer deixar de ser “dador de aula” para ser alguém capaz de exercer o papel
de mediador entre a “ciência – verdade” e o “aluno-desenvolvimento”. Querer
ser capaz de fornecer as orientações necessárias para que esse aluno, pelos
seus próprios esforços, possa indagar, levantar hipóteses, pesquisar, refletir,
duvidar, perguntar, propor soluções, organizar idéias, construir conhecimentos
e valores, de modo que lhe seja possível elaborar um projeto de vida coerente
com o projeto social mais amplo.
No entanto, o autoritarismo que permeia as relações humanas no interior
da escola impede os atos de pensar. Não há, na prática, compromisso com o
efetivo desenvolvimento do aluno nem do professor como pessoa nem como
profissional.Presa ao cumprimento do programa, com muita coisa para ensinar,
a escola não dispõe de tempo para assegurar condições para o professor
pensar a sua prática extrair dela pontos para reflexão e o crescimento do seu
fazer pedagógico.
Na luta pela sobrevivência, o professor vive intenso ativismo e custa-lhe
desincumbir-se das tarefas rotineiras, padronizadas pelo sistema escolar
vigente e, em conseqüência, sente-se sem espaço, sem voz, e, na maioria das
vezes, se conformam. Mas espaço é conquistado com garra muita
competência. Competência essa, vinculada à capacidade do professor de saber
ler a realidade e perceber a serviço de quem, ou de que se está fazendo esta
leitura. E só então procura se engajar no magistério, como agente atuante no
contexto educativo.
Nesse reposicionamento do professor,segundo Luisa Bontempo, (1995, p. 30-31 ),o papel do supervisor emerge como força significativa, capaz de interferir nessas mudanças.Faz-se necessário a presença de um supervisor participante que se preocupe em abrir a escola para além de seus muros, atuando como mobilizador cultural, contribuindo para uma gestão forte, coesa, capaz de definir uma proposta educativa a partir do aluno que se tem e de perseguir objetivos comuns, assumidos por todos, transformando a escola de estabelecimento de ensino a estabelecimento da aprendizagem.
Um supervisor, não um líder individualista, que se esconde atrás de
técnicas autoritárias no exercício do poder.Um educador de fato, dentro da
escola, co-participe do processo educativo junto aos professores e coerente
com a demanda da comunidade, trabalhando para fazer brotar no interior da
instituição educativa a consciência social e política, que a simples atividade de
controle costuma embotar. Quando um supervisor transforma o professor em
mero executor de tarefas preestabelecidas, onde não é imposto, não se podem
criar regras de conduta coerentes. Além disso, essa supervisão contribui para a
depreciação do professor.
Inicialmente, o próprio supervisor precisa acreditar mais na sua própria
competência, a ponto de ter coragem e iniciativa para agendar um trabalho
coletivo com seu grupo de professores, na certeza de que a prática escolar
refletida e socializada, a partir do cotidiano escolar, irá fornecer instrumentos de
reeducação ao grupo e de conquistas de práticas pedagógicas mais
comprometidas com a construção do conhecimento e da autonomia. Para que o
supervisor seja capaz de construir uma equipe de trabalho eficiente, é preciso
garantir, em sua prática, três pré-requisitos muito importantes:
- Conhecer o que faz, na visão do conhecimento profissional,
atualizando-se constantemente, ter uma supervisão do processo
educativo, ser um pesquisador.
- Amar o que faz, ou seja, exercer a função com prazer, com paixão.
- Acreditar no que faz, no sentido de ter convicção de que aquilo que
está fazendo é o melhor.
Todo supervisor preocupado com os pré-requisitos não se deixará
prender pela mediocridade, será capaz de caminhar com seus professores em
direção à auto-realização de cada um pela descoberta do prazer de fazer um
bom trabalho.
A ação supervisora deve ser levada a efeito em harmonia com este. Ambos, diretor e supervisor, devem ter em mira os mesmos objetivos e trabalhar cooperativamente.
II.3 – Supervisão e Democracia , ideais fundamentais:
... Democracia passa a ser uma questão de ideais, de atitudes, de valores, que só a educação pode dar ao indivíduo:
- liberdade do indivíduo;
- participação em decisões por aqueles que respondam pelas
conseqüências dessas decisões;
- respeito pelo valor e dignidade do indivíduo.
Se não existe espaço, se as dificuldades são muitas, cabe a cada um, em seu nível, trabalhar e exercer o papel de educador, não como um missionário ou exercendo um sacerdócio, mas como um profissional realista e consciente do seu papel, esclarecido quanto às limitações e possibilidades que existem de se fazer educação hoje. (Moura, p. 8-13)
Compreendendo a ação supervisora como sendo aquela que questiona,
reflete, dialoga e orienta, junto ao docente, a forma de abordar os conteúdos
lógicos e os conteúdos que envolvem condições existenciais dos discentes,
vislumbra-se a sistematização do trabalho do supervisor no interior das
diferentes relações que se estabelecem na escola, onde o ensinar e aprender
são focalizados a partir do entendimento dessas relações.
O trabalho do supervisor não pode ser confundido como consultoria ou
simplesmente como um assessoramento. Este trabalho abrange um
compromisso e um envolvimento muito intenso não só de quem
orienta/coordena a ação educativa, como também de quem realiza tal ação.
Portanto, segundo Medina (1999):
Professor e supervisor têm seu objeto próprio de trabalho: o
primeiro, o que o aluno produz; e o segundo, o que o professor produz. O professor conhece e domina os conteúdos lógicos sistematizados do processo de ensinar e aprender; o supervisor possui um conhecimento abrangente a respeito das atividades de quem ensina e das formas de encaminha-las, considerando as condições de existência dos que aprendem (os alunos). O professor não perde o controle sobre o seu próprio trabalho... . (Medina, 1999: 31).
O professor age em parceria com o supervisor e é, justamente, a partir
desta parceria que nascem as diferentes formas de se encaminhar a
aprendizagem dos alunos ou de como corrigir as possíveis distorções que
bloqueiam o crescimento cognitivo do aluno.
É, ainda, segundo Medina (1999) que:
Considerando as características próprias do professor, o supervisor desenvolve com ele as formas possíveis de controlar o processo do ensinar e do aprender. Ao abdicar de seu poder e controle sobre a prática docente, o supervisor é capaz de assumir uma postura de problematizador do desempenho docente, tornando-se um parceiro político-pedagógico do professor que contribui para integrar e desintegrar, organizar o pensamento do professor num movimento de participação contínua, no qual os saberes e conhecimentos se confrontam. (Ed., 1999: 32).
A supervisão é uma tarefa técnico-científica e, como tal, busca em todas
as suas instâncias, a melhoria da qualidade do ensino. Como função técnica,
sua marca essencial é a presença de um dinamismo crítico capaz de construir
com os professores seu trabalho cotidiano.
Visualizando, refletindo e agindo na e com a totalidade da produção dos professores regentes, em geral, e, em particular, com cada professor de acordo com a turma de seus alunos.(Medina, 1999: 22).
Na busca de se analisar o verdadeiro papel do supervisor, procurou-se
neste segundo capítulo, discernir o papel do supervisor escolar individualista,
assumindo a postura autoritária, daquele supervisor participativo, que
compartilha com seus professores não só as vitórias na aprendizagem do
aluno, mas, as dificuldades e inseguranças que todos temos diante as
“mudanças”.
CAPÍTULO III
O SUPERVISOR ESCOLAR DESEMPENHANDO SUAS
FUNÇÕES NA ATUALIDADE
A formação do supervisor comete-lhe a competência legal de atuar como um elemento de articulação do dinamismo do projeto técnico-pedagógico da escola. Sua função precípua é irradiar energia estimuladora para a manutenção de um clima participativo. Atribuição tão estratégica na escola contribui para que o profissional da área de Supervisão Escolar tenha recebido, ao longo do tempo, diferentes denominações, tais como: Orientador Pedagógico, Coordenador Pedagógico, Supervisor Pedagógico, Supervisor Educacional, Supervisor de Ensino e Supervisor de Educação.O grande horizonte de trabalho do Supervisor é a qualidade da produção do ensino. (LDB fácil: leitura crítico-compreensiva, art.64, p.155)
Elementos conceituais da Supervisão dentro deste movimento
emancipatório, a condição e qualidade de ser e estar supervisor, leva à
condição dos seguintes elementos conceituais como fonte de atuação segundo
Paulo Freire (1971).
Ter nas suas ações a percepção e consciência sóciopolítica da
educação;
Reconhecer e gerir as necessidades da comunidade escolar,
adequando-as e buscando a melhor qualidade do ensino;
Promover a reflexão teórico-prática e a construção coletiva do processo
educativo, a fim de tornar os seus sujeitos conscientes e competentes na ação
educativa;
Integrar e articular as ações dos sujeitos partícipes;
Propor o questionamento coletivo a cerca do caminho que se segue,
buscando sempre a sua melhoria à realidade da comunidade escolar como
base de compreensão e transformação social da ação supervisora.
III.1 – Supervisão Pedagógica: do modelo burocrático ao
processo participativo.
A supervisão pedagógica vem sendo constantemente questionada nos
meios educacionais. Este questionamento refere-se tanto à sua prática quanto
às teorias que lhe dão suporte. Ao analisar estas práticas e teorias, verificou-se
que a supervisão pedagógica não tem um conceito nem um papel claro e
definido no processo educativo.
Para expressar o que se entende por supervisão cada autor adota
certamente a definição que corresponde a uma prática e, logicamente, a uma
crença no papel do professor. Esta variação de conceitos leva-nos a concluir
que as teorias sobre supervisão deixam transparecer, de forma subjacente ou
não, uma função da escola, quase sempre contraditória em relação à realidade
brasileira, embora sejam essas teorias correntes em nossos cursos de
Magistério e de pedagogia.
Parece-nos que grande parte desta inconsistência decorre do constante
fluxo de modelos importados e adotados em nossa prática pedagógica sem a
necessária adaptação ao nosso contexto. (Taylor, Bobbit, Taba, Ragan etc.).
Estas inconsistência e incoerência teóricas revelam-se na prática e não
constituem distorções isoladas do processo educativo. Para discuti-las foi
necessário explicitar o papel da educação na sociedade e, mais ainda,
questionar e identificar claramente o papel do professor no processo de
escolaridade, pois, é junto a ele que o supervisor atua.
Se supervisão é ainda processo controvertido, é fato que também pode
ser visto hoje como em fase de amadurecimento e de reformulação, integrante
e integrador do processo educativo a ele de tal forma inter-relacionado que,
voltando o enfoque para um ou outro, torna-se uma difícil requisição didática.
Ao tecer algumas considerações sobre supervisão e, a partir delas,
destacar o papel do professor, tentou-se captar o que acredita-se ser
perspectivas atuais e válidas para uma prática educativa libertadora.
Qualquer abordagem teórica está associada a uma ótica de educação,
mas é a partir da identificação das diferentes formas do fazer da escola que
podemos desvelar os reais papéis do supervisor e do professor nas escolas.
Organizar o trabalho na escola é tarefa de todos os que atuam direta ou
indiretamente no processo ensino aprendizagem e não somente tarefa de um
ou alguns.Por organização do trabalho escolar, entende-se todas as ações que
impliquem mudança e ou coordenação da prática cotidiana da escola e, desse
modo, as diferentes situações, vivenciadas por todos os que nela atuam,
devem concorrer para a integração do processo educativo.
A partir desta perspectiva, a ação supervisora não pode ser vista mais
como um aglutinar de “superpoderes”, direcionados exclusivamente para o
resultado final da ação docente, na figura do assessoramento,
acompanhamento, controle e avaliação que aparecem sob a forma de
estratégias definidas a partir de um único caminho traçado. O cotidiano escolar
apresenta uma multiplicidade de idéias, ações e diferenças que, antes de mais
nada, devem ser respeitadas como ponto da partida para a construção do
conhecimento, a partir da investigação da prática docente e das exigências
determinadas pela escola como instituição.
III.2 – Prática Pedagógica corrente ao desempenho do
Supervisor
A eficácia e eficiência da ação supervisora na escola não são muito
evidente quando se questiona ou se avalia a qualidade do processo
educacional.
De um lado a presença do supervisor pedagógico não tem, via de regra,
comprovado mudanças positivas no fluxo escolar, na evasão, na adequação de
currículos e programas.
De outro lado, estando ele em busca de identificação e espaço
profissional, entre suas pré-ocupações predominam as disputas, veladas ou
não, para que se determine explicitamente quais são suas tarefas ou funções
específicas, qual a sua área de ação, que papel e que poder tem ele ou ainda,
qual a hierarquia a ser estabelecida entre ele e os demais especialistas.
Esta situação seria decorrente, entre outros fatores, de uma micro-visão
do processo educativo que permeia a prática supervisora de ações traduzidas
em:
- abuso de autoridade e burocracia como formas de controle;
- preocupação acentuada com as chamadas disciplinas “práticas” e
com a especialização do saber;
- alienação relativa ao contexto sócio-cultural
- valorização da divisão de trabalho e da hierarquia.
Como resultante, a supervisão passa a sofrer os riscos da contradição e
ineficácia. O controle substitui a elaboração e a democratização do saber,
castra a criatividade, cria a possibilidade de “produção” em massa em
detrimento da possibilidade de desenvolvimento qualitativo.
Sob esta perspectiva pragmática-estruturalista, segundo MENDES
(1991), a supervisão assume um caráter burocrático com a função de
disciplinar e aperfeiçoar o estabelecido, comprometendo-se com o status que:
- segue a filosofia da regime autoritário;
- utiliza-se da comunicação vertical, com controle em diferentes níveis;
- desconfia da capacidade dos alunos e dos professores;
- fortalece a vigilância e o controle;
- envolve-se com medidas técnicas, secundarizando as medidas
políticas e o conhecimento científico.
Considerada como “um conjunto de problemas técnicos”, a supervisão
toma uma dimensão técnico-linear em que o processo é comandado pelo
interesse básico de controle.
Os supervisores, assim como os administradores escolares “aderem”, de
forma consciente ou não, ao movimento de uma educação “científico-
empresarial”, pela interpretação de seus métodos, adaptando vocabulário,
técnicas, modelos de eficiência, divisão de tarefas e especialização do
conhecimento.
O aluno passa a ser visto como objeto de trabalho desta engrenagem,
considerado como material bruto a partir do qual a escola deve atuar de acordo
com as especificações da sociedade. Como os conteúdos são, em geral,
apresentados como realidades isoladas, independentes e previamente dosadas
pelo supervisor (ou autor do livro didático ou pelo programa) o currículo passa a
ser instrumento através do qual a classe “hegemoníaca” impõe às classes
“subalternas” sua visão de mundo, suas ideologias, apresentadas como a única
forma verdadeira de apreensão do real, sendo as outras visões do mundo
consideradas como “incultas e inferiores”.
Nesta dimensão tecnológica, o supervisor pedagógico apropria-se de um
instrumental visando a atingir o mais efetivamente possível, os objetivos
propostos.
As características centrais deste procedimento são: domínio do processo
pelo especialista (supervisor), na tentativa de maximizar o nível de
desempenho do professor.
Todo processo é controlado e monitorado com o objetivo de tornar a
supervisão parte integrante do processo de produção. Os professores, assim os
alunos, são a matéria a ser transformada em útil produto, sob o controle de um
“técnico” qualificado.
Resultado de uma ciência “objetiva” e “neutra” de um conhecimento
“desinteressado” e “rigoroso”, a tecnologia aparece como “boa” em si mesma,
sinal evidente de progresso e de renovação cultural. “A supervisão é uma
atividade que nasceu com a empresa capitalista, criada, com objetivo de
promover o lucro máximo com o mínimo tempo” (GADOTTI, M., Curitiba, 1979).
Torna-se assim, uma atividade dogmática que enfatiza as receitas, os modelos
considerados práticos de se fazer a escolarização e assegurar a utilização de
instrumentos adequados de avaliação dos alunos, estando, assim, voltada para
fatores processuais intra-escolares.
Os problemas educacionais tais como evasão, repetência, qualidade de
ensino, são tratados como problemas que podem e devem ser “solucionados”
pelos “supervisores”.
À supervisão cabe, mais especificamente, a função de procurar fazer
com que a relação entre professor e aluno seja a mais rentável possível,
produzindo efeitos mais amplos e duradouros.
O papel do supervisor é o de atingir os recursos educacionais através de
“técnicas mais adequadas” e mostrar o melhor caminho a ser seguido: o “que” e
“como” fazer na solução dos problemas escolares.
Teoricamente, ao supervisor caberia tomar as decisões iniciais e finais
sobre a validade do conteúdo e processo de escolarização, procurando
resposta para questões, e as melhores técnicas para se atingir os fins pré-
determinados.
Em contraposição ao modelo burocrático, a ação supervisora deve
assumir um caráter praxiológico, capaz de alterar, positivamente, o processo
participativo, no qual os valores de diversidade, voltados para a sociedade,
visem a responsabilidade social. Além do diálogo, o processo de participação
do supervisor, exige do grupo de trabalho (professor, aluno, entre outros),
flexibilidade, continuidade ou persistência e envolvimento amplo, não podendo
limitar-se a um ou outro aspecto da educação.
O desenvolvimento do supervisor implica, assim, em competência e
capacidade profissional para assumir o papel de animador cultural e
estimulador do grupo para um relacionamento interpessoal satisfatório.
Situando-se como elemento integrante e integrador de seu grupo de trabalho, o supervisor procura manter entre os participantes significativo grau de mobilidade da estrutura formal para situações informais em que a rede de relações interpessoais e o estabelecimento de objetivos comuns ocorram através de uma comunicação satisfatória de significados e conceitos.
Como mediadora deste processo, a supervisão ganha uma dimensão
política em que todo processo educativo é avaliado pelos professores e pelos
próprios alunos. Sua ação baseia-se na reflexão crítica sobre a prática em que
os valores são explicitados em função de uma proposta de possível
transformação da realidade. Neste caso, o supervisor deve ser visto pelos
professores como um experiente companheiro de trabalho, capaz de assumir a
liderança de uma práxis educacional cujos contornos sejam delineados pelas
predileções, interesses e objetivos de cada participantes do grupo.
III.3 – Estratégias da ação Supervisora
O planejamento é a principal ação de todo e qualquer empreendimento.
Nele são delimitados, não só as estratégias e execução da ação, mas, também,
os princípios, as filosofias, o diagnóstico da realidade, e a avaliação do
processo. Por ser parte integrante da ação educativa, em Supervisão, os
planos devem estar em consonância com a prática, os princípios e a estrutura
didática que a escola assumirá perante a comunidade escolar, bem como, com
o conhecimento direto de seu público-alvo: os coordenadores(série e/ou
disciplina), os professores e os alunos.A supervisão se faz presente no
planejamento, no acompanhamento, na coordenação, no controle, na avaliação
e atualização do processo ensino-aprendizagem, estratégias, execução da
ação, princípios, a filosofia, o diagnóstico da realidade e avaliação do processo.
No plano da Supervisão Escolar, é necessário constar programas e
projetos específicos para as diversas funções a serem desempenhadas pelo
supervisor na escola: assessoramento à equipe administrativa nas decisões de
ordem pedagógicas (por exemplo: a integração Escola-Comunidade);
acompanhar o trabalho desenvolvido pela equipe docente e os resultados
advindos da tarefa desempenhada (por exemplo: visitas, reuniões pedagógicas,
conselhos de classe, planos de recuperação, reuniões de pais), integrar e atuar
nas diferentes equipes da escola, promover a integração horizontal e vertical do
currículo (através das reuniões com coordenadores de série e ou disciplina);
participar da coordenação do planejamento de ensino e supervisionar o
processo da avaliação, analisando os resultados obtidos em cada atividade.
A organização de um planejamento da ação supervisora deve ter como
ponto de partida um diagnóstico, o mais fidedigno possível da situação
escolar, traduzindo as necessidades e expectativas baseadas na filosofia, nos
princípios e nos objetivos educativos, traçados coletivamente, através de
sessões de estudos, onde todos os agentes educativos possam refletir sobre
valores e tendências atuais da educação.
REUNIÕES PEDAGÓGICAS
As reuniões pedagógicas são encontros realizados pela supervisão, durante o ano letivo, com objetivo de acompanhar a aprendizagem dos alunos, desenvolvendo, junto ao professor, as mais variadas formas possíveis de controlar o processo de aprender e de ensinar. Segundo Medina:
O supervisor deve assumir uma posição de problematizador do desempenho docente, o que significa assumir uma atitude de indagar, comparar, responder, opinar, duvidar, questionar, apreciar e desnudar situações de ensino em geral e, em especial, as da turma regida pelo professor. (Medina, 1995: 32).
É nessas reuniões que existe a possibilidade da troca de experiências, a
analise das dificuldades encontradas durante o processo desenvolvido, a busca
de soluções, enfim, o compartilhar de todas as ações em questões.
OBSERVAÇÃO
Em qualquer trabalho científico, a observação é um instrumento
indispensável. A supervisão, entendida como um trabalho científico, tem, na
sua observação, uma prática que permite coletar dados, registrar, analisar,
replantar todo um processo de desenvolvimento da relação ensino-
aprendizagem. Segundo Rangel:
Uma observação, na prática se resume como sendo a mais objetiva possível e sempre seguida do registro do que foi observado, que, de início, será particular, até ser utilizado devidamente. Rangel (1974: 64)
Segundo Andrade (1979:50), estas observações devem ser:
- breve e objetiva;
- servir como um instrumento de orientação para o planejamento ou o
replanejamento;
- sempre atualizada, com novas informações e possíveis
encaminhamentos do que já foi realizado;
- parte de um arquivo da dados para constantes consultas por parte do
supervisor ou dos professores em questão.
VISITAS DE SUPERVISÃO
De acordo com Arturo Lemos, as visitas pedagógicas podem ser
planejadas, repentinas, solicitadas pelo professor ou pelo próprio supervisor.
Planejada, quando decorre dentro do próprio plano de atuação do supervisor,
onde estão previstos: o número de visitas, os objetivos, o foco de ação, entre
outros. O planejamento de tais visitas, junto com o regente, é de fundamental
importância para que esta ação seja um fato cotidiano e não isolado, do tipo
“inspeção”.
É uma das oportunidades de se efetivar a prática supervisora. Propicia o conhecimento in lócus da relação aluno/professor e o desempenho de ambos no cotidiano escolar, possibilitando, assim, uma colaboração específica no aprimoramento técnico do professor. A visita também possibilita atender aos
reais interesses e necessidades do grupo dinamizador e não, simplesmente, uma constatação de fatos também coletando dados a respeito das dificuldades encontradas no trabalho didático-pedagógico da sala de aula. Desde que as visitas sejam sempre planejadas pelos supervisores de acordo com o trabalho do professor, é entendida como uma função supervisora como: “parceiros político-pedagógico das atividades docente”. É válido lembrar, entretanto, que, dentro da perspectiva de parceria da ação pedagógica, onde, um dos pontos fundamentais da visita é a forma de como vai ser feita a observação do fato desejado.
Vale ressaltar que o desempenho destas ou de outras estratégias de supervisão, vão depender da relação que o supervisor tem, não só com os docentes de sala de aula, mas com todos os que se empenham em fazer da escola um verdadeiro local de ensinar e educar. Embora centrada na ação do professor, a Supervisão Escolar requer comprometimento e envolvimento de todos que atuam na Escola. Esta é diferenciada, e, como tal, tem sua forma de implementação centrada na tarefa da ação supervisora, considerando suas necessidades, desejos e projetos a desenvolver. É de suma importância a relação do supervisor não só com os professores, mas com a escola em si, pois ambas visa com objetivo maior uma educação de qualidade para os alunos.
Para que oi supervisor edifique seu trabalho, é preciso que ele respeite profundamente aquele que ele vai supervisionar, acreditar que o outro sempre é capaz. Só assim com uma postura confiante, desarmado ao tratar os problemas, o supervisor conscientizará os docentes da necessidade de mudanças.
A relação pedagógica não pode ser limitada às relações especificamente escolares... existe em toda a sociedade no seu complexo, para cada indivíduo na sua relação com outros indivíduos... (Antônio Gramsci, 1981: 88)
Buscou-se no capítulo III, enfatizar o desempenho do supervisor na sua
função atual, o de mediador, orientador, aquele que procura dar “voz” ao
professor, compartilhando o seu saber ao ensinar e aprender com o outro, cuja
parceria em muito ajudará ao professor desmistificar o medo às mudanças
educacionais e é nessa parceria que ambos possibilitarão uma educação de
qualidade nas escolas.
CAPÍTULO IV
A ÉTICA NA SUPERVISÃO
IV.1 – Ética: um tema íntegro, integrado e integrador.
(...) confirmam-se, a idéia e o princípio de que o supervisor não é um “técnico” encarregado da eficiência do trabalho e, muito menos,
um “controlador” de “produção”, sua função e seu papel assumem
uma posição sociaL E POLITICAMENTE MAIOR, DE LÍDER, DE COORDENADOR, QUE ESTIMULA O GRUPO ´`a compreensão – contextualizada e crítica – de suas ações e, também, de seus direitos. (Rangel 1997, p.151).
A ética na supervisão pedagógica tem como ponto de partida, a postura
do mesmo diante aquele que ele vai supervisionar.
A ética, substância da condição humana e política, é tema atual e premente, e por isso, insere-se no processo educacional de desenvolvimento do ser humano, que passa, fundamentalmente, pela formação de consciências cidadãs.
Enfatizam-se, assim, na conduta de supervisores e orientadores
educacionais e nos estudos e projetos em comum, que poderão desenvolver
com professores e alunos, a inerência entre conhecimento e valores, e os elos
da ética, que os aproximam.
E, se a educação é de conhecimentos e valores, a escola, seus
princípios e processos, também os assume, nos estudos, nos projetos, e na
própria construção das suas bases epistemológicas do currículo. Aprofundar a
relação entre conhecimentos e valores, ensinados e assumidos para a vida
ética e cidadã, é, sem dúvida, uma resposta dos estudos pedagógicos aos
apelos da sociedade mundial, num tempo de acentuada violência urbana, e
violência ideológica, sejam elas denunciadas ou, por opostos, naturalizadas,
embutidas nos estofos da tranqüilidade aparente, tornando-se, portanto,
recessivas.
Sem perder de vista o princípio de que a escola não pode dar conta dos
problemas sociais, especialmente num tempo em que esses problemas se
potencializam pelos reflexos e implicações da globalização, da desigualdade e
da pobreza, pode-se, entretanto, ampliar os debates sobre o que a formação
educativa, no âmbito de suas possibilidades, como área em que se (re)
constroem saberes e atitudes, pode fazer “por um mundo melhor”: expressão e
esperança que se mantêm no senso e sentimento comuns.
É no interesse de ampliação dos debates sobre o que a educação pode
fazer por um “mundo melhor”, que se chega ao tema da educação para a
consciência de limites éticos: um tema cujo estudo os supervisores e
orientadores educacionais poderão liderar de forma integral e integrada.
A formação ética é uma das alternativas e uma das respostas possíveis da educação aos apelos do tempo atual. Essa resposta insere-se no princípio da liberdade de escolhas do ser humano para uma vida pessoal e social de melhor qualidade.A formação ética é, então parte da educação para a consciência de limites, que definem valores e parâmetros de conduta.
...A convicção de que tudo o que acontece no mundo deve ser compreensível pode levar-nos a interpretar a história por meio de lugares comuns: compreender não significa negar nos fatos o chocante, eliminar deles o inaudito, ou, ao explicar fenômenos, utilizar analogias e generalidades que diminuam o impacto da realidade e o choque da experiência. (Arendtt, 1978, p. 10).
Segundo Gramsci (1981), todo ator social pensa sobre sua ação, constrói visões de mundo que o orientam nas suas ações, a partir das suas vivências cotidianas, portanto, há um certo grau de consciência na ação humana mais simples, pois uma ação não é puramente mecânica, uma vez que há um ato de pensar ao agir, originando uma filosofia de vida. Assim, na visão gramsciana, todo ator social é um filósofo, apesar de não ser especialista nesta função, o que exigiria fundamentação teórica, rigor e visão da totalidade. Assim, a filosofia de uma época, é o momento contraditório de um conjunto amplo no qual se combinam a filosofia dos filósofos, a dos intelectuais e as visões de mundo de grandes parcelas das massas populares (Gramsci, 1981: 7)
IV.2 – Ética: formação da consciência e transformação social
O movimento de superação do senso comum, relativo à consciência
espontânea e fragmentada, própria dos indivíduos, para a consciência histórico-
crítica organizada e integrada, requer a compreensão desse movimento a partir
da teoria e prática, levando em conta ter estes a característica de ser dinâmico,
complexo e contraditório mediado pela práxis. De acordo com Gramsci (1981:
21), “a consciência de fazer parte de uma determinada força hegemônica (isto é
a consciência política) é a primeira fase de uma anterior e progressiva
autoconsciência na qual teoria e prática se unificam”, entretanto, Gramsci
ressalta que esta unidade não é um fato mecânico, “mas um devenir histórico
que tem as sua fase elementar e primitiva” um sentido de independência, ainda
que intuitiva, porém, progredindo até alcançar uma concepção do mundo
unitário e coerente.
As concepções de mundo, na ótica gramsciana, constituídas a partir da
ação, se constituem no modo pelo qual homens e mulheres adquirem a
consciência de sua posição na sociedade: organizam-se (ou não), reivindicam
(ou não) a sua participação no poder político da sociedade.
Há, contudo, um predomínio das concepções de mundo próprias de uma
determinada classe que é dominante na sociedade, influindo, através de uma
racionalidade imposta, no cotidiano da maioria dos atores sociais, de acordo
com os propósitos hegemônicos desta classe, através de um processo de
saturação ideológica das consciências. Todavia, a aceitação desse processo,
pela maioria, não se efetiva de forma homogênea, porque as concepções de
mundo pertencentes às classes populares. Sendo que as primeiras são
vivenciadas sob a forma de dominação e as últimas sob a forma de
subordinação, ainda que nem sempre de modo amplo, porque a forma de
conflitos e resistências.
No processo de conscientização, pela própria relação entre o indivíduo e
o contexto social e pela dialeticidade ação-reflexão, não se pode definir etapas
cronológicas no desenvolvimento da consciência histórico-crítica ou determinar
características que, o “rigor”, possam identificar os diferentes níveis da
consciência. A consciência é construída permanentemente a partir das
circunstâncias históricas e das vivências singulares dos atores sociais diante
destas circunstâncias.
Os diferentes níveis da consciência são um conjunto de influências
originárias: do pensamento – conceito herdados do passado e, em geral,
aprendidos sem crítica – e das idéias dos grupos dominantes ou hegemônicos
divulgadas pelas instituições culturais e políticas representativas destes grupos.
Nesta perspectiva, procurou-se delinear as relações : ética e
consciência, por uma estar inserida na outra de forma diferente em cada
indivíduo.
O poder é definido por vezes como uma relação entre dois sujeitos, dos quais, um impõe ao outro a própria vontade e lhe determina, malgrado seu, o comportamento. Mas como o domínio sobre os homens não é geralmente fim em si mesmo, mas um meio para obter “qualquer vantagem” ou, mais exatamente, “os efeitos desejados”, como acontece com o domínio da natureza , a definição de poder como tipo de relação entre sujeitos tem de ser completada com a definição do poder como posse dos meios (entre os quais se contam como principais o domínio sobre os outros e sobre a natureza), que permitem alcançar justamente uma “vantagem qualquer,” ou os “efeitos desejados.” O poder político pertence à categoria do homem sobre outro homem e não do homem sobre a natureza. Esta relação de poder é expressa de mil maneiras, onde se reconhecem fórmulas típicas da linguagem política: como relação entre governantes e governados, entre soberano e súditos, entre Estado e cidadãos, entre autoridade e obediência, etc. (Bobbio, 1986, pp. 954-5).
IV.3 – A Ética da Supervisão
Segundo Faria (1990, p. 36-37), um código, com princípios de conduta,
para fundamentar o trabalho do supervisor escolar ou pensamos em um Código
de ética do Supervisor Escolar, inicialmente nos perguntamos: O que é código?
O que entendemos por ética? Quem é o supervisor escolar?
Pretende-se então delinear o que vem a ser: CÓDIGO, ÉTICA.
CÓDIGO – É uma coleção de leis, de regras, de preceitos. Cada
civilização, cada grupo organizado, tem um código, oculto ou desvelado, uma
série de princípios que permeia todo o seu agir, dando forma e direção à
própria convivência humana, definindo e acentuando traços da própria
identidade.
ÉTICA – Ciência que busca compreender e analisar os padrões morais.
É uma reflexão crítica sobre os valores que estão presentes numa determinada
comunidade. É o juízo crítico sobre a moralidade. Busca a compreensão, o
sentido e o significado da realidade da pessoa e do trabalho. Ilumina a
consciência humana, sustenta e dirige as ações da pessoa, norteando a
conduta individual e social, estabelecendo um código de condutas morais válido
para todos os membros de uma determinada sociedade e, ao mesmo tempo,
relativo ao contexto sócio-político-econômico e cultural onde vivem os sujeitos
éticos e onde realizam suas ações morais.
Quem é o Supervisor Escolar?
Segundo Faria, é um agente que viabiliza trocas de experiências e informações com o professor, bem como aquele que dinamiza a relação entre direção, pais, alunos e comunidade escolar, com vistas ao bom êxodo do processo ensino-aprendizagem no todo da instituição educativa. Certamente, este deve estar atento aos princípios e valores com olhar na sua prática como tarefa primeira, dando primazia a postura que privilegiem a ética, enquanto profissional da Educação.
Segundo Elaine Turk Faria ( 1990, p. 36-37 ), a ética,no campo
educativo, no espaço especificamente escolar, sobre eles são lançados
desafios de todo o tipo: expectativa de sucesso, mudanças, acolhida,
competência, diálogo... e a lista poderia se entender-se, no momento em que o
contextualizássemos nas diferentes realidades em que ele atue. Portanto, o
presente artigo volta-se para o supervisor escolar, numa tentativa de registrar
princípios norteadores da sua postura e prática educativa diária, vendo ser,
segundo contexto de sua atuação, dinamicamente compreendidos,
interpretados, adequados e alimentados.
IV.4 Código de ética do supervisor escolar
Segundo Faria, a ética na supervisão, seria a forma com que esse profissional se relaciona com seus professores, desta forma, ele deveria:
- Estar sempre aberto ao diálogo, sendo capaz de ouvir o inaudito e
colaborar para o estabelecimento do diálogo de grupo de
professores;
- Facilitar o fluxo de comunicação, cultivando a objetividade, a clareza
e a transparência, não sonegando informações que enriqueçam o
grupo;
- Incentivar o intercâmbio entre colegas, desbloqueando possíveis
barreiras, articulando com perspicácia todas as forças de crescimento
presentes no grupo em benefício do todo;
- Promover constantemente a revisão curricular de forma participativa.
- Pensar e refletir sobre a sua ação supervisora e levar os docentes a
fazerem o mesmo com relação à própria ação;
- Manter o sigilo nas questões profissionais, quando necessário;
- Coordenar a construção participativa da proposta pedagógica;
- Facilitar a ação integradora com os demais serviços;
- Levar em consideração, as decisões grupais como significativas no
desempenho de sua ação;
- Participar da elaboração, aprofundamento e aplicação da filosofia da
escola, do regimento, da proposta pedagógica, de forma dinâmica e
co-responsável;
- Estar aberto a inovações construtivas, incentivando e apoiando
mudanças significativas na escola;
- Manter-se atualizado e dinamizar a reciclagem e aperfeiçoamento
contínuos dos professores;
- Estudar e seguir a legislação, percebendo sempre as nuanças e
adequando-a, segundo a realidade da escola;
- Cultivar uma postura constante de quem ensina e aprende;
- Estimular a criatividade e a formação do espírito crítico do professor.
- Respeitar o professor como pessoa, auxiliando-o em seus problemas
e estimulando-o a desenvolver suas habilidades;
- Aceitar as sugestões dos professores incentivando-os a exporem e
defenderem seus pontos de vista;
- Participar da associação da classe, colaborando com iniciativas que
visem a valorização da profissão e a expansão da Supervisão
Escolar.
Por fim, enfatizar a importância de que estes princípios sejam
vivenciados de forma dinâmica, criativa e coerente para que o Supervisor seja
realmente, na comunidade um agente mobilizador intercâmbio de valores,
atitudes e ações favoráveis ao crescimento contínuo de todo o processo
político-pedagógico e educativo. (FARIA. Elaine, 1990. p. 36-37)
IV.5 – Reflexões acerca da prática pedagógica
A educação, não importando o grau em que se dá, é sempre uma teoria do conhecimento que se põe em prática... O supervisor é um educador e se ele é um educador, ele não escapa na sua prática a esta natureza epistemológico da educação. Tem a ver com o conhecimento, com a teoria do conhecimento. O que se pode perguntar é qual o objetivo de conhecimento que interessa diretamente ao supervisor? Aí talvez a gente pudesse dizer: é o próprio ato de conhecimento que está se dando na relação educador/educando. (Freire, 1982: 95).
Em sua prática docente, o educador deve procurar encontrar-se em uma
constante busca do saber, da aprendizagem e de pesquisa. Com espírito de
investigação, com curiosidade, o educador promove o novo. O educador
apresenta-se não em uma relação de verticalidade em relação ao educando,
mas em uma relação horizontal, na qual é possível a troca e não a simples
transferência de conhecimento. Logo, “ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.
Para que a prática de ensinar possa se realizar como tal, é importante
que haja respeito aos saberes dos educandos. Só a partir do momento em que
o saber do educador e do educando for respeitado, acreditando que estes
últimos, também têm conhecimento a oferecer para trocar e para somar ao
saber do educador. Deste modo, ensinar exige a aceitação do novo e reflexão
constante da prática docente.
Pode-se entender que ensinar exige metodologias e planos de aula a
serem traçados e objetivos a serem atingidos. Porém, esta prática não pode se
confundir com um modelo ortodoxo e rígido de práticas educativas. A prática
pedagógica deve comportar um mínimo que seja de flexibilidade, de
deslocamentos, de desvios, de linhas de fuga. Ou como aponta Deleuze e
Guattari em, Esquizofrenia e Capitalismo, deve-se também pensar a prática
diária da educação como um rizoma, o qual cresce para diversos lados e em
diferentes direções, não podendo prever a priori sua forma, tamanho e
trajetória.
As mudanças e os desvios, as investigações e pesquisas da prática
pedagógica, remetem também para o que Paulo Freire chamou atenção, a
consciência do inacabamento humano. Pode-se pensar que o inacabamento
faz com que tanto os educadores quanto os educandos, estejam sempre em
busca de algo a aprender, a estudar, a conhecer e sendo assim, é possível
pensar em troca, ou seja, sujeitos trocando conhecimentos (onde cada um
aprende) e não em transferência, onde haveria passagem de conhecimento de
apenas de um dos lados (do educador para o educando). A consciência do
inacabamento promoveria uma busca constante pelo saber e pela
experimentação. Segundo Paulo Freire, um professor crítico é aquele que
diante da consciência do inacabamento, não transfere conhecimento, mas cria
possibilidades para sua produção e construção, estando predisposto à
aceitação do diferente e da mudança.
A prática docente se encontraria deste modo, não como um amontoado
de coisas e saberes que podem levar a qualquer lugar e à qualquer fim. Mas
pode-se pensar, em uma reflexão ou discussão crítica acerca de um tema ou
assunto proposto, bem como da realidade e do cotidiano que nos atravessa
constantemente. Desta forma, pode haver a troca de conhecimento entre
educadores e educandos, respeitando-se as divergências de opiniões e as
diferentes culturas. E entendendo, que a prática pedagógica comportaria fluxos
e conexões heterogêneas, possibilitando a criação e não a reprodução de
conhecimento.
Paulo Freire ( 1996 ), descreve , vários pontos necessários ao educador
no processo pedagógico relata que não há docência sem discência, ou seja, a
docência implica ao educador uma série de atribuições não apenas
profissionais mas sobretudo éticas. Através desta análise foi possível
vislumbrar a supervisão escolar a partir de uma perspectiva democrática, a qual
não é excedente, mas por outro lado, inclui o novo, inclui a reflexão crítica
sobre s sua própria prática e assim por que não pensar em uma reflexão sobre
a prática da supervisão escolar. Uma prática que não deve ser encarada como
ausência de princípios e normas que a regem e a norteie, mas, é o que Paulo
Freire aponta a respeito do processo pedagógico,ele é um processo que exige
autoridade e liberdade.
Ele descreve ainda, que, ensinar exige apreensão da realidade, exige a
convicção de que a mudança possível e exige a compreensão de que a
educação é uma forma de interação no mundo. Sendo assim e partindo desses
aspectos, pode-se enfatizar a necessidade do processo de supervisão estar
interagindo com o mundo a partir de mudanças que possam acarretar uma
visão democrática na instituição escolar. (FREIRE, 1996)
Propôs-se, neste IV capítulo, refletir sobre a postura do supervisor,
segundo conceito de vários autores.Procurou-se, fazer relações ao supervisor
quanto sua ação autoritária, burocrática, estabelecidos em seus
“superpoderes”,cujo objetivo maior era a inspeção, fiscalização da prática
docente,diferenciando-se daquele supervisor cuja ação
participativa,orientadora, compartilha com o corpo docente, em uma troca
constante, todos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
CONCLUSÃO
Procurou-se neste trabalho monográfico, ampliar a visão a respeito do verdadeiro papel do supervisor, desde o tempo primitivo, que sem noção, havia aquele que estava à frente de tudo, das lutas pela sobrevivência do povo, até pela escolha de suas companheiras, é certo que brutalmente, aquele que conduzia o povo, orientava quanto aos perigos, implicitamente, a supervisão já mostrava-se presente, até os dias de hoje, muitas mudanças ocorreram, e a supervisão , adquirindo novos papéis na humanidade.
Realizando-se um breve histórico sobre a supervisão, antes como uma
função, passando agora (1979), para a profissão de supervisor, mesmo assim,
essa profissão era mais retratada como de fiscalização, pois anterior a esse
tempo, ela veio do período capitalista, onde se inspecionava, os trabalhadores
em seus trabalhos industrial ( FAYOL).
Mais a diante, muitas Leis foram sendo propostas e tramitavam, ainda
como proposta, que por sinal até nossos tempos está tramitando. Apesar disso,
muito se vem mudando a ação supervisora, ela, agora, passa de fiscalizadora,
para uma ação participativa, onde a integração, supervisor, professor, aluno e
comunidade estão inseridos, entre trocas, compartilhando para uma educação
de qualidade.
Isso não quer dizer que não existam supervisores que com sua ação
autoritária, se amparam em seus superpoderes, tratam os docentes como
incapazes, por não se sentirem confiantes, não atinjam os objetivos do
supervisor, desvalorizados, sem estímulos, os docentes não se tornam sujeitos
críticos, levando a educação ao fracasso, mas este fracasso não é de única
responsabilidade dele, há uma parte destinada a esse supervisor nada
democrático e autoritário.
Em todos os aspectos analisados neste trabalho monográfico, a ética
supervisora esteve presente, seja com posturas autoritárias seja como um
sujeito participativo, buscando em parceria, juntos professor e supervisor,
possibilitar uma educação de qualidade dando voz a quem não tinha (o
professor).
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Revista:
CARDOSO, Jarbas. Gestão Compartilhada. AME Educando, ano XXX, n° 268,
p.20-22. Belo Horizonte, jun/1997.
Página de Internet:
http://www.assers.org.br/projetos.htm
ANEXOS
PROJETO DE LEI
Situação atual dos Projetos.
Regulamenta o exercício da Profissão de Supervisor Educacional, ou
Supervisor Escolar, e se dão outras providências.
Art. 1° . – A profissão de Supervisor Educacional, ou Supervisor Escolar, regula
– se por esta lei.
Art. 2° . – O Supervisor Educacional, ou Supervisor Escolar, tem como objetivo
de trabalho, articular crítica e construtivamente o processo educacional
motivado a discussão coletiva da comunidade Escolar acerca da inovação da
prática educativa a fim de garantir o ingresso, a permanência e o sucesso dos
alunos, através de currículos que atendam ás reais necessidades da clientela
escolar, atuando no âmbito dos sistemas educacionais: federal, estadual e
municipal, em seus diferentes níveis e modalidades de ensino e em instituições
públicas ou privadas.
Art. 3°. – O exercício da profissão de Supervisor Educacional, ou Supervisor
Escolar, é exclusivo dos portadores de diploma de curso superior, devidamente
registrado pela Universidade formadora e/ou por Universidade indicada pelo
Conselho Nacional de Educação:
I) de licenciatura plena em Pedagogia, habilitação em Supervisão
Educacional, ou Supervisão Escolar;
II) de pós-graduação em Supervisão Educacional, ou Supervisão
Escolar;
Emitido por instituições estrangeiras de ensino superior, congêneres,
devidamente revalidado e registrado como equivalente ao diploma mencionado
nos incisos I e II, na forma da legislação em vigor.
Art. 4°. – São atribuições do Supervisor Educacional, ou Supervisor Escolar, a
coordenação do processo de construção coletiva e execução da Proposta
Pedagógica, dos planos de Estudo e dos Regimentos Escolares, além das
seguintes:
I) investigar, diagnosticar, planejar, implementar e avaliar o currículo
em integração com outros profissionais da Educação e integrantes da
Comunidade;
II) supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula
estabelecidos legalmente; velar pelo cumprimento do plano de
trabalho dos docentes nos estabelecimentos de ensino;
III) assegurar processo de avaliação da aprendizagem escolar e a
recuperação dos alunos com menor rendimento, em colaboração
com todos os segmentos da Comunidade Escolar, objetivando a
definição de prioridades e a melhoria da qualidade de ensino;
IV) promover atividades de estudo e pesquisa na área educacional,
estimulando o espírito de investigação e a criatividade dos
profissionais da educação;
V) emitir parecer concernente à Supervisão Educacional;
VI) acompanhar estágios no campo da Supervisão Educacional;
VII) planejar e coordenar atividades de atualização no campo
educacional;
VIII) propiciar condições para a formação permanente dos educadores
em serviço;
IX) promover ações que objetivem a articulação dos educadores com as
famílias e comunidade, criando processos de integração com a
escola;
X) assessorar os sistemas educacionais e instituições públicas e
privadas nos aspectos concernentes à ação pedagógica;
Art. 5°. – É direito dos Supervisores Educacionais se organizarem em
entidades de classe;
Art. 6°. – Os sistemas de ensino que congreguem em seus quadros, o
Supervisor Educacional, ou Supervisor Escolar, devem regulamentar, em
documento específico, a carreira desse profissional definindo as condições de
ingresso, os critérios de progressão e a remuneração;
Art. 7°. – Revogar-se o parágrafo único do art. 2° da Lei N° 7132 de 13 de
janeiro de 1978.
Art. 8°. – Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”
PROJETO VEZ DO MESTRE
SUPERVISÃO ESCOLAR
“UMA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA DE SUPERVISÃO
ESCOLAR”
AUTORA: ELIANE INCUTTO SILVA
DATA DE ENTREGA: 24 DE JULHO DE 2004
AVALIADA POR: ANA CRISTINA GUIMARÃES
CONCEITO:.......