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UMA DISCUSSÃO SOBRE MEDIDAS DE
DESEMPENHO PARA GESTÃO DA
ARMAZENAGEM
Priscilla Regina Macedo Meireles (UFOP )
Karine Araujo Ferreira (UFOP )
A gestão da armazenagem corresponde a uma das principais
atividades executadas pela logística e atualmente assume um papel
estratégico nas empresas, sendo essencial o seu acompanhamento bem
como uma avaliação contínua. Sendo assim, é notóriia a importância
das medidas de desempenho na armazenagem, uma vez que estas
podem auxiliar na mensuração da eficácia dos armazéns ou contribuir
para a criação de vantagens competitivas. Nos últimos anos, o presente
tema tem despertado interesse de acadêmicos e empresários em
diversos países. Apesar da atenção crescente ao tema, existem ainda
poucos estudos aprofundados sobre o assunto no Brasil. Neste artigo
procurou-se investigar e discutir a literatura sobre as medidas de
desempenho na gestão de armazenagem, identificando os principais
trabalhos publicados nos últimos 10 anos de estudo sobre o tema. A
pesquisa realizada neste trabalho é de natureza qualitativa, onde foi
realizado um desenvolvimento teórico-conceitual sobre o tema, com
base na revisão de literatura realizada neste artigo. Baseado em
extensa revisão bibliográfica, foi elaborado um quadro de referência
da literatura dos indicadores de desempenho em armazéns, que
apresenta uma síntese os principais trabalhos produzidos sobre o tema
em sua ordem cronológica, bem como a principal contribuição de cada
trabalho.
Palavras-chave: gestão de armazenagem; medição de desempenho,
medidas de desempenho, desempenho logístico
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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1. Introdução
O atual ambiente competitivo coloca as empresas em uma crescente pressão para fornecer
produtos e serviços que atendam as necessidades específicas de clientes individuais, com
rapidez e baixo custo (SHAHIN e AZAR, 2013).
Tal cenário implica em maior eficiência das organizações e aprimoramento de suas
competências logísticas, otimizando os seus processos tanto na execução do transporte quanto
na gestão da armazenagem (FREITAS et al., 2010). Neste último, os desafios mencionados se
traduzem em uma gestão de estoque eficiente, entrega de encomendas fracionadas e mais
frequentes, estoque constituídos por maior variedade de produtos e pelo aumento de serviços
de valor agregado disponibilizados ao cliente, tais como embalagem e assistência pós- venda.
Assim, uma adequada gestão de armazenagem auxilia as empresas no alcance destes
objetivos, na redução dos custos, melhoria da produtividade nos armazéns e do serviço ao
cliente (LIMA, 2000; AXELSSON; FRANKEL,2014; SORIANO e SALGADO JÚNIOR,
2014).
A gestão da armazenagem corresponde a uma das principais atividades executadas pela
logística, compreendida como a gestão do espaço físico necessário para manter um estoque de
mercadorias, englobando o arranjo físico (layout) e o controle da operação (RODRIGUES,
2011). Bowersox et al. (2014) afirmam que embora o armazém tradicional tenha sido adotado
com a finalidade de estocar produtos, o foco da armazenagem passou de estocagem passiva
para uma armazenagem estratégica, onde o armazém deixa ser vista como uma mera atividade
de apoio, mas atividade essencial para prestação de um serviço de valor agregado.
De acordo com Banzato et al. (2010), com a mudança do papel da armazenagem, a gestão
destas atividades tornou-se muito mais complexa, sendo essencial o acompanhamento e
avaliação contínua das mesmas. Apesar da vasta literatura desenvolvida sobre os sistemas de
medição de desempenho (SMDs) e as medidas de desempenho logístico, grande parte dos
trabalhos analisados focam apenas em medidas de desempenho para atividade de estocagem:
tais como: níveis de estoque, giro e custo de estoque, dentre outras. Segundo Liviu et al.
(2009) e Staudt et al. (2015a), a revisão da literatura tem mostrado poucos trabalhos que
identifiquem medidas que avaliem estrategicamente esta importante área da logística e que
podem resultar em fonte de melhorias e redução de custos para empresas de diferentes portes.
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Neste sentido, o objetivo deste trabalho é realizar uma discussão sobre as medidas de
desempenho logísticas para avaliação da gestão de armazenagem presentes na literatura.
Baseado em extensa revisão bibliográfica, foi elaborado um quadro de referência da literatura
sobre medidas para gestão de armazenagem, que apresenta os principais trabalhos produzidos
sobre o tema, principais métodos adotados e dimensões avaliadas.
Este artigo está estruturado em sete seções, incluindo o capítulo introdutório. Na seção 2, são
apresentados os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa. Os conceitos,
atividades e decisões da armazenagem são expostos na seção 3, seguido pelas medidas de
desempenho para a gestão de armazenagem, identificadas na literatura (seção 4) . Um quadro-
síntese sobre estas medidas de desempenho, bem como a sua análise e discussão são
encontrados na seção 5. Por fim, são apresentadas as considerações finais do trabalho (seção
6), e em seguida, as referências bibliográficas.
2. Procedimentos metodológicos
A pesquisa realizada neste trabalho é de natureza qualitativa, onde foi elaborado um
desenvolvimento teórico-conceitual, com base na revisão bibliográfica dos conceitos
analisados neste trabalho. Segundo Miguel (2007), a pesquisa teórico-conceitual envolve
modelagens e discussões conceituais que resultam em novas teorias.
Essa revisão permitiu identificar os principais trabalhos produzidos sobre medidas de
desempenho e gestão de armazenagem e elaborar um instrumento de consulta detalhada para
estudiosos e pesquisadores sobre os temas.
Para identificar, localizar e adquirir as publicações de interesse, as bases eletrônicas utilizadas
para busca de artigos foram: Web of Science; Scielo Brasil, Google Acadêmico, banco de
teses e dissertações, além de eventos (encontros e simpósios) de relevância no país na área de
Engenharia de Produção, como Enegep e Simpep. O período de busca foi compreendido entre
os anos de 2005 a 2015.
Na consulta das publicações, buscou-se os termos “gestão da armazenagem”, “medidas
desempenho armazenagem” e “medição desempenho armazenagem” nos bancos de teses e
dissertações e anais de congressos, como Simpep e Enegep. Os termos “performance
measures logistics” e “performance measures warehouses” foram pesquisados na base de
dados Web of Science. O próximo passo da pesquisa consistiu na análise dos trabalhos
identificados, onde foi possível destacar a contribuição dos principais autores e identificar o
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volume de trabalhos produzidos em diferentes áreas de conhecimento assim como o ano de
publicação.
3. Armazenagem: conceitos, atividades e decisões
Para Jacinto et. al. (2012), a armazenagem é a responsável pela administração do espaço que
fornece suporte aos estoques, assim como a sua reposição e separação de pedidos, além das
atividades de recebimento e entrega dos produtos até o consumidor.
De acordo com Pozo (2004), a armazenagem tem uma função estratégica, sendo utilizada para
atender com efetividade a gestão da cadeia de suprimentos. O mesmo autor ressalta que
dentro do processo logístico, os armazéns são considerados como umas das atividades de
apoio que dão suporte ao desempenho das atividades primárias, para que a empresa possa
alcançar o sucesso, conquistando clientes com pleno atendimento de mercado e satisfação
total.
Com relação às atividades desempenhadas pela gestão da armazenagem, não existe um
consenso, na literatura atual quanto às designações exatas das atividades da armazenagem,
sendo conveniente adotar uma forma eficiente para a definição de tais tarefas bem como o seu
uso de maneira prática nas empresas (SORIANO, 2013). Na Figura 1, Banzato et al. (2010),
apresenta as atividades relacionadas à gestão da armazenagem.
Figura 1 - Funções básicas de um armazém
Fonte: Adaptado de Banzato et al. (2010, p.99)
Conforme pode ser visualizado na Figura 1, a armazenagem pode ser realizada por duas
diferentes maneiras. A primeira consiste no recebimento de produtos e imediata expedição das
mercadorias, em um processo denominado cross-docking, que pode ser definido, de acordo
com Ângelo e Siqueira (2000) como o procedimento de mover as mercadorias do caminhão
do fornecedor, através do armazém, para outro caminhão com destino ao consumidor final,
Recebimento
Separação
Armazenagem
Expedição
Cross- docking
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sem que os mesmos permaneçam estocados. Neste caso, o armazém funciona apenas como
ponto de passagem. O segundo caso apresentado pela Figura 1, mais adotado, consiste em
funções básicas da armazenagem, quais sejam:
Recebimento: a recepção das mercadorias envolvem etapas como a descarga do
material, verificação da conformidade e integridade da mercadoria, conferência
documental, registro e atualização dos estoques em softwares adequados e finalmente,
a disposição do material nos estoques (MAGALHÃES, 2011);
Separação de pedidos: também conhecida como atividade de picking, é a responsável
pela coleta do mix correto dos produtos, em quantidades exatas da área do armazém a
fim de satisfazer as necessidades dos clientes (BRAGA, PIMENTA e VIEIRA, 2009).
Estocagem: Banzato et al. (2010) afirmam que para se definir um sistema de
estocagem eficiente é preciso primeiramente conhecer as características do produto
como o tamanho do lote, dimensão da mercadoria, peso do produto, giro do item,
sazonalidade da demanda, características construtivas do armazém, entre outros.
Expedição de Mercadorias: última atividade a ser realizada dentro de um armazém
envolve atividades como: conferência para preenchimento do pedido, preparação da
documentação da expedição, pesagem da carga, organização dos pedidos para
expedição por transportadoras e o carregamento de caminhões (PEDREIRA,2006).
No que diz respeito às decisões da armazenagem, Bowesox, Closs e Cooper (2008) destacam
estas vão muito além de se determinar apenas o tamanho, tipo e formato da instalação física.
Sendo assim, no intuito de determinar a maior eficiência possível das atividades do armazém,
decisões relativas ao seu planejamento, como a localização, layout, equipamentos, segurança
e tecnologia da informação devem ser avaliados.
Com relação à localização do armazém, Oliveira e Filho (2007) destacam que essa decisão é
um problema de escolha da melhor combinação entre capital, mão-de-obra, recursos naturais
e insumos. As disponibilidades de recursos e mercado da região devem ser analisadas, bem
como sua relação com a atividade econômica em questão. Em relação ao layout, as empresas
reconhecem que não se pode haver eficiência nas operações logísticas sem que haja um
projeto bem planejado da área e organização do armazém (Freitas et al., 2010). Já os
equipamentos, segundo Moura (2004) tem como finalidade promover melhorias no fluxo de
materiais do armazém, envolvendo o recebimento, movimentação e expedição de produtos.
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Outra decisão da armazenagem em destaque é a tecnologia da informação, cuja evolução
também se estendeu à área de gestão da armazenagem, criando vantagens como a introdução
de novos métodos de racionalização e dos fluxos de distribuição de produtos. Dentre as
tecnologias de informação existentes que auxiliam a gestão da armazenagem, destaca-se o
Warehouse Management Systems ou Sistemas de Gerenciamento de Armazéns (WMS)
(VIANA, 2010). Por fim, em relação à segurança no armazém, Brandman (2003) e Bowersox
e Closs (2014) afirmam que estes devem estar protegidos contra crimes cibernéticos, drogas,
fraude, furto e deteorização das mercadorias, sendo importante educar gerentes e supervisores
através de treinamentos e cursos para que os mesmos reconheçam e reajam aos primeiros
sinais envolvendo segurança.
4. Medidas de desempenho na Gestão da Armazenagem
As medidas de desempenho podem ser definidas como uma métrica (qualitativa e
quantitativa) utilizada para quantificar a eficiência e/ou efetividade de uma ação (PERINI,
2011). Estes indicadores, segundo Krauth et al. (2005) contribuem para a criação de
vantagens competitivas, além de permitirem o reconhecimento de oportunidades de negócios,
ameaças e custos em demasia em uma determinada área.
Staudt et al. (2015a), afirmam que a primeira publicação relacionada aos indicadores de
desempenho em armazéns surgiu em 1970 com o trabalho de Lynagh (1971). Porém, o
número de documentos relevantes para a literatura aumentou a partir de década de 1990, com
a concorrência do mercado globalizado.
Embora vários autores apontem diferentes medidas para se avaliar o desempenho logístico das
empresas, a maioria deles se concentra na avaliação da logística como um todo, ou de apenas
uma atividade da armazenagem, como a estocagem. Segundo Liviu et al. (2009) e Staudt et al.
(2015a), a revisão da literatura tem mostrado poucos trabalhos que identifiquem medidas que
avaliem estrategicamente esta importante área da logística e que podem resultar em fonte de
melhorias e redução de custos para empresas de diferentes portes. Dentre estes trabalhos se
destacam os de Krauth et al. (2005), Cortês (2006), Liviu et al. (2009), Banzato et al. (2010),
Silva (2013), Axelsson e Frankel (2014) e as pesquisas de Staudt et al. (2015a e 2015b), que
serão detalhados a seguir.
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A pesquisa de Krauth et al. (2005) teve como principal objetivo identificar na literatura e
estabelecer uma lista de indicadores de desempenho para alguns prestadores de serviços
logísticos (incluindo a armazenagem). Baseado na revisão bibliográfica, os autores
classificaram as medidas de desempenho de acordo com a perspectiva de gerentes,
funcionários e clientes nas subcategorias eficácia, eficiência, inovação e tecnologia da
informação. Ressalta-se que os autores compilaram uma lista com mais de 130 indicadores
totais, sendo 17 medidas de desempenho focadas especificamente na gestão dos armazéns.
Já Cortês (2006) elaborou um sistema de indicadores de desempenho destinado aos armazéns
e centros de distribuição do setor de supermercados, adaptado de um modelo previamente
desenvolvido pela Professora Maria F. Rey (2000), que classifica as medidas nas seguintes
dimensões: custo, produtividade, qualidade e tempo. A quantidade dessas medidas
encontradas em cada uma dessas dimensões pode ser visualizada na Tabela 1.
Tabela 1- Total de indicadores propostos para cada categoria
Fonte: Adaptado de Cortês (2006)
O trabalho de Liviu et al.(2009) se concentrou em um estudo de caso com foco na medição de
desempenho em um armazém da Romênia. Com base na pesquisa bibliográfica, os autores
consideraram relevante para a empresa em questão, adotar o sistema de indicadores de
desempenho para armazéns proposto por Hill (2007). Este sistema de indicadores, utiliza o
atendimento de pedidos, gestão do inventário e a performance geral do armazém como as
categorias das medidas de desempenho. Como resultados, os autores encontraram observaram
melhoria na utilização do espaço do armazém (até então mal utilizado) e a adoção de uma
gestão de estoques mais eficiente.
O trabalho de Silva (2013) consistiu em avaliar (através de um estudo de caso) a pós-
implementação do sistema WMS em um centro de distribuição de medicamentos a partir da
adaptação e aplicação do modelo World Class Logistic. Com a finalidade de se identificar as
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melhorias nas atividades da armazenagem, com um enfoque operacional, a autora apresenta 3
categorias de indicadores de desempenho que podem ser utilizados para a avaliação do WMS.
Axelsson e Frankel (2014) propuseram um conjunto de medidas de desempenho para a gestão
de armazéns baseado no modelo Supply Chain Operations Reference (SCOR). Baseado na
aplicação de questionário em 447 corporações europeias, das quais 17,4% o responderam
completamente, os autores encontraram 193 métricas. Porém, os mesmos divulgaram apenas
os indicadores de desempenho que podem ser traduzidas para o modelo SCOR, organizados
nas dimensões recebimento, put-away e reabastecimento, armazenagem e reposição, picking,
expedição, carregamento e entrega, doença e segurança dos funcionários do armazém e
indicadores gerais.
Por fim, ressalta-se ainda dois trabalhos de Staudt et al. (2015a) e Staudt et al. (2015b). No
primeiro trabalho publicado, Staudt et al. (2015a), com base em uma extensa revisão
bibliográfica e análise de conteúdo sintetiza os indicadores utilizados na análise do
desempenho do armazém em artigos publicados em sites como Web Of Science, Wiley,
Compendex, Scopus, dentre outros, desde a década de 90 até o ano de 2012.
De acordo com os autores, as medidas de desempenho utilizadas para avaliar a gestão da
armazenagem podem ser classificadas como “soft metrics” e “hard metrics”. A primeira
delas (também denominada medidas indiretas) se refere às medidas quantitativas e são
facilmente calculadas com algumas expressões matemáticas simples. Já a segunda trata de
medidas qualitativas e requerem ferramentas sofisticadas de medição, como a análise de
regressão e a lógica Fuzzy.
No sentido de classificar os indicadores relacionados às atividades do armazém, as 38
medidas de desempenho diretas encontradas na literatura, foram divididas em:
indicadores específicos: definidos especificamente para cada atividade do armazém;
indicadores transversais: definidos por um processo;
indicadores relacionados aos recursos: definidos de acordo com os recursos utilizados
no armazém, como equipamentos.
Estes indicadores podem ser visualizados nos Quadros 1 e 2.
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Quadro 1- Mapeamento dos indicadores diretos pesquisados de acordo com as atividades e processos do
armazém
Fonte: Adaptado de Staudt et al. (2015a)
Quadro 2- Indicadores diretos relacionados aos recursos do armazém
Fonte: Adaptado de Staudt et al. (2015a)
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Ressalta-se ainda que estes indicadores de desempenho diretos foram sub-classificados de
acordo com quatro dimensões de avaliação comumente utilizadas na indústria: tempo, custo,
qualidade e produtividade.
Com relação aos indicadores indiretos, Staudt et al. (2015b) afirmam que estas medidas são
complexas e muitas vezes possuem equações que ainda não estão disponíveis ou são difíceis
de calcular. Sendo assim, os autores apresentam apenas alguns detalhes, sem fornecer maiores
informações à respeito destes indicadores, como pode ser visto na Tabela 2.
Tabela 2-Tema dos indicadores de desempenho indiretos no armazém
Fonte: Adaptado de Staudt et al. (2015a)
Já o segundo trabalho de Staudt et al. (2015b) sintetizam 41 indicadores de desempenho (38
destes utilizados na pesquisa anterior) e os transformam em equações mensuráveis, a partir da
definição de um armazém-padrão. O objetivo principal é definir uma única medida para a
mesma métrica, uma vez que indicadores iguais podem ser citados por autores diferentes. As
fórmulas matemáticas geradas podem ser visualizadas em Staudt et al. (2015b)
5. Quadro síntese sobre avaliação de desempenho na armazenagem
No Quadro 3, é apresentada uma síntese das principais abordagens propostas por diferentes
autores sobre medidas de desempenho na gestão de armazenagem.
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Quadro 3 - Síntese das características das medidas de desempenho em armazéns pesquisados
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Fonte: Elaborado pelas autoras
Conforme já mencionado, nos últimos anos, houveram mudanças significativas com relação
ao foco da armazenagem, que passou de uma estocagem meramente ativa para uma
armazenagem estratégica. Paralelamente a essa evolução, houve também uma crescente
preocupação com a maneira de se avaliar a gestão dos armazéns, com a inserção de medidas
/indicadores para mensuração desta atividade. Conforme é possível verificar no Quadro 3,
ainda são poucos os trabalhos que abordam especificamente medidas de desempenho para
gestão da armazenagem nos últimos 10 anos se comparado à medidas de desempenho
logístico de uma forma geral. No âmbito nacional, destacam-se as publicações de Cortês
(2006), Banzato (2010), Silva (2013) e da parceria franco-brasileira dos autores Staudt et al.
(2015a e 2015b).
Adicionalmente, é possível verificar que a maioria dos trabalhos investigados classifica os
indicadores encontrados em duas grandes categorias. A primeira, onde se verifica a maior
parte dos trabalhos analisados, classifica as medidas de desempenho de acordo com as
atividades do armazém (recebimento, estoque, separação de pedidos e expedição). A segunda
classificação, organiza os indicadores de desempenho para gestão de armazenagem de acordo
com decisões que avaliam o projeto ou re-projeto do armazém, focando em questões como a
utilização do espaço, construção das instalações e layout, citados por Banzato (2010), por
exemplo. Acredita-se que a classificação de acordo com as atividades seja a mais utilizada nas
empresas, pois estas fazem parte da rotina do armazém.
Trabalhos como de Cortês (2006) fornecem uma lista bastante detalhada de indicadores de
desempenho, apresentando 90 destes. Talvez este número seja inviável ao ser avaliado em
uma única empresa. Porém, tal pesquisa serve como subsidio para escolha de medidas de
desempenho para gestão de armazenagem de acordo com as especificidades de cada empresa.
Já a pesquisa de Staudt et al. (2015a) merece destaque pois, além de ser atual, apresenta uma
relação detalhada das medidas de desempenho nas atividades da gestão da armazenagem,
realizando até mesmo um mapeamento e análise dos indicadores de desempenho diretos,
incluindo o inventário. Adicionalmente, os autores buscam quantificar e sintetizar os
indicadores encontrados na última pesquisa em equações matemáticas, com a finalidade de
definir uma única medida para a mesma métrica, pois indicadores iguais podem ser citados
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por autores diferentes. Como resultado, os autores sintetizaram 41 indicadores que podem
auxiliar as empresas a melhorar o desempenho do armazém.
Finalmente, é possível destacar os indicadores de desempenho relacionados à segurança dos
colaboradores do armazém. Adicionalmente, ressalta-se que dentre os artigos pesquisados
todos possuem alguma métrica ou dimensões de avaliação relacionada à satisfação dos
clientes. Tais medidas revelam que as atividades da gestão da armazenagem estão cada vez
mais focadas em atender às necessidades do cliente final.
6. Considerações Finais
Este trabalho teve como objetivo realizar uma discussão sobre as medidas de desempenho
logísticas para avaliação da gestão de armazenagem presentes na literatura. Com base em uma
extensa revisão bibliográfica em artigos publicados nos últimos 10 anos, foi possível verificar
que estas pesquisas focam principalmente em indicadores relacionados às atividades do
armazém ou em decisões da armazenagem relacionadas ao projeto e re-projeto do mesmo.
Por fim, cabe destacar a crescente importância das medidas de desempenho na armazenagem,
uma vez que estas podem auxiliar na mensuração da eficácia dos armazéns, contribuindo para
a criação de vantagens competitivas e possibilitando o reconhecimento de oportunidades de
negócios, ameaças e custos desnecessários nas áreas e atividades do armazém. Pesquisas
futuras devem ser desenvolvidas no intuito de verificar a aplicabilidade destas medidas na
prática.
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