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Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro:
Uma análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção de vinho
Gregory JonesDepartamento de Estudos Ambientais
Universidade South Oregon
Ashland, Oregon 97520, EUA
2013
Apoio adicional de:
Marco Moriondo e Roberto Ferrise
Dipartimento di Scienze delle Produzioni
Agroalimentari e dell'Ambiente
Universidade de Florença, Itália
João Santos e Aureliano Malheiro
Centro de Investigação e de Tecnologias
Agro-Ambientais e Biológicas.
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Vila Real, Portugal
Em colaboração com:
Fernando Alves
ADVID
Associação para o Desenvolvimento
da Viticultura Duriense
Peso da Régua, 5050-106 Portugal
FICHA TÉCNICA
Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro:
Uma análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção de vinho
Edição: ADVID - Associação para o Desenvolvmento da Viticultura Duriense
Autor: Gregory Jones
Colaboração: Fernando Alves - ADVID
Apoio adicional de:
Marco Moriondo, Roberto Ferrise, João Santos e Aureliano Malheiro
Ano: 2013
Nº de exemplares: 50
Distribuição: ADVID - Associação para o Desenvolvmento da Viticultura Duriense
Design de capa: © HL Design
Fotografia de Capa: © José Marafona | Dreamstime. com
ISBN: 978-989-98368-0-8
Dep.Legal: 360808/13
índice
ÍNDICE Prefácio ..............................................................................................................................................................................1
Sumário Executivo .............................................................................................................................................................3
Introdução .........................................................................................................................................................................5
Estrutura meteorológica e climática para a qualidade e produção de vinho ................................................................5
Aptidão climática para as castas ...................................................................................................................................7
Variabilidade climática em regiões vinícolas .................................................................................................................9
Alterações climáticas, viticultura e vinho ....................................................................................................................11
A Região Demarcada do Douro ...................................................................................................................................18
Dados e métodos.............................................................................................................................................................21
Normais climatológicas históricas ...............................................................................................................................21
Estações meteorológicas da Região Demarcada do Douro .........................................................................................22
Circulação regional e padrões meteorológicos ............................................................................................................24
Clima espacial: histórico ..............................................................................................................................................25
Clima espacial: projecções futuras...............................................................................................................................26
Resultados e discussão....................................................................................................................................................28
Normais climatológicas históricas ...............................................................................................................................28
Estações meteorológicas da Região Demarcada do Douro .........................................................................................31
Circulação regional e padrões meteorológicos ............................................................................................................47
Clima espacial: histórico ..............................................................................................................................................51
Clima espacial: projecções futuras...............................................................................................................................65
Conclusões .......................................................................................................................................................................80
Agradecimentos ..............................................................................................................................................................84
Referências bibliográficas ...............................................................................................................................................85
Apêndice ..........................................................................................................................................................................93
prefácio
PREFÁCIO A ADVID – Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense é uma associação sem fins lucrativos, constituída em 1982 por um grupo de empresas ligadas à produção e comércio de vinhos da
Região Demarcada do Douro (RDD). A ADVID tem como objectivos estudar, demonstrar e divulgar técnicas vitivinícolas adequadas às especificidades da região, de modo a promover a competitividade dos seus vinhos nos mercados nacionais e internacionais.
Na sequência de candidatura apresentada ao Estado Português (COMPETE, Ministério da Economia, 2008)
foi reconhecido o Cluster dos Vinhos da Região do Douro como uma Estratégia de Eficiência Colectiva, do qual, a ADVID é a entidade gestora e dinamizadora.
No âmbito do Plano de Acção apresentado, a temática do impacto das “Alterações Climáticas na Produção de Vinho”, pela importância económica que pode representar para o sector do vinho, constitui um dos
Projectos-‐Âncora do Cluster.
Este Projecto-‐Âncora procura responder a um conjunto de preocupações e actividades da ADVID, sustentado num relatório de diagnóstico, publicado em 2007, com as propostas para a base do caderno de encargos nesta temática, preparado e reflectido pelo sector, para uma abordagem integrada e
consequente na procura de soluções junto das Universidades, nacionais e internacionais. Procurou-‐se, desta forma, responder a uma necessidade identificada pelo sector empresarial ligado à indústria do vinho na região, para encontrar soluções para os cenários globais à escala regional e local.
Para a realização deste projecto dedicado à compreensão do funcionamento do clima na Região do Douro,
a ADVID contou com a colaboração do prestigiado cientista americano, Prof. Dr. Gregory Jones (Southern Oregon University), especialista nas consequências das alterações climáticas sobre a viticultura. O trabalho consistiu na análise, estabilização e credibilização de bases de dados climáticos existentes e na
estruturação de novas abordagens para a interpretação do clima regional, contribuindo para a sua melhor compreensão, uma condição essencial à projecção de cenários futuros.
Actualmente, este Projecto-‐Âncora está alicerçado em três acções complementares entre si: a avaliação do clima da Região do Douro -‐ análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção
de vinho, a definição das estratégias de adaptação mais eficazes e a previsão das consequências para a qualidade do vinho. Estas acções, promovidas e financiadas pelo Cluster dos Vinhos da Região do Douro, integram vários atores importantes do Cluster, nomeadamente na concretização dos projectos
“ClimeVineSafe”, vocacionado para medidas de curto prazo na mitigação do efeito das alterações climáticas e ainda pelo apoio ao projecto “Modelização da evolução da qualidade do vinho na RDD”.
Ainda no domínio das estratégias de adaptação, importa referir que o Plano de Acção do Cluster nos seus diversos Projectos-‐Âncora executa actividades convergentes, nomeadamente o estudo de uma mais
eficiente utilização de água pelas plantas, a criação de ferramentas de mapeamento vitícola (zonagem) à escala da região e da propriedade, a promoção da sustentabilidade integrada da produção em viticultura, a
racionalização das operações de cultivo da vinha em encosta, o estudo do comportamento de castas e porta-‐enxertos e, não menos importante, a preservação da biodiversidade genética do património vitícola originário do território português.
A Direcção da ADVID, Julho de 2012
GREGORY JONES | UMA AVALIAÇÃO DO CLIMA PARA A REGIÃO DEMARCADA DO DOURO uma análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção de vinho
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SUMÁRIO EXECUTIVO A História mundial da viticultura mostra claramente que as uvas destinadas à produção de vinho são uma espécie de cultivo particularmente sensível às condições climáticas, em que a qualidade de produção se atinge apenas numa faixa geográfica bastante restrita. Para além disso, estas são uvas cultivadas maioritariamente em regiões de média altitude propensas a elevada variabilidade climática, o que resulta em diferenças relativamente significativas ao nível da colheita, em termos de qualidade e produtividade. A evolução histórica e as projecções futuras dos parâmetros climáticos para regiões vinícolas mostram-‐nos ainda que ocorreram alterações, e que provavelmente estas continuarão a verificar-‐se no futuro. Esta investigação fornece uma avaliação de vários aspectos do clima numa das mais históricas regiões vinícolas do mundo – o Vale do Douro português – com o objectivo de documentar e analisar as condições climáticas históricas, atuais e futuras da região.
Embora se conheça genericamente o clima da Região Demarcada do Douro, a criação de um banco de dados completo, de alta qualidade e longo prazo para a região a partir de uma estação meteorológica tem conhecido limitações quer em termos espaciais, quer temporais. Por esse motivo, esta avaliação do clima serve-‐se dos melhores dados disponíveis de três tipos principais: 1) normais climatológicas históricas; 2) estações meteorológicas na Região Demarcada do Douro; 3) dados climáticos espaciais, para registos passados e futuros do clima na região. Para além disso, a avaliação inclui uma análise das relações entre os controlos de circulação atmosférica locais de larga escala e a variabilidade climática na Região Demarcada do Douro.
Dados climáticos espaciais actualizados para o período 1950-‐2000 revelam condições climáticas semelhantes ao normal climatológico de 1931-‐1960 ao longo da Região Demarcada do Douro. No ciclo vegetativo, a região apresenta uma temperatura média de 17,8°C, sendo 65% espacialmente classificada como um tipo de clima Temperado, 24% como um tipo de clima Intermédio e praticamente 10% como um tipo de clima Quente no índice do ciclo vegetativo. As tendências observadas na região foram analisadas tanto ao nível das estações individuais, como espacialmente em toda a extensão da região. As diferenças entre os dados de 1931-‐1960 e 1950-‐2000 revelam que o último período foi mais quente em média 0,9°C em termos de temperaturas anuais ao longo da região, com o ciclo vegetativo e o inverno a registarem temperaturas superiores em 1,2°C e 0,4°C, respectivamente. Analisando três estações de longo prazo na região constata-‐se um aquecimento maior nas temperaturas mínimas comparativamente às temperaturas máximas, com taxas entre os 1,2°C e 3,6°C durante este período. Os resultados de uma análise de eventos extremos nas três estações demonstram alterações significativas para ambos os extremos das temperaturas máximas e mínimas, com globalmente noites mais quentes, dias mais quentes, um declínio geral na amplitude térmica diurna, um maior número de eventos de tensão térmica, alguma evidência de vagas de calor mais prolongadas e uma clara redução na duração das vagas de frio.
As condições climáticas futuras na Região Demarcada do Douro foram analisadas utilizando projecções SRES do IPCC para três cenários de emissões de gases de estufa (B2, AB1 e A2) e três intervalos temporais futuros (2020, 2050 e 2080). Estima-‐se um aumento das temperaturas
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médias anuais para todos os cenários de emissões e para cada intervalo temporal. As projecções variam entre 0,5-‐1,4°C em 2020, 1,4-‐3,3°C em 2050 e 2,1-‐5,1°C em 2080. Em termos de temperatura no ciclo vegetativo, estima-‐se que a região passe de uma aptidão climática predominantemente Pouco Quente (65% da área) em 1950-‐2000 para uma crescente área de aptidão climática Quente em 2020 (43%) e até uma aptidão climática Muito Quente em 2050 (36%). Em 2080, prevê-‐se que o padrão espacial de temperatura no ciclo vegetativo apresente 19% da paisagem como Demasiado Quente, 54% Muito Quente, 25% Quente e menos de 3% Frio, Temperado ou Pouco Quente. O padrão das alterações mostra o aquecimento a aumentar mais rapidamente ao longo das principais secções da bacia fluvial, depois no Douro Superior, e em 2080 nos pontos mais altos abrangendo a maior parte da região. A nível de precipitação, estima-‐se que as alterações para a Região Demarcada do Douro sejam relativamente baixas ou moderadamente elevadas, em função do cenário e período temporal. Prevê-‐se que as alterações em termos de precipitação média anual variem entre zero e até menos 21,6% no cenário A1B em 2080. A maioria das alterações, na precipitação, é esperada durante o ciclo vegetativo, estimando-‐se uma diminuição na ordem dos 10-‐42% em 2080. As projecções futuras para o clima na região resultantes desta avaliação estão, em termos gerais, em sintonia com outros estudos conduzidos para a Europa, a Península Ibérica e Portugal.
As regiões vinícolas evoluíram ao longo do tempo de modo a adaptarem-‐se da melhor forma às condições ambientais locais, permitindo uma maturação genericamente consistente das castas consideradas mais adequadas às regiões. Uma vez que a estrutura climática global das regiões determina a aptidão e a variabilidade climática influencia de forma decisiva as variações na produção e qualidade vindima após vindima, a taxa estimada e magnitude das futuras alterações climáticas trará consigo muito provavelmente inúmeros potenciais impactos para a indústria vinícola. No entanto, a Região Demarcada do Douro é rica em características fisiográficas e vegetativas que poderão ajudar a mitigar os efeitos nefastos das alterações climáticas. Em primeiro lugar, a geomorfologia da região e seu relevo contribuem para múltiplas situações de meso e microclima, que poderão criar estratégias de adaptação espacial. Para além disso, a fisiografia proporciona aos viticultores várias opções em termos de técnicas de cultivo, permitindo-‐lhes gerir a dimensão ecofisiológica do meio. Um aspecto que se revestirá de grande importância será a forma como os viticultores irão adaptar a paisagem e a vinha para ajudar a equilibrar globalmente a actividade fotossintética da videira e as perdas de água por transpiração. Um factor de grande importância na gestão das mudanças que venham a ser impostas por via das alterações climáticas reside no património genético do material vegetativo, sobretudo nas castas e respectivo comportamento enológico. Ainda que a nível dos porta-‐enxertos, tenham vindo a ser estudadas características e aptidões para a resistência à secura, é sobretudo no vasto património das castas cultivadas na Região Demarcada do Douro, que residirão algumas das ferramentas com maior potencial ao dispor do viticultor, quer pela diferente exigência térmica das variedades e elasticidade de comportamento fenológico, quer pelas diferentes respostas fisiológicas. Mediante a adopção de estratégias sustentáveis e uma abordagem inovadora de todo o sistema de produção, a Região Demarcada do Douro conseguirá indiscutivelmente reduzir a sua vulnerabilidade e aumentar a sua capacidade de adaptação perante um clima em mudança.
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INTRODUÇÃO O clima é um factor indissociável do sucesso de todos os sistemas agrícolas, ao influenciar
a adaptação de uma casta a uma determinada região e controlar a respectiva produção e qualidade, potenciando assim a sustentabilidade económica. Em nenhuma outra actividade agro-‐
alimentar a influência do clima é mais evidente do que na vitivinicultura, sendo especialmente crítica em termos globais no amadurecimento do fruto com vista à obtenção das características óptimas para a produção de um dado tipo de vinho. Qualquer análise climática para a produção de vinho terá de considerar um grande número de factores que atuam a diferentes escalas temporais e espaciais. Concretamente, a influência climática pode ocorrer à macroescala (clima
sinóptico), à mesoescala (clima regional) à topoescala (clima local), à microescala (clima ao nível da videira e da vinha). Para além disso, a influência climática depende quer de condições gerais, quer de fenómenos meteorológicos singulares, que se manifestam através de várias variáveis, tais como a temperatura, a precipitação e a humidade. Para compreender o papel do clima na vitivinicultura há que considerar 1) a estrutura meteorológica e climática necessária à obtenção
das características óptimas de qualidade e produção, 2) a aptidão climática para as diferentes castas, 3) a variabilidade climática em regiões vinícolas e 4) a influência das alterações climáticas na estrutura, adequação e variabilidade do clima.
ESTRUTURA METEOROLÓGICA E CLIMÁTICA PARA A QUALIDADE E PRODUÇÃO DE VINHO
A nível mundial, são as condições climáticas médias das regiões vinícolas que determinam em larga escala as castas que aí podem ser plantadas, enquanto a produção e qualidade dos vinhos é influenciada por factores específicos do local, decisões ao nível da cultura e a
variabilidade climática de curto prazo (Jones e Hellman, 2003). Os vários factores meteorológicos/climáticos que afectam a vitivinicultura e a qualidade do vinho incluem a radiação solar, a temperatura média, os extremos de temperatura (tais como gelo no inverno, geadas primaveris e outonais, e stress térmico no verão), a acumulação de calor, o vento, a precipitação, a humidade e características do balanço hídrico do solo. Apesar da ocorrência de inúmeros efeitos
individuais e interactivos entre estes factores climáticos, a caracterização mais comum do mesoclima em regiões vitícolas pode ser feita matematicamente em função da temperatura, o que permite o cálculo de índices bioclimáticos (Fregoni, 2003; Jones et al., 2010). Estes índices são geralmente determinados ao longo de um período de tempo importante para o crescimento e
produção da videira (habitualmente os 6 ou 7 meses do ciclo de crescimento e desenvolvimento da videira). As relações entre a acumulação de calor, o crescimento da videira e o potencial de maturação foram postuladas por A.P. de Candolle no século XIX a partir da observação de que o crescimento da videira iniciava quando a temperatura média diária atingia os 10°C. À medida que foram sendo criados, os vários índices foram geralmente relacionados com a tipicidade dos vinhos
passíveis de produção com classes associadas a vinhos de castas de climas frios, até vinhos de castas de climas quentes, até vinhos generosos e uvas de mesa. Desenvolveram-‐se variadas formas destes índices bioclimáticos, nos quais se incluem a formulação dias-‐grau do Índice de Winkler (Amerine e Winkler, 1944), formas distintas de um Índice Heliotérmico (Branas, 1974; e
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Huglin, 1978), o Índice de Qualidade de Fregoni (2003), um Índice Latitude-‐Temperatura (Jackson e Cherry 1988; Kenny e Shao, 1992), e um índice de temperatura média do ciclo vegetativo (Jones, 2006), todos eles contribuindo para aferir a aptidão de uma região para a plantação de determinadas castas.
Face à importância de que se reveste para o equilíbrio da videira, a qualidade e produção
do fruto, bem como a pressão de doenças, o conhecimento das relações hídricas assume grande relevo para qualquer região vinícola. Como tal, estes factores deverão ser avaliados sob diferentes perspectivas: 1) humidade do ar, 2) frequência e distribuição temporal da precipitação local, e 3) capacidade de retenção de água do solo. Para além disso, cada um destes aspectos da
disponibilidade de água pode também ser avaliado em termos de um balanço hídrico. Uma precipitação intensa na fase inicial do ciclo vegetativo é benéfica (Jones e Davis, 2000a, 2000b), mas durante a floração pode reduzir ou retardar a abertura dos botões, e durante o período de crescimento dos bagos pode aumentar a probabilidade de ocorrência de doenças fúngicas, continuando durante a maturação a potenciar os fungos responsáveis por doenças, e provocar o
amarelecimento e a diluição dos bagos, e dessa forma reduzir os níveis de açúcar e sabor, e limitar consideravelmente a respectiva produtividade e qualidade (Mullins et al., 1992). Uma análise das regiões vitícolas espalhadas pelo mundo sugere que não existe um limite máximo para a quantidade de precipitação necessária ao óptimo crescimento e produção da videira (Gladstones, 1992). Por outro lado, a viabilidade da videira parece estar, em alguns climas quentes,
condicionada por níveis de precipitação inferiores a 500 mm, apesar disto poder ser ultrapassado por irrigação periódica, se possível. Eventos meteorológicos extremos, como é o caso de tempestades com ocorrência de trovoadas e de granizo, apesar de pouco frequentes na generalidade das regiões vitícolas, são altamente prejudiciais para a cultura. Estes eventos podem danificar gravemente folhas, gavinhas e bagos durante o seu crescimento. No período de
maturação, podem ainda conduzir ao fendilhamento dos bagos, provocando oxidação, fermentação precoce e uma redução considerável do volume e da qualidade da vindima.
Integrando uma série de parâmetros climáticos, um balanço hídrico do solo considera as variações sazonais da temperatura, a precipitação e a humidade do solo disponível visando calcular as necessidades em termos de água (seja ela de origem natural ou irrigada). No essencial, um balanço de água define as necessidades hídricas das plantas e da atmosfera em qualquer
região. A maioria das regiões vitícolas regista entre o final do outono e final da primavera um período com um excedente de água no solo, a que no verão se segue um período de diminuição da humidade do solo através de evaporação (pela atmosfera) e transpiração (pelas plantas), que se estende até ao início do outono, altura em que a precipitação dá início à reposição dos níveis no solo. Um bom restabelecimento da humidade no solo durante a primavera pode fomentar o
crescimento da videira e potenciar uma floração e um vingamento mais eficazes (Williams, 2000). Apesar da existência de alguma humidade no solo durante o período de crescimento no verão poder reduzir o stress térmico, uma humidade demasiado elevada pode resultar num incremento excessivo do crescimento vegetativo e numa maturação inadequada (Matthews e Anderson, 1988), acompanhados de um atraso na queda da folhagem, que torna a videira mais vulnerável a eventos de geada/gelo no final do outono.
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APTIDÃO CLIMÁTICA PARA AS CASTAS
A aptidão de uma casta a uma dada região é determinada pelo clima de base. Historicamente têm sido utilizados inúmeros sistemas de medição com base na temperatura (por ex. dias-‐grau, temperatura média do mês mais quente, temperaturas médias do ciclo vegetativo, etc.) para definir climas óptimos para as várias castas (Gladstones, 1992). À escala global, os
limites gerais que determinam uma aptidão climática para viticultura situam-‐se entre os 12-‐22°C para o ciclo vegetativo em cada hemisfério (Gladstones, 2004; Jones, 2007; Figura 1). Como se depreende da Figura 1, a delimitação climática de 12-‐22°C ilustra genericamente uma aptidão de média latitude para a produção da uva, sendo que várias zonas subtropicais a tropicais em cotas mais elevadas também se inserem nessas zonas climáticas. Além disso, qualquer representação
geral de temperaturas médias irá também incluir zonas extensas habitualmente não associadas ao cultivo da vinha. Isso mesmo se depreende da Figura 1, em que vastas áreas da Europa de leste, do oeste da Ásia, da China, do centro-‐oeste e leste dos Estados Unidos, do sudeste da Argentina e do sudeste da África do Sul, bem como o sul da Austrália, se inserem nos limiares 12-‐22°C. Apesar destas regiões apresentarem temperaturas propícias ao cultivo da vinha no ciclo vegetativo,
outros factores condicionantes, caso das temperaturas mínimas no inverno, das geadas primaveris e outonais, da curta duração das estações de crescimento e da disponibilidade de água, colocariam entraves à maioria das regiões mapeadas em função das condições médias.
Figura 1: Regiões vinícolas globais e zonas com isotérmicas de 12-‐22°C para o ciclo vegetativo (Abril a Outubro no Hemisfério Norte e Outubro a Abril no Hemisfério Sul). As regiões vinícolas derivam de delimitações definidas pelas entidades dos diversos países (por ex., as "American Viticultural Areas” nos Estados Unidos, “Geographical Indications” na Austrália e no Brasil, e “Wine of Origin” na África do Sul) ou são áreas de cultivo da vinha identificadas por detecção remota (por ex., “Corine Land Cover” para a Europa) ou por imagens aéreas (por ex., Canadá, Chile, Argentina e Nova Zelândia). (Jones et al., 2012).
Analisando em mais pormenor a aptidão climática de muitas das castas mais difundidas pelo mundo, Jones (2006) mostra que a produção de vinho de alta qualidade está condicionada por temperaturas médias do ciclo vegetativo na ordem dos 13-‐21°C (Figura 2). A zonagem clima-‐maturação na Figura 2 teve por base o clima e ciclo vegetativo de muitas castas cultivadas em regiões frias a quentes, nas zonas de referência para essas vinhas em todo o mundo. Apesar de
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muitas dessas castas serem cultivadas e utilizadas para a produção de vinho fora dos limites individuais ilustrados na Figura 2, trata-‐se predominantemente de vinhos a granel (de grande produção) para um segmento inferior de mercado, que geralmente não atingem a tipicidade ou qualidade que essas mesmas castas revelam quando se desenvolvem no seu clima ideal. Além disso, temperaturas médias do ciclo vegetativo inferiores a 13°C estão habitualmente limitadas a castas híbridas ou de maturação precoce que poderão não ter um forte apelo comercial. Nos limites de clima superiores pode encontrar-‐se também alguma produção com temperaturas médias no ciclo vegetativo superiores a 21°C, não obstante esta consista quase exclusivamente em vinhos generosos, uvas de mesa e uvas passas. Pesquisas recentes conduziram ao mapeamento destes limites climáticos na Europa (Jones et al., 2009), na Austrália (Hall e Jones, 2010) e na zona oeste dos Estados Unidos (Jones et al., 2010), detalhando no âmbito da adequação climática da região os tipos de clima frio, temperado, pouco quente e quente. Este estudo contribui para a representação da estrutura climática espacial efectiva das regiões vinícolas, em substituição da prática comum de recorrer às estações meteorológicas, que claramente não caracterizam com rigor os climas sentidos nas regiões de plantação de vinha.
Figura 2: Agrupamentos, clima-‐maturação, baseados nas relações entre requisitos fenológicos e temperaturas médias no ciclo vegetativo para a produção de vinho de qualidade alta a premium nas regiões de referência em todo o mundo para muitas das castas mais comuns a nível mundial. A linha pontilhada na extremidade das barras indica que poderão ainda ocorrer ajustes à medida que ficarem disponíveis mais dados, sendo altamente improváveis alterações superiores a +/-‐ 0,2-‐0,5°C (Jones, 2006).
Castas: agrupamentos clima / maturação Frio Intermédio Temperado Quente
e Temperatura média do ciclo vegetativo (HN Abr-‐Out; HS Out-‐Abr)
Comprimento do rectângulo indica o espaço estimado de maturação da variedade
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VARIABILIDADE CLIMÁTICA EM REGIÕES VINÍCOLAS
Enquanto a estrutura climática média de uma região determina genericamente a aptidão das castas, a variabilidade climática influencia questões do foro do risco de produção e qualidade relacionadas com a equidade do clima ano após ano. A variabilidade climática nas regiões vinícolas tem impacto sobre a produção da uva e do vinho através de extremos da temperatura mínima durante o inverno em algumas regiões, a frequência e severidade de geadas na primavera e no outono, eventos de temperaturas elevadas durante o verão, precipitação ou granizo intensos, assim como condições de seca espaciais e temporais generalizadas. Os mecanismos de variabilidade climática que influenciam as regiões vinícolas estão associados a interacções atmosféricas e oceânicas de larga escala que atuam em escalas espaciais e temporais distintas (Figura 3). O maior de entre estes é o fenómeno de larga escala El Niño-‐Oscilação Sul na zona do Pacífico (ENSO) (Glantz, 2001), com ampla influência nos climas das regiões vinícolas da América do Norte, Austrália e Nova Zelândia, África do Sul, América do Sul e Europa (Jones et al., 2012). No entanto, a dimensão dos efeitos do ENSO na variabilidade climática das regiões vinícolas varia grandemente, podendo apresentar um sinal contrário em função da localização da respectiva região vinícola, e estando frequentemente aliado a outros mecanismos regionais mais influentes (Jones e Goodrich, 2008).
Figura 3: Regiões vinícolas globais, mecanismos da variabilidade climática e suas áreas de influência conhecidas, conforme descrito no texto. ENSO – El Niño-‐Oscilação Sul, PDO – Oscilação Decadal do Pacífico, NAO – Oscilação do Atlântico Norte, IOD – Dipolo do Oceano Índico, AO – Oscilação Ártica, AAO – Oscilação Antártica, SST – Temperatura da Superfície do Mar. As regiões vinícolas são as descritas na Figura 1 (Jones et al., 2012).
No que se refere à Europa, o mecanismo de variabilidade climática dominante é a Oscilação do Atlântico Norte (NAO; Figura 3), que exerce uma grande influência climática sobre o Oceano Atlântico Norte e as massas de terra adjacentes (Hurrell, 2003). A NAO está associada a alterações nos ventos de oeste ao longo da superfície do Atlântico Norte devido a uma oscilação de larga escala na massa atmosférica entre a alta subtropical e a baixa polar. O índice correspondente que caracteriza numericamente a NAO varia de ano para ano, sinalizando todavia uma tendência para permanecer numa mesma fase por períodos que duram vários anos. A fase positiva do índice NAO revela um centro de alta pressão subtropical mais forte do que habitual
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(anticiclone dos Açores) e uma depressão excepcionalmente mais intensa na Islândia. A maior diferença de pressão sobre o Atlântico Norte resulta em tempestades de inverno mais fortes e frequentes sobre o Oceano Atlântico numa latitude mais a norte. No que toca à Europa, a fase positiva traduz-‐se em invernos mais quentes e húmidos nas regiões a norte e condições mais quentes e secas ao longo da bacia do Mediterrâneo. Para além disso, o norte do Canadá e a Gronelândia assistem a invernos frios e secos, enquanto o leste dos EUA regista condições de inverno amenas e húmidas. A fase negativa do índice NAO revela uma alta subtropical e depressão da Islândia pouco intensas, sendo que o menor gradiente de pressão resulta em tempestades de inverno menos fortes e frequentes com um trajecto mais orientado de este para oeste. Regra geral isto reflecte-‐se em condições de advecção de ar húmido e maior precipitação no Mediterrâneo, bem como condições de frio e seca no norte da Europa. A costa leste dos EUA assinala mais vagas de ar frio, que se traduzem em condições meteorológicas de neve, ao passo que a Gronelândia conta com temperaturas de inverno mais amenas.
As relações entre a NAO e o cultivo da vinha na Europa são pouco claras, revelando no essencial pouca ou nenhuma correlação (Jones, 1997). Isto deve-‐se provavelmente ao facto de a
NAO ser em larga medida um mecanismo de inverno, com efeitos decrescentes ao longo do ciclo vegetativo. No entanto, há indícios de que a fase positiva da NAO fomenta estações de crescimento mais secas na Península Ibérica e no Mediterrâneo, que se traduzem numa menor qualidade e produtividade (Esteves e Manso-‐Orgaz, 2001; Grifoni et al., 2006). Ambas as fases podem acarretar problemas para as vinhas do norte da Europa, sendo que uma NAO positiva
importa numa maior precipitação e pressão de doenças, enquanto a fase negativa apresenta um risco de geada mais acentuado durante a primavera. Além disso, recorrendo a dados históricos de vindimas no nordeste de França e na Suíça, Souriau e Yiou (2001) demonstraram correlações significativas entre esses dados das vindimas e a NAO, recomendando a utilização do registo “como um instrumento interessante” para reconstruir a NAO recuando no tempo. Não obstante o
ENSO desempenhar um papel importante na determinação da variabilidade climática interanual em latitudes inferiores, a sua influência no clima europeu é reduzida (Mathieu et al., 2004) ou dificilmente distinguível dos efeitos da NAO (Rodó e Comín, 2000).
Sem desconsiderar o impacto óbvio das alterações climáticas nas condições climáticas médias das regiões vinícolas a nível mundial (ver abaixo), não pode no entanto ser igualmente
descurada a importância da variabilidade do clima. Uma intensificação da variabilidade climática de uma dada região iria acentuar os riscos associados aos extremos climáticos, o que por sua vez
ameaçaria a viabilidade económica da produção de vinho em qualquer região. Ambas as observações e modelos sugerem que os climas sofrem alterações quer em termos de temperatura
média quer em termos de variabilidade das temperaturas nas regiões vinícolas e restantes zonas (Jones, 2007). Por exemplo, se a reacção às alterações de um aquecimento climático só ocorresse
ao nível da média, haveria menos tempo frio e mais tempo quente e recordes de calor. Por outro lado, o acentuar da variação da temperatura, por si só, resultaria em mais tempo frio e quente,
bem como condições recorde. No entanto, as evidências deixam antever que um aumento quer na média quer na variabilidade teria como consequência menos eventos de tempo frio e muitos mais eventos de tempo quente e recordes de calor (IPCC, 2007). Schär et al., (2004), por exemplo,
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demonstraram que a estrutura climática europeia no verão deverá sofrer um aumento acentuado na sua variabilidade ao longo dos anos em reacção aos gases com efeito de estufa. Sendo as
ondas de calor provocadas por padrões entranhados de alta pressão e bloqueio, um tal aumento na variabilidade poderia explicar o verão europeu atípico de 2003, reflectindo-‐se fortemente na
incidência futura de ondas de calor e períodos de seca. Também Jones (2005) e Jones et al. (2005a) encontraram indícios para uma mudança na variabilidade climática em regiões vinícolas,
na medida em que o coeficiente de variabilidade nos climas das estações de crescimento em todo o oeste dos EUA e muitas outras regiões vinícolas tem vindo a aumentar globalmente ao longo
dos últimos 50 anos. Jones et al. (2005a) constataram ainda que as projecções do modelo até 2050 mostram um crescimento contínuo do coeficiente de variabilidade das temperaturas no ciclo
vegetativo em 20 de 27 regiões vinícolas globalmente consideradas.
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS, VITICULTURA E VINHO
Da abordagem anterior à estrutura climática, aptidão e variabilidade associadas à produção de vinho regional a mundial, depreende-‐se claramente que as regiões vitícolas se localizam em áreas geográficas e climáticas relativamente restritas. Acresce a isso o facto de as castas apresentarem grandes diferenças a nível da aptidão climática, o que vem limitar a presença
de certas vinhas a zonas ainda mais restritas adequadas à sua plantação. Estes pequenos “nichos”, sinónimo de qualidade e produção óptima, tornam a plantação de vinhas para produção de vinho mais susceptível à variabilidade climática de curto prazo e a alterações climáticas de longo prazo do que outras culturas realizadas em extensões maiores (Jones, 2007). Regra geral, em termos globais o tipo de vinho produzido numa determinada região é resultado do clima de base,
enquanto a variabilidade climática determina as diferenças de qualidade a nível da vindima. As alterações climáticas reflectem-‐se quer na variabilidade, quer nas condições médias, podendo portanto provocar alterações nos tipos de vinho (Jones, 2007). O nosso entendimento das alterações climáticas e respectivos potenciais impactos na viticultura e produção de vinho
reveste-‐se de importância crescente à medida que o sistema terrestre é sujeito a ciclos e flutuações naturais, bem como a variações nas concentrações dos gases com efeito de estufa e a alterações nas características da superfície terrestre, as quais modificam o balanço de radiação da Terra, a circulação atmosférica e o ciclo hidrológico (IPCC, 2007). As tendências de aquecimento observadas ao longo dos últimos cem anos têm-‐se revelado assimétricas relativamente aos ciclos
sazonais e diurnos, com aquecimento mais acentuado durante o inverno e a primavera e à noite (Karl et al., 1993; Easterling et al., 2000). As tendências observadas a nível das temperaturas têm sido associadas à viabilidade da produção agrícola, uma vez que influenciam a potencial resistência ao inverno, a ocorrência de geadas e a duração das estações de crescimento (Carter et al., 1991; Menzel e Fabian, 1999; Easterling et al., 2000; Nemani et al., 2001; Moonen et al., 2002; Jones, 2005).
Para situar a vitivinicultura no contexto da aptidão climática e do potencial impacto
derivado das alterações climáticas, a Figura 2 fornece o enquadramento para a análise do actual potencial de amadurecimento clima-‐maturação para castas de primeira qualidade cultivadas em climas frios, temperados, pouco quentes e quentes (Jones, 2006). A Cabernet Sauvignon, por
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exemplo, é cultivada em regiões que abrangem desde climas temperados a quentes, com estações de crescimento oscilando aproximadamente entre 16,8 e 20,2°C (caso de Bordéus ou Napa). As castas formatadas para climas mais frios, por exemplo a Pinot Noir, são geralmente
cultivadas em regiões com climas frios a temperados baixos, cujas estações de crescimento registam temperaturas aproximadas entre 14,0 e 16,0°C (caso do norte do estado do Oregon ou da Borgonha). Dos limites gerais que a aptidão climática fria a quente impõe à produção de vinho de elevada qualidade depreende-‐se claramente que o impacto das alterações climáticas não tende a ser uniforme em todas as castas e regiões, estando em princípio mais proximamente
relacionado com os limiares climáticos, sendo que um aquecimento continuado comprometeria uma região em termos da sua capacidade de produzir vinho de qualidade com as castas existentes. Por exemplo, se uma região possuir uma temperatura média no ciclo vegetativo de 15°C e o clima sofrer um aquecimento de 1°C, então essa região será climaticamente mais propícia ao amadurecimento de algumas castas, e potencialmente menos para outras. Se a
magnitude do aquecimento for de 2°C ou mais, então uma região poderá potencialmente passar para outro tipo de clima de maturação (por ex. de temperado a pouco quente). Embora a quantidade de eventuais castas com bom amadurecimento numa região possa aumentar em muitos casos, se uma região corresponder a um tipo de clima de maturação quente e aquecer
para além do que é considerado viável, então o cultivo da vinha ficará comprometido e poderá mesmo tornar-‐se inviável. Para além disso, as observações e modelações efectuadas mostraram que as alterações climáticas não se manifestam, nem se manifestarão provavelmente no futuro, unicamente em termos de alterações ao nível da média, mas também em termos de variação, com maior probabilidade de eventos de calor extremo, pese embora ainda com eventos
esporádicos de frio extremo (IPCC, 2007). Como tal, embora seja possível que a estrutura climática melhore em algumas regiões, a variabilidade continuará a ser a nota dominante, possivelmente até de forma mais limitadora do que acontece actualmente.
A História mostra-‐nos que as regiões de cultivo da vinha se desenvolveram quando o clima era mais propício e que no passado ocorreram mudanças a nível da viabilidade de regiões vinícolas devido a alterações no clima que tornaram a produção mais difícil ou fácil (Le Roy Ladurie, 1971; Pfister, 1988; Gladstones, 1992). Na Europa, há praticamente mil anos que é
mantido um registo das datas de vindima e da produtividade (Penning-‐Roswell, 1989; Le Roy Ladurie, 1971), revelando períodos com temperaturas mais favoráveis no ciclo vegetativo, maior produtividade e indiscutível melhor qualidade em algumas regiões. Outras evidências indicam que as vinhas foram plantadas em locais tão a norte quanto as zonas costeiras do Mar Báltico e o sul
de Inglaterra durante o período medieval designado por “Pequeno Óptimo Climático” (aproximadamente entre 900 e 1300 a.D.), quando as temperaturas subiram em até 1°C (Gladstones, 1992). Durante a Alta Idade Média (séculos XII e XIII), a vindima tinha lugar no início de Setembro, comparativamente a início a fim de Outubro durante grande parte do século XX (Pfister, 1988; Gladstones, 1992). Ainda assim, durante o século XIV vertiginosas descidas de
temperatura conduziram à “Pequena Idade do Gelo” (que se prolongou até finais do século XIX), o que ditou progressivamente o fim da maioria das vinhas a norte e gerou estações de crescimento de tal forma curtas que a produção de uvas se tornou difícil em grande parte do resto da Europa.
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Complementarmente, a investigação tem recorrido a datas de vindima recentes da região da Borgonha para reconstruir as temperaturas na primavera-‐verão entre 1370 e 2003 e, se os resultados indicam que temperaturas ao nível das da década quente de 1990 ocorreram várias
vezes na região desde 1370, o invulgarmente quente verão de 2003 parece ter superado todos os outros em termos de calor desde 1370 (Chuine et al., 2004).
Numa investigação mais recente sobre o impacto das alterações climáticas na qualidade do vinho, Jones et al. (2005a) analisaram as temperaturas no ciclo vegetativo em 27 daquelas que são geralmente reconhecidas como as melhores regiões produtoras de vinho do mundo, tendo concluído que as temperaturas médias nessa estação subiram 1,3°C nos últimos 50 anos. Todavia,
o aquecimento não se deu de forma uniforme em todas as regiões, sendo mais pronunciado na zona oeste dos EUA e na Europa e menos no Chile, na África do Sul e na Austrália. O maior aquecimento foi registado na Península Ibéria, no sul de França e em áreas dos estados de Washington e da Califórnia, com valores superiores a 2,5°C. Por exemplo, Jones et al. (2005a) concluíram que o aquecimento observado durante 1950-‐1999 nas regiões da Borgonha, Vale do
Reno, Barolo e Bórdeus variou entre 0,7 e 1,8°C. Análises regionalmente mais específicas de resolução temporal revelam um alinhamento com as observações globais nas tendências a nível das temperaturas nas regiões vinícolas (Jones e Davis, 2000a,b; Jones et al., 2005b; Jones, 2007; Webb et al., 2008; Hall e Jones, 2009; Ramos et al., 2008). Globalmente, durante os últimos 30-‐70 anos, muitas das regiões vinícolas do mundo apresentaram um decréscimo na frequência de
geadas, oscilações na ocorrência temporal das geadas e estações de crescimento mais quentes com maior acumulação de calor. Na América do Norte, a investigação tem mostrado alterações significativas nos climas das estações de crescimento, particularmente na zona oeste dos EUA. Por exemplo, durante 1948-‐2002, nas principais regiões de cultivo da vinha (Califórnia, Oregon e Washington), as estações de crescimento ficaram mais quentes em 0,9°C, essencialmente devido
a alterações nas temperaturas mínimas, com maior acumulação de calor, uma diminuição na frequência de geadas, que é mais significativa no período de repouso vegetativo e na primavera, geadas de fim de primavera mais precoces, primeiras geadas de outono mais tardias e períodos mais longos sem ocorrência de geadas (Jones, 2005). Alterações temporais no Vale de Napa desde 1930 (Jones e Goodrich, 2008) mostram que a acumulação de calor é superior em mais de 350
unidades (dias-‐grau em unidades °C) e tem sido o resultado de um aquecimento nocturno significativo, com as temperaturas mínimas a crescerem 3,0°C enquanto as temperaturas diurnas não revelam grandes alterações. Os valores e timings da precipitação são altamente variáveis no oeste dos EUA, estando mais associados, a mecanismos de variabilidade climática de larga escala,
caso do El Niño ou da Oscilação Decadal do Pacífico, do que a tendências estruturais (Jones e Goodrich, 2008). Investigação recente para a Europa mostra resultados semelhantes aos obtidos para a América do Norte atrás descritos (Jones et al., 2005b). Uma análise de tendências climáticas e fenológicas ao longo dos últimos 30-‐50 anos para onze locais com vários tipos de clima na Europa (frio a quente) e para 16 castas mostra que o aquecimento ocorreu de forma
transversal na maioria das estações, sendo todavia mais forte na primavera e no verão. Nas regiões vinícolas estudadas, o aquecimento no ciclo vegetativo foi em média de 1,7°C, a maior parte do qual a verificar-‐se à noite. A acumulação de calor registou igualmente um aumento, com
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os dias-‐grau a subirem em 250-‐300 unidades (°C), enquanto a frequência e quantidades de precipitação não se alteraram significativamente. Em Espanha, Jones et al. (2005b) concluíram que as estações de crescimento aqueceram em média 0,8-‐1,2°C nas regiões da Galiza e de
Valladolid, com os valores a surgirem muito mais destacados à noite (temperaturas mínimas com aumentos de 1,1-‐2,1°C) do que durante o dia (sem significado). A acumulação de calor, seja medida pelo Índice de Huglin ou Índice de Winkler (ver abaixo), aumentou no interior mas não se alterou significativamente na região mais costeira da Galiza. Ramos et al. (2008) constataram igualmente um aquecimento generalizado a nível das estações de crescimento nas regiões
vinícolas de Penedès, Priorat e Segrià, no nordeste de Espanha, na ordem dos 1,0-‐2,2°C. O estudo revelou também o potencial de maior stress hídrico, uma vez que a descida da precipitação na primavera e no verão, combinada com o aquecimento observado, resulta num reforço das necessidades hídricas de 6-‐14% numa região já de si semiárida. Paralelamente a alterações em muitos parâmetros de temperatura, no nordeste de Espanha constatam-‐se alterações
concomitantes em parâmetros da videira e do vinho, incluindo eventos fenológicos mais precoces, maior qualidade do vinho com maiores amplitudes térmicas diurnas no amadurecimento, e menor produção nas vindimas dos anos mais quentes (Ramos et al., 2008). Para além disso, na Europa em geral, a evolução dos estados fenológicos da videira mostrou uma forte correlação com o
aquecimento observado, com tendência para uma precocidade de 6 a 25 dias em inúmeras castas e localizações (Jones et al., 2005b).
As projecções de climas futuros são obtidas com recurso a modelos assentes no conhecimento do funcionamento do sistema climático, sendo usadas para analisar a forma como o meio ambiente, neste caso a viticultura e a produção de vinho, responde a estas mudanças. Estes modelos climáticos são representações matemáticas complexas a três dimensões do nosso sistema Terra -‐ Atmosfera, apresentando análises espaciais e temporais das leis de energia,
massa, humidade e transferência de momento na atmosfera e entre a atmosfera e a superfície do globo. Adicionalmente, os modelos climáticos têm por base cenários de emissões do IPCC (IPCC, 2007) que reflectem estimativas de como a actividade humana influenciará a emissão de CO2 no futuro. Os muitos modelos em uso actualmente, aliados ao facto de estarem a modelar um sistema não-‐linear e a usar diferentes cenários de emissões, resultam numa gama de potenciais
alterações a nível de temperatura e precipitação no planeta (IPCC, 2007). O trabalho realizado nas últimas três décadas usando projecções de modelos mostra que as tendências de aquecimento observadas nas regiões vinícolas em todo o mundo irão previsivelmente continuar a verificar-‐se. Uma das análises pioneiras sobre o impacto das alterações climáticas na viticultura sugeria um
alongamento das estações de crescimento na Europa e um aumento da qualidade do vinho nas regiões de Champagne e Bordéus (Lough et al., 1983). Estes resultados foram largamente provados como correctos (Jones et al., 2005a). Para além disso, a investigação com base em modelos espaciais tem também apontado para uma potencial deslocalização e/ou expansão da zona geográfica das regiões vitícolas, com previsão de que partes do sul da Europa irão tornar-‐se
demasiado quentes para produzir vinhos de qualidade e de que as regiões setentrionais irão novamente tornar-‐se mais estáveis em termos de consistência do clima para amadurecimento e/ou viáveis (Kenny e Harrison, 1992; Butterfield et al., 2000). Analisando castas específicas
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(Sangiovese e Cabernet Sauvignon), Bindi et al. (1996) e Bindi e Fibbi (2000) concluíram que as alterações climáticas em Itália deverão conduzir a intervalos de crescimento mais curtos mas com aumentos na variabilidade da produtividade. Outros estudos sobre o impacto das alterações
climáticas, nas actividades vitícola e vinícola, revelam a importância das mudanças na distribuição geográfica das áreas de cultivo, em virtude de alterações na temperatura e precipitação, maior pressão de pragas e doenças devido a invernos mais suaves, alterações no nível do mar que potencialmente alteram a influência de uma zona costeira nos climas de viticultura, e o efeito que aumentos no CO2 poderão ter no crescimento da videira e na qualidade da uva e até na textura da
madeira de carvalho usada para fabricar as barricas para vinho (Tate, 2001; Renner, 1989; Schultz, 2000; McInnes et al., 2003).
Conforme já abordado na secção sobre aptidão climática, a escala mais alargada de aptidão global para a viticultura mostra que as zonas consideradas óptimas se encontram entre as isotérmicas de 10-‐20°C, valores relativos à temperatura média anual (de Blij, 1983; Johnson, 1985), ou entre as isotérmicas de 12-‐22°C para o ciclo vegetativo (Gladstones, 2004; Jones, 2006).
Para analisar estes limites latitudinais globais de aptidão para viticultura devido ao clima, Jones (2007) usou dados do CCSM (Community Climate System Model) com uma resolução latitude/longitude de 1,4°x1,4° e os cenários de emissões B1 (moderado), A1B (médio) e A2 (elevado) para representar as deslocações das isotérmicas de 12-‐22°C para três períodos – 2000, 2050 e 2100. Alterações do período base de 2000 mostram simultaneamente mudanças na
quantidade de área apta para viticultura e uma deslocação latitudinal geral em direcção aos Polos. Em 2050, as isotérmicas de 12°C e 22°C terão avançado 150-‐300 km em direcção aos Polos em ambos os hemisférios dependendo do cenário de emissões (não apresentado). Em 2100, as mesmas isotérmicas terão avançado mais 125-‐250 km na mesma direcção (ver Figura 4 para o cenário médio A1B). As deslocações são marginalmente maiores na orla polar do que na orla
equatorial em ambos os hemisférios. No entanto, a área relativa de massa terrestre que se encaixa entre as isotérmicas nos vários continentes aumenta ligeiramente no Hemisfério Norte, reduzindo no Hemisfério Sul devido a diferenças de massa terrestre (Figura 4). Deslocações semelhantes são observadas em 2100 para todos os cenários de emissões (não apresentado).
Figura 4: Alterações nas zonas climáticas globais para viticultura entre 2000 e 2100. Os dados climáticos provêem do
CCSM (Community Climate System Model) do National Center for Atmospheric Research para dados observados
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(2000) e um A1B (cenário médio). As regiões vinícolas derivam de delimitações definidas pelas entidades dos diversos
países (por ex., as "American Viticultural Areas” nos Estados Unidos, “Geographical Indications” na Austrália e no
Brasil, e “Wine of Origin” na África do Sul) ou são áreas de cultivo da vinha identificadas por detecção remota (por ex.,
“Corine Land Cover” para a Europa) ou por imagens aéreas (por ex., Canadá, Chile, Argentina e Nova Zelândia). As
zonas climáticas globais são determinadas pelas temperaturas médias de 12-‐22°C no ciclo vegetativo (Abr -‐ Out no
Hemisfério Norte e Out -‐ Abr no Hemisfério Sul).
Usando dados do modelo climático do Hadley Centre (HadCM3) e um cenário de emissões A2 para 2049 para 27 das melhores regiões produtoras de vinho do mundo, Jones et al. (2005a) compararam os climas médios de dois períodos: 1950-‐1999 e 2000-‐2049. Os resultados sugerem que as temperaturas médias no ciclo vegetativo poderão aumentar em média 1,3°C nas regiões
vinícolas estudadas, com regiões prestigiadas como as da Borgonha (Beaujolais), Vale do Reno, Barolo e Bordéus potencialmente a registarem um aquecimento a variar entre 0,9 e 1,4°C. As alterações estimadas são também maiores para o Hemisfério Norte (1,3°C) do que para o Hemisfério Sul (0,9°C). Analisando a taxa de alterações prevista para o período 2000-‐2049, surgem alterações significativas em cada região vinícola com tendências entre 0,2°C a 0,6°C por década.
As tendências gerais durante o período 2000-‐2049 apontam para uma média de 2°C em todas as regiões, com o menor aquecimento a ocorrer na África do Sul (0,9°C/50 anos) e o maior a ter lugar em Portugal (2,9°C/50 anos). Para além disso, Jones et al. (2005a) mostraram que muitas das regiões vinícolas poderão estar na sua temperatura óptima de ciclo vegetativo (ou perto dela) para uma produção de vinho de alta qualidade, e que novos aumentos, conforme previsto pelas
diferenças entre as médias dos períodos 1950-‐1999 e 2000-‐2049, irão colocar algumas regiões fora do seu clima óptimo teórico no ciclo vegetativo. A magnitude destas alterações médias ao nível do ciclo vegetativo indica potenciais mudanças nos tipos de clima de maturação para muitas regiões num determinado limiar de potencial de amadurecimento (ou perto dele) para as castas actualmente cultivadas nessa região.
Para os Estados Unidos globalmente considerados, White et al. (2006) usaram um modelo
climático regional de alta resolução (25 km) compelido por um cenário de emissões de gases com efeito de estufa A2 do IPCC e estimaram que a potencial área premium para a produção de uvas para vinho nos Estados Unidos (excluindo Alasca e Havai) poderá ter diminuído em até 81% no final do século XXI. Esta investigação concluiu que aumentos na acumulação de calor irão possivelmente alterar a produção de vinho para castas mais adaptadas a climas quentes e/ou
gerar vinhos de menor qualidade. Adicionalmente, os modelos mostram que embora os problemas com a geada se vejam reduzidos, aumentos na frequência de dias extremamente quentes (>35°C) no ciclo vegetativo poderão comprometer gravemente ou eliminar por completo a produção de uvas para vinho em muitas áreas dos Estados Unidos. Acresce que a produção de uvas e de vinho ficará provavelmente restrita a uma estreita região da costa oeste e ao noroeste e nordeste, áreas onde a humidade excessiva já é problemática (White et al., 2006).
Outros estudos de carácter regional na Europa (Kenny e Harrison, 1992; Butterfield et al.,
2000; Stock et al., 2005), na Austrália (McInnes et al., 2003; Webb et al., 2005; Hall e Jones, 2009) e na África do Sul (Carter, 2006) debruçaram-‐se sobre as alterações climáticas servindo-‐se de outras abordagens de modelação, tendo no entanto obtido resultados semelhantes aos atrás
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descritos. Olhando para as alterações no Índice de Huglin de aptidão para a viticultura na Europa, Stock (2005) aponta acréscimos de 100-‐600 unidades que resultam em deslocações latitudinais de larga escala, com novas áreas nas orlas a norte a tornarem-‐se viáveis, alterações na aptidão
varietal nas regiões existentes e regiões a sul a tornarem-‐se de tal forma quentes que a aptidão global se vê comprometida. No caso da Espanha, de Castro et al. (2005) analisaram vários cenários de emissões visando definir limites inferiores e superiores para as alterações a nível de temperatura e precipitação e encontraram tendências de 0,4-‐0,7°C por década, com um aquecimento mais acentuado no verão do que no inverno. Globalmente, as alterações resultam
num aquecimento que, em 2100, variará entre 5-‐7°C nas regiões do interior e 3-‐5°C junto à costa. Concomitantemente com estas projecções de temperatura, de Castro et al. (2005) mostram primaveras e verões muito mais secos e uma menor precipitação anual, que será espacialmente menos homogénea por toda a Espanha do que acontece com a temperatura, Complementarmente, com o intuito de analisar as respostas da videira às alterações climáticas,
Lebon (2002) socorreu-‐se de dados de modelos para mostrar que o início do amadurecimento (pintor) da casta Syrah no sul de França iria, com um aquecimento de 2°C, passar da segunda semana de Agosto actualmente para a terceira semana de Julho e, com um aquecimento de 4°C, para a primeira semana de Julho. Simultaneamente, este estudo concluiu que um aquecimento
significativo durante a maturação e especialmente à noite iria ter um efeito negativo no desenvolvimento de aromas e cor, acabando por afectar a tipicidade do vinho.
Na Austrália, Webb et al. (2005) analisaram cenários de alterações climáticas para a viticultura, concluindo que as temperaturas em 2070 deverão aumentar em 1,0-‐6,0°C no país, com um acréscimo no número de dias quentes e um decréscimo no risco de geadas. Já a nível de precipitação, as alterações apresentam-‐se mais variáveis, manifestando-‐se todavia numa maior necessidade de irrigação durante o ciclo vegetativo. As alterações projectadas para a Austrália
associam os padrões de temperatura futuros a uma redução na qualidade do vinho, com as deslocalizações para sul e para a costa em termos de regiões produtoras a assumirem-‐se como a alternativa mais provável à manutenção da viabilidade. Hall e Jones (2009) utilizaram métodos de modelação de climas no ciclo vegetativo para a Austrália, tendo concluído que 8 das 61 regiões vinícolas reconhecidas no país apresentariam em 2030 um clima mais quente do que o limiar de
temperatura conhecido para o ciclo vegetativo em termos de aptidão, passando a 12 em 2050 e 21 em 2070, na ausência de novas medidas de adaptação. Na África do Sul, projecções regionais de subida das temperaturas e descida da precipitação demonstram que tal colocará sob pressão extra quer o desenvolvimento fenológico da videira, quer os necessários recursos hídricos para
irrigação e produção (Carter, 2006). Esta investigação aponta para o facto da actividade vitícola na África do Sul se vir a tornar tendencialmente mais arriscada e dispendiosa, o que terá muito provavelmente como consequência uma alteração das práticas de gestão para lidar com os cada vez mais limitados recursos hídricos. O autor faz notar que a situação será susceptível de agravar outras questões de ordem económica, tais como aumentos no preço do vinho, uma redução no
número de viticultores e a necessidade de implementar estratégias de adaptação onerosas e ainda não estudadas (Carter, 2006). No seu conjunto, estes estudos, e os outros previamente abordados, indicam que os desafios que a indústria vinícola enfrenta incluem um
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desenvolvimento fenológico mais acelerado, alterações nos locais propícios para algumas castas, uma redução na janela temporal considerada ideal para a vindima no caso dos vinhos de alta qualidade e uma melhor gestão dos já escassos recursos hídricos.
A REGIÃO DEMARCADA DO DOURO
Portugal é o 10º maior produtor mundial de vinho (FAO, 2010), com cultivo da vinha em
mais de 30 regiões vinícolas com denominações de origem diferentes. Indiscutivelmente, a mais conhecida destas regiões vinícolas é a Região Demarcada do Douro (Figura 5), onde as paisagens, física e cultural possuem gravados quase 2000 anos de produção de vinho. Sendo a mais antiga região vinícola demarcada e regulamentada do mundo, desde o ano de 1756, o Vale do Douro ganhou notoriedade graças à qualidade do seu principal produto: o Vinho do Porto. No entanto, a
região é actualmente também reconhecida pela qualidade dos vinhos tranquilos que produz. A Região Demarcada do Douro abrange cerca de 252.000 hectares, com a área de vinha a representar aproximadamente 45.600 hectares ou 18% da área de solo total (Tabela 1). A região produz os clássicos Vinhos do Porto (aproximadamente 45% da produção) e também vinhos com denominação Douro (35%), dos quais 78% de castas tintas e 22% de castas brancas, autóctones da região e/ou de Portugal.
Figura 5: Portugal e a Região Demarcada do Douro.
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A Região Demarcada do Douro é composta por três sub-‐regiões: o Baixo Corgo, o Cima Corgo e o Douro Superior (Figura 6; Tabela 1). A parte mais oeste da região fica a aproximadamente 70 km da costa e as partes mais a este, fazem fronteira com Espanha. O Baixo
Corgo abrange a área mais pequena, seguida do Cima Corgo e por fim do Douro Superior, a sub-‐região de maior dimensão. A paisagem é caracterizada por terreno montanhoso que se ergue a partir do rio Douro em encostas de declive moderado a escarpado e exposições variadas. A altitude média de toda a região é 443 m, mas varia de quase 40 m a um pouco acima de 1400 m. A área de maior altitude situa-‐se ao longo da cadeia montanhosa do Marão, que proporciona um moderado efeito de barreira das precipitações provenientes do Atlântico.
Figura 6: A topografia da Região Demarcada do Douro. Inclui um mapa de localização da região em Portugal. Fonte: IVDP (2011).
Tabela 1: Relação de áreas e altitudes para a Região Demarcada do Douro e suas três sub-‐regiões. Fonte: Modelo Digital de Altitude 10m (IVDP).
Altitude (m) Área Área (ha)
Média Desv padrão
Máximo Mínimo Dif
Toda a Região 251.898 443 175,2 1408 42 1366
Baixo Corgo 39.624 412 203,6 1408 42 1366
Cima Corgo 92.109 482 176,1 964 51 913
Douro Superior 120.165 423 158,3 887 102 785
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O clima da Região Demarcada do Douro é mediterrânico, sendo caracterizado por uma forte consistência interanual de insolação total, temperatura e evapotranspiração potencial, e uma significativa variação interanual da precipitação (ADVID, 2007). Na Região Demarcada do Douro, como na maioria das regiões de clima mediterrânico, a alta variabilidade na precipitação,
aliada a uma elevada evapotranspiração durante o período de verão, é normalmente um dos principais factores limitadores do desenvolvimento da videira, bem como da produção e qualidade da vindima (Sotés, 2001). No caso da região vinícola do Douro, as videiras estão sujeitas a um elevado défice hídrico potencial, em que a diferença entre a evapotranspiração e a
precipitação pode chegar aos 730-‐750 mm no período que medeia o abrolhamento e a vindima (Malheiro et al., 2007). No entanto, é de salientar que uma parte importante da área geográfica do Douro regista regimes de precipitação baixos (33% da área apresenta menos de 600 mm). Para além disso, a probabilidade de ocorrência de um ano seco é geralmente maior do que a de anos com precipitação acima da média. Segundo Schultz (2000), esta limitação pode ver-‐se agravada no
futuro, uma vez que os cenários de alterações climáticas mostram uma potencial redução das condições hídricas do solo em até 70%, o que provavelmente reduziria o rendimento em países do sul da Europa, particularmente a Península Ibérica (Stigliani e Salomons, 1992).
Pelos argumentos expostos, a viticultura na Região Demarcada do Douro é praticada, numa parte considerável do seu território, sob condições moderadas a muito severas, sobretudo quando se associa clima e topografia. Deste modo, perante um cenário de alterações na temperatura para os próximos 50 anos de 1,5-‐2,5°C, e confirmando-‐se as previsões de menor
precipitação e/ou grande variabilidade na ocorrência de fenómenos de vagas de calor ou de intensa precipitação, tal terá consequências para a estabilidade da vinha na encosta e sustentabilidade de todas as operações envolvidas (Schultz, 2000; Jones et al., 2005). Com base nos trabalhos realizados noutras regiões vinícolas de todo o mundo, o impacto de cenários de
alteração climática na produção e qualidade dos vinhos terá resultados distintos de acordo com as características de cada sub-‐região, sua localização e a capacidade de adaptação das castas utilizadas e dos próprios viticultores/produtores (Jones et al., 2005). Poderá ser porventura benéfico para algumas regiões tradicionalmente produtoras de vinhos brancos, ou permitir a sua produção em zonas onde não se faz tradicionalmente o cultivo da vinha, mas as alterações
poderão ser condicionadoras para regiões onde tradicionalmente se obtêm vinhos tintos de elevado potencial qualitativo. A evolução destes cenários condicionará a tomada de decisões quanto a localização de vinhas, escolha do material vegetativo, itinerários técnicos a seguir e definição do estilo de vinho a produzir, pelo que se torna urgente o exercício de uma reflexão sobre a vulnerabilidade da Região Demarcada do Douro face a mudanças no clima e maximizar a capacidade de reacção da fileira vinícola.
Embora já se conheça de forma bastante aprofundada o clima da Região Demarcada do
Douro, permanece por fazer uma análise integrada do clima histórico, contemporâneo e futuro na região. Como tal, este trabalho toma como objectivos estudar as condições climáticas históricas na Região Demarcada do Douro, obter um melhor entendimento da aptidão regional do clima
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para a viticultura, analisar a frequência e tendências em termos de índices climáticos, extremos atmosféricos/climáticos e mecanismos de variabilidade climática regional, e representar/sintetizar as alterações previstas para a região.
DADOS E MÉTODOS Embora se conheça genericamente o clima da Região Demarcada do Douro, a criação de
um banco de dados completo, de alta qualidade e longo prazo para a região a partir de uma estação meteorológica tem conhecido limitações quer em termos espaciais, quer temporais. Por esse motivo, esta avaliação do clima serve-‐se dos melhores dados disponíveis de três tipos principais: 1) normais climatológicas históricas; 2) estações meteorológicas na Região Demarcada do Douro; e 3) dados climáticos espaciais, para registos passados e futuros do clima. Para além
disso, a avaliação inclui uma análise das relações entre os controlos de circulação atmosférica locais de larga escala e a variabilidade climática na Região Demarcada do Douro.
NORMAIS CLIMATOLÓGICAS HISTÓRICAS
Os dados históricos mais relevantes para a região derivam das normais climatológicas desenvolvidas por Ferreira (1965). Os dados consistem em médias mensais de precipitação anual, temperatura máxima e mínima, humidade relativa, evapotranspiração e radiação solar para várias estações meteorológicas em Portugal. Estes dados foram digitalizados para contornos nacionais
(Figura 7) pelo Serviço Meteorológico Nacional, Direcção Geral do Ambiente, 1974, Edição Digital -‐ Instituto do Ambiente (2002). No entanto, a exactidão dos dados é limitada, no sentido em que os contornos generalizados não levam em consideração efeitos topográficos à escala local. Para além disso, os dados não foram actualizados de forma consistente, pelo que não foram criadas normais climatológicas futuras. Para esta avaliação, apenas foram considerados dados da precipitação, temperatura e evapotranspiração.
Para a Região Demarcada do Douro (dentro da sua fronteira e num raio de 25 km dela) existem 76 estações meteorológicas para precipitação e 57 para temperatura e evapotranspiração nos dados de Ferreira (1965) entre 1931-‐1960. Estas estações servirão nesta análise para quantificar a estrutura climática geral histórica na região, examinar a relação entre estas estações e outras especificidades locais, bem como validar outros dados climáticos utilizados na avaliação.
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Figura 7: Mapa da temperatura média das normais climatológicas de 1931-‐1960 desenvolvidas por Ferreira (1965) e digitalizadas para contornos nacionais pelo Instituto do Ambiente (2002).
ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS DA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO
Embora os dados das normais climatológicas 1931-‐1960 descritas acima nos forneçam uma razoável percepção das condições históricas em Portugal e na Região Demarcada do Douro, os dados actualmente obtidos de estações meteorológicas em Portugal estão limitados a apenas
algumas estações principais qualificadas (por ex. Lisboa, Porto, Bragança, Coimbra, Beja, Tavira, etc.). Estas estações dão-‐nos uma boa cobertura espacial geral para o país e estão disponíveis a partir de várias fontes (Instituto de Meteorologia, Portugal, European Climate Assessment & Dataset, e Instituto da Água, Portugal). Infelizmente, estações desta escala não têm utilidade para uma avaliação climática para a Região Demarcada do Douro. O Instituto de Meteorologia
português possui, ainda assim, três estações na região: Vila Real, Régua e Pinhão, que são
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utilizadas nesta avaliação para o período comum de disponibilidade de dados de 1967-‐2010. Outras estações meteorológicas na região, operadas pela ADVID e outros, possuem registos mais sintéticos que foram utilizados para controlo de qualidade.
Naturalmente, o controlo de qualidade é um aspecto importante na análise de dados de estações meteorológicas. Os dados climatológicos consistem nos registos de condições climáticas
observadas recolhidos em locais e momentos específicos com instrumentos próprios respeitando um conjunto de procedimentos padrão. Um conjunto de dados climatológicos contém, por isso, informação climática dos locais de observação, bem como de outros factores não directamente associados ao clima, tal como o ambiente da estação de observação, e informação sobre os
instrumentos e procedimentos de observação sob os quais os registos foram efectuados. Quando os dados são utilizados em análises climatológicas, parte-‐se do princípio de que os registos da estação são representativos das condições climáticas de uma região. Infelizmente, todavia, nem sempre pode ser considerado deste modo (Peterson et al., 1998). Relocalização da estação, mudança de instrumentos, questões de calibração, erros nos sistemas de registo, etc., podem
gerar problemas nos dados de uma dada estação meteorológica. Para eliminar potenciais problemas com dados das estações, foram desenvolvidas inúmeras ferramentas de gestão e/ou correcção. Esta avaliação climática usa uma dessas ferramentas, criada pela CCl/CLIVAR/JCOMM Expert Team (ET) on Climate Change Detection and Indices (ETCCDI). O principal objectivo desta ferramenta é verificar a homogeneidade dos dados e fazer o controlo de qualidade de valores
atípicos (valores irrealistas, pontos de dados errados, etc.). O objectivo da homogeneização de dados climatológicos é ajustar observações, se necessário, de modo a que as variações temporais nos dados ajustados sejam causadas apenas por processos climáticos. Encontramos uma análise fidedigna sobre a homogeneização de dados climatológicos em Peterson et al. (1998)
A CCl/CLIVAR/JCOMM Expert Team (ET) on Climate Change Detection and Indices (ETCCDI) desenvolveu, também uma série de índices que visam a compreensão do comportamento do
clima numa determinada estação (Karl et al., 1999; Wang et al., 2003; Peterson, 2005). Embora importante, a análise das condições climáticas médias poderá não ser tão crítica quanto a compreender a alteração na frequência ou gravidade de eventos climáticos extremos. No entanto, praticamente não existia uma estandardização de índices apropriados para a obtenção de um cenário global das condições e tendências até a ETCCDI ter desenvolvido uma série de 27 índices
básicos (Tabela 2). Estes índices fornecem uma estrutura comum que possibilita a avaliação da frequência ou gravidade de fenómenos climáticos extremos em todo o mundo. Como tal, os 27 índices foram calculados para Vila Real, Régua e Pinhão para o período 1967-‐2010 após a devida avaliação de controlo de qualidade e homogeneização dos dados.
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Tabela 2: Nome do indicador, identificação (ID), definições e unidades para os 27 índices climáticos básicos utilizados na avaliação da Região Demarcada do Douro. Os índices foram originalmente desenvolvidos pela CCl/CLIVAR/JCOMM Expert Team (ET) on Climate Change Detection and Indices (ETCCDI). No Apêndice é fornecida uma descrição da forma como cada índice é calculado. ID Nome do indicador Definições Unidades FD0 Dias com geada Contabilização anual em que TN (mínimo diário)<0°C Dias SU25 Dias de verão Contabilização anual em que TX (máximo diário)>25°C Dias SU35 Dias de stress Contabilização anual em que TX (máximo diário)>35°C Dias TR20 Noites tropicais Contabilização anual em que TN (mínimo diário)>20°C Dias
GSL Duração do ciclo vegetativo
Contabilização anual (1 de Jan. a 31 de dez. em NH) entre o primeiro período de pelo menos 6 dias com TG>5°C e primeiro período após 1 de Julho (NH) de 6 dias com TG<5°C
Dias
TXx Max Tmax Valor máximo mensal de temperatura máxima diária °C TNx Max Tmin Valor máximo mensal de temperatura mínima diária °C TXn Min Tmax Valor mínimo mensal de temperatura máxima diária °C TNn Min Tmin Valor mínimo mensal de temperatura mínima diária °C TN10p Noites frias Percentagem de dias em que TN<percentil 10 Dias TX10p Dias frios Percentagem de dias em que TX<percentil 10 Dias TN90p Noites quentes Percentagem de dias em que TN>percentil 90 Dias TX90p Dias quentes Percentagem de dias em que TX>percentil 90 Dias
WSDI Indicador de duração de ondas de calor
Contabilização anual de dias com pelo menos 6 dias consecutivos em que TX>percentil 90
Dias
CSDI Indicador de duração de ondas de frio
Contabilização anual de dias com pelo menos 6 dias consecutivos em que TN<percentil 10
Dias
DTR Amplitude térmica diurna
Diferença média mensal entre TX e TN °C
RX1day Quantidade de precipitação máxima em 1 dia
Precipitação máxima mensal em 1 dia mm
Rx5day Quantidade de precipitação máxima em 5 dias
Precipitação máxima mensal em 5 dias consecutivos mm
SDII Índice de intensidade diária simples
Precipitação anual total dividida pelo número de dias de chuva (definida como PRCP> =1,0mm) no ano
mm/dia
R10 Número de dias com precipitação forte
Contabilização anual de dias em que PRCP> =10mm Dias
R20 Número de dias com precipitação muito forte
Contabilização anual de dias em que PRCP> =20mm Dias
Rnn Número de dias acima de nn mm
Contabilização anual de dias em que PRCP> =nn mm, nn é o limiar definido pelo utilizador
Dias
CDD Dias secos consecutivos Número máximo de dias consecutivos com RR<1mm Dias
CWD Dias húmidos consecutivos
Número máximo de dias consecutivos com RR> =1mm Dias
R95p Dias muito húmidos PRCP anual total em que RR>percentil 95 mm
R99p Dias extremamente húmidos
PRCP anual total em que RR>percentil 99 mm
PRCPTOT Precipitação anual total em dias húmidos
PRCP anual total em dias húmidos (RR> =1mm) mm
CIRCULAÇÃO REGIONAL E PADRÕES METEOROLÓGICOS
As grandes alterações meteorológicas sazonais e diárias verificadas nas latitudes médias estão relacionadas com alterações na circulação atmosférica e na predominância de massas de ar provenientes das regiões do Árctico, polares e subtropicais (Wallace e Gutzler, 1981, e outros).
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Tendo inúmeros estudos demonstrado que vários índices de teleconexão, como a Oscilação do Atlântico Norte, estão intimamente relacionados com o tempo e o clima na Europa e resto do mundo (Hurrell, 2003), a utilização de classificações de tipo de tempo (Santos et al., 2005) ou
sinópticas (Jones e Davis, 2000a) provou ser eficaz no estabelecimento de um calendário diário de eventos e suas relações com a agricultura regional. Dada a interligação entre massas de ar e a circulação da atmosfera, um estudo das frequências diárias de massas de ar e dos vários padrões de circulação que controlam os seus movimentos seria útil para compreender as influências no clima da Região Demarcada do Douro. Para realizar esta vertente da avaliação climática da Região
Demarcada do Douro, este estudo recorre a uma actualização recente do estudo de Santos et al. (2005). Trata-‐se da actualização de dados de Reanálise NCEP/NCAR de 1948-‐2011 para classificar os padrões meteorológicos existentes em Portugal. Os padrões meteorológicos são criados a partir de anomalias médias diárias da pressão atmosférica ao nível do mar nas coordenadas 30°W-‐20°E -‐ 25-‐65°N sobre o Atlântico Este, Europa Ocidental e o Mediterrâneo. Os padrões
meteorológicos são formados por meio de um processo bietápico em que a pressão atmosférica ao nível do mar é alvo de uma Análise de Componentes Principais (ACP) em que os componentes principais resultantes são agrupados usando o método de agrupamento K-‐médias. Os resultados são seis padrões meteorológicos: anticiclone (A), crista de altas pressões (R), fluxo de noroeste
(NW), fluxo de este (E), anticiclone dos Açores e Europa (AA, dois anticiclones) e ciclone (C), que estão globalmente de acordo com estudos anteriores (Santos et al., 2005). No período 1948-‐2011 cada dia foi classificado segundo um destes seis padrões meteorológicos, resultando num calendário que pretende estabelecer a estrutura sazonal e anual da circulação regional e analisar os seus efeitos na variabilidade climática local.
CLIMA ESPACIAL: HISTÓRICO
Esta avaliação climática para a Região Demarcada do Douro utiliza também uma base de
dados global chamada “WorldClim” desenvolvida por Hijmans et al. (2005). Os dados da WorldClim foram compilados com recurso a informação de várias fontes (por ex., GHCN, WMO, FAOCLIM, etc.), sendo as estações interpoladas utilizando um algoritmo “thin-‐plate smoothing spline” implementado no software para interpolação ANUSPLIN (Hutchinson, 2004) tendo a latitude, longitude e altitude como variáveis independentes. Os dados recolhidos pela estação são
interpolados a 30 segundos de arco de resolução espacial, o que equivale a cerca de 0,86 km2 no equador e menos nas restantes latitudes, mas está próximo de 1 km numa zona de latitude média como é Portugal. O conjunto de dados matriciais fornece temperaturas máximas, temperaturas mínimas e precipitação mensais para o período 1950-‐2000, representando a maior resolução disponível à escala global para análises climáticas espaciais.
Os dados da WorldClim foram igualmente meticulosamente analisados quanto a questões de incerteza, tais como as que decorrem dos dados recolhidos nas estações meteorológicas e da
rotina de interpolação (Hijmans et al., 2005). Isto foi feito por meio de um mapeamento da densidade das estações, condicionalismos relativos às altitudes a que se encontram estas estações, variação de altitude nas células da grelha e através da partição de dados e validação cruzada. Os resultados mostraram que os condicionalismos de altitude das estações eram
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tendencialmente negativos (as estações encontravam-‐se a cotas mais baixas do que o esperado) em latitudes elevadas, mas positivos nos trópicos. Regra geral, concluiu-‐se que a incerteza era maior em áreas muito montanhosas e naquelas com baixa densidade de estações. Para além
disso, a partição de dados mostrou elevada incerteza das superfícies matriciais em ilhas isoladas, por ex. no Pacífico. Uma comparação com um conjunto de dados existente com uma resolução de 10 min de arco mostrou globalmente uma concordância, mas com variação significativa em algumas regiões (New et al., 2002). Uma comparação com dois conjuntos de dados de alta resolução para os Estados Unidos (Daymet e PRISM) identificou ainda áreas com grandes
diferenças locais, particularmente em regiões muito montanhosas (Thornton et al., 1997; Daly et al., 2002). No entanto, comparativamente a bases de dados globais desenvolvidas anteriormente, a WordClim tem as seguintes vantagens: 1) os dados possuem uma maior resolução espacial (400 vezes maior ou mais), 2) inclui mais registos de estações meteorológicas, 3) utiliza dados melhorados no que toca a altitudes e 4) documenta de forma mais extensa os padrões espaciais de incerteza nos dados.
Com vista a assegurar a precisão e aplicação dos dados da WorldClim, os mesmos são comparados com a rede de 57 estações para as normais climatológicas de 1931-‐1960 descritas acima. É aplicada uma correlação espacial entre os dois conjuntos de dados (estações comparadas com grelhas) para avaliar a sua correspondência. Adicionalmente, os dados da WorldClim são também comparados com dados das estações de Vila Real, Régua e Pinhão para o período 1967-‐
2010. Embora estes três conjuntos de dados digam respeito a períodos ligeiramente diferentes, as suas relações deverão permanecer estáveis ao longo do tempo, resultando numa elevada correlação entre os valores das estações e das grelhas, o que valida a relevância da sua utilização numa avaliação de carácter regional como é o caso desta para a Região Demarcada do Douro.
CLIMA ESPACIAL: PROJECÇÕES FUTURAS
A análise das potenciais alterações climáticas futuras é geralmente realizada com recurso a Modelos de Circulação Geral (GCMs na sigla inglesa). Os GCMs são representações dos processos
físicos que ocorrem na atmosfera, oceano, massas de gelo polares e superfícies terrestres, constituindo as mais avançadas ferramentas actualmente existentes para simular a resposta do sistema climático global a maiores concentrações de gases de estufa e outras alterações biofísicas no sistema terra-‐atmosfera. Os GCMs ilustram o clima por meio de uma grelha tridimensional do globo, geralmente com uma resolução horizontal entre 250 e 600 km, 10 a 20 camadas verticais
na atmosfera e por vezes até 30 camadas nos oceanos. No entanto, as escalas espaciais disponíveis nos GCMs não são práticas para avaliar paisagens agrícolas, particularmente quando as condições orográficas e climáticas variam de forma significativa ao longo de distâncias relativamente pequenas, como acontece na Região Demarcada do Douro. Sendo embora muito úteis para abordagens de carácter geral, as projecções climáticas futuras de larga escala
apresentam limitações para interpretações mais precisas dos efeitos do clima e cenários futuros na qualidade do vinho, especialmente numa região com uma tal variação topográfica, climática e de uso do solo como a Região Demarcada do Douro.
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Os dados de modelos climáticos (GCM) futuros provêm normalmente de muitas fontes (por ex. o Hadley Centre em Inglaterra ou o Intergovernamental Panel on Climate Change [IPCC], mas abrangem geralmente uma única grelha de 2,5° x 2,5° de latitude/longitude a representar
Portugal inteiro. Até as melhores resoluções de GCM em grelhas de 0,5° x 0,5° de latitude/longitude continuam a ser sobredimensionadas, frequentemente não caracterizando adequadamente áreas heterogéneas. Para representar adequadamente uma região vinícola como o Douro são necessários modelos regionais obtidos por meio de uma redução de escala espacial (Moriondo e Bindi, 2004; Jones et al., 2005) para facilitar as devidas avaliações a uma escala de
25-‐50 km ou menos. Com vista a analisar as condições climáticas futuras na Região Demarcada do Douro, esta avaliação serve-‐se de conjuntos de dados desenvolvidos pelo programa “Decision and Policy Analysis” (DAPA) do International Centre for Tropical Agriculture’s (CIAT). Os dados foram originalmente obtidos através do portal de dados do IPCC e reprocessados com recurso a um algoritmo de interpolação “spline” das anomalias e à actual distribuição de climas da base de dados WorldClim desenvolvida por Hijmans et al. (2005).
Estes dados representam GCMs do 4º “IPCC Assessment Reports” (IPCC, 2007) reduzidos à mesma escala da grelha WorldClim atrás descrita (cerca de 1 km para Portugal). O método assume que as geografias das mudanças que se possam verificar nos climas não variam muito à escala regional e que as relações entre as diferentes variáveis permanecerão basicamente as mesmas no futuro. As novas superfícies climáticas são assim geradas utilizando uma abordagem
empírica de redução de escala, em vez de reformular os padrões climáticos usando um modelo climático regional (RCM na sigla inglesa). O método de redução de escala espacial tem por base uma interpolação espacial “thin plate spline” de anomalias de dados originais de GCMs. As anomalias são interpoladas entre centróides de células do GCM, sendo então aplicadas ao clima de base para o período 1950-‐2000 do WordlClim (Hijmans et al., 2005). Para esta avaliação, três
períodos futuros (2020, 2050 e 2080) para três cenários de emissões de gases de estufa (B2, A1B e A2), utilizando o modelo HADCM3, são comparados com as condições históricas (1950-‐2000). Estes cenários de emissões representam uma camada da população e crescimento económico, eficiências distintas em termos de tecnologias, e a estrutura social entre países e regiões. O cenário B2 representa condições de população em crescimento contínuo, níveis de
desenvolvimento económico e mudança tecnológica intermédios, e um mundo mais dividido mas com menos necessidades energéticas. O cenário A1B representa um mundo mais integrado com rápido crescimento económico, uma população global que atinge o seu pico em 2050 e inicia então um decréscimo gradual, uma rápida difusão de tecnologias novas e eficientes, bem como
vastas interacções a nível social e cultural, o que confere uma ênfase equilibrada a todas as fontes de energia. O cenário A2 é o de um mundo mais dividido com desenvolvimento económico de âmbito regional, impulsionado por uma população em crescimento contínuo que dispõe de menos fontes de energia e apresenta elevadas necessidades energéticas.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
NORMAIS CLIMATOLÓGICAS HISTÓRICAS
Para o período de normais climatológicas 1931-‐1960, as estações que representam a Região Demarcada do Douro mostram uma estrutura climática relativamente heterogénea, globalmente com áreas mais húmidas e frias a oeste e a maior altitude, e áreas mais secas e quentes a este (Figuras 6, 8 e 9). As estações apresentam-‐se a uma altitude média de 487 m,
variando no entanto entre os 65 m na Régua e os 940 m em Penedono. Estão localizadas desde aproximadamente 60 km da costa em Barqueiros até mais de 160 km em Fornos de Lagoaça. Em termos de precipitação anual, as 76 estações variam dos 385 mm em Barca d’Alva aos 1953 mm em Lamas de Alvadia, apresentando um valor de mediana de 694 mm (Tabela 3). Durante o repouso vegetativo, de Novembro a Março, a precipitação mediana é de 442 mm, variando mais
de 1000 mm entre a localização mais seca (218 mm) e a mais húmida (1223 mm; mesmas estações usadas para a precipitação anual). Já durante o ciclo vegetativo (Abr -‐ Out), a precipitação mediana é de 257 mm, com um mínimo de 162 mm em Freixo de Numão e um máximo de 730 mm registado em Lamas de Alvadia. No período 1931-‐1960, nestas estações meteorológicas a precipitação foi em média de 64% no inverno e 36% no ciclo vegetativo em termos de precipitação anual.
As temperaturas médias anuais nas 57 estações durante 1931-‐1960 apresentaram um
valor de mediana de 14,3°C, com uma variação de 5,4 graus, dos 11,4°C em Castanheiro do Sul aos 16,8°C no Vesúvio (Tabela 3). Os padrões gerais de temperaturas anuais nesta região mostram que as zonas mais quentes situam-‐se geralmente a mais baixa altitude ao longo da bacia do principal curso fluvial e para este (Figura 9).
Tabela 3: Resumo estatístico das normais climatológicas de 1931-‐1960 para as estações da Região Demarcada do Douro. Para cada variável são apresentados valores anuais, do ciclo vegetativo (Abr -‐ Out) e do repouso vegetativo (Nov -‐ Mar) para 76 estações no caso da precipitação e 57 estações no caso das temperaturas e evapotranspiração.
Variável Período Média Mediana Desv. padrão
Máx. Mín. Dif.
Anual 794 694 311 1953 385 1568
Ciclo vegetativo (Abr-‐Out) 287 257 96 730 162 568 Precipitação (mm)
Repouso vegetativo (Nov-‐Mar) 506 442 218 1223 218 1005
Anual 14,3 14,3 1,3 16,8 11,4 5,4
Ciclo vegetativo (Abr -‐Out) 18,7 18,7 1,5 21,8 15,3 6,5 Temperatura média (°C)
Repouso vegetativo (Nov-‐Mar) 8,1 8,2 1,1 10,0 5,1 4,9
Anual 20,7 20,5 1,7 24,1 16,6 7,5
Ciclo vegetativo (Abr-‐Out) 26,3 26,1 2,0 30,3 22,4 7,9 Temperatura máxima (°C)
Repouso vegetativo (Nov-‐Mar) 12.8 12.6 1.5 15.4 8.4 7.0
Anual 7,9 7,9 1,2 10,5 5,0 5,4
Ciclo vegetativo (Abr-‐Out) 11,2 11,0 1,3 14,2 7,8 6,3 Temperatura mínima (°C)
Repouso vegetativo (Nov-‐Mar) 3,4 3,4 1,1 6,0 1,1 4,9
Anual 781 777 56 917 673 244
Ciclo vegetativo (Abr-‐Out) 677 675 55 814 575 239 Evapotranspiração (mm)
Repouso vegetativo (Nov-‐Mar) 104 103 9 127 79 48
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Figura 8: Distribuição da precipitação anual medida no Douro, período de 1931-‐1960, escala 1:1.000.000. Serviço
Meteorológico Nacional, Direcção Geral do Ambiente, 1974, Edição Digital -‐ Instituto do Ambiente, 2002. Carta
Administrativa Oficial de Portugal, escala 1:250.000, Instituto Geográfico Português (2004).
As temperaturas médias no repouso vegetativo variam igualmente em quase 5 graus, com o valor mais baixo em Castanheiro do Sul (5,1°C) e o mais alto no Pinhão (10°C). Durante o ciclo
vegetativo, as temperaturas médias são mais elevadas no Vesúvio, atingindo os 21,8°C, e mais baixas em Moimenta da Beira (15,3°C). As temperaturas máximas anuais revelam uma estrutura e características semelhantes, com Castanheiro do Sul a apresentar o valor mais baixo, e Ribalonga o mais elevado durante todos os períodos (Tabela 3). Durante 1931-‐1960, no ciclo vegetativo, a diferença entre as temperaturas máximas médias foi de quase 8 graus, variando entre 22,4 e
30,3°C. No mês mais quente do ano, Agosto, os valores máximos atingem os 37,0°C em Ribalonga (Figura 10). As temperaturas mínimas anuais registam uma média de 7,9°C e não apresentam uma variação tão acentuada de estação para estação quanto as temperaturas máximas, ficando compreendidas entre o valor mais baixo, de 5,0°C, em Moimenta Beira e o valor mais alto, de
10,5°C, em Moncorvo (Tabela 3). Os valores mais baixos no inverno perfazem uma média de 3,4°C, com o registo mais baixo a ocorrer em Chavães (1,1°C) e o mais alto em Barqueiros (6,0°C), enquanto as temperaturas mínimas no ciclo vegetativo variam entre os 7,8°C de Moimenta da Beira e os 14,2°C de Moncorvo.
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Figura 9: Temperatura média anual no Douro, com base na média das séries para 1931-‐1960, escala 1:1.000.000
(Adaptado de Ferreira, 1965), versão digital, gentilmente cedido por Vicente Sousa (UTAD) Carta Administrativa
Oficial de Portugal, escala 1:250.000, Instituto Geográfico Português (2004).
Figura 10: Temperatura média no ciclo vegetativo (ciclo vegetativo – a verde) e temperatura máxima média em
Agosto (a vermelho) para o Douro, com base na média das séries para 1931-‐1960. Fonte: Ferreira, 1965.
À semelhança da estrutura e características a nível de temperaturas e precipitação, as taxas de evapotranspiração (ET) ao longo da Região Demarcada do Douro revelam uma grande
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heterogeneidade. O valor da mediana de ET anual nas estações é de 777 mm, ligeiramente superior à mediana da precipitação anual (Tabela 3). Durante o ciclo vegetativo, quando as taxas de ET determinam em larga medida o stress hídrico do solo, a mediana da taxa de ET é 675 mm,
mais de 250% da mediana dos dados de precipitação durante o período vegetativo da videira. O valor de ET mais elevado no ciclo vegetativo foi registado no Vesúvio (917 mm), tendo o mais baixo ocorrido em Moimenta da Beira (575 mm).
ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS DA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO
Na Região Demarcada do Douro existem três estações meteorológicas com registos razoavelmente extensos de dados de boa qualidade: Régua, Pinhão e Vila Real (Figuras 11-‐16). Os registos diários de temperaturas máximas e mínimas e precipitação para o período 1967-‐2010
foram sujeitos a um minucioso controlo de qualidade para análise de valores atípicos, avaliação de dados em falta e análise de homogeneidade (relocalização ou mudanças ao nível das estações) utilizando ferramentas da CCl/CLIVAR/JCOMM Expert Team (ET) on Climate Change Detection and Indices (ETCCDI). Foram encontrados alguns dados atípicos (< 0,1% da totalidade dos dados) nas séries temporais de cada estação, tratando-‐se na sua maioria de valores irrealistas (pontos de
dados errados), tendo os mesmos sido ajustados quer manualmente, quando o erro se revelou óbvio (valores invertidos), quer efectuando uma média de +/-‐ três dias a partir do ponto de dados. Os dados em falta limitaram-‐se a menos de 1% no período em análise (Figuras 11-‐16) e sempre que os dados apresentaram dois ou menos dias em falta, foram substituídos pela média de +/-‐ três dias a partir do ponto de dados. Em termos de pontos de mudança de dados, durante 1967-‐
2010 as estações de Vila Real e do Pinhão não evidenciaram sinais de falta de homogeneidade nos seus registos de dados de temperatura. A Régua, no entanto, apresentou um ponto de ruptura nas temperaturas mínimas (descida acentuada) durante 2003-‐04. Tal foi corrigido utilizando o método de ajuste “quantile-‐matching” e a estação de Vila Real como referência no procedimento de RHtests da ETCCDI (Wang, 2003).
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Figura 11: Séries temporais de, temperaturas máximas diárias (painel da esquerda) e temperaturas mínimas diárias (painel da direita), para a Régua no período 1967-‐2010.
Figura 12: Séries temporais, de precipitação diária, para a Régua no período 1967-‐2010. Os círculos vermelhos representam observações em falta.
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Figura 13: Séries temporais de, temperaturas máximas diárias (painel da esquerda) e temperaturas mínimas diárias (painel da direita), para o Pinhão no período 1967-‐2010. Os círculos vermelhos representam observações em falta.
Figura 14: Séries temporais de, precipitação diária para o Pinhão no período 1967-‐2010. Os círculos vermelhos representam observações em falta.
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Figura 15: Séries temporais de, temperaturas máximas diárias (painel da esquerda) e temperaturas mínimas diárias (painel da direita), para Vila Real no período 1967-‐2010.
Figura 16: Séries temporais de, precipitação diária para Vila Real no período 1967-‐2010.
Durante o período 1967-‐2010, a Régua apresentou uma média de 22,1°C em temos de temperatura máxima anual média e 10,1°C como temperatura mínima anual média. No mesmo período, o Pinhão foi ligeiramente mais frio no que toca a temperaturas, máxima (21,9°C) e
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mínima (10,0°C) anuais médias, comparativamente à Régua, enquanto Vila Real assinalou os valores mais baixos das três estações, com médias de 18,6°C e 8,3°C para as temperaturas, máxima e mínima anuais, respectivamente No que concerne a temperaturas máximas anuais, o
ano mais frio nas três estações foi o de 1993, com valores 2°C ou mais abaixo da média. Os anos mais quentes foram 1995 para a Régua, 1998 para o Pinhão e 1989 no caso de Vila Real. As temperaturas mínimas anuais mais baixas ocorreram durante 1970-‐80 em todas as estações, e as mais altas foram registadas em 1997 ou 2003. Durante o ciclo vegetativo (Abr -‐ Out), a Régua apresentou uma média de 26,8°C e 13,2°C para as temperaturas máxima e mínima,
respectivamente. O Pinhão foi ligeiramente mais quente do que a Régua simultaneamente em termos de temperaturas, máxima (27,1°C) e mínima (13,3°C), médias durante o ciclo vegetativo, enquanto Vila Real foi relativamente mais frio, com médias de 23,3°C e 11,3°C para as temperaturas, máxima e mínima, anuais, respectivamente. À semelhança das médias anuais, as temperaturas máximas mais baixas do ciclo vegetativo ocorreram em 1993 (2°C ou mais abaixo).
Os anos com as temperaturas máximas mais elevadas durante o ciclo vegetativo foram 2006 na Régua (28,7°C), 1995 no Pinhão (28,7°C) e 2010 em Vila Real (24,9°C). Em termos de temperaturas mínimas no ciclo vegetativo, 1974 cifrou-‐se como o ano mais frio nas três estações, enquanto 2003 ou 2006 registaram os valores mais elevados. Durante o repouso vegetativo, a Régua atingiu
uma média de 15,3°C nas temperaturas máximas, ao passo que o Pinhão se ficou pelos 14,6°C e Vila Real pelos 12,0°C (Tabela 4). Vila Real é a localização mais fria em termos de temperaturas mínimas durante o inverno, com uma média de 4,2°C, enquanto a Régua e o Pinhão registam uma média de 5,9°C e 5,4°C, respectivamente. Durante 1967-‐2010, as temperaturas mínimas mais baixas de inverno ocorreram durante os invernos de 1974-‐1976 em todas as estações; já as
temperaturas mais altas dizem respeito aos invernos de 1988-‐1990. As temperaturas máximas durante o inverno foram mais elevadas em 1997 tanto na Régua como no Pinhão, 1981 no caso de Vila Real, enquanto as máximas mais baixas foram observadas em 1990 no Pinhão e na Régua, 2004 no caso de Vila Real.
A evolução da temperatura nas três estações mostra que tanto as temperaturas máximas como as mínimas anuais subiram. As temperaturas máximas anuais médias aumentaram significativamente quer na Régua, quer no Pinhão, em 0,03°C ao ano ou 1,2-‐1,3°C ao longo do
período 1967-‐2010 (Tabela 5; Figura 17). Não obstante as temperaturas máximas anuais médias terem subido em Vila Real, as alterações não apresentaram significância estatística. As temperaturas mínimas anuais médias subiram significativamente nas três localizações a taxas anuais de 0,03-‐0,08°C, com o maior aquecimento, de 3,3°C, a verificar-‐se na Régua, seguido de
2,1°C e 1,3°C no Pinhão e em Vila Real, respectivamente. No ciclo vegetativo foram observadas alterações semelhantes, com a Régua e o Pinhão a aquecerem de forma significativa simultaneamente em termos de temperaturas máximas e mínimas, e Vila Real a mostrar uma tendência significativa apenas nas temperaturas mínimas (Tabela 5; Figura 17). As temperaturas máximas alterarem-‐se em 1,7°C e 1,6°C ao longo de todo o período na Régua e no Pinhão,
enquanto as temperaturas mínimas subiram 1,5°C em Vila Real, 2,5°C no Pinhão e 3,6°C na Régua. Durante o inverno, nenhuma das estações registou alterações significativas nas temperaturas máximas; no entanto, as três estações apresentaram um aquecimento significativo nas
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temperaturas mínimas, com Vila Real a aumentar 0,9°C, o Pinhão 2,0°C e a Régua 3,0°C durante 1967-‐2010.
Quanto a precipitação durante o período 1967-‐2010, o Pinhão foi a mais seca das três estações meteorológicas com uma média de 652 mm, seguida da Régua com 835 mm e Vila Real com 1034 mm (Tabela 4). Todas as estações registaram uma variação substancial na precipitação
de ano para ano, com diferenças praticamente da mesma ordem dos valores médios (743, 772 e 1018 mm, respectivamente). O ano mais seco durante o período foi 2005, com 370 mm no Pinhão, 476 mm na Régua e 570 mm em Vila Real (Figura 18; 2007 foi o segundo ano mais seco com valores similares). O ano mais chuvoso divergiu para cada estação, com 2001 a registar 1113
mm no Pinhão, 1977 com 1248 mm na Régua e 1978 com 1588 mm em Vila Real. A precipitação no ciclo vegetativo (Abr -‐ Out) situa-‐se nos 38-‐41% da precipitação anual para as três estações durante o período em análise, com o Pinhão a registar uma média de 268 mm, a Régua 315 mm e Vila Real 403 mm (Tabela 4). As estações de crescimento mais secas durante 1967-‐2010 foram as de 1970 e 1991, anos em que as quantidades de precipitação perfizeram praticamente metade da
média (Figura 19). O ciclo vegetativo mais chuvoso teve lugar em 1993, com perto do dobro da precipitação média em cada estação. A precipitação no repouso vegetativo é aproximadamente 60% do valor anual, com o Pinhão nos 384 mm de média, a Régua com 520 mm e Vila Real com 632 mm (Tabela 4). O inverno mais seco durante o período foi o de 1999-‐00 para a Régua, com 187 mm, e 2004-‐05 para o Pinhão (109 mm) e Vila Real (168 mm). As três estações coincidiram no
registo de inverno mais chuvoso, em 2000-‐01, com 1402 mm no Pinhão, 1326 mm na Régua e 1629 mm em Vila Real (Figura 20). Em nenhuma das três estações foram identificadas tendências em termos de precipitação anual, precipitação no repouso vegetativo ou precipitação no ciclo vegetativo (Tabela 5).
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ratura m
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ual (°C)
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ção an
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835
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ciclo vegetativo (°C)
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Tempe
ratura m
ínim
a no
ciclo vegetativo (°C)
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10,0
Precipita
ção no
ciclo vegetativo (m
m)
315
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Tempe
ratura m
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a no
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ratura m
ínim
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Precipita
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ouso vegetativo (m
m)
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16
8
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o ciclo vegetativo (A
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o 19
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Ré
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Vila Rea
l Variáveis
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R2
Valor p
Declive
Tempe
ratura m
áxim
a an
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0,00
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1 0,18
0,00
4 0,02
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0,08
6 0,01
3
Tempe
ratura m
ínim
a an
ual (°C)
0,75
0,00
0 0,07
6 0,58
0,00
0 0,05
1 0,42
0,00
0 0,02
9
Precipita
ção an
ual (mm)
ND
0,52
4 -‐1,51
ND
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Tempe
ratura m
áxim
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ciclo vegetativo (°C)
0,29
0,00
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0 0,24
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9 0,01
6
Tempe
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ínim
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ciclo vegetativo (°C)
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0,00
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0 0,03
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Precipita
ção no
ciclo vegetativo (m
m)
ND
0,61
1 0,60
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Precipita
ção no
rep
ouso vegetativo (m
m)
ND
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ND
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0,34
7 -‐3,81
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Figura 17: Evolução da temperatura média no ciclo vegetativo (Abr -‐ Out) para as estações meteorológicas da Régua, do Pinhão e de Vila Real na Região Demarcada do Douro entre 1967 e 2010 (ADVID, 2007).
Figura 18: Precipitação anual para as estações meteorológicas da Régua, do Pinhão e de Vila Real na Região Demarcada do Douro entre 1967 e 2010 (ADVID, 2007). A linha a preto representa a média móvel em todas as estações.
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Figura 19: Precipitação no ciclo vegetativo (Abr -‐ Out) para as estações meteorológicas da Régua, do Pinhão e de Vila Real na Região Demarcada do Douro entre 1967 e 2010 (ADVID, 2007). A linha a preto representa a média móvel em todas as estações.
Figura 20: Precipitação no repouso vegetativo (Nov -‐ Mar) para as estações meteorológicas da Régua, do Pinhão e de Vila Real na Região Demarcada do Douro entre 1967 e 2010 (ADVID, 2007). A linha a preto representa a média móvel em todas as estações. De notar que os dados se referem a um período de inverno bianual (por ex., 1997 representa o inverno de 1997-‐98).
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Tendências gerais semelhantes às especificadas acima foram observadas em toda a Península Ibérica e na Europa por outros investigadores. Miranda et al. (2002) concluíram que a recente tendência de aquecimento para Portugal era maior no inverno e na primavera e mais pronunciada em termos de valores de temperatura mínima do que temperatura máxima.
Analisando o clima e a fenologia em várias regiões na Europa, Jones et al. (2005) descobriram que as alterações eram geralmente mais acentuadas nas temperaturas mínimas do que nas temperaturas máximas nas estações meteorológicas estudadas. No caso da estação mais próxima da Região Demarcada do Douro, Pontevedra, Espanha, os resultados apontaram para aumentos
significativos das temperaturas mínimas (1,1°C de 1952-‐2004), sem que as temperaturas máximas apresentassem alterações de relevo. Fazendo a média de todas as localizações analisadas, o aquecimento durante 1960-‐2005 foi de 1,7°C durante o ciclo vegetativo, com aumentos em dias-‐grau (STA -‐ Soma das Temperaturas Acitvas) e no Índice de Huglin (HI na sigla inglesa) de perto de 300 unidades, fortemente associado a uma fenologia mais precoce (6-‐8 dias) e intervalos mais
curtos entre eventos (4-‐14 dias) em média nessas regiões. Ramos et al. (2008) registaram um aquecimento global de 1,0-‐2,2°C no ciclo vegetativo na região nordeste da Espanha durante 1952-‐2006. Os autores observaram ainda que os índices de acumulação de calor (índices de Winkler e Huglin) aumentaram significativamente, essencialmente devido às temperaturas máximas e extremos de temperatura máxima. As alterações revelaram uma relação moderada a forte com a
fenologia (eventos mais precoces), a qualidade do vinho (mais elevada com maior amplitude térmica diurna) e a produção (menor em virtude do stress térmico e/ou hídrico). Os autores concluíram também que umo ciclo vegetativo mais quente em 1°C aumentava as necessidades hídricas em 6-‐14% nas condições verificadas no nordeste de Espanha. Nas regiões vinícolas do noroeste de Espanha e do vale do Miño, Blanco-‐Ward et al. (2007) registaram uma média de
temperatura no ciclo vegetativo (TMCV) de 17,3°C, variando entre 14,7 e 19,1°C; uma STA média de 1382, com uma variação entre 872 e 1858; um HI com média de 2049, variando entre 1454 e 2512. Os autores demonstraram ainda que a variabilidade espacial nos climas da região era em grande medida resultado de variações na precipitação durante o ciclo vegetativo, a STA, o HI e o DI. Servindo-‐se de dados da GHCN para o período 1950-‐1999, Jones et al. (2005) registaram um
aquecimento médio durante o ciclo vegetativo de 1,3°C em 27 regiões vinícolas de todo o mundo. Uma célula de grelha climática do norte de Portugal mostrou uma média temporal de 17,7°C na TMCV (aptidão climática Pouco Quente) e uma tendência significativa de 0,9°C de 1950-‐1999.
Gimeno et al. (2011) fornecem um resumo da situação do clima e alterações climáticas no noroeste da Península Ibérica, especificando as alterações regionais nos parâmetros atmosféricos
e oceânicos que influenciaram alterações no ciclo hidrológico da região e afloramento da zona costeira. De Castro et al. (2005) mostraram, num detalhado estudo para Espanha, que as
temperaturas durante o Século XX registaram um aquecimento generalizado ligeiramente superior em magnitude à média global. Observou-‐se que as tendências ao nível da temperatura
eram mais acentuadas durante o inverno, com um ligeiro decréscimo na precipitação no país, mas com uma altíssima variabilidade. Brunete et al. (2007) analisaram os padrões temporais e
espaciais das alterações de temperatura nas estações mais antigas e fiáveis de Espanha para o período 1850-‐2005. Os resultados apontaram para um aquecimento significativo de 0,10°C por
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década ao longo do período, com alterações ligeiramente mais acentuadas nas temperaturas máximas do que nas mínimas, resultando numa amplitude térmica diurna mais acentuada. Seria
de esperar que as diferenças entre Espanha, especialmente o noroeste de Espanha, e Portugal e a Região Demarcada do Douro apontassem para uma similaridade regional, embora a posição
geográfica e proximidade costeira possam produzir algumas disparidades. Num amplo estudo do clima do noroeste da Península Ibérica, Gómez-‐Gesteira et al. (2011) sistematizam a estrutura e
tendências em inúmeros parâmetros climáticos. Os autores registam que as temperaturas terrestres da região subiram em média 0,5°C desde 1974, com a Régua a evidenciar uma maior
tendência de aquecimento do que outras cidades da região (por ex., Porto, Vigo, Corunha). As temperaturas da superfície marítima regional também sofreram um aquecimento durante este
período, com uma média de 0,24°C desde 1974, tendo o aumento do nível das águas do mar sido significativo nas águas costeiras da península. Tanto Castro et al. (2005) como Gómez-‐Gesteira et
al. (2011) referem que o aquecimento na Península Ibérica é ligeiramente superior ao verificado na Europa globalmente considerada, que por sua vez é superior às tendências globais.
Analisando os padrões e tendências ao nível da precipitação em Espanha durante 1961-‐
2006, Del Rio et al. (2011) encontraram decréscimos significativos na precipitação de finais do inverno e início de verão. González-‐Hidalgo et al. (2011) chegaram a resultados semelhantes aos
de Del Rio et al. (2011) no que toca à evolução da precipitação mensal, embora a sua maior densidade de estações meteorológicas revele uma grande variabilidade temporal e espacial por toda a Espanha. No entanto, de Lima et al. (2010) não encontraram uma tendência marcada nas
quantidades de precipitação anuais de longo prazo nas principais estações meteorológicas em Portugal ao longo dos últimos 75-‐110 anos. Foram encontradas algumas tendências parciais
verificáveis em períodos mais curtos, indicando períodos variáveis de aumento e diminuição dos valores, o que levou à redistribuição das quantidades de precipitação em Portugal. Gómez-‐
Gesteira et al. (2011) referem igualmente que não existem tendências significativas claras em matéria de precipitação anual, embora pareçam existir algumas alterações sazonais com pouca
expressão. Numa análise à evolução da precipitação no sul de Portugal, Costa e Soares (2009) encontraram tendências pronunciadas num índice de aridez durante 1950-‐1999, indicando um
aumento da possibilidade de seca e desertificação na região. Não obstante os índices de humidade não evidenciarem tendências significativas para o sul de Portugal, os autores
encontraram sinais de uma intensidade de precipitação crescente no curto prazo durante as últimas três décadas do século XX. Costa e Soares (2009) registaram ainda evidências de uma maior variabilidade da precipitação extrema na região. Briffa et al. (2009) observaram uma
tendência para um aumento das condições de seca na maior parte da Europa, tendência que, nas últimas décadas, estará fortemente associada ao aumento das temperaturas, mais do que à
menor precipitação.
Com recurso às ferramentas da ETCCDI, foi calculada uma série de índices climáticos básicos para as três estações meteorológicas de longo prazo na Região Demarcada do Douro (Tabela 2). Em termos gerais, foram encontradas mais tendências comuns entre a Régua e o
Pinhão do que com Vila Real (Tabela 6). Abaixo é apresentado um resumo das alterações para as
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41
três estações, com as tendências indicadas sob a forma das alterações totais no período 1967-‐2010, podendo ser encontrados exemplos dessas tendências nas Figuras 21-‐23:
Índices de extremos com base em valores absolutos:
Tmáx máxima (°C) – aquecimento significativo para a Régua (2,2°C) e o Pinhão (2,5°C)
Tmáx mínima (°C) -‐ aquecimento significativo para as três estações, variando entre 2,9°C para Vila Real (Figura 23), 3,3°C para o Pinhão e 4,3°C para a Régua
Tmín máxima (°C) – sem tendências significativas Tmín máxima (°C) – aquecimento significativo para a Régua (1,9°C) e o Pinhão
(2,2°C)
Índices de extremos com base em percentis:
% de dias Tmáx < Percentil 10 – tendência significativa de um decréscimo de 4% apenas para a Régua
% de dias Tmáx > Percentil 90 – tendência significativa de um aumento de 8% para a Régua e 7% para o Pinhão
% de dias Tmín < Percentil 10 – decréscimo significativo em todas as estações: 6% para Vila Real, 13% para o Pinhão e 20% para a Régua (Figura 21)
% de dias Tmín > Percentil 90 – aumento significativo em todas as estações: 9% para Vila Real, 12% para o Pinhão e 19% para a Régua (Figura 21)
Índices de extremos com base em limiares:
N.º de dias Tmáx > 35°C – A Régua e o Pinhão (Figura 22) apresentaram tendências significativas para um número de dias crescente acima dos 35°C: 19 e 16 dias, respectivamente
N.º de dias Tmáx > 25°C – A Régua e o Pinhão apresentaram tendências significativas para um número de dias crescente acima dos 25°C: 26 e 21 dias, respectivamente
N.º de dias Tmáx. <0°C – não observado na Régua e no Pinhão e sem tendência significativa em Vila Real
N.º de dias Tmín > 20°C – tendências significativas para um número de dias crescente com temperaturas nocturnas acima dos 20°C nas três estações: 6, 19 e 13 dias em Vila Real (Figura 23), no Pinhão e na Régua, respectivamente
N.º de dias Tmín < 0°C – A Régua e o Pinhão apresentaram tendências significativas para um menor número de dias abaixo dos 0°C: 19 e 12 dias, respectivamente
Índices de extremos com base na duração:
Índice de duração de ondas de calor – apenas o Pinhão apresentou uma tendência significativa para mais ondas de calor (quando a temperatura máxima diária excede o percentil 90 durante seis dias consecutivos)
Índice de duração de ondas de frio – A Régua e o Pinhão (Figura 22) apresentaram tendências significativas para uma menor ocorrência de ondas de frio (quando a
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temperatura mínima diária desce abaixo do percentil 10 durante seis dias consecutivos)
Duração do ciclo vegetativo (dias) – apenas a Régua apresentou uma tendência significativa para estações de crescimento mais longas (8 dias)
Outros índices com base na temperatura:
Amplitude térmica diurna (°C) – as três estações apresentaram tendências de um decréscimo da amplitude térmica diurna, variando entre os -‐0,6°C para Vila Real, -‐1,0°C para o Pinhão e 1,9°C para a Régua
Índices de extremos e médios com base na precipitação:
Precipitação máxima em 1 dia – sem tendências significativas Precipitação máxima em 5 dias – sem tendências significativas Índice de intensidade de precipitação simples – o Pinhão apresentou um aumento
significativo no rácio de precipitação anual relativamente ao número de dias de chuva durante o ano
N.º anual de dias com precipitação > 10 mm – sem tendências significativas N.º anual de dias com precipitação > 20 mm – o Pinhão apresentou uma tendência
significativa no número total de dias com precipitação superior a 20 mm Duração máxima de período de seca – sem tendências significativas Duração máxima de período de precipitação continuada – sem tendências
significativas N.º anual de dias com precipitação > percentil 95 – sem tendências significativas N.º anual de dias com precipitação > percentil 99 – sem tendências significativas Total de precipitação anual – sem tendências significativas
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43
Tabela 6: Estatística de regressão para os 27 índices de extrem
os climáticos básicos para a Régua, o Pinhão e V
ila Real. Todas as tendências com significância estatística ao
nível de 0,05 são apresentadas em negrito.
Régua Pinhão
Vila Real
Índices R2
Valor p
Declive
R2
Valor p
Declive
R2
Valor p
Declive
N.º de dias Tm
áx > 35°C (dias) 0,28
0,000 0,432
0,23 0,001
0,374 ND
0,145 0,082
N.º de dias Tm
áx > 25°C (dias) 0,23
0,001 0,595
0,16 0,007
0,481 ND
0,376 0,136
N.º de dias Tm
áx < 0°C (dias) Não observado
Não observado
ND
0,322 -‐0,003
N.º de dias Tm
ín > 20°C (dias) 0,42
0,000 0,312
0,24 0,001
0,220 0,30
0,000 0,143
N.º de dias Tm
ín < 0°C (dias) 0,42
0,000 -‐0,436
0,15 0,008
-‐0,264 ND
0,106 -‐0,139
Duração do ciclo vegetativo (dias)
0,13 0,017
0,189 ND
0,097 0,186
ND
0,208 -‐0,227
Tmáx m
áxima (°C)
0,24 0,001
0,051 0,18
0,004 0,058
ND
0,292 0,018
Tmáx m
ínima (°C)
0,41 0,000
0,099 0,20
0,003 0,076
0,25 0,000
0,067
Tmín m
áxima (°C)
ND
0,530 0,013
ND
0,678 -‐0,008
ND
0,970 0,001
Tmín m
ínima (°C)
0,20 0,002
0,045 0,18
0,004 0,051
ND
0,072 0,028
% de dias Tm
áx < percentil 10 (%)
0,10 0,033
-‐0,097 ND
0,085 -‐0,089
ND
0,540 -‐0,028
% de dias Tm
áx > percentil 90 (%)
0,26 0,000
0,184 0,16
0,007 0,151
ND
0,125 0,077
% de dias Tm
ín > percentil 10 (%)
0,70 0,000
-‐0,460 0,61
0,000 -‐0,312
0,29 0,000
-‐0,136
% de dias Tm
ín > percentil 90 (%)
0,65 0,000
0,439 0,39
0,000 0,279
0,33 0,000
0,217
Índice de duração de onda de calor (dias) ND
0,100 0,127
0,14 0,012
0,272 ND
0,867 0,018
Índice de duração de onda de frio (dias) 0,37
0,000 -‐0,390
0,18 0,004
-‐0,244 ND
0,108 -‐0,074
Amplitude térm
ica diurna (°C) 0,50
0,000 -‐0,045
0,22 0,005
-‐0,024 0,13
0,018 -‐0,015
Precipitação máxim
a mensal em
1 dia (mm)
ND
0,954 0,010
ND
0,140 0,207
ND
0,572 -‐0,103
Precipitação máxim
a mensal em
5 dias (mm)
ND
0,667 -‐0,125
ND
0,102 0,496
ND
0,147 -‐0,703
Índice de intensidade de precipitação simples (m
m/dia)
ND
0,182 0,022
0,14 0,011
0,053 ND
0,081 -‐0,036
N.º anual de dias com
precipitação > 10 mm (dias)
ND
0,366 -‐0,094
ND
0,200 0,121
ND
0,405 -‐0,093
N.º anual de dias com
precipitação > 20 mm (dias)
ND
0,681 0,020
0,09 0,050
0,080 ND
0,843 -‐0,014
Duração m
áxima de período de seca (dias)
ND
0,295 0,181
ND
0,916 -‐0,024
ND
0,286 -‐0,188
Duração m
áxima de período de precipitação continuada (dias)
ND
0,122 -‐0,058
ND
0,165 -‐0,052
ND
0,626 0,018
N.º anual de dias com
precipitação > percentil 95 (dias) ND
0,346 1,254
ND
0,226 3,167
ND
0,234 -‐2,071
N.º anual de dias com
precipitação > percentil 99 (dias) ND
0,821 -‐0,158
ND
0,418 2,062
ND
0,198 -‐1,083
Precipitação anual total (mm)
ND
0,524 -‐1,512
ND
0,573 1,265
ND
0,404 -‐2,513
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44
Figura 21: Exemplo de série temporal da percentagem de dias em que a temperatura mínima se situa acima do percentil 90 (painel da esquerda) e abaixo do percentil 10 (painel da direita) para a Régua no período 1967-‐2010. As tendências são calculadas por regressão linear pelo método dos mínimos quadrados (linha contínua) e regressão linear ponderada localmente (linha tracejada).
Figura 22: Exemplo de série temporal do índice de duração de onda de frio (painel da esquerda; quando a temperatura mínima diária desce abaixo do percentil 10 durante seis dias consecutivos) e o número de dias por ano em que a temperatura máxima é superior a 35°C (painel da direita) para o Pinhão durante 1967-‐2010. As tendências são calculadas por regressão linear pelo método dos mínimos quadrados (linha contínua) e regressão linear ponderada localmente (linha tracejada).
Figura 23: Exemplo de série temporal do número de dias por ano em que a temperatura mínima é superior a 20°C (painel da esquerda) e a temperatura mínima diária mais elevada observada a cada ano (painel da direita) para Vila Real no período 1967-‐2010. As tendências são calculadas por regressão linear pelo método dos mínimos quadrados (linha contínua) e regressão linear ponderada localmente (linha tracejada).
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As alterações nos extremos de temperatura não passaram igualmente despercebidas a outros autores. Globalmente, as tendências recentes nos extremos de temperatura reflectem o aquecimento geral com menos extremos de frio, mais extremos de calor e um prolongamento da estação sem gelo na maioria das regiões de média e alta latitude (IPCC, 2007). Analisando
extremos climáticos globais com recurso ao mesmo método da ETCCDMI utilizado neste estudo, Alexander et al. (2006) descobriram alterações generalizadas e significativas nos extremos de temperatura com o aquecimento geral, com destaque para as temperaturas mínimas. Tanto a área espacial como a magnitude das tendências nas temperaturas mínimas
são superiores às temperaturas máximas durante 1951-‐2003. O estudo de Alexander et al. (2006) mostra tendências significativas em termos de decréscimo de noites frias, aumento de noites quentes e aumento de dias de calor na Península Ibérica durante este período. Outras investigações de cariz regional que analisam os extremos de temperatura mostram projecções de extremos de temperaturas máximas (Tmáx > percentil 90) para o final do século XXI que
poderão atingir valores de mais 7°C do que actualmente em boa parte da Península Ibérica e que estes aumentarão mais na primavera e no verão do que no outono e inverno (de Castro et al., 2005). Os autores concluíram ainda que a frequência de dias com extremos de temperaturas mínimas (Tmín < percentil 10) tende a diminuir. As tendências nos extremos de precipitação foram menos consistentes, com pequenas alterações nos períodos secos, mas sem
diferenças notórias em termos de eventos de precipitação forte (de Castro et al., 2005). Brunete et al. (2007) debruçaram-‐se também sobre os extremos ocorridos em Espanha entre 1850-‐2005, tendo observado que o aquecimento geral tem estado mais associado a reduções nos extremos de frio do que nos extremos de calor. Igualmente servindo-‐se do mesmo método da ETCCDMI utilizado neste estudo, Ramos et al. (2011) analisaram extremos para 23 das
principais estações meteorológicas em Portugal. Tendências médias generalizadas de todas as estações revelaram que tanto as temperaturas máximas como mínimas desceram durante o período 1941-‐1975, tendo depois aumentado em 0,49°C e 0,54°C por década durante 1976-‐2006 em termos de temperaturas máximas e mínimas, respectivamente. Os autores observaram que as taxas de aquecimento eram significativamente mais elevadas do que outras
tendências calculadas à escala global e europeia. Em termos de extremos, Ramos et al. (2011) encontraram resultados semelhantes aos do estudo da Região Demarcada do Douro, registando tendências positivas com significância estatística nos extremos de calor (por ex., noites tropicais, dias de verão, ondas de calor, noites quentes e dias quentes).
Embora este estudo das três estações na Região Demarcada do Douro durante 1967-‐2010 não tenha mostrado uma grande evidência de alterações significativas ao nível da
precipitação ou períodos de seca, outras investigações de cariz regional incidentes sobre um período de tempo mais alargado fizeram-‐no. Vicente-‐Serrano et al. (2011a) estudaram a gravidade da seca e os recursos hídricos superficiais no noroeste da Península Ibérica para o período 1930-‐2006. Os resultados em termos de variabilidade e tendências no índice normalizado de precipitação (SPI na sigla inglesa) e o índice normalizado de precipitação-‐
evapotranspiração (SPEI na sigla inglesa) mostram que, globalmente, a precipitação registou
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46
um acréscimo na região, tendo no entanto a evapotranspiração também aumentado devido ao aquecimento. Vicente-‐Serrano et al. (2011) não encontraram qualquer evidência de um aumento de gravidade da seca durante 1930-‐2006; ainda assim, a duração média dos episódios
de seca aumentou em cerca de um mês nas últimas três décadas. Ficou demonstrado que o caudal fluvial no noroeste da Península Ibérica deriva em larga medida da variabilidade da precipitação, com menos influência do aquecimento regional durante este período.
CIRCULAÇÃO REGIONAL E PADRÕES METEOROLÓGICOS
Para o período 1948-‐2011, a circulação regional no oceano Atlântico Este, na Europa Ocidental e no Mediterrâneo foi classificada em seis padrões meteorológicos principais (Figura 24). As condições de crista de altas pressões (R) são as mais frequentes durante este período,
representando 28,6% do total de dias, sendo sazonalmente mais comuns entre Abril e Setembro, altura em que representam 27 a 62% dos dias em cada mês (Figura 25). A crista está geralmente associada a dias de céu limpo, radiação solar elevada e temperaturas moderadas a extremas. As condições anticiclónicas (AA), com centros sobre os Açores e a Europa, ocorrem em 17,9% dos dias e distribuem-‐se de forma mais uniforme ao longo dos meses, com um
máximo de 27% dos dias do mês de Setembro. Estas condições anticiclónicas propiciam igualmente o céu limpo, mas podem ocorrer temperaturas mais moderadas em função do período do ano. O fluxo de este (E) segue-‐se como mais frequente, ocorrendo em 16,3% do total de dias e tendo uma ocorrência máxima durante o inverno, quando representa 21-‐25% dos dias durante os meses de Dezembro a Março (Figura 25). O fluxo de este traz consigo
frequentemente ar frio da Europa de Leste, resultando em eventos de frio na Península Ibérica quando ocorre durante o inverno e a primavera. O fluxo de noroeste (NW) ocorre em 14,6% dos dias durante 1948-‐2011 e tende a ser mais frequente durante o outono e o início do inverno (Setembro -‐ Dezembro), podendo representar até 21% dos dias no mês. Este fluxo está
geralmente associado à passagem de sistemas frontais e a uma zona de baixas pressões centrada sobre as ilhas britânicas, sendo muitas vezes o padrão predominante durante a transição das condições estáveis de verão para o outono/inverno. As condições gerais de anticiclone (A) ocorrem em 12,2% do total de dias (Figura 25) com elevada sazonalidade nos meses de inverno, quando representa entre 10 a 22% dos dias. Em Portugal, as condições
associadas a um anticiclone (A) são frequentemente dias de céu limpo e frio na transição entre sistemas frontais. O padrão meteorológico menos frequente durante o período é o regime ciclónico (C), que ocorre em 10,3% dos dias e regista reduzida sazonalidade, variando entre 7 e 14% dos dias em cada mês (Figura 25). O regime ciclónico (C) é um fluxo de curta duração associado à passagem de frentes, sendo normalmente o mais chuvoso dos seis padrões meteorológicos.
A frequência anual de cada um dos seis padrões meteorológicos no ciclo vegetativo
(Abr -‐ Out) e no repouso vegetativo (Nov -‐ Mar) varia muitas vezes entre cerca de 25% da média e quase o dobro da ocorrência média. Por exemplo, as condições ciclónicas (C) durante o ciclo vegetativo apresentaram uma média de 20 dias de Abril a Outubro, mas variaram de uns meros 4 dias em 1970 até um pico de 47 dias em 1993. Em resultado disso, 1970 foi o ano com
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47
menos precipitação no período 1967-‐2010 na Régua, e 1993 foi o que registou valores mais elevados. No caso do inverno, consideram-‐se por exemplo as condições anticiclónicas (A), que durante o inverno de 1975-‐76 foram praticamente duas vezes mais frequentes e resultaram no inverno mais frio na Régua no período 1967-‐2010.
Sendo uma evidência que os padrões meteorológicos diários dão origem às condições
meteorológicas diárias na Região Demarcada do Douro, a complexidade do terreno da região traduz-‐se potencialmente numa relação menos clara entre a circulação regional e o estado do tempo local. As correlações entre os padrões meteorológicos anuais, no ciclo vegetativo e no repouso vegetativo, e as temperaturas máximas e mínimas e precipitação médias especificam
estas características. Em termos anuais, durante 1967-‐2010, as temperaturas máximas médias não revelam correlações significativas com os dados climáticos da Régua. As temperaturas mínimas médias mostram contudo uma relação significativa com as condições de crista de altas pressões (R), e cristas mais intensas originam geralmente anos mais frios (R2=0,11). No que toca a quantidades de precipitação anual, as condições ciclónicas estão relacionadas com
valores superiores na Régua durante 1967-‐2010, mas explicam apenas 12% da variação. Relações semelhantes são encontradas com maiores condições de crista durante o ciclo vegetativo, que trazem anos mais frios, embora o efeito de arrefecimento advenha mais da maior frequência de eventos na primavera do que eventos no verão. A influência mais marcante durante o ciclo vegetativo, em que 27% da oscilação na precipitação é explicada
pelas variações, está associada a condições ciclónicas (C). Durante o inverno, as correlações entre a circulação regional e o estado do tempo local aumentam. As temperaturas máximas médias durante o inverno são significativamente mais baixas quando o fluxo de este (E) se intensifica. As temperaturas mínimas médias durante o inverno na região são influenciadas pelas condições de crista (R), ciclónicas (C) e de fluxo de noroeste (NW), que em conjunto
explicam 43% da variação. Uma intensificação da crista gera normalmente invernos mais frios, enquanto condições ciclónicas e de fluxo de noroeste mais intensas geralmente resultam em invernos mais amenos. Os níveis de precipitação na estação de inverno mostram uma elevada correlação com os padrões meteorológicos, com as condições ciclónicas (C) e de fluxo de noroeste (NW) a explicarem 84% da variação durante 1967-‐2010. O efeito é de mais chuva
durante o inverno, com um aumento das condições ciclónicas de ambos os padrões meteorológicos. A maior relação entre os padrões meteorológicos e as variações locais do estado do tempo durante o inverno é frequentemente encontrada em estudos de circulação (Jones e Davis, 2000a).
Durante o período de análise de circulação (1948-‐2010), alguns dos padrões meteorológicos apresentam tendências significativas. Para o período anual, as condições
anticiclónicas (A) aumentaram ligeiramente (R2=0,09), tendo a crista (R) diminuído moderadamente (R2=0,22). A maior parte da descida anual nas condições de crista (R) deu-‐se durante o ciclo vegetativo (R2=0,20). Durante o inverno, foi observado apenas um ligeiro decréscimo nas condições de duplo anticiclone (AA) (R2=0,08). Dada a reduzida observação de tendências em termos de padrões meteorológicos, contrabalançada por tendências
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significativas em termos das temperaturas anuais, no ciclo vegetativo e no repouso vegetativo, os resultados apontam para um aquecimento geral que não é grandemente influenciado pelas alterações ao nível da circulação regional.
Figura 24: Campos de pressão média ao nível do mar para os seis padrões meteorológicos derivados da análise de agrupamentos de componentes principais. A-‐Anticiclone; R-‐Crista; NW-‐Fluxo de noroeste; E-‐Fluxo de este; AA-‐Anticiclones sobre os Açores e a Europa; e C-‐Ciclone.
A R
NW E
AA C
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Figura 25: Frequências mensais dos seis padrões meteorológicos derivadas da análise de agrupamentos de componentes principais. A-‐Anticiclone; R-‐Crista; NW-‐Fluxo de noroeste; E-‐Fluxo de este; AA-‐Anticiclones sobre os Açores e a Europa; e C-‐Ciclone.
Outros estudos em torno das condições sinópticas que afectam as regiões vinícolas da Europa e outras obtiveram resultados semelhantes aos atrás descritos. Jones e Davis (2000b) descobriram que a circulação regional e climatologias de massas de ar sinópticas eram eficazes
na descrição da variabilidade do clima local para Bordéus, França. Os autores concluíram que a frequência de certos eventos sinópticos influenciava o comportamento fenológico da videira, bem como a produção e a qualidade do vinho na região. Jones e Davis (2000b) descobriram que uma maior frequência de anticiclones no final da primavera tendia a provocar eventos de frio que atrasavam o crescimento e que uma maior frequência de eventos ciclónicos durante a
floração estava relacionada com uma menor produção, enquanto uma maior frequência de -‐cristas e massas de ar estáveis promovia uma maturação completa e uma melhor qualidade do vinho em Bordéus. Analisando as produções de azeite e vinho em Portugal, Gouveia et al. (2007) concluíram que ambas evidenciam uma relação significativa com a variabilidade do índice NAO no inverno e na primavera, sendo embora os resultados mais relevantes em termos
da produção de azeite de alta qualidade e mais para certas áreas de Portugal do que outras. Um outro estudo recente de Gouveia et al. (2011) concluiu também que temperaturas mais elevadas no final da primavera foram benéficas para a produção de vinho na região do Vale do Douro. Para além disso, resultou notória a presença de ciclos nas séries temporais de produção de vinho no Vale do Douro que podem ser em larga medida atribuídos à variabilidade da
temperatura na primavera (Cunha e Richter, 2011). Ficou demonstrado que a qualidade da colheita para a produção de Vinho do Porto está relacionada com a temperatura máxima e precipitação durante a primavera e o verão (Gouveia et al., 2010). Gómez-‐Gesteira et al. (2011) registam ainda mudanças nas condições sinópticas na região, com um decréscimo geral na frequência de ciclones no inverno, que controla fortemente a precipitação no período de
inverno, e uma diminuição nos bloqueios de inverno/primavera, que está relacionado com condições de primavera mais quentes.
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Santos et al. (2012) determinaram uma estrutura e tendências espacialmente coerentes em termos de acumulação de calor na Europa (índices de Huglin e Winkler) que são grandemente controladas pela circulação atmosférica de larga escala durante o ciclo vegetativo
(Abril -‐ Setembro). Andrade et al. (2011) concluíram que o inverno invulgarmente chuvoso de 2009-‐2010 em Portugal foi caracterizado por uma componente de fluxo de oeste anormalmente forte sobre o Atlântico Norte, que resultou numa maior frequência de eventos ciclónicos. Vicente-‐Serrano et al. (2011b) mostram de que forma os eventos de chuva mais forte estiveram relacionados com os valores negativos mais extremos do índice NAO e
apontam nas projecções para o século XXI para um NAO a tender para valores mais positivos. No entanto, os autores fazem notar que valores negativos extremos do NAO tal como observados durante 2009-‐2010 continuarão provavelmente a ocorrer.
Santos et al. (2011) concluíram que aproximadamente 50% da variação na produção durante 1986-‐2008 poderia ser explicada pelas temperaturas e precipitação mensais no modelo estatístico de rendimento da videira. Os factores climáticos mais importantes foram as
temperaturas e a precipitação durante as primeiras fases de crescimento (abrolhamento e floração). Projecções de conjunto à luz do cenário A1B indicaram que a produção aumentará tendencialmente ao longo do século XXI. Santos et al. (2012) actualizaram o estudo anterior mediante inclusão de uma série de produção de vinho mais longa (1932-‐2010), concluindo que a elevada precipitação e temperaturas baixas durante o abrolhamento, desenvolvimento dos
pâmpanos e das inflorescências (Fevereiro -‐ Março), e temperaturas elevadas durante a floração e desenvolvimento dos bagos (Maio) são geralmente favoráveis a uma elevada produção. Analisando as probabilidades associadas a anos de produção baixa, normal e elevada, os autores conseguem estabelecer uma previsibilidade antes do início da campanha (3-‐4 meses de avanço) relativamente ao volume de produção global. Recorrendo às mesmas
projecções de conjunto sob o cenário A1B em Santos et al. (2011), mas incluindo 16 experiências transitórias com diferentes cadeias de modelos de GCMs /RCMs, o estudo actualizado indicou ser de prever um aumento da produção de vinho em aproximadamente 10% até ao final do século XXI, com anos de elevada produção a ocorrerem com mais frequência no futuro (de 25% do total de anos actualmente a mais de 60% no final do século
XXI). No entanto, os esforços de definição de um modelo têm de ter em conta outros aspectos climáticos que afectam a produção, tais como maior stress térmico e/ou alterações nas condições de maturação capazes de influenciar os aumentos estimados (Santos et al., 2012).
CLIMA ESPACIAL: HISTÓRICO
A análise da WorldClim para 1950-‐2000 com uma resolução de 1 km mostra uma estrutura espacial mais detalhada dos parâmetros climáticos (por ex., precipitação anual na Figura 26) comparativamente aos dados generalizados cartografados das estações
meteorológicas para o período 1931-‐1960 (Figura 8) ou às análises das estações individuais (Tabela 4). Embora os dados das estações (1931-‐1960) e dados matriciais da WorldClim (1950-‐2000) só coincidam em dez anos, uma comparação dos valores revela uma correlação relativamente elevada e seria mais um indicador da utilidade dos dados da WorldClim para
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esta análise. Comparando os dados das estações relativos a 1931-‐1960 e a grelha da WorldClim que cobre o mesmo ponto de latitude e longitude das estações, conclui-‐se que as temperaturas máximas (r > 0,80) apresentam maior correlação do que as temperaturas mínimas (r > 0,70). A
diferença é de esperar, uma vez que as temperaturas mínimas geralmente variam mais numa área tão heterogénea como é a Região Demarcada do Douro. A correlação em termos de precipitação é menor (r > 0,50) do que para a temperatura, mas globalmente aponta para uma similaridade geral nos dois conjuntos de dados.
Globalmente, a região regista uma mediana de precipitação anual de 950 mm (Figura 26); no entanto, existe aqui uma variação de 1190 mm no Baixo Corgo para 832 mm no Douro
Superior (Tabela 7). O local mais seco no Douro Superior regista 643 mm por ano em média, enquanto a área mais húmida localiza-‐se nas montanhas ao longo do limite oeste da região do Baixo Corgo com 1625 mm (Figura 26, Tabela 7). As quantidades de precipitação no inverno (Novembro a Março) são de aproximadamente 60-‐65% do total anual (Figura 27), perfazendo cerca de 35-‐40% no ciclo vegetativo (Figura 28), mas também aqui se nota a tendência para
condições progressivamente mais secas quando se avança de oeste para este (Apêndice – Tabela 1). Da decomposição da precipitação anual em totais mensais (Figura 29) resulta uma variação espacial consistente na região, com Janeiro e Fevereiro a serem os meses mais húmidos, e uma forte sazonalidade com os meses mais secos de Julho e Agosto a registarem níveis de precipitação muito diminutos em toda a região. O Baixo Corgo é a região mais húmida
em todos os meses (Figura 30), uma vez que as terras altas a oeste são aquelas que recebem a maior parte da precipitação.
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Figura 26: Precipitação anual para a Região Demarcada do Douro durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
Tabela 7: Estatística de quartis para a precipitação anual e temperaturas médias anuais nas três sub-‐regiões da Região Demarcada do Douro. Os valores representam a estatística espacial de cada variável: mínimo absoluto, 25%, mediana, 75% e máximo absoluto. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
Precipitação anual Região Mínimo (mm) 25% (mm) Mediana (mm) 75% (mm) Máximo (mm)
Baixo Corgo 971 1128 1190 1282 1625 Cima Corgo 778 938 1026 1089 1314
Douro Superior 643 776 832 927 1123
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Figura 27: Precipitação no inverno (Novembro a Março) na Região Demarcada do Douro durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
Figura 28: Precipitação no ciclo vegetativo (Abril a Outubro) na Região Demarcada do Douro durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
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Figura 29: Precipitação méd
ia m
ensal para a Re
gião
Dem
arcada
do Dou
ro duran
te 195
0-‐20
00. Fon
te: B
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dad
os W
orldClim
(Hijm
ans et al., 200
5).
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Figura 30: Precipitação média mensal nas três sub-‐regiões (Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior) da Região Demarcada do Douro. Os valores são a mediana das quantidades de precipitação espacial nas regiões conforme representadas na Figura 29.
Os dados da WorldClim mostram também uma estrutura e características da temperatura anual a uma escala muito mais detalhada (Figura 31) comparativamente aos mapas anteriores de 1931-‐1960 (Figura 9). Em termos anuais, a Região Demarcada do Douro regista uma média de 13,7°C, com valores mais elevados nas cotas mais baixas e em direcção a
leste, e valores mais reduzidos nas cotas mais altas da região (Figura 31). Por sub-‐região, as temperaturas médias anuais não variam muito (13,5-‐13,8°C; Tabela 8), mas existe uma variação relativamente grande ao longo das estações. Por exemplo, as temperaturas máximas médias mensais mostram que durante o inverno as sub-‐regiões apresentam valores
semelhantes (Figura 32), enquanto durante o verão o Douro Superior apresenta uma área maior de temperaturas máximas superiores às das outras duas sub-‐regiões. Durante o ciclo vegetativo, as temperaturas máximas registam uma média de 23,8°C em toda a região, enquanto as temperaturas mínimas médias se ficam pelos 11,6°C (Apêndice – Figuras 2 e 3, e Apêndice – Tabela 1). Em média, o Douro Superior apresenta temperaturas máximas e mínimas
mais elevadas durante o ciclo vegetativo comparativamente ao Baixo Corgo e Cima Corgo. As temperaturas máximas no inverno registam uma média de 12,2°C em toda a região, enquanto as temperaturas mínimas se ficam pelos 3,9°C (Apêndice – Figuras 5 e 6, e Apêndice – Tabela 1). Durante o inverno, o Baixo Corgo tende a ser ligeiramente mais ameno devido à sua proximidade da costa, mas as zonas desta sub-‐região localizadas em cotas mais elevadas são
tendencialmente das mais frias observadas em toda a Região Demarcada do Douro. Tanto nas temperaturas máximas como nas mínimas mensais constata-‐se uma evolução mensal similar, com o núcleo principal do Vale do Douro e seus vales secundários a aquecerem primeiro e/ou a manterem-‐se mais amenos por mais tempo (Figuras 32 e 33). Conforme representado na
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Figura 34, em termos médios as diferenças entre as três sub-‐regiões não parecem ser de relevo, no entanto a maior dimensão do Douro Superior e suas inúmeras zonas a cota elevada reduzem as diferenças observadas nas médias.
Figura 31: Temperaturas médias anuais na Região Demarcada do Douro durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
Tabela 8: Estatística de quartis para as temperaturas médias anuais nas três sub-‐regiões da Região Demarcada do Douro. Os valores representam a estatística espacial de cada variável: mínimo absoluto, 25%, mediana, 75% e máximo absoluto. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
Temperatura média anual
Região Mínimo (°C) 25% (°C) Mediana (°C) 75% (°C) Máximo (°C)
Baixo Corgo 8,6 12,7 13,6 14,1 15,5 Cima Corgo 11,0 12,8 13,5 14,2 15,7
Douro Superior 11,5 13,0 13,8 14,4 15,5
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Figura 32: Tem
peraturas máxim
as médias m
ensais na Região Dem
arcada do Douro durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados W
orldClim (H
ijmans et al., 2005).
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Figura 33: Tem
peraturas mínim
as m
édias men
sais na Re
gião
Dem
arcada
do Dou
ro duran
te 195
0-‐20
00. Fon
te: B
ase de
dad
os W
orldClim
(Hijm
ans et al., 200
5).
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Figura 34: Temperaturas máximas e mínimas médias mensais nas três sub-‐regiões (Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior) da Região Demarcada do Douro. Os valores são a mediana das temperaturas espaciais nas regiões conforme representadas nas Figuras 32 e 33.
Analisando as características espaciais de três índices habitualmente usados para avaliar a aptidão vitícola, conclui-‐se que historicamente a Região Demarcada do Douro tem-‐se
apresentado globalmente como um clima quente a temperado-‐quente para a produção de vinho. Em termos de temperaturas médias do ciclo vegetativo (TMCV), a média espacial global na Região Demarcada do Douro para o período 1950-‐2000 é 17,8°C. No entanto, a TMCV varia na região, com condições mais quentes ao longo do rio Douro e seus principais afluentes e áreas mais frescas nas cotas mais elevadas (Figura 35). A TMCV varia 7,6°C, desde um mínimo
de 12,1°C, que seria considerado demasiado frio para viticultura, e um máximo de 19,7°C (Tabela 9). Embora a mediana dos valores de TMCV na Tabela 9 evidencie condições algo similares nas três sub-‐regiões, o melhor indicador estatístico a usar para avaliar a aptidão espacial nestas áreas é a amplitude interquartil (IQR na sigla inglesa: 25% a 75%). Estes valores mostram que o Baixo Corgo é a região mais fria, com um IQR entre 16,5°C e 17,9°C, seguido do
Cima Corgo com um IQR entre 16,8°C e 18,3°C, sendo o Douro Superior a região mais quente com um IQR entre 17,1°C a 18,6°C (Tabela 9). Globalmente, a região é em 65% um clima Temperado, 24% um clima Intermédio e quase 10% um tipo de clima Quente em matéria de TMCV (Figura 36). Por sub-‐região, cada área é predominantemente um tipo de clima Pouco
Quente, com 76%, 63% e 71% da área no Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior, respectivamente. O Cima Corgo possui mais área com um tipo de clima Temperado do que as outras duas regiões, e o Douro Superior possui o dobro da área com um tipo de clima Quente relativamente às outras duas regiões.
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Figura 35: Temperaturas médias no ciclo vegetativo na Região Demarcada do Douro durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
Figura 36: Percentagem da Região Demarcada do Douro e das três sub-‐regiões em cada classe do índice de
temperaturas médias no ciclo vegetativo durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al.,
2005).
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Tabela 9: Estatística de quartis para as temperaturas médias no ciclo vegetativo (Abril -‐ Outubro), dias-‐grau de crescimento (Abril -‐ Outubro) e o Índice de Huglin (Abril -‐ Setembro) nas três sub-‐regiões da Região Demarcada do Douro. Os valores representam a estatística espacial de cada variável: mínimo absoluto, 25%, mediana, 75% e máximo absoluto. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
Temperatura média no ciclo vegetativo Região Mínimo (°C) 25% (°C) Mediana (°C) 75% (°C) Máximo (°C)
Baixo Corgo 12,1 16,5 17,5 17,9 19,2
Cima Corgo 14,9 16,8 17,5 18,3 19,7 Douro Superior 15,6 17,1 18,0 18,6 19,7
Dias-‐grau de crescimento Região Mínimo 25% Mediana 75% Máximo
Baixo Corgo 615 1411 1606 1708 1977 Cima Corgo 1084 1474 1622 1781 2081
Douro Superior 1207 1537 1717 1855 2090
Índice de Huglin Região Mínimo 25% Mediana 75% Máximo
Baixo Corgo 978 1900 2087 2175 2370 Cima Corgo 1537 1968 2118 2263 2515
Douro Superior 1709 2034 2200 2327 2542
Os dias-‐grau de crescimento (STA) durante 1950-‐2000 apresentam uma média de 1680 em toda a Região Demarcada do Douro, com um padrão semelhante ao observado na TMCV. No entanto, sendo embora a TMCV e a STA índices funcionalmente idênticos (Jones et al., 2010), é de notar que as classes dos índices não são equivalentes e directamente comparáveis.
A acumulação de STA é maior ao longo do vale principal e seus vales secundários e no Douro Superior (Figura 37). A amplitude de STA observada na região é de 1475 unidades, desde a STA mais baixa (615) nas montanhas ao longo do limite oeste do Baixo Corgo, até à mais alta (2090) observada imediatamente a sul de Barca d’Alva no Douro Superior (Tabela 9). Na escala de Winkler, toda a área é em pouco mais de 41% uma Região II, em pouco menos de 40% uma
Região III e em 10% uma Região IV (Figura 38). Tal como acima referido para a TMCV, a IQR é um bom indicador para descrever a principal área estrutural das sub-‐regiões, e com a STA os resultados mostram o Baixo Corgo com uma IQR entre 1411 e 1708, o Cima Corgo com uma IQR entre 1474 e 1781 e o Douro Superior com uma IQR entre 1537 e 1855. Estes valores colocam o Baixo Corgo como predominantemente (50%) uma Região III na escala de Winkler,
sendo o Cima Corgo maioritariamente uma Região II (48%) (Figura 38). O Douro Superior é em larga medida uma Região III (45%) na mesma escala, mas contém o dobro da área classificada como Região IV (15%) relativamente às outras duas sub-‐regiões (Figura 38; Tabela 9).
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Figura 37: Dias-‐grau de crescimento (STA) na Região Demarcada do Douro durante 1950-‐2000. Valores calculados com uma temperatura base de 10°C sem limite superior e somados ao longo dos meses de Abril a Outubro. A legenda indica simultaneamente valores e as regiões de aptidão do Índice de Winkler (Winkler et al., 1974) com uma actualização para a Região I e limites superiores e inferiores implementados por Jones et al. (2011). De notar ainda que os limites das classes estão arredondados para as unidades °F equivalentes conforme o Índice de Winkler foi originalmente desenvolvido. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
Figura 38: Percentagem da Região Demarcada do Douro e das três sub-‐regiões em cada classe do índice de regiões de Winkler com base nas classes de dias-‐grau de crescimento durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
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Em termos do Índice de Huglin (HI na sigla inglesa), a Região Demarcada do Douro apresenta espacialmente uma média de 2160 ou um pouco acima de 50% um clima Temperado-‐Quente, em 35% um clima Temperado, em 10% um clima Quente e em 4% um
clima Frio para viticultura (Figuras 39 e 40). A amplitude da Região Demarcada do Douro no HI é de 1564, com um padrão uniforme de valores mais baixos nas cotas mais elevadas e a oeste e valores mais altos ao longo dos rios e a este (Figura 39). A IQR do HI para o Baixo Corgo situa-‐se nos 1900 a 2175, enquanto para o Cima Corgo é de 1969 a 2263 e para o Douro Superior de 2034 a 2327 (Tabela 9). Em termos percentuais, o Baixo Corgo apresenta em 65% um tipo de
clima Temperado-‐Quente, em 25% Temperado e em menos de 5% Frio e Quente (Figura 40). O Cima Corgo é também em larga medida Temperado-‐Quente (47%) e Temperado (41%), mas possui quase o dobro da área classificada como Quente (8%) relativamente ao Baixo Corgo. A sub-‐região do Douro Superior é predominantemente Temperada-‐Quente (55%), mas apresenta mais do dobro da área classificada como Quente (16%) do que o Cima Corgo. Enquanto o HI e a
STA resumem características de acumulação de calor similares, a adição de um factor de duração do dia e a ponderação mais elevada das temperaturas máximas faz com que não sejam directamente comparáveis. De igual modo, os limites de classes nas TMCV, nas STA e no HI não são equivalentes (por ex. uma TMCV Quente não é necessariamente um HI Quente,
etc.).
Figura 39: Índice de Huglin para a Região Demarcada do Douro durante 1950-‐2000. Valores calculados com uma temperatura base de 10°C sem limite superior, com uma correcção de latitude aplicada, e somados ao longo dos meses de Abril a Setembro. A legenda inclui os valores e as categorias de aptidão do Índice de Huglin conforme criadas por Huglin (1978). Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
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Figura 40: Percentagem da Região Demarcada do Douro e das três sub-‐regiões em cada classe do Índice de Huglin durante 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim (Hijmans et al., 2005).
CLIMA ESPACIAL: PROJECÇÕES FUTURAS
O clima futuro para a Região Demarcada do Douro é avaliado para três períodos futuros (2020, 2050 e 2080), para três cenários de emissões de gases de estufa (B2, A1B e A2) usando o
modelo HADCM3, e comparando com as condições históricas (1950-‐2000). Em matéria de precipitação média anual, as alterações estimadas variam desde cerca de zero a um decréscimo na ordem dos 21,6% (Figuras 41 e 45). O cenário B2 aponta para pequenas alterações com descidas ténues em 2020 e 2050, mas ligeiros aumentos em 2080. O cenário A1B antecipa descidas de 6-‐7% na precipitação anual em 2020, 13-‐15% em 2050 e 18-‐22% em
2080. O cenário A2, por sua vez, apresenta magnitudes levemente inferiores nas alterações previstas, com praticamente nenhuma alteração em 2050 e 15-‐17% em 2080. Não se estima que a precipitação no inverno se altere muito, podendo mesmo aumentar em alguns cenários (Figura 45 e Apêndice – Figura 1). As projecções para o cenário B2 indicam um aumento na ordem dos 7-‐17% na precipitação no inverno desde o momento actual até 2080. O cenário A1B
prevê um ligeiro decréscimo na ordem dos 1-‐7% ao longo do mesmo período de tempo, enquanto o cenário A2 tem resultados mistos, com um aumento de 8-‐10% em 2050 e um pequeno decréscimo de perto de 2% em 2080. É para o ciclo vegetativo que estão projectadas as maiores alterações no que toca a precipitação (Figura 45 e Apêndice – Figura 2). Todos os cenários para o ciclo vegetativo apontam para descidas, com o cenário B2 a indicar um
decréscimo até 19% em 2050 e posteriormente uma descida menos acentuada na ordem dos 8-‐10% em 2080. O cenário A1B estima uma diminuição da precipitação no ciclo vegetativo a variar entre 13-‐14% em 2020 e praticamente 42% no Douro Superior em 2080. O cenário A2
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prevê uma diminuição semelhante da precipitação no ciclo vegetativo, mas com percentagens ligeiramente inferiores de 4-‐40%.
Estima-‐se que as temperaturas médias anuais, que apresentam espacialmente uma média entre 13,5-‐14,0°C para a Região Demarcada do Douro durante 1950-‐2000, irão aumentar em todos os cenários de emissões e períodos (Figuras 42 e 46). Em 2020 está
projectado um aquecimento a variar entre 0,5-‐0,7°C para o cenário A2, 0,7-‐0,9°C no cenário B2 e 1,3-‐1,4°C no cenário A1B. Para 2050 o aquecimento previsto é semelhante para os cenários B2 e A2, variando entre 1,4-‐1,9°C, mas atingindo até 3,3°C para o cenário A1B (Figura 42). Em 2080, as projecções indicam um aquecimento potencial de 2,1-‐2,6°C no cenário B2, 3,1-‐3,8°C
no cenário A2 e 4,9-‐5,1°C no cenário A1B. Por sub-‐região, o cenário A1B mostra um aquecimento da temperatura média anual praticamente nivelado, enquanto os cenários B2 e A2 evidenciam um aquecimento progressivo de oeste para este, com o Douro Superior a apresentar os valores mais elevados em termos de aquecimento.
Durante o repouso vegetativo (Novembro a Março), o aquecimento estimado ao nível das temperaturas máximas médias varia entre 0,4-‐0,9°C em 2020, 1,1-‐2,0°C em 2050 e 1,5-‐3,2°C em 2080 (Apêndice – Figura 5). À semelhança do que acontece nas temperaturas anuais,
o cenário A1B apresenta um maior aquecimento do que os cenários A2 e B2. As temperaturas mínimas médias durante o repouso vegetativo apontam também para uma subida na ordem dos 0,4-‐0,8°C em 2020, 1,0-‐1,8°C em 2050 e 1,5-‐2,8°C em 2080. No caso do modelo HADCM3 e para os três cenários de emissões, verifica-‐se uma ligeira diferença no aquecimento previsto durante o repouso vegetativo, com as temperaturas máximas a subirem mais do que as
temperaturas mínimas (Apêndice – Figuras 5 e 6). Os padrões de aquecimento na Região Demarcada do Douro apontam para os maiores aumentos inicialmente a ocorrerem no núcleo principal da bacia fluvial, seguidos de um aquecimento generalizado no Douro Superior, e depois aquecimento nas zonas mais altas em praticamente toda a região.
Em termos de ciclo vegetativo (Abril -‐ Outubro), a Região Demarcada do Douro apresenta espacialmente uma média de 17,0-‐18,0°C nas temperaturas médias do ciclo
vegetativo (TMCV) (Figura 43; Tabela 9). As alterações futuras nestes três índices são claras, com um aquecimento previsto das TMCV de 0,6-‐1,8°C em 2020, 1,8-‐4,3°C em 2050 e 2,5-‐6,6°C em 2080 (Figura 43). O padrão espacial de aquecimento na região é similar ao observado nas temperaturas anuais ou relativas à estação de repouso vegetativo. O maior aquecimento nas TMCV está projectado ocorrer no cenário A1B em 2080. Decompondo as TMCV em
temperaturas máximas e mínimas, encontramos uma previsão de maior aquecimento para as temperaturas máximas diurnas durante o ciclo vegetativo, com valores de 0,8-‐7,9°C em todos os cenários de emissões e períodos, comparativamente aos 0,4-‐5,1°C para as temperaturas mínimas nocturnas (Apêndice – Figuras 3 e 4). Isto implicaria um aumento potencial na amplitude térmica diurna, mas com valores globais mais elevados. Fazendo a média de toda a
região, alterações desta magnitude nas TMCV deslocariam a Região Demarcada do Douro de uma aptidão climática Pouco Quente para uma aptidão climática Quente ou nos limites superiores do Muito Quente, dependendo do cenário (Figura 47). Espacialmente, a estrutura
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climática de 1950-‐2000 em termos de TMCV para a região foi aproximadamente em 65% uma aptidão climática Temperada, em 25% Intermédia e em 10% Quente (Figura 38). Em média, nos três cenários de emissões para cada período, as projecções mostram potencial para grandes
alterações na percentagem de área em cada classe de TMCV, com a região 50% Temperada e 43% Quente em 2020 (Figura 48). Novas alterações em 2050 poderiam resultar em apenas 14% da Região Demarcada do Douro na classe de aptidão climática Temperada, 50% na Quente e 36% na Muito Quente. Em 2080, as alterações ao nível das TMCV poderiam resultar potencialmente em perto de 19% da paisagem a tornar-‐se Demasiado Quente, 54% Muito
Quente, 25% Quente e menos de 3% Fria, Intermédia ou Temperada (Figura 48). As alterações apresentam um padrão de aquecimento que aumenta mais rapidamente ao longo das secções principais da bacia fluvial, depois no Douro Superior e em 2080 nas terras mais altas em grande parte da região (Figura 43).
Os dias-‐grau de crescimento (STA) para a Região Demarcada do Douro registaram espacialmente uma média de 1600-‐1725 durante 1950-‐2000 (Figura 44; Tabela 9). A análise
futura das STA na região mostra projecções de aumentos de 100 para perto de 400 unidades em 2020, 350 a 900 unidades em 2050, e 500 a 1400 unidades em 2080 (Figura 44). As alterações projectadas nas STA são mais baixas com o cenário B2 e atingem o seu ponto mais alto com o cenário A1B. Sendo as TMCVT e as STA funcionalmente diferentes (ou seja, um é um somatório de calor e o outro uma média de temperatura), o resultado apresenta virtualmente
o mesmo resultado, sendo a única diferença a divisão em classes (Jones et al., 2010). Como tal, será de esperar resultados semelhantes dos modelos, o que de facto acontece em termos do padrão global das alterações projectadas. As STA médios para toda a Região Demarcada do Douro em 1950-‐2000 colocam-‐na como Região III no Índice de Winkler, com alterações previstas nas STA a deslocarem-‐na para os limites superiores da Região III nos cenários B2 e A2
e para a Região IV no cenário A1B (Figura 47). Em 2050, as projecções transferem a área para a classificação de Região IV nos cenários B2 e A2 e para a Região V no cenário A1B. Já para 2080, as projecções disparam para uma Região V baixa no cenário B2, uma Região V média no cenário A2, até uma estimativa potencial de tipo de clima Demasiado Quente no cenário A1B (Figura 47). Espacialmente, os resultados para as STA são semelhantes aos das TMCV, em que,
em 2020, a área se estima ser em 13% uma Região II, em 40% uma Região III, em 36% uma Região IV e em 9% uma Região V (Figura 48). Novas alterações até 2050 deixam antever que a área se torne em larga medida uma Região V (45%), com 32% como Região IV, 13% como Região III e 9% como demasiado quente. Em 2080, a área tida como demasiado quente
aumenta para 44%, enquanto 42% é classificada como Região V, 12% como Região IV e mais uma vez menos de 3% como Região I a Região III (Figura 48).
O Índice de Huglin (HI) durante o período observado de 1950-‐2000 registou espacialmente uma média de 2000-‐2200 na Região Demarcada do Douro (Figura 45; Tabela 9). Embora o HI e as STA sejam ambos índices de acumulação de calor, há duas questões que precisam de ser lembradas: 1) os limites das classes não são iguais (por ex., um HI Temperado não corresponde necessariamente a uma Região III em termos de STA) e 2) o HI pondera mais
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67
as temperaturas máximas do que as STA. Como tal, em virtude dos maiores aumentos projectados para as temperaturas máximas na região, será de esperar que a magnitude das alterações no HI seja diferente nas STA. No entanto, nas projecções base, o HI aumenta de
forma semelhante nas STA, com alterações de 125 para 375 unidades em 2020, 375 para 900 unidades em 2050 e 500 a 1400 unidades em 2080 (Figura 45). Uma vez mais, as alterações projectadas são mais baixas com o cenário B2 e atingem o seu ponto mais alto com o cenário A1B. O padrão geral de aquecimento é similar tanto aos padrões de TMCV como de STA. No período actual (1950-‐2000), a Região Demarcada do Douro apresenta espacialmente em média
uma classe HI Temperado-‐Quente baixa, prevendo-‐se que suba para o topo dessa classe nos cenários B2 e A2 e mesmo para a classe de HI Quente no cenário A1B (Figura 47). Em 2050, os cenários B2 e A2 empurram a região para o topo da classe HI Quente, enquanto o cenário A1B transporta a região para a linha de divisória entre o Muito Quente e aquilo que seria considerado Demasiado Quente no HI. Estão projectadas mais alterações no HI para 2080, com
o cenário B2 a deslocar a região para uma posição baixa na classe Muito Quente do HI, o A2 no limite do Muito Quente e Demasiado Quente, e o A1B a transportar toda a região para o que seria considerado Demasiado Quente no HI (Figura 47). São também evidentes comutações de ordem espacial na Região Demarcada do Douro, com alterações em todos os períodos (Figura
48). Durante 1950-‐2000, a região foi em 50% Temperada-‐Quente, 35% Temperada, 10% Quente e 5% Fria ou Muito Fria. Em 2020, estima-‐se que as paisagens da região comportem ainda uma grande área classificada como Temperada-‐Quente (40%), mas com alterações significativas para 43% como Quente, 8% como Muito Quente e menos de 10% como Temperada a Muito Fria. Em 2050 e 2080 o aquecimento diferencial na temperatura máxima
versus mínima mostra alterações mais acentuadas no HI do que no índice de STA. Em 2050, perto de 22% da região está estimada como tornando-‐se Demasiado Quente, enquanto 34% da área é tida como Muito Quente e Quente, e praticamente 10% apresenta-‐se entre Muito Fria e Temperada-‐Quente (Figura 48). Em termos médios, à luz de todos os cenários, as projecções mostram que, em 2080, a região poderá potencialmente ser em larga medida Demasiado
Quente (55%), restando 30% de paisagem Muito Quente, 13% Quente e apenas 2% Muito Fria a Temperada-‐Quente.
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68
Figura 41: Precipitação méd
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69
Figura 42: Tem
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ouro. A linha superior apresenta as condições históricas durante 1950-‐2000, com
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os cenários de emissões B2, A
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(Hijm
ans et al., 2005).
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Figura 43: Tem
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Figura 44: D
ias-‐grau (STA) de crescim
ento (Regiões de Winkler) para a Região D
emarcada do D
ouro. A linha superior apresenta as condições históricas durante 1950-‐2000, com
as linhas
seguintes a representarem os cenários de em
issões B2, A1B e A
2 SRES para três períodos futuros (2020, 2050 e 2080). As tabelas apresentam
os valores de mediana nas três sub-‐regiões
(Baixo Corgo, Cima Corgo e D
ouro Superior) e as alterações previstas em unidades STA
tendo por base o período 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim
(Hijm
ans et al., 2005).
GREGORY JONES | UMA AVALIAÇÃO DO CLIMA PARA A REGIÃO DEMARCADA DO DOURO uma análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção de vinho
72
Figura 45: Valores do Índice de Huglin para a Re
gião
Dem
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s históricas duran
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issões B2, A1B
e A2 SR
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Figura 46: Média espacial das alterações estimadas na precipitação anual (A), no inverno (B) e no ciclo vegetativo (C) para o Baixo Corgo (BC), Cima Corgo (CC) e Douro Superior (DS). Os dados abrangem o período actual (1950-‐2000) até 2020, 2050 e 2080 para os cenários de emissões B2, A1B e A2 a partir do modelo HADCM3.
A
B
C
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Figura 47: Média espacial da tendência de aquecimento estimada para as temperaturas médias anuais em toda a Região Demarcada do Douro. Os dados abrangem o período actual (1950-‐2000) até 2020, 2050 e 2080 para os cenários de emissões B2, A1B e A2 a partir do modelo HADCM3.
Figura 48: Média espacial da tendência de aquecimento estimada para as temperaturas médias no ciclo vegetativo (A), dias-‐grau (STA) de crescimento (B) e Índice de Huglin (HI) em toda a Região Demarcada do Douro. Os dados abrangem o período actual (1950-‐2000) até 2020, 2050 e 2080 para os cenários de emissões B2, A1B e A2 a partir do modelo HADCM3. Os níveis de classes indicados em cada figura são os definidos para cada índice (ver texto para mais pormenores).
C
A B
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Figura 49: Percentagem da Região Demarcada do Douro em cada classe do índice de temperaturas médias no ciclo vegetativo durante 1950-‐2000, 2020, 2050 e 2080. Os três períodos futuros consistem em médias dos cenários B2, A1B e A2.
Figura 50: Percentagem da Região Demarcada do Douro em cada classe do Índice de Winkler de dias-‐grau de crescimento durante 1950-‐2000, 2020, 2050 e 2080. Os três períodos futuros consistem em médias dos cenários B2, A1B e A2.
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Figura 51: Percentagem da Região Demarcada do Douro em cada classe do Índice de Huglin durante 1950-‐2000, 2020, 2050 e 2080. Os três períodos futuros consistem em médias dos cenários B2, A1B e A2
Os resultados desta análise com recurso aos dados da WorldClim a partir de um único
modelo climático (HADCM3) são semelhantes em magnitude à cadeia múltipla de modelos regionais de ESEMBLES e COSMO-‐CLM usados por Santos et al. (2012). Os 16 modelos climáticos regionais na cadeia têm uma resolução espacial de 18-‐25 km, o que resulta em menos grelhas a representarem a Região Demarcada do Douro comparativamente aos dados da WordlClim com um 1 km de resolução. A média de conjunto para 16 experiências com
modelos climáticos regionais segundo o cenário A1B SRES projecta taxas de aquecimento nas temperaturas médias anuais de 0,34°C por década ou uma alteração total de 3,1°C entre 2010 e 2100. O aquecimento no ciclo vegetativo (Abril -‐ Outubro) será previsivelmente perto do dobro do aquecimento no inverno. Estima-‐se que as temperaturas médias no inverno (Novembro -‐ Março) aumentem 0,24°C por década, resultando num aquecimento global de
2,2°C entre 2010 e 2100. Estima-‐se ainda que as temperaturas médias durante o ciclo vegetativo aumentem 0,42°C por década, com um aquecimento global de 3,8°C entre 2010 e 2100. Alterações desta magnitude indicam que as TMCV sobem de cerca de 17°C, que corresponde a uma aptidão climática Intermédia a Temperada, para aproximadamente 21°C ou uma aptidão climática Quente a Muito Quente no final do século XXI na região do Vale do
Douro. As alterações projectadas ao nível da precipitação no conjunto dos 16 modelos climáticos regionais apresentam uma variabilidade muito superior nos vários modelos e ao longo do século XXI. No entanto, a média de conjunto aponta para uma diminuição significativa na precipitação anual (17 mm) por década ou uma redução de aproximadamente 15% em 2100. A redução na precipitação anual evidenciada pelo conjunto de modelos resulta em larga
medida de reduções significativas ao nível da precipitação no ciclo vegetativo, permanecendo a precipitação no inverno altamente variável no período de tempo alvo da projecção. Uma
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análise das projecções de precipitação mensal mostra descidas significativas a esse nível em todos os meses do ciclo vegetativo, mas valores ligeiramente superiores durante o final da primavera, início do verão (Maio e Junho).
Outros estudos recentes que analisam as alterações climáticas em regiões vinícolas de todo o mundo, na Europa, e especificamente na Península Ibérica, apontam para alterações
estimadas semelhantes às conclusões desta análise. Por exemplo, Jones et al. (2005) constataram um aquecimento médio estimado de 2,0°C durante o ciclo vegetativo em 27 regiões vinícolas de todo o mundo em 2050 utilizando o cenário A2 no modelo HADCM3. No entanto, os resultados mostraram que a Península Ibérica aquecia mais do que outras regiões,
com um aquecimento das TMCV de 2,4°C em 2050 (taxa de 0,5°C por década) no norte de Portugal. Webb et al. (2008) registaram um aquecimento similar na Austrália associado a potenciais reduções na qualidade do vinho nas regiões já quentes. Hall e Jones (2009) apontam para um aquecimento nas regiões vinícolas australianas de 1,3-‐2,7°C em 2070, o que irá provavelmente empurrar muitas regiões para fora daquilo que seria apropriado para a
produção de vinhos de alta qualidade. Para os Estados Unidos globalmente considerados, White et al. (2006) usaram um modelo climático regional de alta resolução (25 km) compelido por um cenário de emissões de gases de estufa A2 do IPCC e estimaram que a potencial área premium para a produção de uvas para vinho nos Estados Unidos (excluindo Alasca e Havai) poderá ter diminuído em até 81% no final do século XXI. Esta investigação concluiu que
aumentos na acumulação de calor irão possivelmente alterar a produção de vinho para castas mais adaptadas a climas quentes e/ou gerar vinhos de menor qualidade. Adicionalmente, os modelos mostram que, embora os problemas com a geada se vejam reduzidos, aumentos na frequência de dias extremamente quentes (>35°C) no ciclo vegetativo poderão comprometer gravemente ou eliminar por completo a produção de uvas para vinho em muitas áreas dos Estados Unidos.
No caso da Europa, Malheiro et al. (2010), recorrendo a simulações de conjunto transitórias com o modelo regional COSMO-‐CLM para os cenários B1 e A1B, mostram que a geografia da viticultura na Europa irá provavelmente alterar-‐se de forma substancial até ao final do século XXI. Maior secura e efeitos térmicos acumulativos deverão ter impacto nas regiões vinícolas de todo o sul da Europa, prevendo-‐se ao mesmo tempo que no norte da
Europa surjam novas áreas aptas para a viticultura. Moriondo et al. (2011) realizaram um estudo semelhante a este para a Toscânia, Itália, tendo concluído que, em consequência de um aumento progressivo da temperatura e uma redução na precipitação, será de prever que a região registe 1) um aumento da área apta para viticultura (cotas mais elevadas), 2) um ciclo vegetativo da videira mais curto, 3) uma redução no rendimento e 4) uma deslocalização das
zonas de vinho de qualidade premium para as cotas mais elevadas. Santos et al. (2012) indicaram concretamente para o Vale do Douro que as temperaturas médias de conjunto durante Fevereiro-‐Março deverão aumentar 3°C entre o ano 2000 e o final do século XXI, com um acréscimo nas temperaturas médias para o mês de Maio de 4°C durante o mesmo período. Não é de esperar que a precipitação na primavera sofra qualquer alteração no longo prazo com
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a maior pressão dos gases de estufa. No entanto, uma análise do mecanismo de feedback cobertura vegetal-‐clima na Europa, realizada por Wramneby et al. (2010), mostra que no sul da Europa (incluindo a maior parte da Península Ibérica) o acentuar da seca no verão poderá
condicionar o crescimento e a sobrevivência das plantas, o que por sua vez poderá resultar num feedback positivo do aquecimento através de uma menor evapotranspiração. Os autores afirmam que o mecanismo de feedback entre a cobertura vegetal e o clima na área de estudo europeia será modesto comparado com a pressão radioactiva de maiores concentrações globais de CO2, mas que as interacções podem modificar as projecções de aquecimento a nível local, regional e sazonal.
Projecções futuras para a Península Ibérica usando seis modelos do IPCC mostram um aquecimento continuado de 0,4°C por década durante o inverno e 0,6°C por década durante o verão com uma pequena diferença ente os cenários B2 e A2 (de Castro et al., 2005). Apontando embora os resultados para projecções díspares entre os diferentes modelos climáticos, os autores mostram que globalmente os resultados indicam uma redução
significativa na precipitação anual, que será maior no cenário A2 comparativamente ao B2, com o pico de reduções a ocorrer no final da primavera. Servindo-‐se do modelo climático regional PROMES (resolução de 50 km), de Castro et al. (2005) apresentam projecções para 2070-‐2100 de um aquecimento continuado de 5,0-‐7,0°C no verão e 3,0-‐4,0°C no inverno, com taxas de aquecimento mais baixas à medida que nos aproximamos da costa e mais elevadas no
interior. Embora se verifique uma grande variabilidade geográfica na frequência e amplitude das anomalias na temperatura mensal, os autores especificam aumentos na variabilidade temporal em todas as estações e simultaneamente no cenário B2 e A2. As alterações na precipitação no modelo climático regional PROMES são mais heterogéneas na Península Ibérica, com um forte gradiente na precipitação média, desde o noroeste mais chuvoso até ao
sudeste mais seco. O que mais ressalta em termos de precipitação é a tendência para menor precipitação na primavera/verão na maior parte da península.
Outro estudo para Portugal usou o modelo regional HadRM3 e analisou as alterações na distribuição das temperaturas máximas e mínimas e alterações associadas em termos de probabilidade de eventos extremos para 2071-‐2100 nos dois cenários de emissões (Ramos et al., 2011). As alterações projectadas para 2071-‐2100 parecem ser consistentes com as
encontradas durante 1976-‐2006 em Portugal, com um aumento na temperatura máxima de 3,2°C (4,7°C) para o cenário B2 (A2) no verão e 3,4°C em ambos os cenários na primavera. Alterações similares foram observadas nas temperaturas mínimas, com aumentos para o verão (primavera) a variar entre 2,7°C (2,5°C) no cenário B2 e 4,1°C (2,9°C) no cenário A2. As alterações gerais a nível de temperaturas máximas e mínimas para Portugal previstas para o
final do século XXI foram acompanhadas por alterações na ocorrência de eventos extremos, com os extremos de calor a aumentarem de frequência e os extremos de frio em declínio no país (Ramos et al., 2011).
GREGORY JONES | UMA AVALIAÇÃO DO CLIMA PARA A REGIÃO DEMARCADA DO DOURO uma análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção de vinho
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CONCLUSÕES A história do cultivo da uva para produção de vinho mostra-‐nos claramente que esta é
uma cultura sensível sob o ponto de vista climático, em que uma produção de qualidade se
atinge apenas numa faixa geográfica bastante estreita (Jones, 2006). Acresce a isto o facto desse tipo de uva ser em larga medida cultivado em regiões de latitude média e portanto sujeitas a elevada variabilidade climática de que decorrem diferenças relativamente acentuadas ao nível da vindima em matéria de qualidade e produtividade. Para além disso, o
histórico de evolução dos parâmetros climáticos e suas projecções futuras para as regiões vinícolas mostram-‐nos que ocorreram alterações e que estas irão provavelmente continuar a ocorrer no futuro (Jones et al., 2005). Este estudo debruçou-‐se sobre inúmeros aspectos do clima numa das regiões vinícolas mais históricas do mundo – o Vale do Douro português – com o objectivo de documentar e analisar as condições climáticas históricas, atuais e futuras da região.
A Região Demarcada do Douro abrange uma área superior a 250.000 hectares num vale
montanhoso de orientação este-‐oeste, com encostas moderadas a escarpadas e exposição variada, sendo drenada pelo rio Douro e seus afluentes. A área possui plantações de mais de 45.000 hectares de uvas para vinho em três sub-‐regiões: Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. As condições climáticas históricas na Região Demarcada do Douro revelam uma estrutura climática maioritariamente do tipo mediterrânico com variação intra-‐anual
moderadamente elevada em termos de temperatura e precipitação. As temperaturas da região são normalmente mais baixas a oeste e nas cotas mais elevadas, situando-‐se as zonas mais quentes ao longo do núcleo principal da bacia fluvial e a este. A precipitação é mais elevada nas cotas mais altas e nas montanhas que delimitam a fronteira oeste da região, que produzem
um notório efeito de sombra de chuva à medida que avançamos para este ao longo do rio. Dados históricos de várias estações meteorológicas relativos ao período 1931-‐1960 mostram que a região tem áreas que variam de uma aptidão climática Fria nas cotas mais elevadas e uma aptidão Quente em alguns locais no Douro Superior. Ao longo do período 1931-‐1960 a precipitação no inverno e no ciclo vegetativo foi na ordem dos 64% e 36% da precipitação
anual, respectivamente, o que é muito semelhante ao que acontece nos nossos dias. Durante o ciclo vegetativo, quando as taxas de evapotranspiração determinam em larga escala o stress hídrico do solo, a mediana da taxa de evapotranspiração na região é superior em 250% à mediana dos dados de precipitação durante o período de crescimento da videira. Dados climáticos espaciais actualizados para 1950-‐2000 revelam condições climáticas similares às
normais climatológicas de 1931-‐1960. No que toca a temperaturas médias do ciclo vegetativo, a região apresenta uma média de 17,8°C e está espacialmente classificada em 65% como um tipo de clima Temperado, 24% um tipo de clima Intermédio e quase 10% um tipo de clima Quente no índice de TMCV. Os dias-‐grau de crescimento evidenciam um padrão semelhante, com uma média de 1680 para toda a região, da qual pouco mais de 41% está classificada como
Região II de Winkler, pouco menos de 40% como Região III e 10% como Região IV. Em termos do Índice de Huglin, a região apresenta espacialmente uma média de 2160 e varia entre acima
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de 50% como clima Temperado-‐Quente, 35% como clima Temperado, 10% como clima Quente e 4% como clima frio para viticultura.
As tendências observadas na região foram analisadas, quer em termos das estações individuais, quer espacialmente em toda a região. As diferenças entre os dados de 1931-‐1960 e 1950-‐2000 revelam que o último período foi mais quente em média 0,9°C em termos de
temperaturas anuais na região, com o ciclo vegetativo e o inverno 1,2°C e 0,4°C mais quentes, respectivamente. Analisando individualmente as estações com registos de dados de qualidade e relativo longo prazo encontram-‐se tendências para muitos parâmetros climáticos durante 1967-‐2010. Durante este período, a Régua, o Pinhão e Vila Real evidenciaram tendências nas
temperaturas anuais, no ciclo vegetativo e no inverno. Em geral, as estações apontam todas elas para um maior aquecimento nas temperaturas mínimas comparativamente às máximas, com taxas que variam entre os 1,2°C e 3,6°C durante este período. Os resultados de uma análise das três estações em matéria de eventos extremos revelam alterações significativas nos extremos quer das temperaturas máximas quer das mínimas, globalmente com noites mais
quentes, dias mais quentes, um decréscimo geral na amplitude térmica diurna, uma maior ocorrências de eventos de stress térmico, alguns sinais de ondas de calor mais prolongadas e uma clara redução na duração das ondas de frio. Não foram detectadas tendências no que toca a precipitação anual no repouso vegetativo ou estação de crescimento em qualquer uma das três estações. Ficou demonstrado que a estrutura e frequência dos padrões meteorológicos de
larga escala sobre o Oceano Atlântico Este, a Europa Ocidental e o Mediterrâneo têm alguma influência sobre a variabilidade climática da região, embora os resultados apontem para um aquecimento geral que não estará significativamente associado a alterações ao nível da circulação regional. Outras investigações de carácter global envolvendo a Europa, a Península Ibérica e Portugal chegaram a tendências semelhantes às encontradas nesta análise em termos de médias e extremos.
As condições climáticas futuras na Região Demarcada do Douro foram analisadas com recurso a projecções SRES do IPCC do modelo HADCM3 para três cenários de emissões de gases de estufa (B2, A1B e A2) e três períodos futuros (2020, 2050 e 2080). Os resultados do modelo global de grande escala foram reduzidos empiricamente em termos de escala por meio de uma interpolação espacial “thin plate spline” de anomalias de dados originais de GCM,
permitindo uma comparação directa com a estrutura climática espacial na região da base de dados WorldClim (1950-‐2000). Prevê-‐se que as temperaturas médias anuais subam para todos os cenários de emissões e para todos os períodos. As projecções variam entre 0,5-‐1,4°C em 2020, 1,4-‐3,3°C em 2050, e 2,1-‐5,1°C em 2080. O aquecimento estimado é menor com o cenário de emissões B2 e maior com o cenário A1B, embora o cenário A2 seja o mais quente de
2080-‐2100. Decompondo o ano em estação de repouso vegetativo (Nov -‐ Mar) e estação de crescimento (Abr -‐ Out), verifica-‐se um aquecimento em ambos os períodos, embora se preveja que as temperaturas aumentam mais durante o ciclo vegetativo (0,6-‐6,6°C) do que no inverno (0,4-‐3,2°C) em todos os cenários e períodos. Durante o inverno, as projecções são levemente superiores para as temperaturas mínimas, enquanto durante o ciclo vegetativo se prevê que as
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temperaturas máximas subam substancialmente mais do que as temperaturas mínimas. Considerando os três índices térmicos de aptidão para a viticultura analisados neste estudo – temperatura média no ciclo vegetativo (TMCV), dias-‐grau de crescimento ou Índice de Winkler
(STA) e Índice de Huglin (HI) – as projecções apontam para alterações significativas em todos na Região Demarcada do Douro. No caso da TMCV, estima-‐se que a região passe de uma aptidão climática em larga medida Temperado (65% da área) em 1950-‐2000 para uma maior área de aptidão climática Quente em 2020 (43%) e mesmo uma aptidão Muito Quente em 2050 (36%). Em 2080, o padrão espacial da TMCV deverá abranger 19% da paisagem como
Demasiado Quente, 54% Muito Quente, 25% Quente e menos de 3% Frio, Intermédio ou Pouco Quente. Ambos os índices STA e HI apresentam resultados semelhantes, com alterações de relevo em todas as classes de aptidão de cada período, embora seja de esperar que as alterações no HI sejam de maior monta em virtude de um maior aquecimento nas temperaturas máximas durante o ciclo vegetativo. Em 2080, a área tida como demasiado
quente em STA (no Índice de Winkler) aumenta para 44%, enquanto 42% é projectada como Região V, 12% como Região IV e mais uma vez menos de 3% como Região I a Região III. Em termos de HI, as projecções mostram que, em 2080, a região poderá potencialmente ser em larga medida demasiado quente (55%), restando 30% de paisagem Muito Quente, 13% Quente
e apenas 2% Muito Fria a Temperada-‐Quente. As alterações apresentam um padrão de aquecimento que aumenta mais rapidamente ao longo das secções principais da bacia fluvial, depois no Douro Superior e em 2080 nas terras mais altas em grande parte da região.
As alterações a nível da precipitação para a Região Demarcada do Douro deverão ser relativamente reduzidas a moderadamente elevadas, em função do cenário e do período. No que toca a precipitação média anual, as alterações previstas são próximas de zero ou com um decréscimo até 21,6% no cenário A1B em 2080. Não se estima que a precipitação no inverno se
altere muito, podendo mesmo aumentar em alguns cenários. O cenário B2 estima aumentos de precipitação no inverno na ordem dos 15-‐17% em 2080, enquanto os cenários A1B e A2 mostram ligeiras descidas ao longo dos vários períodos. A maior parte das alterações na precipitação deverá ocorrer durante o ciclo vegetativo, estando projectadas descidas de 10-‐42% em 2080. Espacialmente ao longo da Região Demarcada do Douro, as alterações previstas
ao nível da precipitação no ciclo vegetativo mostram que o já de si verão seco no Douro Superior tenderá a ver ainda mais reforçada essa tendência, enquanto se registará um decréscimo moderado da precipitação no verão generalizado em toda a região.
As projecções futuras para o clima na região com base nesta análise estão genericamente em sintonia com outros estudos envolvendo a Europa, a Península Ibérica e Portugal. Em estudos anteriores, Castro et al. (2005) definiram uma escala de certeza para as alterações
projectadas (de 1 a 10, com grau de certeza decrescente) para a Península Ibérica que é em larga medida suportada por esta análise regional para a Região Demarcada do Douro:
1. Uma tendência progressiva para um aumento das temperaturas médias ao longo do século XXI.
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2. Uma tendência para um aquecimento mais pronunciado nos cenários com emissões mais elevadas.
3. Aumentos nas temperaturas médias mais significativos no verão do que no inverno. 4. Um aquecimento no verão com mais expressão no interior do que junto à costa. 5. Uma tendência generalizada para uma menor precipitação acumulada anual. 6. Uma maior amplitude e frequência de anomalias na temperatura mensal. 7. Uma maior frequência de dias com extremos de temperaturas máximas, especialmente
no verão. 8. No último terço do século XXI, estima-‐se uma maior redução na precipitação nos meses
de primavera. 9. Projecções globais de aumento de precipitação na parte oeste da Península Ibérica no
inverno. 10. As projecções ao nível da precipitação tendem a ser mais significativas nos cenários de
emissões mais elevadas.
As regiões vinícolas desenvolveram-‐se de modo a melhor se adaptarem às suas condições ambientais regionais, permitindo uma maturação genericamente consistente das castas
identificadas como as mais apropriadas às regiões. Uma vez que a estrutura geral do clima nas regiões determina a aptidão, e a variabilidade climática influencia fortemente a produção de ano para ano e as variações na qualidade, a taxa e magnitude das alterações climáticas futuras projectadas deverão ter inúmeros impactos potenciais na indústria vinícola (Bisson et al., 2002). Aqui se incluem uma maior pressão sobre recursos hídricos cada vez mais escassos,
novas alterações ao nível da evolução dos estados fenológicos da videira, perturbação ou alteração do equilíbrio ao nível da composição das uvas e dos vinhos, necessidades regionalmente específicas de mudar os tipos de castas cultivados, inevitáveis mudanças no tipo dos vinhos à escala regional e alterações de ordem espacial em regiões vitícolas com viabilidade (Jones et al., 2005). Se bem que este estudo não tenha incluído uma análise directa
dos efeitos do CO2, Gonçalves et al. (2009) não registaram quaisquer efeitos negativos na qualidade das uvas e respectivo vinho; ainda assim, é necessário muito mais trabalho nesta área. Numa análise aos efeitos das alterações climáticas na produção e qualidade dos vinhos, de Orduña (2010) conclui que os problemas a merecer mais atenção são a antecipação da época de vindima e das temperaturas, maiores concentrações de açúcar na uva que geram
teores de álcool elevados nos vinhos, uma menor acidez e modificações na composição dos aromas varietais. Anderson et al. (2008) concretizam, afirmando que, embora a indústria vinícola seja particularmente sensível a variações e alterações ao nível do clima, evidencia um elevado nível de adaptabilidade. No entanto, desenvolver mecanismos de adaptação
adequados ao nível da videira, da vinha, da adega e do consumidor levará tempo e implicará um investimento significativo em investigação e desenvolvimento.
A Região Demarcada do Douro é rica em paisagem e vegetação com características que poderão ajudar a atenuar os efeitos perniciosos de um clima em mudança. Em primeiro lugar, a geomorfologia e o relevo da região contribuem para múltiplas situações de meso e microclima que poderão potenciar estratégias de adaptação espacial. A tal acresce o facto de a paisagem dotar os viticultores de opções de cultivo que permitem gerir a dimensão ecofisiológica do
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meio. Um aspecto muito importante será a forma como os viticultores conseguirão adaptar a paisagem e as vinhas de modo a ajudar ao equilíbrio global da actividade fotossintética da videira e da perda de água por transpiração. Um factor altamente significativo na gestão das
mudanças que poderão ser necessárias face às alterações climáticas é o património genético do material vegetativo, particularmente as castas e seu rendimento enológico (Almeida, 1998). Embora as características gerais e a capacidade de resistência à secura dos porta-‐enxertos tenham sido estudadas (Alves e Magalhães, 2001; Sousa et al., 1998), é acima de tudo no vasto património de castas cultivadas na Região Demarcada do Douro que residirão algumas das
ferramentas com maior potencial para o viticultor, seja através das diferentes exigências térmicas das castas e da elasticidade do seu comportamento fenológico (Lopes et al., 2007), seja através das suas diferentes respostas fisiológicas (Brito et al., 2004; Moutinho-‐Pereira et al., 2007).
Face à incerteza quanto à taxa e magnitude exactas das alterações climáticas no futuro, seria de todo o interesse para a Região Demarcada do Douro continuar a analisar de forma
proactiva os impactos, investir numa boa actividade viveirista de investigação genética, estar preparada para adoptar estratégias de adaptação apropriadas, estar aberta a alterar as castas e práticas de gestão ou controlo, ou mitigar as diferenças na qualidade do vinho mediante o desenvolvimento de novas tecnologias. Munida de uma abordagem sólida sustentável das condições atuais, a região estará melhor preparada para optimizar os recursos disponíveis de
modo a garantir uma viticultura ambientalmente responsável (Malavolta e Boller, 1999). Ao adoptar abordagens sustentáveis e uma atitude inovadora transversal a todo o sistema de produção, a região irá indubitavelmente reduzir a sua vulnerabilidade e aumentar a sua capacidade adaptativa perante um clima em mudança.
AGRADECIMENTOS Este estudo foi possível graças ao financiamento e apoio técnico da ADVID (Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense). O trabalho desenvolvido pela ADVID junto dos
produtores e viticultores na Região Demarcada do Douro desde 1982 tem sido fundamental para o desenvolvimento de iniciativas de análise que possibilitem um melhor entendimento dos problemas e potencial da região, promovendo estratégias para a indústria no sentido de a tornar mais sustentável e economicamente viável. Endereço um agradecimento especial ao Eng.º Fernando Alves da ADVID, a quem coube muito do trabalho inicial com os dados
climáticos históricos e que prestou apoio técnico ao longo do projecto. Agradeço ainda aos Dr. Marco Moriondo e Dr. Roberto Ferrise da Universidade de Florença, em Itália, pela sua contribuição no que toca aos cenários climáticos futuros, e aos Dr. João Santos e Dr. Aureliano Malheiro da Universidade de Trás-‐os-‐Montes e Alto Douro pelas actualizações em termos de
padrões meteorológicos e resultados do ESEMBLES regional. Finalmente, este estudo não teria sido possível sem a visão e confiança do Dr. António Graça, que me trouxe até este projecto e esta região.
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91
apêndice
Apê
ndice – Figura 1: P
recipitação de
inverno (Novem
bro a Março) p
ara a Re
gião
Dem
arcada
do Dou
ro. A
linh
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rior apresen
ta as cond
içõe
s históricas duran
te 195
0-‐20
00, com
as linha
s seguintes a
represen
tarem os cená
rios de em
issões B2, A1B
e A2 SR
ES para três período
s futuros (202
0, 205
0 e 20
80). As tabe
las ap
resentam
os valores de
med
iana
nas três sub-‐regiõe
s (Baixo Corgo, C
ima Co
rgo
e Dou
ro Sup
erior) e as alterações previstas em percentagem
tend
o po
r ba
se o período
195
0-‐20
00. Fon
te: B
ase de
dad
os W
orldClim
(Hijm
ans et al., 200
5).
Apêndice – Figura 2: Precipitação no ciclo vegetativo (abril a outubro) para a Região D
emarcada do D
ouro. A linha superior apresenta as condições históricas durante 1950-‐2000, com
as linhas
seguintes a representarem os cenários de em
issões B2, A1B e A
2 SRES para três períodos futuros (2020, 2050 e 2080). As tabelas apresentam
os valores de mediana nas três sub-‐regiões (Baixo Corgo,
Cima Corgo e D
ouro Superior) e as alterações previstas em percentagem
tendo por base o período 1950-‐2000. Fonte: Base de dados WorldClim
(Hijm
ans et al., 2005).
Apê
ndice – Figura 3: T
empe
raturas máxim
as m
édias no
ciclo vegetativo (abril a ou
tubro) para a Re
gião
Dem
arcada
do Dou
ro. A
linh
a supe
rior apresen
ta as cond
içõe
s históricas duran
te 195
0-‐20
00,
com as linha
s seguintes a represen
tarem os cená
rios de em
issões B2, A1B
e A2 SR
ES para três período
s futuros (202
0, 205
0 e 20
80). As tabe
las ap
resentam
os valores de
med
iana
nas três sub-‐regiõe
s
(Baixo Corgo, C
ima Co
rgo e Dou
ro Sup
erior) e as alterações previstas em °C tend
o po
r ba
se o período
195
0-‐20
00. Fon
te: B
ase de
dad
os W
orldClim
(Hijm
ans et al., 200
5).
Apêndice – Figura 4: Tem
peraturas mínim
as médias no ciclo vegetativo (abril a outubro) para a Região D
emarcada do D
ouro. A linha superior apresenta as condições históricas durante 1950-‐2000,
com as linhas seguintes a representarem
os cenários de emissões B2, A
1B e A2 SRES para três períodos futuros (2020, 2050 e 2080). A
s tabelas apresentam os valores de m
ediana nas três sub-‐regiões
(Baixo Corgo, Cima Corgo e D
ouro Superior) e as alterações previstas em °C tendo por base o período 1950-‐2000. Fonte: Base de dados W
orldClim (H
ijmans et al., 2005).
Apê
ndice – Figura 5: T
empe
raturas máxim
as m
édias no
inverno (Novem
bro a Março) p
ara a Re
gião
Dem
arcada
do Dou
ro. A
linh
a supe
rior apresen
ta as cond
içõe
s históricas duran
te 195
0-‐20
00, com
as linh
as seguintes a rep
resentarem
os cená
rios de em
issões B2, A1B
e A2 SR
ES para três período
s futuros (202
0, 205
0 e 20
80). As tabe
las ap
resentam
os valores de
med
iana
nas três sub-‐regiõe
s
(Baixo Corgo, C
ima Co
rgo e Dou
ro Sup
erior) e as alterações previstas em °C tend
o po
r ba
se o período
195
0-‐20
00. Fon
te: B
ase de
dad
os W
orldClim
(Hijm
ans et al., 200
5).
Apêndice – Figura 6: Tem
peraturas mínim
as médias no inverno (N
ovembro a M
arço) para a Região Dem
arcada do Douro. A
linha superior apresenta as condições históricas durante 1950-‐2000, com
as linhas seguintes a representarem os cenários de em
issões B2, A1B e A
2 SRES para três períodos futuros (2020, 2050 e 2080). As tabelas apresentam
os valores de mediana nas três sub-‐regiões
(Baixo Corgo, Cima Corgo e D
ouro Superior) e as alterações previstas em °C tendo por base o período 1950-‐2000. Fonte: Base de dados W
orldClim (H
ijmans et al., 2005).
Apê
ndice – Tabe
la 1: E
statística de qu
artis pa
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no inverno (Novem
bro a Março), precipitação
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arcada
do Dou
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variável: mínim
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áxim
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soluto.
Fonte: Base de
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os W
orldClim
(Hijm
ans et al., 200
5).
Precipitação
no inverno
Região
Mínim
o (m
m)
25% (m
m)
Med
iana
(mm)
75% (m
m)
Máxim
o (m
m)
Baixo Co
rgo
607
726
774
829
1035
Cima Co
rgo
486
599
661
703
849
Dou
ro Sup
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395
484
524
587
719
Precipitação
no ciclo vegetativo
Re
gião
Mínim
o (m
m)
25% (m
m)
Med
iana
(mm)
75% (m
m)
Máxim
o (m
m)
Baixo Co
rgo
363
424
448
479
608
Cima Co
rgo
299
355
386
408
485
Dou
ro Sup
erior
249
298
317
350
421
Tempe
ratura m
áxim
a no
ciclo vegetativo
Região
Mínim
o (m
m)
25% (m
m)
Med
iana
(mm)
75% (m
m)
Máxim
o (m
m)
Baixo Co
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16,8
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23,8
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Cima Co
rgo
20,2
22,8
23,7
24,5
25,9
Dou
ro Sup
erior
21,3
23,2
24,0
24,8
26,0
Tempe
ratura m
ínim
a no
ciclo vegetativo
Região
Mínim
o (m
m)
25% (m
m)
Med
iana
(mm)
75% (m
m)
Máxim
o (m
m)
Baixo Co
rgo
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10,7
11,4
11,9
13,3
Cima Co
rgo
9,7
10,8
11,4
12,0
13,5
Dou
ro Sup
erior
9,9
11,1
11,9
12,4
13,5
Tempe
ratura m
áxim
a no
inverno
Região
Mínim
o (m
m)
25% (m
m)
Med
iana
(mm)
75% (m
m)
Máxim
o (m
m)
Baixo Co
rgo
7,0
11,7
12,6
13,2
14,8
Cima Co
rgo
9,0
11,1
11,9
12,7
14,4
Dou
ro Sup
erior
9,5
11,2
12,0
12,8
14,1
Tempe
ratura m
ínim
a no
inverno
Região
Mínim
o (°C)
25% (°C)
Med
iana
(°C)
75% (°C)
Máxim
o (°C)
Baixo Co
rgo
0,5
3,5
4,2
4,7
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Cima Co
rgo
2,0
3,2
3,7
4,3
5,9
Dou
ro Sup
erior
1,9
3,2
3,9
4,5
5,6
Índices de alterações climáticas Definições completas dos 27 índices básicos usados da CCl/CLIVAR/JCOMM Expert Team (ET) on Climate Change Detection and Indices (ETCCDI) 1. FD, Número de dias com geada: Contabilização anual de dias em que TN (temperatura mínima diária) < 0°C. TNij será a temperatura mínima diária no dia i no ano j. Contabilização do número de dias segundo: TNij < 0°C. 2. SU, Número de dias de verão: Contabilização anual de dias em que TX (temperatura máxima diária) > 25°C. TXij será a temperatura máxima diária no dia i no ano j. Contabilização do número de dias segundo: TXij > 25°C. 3. ID, Número de dias com gelo: Contabilização anual de dias em que TX (temperatura máxima diária) < 0°C. TXij será a temperatura máxima diária no dia i no ano j. Contabilização do número de dias segundo: TXij < 0°C. 4. TR, Número de noites tropicais: Contabilização anual de dias em que TN (temperatura mínima diária) > 20°C. TNij será a temperatura mínima diária no dia i no ano j. Contabilização do número de dias segundo: TNij > 20°C. 5. GSL, Duração do ciclo vegetativo: Contabilização anual (1 de janeiro a 31 de dezembro no Hemisfério Norte (NH), 1 de julho a 30 de de junho no Hemisfério Sul (SH)) entre o primeiro intervalo de pelo menos 6 dias com temperatura média diária TG>5°C e primeiro intervalo após 1 de julho (1 de janeiro no SH) de 6 dias com TG<5°C. TGij será a temperatura média diária no dia i no ano j. Contabilização do número de dias entre a primeira ocorrência de pelo menos 6 dias consecutivos com: TGij > 5°C e a primeira ocorrência após 1 de julho (1 de janeiro no SH) de pelo menos 6 dias consecutivos com: TGij < 5°C. 6. TXx, Valor máximo mensal da temperatura máxima diária: TXx será as temperaturas máximas diárias no mês k, período j. A temperatura máxima diária máxima de cada mês será então: TXxkj=max(TXxkj) 7. TNx, Valor máximo mensal da temperatura mínima diária: TNx será as temperaturas mínimas diárias no mês k, período j. A temperatura mínima diária máxima de cada mês será então: TNxkj=max(TNxkj) 8. TXn, Valor mínimo mensal da temperatura máxima diária: TXn será as temperaturas máximas diárias no mês k, período j. A temperatura máxima diária mínima de cada mês será então: TXnkj=min(TXnkj) 9. TNn, Valor mínimo mensal da temperatura mínima diária: TNn será as temperaturas mínimas diárias no mês k, período j. A temperatura mínima diária mínima de cada mês será então: TNnkj=min(TNnkj) 10. TN10p, Percentagem de dias em que TN < percentil 10: TNij será a temperatura mínima diária no dia i do período j e TNin10 o percentil 10 de dia civil centrado numa janela temporal de 5 dias para o período base 1961-‐1990. A percentagem de tempo para o período base é determinada segundo: TNij < TNin10 11. TX10p, Percentagem de dias em que TX < percentil 10: TXij será a temperatura máxima diária no dia i do período j e TXin10 o percentil 10 de dia civil centrado numa janela temporal de 5 dias para o período base 1961-‐1990. A percentagem de tempo para o período base é determinada segundo: TXij < TXin10 12. TN90p, Percentagem de dias em que TN > percentil 90: TNij será a temperatura mínima diária no dia i do período j e TNin90 o percentil 90 de dia civil centrado numa janela temporal de 5 dias para o período base 1961-‐1990. A percentagem de tempo para o período base é determinada segundo: TNij > TNin90 13. TX90p, Percentagem de dias em que TX > percentil 90:
TXij será a temperatura máxima diária no dia i do período j e TXin90 o percentil 90 de dia civil centrado numa janela temporal de 5 dias para o período base 1961-‐1990. A percentagem de tempo para o período base é determinada segundo: TXij > TXin90 14. WSDI, Índice de duração de onda de calor: Contabilização anual de dias com pelo menos 6 dias consecutivos em que TX > percentil 90. TXij será a temperatura máxima diária no dia i do período j e TXin90 o percentil 90 de dia civil centrado numa janela temporal de 5 dias para o período base 1961-‐1990. Então o número de dias por período é somado segundo, em intervalos de pelo menos 6 dias consecutivos: TXij > TXin90 15. CSDI, Índice de duração de onda de frio: Contabilização anual de dias com pelo menos 6 dias consecutivos em que TN < percentil 10. TNij será a temperatura máxima diária no dia i do período j e TNin10 o percentil 10 de dia civil centrado numa janela temporal de 5 dias para o período base 1961-‐1990. Então o número de dias por período é somado segundo, em intervalos de pelo menos 6 dias consecutivos: TNij < TNin10 16. DTR, Amplitude térmica diária: Diferença média mensal entre TX e TN. TXij e TNij serão respetivamente a temperatura máxima e mínima diária no dia i no período j. Representando i o número de dias em j, então:
17. Rx1dia, Precipitação máxima mensal em 1 dia: RRij será a quantidade de precipitação diária no dia i no período j. Os valores máximos de 1 dia para o período j são: Rx1diaj = max (RRij) 18. Rx5dias, Precipitação máxima mensal em 5 dias consecutivos: RRkj será a quantidade de precipitação para o intervalo de 5 dias terminado em k, período j. Os valores máximos de 5 dias para o período j são: Rx5diasj = max (RRkj) 19. SDII, Índice de intensidade de precipitação simples: RRwj será a quantidade de precipitação diária nos dias húmidos, w (RR ≥ 1mm) no período j. Representando W o número de dias húmidos em j, então:
20. R10mm Contabilização anual de dias em que PRCP≥ 10mm: RRij será a quantidade de precipitação diária no dia i no período j. Contabilização do número de dias segundo: RRij ≥ 10mm 21. R20mm Contabilização anual de dias em que PRCP≥ 20mm: RRij será a quantidade de precipitação diária no dia i no período j. Contabilização do número de dias segundo: RRij ≥ 20mm 22. Rnnmm Contabilização anual de dias em que PRCP≥ nnmm, sendo nn um limiar definido pelo utilizador: RRij será a quantidade de precipitação diária no dia i no período j. Contabilização do número de dias segundo: RRij ≥ nnmm 23 CDD. Duração máxima de período de seca, número máximo de dias consecutivos com RR < 1mm: RRij será a quantidade de precipitação diária no dia i no período j. Contabilização do maior número de dias consecutivos segundo: RRij < 1mm 24 CWD. Duração máxima de período de precipitação, número máximo de dias consecutivos com RR ≥ 1mm: RRij será a quantidade de precipitação diária no dia i no período j. Contabilização do maior número de dias consecutivos segundo: RRij ≥ 1mm
25. R95pTOT. PRCP anual total RR > p. 95. RRwj será a quantidade de precipitação diária num dia húmido w (RR ≥ 1,0mm) no período i e RRwn95 será o percentil 95 de precipitação em dias húmidos no período 1961-‐1990. Representando W o número de dias húmidos no período, então:
26. R99pTOT. PRCP anual total em que RR > p. 99. RRwj será a quantidade de precipitação diária num dia húmido w (RR ≥ 1,0mm) no período i e RRwn99 será o percentil 99 de precipitação em dias húmidos no período 1961-‐1990. Representando W o número de dias húmidos no período, então:
27. PRCPTOT. Precipitação anual total em dias húmidos: RRij será a quantidade de precipitação diária no dia i no período j. Representando i o número de dias em j, então:
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