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Uma editora com o nome Verso de Kapa não é um acaso.Verso de Kapa é a porta de entrada para a descoberta de um novo mundo.A partir daqui tudo pode acontecer!É claro que gostamos que visite as livrarias e que veja as capas vistosas, os títulos sugestivose os grandes nomes da literatura portuguesa ou estrangeira.Mas queremos mais. Queremos que compre os nossos livros, mas sobretudo que os abra. E já agora que os leia. E que os leia até ao fim.E, sempre que abrir um livro da Verso de Kapa, estamos cá à sua espera, porque esta é a nossa casa e este é um convite a entrar para parti-lharmos consigo a alegria de termos editado este livro.

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Título: História de PortugalAutores: Diogo Ferreira e Paulo DiasEditoras: Maria João Mergulhão / Maria da Graça DimasRevisão: Nuno PereiraDesign de capa: DesignGlow.comPaginação: Helena GamaImpressão e acabamentos: Tipografia Lousanense

1.ª Edição: agosto de 2016ISBN: 978-989-8816-35-1Depósito Legal N.º 413457/16

© 2016, Verso da Kapa, Diogo Ferreira e Paulo DiasTodos os direitos reservados

Verso da Kapa • Edição de Livros, Lda. Rua da Boavista , 132-1341200-070 [email protected]

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Índice

I – Antes de Portugal: Da Pré-História ao Condado Portucalense 15

•dosprimeirospovoadoresaosceltiberos 15

•OdomíniodeRoma:daRepúblicaaoimpério 18

•Asinvasõesgermânicaseárabes–séculosV-Viii 19

•OcondadoPortucalense–séculosiX-Xii 20

Cronologia 22

II – Portugal Medieval (séculos XII-XV) 25

PolítICA e GuerrA 25

•d.Afonsoi(1139-1185) 25

•d.Sanchoi(1185-1211) 27

•d.Afonsoii(1211-1223) 28

•d.Sanchoii(1223-1248) 29

•d.Afonsoiii(1248-1279) 31

•d.dinis(1279-1325) 33

•d.AfonsoiV(1325-1357) 34

•d.Pedroi(1357-1367) 36

•d.Fernandoi(1367-1383) 37

•d.Joãoi(1385-1433) 38

•d.duarte(1433-1438) 41

•d.AfonsoV(1438-1481) 42

eConoMIA e SoCIeDADe 43

•AigrejaMedieval 43

•UmasociedadedeOrdens 44

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•Fome,pesteeguerra–oséculoXiV 45

•Ocrescimentourbano–Lisboa 46

CulturA e ArteS 47

•casteloseigrejas–doRomânicoaoGótico 47

•Oportuguêscomolínguaescrita 49

•Ascrónicasdereiseosromancesdecavalaria 50

•AculturadospríncipesdeAvis 51

Cronologia 52

III – Portugal no início da Modernidade (séculos XV-XVI) 57

PolítICA e GuerrA 57

•Aconquistadeceuta(1415)eaexpansãoportuguesaemMarrocos 57

•Asnavegaçõesatlânticas–doinfanted.Henriquead.Joãoii 60

•A“eradourada”ded.Manueli 63

•OreinodePortugalemtemposded.Joãoiied.Manueli 65

eConoMIA e SoCIeDADe 66

•FidalgoseaventureirosemÁfricaenoOriente 66

•Feitoriasefortalezas 68

•Ocomérciodacostaocidentalafricana–escravos,marfimeanimaisexóticos 68

•OcomérciodoOriente–especiarias 69

CulturA e ArteS 71

•OestiloManuelino–oMosteirodosJerónimos 71

•Areorganizaçãoadministrativamanuelina–adaptaçãodadocumentaçãomedieval 72

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•GilVicenteeaspermanênciasmedievais 73

•RenascimentoeHumanismo 74

Cronologia 75

IV – Portugal e as crises da Modernidade (séculos XVI-XVII) 79

PolítICA e GuerrA 79

•OsdesafiosdemeadosdoséculoXVi–d.Joãoiii,d.Sebastiãoed.Henrique 79

•OPortugaldosHabsburgosoudosFilipes(1580-1640) 84

•OimpérioPortuguês(1580-1669)eaconcorrênciaFrancesa,Holandesaeinglesa 89

•doPortugaldaRestauraçãoàGuerradaSucessãodeespanha(1640-1706) 92

eConoMIA e SoCIeDADe 98

•Umpaíspequenoepoucopovoado–onumeramentode1527-1532 98

•OsJesuítas:entrePortugaleaevangelizaçãodoOriente 99

•AsriquezasdoBrasil 100

CulturA e ArteS 101

•doManeirismoaoBarroco 101

•AinquisiçãoemPortugaleaReformaProtestantenaeuropa 101

Cronologia 104

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V – Portugal no século XVIII 107

PolítICA e GuerrA 107

•Oabsolutismojoanino(1707-1750) 107

•AGuerradeSucessãodeespanha(1701-1714)eapolíticadiplomáticajoanina 109

•AascensãoeaaçãopolíticadeSebastiãoJosédecarvalhoeMelo 111

•Épocadetransições:doreinadoded.Mariaiàregênciaded.JoãoVi 114

eConoMIA e SoCIeDADe 116

•AsociedadeportuguesanafasefinaldoAntigoRegime 116

•Ociclodoouroedoaçúcarbrasileiro 117

•1denovembrode1755:odiadoterramoto 119

•AexpulsãodosJesuítaseoProcessodosTávoraem1759 120

CulturA e ArteS 122

•AostentaçãodoMagnânimoeasgrandesconstruçõesdoBarroco 122

•AAcademiaRealdasciências:ainspiraçãoiluminista 123

•entreoBarrocotardio,oneoclassicismoeoPré-romantismodofinaldoséculo 124

Cronologia 125

VI – Portugal do final do Antigo regime à afirmação do liberalismo (1807-1890) 127

PolítICA e GuerrA 127

•Asinvasõesfrancesaseodomíniobritânico(1807-1820) 127

•daRevolução«Vintista»àGuerracivilPortuguesa(1820-1834) 129

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•dainstabilidadeliberalàRegeneração:devoristas,Setembristasecabralismo(1834-1851) 133

•APazdaRegeneraçãoeoRotativismoPartidário(1851-1890) 137

•Oiníciodofim:ultimatoinglêsde1890erevoltado31dejaneirode1891 140

eConoMIA e SoCIeDADe 141

•Ofimdociclobrasileiro:o«Gritodoipiranga» 141

•Osefeitosdofontismoeotake-off industrialportuguês 142

•OfimdasociedadedeprivilégioseavidaquotidiananoséculoXiX 144

CulturA e ArteS 146

•OséculodoRomantismo 146

•daQuestãocoimbrãedaGeraçãode70aoRealismo 148

•PrincipaisconstruçõesemonumentosdoséculoXiXemPortugal 150

Cronologia 151

VII – Portugal do final da Monarquia à entrada na C.e.e. (1890-1986) 155

PolítICA e GuerrA 155

•AquedadaMonarquiaconstitucionaleaimplantaçãodaRepública(1890-1910) 155

•AinstabilidadeeaaçãopolíticadaPrimeiraRepública(1910-1926) 159

•O28demaioeaditaduraMilitar(1926-1933) 163

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•dainstitucionalizaçãodoestadonovoaofinaldaGuerracolonial(1933-1974) 165

•do25deAbrilàentradanacomunidadeeconómicaeuropeia(1974-1986) 171

eConoMIA e SoCIeDADe 174

•«economiadeguerra»:oimpactodoconflitoeaparticipaçãomilitarportuguesa 174

•Ofascismonoquotidiano:corporativismoeorganizaçõesdeenquadramento 177

•Aoposiçãoaoregimeealutapelaliberdade:doMUnAFàseleiçõesde1958 181

CulturA e ArteS 184

•OModernismoemPortugal:darevistaOrpheuaosanos30 184

•A«políticadoespírito»deAntónioFerroeaexposiçãodoMundoPortuguês 186

•entreapolíticados«TrêsF»eacançãodeprotestorevolucionária 188

Cronologia 190

VIII – os últimos trinta anos (1986-2016) 195

Cronologia 199

Bibliografia 203

referência das imagens 205

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I

AnteS De PortuGAl: DA PrÉ-HIStÓrIA Ao

ConDADo PortuCAlenSe

Dos primeiros povoadores aos Celtiberos

APré-HistóriafoioperíodoqueantecedeuaHistória,peloqueédifícilcalcularaocertoquandocomeçou.considera-se,geralmen-te,queaPré-HistóriaterminounomomentoemqueoSerHuma-noaprendeu,pelaprimeiravez,aregistarosacontecimentosporescrito,oqueocorreunaMesopotâmiaenoegitoporvoltadoano3000 a.c. no entanto, a escrita não surgiu simultaneamente emtodoomundo,peloqueaPré-Históriatemcronologiasdiferentesparacadaregião.

naPenínsulaibérica,aPré-História terá tidoo iníciocercade1.2milhõesdeanosa.c.,quandochegaramàregiãoosprimeiroshumanos.Ofinalocorreuporvoltade218a.c.,anoemquecome-çouaconquistaromanadapenínsula.

APré-Histórianãofoitodaigualedividiu-seemperíodosquereceberamonomedevidoaomaterialqueentãoeramaisutilizadonofabricodeferramentas.Assim,temosaidadedaPedra,aidadedoBronzeeaidadedoFerro.

AidadedaPedrafoimuitolongaedurouatéc.3000a.c.duranteestesmilénios,ossereshumanospassarampormuitastransforma-ções,eassuasferramentaseculturaestiveramemconstante,aindaquelenta,evolução.Asferramentasdepedratrabalhadaeramuti-lizadasparafazertudo:desdepontasdelançaparacaçaranimaisatélâminasparacortaracarne.Osossoseramutilizadosparafazeragulhasquedepoisusavamparafabricarpeçasderoupaapartirdaspelesdeanimais.

entreosanos40.000e8000a.c.,instalaram-senaregiãoociden-tal da Península ibérica tribos de caçadores-recoletores. como o

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nomeindica,viviamdacaçaedeprodutosvegetais(raízesefrutossilvestres) que colhiam na natureza.As ferramentas que utiliza-vam,depedraeosso,erammaisdesenvolvidaserealizavamrituaisfúnebres.Foinascavernasondehabitavamquedeixaramassuasexpressões artísticas: pinturas e gravuras rupestres. O exemplomaisemblemáticodestaarteencontra-senasgrutasdeFozcôa.

Oclimatornou-semaisamenoapósofinaldaúltimaidadedoGelo(em10.000a.c.),oquepermitiuqueoshumanossaíssemdascavernas.Porisso,entre8000e5000a.c.,jáseencontravamhuma-nosaviveremcabanasnosvalesdosriosTejoeSado.Passaramaalimentar-semaisdepeixeemariscoeausarcolaresdeconchascomodecoraçãopessoal.

Porém,foientre7000e3000a.c.quesurgiuamaioralteraçãoà vidadoshomens e mulheresda idade daPedra: a agriculturae apastorícia chegaramàPenínsula ibérica, trazidasporviajan-tesoriundosdoMediterrâneo.noperíodofinaldaidadedaPedra,aoqualsechamouneolítico,oshumanoscomeçaramaconstruirgrandes monumentos de pedra, como antas e menires. em Por-tugal,estesmonumentosmegalíticos(termoquesignificapedrasgrandes)sãomaiscomunsnaregiãodoAltoAlentejo.Precisamen-teemPavia,noAlentejo,podeserencontradaumaantaque,milé-niosmaistarde,foitransformadaemcapela!

nafamosabandadesenhadaAstérix e Obélix,apersonagemObélixéumescultordemenires.Émesmovisto,muitasvezes,acarregarsozinhoumdessesmonumentosmegalíticos!Fantasiaàparte,osmeniresforammonumentosdecultoemváriasregiõesdaeuropa.noReinoUnido,omonumentomegalíticomais importanteeconhecidoéStonehenge.

entretanto,oSerHumanocomeçouautilizarmetalnofabricodeferramentas(comofoicesemachados)edearmas(comopontasdelança).depoisdaidadedaPedravieram,emrápidasucessão,aidadedoBronze(c.de1500a700a.c.)eaidadedoFerro(c.700a218a.c.).OcomérciodemetaistrouxenovospovosàPenínsula

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ibérica,comoosFenícioseosGregos,entre900e700a.c.dalín-guadosFeníciosprovêmtermoscomoOlisipo(Lisboa).

Porvoltade900a.c.,nasregiõesdonortedaPenínsulaibérica(comoMinhoeTrás-os-Montes),surgiuacivilizaçãocastreja,nomequeteveorigemnofactodeoshumanoshabitarememcastros(al-deiasfortificadassituadasnotopodemontes).eraumasociedadequedependiadaagriculturaedapastorícia,equeusavasobretudomadeiranasconstruções(sóasmuralhaseacasadochefeeramfeitasdepedra).

Por volta de 500 a.c., os celtas, um povo oriundo da europacentral,entraramnaPenínsulaibérica.encontraramumaregiãopoucohabitadaenãotardaramamisturar-secomospovoslocais,designadosporiberos.dessafusãodepovosnasceuumnovo:osceltiberos.AmaisfamosadastribosceltiberasfoiadosLusitanos.Atravésdaguerra,conseguiramestenderoseucontrolodaestre-maduraespanholaatéàcostaatlânticaemesmoàregiãodeLisboa.

Curiosidade: OsLusitanosnãopodemserconsideradosantepassa-dosapenasdosPortugueses.istoporqueboapartedoseuterritórioficavasituadoemregiõesforadoqueviria,maistarde,aserPortu-gal.AsuacapitaleraacidadedeMérida,naestremaduraespanhola.

OsLusitanossãofamososporseteremopostoàconquistaro-mana,emparticularduranteoséculoiia.c.Oiníciodaconquistaromana,em218a.c.,significouofimdaPré-HistórianaPenínsulaibérica,jáqueeraaprimeiravezqueumasociedadetãoavançada–edesdelogopossuidoradapalavraescrita–intervinhadeformatãoclaraesistemáticanaregião.

defacto,foramosRomanosque,maistarde,escreveramsobreasderrotasquesofreramàsmãosdosLusitanos,eemparticularsobreaatuaçãodeViriato,chefedosLusitanosentre147e139a.c.

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o domínio de roma: da república ao Império

ApresençaromananaPenínsulaibéricainiciou-seem218a.c.,nocontextodaSegundaGuerraPúnica(218-201a.c.).nestaguer-ra, o controlo do Mediterrâneo Ocidental foi disputado entre aRepúblicadeRomaecartago,umacidade-estadofeníciasituadanonortedeÁfrica.desdecedo,osromanosdedicaram-seàsub-missãodastribosceltiberas.em206a.c.,RomajácontrolavatodaacostamediterrânicadaPenínsulaibérica.

Apacificaçãodefinitivadastribosceltiberassóficouconcluídaemfinaisdoséculoia.c.AromanizaçãodaPenínsulaibéricaco-meçounessaaltura,oquesignificouaadoçãodoscostumes,cultu-raeleisromanas.Oterritóriofoidivididoemprovíncias,parasergovernadodeformamaiseficiente.AsprovínciasdaTarraconense(emais tardedaGalécia)edaLusitâniagovernavamo territórioondeviriaaserfundadoPortugal.

Omododevidaromanofoi-seinstalandonasnovasprovíncias.Fo-ramconstruídasestradas,anfiteatros,aquedutos,pontes,etc.AsruínasdoteatroromanodeLisboaaindahojesãovisíveis.emÉvora,aindaresistepartedeumtemploromano,enquantoquejuntoacondeixa-a--Velhaestãosituadasasruínasdacidadedeconimbriga.

duranteodomínioromanodaHispânia–onomeentãodadoàPenínsulaibérica–ocomércio,aagriculturaeaindústria(comoasalgadepeixe)desenvolveram-seeprosperaram,oquedeuorigemanovaspovoaçõesecidades.AlcácerdoSal,porexemplo,cresceuporseroarmazémdosprodutostransportadosporbarconorioSado.

Curiosidade: AsestradasconstruídaspelosRomanoseramtãoresis-tentesquedurantemaisde1000anos,mesmoapósaquedadoimpé-rioRomanodoOcidente(476d.c.),foramasmelhoresdaeuropa!

FoitambémduranteogovernoromanoqueocristianismoseimplantounaHispânia.noséculoiVd.c.,foramcriadasasprimei-rasdioceses(divisõesadministrativasgeridasporbispos).

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OlegadomaispermanentedosRomanosterásidoalíngua,umavezqueoLatimdeuorigemaváriosidiomas,comooPortuguêseocastelhano.

As invasões germânicas e árabes – séculos V-VIII

em409,osprimeirosinvasoresgermânicosentraramnapenín-sularomanadaHispâniaeinstalaram-seemdiferentesprovíncias:osAlanos instalaram-se na Lusitânia, os Suevos na Galécia e osVândalosnaBética.em415,osVisigodosentraramnaHispâniaenãotardaramadominartodaapenínsula.começaramporexpul-sarosVândalosparaonortedeÁfricae,em585,derrotaramosSuevoseocuparamosseusterritórios (que incluíamaregiãoaolongodacostaquevaidaGalizaatéaorioTejo).OsSuevos,poroutrolado,játinhamconquistadoosAlanos.

Recaredofoioprimeiroreivisigodoaconverter-seaocristianis-mo,em589,porinfluênciadosnovossúbditosSuevos(queeramcristãosdesde558).Aconversãoreforçouopoderdosreisvisigo-dosnaregiãoeaproximou-osdamaioriadapopulaçãodaHispâ-nia,osantigosceltiberosromanizadosecristianizados.

contudo,nãotardouatéqueamonarquiavisigóticasofressevá-riascrisesinternas.em710,iniciou-seumaguerracivilentreoreiVitisaeRodrigo,umpretendenteaotrono.Umdosladosdoconfli-topediuajudaaosBerberesmuçulmanosdonortedeÁfricaque,assim,entrarampelaprimeiraveznaHispânia.

OsVisigodosaperceberam-sedesteerrodemasiadotardee,en-tre711e715,osBerberese,depois,osÁrabes,conquistaramprati-camentetodaaHispânia.Aresistênciadealgunsnobresvisigodosapenassemantevenasmontanhasdonorte,nasAstúrias.estesnobres conseguiriamdefender-se comsucesso e, em722, vence-riamabatalhadecovadongacontraumexércitoárabe.Apesardaderrota,tinha-seiniciadoapresençaislâmicanaPenínsulaibérica.

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ApresençamuçulmananaPenínsulaibérica,enquantogovernan-tes,iniciou-seem711,comocomeçodaconquista,eterminouem1492,comaderrotadoreinodeGranada.Assimsendo,adistânciatemporalquenosseparadaquedadeGranada(524anos)éinferioràdistânciaqueseparavaosprimeirosconquistadoresárabesdossenhoresderrotadosdeGranada(781anos)!

entre756e929,oAl-Andalus(nomedaHispâniaislamizada)foiumemirado,comcapitalnacidadedecórdova,naatualprovínciaespanholadaAndaluzia.Aregiãointegravaentãoosvastosdomí-niosdoscalifas(primeirodadinastiaOmíadae,maistarde,dadinas-tiaAbássida),quetinhamcomocapitalalongínquadamasco,naSí-ria.em929,oemiradopassouacalifadoetornou-seindependente.

Asconstantesdivisõesinternasdosmuçulmanosibéricosajuda-ramoscristãosarecuperarterritórios,numprocessoquesecha-mouReconquista.Apósofimdocalifadodecórdova,em1131,oAl-Andalusdividiu-seemtaifas,pequenosreinos,muitosdosquaisforamsubjugadospelosreiscristãos.

AReconquistafoionomedadoaosavançosparasulprotagonizadospelosguerreiroscristãosduranteaidadeMédia.OsdescendentesdosnobresvisigodoscompreendiamqueeraseudevercombatercontraosMouroserecuperarasterrasquejátinhamsidocristãs.TodososreiscristãosdaPenínsulaibérica,comooreidePortugal,participaramnaReconquistapoisviamnelaaoportunidadedeexpandiremosseusreinos.

no entanto, a Reconquista demoraria séculos, como veremosmais adiante. entretanto, a cultura islâmica foi-se instalando naHispânia, inclusivamente na região que, mais tarde, seria Portu-gal.ÁrabeseBerberestrouxeramparaapenínsulaumanovareli-gião(oislão,quenasceunaArábianoiníciodoséculoVii),novaslínguas(oÁrabe,quedeuaoPortuguêspalavrascomoalgodãoealgarismo)enovasformasartísticas(comoadecoraçãodaantiga

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mesquitadeMértola).Aciência(nomeadamenteaastronomia)eamedicina(comoafarmacologia)árabesforam,duranteboapartedaidadeMédia,superioresàscongénereseuropeias.

nesteperíodo,ocomércioeoartesanatoajudaramcidadescomoLisboa,SantarémeSilvesacrescereganharimportância.Omes-mo aconteceu, claro, nas grandes cidades da restante Hispânia,comoToledo,córdova,SevilhaeSaragoça.Aspopulaçõescristãsqueviviamsobdomínioislâmicopagavampesadosimpostosparaseremprotegidas.Algunscristãoschegarammesmoavestir-seecomportar-secomoÁrabes,emboranãoseconvertessemaoislão.estesindivíduoseramchamadosdeMoçárabes.

À medida que a Reconquista avançava, os povos islâmicos fi-cavam sob domínio cristão. estas populações passaram então ahabitar embairrosprópriosnas cidades, asMourarias, tal comoaconteciacomoscristãosnascidadesislâmicas,eapagarpesadosimpostos.Tantonascidadescristãscomonasislâmicas,osJudeusviviamembairrospróprios,asJudiarias.cristãosemuçulmanoscompreendiamqueerapreferívelmantervivasaspopulaçõesdeoutrasreligiões,jáque,assim,lhespodiamcobrarimpostoseapro-veitarem-sedotrabalhoquerealizavam.

o Condado Portucalense – séculos IX-XII

Apesardavitóriadosnobresvisigodos,lideradosporPelágio,nabatalhadecovadonga,em722,aReconquistacristãnãocomeçounessemomento,umavezqueoscristãoseramaindademasiadofracosparapoderempassaraoataque.

nãotardouatéquesurgissemreisguerreirosquereclamavamserherdeirosdePelágio,quejáentãoviamcomoumherói.FoidestaformaquesurgiuoreinodasAstúrias,lideradopeloreiAfonsoiii(866-910), que recomeçou o povoamento da região em torno doriodouro,naalturamuitodespovoadadevidoàguerra.em868,VímaraPerestomouacidadedePortucale,juntoàfozdodouro,paraaíseinstalar.AssimnasceuocondadoPortucalense,quepas-savaadominarosterritóriosemtornododouroque,maistarde,viriamafazerpartedePortugal.

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Os descendentes deVímara Peres controlaram o condado até1071, anoemqueocondenunoMendes foimortoembatalha,depoisdeserevoltarcontraoreideLeão.Ocondadoficouvagodurante algum tempo, mas, por volta de 1096, foi entregue ad.HenriquedeBorgonha,umcavaleirofrancês.

AReconquistaatraiucentenasdecavaleirosfrancesesparaaPe-nínsulaibérica,umavezque,incitadospeloPapaepelosabadesdecluny(ummosteironaregiãodeBorgonha,França),estavamdispostos a combater contra os muçulmanos em nome dos reiscristãosibéricos.

d.Henriqueeraumcavaleiroparticularmentebemrelacionado,porserfamiliardoabadedeclunyedocondeedoduquedeBor-gonha.Oseudesempenhomilitarvaleu-lheaentregadoconda-dodePortucaleeumcasamentocomd.Teresa,filhailegítimadeAfonsoVi(1065-1109),reideLeãoecastela.

d.HenriquedeBorgonhaacabariaportentartornarocondadoPortucalenseindependentedoreinodecastela,massemsucesso.Quandofaleceu,em1112,deixouocondadoaoseu jovemfilho,d.AfonsoHenriques, que, anosmais tarde, acabariapor fundarumreinopróprio:Portugal.

cronologia

Data Acontecimentos

1.2milhõesa.c. chegadadosprimeirossereshumanosàPenínsulaibérica.

c.40.000a8.000a.c. instalaçãodasprimeirastribosdecaçadores-recoleto-resnaPenínsulaibérica.

c.10.000a.c. FimdaúltimaidadedoGelo.

c.7000a3000a.c. ViajantesoriundosdoMediterrâneointroduzemaagriculturaeapastorícianaPenínsulaibérica.

c.8000a5000a.c. Oshumanosabandonamascavernasepassamahabi-taremcabanasjuntoaosriosTejoeSado.

c.1500a700a.c. idadedoBronze.

c.900a.c. Surgimentodacivilizaçãocastreja.

c.700a.c.a218a.c. idadedoFerro.

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História de Portugal

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c.500a.c. chegadadasprimeirastribosceltasàPenínsulaibérica.

218a.c. iníciodaconquistaromanadaPenínsulaibérica.

218a201a.c. SegundaGuerraPúnicaentrecartagoeRoma.

206a.c. RomacontrolatodaacostamediterrânicadaPenínsulaibérica.

147a139a.c. Viriato,chefedosLusitanos,lideraaguerracontraRoma.

409 chegadadosAlanos,SuevoseVândalosàHispâniaromana.

415 chegadadosVisigodosàHispâniaromana.

476 QuedadoimpérioRomanodoOcidente.

558 SegundaconversãodosSuevosaocristianismo.

585 OreinodosVisigodosconquistaoreinodosSuevos.

589 conversão ao cristianismo de Recaredo, rei dosVisigodos.

710 iníciodaguerracivilvisigoda,umconflitoqueopõeoreiVitisaeopretendenteRodrigo.

711-715 conquistaislâmicadepraticamentetodaaPenínsulaibérica.

722 Batalhadecovadonga.VitóriadosVisigodos,lideradosporPelágio.

756 Fundaçãodoemiradodecórdova.

868 VímaraPeresconquistaacidadedePortucaleeintegra--anoreinodeLeão.Poucodepois,éformadoocon-dadoPortucalense.

929 Fimdoemiradodecórdova.criaçãodocalifadodecórdova.

1031 Fimdocalifadodecórdova.divisãodosterritóriosislâmicosdaHispâniaemreinostaifa.

1071 MortedenunoMendes,últimodosdescendentesdeVímaraPeresacontrolarocondadoPortucalense.

1096 AnoprováveldaentregadocondadoPortucalensead.HenriquedeBorgonha,umcavaleirofrancês.

1112 Morte do conde d. Henrique, pai de d. AfonsoHenriques.

1492 castelaconquistaGranada,oúltimoreinoislâmicodaPenínsulaibérica.

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II

PortuGAl MeDIeVAl (SÉCuloS XII-XV)

Política e Guerra

D. Afonso I (1139-1185)

Quandoo conded.Henrique faleceu, em1112, ogovernodocondadoPortucalense foientregueàviúva,d.Teresa.d.AfonsoHenriques passaria a exercer o poder apenas em 1127, quandoatingiuamaioridade.nessemesmoano,comoapoiodosnobresportucalenses,d.Afonsoderrotouamãeeosseusapoiantesgale-gosnabatalhadeS.Mamede,juntoaGuimarães.Apartirdeentão,tornou-selivreparagovernarseminterferências.

PartindodoMinho,edeformaaafastar-sedasinfluênciasdosnobresdePortucale,d.AfonsoHenriquesavançouparasuleinsta-lou-seemcoimbra,para,apartirdessacidade,dilatarasfronteirasdocondado.Foiassimque,em1139,venceuabatalhadeOurique.Poucosesabesobreestabatalha (nemsequerécertoque tenhaocorridojuntoaOurique,noAlentejo),masnãorestamdúvidasdequefoiimportante,poisfoiapartirdaquelavitóriaqued.AfonsoHenriquespassouaintitular-serei.

Hojeemdia,oMilagre de OuriquefazpartedamemóriacoletivadosPortugueses.noentanto,estefoiummitocriadoapenasem1419,ouseja280anosdepoisdaverdadeirabatalha,paraajudaraconstruirumaimagemquaseperfeitadoprimeiroreiportuguês.deacordocomalenda,cristoteriaaparecidoad.AfonsoHenriquesparalhegarantiravitórianabatalhacontraosmuçulmanos.

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nos anos que se seguiram à vitória na batalha de Ourique,d.AfonsoHenriquesconduziunovascampanhasmilitares:parasul,contraosMouros,emesmoparanorteeoeste,contraaGalizaeoreinodeLeão.Foinumadestascampanhas,ocorridaem1147,queoreiconquistouSantarémeLisboaaosMouros.Paraacon-quistadeLisboatevemesmoaajudadeumaarmadadecruzadosoriundosdonortedaeuropa.

Curiosidade:Algunsdoscruzadosqueauxiliaramd.AfonsoHen-riquesaconquistarLisboaacabaramporficaraviveremPortugal.VilaFrancadeXira,porexemplo,obteveoseunomeporaísetereminstaladoFrancos,ouseja,Franceses.

d.AfonsoHenriquescontinuouaexpandiroreinoaté1169,anoemquefoiderrotadoquandotentavaconquistarBadajoz.Foimes-mo ferido numa perna durante os combates e acabou por ficarincapazdemontaracavaloparaorestodavida.

em1179,PortugalfoireconhecidopeloPapacomoumreinoin-dependente,atravésdolançamentodabulaManifestis Probatum.Jáem1143,emZamora,oreideLeãoecastelatinhareconhecidod.AfonsoHenriquescomorei,emboranãolhegarantisseaindaaindependência,queacabouporserasseguradaatravésdoposteriorreconhecimentopapal.

Portugal,comoosrestantesreinoscristãosibéricos,surgiunocon-textodaReconquista.comovimosnocapítuloanterior,aReconquistainiciou-sequandooscristãosqueresistiramàconquistaislâmicacomeçaramareconquistarterrasquetinhamperdidodécadasouséculosantes.PortugalacabariaporterminarasuaReconquistaem1249-1250,comaocupaçãodasúltimasvilasislâmicasdoAlgarve.

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D. Sancho I (1185-1211)

em1185,d.Sanchoisucedeunotronoaopai,d.AfonsoHenri-ques.Aindaenquantoinfante,d.Sanchotinhademonstradoqua-lidadesgovernativasemilitares.Porumlado,começouaauxiliaropainogovernodoreinodesdequeoprogenitorforaferidonaperna, em1169.Poroutro,deu continuidadeàguerra contraosMouros,defendendo,em1184,Santarémdeumdurocerco.

Ao longodoseureinado,procuroudarcontinuidadeàRecon-quista, expandindo o reino em direção a sul. Foi assim que, em1189,conquistouSilveseAlvor,novamentecomaajudadeumaarmadadecruzados.Ambasasvilasforamperdidaspoucodepois,umavezqueseencontravamisoladasemterritórioinimigo,jáquetodaaáreaentreSilveseÉvoraeraaindacontroladapelosMouros.A ofensiva muçulmana de 1190-1191, comandada pela dinastiadosAlmóadas marroquinos, conquistou todas as terras a sul doTejo,comexceçãodeÉvora.

Acartadeforalconcediaaosmoradoresdeumadeterminadavilaoucidadeumasériedeprivilégios.esperava-se,assim,atrairnovosmoradoresparaumdadolugar,sobretudoparahavermaishomensdisponíveisparaadefesadaterra.Porissoeratãocomumseremdadascartasdeforalavilasdefronteira.

deformaaestabilizarefortificarafronteira,d.Sanchoiconce-deucartasdeforalaváriasvilas,comoAlmada(oTejoeraentãoa fronteira entre o reino de Portugal e os Mouros). Além disso,concedeucastelosàsOrdensMilitares,paraqueaquelasvigiassemaszonasdefronteira.Opai,d.AfonsoHenriques,tinhatidoumapolíticasemelhante.

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Curiosidade:AsOrdensMilitaresnasceramduranteascruzadasparaaconquistadeJerusalémedoslugaressantosdacristandade.comonaPenínsulaibéricatambémsecombatiamosmuçulmanos,nãotardoumuitoatéqueasOrdensdoTemploedoHospitalseinstalassememPortugalenosoutrosreinosibéricos.AOrdemdeSantiagoteveorigemjánaPenínsula,ecedoseinstalouemPortugal.AOrdemdosFreiresdeÉvoranasceunaquelacidadee,maistarde,passariaaseraOrdemdeAvis.AúltimadasOrdensasercriadafoiaOrdemdecristo,em1319,fazendousodosbensdaentretantoextintaOrdemdoTemplo.

D. Afonso II (1211-1223)

d.Afonsoiisucedeuaopai,d.Sanchoi,em1211.Aolongodoseureinado,manteveumapolíticadefortalecimentoecentraliza-çãodopoderrégio.Atravésdaintroduçãodeleisescritas,apoiadasnodireitoRomano,conseguiuafirmarasuperioridadedopoderdoreifaceànobrezaeaoclero.contudo,talpolíticalevouaqueexistissemgravesproblemasderelacionamentoentreomonarcaeváriosmembrosdanobrezaedoclero.

1.OcastelodeAlmourol,entreguepord.AfonsoHenriquesàOrdemMilitardoTemplo,defendiaamargemnortedoTejo,dosMouros.

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AsinquiriçõesGerais, lançadaspelorei,consistiameminqué-ritosfeitosnoterrenopelosoficiaisdacoroaetinhamcomoob-jetivolimitarasusurpaçõesdeterraslevadasacabopelanobrezaepeloclero.Umaoutralei,adasconfirmações,garantiaqueoreitinhaodireitodedecidir seosnobrespodiammanter as terrasque tinham recebido da coroa. este processo de centralização eaumento do poder da coroa foi prosseguido, de forma mais oumenoscontínua,pelosreisqueseseguiramaolongodosséculossubsequentes.

Curiosidade: Adifícilrelaçãocomanobrezafoitalquechegouaentraremguerracontraasprópriasirmãs.emcausaestavamasterrasedireitosquelhestinhamsidolegadas,emtestamento,pord.Sanchoi.Aquestãosóficouresolvidadepoisdamortedorei,em1223.

d.Afonsoiifoiumreidoente–crê-sequesofriadelepra–e,portanto,incapazdecomandarexércitosembatalha.Masmesmosempoderserumconquistador,comoopaiouoavô,noreinadoded.AfonsoiiaReconquistacontinuou.Foilevadaacabosobre-tudopelasOrdensMilitareseofeitomaissignificativofoiacon-quistadeAlcácerdoSal,ocorridaem1217.Jáantes,em1212,for-çasportuguesastinhamparticipadonabatalhadenavasdeTolosa,ladoaladocomcastelhanosearagoneses.estaimportantevitóriacristãassinalouodeclíniodopoderiomilitarAlmóadanaPenín-sulaibéricae,em1223,osmuçulmanosvoltariamadividir-seempequenosreinostaifa,permitindonovosavançosnaReconquista.

D. Sancho II (1223-1248)

comamorteded.Afonsoii,ocorridaem1223,subiuaotronod.Sanchoii.Onovoreicomeçouporpôrfimàdisputaqueastiastinhammantidocomoseupai.canceloutambémalgumasdasleisde fortalecimentodopoderdacoroapassadaspord.Afonso ii,deformaaagradaraocleroeànobreza.contudo,oreirevelou-se

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incapazdegovernardeformacapazedemanteraordem.Bandosdecavaleirosandavampeloreinoasaquearigrejasemosteiros,eorei,quetinhaporobrigaçãogarantirajustiça,nadafazia.

AReconquista,entretanto,foiseguindooseurumo.nasdécadasde1220,1230e1240,oavançoportuguêsfez-sepeloAlentejoeAlgarve,tendosidoconquistadasvilascomoelvas,SerpaeTavira.AsOrdensMilitaresdeSantiagoedoHospitalforamdecisivasnoavançodasconquistas,jáqueoreienfrentavaproblemasemmo-bilizaroapoiodanobreza.

Osproblemassociaisepolíticosnoreinoacabaramporsersupe-rioresaossucessosmilitaresed.Sanchoiifoideposto.Osbisposportugueses,descontentescomaatuaçãodoreiperanteaigreja,apelaramaoPapaque,emmarçode1245,depôsd.Sanchoiiatra-vésda emissãodeumabulapapal.Umanovabula, emitida emjulhodomesmoano,ordenavaaoclero,nobrezaeconcelhosdePortugalqueobedecessemaoinfanted.Afonso,irmãodorei,poisdaíemdianteseriaeleagovernar.

nabulapapaldemarçode1245,d.SanchoiieraapelidadopeloPaparex inutilis,ouseja,reiinútil.OreieracensuradopeloPapapornãoconseguirmanterapazdentrodoreinoe,sobretudo,pordeixarqueosbensdaigrejafossematacadoseroubados.

Oinfanted.Afonsoera,àépoca,condedeBolonha,viladonor-te de França, por ter casado com a condessa Matilde. em 1245,emParis,perantebisposportugueseseemissáriosdoPapa,jurourespeitaraigrejaetodososseusprivilégios.Assim,apósadepo-siçãodorei,irmãodoinfante,oPapaconcedeu-lheogovernodePortugal.Quando,noverãodesseano,aportouemLisboa,encon-trouoreinodivididoentreosseuspartidárioseosapoiantesded.Sanchoii.Aguerraentreosdoisirmãosdurouaté1248,alturaemqued.Sanchoiifaleceu,poucodepoisdeterpartidoparaoexílioemcastela.

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Curiosidade:d.Sanchoiinãoteveherdeirose,aoqueparece,nãoteveumbomcasamentocomaesposa,arainhad.Mécia.Asrela-çõesforamtãomásque,duranteaguerracivil,arainhafoiraptadaeoreifoiincapazdearesgatar.nãofaltou,logonaaltura,quemlevantasseahipótesedearainhaterfugidodelivrevontade,dei-xandooreihumilhado.

D. Afonso III (1248-1279)

d.Afonsoiii,queapenasseintituloureiapósamortedoirmão,passourapidamenteàação.em1249-1250concluiuaReconquistaportuguesa,aoocuparoquefaltavadoAlgarve,desdelogoacida-deprincipal,Faro.Poucodepois,em1250-1251,viu-seobrigadoacombatercontracastela,paramanterapossedanovaconquista.Aquestãosóficoudefinitivamenteresolvidaem1267,passandooGuadianaamarcarafronteirasudesteentreosdoisreinos.

enquantorei,d.Afonsoiiicontinuouapolíticadefortalecimen-toecentralizaçãodopoderdacoroa,seguindoassimospassosdopai,d.Afonsoii.chegoumesmoalançarasinquiriçõesGerais,em1258,paracombaterosabusosdanobrezaedoclero.criouoscar-gosdemeirinho-mor,mordomo-morechanceler-moreentregou-osanobresdasuaconfiança.comoapoiodesteshomens,conseguiuexpandir o poder da coroa pelo reino. Ao mesmo tempo, criouumanovanobreza:anobrezadeserviço,queerasubservienteaoreietornava-sericaepoderosapeloserviçoaomonarca,enãopelocombatecontraosMouros.

Apoiadopelosconcelhosdosuldoreinoduranteaguerracivil,d.Afonsoiiinãotardouarecompensá-los.concedeunovascartasdeforalecartasdefeiraaosconcelhosecriou,em1253,umaleidetabelamentodepreçosesalários.Foitambémoprimeiroreiadarassentoemreuniãodecortesaosdelegadosconcelhios.

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Asreuniõesdecorteseramumaespéciedeparlamentomedieval,noqualparticipavamrepresentantesdoclero,danobrezaedosconcelhos.Ascorteseramconvocadasquandooreibementendia,oumelhor,quandoprecisavadelas,eusava-assobretudoparapedirdinheiro(parapagarumaguerra,umcasamento,etc.)ou,umpoucomaistarde,parajurarumnovoherdeiroaotrono.nãoeram,evi-dentemente,democráticas,poisninguémeraeleito,masnelasoreiouviaasqueixasedecidiaoquesedeviafazer.

Curiosidade: Umadasrazõesparaoconflitoentreoreieaigrejafoioseuduplocasamento.d.Afonsoiiicasouem1253comd.Beatriz,filhadoreidecastela…maseraaindacasadocomd.Matilde!Abigamiaeraproibidapelaigreja,eoPapaviu-seobrigadoaintervir.Aquestãosóficouresolvidacomamorteded.Matilde,em1258.

Aocontráriodoqueseriaexpectáveldeumhomemquefoiele-vadoaotronopeloPapa,d.Afonsoiiinãotardouatécomeçaralimitarosprivilégiosda igreja emproldo seuprópriopoder.Oconflitoentreoreieosbisposportuguesesfoiintensoaolongodetodooreinadoefoiporpoucoqueomonarcanãomorreuexco-mungadopeloPapa.conseguiuoperdãoemjaneirode1279,ummêsantesdefalecer.

AexcomunhãoeraamaispoderosaarmasimbólicadoPapa.Aoexcomungarumrei,oPapacondenava-oaoinferno.Porisso,nãoadmiraquetantosreis,aopressentiremamorte,fizessemaspazescomoPapado,comofezd.Afonsoiii.eopoderdoPapaera,então,muitoimportante,poiseracapaz,comovimos,dedeporreis!

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D. Dinis (1279-1325)

Alçadoaotronoem1279,d.dinisprocurou,desdecedo,deixarumamarcapessoalnoreino,reorganizando-oporcompletoempra-ticamentetodasasáreas.em1289,comaassinaturadaconcorda-tadosQuarenta Artigos,d.dinispôsfimaoconflitoqueopunhaPortugalaoPapado.emboratenhamexistidofricçõescomocleroportuguês,d.dinisconseguiuváriasdecisõesfavoráveisporpartedoPapa.exemplodissofoiapermissão,concedidaem1319,paraatransferênciadosbensdaextintaOrdemdoTemploparaarecém--criada,eexclusivamenteportuguesa,Ordemdecristo.

d.dinispreocupou-seemconsolidaredefenderasfronteirasdorei-no,umavezquenãoaspodiaalargar.Asulnadamaishaviaaconquis-tare,aleste,castelaeraumvizinhodemasiadopoderoso.em1297,apósumacurtaguerracontracastela,foiassinadooTratadodeAlca-nizes,quegarantiuaestabilizaçãodetodaafronteiralestedoreino.

emtodoocaso,edeformaagarantiradefesadoreino,d.dinismandouconstruirourepararcentenasdecastelosportodooter-ritório,emparticularnasregiõesdefronteira.Tomouaindaoutrasdecisõesdecarizmilitar, comoacriaçãodosbesteirosdoconto,uma milícia de homens dos concelhos armados com bestas. Ouaindaacriaçãodeumamarinhadeguerra,paraprotegeracostae o comércio marítimo dos ataques dos piratas muçulmanos donortedeÁfricaedoreinodeGranada.

AassinaturadoTratadodeAlcanizespermitiuquePortugalpas-sasseaterumafronteiraestávelcomoseuúnicovizinho,castela.Aatualfronteiraportuguesasegueamesmalinhadafronteirade1297,comexceçãodaperdadeOlivença,noiníciodoséculoXiX.Assim,éumadasmaisantigasfronteirasdaeuropa.

Ocomandodamarinhadeguerrafoientregueaoalmirante.Ocargofoicriadoem1317econfiadoaManuelPessanha,umgenovêscomgrandeexperiêncianomar.Ocargo,comoacon-tecianaaltura,foisendopassadoaosseusherdeirosaolongodosséculos.

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Curiosidade: d.dinisnãoplantouopinhaldeLeiriaantevendojáqueaquelamadeiraserianecessáriaaosnaviosdosdescobrimentos.AindaquesejacertoqueexisteumpinhaljuntoaLeiria,nãoépossívelsaberquemomandouplantar.emborad.dinistenhacriadooalmirantadoeinstituído,formalmente,umamarinhadeguerra,nuncapensouemexpandirPortugalalémdaPenínsulaibérica.Foiantesoseufilho,d.AfonsoiV,quemprometeuaoPapaatacaronortedeÁfrica,sem,noentanto,algumavezoterfeito.Foitambémelequeenvioualgu-masembarcaçõesparaadescobertadasilhascanárias,nasdécadasde1330-1340.Sónoreinadoded.Joãoiseiniciariamosdescobrimentospropriamenteditos.

d.dinistambémsepreocupouemreforçarecentralizaropoderdacoroa.Porisso,paracombaterosabusosdanobrezaedoclero,lançouvárias inquiriçõesGerais, entre1283e1307.Tambémsepreocupou,desdeoiníciodoreinado,emacabarcomopoderded.Afonso,seuirmão,quetinhaconstruídoumpoderososenhorionoAltoAlentejo.Assim,o reiatacouo infanteem1281,1287e1299,acabandoporovencereobrigaraexilar-seemcastela.

Apolíticaseguidapeloreigerouumgrandedescontentamentoentreváriaspartesdanobreza,oqueacabouporconduziraumaguerracivil.estadurouentre1319e1324,eopôsoreiàsforçasdanobrezacomandadaspeloseufilhomaisvelho,oinfanted.Afonso.Aguerracorreumalad.dinis,quefoiobrigadoaadmitirader-rotaeafazerváriasconcessões.Morreupraticamenteisolado,emjaneirode1325.

D. Afonso IV (1325-1357)

Aocontráriodoqueseriaesperadodeuminfantequeserevol-toucontraumreicentralizador,d.AfonsoiVseguiudepertoospassosdopai.cedocomeçoua limitarospoderes senhoriaisdanobrezaqueantestinhaajudadoadefender.Atacouederrotouosirmãosbastardosqueselhetinhamopostoduranteaguerracivil,demonstrando,assim,quenãoqueriaterrivaisnoreino.

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criounovostiposdefuncionáriosrégiosparapoderexercerummaiorcontrolosobreosconcelhos:osjuízesdefora,representantesdajustiçadoreicommaisautoridadedoqueosjuízeslocais;eosve-readores,queintervinhamemassuntoseconómicosemnomedorei.Regulouaindaaaçãodoscorregedores,funcionáriosquecirculavampeloreinocorrigindo–daíonome–oserrosdajustiçalocal.Ocon-trolosobreoreinoiacrescendoe,em1334,d.AfonsoiVchegouaopontodeordenarquetodososdetentoresdeterrasnoreinoseapre-sentassemnacorte.Oreiqueria,destaforma,confirmaralegitimi-dadedasjurisdiçõesdetidaspelanobreza,cleroeOrdensMilitares.

Osfuncionáriosrégios–ouseja,quetrabalhavamparaorei–eramumadasferramentasmaisúteisdacoroa,poispermitiamaomonarcamantercontactocomtodooreino,numaépocaemqueascomunicaçõeseramfeitassobretudodebarcoouacavalo.

Aomesmotempoqueoreiaumentavaoseupoder,começavamasurgirnumerosossinaisdecriseeconómicaesocial.Osmotivosdacriseforam,desdeoreinadoded.dinis,osmausanosagrícolase,maistarde,aPestenegra(1348-1352).

em1340,d.AfonsoiVcomandouoexércitoportuguêsque,aolado dos exércitos castelhano e aragonês, derrotou um numerosoexércitomuçulmanonabatalhadoSalado,nosuldaAndaluzia.AaliançaentreosreinoscristãosfoipatrocinadapeloPapa,eacaboupor resultar na derrota da última invasão islâmica da Penínsulaibérica.d.AfonsoiVnãohesitoumesmoemaliar-seaoreidecaste-la,seugenro,comquemtinhaestadoemguerraentre1336e1339.

Curiosidade: d.AfonsoiVemitiuváriasleisparatentarcombaterosefeitosdacrisesocialeeconómica.nachamadaPragmáticade1340,eramesmoestabelecidoquempodiavestirosváriostiposdetecido.Paraorei,umaformademanterasociedadeemordemeragarantirquecadapessoausavaroupascondizentescomasuaposiçãosocial.Porisso,tecidoscomoasedasóerampermitidosànobreza.

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Foitambémduranteoreinadoded.AfonsoiVquesederamosprimeirospassos,aindahesitantes,naexpansãoportuguesa.Oreienviou,nasdécadasde1330e1340,váriasarmadasàsilhascaná-rias.OPapa,noentanto,nãoreconheceuad.AfonsoiVapossedasilhas.Apesardestesprimeirospassos,aexpansãoalém-marsóco-meçarianoreinadoded.Joãoi,comaconquistadeceuta,em1415.

no final do seu reinado, d. Afonso iV debateu-se com umaquestãoquecolocavaoreinoemrisco:arelaçãoentreo infanted.Pedroed.inêsdecastro.Afamíliadoscastro,quetantospro-blemas políticos dava ao rei de castela, tentava, assim, alcançarumaposiçãofavoráveljuntodofuturoreidePortugal.Percebendoaameaça,eapoiadopelanobreza,quetemia,numfuturopróximo,perderoscargosemfavordoscastro,d.AfonsoiVmandoumatard. inêsdecastro, em1355.Seguiu-sea revoltaded.Pedroqueculminounumaguerracivilcontraopai.

nofinaldoreinado,d.AfonsoiVviveuamesmasituaçãoqued.dinis:umaguerracivilcontraumfilhorebelde.noentanto,ospapéisinverteram-se.Agora,d.AfonsoiVeraopai,enãoofilho.UmadasmuitasironiasdaHistória.

D. Pedro I (1357-1367)

Assimquesubiuaotrono,d.Pedroiprocuroudeimediatovingar--sedosassassinosded.inêsdecastro,tendoconseguidomatardoisdostrêsresponsáveis.Amorteded.inêstinha,noentanto,impedidooscastrodeinfluenciaremapolíticaportuguesa.Aoquetudoindica,ocasalnuncachegouacasar,peloqueosfilhoseramtodosilegítimos.estepormenorseráimportantenofinaldoreinadoded.Fernando.

em10anosdereinado,d.Pedroipercorreutodooreinoepreo-cupou-sesobremaneiracomajustiçaeaformacomoeraaplicadanoterritório.contudo,nãoparecetertidoomesmodesejodealgunsdosreisqueoantecederam,desdelogoopaieoavô,derefrearoscom-portamentosdanobreza,peloquenãolançouquaisquerinquirições.

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Aindaassim,aaltanobrezatemia-o–maisnãofossepelavin-gança sangrenta que exerceu contra os assassinos de d. inês decastro–eoreino,nogeral,respeitava-oenquantorei.noentanto,a crise socialque teveorigemnasdificuldades económicas enaPestenegraaindasefaziasentircomintensidadenoreino.

enquantorei,d.Pedroisoubemanteraneutralidadeportugue-safaceaosconflitosinternoscastelhanos,embora,porváriasvezes,tenhasidochamadoaintervir.doseucasamentocomd.constan-çaManoel–ocorridoanosantesdoromancecomd.inêsdecastro–nasceuoúnicofilholegítimoeherdeiro,d.Fernando.entreosváriosfilhosilegítimoscontava-sed.João,feitoMestredaOrdemdeAvislogoaos7anosdeidade.eraofuturod.Joãoi.

D. Fernando (1367-1383)

d.Fernandobeneficiou, logono iníciodo reinado,daboa ad-ministração dos bens da coroa operada pelos antecessores, emparticulard.AfonsoiV(1325-1357)ed.Pedroi(1357-1367),quetinham deixado os cofres régios cheios de metais preciosos. noentanto,quandofaleceu,em1383,d.Fernandodeixouoreinomer-gulhadonumafortecriseeconómica,socialepolítico-militar.

As trêsguerrasquemantevecontracastela (1369-1371,1372--1373e1381-1382),conhecidascomoGuerras Fernandinas,deramorigemaumagrandedevastaçãoumpoucoportodooreino,jáqueestefoiváriasvezesatacadoeinvadido.Lisboachegoumesmoaseralvodeumapertadocercoem1373.

Curiosidade:Lisboaaguentouocercocastelhano,masboapartedacidadefoiincendiadaedestruída,precisamenteporseencontrarsituadaforadasantigasmuralhasmouras,asmesmasde1147.Adurezadocercodemonstrouqueeraprecisoprotegermelhoracidademaisimportantedoreino.Porisso,d.Fernandoordenouaconstruçãodeumagrandemuralhaemtornodacidade,achamadacercaFernandina,daqualaindahojeexistemvestígios.

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Apósofimdaúltimadasguerras,foiassinado,em1383,oTra-tadodeSalvaterradeMagos,queestabeleciaapazentrePortugalecastela,aocasarafilhaded.Fernando,d.Beatriz,comoreidecastela,d.Juani.estetratadocolocavaoreinoemperigodeper-deraindependência,poisd.Fernandonãotinhaumfilhohomemquelhepudessesucedernotrono.

Poucodepois,emoutubrode1383,d.Fernandofaleceu,eorei-nopassouasergovernadopelaviúva,d.LeonorTeles.Arainhaeraumamulherimpopularenãotardouatéqueserevoltassemcontraela.Anosantes,quandocasoucomd.Fernando,játinhamacon-tecidorevoltaspopularessemelhantes.Arevoltamaisimportante,ocorreuemLisboaem1383,eobrigoumesmoarainhaafugirparaSantarém,deondepediuajudaaogenro,oreiJuanidecastela.

D. João I (1385-1433)

emLisboa,olíderdarevoltapopularcedoserevelouserd.João,MestredaOrdemMilitardeAvisefilhobastardodoreid.Pedroi.Ao assassinar o conde Andeiro, um dos maiores apoiantes ded.LeonorTeleseseusupostoamante,oMestreobrigouarainhaafugir.Tomouentãoocontrolodacidadeepreparou-aparaocom-bate.durantetodooanode1384aguentouumdurocercoimpostopeloreidecastela.

nunoÁlvaresPereirafoi,aindaantesdocercodeLisboa,envia-doparasul,paradefenderafronteiraalentejana.erajáentãoumdosmaisimportantesapoiantesded.João.FoijuntoàviladeFron-teiraque,emabrilde1384,venceuabatalhadosAtoleiroscontraumexércitocastelhano.

OcercodeLisboaacabouporcorrermalaoreidecastela,queseviuobrigadoaretirardepoisdeoseuexércitotersidoatacadopelapeste.Apartirdeentão,d.Joãoed.nunoÁlvaresPereirainicia-ramumacampanhaparasubjugarasvilasecastelosqueapoiavamoreicastelhano,comoeraocasodeTorresVedras.

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em1383-1384,oMestredeAvisaindanãoeraapoiadoportodooreino.TinhaentãooapoiodecidadescomoLisboa,ÉvoraePorto,bemcomodeconcelhosmaispequenosdosul.noentanto,amaiorpartedonorteemuitadagrandenobrezanãooapoiava.Mesmojáenquantorei,d.Joãoicontinuavaanãoserobede-cido,porexemplo,noMinhoeemTrás-os-Montes.Foiprecisoandaremcampanhascontraestasregiõesdurantemuitosanosnodecorrerdadécadade1380.

noiníciode1385,tiveramlugarcortesemcoimbra.Foiapri-meiravezquenumareuniãodogénerofoieleitoumreidePortu-gal.OMestrefoiescolhidocomorei,epassouaserd.Joãoi.Asuacausadeveumuitoaoapoioarmadoded.nunoÁlvaresPereiraeaosargumentoslegaisdodoutorJoãodasRegras.

nessemesmoanode1385,oreidecastelacomandounovain-vasão contra Portugal, tendo entrado no reino a partir da Beira.PartedoseuexércitofoiderrotadoemTrancosopelosfidalgosbei-rões,masamaiorpartecontinuouaseguirparasul,rumoaLisboa.Onovorei,d.Joãoi,eoseunovocondestável,d.nunoÁlvaresPereira,decidiramsair-lheaocaminhonasproximidadesdeLeiria.deu-seentão,a14deagostode1385,abatalhadeAljubarrota.

Curiosidade: entreoscandidatosderrotadosnascortesdecoimbraencontravam-semaisdoisfilhosbastardosded.Pedro:umoutrod.Joãoed.dinis.eramambosfilhosded.inêsdecastro,aocon-tráriodoMestredeAvis.Maistarde,iriamapoiaroreidecastela.

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Apósavitória,d.Joãoipassouàofensiva,atacandooreinodecastelaparaobrigard.Juaniaassinarapaz.Foiaíque,juntoaBadajoz,emoutubrode1385,d.nunoÁlvaresPereiravenceuabatalhadeValverde.

AaliançaentrePortugaleainglaterrafoiestabelecidapeloTra-tadodeWindsor,em1386.noanoseguinte,d.Joãoicasoucomd. Filipa de Lencastre, prima do rei inglês. A partir de então,d.Joãoipôdecontarcomumapoioinglêsmaisfortequandotinhadeenfrentarcastela.

ApazdefinitivaentrePortugalecastelasófoialcançadacomaassinaturadoTratadodeMedinadelcampo,em1431.noentanto,depoisdachamadaPazdeAyllon,de1411,nãohouvemaiscom-batesentreosdoisreinos.Foiestetratadode1411quepermitiuad.Joãoiatacareconquistarceuta,dandoassimoprimeiropassodaexpansãoportuguesa.Quandofaleceu,em1433,d.Joãoidei-xouumreinomuitodiferentedaquelequetinharecebido.

2.AbatalhadeAljubarrota,14deagostode1385.

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nabatalhadeAljubarrota,d.Joãoinãolutouapenascontraoscastelhanos. do lado do rei de castela encontravam-se muitosportuguesesquenãoqueriamoMestredeAviscomorei.entreelesestavaumirmãoded.LeonorTelesedoisirmãosded.nunoÁlvaresPereira.Alémdisso,oreidecastelatambémcontavacomoapoiodetropasfrancesas,enquantod.Joãoitinhaoapoiodetropasinglesas.

D. Duarte (1433-1438)

d.duarteseguiu,emboamedida,otrabalhoiniciadopelopai.d.Joãoitinhasidoobrigado,noiníciodoreinado,adarmuitasdasterrasdacoroaànobreza,emtrocadeapoiomilitar.comaguerraachegaraofim,oreipassouatentarcomprardevoltaessasterras,emboraanobrezanãooquisesseaceitar.d.duartedeucontinui-dadeaesseprocesso,deformaafortalecer,umavezmais,oseuprópriopatrimónio.Paratal,instaurouaLei Mental,umaleiqueregiaaformacomoasterrasqueanobrezadetinhaemnomedoreipodiamserherdadas.

Curiosidade: ALei Mentalganhouestenomepor,aparentemente,terestadonamenteded.Joãoiantesdeseraplicadapord.duarte.estaleiditavaquequemdetinhaasterrasdadaspelacoroanãoaspodiadividirporváriosfilhos,vendê-lasouabandoná-las.estasterrassópodiamserdeixadasaumfilhohomemeprimogénito.casocontrário,osbensregressavamàcoroa.

Aindaenquantoinfante,d.duartetinhacomeçadoaauxiliaropainastarefasdegovernodoreino.d.Joãoi,nosseusderradeirosanosdevida,preferiacaçaraassinardocumentos.Porisso,quandochegouaotrono,d.duarteerajáumhomemmaduroeexperimen-tado.emborasótenhareinadodurantecincoanos,foielequemgovernouPortugalpraticamentesozinhoentre1411e1433.

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d.duartefoiaindaresponsávelpelacriaçãodeumasériedeou-trasleis,apelidadasdeOrdenações de D. Duarte,quefacilitavamaaplicaçãodajustiçaecontrolavamaaçãodosfuncionáriosrégios.essas leis seriam, mais tarde, ampliadas pelo filho, d.AfonsoV,comapublicaçãodasOrdenações Afonsinas.

O principal acontecimento do reinado de d. duarte foi a ex-pedição fracassadacontraTânger,ocorridaem1437,que iremosabordar no capítulo seguinte. diga-se, no entanto, que quandod.duartemorreu,em1438,vítimadepeste,muitosdosproblemascausadaspelaexpediçãoficaramporresolver.

D. Afonso V (1438-1481)

d.AfonsoVsubiuaotronoapósamorteinesperadadopai,oreid.duarte.Tiveramentãoiníciolutaspelogovernodorei-no,jáqueopequenoreitinhaapenas5anosdeidade.Amãe,d.LeonordeAragão,eotiopaterno,oinfanted.Pedro,lutarampelo poder entre 1438 e 1440. d. Pedro acabou por vencer, ed.Leonorexilou-seemcastela.d.Pedrogovernouoreinoemnomedosobrinhoaté1448,alturaemqueorei,maiordeidadedesde1446,afastouoinfantedacorte.Oexíliodeveu-seàsin-trigasurdidaspelosrivaisded.Pedro.

Oinfanteeraacusadodeserdemasiadoambicioso.comopro-va,eraapresentadoofactodetercasadoafilha,d.isabel,comojovemrei.d.PedroacaboupormorrernabatalhadeAlfarrobeira,em1449.combateucontraasforçasdorei,queentãoeraapoiadopelosrivaisdoinfante,comod.Afonso,filhobastardoded.JoãoieprimeiroduquedeBragança.

duranteosprimeirosanosdoseureinadoautónomo,apartirde1449,d.AfonsoVperseguiuosapoiantesdotioesogro,d.Pedro.iriaperdoá-losanosmaistarde,masatéessemomentotirou-lhesosbensedeu-osaantigosapoiantesdasuamãe,d.Leonor,que,entretanto, tinhafalecidonoexílio,emcastela.Oreirecusou-se,noentanto,aafastararainha,oqueerapedidoporantigosrivaisded.Pedro.disabelacabariaporfalecerem1455,apósdaràluzoprínciped.João,futurod.Joãoii.

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d.AfonsoVfoiumreiqueteveinteressenosdescobrimentos.Apoiou sempre as atividades do infante d. Henrique e, quandoestemorreu,em1460,assumiuocontrolodanavegaçãonacostaocidentalafricana.Tambémteveinteressenalutacontraosmuçul-manosemMarrocos.Porisso,em1458conquistouAlcácerceguere,em1471,ArzilaeTânger.Pelomeioficavaumacampanhafra-cassadacontraTânger,em1463-1464.

nadécadade1450,d.AfonsoVcomeçouaganharinteressenotronodecastela.Assim,aolongodosanosseguintes,foiangarian-doapoiosparasepodertornarreidecastelaePortugalemsimultâ-neo.em1475,casoucomd.Joana,filhadofalecidoreiHenriqueiVdecastela,e reclamouparasiacoroadaquelereino.entrouemguerracontrad.isabeldecastela,meia-irmãdofalecidorei,eoseumarido,d.FernandodeAragão.Aguerranãocorreubeme,em1479,noTratadodasAlcáçovas-Toledo,d.AfonsoVdesistiudotronocastelhano.Faleceuem1481,desapontadopeloinsucesso.

economia e Sociedade

A Igreja Medieval

AindaantesdaquedadoimpérioRomanodoOcidente,ocorridaem476, tinham-seestabelecidováriosreinosgermânicospagãosnaeuropaOcidental.naHispâniaestabeleceram-se,comovimosnocapítuloanterior,osreinosdosSuevosedosVisigodos.

Aigreja,comoPapaàcabeça,conseguiusobreviveràquedadoimpérioRomanodoOcidente.Foimesmoaúnicainstituiçãoque,aosobreviver,conseguiupreservarelementosdaculturaromana,comooLatimouodireitoRomano.Foiaigrejaquecomeçouacristianizarosnovosreinosgermânicos.comovimosantes,oreivisigodo,Recaredo,converteu-se,em589,aocristianismo.

duranteséculos,osclérigosdesempenharamumduplopapel.Porumlado,sóelespodiamgarantiraoSerHumanoasalvaçãoda

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almanumperíodoemqueamorteestavamuitomaispresentedoquehoje.Podiaocorreraqualquermomentoeaconteceraqual-querum,particularmenteàscrianças.

Poroutrolado,osclérigoseramosúnicosquesabiamlerees-crever,e,portanto,tornavam-semuitoúteisparaosreis,quepre-cisavamdegovernarreinoscadavezmaioresemaiscomplexos.Reiscomod.Afonsoii(1211-1223)nuncapoderiamterlançadoasinquiriçõesGeraissenãotivessemfuncionáriosquelessem,escre-vessemeconhecessemalei,ouseja,odireitoRomano.

OpoderdoPapaedaigrejafoimuitoimportanteaolongodaidadeMédia,eajudouamoldaravidadoseuropeus.comovimosantes,opoderdoPapaeratalquepodiadeporreisqueofendiamosbensdaigreja.Foioqueaconteceuad.Sanchoii(1223-1248).

uma sociedade de ordens

AsociedademedievaleuropeiaeraumasociedadedeOrdens,ouseja,cadaindivíduoeracolocadonumgruposocialcomfunçõeseestatutosdiferentes.Aotodo,existiamtrêsOrdensqueseorgani-zavamemformadepirâmide:

no topoficavamosoradores,ou seja,o clero, cuja funçãoerarezarparagarantiraproteçãodivinaparatodos.nomeio,osguer-reiros,portanto,anobreza,quedeviadefenderosclérigoseostra-balhadores.nabase,ostrabalhadores,comummenteapelidadosdepovo,quedeviamalimentaresustentarosclérigoseosnobrescomoseutrabalho.

este era o modelo teórico que deveria guiar toda a sociedademedievale,comosepodeperceber,eraummodeloidealizadoquenunca correspondeu totalmente à realidade. em Portugal, o reid. duarte (1433-1438) escreveu sobre este assunto, aumentandoonúmerodeordensparaintegrarosgruposqueficavamdefora,comoosmercadores,equeeramtãoimportantesparaofunciona-mentodasociedade.

Aindaquedesajustadodarealidade,omodelodastrêsOrdensduroumuitotempo,mesmoparaalémdaidadeMédia,sósendodefinitivamentepostodeparteapósaRevoluçãoFrancesa.novér-

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ticedapirâmideencontrava-seorei,elemesmoorigináriodano-breza,cujosprincipaisdevereseramgarantiradefesadossúbditoseadministrarajustiça,deformaamanterapazsocialnoreino.

Curiosidade: OmodelodasTrêsOrdensfoi,inicialmente,divulgadoemLatim,alínguaeruditadaidadeMédia.emLatimasTrêsOrdenssão,respetivamente:oratores(oradores),bellatores(guerreiros)elaboratores(trabalhadores).

Aascensãosocialexistia,masnãoeramuitocomum.Umcam-ponêsricopodiaserarmadocavaleiroseservisseoreinaguerracomhomensoulheemprestassedinheiro.Masnãopoderiasubirmuitomais.Poroutrolado,pormuitopobrequeumfidalgofosse,nunca deixaria de ser fidalgo, pois assim tinha nascido e assimmorreria.

Fome, peste e guerra – o século XIV

OsséculosXiaXiiiforamumperíodoemqueapopulaçãoeu-ropeiacresceuconsideravelmente,frutodoaumentodaproduçãoagrícola. costuma-se chamar a este período o renascimento dascidades,poisoscentrosurbanostornaram-semaispopulosos,ricose,consequentemente,maisimportantes.

Faceaestesséculosdecrescimento,oséculoXiVaparececomoumperíododegravescrises,portersidoassoladoporfomes,guer-rasepestes.Amáimagemquehojeemdiaimperasobreos1000anosdeidadeMédia(c.500-c.1500)deve-se,emgrandeparte,aoséculoXiV.

Logonasprimeirasdécadasdesteséculo,asalteraçõesclimáti-cas,emparticularoarrefecimentodastemperaturas,provocaramumasériedemausanosagrícolasumpoucoportodaaeuropa.Opãoera,então,abasedaalimentação,eumaescassezdecereaisconduzia,inevitavelmente,àfome.

nessemesmoperíodo,váriosreinoseuropeusenvolveram-seemsangrentosconflitosmilitares.inglaterraeFrançaderaminícioà

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Guerrados100Anos (1337-1453)e,mais tarde,arrastariamPor-tugalecastelaparaoconflito.naPenínsulaibérica,Portugalen-frentounãosóguerrascivis(em1319-1324e1355),comotambémse envolveu em conflitos contra castela (1336-1339; 1369-1371;1372-1373;1381-1382e1383-1431).Aguerraprovocava,natural-mente,grandedestruição:morriamhomens–e,emmuitoscasos,tambémmulheresecrianças–,arruinavam-secamposcultivadoseroubavam-sebens.

APestenegraassolouaeuropaentre1347e1352.chegouaPortugalem1348e,talcomonorestantecontinenteeuropeu,apa-nhouoshabitantesenfraquecidospelafomeepelaguerra.APestenegra foivistadesdeo iníciocomoumcastigodivino,poisnãohaviaformadeacombater.

Portodaaeuropaterãomorridomilhõesdepessoas,emborasejaimpossívelsabernúmeroscertos.Sabe-se,noentanto,quesónoiní-ciodoséculoXViapopulaçãoportuguesaalcançouosvaloresquetinhaantesdachegadadaPestenegra,emmeadosdoséculoXiV.

Curiosidade: Amortedemilhõesdepessoasdevidoàsmaisvaria-dascausasgerouumaescassezdemãodeobraqueacabouporfavo-recerosmaispobres.istoporqueapartirdeentãopuderamexigirmelhoressalários,porexistiremmaiscamposparacultivardoquepessoasparaostrabalhar.Muitasdestasexigênciaseramdemasiadoelevadasparaserempermitidaspelosreis(chegouahaverpastoresquepassaramacobrar10vezesmaisparapastaranimais!).Porisso,monarcascomod.AfonsoiVlegislaramnosentidoderestabeleceraordemsocial,emboracomefeitosmuitolimitados.

o crescimento urbano – lisboa

em1147,quandod.AfonsoHenriquesconquistouLisboa,aci-dadeerajáumimportantecentrourbano.AtéaoiníciodoséculoXiii,acidadenãoterácontadocommaisdoque10milhabitantes.noentanto,nofinaldoséculoXiV,naalturaemqueelevoud.João,MestredeAvis,aregedoredefensordoreino,contariajácomcerca

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de35mil,sendo,semdúvidaalguma,acidademaisimportante.estesnúmerossãoparticularmentesignificativosquandocompa-radoscomapopulaçãodoPorto,que,emtornodoano1400,nãopassariaos4milhabitantes.Lisboafoi,portanto,umexemplocla-rodorenascimentodascidadesqueantesreferimos.

duranteaidadeMédia,acorteeraitinerante,ouseja,oreiper-corriaoreinocomafamíliaeoseuséquitodecavaleiroseservi-dores.istosignificavaalgoque,paranós,éestranho:umacapitalmóvel.Acapitaléondeoreiestá,sejaemLisboa,sejanumapeque-níssimaaldeiaperdidanosmontes.

Aindaassim,osreistiveramsemprealgumascidadesondepas-savammaistempo,comoLisboa,SantarémeÉvora.Aitinerânciada corte devia-se, em grande parte, às dificuldades de abastecercomalimentosumgrandenúmerodepessoas.Ouseja,eramuitodifícil,numasociedadecomumaagriculturapoucoprodutiva,ali-mentarumgrandenúmerodepessoasnumasóregião.TambémporissoosreiscomeçaramapreferirLisboaque,porestarjuntoaoTejo,eramaisfácildeabastecerporviamarítima.

Também o comércio internacional ajudou Lisboa a crescer. AsligaçõesentreoMediterrâneoeonortedaeuropa,feitaspormar,tinham um porto de escala obrigatório em Lisboa. isto tornava acidadeumimportantepoloparamercadoresebanqueiros,sobretudoitalianos.Maistarde,jáduranteaidadeModerna,Lisboaviriaaserumadasmaioresemaisimportantescidadesdomundo,mantendocontactosporviamarítimacomaeuropa,África,ÁsiaeAméricas.

Cultura e Artes

Castelos e igrejas – do românico ao Gótico

ORomânicofoiumestiloartísticoqueseespalhoupelaeuropanosséculosXiaXiii.ASédeLisboafoi,nasuaorigem,umacons-truçãoromânica,tendo,noentanto,sidosujeitaaintervençõespos-

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teriores.ORomânicofoiumestilocaracterizadoporconstruçõesde dimensões modestas e poucos complexas, sobretudo quandocomparadascomedificaçõesdeperíodosposteriores.

Os primeiros castelos de pedra começaram a surgir por voltadoséculoXii,portanto,emplenoperíododearteromânica.eramconstruçõesdepedrasimples,commuralhasgrossasealtas,eumpequenonúmerodetorres.Atorredemenagem–amaisaltaeforte–eraopontomaisimportantedocastelo,poraíhabitaroseusenhoroualcaide.

OGótico,estiloartísticooriundodonortedaeuropa,chegouaPortugalalguresemmeadosdoséculoXiii.AutilizaçãodoGóticomarcouaconstruçãodosedifícios,essencialmente,atéaofinaldoséculo XV, altura em que foi introduzido o estilo Gótico Tardio,comummente apelidado de Manuelino, que abordaremos maisadiante.

Aindahojeexistem,espalhadosportodooPaís,casteloseigre-jasdeestiloGótico.Osclaustroseasnavesdegrandesdimensões,bemcomoosarcobotantes(suportesparaaguentarparedesmuitoaltas),sãoalgunsdoselementosmaisvisíveisdesteestiloarquite-tónico.OsdoismonumentosmaisimponentesdoGóticoemPor-tugalsãoosmosteirosdeAlcobaçaedaBatalha.

3.OmosteirodeSantaMariadaVitória,naBatalha.

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AintroduçãodoGóticoemPortugaltambémoperouevoluçõesnoscastelos, sobretudonoreinadoded.dinis (este reimandourenovar57castelos!).Onúmerodetorresaolongodasmuralhasaumentou,eforammesmocolocadostorreõesemzonasmaisfrá-geis, como juntoàsportas (conformesepodevernocastelodeGuimarães).

Curiosidade: dentrodaSédeLisboaaindahojepodever-searica-mentedecoradaarcatumularemestilogóticodeLopoFernandesPacheco,umfidalgodegrandeimportâncianoreinadoded.AfonsoiV(1325-1357).Otúmuloencontra-secompletocomumaestátuajacentedocavaleiroquealiseencontrasepultadocomamãonaespadaeumcãoaseuspés.

o português como língua escrita

Alínguafoi-sedesenvolvendoapardoreino,tornando-seoPor-tuguêsumelementoimportanteparaacriaçãodeumaidentidadenacional,numprocessoqueteveinícionaidadeMédia,masquedurouváriosséculosatéseconsolidar.

OGalaico-Portuguêsfoiaprimeiraformadessalíngua.debaseslatinas, teveorigemnonoroestedaPenínsula ibérica,na regiãoqueenglobaaGalizaeonortedePortugal,masdesdecedoad-quiriueadaptoupalavrasdeorigemárabe.Omaisantigodocu-mentonão-literárioescritoemGalaico-Portuguêsquechegouatéaopresentefoiotestamentoded.Afonsoii,datadode1214.Jáera,noentanto,umalínguafaladaemesmoutilizadanocontextoda composição literária desde finais do século Xii, sendo dissoexemploascantigasdeamigoedeamorouascantigasdeescárnioemaldizer.

comd.dinis(1279-1325),oPortuguêstornou-sea língua“ofi-cial”dosdocumentosescritoseexpedidosapartirdachancelariarégia,substituindooLatim.Achancelariarégiaeraoorganismoqueacompanhavaempermanênciaoreiequepassavaaescritotodoogénerodiplomase leis.Seo reifizesseadoaçãodeuma

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terra aumnobre, essadoação era feitapor escrito, redigindo-seumdocumentoqueocomprovava.Odocumentoerafeitoemdu-plicado,sendoumacópiaenviadaaonobreeficandooutraparaorei,paraqueestepudessesempresaberaquemtinhadadooquê.

TambémacriaçãodaprimeiraformadeuniversidadeemPortu-gal,oestudoGeral,foi,simultaneamente,causaeconsequênciadoaumentodaimportânciadalínguaportuguesa.

Ao longo do século XiV surgiram novas formas de utilizaçãodalínguaportuguesa,desdelogonaescritadelivrosdelinhagens,comoocélebreLivro de Linhagens do Conde D. Pedro.Umlivrodelinhagenséumdocumentoondeseincluempequenashistóriasso-breaorigemedesenvolvimentodasváriasfamíliasnobresdorei-no.Podemserhistóriasverídicasoulendaspuramenteficcionadas,masopropósitoéomesmo:dignificaredemonstraraimportânciadanobrezaparaaconstruçãodoreino,sobretudonoquedizres-peitoàguerracontraosMourosque,comovimos,eraaprincipalatribuiçãodanobreza.

As crónicas de reis e os romances de cavalaria

Ascrónicasdosreissurgiramcomoumaferramentaparacriarumaimagemquaseperfeitadosreis.Tinham,portanto,umafun-çãosemelhanteàdoslivrosdelinhagensdanobreza.Ascrónicasdeviamserregistosdosacontecimentosocorridosduranteumde-terminadoespaçodetempo,geralmenteoreinadodeumreiespe-cífico.istoéoquesucede,porexemplo,comaCrónica de D. João I,deFernãoLopes.Aindaqueascrónicasfossem,emmuitoscasos,idealizadas,são,porvezes,aúnicafonteparaoestudodecertasépocas.

OséculoXVconstituiuoaugedacrónicarégiaportuguesa,em-borajánoséculoXiVtivessemsidoescritascrónicas,comoaCró-nica Geral de Espanha de 1344(nesteperíodo,espanhareferia-seatodooespaçogeográficodaPenínsulaibérica,enãoaoreinodeespanhaque,naaltura,aindanãoexistia).FoinoséculoXVquesecriouumnovotipodefuncionáriorégio:ocronista-mordoreino,quetinhaporfunçãoaescritadascrónicasdereis.

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Curiosidade: Aprimeiracrónicasobreoreinadoded.AfonsoHen-riques(1139-1185)sófoiescritaem1419,portanto,maisdedoisséculosdepoisdamortedorei.Ascrónicasforamquasesempreescritasmuitotempoapósamortedosreiscujosreinadosaborda-vame,porisso,asinformaçõesquedivulgamsão,emmuitoscasos,duvidosas.Aindaassim,são,namaioriadasvezes,asúnicasfontesdequeoshistoriadoresdispõemparaoestudodecertosperíodos.

Ascrónicasforam,desdeoinício,utilizadasparaeducaranobre-za.istoporqueseesperavaqueaoleremououviremlerosexem-plosdosheróisdopassado,os jovensnobres sentissemvontadedeosimitare,assim,seremmaisleaisaoreioumaiscorajososembatalha.A leitura era ainda uma atividade coletiva: na corte, aoserão,alguémliaenquantodezenasdepessoasouviam.

Tambémos romancesde cavalaria, comoasobras sobreo reiArtureaTávolaRedonda,estiveramemvogaentreanobrezanosséculosXiVeXV.Ojovemd.nunoÁlvaresPereiraleuessesro-manceseambicionoumesmoserumheróicasto,comofora,nalenda,Galahad,umdoscavaleirosdaTávolaRedonda.

A cultura dos príncipes de Avis

comovimos,adinastiadeAviscomeçoucomd.Joãoi(1385--1433),umreique,aolongodavida,demonstrouserculto(foiedu-cadopelaOrdemdeAvis)einteligente,tendochegadoacomporumlivrosobrecaça,oLivro da Montaria.

Oseusucessor,oreid.duarte(1433-1438),teveaindamaisin-teressepelacultura.Tinhaumabibliotecapessoalcommaisde80livros(umnúmeromuitoelevadoparaumaépocaemqueoslivroseram muitos caros e raros). d. duarte escreveu dois livros, algomuitopoucocomumparaumrei.

noLeal Conselheiro,oreid.duarteensinavaoshomensdacorteaseremvirtuososecuidados.escreveuolivroapedidodarainha,suaesposa,tendo-lhededicadoaobra,utilizandovárioselementosquerecolheunumlivrodeapontamentosquetransportavasem-

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preconsigo.JánoLivro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela,d.duartepropôs-seaensinarànobrezaosmelhorestruquesparamontareandaracavalo,bemcomoacombatercomarmasemtor-neiosejustas.Amortelevou-oantesdeterminaresteúltimolivro.

Curiosidade: Olivrodeapontamentosded.duartecontinhaassun-tostãovariadoscomomezinhasparaváriasdoenças,asmedidasinterioresdasváriassalasdopaçodaviladeSintraouaindaumarezaparaexpulsarodemóniodocorpodealguém.

Outrosfilhosded.Joãoied.FilipadeLencastretambémde-monstraram qualidades literárias. O infante d. Pedro, duque decoimbra e regente do rei d. AfonsoV, escreveu um livro sobrevirtudes,oTratado da Virtuosa Benfeitoria,alémdetertraduzidoalgumasobrasdoLatim.

Jád.Joãoed.isabeldemonstrarambastanteerudiçãoemalgu-masdassuascartaspessoais.Osmenosbrilhantesaestenívelte-rãosidoosinfantesd.Henriqueed.Fernando,quenãodeixaramescritoalgoquepossaserconsideradoinovadorousequererudito.d. Henrique demonstraria qualidades noutras áreas, como vere-mosnopróximocapítulo,ed.Fernandoacabariaporfalecerpre-maturamentenocativeiro.

Cronologia

Data Acontecimentos

1109 Anoprováveldonascimentoded.AfonsoHenriques.

1112 Mortedoconded.Henrique.

1128 BatalhadeS.Mamede.d.AfonsoHenriquesexerceopoderautonomamente.

1131 d.AfonsoHenriquesescolhecoimbracomoprincipalcentrodeoperações.

1135 AfonsoViideLeãoecastelaintitula-seimperadordaHispânia.

1139 BatalhadeOurique.d.AfonsoHenriquesintitula-serei.

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1143 TratadodeZamora.d.AfonsoHenriquescoloca-sesobautori-dadedoPapaeéreconhecidocomoreiporAfonsoVii.

1147 d.AfonsoHenriquesconquistaSantarém,Lisboa,AlmadaeSintra.

1153 FundaçãodaabadiadeAlcobaçapelosmongesdaOrdemdecister.

1160 doaçãodeváriaspovoaçõesacolonosfrancos.

1165 conquistadeÉvoraporGeraldo,oSemPavor.

1169 desastredeBadajoz.d.AfonsoHenriqueséferidoepresoporFernandoiideLeão.

1179 Bula Manifestis Probatum.Reconhecimentopapalded.AfonsoHenriquesenquantoreidePortugal.

1184 OsAlmóadasconquistamosterritóriosasuldoTejo,comexce-çãodeÉvora.

1185 Morteded.AfonsoHenriquesesubidaaotronoded.Sanchoi.

1189 conquistadeSilvescomoauxíliodeumaarmadadecruzados.

1190-1191 novaofensivaalmóada.PerdadeSilvesecercodeTomar.

1208-1210 conflitosded.SanchoicomosbisposdoPortoedecoimbra.

1211 Morteded.Sanchoiesubidaaotronoded.Afonsoii.iníciodoconflitocomasirmãs.

1217 conquistadefinitivadeAlcácerdoSal.

1220 PrimeirasinquiriçõesGerais.conflitocomoarcebispodeBraga.

1223 Morteded.Afonsoiiesubidaaotronoded.Sanchoii.

1226 Falhaaconquistadeelvas.

1229 OcupaçãodeelvasedaJuromenha.Anoprováveldapartidadoinfanted.AfonsoparaFrança.

1232 conquistadeSerpaeMoura.

1237-1238 conflitosentreoreieosbisposdaGuardaedoPortoeoarce-bispodeBraga.

1242 conquistadeAlvor,PaderneeTavira.

1245 d.Sanchoiiéconsideradoreiinútil(rex inutilis)peloPapaedeposto.JuramentodeParisdoinfanted.Afonso.

1246 iníciodaguerracivilcontraospartidáriosdoinfanted.Afonso.

1247 intervençãocastelhananaguerracivilaoladoded.Sanchoii.d.Sanchoiiparteparaoexílio.

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1248 d.SanchoiimorreemToledo.Oinfanted.Afonsopassaaseroreid.Afonsoiii.

1249 FimdaReconquistaportuguesacomaconquistadeAlbufeira,Faro,PorcheseSilves.

1250-1251 GuerracomcastelapelapossedoAlgarve.

1253 casamentoded.Afonsoiiicomd.Beatriz,filhadeAfonsoXdecastela.iníciodabigamiadorei.

1267 TratadodeBadajoz.castelarenunciaàpossedoAlgarve.

1272-1275 cartasdeprivilégioconcedidasafeiras.

1273 cortesdeSantarém.Tenta-searesoluçãodosconflitosdoreicomoclero.

1279 d.AfonsoiiijurasubmissãoaoPapadoeé-lhelevantadaaexco-munhão.Morrepoucodepoisesucede-lhed.dinis.

1281 Primeiroconflitoarmadoentred.diniseoseuirmão,oinfanted.Afonso.

1284 LançamentodeinquiriçõesGerais.

1285 Protestosdanobrezacontraasinquirições.

1286 Proibiçãorégiadacompradebensderaizporpartedaigreja.

1287 novoconflitoentreoreid.diniseoinfanted.Afonso,seuirmão.

1293 criaçãodeumabolsademercadoreselivrecomércioentrePor-tugaleainglaterra.

1297 TratadodeAlcanizes.estabilizaçãodafronteiracomcastela.

1308 Tratadodecomérciocominglaterra.

1317 OgenovêsManuelPessanhaénomeadoalmirantedafrotareal.

1319 criaçãodaOrdemdecristocomosbensdaextintaOrdemdoTemplo.

1319-1324 Guerracivilentred.diniseofilhod.Afonso,futurod.AfonsoiV.

1325 Morteded.dinisesubidaaotronoded.AfonsoiV.

1327-1331 instituiçãodosjuízesdefora.

1335 inquiriçõesGeraisemTrás-os-Montes.

1336-1339 Guerracontracastela.

1340 BatalhadoSaladocontraumainvasãodosMerínidasislâmicosnosuldaAndaluzia

1343 inquiriçõesementredouroeMinho.

1348-1349 PestenegraemPortugal.

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1349 d.AfonsoiVcrialegislaçãoparacombateracrisesocialiniciadapelaPeste.

1355 execuçãoded.inêsdecastroeguerracivilentreoreieoinfanted.Pedro.

1357 Morteded.AfonsoiVesubidaaotronoded.Pedroi.

1364 d.Pedroicolocad.João,seufilhobastardo,comoMestredaOrdemdeAvis.

1367 Morteded.Pedroiesubidaaotronoded.Fernandoi.

1369-1371 PrimeiraGuerraFernandina.

1372-1373 SegundaGuerraFernandina.cercodeLisboade1373.

1373-1375 RevoltaspopularesemváriasregiõesdePortugal.

1381-1382 TerceiraeúltimaGuerraFernandina.

1383 TratadodeSalvaterradeMagos.Morteded.Fernando.Regênciaded.LeonorTeles.d.João,MestredeAvis,aclamadoRegedoredefensordoreino.invasãodePortugalpelasforçasded.Juanidecastela.

1384 cercodeLisboa.BatalhadosAtoleiros.

1385 Ascortesdecoimbraelegemcomoreid.João,MestredeAvis.BatalhasdeTrancoso,AljubarrotaeValverde.

1386 TratadodeWindsoreiníciodaaliançaanglo-portuguesa.

1387 casamentoded.Joãoicomd.FilipadeLencastre.

1393 Tréguascomcastela.

1396-1402 novorecrudescerdaguerracomcastela.

1411 AssinaturadaPazdeAyllon.

1415 conquistadeceutaeiníciodaexpansãoportuguesa.criaçãodotítulodeduque,atribuídoaosinfantesd.Pedroed.Henrique.

1433 Morteded.Joãoiesubidaaotronoded.duarte.

1434 PromulgaçãodaLeiMental.

1437 FracassaatentativadeconquistarTânger.

1438 Mortedoreid.duarteesubidaao tronodoaindamenord.AfonsoV.

1438-1440 Lutapelaregênciaentrearainhad.Leonoreoinfanted.Pedro.

1439-1448 Regênciadoinfanted.Pedro.

1445 Mortedarainhad.Leonornoexílioemcastela.

1448 d.Pedroafastadodacorte.

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1449 Mortedoinfanted.PedronabatalhadeAlfarrobeira.

1455 nascimentodofuturod.Joãoii.Mortedarainhad.isabel,esposaded.AfonsoV.

1458 conquistadeAlcácerceguer,emMarrocos.

1460 Mortedoinfanted.Henrique.d.AfonsoVocupa-sedaexplo-raçãodacostaocidentaldeÁfrica.

1463-1464 campanhafracassadacontraTânger,emMarrocos.

1471 conquistadeArzilaeocupaçãodeTânger.

1475 casamentoded.AfonsoVcomd.Joana,filhadofalecidod.HenriqueiV,reidecastela.

1475-1479 Guerrapelotronodecastela.

1479 TratadodasAlcáçovas.d.AfonsoVrenunciaaotronocastelhano.

1481 Morteded.AfonsoV.Subidaaotronoded.Joãoii.

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III

PortuGAl no IníCIo DA MoDernIDADe

(SÉCuloS XV-XVI)

Política e Guerra

A conquista de Ceuta (1415) e a expansão portuguesa em Marrocos

ApresençaportuguesaemMarrocosdurou354anos. iniciou--secomaconquistadeceuta,em1415,eterminoucomaentregadeMazagãoaoreideMarrocos,em1769.Operíododeexpansãodessapresençaocorreunosprimeiros100anos,entre1415e1515.Apartirdaí,eaté1541,sucede-seumperíodoemqueapresençanaregiãoestabiliza,semganhos,mastambémsemperdas.Masapartirde1541,comaperdadocastelodeSantacruzdocabodeGué,abre-seumanovafase,naqualaposiçãoportuguesaéquaseexclusivamentedefensivaeasderrotastornam-semaisfrequentes.

Aconquistadeceutamarcouoprimeiropassodaexpansãopor-tuguesa.d.Joãoi(1385-1433),apósaassinaturadaPazdeAylloncomcastela(1411),começouapensaremnovasconquistas.Por-tugalnãotinhamaisporondeseexpandirnaPenínsulaibérica,eerademasiadoperigoso afrontaropoderosovizinho castelhano.Porisso,aexpansãovirou-separaonortedeÁfrica.A23deagostode1415foiconquistadaceuta,umacidadericaecomumaposiçãoestratégicavantajosa,poiscontrolavaanavegaçãonoestreitodeGibraltar.Assim,podiafacilitarocomércioentrecristãoseimpos-sibilitarocomércioislâmico.

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Apreparaçãodaarmadadeceutafoiumsegredobemguardadopelo rei e seus conselheiros durante vários anos. Só quando aarmadajáestavaacaminhodacidadeéqued.Joãoirevelouàstropasodestinodaexpedição.OreichegouaopontodefingirqueiaatacarocondedaHolanda,sóparaqueosespiõesinimigosnãosoubessemqualoverdadeiroalvodaarmada!

nosreinadosseguintes,commaioroumenorhesitação,aexpan-sãoprosseguiu.em1437,noreinadoded.duarte(1433-1438),foilançadaumasegundaarmada,comandadapelosinfantesd.Hen-riqueed.Fernando,irmãosdoreiefilhosded.Joãoi.OalvofoiTânger,outracidadericaetambémsituadanoestreitodeGibral-tar.Aexpediçãofracassoueoinfanted.Fernandoficoucativodosmuçulmanos.Acabariaporfalecernocativeiro,em1443,semquetenhasidopossívelresgatá-lo.

d.AfonsoV(1438-1481)foioreidoséculoXVmaisdedicadoàexpansãoemMarrocos,tendolideradopessoalmentetrêscampa-nhas:em1458conquistouAlcácerceguere,em1471,conquistouArzila eTânger. Pelo meio, em 1463-1464, ficou uma campanha

4.Aconquistadeceuta,em1415.

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malsucedidacontraTânger.Quandooseureinadoterminou,em1481, Portugal controlava uma estreita faixa costeira no nortedeÁfrica,ochamadoAlgarved’Além-MaremÁfrica.Osucessor,d. João ii (1481-1495), apenasporumavez tentou intervirdire-tamente em Marrocos. em 1489, ordenou a construção de umafortaleza,aquechamouGraciosa,asuldeArzila.estatevedeserabandonadalogoapósaconstrução,devidoaumpoderosoataquedoexércitodosultãodeFez.

Curiosidade: AolongodosséculosXVeXVi,tornou-secomumanobreza,eemparticularosmaisjovens,iremaMarrocoscombater.AlutacontraosMuçulmanoseravistacomoumdeverdoscristãos,eaindamaisdanobreza,poisaqueladeviamanterasarmassempreprontasparaocombate.Porisso,nãoadmiraqued.Joãoisetenhafeitoacompanharpelosfilhosmaisvelhos–d.duarte,d.Pedroed.Henrique–noataqueaceuta,em1415.

comd.Manueli(1495-1521),apresençaportuguesaemMarro-cosestendeu-seatéaolimitemáximo.conquistaram-sevilas,comoSafim (1508) e Azamor (1513), e construíram-se fortalezas, comoMazagão (1514). no entanto, também houve alguns desaires. em1515,foienviadaumaexpediçãoparaconstruirumafortalezajuntoaorioMamora.Aarmadafoiatacadaporumexércitomuçulmanoeafortalezafoievacuada,tendo,noprocesso,morridomilharesdeportugueses.Foiamaiorderrotadoreinadoded.ManueliemarcouofimdaexpansãoportuguesanonortedeÁfrica.

Operíododerecuodapresençaportuguesanaregiãoiniciou-seno reinadoded. João iii (1521-1557).Hámuitoqueo rei tinhadecididoqueoesforçofinanceiroparamanterumafortepresençaemMarrocosnãovaliaapena.Paraacoroa,apresençanaÍndiaeacolonizaçãodoBrasileramprioridades.Porisso,aolongodadéca-dade1540foramabandonadasaspraçasmaisdifíceisdedefenderemantidasapenasasmaisimportantes:ceuta,TângereMazagão.

d.Sebastião (1557-1578)voltariaa tentarumanovaexpansãoemMarrocos,massemsucesso.Ostemposeramoutrose,nabata-

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lhadeAlcácerQuibir(1578),oreidesapareceu,pondo,assim,fimàtentativa.

As três praças restantes manter-se-iam em mãos portuguesasdurantemaisalgumtempo.em1640,aquandodaRestauraçãodaindependência, ceuta decidiu permanecer fiel aos reis Habsbur-go.Aindahojeéumacidadeespanhola.JáTângerfoientregueainglaterraem1662, comopartedodotedaprincesad.catarinadeBragança.Mazagão,aúltimafortaleza,foientregueaoreinodeMarrocosem1769.

As navegações atlânticas – do infante D. Henrique a D. João II

numaprimeira fase, asnavegaçõesportuguesas encontraram--se ligadas ao processo de expansão em Marrocos. O infanted. Henrique, principal responsável pelo primeiro momento dasnavegações,foi,logoem1416,encarregadodadefesadeceuta.Foiprecisamentedepoisdeiremaceuta,em1419,queJoãoGonçalvesZarco eTristãoVazTeixeira, escudeirosdo infanted.Henrique,avistaram,poracaso,ailhadePortoSanto.em1420,foiavezdeBartolomeuPerestreloavistarailhadaMadeira.

em1433,oPortoSantoeaMadeiraforamentreguespeloreid.duarteaoirmão,d.Henrique.noentanto,desde1425queaque-lasilhasjáestavamaserpovoadospelosdescobridoresoriginais.estasilhas,talcomoascanárias,jáeramconhecidaspelomenosdesde o século XiV, mas nunca antes tinham sido povoadas. Sóatravésdopovoamentoéqueforam,defacto,colocadassobasobe-raniadeumreino,nestecaso,Portugal.Apartirdadécadade1470,aMadeiratornou-seumimportantecentrodeproduçãodeaçúcar,naalturaumprodutomuitoraroevaliosonaeuropa.

OsAçoresforamdescobertosmaistarde.Asprimeirasilhaste-rãosidoavistadaspordiogodeSilvesem1427.Osesforçosdepo-voamentodasilhascomeçaramporvoltade1433.Tentou-se,desdecedo,ocultivodecereaisparaabastecimentodoreino.em1439,asseteilhasconhecidasforamentreguesaoinfanted.Henrique.Sóem1452foramdescobertasasduasilhasmaisocidentais,Florese

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corvo.OsAçores,aocontráriodaMadeira,foram,defacto,desco-bertospelaprimeiravezpelosPortuguesesnoséculoXV.

As ilhascanárias (jávisitadasnoreinadoded.AfonsoiV,noséculoXiV)foramalvodeumadisputaentrePortugalecastelaaolongodoséculoXV.Oinfanted.Henriqueenviouváriasarmadasaoarquipélago,entre1424e1456,massemnuncaterconseguidotomarpossedealgumadasilhas.Apartirde1479,Portugaldesis-tiriadapossedascanárias.

Ao mesmo tempo que decorria a expansão em Marrocos e opovoamentodasprimeirasilhasatlânticas,osPortuguesescome-çaramtambémaexploraracostaocidentalafricana.Ainiciativacoubeaoinfanted.Henrique,emborasemprecomoapoiodorei.Sãováriasasrazõesparaoiníciodestasnavegações:acuriosidadedoinfanteemdescobrirnovasterras;odesejodeencontraralia-doscristãosafricanoscomquempudesseestabelecercomérciooualiançasparacombaterosmuçulmanosdeMarrocos;ouaindaavontadedeexpandirafécristã.

OprimeiroobjetivodasnavegaçõesfoiultrapassarocaboBoja-dor,ondesesituavaafronteiradomundoconhecido.AsprimeirasviagensaolongodacostaocidentaldeÁfricaocorreramnadéca-dade1420,massóem1434ocaboBojadorfoiultrapassadope-lasembarcaçõescomandadasporGileanes,escudeirodoinfanted.Henrique.

AescoladeSagresnuncaexistiu.Oinfanted.Henriquenuncafundouumaescoladeformaçãodenavegadores.AescoladeSa-gres é um dos mitos mais duradouros da História portuguesa.essefactonãotiraimportânciaàfiguradoinfantenoqueconcer-neaosdescobrimentos.d.Henriquefoiumhomemquesoubeconvencerosservidoresaaventurarem-sepormaresdesconheci-dos,equejulgavamestarcheiosdemonstros,oqueacabouporresultarnadescobertadenovasterras,povoseprodutosaolongodacostaocidentalafricanaenoOceanoAtlântico.

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nos anos seguintes, as navegações prosseguiram rumo a sul,emdireçãoàMauritânia.em1441,trouxeram-separaPortugalasprimeirasaquisiçõescomerciaisoriundasdaquelaregião:cercade100escravos,algumouroeovosdeavestruz,umprodutoexóticonuncaantesvisto.TambémnaMauritâniafoiestabelecida,noiní-ciodadécadade1440,aprimeirafeitoriaportuguesa,nailhadeArguim,quetinhacomofunçãonegociarcomosnativos.Asnave-gaçõeseramcadavezmaisrentáveise,porisso,nãotardouatéoinfantesentirnecessidadedeguardaromonopóliodanavegaçãoalém Bojador para si próprio. esse direito foi-lhe concedido em1443peloregented.Pedro,seuirmão,quegovernavaoreinoemnomedopequenorei,d.AfonsoV(1438-1481).

Curiosidade: emboraaHistóriarecordeoinfanted.HenriquecomoO Navegador,elenuncafeznenhumaviagemdedesco-berta,masfoiumdosprincipaisresponsáveispeloiníciodestaepopeia.defacto,andoumuitopoucasvezesdebarco,esempreemdireçãoaMarrocos:em1415,1419e1437paraceutaeem1458emdireçãoaAlcácerceguer.

em1444,chegaramosprimeirosnaviosàcostadaGuiné.Atéàmortedoinfante,em1460,asnavegaçõesaindaavançariamatéàcostadaSerraLeoa.Porvoltade1456,descobriramasprimeirasilhasdecaboVerde:Boavista,Santiago,MaioeSal.Osprimeirospovoadoreschegariamaoarquipélagoquandooinfanteaindaeravivo.Asrestantesilhasseriamdescobertasnadécadade1460.

comamortedo infanted.Henrique,em1460,acoroarecla-mouparasiomonopóliodanavegaçãoecomércioalémdocaboBojador.d.AfonsoV(1438-1481)aproveitouaoportunidadeparadarcontinuidadeaotrabalhodoinfantee,entre1468e1474,ar-rendouocomérciodaGuinéaFernãoGomes,escudeiroemerca-dor lisboeta. em troca, Fernão Gomes era obrigado a explorar acostaafricana.Foiassimque, em1471, foi alcançadaa costadoouro,situadanaregiãodoatualGana.

Foinestacostaque,em1481,jáduranteoreinadoded.Joãoii(1481-1495),seconstruiuafortalezadeSãoJorgedaMina.Apartir

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de então, começaram a rumar ao reino grandes quantidades deouroprovenientesdaquelaregião.duranteestereinado,prossegui-ramasexploraçõesrumoasule,em1488,BartolomeudiasdobrouocabodaBoaesperança,demonstrando,destaforma,queÁfricaeraumcontinentesituadoentredoisoceanos.em1491,dá-seiní-cioàmissionaçãocristãnoreinodocongo,entretantodescoberto.

O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre Portugal ecastela,foioresultadodenegociaçõesquedurarammaisdeumano.nofinal,ficouestabelecidaadivisãodomundoentrePortugalecastela.Alinhadivisóriaeraummeridianoimaginário,situado370léguasaocidentedecaboVerde.APortugalcaberiamaster-ras aorientedestemeridiano, enquantoquecastelaficaria comasregiõesaocidente.estetratadosurgiupoucodepoisdoregres-sodecolombodascaraíbas–depoisdasuaprimeiraviagemde1492-1493–quetinhademonstradoserpossívelalcançarterrasaOcidente.Aindaassim,nãoera,comocolombopensava,oJapão,massimumnovocontinente:asAméricas.

Os descobrimentos portugueses do século XV tiveram antece-dentes medievais no século XiV. O infante d. Henrique foi oresponsávelpelaprimeirafase,sempreapoiadopelosváriosreisdePortugal.Quandomorreu,oseusobrinho,oreid.AfonsoV(1438-1481),tomouocontrolodoprocessoedepoispassou-oaoprópriofilho,oreid.Joãoii(1481-1495).nadécadade1420ini-ciou-seaexploraçãodacostaocidentalafricana,eestasóficouterminadaem1488,quandoseultrapassouocabodaBoaespe-rança,naatualÁfricadoSul.

A “era Dourada” de D. Manuel I

Assim que subiu ao trono, em 1495, d. Manuel i (1495-1521)teveocuidadodedarcontinuidadeàspolíticasexpansionistasdosantecessores. Assim, em 1497 enviou uma armada, capitaneadaporVascodaGama,paraosuldeÁfricacomoobjetivodecontor-

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narocabodaBoaesperançaetentaralcançaraÍndia.depoisdeváriasparagensaolongodacostaorientalafricana,aarmadadeVascodaGamaalcançouaÍndia,em1498.AviagemderegressoaPortugalfoiiniciadapoucodepois,masapenasficouconcluídaem1499.TinhasidodescobertoocaminhomarítimoparaaÍndia.

QuandoVascodaGamaregressoudasuaprimeiraviagemàÍn-dia,vinhaconvencidodequetinhaencontradocristãos.naver-dade,tudosetratoudeumaconfusão.Oscristãosmaisnãoeramdoquehindus!Asestátuasqueoshinduserguiamaosseusdeu-seseramvistaspelosPortuguesescomosendoimagensdesan-tos.SóquandoPedroÁlvarescabralchegouàÍndia,em1500,équecompreendeuoequívoco.HaviacristãosnaÍndianoséculoXVi,maseramumaminoriareligiosaenãotãopoderososcomoosPortuguesesesperavam.

Parad.Manueli,tornou-seessencialestabelecerbasesdeapoionaÍndia.cedocomeçaramaserenviadasarmadasanuaisquese-guiamarotadocabodaBoaesperançaatéentraremnoÍndico.em1505,d.Manueliescolheud.FranciscodeAlmeidacomoprimei-rovice-reidaÍndiaportuguesa,dandoassiminícioàfundaçãodoestadodaÍndia.

Oprimeirovice-reifoisucedidoporumgovernador,AfonsodeAlbuquerque, que desfrutou dos mesmos poderes. Albuquerqueaproveitoupara,entre1509e1515,estenderocontroloportuguêsaváriasáreasdoÍndico:conquistouGoa,naÍndia(1510),Malaca,nainsulíndia(1511)eOrmuz,noGolfoPérsico(1515).

Curiosidade: noseuauge,aolongodoséculoXVi,oestadodaÍndiaabarcavatodososterritóriossobinfluênciaportuguesadoOriente.estesterritóriosencontravam-seespalhadosumpoucoportodooÍndicoePacífico,eiamdesdeosterritóriosdeMoçambiqueatéMacaueàsfeitoriasdoJapão,passandopelascidadesdeGoaecochim,naÍndia.

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A Índia começou,desde cedo, a revelar as suas riquezas, e osnaviosportugueseseramenviadosparaaeuropacarregadosdees-peciarias.Porissomesmo,aÍndiafoi,apardeMarrocos,umaáreadeintervençãotãoimportantenoreinadoded.Manueli.

OBrasil,poroutrolado,foiachado–esteéotermopreferidodoshistoriadores–em1500.PedroÁlvarescabral foinomeadocapitãodasegundaarmadadaÍndia,em1500.noentanto,antesdeseguirparaaÍndia,aarmadafezumdesvioparaocidenteeaca-bouporchegaraoBrasil.SódepoisaarmadaprosseguiuaviagemparaaÍndia,excetoumdosnavios,quefoienviadoaLisboaparadaranotíciaaorei.duranteoreinadoded.Manueli,oBrasilper-maneceu praticamente intocado. existiram algumas exploraçõescomerciais,comoaextraçãodepau-brasil,massónoreinadoded.Joãoiii(1521-1557)seriapovoadoporportugueses.

o reino de Portugal em tempos de D. João II e D. Manuel I

Osreinadosded.Joãoii(1481-1495)ed.Manueli(1495-1521)nãoseresumiramapenasaosavançoserecuosdaexpansãoportu-guesa.internamente,ambostomaramdecisõesdegrandeimpor-tânciaparaoreino.

d. Joãoiipreocupou-separticularmentecomofortalecimentodo poder da coroa. Logo no início do reinado, em 1482, reuniuascorteseobrigoutodaanobrezadoreinoaprestar-lhehomena-gempelosbenseterrasdacoroaquepossuíam.desagradadacomaatitudedo rei,partedanobrezadecidiuassassiná-lo.em1483e 1484 tiveram lugar duas conspirações que procuraram matard.Joãoii.Ambasfalharameosseuscabecilhas(oduquedeBra-gançaeoduquedeViseu)acabaramporsermortos.

Omaiorproblemapolíticodoreinadoded.Joãoiifoiasuces-são.Oúnicofilholegítimo,oprínciped.Afonso,faleceunumaci-dente,em1491.Oreiaindatentou,semsucesso,legitimarofilhobastardo,d.Jorge,parapoderdeixar-lheotrono.Quandofaleceu,em1495,d.Joãoiiacaboupordeixarotronoaoprimo,d.Manuel,duquedeBeja.

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Assimquesubiuaotrono,d.Manuelipreocupou-seemgarantiraprópriasucessão.Para isso, casou, logoem1497,comd. isabel,princesacastelhanaeviúvadoprínciped.Afonso.OconsentimentodosreisdecastelaeAragãoparaocasamentoapenasfoiconsegui-doapósd.ManuelprometerexpulsardePortugaltodososJudeus(omesmojátinhasidofeitoemcastelaeAragão,em1492).Assim,em1497,osJudeusportuguesesforamobrigadosaconverter-seaocristianismoou,casonãoaceitassem,aabandonaroreino.

d. Manuel acabaria por casar mais duas vezes: em 1500 comd. Maria, irmã da primeira mulher, de quem teve praticamentetodosos seusfilhos, incluindoos futuros reis,d. João iii (1521--1557)ed.Henriquei(1578-1580);em1518casoucomd.Leonor,sobrinhadassuasduasanterioresmulheres.

internamente,d.Manuelitambémsepreocupoucomoaumen-todopoderdacoroa.Aocontrárioded.Joãoii,procuroucontro-laranobrezaatravésdedádivaserecompensas,enãoatravésdaforçaedomedo.Mandourestaurar,desdelogo,acasadeBragança(extintadepoisdeoduquetertentadomatard.Joãoii)efezre-gressarosseusmembrosdoexílio.

d.Manuel ieasuaprimeiraesposa,d. isabel, tiveramapenasumfilho,d.MigueldaPaz,nascidoem1498.d. isabel faleceupoucotempoapósoparto,porisso,oseufilhoduranteosseuscurtosdoisanosdevida,foiherdeirodePortugal,decastelaedeAragão.issosignificavaqueaUniãoibérica–auniãodetodososreinosibéricossobumsórei–poderiaterocorridomuitoantesde1580,anoemqueFilipeiideespanhasetornoutambémreidePortugal.

Anívelexterno,tantod.Joãoiicomod.Manuelipreferirammanter-seforadosconflitoseuropeus.Ambosentendiamquenadahaviaaganharemcombaternaeuropa,equeeraforadelaqueseapresentavamasmelhoresoportunidadesdeexpansãoelucro.istoapesarded.Joãoiitermantido,adadaaltura,relaçõestensascomcastelaeAragão.

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economia e Sociedade

Fidalgos e aventureiros em África e no oriente

Aexpansãoalém-marconcediaaoreimaisterras,maioresrique-zaseummaiornúmerodecargos,civisoumilitares,quetinhamdeserocupados.Anobrezaeraaprincipalbeneficiadapelapolí-ticarégia,jáqueacabavaporreceberterras,riquezaseofíciosporserviracoroacomlealdade.

Ofactoéqueanobrezaesteveligadadesdeoinícioàexpansão.Todaanobrezaesteveaoladoded.Joãoinaconquistadeceuta,em1415.Boapartedanobreza,nosséculosXVeXVi,incluindoduques,marquesesecondes,serviuemMarrocos.Ospróprioscapi-tãesdasembarcaçõesdeexploraçãodacostaafricanaeramnobres,aindaquedecondiçãomaisbaixa(eramsobretudoescudeiros).

noOriente,muitosforamosaventureiros,algunsdelesnobres,queabandonaramoestadodaÍndiaparafazeremfortunaaoser-viçodeoutros senhores.Muitos juntaram-se, ao longodos sécu-losXVieXVii,areinosasiáticos,sendo,muitasvezes,recrutadoscomomercenáriosespecialistasnousodearmasdefogoecanhões.Alguns tornaram-se mesmo piratas, não reconhecendo qualquersenhor,maslutandoapenaspelariquezapessoal.

Aindaassim,foisempremaioronúmerodenobresqueajudouàconstruçãodoestadodaÍndiadoqueaquelesqueoabandona-ram. de Moçambique ao Japão, feitores e capitães de fortalezaseram,invariavelmente,nobres.

Oserviçoàcoroa,emMarrocosounaÍndia,eraquasesemprebenéficoparaafidalguia,poisosreistendiamarecompensarge-nerosamenteosservidores.UmexemplodissomesmoéVascodaGama.AoregressaraPortugal,depoisdaviagemáÍndia,em1499,foi-lheatribuídaadistinçãodedom.Maistarde,ojáentãod.VascodaGamaviriaaserelevadoacondedaVidigueira.

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Feitorias e fortalezas

AsfeitoriaseramosedifíciosondeosPortuguesesconduziamosnegóciosnasregiõesmaislucrativasdoestrangeiro.nadécadade1440,foiconstruídaumafeitorianailhadeArguim,nacostadaMauritânia,paracontrolarocomérciolocaldeouro.OmesmoprocessoviriaaserrepetidocentenasdevezesnoutrasregiõesdeÁfricaedoOriente.

Poroutrolado,afortalezaeraumaconstruçãomilitarerguidaemzonasestratégicasparaprotegerosinteressesdePortugal.estasedi-ficaçõesficavamsemprejuntoaomar,poiserapormarqueeramabastecidasdetudo,desdesoldadosatéalimentosearmas,umavezqueeracomumestaremsituadasemterritórioshostis.Foiprecisa-menteaexperiênciaobtidanadefesadefortalezasemMarrocosqueajudou,maistarde,àimplantaçãodosPortuguesesnaÍndia.

Acombinaçãodasfeitoriascomasfortalezasdeuorigemàsfei-torias-fortaleza:edifíciosqueserviamtantodebasemilitar,comodecentrodenegócios.Porvoltade1464,Arguimtornou-seumafeitoria-fortaleza,parapoderprotegerosinteressescomerciaispor-tuguesesnaregião.SãoJorgedaMinafoi,desdeasuaconstrução,em1481,desenhadacomoumafeitoria-fortaleza.OmesmoviriaaserfeitonaÍndia.

Todososcuidadoscomadefesanãoeramexagerados:afeitoriaportuguesaemcalecute foi atacadaedestruídaem1500,poucodepoisdetersidoestabelecida.Assim,nãoadmiraqueumpoucoportodooimpério,asfeitorias-fortalezafossemabasedapresençaportuguesanumaregião.

o comércio da costa ocidental africana – escravos, marfim e animais exóticos

Asprimeirasviagensaolongodacostaocidentalafricana,ocor-ridasnasdécadasde1420e1430,nãorevelaramnadadevaliosoparacomercializar.noentanto,apersistênciaacaboupordarfru-tos, à medida que as embarcações iam avançando para sul e asterrastornavam-semaisverdes.

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estas viagens começaram a tornar-se rentáveis por volta de1441.FoinesseanoquechegaramaPortugalosprimeirosescravos(cercade100).Apartirdeentão,tornou-secomumasembarcaçõesportuguesasatacaremaldeias costeirasnaMauritânia,GâmbiaeGuinéparaobteremescravos(homens,mulheresecrianças)quedepoisvendiamemPortugal.

Umpoucomaistarde,oscapitãesportuguesesperceberamqueeramaislucrativocomprarescravosàstribosafricanasdoquees-cravizá-losdiretamente.OsváriosreinosetribosasuldodesertodoSaharacombatiam-secomfrequência,peloquetinhamsempremuitos prisioneiros de guerra para venda, tanto a outros africa-noscomoaosPortugueses.OtráficodeescravosafricanosparaasAméricastornou-seumnegóciotãolucrativoquedurouatémea-dosdoséculoXiX,tendosidorealizadoporpraticamentetodasasnaçõesdaeuropaOcidental.

Outro produto que começou a entrar na europa durante esteperíodoforamosanimaisexóticos.Osprimeirosovosdeavestruzchegaram a Portugal em 1441. Seguiram-se outros animais, ou,pelomenos,produtosdeorigemanimal,comoomarfim.nadéca-dade1440,d.AfonsoV(1438-1481)ofereceuumcasaldeleõesaoduquedaBorgonha.

Masfoinoreinadoded.Manueli(1495-1521)quemaisanimaisexóticoschegaramaoreino:papagaiosdoBrasil, leõesdeÁfrica,elefantes e rinocerontesdaÁsia.Onúmerode animais exóticosquechegavaaoreinoeratãogrande,easuararidadeevalornares-tanteeuropatãoelevados,queoreichegouaoferecerumelefanteaoPapaLeãoX,em1514.

o comércio do oriente – especiarias

QuandoVascodaGamachegoupelaprimeiravezàÍndia,em1498,declarouqueosPortuguesesiamembuscadecristãosees-peciarias. na Índia, os cristãos eram poucos, mas as especiariasexistiamemgrandequantidade.

O gosto da europa pelas especiarias orientais vinha desde ostemposdoimpérioRomano.duranteaidadeMédia,foramsobre-

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tudoosárabesquefizeramdeintermediáriosentreoOrienteeoOcidentee,porisso,detinhamocontrolodocomérciodasespecia-rias.

namesmaalturaemqueosPortugueseschegaramàÍndia,asespeciarias eram trazidas para a europa pelos Venezianos, queascompravamemAlexandria,noegito.estaschegavamaoegitoatravésdascaravanasqueseguiamaRotadaSeda,quetinhaori-gemnachina.

OsPortuguesescompreenderam,desdecedo,queparacomprarespeciariasnaÍndiaprecisavamdepagaremouro.Masoouroera,emPortugal,umbemraro,peloquenãopodiaserenviadoparaaÍndia.Porisso,logonoiníciodoséculoXVi,oestadoPortuguêsdaÍndiatomouocontrolodeumasériederotascomerciaismarí-timasqueligavamaÍndiaaÁfrica.

ArotamaisimportanteeratriangulareligavaoGuzerate,umaregiãoaonortedaÍndia,aQuíloa,nacostaorientaldeÁfrica,eacochim,nacostaocidentaldaÍndia.OstecidosdoGuzerateeramutilizadosparaadquirirouronacostaafricanaeoouroeradepoisusadoparacomprarespeciariasemcidadesaliadasdosPortugue-ses, comocochim.Asespeciarias eramentãoenviadas emnauspelarotadocaboatéLisboa.

Boapartedasespeciariasera,depois,enviadaparaafeitoriapor-tuguesadeAntuérpia,naFlandres,deondeeradistribuídapelorestodaeuropa.estecomércioajudouaenriqueceracoroaportu-guesa,emparticularduranteoreinadoded.Manueli(1495-1521).nasprimeirasdécadasdoséculoXVi,chegaramtantasespeciariasaLisboaqueVeneza sentiu-seameaçadaeenviouembaixadasaPortugal.

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Cultura e Artes

o estilo Manuelino – o Mosteiro dos Jerónimos

Oreid.Manueli(1495-1521)decidiu,desdecedo,deixarasuamarcanoreino.Oestiloartísticodesenvolvidoduranteoseurei-nado,umgénerotardiodeGótico,ganhou,maistarde,onomedeManuelino.VáriosedifíciosespalhadosporPortugalmostramtra-çosdesteestilo,comoaTorredeBelémeoMosteirodosJerónimos,emLisboa,eoconventodecristo,emTomar.

Todos os edifícios que d. Manuel i mandava construir ou re-novaracabavamporincorporarosseussímbolospessoais,comoaesferaeasarmasdePortugal–quehojeemdiafazempartedabandeiradaRepúblicaPortuguesa–ouacruzdaOrdemdecris-to–parcialmenteutilizadapelaFederaçãoPortuguesadeFutebol.

Logoem1496,d.Manuelidecidiumandarconstruirummos-teiroemBelém,juntoaolocalondeoinfanted.Henrique,seutio--avô,tinhamandadoerguerumacapela.Asobrastiveraminícioem1501ou1502.OMosteirodenossaSenhoradeBelém,atualmenteconhecidocomoMosteirodosJerónimos,éumadasobrasmaisco-nhecidasdoestiloManuelino.Onomepeloqualomosteiroéhojeconhecidodeve-seaofactode,aindanoséculoXVi,tersidoentregueàordemreligiosadosmongesseguidoresdeSãoJerónimo.

d.Manueligostavatantodaobraquecostumavavisitarolocalduranteaconstruçãoe,poucoantesdemorrer,declarouqueque-riaserenterradolá.estefoioprimeiropassoparaqueoMosteirodosJerónimossetornasseopanteãorealduranteoséculoXVi.nomosteiro,juntoaumadasportas,existemduasfigurasquerepre-sentamoreid.Manuelearainhad.Maria,asuasegundaesposa.Todooedifícioincorporaoutroselementos,esculpidosnapedra,doestiloManuelino:gárgulas,sereias,cordasentrelaçadasouele-mentosvegetais,comofolhasdehera.

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OestiloManuelinofoitãoimportanteque,muitomaistarde,emmeadosdoséculoXiX,setentouintroduziralgumascaracterísti-casdesteestilonaarquitetura.AestaçãoferroviáriadoRossio,emLisboa,bemcomooMosteirodosJerónimos,sãobonsexemplosdaquiloqueganhouonomedeestiloneomanuelino.

A reorganização administrativa manuelina – adaptação da documentação medieval

comovimosnocapítuloanterior, ao longoda idadeMédia,amaioriados reispreocupou-seemaumentaropoderdacoroaeestendê-lo a todoo reino.Reis comod.Afonso ii (1211-1223) ed.dinis(1279-1325)passaramboapartedosreinadosatrabalharnosentidodetornaropoderdacoroa inquestionável.comovi-mosnocapítulodedicadoàidadeMédia,oprocessodeaumentodepoderdacoroadeuorigemamuitosmilharesdedocumentosescritos.

5.PinturadoMosteirodosJerónimos–séc.XViii,anterioraoterramoto.

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nafasefinaldaidadeMédia,osdocumentoselivrosqueperten-ciamaoreieramguardadosnumatorredocastelodeS.Jorge,emLisboa.eraachamadaTorredoTombo.Porisso,hojeemdia,oArquivonacionaldePortugal, emLisboa, chama-seTorredoTombo,emhomenagemaessaantigatorrequefuncionoucomoprimeiroarquivodacoroaportuguesa.

noiníciodoreinadoded.Manueli(1495-1521),oarquivodoreiencontrava-senumaprofundadesordem,oquetornavadifícilaconsultadedocumentos(algoqueoreiprecisavadefazerparato-marcertasdecisões).Assim,parafacilitaraconsulta,d.Manuelor-denouqueosdocumentosmaisimportantesfossemcopiadosparaumasériedelivrosnovos,quepassaramachamar-seLeitura Nova.

d.ManuelicriouaindaasOrdenações Manuelinas(semelhantesàsantigasOrdenações de D. DuarteeàsOrdenações Afonsinas),umasériedelivrosondeestavamescritasasleisdoreino,equeviajavamcomorei,deformaapoderemserconsultadosquandonecessário.

d.Manueliprocedeuaindaaumareformadosforaisque,noessencial,atualizoualgunspontosdasantigascartasdeforalme-dievaisdadasaosconcelhos.

Gil Vicente e as permanências medievais

AsociedadedoiníciodaidadeModerna,porvoltadofinaldoséculoXVeprincípiodoséculoXVi,eraaindaprofundamenteme-dieval.OsPortugueseseramainda,sobretudomedievais,talcomoacontecianorestodaeuropa,emboraemmenorescalaemalgu-mascidadesitalianas.

O teatro de Gil Vicente foi, em boa medida, uma demonstra-ção dessa sociedade medieval. As críticas que fez, por exemplo,à falta de piedade do clero e aos excessos da nobreza tinham ori-gensmedievais.GilVicente(c.1465-1536)foisobretudoumindiví-duoquesoubemanter-senasboasgraçasdosreis,umavezqueassuas peças foram muito apreciadas na corte durante o reinado ded.Manueli(1495-1521)epartedoreinadoded.Joãoiii(1521-1557).

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Váriasforamasocasiõesemqueestaspeçastinhamporobjetivoincitaracorteaapoiarapolíticadorei.exemplodissomesmofoiacriaçãoeexibiçãoemcortedoAuto da Exortação da Guerra,noqualGilVicentelouvavaapolíticadeguerraemMarrocoslevadaacabopeloreid.Manuel i.esteauto,comotambémoAuto da Barca do Inferno,tocavanaprofundareligiosidadedoshomensemulheresdaqueleperíodo.

renascimento e Humanismo

ORenascimentosurgiunaitáliadoséculoXVe,desdeoinício,representouavontadedealgunscontemporâneosemregressaraopassadoemváriasáreasdavida.OsgrandesartistasdoRenascimen-toitaliano,comoBotticellieMiguelÂngelo,embelezaramasmaispoderosasdascidades-estadodeitália,comoRomaouFlorença.

contudo, foi no século XVi que o Renascimento se espalhoupelaeuropaealcançouPortugal.istoapesardejáestarempresen-tesalguns traços renascentistasnoPortugaldo séculoXV, comomostraocontratofirmadoentred.Joãoii(1481-1495)ecataldoSículo,umitalianoqueserviudetutordoprínciped.Afonsoedofilhoilegítimo,d.Jorge.TambémogostopelalínguadosRomanos,oLatim,estavaacrescer,comoprovaodiscursodecataldo,porocasiãodocasamentodoprínciped.Afonso.

Foinoreinadoded.Joãoiii(1521-1557)queoRenascimentotevemaiorimpactoemPortugal.OdesejodeimitaraAntiguidadelevouàconstruçãodenovosedifícioscomumestilomaisitaliano.

OHumanismo surgiu ainda antesdoRenascimento,umavezque se consideraqueo seupai foio italianoFrancescoPetrarca(1304-1374). O Humanismo defendia que o Ser Humano, e nãodeus,deveriaserocentrodopensamentofilosófico;ogostopelaartegregaeromana;ointeressepelaeducaçãodoSerHumano(emparticulardas crianças); e,porfim,oestudodas línguasantigas(comooLatim,oGregoeoHebraico).

Écostumedizer-sequePortugalnãoteveHumanismo,massimhumanistas.Ouseja,nuncachegouahaverumacorrentecontínua,masapenascasosquase isoladosdehomens inteligentesecapa-

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zes,comodamiãodeGóis(1502-1574)ouFranciscoSádeMiran-da(1481-1558).AintroduçãodainquisiçãoemPortugal,ocorridaem1536,nãopermitiuocrescimentodeumacorrenteHumanista,umavezquealgunsdoselementosdoHumanismo–comoacolo-caçãodoSerHumanonocentrodoUniverso–eramvistoscomoheresia.

damiãodeGóis,emparticular,éconsideradoograndehuma-nistaportuguês.Fezdetudoumpouco,desdeservircomopajemnacorteaté serhistoriador.Viajoupor todaaeuropa, tantoemviagenscomerciaiscomoembuscadeconhecimento,efoiamigodeerasmodeRoterdão(1466-1536),umdosgrandeshumanistasdaqueletempoeumhomemqued.JoãoiiipensoucontratarparadaraulasnaUniversidadedecoimbra.Foiatéperseguidopelain-quisição,mascontousemprecomoapoioeproteçãoded.Joãoiii(1521-1557),dequemeraamigodeinfância.

Cronologia

Data Acontecimentos

1411 PazdeAyllonentrePortugalecastela.

1415 ceutaéconquistadapeloexércitoded.Joãoi.

1416 Agestãododinheiroparaadefesadeceutaéentregueaoinfanted.Henrique.

1418-1419 ceutaécercadapelosultãomuçulmanodeFez.

1419 JoãoGonçalvesZarcoeTristãoVazTeixeiraavistamailhadePortoSanto.

1420 BartolomeuPerestreloavistaailhadaMadeira.iníciodasnave-gaçõesaolongodacostaocidentaldeÁfrica.

1424 Primeiraexpediçãoenviadapeloinfanted.Henriqueàscanárias.

1425 iníciodopovoamentodaMadeira.

1427 diogodeSilvesavistaasprimeirasilhasdosAçores.

1433 ilhasdaMadeiraePortoSantoentreguesaoinfanted.Henrique.iníciodopovoamentodosAçores.

1434 GileanesnavegaalémdocaboBojador.

1437 desastredeTânger.infanted.Fernandoficacativo.

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1438 Mortedoreid.duarte.Subidaaotronoded.AfonsoV.

1439 OsAçoressãoentreguesaoinfanted.Henrique.

1439-1448 Regênciadoinfanted.Pedroemnomedojovemd.AfonsoV.

1441 chegada a Portugal dos primeiros escravos oriundos daMauritânia.

1443 Morreoinfanted.Fernandonocativeiro,emFez.Oinfanted.HenriquerecebeomonopóliodocomércioenavegaçãoaolongodacostaocidentalafricanaalémBojador

1452 descobertadasderradeirasilhasaçorianas,Floresecorvo.

1456 Últimaexpediçãoenviadapeloinfanted.Henriqueàscanárias.

1458 Alcácercegueréconquistadapeloexércitoded.AfonsoV.

1460 Mortedoinfanted.Henrique.

1468-1474 ArrendamentodocomércioeexploraçãodacostadaGuinéaFernãoGomes.

1471 Arzila é conquistada eTânger é ocupada pelo exército ded.AfonsoV.

1481 Morteded.AfonsoV.Subidaaotronoded.Joãoii.construçãodafeitoria-fortalezadeSãoJorgedaMina.

1483 Primeiraconspiraçãocontrad.Joãoii.execuçãododuquedeBragança.

1484 Segundaconspiraçãocontrad.Joãoii.MortedoduquedeViseu.

1488 BartolomeudiascontornaocabodaBoaesperança.

1489 Fracasso no estabelecimento da fortaleza da Graciosa, emMarrocos.

1490 casamentodoprínciped.Afonso,filhoded.Joãoii,comd.isa-beldecastela.

1491 Mortedoprínciped.Afonsoapósumaquedadocavalo.

1492 chegadadecristóvãocolomboàscaraíbas.

1494 AssinaturadoTratadodeTordesilhas.divisãodomundoentrePortugalecastela.

1495 Morteded.Joãoii.Subidaaotronoded.Manueli.

1497 casamentoded.Manuelcomd.isabeldecastela.ÉditodeexpulsãodosJudeus.

1497-1499 ViagemdeVascodaGamaàÍndia.

1498 nascimentodoprínciped.MigueldaPaz.

1500 casamentoded.Manuelicomd.Mariadecastela.AchamentodoBrasil.

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1501-1502 iníciodaconstruçãodoMosteirodosJerónimos,emBelém.

1505 d.FranciscodeAlmeidaénomeadocomoprimeirovice-reidaÍndia.criaçãodoestadoPortuguêsdaÍndia.

1508 conquistadeSafim,emMarrocos.

1509-1515 AfonsodeAlbuquerqueégovernadordoestadodaÍndia.

1510 conquistadeGoa,naÍndia.

1511 conquistadeMalaca,nainsulíndia.

1513 conquistadeAzamor,emMarrocos.

1514 construçãodafortalezadeMazagão,emMarrocos.

1515 conquistadeOrmuz,noGolfoPérsico.desastredeMamora,emMarrocos.

1518 casamentoded.Manuelicomd.Leonor.

1521 Morteded.Manueli.Subidaaotronoded.Joãoiii.

1541 PerdadafortalezadeSantacruzdocabodeGué,emMarrocos.AbandonodeSafimeAzamor.

1549-1550 AbandonodeAlcácerceguereArzila.

1578 BatalhadeAlcácerQuibir.desaparecimentoded.Sebastião.

1640 ceuta decide apoiar os Habsburgo durante a guerra daRestauração.

1662 Tângerécedida,juntamentecomBombaím,àcoroainglesa,comopartedodotedainfantad.catarina,casadacomoreicarlosiideinglaterra.

1769 Mazagãoé entreguepeloMarquêsdePombal ao reinodeMarrocos.

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IV

PortuGAl e AS CrISeS DA MoDernIDADe

(SÉCuloS XVI-XVII)

Política e Guerra

os desafios de meados do século XVI – D. João III, D. Sebastião e D. Henrique

Apolíticaseguidapord.Joãoiii(1521-1557)aolongodoseureinado foi, emboamedida,diferentedadesenvolvidapelopai,d.Manueli(1495-1521).d.Joãoiiifoiumreimaisrealistaecau-telosodoqueoprogenitor,porqueoreinocomeçavaadarsinaisdecrise,jáquesesucediamaspestes,osmausanosagrícolas(easconsequentesfomes)easdificuldadesfinanceirasdacoroa.

d.Joãoiiifoisempreapoiadoporgrandesfigurasqueoajuda-ramaconstruireaplicarasuapolítica,comoo1.ocondedacasta-nheira,o1.ocondedeVimioso,arainhad.catarinadeÁustria,oinfanted.Luíseocardeal-infanted.Henrique.

Oreifoiresponsávelporreformasadministrativas,comoacria-çãodenovassubdivisõesnascomarcasdoreino.Ascomarcaseramasunidadesadministrativasdeentão,ehojecorresponderiamaosdistritos.d.Joãoiiilevouaindaabomtermoasnegociaçõescomespanhasobreasdelimitaçõesdeváriasregiõesdefronteira,comooMinho.Oreifoiaindaresponsávelpelaelaboraçãodonumera-mentode1527-1532,oprimeirocensoportuguês,comoveremosmaisadiante.QuantoàsantigasOrdensMilitaresdeAvis,cristoeSantiago,d.Joãoiiiconseguiu,em1551,incorporá-lasnacoroa,aumentandoassimoseupoder.

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comoteremosoportunidadedevermaisàfrente,foinesterei-nadoqueainquisiçãoseinstalouemPortugal,oquedariaorigemaváriasmudançasnasociedade.Todasestasmedidas,donumera-mentoàinquisição,mostravamavontadedeoreiconheceroseupróprioreinoeemtorná-lomaisfácildegeriregovernar.

Anívelexterno,d.Joãoiiiprocuroumanterrelaçõespróximasdeamizadecomespanha.Paratal,casouainfantad.isabel,suairmã,comcarlosV,Sacro-imperadorRomano-Germânicoereideespa-nha.Oprópriod.Joãoiiicasoucomd.catarinadeÁustria,irmãdecarlosV.estesmatrimóniosenvolver-se-iamnaquestãodasMolu-cas,surgidapoucodepoisdasubidaded.Joãoiiiaotrono.

Acircum-navegaçãodoglobo(1519-1521),iniciadaporFernãodeMagalhãese terminadaporSebastiand’elcano, levouoses-panhóisachegaremàsMolucas,ilhasasiáticasasuldasFilipinaseanortedaAustrália,enaqueletempoaúnicafontemundialdecravo,umaespeciariavaliosa.Atualmente,sabe-sequeasilhases-tavam,deacordocomoTratadodeTordesilhas(1494),naáreadeinfluênciaportuguesa,mas,naqueleperíodo,nãoerapossívelter

6.OmaisantigomapadePortugal.Representaoreinoemmeadosdoséc.XVi.

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qualquercerteza.Porisso,iniciou-seumadisputadiplomáticaen-treosdoisreinosqueapenasterminouem1529,comoreconheci-mentoespanholdodireitoportuguêsàsilhas“deMaluco”,onomepeloqualeramentãoconhecidas.

Curiosidade: conformed.Joãoiiienvelhecia,maiorsetornavaainfluênciaexercidapelasuaesposa,arainhad.catarinadeÁustriaouHabsburgo.Opoderdarainhaeravistopelosoutrosconselhei-rosdoreicomoumaafronta,nãosóporsermulher,mastambémestrangeira.

no que se refere ao império, neste reinado assistiu-se ao iní-ciodacolonizaçãodoBrasil,aoabandonodeboapartedaspraçasmarroquinas,àsprimeirastentativasdecolonizaçãodeAngolaeàexpansãodoestadodaÍndianoOriente.

emmeadosdoséculoXVi,aFrançacomeçouatentarpovoarcertasregiõesdoBrasil.Portugal,queconsideravaaregiãoterritó-rioportuguês,nãoopodiapermitir.UmBrasilfrancêsseriaumagraveameaçaparaanavegaçãoportuguesanoAtlântico(jáentãoalvodapiratariafrancesa).Porisso,entre1532e1535,d.JoãoiiicriouasprimeirascapitaniasdoBrasil.noentanto,este sistemafracassou,muitoporculpadoscapitães-donatáriosquenãopovoa-vamedefendiamaregião,comotinhamacordado.

Assimsendo,em1549,d.Joãoiiicriouogoverno-geraldoBra-sil,tendonomeadoTomédeSousaparaprimeirogovernador.Sobumsógovernador,oBrasilfoicapazdeexpulsarosFranceses.nãotardaria a tornar-se a região mais importante do império portu-guês, em termoseconómicos, comoveremosnaáreadedicadaàeconomiaeSociedade.

noOriente,oestadodaÍndiafaziaavançosemváriasfrentes.emtornodeGoa,acapitaldoestadodaÍndia,ocontroloportu-guêsestendeu-seàsprovínciasdeBardezeSalcete.Maisanorte,foiconstruídaafortalezadediuque,em1538e1546,foidefendi-dadedoisgrandescercos.Governadoresevice-reiscapazes,comod.nunodacunhaed.Joãodecastro,contribuíramparaaexpan-

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sãodoestadodaÍndia.em1543,osprimeirosPortuguesesche-garamaoJapãoe,ao longodosanosseguintes,estabeleceram-serelaçõescomerciaiscomaquelaregião.

duranteoreinadoded.Joãoiii,acoroaviu-seforçadaasupor-tarcrescentescustosfinanceiros.AorganizaçãodearmadasparaaÍndiaeradispendiosa,eosproveitoseconómicoscadavezmeno-res.OpovoamentodoBrasileramuitocaro,bemcomoosnaviosarmadosparaenfrentarospiratasfranceses.Foifaceaestasdifi-culdades económicas que, conforme vimos no capítulo anterior,acoroadecidiuabandonarboapartedaspraçasmarroquinasaolongodadécadade1540.

nofinaldoreinado,d.Joãoiiienfrentoudificuldadessucessó-rias.Aolongodavida,oreiviumorrerem10filhos(novelegítimoseumbastardo)enovedos11irmãos,naquiloquesetornouumdramaparaocasalrealeparaoreino.Quandod.Joãoiiifaleceu,em1557,otronofoideixadoaoneto,d.Sebastião,entãocomape-nastrêsanosdeidade.

d.Sebastião(1557-1578)foifilhopóstumodoinfanted.João,fi-lhoded.Joãoiiieded.catarinadeÁustria,eded.Joana,filhadecarlosVeded.isabeldePortugal.d.Sebastiãonasceuem1554,cercadeduassemanasdepoisdamortedopai.

Oinfanted.João,paided.Sebastião,faleceuaos16anosdeida-de.naaltura,apontou-secomocausadamorteoexcessodeamordopríncipepelaprincesa!Atualmente,sabemosqueopríncipesofriadeumaformadediabetesjuvenis,equefoiessaacausadasuamorte.

Ainda antes de nascer, o jovem príncipe já era visto como aúnicaesperançadePortugalsemanterindependentedeespanha.d.Maria,filhaded.Joãoiii,tinhacasadoanosantescomd.Filipe,filhodo imperadorcarlosV.dessecasamentotinhanascidoumfilho,d.carlos,sendoqueamãe,d.Maria,falecerapoucodepois.

Assim,sed.Sebastiãotivessefalecidoaonasceroupoucode-pois – algo muito comum na altura –, o trono recairia sobre

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d.carlos,umavezqueeraoúnicooutroneto–eaindaparamaishomem–ded.Joãoiii.

duranteamenoridadeded.Sebastião,oreinofoigerido,entre1557e1562,pelarainhad.catarinaque,pelosseuslaçosfamilia-res,mantinharelaçõesmuitopróximascomespanha.entre1562e1568,ogovernodoreinofoiexercidopelocardeald.Henrique,umhomem que privilegiava sobretudo os assuntos internos. Só em1568,aos14anos,d.Sebastiãoassumiuogoverno.durantemuitotempo,ocasamentoded.Sebastiãofoinegociadonaeuropa,masoreiacaboupornuncacasar.

d.Sebastiãodemonstrou,desdecedo,interessepelavidamilitar.Porisso,organizouascompanhiasdeOrdenanças–unidadesmili-tares–deformainovadora,eprestougrandeatençãoàdefesadaspraçasmarroquinas.

duranteoseureinado,oestadodaÍndiaenfrentouumagravecrisepolítico-militar,entre1565e1575,que,noentanto,conseguiuultra-passarcomsucesso.em1557,osPortuguesesconseguiram,porfim,autorizaçãodogovernodachinaparaseestabelecerememMacau.nosanosseguintes,acidadetornou-seumimportantepontodecon-tactonocomérciocomachinaeoJapão.Foitambémnoreinadoded.SebastiãoquesefundouacidadedeLuanda(1576),emAngola.

em 1578, d. Sebastião comandou pessoalmente um exérci-to numa expedição ao norte de África. Marrocos encontrava-seameiodeumaguerracivil, eumdos ladospediuauxílioaoreiportuguês, em troca da entrega de algumas praças.A expediçãoportuguesaacabouporserderrotadanabatalhadeAlcácerQuibir,em1578,ed.Sebastiãodesapareceu,sendodadocomopresumi-velmentemorto.

Curiosidade: duranteosanosqueseseguiramaodesaparecimentoded.Sebastião,surgiramváriosimpostoresquejuravamseroreiportu-guês.Todosforamdesacreditadosepresos.noentanto,tambémelesajudaramaocrescimentodalendaded.Sebastião,quehojefazpartedamemóriaculturaldosPortugueses,equedizqueoreiregressaránumamanhãdenevoeiroparasalvaroPaísdetodososproblemas.

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Odesaparecimentoded.Sebastião,semdeixardescendência,le-vou ao trono o seu familiar vivo mais próximo, o cardeal-infanted.Henrique,seutio-avô.d.Henrique(1578-1580)nasceuem1512,filhoded.Manueli(1495-1521).Aolongodoreinadoded.Joãoiii(1521-1557),seuirmão,foiumdosseusconselheirosmaispróximos,tendosidoarcebispodeÉvora,arcebispodeLisboa,etendomesmochegadoadesempenharasfunçõesdeinquisidor-geraldoreino.

Aprincipalquestãodoseureinadofoiasucessãodacoroapor-tuguesa.d.Henriqueeraumclérigo,aindaparamaiscomaavan-çadaidadede66anos,peloquetinhadepedirdispensaaoPapaparapodercasareproduzirherdeiros.devidoàspressõesdiplomá-ticasexercidaspord.Filipeiideespanha,oPapanuncaconcedeua desejada dispensa.Ao rei de espanha interessava, por ser umpretendente ao trono português, que o cardeal-rei falecesse semgerardescendência,comoviriaaacontecer.

d.Henriqueconvocouascortes,em1579e1580,paradecidirquem lhe sucederia no trono. Por não ter um herdeiro direto, ocardeal-reiprocuravanodireitoasoluçãoparaacrise.Ospreten-dentesmaisimportantesaotronoeramd.Filipeii,reideespanhaenetoded.Manueli,ed.catarina,duquesadeBragançaetam-bémnetaded.Manueli.Umoutrocandidato,d.António,priordocrato,tambémeranetodoreid.Manuel,emboraporviailegítima.

d.Henriqueacabouporfalecerem1580,semseteralcançadoumcompromisso,oquegerouumacrisedesucessão.

o Portugal dos Habsburgo ou dos Filipes (1580-1640)

Amortedocardeal-reiprecipitouosacontecimentos.d.António,priordocrato,tentou,numprimeiromomento,anegociaçãocomd.Filipeii.Pediuad.Filipeii,seuprimo,queofizessegoverna-dorperpétuodoreinodePortugal,oqueoreideespanharejeitou.Faceàrecusa,d.AntónioreuniuosseusapoiantesemSantarémeaífez-seaclamarrei,sem,noentanto,chegarasercoroado.entre-tanto,deBadajozpartiaumexércitoedeSevilhaumaarmada.OalvoeraLisboa,poisaconquistadaquelacidadecolocariaPortugal

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nasmãosded.Filipe ii.Por seu turno,d.catarina,duquesadeBragança,preferiuchegaraacordocomoreideespanha,pornãoterapoiossuficientesparalheresistir.

na batalha de Alcântara, ocorrida nesse tão frenético ano de1580,asforçasespanholasvenceramopequenoexércitoded.An-tónioeobrigaram-noafugirparaosAçores.Oarquipélagoresisti-riaaosataquesespanhóisaté1582.Opriordocratoviriaainvadiroreinomaistarde,em1589,comapoiomilitaringlês.essatentati-vafracassoued.Antónioveioafalecernoexílio,em1595.

Anosmaistarde,dir-se-áqued.FilipeiiobteveotronodePor-tugaldetrêsformasdistintas:herdando-o,conquistando-oecom-prando-o. d. Filipe ii era, de facto, um descendente legítimo doreid.Manueli(1495-1521),porserfilhodainfantad.isabel.Poroutro lado, a invasão de Portugal, em 1580, garantiu o controlomilitardoreino.Porfim,nascortesdeTomarde1581,d.Filipeiiiriagarantiroapoiodeboapartedanobrezaaoverdadeiramente“comprar” apoios comaentrega–oupromessadeentrega–detítulos,terrasedinheiro.

OchamadoPactoouestatutodeTomar,saídodascortesde1581,acabou por consagrar a autonomia de Portugal no seio da Mo-narquiaHispânicadosHabsburgo.Alémdeespanha,d.FilipeiicontrolavaoreinodenápoleseaSicília,oducadodeMilão,aFlan-dres,emuitosoutrosterritóriosespalhadospelomundo,emparti-cularnasAméricas,mastambémnaÁsia.comoPactodeTomar,nobreza,cleroeconcelhosconseguiramparaPortugalumestatutoespecialdereinoherdado,ouseja,sujeitoaumgovernodiferentedodeumreinoconquistado.

Assim,quandooreiestivesseausente,Portugalsódeveriasergovernado por um vice-rei de sangue real ou, não havendo um,porumconselhoescolhidopelomonarca,mascompostoapenasporportugueses.Paraoajudaragovernaronovoreino,d.Filipeiicriou,em1582,oconselhodePortugal,umórgãoadministrativoqueauxiliavaoreinosassuntosdePortugal.Tambémesteórgãodeveriaapenassergeridoporportugueses.

d.Filipei,porseroprimeiroreidessenomeemPortugal,per-maneceuemLisboaaté1583, anoemquepartiuparaespanha,parahabitarnoelescorial,emMadrid.

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d.FilipeiideespanhafoioprimeiroreiaconseguirunirtodaaPenínsulaibérica.AUniãoibéricaeraumsonhomuitoantigo,deorigemmedieval,quereistãodistintoscomod.Juanidecastela,quecombateucontrad.Joãoi(1385-1433),ed.AfonsoVdePor-tugal(1438-1481)tinhamacalentado.PortugaleoimpérioPortu-guêsnoBrasil,emÁfricaenoOrientepassaramaintegraroim-périodosHabsburgo,sendoquejáentãod.Filipeiierasenhor,comoentãosedizia,deumimpérioondeoSolnuncasepunha.

OPactodeTomarnãofoi,noentanto,totalmenterespeitadopord.Filipei.contrariamenteaoestabelecido,oreiordenouqueemPortugalpermanecessemtropasespanholas,oquedeixouosPortu-guesesdescontentes.Maistarde,aperdademuitosdosnaviospor-tuguesesqueintegravamaInvencível Armada,em1588,tambémconstituiuumfocodedescontentamentoportuguês.

AInvencível Armadafoicriadapord.FilipeiideespanhaeidePortugalparaconquistarainglaterra.Oreivianainglaterrapro-testante,governadaporisabeli,umgraveperigoparaaeuropacatólica.AarmadaacabouporserderrotadapelaarmadainglesanocanaldaMancha,em1588,istodepoisdetersofridoperdasnumafortetempestade.

d.Filipeifaleceuem1598,deixandooseuvastoimpérioaofi-lho,tambémchamadoFilipe.FilipeiiideespanhaeiidePortugal(1598-1621)foiummonarcamaisapagadodoqueopai.Boapartedo reinado foidominadopelo seufidalgopreferido,oduquedeLerma.

d.FilipeiinãofoicapazdeencontrarparaPortugalumasoluçãodegovernoqueagradasseàmaioriadosPortugueses.OPaíserage-ridodeformapróximaporconselhoscompostospornobresportu-gueses,queestavamempermanentecontactocomorei,atravésdoconselhodePortugal,criadopord.FilipeiesediadoemMadrid.noentanto,oreiestavademasiadolongeparapoderatender,de

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formarápidaeeficaz,aosproblemasqueiamsurgindoemPortu-gale,sobretudo,noBrasil,noOrienteouemÁfrica.

de forma a ter o rei mais próximo e, assim, mais acessível, acâmaraMunicipaldeLisboaprocuroufazerdacidadeacapitaldaMonarquiaHispânica.Paratal,convidoud.Filipeiiavisitá-laeainstalar-se.Oconvitefoiaceitee,em1619,d.Filipeiidirigiu-seaLisboa,comofizerad.Filipei.noentanto,apenassemantevenacidadealgunsmeses–aocontráriodostrêsanosqueopaiperma-necera–efrustrouasideiasdomunicípio.

duranteavisita,chegaramareunir-seascortes,onded.FilipeiiouviuasinúmerasqueixasdosPortugueses.Porém,nãorespondeuàmaioriaenãotardouapartirdevoltaaespanha.Odescontenta-mentonoreinoaumentouemconsequênciadessaatitude.

noentanto,eapesardasqueixasdosPortugueses,aUniãoibé-ricatrouxecertasvantagensaPortugal.Porumlado,permitiuqueosmercadoresportuguesespassassemanegociartambémnaAmé-ricaespanhola,designadamentenoPeruenaArgentina.doPeru,emparticular,começouasertrazidaprata,metalpreciosoquenãoexistiaemPortugal.FoitambémnesteperíododeuniãodinásticaqueosPortuguesessetornaramnosmaioresfornecedoresdees-cravosafricanosdaAméricaespanhola.

d.Filipeiifaleceuinesperadamenteem1621.Oseufilhomaisve-lhosubiuaotronoenquantod.FilipeiVdeespanhaeiiidePortu-gal.Vivia-seentãoumperíododegrandeinstabilidadenaMonarquiaHispânica,frutodasmuitasguerrasemqueaquelaestavaenvolvida.

AolongodoséculoXVii,foicomumalgunsreisservirem-sedeumnobreseupreferidoqueagiacomoprimeiro-ministro.estesindiví-duosganharamonomedevalidos,porseremhomensdavalia–ouseja,daconfiança–dorei.Tantod.Filipeiicomod.FilipeiiidePortugaltiveramvalidos,sendoaqueles,respetivamente,oduquedeLermaeoconde-duquedeOlivares.TambémemFrançaein-glaterraexistiramvalidos,bemcomonoPortugalpós-Restauração,onded.AfonsoVi(1656-1683)mantevecomovalidoocondedecasteloMelhor.

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Ogovernoded.Filipeiiifoimarcado,sobretudo,pelaliderançadoseunobrepreferidoevalido,oconde-duquedeOlivares,que,durantedécadas,controlouaformacomoaMonarquiaHispânicaeradirigida.

ApolíticadeOlivarestinhacomoobjetivoprincipalauniãoefe-tivade todososreinosqueconstituíamaMonarquiaHispânica.OlivarespretendiaquereinoscomoPortugaleAragãoseguissemoscostumespolíticoseculturaisdecastela.Quandotodososrei-nosfossemgovernadosporinstituiçõesiguais,entãopassariamaagircomoumsó,enãocomoumasériedeentidadescomcostu-meseleisprópriasque,porvezes,eramopostas.

Portugalera,então,governadopelosfiéisdeOlivares.Oconse-lhodePortugal,emMadrid,seguiaasordensdovalidodorei.emPortugal,MigueldeVasconceloseraoprincipalapoiantedapolíti-cadeOlivares.estehomemeraosecretáriodeestadodaduquesadeMântua,vice-rainhadePortugaldesde1634,oquesignificavaquetinhaplenospoderesparagovernaroreino.

emPortugal,talcomoemAragão,emesmocastela,aoposiçãoaOlivaresnãoparavadecrescer.BoapartedodescontentamentodosPortuguesesrelacionava-secomasderrotassofridasnoimpé-riocontraHolandeseseingleses,comoveremosnopróximosub-capítulo.

Tambémoexcessodetributaçãoprovocavagrandedescontenta-mentoemPortugal.Foiassimque,em1637,tiveramlugarmotinsantitributários–ouseja,contraosimpostos–umpoucoportodooreino,masparticularmentenaregiãodeÉvora.Osmotinsforamtãoviolentosqueobrigaramàintervençãodetropasportuguesaseespanholas.AsguerrasemqueaMonarquiaHispânicaestavaen-volvida–emparticularcontraFrança–eramcaraseobrigavamaolançamentodepesadosimpostos,comoorealdeágua,umimpostosobreoconsumodecarneepeixe.

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Curiosidade: AolongodoséculoXVii,tiveramlugarmotinsanti-tributáriosumpoucoportodaaeuropa.Osreisexigiamcadavezmaisdinheirodossúbditos,parapagarguerrascadavezmaisdis-pendiosas.naqueleperíodo,eradifícilqueumcamponêsdaBeiraoudoAlentejocompreendesse,porexemplo,quetinhadepagarimpostosparaqueoreipudessefazeraguerracontraosHolandesesnaBaía,noBrasil.Ocamponêsnuncatinhavistoorei,nãosabiaquemeramosHolandesesnemondeeraaBaíaou,sequer,oBrasil.Provavelmente,nuncatinhasequersaídodaaldeia.Assim,paraele,pagaressesimpostoseraconsideradoumacrueldadedesnecessáriae,portanto,preferiarevoltar-se.

em1640,astensõesnoseiodaMonarquiaHispânicaestavamaorubro.nãotardariaadar-searuturaemPortugal,comoveremosmaisadiante.

Portugaleespanhacoexistiramnumauniãodinásticaentre1580e1640.Auniãodinásticasignificavaqueosreinoseramgover-nadospelomesmorei.Porém,Portugalmanteveumaimportantedosedeautonomiaduranteboapartedotempo.

o Império Português (1580-1669) e a concorrência Francesa, Holandesa e Inglesa

AuniãodePortugalaoimpériodosHabsburgo,sobd.FilipeiideespanhaeidePortugal(1580-1598),deuorigemaumasériedeproblemasnoimpério.defacto,espanhadebatia-sejácompo-derososrivais,comoaFrança,ainglaterraeasProvínciasUnidas(atualHolanda).TomandocomodesculpaaintegraçãodePortugalnamonarquiaded.Filipei,osrivaisdeespanhaaproveitaramaoportunidadeparaatacaremváriasposiçõesportuguesasespalha-daspelomundo.

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OsprimeiroscontactosentrePortugueses,Holandeseseingle-sesnaÁsiaocorreramaindaemfinaisdoséculoXVi.noentanto,sóquandoosrivaiseuropeussealiaramapotênciaslocaiséqueconseguiramtersucessocontraoestadoPortuguêsdaÍndia.Foiassimque, em1622,Ormuz,noGolfoPérsico, caiuemmãosdeumaaliançaentre inglesesePersas.Oestadoda Índia,naquelaaltura,jánãoeratãopoderosocomoforaapenasalgumasdécadasantes,muitodevidoàadaptaçãodamarinhaportuguesadoÍndicoàtecnologiaetáticaslocais.

noBrasil,osFrancesesconquistaramoMaranhãoem1612,ten-tando,talcomotinhamfeitonoséculoXVi,criarumBrasilfran-cês.Porém,umavezmais,Portugalnãopermitiu,eoMaranhãofoitotalmentereconquistadoem1615.

OsprincipaisrivaisdosPortuguesesnoimpérioforammesmoosHolandeses–ouneerlandeses–origináriosdasProvínciasUni-dasdosPaísesBaixos.entre1598e1669,PortugaleasProvínciasUnidasenvolveram-senumaguerraque,durante70anos,foicom-batidanaAmérica,naÁsiaeemÁfrica.Aoestender-seatodoomundo,estaguerrapassouaserconsiderada,poralgunshistoria-dores,comoaprimeiraguerramundial.nemsequerofactodePor-tugalsetertornadoindependente,em1640,colocoufimàguerra.

AsProvínciasUnidasforamumarepúblicaprotestanteque,entre1568e1648,combateupelaindependênciacontraaMonarquiaHispânica.Oshabitantesdaquelepaís são, de forma incorreta,apelidadosdeHolandeses.naverdade,sãoneerlandeses,oquesignificaquesãonaturaisdosPaísesBaixos.AHolandaéapenasumadasProvínciasUnidas,enãoopaísinteiro.chamarHolan-desesaosneerlandeseséomesmoquechamaraosPortuguesesapenasalentejanosouminhotos.

em1602,asProvínciasUnidascriaramacompanhiadasÍndiasOrientais(VOc)e,apartirde1619,estabeleceram-seemBatávia,atualJacarta.estacompanhiatinhacomoprincipalobjetivoacap-turadepontosestratégicos,deformaapermitiralivrecirculação

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dos seus navios comerciais. Para tal, começaram a tentar captu-rarpossessõesportuguesas,comoMacau,atacadasemsucessoem1622.OestadodaÍndiaconseguiusobreviveraosavançosdaVOc,masnãosemsofrerperdase tornar-seaindamaisfrágil.Malacacaiuem1641,ailhadeceilãoem1658ecochimem1662.

MasfoinoAtlânticoqueaguerraentrePortugaleasProvínciasUnidasfoimaisimportante.OBrasileraentãoamaioremaisim-portantefontederiquezadePortugal,sobretudodevidoàelevadaproduçãodeaçúcar.essaeconomiaeraalimentadapelosescravosoriundosdacostaocidentaldeÁfricaque,chegadosaoBrasil,eramcolocadosatrabalharnasplantaçõesdecana-de-açúcar.

conhecedoradessasriquezasedaformacomoeramalcançadas,asProvínciasUnidasnãotardaramacomeçaraocuparpontoses-tratégicosdacostaocidentalafricanaeregiõesinteirasdoBrasil.em1612,instalaram-senacostadoOuro,atualGana,massóem1638conseguiramcapturarafortalezaportuguesadeS.Jorge,quefuncionavacomopontodeembarquedeescravosparaoBrasil.

em1621,asProvínciasUnidascriaramacompanhiadasÍndiasOcidentais(Wic).em1624,ocuparamaBaía,acapitaldoBrasilPortuguês. A cidade foi reconquistada nesse mesmo ano, mas aMonarquiaHispânicatevegravesdificuldadesemreunirumexér-cito eumaarmadaparao fazer.em1630, asProvínciasUnidasconquistaramPernambuco,umadasprincipaisregiõesdeprodu-çãodeaçúcardoBrasil.em1641,conquistaramaregiãodoMara-nhão,noBrasil,earegiãodeBenguela,emAngola.

entre1643e1654decorreuacontraofensivaportuguesa,con-duzida, sobretudo,porsenhoresdeengenhosdoBrasil.Portugalcontinental,emguerracontraaMonarquiaHispânica,poucaas-sistênciapodiaoferecer.Logoem1644,oMaranhãofoilibertado.AsvitóriasportuguesasnoBrasileemÁfricaforam-sesucedendo.em1648,AngolaeSãoToméforamrecuperadas.Recife,aúltimapossessãodasProvínciasUnidasnoBrasil,caiuem1654.

Apazfinalsófoiassinadaem1669.AsProvínciasUnidasreco-nheceramaPortugalapossedetodososterritóriosreconquistadosnoBrasileemÁfrica.Porém,Portugaltevedepagarumapesadaindemnização.

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Os principais rivais dos portugueses no império ao longo doséculoXViiforamosHolandesesouneerlandeses.durante70anos,entre1598e1669,osdoisPaísesestiveramemguerra.Hojeemdia,oshistoriadores reconhecemqueasProvínciasUnidasvenceramnaÁsia,PortugalvenceunoBrasilequeambosempa-taramemÁfrica.

Do Portugal da restauração à Guerra da Sucessão de espanha (1640-1706)

A1dedezembrode1640,umgrupodefidalgosenobrespor-tugueseslevouacaboumgolpepalacianoemLisboa.MigueldeVasconcelos, secretário de estado e homem forte da política deOlivaresemPortugal,foiassassinadoeprontamentedefenestrado,ouseja,atiradodeumajanela.Seguiu-seaaclamaçãododuquedeBragançaenquantoreid.JoãoiV(1640-1656).

contrariamenteaoquemuitasvezessediz,ogolpedo1.odede-zembrode1640nãofoilevadoacaboapenaspor40fidalgos,oscélebres40conjurados.Foiantesorganizadoelevadoacabopor71fidalgose36nobres,numtotalde107indivíduos.Todososqueparticiparamtinhammuitoaganharaoteremumreiportu-guês,aindaparamaisumqueelespróprioscolocassemnotrono.Porisso,nãotardouatéqueonovoreiosrecompensasse.

ARestauraçãofoimotivadaporumcrescentedescontentamen-todosPortuguesesfaceaogovernodosHabsburgoeàspolíticasdoconde-duquedeOlivares,ovalidodoreid.Filipeiii.Olivares,conformevimosantes,tinhaporobjetivoatransformaçãodaMo-narquiaHispânicanumsóreino,acabandocomasleiseinstitui-çõesprópriasdePortugal.

Anobrezaportuguesainsurgiu-secontraestapolítica,alegando,desdecedo,queviolavaoestabelecidonoPactodeTomarde1581,

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poiscolocavaemcausaoestatutodePortugalcomoreinoautóno-moediferente.Assim,ogolpede1dedezembrosurgiumaiscomoumarevoltacontraadestruiçãodasinstituiçõeseleisportuguesasdoquepropriamenteuma revoltanacionalista.naqueleperíodoaindanãohaviaumaclaranoçãodenacionalidade,efoitambémporissoquetantosfidalgosportuguesespermaneceramfiéisaosHabsburgo.

Anobrezateveaindaoutrasmotivaçõesparadarinícioaogolpedo1.ºdedezembrode1640:sentia-semal-amadaporumreidis-tante(quenãolheconcediaasriquezasquejulgavamerecer)enãoqueriacombatercontraarecém-revoltadacatalunha,conformeor-denadopord.Filipeiii.

Foi,portanto,odescontentamentodanobrezaquedeuorigemaogolpede1dedezembro.noentanto,nosmesesqueseseguiram,orestodoreinoedoimpério,comexceçãodeceuta,aclamaramd.JoãoiVcomorei.Apopulação,noseugeral,estavafartadospe-sadosimpostoseesperava,portanto,queaoterumreinovoemaispróximoacargafiscalaliviasse,oqueacaboupornãoacontecer.Pelocontrário,aguerraqueentãocomeçouobrigouaoaumentodeimpostos.

noentanto,ogolpedo1.ºdedezembronãopodiaterocorridoemmelhoraltura.d.FilipeiVdeespanha,eantigod.FilipeiiidePortugal,encontrava-seocupadoacombatercontraaFrança–comquemestavaemguerradesde1635–econtraoscatalães,queseti-nhamrevoltadonaprimaverade1640.Arevoltacatalã,quecontoucomumimportantíssimoapoiomilitarfrancês,terminouapenasem1656.Sónesseano,eapósvenceroscatalães, foipossívelad.FilipeiVvirarasuaatençãoparaarevoltaportuguesa,iniciada16longosanosantes!

entre1640e1656,foinecessárioorganizaroreinoeprepará-loparaaguerra.d.JoãoiViniciouoreinadocompromessasdeapoiofrancêsque,noentanto,nuncaseconcretizou.Logoem1641,fo-ramreunidasascortesparalegitimaropoderdonovoreieparaobterdinheiroparafazerfaceàsdespesas.Osimpostosaumenta-ramederam-semesmoalgunsmotins.Onovoreiviveumomentosdramáticosaolongodoseureinado,jáque,porváriasvezes(em1641,1643e1647),houveplanosparaoassassinar.

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Ainsegurançanoreinoaumentouaindamaisquandooherdeirodorei,oprínciped.Teodósio,faleceudedoença,aos19anos.Tor-nou-seentãoherdeirodotronooinfanted.Afonsoque,desdemuitopequeno,eraafligidoporproblemasdesaúdefísicosementais.

Curiosidade: FaceàsdificuldadesdaguerracontraaMonarquiaHispânica,d.JoãoiVdecidiurecorreràajudadivina.Paratal,coroounossaSenhoradaconceição,tornando-apadroeiradePortugal.Faceataldevoção,nenhumoutroreidePortugalvoltariaausaracoroa.

AprimeirafasedaguerradaRestauraçãoabarcoutodooreina-doded.JoãoiV(1640-1656).em1641,oexércitodaAndaluziacer-cou,semêxito,Olivençaeelvas.em1644,umexércitoportuguêssaiuvitoriosonabatalhadoMontijo,juntoaBadajoz.Avitória,noentanto,nãosignificougrandesganhospolíticos.

esteprimeiroperíodo,ondenãoforamcomunsasgrandesba-talhas,foicaracterizadopelasfrequentesescaramuçasqueocorre-ramnasregiõesdefronteira,comooAlentejo.Tornou-senormalaldeiasvizinhasdeambosos ladosdafronteiraatacarem-semu-tuamentepararoubargadoouferramentasagrícolas.

AprincipalarmadaMonarquiaHispânicaduranteosprimei-ros anos da guerra foi a diplomacia, e não a força dos canhões.defacto,d.FilipeiVconseguiuque,internacionalmente,Portugalpermanecessepraticamente isoladoe fosseexcluídode tratados.OPapa,emparticular, recusou-sea reconhecero reidePortugalenquantotalatéaofinaldaguerra(em1668).d.FilipeiVtentoutambémbloquearo comércioexternodePortugal,mascomumgraudesucessolimitado,poisingleseseFrancesesrompiamfre-quentementeobloqueio.

Ao longo do seu reinado, d. João iV viu-se confrontado comcrónicosproblemasderecolhadedinheiroerecrutamentodeho-mens.Porisso,nãopôdeenviarauxílioaoBrasilouaÁfrica,entãoatacadospelasProvínciasUnidas.estasdificuldadesmantiveram--seaolongodaguerraealémdela.d.JoãoiVacabouporfalecerem1656,numalturaemqueaguerracomeçavaatornar-semaisséria.

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d.AfonsoVi(1656-1683)subiuaotronoaos13anos,peloquenãopodia, legalmente,governar.Porisso,asuamãe,d.LuísadeGusmão, assumiu a regência e governou Portugal em nome dopríncipe.Maistarde,d.AfonsoViviriaademonstrarserumreipoucopreocupadocomogovernodoreinoe,decertomodo,poucocapazdeoexercer.Apesardetudo,foinoseureinadoqueaguerrasetornoumaisintensaedecisiva.

em 1659, Portugal venceu a batalha das Linhas de elvas con-traumexércitoespanholquecercavaaquelavilaalentejana.noentanto,foiapartirde1662e1663quesederamascampanhasdecisivas.Umexércitoespanholcomandadopord.JoãodeÁustriainvadiu o Alentejo em 1662. Apenas foi derrotado em 1663, naimportantebatalhadoAmeixial,juntoaestremoz.noanoseguin-te, um ataque de um outro exército espanhol a castelo Rodrigofracassou.Porfim,em1665,tevelugaraderradeiragrandebatalhadaguerra,abatalhadeMontesclaros,juntoaBorba,queterminoucomumavitóriaportuguesa.

Apazfoiassinadaem1668ePortugalfoi internacionalmentereconhecidocomoumreino independentedaMonarquiaHispâ-nica. A vitória portuguesa na guerra foi, na altura, uma grandesurpresa.nãoseesperavaqueumpequenoreinopudessealcançaravitóriacontraapoderosaMonarquiaHispânica.noentanto,Por-tugalnunca esteveverdadeiramente sozinho.Françamanteve-sedurantemuito tempoemguerra contraaMonarquiaHispânica,obrigando-a,assim,adesviarsoldadosque,noutrascircunstâncias,teriamsidousadosparacombaterosPortugueses.

Assim,aFrançaacabouporterumpapeldecisivonaguerra,des-delogopeloapoioàrevoltadacatalunha,emboranãotenhaauxi-liadoPortugaldeformadireta.Alémdisso,ocondedeSchomberg,umgeneralalemãoaoserviçodaFrança,foienviadoparaPortugalem1660efoiessencialnaorganizaçãodoexércitoportuguês.Aelesedeveramboapartedasvitóriasalcançadas.

noentanto,foiainglaterraquemaisajudaprestouaPortugal.desdeoiníciodaguerraquemercenáriosinglesescombatiamnasfileiras do exército português. Porém, em 1661, firmou-se umaaliançaentreosdoisreinos,atravésdocasamentoded.catarinadeBragança, irmãded.AfonsoVi, comcarlos iide inglaterra.

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Odotedaprincesaincluiu,alémdedinheiro,Bombaím,naÍndia,eTânger,emMarrocos.Oapoioinglêsviriaarevelar-sebastanteimportantenafasefinaldaguerra.

em1668,Portugal encontrava-se, pelaprimeira vez emquase30anos,empaz.noanoseguinte,conformevimosnosubcapítuloanterior,tambémaguerranoimpériocontraasProvínciasUnidaschegariaaofim.eraentãoalturadecomeçararecuperaroreino.

Aindaassim,mesmoenquantoaguerradecorria,nãocessaramasintrigaspalacianas.Oreinadoded.AfonsoVi(1656-1683)foimarcadodeformaparticularpelaintrigadecorte.Orei,dadasassuasdebilidadesmentais,erafacilmentecontroladopelosquelheerampróximos.Foiassimque,atravésdeumgolpepalaciano,afas-toud.LuísadeGusmãodaregência,em1662.OcondedecasteloMelhor, jáentãovalidodo jovemrei, foioprincipalresponsávelpelogolpe.Averdadeéquearegênciadarainhadeveriatertermi-nadoanosantes,masoreierapoucodadoaogoverno,preferindodivertir-secomamigos.

entre1662e1667,d.AfonsoVideixouoreinoentregueaogover-nodoseuvalido,ocondedecasteloMelhor.noentanto,aoposiçãoaoconde–eaoprópriorei–foicrescendo.em1667,estalouacriseecasteloMelhorfoiafastadopeloinfanted.Pedro,irmãodorei.Oinfanteera,desdehámuito,vistocomoosucessordoirmão,jáqued.AfonsoVi,apesardecasado,nãopareciacapazdeterfilhos.

OdesterrodecasteloMelhordacorteabriucaminhoaoafas-tamentodopróprioreie,em1668,d.AfonsoVifoiafastadodogovernodoreino.Ascortesreunidasnesseanooficializaramade-cisão.Oreieradeclarado incapazdegovernare,piorainda, im-potente.Oseucasamentocomd.MariaFranciscadeSabóia foianuladoed.Mariacasou-secomoinfanted.Pedro.Oinfantefoientãoescolhidocomoregentedoreinoemnomedorei,eassimpermaneceuatéàmorteded.AfonsoVi.

emborad.Pedroiitenhagovernadooreinodesde1668,sóassu-miuacoroaapósamortedoirmão.Foijád.Pedroque,enquantoregente,assinouapazcomaMonarquiaHispânica(1668)ecomasProvínciasUnidas(1669).Oseureinadocorrespondeuaumlongoperíododepazqueapenasfoiquebradoem1703,quandoPortugaltomoupartenaGuerradaSucessãodeespanha.

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no entanto, até à morte do rei d. Afonso Vi, o governo ded.Pedronuncaesteve totalmenteseguro.Porváriasvezessurgi-ramconspirações(em1672,porexemplo)paralibertaroreiecolo-cá-lodenovoàfrentedopoder.noentanto,d.AfonsoViacabariamesmoporfalecer,em1683,semserlibertado,permitindo,assim,qued.Pedroiisetornassereipordireitopróprio.

Aolongodoseugovernoenquantoregente,edepoisenquantorei,d.Pedroiiviu-seobrigadoaatenderàsvontadesdanobreza,poisforaelaque,emboamedida,ofizerarei.nesteaspeto,orei-nadoded.Pedroiifoisemelhanteaodoseupai,d.JoãoiV(1640--1656).nãosóoreidependiaporcompletodosváriosconselhosparatomardecisões–comooconselhodeestadoeoconselhodaGuerra–,comonuncadispôsdeumvalido.

encontradaapaz,d.Pedroiitentourevitalizaraeconomiadoreino.Ainiciativadecriarmanufaturasnoreinocoubeaocondedaericeira. Foi oprimeiro surto industrialdoPaís,masnão foiparticularmentelongo.AdependênciaexternadePortugalconti-nuariaaaumentaraolongodasdécadasseguintes.

Parafazerfaceàsdificuldadeseconómicasdoreino,eumavezqueoacessoàpratadaAméricaespanholaestavaagoravedado,d.PedroiiordenouoestabelecimentodeumacolóniajuntoaoriodaPrata,noatualUruguai.Assim,em1680,foifundadaacolóniadoSacramentoque,maistarde,viriaaserocentrodediscórdiasentrePortugaleespanha,portersidofundadamesmoemfrenteaBuenosAires,naArgentina.

OBrasilera,àépoca,vistocomooprincipalsustentodacoroa.Porisso,d.Pedroiitentouacautelarosinteressesportuguesesnaregiãoaonegociarnovostratadoscomerciaiscominglaterra,FrançaeProvínciasUnidas.OmaisconhecidofoioTratadodeMethuen,celebradocomainglaterraem1703,equesignificouumaumentodadependênciacomercialportuguesadaquelereino.

Oúltimograndeatodoreinadoded.PedroiifoiaparticipaçãonaGuerradeSucessãodeespanha(1702-1713),umconflitoqueteveinícioapósamortesemherdeirosdoreid.carlosii.Asprin-cipaiscampanhasteriamlugarjánoreinadoseguinte.d.Pedroiifaleceuem1706,deixandootronoaofilhomaisvelho,oprínciped.João,apartirdeentãod.JoãoV.

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economia e Sociedade

um país pequeno e pouco povoado – o numeramento de 1527-1532

entre1527e1532decorreuoprimeirocensodaHistóriadePor-tugal.Longedeserumcensomoderno,era,noentanto,oprimeiroatentarcontabilizartodaapopulaçãodoPaís.Paratal,osoficiaisdoreipercorriamoreinodepontaaponta,apontandoonúmerodefamíliasquemoravamemcadaregião.Ofactodeterdemoradocincoanosacompletardemonstraoquãodifícilerafazeralgodogénero,numtempoemqueascomunicaçõeseramlentaseosca-minhosmauseperigosos.

Onumeramentotevelugarporqued.Joãoiii(1521-1557)de-sejavaconhecermelhororeino.eraútilàcoroaconhecerapopu-laçãoportuguesa,parasaberaocertoquempodiapagarimpostos,quantoshomensestavamdisponíveisparaotrabalhoe,sobretudo,paraaguerra.

estaaçãonãopermitiusaber,aocerto,quantoshabitantesPortu-galtinhaemmeadosdoséculoXVi.istoporquecontabilizavafamí-liasenãoindivíduos.Aindaassim,ebaseando-senonúmerodenú-cleosfamiliaresexistentesnoperíodo,oshistoriadorescalculamquePortugaltivesseentre1milhãoe1.5milhõesdehabitantes.compa-rativamente,espanhateriaentãocercade7milhõesdehabitantes.

Portugal era, no contexto europeu, um país pequeno e poucopovoado,e tambémpor issoasuaexpansãopelomundofoi tãodiferentedadeoutrospaíses.Portugalnão tinha, simplesmente,homensemquantidadesuficienteparaconquistaremantergran-desterritórios.AÍndiaeraincomparavelmentemaispovoadadoquePortugaleasuaconquistapelaforçadasarmasnuncateriasidopossível.Porisso,osPortuguesesdesenvolveramosistemadefeitorias-fortalezas,referidonocapítuloanterior,emantiveram-sesemprepróximosdomar,ondeosnavioslhesgarantiamsuperiori-dademilitar,linhasdecomunicaçãoeabastecimento.

FoinoBrasilquePortugalmaisinvestiunacolonizaçãoaolongodosséculosXVieXVii.e,comoésabido,Portugalnãoencontrou,

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naquele território, uma grande civilização que tentasse impediressacolonização.OsAmeríndios,aocontráriodosincaseAztecasquecombateramcontraosespanhóis,eramdemasiadodesunidosparaimpedirdeformasignificativaoavançodacolonização.Ain-daassim,foi tambémporfaltadepopulaçãoquedurantemuitotempooterritórioportuguêsnoBrasilselimitouàcosta,nãoavan-çandomuitoparaointerior.

os Jesuítas: entre Portugal e a evangelização do oriente

A companhia de Jesus foi fundada por inácio de Loyola em1540.noconcíliodeTrento(1545-1563)ficoudecididoqueosJe-suítasdeveriamseros responsáveispela reconversãodaeuropaprotestante.TiveramalgumsucessoemáreascomoaPolónia,queconseguiramfazerregressaraocatolicismodepoisdealgunsanosdeProtestantismo.

AcompanhiadeJesuschegouaPortugal logonoanodafun-dação,1540.FranciscoXavierfoiohomemescolhidoeenviadoaPortugal,ondefoientusiasticamenterecebidopelosreis,d.Joãoiiied.catarinadeÁustria.nãotardoumuitoatéquepartisseparaaÍndia,paraaídarinícioàmissionaçãodoOriente,projetoqueseriacontinuadoporoutrosJesuítasaolongodosséculosseguintes.

em1559, foi fundadoocolégiodoespíritoSanto, emÉvora.Aquelecolégiotornou-seasegundauniversidadedoreino,aseguiràdecoimbra,eocontrolofoientregueaosJesuítas.Asuafunda-çãoforapatrocinadapelocardeald.Henrique,irmãodoreid.Joãoiii.defacto,aordemtornou-setãoimportantenoreinoqueempoucosanostodososconfessoresdaspersonagensmaisimportan-tes,desdelogodoreiedarainha,eramjesuítas.

noOriente, amissionaçãodos Jesuítas tinhamais sucessodoquea levadaacaboporoutrasordensreligiosas. istoporqueal-gunsJesuítasadaptavamosensinamentosdaBíbliaàsrealidadeslocais,tornando-amaisacessívelàspopulaçõesdaÍndiaoudoJa-pão. Mais, a educação que os membros da companhia de Jesusrecebiameratãocompletaque,muitasvezes,osseusserviçoseram

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requisitadosporreisesenhoresasiáticos.emtrocadapartilhadoconhecimentodosJesuítas–comosabertocarinstrumentosmu-sicaisouterconhecimentossobreAstronomiaeMatemática–osreislocaispermitiamquepregassemdeformalivre.Foiassimque,entreasdécadasde1540e1600,osJesuítasconseguiramcriardonadaumacristandadejaponesacomcentenasdemilharesdefiéis.

As riquezas do Brasil

comovimosnocapítuloanterior,o achamentodoBrasilpelaarmadadePedroÁlvarescabral,em1500,nãoconduziuaumime-diatoaproveitamentodoterritório.Houveinteresseded.Manueli(1495-1521)emmanteroterritóriosobcontroloportuguês,masapenasparagarantirasegurançadarotadocaboqueligavaLisboaàÍndia.duranteessereinado,apequenaporçãodecostabrasileiraqueeraconhecidaficouentregue,sobretudo,aosinteressescomer-ciaisprivados.nesseperíodo,oprincipalprodutoexploradonare-giãoeraopau-brasilqueviria,maistarde,adarnomeàregião.Porentão,oBrasileraaindaconhecidocomoTerradeVeracruzousimplesmenteVeracruz.

comd.Joãoiii(1521-1557),opovoamentodoBrasiltornou-seumaprioridade,tendocomoprincipalobjetivoimpedirainstala-ção de bases de piratas franceses na região, o que colocaria emriscoanavegaçãoportuguesaoriundadaÍndia.

emmeadosdoséculoXVijásepercebiaqueossolosbrasileiros,depoisdefeitaadesflorestaçãodecertasáreas,erammuitomaisférteisdoqueossolosemPortugal.Assim,oBrasilcomeçouaseraproveitadoparaaagriculturae,maistarde,tambémparaapecuá-ria,sobretudodegadobovino.noentanto,foramasplantaçõesdeaçúcarqueconstituíramomotordoBrasilportuguêsduranteosséculosXVieXVii.

Oclimabrasileiroerapropícioàproduçãodeaçúcar,enãotar-douatéqueossenhoresdonosdeengenhosdeproduçãodaque-le produto se tornassem ricos. O açúcar era vendido na europaporpreçosmuitoelevadose,mesmosendojáoriundodoBrasil,continuavamuitasvezes a ser vendido como se fosse açúcarda

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Madeira.Aproduçãodeaçúcarsófoitãolucrativagraçasaotra-balhoescravo.OsescravoseramcompradosnacostaocidentaldeÁfricaelevadosparaoBrasil,ondeeramempregadosnocultivodacana-de-açúcar.

Aproduçãoaçucareiraera tão importantee lucrativaque,emmeadosdoséculoXVii,asProvínciasUnidas,ouseja,aatualHo-landa,invadiramonortedoBrasil.nasdécadasde1630a1650,PortugaleasProvínciasUnidasdisputaramocontroloderegiõesricas em açúcar, como Pernambuco. Os colonos portugueses doBrasil combateram quase sempre sem apoio da metrópole, poisPortugalestava,então,envolvidonaguerradaRestauração(1640--1668)contraaMonarquiaHispânica.

comoveremosnopróximocapítulo,no séculoXViiioBrasiltornou-se aindamais importanteparaPortugal, jáque foi entãoquesedeuinícioaociclodoouroedaspedraspreciosas,queiriaalimentarosgastosdoreinadoded.JoãoV.

Cultura e Artes

Do Maneirismo ao Barroco

OManeirismofoiumestilodetransiçãoentreoRenascentistae o Barroco. consistia, essencialmente, na deturpação de outrosestilos,concedendo-lhescaracterísticasqueaquelesnãopossuíam.Poressemotivodurourelativamentepoucotempo,natransiçãodoséculoXViparaoséculoXVii.

OBarrocofoioestiloartísticoporexcelênciadasgrandescons-truçõesnaeuropa,emparticularnosul.emPortugal,oprincipalexemploéoconventodeMafra,mandadoconstruirpord.JoãoV,comoveremosnocapítuloseguinte.

AsdecoraçõesdoBarrocosãomenosausterasdoqueasdeesti-losanteriores,epredominamasimagenseossímbolosreligiosos.Paraosreiscatólicos(emPortugal,espanhaeFrança),eramuito

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importanteeducaraspopulaçõesdentrodeumamatrizcatólica,paraquenãopendessemparaoProtestantismo.Tambémousodeazulejose,emparticular,detalhadourada(sobretudonasigrejas),revelabemaopulênciadoBarroco.

nãoéporacasoqueasgrandesobrasdoBarrocoportuguêssur-giramnoperíodoemquemaisriquezas,sobretudoouro,tiveramorigemnoBrasil.Tambémnesse território seconstruíramobrasmagníficas,comoaigrejaMatrizdenossaSenhoradoPilar,emOuroPreto,estadodeMinasGerais.nestaigreja,porexemplo,pre-dominaatalhadeouronoaltar.

O auge do Barroco português ocorreu no século XViii, peloqueseráanalisadocommaisdetalhenocapítulodedicadoaesseséculo.

A Inquisição em Portugal e a reforma Protestante na europa

AinquisiçãofoiintroduzidaemPortugalporvontadeexpressaded.Joãoiii,em1536,eapóslongosanosdelutadiplomáticaemRoma.OPapanãoqueriaqueainquisiçãoseinstalasseemPortu-gal,poiscompreendiaqueseriautilizadaparafortaleceropoderdorei.e,defacto,foiissoqueaconteceu,jáqueapartirdeentãoacoroacomeçouaintervirnosassuntosreligiososque,atéaquelemomento,estavamreservadosaoPapa.

naquelaaltura,considerava-sequeumreicatólicosópodiaserverdadeiramenteobedecidoporumapopulaçãocatólicae,porisso,perseguiam-seasminoriasreligiosas.esteprocesso já tinhasidocomeçadomesmoantesda instalaçãoda inquisição,quandoem1497d.Manuelimandouconverter,ouexpulsarcasonãoofizes-sem,osJudeus.

Os problemas religiosos na europa adensaram-se com o iní-ciodaReformaProtestante,promovidaporMartinhoLutero,em1517.defacto,nãotardouatéqueaantigacristandadeeuropeiaseestilhaçasseedesselugaraumaclaradivisãoentrereinoscató-licos(Portugal,espanha,França)ereinosprotestantes(inglaterra,PaísesBaixos,reinosdaescandináviaealgunsestadosAlemães).

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OconcíliodeTrento(1545-1563),convocadopeloPapaparadis-cutir o estado da cristandade com os representantes dos váriosreinoscatólicos,acabouporendureceraindamaisavisãoqueoscatólicos tinham acerca dos protestantes, judeus e muçulmanos.Boa parte das decisões tomadas no concílio foram rapidamenteadotadaspord.Joãoiii,quedesejavaumaigrejaportuguesaforteecapazdelidarcomqualquerameaçaaocatolicismo.TambémporissoapoiouosJesuítasepermitiuquepregassememPortugalenoimpério.nãofoiporacasoqued.Joãoiiiganhou,maistarde,ocognomedeO Piedoso.

emPortugal,ainquisiçãoacabariaporduraratéaoséculoXiX(sófoiextintaem1821).começaram,desdecedo,asperseguiçõescontratodosaquelesque,deacordocomospadrõescatólicos,ofen-diamaordemdoreino.nestelotedeperseguidosincluíam-seasminoriasreligiosas,comooscristãos-novos(judeusconvertidosaocatolicismonoreinadoded.Manueli)emuçulmanos,alémde,naturalmente,protestantes,bemcomominoriassexuais,comooshomossexuais.

Umadasferramentasdecensuradainquisiçãofoioíndicedelivrosproibidos,ondeforamincluídasobrasquesejulgavampre-judiciaisàordemdosreinoscatólicos.nestesíndicesincluíam-se,obviamente,asobrasdeMartinhoLutero,mastambémasdeeras-modeRoterdão(quenuncaquiscortarrelaçõescomaigreja,aocontráriodeLutero).

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Cronologia

Data Acontecimentos

1519-1521 circum-navegaçãodaTerraporFernãodeMagalhãeseSebastiand’elcano.

1521 Morteded.Manueli.Subidaaotronoded.Joãoiii.

1524 casamentoded.Joãoiiicomd.catarinadeÁustria.

1525 casamentodainfantad.isabelcomoimperadorcarlosV.

1529 ResoluçãodefinitivadaquestãodasilhasMolucas.

1527-1532 numeramentodapopulaçãoportuguesa

1532-1535 criaçãodascapitanias-donatáriasdoBrasil.

1536 instalaçãodainquisiçãoemPortugal.

1538 Primeirocercodediu,naÍndia.

1540 ináciodeLoyolacriaacompanhiadeJesus.

1543 chegadadosPortuguesesaoJapão.

1546 Segundocercodediu,naÍndia

1549 Formaçãodogoverno-geraldoBrasil.TomédeSousaénomeadoprimeirogovernador.

1551 integraçãonacoroadasOrdensdeAvis,cristoeSantiago.

1554 Falecimentodoinfanted.Joãoenascimentodoseuúnicofilho,d.Sebastião.

1557 Morteded.Joãoiii.Subidaaotronodoseuneto,d.Sebastião.MacauécedidapelachinaaoestadoPortuguêsdaÍndia.

1557-1562 Regênciaded.catarinadeÁustria.

1559 FundaçãodaUniversidadedeÉvora.

1562-1568 Regênciadocardeald.Henrique.

1565-1575 crisemilitarnoestadodaÍndia.

1568 d.Sebastiãotomaasrédeasdopoder.

1578 BatalhadeAlcácerQuibir.desaparecimentoded.Sebastião.Subidaaotronodocardeald.Henrique.

1579-1580 convocadascortesparaAlmeirimparadecidirasucessãodoreino.

1580 Mortedocardeal-reid.Henrique.d.António,priordocrato,faz-seaclamarcomorei.d.FilipeiideespanhainvadePortugal.BatalhadeAlcântara.d.Filipeiitorna-sed.FilipeidePortugal.

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1581 AscortesdeTomarreconhecemd.Filipeicomorei.d.FilipeigaranteaautonomiadePortugalnoPactodeTomar.

1588 AinvencívelArmadaespanholaéderrotadapelosinglesesnocanaldaMancha.

1589 d.AntónioinvadePortugalcomajudainglesa,masnãoconseguetomaroreino.

1598 Morteded.FilipeidePortugal.Subidaaotronoded.FilipeiidePortugal.iníciodaguerraentrePortugaleasProvínciasUnidas.

1602 AsProvínciasUnidascriamaVOc,acompanhiadasÍndiasOrientais.

1612 OMaranhão,noBrasil,éconquistadopelosFranceses.

1615 ReconquistaportuguesadoMaranhão.

1619 d.FilipeiivisitaLisboa.AVOcfazdeBatávia,nainsulíndia,asuacapital.

1621 Morteded.Filipeii.Subidaaotronoded.Filipeiii.

1622 Ormuz,noGolfoPérsico,éconquistadaporumexércitoanglo--persa.MacauéatacadasemsucessopelaVOcholandesa.

1630 AsProvínciasUnidasconquistamoPernambuco,noBrasil.

1634 AduquesadeMântuaéescolhidacomovice-rainhadePortugal.MigueldeVasconceloscontrolaapolíticaportuguesa.

1635 iníciodaguerraentreaFrançaeaMonarquiaHispânica.

1637 RevoltasantitributáriasdeÉvora.

1640 Revoltadacatalunha.Golpedo1.ºdedezembro.d.JoãoiVaclamadocomorei.iníciodaGuerradaRestauração.

1641 AsProvínciasUnidasconquistamoMaranhão,noBrasil,Ben-guela,emAngola,eMalaca,nainsulíndia

1643-1654 campanhasportuguesascontraasProvínciasUnidas.

1644 LibertaçãodoMaranhão.VitóriaportuguesanabatalhadoMon-tijo,juntoaBadajoz.

1648 ReconquistadeAngolaeSãoTomé.

1654 conquistadeRecife,oúltimoredutodasProvínciasUnidasnoBrasil.

1656 Morteded.JoãoiV.Subidaaotronoded.AfonsoVi.iníciodaregênciadarainhad.LuísadeGusmão.Fimdarevoltadacatalunha.

1658 AsProvínciasUnidasconquistamailhadeceilão,noÍndico.

1659 VitóriaportuguesanabatalhadasLinhasdeelvas.

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1660 chegadadocondedeSchombergaPortugal.

1661 AsProvínciasUnidasconquistamacidadedecochim,naÍndia.Portugaleinglaterratornam-sealiados.d.catarinadeBragançacasacomcarlosiideinglaterra.

1662 Golpepalacianoefimdaregênciaded.LuísadeGusmão.OcondedecasteloMelhortorna-sevalidoded.AfonsoVi.inva-sãoespanholadoAlentejo.

1663 VitóriaportuguesanabatalhadoAmeixial.

1664 FracassodocercoespanholacasteloRodrigo.

1665 VitóriaportuguesanabatalhadeMontesclaros.

1667 OcondedecasteloMelhorcaiemdesgraçaeédesterrado.

1668 d.AfonsoViéconsideradoincapazeimpotente.Éafastadodogovernoeoseucasamentoanulado.Oinfanted.Pedrotorna-seRegedoredefensordoreino.AssinaturadapazcomaMonar-quiaHispânica.FimdaGuerradaRestauração.

1669 FimdaguerracontraasProvínciasUnidas.

1683 Morteded.AfonsoVi.Subidaaotronoded.Pedroii.

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V

PortuGAl no SÉCulo XVIII

Política e Guerra

o absolutismo joanino (1707-1750)

inspiradopelomodelofrancêsdoreiLuísXiV(1638-1715)eporobrascomoO Rei é Rei porque Deus quer(1681),d.JoãoVé,tradi-cionalmente,encaradocomoosímbolomáximodopoderabsolutoemPortugal.Partindodosprincípiosdequeopodererasagradoeasuaautoridadeinquestionável,poremanardiretamentededeus,omonarcapossuíaumconjuntodequalidadessuperioresqueasse-guravamobomgoverno.

7.Reid.JoãoV(1689-1750).

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OlongoprocessodeconsolidaçãoeafirmaçãodopoderrégiononossoPaísfoidesenvolvidoapósarestauraçãodaindependência,em1640,quandod.JoãoiVsentiuanecessidadedeorganizarereestruturaraburocraciaestatal,deformaadarrespostaàsdife-rentesquestõesqueoreinoenfrentavae,simultaneamente,voltaracentralizaropoder,depoisde60anosdedomíniofilipino.

nosdoisreinadosseguintes(d.AfonsoVied.Pedroii),areuniãodascortesfoidecaindoemnúmeroeemimportância,reunindo-sepelaúltimavezem1697,parajuraroherdeiroefuturod.JoãoV,demonstrandoqueoreiabsolutonãosesubmetiaaqualquerórgãodepoderpolítico.comomonarcaMagnânimoatinge-seumpontodegranderelevânciaparaaafirmaçãodoregimepolítico,princi-palmentepelofactoded.JoãoVadmirarprofundamenteoestilodegovernaçãodoRei Sol francês.

Omodelodecontrolopessoalfoiintensivamenteimpulsionadoatravésda reformadas três secretariasde28de julhode1736.Aoreestruturaronúcleoadministrativodoestado,concedeuummaiorgraudeespecializaçãoàsdiferentespastas (SecretariadeestadodosnegóciosinterioresdoReino,SecretariadeestadodaMarinhaedomíniosUltramarinoseSecretariadeestadodosnegó-ciosestrangeiroseGuerra),possibilitandoareduçãosubstancialdopapeldosconselhosumavezqueossecretáriosdeestadopassa-vamatrabalhardiretamentecomorei.Apesardealgunsproble-masgravesdesaúde,d.JoãoVfoiummonarcaquesepreocupouemresolvercadadespachocomamáximaatenção,conhecendoemdetalhetudooquesepassava.

O Absolutismo Régio foi um sistema político que concentroutodosospoderes(legislativo,executivoejudicial)nasmãosdeummonarca,legitimadopelofactodetersidoescolhidopordeusparagovernar.AlcançouoperíodoáureoentreosséculosXViieXViii.

nascidoem22deoutubrode1689,O Magnânimosubiuaotro-nocom17anos,emjaneirode1707,egovernouopaísaté1750,numa época de grande riqueza depois da descoberta do ouro

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(décadade1690)edosdiamantes(1720)brasileiros.numaclaraten-tativadeimitaroluxoegrandiosidadeostentadanacortefrancesa,d. JoãoVprocurou reproduzir esse esplendor emPortugal, ado-tandoapostura,oprotocoloeaetiquetavigentesnumaeuropaondeomonarcaeraocentrodasatenções.Todosdeveriamprestarvassalagemaumreirodeadoporumambientedeluxo,ondeostrajes,osespetáculos,aóperaeosbanqueteseramsímbolosclarosdofaustoquesevivianaépoca.

Ocasamentoded.JoãoVcomd.MariaAnadeÁustria(1683--1754)foiumdosprimeirosexemplosdocarácterfaustosodomonarcaedasuapolíticadiplomática.ParaalémdeenviarumaluxuosaembaixadaaViena,em1708,paraacelebraçãodomatri-mónio,odesembarquedanovarainhaemLisboafoiacompa-nhadoporumaarmadaeasuaentradanacortefoirealizadacomsetepompososcoches.

A Guerra de Sucessão de espanha (1701-1714) e a política diplomática joanina

Aquelequeéconhecidocomooreinado do ouroteveuminícioturbulentoemtermoseconómicosemilitaresumavezqued.JoãoVherdoudopaiaparticipaçãomilitarnaGuerradeSucessãodeespa-nha(1702-1714)eumdosmaiscontroversosacordoscomerciaisdanossaHistória,oTratadodeMethuen(1703).Oconflitoespanholiniciou-seapósamorte,semherdeiros,decarlosiideespanha,passandoacoroaaserdisputadaentreumnetodeLuísXiV,FilipedeBourbon,eoarquiduquecarlosdeHabsburgo.

TornadoreiFilipeVpelotestamentodomonarcafalecido,em1700,aeuropacorriaoriscodeserdominadapelaFrança,oqueobrigouàcriaçãodaGrandeAliança(inglaterra,Holanda,dina-marcaeestadosAlemães)queapoiavaocandidatoaustríaco.Por-tugal,apósumabrevecooperaçãocomoladofrancês,seguiuaspisadasbritânicas,frutodaspressõeseconómicasecomerciais.Os

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momentosaltosdaparticipaçãoportuguesanesteconflitoocorre-ramaquandododesembarqueemLisboadoarquiduquecarlos,a 7 de março de 1704, que, desta forma, reconhecia simbolica-menteadinastiadeBragança,eaparticipaçãomilitarnabatalhadeAlmansa.

Ocasamentoded.JoãoVcomd.MariaAnadeÁustria,irmãdoarquiduquecarlos,consolidoudefinitivamenteaposiçãopolítico--militarnaGrandeAliança.Sóapósacedênciadecolóniasespa-nholas,porpartedeFilipeV,naassinaturadoTratadodePazdeUtrecht(1713-1715)eoapaziguamentodoarquiduquecarlos,quesubiuaotronoimperialaustríacodepoisdamortedoirmãoJoséi,équeaguerraterminou.

Curiosidade: OTratadodeMethuen,assinadoa17dedezembrode1703,estipulouacompra,semrestrições,detecidosbritânicoseavendadevinhoportuguêsapreçosmaisacessíveis.estetra-tadoveioaumentaradependênciaportuguesafaceaomercadoinglêsumavezque90%dovinhonacionaleraexportadoparainglaterra.

daquiemdiante,d. JoãoVdecidiuqueseriamaisvantajosoparaPortugalapostarnaafirmaçãoatlântica,comercialepolítica,impondo,nessesentido,aneutralidadeperantetodososconfrontosmilitaresquesedessemnaeuropa.Aaliançacominglaterrafoiconsolidadaecanalizaram-seesforçosparaoBrasil,colóniaparaondepartirammilharesdeportugueseseseampliaramosefetivosadministrativos,técnicosemilitares.Apolíticadeneutralidadefoiapenascontrariadanocontextocolonial,defendendo-seosinteres-sesportuguesesnaÍndia,AméricaLatinaeMacau.

Apesar disto, a aplicaçãodesta política diplomática neutral fi-coumarcadapelasfabulosasrepresentaçõesportuguesasemParis,Roma, Madrid ou Viena, onde os embaixadores ostentavam ex-traordináriostrajesecochesdeouro.OsresultadosforambastantepositivoscomaSantaSé,apesardocortederelaçõesentre1728e1732,aquemPortugalsocorreumilitarmenteaquandodabata-

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lhadocabodeMatapão(1717),contraoimpérioOtomano,oqueacabouporresultarnafundaçãodoPatriarcadodeLisboa(1737)enumtratamentoigualperanteasoutraspotênciaseuropeias.

d.JoãoV,apósrelevantestrabalhosdiplomáticosdeembaixado-rescomoAndréMelloecastro,recebeu,doPapaBentoXiV,otítulodeRei Fidelíssimo(1748).

Apesar da troca de princesas, em 1729 (a infanta portuguesad.MariaBárbaracasariacomofuturod.FernandoVieainfantaespanhola Mariana Vitória de Bourbon casaria com o nossofuturod.Joséi),o«perigoespanhol»pairouduranteestereinado.ApenascomaassinaturadoTratadodeMadrid(1750),queserviuparadefinirasfronteirascoloniais,équearelaçãoentreospaísesibéricosestabilizou.

A ascensão e a ação política de Sebastião José de Carvalho e Melo

d.Joséi,O Reformador,subiuaotronoa31dejulhode1750eoseureinadode27anosesteveintimamenteligadoàatuaçãopolítica,económicaesocialdeSebastiãoJosédecarvalhoeMelo(1699-1782),maisconhecidoporMarquêsdePombal.estereinadoficoumarcadopelaaçãodesteministro,queofuscouopapelcentraldomonarcaabsolutopelasuaimpulsiva,constanteetransversalintervençãocomohomemdeconfiançadoreiemtodosossectoresdavidacoletivadoPaís.

AascensãopolíticadoMarquêsdePombaliniciou-seentre1750e1755,alturaemquefoinomeadoparaocargodesecretáriodeestadodosnegóciosestrangeirosedaGuerra,umdostrêsministé-riosexistentes,provavelmentepelodesempenhopositivoenquantoembaixadoremVienaeemLondres.nestescincoanosdestacou--sepelaoposiçãoaoTratadodosLimites (oudeMadrid), faceàimportânciaestratégicadacolóniadoSacramento,epeloiníciodocombateàcompanhiadeJesusnoMaranhão(Brasil),ondeinsti-

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tuiuacompanhiaGeraldocomércio,comointuitodereduzirainfluênciadosJesuítas.

Oterramotode1denovembrode1755veioprecipitaraafir-maçãopolíticadesteministroque,comamorteeafastamentodosoutrosdoissecretáriosdeestado,concentrouemsiplenospode-res,sobatutelad’O Reformador.Adeptododespotismoesclarecido(ouiluminado),foinomeadosecretáriodeestadodosnegóciosdoReinoem1756edeparou-secomumpaísquenecessitavadeumconjuntodereformasinstitucionaisquepromovessemaoperacio-nalidadedoestado.nessequadro,aadministração,asfinanças,ofisco,ajustiça,aeconomiaeoensinotornaram-sealvodeprofun-dasalterações.Parapreencherosnovoscargospúblicoselevouossectoresletradosdaburguesia.

Odespotismoiluminadofoiumaformadegovernoemqueummonarcaabsoluto,«iluminado»pelaRazão,lideravaosdestinosdeumanaçãoemproldo seubem-estar e felicidade.Atravésdesteprincípio,osprivilégiosdanobrezaeainfluênciadaigrejaperderamrelevânciaperanteaautoridaderégia.

noâmbitodasfinançaspúblicas,acriaçãodoerárioRégio(1761)potenciouumaclaramelhorianagestãoecontrolodasreceitasedespesasdoestado,centralizandotodososrecursosexistenteseaformadeosaplicar.esteprocessodemodernizaçãofoifundamen-talparadarcapacidadederespostaàreduçãodasremessasdeourodoBrasileànovacrisecomercialquesefezsentir.

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Fazendopartedonúcleodecríticosdadependênciadeingla-terra,oMarquêsdePombalretomou,emparte,omodelomercan-tilistadasegundametadedoséculoXVii.criouascompanhiasdecomérciomonopolistasparaoOrienteeBrasil(1755),fundouaJuntadocomércio(1755),pararegulartodaaatividadeeconómica,estabeleceuacompanhiaGeraldaAgriculturadasVinhasdoAltodouro(1756)einstalounovasunidadesindustriaisdetêxteisemTomar,AveiroeLisboa.

noquadrodajustiça,areformadosistemaprocurouuniformizaralegislaçãonocontextonacional,retirandorelevânciaaodireitotradicionaldaslocalidadesedeterminadosprivilégiosdetidospelocleroenobrezaque,naprática,comandavamashostesnaprovín-cia.Acriaçãodaintendência-GeraldaPolícia,em1760,impulsio-nouumnovoperíodonosistemajudicialportuguês,aopermitirumamaioroperacionalidadedasleiseprendertodosaquelesquecometessemcrimes.

8.MarquêsdePombal(1699-1782).

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Oensinofoiumadasmaiorespreocupaçõesdoestadista,umavezquereconheciaanecessidadededotaraadministraçãocentraldequadrosqualificados.AexpulsãodosJesuítas(1759)reduziuprofundamenteouniversodedocentesnoscolégiosnacionais,per-mitindoumareformaalargadacomnovosprofessores.AreformadaUniversidadedecoimbrapassoupeloencerramentoprovisóriodaUniversidadedeÉvoraepelaimplantaçãodaJuntadaPrevidên-ciaLiterária(1768).Osnovosestatutos(1772)englobaramnovasdisciplinas,ométodoexperimentaleumreforçodopensamentoiluministaquevigoravanorestodocontinente.comointuitodeassegurarapublicaçãodeobrascomumdeterminadocarizpro-gressistaereduziropoderclerical,centralizouoTribunaldeSantoOfícioefundouaRealMesacensória(1768).

emtermosmilitares,PortugalfoiobrigadoaquebrarapolíticadeneutralidadeeaintervirnaGuerradosSeteAnos(1756-1763),umconflitoentreFrança,ÁustriaeRússiacontrainglaterraePrús-sia.em1762,Portugalrecusouaexigênciafrancesadeencerrarosportosaosbritânicos, levandoosfrancesesainvadirem,comosespanhóis,oterritóriodeTrás-os-Montes,depoisGuardae,final-mente,aBeiraBaixa.OcondealemãoLippefoinomeadomarechal--generaldoexércitoportuguêsepagouamilharesdemercenáriosparaatriunfantedefesadeLisboa.

Época de transições: do reinado de D. Maria I à regência de D. João VI

Oiníciodoreinadomarianoétradicionalmenteobservadocomoummovimentodeviradeira,istoé,umcortecomapolíticapomba-linaemdiversossectores.OMarquêsdePombalfoiimediatamentedestituídodetodososcargosedesterrado,acusadodeabusodepoderecorrupção,acabandoporficarconfinadoàssuaspossessenhoriais.estainversãoderumoincluiua libertaçãodeváriospresoseexiladospolíticosearestituiçãodediversostítulosnobi-liárquicos.

Aindaassim,apermanênciadosjuízesnostribunaissuperioresdacoroaoudealgunsministrospombalinos,eaafirmaçãopolíti-

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co-institucionaldaintendênciaGeraldaPolíciaàsmãosdediogoináciodePinaManique(1780)sãoreveladoresdeumacertama-nutençãodealgumaspolíticasdoanteriorreinado.

duranteos15anosdegovernação(1777-1792)ded.Mariai,po-demosdestacar,comofactosmaisimportantes,amanutençãodapaz,nomeadamentepelaviadoscasamentoscruzadosdosinfan-tesdePortugaleespanha,aassinaturadeumimportanteacordocomercialcomaRússia(1789),umconjuntovariadodeperdõese,principalmente,acriaçãodacasaPiadeLisboa(1780).

importasalientar,aindaassim,odecretolançadopeloviscondedeVilanovadecerveira,em15defevereirode1786,que,naten-tativadereduzirotempodeesperadaReal Assinatura,informavaque os despachos régios de conselhos, tribunais, secretarias deestadoeinstânciassuperioresdogovernoseriamautenticadosape-nascomumcarimbodarainha,semqueexigisseasuapresença.destaforma,opoderrealiniciavaumpercursodedescentralização.

ArainhaPiedosa(ouLouca)foiafastadaclinicamentedagover-naçãoem1792,apósamortedomarido,d.Pedroiii(1786),edofilhoepríncipeherdeiro,d.José(1788).Oseucatolicismofervo-rosofazia-aimaginarqueopai,d.Joséi,ardianoinfernoporterexpulsadoosJesuítas.

Militarmente, os efeitos provocados pela Revolução Francesaprecipitaram,apósadecapitaçãodeLuísXVi,aintervençãopor-tuguesaeespanholacontraosrevolucionáriosfrancesesnacam-panhadoRossilhãoedacatalunha(1793-1795),batalhasparaasquaisonossoexércitocontribuiucomcercade6milsoldadosparapesadasderrotas.OséculoXViiiportuguêsterminavatalcomoco-meçara,sobosignodoconflitoedaguerra.Logoem1801eclodiriaa«GuerradasLaranjas»,contraaespanhaeFrança,queresultounaperdadeOlivença.

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economia e Sociedade

A sociedade portuguesa na fase final do Antigo regime

Portugal,noiníciodoséculoXViii,talcomograndepartedaeuropa,vivianumasociedadedeordens,assentenoprivilégio,nariquezaenopoder.estratificadaentreclero,nobrezaeTerceiroestado (vulgarmentedenominado«povo»), onascimentoouasfunçõespolítico-sociaisexercidaspelosindivíduosdefiniamores-petivoestatutojurídico,queincluíadireitos,deveresehonras.OcomportamentoeosvaloresdoAntigoRegimeerammarcadospelaaparência,naqualaostentaçãodopoderedariqueza,nomea-damenteatravésdeumtrajenobreoudobáculodosclérigos,deve-riamcorresponderadeterminadasformasdetratamento.

notopodapirâmidesocialencontrava-seaordemmaispróximadedeus:oclero.isentadeimpostosàcoroa,documprimentodoserviçomilitarecomtribunaispróprios,estaordemprivilegiadausufruíadodízimoeviviadosrendimentosdassuasproprieda-desebens.nãoobstante,asdiferençasentrealtoebaixocleroeramevidentes,estandooprimeiroreservadoasegundosfilhosdanobrezaeaosmaisaltoscargosreligiosos,possuindoinfluêncianapolíticaenacorte,enquantoosegundocoordenavalocalmenteaparóquiaeorientavaespiritualmenteascomunidades.

nosegundopatamarencontramosanobreza,ordemdemaiorprestígioqueocupavaosprincipaiscargosmilitareseadministrati-vos,detinhagrandespropriedadesruraisetambémnãocontribuíacomimpostos.divididaentrenobrezadeespadaoudesangueenobrezadetoga,existiam,noiníciodoséculoXViii,51casastitu-laresnonossopaís.destestítulosnobiliárquicospodemosdestacaroduquedecadaval,oduquedecoimbra,oduquedeLafõesouocondedeBarcelos.

commaiorherançahistóricaelongaslinhagens,anobrezadeespadacaracterizava-sepelacarreiradedicadaàsarmasepelapossedeextensaspropriedadesrurais.Anobrezadetoga,poroutrolado,representava todosaquelesquepassaramaocupar importantes

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cargospúblicosemembrosdaburguesiaqueascenderamsocial-menteatravésdoestudouniversitáriooudocasamento,eaquemomonarcaseviuforçadoaconcedertítulosnobiliárquicos.

Sustentandoasoutrasordensatravésdopagamentodeimpostosetrabalho,oTerceiroestadoeraogrupomaisheterogéneo,emvir-tudedeabrangerumconjuntovariadodecondiçõessocioeconómi-cas.nestaordemépossívelobservarumapequenaeliteburguesa,constituídaporhomensdeletras,mercadorese indivíduoscomofícios«superiores»,comoosjoalheiros.nogrossodapopulação,englobandoartesãoseassalariadosnascidadesenocampo,aindasepodiamencontrarvagabundos.

Apesardeaagriculturacontinuaraseraprincipalatividadeeco-nómicanonossopaís,asuaestagnaçãoprodutivacontribuiuparaaintensificaçãodasrelaçõescomerciais,nomeadamenteatravésdeumarotatriangularnoAtlânticoqueenglobavaotransportedeescravosdeÁfricaparaoBrasiledeaçúcar,tabacoecafébrasilei-rosparaPortugal.

entreofinaldoséculoXViieadécadade1730,Portugalpossuíacercade2milhõesdepessoas.AtéaofinaldoséculoXViiicres-ceria,emtermospopulacionais,atéaos3milhões,pelaviadodesenvolvimentoedodinamismoeconómicoderegiõesportuá-riascomooPorto,Viana,SetúbalouFaro.

o ciclo de ouro e do açúcar brasileiro

Asconstantesapostasnaexploraçãodosertãobrasileiro,atra-vésdosbandeirantes,foramachaveparaadescobertadoouroedosdiamantesnoBrasilnadécadade1690.estemomentoveioremodelarasprioridadesdasrelaçõesinternacionaisportuguesas,tornandoaproteçãodasrotascomerciaisedafronteirabrasileiranosprincipaisaspetosdapolíticaexterna.defacto,oequilíbriofinanceirodamonarquiajoaninabaseou-senaprosperidadeeco-nómicabrasileirae,atéàindependênciadestacolónia,noinício

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doséculoXiX,tornou-seevidenteaclaradependênciadePortugalperanteoBrasil.

A«corridaaoouro»justificaoselevadosníveisdeemigraçãoparaacolóniae,consequentemente,ocrescimentodemográficoque,grossomodo,passoude300milhabitantesnadécadade1690,parapertode2milhõesdepessoasnofinaldoséculoXViii.Oriun-dosdosAçores,daMadeiraedonortedePortugalcontinental,oourobrasileiroobrigouaosurgimentodeumalegislaçãoqueesta-belecesseocontrolodepassaportes.

Paraadministrareficazmenteoespaço,osgovernadores-geraisdoBrasilascenderamavice-reis,em1720,eas famíliasnobresmaisimportantes,comoosMascarenhas,osnoronhaouosMene-ses, foramrodandonocargo.Oestabelecimentodo impostodo«quinto»sobretodososmetaispreciososextraídostornou-seumadasprincipaisfontesdereceitadoestado.

Paralelamente,oaçúcarfoicontinuandoaaumentarosníveisdeproduçãointernoseosvaloresdeexportaçãoparadiversoster-ritórioseuropeus,sempreàcustadotráficodeescravosafricanos.Osengenhosdeaçúcarerammanobradosatravésdemãodeobraescrava,paramanterospadrõesdelucro.Masfoioouro,desco-bertoprincipalmentenaregiãodeMinas,aprincipalapostadoscomerciantesquecomprarammilharesdeescravosparaodolo-rosoprocessodemineração.esteciclodoouroinundouPortugaldeumverdadeirosentimentoderiqueza,jáque,entre1715e1750,amédiaanualderemessasdeourovariouentreos12mileos25milquilos,valoresextraordináriosparaaépoca.

nãoobstante,averdadeéqueodesenvolvimentodeoutrossec-toreseconómicosficoutotalmenteaquémdasnecessidadesreaisdopaís,desanimandooligeiroimpulsomercantileindustrializa-dorverificadonoreinadoded.Pedroii.nomeadoministrodaFazenda,o3.ocondedaericeiratinhainiciadoumaintervençãoeconómicacommedidasprotecionistasquevisavamaintroduçãodaindústriatêxtil,vidreiraemetalúrgica.

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Umbandeiranteeraum indivíduoquecolaboravanumaban-deira,istoé,numaexpediçãoarmadaapartirdolitoralemdire-çãoaointerior(sertão)queprocuravaexplorarterraseencontrarriquezas,comopedraspreciosas.

Parasuprimiroselevadosdéficesnabalançacomercialluso--britânica,provocadospeloTratadodeMethuen,oouroprove-nientedoBrasilacabou,emgrandesquantidades,napossedainglaterra.Omesmoourofoi,ainda,utilizadoparacustearapolí-ticadegrandesconstruçõesded.JoãoVetodososseusluxosassociados.

Porfim,oladonegrodeste«ciclodoouro»prende-secomascen-tenasdemortosnaGuerradosemboabas(1707-1709),umconflitoquesurgiudepoisdeseespalharanotíciadadescobertadeouronoBrasil.Milharesdepessoasdirigiram-seàsregiõesdeMinasGeraiseSãoPauloeentraramemconfrontocomosbandeirantespelodireitodeexploração.

1 de novembro de 1755: o dia do terramoto

consideradocomoumdosmaistrágicosmomentosdanossaHistória, amanhãdodiadeTodososSantosde1755destruiugrandepartedeLisboaesentiu-senazonasuldoPaíseemespa-nha,provocandoamorteamilharesdepessoaseaderrocadademilharesdeedifícios.Pelas9horas,osismo,econsequentetsu-nami,afetaramseveramenteacidade,colocandoemriscodedesa-lojamentomaisdedoisterçosdoslisboetasereduzindoacinzasimportantesehistóricasconstruçõesdacidade.

Osincêndios,quesealastrarampormaisdecincodias,geraramopâniconacomunidade.Ocaosgeradopelosmilharesdedesa-lojadoseaspilhagensconstantesderamaoMarquêsdePombalumaoportunidadeúnicaparaseafirmarpoliticamentejuntodorei.entrepalácios,conventoseigrejassoterrados,atéarecém-inau-guradaóperanãoresistiuaumdosmomentosmaiscomentadosportodaaeuropanasegundametadedoséculoXViii.

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A reconstrução da moderna Lisboa, que inclui, ainda hoje, avulgarmenteconhecidaBaixaPombalina,ficouacargodoenge-nheiro-mordoreino,ManueldaMaia,doengenheirohúngarocar-losMardeledoarquitetoeugéniodosSantosecarvalho.declarainspiraçãoiluminista,onovotraçadodacidadecaracterizou-seporumaausterageometria,quesubstituiuosbecoseruelasporespa-çoslargoseretilíneos,comedifíciosdefachadaealturaidênticas,cujaestruturainternaera«emgaiola»(sistemaantiterramotos).APraçadocomérciosubstituiuovelhoTerreirodoPaço,comointuitodepromoveraelevaçãodaburguesia,eaestátuaequestreded.Joséimanteveosimbolismodopoderabsoluto.

Curiosidade: Traumatizadopeloacontecimento,d.Joséiganhoufobiaaespaçosfechados,tendomandadoconstruirumpaláciodemadeiraemateriaislevesnotopodaAjuda,queficouconhecidocomoaReal Barraca.

A expulsão dos Jesuítas e o Processo dos távora, em 1759

AindaqueoMarquêsdePombaltenhasimbolizadoumciclorelevantededinamismopolítico,culturaleeconómico,averdadeéquepermanececomoumafigurapolémica,devidoaosintensoscombates que teve de travar durante a sua governação. dessescasos,aexpulsãoeconsequenteextinçãodaordemreligiosadosJesuítaseoprocessodosTávorasão,juntamentecomaapertadacensuraliteráriaeasperseguiçõespoliciaisdos«motinsdoPorto»,exemplosclarosdeumaadministraçãocom«mãosdeferro».

Pordecretode3desetembrode1759,todosospadresjesuítasforamexpulsosdePortugaledascolónias,acusadosdeplanearemsecretamentea tomadadepossedoBrasil,ondepossuíamumarelevantepresençanamissionaçãodosíndios.entre«rebeldes»,«agressores»e«adversários»domonarca,aexpulsãodaordemreligiosaacabouporserimitadapelosreinosdenápoles,espanha

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eFrança,obrigandooPapaclementeXiV,em1774,asuprimiraordemdocontinenteeuropeu.

Relacionadocomesteimportanteacontecimentoreligioso,paraalémdocortedasrelaçõesdiplomáticasentrePortugaleaSantaSé,praticamenteduranteumadécada,esteveoprocessoeaconde-naçãodafamíliaTávoraedosduquesdeAveiro.d.Joséifoialvodeumatentativadeassassinatoquandoregressavaacasanoseucoche,tendosidoalvejadoportirosdebacamarte.

conspirandocontraacompanhiadeJesus,oMarquêsdePom-balprocedeuaumainvestigaçãoqueacabouporcondenaràmorte,por«crimesdeLezaMagestade»,todaafamíliadosTávoraeosduquesdeAveiro.executadospublicamente,ascríticasaoMar-quêsdePombalacentuaram-senomeionobiliárquicoeclericalqueassistiuhorrorizadoàstorturaseàexecução.Poucotempodepois,opadreitalianoGabrielMalagrida(1689-1761),tambémelejesuíta,foienforcadoporestarenvolvidonatentativadeassassinatod’O Reformador.

Asubidaaotronoded.Mariai,umadasprincipaisinimigasdoMarquêsdePombal,levou,naépoca,aumanovainvestigação,queconsiderouafamíliaTávorainocente.OsTávorarecuperaram,assim,todosostítulosqueanteriormentedetinham.

Curiosidade: em1757,noPorto,ocorreuummotimpopularcontraacompanhiaGeraldasVinhasdoAltodouroqueacabouporgerar,aproximadamente,400condenados,26execuçõesevárioscastigosàcidade.OsJesuítasforamencaradospeloMarquêsdePombalcomoosprincipaisresponsáveispelainstigaçãodomotim.

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Cultura e Artes

A ostentação do Magnânimo e as grandes construções do Barroco

entre a viragem do século XVii e as primeiras décadas doséculoXViii,dopontodevistacultural,oestiloartísticodoBar-rocoatingiuoapogeunocontextoportuguês.deformagenérica,veiocontrastarcomarigidez,equilíbrio,lógica,linhasclássicaseracionalidadedoRenascimento,procurandoalivreinterpretaçãodaAntiguidade clássica ao exagerar nos adornos, exuberância,grandiosidade,emancipaçãodomovimentoeutilizaçãodecoresfortes,dramáticaseteatrais.natentativadecopiaromodelodeLuísXiV,o MagnânimoutilizouoourodoBrasilparacustearasuanecessidadedeostentarpoderinternaeexternamente.

convocandoosmelhoresartistaseuropeusparaacorteportu-guesaouenviandojovenspintoresnacionaisparaitáliaouFrança,d.JoãoVenveredoupelaedificaçãodegrandesconstruções,ondesedestacaramoAquedutodasÁguasLivres(1748),oPalácio-con-ventodeMafra(1717-1730)ouareconstruçãodaigrejadaMiseri-córdiadoPorto(1748),respetivamenteprojetadosporManueldaMaia,peloalemãoJoãoLudoviceepeloitalianonicolaunasoni.Outrosprojetosdearquiteturabarrocanoperíodojoaninocaracte-rizaram-sepelaexuberâncianointerior,nomeadamenteatravésdautilizaçãodatalhadouradaedoazulejo.nesseâmbito,épossívelevidenciaracapeladeSãoJoãoBaptista(1742-1744),construídapornicolaSalvi,ouaBibliotecaJoaninadaUniversidadedecoim-bra(1717-1728).

Aomesmotempo,potenciou,pelaviadomecenato,asarteseas letras,podendo-sedestacara fundaçãoeaprodução literáriadaAcademiaRealdaHistóriaPortuguesa (1720), soba coorde-naçãoded.AntóniocaetanoeSousaedo4.ocondedaericeira,d.FranciscoXavierdeMeneses(1673-1743).

A própria Língua Portuguesa, no seguimento dos «sermões»domaiorautordobarroco,PadreAntónioVieira(1608-1697),foiimpulsionadapelapublicaçãodeobrasrelacionadascomosmais

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variadostemas,destacando-seopapeldeRaphaelBluteau(1638--1734)eoseuVocabulario Portuguez Latino(1712-1721).

ATorredosclérigos,construídaentre1732e1763nosreinadosded.JoãoVed.Joséi,éumadasmaioresreferênciadobarroconacidadedoPorto.comohomenagemaotrabalhodenicolaunasoni,estefoisepultadonointeriordaigreja.

A Academia real das Ciências: a inspiração iluminista

Apósumperíododerelativafluidezna introduçãodopensa-mentoiluministanosmeiosintelectuaisportugueses,queconvi-veramcomumaintensacensura literáriaduranteagovernaçãopombalina,asubidaaotronoded.MariaipermitiuumnovofluxonaÉpocadasLuzes.AfundaçãodaAcademiadasciênciasdeLis-boa,a24dedezembrode1779,permitiuqueexiladospolíticosdotempodePombal,nomeadamented.JoãocarlosMascarenhasdaSilva,2.oduquedeLafões,eoabadeJoséFranciscocorreiadaSerraassumissemosprincipaiscargosdecomando.

Foram estes dois homens que concentraram esforços para adefiniçãodosobjetivoseconstruçãodosestatutosdaAcademia.nestesestavaprevistaadistribuiçãodosmembrosemtrêsgruposdistintos:ciênciasPuras,ciênciasnaturaiseLiteratura.A13demaiode1783,autilidadepúblicadaAcademia foi reconhecidainstitucionalmente,merecendoaproteçãorealded.Mariaieded.Pedroiii.destaforma,foipossívelconcederváriosprivilégios,nomeadamenteolivreacessoaosarquivospúblicosdoreinoouapossibilidadedeasobrasacadémicasnãoteremdepassarpelacensura.AntesdesefixarnoconventodeJesus,emXabregas,em1834,aprimeirasededaAcademiaRealdasciênciasfoinoPaláciodasnecessidades.

esta academia, encarada como uma clara reação à políticapombalina, foi criadacomo intuitode serumaalternativaaos

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estudos realizados em coimbra, e destacou-se, até meados doséculoXiX,pelapublicaçãodasMemórias da Agricultura (1788--1791),pelasMemórias Económicas(1789-1814),pelos65volumesdasEfemérides Naturais(1788-1862)oupelaarecolhadocumentaldoPortugaliae Monumenta Historica.

norestodaeuropaproliferavamasacademiascientíficasqueprocuravam,fundamentalmente,promoverainvestigaçãoedesen-volverosmétodosdeconhecimentotécnicoecientíficoqueiamsur-gindo,inclusivamenteatravésdacriaçãodelaboratóriosoubiblio-tecas.SãoexemplosaAccademia dei Lincei,deFlorença(1603),aRoyal Society, deLondres(1660),ouaAcadémie des Sciences,deParis(1666).AdiferençadeumséculonafundaçãodaAcademiaRealdeciênciasébemilustrativadoatrasocientíficoeintelectualdeumpaísquetardouemreconheceraimportânciadestasáreas.Aindanoreinadomarianodestacaram-se,dopontodevistacultu-ral,asimportantesmissõescientíficasdeinvestigação,assimcomoafundaçãodaAulaPúblicadodebuxoedesenho(1779)edaRealBibliotecaPúblicadeLisboa(1796).

entre o Barroco tardio, o neoclassicismo e o Pré-romantismo do final de século

AArcádia Lusitana ouUlissiponense,fundadaem1756,foiumaassembleiadeescritoresportuguesesqueprocuraramrenovaraliteraturapelaviadacríticaaosexagerospresentesnoBarrocoaté1776.LideradosporAntóniodinisdacruzeSilva(1731-1799),defendiamainspiraçãonosclássicosgregoselatinosenaprodu-çãoartísticarenascentista,utilizandopseudónimos.FoirefundadacomoArcádia Portuense (1767-1770)e,maistarde,comoNova Arcá-dia (1790-1794).

no longo prazo, foi a atividade literária dos membros destegrupo,comoPedrocorreiaGarçãooudomingosdosReisQuita,quepromoveuaaberturanecessáriaparaafuturaintroduçãodoRomantismo,principalmovimentoculturaldoséculoXiX.Paraalém da relevância cultural que os estrangeirados tiveram nasegundametadedoséculoXViiiportuguês,ainvasãodosideais

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daRevoluçãoFrancesa,iniciadaem1789,potenciouestatransiçãoliteráriaocorridaemPortugal,ondepoetascomoBocagedestaca-vamaânsiapelaliberdade.

nãoobstante,foiaascensãoeconómicaesocialdaburguesia,livredaculturaedosvaloresaristocráticos,queimpulsionouumnovogostopelaexpressão líricadossentimentos.OPré-roman-tismotevena4.amarquesadeAlorna,d.LeonordeAlmeidaPor-tugal(1750-1839),emJoséAnastáciodacunha(1744-1787)eemFilintoelísio(1734-1819),exemplosclarodametamorfoseculturaledeideaisduranteoúltimoquarteldoséculoXViii.

O neoclassicismo português, em termos arquitetónicos, tevecomoprincipaisdestaquesoPicadeiroReal(antigoMuseunacio-naldoscoches)eoHospitaldeSantoAntónio,noPorto.AculturaportuguesanofinaldoséculoXViiiéclaramentetraçadaporumacomplexateiadeinterpenetraçãoentreoBarrocotardio,oneoclas-sicismoeoPré-romantismo,ondeconstruçõescomoaBasílicadaestrela(1779-1790)eoTeatrodeÓperadeSãocarlos(1792)sãobemdemonstrativasdessamisturadeestilos.

Cronologia

Data Acontecimentos

1703 AssinaturadoTratadodeMethuen,entrePortugaleinglaterra.

1703-1714 ParticipaçãoportuguesanaGuerradeSucessãodeespanha.

1706 Falecimentoded.Pedroii,a9dedezembro.

1707 Subidaaotronoded.JoãoV,O Magnânimo.

1708 casamentoded.JoãoVcomd.MariaAnadeÁustria.

1709 BartolomeudeGusmãoiniciaaconstruçãodapassarola.

1713 AssinaturadoarmistíciocomaFrança(TratadodeUtrecht).

1714 nascimento,a6dejunho,dofuturoreid.Joséi.

1715 Assinaturadoarmistíciocomaespanha.

1716 FundaçãodoPatriarcadodeLisboa.

1717 iníciodaedificaçãodaBibliotecaJoaninanaUniversidadedecoimbraedoPalácio-conventodeMafra.

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Diogo Ferreira e Paulo Dias

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1720 FundaçãodaAcademiaRealdaHistóriaPortuguesa,sobaégidedo4.ºcondedaericeiraedoclérigod.AntóniocaetanoeSousa.

1729 d.Joséicasacomd.MarianaVitóriadeBourbon.

1732 iníciodaedificaçãodoAquedutodasÁguasLivres(Lisboa)edaigrejadosclérigos(Porto).

1734 nascimento,a17dedezembro,dafuturarainhad.Mariai.

1736 Reestruturaçãodastrêssecretariasdeestado.

1750 Morteded.JoãoV,em31dejulho,esubidaaotronoded.Joséi,O Reformador.SebastiãoJosédecarvalhoeMelo,futuroMar-quêsdePombal,énomeadosecretáriodeestadodosnegóciosestrangeirosedaGuerra.AssinaturadoTratadodeMadrid(oudosLimites).

1751 AlvaráqueproíbeotransportedeescravosprovenientesdoBrasilparaespaçoscoloniaisquenãofossemdePortugal.

1752 Fundaçãodacapitania-GeraldeMoçambique.

1755 Terramotode1denovembrode1755.

1756 FundaçãodacompanhiaGeraldaAgriculturadasVinhasedoAltodouro.MarquêsdePombalassumeapastadosnegóciosdoReino.

1758 Atentadocontrad.JoséiemBelém.ProcessocontraosTávoras.

1759 FundaçãodacompanhiaGeraldecomérciodePernambucoeParaíbaeexpulsãodosJesuítas.

1760 d.Mariaicasacomotio,d.Pedroiii.

1761 criaçãodoRealcolégiodosnobres.

1767 nascimento,a13demaio,dofuturod.JoãoVi.

1768 introduçãodaRealMesacensória.

1777 Falecimentoded.Joséiesubidaaotronoded.Mariai,A Pie-dosa,econsequenteafastamentodoMarquêsdePombaldopoderpolítico.

1779 criaçãodaAcademiaRealdasciências.

1780 criaçãodacasaPiadeLisboa.

1782 Aliançaentred.MariaiecatarinaiidaRússia.

1785 d.JoãoVicasacomd.carlotaJoaquina.

1786 Morteded.Pedroiii.

1792 17médicosreconhecemainstabilidadementalded.Mariai.Governoentreguead.JoãoVi.

1792-1816 Regênciaded.JoãoVi.

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VI

PortuGAl Do FInAl Do AntIGo reGIMe

à AFIrMAção Do lIBerAlISMo (1807-1890)

Política e Guerra

As invasões francesas e o domínio britânico (1807-1820)

Portugal,nosprimeirosanosdoséculoXiX,estavademasiada-menteenraizadonoAntigoRegime,fugindoaosventosrevolucio-náriosquesopravamemFrança,frutodaaçãopolíticadainten-dência-GeraldaPolíciaoudaRealMesacensória.Apenasumapequenaeliteintelectualealgunsmembrosdaburguesiacomer-cial, reunidosmuitasvezes em lojasmaçónicas,pareciamestarinteressadosnosvaloresdaLiberdade,Fraternidadeeigualdade.

numaeuropaemquenapoleãoBonaparteprocuravadominarmilitareeconomicamente,d.JoãoVinãoaderiuaoBloqueiocon-tinental,em1807,mantendoasrelaçõesdeamizadecomosbritâ-nicos.depoisdePortugalterperdidooterritóriodeOlivençaparaespanha,duranteaGuerradasLaranjas(1801),oPaísvoltouaestaremconflitoe,nosquatroanosseguintes,viveuumasituaçãodra-mática:astrêsinvasõesfrancesas(1807-1811).

OBloqueiocontinentalfrancês,impostopornapoleãoBonaparte,em1806,àinglaterra,proibiatodosospaísesdeestabelecerrela-çõescomerciaiscomosbritânicos,comointuitodegerarumacrisenaquelepaíserealçaraimportânciafrancesanosmercadosinternacionais.

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Antesdachegadadas tropascomandadaspelogeneral Junot,emnovembrode1807,d.JoãoVieafamíliarealfugiramparaoBrasil,paraquenãofossemcapturadosePortugalperdesseainde-pendênciaenquantoestado.ORiodeJaneiropassouaserasededegovernoe,noanoseguinte,osportosbrasileirosforamabertosaocomércioestrangeiro,perdendoaexclusividadecomosnego-ciantesportugueses.

comoauxíliobritânico,emparticulardomarechalBeresfordedogeneralWellington,queficaramnocomandodastropasportu-guesas,foipossívelvencerosfranceses,lideradosporJunot,nasbatalhasdaRoliçaoudoVimeiro.Astropascomandadaspelogene-ralSoulttiveramomesmodestino,porocasiãodasegundainvasão(1809),bemcomoasdogeneralMassenanaúltimainvasão(1810-1811).FoinestederradeiromomentodeconflitoqueascélebreslinhasdeTorresVedras(conjuntodefortificaçõesemespaçosestra-tégicosnumsistemadetrêslinhasdefensivas)protegeramLisboa.

Paraalémdetodaadevastaçãoprovocadapelasinvasões,nomea-damentenaindústriaenaagricultura,edosdiversossaquesamos-teiros,paláciosouigrejas,esteperíodoficoumarcadopelodomí-nioeafirmaçãopolíticadosbritânicosemPortugal.entre1808e1820,Portugalviveucomoumacolóniabrasileiraeumprotetoradoinglês.

defacto,d.JoãoVi,aoadiarconstantementeoregressoaPortu-galeelevaroBrasilaoestatutodereino,em1815,permitiuqueosbritânicos,alémdeestaremincumbidosdeorganizaroexércitoeadefesadoterritórioportuguêsnasmaisaltaspatentesmilitares,ganhassemmaispoder.OmarechalBeresfordpassouacontrolarboapartedaeconomiaportuguesa,exerceuumadurarepressãosobretodosaquelesquefossemacusadosdeestaremligadosaosideaisdaRevoluçãoFrancesaereavivouainquisição.

Curiosidade: duranteagovernaçãodeBeresford,ogeneralGomesFreiredeAndradeemais11oficiaismilitaresforamexecutados,em1817,porestaremenvolvidosnumaconspiraçãoliberal.

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Da revolução «Vintista» à Guerra Civil Portuguesa (1820-1834)

numquadroemqueaburguesiacomercialligadaaosnegócioscomoBrasileimportantesquadrosmilitaresforamsubstituídospelosbritânicos,foifundada,noPorto,em1818,umaassociaçãosecretadenominadaSinédrio.Uniumilitares,nobreseburguesescomumfortecunhomaçónico,etinhacomoprincipalpropósitoterminarcomodomínioinglês.

numclimaderevoluçõesliberaisumpoucoportodaaeuropa,nomeadamenteemespanhaeemnápoles,eaproveitandoadifu-sãodepropagandapolíticaquevinhadopaísvizinhoeaausênciaBeresford,quetinhaidoaoBrasil,oSinédriorecolheuosapoiosnecessários para o pronunciamento militar de 24 de agosto de1820,noPorto.AtravésdaJuntaGovernativa,osgeneraiseastro-pasbritânicasforamexpulsasdopaís.

ManuelFernandesTomásfoioprincipaldirigentedeumarevo-luçãoquerespeitavaocatolicismo,masqueansiavapelaconvo-caçãodascortesconstituintes epelo tão esperado regressoded.JoãoViaPortugal.Omovimentorevolucionáriorapidamentealastrou-sepelopaís,queseuniuemtornodaJuntaProvisionaldoSupremoGovernodoReino,órgãoquepreparouaseleiçõesparaascortesconstituintes.PelomeioaindaocorreuaMartinhada(novembrode1820)queexigiaaentradaemvigordaconstituiçãodecádis.

Aelaboraçãodaconstituiçãode1822duroumaisdeumanoemeioe,deformaresumida,permitiuaseparaçãodepoderes(oexecutivoficounasmãosdomonarcaedogoverno;olegislativonascortes;ojudicialnostribunais),previaaliberdadeeigualdadedoscidadãosperanteasleiseasoberaniadanaçãoatravésdovoto,queestavareservado,commuitasexceções,aoshomenscommaisde25anosquesoubessemlereescrever.

Masaelaboraçãodestaconstituição,alvodeintensosdebatesemdiversostemas,comoareligiãoouovetorégio,antecipouumaclaradivisãoentreumsectormoderadoeummaisradical.LideradoporManuelFernandesTomás,osectormaisradicalficouconhe-cidocomovintista,econseguiuimpediracensuraadeterminados

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escritos,evitarosistemabicameral,mantendoacâmaraúnica,ereduzira influênciadopoderdeveto.destaforma,asoberaniapopular,atravésdosrepresentantesdanação,prevalecia.

Oregressoded.JoãoVi,apósternomeadoofilho,d.Pedro,comopríncipedoBrasil,eoseujuramentoderespeitaraconstituiçãode1822,simbolizouofimdoAntigoRegimeeoiníciodaMonar-quiaconstitucional,emPortugal.

duranteaestadiaded. JoãoVieda famíliarealnoBrasil,aantigacolóniavivenciouumperíododegrandedinamismoeconó-mico,culturalepolítico,frutodaaberturadosportosànavegaçãointernacional,àelevaçãoareinoeaosurgimentodeinstituiçõesjudiciais,deensinoedeumanovadivisãoadministrativa.Maisimportantefoiodesenvolvimentodeumsentimentoindependen-tista/separatistaqueteve,em1789,oprimeiroexemplonainconfi-dênciaMineira.LideradaporJosédaSilvaXavier(oTiradentes),foiumaconspiraçãonacapitaniadeMinasGeraiscontraosimpostoseogovernocolonialportuguêsnoBrasil.

interessadosnoregressoàcondiçãodecolóniaenaproibiçãodocomérciodiretocomoutrospaíses,ascortesconstituintesrejei-tavamo«ReinodePortugaleBrasil»edesejavamqueLisboavol-tasseacontrolaraadministração,ajustiçaeosmilitaresbrasileiros.d.Pedro,quedeveriavoltaràeuropa,acaboupordeclararainde-pendênciadoBrasila7desetembrode1822,nofamoso«Gritodoipiranga».

nuncaaceitandooradicalismopresentenaconstituiçãode1822,ocleroeanobrezasentiam-seprejudicadoscomofimdosprivilé-gios,peloqueiniciarammovimentaçõesparaacontrarrevoluçãoquedeveriarestauraramonarquiaabsoluta.Oprínciped.Miguelearainhad.carlotaJoaquinaforamosprincipaisaliados.

em1823e1824,d.MiguelchefiouosgolpesdaVilafrancadaeaAbrilada,natentativadetravaroradicalismovintista,conseguindocolocarnogovernoliberaismoderadosquepropunhamalteraçõesàconstituição.noentanto,acabouporterdeseexilaremVienaporexigênciadopai.

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Amorteporenvenenamentoded.JoãoVi,O Clemente,a10demarçode1826,reiniciouoperíododetensãoentreliberaiseabsolu-tistas,principalmentedevidoàquestãodasucessão.comolegítimoherdeirodotrono,d.PedroeratambémimperadordoBrasil,oquepoderiacausarproblemas.Acabouporabdicardacoroaemfavordafilha,d.MariadaGlória,de7anos,quedeveriacasaroseuirmão,d.Miguel.Ambos juraramrespeitaranovacartaconstitucionalnumaépocaemqued.isabelMariaeraaregentedePortugal.

Curiosidade: numaanáliserecenteàsvíscerasded.JoãoVifoipos-sívelencontrarquatrovezesmaisdoqueaquantidadedearsénionecessárioparamatarumhomem.naépoca,ocronistaFreicláudiodaconceiçãoacompanhouadoençadomonarcaeasuspeitadeenvenenamentoestavapresente.

Oregressoded.MiguelaPortugal,em1828,acabouporcon-trariarojuramentoquefizera.numascortesconvocadasàmodadoAntigoRegime,foiaclamadocomomonarcaabsoluto,restituiutodososprivilégiosdanobrezaedocleroeiniciouumprocessodeperseguiçãoaosliberais.

duranteosprimeirostrêsanosdereinado,d.Miguelnãoenfren-touproblemasgravesrelativamenteàatuaçãopolítica,excetuandoasdificuldadesclarasnaprocuradelegitimaroseupoder,internaeexternamente.nestequadro,em1831,d.Pedroabdicadotronobrasileiro,concentraassuasforçasnailhaTerceira,reunindofun-dos,naviose7.500homenspararetiraroirmãodopoder.

Tendosidooutorgada,acartaconstitucionalfoiumainiciativadod.PedroiVenãodosrepresentantesdanaçãosendoqueassuasposiçõesrecuarambastantefaceàconstituiçãode1822.Bastasalien-tarqueinstituiuosistemadeduascâmaras(câmaradosdeputadosecâmaradosPares)e,principalmente,introduziuopodermodera-dordoreiquepodianomearedemitirogoverno,dissolveracâmaradosdeputados,nomearosParesouvetaralegislação.

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Aguerracivilportuguesa,entre1832e1834,iniciou-secomodesembarquenoMindeloquepermitiuafácilconquistadoPorto,enquantoastropasded.Migueldefendiam,principalmente,Lis-boa.nesteperíodo,viveu-seodramáticocercodoPorto(dejulhode1832aagostode1833),acabandooduquedaTerceiraporfurarobloqueionavaledirigir-seaoAlgarve,ondevenceuastropasabso-lutistaserumouaLisboasemgrandeoposição.

AassinaturadaQuádruplaAliança(inglaterra,França,espanhaePortugal),emabrilde1834,viriaaconsumaravitóriafinaldosliberaisportugueses,umavezquecontaramcomoapoiodetropasestrangeirasnasbatalhasdeAlmosteredaAsseiceira.d.MiguelfoiobrigadoaassinaraconvençãodeÉvora-Monte,abdicandodotronoepartindoparaoexílio.

9.d.PedroiVrestituiacartaconstitucionalde1826garantindodestaformaqueasuafilha,d.MariadaGlóriaherdaotrono,comod.Mariaii,(1832).

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Da instabilidade liberal à regeneração: Devoristas, Setembristas e Cabralismo (1834-1851)

Poucosmesesapósofinaldaguerracivil,d.PedroiVacaboupormorrer,aos36anos,erapidamenteabreveestabilidadepolí-ticavividafoipostaemcausa.AomesmotempoqueaRegênciaLiberaldosAçoresprocurouderrotarpelasarmasoexércitoabso-lutista,MouzinhodaSilveiraconstruíaoedifíciolegislativoqueasseguravaaperpetuaçãodoliberalismoemtermospolíticoseeco-nómicos.

dentrodestecorpodeleisé importanterealçaraextinçãodegrandepartedosmorgadios(patrimónioherdadopeloprimogé-nito),dosmonopóliosdovinhodoPorto,dodízimo,dosforaisebensdacoroaeamodernizaçãodajustiça,datributaçãoedaadmi-nistraçãopúblicaquedividiuoterritórioemprovíncias,comarcaseconcelhos.

nosquatrogovernosconservadoresnomeadospord.Mariaii,até1836,realceparaoministériolideradopeloduquedePalmelaeduquedeSaldanha,ondeJoaquimAntóniodeAguiar,decretouaextinçãodetodososconventos,mosteiroseordensreligiosasparaquefossemincorporadosnoestado.Asuavendaemhastapúblicareduziuosvaloresdedívidascontraídasduranteoconflito.

Apenasumaminoriadeburguesesendinheiradosfoicapazdeadquiriraimensidãodepropriedadesàvenda.Poressemotivo,epelasacusaçõesdecorrupção,esteperíodoficouconhecidocomoodosdevoristas.

numaclaracríticaàspráticasdestesgovernos,a9e10desetem-brode1836,d.Mariaiifoiobrigadaaentregaropoderaosrevo-lucionários«setembristas»quecontaramcomoapoiodaGuardanacional(umaorganizaçãoparamilitarcriadaem1822,extintaem1823erestauradaem1834),dopovodeLisboa,quedeu«vivas»àconstituiçãode1822,edeumapequenaemédiaburguesia.

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esteperíododaHistóriadePortugalédetalformamarcadoporintensosmomentosdedivisãopolíticaque,mesmoàdistância,noexílio,d.Miguelinuncarenunciouàsuapretensãocomolegí-timomonarca.Apoiou,porexemplo,astropasdolíderguerri-lheiro«Remexido»quesemantevefielàcausamiguelistanosuldoPaís.

divididosentreumafaçãomoderada,quecontavacomimpor-tantes políticos como Passos Manuel, o 1.o visconde de Sá daBandeiraouBernardodeSánogueiradeFigueiredo,eumafaçãoradical,ondesedestacavaJoséestevão,oprincipalpropósitodossetembristaspassavapordevolverasoberaniaànação,verdadeirafontedepoder,contrariandooespíritodacartaconstitucionalde1826,outorgadapelorei.

nestesentido,foipreparadaaconstituiçãode1838que,suma-riamente,manteveoequilíbrioentreoradicalismodaconstituiçãode1822eocarácterconservadordacartaconstitucionalde1826.nestenovotextoconstitucional,influenciadopelasconstituiçõesbelgaeespanhola,adivisãotripartidadopoder(judicial,legislativoeexecutivo)eraimperial.Omonarcaperdeuopodermoderador,masmanteveovetoabsolutodasleissaídasdacâmaradosParesedacâmaradosdeputados.Paraalémdeassegurarosdireitosindividuais,comoaigualdadeperantealei,consolidouadescen-tralizaçãoadministrativaeimpôseleiçõesdiretas,atravésdovotocensitárioquelimitavaamplamenteaparticipaçãopolítica.

Osgovernossetembristaspautaram-sepelatentativadereduzirainfluênciainglesanaeconomiaportuguesa,impondotaxasalfan-degáriassobretodososprodutosqueconcorressemcomaindústriaeagriculturanacionais.Paraalémdetersidoproibidootráficodeescravosasuldoequadoredeseterefetuadoumaprofundareformanoensino,criando-seescolaspolitécnicas,conservatóriosdearteseofíciosoufundando-seosliceus,agravecriseeconómicaqueopaísatravessouduranteesteperíodo,nomeadamenteafaltadecapitais,acabouporinfluenciaracurtavidadaconstituiçãode1838.

Ostrêsgovernos,conhecidoscomoordeiros,foramincapazesdeimplementarnopaísaestabilidadepolíticanecessária,easdivisões

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foram-seperpetuando,sendoumexemploclaroastentativasante-rioresderestauraracartaconstitucional,nomeadamenteatravésdogolpedaBelenzada(1836)oudarevoltadosMarechais(1837).

Curiosidade: nanoitede4para5denovembrode1836,arainhad.Mariaii,osseusconselheiroseoduquedaTerceiratentaramummalogradogolpepalacianopararestauraracartaconstitucional,conhecidocomoBelenzada.

Seriaumpróprioaderentedosetembrismo,oministrodaJus-tiça,Antóniocostacabral(1803-1889),que,emfevereirode1842,promoveriaumgolpedeestadoquepôsfimàconstituiçãode1838erestaurouacartade1826.entre1841e1846,costacabralassen-touasuainfluência,nomeadamenteatravésdagrandeburguesia,nosprincipaisoficiaisdoexércitoecomogrão-mestredoGrandeOrienteLusitano(maiorlojamaçónicaportuguesa).Governouporduasocasiões,1842-1846e1849-1851,ficandoesteperíododaHis-tóriaconhecidocomocabralismo.

coordenadapeloduquedaTerceiraeoduquedeSaldanha,arevoltados«Marechais»iniciou-senaviladePontedaBarca,a12dejulhode1837,terminandooscombatesapenasemsetembro,atravésdaconvençãodechaves,quesimbolizouarendiçãodastropasrevoltosas.

Amplamenteapoiadopelarainhad.Mariaiieporumcontextointernacional propício ao conservadorismo, nomeadamente emespanhaeFrança,costacabralcentralizouoestado,atravésdanomeação de governadores civis, administradores de concelhoeregedoresdeparóquia,edeumexércitofavorávelaocartismoqueassegurasseaordempública.nestequadro,justifica-seonovocódigoAdministrativo(1842)eapolíticadesaneamentodemaisde200oficiaissetembristasporocasiãodarevoltamilitarde4defevereirode1844,iniciadaemTorresnovas.

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natentativadefomentarosdiferentessectoresindustriais,criouacompanhiadasObrasPúblicasdePortugal(1844),parapromo-verumaclaramelhorianasviasdecomunicaçãoportuguesas,efacilitouoacessoaocrédito.comumamaiorparticipaçãoestatalnaeconomiae,consequentemente,umclaroaumentonadespesa,oestadoportuguês,em1846,via-seàbeiradabancarrota.

numcontextosensívelededificuldadeseconómicasesociais,contando-seváriosmotinspopulares,aprimeirafasedegoverna-çãodecostacabralculminariacomapromulgaçãodasleisqueproibiramosenterrosnointeriordasigrejas,as«Leisdaestrada»,e a burocratização do pagamento de impostos. em 1846, já seformavam Juntas Revolucionárias que uniam, espantosamente,setembristasecartistaspuroscontraoautoritarismocabralista.

Curiosidade: Antóniocostacabralfoiaindaacusadodenepotismo,istoé,favorecimentopolíticoaparentes.Oseuirmão,JoséBernardodaSilvacabral,foifeito1.ºcondedecabraleganhoucargosnumgovernoconhecidocomodosCabrais.

comoreaçãoaestas leis,emabrilemaio iniciaram-seváriosmotins que ficaram conhecidos como a revolta da «Maria daFonte»,cujoepicentrofoioMinho.estarevoltateveimpactoumpoucoportodoopaíse,politicamente,forçouaoexíliodecostacabralqueforademitidopelarainhad.Mariaii.

Menos de cinco meses após a tomada de posse de um novogoverno, lideradopeloduquedePalmela,overdadeiroclimadeguerracivilregressavaaoPaís,apósogolpeda«emboscada».comreceiodeserdeposta,arainhadestituiogovernoenomeouocar-tistaduquedeSaldanha.noPortorompearevoltada«Patuleia»,alastrando-seacoimbra,Aveiro,AlgarveeSantarém.

entreoutubrode1846ejunhode1847,opaísatravessououtrogravemomentode instabilidadepolítica, económicae social.Aintervençãoestrangeira,aoabrigodaQuádruplaAliançade1834,terminouoconflito,comaassinaturadaconvençãodeGramido,a27dejunho.estemomentoacabouporrepresentarumdosúlti-mossuspirosdosetembrismo,umavezquecostacabralvoltou

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àliderançadogovernoem1849,permanecendoatéaogolpedaRegeneração,em1851,que,finalmente,trariaaansiadaestabili-dadepolíticaesocial.

Arevoltada«Patuleia»,tradicionalmente,possuiduasorigens/significados:pataaoléu(oupédescalço)ouaexpressãoespa-nhola«soldadescasemdisciplina».

A Paz da regeneração e o rotativismo Partidário (1851-1890)

emabrilde1851,oduquedeSaldanha,noPorto,liderouoiní-ciodeumpronunciamentomilitar,preparadoideologicamenteporAlexandreHerculano,quedestituiuocabralismo.Adecadênciadapolíticaportuguesa,doimpériocolonialeasdivisõessociaisforamascausasparaqueesta«Regeneração»tenhasidoomovimentoquetrouxeconsensopolíticoepazànação.A22demaio,onovogoverno,presidido por Saldanha, teria como ministro da Mari-nha,daFazendaedaindústria,AntónioMariaFontesPereiradeMelo(1819-1887),omaisinfluentepolíticoportuguêsdasegundametadedoséculoXiX.

durante30anos,opaísdigladiou-seeestegolpeprocurouhar-monizar as consciências e as discordâncias entre as diferentescamadassociais,estabelecendotrêsmedidasparaaunião:

1–Revisãodacartaconstitucional,atravésdoAtoAdicionalde1852,queampliouosufrágioeinstituiueleiçõesdiretasparaacâmaradosdeputados;

2–estabelecimentodorotativismopartidário,istoé,apossibi-lidadedospartidospolíticos(PartidoProgressistaRegeneradoreoPartidoProgressistaHistórico)alternaremnopoder,equilibrandoosseusinteresses;

3–Fomentododesenvolvimentoeconómico,atravésdacons-truçãodeinfraestruturasaoníveldasviasdecomunicaçãoedostransportes.

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naprimeira fasedesteperíodo,que incluiofinaldoreinadoded.Mariaii(1853),aregênciaded.Fernandoii(1853-1855),oreinadoded.PedroV(1855-1861)epartedoreinadoded.Luísi(1861-1889),ocorreumarenovaçãonaselitespolíticas,afirmando--seosgovernosdoduquedeSaldanha(1851-1856),doduquedeLoulé(1856-1859),doduquedaTerceira(1859-1860)oudeJoaquimAntóniodeAguiar(1865-1868).Aestabilidadepolíticaobtidapelaalternânciadospartidosfoifundamentalparaodesenvolvimentodopaís,sendoapenasinterrompidapela«Janeirinha»(1868)epela«Saldanhada»(1870).

A«Janeirinha»foiummovimentocontestatárioiniciadoa1dejaneirode1868contraosurgimentodas leisquecriavamumimpostosobreoconsumoeprocediamaumareformaadminis-trativadoterritórioportuguês.Resultandonaquedadogoverno,oduquedeÁvilaacabouporgarantiraafirmaçãopolíticadoPar-tidoReformista,criadoem1862,depoisdeumacisãonoPartidoProgressistaHistórico.

OmarechalJoãoOliveiraedaun(1790-1876),duquedeSalda-nha,depoisdeumalongacarreirapolítico-militar,ecom80anos,liderouopronunciamentomilitarde19demaiode1870(«Salda-nhada»)queforçouoreid.LuísademitirogovernododuquedeLoulé(PartidoProgressistaHistórico).depoisdeapenastrêsmesesnoexecutivo,esemoapoiodomonarca,oduquedeSaldanhafoidestituídoenomeadoembaixadordePortugalemLondres.

duranteasdécadasseguintes,excetuandoempequenoshiatos,oPartidoRegenerador,coordenadoporFontesPereiradeMeloatéàsuamorte,eoPartidoProgressista(fusãoentreoPartidoRefor-mistaeoPartidoHistórico,porocasiãodopactodaGranja,em1876),quecontoucomnomescomoJoséLucianodecastroouAnselmo JoséBraancamp, continuarama alternâncianopoder,impedindoaafirmaçãopolíticadepequenospartidos,comooPar-tidoSocialistaPortuguês(1875)ouoPartidoRepublicanoPortu-guês(1876).

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Divisão político-partidária portuguesa na segunda metade do século XIX

VERSUS

o início do fim: ultimato inglês de 1890 e revolta do 31 de janeiro de 1891

numquadrodedisputa e competição internacional pelo alar-gamentodos impérios coloniais, aconferênciadeBerlim (1884-1885)destacou-seporaquiloqueficouconhecidocomoa«partilhadeÁfrica».Substituindoodireitohistóricodadescobertapelodi-reitodaocupaçãoefetiva,ospaísesmenosindustrializadosecommenospoderforamclaramentesubjugadosaosinteressesbritâni-cos,alemãesefranceses.

comointuitodeafirmarosinteressesportuguesesnocontinenteafricanofoidesenhado,em1886,o«Mapacor-de-rosa».PortugalexigiaaocupaçãodosterritóriosentreAngolaeMoçambique,quehojecor-respondemàZâmbia,ZimbabweeMalawi.enquantoaAlemanhaeFrançaaceitaramasexigênciasnacionais,avelhaaliadainglaterracon-trariouestasreivindicações.Osbritânicos,nomeadamenteograndeempresáriocecilRhodes,tinhamprojetadoocaminhodeferroque

Partido regenerador (1851-1901)RodrigodaFonsecaMagalhães;FontesPereiradeMelo;HintzeRibeiro

Partido Histórico (1852-1876)duquedeLoulé;Alexandre

Herculano

Partido reformista (1862-1876)cisãodoPartidoHistórico–

MarquêsSádaBandeira

Partido Progressista (1876-1910)FusãoentreoPartidoHistóricoeoPartidoReformista

comopactodaGranja.JoséLucianodecastroeAnselmoBraancamp

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ligariaacidadedocabo(ÁfricadoSul)aocairo(egito).nestemapaestavamincluídososterritóriosquePortugaldesejava.

O «Mapa cor-de-rosa» também se denominou projeto BarrosGomes,umavezqueHenriqueBarrosGomes(1843-1898)era,naépoca,oministrodosnegóciosestrangeirosdonossoPaís.emanosanteriores,jásetinhaprocuradoafirmarapresençaportu-guesaemÁfrica,nomeadamenteatravésdediversasexpediçõesdeSerpaPinto,BritocapeloouRobertoivens.

numa clara atitude de supremacia político-militar, o recém--aclamadoreid.carlos i recebeuummemorando,emformadeultimato,dogovernodeLordSalisbury,a11dejaneirode1890,noqualeraexigidoquePortugalretirasseastropasdeSerpaPintodosterritóriosentreAngolaeMoçambique.casoestepedidonãofos-serespeitado,inglaterradeclaravaguerraaPortugal.Ogovernoed.carlosacederamdeimediatoaopedido,oqueacabouporgerarumaintensaondadecontestaçãopopular.

Oaproveitamentopolíticoporpartedosrepublicanosnosmeiosurbanosfoimarcadoporumferozataqueàfigurarealeàsinstitu-içõesmonárquicas,ganhandoadeptosnoPorto,LisboaeSetúbal.A31dejaneirode1891ocorreu,noPorto,aprimeiratentativarevo-lucionáriacontraamonarquiaqueprocurouinstauraraRepública.eraoiníciodofimparaamonarquiaconstitucionalportuguesa.

Curiosidade: O«UltimatoBritânico»estánaorigemdohinonacio-nalA Portuguesa.compostoporAlfredoKeileescritoporHenriqueLopesdeMendonça,osversosContra os canhões, marchar, marchar!eraminicialmentedirigidosaosingleses:Contra os bretões, marchar, marchar!

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economia e Sociedade

o fim do ciclo brasileiro: o «Grito do Ipiranga»

PoucomaisdeumséculodepoisdadescobertadoouroedosdiamantesdoBrasiledodesenrolardeumaclaradependênciadePortugal facea estemercadocolonial, o«Gritodo ipiranga»eaconsequente independência geraram um período de grave criseeconómicanonossoPaís.

comoconsequênciainicialdafugadacorteparaoBrasiledaaberturadosportosbrasileirosa«todasasnaçõesamigas»,istoé,aocomérciointernacional,aperdadomonopóliodematérias-pri-maseprodutosalimentarestrouxeamisériaaosburguesesportu-gueses.Aassinaturadeumtratadodecomérciocomainglaterra,em1810,veioconfirmargrandepartedascláusulasprevistasnoTratado de Methuen, passando as mercadorias inglesas a entrarcomgrandefacilidadenomercadobrasileiroeosbritânicospassa-vamaadquirirprodutosda,ainda,colónia.

Antesdisto,Portugalabastecia-sefacilmentedealimentos,comocafé, arroz ou açúcar, e também de algodão e outros produtos,comotabaco,madeiraoupelesque,posteriormente,eramreexpor-tadosparaosmercadoseuropeus.esteacordofoiprofundamentenegativoparaosnossosinteresseseveioempobrecerseriamenteasfinançaspúblicas.Atítulodeexemplo,entre1796e1806,maisdetrêsquartosdocomércioportuguêscaracterizava-sepelareex-portaçãodeprodutosbrasileiros.

Aomesmotempo,nãoépossívelcolocardeparteossaquesefe-tuadosduranteasinvasõesnapoleónicasouacontraçãodedívidascomaGrã-Bretanhapelaajudamilitarprestadaduranteestesanos.Ajuntagovernativaimpostapelarevoluçãovintista,em1820,de-claravacomoasreceitasdoestadoeramlargamenteultrapassadaspelasdespesas,ocomércioeaagriculturaestavamestagnadoseamisériaimperava.

comaindependênciadoBrasil,em1822,eos30anosdelutasliberais,PortugalacabouporperderocomboiodosefeitosiniciaisdaRevoluçãoindustrial.Apenasumrestritolequedeintelectuais

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compreendiacomoeraurgenteoPaísentrarnumanovafaseeco-nómica,desenhandoumplanoquemodernizasseosectoragríco-laedesenvolvessea indústria,contrariandoosváriosséculosdeexploraçãocomercialultramarina.A«libertaçãodaterra»,atravésdaeliminaçãodosmorgadios,ouaextinçãodeváriosencargosàcirculaçãointernademercadorias,comasreformasdeMouzinhodaSilveira,foramasprimeirastentativaspararecuperaranossaeconomia.

os efeitos do fontismo e o take-off industrial português

ApazdaRegeneração,quetrouxeestabilidadeeequilíbriopolí-tico-partidárioaosistemaportuguês,permitiuumintensoinvesti-mentonamodernizaçãodoPaís.criadoem1852,oMinistériodasObrasPúblicas,comércioeindústriafoichefiadopeloengenheiroAntónioFontesPereiradeMeloque,perantea importânciaquetevenestecontextoatémorrer,em1887,criouoléxicofontismo.Ogovernantedefendia,deformaresumida,quesemacriaçãodein-fraestruturas,comoviasdecomunicaçãoeodesenvolvimentodostransportes,oPaísnãopoderiaenveredarporumvirardepáginanaeconomia.

nestequadrodedesejodecriaçãodeummercadointernoquerompessecomoisolamentodedeterminadasregiõesedemelho-riadasrelaçõesinternacionais,aapostaimediataprendeu-secomaampliaçãodasredesrodoviáriaeferroviária.noprimeirocaso,foipossívelaumentarparapertode10milquilómetrosnofinaldoséculo,enquantoquenosegundo,todoopaísjáestavaligadoatravésdoscomboiosede2070quilómetrosdelinhasdecaminhodeferro.

Oprimeirotroçodecaminhodeferrofoiinauguradoa28deoutubrode1856,pord.PedroV,euniaLisboaaocarregado.OcomboioatingiuoMinhoem1877,Trás-os-Montesem1883eoAlgarveem1889.Aomesmotempo,foramreestruturadosalgunsportos,instalou-seotelégrafo(1857)eotelefone(1882)eforaminauguradasalgumaspontes,comespecialdestaqueparaaponte

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d.MariaPia(1877)ouaponted.Luís(1886)queuniramasmar-gensdoriodouro.

Curiosidade: Ainauguraçãodoprimeirotroçodecaminhodeferro,Lisboa/carregado,teveváriosproblemas.inicialmente,receou-sequeapontedeSacavémnãoaguentasseopesodalocomotivae,depois,omaufuncionamentodomotorobrigouaqueseiscarrua-gensfossemsoltasparasepoderterminarotrajeto.nototal,estaprimeiraviagemduroumaisdecincohoras!

Recorrendoaempréstimosouacapitalestrangeiro,ondesedes-tacou o Henry Burnay (1838-1909), a revolução nos transportesportuguesespermitiuqueacirculaçãodepessoasoumercadoriassetornassemaiscómoda,barata,segurae,maisimportante,muitomaisrápida.domesmomodo,serviçoscomooSud-Express,umaligaçãodiretaLisboa–Madrid–Paris,possibilitouacirculaçãodeescritores,jornalistaseartistasquecontactavamdiretamentecomosprincipaiscentrosculturaisetecnológicos.

Opreçoapagarpeloinvestimentonofontismoacabouporsur-girem1892,quandooestadoportuguêsassumiuaincapacidadedepagarassuasdívidasedeclaroubancarrota.entreogolpedaRegeneraçãoeoUltimatoBritânico,adívidapúblicaportuguesacresceumaisdeoitovezese,aocontráriodoqueseriasuposto,asinfraestruturasnãodinamizaramsuficientementeaeconomiaportuguesa.

Curiosidade: OprimeiroautomóvelemPortugalpertenceuad.Jorged’Avillez,4.ocondedeAvillez,naturaldeSantiagodocacém,tendosidocomprado,em1895,àempresaPanhard & Levassor.Aveloci-dademáximaeraatingidaaos20km/hora!

comcercadeumséculodeatrasofaceainglaterraedecincodécadasrelativamenteaFrançaouAlemanha,otake-offindustrialportuguêsdecorreusobosignodaincapacidadedecompetirnos

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mercadosinternacionaisedopoucoinvestimentodosempresáriosnacionais.Osgrandeshomensdenegóciosviamnomercadoimobi-liárioenosectorbancárioáreasmaislucrativosdoqueaindústria.

Semmatérias-primasourecursoshumanosqualificados,osin-quéritos industriais do final do século demonstram que apenas20%dapopulaçãoestava ligadaaomundo industrial,nomeada-menteàsfábricasdecimentoeconservas,aotabaco,vestuário,cal-çado,àmetalomecânicaouaovidro.Asuadisposiçãogeográfica,comojásereferiu,eranasduasgrandescidades(LisboaePorto),eapenasnoséculoXXviriaaultrapassaraagriculturacomoprinci-palatividadeeconómica.

o fim da sociedade de privilégios e a vida quotidiana no século XIX

entreoadventodaRevoluçãoLiberalde1820eareuniãodascortesconstituintes,comvistaàpreparaçãodaprimeiraconsti-tuição Portuguesa, viveram-se tempos novos no País. inspiradospelaRevoluçãoFrancesaepelaconstituiçãodecádisde1812,apartirde1822surgiramosdireitosindividuais,nomeadamenteagarantiadequetodososportugueseseramiguaisperantealei,quepodiammanifestarlivrementeasuaopinião,queninguémpoderiaserpresosemumjulgamentoetinhamdireitoàpropriedade.

Osrecuospolíticosdacartaconstitucionalde1826,eofactodeestesdireitosteremsidorelegadosparaofinaldodocumento,nãocolocaramemcausaosprofundosavançoscivilizacionaisdestepe-ríodo.Vivia-se,finalmente,numasociedadesemprivilégios,ondetodoseramiguaisperantealei.

Basta,paraisso,sublinharasalteraçõesnavidaquotidianaemPortugal,ondeanobrezapassouapagarimpostoseocleroviuoseupatrimóniobastantereduzidoapósaextinçãodasordensreli-giosas,em1834,eaexpropriaçãodeterrasparapossedoestado.Ao mesmo tempo, a burguesia passou a representar o principalestratosocial,umavezqueosmaisimportantescargosdaadmi-nistraçãopúblicaedogovernoeramocupadosporcomerciantes,industriaisoubancáriospoderosos.

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nãoobstante,averdadeéqueogrossodapopulação,apesardeobterdireitosinalienáveis,continuouaviverempéssimascondições,comafomeeostrabalhosmalremuneradosacaracterizarfamíliasinteirasquesededicavamàagriculturadesubsistência.nocampo,osassalariados trabalhavam,normalmente,paraumnobreouumburguêsimportante.Raroseramoscasosemquepossuíamproprie-dadespróprias.Acriaçãodegado,apardaagricultura,eraoutraativi-dadeeconómicaimportantenumPortugalaltamenteruralizado.

ApartirdasegundametadedoséculoXiX,ecomolentopro-cessodeindustrialização,asmigraçõesinternasparaLisboa,Portoou Setúbal resultaram no fenómeno denominado «êxodo rural».Simultaneamente,aurbanizaçãopotenciouatransformaçõesnascidades,surgindoaaberturadeavenidas,passeios,jardins,merca-dos,teatros,estaçõesferroviáriasoudailuminaçãopública.

comodesenvolvimentoeconómicodoBrasileabancarrotade1892,aemigraçãoparaaantigacolóniateveumgrandeimpacto.cercade50milportugueseschegaramasairdoPaís,em1895.AmaioriaeraprovenientedosarquipélagosdosAçores,Madeira,deTrás-os-MontesoudoMinho.

destemodo,oshábitosecostumesforamsendopaulatinamentealterados, incluindoaonívelda alimentação, lazerouhabitação.enquantoopovotinhaumaalimentaçãodeficitáriaepoucovaria-da,anobrezaeaburguesiaalimentavam-sedeformaabundantenassuasluxuosasmoradias.Passeandonosjardinspúblicos,indoaoscafés,ao teatro,àóperaouaosbailes,opróprioconceitodedivertimentorevolucionou-senestaépoca.

PrimeirosnasgrandescidadesdoPortoeLisboae,maistarde,empequenas«ilhasindustriais»nolitoraldopaís,agrandealteraçãonacomposiçãosocialfoiosurgimentodooperariado.Trabalhandocercade12horasdiáriasemfábricascomcondiçõesdeploráveisecomsaláriosmuitobaixos,asuatomadadeconsciêncianalutapordireitosemelhorescondiçõesdevidaalterouorumodaHistória.Orecursoàgrevecontrariavaasexigênciasdospatrões.Asmulhe-reseascrianças,queocupavamlugaresqueexigiammenorforçafísica,ajudavamosmaridosepaisnaobtençãoderendimentos.

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Cultura e Artes

o século do romantismo

AvagarevolucionáriaqueinspirouoLiberalismoteve,também,impactonaculturaenasartesquesublinhavamarelevânciadatríadeliberdade,igualdadeefraternidade.OlivroOs Sofrimentos do Jovem Werther (1774),doalemãoGoethe,oquadrodopintoreugènedelacroix,A Liberdade guiando o povo(1830),ouasóperasnacionalistasdeGiuseppeVerdisãoexaltaçõesclarasdalongevi-dadedoRomantismo.

contrariando o século das Luzes e da Razão, este movimentoculturalteveorigemnaAlemanhaecaracterizou-sepelahipervalo-rizaçãodoindividualismoeocultodo«eu»,pelarelevânciaeânsiadadaà liberdade,pelocultodoespíritonacionalista,peloprazernanaturezaeexacerbaçãodossentimentos.Omal du siècledosseusautoreséumreflexoclarodeumasociedadeondeirrompeuaRevoluçãoindustrial,cujastransformaçõespromoviamasolidão.ORomantismorepresentouaascensãosocialdaburguesia,alutacontraoabsolutismoeaemancipaçãodosprincípiosdeadmiraçãodosclássicos,traduzindo-seemobraslivres,criativasesubjetivas.

Autores comoWalterScottouVictorHugo, ao contráriodosrenascentistasedosiluministas,recuperaramogostopelaidadeMedieval,ondeencontraramasraízeshistóricasdasnacionalida-des,potenciadascomaunificaçãodaitáliaoudaAlemanha.Osheróismíticoseasprincipaisfigurashistóricasdecadapaíssãoevocadas,numcontextoemqueoscostumes,astradiçõeseopopu-larsãoopanodefundodahistóriadapátria.Énaobscuridadedesteperíodoqueseencontraogostopelasombra,pelatempestadeoupelanoite.nocasoportuguês,SintrafoiacidadedoRomantismo.

Tradicionalmente,ospoemasCamões(escritosemParisnoanode1825),eD. Branca(1826),deAlmeidaGarrett(1799-1854)sãoencaradoscomooiníciodoRomantismononossopaís.

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AlexandreHerculano(1810-1877)foioutroexemplodainfluênciadosromânticoseuropeusporocasiãodoexílio.Osconfrontosentreliberaiseabsolutistastiveramumprofundoimpactoparaatãoal-mejadaLiberdade.doescritoretambémhistoriador,ficaramlivrosdaépocavisigóticaemEurico, o Presbítero(1844)oudoperíododed.JoãoiemO Monge de Cister(1848).Obrasclássicasdequempro-duziudurantetodaavida,incluindoumaHistória de Portugal.

de Almeida Garrett, outro dos vultos do Romantismo, pode-mosdestacarobrascomoUm Auto de Gil Vicente(1842),Frei Luís de Sousa (1844)ouoromancehistóricoViagens na Minha Terra(1846).

numa época posterior, e também demonstrativa da perpetua-çãodestemovimentoculturalemPortugal,camilocasteloBranco(1825-1890) escreveuAmor de Perdição (1861)ouA Queda dum Anjo(1866),ondeseobservaumaumentoprofundodopessimis-mo,doexagerodos sentimentosque serãoaindamaisevocadosnosultrarromânticos,comoAntónioFelicianodecastilho(1800--1875).Rodeadodeescritoresmenosreconhecidos,nomeadamen-teTomásRibeiroouJoãodeLemos,ostemasrelativosàvisãopes-simistadavidaouoamorinfelizvãomarcarestaúltimavagaro-mânticanaliteraturaportuguesa.

Ao contrário de outros períodos, este estilo artístico foi maismarcante na literatura do que em qualquer outro tipo de artes.napinturadestacaram-sedomingosAntónioSequeira,TomásdeAnunciação,JoãocristinodaSilvaouLeonelMarquesPereira,en-quantonaesculturaosnomesmaisreconhecidosforamSoaresdosReis,SimõesdeAlmeida,VictorBastosouAntónioTeixeiraLopes.

Da Questão Coimbrã e da Geração de 70 ao realismo

Aproveitandooclimadeestabilidadepolíticaedeascensãoso-cialpelaviadaocupaçãodecargosimportantesnaadministraçãopública,osultrarromânticos(ousegundageraçãodoRomantismo)jáseafastavamdosideaisdeAlmeidaGarrettouAlexandreHercu-lano,incorporandoumaproduçãoformaleacadémica.

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num quadro de expansão e inovação tecnológica promovidapelo fontismoepelos«melhoramentosmateriais»,umgrupodeestudantesdaUniversidadedecoimbra,entreosquaissedestaca-vamAnterodeQuental,TeófiloBraga,eçadeQueirósouOliveiraMartins,procurou renovaras letras e a culturaportuguesa, comcríticasaoestilodogrupodeAntónioFelicianodecastilho.

Apósapublicação,em1865,deOdes Modernas,deAnterodeQuental,edeTempestades Sonoras,deTeófiloBraga,AntónioFeli-cianodecastilhoaproveitouoposfáciodoPoema da Mocidade(Pinheirochagas)paracriticarabertamenteaposturadosjovensdecoimbraqueescreviamdeformavanguardista,comfaltade«bomsensoebomgosto».comestaspalavrasamargasiniciava-se,a2denovembrode1865,aQuestãocoimbrã.AnterodeQuentalrespondeuatravésdeumacartairónicaesarcástica,comomesmotítulo das palavras escritas por castilho, onde afirmava que osultrarromânticosestavamultrapassadosequeosseusescritosemnadaestavamrelacionadoscomosproblemasreaisdasociedade.

Curiosidade: AQuestãocoimbrãteráterminadonumdueloàespadaentreAnterodeQuentaleRamalhoOrtigão,a4defevereirode1866,emArcad’Água,nacidadedoPorto.nãoobstante,algunsanosmaistarde,ambosacabaramporsetornarbonsamigos.

Semprepreocupadocomoatrasoeestagnaçãoideológicapor-tuguesa, Antero de Quental cria as conferências do casino, emLisboa,atravésdogrupocenáculo,vulgarmenteconhecidocomo«Geraçãode70».ForamesteshomensqueabriramasportasparaaintroduçãodanovavagadeRealismoquemarcariaaviragemdoséculoXiXparaoséculoXXnonossoPaís.

entre22demarçoe26dejunhode1871,noLargodaAbegoa-ria,emLisboa,Adolfocoelho,AnterodeQuental,eçadeQueirós,JaimeBatalhaReis,OliveiraMartins,ManueldeArriaga,TeófiloBraga,entreoutros,reuniram-separadiscutirerefletiremtornodosdiversosproblemasdaculturaportuguesa.AconferênciadeeçadeQueirós,O Realismo como nova expressão da arte,eAsCau-

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sas da Decadência dos Povos Peninsulares,deAnterodeQuental,foramdasmaispopularesnaépoca.

Amplamentepreocupadoscomasrepercussõesquepoderiater,osgovernantesdaépocaencerrarameproibiramasconferênciasdo casino, impedindo palestras programadas para os meses se-guintes.daaçãodesta«Geraçãode70»encontramosa tentativadelevaraopúblicoodebateemtornodaestagnaçãodasclassespolíticaseintelectuaisportuguesas,representandouma«lufadadear fresco»nanossacultura, inspiradapelas tendênciasde ideaiscomoosdeProudhon.

nummundodegrandestransformaçõeseprogressos,oRealis-mosurgecomomovimentoculturalquetravouaadmiraçãopeloperíodoMedievaleprovocouanecessidadederetratarasociedadeemredor,talqualexistia.napinturaenaesculturaevidencia-seareproduçãoneutradarealidade,banalizando-seoretratodoquoti-diano,masmantendoorespeitopelorigoreformalismo.critican-doosubjetivoromântico,aobjetividadedoartistaerafundamen-talparatransmitiraverdadeobservadacomrigoreexatidão.Aquiencontram-seasmaiorescríticasàsociedadeoitocentista,nomea-damenteosmauscostumes,víciosouimoralidade.

nocasoportuguês,destacou-senapintura JoséMalhoa (1855--1933),enquantonaliteraturaeçadeQueirósproduziuumvariadolequedeobrasrealistas,nasquaissedestacamOs Maias(1888),O Crime do Padre Amaro(1875)ouO Primo Basílio(1878).

Principais construções e monumentos do século XIX em Portugal

no âmbito arquitetónico, o Romantismo no nosso País foicaracterizadopelarecuperaçãoerevivalismodetendênciasrela-cionadas com o estilo Manuelino, Gótico e influências árabes,demonstrandoogostopelaevocaçãodeumpassadohistórico.nãoobstante,éimportanterecordarqueaprimeirametadedoséculoXiXfoimarcadapelafugadacorteedafamíliarealparaoBrasil(1807-1820),pelaindependênciadaantigacolóniaepelassucessivasguerrasliberais.nestecontextodedificuldadeseconó-

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micaseconflitos,operíodonãofoipropícioàedificaçãodenovosmonumentos.

noquadrodoRomantismo,d.Fernandoii(1816-1885),maridodarainhad.Maria ii,acabouporpatrocinaramaiorevidênciaarquitetónicadesteestiloemPortugal,oPaláciodaPena,emSin-tra.construídoentre1840e1847,projetadopeloalemãoBarãodeeschwege,ostraçosdeneogóticoeneoárabesãocomplementaresaoestiloneomanuelinoquedominaaconstrução.TambémemSin-trafoiprojetadaaQuintadaRegaleira,porLuigiManini.

AestaçãodoRossioéumdosmaisparadigmáticosexemplosdoneomanuelino.TendosidoprojetadaporJoséLuísMonteiro,foiconstruídaentre1886e1887,tendoasuaedificaçãoficadoacargodasempresasDuParcly & Bartissol,Papot & Blancharde Beraud.Foiinauguradaa18demaiode1890,entrandoemfuncionamentoemjunhodoanoseguinte.

nomesmosentidovaioHotelPaláciodoBuçaco,desenhado,também,porLuigiManini,querevelaumaclara inspiraçãoemdiversoscastelosalemãesqueforamtransformadosempalácios.Asobrasarrancaramem1888,contandocomintervençõesdediversosoutrosarquitetos,podendo-sedestacarrepresentaçõesdeproduçãoartísticapresentesnaTorredeBelém,noconventodecristoounoMosteirodosJerónimos.

emboracommenorpeso,oneogóticoeoneoárabetiveramoapogeunasduasúltimasdécadasdoséculoXiX.OelevadordeSantaJusta,cujasobrasdecorreramentre1898e1902,sobumpro-jetodeRaoulMesnierduPonsard,é,aparcomaigrejadeReguen-gosdeMonsaraz,omaiorexemplodoneogóticononossoPaís.

Jánocasodas construçõesneoárabesé inevitáveldestacaraPraçadeTourosdocampoPequeno,inauguradaem1892,edese-nhada por António José dias da Silva. como outros exemplostemosaQuintadoRelógio,emSintra,eoPaláciodaBolsa,atualsededaAssociaçãocomercialdoPorto.

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Cronologia

Data Acontecimentos

1802 nasce,emQueluz,ofuturod.Migueli.

1806 napoleãoBonaparteimpõeoBloqueiocontinental.

1807 espanhaeFrançaassinamotratadosecretodeFontainebleauqueprevêapartilhadePortugal.PrimeirainvasãofrancesaaPortugalpelogeneralJunot.FugadafamíliarealparaoBrasil.

1808 enviodeumacartarégiaaabrirosportosbrasileirosàs«naçõesamigas».OgeneralinglêsWellingtonlidera,juntamentecomomarechalBeresford,oexércitoanglo-português.BatalhasdeRoliçaeVimeiro.

1809 SegundainvasãofrancesaaPortugal,pelogeneralSoult.

1810 TerceirainvasãofrancesaaPortugal,pelomarechalMassena.BatalhadoBuçacoebatalhadaslinhasdeTorresVedras.

1811 OmarechalMassenaretira-sedePortugal.Fimdasinvasõesfrancesas.

1815 d.João,regente,criaoReinoUnidodePortugal,BrasileAlgarves.

1816 Morteded.Mariaieascensãoaotronoded.JoãoVi.

1817 GomesFreiredeAndradeéexecutadodepoisdeumaconspira-çãoliberal.d.Pedro,filhoded.JoãoVi,recebeotítulodePríncipedoBrasil.

1818 Futurod.PedroiVcasacomd.MariaLeopoldinadeÁustria.

1819 nasce,noRiodeJaneiro,afuturad.Mariaii.

1820 RevoluçãoLiberalnoPorto,a24deagostode1820.

1821 Regressoded.JoãoViaPortugal.d.PedroficacomoregentedoBrasil.

1822 «Gritodoipiranga»–d.PedroproclamaaindependênciadoBrasil.d.JoãoVijuraaconstituiçãoLiberal.

1823 «Vilafrancada»– tentativadegolpedeestado lideradapord.Miguel.

1824 novogolpeded.Miguel,a«Abrilada»,quelevaaoseuexílio.

1825 PortugalreconheceaindependênciadoBrasil.

1826 Morteded.JoãoVi.d.PedroiV,comoreidePortugal,juraacartaconstitucional.PorserimperadordoBrasil,abdicadotronoportuguêsemfavordafilha,d.Maria,quedeveriacasarcomotio,d.Miguel.

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1828 Regressoded.Miguel iaPortugal,ondeéproclamadoreiabsoluto.

1831 d.PedroiVabdicadotronodoBrasileregressaaopaís.

1832 d.PedroassumearegênciaemnomedafilhaedesembarcanoPortocomumexército.ReformasdeMouzinhodaSilveira.

1832-1834 Guerracivilportuguesa,entreliberaiseabsolutistas,ondesedes-tacamasbatalhasdeAlmostereAsseiceiraouocercodoPorto.

1833 OduquedaTerceira,comandantedastropasliberais,ocupaLisboa.d.MigueléforçadoadeslocaroseugovernoparaSantarém.

1834 AssinaturadaconvençãodeÉvora-Monte,onded.MiguelaceitasairdePortugal.decretoqueextingueasordensreligiosas.Morteded.PedroiVesubidaaotronoded.Mariaii.

1836 Revolução «Setembrista» que leva à abolição da cartaconstitucional.Tentativadegolpeda«Belenzada»queenvolverainhad.Mariaii.

1838 d. Maria ii jura a nova constituição votada pelas cortesconstituintes.

1842 costacabralrestauraacartaconstitucional.

1846 Revoltada«MariadaFonte».Guerracivilda«Patuleia».

1851 Pronunciamentomilitarda«Regeneração».

1852 AtoAdicionalàcartaconstitucional.

1853 Morteded.Mariaii.d.Fernandoficanaregência.

1855 d.PedroVsobeaotrono.

1856 PrimeirotroçodecaminhodeferroemPortugal.

1858 d.PedroVcasacomd.estefâniadeHohenzollern-Sigmaringen.

1861 Morteded.PedroVesubidaaotronodoirmão,d.Luísi.

1862 casamentoded.Luísicomd.MariaPiadeSaboia.

1868 Rebeliõescríticasdosistemafiscal–«Janeirinha».

1869 Aboliçãodaescravaturanosterritóriosportugueses.

1876 FundaçãodoPartidoProgressista,atravésdoPactodaGranja.

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1884 «Mapacor-de-rosa»apresentadonocongressodeBerlim.

1886 d.carlos,príncipeherdeiro,casacomd.AméliadeOrleães.

1889 Morteded.Luísiesubidaaotronoded.carlosi.

1890 «UltimatoBritânico».composiçãodofuturohino,A Portuguesa.

1891 Revoltade31dejaneironoPortoquetentainstauraraRepública.

1892 Bancarrotaparcialdoestadoportuguês.

1895 MouzinhodeAlbuquerquecapturaoGungunhana, reidosVátuas.

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VII

PortuGAl Do FInAl DA MonArQuIA

à entrADA nA C.e.e. (1890-1986)

Política e Guerra

A queda da Monarquia Constitucional e a implantação da república (1890-1910)

depois da malograda tentativa de implantar a República noPorto,em1891,d.carlosprocurourenovaraselitespolíticasdeumvelhoedesgastadorotativismopartidário.nessesentido,duranteasúltimasduasdécadasdo regimemonárquicoemPortugal, o«regenerador»ernestoHintzeRibeiro(1849-1907)eo«progres-sista»JoséLucianodecastro(1834-1914)foramospolíticosquemaistempoestiveramnogoverno,alterandoostatus quodoscaci-quismoslocaisparaassuasredesclientelares.

10.FamíliaRealdePortugal(1899).

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nãoobstante,aimplantaçãodaRepúblicaemPortugal,a5deoutubrode1910,foioresultadodaconjugaçãodeumacrisemul-tifacetada,marcadaporumacomplexaconjunturapolítica,eco-nómicaesocialnosúltimos20anosdaMonarquiaconstitucio-nal.comocoresprincipaisdestequadro,éimportantedestacaramobilizaçãodaopiniãopúblicaperanteoUltimatoinglês(1890),atentativarevolucionáriadoPorto(1891),abancarrotadoestado(1892),aincapacidadeecorrupçãodosgovernosemsolucionarosproblemasdopaíseoconsequenteaproveitamentodapropagandarepublicanaparaangariarapoiosedifundirosseusideais.

Opanodefundodopaísfoicaracterizadopelamisériadoope-rariadourbano,oselevadosíndicesdeemigração,asdificuldadesdomundoruralouosmagrossaláriosdaclassemédia.excetuandoumaaltaburguesialigadaaopoderpolítico,ainsatisfaçãodasocie-dadeportuguesa,principalmentenosmeiosurbanos,possibilitouoacolhimentodosideaisrepublicanos.

Odescontentamentodasociedadeportuguesaduranteasúlti-masduasdécadasdamonarquiaficoupatenteatravésdasgreves,tendoocorrido60até1899e91entre1900e1910.Asparalisaçõesforamossímbolosdaagitaçãosocialedasdificuldadesvividas.

Paralelamente,deve-seaindasalientaradesvalorizaçãodamoeda,osaltosníveisdeinflação,odesemprego,afalênciadeempresasebancos,osescândalosdos«adiantamentos»àcasaReal(fundospúblicosutilizadospelafamíliareal)eosescândalosfinanceiros(casodocontratodemonopóliodotabacoquefavoreceuafirmadeHenryBurnay).

comumalegislaçãopoucopunitivarelativamenteàimprensa,estaacabouporrepresentarumdosprincipaisveículosdedifusãodopensamento republicano,particularmenteatravésde jornaisqueatacavamferozmenteafigurarealeacorrupçãodospartidosmonárquicos.invocandoanecessidadederecuperaropatriotismoouamoraldehomenscomocamões,adecadêncianacional,pre-sentenostextosliteráriosdeváriosautoresdaépoca,nomeada-

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menteAntónionobreouGuerraJunqueiro,eracoladaaocontextovivido.

OPartidoRepublicanoPortuguês,fundadoem1876,transmitiaaideiadequeaRepúblicaseriaasoluçãoparatodosestesproblemasequeaMonarquiaeraaculpadadetodososmales.HomenscomoTeófiloBraga,Afonsocosta,MagalhãesLima,ManueldeArriagaouAntónioJosédeAlmeidaforamfundamentaisnestasações.Foipossível,assim,obterosvotosnecessáriosparaqueosrepublicanosfossemeleitosduranteamonarquia.

O extremar de posições na vida política portuguesa ocorreuaquandodanomeação,peloreiDiplomata,deJoãoFranco(1855--1929)parachefedegoverno,em1906.estapersonagemliderouumacisãointernanoPartidoRegenerador,criandooPartidoRege-nerador-Liberal,em1901,eaproveitouaquedadosgovernos,pro-vocadapela«QuestãodosTabacos».depoisdeprometer«governaràinglesa»(afastaroreidalutapolíticaepermitiradiscussãonascâmaras),acaboupor«governaràturca»,pedindoad.carlosparagovernaremditadura.

Arepressãodesteperíodo,principalmentedepoisdomalogradoGolpedoelevadordaBiblioteca,acaboupormotivaraconspiraçãorepublicanaparaoassassinatoded.carlosiedopríncipeherdeiro,d.LuísFilipe,a1defevereirode1908,emplenoTerreirodoPaço,àsmãosdeManuelBuíçaeAlfredocosta.

Curiosidade: O«GolpedoelevadordaBiblioteca»,a28dejaneirode1908,foiumatentativadeimplantaraRepúblicaemLisboa.ResultounaprisãodeAfonsocosta,egasMoniz,Franciscocor-reiadeHerédiaeoutrosrepublicanos.Odecretode30dejaneiroobrigavaosconspiradoresaoexílioouaexpulsãoparaascolónias.

Omaisfilhomaisnovoded.carlosieded.Amélia,d.Manuelii,subiuaotronocom19anosetentoucontrariaraspolíticasdopai,aodemitir JoãoFrancoenomearumgovernode«Acalmação».duranteosúltimosmesesdamonarquia,maisdecincogovernosforamincapazesdecontrariarorumodosacontecimentos.

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divididosinternamenteentreumaviapacifista(pelaseleições)e aquelesqueadvogavamavia revolucionária, os republicanosencontraram-seemSetúbal,entreosdias23e25deabrilde1909,paraoXcongressodoPRP,onde sediscutiucomodeveria serimplantadaaRepública.comaeleiçãodonovodiretório,ficoudecididoquearevoluçãoeraocaminhoidealparaderrubarasins-tituiçõesmonárquicas.

nosdias4e5deoutubrode1910,apósconfrontosemLisboa,incluindobombardeamentosaoPaláciodasnecessidades,aRevo-luçãocolocouumpontofinalnoregimemonárquico.ARepúblicafoiproclamadanavarandadoedifíciodacâmaraMunicipaldacidade,às9horas,porJoséRelvas.naericeira,d.ManueliieamãeembarcaramnoiateAméliarumoaoexílio.

Curiosidade: Odr.MiguelBombarda(1851-1910)eoalmirantecândidodosReis(1852-1910)eramdoisdosprincipaiselementosquecoordenavamosplanosparaaimplantaçãodaRepública.Oprimeirofoimortoporumdoentemental,doisdiasantesdarevo-lução,nohospitaldeRilhafoles.Osegundo,entretanto,receandooinsucessodarevolução,suicidou-senavéspera.

11.Revoluçãode5deoutubrode1910.

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entreoutubrode1910eapromulgaçãodanovaconstituição,emagostode1911,ogovernoprovisóriofoipresididoporTeófiloBraga,contandocomapresençadeAfonsocosta(Justiça),AntónioJosédeAlmeida(interior),BernardinoMachado(negóciosestran-geiros),JoséRelvas(Finanças)ouBritocamacho(Fomento)nosdiferentesministérios.A24deagostode1911,ManueldeArriagafoieleitocomooprimeiroPresidentedaRepúblicae,a3desetem-bro,éescolhidooprimeirogovernosegundoosprincípiosdanovaconstituição.

A instabilidade e a ação política da Primeira república (1910-1926)

numaeuropapredominantementedominadapormonarquiaseimpérios,Portugaleraacompanhandoapenaspelarepúblicafran-cesaepelaSuíça,encontrando-sepoliticamenteisolado.Oreco-nhecimentointernacionaldaRepública iniciou-senospaísesdaAméricaLatina,nomeadamentenoBrasileArgentina,seguindo-senaçõescomooseUA.ApromulgaçãodaconstituiçãoeaeleiçãodoPresidentedaRepúblicapermitiuquefranceses,ingleses,alemãeseespanhóisreconhecessemonovoregime.

estanovaconstituiçãotrouxemudançasàvidapolítica,rom-pendoclaramentecomacartaconstitucional,aosubstituirafigurarégiapelaeleiçãodeumPresidente,cujomandatoeradequatroanos(nãorenovável),comumpodersubstancialmentemenor.AoPresidentedaRepúblicacabiaapenasanomeaçãodogoverno,nãopodendovetarleisoudissolveroParlamento.

Por outro lado, o congresso da República, dividido entre acâmaradosdeputados(mandatosdetrêsanos)eoSenado(man-datosdeseisanos),possuíaoprincipalpoderpolítico,umavezqueeraorepresentantedasoberaniadanaçãoeogarantedapro-moçãodobem-estargeral.Atravésdeeleiçõesporsufrágiodireto,ossenadoreseosdeputadosproduziamepromulgavamas leis,elegiamedestituíamoPresidentedaRepúblicaepodiamdemitirosgovernos.Odireitodevotoeraapenasconcedidoaoshomensmaioresde21anosquesoubessemlereescrever,ouaoschefesde

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família,totalizandopoucomaisde400mileleitoresnumuniversode6milhõesdeportugueses.

carolina Beatriz Ângelo (1878-1911), ginecologista, foi a pri-meiramulherportuguesaavotarnumaseleições.Aproveitandoo buraco na lei referente aos «cidadãos portugueses» (que,gramaticalmente,incluiogénerofeminino)argumentouque,porserviúvae«chefedefamília»,tinhadireitoaovotonaseleiçõesparaaAssembleiaconstituintede1911.Aleifoialteradalogoaseguir.

Quantoàbandeiraazulebranca,aoHino da Cartaeaoreal,estesforamsubstituídospelabandeiravermelhaeverde,pelaPor-tuguesaepeloescudo,comosímbolosdeumnovoregime.imi-tandoafiguradeMarianne, tambémumamulherrepresentariaaRepúblicaPortuguesa,tendosidoamodeloildaPulgaamusainspiradoradoescultorSimõesdeAlmeida.

dependendoopoderexecutivo(Governo)dopoderlegislativo(congressodaRepública),ainstabilidadepolíticadaiRepúblicafoipraticamenteumaconstante,conhecendo45governos,oitopre-sidentesdaRepúblicaeseteeleiçõesgeraisparaocongresso.Aolongodestes16anosoPaístevedoisperíodosdeditadura.PrimeirosobocomandodePimentadecastro(janeiro–maiode1915)edepoisdeSidónioPais(dezembrode1917–dezembrode1918).

entreasváriasesferaspolítico-partidáriasdestenovoregimepolítico,osprimeirosanospautaram-sepelapredominânciadoPRP,cujoprincipallíderfoiAfonsocosta(1871-1937),epelaopo-siçãodoPartidoevolucionista,deAntónioJosédeAlmeida(1866--1929)edoPartidoUnionista,deBritocamacho(1862-1934).

comoassassinatodoPresidente-Rei,SidónioPais,a5dedezem-brode1918,eaproclamaçãodaMonarquiadonorte,otempoda«RepúblicaVelha»(1919-1926)chegou,unindounionistaseevolu-cionistasnoPartidoLiberalRepublicano,contraahegemoniadoPRP.Maistarde,em1923,oPartidoRepublicanonacionalistareuniuadireitarepublicana.nestafasedecadentedoregimerepublicano,

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váriasforamascisõesinternasnoPRP,oqueacaboupordarorigemaoPartidoReconstituinte(1920),aoPartidoRepublicanoRadical(1922)ouaoPartidoRepublicanodaesquerdademocrática(1925).

entre19dejaneiroe13defevereiro,aJuntadonorteproclamouaMonarquianoPorto,conhecidocomo«Monarquiadonorte»,constituindo um organismo presidido por Paiva couceiro. AsbatalhasemMonsanto(Lisboa)ouAngeja(Aveiro)acabaramporsecaracterizarcomoumaverdadeiraguerracivilentrerepublica-nosemonárquicos.AentradadastropasrepublicanasnoPortopôsfimaobreveconflito.

Outroexemploparadigmáticoquerefleteacomplexidadepolí-ticadesteperíodofoia«noiteSangrenta»de19deoutubrode1921,apósadeposiçãodogovernodeAntónioGranjo.nestanoiteforam assassinados, por marinheiros e arsenalistas revoltosos,MachadoSantos,carlosdaMaia,FreitasdaSilvaeAntónioGranjo.

Aexecuçãodopensamentorepublicanofoicolocadaempráticaemdiferentescontextos.Aconstituiçãode1911aboliutodosostítulosnobiliárquicoseosprivilégiosexistentespornascimento.Aomesmotempo,oanticlericalismoestevepresenteatravésdaLei da Separação do Estado das Igrejas,implementadapelominis-trodaJustiça,Afonsocosta,em1911.destaforma,ocatolicismodeixoudesera religiãooficialdoestado,oensinoreligiosofoiproibidoeasordensreligiosasforamexpulsaseosbensnaciona-lizados.numPaísmaioritariamentecatólico,estasmedidaschoca-ramasmentalidadesdaépocaeforamumdosprincipaismotivosparaqueaRepúblicaganhassealgunsopositoresentreosmeiosconservadores.

emtermossociais,asLeis da Famíliamelhoraramaigualdadedegénero,terminaramcomadiferençaentrefilhoslegítimoseile-gítimos,implementaramocasamentocomoumcontratocivilquepodiaserrompidopelodivórcioecriaram-seapoiossociaisparaavelhiceenocasodeinvalidez.JáasLeis do Trabalhogarantiramodireitoàgreve,odescansosemanaleafixaçãodas48horasde

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trabalhoporsemana.ParaambososcasosédesalientaracriaçãodoMinistériodoTrabalhoedaPrevidênciaSocial,em1916.

Apesardestesimportantesavanços,queprocuravamcumpriraspro-messasrealizadasaomovimentooperário,olock-outacabouporrepre-sentarumcontrapontonadefesadosdireitoslaborais,jáquereforçouopoderdasentidadespatronais.AprópriaG.n.R.atacouseveramenteouniversooperário,utilizandoarmasdefogoparaoreprimir.

Curiosidade: nacomissãonomeadaparaacriaçãodabandeiranacionalestavamincluídosAbelBotelho,JoãochagasecolumbanoBordaloPinheiro.entreoverde,doscamposeflorestas,eoverme-lho,dosrevolucionáriosedosquemorrerampeloPaís,oescudoeaesferaarmilarevocamafundaçãodoPaíseosdescobrimentos.Asquinassimbolizamosmourosderrotadospord.AfonsoHenriquesnabatalhadeOuriqueeossetecastelosrepresentamosqueforamconquistadospord.Afonsoiii.

FoinoquadrodoensinoqueaRepúblicainvestiumais,natenta-tivadereduzirosníveisdeanalfabetismoexistentes(maisde70%),abrindomaisescolasereforçandooensinoprimárioobrigatório,entreos7eos10anos.Simultaneamente,criouaUniversidadedeLisboaeaUniversidadedoPorto,ambasem1911,estabelecimen-tosdeensinoparaqueosprofessoresobtivessemumaformaçãomoderna,ereformouoensinotécnico-profissional.OMinistériodainstruçãoPública,criadoem1913,conseguiureduzirosníveisdeanalfabetismoemcercade10%em16anos.

Poroutrolado,umadasprincipaiscausasparaaconstanteinsta-bilidadevividaforamasprofundasdificuldadeseconómico-finan-ceiras.durantetodaaiRepública,apenasosgovernosdeAfonsocosta (1913-1914)edeÁlvarodecastro (1923-1924)apresenta-ramvaloresequilibradosnascontaspúblicas.extrapoladaspeloimpactodaGrandeGuerra,oselevadosdéficesdabalançacomer-cial,asubidaexponencialdadívidapúblicaeodesequilíbriodasfinançasmotivaramumadesvalorizaçãodamoeda,altosíndicesdeinflação,reduçãodopoderdecompraeaumentodeimpostos.

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AconsequênciafoiumclarosentimentodetraiçãoporpartedascamadassociaismaisbaixasqueconfiaramnaRepúblicaparaaresoluçãodosproblemas.AiGuerraMundialtrouxeaescassezalimentareaespeculação,eoaçambarcamentoprovocouintensosmomentosdereivindicaçãosocial.Oclimaerapropícioparaumarevoltacontraosistemarepublicano,tendoSidónioPaisiniciadoauniãodasdireitas republicanas edos sectores conservadores,ensaiandooprincípiodofimdoregime.

A ditadura sidonista ficou marcada pelo Presidente da Repú-blicaSidónioPais,quefundouoregimepresidencialistanoqualochefedeestadoé,aomesmotempo, líderdogoverno.Sus-pendendoaconsultadocongressodaRepúblicaereformandoaconstituiçãode1911,centralizouarelevânciapolíticanopoderexecutivo,naprocuradaestabilidade.

o 28 de maio e a Ditadura Militar (1926-1933)

numaeuropamarcadapelaascensãodospartidosedeideolo-giasdeextrema-direita,principalmenteemitália,comMussolini,ouemespanha,comPrimodeRivera,oreceiodaexpansãodocomunismotambémsealastrouemPortugal.Aproveitandoumatempestadeperfeitadeconstantesmudançasnosgovernos,asdifi-culdadeseconómico-financeirasdaRepúblicaeosentimentodetraiçãodoblocosocialdeapoioao5deoutubro,ogeneralGomesdacosta,a28demaiode1926,liderouumpronunciamentomili-tar,provenientedeBraga,quepôsfimaoregimeemLisboa.

AquedadogovernodeAntónioMariadaSilvaeademissãodeBernardinoMachadocomochefedeestadoacabouporcongre-garrapidamenteoapoioaosmilitaresporpartedadireitarepu-blicana,deconservadores,católicos,nacionalistaseatémonárqui-cos.Jáa18deabrilde1925,váriosgeneraistinhamensaiadoumarevoluçãoquepusessetermoao«parlamentarismo»,aocaciquismoadministrativoeaocontroloeleitoraldoPRP.

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numa fase transitória, atéàeleiçãodeÓscarcarmonacomoPresidente da República, em 1928, sucederam-se as quezíliasentreGomesdacosta,Mendescabeçadaseoprópriocarmona,principaisdirigentesdaditaduraMilitar.Os trêsdisputavamopoderentreeles,aomesmotempoqueincorporavamnovoscor-posgerentesnosprincipais cargospolíticos.As suasprincipaismedidascentraram-senadissoluçãodocongressodaRepública,noestabelecimentodacensuraeumaeficazrespostaaosataquesdo«Reviralho».

O«Reviralho»(1926-1940)foionomedadoaoconjuntodeten-tativasrevolucionáriasdereposiçãodoregimerepublicanocoor-denadospelaoposiçãoliberaledemocráticacontraaditadura.

entreestasrevoltasrepublicanas,importadestacaratentativaderevoluçãoemfevereirode1927,arevoltadocastelode1928,arevoltadaMadeira(1931)ouomovimentode26deagostode1931.Portrásdealgunsdestesmomentosestevea«LigadeParis»(LigadedefesadaRepública)quecontavacomantigosrepublica-nosexilados.

numquadropolíticoemqueassoluçõesfinanceirasdaditaduranãopareciamresultar,AntóniodeOliveiraSalazar (1889-1970),professordeeconomiadaUniversidadedecoimbra, foi convi-dadoparaassumiroMinistériodasFinanças.Aascensãopolíticadaquelequefoiapelidadode«MagodasFinanças»ficoumarcadapelassuasexigências,nomeadamenteocontroloabsolutodosorça-mentosdetodososministérios,deformaaimporumaausteridadesevera,nomeadamenteatravésdeumbrutalaumentodeimpostosquedificultaramprofundamenteodiaadiadaspopulações.

Osexcelentesresultadosobtidospossibilitaramque,pelapri-meiravezemváriosanos,opaísapresentasseumsaldopositivo.imitandoa lógica fascistadeMussolini,«Tudonoestado,nadacontraoestado,nadaforadoestado»,Salazarpotenciouoslogan «Tudopelanação,nadacontraanação»,obtendotantoprestígioqueacabouporassumirachefiadogovernoem1932,preparandoopaísparaumnovocapítulodasuaHistória.

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Curiosidade: nodiscursodatomadadepossecomoministrodasFinanças,OliveiraSalazarproferiuafrase:«Seimuitobemoquequeroeparaondevou.»encarandooproblemadasfinançaspúbli-cascomoestandointimamenteligadoàausênciadeautoridadedoestadoliberal,asoluçãodoproblemapolíticoseriaumadasques-tõesbaseparaseimporumnovomodeloeconómico.

Da institucionalização do estado novo ao final da Guerra Colonial (1933-1974)

Pelaviadeumplebiscitonacional,ocorridoemmarçode1933,anovaconstituiçãofoiaprovada,concedendoplenospoderesaumnovosistemagovernativo,denominadoestadonovo,lideradoporOliveiraSalazar.Aexpressãoplebiscitofoiutilizadaapenasporpropaganda,umavezqueopropósitodestaformadevotaçãonãoédelegarpoderesilimitadosaosrepresentanteseleitosintem-poralmente.

nestetextoconstitucional,decunhoprofundamentepresiden-cialista,osdireitosdoscidadãosestavamsubordinadosaosinteres-sescoletivos,rejeitandoporcompletoademocracia,aliberdadeouoparlamentarismo.Anaçãoeraentendidacomoumtodoorgânicoenãoasomadeumconjuntodepersonalidadesisoladas,cujavoca-çãoevontadespolíticassedistinguiam.Aorganizaçãodopoderpolíticoassentavanumaclarasupremaciadopoderexecutivosobreolegislativo,tendoemvistaaconstruçãodeumestadoforteeauto-ritário,paraevitarainstabilidadedoperíodorepublicano.

OpresidentedoconselhodeMinistros(líderdogoverno)pos-suíaatotalidadedospoderes,jáquesuperintendiaaaçãopolí-ticadosministros(quepodiademitirounomear),promulgavadecretos-lei e referendavaos atosdoPresidentedaRepública.Aindaqueafiguramaiordoestado tivesseapossibilidadededemitir o presidente do conselho, Salazar (1932-1968) nuncafoiafastadodaliderança.Paraissomuitocontribuiuo«cultodapersonalidade»,ouseja,aconstruçãodomitodeSalazarcomo«SalvadordaPátria»,comcapacidadessuperioresparaguiaros

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destinosdopaís.nassalasdeaula,oseuretratoencontrava-sejuntoàcruzdecristo.

A Assembleia nacional, composta apenas por deputados doúnicopartidolegal(Uniãonacional),eraoórgãodesoberaniacomopoderlegislativo,massemodireitodefiscalizarasaçõesgoverna-tivas.PodiaserdissolvidopeloPresidentedaRepúblicacaso«assim o exigirem os interesses superiores da Nação»(artigo81.o).

A institucionalizaçãodoestadonovofoiaindaefetuadapelaviadaideologia,incutindoumconjuntodevalores«sagrados»deíndoleconservadoraetradicional,nomeadamente«austeridade»,«Pátria»,«família»,«pazsocial»ou«deus».Paralelamente,surgiuumnacionalismoexacerbadoquepotenciouaelevaçãoapoteóticaeglorificantedaHistóriadePortugal,cujosheróis,comod.AfonsoHenriques,VascodaGama,nunoÁlvaresPereiraoucamões,repre-sentavamagrandezadosportugueses.

nestemesmoâmbito,oestadonovoreforçoua ideiadequeos portugueses eram especialmente aptos para o colonialismo,devendooPaíscontinuaracumprirasua«missãohistórica»,evan-gelizandoospovosnativos.OAtocolonial,publicadoa8dejulhode1930,comOliveiraSalazarnoministériodascolónias,redu-ziuprofundamenteaautonomiaadministrativaeeconómicadascolónias,centralizandoainfluênciapolíticanogovernocentral.Oartigo2.odestetextotransmiteestasideiasdeformaclara:«É daessência orgânica da Nação Portuguesa desempenhar a função his-tórica de possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se compreendam.»

Curiosidade: OestadonovoempreendeuumapolíticaquetentoupromoveranoçãodequePortugaleraumpaísqueultrapassavameramenteoterritórioeuropeu.em1935,umcartazalusivoàgrandezadoimpériocolonial,organizadoporHenriqueGalvão,colocavatodasascolóniassobreospaíseseuropeusetinhacomotítulo:Portugal não é um país pequeno.

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Apreservaçãodoregimeeocontrolodasmassas,comosepoderávercommaiorprofundidadenosegmentoeconomiaeSociedadedestecapítulo,foipromovidaatravésdarepressãopolíticadaPolí-ciadeVigilânciaededefesadoestado,dacensura,dopartidoúnico(Uniãonacional),daLegiãoPortuguesaoudaMocidadePor-tuguesa.

comforteinfluênciaestrangeiraemodificadoparaocontextoportuguês,ocorporativismofoiométododeintegraçãoeconómicaesocialquepermitiuaoestadonovoafirmaraautarcia(autono-mia/independência)económico-financeiraeo intervencionismoestatalqueparticipava intensamentenaagricultura, indústriaeobraspúblicas.Aestabilidadefinanceira,umdosprincipaisgaran-teslegitimadoresdoestadonovo,procurouserconseguidapelaviadasolidezdamoedaedoaumentobrutaldosimpostos,paraaobtençãodereceitasfiscaiselevadas.Foitambémimplementadaumapolíticadecontrolodasimportações,deformaareduzirsubs-tancialmenteodéficedabalançacomercialportuguesa.

Paraprosseguiromodelodeautarciaeconómica,aagriculturafoialvodeprofundasreformasquevisavampotencializarassuasvirtudes.ParaalémdatentativadefixaçãodepopulaçãonointerioratravésdaJuntadecolonizaçãointerna,dairrigaçãodossolos,doaumentodaproduçãoagráriaemculturascomoacortiça,batataouazeite,deve-sedestacaraimitaçãodaBattaglia del Grano,deitália.A Campanha do Trigo (1929-1937)procuravaaumentarosíndicesdeproduçãodestecerealcomointuitodediminuirasuaimportação.comumsucessorelativo,esteempreendimentoveionalinhacríticadosmalefíciosdourbanismoedaindustrialização.noentanto,aagriculturaportuguesamantevebaixosíndicesdeprodução,quandocomparadoscomarestanteeuropa.

no sector secundário, o condicionamento marcou a políticaindustrial,ondeodirigismoeconómicotevecomomissão,princi-palmentedesdeaLein.o1956,controlareprevenirosurgimentooumodernizaçãodeempresascomdinamismoeconómico.Paracom-prarmáquinas,alargarespaçosdeproduçãoouampliaronúmerodetrabalhadoreseraobrigatóriopassarporumalentaecomplexaburocracia.destaforma,existiaapossibilidadedeoestadoevitarcrisesdesuperproduçãoeaconcorrênciaempresarialquecaracte-

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rizavaocapitalismoliberal.Oresultadofoiumaprofundaestag-naçãotecnológica,acriaçãodemonopólios,comoacompanhiaUniãoFabril(cUF)ouaSiderurgianacional,ealentaultrapassa-gemdonúmerodetrabalhadoresindustriaisfaceaosrurais.

ApósofinaldaiiGuerraMundial,naqualPortugalsedeclarouneutral,ostrêsplanosdefomento(1953-1958;1959-1964;1968--1973)foramlentamentereconhecendoaimportânciadaindústriaparaodesenvolvimentoeconómico,superandoamerapolíticadesubstituiçãodeimportações.Sónoiníciodadécadade1960équeaapostanasindústriasdebase,juntamentecomaintegraçãonaeFTA(europeanFreeTradeAssociation),projetouaeconomiapor-tuguesa,dandoinícioaummovimentoqueculminou,noperíodomarcelista,comorompimentodegrandepartedapolíticadecon-dicionamentoindustrialsalazarista.

PortugalnocontextodaiiGuerraMundialassinoutrêstratados:1–TratadodeAmizadeenão-Agressãocomespanha (1939);2 –PactoAnti-Komitern (1939) comaAlemanha, a itália e oJapão;3–AcordoLuso-Britânico(1943)queconcedeuasLajes(Açores)aosbritânicose,maistarde,aoseUA.

Apesardossobressaltospolíticosprovocadospelaseleiçõesde1945,1949e1958(comHumbertodelgado),edaiiGuerraMun-dialterrepresentadoaderrotadosfascismos,ocontextointernacio-naldeGuerraFria(eUAvsUniãoSoviética)foiumdosprincipaisfatoresparaoprolongamentodosalazarismoduranteboapartedadécadade1950,jáqueocombateaocomunismoerabemmaisimportantedoqueumpequenoestadoditatorial.Asverdadeirasdificuldadesdoregimeiniciar-se-iamnaquelequeficouconhecidocomooAnnus Horribilisde1961.

emprimeirolugar,emjaneirodesseano,HenriqueGalvão,noMardascaraíbas,assaltouonavioportuguêsSanta Maria,natenta-tivadeprotestarcontraaausênciadeliberdadepolítica.Humbertodelgado,umdosprotagonistasqueorganizoueste apresamento,

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encontrava-senoBrasil,paísondeos17oposicionistasiriamobterexílio.nomêsdeabrilde1961,oministrodadefesa,JúlioBotelhoMoniz,liderouatentativadepronunciamentomilitarqueprocuravaafastarSalazardopoder,provandoqueoregimepossuíaopositoresinternoscansadosdorumoqueoPaíslevava.Ocasomaisgravefoi,noentanto,oiníciodaGuerracolonial,comosataquesdasforçasindependentistasdoMovimentoPelaLibertaçãodeAngola(MPLA)edaUPA(UniãodasPopulaçõesdeAngola)emfevereiroemarço.

Paracontextualizarestesacontecimentos,importarelembrarquearevogaçãodoAtocolonial,em1951,pôsfimaoimpériocolonial,umavezqueasantigascolóniaspassaramterestatutoadminis-trativode«provínciaultramarina»,istoé,umaespéciedeexten-sãoterritorialdePortugal.OintuitodestamedidafoiresponderàspressõesdaOrganizaçãodasnaçõesUnidas(OnU).

António de Oliveira Salazar, ao compreender que os ataquesdeAngolaeramoresultadodeumgrupopolíticoorganizado,proferiunumcélebrediscurso:«ParaAngola,rapidamenteeemforça!»nofinalde1961,maisde30milhomensencontravam-senacolóniaparacombaterosmovimentosindependentistas.

Aomesmotempo,existiaumdebateinternoentreaviainte-gracionista(manutençãodoUltramarPortuguês)eaviadofede-ralismo, que permitia a obtenção de autonomia política, admi-nistrativa e económica face à metrópole. esta última visão eraprovenientedoprocessodedescolonizaçãoqueestavaaocorrerpelo mundo, justificando, também, a fundação de vários movi-mentosde libertação:Angola:UPA(1955), lideradaporHoldenRoberto,queseirátornar,em1962,naFnLA(FrentedeLibertaçãodeAngola);MPLA(1956),coordenadoporAgostinhoneto;UniTA(1966),UniãoparaaindependênciaTotaldeAngola,comJonasSavimbi;Guiné:PAiGc(PartidoparaaindependênciadaGuinéecaboVerde),sobaliderançadeAmílcarcabral,noanode1956;Moçambique:FReLiMO(FrentedeLibertaçãodeMoçambique),deeduardoMondlane,em1962.

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esteconflitodurou13anos(1961-1974),mobilizoumilharesdesoldadosportugueseseprovocoumilharesdemortosemutilados.Oscustosparaoorçamentodoestadoforamelevadíssimos,enemcomasubidaaopoderdeMarcellocaetanooconflitoviutréguas.naGuinédesde1963eemMoçambiqueapartirde1964,estefoiomaisterrívelconflitodanossaHistória.AGuerracolonialfoi,semsombradedúvida,umdosprincipaismotivosparaoisolamentointernacionaldoestadonovoedaexpressão:«OrgulhosamenteSós!»(1965).

nafaseinicialdagovernaçãodeMarcellocaetano,quesubsti-tuíraSalazarem1968,a«PrimaveraMarcelista»prometeuumadeterminada aberturademocrática,naqual a expressão«Reno-vação na continuidade» explicitava os princípios que, suposta-mente,iriamequilibrarosinteressesentreosconservadoreseosquedefendiamademocracia.nestequadro,algumasalteraçõesdopontodevistapolíticoeeconómicodevemserrealçadas:aUniãonacional passou a denominar-seAção nacional Popular (AnP),contandocomapresençadeumaala liberal,ondeseencontra-vamFranciscoSácarneiroouFranciscoPintoBalsemão;aPide,reduzindoocarácterrepressorepersecutório,passouaintitular-sedGS(direção-GeraldeSegurança);regressaramalgunsexilados;aseleiçõeslegislativasde1969contaramcomapresençadepartidosnãocomunistas.

nãoobstante,estaaberturaàdemocratizaçãorevelou-sebreve.Aseleiçõesvoltaramaserfraudulentas,ocorreramgravesataquesa estudantesuniversitários,que semanifestarampublicamentecontraaguerracolonial,earepressãopolicialvoltouaatingirumpicodeviolênciaperanteumsurtogrevista.OalmiranteAméricoThomaz,comquase80anoseconotadocomoconservadorismoarcaicodoestadonovo,foinovamenteeleitoporumcolégioelei-toralcomoPresidentedaRepública,em1972,simbolizandoumaprofundaincapacidadedemudançaquesóo25deAbriliriatrazer.

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Do 25 de Abril à entrada na Comunidade económica europeia (1974-1986)

ARevoluçãode25deAbrilde1974pôstermoa48anosdedita-dura,representandoumdosmomentosmaisimportantesdanossaHistóriacontemporânea.Oaumentodocustodevida,provocadopelacrisepetrolíferade1973,odescontentamentogeneralizadodasociedadeportuguesafaceaoregimeeoprolongamentodeumconflitoanacrónico,umavezqueocolonialismojánãotinhasen-tidonomundo,foramalgunsdosprincipaismotivosconjunturaisparaarevolução.

Aomesmotempo,areceçãodosprincipaisdirigentesindepen-dentistasdascolóniaspeloPapaPauloViteveumgrandeimpactonamudançadementalidades,incluindodemuitoscatólicosquecompreenderamcomooisolamentointernacionaldePortugalcres-ciadediaparadia.Pelomeio,aala liberaldaAnPabandonouaAssembleianacional,protestandocontraaguerra, eaGuiné--Bissauchegouadeclararunilateralmenteaindependência,rece-bendooapoioereconhecimentodaprópriaOnU.nestequadro,aincapacidadedoexércitoportuguêsemderrotarestesmovimentosindependentistasanunciavaumavergonhosaderrotaparaoPaís,motivandoasaltaspatentesmilitares,nomeadamenteogeneralAntóniodeSpínola,aafirmar,naobraPortugal e o Futuro,queoconflitotinhadeterminar.

Apassagemdeoficiaismilicianosàcarreiramilitarmereceuforteoposiçãoporpartedosmilitares,queresponderamcomacriaçãodoMovimentodoscapitãesque,maistarde,deuorigemaoMovi-mentodasForçasArmadas(MFA),depoisdaadesãodegeneraiscomocostaGomesouAntóniodeSpínolaedeoutrasestruturasmilitares.OMFA,atravésdoplanocoordenadoporOteloSaraivadecarvalho,nanoitede24para25deabrilde1974,realizouumgolpedeestadoquepôsfimaoestadonovo.OcapitãoSalgueiroMaiacercou,juntamentecomoutrastropas,oquarteldocarmo,ondeMarcellocaetanoacabouporentregaropoderaSpínola.nasruasdeLisboa,milharesdeportuguesesdistribuíramcravospelosmilitares,numarevoluçãosemmortosequeparasempreficouconhecidacomoa«Revoluçãodoscravos».

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AntesdaformaçãodeumGovernoProvisório,oMFAprocuroudesmantelartodasasestruturasdoestadonovo,começandopelademissãodeAméricoThomazedeMarcellocaetano.APide,acensuraeaLegiãoforamextintas,etodososdirigentesdoregimeforamdestituídos.ApreparaçãodaAssembleiaconstituinte,danovaconstituiçãoedadescolonizaçãodascolóniasforamasprin-cipaismissões.

nãoobstante,osprimeirosdoisanosdedemocraciaforammar-cadosporumaprofundainstabilidadepolíticafaceàsdiferençasideológicasentreosdiferentessectores.Oprimeirodosseisgover-nosprovisóriosfoilideradoporAdelinodaPalmacarlos,quesedemitiudoismesesmaistarde,passandoVascoGonçalvesalideraroiiGovernoProvisórioepromovendooMFAaumaradicaliza-çãoàesquerda,entrandoemdissidênciacomSpínola.OcomandoOperacionaldocontinente(cOPcOn),quecontavacomoapoiodoPartidocomunista,entrouemcenaeoPRec(ProcessoRevolucio-nárioemcurso)tomavaforma.

neste período iniciou-se um conjunto de nacionalizações desectores-chave da economia, nomeadamente transportes, bancaousiderurgia,eosmonopóliosdoestadonovoterminaram.Aomesmotempo,aReformaAgráriaexpropriavaosgrandeslatifún-dioscomocupaçõescoletivasnoAlentejoeRibatejo.Peranteestesacontecimentos,asforçasàdireitainiciaramalgumasmovimen-tações,acabandoporsero25denovembrode1975oexemplodoreceiodequePortugalsetornasseuma«democraciapopular»sobalçadasoviética.esteperíodorepresentouumafasedegrandesconquistas,designadamenteatravésdoestabelecimentodosaláriomínimo,dodireitoàgreve,daliberdadesindicaloudareduçãodohoráriodetrabalho.

Apenascomaconstituiçãode1976,depoisdo«VerãoQuente»(conflitosentreas forçaspolíticas)edo«documentodosnove»,quedefendiaqueopaísdeveriaseguirocaminhodeumademocra-ciamultipartidáriaelivre,équePortugalseconsolidoucomoumaRepúblicapluralistaquegarantiaasliberdadesindividuaiseeleiçõeslivres.OPartidoSocialistavenceuaslegislativasde1976contraoPartidoPopulardemocráticoeoPcP.RamalhoeanesfoieleitoPresi-dentedaRepública,garantindoalegitimidadepolíticaedemocrática.

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Aconstituição,revistaem1982,garantiaademocracia-liberalpelaviadasoberaniapopular,representadaatualmentepelos230deputadosdaAssembleia.OPresidente,eleitoparamandatosdecincoanosepormaioriaabsoluta,podedissolveroParlamentoeconvocareleiçõesemcasosexcecionais.AAssembleia,divididaemgruposparlamentaresdospartidos,representaoscidadãosdecadadistritoduranteosquatroanosdalegislatura.

O governo resulta da nomeação do Presidente da República,sendoopartidomaisvotadoincumbidodeguiarapolíticadopaísemtodosossectores,umavezquepossuiopoderexecutivo.UmadasatribuiçõesmaisimportantesfornecidasporestarevisãofoiacriaçãodoTribunalconstitucionalquezelapelosinteressesdaconstituição.

Atéàentradanacomunidadeeconómicaeuropeia(c.e.e.)(1986),osgovernossocialistasdeMárioSoares(1976-1978)e(1983-1985)edacoligaçãoAliançademocrática(PartidoPopulardemocrático,centrodemocráticoSocialePartidoPopularMonárquico),sobaliderançadeFranciscoSácarneiro(1980)eFranciscoPintoBalse-mão(1981-1983),forammuitoimportantesparaaconsolidaçãodademocracia.noprimeirogovernosocialista,MárioSoaresrequereuopedidodeadesãoàc.e.e.,a28demarçode1977,recebendores-postafavorávela19demaiode1978.

Curiosidade: Oentãoprimeiro-ministro,FranciscoSácarneiro,foioprotagonistado«casocamarate».Asopiniõesaindahojesedividemsefoiumacidenteouumatentadoque,a4dedezembrode1980,levouaqueaaeronavequetransportavaochefedogovernosedespenhasseemcamarate.

AentradaoficialdePortugalnac.e.e.,ladoaladocomavizinhaespanha,quetambémpassaraporumprocessodedemocratiza-ção,ocorreua1dejaneirode1986,depoisdaassinaturaoficial,a12dejunhodoanoanterior.estemomentosimbolizouaconsa-graçãointernacionaldosistemarepublicanoportuguês,numclarointentodeparticiparnoprojetoeuropeuquefomentasseopro-

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gressoeconómico,mantivesseumapazduradouraentreospaísesdo«Velhocontinente»egarantissebem-estarsocialeliberdadeatodososcidadãos.

economia e Sociedade

«economia de guerra»: o impacto do conflito e a participação militar portuguesa

AGrandeGuerra(1914-1918)feriudemorteaiRepública.defacto,umpoucoportodaaeuropaassistiu-seàregressãodasdemo-craciasliberaiseàascensãodeforçaspolíticasdeextrema-direita,nomeadamenteemitália,espanhaouGrécia.

O primeiro impacto provocado em Portugal pelo deflagrarda Grande Guerra foi a divisão da sociedade quanto ao debate«intervencionismovsanti-intervencionismo»,istoé,aquelesquedefendiamumaparticipaçãomilitarjuntodosAliados(inglaterra,impérioRussoeFrança)contraosimpérioscentrais(alemão,aus-tro-húngaroeotomano)eosquedesejavamaneutralidade.Ospri-meirosconcentravam-seprincipalmentenoPRP,nosevolucionistasenoramomanuelistadosmonárquicos,enquantoosanti-interven-cionistascentravam-senosunionistas,nadireitamonárquica,emgrandepartedoPartidoSocialistaenosseguidoresdeMachadoSantos.

Motivadospelanecessidadedelegitimarinternacionalmenteoregimerepublicano,pelaameaçaalemãàscolóniasportuguesasemÁfricaepeloeterno«perigoespanhol»(receiodevoltaràmonar-quiadualdoperíodofilipino),ainfluênciapolíticahegemónicadoPRPprocurouaintervençãomilitarimediata.noentanto,a«velha»aliadainglaterra,conscientedaimpreparaçãodoexércitoportuguês,dequeonossoesforçomilitarteriadeserpatrocinadopelosseuscofresedanecessidadedeasseguraraneutralidadedaPenínsulaibérica,impediuaentradaoficialdePortugalnoconflitoaté1916.

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nãoobstante,oexércitoalemãoenvioutropasparaasfrontei-rasdosuldeAngolaeparaonortedeMoçambique,obrigandoaquePortugalrespondessecommaisde25milhomensparaprote-gerduasdasjoiasdacoroadoimpériocolonial.Abatalhadenau-lila(Angola),emdezembrode1914,simbolizouo«desastre»deumperíodoqueficouaindamarcadopelarevoltadaspopulaçõesautóctonescontraosportugueses.

Oapresamentodos72naviosalemãeseaustríacosemportosportugueses,incluindocoloniais,motivaramadeclaraçãodeguerraporpartedoimpérioAlemãoa9demarçode1916,oquelevouPortugalaentraroficialmentenoconflito,paralutaraoladodosAliados, concretizando o desejo dos intervencionistas. daqui, eparafazerfaceaoesforçodeguerra,surgiriaogovernoda«UniãoSagrada»,umdosmaislongosdaiRepública(406dias),quecoli-gavaoPRPeoPartidoevolucionista.

Foramenviados75milhomensparacombateremFrançaenaFlandres,depoisdotreinomilitarqueficouconhecidocomo«Mila-gredeTancos».Amemóriadanossaparticipaçãomilitarficoumar-cadapelabatalhadeLaLys(Bélgica),a9deabrilde1918,cujaderrotaàsmãosdosgermânicosprovocoumaisde7milbaixasportuguesasecentenasdeprisioneirosdeguerraedesaparecidos.

O«MilagredeTancos»foiaorganizaçãodeumcampodeinstru-çãomilitarcomointuitodeprepararastropasparaoscombatesnafrenteeuropeia.entreabrilejunhode1916,sobacoordena-çãodogeneralnortondeMatos,nopolígonomilitardeTancos(Santarém)maisde20milhomensreceberamformaçãoparaomundodastrincheirasqueocorpoexpedicionárioPortuguêsiriasentirdapiorforma.

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Maisdoqueoimpactodaparticipaçãomilitar,afrenteinternaobrigouaqueosgovernosquebrassempartedatradiçãoliberaldepoucaintervençãoestatal.defacto,aGrandeGuerra,atéentãooconflitodemaiorescalanaHistória,forçouumconjuntodenovosmecanismose experiênciaspolíticas.naprocurade concentraresforçosmateriaisparaacomponentebélica,opaíspassouporumcontextodramáticofaceàcrisedesubsistênciasondeafaltadeabastecimentosfezalastrarafome.

Oaumentoextraordináriodocustodevida,emvirtudedapoucaofertaalimentar,intensificouacrispaçãosocialvividaedespertouomovimentooperárioparamomentosdelutacoletivacontraoaumentodospreços,afracacapacidadeparaaresoluçãodopro-

12.despedidadeumsoldadoportuguês–partidaparaaGrandeGuerra.

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blemadosabastecimentose,maisimportante,umasociedadetotal-mentedivididafaceaoconflito.Ossentimentosanti-intervencio-nistascresceramemmilharesdefamíliasquevirampais,maridosoufilhospartiremparaumaguerracujomotivolheseraalheio.

o fascismo no quotidiano: corporativismo e organizações de enquadramento

Aformadeinculcarvaloreseocontrolodasmassastevenasuaestruturaumconjuntodeorganizaçõescriadaspeloestadonovo,comoaLegiãoPortuguesa,aMocidadePortuguesa,opartidodaUniãonacional,aFundaçãonacionalparaaAlegrianoTrabalhoouaObradasMãesparaaeducaçãonacional.Ocorporativismo,oua«Repúblicacorporativa»segundoexpressãodoregime,organizouavidaeconómicaesocialcomointuitodefortaleceroestadoeuniranação.

AUniãonacional,partidocriadoem1930, tornou-seaúnicaorganizaçãopolíticalegalnonossoPaís,umavezque,navisãodoregime,congregavatodososportuguesesnumaestruturateorica-menteapartidária,evitandoaexistênciadepartidosquediscutis-semideaisquedessemorigemadivisões.Umasociedadeassenteno liberalismoparlamentarerasinónimodedesordem, instabi-lidadeedesorganização.extinguindoodireitoaovoto livreemeleiçõesmultipartidárias,oestadonovoestabeleceuumsistemapolíticobaseadonototalitarismo, istoé,ondeaUniãonacionalcoordenavaavidapúblicanumcontroloabsolutoe transversalsobreoindivíduo,comSalazaràcabeçadoregime.

como intuitodearregimentar,fidelizaremoldar ideologica-menteasociedadeportuguesaaoregime,aMocidadePortuguesa,criadaa19demaiode1936,matriculoutodososjovensdoensinoprimárioesecundário.nestaorganizaçãoeramtransmitidostodososvalorespatrióticosenacionalistasqueofascismoexacerbava,pelaviadeumensinoemqueos livrosoficiais sublinhavamagrandezadoregime.Paralelamente,aLegiãoPortuguesa,fundadaa30desetembrode1936,tinhacomoprincipalmissãocombateroanarquismoeocomunismo.Ojuramentodetodososlegionários

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destamilíciaarmadaparamaioresde18anosincluíaapromessadepreservara«moralcristã»eo«patrimónioespiritualdanação».

Curiosidade: escritoporJoséGonçalvesLobo,em1937,ohinodaLegiãoPortuguesaerainiciadodaseguinteforma:Nós teremos que vencer/Nada temos a temer/Da invasão comunista/ Já existe a Legião / Ao vento solta o pendão / Dá combate ao anarquista.

Paraprepararasmãesparaaeducaçãodosfilhoseparavidadoméstica,sobosvaloresdoestadonovo,foicriada,peloministroAntóniocarneiroPacheco,a15deagostodomesmoano,aObradasMãesparaaeducaçãonacional (OMen).como intuitodereeducarestasmulheres,foramfundadoscentrossociaiseeduca-tivos,ondehaviapossibilidadedecontinuarosestudos,assistirasessõesdepropagandaereceberauxíliomaterno-infantilpelaviadecantinas,caridadeeliçõesdehigiene.estaobra,cujoobjetivoeracongregartodasasmulheresportuguesasetransformarassuasmentalidades,nãoalcançounúmerosmuitoexpressivosoumobi-lizousignificativamenteouniversofemininodoregime.Oscursosdeeducaçãodomésticaforamampliadosparaque,noâmbitodoconceitosalazaristade«família»,amulherfosseamãeeesposaquesededicavaexclusivamenteàvidaparticulardolar.

Aprocuradaconcórdiaedapazsocialcorporativabaseou-seinicialmentenapromulgaçãodoestatutodoTrabalhonacional,a23desetembrode1933,queseinspirouabertamentenaCarta del Lavorodoregimeitaliano.ilegalizandotodosossindicatoseassociaçõesdeclassesnascidasdesdeaMonarquiaconstitucional,aorganizaçãodostrabalhadoresemsindicatosnacionais,casasdospescadoresecasasdopovo,edospatrõesemgrémios,permitiaqueoestadocontrolasse todaacomplexidadedasrelações laborais,procurandooequilíbrioentreosdesejospresentesnoscontratoscoletivoseossalários.nosgrémios,comoosdalavoura,ospatrõeseempresáriosregulavamaproduçãoeadistribuição,estabeleciamospreçosdosprodutos,paraevitaraconcorrênciadesleal,efunda-vammétodosdefinanciamento,comoocrédito.

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Satisfazendoambasaspartes,olockouteagrevetornar-se-iamdesnecessários,jáquerepresentavamaantítesedaharmoniasocialque o regime desejava construir e apenas aconteceriam numasociedadedominadapelalutadeclasses.Ostrabalhadores,peranteapossibilidadedeacederemàassistênciasocialnointeriordossin-dicatos(subsídiodedesempregoepensãodevelhiceouinvalidez)eacontratosdetrabalhoseguros,aderiramaocorporativismo.

Aomesmotempo,osgrémios,ascasasdopovoeossindicatosnacionaisintervinhamdiretamentenavidamunicipal,umavezqueintegravamfederaçõesnacionaisouregionaisqueacabavamporestarrepresentadasnacâmaracorporativa,atravésdedelega-dos.Ascorporaçõesexistentespoderiamser,paraalémdaseconó-micas,culturais(gruposdesportivos,culturais,artísticosoucientífi-coseuniversidades)emorais(misericórdias,hospitais,asilos,etc.).

OMinistériodascorporaçõeseoinstitutonacionaldoTraba-lhoedaPrevidênciaSocialdominaramporcompletoestapequenacapacidadederepresentaçãoregionalenacional,jáqueasativi-dades eram plenamente supervisionadas por membros ligadosaoregime.Ocorporativismoserviuparasuprimirecontrolararesistênciaoperárianosgrandescentrosurbanos,osgrandespro-prietáriosagrícolasepartedomundoruralondeexistissemcasasdopovo.Aomesmotempo,oestadonovopassavaaternasmãosasferramentasparaaafirmaçãodaautarciaeconómica,istoé,aautossuficiênciapelaviadointervencionismo,doprotecionismoedo«nacionalismoeconómico».

Foradohoráriodeexpediente,paraalémdetodaainformação,comunicaçãoepropagandaseremcontroladaspelacensuraPréviaepeloSecretariadodePropagandanacional,aFundaçãonacionalparaaAlegrianoTrabalho(atualinATeL),baseadanaKraft durch Freude(1933)doiiiReichenaOpera Nazionale Dopolavoro(1925)italiana,procuravapromoveratividadeslúdicasparaosperíodosdelazerdostrabalhadores.

criadaa13dejunhode1935,qualquerpessoapoderiausufruirdaofertadecolóniasdeférias,passeiosturísticos,espetáculosdeteatroemúsica,bibliotecas,educaçãofísicaeginástica,bastandoapenassersóciodeumsindicatonacional,deumacasadopovooudeumacasadepescadores.

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Oladosombriodoestadonovofoiarepressãopolicialviolentaquevigiou,perseguiu,prendeu, torturouematouqualquertipodeopositoraoregimeatravésdaPVde(PolíciadeVigilânciaededefesadoestado)e,desde1945,daPide(Políciainternacionalededefesadoestado).Apolíciapolíticautilizavaumadensarededeinformadoresumpoucoportodoopaís,quecolaboravaemtrocadefavoresedinheiro,fazendocomquemilharesdeportuguesessofressemcomoregime.AaberturadeprisõespolíticasemPeni-che,AljubeecaxiaseacriaçãodeumcampodeconcentraçãonoTarrafal(caboVerde)foiaclararepresentaçãonegradestelongoperíododeditadura.

entre tantosprisioneirospolíticos épossíveldestacarnomescomoÁlvarocunhal, JaimeSerra,FranciscoMartinsRodrigues,Urbano Tavares Rodrigues, José Manuel Tengarrinha, MiguelTorga,LuísdeSttauMonteiro,JoséMedeirosFerreira,Mariaeugé-niaVarelaGomesoununoTeotónioPereira,etc.

Curiosidade: BentoAntónioGonçalves(1902-1942)foiumdosprimeirossecretários-geraisdoPartidocomunistaPortuguês,tendo--sefiliadonopartidoem1928.ApósoregressodoViicongressodainternacionalcomunista,emMoscovo,noanode1935,foipresojuntamentecomoutrosmembrosdoPcP.FoienviadoparaocampodeconcentraçãodoTarrafal,inauguradoem1936,ondeacabariapormorrer.

A oposição ao regime e a luta pela liberdade: do MunAF às eleições de 1958

Apósointensocombatedoestadonovoparaesvairacapacidadederesistênciadomovimentooperárioedosantigosrepublicanosduranteoperíododo«Reviralho»,asdificuldadeseconómicasesociaisprovocadaspelaiiGuerraMundialpermitiramareunifica-çãopolíticadosdiferentesblocospolítico-partidáriosantifascistas.

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em1943foicriadooMovimentodeUnidadenacionalAnti-Fas-cista(MUnAF),ondeseencontravamelementoscomoBentodeJesuscaraça,AntónioSérgio,MáriodeAzevedoGomeserepre-sentantesdoPartidocomunistaPortuguês,daSecçãoPortuguesadainternacionalOperária,doPartidoRepublicanoPortuguês,daconfederaçãoGeraldoTrabalhooudarevistaSeara Nova.nortondeMatos,JoséMagalhãesGodinho,JacintoSimõesouFernandoPiteiraSantosfaziampartedacomissãoexecutiva.

comofinaldoconflitomundialeaderrotaoficialdosfascis-mosnaeuropa,aesperançadedemocratizaçãodoregimeinun-douasociedadeportuguesaquesemanifestou, inclusivamente,numarevoltamilitarnonorte(queincluiuumamarchadoPortoàMealhada),em1946.Apressãointernacional,nomeadamentedoseUAedainglaterra,paraumprocessodedemocratizaçãodurouatéaoiníciooficialdaGuerraFria,ondeocombateàexpansãodocomunismosoviéticotornou-seprioritáriorelativamenteàmanu-tençãodosregimesfascistasdaPenínsulaibérica.AadesãodePor-tugalàOTAn(OrganizaçãodoTratadodoAtlânticonorte),em1949,foiexatamenteessereconhecimento.

numa clara tentativa dedemonstrar àsnações aliadas queoregimenãoerafascista,SalazarexigiuadissoluçãodaAssembleianacionaleconvocoueleiçõesditas«livres»para18denovembrode1945.numaaçãoconjuntaparalutarpelaliberdade,oMUnAFcriouoMovimentodeUnidadedemocrática(MUd),a8deoutu-brode1945,comadevidaautorizaçãodoestadonovo.Oclimadeeuforiainstalou-seumpoucoportodoopaís,associando-seaoMUdmaisde50milsubscritores.

ApesardeSalazarcomunicar,numaentrevistaaoDiário de Notí-ciaseaoO Século,nodia14denovembro,“Considero as próximas eleições tão livres como na livre Inglaterra»,averdadeéqueasexigênciasdoMUdparaaseleiçõesforamrecusadas.entreestasestavam a renovação dos cadernos eleitorais, o adiamento daseleiçõesparaaconstruçãodasestruturasdospartidoseaverda-deiraliberdadedeimprensaparadivulgarosideaisdecadapar-tido.Faceaestaincapacidade,oMUddesistiudaseleições,umavezquenãoeramlivres,eos120deputadoseleitospertenciamàUniãonacional.

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Umdosmaioresproblemaslevantadosporestaseleiçõesfoiaexi-gênciadoestadonovoemconsultaralistadosmembrosqueade-riramàMUd.estaferramentapermitiuaoregimereconhecer,emváriosquadrantessociaiseemváriasáreasdoPaís,osopositores.destaforma,osinterrogatórioseprisõesàsmãosdaPide,avigilânciapolicialeasdemissõesdealgunselementosligadosàfunçãopúblicaforamclarasrepercussõesparagrandepartedestesmembros.

PorligaçõesaoPcP,SalazarproibiuoMUdem1948,mas,apesardeavanços,divisõeseretrocessos,aoposiçãodemocráticaconti-nuariaalutaclandestinaaté1974.Logonoanoseguinte,em1949,aseleiçõespresidenciaispermitiramqueaoposiçãoapresentasseovelhogeneralrepublicanonortondeMatos,ex-líderdoMUnAF,comocandidatocontraogeneralÓscarcarmona.Apesardaslimi-tações,acabouporconseguirapresentarumacandidaturaquesecaracterizoupeloapontardascontradiçõesdosalazarismo,nomea-damentearepressãopolíticaeacensura,epelodesejodeinstaurarumregimedemocrático.

Aindaassim,talcomoem1945,peranteaincapacidadedegaran-tirareformadoscadernoseleitoraisealiberdadedevoto,retirouacandidaturaalgunsdiasantesdaseleições.estemomentoficouaindamarcadopeloiníciodeumafragmentaçãopolíticanaopo-sição,comdivergênciasentresocialistas,republicanosmoderadoseoPartidocomunistaqueenfraqueceramalutapelaliberdade.OpróprioPcPapresentoulistasseparadasdogrupoliberal.

Apósesteperíododecrisedoregime,amortedeÓscarcarmonaeaeleiçãodeFranciscocraveiroLopes,ambasem1951,eaentradadePortugalnaOrganizaçãodasnaçõesUnidasacabaramporcon-solidaropoderpolítico.naeleiçãodecraveiroLopes,ocontra--almiranteQuintãoMeirelesfoiocandidatomoderadodaoposi-ção,enquantooprofessorRuyLuísGomesrepresentouaesquerdapolítica.Oprimeiro retirou-seda campanhaantesdas eleições,enquantoRuyLuísGomesfoiproibidosecandidatarpeloTribunaldeJustiça,depoisdetersidoagredidoemRioTintoporadeptosdaUniãonacional.craveiroLopesacaboueleitosemqualquertipodeobstáculonumcenáriodeeleiçõesfantoche.

nãoobstante,ostemposnovosqueseiamconstruindoanívelinternacionalpotenciaramumdesgastepolítico-institucionalde

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umregimeanacrónicoque,em1958,iriasofrerumadasmaiorescrisesqueantecederiamasuaqueda:o«furacão»delgado.Aocon-tráriodaseleiçõesanteriores,ogeneralHumbertodelgado(1906--1965)optouporiratéaofimeconseguiuangariarumforteapoiopopularumpoucoportodoopaís,fazendotremerasestruturaspolíticasdoestadonovo.

AntigoapoiantedaditaduraMilitaredoregime,Humbertodel-gado,o«GeneralSemMedo»,modificouaformadeestareviverapolíticaduranteoscincoanosqueviveunoseUA,comoembai-xadordePortugal.Semgarantiasnaliberdadedevotoesemreno-vaçãodoscadernoseleitorais,obtevecercade25%dosvotos,per-dendoparaoalmiranteAméricoThomaz(1894-1987).

Curiosidade: nosalãodorestaurantedocaféChave de Ouro,emLisboa,a10demaiode1958,ogeneralHumbertodelgadoreu-niutodososelementosdasuacampanhaeleitoraleconvidouaimprensanacionalaassistir.numarondainicialdequestões,umjornalistaperguntou:«SeforeleitoPresidentedaRepública,oquefaráaopresidentedoconselho[Salazar]?».Arespostafoirápida:«Obviamente,demito-o!»,tornando-senumadasmaiscélebresfra-sesdapolíticaportuguesa.

nestaseleições,aoposiçãodemocráticavoltouaunir-se,depoisdeocandidatodoPcP,ArlindoVicente,terdesistidodacampanhaemfavordosucessogeneralizadoqueogeneralHumbertodelgadoobteve.Afraudenessaeleiçãoacabouporsercomprovadamuitosanosmaistarde,apósasevidentessuspeitasdaépoca.noexílio,o«GeneralSemMedo»fundouaFrentenacionalindependenteeliderouaFrentePatrióticadeLibertaçãonacional,acabandoporserassassinadoemLosAlmerines(Badajoz),a13defevereirode1965.

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Cultura e Artes

o Modernismo em Portugal: da revista Orpheu aos anos 30

numPaísculturalmentevincadoaorealismoliterário,aonatu-ralismonapinturaouaoclassicismoracionalistanaarquitetura,ageraçãodeFernandoPessoa(1888-1935),Almadanegreiros(1893--1970),MáriodeSá-carneiro(1890-1916)ouAmadeodeSouza-car-doso(1887-1918),entreoutrostantosbolseirosoficiaiseestudantesportuguesesqueestiveramnocentrodaeuropa,ansiava,talcomonoutrosperíodos,rompercomainérciaedecadênciaintelectualemPortugal.

entreaúltimadécadado séculoXiXeosprimeirosanosdoséculoXX,opúblicoeaeliteartísticapremiavammaioritariamenteosvelhosmestres,comoJoséMalhoa.inspiradospormovimentoscomoofuturismoitaliano,oexpressionismoalemãoouocubismodePicasso,estesjovensreuniram-senatentativadequebrarcomoconservadorismodomundourbanoecaptaraatençãodeumasociedademaioritariamenteanalfabeta.

Osprimeirosmodernistasaproveitaramocontextodaimplanta-çãodaRepública,doiníciodaGrandeGuerra,doimpactodaRevolu-çãoRussa(1917),quegeraramumintensodebatepolítico-ideológico,edaafirmaçãodasnovascorrentesestéticaseartísticas,paraorgani-zarem,semapoios,exposiçõesdepinturaeconferências.AprimeiratentativadeintroduzirumanovatendênciamodernanaculturaenasartesportuguesasocorreunoSalãoBobone,emLisboa,sobacoordenaçãodeManuelBentes(1885-1961)ecomaparticipaçãodeartistascomoemmericonunes(1888-1968).estasmostrascontinua-ramcomasExposições dos HumoristaseasExposições dos Modernis-tas, entre1912e1926,noPortoeemLisboa.nolongoprocessodecortecomaherançaoitocentista,cristianocruz,Stuartcarvalhais,MilyPossoz,eduardoVianaouJorgeBarradastiveramoportunidadedeapresentarassuasobrasnestasexposições.

Aindaassim,aprimeirageraçãodoModernismoficouconhe-cidaatravésdapublicaçãodosdoisnúmerosdarevistaOrpheu,em

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1915.criticandoavelhaordemliteráriaepromovendoafragmen-taçãodoeudosujeitopoéticooupodercriativodapalavra,oseupropósitoeracriarumaartecosmopolita.Apesardaincapacidadefinanceiradecontinuarapublicação,estageraçãoseriaa«geraçãod’Orpheu»quedeixouumaherançaculturalfundamentalequeinfluenciouosartistasdosperíodosseguintes.

Curiosidade: O Manifesto Anti-Dantase por extenso,escritoporAlmadanegreirosem1915,foiumdosmaisimportantesdocumen-tosdecortecomaherançaliteráriadaépoca,acabandoporchocarasmentalidadesburguesasconservadoraspelasseverascríticaspresentes.Aexpressão«Morra o Dantas, Morra! PIM!»,utilizandooescritorJúliodantascomoexemplodoatrasointelectualvivenciadoemPortugal,ficoufamosa.

OúniconúmerodarevistaPortugal Futurista,representandoaintroduçãoefetivadoFuturismoitalianoemPortugal,contoucomacolaboraçãodeSantaRita-Pintor,Almadanegreiros,MáriodeSá-carneiro(suicidou-seem1916),FernandoPessoa,edoseuhete-rónimoÁlvarodecampos,eAmadeodeSouza-cardoso.Publicadaem1917,encerrouoprimeiroModernismoportuguês, faceaosfalecimentosdeSantaRita-PintoreAmadeoSouza-cardozo,em1918,edapartidadealgunsartistasparaParis.

Tambémumarevista,aPresença – Folha de Arte e Crítica,cen-tralizoua segunda fasedoModernismoportuguês (1924-1940).coordenadaporumgrupodejovensestudantesdaUniversidadedecoimbra,nomeadamenteJoãoGasparSimões,JoséRégioeBran-quinhodaFonseca,acabouporcontarcomoregressodeparteda«geraçãod’Orpheu»ecomosurgimentodenovosartistaseescrito-res,comoAdolfocasaisMonteiro,dórdioGomesouMiguelTorga.Oscaféseclubesforamoseuespaçodeexposição,ondecontinua-ramocombateparadivulgarasideiasmodernistas,alutacontraoacademismoliterárioeadenúnciadoscostumesburgueses.

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A ‘política do espírito’ de António Ferro e a exposição do Mundo Português

noquadroda construçãodeumestado totalitárioque inter-viesseemtodosossectoresdavidanacional,oestadonovoviu--seobrigadoaorganizarumapolíticaculturalquefavorecesseosinteressesdoregimeequetambémpassassepelocrivodacensura.Umconjuntovariadodeartistas,escritoreseoutrosintelectuaispassaram,desde1926,porumaapertadapressãoqueosimpediudeproduzirlivremente.FoientãocriadooSecretariadodePropa-gandanacional(S.P.n.),sobaégidedeAntónioFerro(1895-1956),umíntimoamigoecolegada«geraçãod’Orpheu»,umavezque,nãocolaborandocomtextosliterários,estevesempremuitopró-ximodeSá-carneiro.

PartindocomoadeptodoPartidodemocrático,passandocomoentusiastadeSidónioPais,AntónioFerrotornou-seumfervorosoapoiantedo fascismo italiano.desta forma,possuíaumaduplafaceta,jáque,dopontodevistacultural,patrocinavaavanguardamodernista,mas,noâmbitodonovoorganismodoS.P.n.,deveriaprocurarenfatizaragrandezadoestadonovo.

Oplanoculturaldoregimebaseava-seemtrêsfundamentosprin-cipais:utilizaçãodaculturacomoveículodepropagandadeglorifi-caçãoeexaltaçãodoregimeedochefedeestado;concretizaçãodeumprogramaquepromovesseosentidocoletivonacionaleosmaisimportantesideaisepropósitosdoestadonovo;compatibilizaçãodarenovaçãoartísticaeculturaldoModernismocomarecuperaçãodastradiçõespopularesedosmomentosdeglóriadopassadoportuguês.

AntónioFerrodeveriaassegurar,atravésda«políticadoespírito»,arenovaçãoeaformaçãodohomemnovo,mantendooequilíbrioentreavanguardamodernaeoconservadorismoque,durantemui-tosanos,caracterizariaoregime.Aruralidade,omundocolonial,asvirtudesdafamíliaeaculturanacionalista(«amoràpátria»)foramexacerbadasatravésdaconvocaçãodediversosmembrosdasgera-çõesmodernistasnoâmbitodasartes,nomeadamentecinema,tea-troouarquitetura.

Aproveitando o oitavo centenário da fundação de Portugal(1140)eoterceirocentenáriodaRestauraçãodaindependência

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(1640),umadasmaiscarismáticasehistóricasaçõesdoSecreta-riadonacionaldePropagandafoiaorganizaçãoda«exposiçãodoMundoPortuguês»,entrejunhoedezembrode1940.consideradaamaiorexposiçãodetodosostemposrealizadanonossopaís,comumaáreaqueultrapassavaos550milmetrosquadrados,entreamargemdireitadoTejoeoMosteirodosJerónimos,recebeuapro-ximadamente3milhõesdevisitantesqueencontraramaexaltaçãodosfeitosgloriososdosdescobrimentoseasupostagrandezadoimpériocolonialportuguês.Aomesmotempo,oPaístransmitiaumaimagemdepaznumaeuropaquejásedigladiavanoâmbitodaiiGuerraMundial(1939-1945).

Oregimeconvocou17arquitetos(comocristinodaSilva,RaúlLino, Porfírio Pardal Monteiro ou o arquiteto-chefe cottinelliTelmo),43pintores(entreosquaisAlmadanegreiros,emmericonunes,MilyPossozouJorgeBarradas)e24escultores(queincluí-ramLeopoldodeAlmeida,cantodaMaiaouRuyGameiro)paraumconjuntodiversificadodepavilhõesalusivosàfundação,aosdescobrimentoseàcolonização.OPavilhãodeHonraedeLisboa,daautoriadecristinodaSilva,foiconsideradoamaiorobradeartedetodaaexposição.

Curiosidade: OPadrãodosdescobrimentos,daautoriadoarquitetocottinelliTelmoedoescultorLeopoldodeAlmeida,foiconstruídoem1940paraseintegrarnoâmbitodaexposiçãodoMundoPortu-guês.Asuaestruturamaterialnãofoiidealizadaparaolongoprazo.Apenasem1960,noâmbitodos500anosdofalecimentodoinfanted.Henrique,équeoPadrãofoireconstruídoembetãoepedra.

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entre a política dos «três F» e a canção de protesto revolucionária

Umdosprincipaiscaminhospercorridosnatentativadealie-naçãoculturaldasmassas,aproveitadopeloregimeditatorialdoestadonovo,foiapolíticados«TrêsF»(Futebol,FadoeFátima).noâmbitododesporto-rei,depoisdeesteganharumprofundodinamismoeinteressenasociedadeportuguesadesdemeadosdosanos20,ostriunfosdoSportLisboaeBenficanamaiorcompetiçãointernacionaldeclubes,aTaçadoscampõeseuropeus,em1961e1962e,principalmente,o3.ºlugarobtidopelaSeleçãonacionalnoMundialdeFutebolde1966,eminglaterra,procuraramresponderàs críticas internacionais ao colonialismo português, já que omelhorjogadordomundotinhaorigemafricana:eusébiodaSilvaFerreira(1942-2014).

Poroutrolado,o«MilagredeFátima»,ocorridoem1917,poten-ciouum intensocrescimentona fée crençadeumapopulaçãodesfavorecida e cuja tradição do catolicismo apenas tinha sidoquebradaduranteaiRepública.defacto,oreconhecimentodaapariçãodenossaSenhoradeFátimaaostrêspastorinhosacabouporincutirosurgimentodeumnovocentrodeperegrinaçãoportu-guês,angarioufundosparaaigrejacatólicaepermitiuumacríticaabertadoanticlericalismorepublicano.

nocasodofado,oSecretariadodePropagandanacional(maistardeSecretariadonacionaldeinformaçãoeTurismo)utilizouoosmeiosdecomunicaçãocomoplataformadedoutrinaçãoecon-trolodosgostose interessesdaopiniãopública.dessaforma,acriaçãodoRádioclubePortuguês (1931),daemissoranacional(1935)oudaRádioRenascença,paralelamenteaodesenvolvimentodocinemaportuguêsedoteatroderevista,possibilitaramumaintensaprojeçãonacionaldonacional-cançonetismoedofado.

Aimportânciadofadonomeiotradicionalportuguêsfoinatural-menteutilizadocomoformadevalorizaçãodoregime.nadécadade1950,eatravésdosurgimentodatelevisão,amaiorfadistadetodosostempos,AmáliaRodrigues(1920-1999),levouonomedamúsicaportuguesaaultrapassarbarreirasgeográficas,suplantandoaimpor-tanteatividadedecantorascomoBertacardosoouercíliacosta.

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Jáonacional-cançonetismo,istoé,amúsicaligeira,exaltavaedifundiaosideaisdoregime(onacionalismo,alutapelaPátria,avidarural,oscostumesetradiçõesouacasaportuguesa)econtavahistóriasdeamor.OSerão para Trabalhadores,criadoem1941pelaemissoranacional,deuvozaartistascomoMariadaGraça,Milú,TonydeMatos,MariadeFátimaBravoouJúliaBarroso.OapogeudesteestilomusicalocorreucomacriaçãodoGrandePrémioTVdacançãoPortuguesa,em1964.Aquificamalgunsclássicosdesteestilomusical:A minha casinha(Milú);O meu Alentejo(carlosGui-lherme);Deixa lá falar(MariadeFátimaBravo);O arroz está cru(JúliaBabo);Porta Secreta(ArturGarcia);Encontro às dez(RuideMascarenhas).

desgastadoscomaconstante tentativade ludibriare iludiropovoportuguêsdosproblemassociaisdaépoca,novosmúsicoscomoJoséAfonso(1929-1987),SérgioGodinho(1945-),JoséMárioBranco (1942-),ArydosSantos (1937-1984)ouPaulodecarva-lho(1947-),passaramacomporcançõesdeprotesto,vulgarmenteconhecidascomo«músicadeintervenção».JoséAfonsoassumiu,inclusivamente,queacomposiçãodacélebreletradeOs vampiros surgiucomoumaclarareflexãofaceàproduçãomusicalportu-guesa,totalmenteacríticadocontextohistóricovivido,alheiadarealidadeemredor.

neste caso, o contexto cultural internacional teve uma forteinfluêncianestageraçãodemúsicosecompositores,umavezque,desdemeadosdadécadade1960,bandascomoTheBeatlesouTheRollingStones,oueventoscomooFestivalde Woodstock,evi-denciavamanecessidadedeliberdadedeexpressão,determinarcomconflitosmilitares,comoaGuerradoVietname(1955-1975),oucomodesarmamentonuclearemplenaGuerraFria.naeradopeace and love,omovimentodecontracultura,tambéminfluen-ciadopelacançãodecoimbra,organizouoprimeirofestivaldejazznonossopaís,emcascais,ondeonorte-americanocharlesHadenfoipreso,interrogadoeexpulsodopaísàsmãosdaPide,porterdedicadoumacançãoaosmovimentosindependentistasdaÁfricacolonialportuguesa.

MuitosdestesmúsicosforamobrigadosaoexílioatéàRevoluçãode1974,nomeadamenteSérgioGodinho(canadá)e JoséMário

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Branco(França),masoseupapeldopontodevistadaintervençãosocialfoifundamentalparaarenovaçãodasmentalidadeseparaacrençanapossibilidadedemudaroregime.Ostemasprincipaisdestescompositorescentravam-senamanifestaçãododesejodemudançaderegimeperanteaguerracolonial,aemigraçãoforçada,apobrezaeosabusosdoregime.

Curiosidade: AsmúsicasE depois do Adeus,dePaulodecarvalho,eGrândola, Vila Morena,deZecaAfonsoforamassenhassecretasutilizadaspeloMovimentodasForçasArmadasparasinalizaroiníciodaRevoluçãodoscravos,nanoitede24deabrilde1974.

Cronologia

Data Acontecimentos

1901 entrefevereiroemarçoocorremmanifestaçõesanticlericaisperantea«Questãocalmon».

1904 desastremilitaremVaudoPembe(Angola),a25desetembro,provocandoamortedemaisde200portugueses.

1905 escândalodomonopóliodostabacos.

1906-1908 Governoe«ditadura»deJoãoFranco.

1908 Regicídiodoreid.carloseassassinatodopríncipeherdeirod.LuísFilipe,a1defevereiro,noTerreirodoPaço.

1908-1910 Aclamaçãoereinadoded.Manuelii.

1910 A5deoutubroéimplantadaaRepúblicaPortuguesa.exílioded.Manueliied.Amélia.

1911 constituiçãodaRepúblicade1911.emagosto,ManueldeArriagaéeleitooprimeiroPresidentedaRepública.PrimeiraincursãomonárquicalideradaporPaivacouceiro.

1913-1914 PrimeirogovernodeAfonsocosta.

1914 noverãocomeçaaGrandeGuerra.PortugalenviatropasparaosuldeAngolaeparaonortedeMoçambiqueparadefenderasfronteirasdeataquesalemães.

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1915 ditaduradogeneralPimentadecastro,entrejaneiroe14demaio.

1916 A Alemanha, a 9 de março, declara guerra Portugal. iní-ciodogovernoda«UniãoSagrada»entreoPRPeoPartidoevolucionista.

1917 iníciodoenviodetropasportuguesasparaFrançaatravésdocorpoexpedicionárioPortuguês.iníciodaditaduradeSidónioPais.

1918 A11denovembroterminaaGrandeGuerra.A5dedezembroSidónioPaiséassassinadonaestaçãodoRossio.

1919 António JosédeAlmeidaéeleitoPresidentedaRepública.«Monarquiadonorte»entrejaneiroefevereiro.

1921 na«noiteSangrenta»sãoassassinadoshistóricosrepublicanos.FundaçãodoPartidocomunistaPortuguês.

1922 PrimeiratravessiaaéreadoAtlânticoSulporGagocoutinhoeSacaduracabral.

1923-1924 GovernodeÁlvarodecastro.

1925 BernardinoMachadoéeleitoPresidente.ÉoúltimoPresidentedaiRepública.emdezembro,tomaposseoúltimogovernorepublicano,chefiadoporAntónioMariadaSilva.

1926 A28demaio,ogeneralGomesdacostalideraopronunciamentomilitarquepõefimàRepública.iníciodaditaduraMilitar.

1927 Primeiratentativarevolucionárianoquadrodo«Reviralho».

1928 SalazarénomeadoministrodasFinançasemabril.Óscarcar-monaéPresidentedaRepúblicaaté1951.

1929 MorreAntónioJosédeAlmeida.

1930 ÉpromulgadooAtocolonial.

1931 PrimeirasemissõesdoRádioclubePortuguês.

1932 Salazartorna-sechefedogoverno.

1933 Anovaconstituiçãoiniciaoestadonovo.FundadaaPolíciadeVigilânciaedefesadoestado(PVde).

1934 icongressodaUniãonacional.

1936 criadaaMocidadePortuguesaeaLegiãoPortuguesa.Portugalenviaos«Viriatos»paracombateraoladodosnacionalistasnaguerracivilespanhola.

1937 AtentadofalhadocontraSalazar.

1939 iníciodaiiGuerraMundial.Portugaldeclara-seneutral.

1940 concordatacomaigrejacatólica.exposiçãodoMundoPortuguês.

1942 inauguradooAeroportodaPortela.

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1944 inauguradooestádionacional,noJamor.

1945 FinaldaiiGuerraMundial.FundaçãodoMovimentodaUnidadedemocrática(MUd).

1949 campanhaeleitoraldogeneralnortondeMatosparaaspresi-denciais.PortugaléumdospaísesfundadoresdaOTAn.

1951 craveiroLopestorna-sePresidentedaRepública,depoisdamortedogeneralÓscarcarmona.Ficanocargoaté1958.

1952 PromulgadaaLeido«condicionamentoindustrial».

1955 PortugalentranaOrganizaçãodasnaçõesUnidas.

1957 erupçãodovulcãodoscapelinhos,nailhadoFaial(Açores).

1958 O«GeneralSemMedo»,Humbertodelgado,vaiaeleiçõescomocandidatodoregime,AméricoThomaz.

1959 inauguradoometropolitanodeLisboa.

1960 ÁlvarocunhalfogedaprisãodePeniche.Portugalédosmem-brosfundadoresdaeuropeanFreeTradeAssociation(eFTA).

1961-1974 GuerracolonialPortuguesa.

1961 Annus Horribilisdoestadonovo:assaltoaopaqueteSantaMaria;iníciodaguerracolonialemAngola;tentativadedeposiçãodeSalazarpelaschefiasdasForçasArmadas.

1963 Aguerracolonialpropaga-senaGuiné-Bissau.

1964 com a campanha da FReLiMO, conflito alastra-se paraMoçambique.

1965 AssassinatodeHumbertodelgado,emespanha,pelaPide.

1966 inauguradaapontesobreoTejo.

1968 SalazarésubstituídoporMarcellocaetanonaliderançadoregime.

1970 MortedeSalazar,a27dejulho.

1972 ReeleiçãodeAméricoThomaz.MassacreWiryamu(Moçam-bique)resultanamortede400pessoasàsmãosdoexércitoportuguês.

1973 FundaçãodoPartidoSocialista,lideradoporMárioSoares.

1974 Revoluçãodoscravosa25deAbril.Fimdoestadonovo.

1975 ProcessoRevolucionárioemcurso(PRec).independênciadeMoçambique,caboVerde,SãoToméePríncipeeAngola.

1976 PromulgadaanovaconstituiçãoPortuguesa.PartidoSocialistavenceasprimeiraseleiçõeslegislativaslivresecomsufrágiouniversal.RamalhoeaneséeleitoPresidentedaRepública.

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1978 FundoMonetáriointernacional(FMi)entraemPortugal.

1980 caso«camarate»levaaofalecimentodoprimeiro-ministro,Fran-ciscoSácarneiro.

1982 Primeirarevisãodaconstituição.VisitadoPapaJoãoPauloiiaPortugal.

1983 Governodo«Blococentral».SegundaentradadoFMi.

1984 carlosLopesvenceaprimeiramedalhaolímpica,emLosAngeles.

1986 Portugalentra,juntamentecomaespanha,nac.e.e.

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VIII

oS últIMoS trIntA AnoS (1986-2016)

dopontodevistapolítico,aconsolidaçãodemocráticadePortu-gal,estabilizadaprincipalmenteapósaadesãoàcomunidadeeco-nómicaeuropeia,ficoufortementemarcadapelaprevalênciadedoispartidos:oPartidoSocialistaeoPartidoSocialdemocrata.nasúltimastrêsdécadas,assistimos,aproximadamente,a17anosdegovernaçãodoPSd(1985-1995;2002-2004;2004-2005;2011-2015)e13anosdoPS(1995-2002;2005-2011;2015-presente),lideradosporpersonalidadescentraisdanossavidapública,nomeadamenteAníbalcavacoSilva(PSd,1985-1995),AntónioGuterres(PS,1995--2002),JosédurãoBarroso(PSd/cdS,2002-2004),PedroSantanaLopes(PSd/cdS,2004-2005),JoséSócrates(PS,2005-2011),PedroPassoscoelho(PSd/cdS:2011-2015)eAntóniocosta(PS:2015-).

AoPS,PSd,cdSePcP,junta-sedesde1999,oBequecompletaascincoforçaspartidáriasmaisrelevantesdaatualdemocraciapor-tuguesa.

noâmbitodapresidênciadaRepública,MárioSoares(PS,1986--1996),JorgeSampaio(PS,1996-2006)eAníbalcavacoSilva(PSd,2006-2016)foramostrêschefesdeestadodopaís,reeleitosparasegundosmandatos.destaforma,podemosencontrarumfiocon-dutornapolíticanacional,oconservadorismonovotoque,desdeaRevoluçãode1974,émantidonosmesmospartidosefiguras.nasúltimaspresidenciais,ocorridasa24dejaneirode2016,Mar-celoRebelodeSousa,professoruniversitárioecomentadorpolí-tico,apoiadomaioritariamentepeladireita,venceuaseleiçõesàprimeiravolta,com52%dosvotos.

Atéàexplosãodacriseeconómicainternacional,em2008,gran-dementebaseadanacorrupçãodosectorfinanceiroeimobiliário,osmaisde20anosdesdeaentradadePortugalnac.e.e.forammarcadosporumlentoecomplexoprocessodedesenvolvimento

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civilizacional,amparadopelaestabilizaçãoeevoluçãodasinstitui-çõesdemocráticasportuguesas.defacto,oacessoàsaúde,edu-caçãoeempregosdignospossibilitaramumamaiorigualdadeejustiçasocial,aindaquemuitolongedaquiloqueénecessário.Asgeraçõesnascidasnasdécadasde60,70,80e90do séculoXXforam,provavelmente,asquetiveramasmelhorescondiçõesmate-riaisdesempre.

Para issomuitocontribuíramosfundosestruturaisdac.e.e.,que,desdeotratadodeMaastricht(1992),sechamaUniãoeuro-peia,cujoprincipalintuitoeraaaproximaçãopolítica,económicaesocialaoutrospaísesmaisdesenvolvidosdentrodoprojetoeuro-peu.estesfundosmodernizaramaeconomiaportuguesapelaviadeinvestimentosnaagricultura,indústria,infraestruturasesectordosserviços,permitindoquePortugalatingisseumpatamardepro-gressonuncaantesvisto.Aquebradasbarreirasculturaisprove-nientesdofascismo,oprestígiointernacionaldopaíseaaberturaàeuropaeaoMundo,pelaviadamelhoriadosportos,estradas,ferroviasouaeroportos,queincrementaramaposiçãoestratégicadePortugalperanteummundocadavezmais«globalizado»,foramaspetosfundamentaisparaqueosvaloresdaliberdadeedademo-craciaseintegrassemnoseiodanossasociedade.

Paralelamente,foifundadaacPLP(comunidadedosPaísesdeLínguaPortuguesa),em1996,integrandoAngola,Brasil,Moçambi-que,caboVerde,SãoToméePríncipe,Guiné-Bissau,Timor-LesteePortugal,comointuitodepromoveralínguadecamõesnoplanointernacionalemelhorarasrelaçõeseconómicas,sociais,culturaisediplomáticas.desta forma,Portugal respondiaàafirmaçãodoprocessodeglobalizaçãonummundopós-guerrafria,ondeocapi-talismoneoliberalatingiaopico.

Asdificuldadeseconómicaseainstabilidadepolíticadosprimei-rosanosapóso25deAbrilforamultrapassadascomaajudadeumenquadramentointernacionalderelativaprosperidade,ondeoinvestimentoestrangeiro(casodaAutoeuropaemPalmela)ofe-receuumcrescimentobastanterelevante.Maisimportantefoiamelhoriaefetivadospadrõesdequalidadedevida,nomeadamentenoaumentodaesperançamédiadevida,noacessolivreeuniver-salaoServiçonacionaldeSaúdeounoaumentoexponencialdo

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númerodealunosnoensinosuperior.Aterciarização(sectordosserviços)daeconomiafoi,também,umreflexoclarodamudançaestruturaldaeconomiaedotrabalhoemPortugal.

AexposiçãoMundialde1998,entre22demaioe30desetem-bro,comemorouos500anosdosdescobrimentosPortugueseseconcretizouademonstraçãodemodernizaçãoeprogressodoPaís,recebendopertode11milhõesdevisitas.AponteVascodaGama,anonamaisextensadetodooplaneta,construídaentre1994e1997,evidenciouumpaíspreparadotecnologicamenteparaoséculoXXi.

nãoobstante,averdadeéqueo iníciodoséculoXXirapida-menteiriatrazeraodecimaasprofundasdeficiênciasestruturaisdaeconomiaportuguesa,nomeadamenteadependênciaexterna,ocrónicodéficeorçamental,asbaixasqualificaçõesacadémicasecientíficasouumapopulaçãocadavezmaisenvelhecidaecomaltosíndicesdeemigração.Portugaldemonstrouumaclaraincapa-cidadeparacompetirnummercadodelivrecirculaçãodepessoasemercadoriasecomumamoedaúnica(desde2002),reduzindoainfluênciadaagriculturaedaindústrianumasociedademaiorita-riamenteempregadanosectordosserviços.AdeslocalizaçãodeempresasparaospaísesdeLeste,entre2004e2007,iniciouumanovavagadedesemprego.

OgovernosocialistadeJoséSócrates,profundamenteafetadopelacriseinternacionalde2008,viuadívidapúblicasubirdrasti-camenteeopaísaentrarnumaescaladanuncaantesvista,pres-sionadofortementeporescândalosfinanceirosepelosmediaalta-menteinfluentes.Portugalviu-seforçadoapedirajudaaoFundoMonetáriointernacionalparaevitarabancarrota,em2011,levandoàdemissãodeJoséSócrates.Osquatroanosdegovernodecoliga-çãoentrePSdecdS(2011/2015),coordenadosporPedroPassoscoelhoePauloPortas,impuseramníveisdeausteridadequecontra-riaramtodososavançosproporcionadospelac.e.e.,acabandoporrecuaraqualidadedevidadosportuguesesemmaisde20anos,atésesituarcercade25%abaixodamédiaeuropeia.

O desemprego atingiu valores recorde que ultrapassaram osnúmerosoficiaisdoinstitutonacionaldeestatística(cercade18%)emaisde500milportugueses,maioritariamentejovens(muitosaltamentequalificados),foramobrigadosasairdopaísembusca

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deemprego.Aomesmotempo,osvaloresdasprestaçõessociaisforamreduzidos,asprivatizaçõesapreçodesaldoretiraramaoestadograndepartedaintervençãonosectorprodutivoeodiaadiademilhõesdefamíliasficoumarcadopelodesespero,tristezaedificuldades.Reduziu-seonúmerodeestudantesuniversitários,ainvestigaçãocientíficaperdeufulgoreasaúdediminuiuoseuraiodeaçãouniversal.Tudoemproldarecapitalizaçãodabancaedopagamentodeumadívidasemrostoepoucoexplícitaparaapopulaçãoportuguesa.Acrescenteagitaçãosocial foialimen-tadapelosescândalosfinanceirosdoBancoPortuguêsdenegó-cios(BPn),BancoPrivadoPortuguês(BPP),BancoespíritoSanto(BeS)eBAniF(BancointernacionaldoFunchal)quejustificaramaintervençãodecapitalestatalprovenientedoesforçodetodososcontribuintes.

nas eleições legislativas de 4 de outubro de 2015, a maioriarelativaasseguradapelacoligaçãoPSd/cdS(36,8%)acabouporserderrubadanaAssembleiadaRepública,oquepermitiuumanovapáginananossahistóriapolítica.OPS(32,3%)assumiuogoverno,comAntóniocostacomoprimeiro-ministro,comumabasedeapoioparlamentarqueincluioBlocodeesquerda(10,2%)eacoligaçãoPcP/Verdes(8,2%).ApósasaídadoFMi,estenovogovernotemprocuradopromoverumprogramaderecuperaçãodesaláriosepoderdecompradasfamílias,reduzindogradualmenteosimpostosetentandorespeitarasnormasemetasorçamentaisdaUniãoeuropeia.

noutroquadro,temsidonasáreasdodesportoedaculturaquePortugal temconseguidomanterumprestígio internacionaldeenormevalor,contribuindocomimportantíssimosinvestigadoresdasmaisdiversasáreasdaevoluçãodoconhecimentocientíficoepossuindoalgumasdasmaioresreferênciasmundiaisnofutebol,hóqueiempatinsouatletismo,entreoutrosdesportos.

nodia10deJulhode2016,comandadospeloengenheiroFer-nandoSantos,os23futebolistasescolhidospararepresentaremoPaísnocampeonatoeuropeudeFutebolvenceramosfrancesesemplenacidadedeParis.AtletascomoRicardoQuaresma,RenatoSanches,RuiPatrício,nani,cristianoRonaldo,PepeeÉderbateramosfeitosdaseleçãodeeusébionocampeonatoMundialdeFutebol

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de1966,eminglaterra,edaseleçãodeRuicostaeFigonoeuropeude2004,realizadoemPortugal.OgolodeÉder,nominuto109doprolongamento,foiomaisimportantegolodahistóriadestedes-portononossopaís!

nesteanode2016,cristianoRonaldoePepeconquistaramaLigadoscampeõespelocolossoRealMadrideoeuropeuporPor-tugal,estandoocapitãodaseleçãoportuguesaclaramentenafrenteparasereleito,pelaquartavez,omelhorjogadordomundo.

nosórgãosdecomunicaçãosocial,nasredessociaisenaruaestavitória foi efusivamente festejada, representandoummomentorarodeunidadecoletivaedeorgulhonacional,ondeseesquece-ramasprofundasdiferençaseassimetriasqueaindasevivemnonossoPaís.

noquadroatual,ondealeidaprobabilidadepareceterosdiascontadoseoterrorismoceifaavidaainocentes,importarecordareestudaraHistória,peloseucarácterpragmáticoeutilitário,umavezqueaquelesquedesconhecemoserrosdopassadoestãocon-denadosarepeti-los.

Cronologia

Data Acontecimentos

1986 Portugaleespanhaentramconjuntamentenac.e.e.eMárioSoareséeleitoPresidentedaRepública.

1987 AníbalcavacoSilva,peloPSd,obtémaprimeiramaioriaabsolutanumaseleiçõeslegislativas.

1988 incêndiodochiadoa25deagosto.RosaMotavenceamedalhadeouronosJogosOlímpicosdeSeul(coreiadoSul).

1989 AsegundarevisãoàconstituiçãoPortuguesacolocaumtermonairreversibilidadedasnacionalizaçõespós-25deAbril.

1990 RestosmortaisdogeneralHumbertodelgadosãocolocadosnoPan-teãonacional.numcongresso,ex-combatentesdosdoisladosguerracolonialabraçaram-senumimportantegestodepaz.

1991 MárioSoareséreeleitoPresidentedaRepúblicacom70,4%dosvotos.Realizaçãodomaiorcensoestatísticoatéentão.

1992 PSePSdvotamfavoravelmenteoTratadodeMaastricht.

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1993 iníciodasobrasparaaeXPO98.Revoltasestudantiscontraaspropinas.

1994 eleiçõesparaoParlamentoeuropeuvencidaspeloPS.

1995 PSdeAntónioGuterresvenceaseleiçõeseformagoverno.

1996 JorgeSampaioderrotacavacoSilvanaseleiçõespresidenciais.

1997 convençãosobreoReconhecimentodasQualificaçõesRelativasaoensinoSuperiornaRegiãoeuroparealizadoa11deabril.

1998 eXPO98emLisboaeinauguraçãodaponteVascodaGama.

1999 FimdaadministraçãoportuguesaemMacau.Segundogovernolide-radoporAntónioGuterres,apósaseleiçõesde10deoutubro.

2000 ABolsadeValoresdeLisboapassaanegociarapenascomoeuro.PapaJoãoPauloiivisita,umavezmais,Portugal.

2001 JorgeSampaioéreeleitoPresidentedaRepúblicacontraJoaquimFerreiradoAmaral.

2002 Amoedaúnica,oeuro,iniciaasuacirculaçãoemPortugal.OgovernodedurãoBarrosoentraemfunçõesapósaseleiçõesde17demarço.

2003 Ponteinfanted.Henrique,entreasmargensdodouro,éinaugurada.

2004 nasequênciadademissãodedurãoBarroso,JorgeSampaionomeiaumnovogoverno,lideradoporSantanaLopes,a17dejulho.

2005 OPSvenceaseleiçõeslegislativasde20defevereiro,iniciandooprimeirogovernodeJoséSócrates.

2006 AníbalcavacoSilvaéeleitoPresidentedaRepúblicacontraManuelAlegreeMárioSoares.

2007 nasautárquicas,AntóniocostaéeleitopresidentedacâmaraMuni-cipaldeLisboa.TratadodeLisboa.

2008 iníciodacrisefinanceirainternacional.

2009 OPSvenceaseleiçõeslegislativasde27desetembro.JoséSócratesdáinícioaosegundomandato.

2010 MedidasdeausteridadeapresentadaspeloministrodasFinanças,TeixeiradosSantos.cimeiradanatoemPortugal.FalênciadoBPP.

2011 A6deabril,ogovernosocialistapedeauxíliofinanceiroaoFMiepedeademissão.A5dejunho,oPSdvenceaseleiçõescommaioriarelativaepromoveumacoligaçãocomocdS.

2012 A15desetembro,maisde1milhãodeportuguesesmanifestam-senopaíscontraaausteridadeeaTroika.

2013 crisenacoligaçãoPSd/cdScomPauloPortasademitir-se«irrevogavel-mente».Poucotempodepois,serianomeadovice-primeiro-ministro.

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2014 Mortedoex-jogadoreusébiodaSilvaFerreiraqueiráparaoPanteãonacional,tornando-senoprimeirodesportistaaterestahonra.

2015 naseleiçõeslegislativasde4deoutubro,amaioriarelativadacoliga-çãoPSd/cdSpermiteumgovernoPS,lideradoporAntóniocosta,combasedeapoioparlamentarnoBe,PcPeOsVerdes.

2016 Portugalconquista,pelaprimeiravez,ocampeonatoeuropeudeFutebol,emFrançaecontraaFrança.

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Bibliografia

como se percebe, o presente livro é uma obra de divulgaçãoque visa suscitar o interesse pela História de Portugal num pú-blico vasto e não especializado. Assim sendo, a bibliografia queaquiapresentamoscontemplaapenasasobrasqueconsiderámosabsolutamenteessenciaisparaaescritadestelivro.Muitasoutrasobrasdequalidade, foram tambémconsultadas epoderiam,porisso,integrarestalista.contudo,paranãosobrecarregaremdema-siaoleitor,decidimosmanterabibliografiaomaiscurtaesintéticapossível.

AsváriascoleçõessobreaHistóriadePortugal,nosseusmúlti-plosvolumes,foramabsolutamenteessenciais.citem-seaHistória de Portugal,dirigidaporJoséMattoso;aNova História de Portugal,dirigidaporJoelSerrãoeA.H.deOliveiraMarques;aHistória de Portugal, dirigidapor JoaquimVeríssimoSerrão; e aHistória de Portugal,escritaporJoaquimVeríssimoSerrão.

Refiram-seaindaascoleçõesdaNova História Militar de Portu-gal,dirigidaporManuelThemudoBarataenunoSeverianoTei-xeira,edaNova História da Expansão Portuguesa,dirigidaporJoelSerrãoeA.H.deOliveiraMarques.

Tambéma coleçãodebiografiasdos reisdePortugal,dirigidaporRobertocarneiro,ArturTeodorodeMatose JoãoPauloOli-veiraecosta,revelou-sedegrandeimportânciaparaaelaboraçãodestaobra.

Porfim,destacamosalgumasobrasmaisespecíficasqueforamimportantesparaaescritadestelivro:

AFOnSO,Aniceto;GOMeS,carlosdeMatos,Guerra Colonial,editorialnotícias,Lisboa,2002.

AFOnSO,Aniceto,Grande Guerra: Angola, Moçambique e Flan-dres, 1914-1918,coleçãoGuerrasecampanhasMilitaresdaHistó-riadePortugal,Quidnovi,Matosinhos,2008.

BOXeR,c.R.,O Império Colonial Português,Lisboa,edições70,1977.

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Diogo Ferreira e Paulo Dias

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cOSTA, João Paulo Oliveira e, Henrique, o Infante, Lisboa, AesferadosLivros,2009.

cOSTA,JoãoPauloOliveirae,Mare Nostrum: Em busca de honra e riqueza nos séculos XV e XVI,Lisboa,Temasedebates,2013.

LAinS,Pedro;SiLVA,ÁlvaroFerreiradaSilva;História Econó-mica de Portugal 1700-2000, vol. ii,O século XIX, imprensadeciênciasSociais,Lisboa,2005.

MARcOcci,Giuseppe;PAiVA,JoséPedro,História da Inquisição Portuguesa, 1536-1821,Lisboa,AesferadosLivros,2013.

MARQUeS,A.H.Oliveira,Breve História de Portugal,editorialPresença,Lisboa,1995.

MARTinS,MiguelGomes,Lisboa e a guerra: 1367-1411,Lisboa,LivrosHorizonte,2001.

MARTinS,MiguelGomes,Guerreiros de Pedra: Castelos, mura-lhas e guerra de cerco em Portugal na Idade Média,Lisboa,AesferadosLivros,2016.

MORenO,HumbertoBaquero,A Batalha de Alfarrobeira. Ante-cedentes e significado histórico,2vols.,coimbra,BibliotecaGeraldaUniversidade,1979-1980.

nUneS,Teresa,Maria da Fonte e Patuleia, 1846-1847,coleçãoGuerrasecampanhasMilitaresdaHistóriadePortugal,Quidnovi,Matosinhos,2008.

ROSAS,Fernando (coordenador),O Estado Novo (1926-1974),vol.Vii,História de Portugal,direçãode:MATTOSO,José,editorialestampa,Lisboa,1998.

ROSAS,Fernando;ROLLO,MariaFernanda(coordenação),His-tória da Primeira República Portuguesa,Tinta-da-china, Lisboa,2011.

ROSAS,Fernando,Salazar e o Poder: A Arte de Saber Durar,Tin-ta-da-china,Lisboa,2012.

SAMARA,MariaAlice,Verdes e Vermelhos: Portugal e a Guerra no ano de Sidónio Pais,editorialnotícias,Lisboa,2002.

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História de Portugal

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TeLO,AntónioJosé,História Contemporânea de Portugal,vol.ii,Do 25 de Abril à Actualidade,editorialPresença,Lisboa,2008.

THOMAZ,LuísFelipe,De Ceuta a Timor,Lisboa,difel,1994.

VenTURA,António,As Guerras Liberais, 1820-1834,coleçãoGuerrasecampanhasMilitaresdaHistóriadePortugal,Quidnovi,Matosinhos,2008.

referências das imagens

1.FotografiacedidaporOLiRAFFotografia

2.BritishLibrary:Royal14eiV,f.204;c.1475

3.FotografiacedidaporOLiRAFFotografia

4.BibliotecanacionaldePortugal:e.291A.;c.1900

5.BibliotecanacionaldePortugal:e.979A.;c.1910

6.BibliotecanacionaldePortugal:c.c.950V.;1561

7.BibliotecanacionaldePortugal:e-42-V;1740?

8.BibliotecanacionaldePortugal:e-332-V;1841

9.BibliotecanacionaldePortugal:e-277-A;1832

10.BibliotecanacionaldePortugal:e-1355-V;1899

11.BibliotecanacionaldePortugal:Pi-2516-P;1910

12.BibliotecanacionaldePortugal:OriginaldoMuseuMilitar;1914-1918

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