Uma Breve Comparação entre Línguas Élficas e Indo-Européias

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1 LIVY MARIA REAL COELHO UMA BREVE COMPARAÇÃO ENTRE LÍNGUAS ÉLFICAS E PROTO-INDO- EUROPÉIAS CURITIBA 2006

Transcript of Uma Breve Comparação entre Línguas Élficas e Indo-Européias

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    LIVY MARIA REAL COELHO

    UMA BREVE COMPARAO ENTRE LNGUAS LFICAS E PROTO-INDO-EUROPIAS

    CURITIBA

    2006

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    LIVY MARIA REAL COELHO

    UMA BREVE COMPARAO ENTRE LNGUAS LFICAS E PROTO-INDO-EUROPIAS

    Monografia apresentada disciplina Orientao Monogrfica II como requisito parcial obteno Do bacharelado em Letras- Grego do Setor de Cincias Humanas, Letras e artes, Univerdiade Federal do Paran. Orientadora: Profa. Dra. Adelaide H. P. Silva

    CURITIBA 2006

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    Acadmicos Adelaide, Mrcio, Lgia, Tho, Jorge.

    Afetivos V, Larissa, Marina, rica, Felipe.

    Num sei, num sei... Mara e lvaro.

    Financeiros Maricler S/A e Fundao Araucria

    Tabela 0: Agradecimentos

    Dedicado a cinqentona mais linda do mundo...

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    SUMRIO

    0. Introduo...............................................................................................01

    1. Proposta..................................................................................................02

    2. Justificativa..............................................................................................04

    I. Histria Real...........................................................................07

    II. Histria Ficcional.....................................................................09

    3. Metodologia............................................................................................14

    4. Aspectos Fonolgicos.............................................................................15

    I. Vogais............................................................................................17

    II. Oclusivas........................................................................................19

    III. Alofonia...........................................................................................24

    5. Aspectos Morfolgicos............................................................................24

    I.Lngua de Caso..... .......................................... ......................24

    II.Marcao de Nmero............................................... .............26

    III.Marcao de Gnero.. ............................. .............................28

    IV.Artigos... .......................... .......................... ...........................29

    V.Morfologia Verbal. ..................................................................29

    6. Outros Aspectos

    .....................................................................................30

    7. Concluso.. .......................... .......................... ......................................32

    8. Referncias ... .......................... .......................... .................................33

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    0. INTRODUO

    Talvez seja o descontentamento com o mundo que leve tantos homens a

    buscarem alternativas realidade. Alguns criam novas formas de governo e,

    estando no poder, aniquilam o outro. Outros, qui, mais sensatos ou apenas

    menos poderosos, criam fantsticos mundos literrios.

    Esse segundo parece ser o caso de dois jovens amigos do incio do sculo XX:

    Lewis e Tolkien. Ambos criaram realidades alternativas nossa; curiosamente

    nenhuma perfeita, livre do mal ou se doenas.

    Essa tentativa de brincar de deus tambm est presente em XXX de Jorge Luis

    Borges. Neste conto uma sociedad secreta y benvola (...)surgi para inventar

    um pas. No entanto, acabam criando, ficcionalmente, atravs de verbetes

    enciclopdicos, todo um mundo,m com sua geografia, lnguas, Histria, etc.

    Borges, assim como os jovens ingleses, cria um mundo com padres e valores

    bem diferentes dos nossos.

    Em seu planeta, Uqbar, as pessoas no entendem a realidade como o curso

    dos objetos no tempo e no espao e sim como uma serie heterognea de actos

    independientes. Es sucesivo, temporal, no espacial.

    Curiosa a relao que esta viso de mundo tem com a estrutura da lngua

    de Uqbar. Considerando que Borges conhecia algo da hiptese Humboldt-Sapir-

    Whorh, a lngua e a maneira de perceber a realidade se mesclam e se espelham:

    se no h espao, s tempo, no h a necessidade de substantivos, no h como

    fazer referncia a algo que , porque no este algo. O que h so aes e

    estados que acabam. H verbos impessoais. No h Luna, h a ao de

    lunecer ou de lunar. Se h a necessidade de referncia a um determinado

    objeto, isto feito atravs do acmulo de adjetivos que a coisa trazia naquele

    momento: Luna poderia ser areo-claro sobre oscuro-redondo.

    Essa empreitada de Borges levada s ltimas conseqncias poderia

    resultar num trabalho como o de Tolkien: a criao no s de uma lngua, mas de

    toda uma famlia lingstica, a criao no s de um mundo ficcional, mas de toda

    a sua histria e mitologia.

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    Enquanto no conto de Borges o planeta foi criado para demostrar al Dios

    no existente que los hombres mortales son capaces de concebir um mundo,

    Tolkien, muito religioso, criou um mundo onde lnguas extremamente belas

    pudessem ser faladas. Para ele, o interessante era criar estruturas lingsticas

    harmoniosas e a partir disso, um mundo onde estas criaes existiriam.1

    No s pela extenso mas por sua complexidade, este mundo tolkieniano

    merece ser visto, afinal pergunta PONTO VIRADO Quines inventaram a Tln?

    El plural es inevitable, porque l hiptesis de un solo inventor de un infinito

    Leibniz obrando en la tiniebla y en la modestia- ha sido descartada

    unnimamente. Poderia ser respondida como nome do criador de O Senhor dos

    Anis.

    1. PROPOSTA O presente trabalho busca uma comparao entre lnguas lficas e lnguas

    naturais. Por lnguas lficas entende-se o conjunto de idiomas criado por John

    Ronald Reuel Tolkien (1892 1973) que serve de linguagem para os elfos de sua

    literatura. Elfos so criaturas da mitologia europia (germnica, nrdica e celta)

    que aparecem com diferentes traos em cada uma das narrativas que habitam. Na

    obra de Tolkien os elfos so criao de Illvatar, que os fez para serem a raa

    mais bela e sbia do mundo. Eram imortais, mas no eternos, podendo ser mortos

    atravs do ao de guerra, do fogo, de uma grande tristeza ou assassinados,

    porm no conheciam a velhice e as doenas. A estrutura de um elfo

    semelhante dos homens; so, no entanto, mais fortes de membros e esprito.

    Outro nome para elfos Quendi, os "que falam com vozes". Era assim que os

    1 Curiosamente, Tolkien rompe com o mundo real na criao deste universo, como a

    sociedadesecreta ao criar Uqban, a terra mdia de Tolkien e o planeta de Borges so universos

    desligados da nossa realidade. Lewis, no entanto, nunca se afasta totalmente deste mundo:Alice

    vive no mundo real e tomas pastilhas para poder conhecer o fantstico; os irmos Penvensie

    entram em um guarda-roupas mgico para conhecer Nrnia.

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    elfos se auto-entitulavam, pois teriam ensinado a fala s demais raas na Terra-

    mdia.

    Tolkien, o autor da famosa trilogia O Senhor dos anis, foi um importante

    fillogo para seu sculo e deu aulas de Ingls Mdio em Oxford. Criou como

    passatempo, uma famlia de lnguas de acordo com suas preferncias pessoais

    relativas, por exemplo, sonoridade ou estrutura sinttica. O autor acreditava

    que as lngua deveriam ser belas e seu critrio de beleza era seu prprio gosto.

    Assim, criou lnguas que, para ele, soavam bem e possuam estruturas

    morfossintticas especiais. Nota-se quais eram as preferncias de Tolkien ao

    adentrar no universo das lnguas: gritante o uso de nasais e liquidas e de

    estruturas no cannicas como o dual.

    Dentro da criao de Tolkien encontram-se 12 lnguas com pelo menos algum

    tipo de fragmento ou indicao de sua estrutura, das quais duas, o Quenya e o

    Sindarin, so completas a ponto de se poder falar ou escrever nelas. Existem

    outras lnguas que Tolkien apenas nomeou, mas no chegou a desenvolv-las.

    Neste trabalho, opto por abordar especialmente o lfico Primitivo (doravante

    EP) e o Quenya. Minha escolha baseada na estrutura da famlia lfica criada por

    Tolkien: o EP a hipottica lngua-me que teria originado todas as outras, tal

    qual o Proto-Indo-Europeu (PIE) para a famlia das lnguas proto-indo-europias,

    como o grego e o latim.

    Tolkien criou antes as lnguas faladas no Senhor dos Anis e a partir delas

    montou o que seria sua proto-lngua. O prprio fillogo asteriscava as formas do

    EP, dado que, tomando a famlia lfica como real, o EP teria um estatuto diferente

    das demais, seria no atestado. Tolkien registrava suas lnguas em diversos

    artigos, mas nunca chegou a publicar um livro sobre isso. Essas referncias so

    hoje encontradas em reunies publicadas por ser filho, como o Letters e o

    Etymologies.

    Minha outra opo, o Quenya, explicada em razo da quantidade de

    informaes que temos sobre essa lngua. Em Quenya, temos dados de todos os

    nveis lingsticos, diferente do EP que tem raros dados sintticos disponveis.

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    Ressalto aqui ainda que o Quenya no ancestral imediato do EP, e sim a

    evoluo do Eldarin Comum, esta sim, lngua que surge diretamente do EP. Em

    relao s lnguas naturais tambm no trabalho com ancestrais diretos.

    Compararei a evoluo do EP para o Quenya com a evoluo do PIE ao Grego.

    Usarei aqui, na maior parte do tempo (quando no, explicitarei atravs de notas ou

    comentrios) o Grego Clssico, ou tico, dialeto ateniense do sculo V a.C. Antes

    do PIE se tornar Grego Clssico passou por um nmero incerto de estgios, como

    o Jnico Antigo, o dialeto Homrico. Assim nem o Quenya descendente direto

    do EP, nem o Grego tico do PIE. Com essa comparao preten analisar o grau

    de complexidade das lnguas tolkienianas e, principalmente, o quanto elas se

    assemelham s naturais.

    2. JUSTIFICATIVA Tendo em vista a formao de Tolkien como fillogo e o aparente cuidado que

    teve para criar suas lnguas, este trabalho, como j dito, se prope a compar-las

    com lnguas naturais, em especial o Grego, para no s reconhecer o mrito do

    autor, como tambm para verificar se de fato suas invenes tm um

    embasamento consistente proveniente das lnguas naturais. Para Tom Shippey,

    professor de literatura medieval e Ingls mdio em Oxford:

    "Est claro que os idiomas que Tolkien criou foram criador por, vocs sabem,

    um dos mais completos fillogos de nosso tempo, de modo que deve haver ento

    algo de interessante neles, e eu tambm penso que neles est derramado muito

    do seu pensamento e conhecimento profissional, (...) Freqentemente tenho

    reparado que realmente existem observaes muito valiosas sobre o que Tolkien

    pensava sobre a filologia real enterrada na fico. E eu no ficaria de maneira

    alguma surpresa se houvesse valiosas observaes enterradas nos idiomas

    inventados. ento deve haver, de fato, algo que surja deles. 2

    2 Entrevista realizada durante um simpsio Arda, em Oslo, de 3-5 de abril de 1987, publicada no

    jornal Angerthas, edio 31.

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    Claro que este estudo no se sustentaria se seu objetivo fosse apenas buscar

    uma possvel reflexo de Tolkien sobre falas reais durante o processo inventivo de

    lngua, como defende acima Tom Shippey3, porm talvez esse tenha sido um dos

    resultados finais obtidos com essa investigao.4

    Vejo na concepo de lingstica do prprio Tolkien um motivo para estudar

    suas lnguas: Nenhum idioma apenas estudado meramente como um auxlio a

    outros propsitos. Ele realmente servir melhor a outros propsitos, filolgicos ou

    histricos, quando for estudado por amor, por si mesmo." (The Monsters and the

    Critics and other essays (1997), p189).

    Da mesma forma que Tolkien, segundo seu filho Christopher (Sauron

    Defeated, 1992, p440), criou idiomas sem fins especficos, acredito que um estudo

    de sua criao possa ser desinteressado em um fim prtico.

    No entanto, essa proposta, infelizmente, no a que sigo. Entendo que

    importante estudar essas lnguas em especial por dois motivos: 1) seu papel

    gigantesco na obra do prprio Tolkien (obra to grandiosa e famosa que me

    desobrigaria a justificar seu estudo); 2) a grande qualidade que as lnguas lficas

    aparentam ter, sobretudo se comparada a outros idiomas inventados.

    Quanto primeira, Tolkien diz (...)o que eu penso um 'fato' primordial sobre

    o meu trabalho, que todo da mesma espcie, e fundamentalmente lingstico em

    inspirao.(...) isso no um 'hobby', no sentido de alguma coisa totalmente

    diferente do meu prprio trabalho usado como vlvula de escape. A inveno de

    idiomas a base. as 'histrias' foram feitas especialmente para fornecerem um

    mundo para os idiomas, no o contrrio. Para mim um nome vem primeiro e a

    histria sucede-o. Eu deveria ter preferido escrever em 'lfico'. Mas, claro, uma

    obra como o Senhor dos Anis tem sido editada e deixada apenas com a

    quantidade de 'idioma' que eu pensei que seria agradvel aos leitores. (Eu agora

    descubro que muitos teriam gostado de mais). (...) Isso para mim, de qualquer

    3 Tambm professor de Ingls Antigo em Oxford e famoso estudioso de literatura inglesa medieval. 4 Adiante comentarei sobre isso, em especial na questo das oclusivas do PIE.

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    forma, em grande parte um ensaio em 'esttica lingstica, como eu s vezes digo

    s pessoas que me perguntam sobre o que isso tudo". (Letters, p219)

    Depois de tal afirmao fica evidente que se as lnguas no so sua criao

    mais relevante, so, no mnimo, a origem para todas as outras. Assim, at mesmo

    em busca de uma interface lingstica-literatura, a produo de Tolkien merece ser

    estudada. H5 quem acredite inclusive que a produo inventiva de Tolkien deva

    ser considerada parte se sua produo como fillogo, o que aumentaria ainda

    mais o crdito dado a um estudo sobre isso. No entanto, no uso isso como

    justificativa, porque entendo que, como a produo literria e as crticas de um

    estudioso da literatura devam ser consideradas distintamente embora no seja

    impossvel e nem irrelevante traar paralelos entre elas o trabalho filolgico de

    Tolkien e suas criaes tambm devam ser vistas, ao menos num primeiro

    momento, como estudos distintos.

    J a segunda justificativa, sobre a qualidade da criao de Tolkien, se sustenta

    no olhar para outras lnguas no-naturais, como o Esperanto. O Esperanto, lngua

    criada em 1887 por Ludwik Lejzer Zamenhof para servir como lngua universal,

    extremamente simples e, por isso, distante das naturais. Claro que essa

    simplicidade era objetivada por Zamenhof, fillogo e oftalmologista. Porm, essa

    lngua, falada, no ano 2000, por aproximadamente 1,6 milho de pessoas, j

    apresenta variaes dialetais conforme a regio em que falada. Esse fato mostra

    que comum s lnguas no s a complexidade, como tambm a irregularidade.

    E disso Tolkien cuidou muito bem, suas lnguas tem uma complexidade

    compatvel com uma lngua natural e apresenta tambm irregularidades. "Tolkien

    tentou propositalmente tornar seus idiomas naturais; em conseqncia,h alguns

    verbos irregulares e similares(...). (Fauskanger , p27). O prprio Tolkien, em

    Letters, compara as lnguas lficas ao Esperanto, contrastando a existncia de

    uma mitologia/histria que embasa as suas criaes, ao contrrio da lngua de

    Zamenhof, que foi criada apenas com fins prticos.

    5 Como Helge Kre Fauskanger, Cand. fillogo. (correspondente a um mestrado) em idiomas

    nrdicos, autor do Curso de Quenya.

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    Alm dos pontos apresentados, penso como os lingistas suecos do grupo

    Mellonath Daeron6: "os idiomas de Tolkien j so dignos de estudo apenas pelos

    seus altos valores estticos. (...) o conhecimento desses idiomas a chave para

    uma apreciao completa da beleza da subcriao de Tolkien, seu mundo, Arda."

    (Fauskanger, p17)

    Acredito que para uma compreenso mais abrangente deste trabalho, seja

    necessria uma abordagem sobre como Tolkien criou essas lnguas e, em

    especial, sobre como se deu a evoluo histrica dessas lnguas no mundo fictcio

    da Terra Mdia.

    I. Histria Real

    Tolkien, j quando criana, se dedicava a lnguas no reais. Em seu ensaio Um

    Vcio Secreto, publicado em The Monsters and the Critics and other essays (1997,

    p198-219), o autor conta que quando criana falava Animlico. Tal lngua,

    baseada na inverso dos significados das palavras, trocava nomes de coisas por

    nomes de animais. Tem-se, ento, o seguinte exemplo: cachorro rouxinol pica-

    pau quarenta; "voc um asno". Passados alguns anos, Tolkien tambm se

    tornou falante de Nevbosh. Desta ltima lngua, Tolkien j participou da criao de

    seu vocabulrio. A estrutura do Nevbosh baseava-se na mistura de palavras

    distorcidas de lngua inglesa, francesa e latina, e.g., Dar fys ma vel gom co palt

    'hoc pys go iskili far maino woc?, Havia um velho que disse 'Como/ eu posso,

    qui, carregar minha vaca?. Pode-se notar por esta frase a mistura de palavras

    latinas, como hoc e alems meine woc, e sua distoro: hoc (este) usado

    como como, meine (meu) transformado em maino.

    Aps essas brincadeiras juvenis, Tolkien estudou lnguas clssicas e filologia,

    conheceu diversas lnguas, dentre elas: Latim, Grego, Gals e Finlands. Cito

    essas porque, aparentemente, so as que ele se baseou para construir suas

    6 Parte dos trabalhos desse grupo de estudos sobre lnguas tolkienianas pode ser encontrado em

    http://www.forodrim.org/

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    lnguas. Os sons do Quenya se assemelham muito aos do Finlands, enquanto os

    do Sindarin, ao do Gals. Quanto s estrutura e evoluo, parece-me que ele

    seguiu as lnguas clssicas, at porque, muitas vezes, essas so a base de

    estudo de um fillogo O prprio Tolkien diz que na famlia das lnguas lficas, o

    Quenya teria o mesmo papel que o Latim tem hoje: uma lngua antiga, morta,

    mas que preservada, muitas vezes em sinal de erudio. O idioma arcaico de

    tradio [Quenya] tido como um tipo de latim lfico e, ao transcrev-lo em uma

    ortografia muito parecida com a do latim (exceto pelo fato de que o y usado

    apenas como uma consoante, como o y na palavra [inglesa] Yes), a semelhana

    com o latim aumentou a olhos vistos. (Letters:176) Tolkien, ento, a partir do

    conhecimento desses idiomas passou a criar suas prprias lnguas, tendo em vista

    sempre que estas deviam soar de maneira agradvel. One thing was important to

    Tolkien. Languages should be beautiful. Their sound should be pleasing.7

    No entanto foi durante a Primeira Guerra Mundial que as construes

    lingsticas de Tolkien tomaram a forma dos idiomas lficos. Em 1916, Tolkien,

    numa carta sua mulher, diz estar trabalhando em seu "absurdo idioma das fadas

    - para seu aperfeioamento. Freqentemente desejo trabalhar nele e no me

    permito a isso, porque embora eu adore muito isto, me parece um passatempo

    maluco!"

    Nesta mesma poca o Silmarillion8 comea a ser escrito. Para Tolkien, a

    criao do Silmarillion era absolutamente necessria criao de suas lnguas, j

    que tinha a idia de lngua intrinsecamente ligada idia de uma cultura e ptria.

    A criao de um idioma e uma mitologia so funes relacionadas, observa

    Tolkien em Um Vcio Secreto. "Sua construo de um idioma ir gerar uma

    mitologia". E ainda aps a publicao do Senhor dos Anis: "a inveno de

    idiomas a fundao. As 'histrias' foram criadas para fornecer um mundo para os 7 Uma coisa era importante para Tolkien. Lnguas deveriam ser bonitas. Seus sons deveriam ser

    agradveis. In http://move.to/ardalambion

    8 Este um livro no to conhecido, que, no entanto, serve como Gnesis da obra ficcional de

    Tolkien, tento inclusive uma linguagem absurdamente parecida com a bblica. O livro conta como

    surgiu o mundo fictcio extremamente complexo onde se passam as aventuras narradas.

  • 13

    idiomas e no o contrrio. Para mim, um nome vem antes e a histria o segue.

    (Letters, p219-220) "Ningum acredita em mim quando digo que meu longo livro

    uma tentativa para criar um mundo no qual uma forma de idioma agradvel

    minha esttica pessoal pudesse parecer real, mas verdade". ( Letters, p264.)

    Tolkien ento criou suas lnguas e a partir delas, a gigantesca mitologia

    presente em sua obra literria. O autor diz que sentia falta de uma mitologia bela

    como a germnica e a greco-latina para seu pas, a Inglaterra, e tambm por isso

    sentiu necessidade de criar tais histrias. Sabemos tambm que seu primeiro livro,

    O Hobbit, foi escrito para seus filhos, ainda sem o objetivo de servir de base para

    suas lnguas. El Hobbit, que llegara a ser uma obra famosa y fundacional, no fue

    um trabajo concebido para ser publicado em forma de libro. De hecho, el

    comienzo del trabajo tolkieniano se refiri espcficamente a una forma de vida

    familiar, a las lecturas que desarroll para entretener a sus cuatro hijos. (...) Por

    tanto, estaban alejados del inters mitolgico mayor del autor ingls, reflejado por

    ejemplo en su trabajo El Silmarillion, comenzado en los aos de la Primera Guerra

    Mundial, pero en realidade nunca acabado.9

    Tolkien, ento depois de comear a criar seus idiomas, no parou com o que

    ele no mais classificava por passatempo, mas sim por exerccio de esttica.

    Criou em torno de 12 idiomas, e nunca deu nenhum deles por finalizado. Mesmo o

    Sindarin e o Quenya, idiomas to completos quanto um natural, receberam

    mudanas at o fim da vida de Tolkien.

    II. Histria Ficcional Chamarei de Histria Ficcional, a mitologia criada por Tolkien para embasar

    suas lnguas. Veremos que at mesmo a existncia de diferentes dialetos so

    explicadas por Tolkien atravs desta fico.

    9 San Francisco in LARIOS, 2005, p20.

  • 14

    O lfico Primitivo surgiu com os primeiros elfos criados por Ilvatar10. No foi a

    primeira lngua a ser criada na mitologia de Tolkien. posterior ao Valarin, idioma

    dos Valar11, e ao Khuzdul12, dos anes. No entanto a primeira da famlia das

    lnguas lficas.

    A partir do P, tem-se o Eldarin Comum. O Eldarin Comum surgiu j no incio

    da Marcha a Eldar13 e uma de suas principais distines em relao ao EP a

    perda de vogais finais breves14. A Marcha a Eldar foi o primeiro fator que criou as

    diferenas entre lnguas: pela primeira vez os elfos se separavam e assim a lngua

    de cada grupo evolui de maneira distinta.

    Tendo o EP evoludo para o Eldarin Comum, este evolui para o Quenya na fala

    dos elfos que chegaram a Arda. No entanto, acredita-se que por algum tempo

    10 Ilvatar: ou Eru O Um, O que s. o criador de todo o universo, Ea, e do mundo onde se

    passam as narrativas, Arda. interessante notar que em alemo Erde terra e tambm o

    nome da deusa-me germnica.

    11 Valar: Ilvatar concebeu os Ainur, os sagrados, um povo que vivia com ele entoando belas

    canes. Quando os Ainur foram para Arda desejando criar um mundo belo e perfeito como suas

    canes - tornaram-se, de acordo com seu poder, Valar, os mais fortes, ou Maiar.

    12 A criao do Khuzdul anterior ao EP, porm o Khuzdul no foi falado antes do EP Isso se d

    porque o criador dos os anes, o Valar Aule, foi obrigado por Ilvatar a fazer com que os anes

    permanecessem dormindo at o despertar dos Primognitos, os Elfos, raa que Ilvatar escolheu

    para ser a primeira de Arda.

    13 Eldar um refgio, um recanto criado pelos Valar para que os elfos sassem da escurido e do

    domnio de Melkor, um poderoso e funesto Valar. A viagem para Eldar se deu em trs partes,

    tendo os elfos tambm se dividido de acordo com o tempo de sua travessia. Se dividiram em

    Vanyar, Noldor e Teleri. Cada grupo tinha um Valar protetor e passou por diferentes dificuldades

    durante a viagem. Os Teleri, o ltimo grupo que caminhou para Eldar, tiveram uma travessia to

    difcil que muitos desistiram ou se perderam. Em Eldar, os Vanyar e os Noldor viviam juntos em

    sua cidade Tirion, enquanto os Teleri viviam em Alqualonde, o Porto do Cisnes.

    14 Essa perda de vogais finais breves pode ser vista atravs do exemplo: (EP) kwene > (Eldarin

    Comum) kwn (pessoa).

  • 15

    estas lnguas foram mutuamente inteligveis (como latim e os romanos), por

    guardarem ainda muitas semelhanas.

    O Quenya surgiu em Arda e era a fala comum a todos a Vanyar, Noldor15 e

    Valar. Logo os Valar abandonaram seu idioma, o Valarin, e passaram a usar o

    Quenya tambm entre si. "De fato dito que com freqncia os Valar e Maiar

    podiam se ouvidos falando quenya entre eles mesmos" (The War of Jewels

    (1994), p305). O Quenya tambm foi o primeiro idioma com registros escritos:

    Aconteceu ento que os noldor foram os primeiros a quem ocorreu a idia das

    letras, e Rmil de Tirion foi o nome do estudioso que conseguiu adequar sinais ao

    registro da fala e da msica(...)16

    No entanto, durante a Primeira Era, houve a Rebelio dos Noldor, a maior

    parte deste cl deixou a terra dos Valar e voltou para a Terra-mdia. Em seu

    retorno, os Noldor, falantes de Quenya, tiveram contanto com os outros elfos que

    continuavam na Terra-mdia.

    O primeiro grupo com o qual se relacionaram foi os Sindar, Teleri que haviam

    desistido de ir para Eldar. Estes foram o povo que mais se desenvolveu na Terra-

    mdia e falavam Sindarin. No Sindarin muitas mudanas17 ocorreram, porm era

    ainda notvel seu parentesco com o Quenya, em funo do seu ancestral comum:

    o Eldarin Comum.

    Logo, os Noldor, menos numerosos, aprenderam o Sindarin. O uso do Quenya

    foi proibido entre os elfos em funo de atrocidades que os Noldor tinham

    cometido em sua travessia para Eldar. Assim, (...) os Exilados [Noldor que saram

    de Eldar] adotaram o idioma sindarin em todos os seus usos correntes; e alta-fala 15 Vanyar/ Noldor: Dos elfos criados por Ilvatar surgiram dois grupos: Eldamar e Avari. Os

    primeiros deixaram a Terra-mdia em busca do Eldar. Os Vanyar foi o primeiro grupo dentro os

    Eldamar a buscar Eldar.

    16 Silmarillion, 68.

    17 Veremos o Quenya mais adiante, mas as maiores diferenas estavam na morfologia o Sindarin

    j no usava mais o sistema de casos e na fonologia o Quenya tinha um alto uso de vogais,

    enquanto o Sindarin usava oclusivas sonoras em grande quantidade.

  • 16

    do oeste [o Quenya] era usada apenas pelos senhores dos noldor entre si. Ela

    sobreviveu, porm, para sempre como a lngua de tradio, no importa onde

    morasse qualquer indivduo daquele povo" (Silmarillion, p159)

    O Quenya, ento, passou por pouqussimas transformaes visto que a

    lngua no era usada no dia-a-dia. No entanto, ainda possvel notar algumas

    diferenas, como a perda de casos, entre o Quenya usado em Eldar e o Quenya

    usado na Terra-mdia na 3a Era.

    Ainda permaneceu o fato de que "o quenya no era uma lngua falada em

    Nmenor. Era conhecido apenas dos eruditos e das famlias de alta linhagem, a

    quem se ensinava no incio da adolescncia. Era usado em documentos oficiais

    destinados a serem preservados, tais como as Leis, e no Pergaminho e nos Anais

    dos Reis (...), e freqentemente em obras de tradio mais recnditas. Tambm

    se usava largamente na nomenclatura: os nomes oficiais de todos os lugares,

    regies e acidentes geogrficos da terra tinham forma Quenya (se bem que

    tinham tambm nomes locais, geralmente com o mesmo significado, em sindarin

    ou adnaico). Os nomes pessoais, e especialmente os nomes oficiais e pblicos,

    de todos os membros da casa real, e da Linhagem de Elros18 em geral, eram

    dados em forma quenya" (Complete History (1992): 471

    18 Homens que viviam em Nmenor. Esta ilha foi um presente dos Valar aos homens que se

    mantiveram fiis a eles durante os conflitos da Primeira Era.

  • 17

    Segue abaixo uma estrutura que representaria as mais representativas lnguas de Tolkien:

    Eldarin comum Avarin

    Sindarin Antigo

    Quenya

    Sindarin Doriathrin

    Taliska

    Adunico

    lfico Primitivo Valarin

    Orkish

    K

    Telerin

    Nandorin Antigo

    Nandorin

    E

  • 18

    3. METODOLOGIA

    Ento, para comparar estas lnguas, defini determinados materiais para

    embasar as informaes estruturais de cada lngua. Isso porque, em especial,

    quanto ao EP e ao PIE, muitas das informaes que temos so contraditrias.

    Pelo fato do EP ser uma lngua hipottica, as teorias concorrentes discordam

    em determinados pontos de sua gramtica (como, por exemplo, a questo das

    vogais proto-indo-europias). Aqui adotamos a leitura de Calvert Watkins (2002).

    Watkins apresenta uma estrutura para a lngua que no a mais tradicional e

    aborda tambm algumas questes como a hiptese glotlica, mesmo que faa

    isso de forma mais rpida e concisa. No entramos na questo da formao do

    PIE neste trabalho tambm para fugir das vrias hipteses que h, como a da

    rvore genealgica ou a Wellentheorie19 Assim, tomamos como base a

    reconstruo de Calvert Watkins (2001).

    Para dar tratamento s lnguas lficas, usei o material que Fauskanger, autor

    do curso bsico de Quenya (2004), disponibiliza na internet e o prprio curso

    bsico traduzido para o portugus. No pude cotejar seus apontamentos com

    todas as obras de Tolkien (em especial com o Etymologies e o Letters, que no

    so de fcil acesso para brasileiros20) e muitas vezes discordo de seu tratamento

    dado s lnguas. Apontarei no corpo do texto, quando discordar do autor.

    O trabalho iniciou-se com a leitura dos textos de Fauskanger e um

    levantamento de traos relacionveis com a gramtica do Grego. Aps algumas

    leituras, inclui no estudo o PIE, em razo da posio ocupada pelo EP dentro da

    famlia lfica. Ento as hipteses de comparao passaram a abranger tambm o

    PIE e a evoluo que gerou o Grego.

    19 Teoria das ondas, J. Schmidt (1987) in Villar.

    20 O Letters foi traduzido este ano para o portugus, no entanto, quando foi publicado j no havia

    mais tempo para que eu pudesse comparar as informaes de Fauskanger com a fonte.

  • 19

    4. ASPECTOS FONOLGICOS

    Antes de iniciar qualquer tipo de investigao fonolgica especfica, acho

    relevante apontar os sistemas das lnguas com as quais trabalharemos.

    PIE21 EP Grego Quenya

    [a] [a] [a] [a]

    [a:] [a:] [a:] [a:]

    [e] [e] [e] [e]

    [e:] [e:] [e:]

    [:]

    [i] [i] [i] [i]

    [i:] [i:] [i:] [i:]

    [o] [o] [o] [o]

    [o:] [o:] [o:]

    [:]

    [u] [u] [u] [u]

    [u:] [u:] [u:] [u:]

    [y] [y] [y] [y]

    [y:]

    [b] [b] [b] [b]

    [d] [d] [d] [d]

    [g] [g] [g] [g]

    [ gw] [ gw]

    [gh] [gh]

    [ gj h]

    [ gwh]

    [ gj]

    21 Aqui no inserimos as laringais saussurianas por estas sero controversas na literatura proto-

    indo-europeista. Para uma discusso sobre o assunto, vide Watkins (1998).

  • 20

    [bh]

    [dh]

    [p] [p] [p] [p]

    [t] [t] [t] [t]

    [k] [k] [k] [k]

    [ kj]

    [kw]

    [ph] [ph]

    [th] [th]

    [kh] [kh]

    [f]

    [s] [s] [s] [s]

    [zd]

    [l] [l]

    [ l] [ l[

    [ r] [r] [r] [r ]

    [m] [m] [m] [m]

    [n] [n] [n] [n]

    [ks]

    [w] [w] [w] [w]

    [j] [j] [j] [j]

    [x]

    [h]

    [ps]

    []

    Tabela 1: Sistema Fonolgico das Lnguas

  • 21

    I. Vogais O primeiro aspecto que abordarei ser a distribuio das vogais nos sistemas

    fonolgicos das lnguas. Note o quadro abaixo somente com as vogais de cada

    lngua:

    PIE EP Quenya Grego

    [a] [a] [a] [a]

    [a:] [a:] [a:] [a:]

    [e] [e] [e] [e]

    [e:] [e:] [e:] [e:]

    [i] [i] [i] [i]

    [i:] [i:] [i:] [i:]

    [o] [o] [o] [o]

    [o:] [o:] [o:] [:]

    [u] [u] [u] [u:]

    [u:] [u:] [u:] [u]

    [y]

    [y:]

    [:]

    Tabela 2: Sistema Voclico das lnguas em questo

    notvel que das lnguas trabalhadas, somente o Grego tem seu sistema

    voclico diferenciado. Outras lnguas do perodo, como o Latim, tambm tinham

    seu sistema voclico baseado em 5 vogais com a contraposio longa/breve,

    assim era esperado que Tolkien preferisse utilizar o padro mais regular em suas

    lnguas, at porque tal padro o mais comum nas lnguas do mundo.

  • 22

    J no sculo IV d.C., o sistema voclico do Grego j tinha se simplificado a

    ponto de ter apenas as cinco vogais, sem distino de quantidade. Tal sistema

    ocorre tambm no Latim Tardio e em algumas lnguas lficas, como no Avarin22.

    Note a realizao das vogais abaixo:

    PIE EP QUNIA

    A /albho/ (branco) /ereqa/ (isolado) /ela/ (veja)

    A: /sa:lo/ (salgado) /erja:/ (sozinho) /na:/ ()

    E /nem/ (dar) /elen/ (estrela) /me/ (ns)

    E: /we:do/ (molhado) /stambe:/ (quarto) /callie:re/ (brilhou)

    I /nisdo/ (toca) /ninkwi/ (branco) /amil/ (me)

    I: /wi:so/ (veneno) /khi:na:/ (criana) /ki:ra/ (navegar)

    O /gjonu/ (joelho) /kwentro/ (narrador) /ambo/ (colina)

    O: /gjo:nwih/ (canto) /moroko:/ (urso) /xo:n/ (corao)

    U /putlo/ (menino) /kelun/ (rio) /amu/ (para cima)

    U: /mu:s/ (rato) /ndu:ne:/ (pr-do-sol) /antu:lien/ (retornou)

    Tabela 3: Ocorrncias das vogais em EP e PIE

    22 O Avarin possui apenas as vogais breves: (EP) kwend > (Avarin) kindi (elfos).

  • 23

    Grego

    [a] /delta/ (delta)

    [a:] /skia:s/ (sombras)

    [e] /esti/ ()

    [e:] /zde:ta/ (sdta)

    [i] /kai/ (e)

    [i:] /paidi:on/ (criana)

    [o] /epsilon/ (epsilon)

    [:] / :mega/ (Omega)

    [u:] /u:den/ (nada)

    [y] /ephygon] (fugi)

    [y:] /ty:kh/

    [] /ty:kh/

    [:] /h :/ (a)

    Tabela 4: Realizao das vogais no grego

    II. Oclusivas

    Com relao distribuio das oclusivas nas lnguas lficas, Tolkien, caso se

    propusesse, de fato, a criar suas lnguas em funo das clssicas, tambm parece

    ter atingido seu objetivo. Usou determinada disposio j encontrada nas lnguas

    reais, e criou sua evoluo tambm dentro do foneticamente esperado, mesmo

    que nem sempre essa evoluo seja exatamente igual a que ocorreu nas lnguas

    gregas .Note abaixo a disposio das oclusivas do EP e do grego.

    Tabela 5: Oclusivas do EP e do Grego

    Surda Sonora Surda aspirada

    Labial /p/ /b/ /ph/

    Alveolar /t/ /d/ /th/

    Velar /k/ /g/ /kh/

  • 24

    Observem-se os exemplos:

    Grego EP

    Surda Sonora Surda

    aspirada

    Surda Sonora Surda aspirada

    Labial /pajdewo/

    (educo)

    /basilew /

    (rei)

    /phjsik /

    (alma)

    /parma:/

    (livro)

    /r:aba/

    (selvagem)

    / phinde: /

    (cabelo)

    Alveolar /panta/

    (tudo)

    /didomi/

    (dar)

    / theos/

    (deus)

    /stinta:/

    (curto)

    /ngolda/

    (sbio)

    /the:re: /

    (rosto)

    Velar /kalon/

    (belo)

    /gar/

    (pois)

    /erkhomaj/

    (venho)

    /kelun/

    (rio)

    /gilja/

    (estrela)

    /khotse:/

    (assemblia)

    Tabela 6: Exemplos de ocorrncias das oclusivas no EP e no Grego

    Surda Sonora Sonora aspirada

    Labial p b bh

    Alveolar t d dh

    Palatal kj gj gj h

    Velar k g gh

    Labiovelar kw gw gwh

    Tabela 7: Oclusivas presentes no PIE

  • 25

    Surda Sonora Sonora aspirada

    Labial /pet/ (voar) /leb/ (boca) /albho/ (branco)

    Alveolar /putlo/ (menino) /ped/ (p) /dheuh (fumar)

    Palatal /dekjm/ (dez) /gj onu/ (joelho) /bhergj h/ (alto)

    Velar /ken/ (novo) /jogm/ (unir) /ghans/ (ganso)

    Labiovelar /kjekw/ (excremento) /gwow/ (bovino) /gwhen/ (sorriso)

    Tabela 8: Exemplo de ocorrncias das oclusivas em PIE

    Acima listo tambm as oclusivas do PIE com o intuito de indicar um

    possvel motivo para que a distribuio do PIE (lngua que nas famlias naturais

    tem o mesmo papel que o EP em relao s lnguas lficas) no ser a utilizada por

    Tolkien. Este teria preferido utilizar a distribuio das oclusivas no Grego, tendo

    percebido o quo anti-natural a distribuio que antigamente era proposta pelos

    proto-indo-europestas. esperada, para o sistema fonolgico das lnguas, uma

    distribuio com as contrapartes sonoras e surdas, ou ento somente a presena

    das surdas. Neste caso, os tericos da lngua hipottica propuseram exatamente o

    contrrio para a distribuio das oclusivas aspiradas: existiriam as sonoras, as

    surdas no. Outro elemento que ainda contradiz essa hiptese a impossibilidade

    do trato vocal humano produzir ao mesmo tempo um som sonoro e aspirado. Para

    produzir a sonoridade, as pregas vogais devem vibrar, para produzir a aspirao,

    elas devem se afastar, e estes movimentos so impossveis de se realizar

    concomitantemente. 23 Mais uma vez, chamo a ateno para a perspiccia de

    Tolkien, que mesmo tendo, aparentemente, adotado o PIE como modelo do EP,

    no usou para sua lngua determinados traos, no mnimo, discutveis.

    Quanto s oclusivas, dentro do prprio Grego e da famlia lfica notamos que

    sua evoluo se d de forma semelhante, porm no exatamente igual. Em

    ambas as famlias a evoluo marcada pelo processo de fricativizao de

    23 Apesar de existirem oclusivas sonoras aspiradas no Snscrito, isto no me parece suficiente

    para considerar natural esse modo de realizao. O Sncrito tambm uma lngua reconstituda e

    provavelmente a aspirao era produzida logo depois da produo da oclusiva sonora.

  • 26

    determinado conjunto de oclusivas. No entanto, em Quenya, fricativizam as

    surdas-aspiradas do EP, gerando de /ph/, /th/,/kh/; /f/, /s/, /h/, respectivamente. J

    no Grego moderno, alm das surdas aspiradas, as sonoras tambm fricatizaram

    gerando /f/, //, /x/.

    EP / Grego Grego Moderno Quenya

    /ph/ /f/ /f/

    /th/ // /s/

    /kh / /x/ /h/

    Tabela 9: Comparao da evoluo das oclusivas surdas aspiradas

    Grego Grego Moderno

    / philosophia/ (filosofia) /filosofia/ (filosofia)

    /agatha/ (bom) /agaa/ (bom)

    /kh:ra / (pas) /xora/ (pas)

    Tabela 10: Ocorrncias das oclusivas surdas aspiradas e suas evolues nas

    lnguas gregas

    EP Quenya

    /phind:e/ (trana) /finde/ (cabelo, trana)

    /thaura:/(detestvel) /saura/ (imundo, podre)

    /kho:gore:/ (Corao ) /huore/ (corao)

    Tabela 11: Ocorrncias das oclusivas surdas aspiradas e suas evolues nas

    lnguas lficas

  • 27

    Vejamos mais demoradamente a evoluo das surdas aspiradas, grupo onde

    h mudana na evoluo em ambas as famlias. Nos dois casos, h a

    fricativizao, ou seja, a muda o modo de articulao da consoante. No entanto o

    ponto de articulao ou mantido, ou sofre uma alterao pequena. /ph/, /th/,/kh/,

    so, respectivamente, bilabial, alveolar e velar. /f/, /s/, /h/, labiodental, alveolar,

    glotal. E /f/, //, /x/, labiodental, dental, velar. Notamos que quando h mudana no

    lfico, a consoante anterioriza, porm no grego isto no to regular, o /ph/

    anterioriza, mas o /kh/, posterioriza.

    interessante notar que nas lnguas ibricas, como o Portugus e o

    Castelhano, [] parece ter sido um passa intermedirio na passagem de uma

    oclusiva para uma fricativa sibilante: (Latim) kera > (Romano) kjera> cjera> tjera>

    (Portugus Arcaico) tsera> (Galego Portugus) era > (Portugus Moderno) sera.

    J no caso do Grego, h que se considerar que a evoluo das aspiradas para

    as fricativas tem um paralelo com a evoluo das sonoras para fricativas, criando

    um sistema absolutamente simtrico. Se o [th] evolusse para [s], o [] ficaria sem

    correspondente sonoro.24 Veja a evoluo e sua realizao nas tabelas abaixo.

    Grego Grego Moderno

    / b/ /v/

    /d/ //

    /g/ / /

    Tabela 12: Evoluo das oclusivas sonoras nas lnguas gregas

    24 No caso do Espanhol ocorreu exatamente o mesmo. As sonoras evoluram para fricativas. O [v]

    se confunde com o []; e o [ts], bem como o [dz], se confunde com o [], se tornando o par

    simtrico de []. No Portugus, como no houve a evoluo para fricativas, bem como, no houve

    a aspirao das ps-alveolares, o sistema se estabilizou em [f] e [], [v] e [].

  • 28

    Grego Grego Moderno

    / biblio/ (livro) /vivlio/ (livro)

    /andra/ (homem) /anra/ (homem)

    /grama/ (letra) /rama/ (letra)

    Tabela 13: Ocorrncias das oclusivas sonoras nas lnguas gregas

    Embora essa no seja uma mudana ocorrida nas lnguas lficas, achei

    pertinente ao menos citar toda a evoluo das oclusivas das lnguas gregas.

    III. Alofonia

    Mais um fato que mostra a preocupao de Tolkien em fazer suas lnguas

    muito prximas s reais a alofonia entre z/s presente em EP. Quando /s/ ocorre

    antes de uma oclusiva sonora realizado como [z], como em /mizde:/ (chuva fina) e /ezde:/ (tranqilidade). Tal foto fonologicamente esperado e tambm ocorre em PIE, por exemplo. em /nizdos/ (ninho) e /mezg-/ (desnudar).

    5. ASPECTOS MORFOLGICOS

    Vistas as possveis relaes fonolgicas entre as lnguas, partimos para as

    morfolgicas.

    I. Lngua de caso

    O que chama a ateno em um primeiro momento o fato de que as quatro

    lnguas analisadas so lnguas de caso, i.e., tem as funes sintticas expressas

    em morfemas da palavra e no na ordem em que estas aparecem na sentena.

    Como o PIE, o EP tem um nmero de casos desconhecidos. O nmero de casos

  • 29

    presente no PIE varia entre 9 e 10 a depender das teorias25, seus casos so

    nominativo, acusativo, vocativo, genitivo dativo, instrumental, locativo, ablativo e

    alativo. J o quenya apresenta 8 casos - a saber nominativo, acusativo, genitivo,

    possessivo, alativo, ablativo, locativo, dativo, instrumental - e o grego 5

    (nominativo, acusativo, dativo, genitivo, vocativo). Se pensarmos na evoluo

    lingstica esperada, o PIE e o EP teriam mais casos que suas evolues, no

    entanto no precisamos hipotetizar em relao a isso, se olharmos para suas

    lnguas-filhas: tanto o Grego Moderno quanto o Quenya da 3. Era tm menos

    casos: respectivamente dois (mantm-se apenas o nominativo e o acusativo) e

    oito (perde-se o acusativo). Ao olharmos tambm para as lnguas lficas que

    vieram depois do Quenya da 3. Era, notamos a perde gradativa de casos, assim

    como na famlia de lnguas naturais, onde chegamos ao ponto de termos famlias

    que evoluram, para a no marcao de caso, como o Sindarin e como o

    Portugus em comparao ao Latim, embora ainda haja vestgios da marcao de

    casos no sistema pronominal.

    Note no quadro abaixo como a perda de casos gradativa em ambas as

    famlias, o que explicita o quo cuidadosa foi a criao das lnguas fictcias de

    Tolkien. Note que o Sindarin no propriamente uma evoluo do Quenya, mas

    sim uma lngua irm, assim como o Portugus uma lngua prima do Grego. No

    Sindarin a marcao de caso desapareceu, restando apenas a marcao de

    locativo, mais como um sufixo formador de nomes do que um sufixo de caso.

    Neste quadro mantenho como ?, os casos que provavelmente existiam no EP,

    mas dos quais no h ocorrncia ou meno.

    25Fauskanger comenta a existncia no Quenya de um dcimo caso que no chegou a ser nomeado

    por Tolkien.

  • 30

    Casos PIE EP Grego Quenya Grego moderno Sindarin

    Nominativo X X X X X

    Acusativo X X X X

    Genitivo X X X X

    Dativo X ? X X

    Ablativo X ? X

    Instrumental X ? X

    Alativo X X X

    Locativo X ? X X

    Possessivo ? X

    Vocativo X X

    Tabela 14: Casos nas lnguas tratadas

    A perda do acusativo no Quenya um fator, aparentemente, anti-natural na

    evoluo das lnguas lficas. A distino caso reto x caso obliquo a mais bsica

    do sistema de casos, e geralmente a ltima, ou uma das ltimas, a ser perdida.

    No Latim, por exemplo, a evoluo se d do seguinte modo: ablativo e dativo se

    tornam um nico caso em Romano, que abarca tambm o genitivo quando esta

    lngua se torna Provenal. O acusativo e o nominativo so os casos que passam

    por todos os estgios evolutivos do Latim sem sofrer alteraes at que a lngua

    deixa de ter marcao de caso.

    No Grego essa distino tambm mantida: o Grego Moderno possui como

    nica distino a de acusativo x nominativo.

    II. Marcao de Nmero

    Quanto marcao de nmero, algumas lnguas lficas tambm se aproximam

    do padro das lnguas indo-europias: o EP possui, como alguns dialetos do

    Grego e o PIE, trs nmeros: singular, plural e dual. J o Quenya possuiu um

    quarto nmero: o plural partitivo. No entanto h pouqussimas informaes sobre

  • 31

    isso e raros so os exemplos, razo pela qual vamos deixar o plural partitivo de

    fora desta investigao (assim como fez Fauskanger ao apenas mencion-lo em

    seu curso, sem dar um tratamento vasto a essa forma como fez com as demais).

    Singular Plural Dual

    Jovem

    Dom

    Tabela 15 Nmero no Jnico Antigo (Dialeto Homrico)

    Singular Plural Dual

    Estrela Elen Elen elen

    Labio Pee Pe pe

    Tabela 16 Nmero no EP

    Ainda quanto marcao de nmero interessante notar que tanto nas

    lnguas Gregas como nas lficas, as evolues perderam o dual, abarcado pelo

    plural:

    Singular Plural

    Jovem

    Dom

    Tabela 17 Nmero no Grego

  • 32

    Singular Plural

    Estrela l elin

    Criana Hn Hn

    Tabela 18 Nmero no Sindarin

    Singular Plural Dual

    Lobo Wlkwos Wlkws Wlkw

    Tabela 19 Nmero no PIE

    III. Marcao de Gnero

    Apesar de no ter encontrado qualquer anlise sobre o gnero no EP,

    considero que posso tecer alguns comentrios com base nos dados que tenho

    disponveis. O EP parece funcionar similarmente ao PIE. Este possui, para grande

    de parte dos tericos, dois gneros: masculino-neutro (marcado por n) e

    feminino-abstrato (-(e)h2). O EP, aparentemente tambm possui dois gneros com

    delimitaes semnticas prximas a essas: masculino-neutro (/-o:/ como em

    /tauro:/ rei, /tamro:/ pica-pau, /besno:/ esposo) e feminino-abstrato (/-i:/ ou /-e:/

    como em /tauri:/ rainha, /i:di:/ desejo, /bese:/ esposa). No entanto, para que se

    tomasse essa distino como regra, ou como nica regra, um estudo e

    aperfeioamento maior desta questo seria necessrio visto que temos dados que

    a contradizem (como /orne:/ "rvore) e temos, tambm, em EP, aparentemente,

    um terceiro gnero ou um alofone de /-i:/, formado em /-a:/, tambm com a idia

    de abstrao, e.g., /besta:/ casamento e /rata:/ caminho. J do Quenya e do Grego temos mais dados, visto que temos essas lnguas com gramticas j bem

    definidas. O Grego possui trs casos: masculino, feminino e neutro - (sbio/

    masculino), (sbia) (sbio / neutro) - enquanto o Quenya s

  • 33

    apresenta dois: masculino e feminino, embora estes sejam marcados por

    diferentes sufixos - serme (amiga), sermo (amigo); heri (senhora), heru (senhor).

    IV. Artigo

    A evoluo do artigo do EP para o Quenya semelhante evoluo do artigo

    em Grego. No dialeto Jnico antigo (VIII a.C.) no havia artigo, somente o

    pronome ditico , , . Este sofreu uma especializao de uso e passou a ter a

    funo de artigo definido. No h no Grego pronome indefinido, a ausncia do

    definido que marca essa caracterstica, tal qual nas lnguas lficas. No EP havia

    um ditico i - este(s), esta(s) que em Quenya (e tambm em Sindarin) torna-se

    o artigo definido i o(s), a(s). Em EP: i galad esta rvore, em Quenya i alda

    a rvore. Em Jnico, esta criana, em tico , a

    criana.

    V. Morfologia Verbal

    Em todas as lnguas com as quais trabalho aqui h a distino formal entre

    aoristo e perfeito. Abaixo um quadro de exemplos.

    Lnguas Presente Aoristo Perfeito

    PIE leikw- (deixar) eleikwet leloikwet

    Grego (deixar)

    EP Sukm (beber) sukn Usukn-

    quenya Sunc-(beber) Sunce Usunc-

    Tabela 20: Morfologia verbal nas lnguas tratadas

    Todas as formas so marcadas por um sufixo, sendo que algumas delas -

    como os pretritos do Grego e o perfeito do PIE, sofrem tambm um tipo de

    prefixao. No Grego, o prefixo que indica pretrito sempre o mesmo -, e

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    chamado de aumento. J no EP e no Quenya, esta prefixao parece ser feita por

    um sufixo reduplicativo (o chamado redobro da Gramtica Tradicional) 26. No PIE,

    o redobro tambm marca perfeito.27

    Lngua presente Perfeito

    EP w-. (morrer) awwii

    PIE weikw- (falar) kwekwoit(h)a

    Quenya Tuv- (encontrar) Utv-

    Grego (conduzir)

    Tabela 21: Redobro nas lnguas tratadas

    6. OUTROS ASPECTOS

    Nesta parte do trabalho, explanarei outras semelhanas entre as lnguas

    lficas e a famlia de lnguas gregas, s que em outros nveis, como o sinttico e o

    lexical.

    Os adjetivos em Quenya no so triformes como no Grego, porm apresentam sua disposio na frase da mesma forma que os gregos: concordam

    com o sujeito e podem vir em posio atributiva ou predicativa. Em posio

    predicativa tm a funo de predicado da frase, mesmo que o verbo ser no

    esteja explcito. Este tipo de construo, a frase nominal, tambm existe em Grego e PIE, assim como existe um verbo cpula em cada uma dessas lnguas. 26 Fauskanger (2004) caracteriza a formao do perfeito no Quenya como um processo de

    prefixao atravs de um aumento. Aqui, chamo o mesmo processo de redobro por entender o

    prefixo como a reduplicao da primeira vogal da primeira slaba do verbo, e no como um

    aumento que varia de acordo com a qualidade da vogal da primeira slaba. Fao esta distino por

    existir no grego tanto redobro como aumento, e este ltimo sempre marcado por /-e/, j o redobro

    varia de acordo com a raiz da palavra primitiva.

    No Grego, o redobro pode tambm marcar presente, sendo a forma sem a reduplicao, o

    perfeito. Porm esta formao mais rara.

  • 35

    Atributiva Predicativa (Frase nominal)

    Grego (a medida

    bela)

    . (A medida

    bela.)

    Quenya I taura aran (o poderoso rei) I aran taura (O rei poderoso.)

    Tabela 22: Posies dos adjetivos em Grego e Quenya.

    Algumas aproximaes em um nvel lexical seriam possveis: a marca para o genitivo plural em Quenya -on e em grego ; a palavra para homem em

    grego , enquanto em Quenya nr e em PIE, hner. No entanto, acredito

    que isto seja uma coincidncia e no, de fato, algo pensando por Tolkien. Com a

    vastido de palavras existentes e um nmero limitado de fonemas, esperado

    que algumas palavras soem de forma parecida.

    Tambm seria muito profcua uma comparao do Quenya com o Latim, j que o prprio Tolkien o caracteriza como o latim das lnguas lficas. Para que

    essa aproximao fosse ainda mais realista, Tolkien adotou as convenes

    ortogrficas do Latim para o Quenya, por exemplo em Quenya /k/ escrito como

    c. Outras semelhanas so a evoluo do /w/ para /v/ como ocorre em latim

    vulgar no Quenya da 3a Era, a formao do artigo definido a partir do pronome

    demonstrativo e a formao do perfeito atravs de redobro28.

    Uma relao que poderia ter sido mais amplamente explorada neste trabalho

    a formao do infinitivo. Em Quenya, como no Grego, h dois tipos de infinitivo: o aoristo e o perfeito. No entanto, alm de no haver muitas informaes sobre o

    infinitivo no EP, as que encontrei em Fauskanger (2004) e em seu site so

    contraditrias, ora apresentam o sufixo de infinitivo como i, ora como -ie. Eu, que

    acredito que no EP havia dois infinitivos (um aoristo e um perfeito, uma marcado

    com i, outro com -e) preferi no entrar aqui nesta discusso, mas acredito ser

    28 Como por exemplo, em do (presente de dare, dar) e dedi (perfeito).

  • 36

    relevante ressaltar aqui tanto a possvel relao quanto as dificuldades que

    encontrei para trat-las.

    Uma ltima relao que trao a concordncia em caso do pronome relativo

    presente em Quenya e em Grego. As formas dos pronomes relativos no

    nominativo so (masculino singular), (feminino singular), (neutro singular)

    para o Grego ya (singular)/ yar (plural) para o Quenya: Veja, como exemplo, o

    uso do relativo no genitivo:

    forma Exemplo

    Quenya yo I ns yo yondo cennen. (A mulher de quem vi o filho)

    Grego . (A mulher de quem vi o

    filho)

    Tabela 23: Frase nominal em Quenya e em Grego

    7. CONCLUSO A partir desdes apontamentos, acredito j ser notvel a acuidade do

    trabalho de Tolkien e quanto suas lnguas se aproximam das reais. No entanto,

    entendo que, para dizer o quanto as lnguas lficas so naturais, um estudo sobre

    o que natural numa lngua deveria ter permeado este trabalho. Parece-me que o

    cuidado com a fonologia das lnguas muito maior do que o cuidado que Tolkien

    teve com a morfologia: enquanto o sistema fonolgico parece sempre estar em

    harmonia, notamos alguns aspectos aparentemente antinaturais na evoluo do

    EP para o Quenya, e.g., o partitivo ser considerado um nmero e a perda do caso

    acusativo.

    Um estudo tipolgico das lnguas comparado a outros estudos evidenciaria

    com mais propriedade a naturalidade destas lnguas inventadas. Trabalhar com

    aspectos no to pontuais seria uma sada, no entanto, entendo que um trabalho

    como este necessrio para chamar a ateno para esta possibilidade de estudo

    e comear a levantar possveis traos de anlise.

  • 37

    Tolkien utiliza-se para a estrutura de sua lngua no s a estrutura do

    Grego, mas tambm a do PIE e, aparentemente, a do Latim. Utiliza tambm

    estruturas de outras lnguas, como o Finlands e o Gals, mas aproximaes

    entre essas lnguas e as lficas seriam evidenciadas somente pela continuao

    deste estudo.

    Acredito ser ainda relevante notar como Tolkien d um passo adiante de

    seu tempo em especial na questo das oclusivas do EP. Isto no seria notvel a

    no ser atravs de um estudo que se preocupasse com suas lnguas. Desta

    forma, estas criaes merecem ser revistas, embora no seja a parte mais

    conhecida e, talvez, a mais relevante de seu trabalho.

    8. REFERNCIAS

    Bernard Comrie. Typology. in RAMAT, Anna Giancalone; RAMAT, Paolo (eds).

    The indoeuropean languages. London/New York: Routledge, 1998.

    Enciclopdia de Valinor. Disponvel em

    http://enciclopedia.valinor.com.br/index.php/Tolkien > Acesso em: 09 out. 2005,

    09:40:52.

    FAUSKANGER, Helge Kre. Curso de Quenya:a mais bela lngua dos elfos. Trad.

    Gabriel O. Brum. Arte & Letra, 2004, Curitiba.

    FREIRE, S.J. Antnio. Gramtica grega. 2.ed. So Paulo: Martins Fontes, 2001

    PERFEITO, Ablio Alves. Gramtica do Grego: Curso Complementar do LICEUS.

    4 Ed. Porto: porto Editora LTDA, 1974.

    VILLAR, Francisco. Lenguas y pueblos indoeuropeos. Ediciones ISTMO: Madri.

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    WATKINS, Calver. Proto-Indo-European: Comparison and Reconstruction in

    RAMAT, Anna Giancalone; RAMAT, Paolo (eds). The indoeuropean languages.

    London/New York: Routledge, 1998.

    http://en.wikipedia.org/wiki/Greek_alphabet