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Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção de vinho Gregory Jones Departamento de Estudos Ambientais Universidade South Oregon Ashland, Oregon 97520, EUA 2013 Apoio adicional de: Marco Moriondo e Roberto Ferrise Dipartimento di Scienze delle Produzioni Agroalimentari e dell'Ambiente Universidade de Florença, Itália João Santos e Aureliano Malheiro Centro de Investigação e de Tecnologias Agro-Ambientais e Biológicas. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, Portugal Em colaboração com: Fernando Alves ADVID Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense Peso da Régua, 5050-106 Portugal

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Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro:

Uma análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção de vinho

Gregory JonesDepartamento de Estudos Ambientais

Universidade South Oregon

Ashland, Oregon 97520, EUA

2013

Apoio adicional de:

Marco Moriondo e Roberto Ferrise

Dipartimento di Scienze delle Produzioni

Agroalimentari e dell'Ambiente

Universidade de Florença, Itália

João Santos e Aureliano Malheiro

Centro de Investigação e de Tecnologias

Agro-Ambientais e Biológicas.

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Vila Real, Portugal

Em colaboração com:

Fernando Alves

ADVID

Associação para o Desenvolvimento

da Viticultura Duriense

Peso da Régua, 5050-106 Portugal

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FICHA TÉCNICA

Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro:

Uma análise das condições climáticas do passado, presente e futuro para a produção de vinho

Edição: ADVID - Associação para o Desenvolvmento da Viticultura Duriense

Autor: Gregory Jones

Colaboração: Fernando Alves - ADVID

Apoio adicional de:

Marco Moriondo, Roberto Ferrise, João Santos e Aureliano Malheiro

Ano: 2013

Nº de exemplares: 50

Distribuição: ADVID - Associação para o Desenvolvmento da Viticultura Duriense

Design de capa: © HL Design

Fotografia de Capa: © José Marafona | Dreamstime. com

ISBN: 978-989-98368-0-8

Dep.Legal: 360808/13

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índice

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ÍNDICE  Prefácio ..............................................................................................................................................................................1  

Sumário  Executivo .............................................................................................................................................................3  

Introdução .........................................................................................................................................................................5  

Estrutura  meteorológica  e  climática  para  a  qualidade  e  produção  de  vinho ................................................................5  

Aptidão  climática  para  as  castas ...................................................................................................................................7  

Variabilidade  climática  em  regiões  vinícolas .................................................................................................................9  

Alterações  climáticas,  viticultura  e  vinho ....................................................................................................................11  

A  Região  Demarcada  do  Douro ...................................................................................................................................18  

Dados  e  métodos.............................................................................................................................................................21  

Normais  climatológicas  históricas ...............................................................................................................................21  

Estações  meteorológicas  da  Região  Demarcada  do  Douro .........................................................................................22  

Circulação  regional  e  padrões  meteorológicos ............................................................................................................24  

Clima  espacial:  histórico ..............................................................................................................................................25  

Clima  espacial:  projecções  futuras...............................................................................................................................26  

Resultados  e  discussão....................................................................................................................................................28  

Normais  climatológicas  históricas ...............................................................................................................................28  

Estações  meteorológicas  da  Região  Demarcada  do  Douro .........................................................................................31  

Circulação  regional  e  padrões  meteorológicos ............................................................................................................47  

Clima  espacial:  histórico ..............................................................................................................................................51  

Clima  espacial:  projecções  futuras...............................................................................................................................65  

Conclusões .......................................................................................................................................................................80  

Agradecimentos ..............................................................................................................................................................84  

Referências  bibliográficas ...............................................................................................................................................85  

Apêndice ..........................................................................................................................................................................93  

 

 

 

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prefácio

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PREFÁCIO  A   ADVID   –   Associação   para   o   Desenvolvimento   da   Viticultura   Duriense   é   uma   associação   sem   fins  lucrativos,   constituída  em  1982  por  um  grupo  de  empresas   ligadas  à  produção  e   comércio  de  vinhos  da  

Região  Demarcada  do  Douro  (RDD).  A  ADVID  tem  como  objectivos  estudar,  demonstrar  e  divulgar  técnicas  vitivinícolas   adequadas   às   especificidades   da   região,   de   modo   a   promover   a   competitividade   dos   seus  vinhos  nos  mercados  nacionais  e  internacionais.  

Na  sequência  de  candidatura  apresentada  ao  Estado  Português  (COMPETE,  Ministério  da  Economia,  2008)  

foi  reconhecido  o  Cluster  dos  Vinhos  da  Região  do  Douro  como  uma  Estratégia  de  Eficiência  Colectiva,  do  qual,  a  ADVID  é  a  entidade  gestora  e  dinamizadora.  

No  âmbito  do  Plano  de  Acção  apresentado,  a  temática  do  impacto  das  “Alterações  Climáticas  na  Produção  de   Vinho”,   pela   importância   económica   que   pode   representar   para   o   sector   do   vinho,   constitui   um  dos  

Projectos-­‐Âncora  do  Cluster.    

Este   Projecto-­‐Âncora   procura   responder   a   um   conjunto   de   preocupações   e   actividades   da   ADVID,  sustentado  num  relatório  de  diagnóstico,  publicado  em  2007,  com  as  propostas  para  a  base  do  caderno  de  encargos   nesta   temática,   preparado   e   reflectido   pelo   sector,   para   uma   abordagem   integrada   e  

consequente   na   procura   de   soluções   junto   das   Universidades,   nacionais   e   internacionais.   Procurou-­‐se,  desta  forma,  responder  a  uma  necessidade  identificada  pelo  sector  empresarial  ligado  à  indústria  do  vinho  na  região,  para  encontrar  soluções  para  os  cenários  globais  à  escala  regional  e  local.  

Para  a  realização  deste  projecto  dedicado  à  compreensão  do  funcionamento  do  clima  na  Região  do  Douro,  

a  ADVID  contou  com  a  colaboração  do  prestigiado  cientista  americano,  Prof.  Dr.  Gregory  Jones  (Southern  Oregon  University),  especialista  nas  consequências  das  alterações  climáticas  sobre  a  viticultura.  O  trabalho  consistiu   na   análise,   estabilização   e   credibilização   de   bases   de   dados   climáticos   existentes   e   na  

estruturação  de  novas  abordagens  para  a  interpretação  do  clima  regional,  contribuindo  para  a  sua  melhor  compreensão,  uma  condição  essencial  à  projecção  de  cenários  futuros.    

Actualmente,  este  Projecto-­‐Âncora  está  alicerçado  em  três  acções  complementares  entre  si:  a  avaliação  do  clima  da  Região  do  Douro  -­‐  análise  das  condições  climáticas  do  passado,  presente  e  futuro  para  a  produção  

de   vinho,   a   definição  das   estratégias   de   adaptação  mais   eficazes   e   a   previsão  das   consequências   para   a  qualidade  do  vinho.  Estas  acções,  promovidas  e  financiadas  pelo  Cluster  dos  Vinhos  da  Região  do  Douro,  integram   vários   atores   importantes   do   Cluster,   nomeadamente   na   concretização   dos   projectos  

“ClimeVineSafe”,   vocacionado   para   medidas   de   curto   prazo   na   mitigação   do   efeito   das   alterações  climáticas  e  ainda  pelo  apoio  ao  projecto  “Modelização  da  evolução  da  qualidade  do  vinho  na  RDD”.  

Ainda  no  domínio  das  estratégias  de  adaptação,  importa  referir  que  o  Plano  de  Acção  do  Cluster  nos  seus  diversos   Projectos-­‐Âncora   executa   actividades   convergentes,   nomeadamente   o   estudo   de   uma   mais  

eficiente  utilização  de  água  pelas  plantas,  a  criação  de  ferramentas  de  mapeamento  vitícola  (zonagem)  à  escala  da  região  e  da  propriedade,  a  promoção  da  sustentabilidade  integrada  da  produção  em  viticultura,  a  

racionalização   das   operações   de   cultivo   da   vinha   em   encosta,   o   estudo   do   comportamento   de   castas   e  porta-­‐enxertos  e,  não  menos  importante,  a  preservação  da  biodiversidade  genética  do  património  vitícola  originário  do  território  português.  

                                                                                                                                                                                                                                                             A  Direcção  da  ADVID,  Julho  de  2012  

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SUMÁRIO  EXECUTIVO  A  História  mundial  da  viticultura  mostra  claramente  que  as  uvas  destinadas  à  produção  de  vinho  são  uma  espécie  de  cultivo  particularmente  sensível  às  condições  climáticas,  em  que  a  qualidade  de  produção  se  atinge  apenas  numa  faixa  geográfica  bastante  restrita.  Para  além  disso,  estas  são  uvas  cultivadas  maioritariamente  em  regiões  de  média  altitude  propensas  a  elevada  variabilidade  climática,  o  que  resulta  em  diferenças  relativamente  significativas  ao  nível  da  colheita,  em  termos  de   qualidade   e   produtividade.   A   evolução   histórica   e   as   projecções   futuras   dos   parâmetros  climáticos   para   regiões   vinícolas   mostram-­‐nos   ainda   que   ocorreram   alterações,   e   que  provavelmente  estas  continuarão  a  verificar-­‐se  no  futuro.  Esta  investigação  fornece  uma  avaliação  de   vários   aspectos   do   clima   numa   das  mais   históricas   regiões   vinícolas   do  mundo   –   o   Vale   do  Douro  português  –  com  o  objectivo  de  documentar  e  analisar  as  condições  climáticas  históricas,  atuais  e  futuras  da  região.    

Embora   se   conheça   genericamente   o   clima   da   Região   Demarcada   do   Douro,   a   criação   de   um  banco  de  dados  completo,  de  alta  qualidade  e  longo  prazo  para  a  região  a  partir  de  uma  estação  meteorológica   tem   conhecido   limitações   quer   em   termos   espaciais,   quer   temporais.   Por   esse  motivo,  esta  avaliação  do  clima  serve-­‐se  dos  melhores  dados  disponíveis  de  três  tipos  principais:  1)  normais  climatológicas  históricas;  2)  estações  meteorológicas  na  Região  Demarcada  do  Douro;  3)  dados  climáticos  espaciais,  para  registos  passados  e  futuros  do  clima  na  região.  Para  além  disso,  a  avaliação  inclui  uma  análise  das  relações  entre  os  controlos  de  circulação  atmosférica  locais  de  larga  escala  e  a  variabilidade  climática  na  Região  Demarcada  do  Douro.  

Dados   climáticos  espaciais   actualizados  para  o  período  1950-­‐2000   revelam  condições   climáticas  semelhantes  ao  normal  climatológico  de  1931-­‐1960  ao  longo  da  Região  Demarcada  do  Douro.  No  ciclo  vegetativo,  a  região  apresenta  uma  temperatura  média  de  17,8°C,  sendo  65%  espacialmente  classificada   como   um   tipo   de   clima   Temperado,   24%   como   um   tipo   de   clima   Intermédio   e  praticamente   10%   como  um   tipo   de   clima  Quente   no   índice   do   ciclo   vegetativo.   As   tendências  observadas   na   região   foram   analisadas   tanto   ao   nível   das   estações   individuais,   como  espacialmente  em  toda  a  extensão  da  região.  As  diferenças  entre  os  dados  de  1931-­‐1960  e  1950-­‐2000  revelam  que  o  último  período  foi  mais  quente  em  média  0,9°C  em  termos  de  temperaturas  anuais   ao   longo   da   região,   com   o   ciclo   vegetativo   e   o   inverno   a   registarem   temperaturas  superiores  em  1,2°C  e  0,4°C,  respectivamente.  Analisando  três  estações  de  longo  prazo  na  região  constata-­‐se   um   aquecimento   maior   nas   temperaturas   mínimas   comparativamente   às  temperaturas  máximas,  com  taxas  entre  os  1,2°C  e  3,6°C  durante  este  período.  Os  resultados  de  uma   análise   de   eventos   extremos   nas   três   estações   demonstram   alterações   significativas   para  ambos  os  extremos  das  temperaturas  máximas  e  mínimas,  com  globalmente  noites  mais  quentes,  dias  mais  quentes,  um  declínio  geral  na  amplitude  térmica  diurna,  um  maior  número  de  eventos  de  tensão  térmica,  alguma  evidência  de  vagas  de  calor  mais  prolongadas  e  uma  clara  redução  na  duração  das  vagas  de  frio.  

As   condições   climáticas   futuras   na   Região   Demarcada   do   Douro   foram   analisadas   utilizando  projecções  SRES  do  IPCC  para  três  cenários  de  emissões  de  gases  de  estufa  (B2,  AB1  e  A2)  e  três  intervalos   temporais   futuros   (2020,   2050   e   2080).   Estima-­‐se   um   aumento   das   temperaturas  

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médias  anuais  para  todos  os  cenários  de  emissões  e  para  cada  intervalo  temporal.  As  projecções  variam   entre   0,5-­‐1,4°C   em   2020,   1,4-­‐3,3°C   em   2050   e   2,1-­‐5,1°C   em   2080.   Em   termos   de  temperatura   no   ciclo   vegetativo,   estima-­‐se   que   a   região   passe   de   uma   aptidão   climática  predominantemente   Pouco   Quente   (65%   da   área)   em   1950-­‐2000   para   uma   crescente   área   de  aptidão   climática   Quente   em   2020   (43%)   e   até   uma   aptidão   climática  Muito   Quente   em   2050  (36%).   Em  2080,   prevê-­‐se   que   o   padrão   espacial   de   temperatura   no   ciclo   vegetativo   apresente  19%  da  paisagem  como  Demasiado  Quente,  54%  Muito  Quente,  25%  Quente  e  menos  de  3%  Frio,  Temperado  ou  Pouco  Quente.  O  padrão  das  alterações  mostra  o  aquecimento  a  aumentar  mais  rapidamente   ao   longo   das   principais   secções   da   bacia   fluvial,   depois   no   Douro   Superior,   e   em  2080  nos  pontos  mais  altos  abrangendo  a  maior  parte  da  região.  A  nível  de  precipitação,  estima-­‐se   que   as   alterações   para   a   Região   Demarcada   do   Douro   sejam   relativamente   baixas   ou  moderadamente  elevadas,  em  função  do  cenário  e  período  temporal.  Prevê-­‐se  que  as  alterações  em  termos  de  precipitação  média  anual  variem  entre  zero  e  até  menos  21,6%  no  cenário  A1B  em  2080.  A  maioria  das  alterações,  na  precipitação,  é  esperada  durante  o  ciclo  vegetativo,  estimando-­‐se  uma  diminuição  na  ordem  dos  10-­‐42%  em  2080.  As  projecções  futuras  para  o  clima  na  região  resultantes  desta  avaliação  estão,  em  termos  gerais,  em  sintonia  com  outros  estudos  conduzidos  para  a  Europa,  a  Península  Ibérica  e  Portugal.  

As  regiões  vinícolas  evoluíram  ao  longo  do  tempo  de  modo  a  adaptarem-­‐se  da  melhor  forma  às  condições   ambientais   locais,   permitindo   uma  maturação   genericamente   consistente   das   castas  consideradas  mais   adequadas   às   regiões.  Uma   vez   que   a   estrutura   climática   global   das   regiões  determina   a   aptidão   e   a   variabilidade   climática   influencia   de   forma   decisiva   as   variações   na  produção  e  qualidade  vindima  após  vindima,  a  taxa  estimada  e  magnitude  das  futuras  alterações  climáticas   trará   consigo   muito   provavelmente   inúmeros   potenciais   impactos   para   a   indústria  vinícola.   No   entanto,   a   Região   Demarcada   do   Douro   é   rica   em   características   fisiográficas   e  vegetativas   que   poderão   ajudar   a   mitigar   os   efeitos   nefastos   das   alterações   climáticas.   Em  primeiro   lugar,   a   geomorfologia   da   região   e   seu   relevo   contribuem  para  múltiplas   situações   de  meso   e   microclima,   que   poderão   criar   estratégias   de   adaptação   espacial.   Para   além   disso,   a  fisiografia   proporciona   aos   viticultores   várias   opções   em   termos   de   técnicas   de   cultivo,  permitindo-­‐lhes  gerir  a  dimensão  ecofisiológica  do  meio.  Um  aspecto  que  se  revestirá  de  grande  importância   será  a   forma  como  os   viticultores   irão  adaptar   a  paisagem  e  a   vinha  para  ajudar   a  equilibrar  globalmente  a  actividade  fotossintética  da  videira  e  as  perdas  de  água  por  transpiração.  Um  factor  de  grande  importância  na  gestão  das  mudanças  que  venham  a  ser  impostas  por  via  das  alterações  climáticas  reside  no  património  genético  do  material  vegetativo,  sobretudo  nas  castas  e  respectivo  comportamento  enológico.  Ainda  que  a  nível  dos  porta-­‐enxertos,  tenham  vindo  a  ser  estudadas  características  e  aptidões  para  a  resistência  à  secura,  é  sobretudo  no  vasto  património  das  castas  cultivadas  na  Região  Demarcada  do  Douro,  que  residirão  algumas  das  ferramentas  com  maior   potencial   ao   dispor   do   viticultor,   quer   pela   diferente   exigência   térmica   das   variedades   e  elasticidade  de  comportamento  fenológico,  quer  pelas  diferentes  respostas  fisiológicas.  Mediante  a   adopção   de   estratégias   sustentáveis   e   uma   abordagem   inovadora   de   todo   o   sistema   de  produção,   a   Região   Demarcada   do   Douro   conseguirá   indiscutivelmente   reduzir   a   sua  vulnerabilidade   e   aumentar   a   sua   capacidade   de   adaptação   perante   um   clima   em   mudança.

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INTRODUÇÃO  O  clima  é  um  factor  indissociável  do  sucesso  de  todos  os  sistemas  agrícolas,  ao  influenciar  

a   adaptação   de   uma   casta   a   uma   determinada   região   e   controlar   a   respectiva   produção   e  qualidade,  potenciando  assim  a  sustentabilidade  económica.  Em  nenhuma  outra  actividade  agro-­‐

alimentar   a   influência   do   clima   é  mais   evidente   do   que   na   vitivinicultura,   sendo   especialmente  crítica  em  termos  globais  no  amadurecimento  do  fruto  com  vista  à  obtenção  das  características  óptimas  para  a  produção  de  um  dado  tipo  de  vinho.  Qualquer  análise  climática  para  a  produção  de   vinho   terá   de   considerar   um   grande   número   de   factores   que   atuam   a   diferentes   escalas  temporais  e  espaciais.  Concretamente,  a   influência   climática  pode  ocorrer  à  macroescala   (clima  

sinóptico),  à  mesoescala  (clima  regional)  à  topoescala  (clima  local),  à  microescala  (clima  ao  nível  da  videira  e  da  vinha).  Para  além  disso,  a  influência  climática  depende  quer  de  condições  gerais,  quer  de  fenómenos  meteorológicos  singulares,  que  se  manifestam  através  de  várias  variáveis,  tais  como   a   temperatura,   a   precipitação   e   a   humidade.   Para   compreender   o   papel   do   clima   na  vitivinicultura  há  que  considerar  1)  a  estrutura  meteorológica  e  climática  necessária  à  obtenção  

das   características   óptimas   de   qualidade   e   produção,   2)   a   aptidão   climática   para   as   diferentes  castas,  3)  a  variabilidade  climática  em  regiões  vinícolas  e  4)  a  influência  das  alterações  climáticas  na  estrutura,  adequação  e  variabilidade  do  clima.    

ESTRUTURA  METEOROLÓGICA  E  CLIMÁTICA  PARA  A  QUALIDADE  E  PRODUÇÃO  DE  VINHO  

A  nível  mundial,  são  as  condições  climáticas  médias  das  regiões  vinícolas  que  determinam  em   larga   escala   as   castas   que   aí   podem   ser   plantadas,   enquanto   a   produção   e   qualidade   dos  vinhos   é   influenciada   por   factores   específicos   do   local,   decisões   ao   nível   da   cultura   e   a  

variabilidade   climática   de   curto   prazo   (Jones   e   Hellman,   2003).   Os   vários   factores  meteorológicos/climáticos  que  afectam  a  vitivinicultura  e  a  qualidade  do  vinho  incluem  a  radiação  solar,   a   temperatura   média,   os   extremos   de   temperatura   (tais   como   gelo   no   inverno,   geadas  primaveris  e  outonais,  e  stress  térmico  no  verão),  a  acumulação  de  calor,  o  vento,  a  precipitação,  a  humidade  e  características  do  balanço  hídrico  do  solo.  Apesar  da  ocorrência  de  inúmeros  efeitos  

individuais   e   interactivos   entre   estes   factores   climáticos,   a   caracterização   mais   comum   do  mesoclima   em   regiões   vitícolas   pode   ser   feita  matematicamente   em   função   da   temperatura,   o  que  permite  o  cálculo  de  índices  bioclimáticos  (Fregoni,  2003;  Jones  et  al.,  2010).  Estes  índices  são  geralmente   determinados   ao   longo   de   um  período   de   tempo   importante   para   o   crescimento   e  

produção  da  videira  (habitualmente  os  6  ou  7  meses  do  ciclo  de  crescimento  e  desenvolvimento  da  videira).  As   relações  entre  a  acumulação  de  calor,  o  crescimento  da  videira  e  o  potencial  de  maturação  foram  postuladas  por  A.P.  de  Candolle  no  século  XIX  a  partir  da  observação  de  que  o  crescimento  da  videira  iniciava  quando  a  temperatura  média  diária  atingia  os  10°C.  À  medida  que  foram  sendo  criados,  os  vários  índices  foram  geralmente  relacionados  com  a  tipicidade  dos  vinhos  

passíveis   de   produção   com   classes   associadas   a   vinhos   de   castas   de   climas   frios,   até   vinhos   de  castas   de   climas   quentes,   até   vinhos   generosos   e   uvas   de   mesa.   Desenvolveram-­‐se   variadas  formas   destes   índices   bioclimáticos,   nos   quais   se   incluem   a   formulação   dias-­‐grau   do   Índice   de  Winkler  (Amerine  e  Winkler,  1944),   formas  distintas  de  um  Índice  Heliotérmico  (Branas,  1974;  e  

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Huglin,  1978),  o  Índice  de  Qualidade  de  Fregoni  (2003),  um  Índice  Latitude-­‐Temperatura  (Jackson  e  Cherry  1988;  Kenny  e  Shao,  1992),  e  um  índice  de  temperatura  média  do  ciclo  vegetativo  (Jones,  2006),   todos   eles   contribuindo   para   aferir   a   aptidão   de   uma   região   para   a   plantação   de  determinadas  castas.  

Face  à  importância  de  que  se  reveste  para  o  equilíbrio  da  videira,  a  qualidade  e  produção  

do  fruto,  bem  como  a  pressão  de  doenças,  o  conhecimento  das  relações  hídricas  assume  grande  relevo  para  qualquer  região  vinícola.  Como  tal,  estes  factores  deverão  ser  avaliados  sob  diferentes  perspectivas:  1)  humidade  do  ar,  2)  frequência  e  distribuição  temporal  da  precipitação  local,  e  3)  capacidade   de   retenção   de   água   do   solo.   Para   além   disso,   cada   um   destes   aspectos   da  

disponibilidade   de   água   pode   também   ser   avaliado   em   termos   de   um   balanço   hídrico.   Uma  precipitação   intensa  na  fase   inicial  do  ciclo  vegetativo  é  benéfica   (Jones  e  Davis,  2000a,  2000b),  mas  durante  a  floração  pode  reduzir  ou  retardar  a  abertura  dos  botões,  e  durante  o  período  de  crescimento   dos   bagos   pode   aumentar   a   probabilidade   de   ocorrência   de   doenças   fúngicas,  continuando  durante  a  maturação  a  potenciar  os  fungos  responsáveis  por  doenças,  e  provocar  o  

amarelecimento  e  a  diluição  dos  bagos,  e  dessa  forma  reduzir  os  níveis  de  açúcar  e  sabor,  e  limitar  consideravelmente  a  respectiva  produtividade  e  qualidade  (Mullins  et  al.,  1992).  Uma  análise  das  regiões   vitícolas   espalhadas   pelo   mundo   sugere   que   não   existe   um   limite   máximo   para   a  quantidade  de  precipitação  necessária  ao  óptimo  crescimento  e  produção  da  videira  (Gladstones,  1992).   Por   outro   lado,   a   viabilidade   da   videira   parece   estar,   em   alguns   climas   quentes,  

condicionada  por  níveis  de  precipitação  inferiores  a  500  mm,  apesar  disto  poder  ser  ultrapassado  por   irrigação   periódica,   se   possível.   Eventos   meteorológicos   extremos,   como   é   o   caso   de  tempestades   com   ocorrência   de   trovoadas   e   de   granizo,   apesar   de   pouco   frequentes   na  generalidade  das  regiões  vitícolas,  são  altamente  prejudiciais  para  a  cultura.  Estes  eventos  podem  danificar   gravemente   folhas,   gavinhas   e   bagos   durante   o   seu   crescimento.   No   período   de  

maturação,   podem   ainda   conduzir   ao   fendilhamento   dos   bagos,   provocando   oxidação,  fermentação  precoce  e  uma  redução  considerável  do  volume  e  da  qualidade  da  vindima.  

Integrando  uma  série  de  parâmetros  climáticos,  um  balanço  hídrico  do  solo  considera  as  variações   sazonais   da   temperatura,   a   precipitação   e   a   humidade   do   solo   disponível   visando  calcular  as  necessidades  em  termos  de  água  (seja  ela  de  origem  natural  ou  irrigada).  No  essencial,  um   balanço   de   água   define   as   necessidades   hídricas   das   plantas   e   da   atmosfera   em   qualquer  

região.   A  maioria   das   regiões   vitícolas   regista   entre   o   final   do   outono   e   final   da   primavera   um  período  com  um  excedente  de  água  no  solo,  a  que  no  verão  se  segue  um  período  de  diminuição  da  humidade  do  solo  através  de  evaporação  (pela  atmosfera)  e  transpiração  (pelas  plantas),  que  se  estende  até  ao  início  do  outono,  altura  em  que  a  precipitação  dá  início  à  reposição  dos  níveis  no  solo.  Um  bom  restabelecimento  da  humidade  no  solo  durante  a  primavera  pode  fomentar  o  

crescimento  da  videira  e  potenciar  uma  floração  e  um  vingamento  mais  eficazes  (Williams,  2000).  Apesar   da   existência   de   alguma  humidade  no   solo   durante  o   período  de   crescimento  no   verão  poder  reduzir  o  stress  térmico,  uma  humidade  demasiado  elevada  pode  resultar  num  incremento  excessivo   do   crescimento   vegetativo   e   numa   maturação   inadequada   (Matthews   e   Anderson,  1988),  acompanhados  de  um  atraso  na  queda  da  folhagem,  que  torna  a  videira  mais  vulnerável  a  eventos  de  geada/gelo  no  final  do  outono.  

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APTIDÃO  CLIMÁTICA  PARA  AS  CASTAS  

A   aptidão   de   uma   casta   a   uma   dada   região   é   determinada   pelo   clima   de   base.  Historicamente  têm  sido  utilizados  inúmeros  sistemas  de  medição  com  base  na  temperatura  (por  ex.  dias-­‐grau,  temperatura  média  do  mês  mais  quente,  temperaturas  médias  do  ciclo  vegetativo,  etc.)   para   definir   climas   óptimos   para   as   várias   castas   (Gladstones,   1992).   À   escala   global,   os  

limites  gerais  que  determinam  uma  aptidão  climática  para  viticultura  situam-­‐se  entre  os  12-­‐22°C  para  o   ciclo   vegetativo   em   cada  hemisfério   (Gladstones,   2004;   Jones,   2007;   Figura   1).   Como   se  depreende  da  Figura  1,  a  delimitação  climática  de  12-­‐22°C  ilustra  genericamente  uma  aptidão  de  média  latitude  para  a  produção  da  uva,  sendo  que  várias  zonas  subtropicais  a  tropicais  em  cotas  mais  elevadas   também  se   inserem  nessas   zonas   climáticas.  Além  disso,  qualquer   representação  

geral  de  temperaturas  médias  irá  também  incluir  zonas  extensas  habitualmente  não  associadas  ao  cultivo  da  vinha.  Isso  mesmo  se  depreende  da  Figura  1,  em  que  vastas  áreas  da  Europa  de  leste,  do  oeste  da  Ásia,  da  China,  do  centro-­‐oeste  e  leste  dos  Estados  Unidos,  do  sudeste  da  Argentina  e  do  sudeste  da  África  do  Sul,  bem  como  o  sul  da  Austrália,  se  inserem  nos  limiares  12-­‐22°C.  Apesar  destas   regiões   apresentarem   temperaturas   propícias   ao   cultivo   da   vinha   no   ciclo   vegetativo,  

outros   factores   condicionantes,   caso   das   temperaturas   mínimas   no   inverno,   das   geadas  primaveris   e   outonais,   da   curta   duração   das   estações   de   crescimento   e   da   disponibilidade   de  água,  colocariam  entraves  à  maioria  das  regiões  mapeadas  em  função  das  condições  médias.  

 Figura  1:  Regiões   vinícolas   globais   e   zonas   com   isotérmicas  de  12-­‐22°C  para  o   ciclo   vegetativo   (Abril   a  Outubro  no  Hemisfério  Norte  e  Outubro  a  Abril  no  Hemisfério  Sul).  As  regiões  vinícolas  derivam  de  delimitações  definidas  pelas  entidades   dos   diversos   países   (por   ex.,   as   "American   Viticultural   Areas”   nos   Estados   Unidos,   “Geographical  Indications”  na  Austrália  e  no  Brasil,  e  “Wine  of  Origin”  na  África  do  Sul)  ou  são  áreas  de  cultivo  da  vinha  identificadas  por   detecção   remota   (por   ex.,   “Corine   Land  Cover”   para   a   Europa)   ou  por   imagens   aéreas   (por   ex.,   Canadá,   Chile,  Argentina  e  Nova  Zelândia).  (Jones  et  al.,  2012).  

Analisando  em  mais  pormenor   a   aptidão   climática  de  muitas  das   castas  mais  difundidas  pelo  mundo,  Jones  (2006)  mostra  que  a  produção  de  vinho  de  alta  qualidade  está  condicionada  por  temperaturas  médias  do  ciclo  vegetativo  na  ordem  dos  13-­‐21°C  (Figura  2).  A  zonagem  clima-­‐maturação  na   Figura  2   teve  por  base  o   clima  e   ciclo   vegetativo  de  muitas   castas   cultivadas  em  regiões  frias  a  quentes,  nas  zonas  de  referência  para  essas  vinhas  em  todo  o  mundo.  Apesar  de  

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muitas   dessas   castas   serem   cultivadas   e   utilizadas   para   a   produção   de   vinho   fora   dos   limites  individuais   ilustrados   na   Figura   2,   trata-­‐se   predominantemente   de   vinhos   a   granel   (de   grande  produção)  para  um  segmento   inferior  de  mercado,  que  geralmente  não  atingem  a  tipicidade  ou  qualidade   que   essas  mesmas   castas   revelam   quando   se   desenvolvem   no   seu   clima   ideal.   Além  disso,  temperaturas  médias  do  ciclo  vegetativo  inferiores  a  13°C  estão  habitualmente  limitadas  a  castas   híbridas   ou   de  maturação   precoce   que   poderão   não   ter   um   forte   apelo   comercial.   Nos  limites   de   clima   superiores   pode   encontrar-­‐se   também   alguma   produção   com   temperaturas  médias  no   ciclo   vegetativo   superiores  a  21°C,  não  obstante  esta   consista  quase  exclusivamente  em   vinhos   generosos,   uvas   de   mesa   e   uvas   passas.   Pesquisas   recentes   conduziram   ao  mapeamento  destes   limites  climáticos  na  Europa   (Jones  et  al.,  2009),  na  Austrália   (Hall  e   Jones,  2010)   e   na   zona   oeste   dos   Estados   Unidos   (Jones   et   al.,   2010),   detalhando   no   âmbito   da  adequação   climática   da   região   os   tipos   de   clima   frio,   temperado,   pouco  quente   e   quente.   Este  estudo   contribui   para   a   representação   da   estrutura   climática   espacial   efectiva   das   regiões  vinícolas,   em   substituição   da   prática   comum   de   recorrer   às   estações   meteorológicas,   que  claramente  não  caracterizam  com  rigor  os  climas  sentidos  nas  regiões  de  plantação  de  vinha.  

 Figura  2:  Agrupamentos,  clima-­‐maturação,  baseados  nas  relações  entre  requisitos  fenológicos  e  temperaturas  médias  no   ciclo   vegetativo   para   a   produção   de   vinho   de   qualidade   alta   a   premium   nas   regiões   de   referência   em   todo   o  mundo  para  muitas  das  castas  mais  comuns  a  nível  mundial.  A  linha  pontilhada  na  extremidade  das  barras  indica  que  poderão  ainda  ocorrer  ajustes  à  medida  que  ficarem  disponíveis  mais  dados,  sendo  altamente  improváveis  alterações  superiores  a  +/-­‐  0,2-­‐0,5°C  (Jones,  2006).  

Castas:  agrupamentos  clima  /  maturação Frio Intermédio Temperado Quente

e Temperatura  média  do  ciclo  vegetativo  (HN  Abr-­‐Out;  HS  Out-­‐Abr)

Comprimento  do  rectângulo  indica  o  espaço  estimado  de  maturação  da  variedade  

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VARIABILIDADE  CLIMÁTICA  EM  REGIÕES  VINÍCOLAS  

Enquanto  a  estrutura  climática  média  de  uma  região  determina  genericamente  a  aptidão  das  castas,  a  variabilidade  climática  influencia  questões  do  foro  do  risco  de  produção  e  qualidade  relacionadas   com   a   equidade   do   clima   ano   após   ano.   A   variabilidade   climática   nas   regiões  vinícolas  tem  impacto  sobre  a  produção  da  uva  e  do  vinho  através  de  extremos  da  temperatura  mínima  durante  o  inverno  em  algumas  regiões,  a  frequência  e  severidade  de  geadas  na  primavera  e   no   outono,   eventos   de   temperaturas   elevadas   durante   o   verão,   precipitação   ou   granizo  intensos,  assim  como  condições  de  seca  espaciais  e  temporais  generalizadas.  Os  mecanismos  de  variabilidade   climática   que   influenciam   as   regiões   vinícolas   estão   associados   a   interacções  atmosféricas   e   oceânicas   de   larga   escala   que   atuam  em  escalas   espaciais   e   temporais   distintas  (Figura  3).  O  maior  de  entre  estes  é  o  fenómeno  de  larga  escala  El  Niño-­‐Oscilação  Sul  na  zona  do  Pacífico  (ENSO)  (Glantz,  2001),  com  ampla  influência  nos  climas  das  regiões  vinícolas  da  América  do  Norte,  Austrália  e  Nova  Zelândia,  África  do  Sul,  América  do  Sul  e  Europa  (Jones  et  al.,  2012).  No  entanto,   a   dimensão   dos   efeitos   do   ENSO   na   variabilidade   climática   das   regiões   vinícolas   varia  grandemente,   podendo   apresentar   um   sinal   contrário   em   função   da   localização   da   respectiva  região  vinícola,  e  estando  frequentemente  aliado  a  outros  mecanismos  regionais  mais  influentes  (Jones  e  Goodrich,  2008).  

 Figura   3:   Regiões   vinícolas   globais,   mecanismos   da   variabilidade   climática   e   suas   áreas   de   influência   conhecidas,  conforme  descrito  no  texto.  ENSO  –  El  Niño-­‐Oscilação  Sul,  PDO  –  Oscilação  Decadal  do  Pacífico,  NAO  –  Oscilação  do  Atlântico  Norte,  IOD  –  Dipolo  do  Oceano  Índico,  AO  –  Oscilação  Ártica,  AAO  –  Oscilação  Antártica,  SST  –  Temperatura  da  Superfície  do  Mar.  As  regiões  vinícolas  são  as  descritas  na  Figura  1  (Jones  et  al.,  2012).  

No   que   se   refere   à   Europa,   o   mecanismo   de   variabilidade   climática   dominante   é   a  Oscilação  do  Atlântico  Norte  (NAO;  Figura  3),  que  exerce  uma  grande  influência  climática  sobre  o  Oceano  Atlântico  Norte  e  as  massas  de  terra  adjacentes  (Hurrell,  2003).  A  NAO  está  associada  a  alterações  nos  ventos  de  oeste  ao  longo  da  superfície  do  Atlântico  Norte  devido  a  uma  oscilação  de   larga   escala   na   massa   atmosférica   entre   a   alta   subtropical   e   a   baixa   polar.   O   índice  correspondente  que  caracteriza  numericamente  a  NAO  varia  de  ano  para  ano,  sinalizando  todavia  uma  tendência  para  permanecer  numa  mesma  fase  por  períodos  que  duram  vários  anos.  A  fase  positiva  do   índice  NAO  revela  um  centro  de  alta  pressão  subtropical  mais   forte  do  que  habitual  

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(anticiclone   dos   Açores)   e   uma   depressão   excepcionalmente  mais   intensa   na   Islândia.   A  maior  diferença  de  pressão   sobre  o  Atlântico  Norte   resulta  em   tempestades  de   inverno  mais   fortes  e  frequentes   sobre  o  Oceano  Atlântico  numa   latitude  mais  a  norte.  No  que   toca  à  Europa,  a   fase  positiva   traduz-­‐se   em   invernos  mais   quentes   e   húmidos   nas   regiões   a   norte   e   condições  mais  quentes   e   secas   ao   longo   da   bacia   do  Mediterrâneo.   Para   além   disso,   o   norte   do   Canadá   e   a  Gronelândia   assistem   a   invernos   frios   e   secos,   enquanto   o   leste   dos   EUA   regista   condições   de  inverno   amenas   e   húmidas.   A   fase   negativa   do   índice   NAO   revela   uma   alta   subtropical   e  depressão   da   Islândia   pouco   intensas,   sendo   que   o   menor   gradiente   de   pressão   resulta   em  tempestades  de  inverno  menos  fortes  e  frequentes  com  um  trajecto  mais  orientado  de  este  para  oeste.  Regra  geral   isto  reflecte-­‐se  em  condições  de  advecção  de  ar  húmido  e  maior  precipitação  no  Mediterrâneo,  bem  como  condições  de  frio  e  seca  no  norte  da  Europa.  A  costa  leste  dos  EUA  assinala  mais  vagas  de  ar  frio,  que  se  traduzem  em  condições  meteorológicas  de  neve,  ao  passo  que  a  Gronelândia  conta  com  temperaturas  de  inverno  mais  amenas.  

As   relações  entre  a  NAO  e  o   cultivo  da   vinha  na  Europa   são  pouco   claras,   revelando  no  essencial  pouca  ou  nenhuma  correlação  (Jones,  1997).  Isto  deve-­‐se  provavelmente  ao  facto  de  a  

NAO  ser  em  larga  medida  um  mecanismo  de  inverno,  com  efeitos  decrescentes  ao  longo  do  ciclo  vegetativo.   No   entanto,   há   indícios   de   que   a   fase   positiva   da   NAO   fomenta   estações   de  crescimento  mais   secas  na  Península   Ibérica  e  no  Mediterrâneo,  que   se   traduzem  numa  menor  qualidade   e   produtividade   (Esteves   e  Manso-­‐Orgaz,   2001;   Grifoni   et   al.,   2006).   Ambas   as   fases  podem   acarretar   problemas   para   as   vinhas   do   norte   da   Europa,   sendo   que   uma   NAO   positiva  

importa  numa  maior  precipitação  e  pressão  de  doenças,  enquanto  a  fase  negativa  apresenta  um  risco  de  geada  mais  acentuado  durante  a  primavera.  Além  disso,  recorrendo  a  dados  históricos  de  vindimas   no   nordeste   de   França   e   na   Suíça,   Souriau   e   Yiou   (2001)   demonstraram   correlações  significativas   entre   esses   dados   das   vindimas   e   a   NAO,   recomendando   a   utilização   do   registo  “como  um  instrumento  interessante”  para  reconstruir  a  NAO  recuando  no  tempo.  Não  obstante  o  

ENSO  desempenhar  um  papel   importante  na  determinação  da  variabilidade  climática   interanual  em   latitudes   inferiores,   a   sua   influência   no   clima  europeu  é   reduzida   (Mathieu   et   al.,   2004)   ou  dificilmente  distinguível  dos  efeitos  da  NAO  (Rodó  e  Comín,  2000).  

Sem   desconsiderar   o   impacto   óbvio   das   alterações   climáticas   nas   condições   climáticas  médias   das   regiões   vinícolas   a   nível  mundial   (ver   abaixo),   não  pode  no   entanto   ser   igualmente  

descurada  a  importância  da  variabilidade  do  clima.  Uma  intensificação  da  variabilidade  climática  de  uma  dada  região  iria  acentuar  os  riscos  associados  aos  extremos  climáticos,  o  que  por  sua  vez  

ameaçaria   a   viabilidade   económica   da   produção   de   vinho   em   qualquer   região.   Ambas   as  observações  e  modelos  sugerem  que  os  climas  sofrem  alterações  quer  em  termos  de  temperatura  

média  quer  em  termos  de  variabilidade  das  temperaturas  nas  regiões  vinícolas  e  restantes  zonas  (Jones,  2007).  Por  exemplo,  se  a  reacção  às  alterações  de  um  aquecimento  climático  só  ocorresse  

ao  nível  da  média,  haveria  menos  tempo  frio  e  mais  tempo  quente  e  recordes  de  calor.  Por  outro  lado,  o  acentuar  da  variação  da  temperatura,  por  si  só,  resultaria  em  mais  tempo  frio  e  quente,  

bem  como  condições  recorde.  No  entanto,  as  evidências  deixam  antever  que  um  aumento  quer  na  média  quer  na  variabilidade  teria  como  consequência  menos  eventos  de  tempo  frio  e  muitos  mais  eventos  de  tempo  quente  e  recordes  de  calor  (IPCC,  2007).  Schär  et  al.,  (2004),  por  exemplo,  

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demonstraram  que  a  estrutura  climática  europeia  no  verão  deverá  sofrer  um  aumento  acentuado  na   sua   variabilidade   ao   longo   dos   anos   em   reacção   aos   gases   com   efeito   de   estufa.   Sendo   as  

ondas  de  calor  provocadas  por  padrões  entranhados  de  alta  pressão  e  bloqueio,  um  tal  aumento  na  variabilidade  poderia  explicar  o  verão  europeu  atípico  de  2003,   reflectindo-­‐se  fortemente  na  

incidência   futura   de   ondas   de   calor   e   períodos   de   seca.   Também   Jones   (2005)   e   Jones   et   al.  (2005a)  encontraram  indícios  para  uma  mudança  na  variabilidade  climática  em  regiões  vinícolas,  

na  medida  em  que  o  coeficiente  de  variabilidade  nos  climas  das  estações  de  crescimento  em  todo  o  oeste  dos  EUA  e  muitas  outras   regiões  vinícolas   tem  vindo  a  aumentar  globalmente  ao   longo  

dos   últimos   50   anos.   Jones   et   al.   (2005a)   constataram   ainda   que   as   projecções   do  modelo   até  2050  mostram  um  crescimento  contínuo  do  coeficiente  de  variabilidade  das  temperaturas  no  ciclo  

vegetativo  em  20  de  27  regiões  vinícolas  globalmente  consideradas.  

ALTERAÇÕES  CLIMÁTICAS,  VITICULTURA  E  VINHO  

Da   abordagem   anterior   à   estrutura   climática,   aptidão   e   variabilidade   associadas   à  produção   de   vinho   regional   a   mundial,   depreende-­‐se   claramente   que   as   regiões   vitícolas   se  localizam  em  áreas  geográficas  e  climáticas   relativamente  restritas.  Acresce  a   isso  o   facto  de  as  castas  apresentarem  grandes  diferenças  a  nível  da  aptidão  climática,  o  que  vem  limitar  a  presença  

de  certas  vinhas  a  zonas  ainda  mais  restritas  adequadas  à  sua  plantação.  Estes  pequenos  “nichos”,  sinónimo  de  qualidade  e  produção  óptima,  tornam  a  plantação  de  vinhas  para  produção  de  vinho  mais  susceptível  à  variabilidade  climática  de  curto  prazo  e  a  alterações  climáticas  de  longo  prazo  do  que  outras   culturas   realizadas   em  extensões  maiores   (Jones,   2007).   Regra   geral,   em   termos  globais   o   tipo   de   vinho   produzido   numa   determinada   região   é   resultado   do   clima   de   base,  

enquanto  a   variabilidade   climática  determina  as   diferenças  de  qualidade  a  nível  da   vindima.  As  alterações   climáticas   reflectem-­‐se   quer   na   variabilidade,   quer   nas   condições   médias,   podendo  portanto   provocar   alterações   nos   tipos   de   vinho   (Jones,   2007).   O   nosso   entendimento   das  alterações   climáticas   e   respectivos   potenciais   impactos   na   viticultura   e   produção   de   vinho  

reveste-­‐se   de   importância   crescente   à   medida   que   o   sistema   terrestre   é   sujeito   a   ciclos   e  flutuações  naturais,  bem  como  a  variações  nas  concentrações  dos  gases  com  efeito  de  estufa  e  a  alterações  nas  características  da  superfície  terrestre,  as  quais  modificam  o  balanço  de  radiação  da  Terra,  a  circulação  atmosférica  e  o  ciclo  hidrológico  (IPCC,  2007).  As  tendências  de  aquecimento  observadas  ao  longo  dos  últimos  cem  anos  têm-­‐se  revelado  assimétricas  relativamente  aos  ciclos  

sazonais  e  diurnos,  com  aquecimento  mais  acentuado  durante  o  inverno  e  a  primavera  e  à  noite  (Karl  et  al.,  1993;  Easterling  et  al.,  2000).  As  tendências  observadas  a  nível  das  temperaturas  têm  sido   associadas   à   viabilidade   da   produção   agrícola,   uma   vez   que   influenciam   a   potencial  resistência  ao  inverno,  a  ocorrência  de  geadas  e  a  duração  das  estações  de  crescimento  (Carter  et  al.,  1991;  Menzel  e  Fabian,  1999;  Easterling  et  al.,  2000;  Nemani  et  al.,  2001;  Moonen  et  al.,  2002;  Jones,  2005).  

Para   situar   a   vitivinicultura   no   contexto   da   aptidão   climática   e   do   potencial   impacto  

derivado  das  alterações  climáticas,  a  Figura  2  fornece  o  enquadramento  para  a  análise  do  actual  potencial  de  amadurecimento  clima-­‐maturação  para  castas  de  primeira  qualidade  cultivadas  em  climas   frios,   temperados,   pouco   quentes   e   quentes   (Jones,   2006).   A   Cabernet   Sauvignon,   por  

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exemplo,   é   cultivada   em   regiões   que   abrangem   desde   climas   temperados   a   quentes,   com  estações   de   crescimento   oscilando   aproximadamente   entre   16,8   e   20,2°C   (caso   de   Bordéus   ou  Napa).   As   castas   formatadas   para   climas  mais   frios,   por   exemplo   a   Pinot   Noir,   são   geralmente  

cultivadas   em   regiões   com   climas   frios   a   temperados   baixos,   cujas   estações   de   crescimento  registam  temperaturas  aproximadas  entre  14,0  e  16,0°C  (caso  do  norte  do  estado  do  Oregon  ou  da  Borgonha).  Dos  limites  gerais  que  a  aptidão  climática  fria  a  quente  impõe  à  produção  de  vinho  de   elevada   qualidade   depreende-­‐se   claramente   que   o   impacto   das   alterações   climáticas   não  tende   a   ser   uniforme   em   todas   as   castas   e   regiões,   estando   em   princípio  mais   proximamente  

relacionado  com  os   limiares  climáticos,   sendo  que  um  aquecimento  continuado  comprometeria  uma   região   em   termos   da   sua   capacidade   de   produzir   vinho   de   qualidade   com   as   castas  existentes.   Por   exemplo,   se   uma   região  possuir   uma   temperatura  média   no   ciclo   vegetativo  de  15°C   e   o   clima   sofrer   um   aquecimento   de   1°C,   então   essa   região   será   climaticamente   mais  propícia   ao   amadurecimento   de   algumas   castas,   e   potencialmente   menos   para   outras.   Se   a  

magnitude  do  aquecimento  for  de  2°C  ou  mais,  então  uma  região  poderá  potencialmente  passar  para   outro   tipo   de   clima   de   maturação   (por   ex.   de   temperado   a   pouco   quente).   Embora   a  quantidade   de   eventuais   castas   com   bom   amadurecimento   numa   região   possa   aumentar   em  muitos   casos,   se  uma   região   corresponder   a   um   tipo  de   clima  de  maturação  quente   e   aquecer  

para  além  do  que  é  considerado  viável,  então  o  cultivo  da  vinha   ficará  comprometido  e  poderá  mesmo  tornar-­‐se   inviável.  Para  além  disso,  as  observações  e  modelações  efectuadas  mostraram  que  as  alterações  climáticas  não  se  manifestam,  nem  se  manifestarão  provavelmente  no  futuro,  unicamente   em   termos   de   alterações   ao   nível   da  média,  mas   também  em   termos   de   variação,  com   maior   probabilidade   de   eventos   de   calor   extremo,   pese   embora   ainda   com   eventos  

esporádicos   de   frio   extremo   (IPCC,   2007).   Como   tal,   embora   seja   possível   que   a   estrutura  climática   melhore   em   algumas   regiões,   a   variabilidade   continuará   a   ser   a   nota   dominante,  possivelmente  até  de  forma  mais  limitadora  do  que  acontece  actualmente.  

A  História  mostra-­‐nos  que  as  regiões  de  cultivo  da  vinha  se  desenvolveram  quando  o  clima  era   mais   propício   e   que   no   passado   ocorreram   mudanças   a   nível   da   viabilidade   de   regiões  vinícolas   devido   a   alterações   no   clima   que   tornaram   a   produção   mais   difícil   ou   fácil   (Le   Roy  Ladurie,   1971;   Pfister,   1988;   Gladstones,   1992).   Na   Europa,   há   praticamente   mil   anos   que   é  

mantido   um   registo   das   datas   de   vindima   e   da   produtividade   (Penning-­‐Roswell,   1989;   Le   Roy  Ladurie,  1971),  revelando  períodos  com  temperaturas  mais  favoráveis  no  ciclo  vegetativo,  maior  produtividade  e  indiscutível  melhor  qualidade  em  algumas  regiões.  Outras  evidências  indicam  que  as  vinhas  foram  plantadas  em  locais  tão  a  norte  quanto  as  zonas  costeiras  do  Mar  Báltico  e  o  sul  

de   Inglaterra   durante   o   período   medieval   designado   por   “Pequeno   Óptimo   Climático”  (aproximadamente   entre   900   e   1300   a.D.),   quando   as   temperaturas   subiram   em   até   1°C  (Gladstones,  1992).  Durante  a  Alta  Idade  Média  (séculos  XII  e  XIII),  a  vindima  tinha  lugar  no  início  de   Setembro,   comparativamente   a   início   a   fim   de  Outubro   durante   grande   parte   do   século   XX  (Pfister,   1988;   Gladstones,   1992).   Ainda   assim,   durante   o   século   XIV   vertiginosas   descidas   de  

temperatura  conduziram  à  “Pequena  Idade  do  Gelo”  (que  se  prolongou  até  finais  do  século  XIX),  o  que  ditou  progressivamente  o  fim  da  maioria  das  vinhas  a  norte  e  gerou  estações  de  crescimento  de  tal  forma  curtas  que  a  produção  de  uvas  se  tornou  difícil  em  grande  parte  do  resto  da  Europa.  

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Complementarmente,   a   investigação   tem   recorrido   a   datas   de   vindima   recentes   da   região   da  Borgonha   para   reconstruir   as   temperaturas   na   primavera-­‐verão   entre   1370   e   2003   e,   se   os  resultados   indicam  que   temperaturas   ao  nível   das  da  década  quente  de  1990  ocorreram  várias  

vezes  na  região  desde  1370,  o  invulgarmente  quente  verão  de  2003  parece  ter  superado  todos  os  outros  em  termos  de  calor  desde  1370  (Chuine  et  al.,  2004).  

Numa   investigação  mais   recente   sobre  o   impacto  das  alterações  climáticas  na  qualidade  do  vinho,  Jones  et  al.  (2005a)  analisaram  as  temperaturas  no  ciclo  vegetativo  em  27  daquelas  que  são  geralmente   reconhecidas   como  as  melhores   regiões  produtoras  de   vinho  do  mundo,   tendo  concluído  que  as  temperaturas  médias  nessa  estação  subiram  1,3°C  nos  últimos  50  anos.  Todavia,  

o  aquecimento  não  se  deu  de  forma  uniforme  em  todas  as  regiões,  sendo  mais  pronunciado  na  zona   oeste   dos   EUA   e   na   Europa   e   menos   no   Chile,   na   África   do   Sul   e   na   Austrália.   O   maior  aquecimento   foi   registado   na   Península   Ibéria,   no   sul   de   França   e   em   áreas   dos   estados   de  Washington   e   da   Califórnia,   com   valores   superiores   a   2,5°C.   Por   exemplo,   Jones   et   al.   (2005a)  concluíram  que  o  aquecimento  observado  durante  1950-­‐1999  nas  regiões  da  Borgonha,  Vale  do  

Reno,   Barolo   e   Bórdeus   variou   entre   0,7   e   1,8°C.   Análises   regionalmente   mais   específicas   de  resolução  temporal  revelam  um  alinhamento  com  as  observações  globais  nas  tendências  a  nível  das  temperaturas  nas  regiões  vinícolas  (Jones  e  Davis,  2000a,b;  Jones  et  al.,  2005b;  Jones,  2007;  Webb  et  al.,  2008;  Hall  e  Jones,  2009;  Ramos  et  al.,  2008).  Globalmente,  durante  os  últimos  30-­‐70  anos,   muitas   das   regiões   vinícolas   do   mundo   apresentaram   um   decréscimo   na   frequência   de  

geadas,   oscilações  na  ocorrência   temporal   das   geadas   e   estações  de   crescimento  mais   quentes  com  maior  acumulação  de  calor.  Na  América  do  Norte,  a   investigação  tem  mostrado  alterações  significativas  nos  climas  das  estações  de  crescimento,  particularmente  na  zona  oeste  dos  EUA.  Por  exemplo,   durante   1948-­‐2002,   nas   principais   regiões   de   cultivo   da   vinha   (Califórnia,   Oregon   e  Washington),  as  estações  de  crescimento  ficaram  mais  quentes  em  0,9°C,  essencialmente  devido  

a   alterações   nas   temperaturas   mínimas,   com   maior   acumulação   de   calor,   uma   diminuição   na  frequência  de  geadas,  que  é  mais  significativa  no  período  de  repouso  vegetativo  e  na  primavera,  geadas  de  fim  de  primavera  mais  precoces,  primeiras  geadas  de  outono  mais  tardias  e  períodos  mais  longos  sem  ocorrência  de  geadas  (Jones,  2005).  Alterações  temporais  no  Vale  de  Napa  desde  1930   (Jones  e  Goodrich,  2008)  mostram  que  a  acumulação  de  calor  é   superior  em  mais  de  350  

unidades   (dias-­‐grau   em   unidades   °C)   e   tem   sido   o   resultado   de   um   aquecimento   nocturno  significativo,  com  as  temperaturas  mínimas  a  crescerem  3,0°C  enquanto  as  temperaturas  diurnas  não  revelam  grandes  alterações.  Os  valores  e  timings  da  precipitação  são  altamente  variáveis  no  oeste  dos  EUA,  estando  mais  associados,  a  mecanismos  de  variabilidade  climática  de  larga  escala,  

caso   do   El   Niño   ou   da  Oscilação  Decadal   do   Pacífico,   do   que   a   tendências   estruturais   (Jones   e  Goodrich,  2008).  Investigação  recente  para  a  Europa  mostra  resultados  semelhantes  aos  obtidos  para   a   América   do   Norte   atrás   descritos   (Jones   et   al.,   2005b).   Uma   análise   de   tendências  climáticas   e   fenológicas   ao   longo   dos   últimos   30-­‐50   anos   para   onze   locais   com   vários   tipos   de  clima  na   Europa   (frio   a   quente)   e   para   16   castas  mostra   que  o   aquecimento  ocorreu  de   forma  

transversal   na   maioria   das   estações,   sendo   todavia   mais   forte   na   primavera   e   no   verão.   Nas  regiões   vinícolas   estudadas,   o   aquecimento   no   ciclo   vegetativo   foi   em  média  de   1,7°C,   a  maior  parte  do  qual  a  verificar-­‐se  à  noite.  A  acumulação  de  calor  registou  igualmente  um  aumento,  com  

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os   dias-­‐grau   a   subirem   em   250-­‐300   unidades   (°C),   enquanto   a   frequência   e   quantidades   de  precipitação   não   se   alteraram   significativamente.   Em   Espanha,   Jones   et   al.   (2005b)   concluíram  que   as   estações   de   crescimento   aqueceram   em   média   0,8-­‐1,2°C   nas   regiões   da   Galiza   e   de  

Valladolid,  com  os  valores  a  surgirem  muito  mais  destacados  à  noite  (temperaturas  mínimas  com  aumentos   de   1,1-­‐2,1°C)   do   que   durante   o   dia   (sem   significado).   A   acumulação   de   calor,   seja  medida  pelo  Índice  de  Huglin  ou  Índice  de  Winkler  (ver  abaixo),  aumentou  no  interior  mas  não  se  alterou   significativamente   na   região   mais   costeira   da   Galiza.   Ramos   et   al.   (2008)   constataram  igualmente   um   aquecimento   generalizado   a   nível   das   estações   de   crescimento   nas   regiões  

vinícolas  de  Penedès,  Priorat  e  Segrià,  no  nordeste  de  Espanha,  na  ordem  dos  1,0-­‐2,2°C.  O  estudo  revelou   também  o  potencial  de  maior   stress  hídrico,  uma  vez  que  a  descida  da  precipitação  na  primavera   e   no   verão,   combinada   com   o   aquecimento   observado,   resulta   num   reforço   das  necessidades  hídricas  de  6-­‐14%  numa   região   já  de   si   semiárida.   Paralelamente   a   alterações  em  muitos   parâmetros   de   temperatura,   no   nordeste   de   Espanha   constatam-­‐se   alterações  

concomitantes  em  parâmetros  da  videira  e  do  vinho,  incluindo  eventos  fenológicos  mais  precoces,  maior  qualidade  do  vinho  com  maiores  amplitudes  térmicas  diurnas  no  amadurecimento,  e  menor  produção  nas  vindimas  dos  anos  mais  quentes   (Ramos  et  al.,  2008).  Para  além  disso,  na  Europa  em   geral,   a   evolução   dos   estados   fenológicos   da   videira  mostrou   uma   forte   correlação   com   o  

aquecimento  observado,  com  tendência  para  uma  precocidade  de  6  a  25  dias  em  inúmeras  castas  e  localizações  (Jones  et  al.,  2005b).  

As   projecções   de   climas   futuros   são   obtidas   com   recurso   a   modelos   assentes   no  conhecimento  do  funcionamento  do  sistema  climático,  sendo  usadas  para  analisar  a  forma  como  o  meio   ambiente,   neste   caso   a   viticultura   e   a   produção   de   vinho,   responde   a   estas  mudanças.  Estes  modelos  climáticos  são  representações  matemáticas  complexas  a  três  dimensões  do  nosso  sistema   Terra   -­‐   Atmosfera,   apresentando   análises   espaciais   e   temporais   das   leis   de   energia,  

massa,  humidade  e  transferência  de  momento  na  atmosfera  e  entre  a  atmosfera  e  a  superfície  do  globo.  Adicionalmente,  os  modelos  climáticos  têm  por  base  cenários  de  emissões  do  IPCC  (IPCC,  2007)  que  reflectem  estimativas  de  como  a  actividade  humana  influenciará  a  emissão  de  CO2  no  futuro.   Os   muitos   modelos   em   uso   actualmente,   aliados   ao   facto   de   estarem   a   modelar   um  sistema  não-­‐linear  e  a  usar  diferentes  cenários  de  emissões,  resultam  numa  gama  de  potenciais  

alterações  a  nível  de  temperatura  e  precipitação  no  planeta  (IPCC,  2007).  O  trabalho  realizado  nas  últimas   três  décadas  usando  projecções  de  modelos  mostra  que  as   tendências  de  aquecimento  observadas  nas  regiões  vinícolas  em  todo  o  mundo  irão  previsivelmente  continuar  a  verificar-­‐se.  Uma  das   análises   pioneiras   sobre  o   impacto  das   alterações   climáticas   na   viticultura   sugeria   um  

alongamento  das  estações  de  crescimento  na  Europa  e  um  aumento  da  qualidade  do  vinho  nas  regiões   de   Champagne   e   Bordéus   (Lough   et   al.,   1983).   Estes   resultados   foram   largamente  provados   como   correctos   (Jones   et   al.,   2005a).   Para   além   disso,   a   investigação   com   base   em  modelos  espaciais   tem   também  apontado  para  uma  potencial   deslocalização  e/ou  expansão  da  zona  geográfica  das  regiões  vitícolas,  com  previsão  de  que  partes  do  sul  da  Europa  irão  tornar-­‐se  

demasiado   quentes   para   produzir   vinhos   de   qualidade   e   de   que   as   regiões   setentrionais   irão  novamente   tornar-­‐se  mais   estáveis   em   termos   de   consistência   do   clima   para   amadurecimento  e/ou   viáveis   (Kenny   e   Harrison,   1992;   Butterfield   et   al.,   2000).   Analisando   castas   específicas  

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(Sangiovese  e  Cabernet  Sauvignon),  Bindi  et  al.   (1996)  e  Bindi  e   Fibbi   (2000)   concluíram  que  as  alterações  climáticas  em  Itália  deverão  conduzir  a  intervalos  de  crescimento  mais  curtos  mas  com  aumentos   na   variabilidade   da   produtividade.   Outros   estudos   sobre   o   impacto   das   alterações  

climáticas,  nas  actividades  vitícola  e  vinícola,  revelam  a  importância  das  mudanças  na  distribuição  geográfica  das  áreas  de  cultivo,  em  virtude  de  alterações  na   temperatura  e  precipitação,  maior  pressão   de   pragas   e   doenças   devido   a   invernos   mais   suaves,   alterações   no   nível   do   mar   que  potencialmente  alteram  a  influência  de  uma  zona  costeira  nos  climas  de  viticultura,  e  o  efeito  que  aumentos  no  CO2  poderão  ter  no  crescimento  da  videira  e  na  qualidade  da  uva  e  até  na  textura  da  

madeira  de  carvalho  usada  para  fabricar  as  barricas  para  vinho  (Tate,  2001;  Renner,  1989;  Schultz,  2000;  McInnes  et  al.,  2003).  

Conforme   já   abordado   na   secção   sobre   aptidão   climática,   a   escala   mais   alargada   de  aptidão  global  para  a  viticultura  mostra  que  as  zonas  consideradas  óptimas  se  encontram  entre  as  isotérmicas   de   10-­‐20°C,   valores   relativos   à   temperatura   média   anual   (de   Blij,   1983;   Johnson,  1985),  ou  entre  as  isotérmicas  de  12-­‐22°C  para  o  ciclo  vegetativo  (Gladstones,  2004;  Jones,  2006).  

Para  analisar  estes   limites   latitudinais  globais  de  aptidão  para  viticultura  devido  ao  clima,   Jones  (2007)   usou   dados   do   CCSM   (Community   Climate   System   Model)   com   uma   resolução  latitude/longitude   de   1,4°x1,4°   e   os   cenários   de   emissões   B1   (moderado),   A1B   (médio)   e   A2  (elevado)  para  representar  as  deslocações  das  isotérmicas  de  12-­‐22°C  para  três  períodos  –  2000,  2050   e   2100.   Alterações   do   período   base   de   2000   mostram   simultaneamente   mudanças   na  

quantidade  de  área  apta  para  viticultura  e  uma  deslocação  latitudinal  geral  em  direcção  aos  Polos.  Em  2050,  as   isotérmicas  de  12°C  e  22°C   terão  avançado  150-­‐300  km  em  direcção  aos  Polos  em  ambos   os   hemisférios   dependendo   do   cenário   de   emissões   (não   apresentado).   Em   2100,   as  mesmas   isotérmicas   terão   avançado  mais   125-­‐250   km  na  mesma  direcção   (ver   Figura   4   para   o  cenário   médio   A1B).   As   deslocações   são  marginalmente  maiores   na   orla   polar   do   que   na   orla  

equatorial   em   ambos   os   hemisférios.   No   entanto,   a   área   relativa   de   massa   terrestre   que   se  encaixa  entre  as   isotérmicas  nos  vários  continentes  aumenta   ligeiramente  no  Hemisfério  Norte,  reduzindo   no   Hemisfério   Sul   devido   a   diferenças   de   massa   terrestre   (Figura   4).   Deslocações  semelhantes  são  observadas  em  2100  para  todos  os  cenários  de  emissões  (não  apresentado).  

 Figura  4:  Alterações  nas  zonas  climáticas  globais  para  viticultura  entre  2000  e  2100.  Os  dados  climáticos  provêem  do  

CCSM   (Community   Climate   System   Model)   do   National   Center   for   Atmospheric   Research   para   dados   observados  

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(2000)  e  um  A1B  (cenário  médio).  As  regiões  vinícolas  derivam  de  delimitações  definidas  pelas  entidades  dos  diversos  

países   (por   ex.,   as   "American   Viticultural   Areas”   nos   Estados   Unidos,   “Geographical   Indications”   na   Austrália   e   no  

Brasil,  e  “Wine  of  Origin”  na  África  do  Sul)  ou  são  áreas  de  cultivo  da  vinha  identificadas  por  detecção  remota  (por  ex.,  

“Corine  Land  Cover”  para  a  Europa)  ou  por   imagens  aéreas   (por  ex.,  Canadá,  Chile,  Argentina  e  Nova  Zelândia).  As  

zonas  climáticas  globais  são  determinadas  pelas   temperaturas  médias  de  12-­‐22°C  no  ciclo  vegetativo   (Abr   -­‐  Out  no  

Hemisfério  Norte  e  Out  -­‐  Abr  no  Hemisfério  Sul).  

Usando  dados  do  modelo  climático  do  Hadley  Centre  (HadCM3)  e  um  cenário  de  emissões  A2  para  2049  para  27  das  melhores  regiões  produtoras  de  vinho  do  mundo,  Jones  et  al.  (2005a)  compararam  os  climas  médios  de  dois  períodos:  1950-­‐1999  e  2000-­‐2049.  Os  resultados  sugerem  que  as   temperaturas  médias  no  ciclo  vegetativo  poderão  aumentar  em  média  1,3°C  nas  regiões  

vinícolas   estudadas,   com   regiões   prestigiadas   como  as   da  Borgonha   (Beaujolais),   Vale   do  Reno,  Barolo   e   Bordéus   potencialmente   a   registarem   um   aquecimento   a   variar   entre   0,9   e   1,4°C.   As  alterações   estimadas   são   também   maiores   para   o   Hemisfério   Norte   (1,3°C)   do   que   para   o  Hemisfério  Sul  (0,9°C).  Analisando  a  taxa  de  alterações  prevista  para  o  período  2000-­‐2049,  surgem  alterações  significativas  em  cada  região  vinícola  com  tendências  entre  0,2°C  a  0,6°C  por  década.  

As  tendências  gerais  durante  o  período  2000-­‐2049  apontam  para  uma  média  de  2°C  em  todas  as  regiões,  com  o  menor  aquecimento  a  ocorrer  na  África  do  Sul  (0,9°C/50  anos)  e  o  maior  a  ter  lugar  em   Portugal   (2,9°C/50   anos).   Para   além   disso,   Jones   et   al.   (2005a)  mostraram   que  muitas   das  regiões   vinícolas   poderão   estar   na   sua   temperatura   óptima   de   ciclo   vegetativo   (ou   perto   dela)  para  uma  produção  de  vinho  de  alta  qualidade,  e  que  novos  aumentos,  conforme  previsto  pelas  

diferenças   entre   as  médias   dos   períodos   1950-­‐1999   e   2000-­‐2049,   irão   colocar   algumas   regiões  fora  do   seu  clima  óptimo   teórico  no  ciclo  vegetativo.  A  magnitude  destas  alterações  médias  ao  nível  do  ciclo  vegetativo  indica  potenciais  mudanças  nos  tipos  de  clima  de  maturação  para  muitas  regiões  num  determinado  limiar  de  potencial  de  amadurecimento  (ou  perto  dele)  para  as  castas  actualmente  cultivadas  nessa  região.  

Para  os  Estados  Unidos  globalmente  considerados,  White  et  al.  (2006)  usaram  um  modelo  

climático  regional  de  alta  resolução  (25  km)  compelido  por  um  cenário  de  emissões  de  gases  com  efeito  de  estufa  A2  do  IPCC  e  estimaram  que  a  potencial  área  premium  para  a  produção  de  uvas  para  vinho  nos  Estados  Unidos   (excluindo  Alasca  e  Havai)  poderá   ter  diminuído  em  até  81%  no  final   do   século   XXI.   Esta   investigação   concluiu   que   aumentos   na   acumulação   de   calor   irão  possivelmente   alterar   a   produção   de   vinho   para   castas  mais   adaptadas   a   climas   quentes   e/ou  

gerar   vinhos   de   menor   qualidade.   Adicionalmente,   os   modelos   mostram   que   embora   os  problemas   com   a   geada   se   vejam   reduzidos,   aumentos   na   frequência   de   dias   extremamente  quentes  (>35°C)  no  ciclo  vegetativo  poderão  comprometer  gravemente  ou  eliminar  por  completo  a  produção  de  uvas  para  vinho  em  muitas  áreas  dos  Estados  Unidos.  Acresce  que  a  produção  de  uvas  e  de  vinho  ficará  provavelmente  restrita  a  uma  estreita  região  da  costa  oeste  e  ao  noroeste  e  nordeste,  áreas  onde  a  humidade  excessiva  já  é  problemática  (White  et  al.,  2006).  

Outros  estudos  de  carácter  regional  na  Europa  (Kenny  e  Harrison,  1992;  Butterfield  et  al.,  

2000;  Stock  et  al.,  2005),  na  Austrália  (McInnes  et  al.,  2003;  Webb  et  al.,  2005;  Hall  e  Jones,  2009)  e   na   África   do   Sul   (Carter,   2006)   debruçaram-­‐se   sobre   as   alterações   climáticas   servindo-­‐se   de  outras   abordagens   de   modelação,   tendo   no   entanto   obtido   resultados   semelhantes   aos   atrás  

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descritos.  Olhando  para  as  alterações  no  Índice  de  Huglin  de  aptidão  para  a  viticultura  na  Europa,  Stock  (2005)  aponta  acréscimos  de  100-­‐600  unidades  que  resultam  em  deslocações  latitudinais  de  larga   escala,   com   novas   áreas   nas   orlas   a   norte   a   tornarem-­‐se   viáveis,   alterações   na   aptidão  

varietal  nas  regiões  existentes  e  regiões  a  sul  a  tornarem-­‐se  de  tal  forma  quentes  que  a  aptidão  global  se  vê  comprometida.  No  caso  da  Espanha,  de  Castro  et  al.  (2005)  analisaram  vários  cenários  de   emissões   visando   definir   limites   inferiores   e   superiores   para   as   alterações   a   nível   de  temperatura   e   precipitação   e   encontraram   tendências   de   0,4-­‐0,7°C   por   década,   com   um  aquecimento  mais  acentuado  no  verão  do  que  no   inverno.  Globalmente,  as  alterações  resultam  

num  aquecimento  que,  em  2100,  variará  entre  5-­‐7°C  nas  regiões  do  interior  e  3-­‐5°C  junto  à  costa.  Concomitantemente   com   estas   projecções   de   temperatura,   de   Castro   et   al.   (2005)   mostram  primaveras  e  verões  muito  mais  secos  e  uma  menor  precipitação  anual,  que  será  espacialmente  menos   homogénea   por   toda   a   Espanha   do   que   acontece   com   a   temperatura,  Complementarmente,  com  o   intuito  de  analisar  as   respostas  da  videira  às  alterações  climáticas,  

Lebon   (2002)   socorreu-­‐se   de   dados   de  modelos   para  mostrar   que   o   início   do   amadurecimento  (pintor)   da   casta   Syrah   no   sul   de   França   iria,   com   um   aquecimento   de   2°C,   passar   da   segunda  semana  de  Agosto  actualmente  para  a  terceira  semana  de  Julho  e,  com  um  aquecimento  de  4°C,  para  a  primeira   semana  de   Julho.  Simultaneamente,  este  estudo  concluiu  que  um  aquecimento  

significativo   durante   a   maturação   e   especialmente   à   noite   iria   ter   um   efeito   negativo   no  desenvolvimento  de  aromas  e  cor,  acabando  por  afectar  a  tipicidade  do  vinho.  

Na   Austrália,   Webb   et   al.   (2005)   analisaram   cenários   de   alterações   climáticas   para   a  viticultura,   concluindo   que   as   temperaturas   em   2070   deverão   aumentar   em   1,0-­‐6,0°C   no   país,  com  um  acréscimo  no  número  de  dias  quentes  e  um  decréscimo  no  risco  de  geadas.  Já  a  nível  de  precipitação,   as   alterações   apresentam-­‐se  mais   variáveis,  manifestando-­‐se   todavia   numa  maior  necessidade   de   irrigação   durante   o   ciclo   vegetativo.   As   alterações   projectadas   para   a   Austrália  

associam   os   padrões   de   temperatura   futuros   a   uma   redução   na   qualidade   do   vinho,   com   as  deslocalizações  para  sul  e  para  a  costa  em  termos  de  regiões  produtoras  a  assumirem-­‐se  como  a  alternativa  mais  provável  à  manutenção  da  viabilidade.  Hall  e  Jones  (2009)  utilizaram  métodos  de  modelação  de  climas  no  ciclo  vegetativo  para  a  Austrália,   tendo  concluído  que  8  das  61  regiões  vinícolas  reconhecidas  no  país  apresentariam  em  2030  um  clima  mais  quente  do  que  o  limiar  de  

temperatura  conhecido  para  o  ciclo  vegetativo  em  termos  de  aptidão,  passando  a  12  em  2050  e  21  em  2070,  na  ausência  de  novas  medidas  de  adaptação.  Na  África  do  Sul,  projecções  regionais  de  subida  das  temperaturas  e  descida  da  precipitação  demonstram  que  tal  colocará  sob  pressão  extra  quer  o  desenvolvimento   fenológico  da   videira,   quer  os  necessários   recursos  hídricos  para  

irrigação  e  produção  (Carter,  2006).  Esta  investigação  aponta  para  o  facto  da  actividade  vitícola  na  África   do   Sul   se   vir   a   tornar   tendencialmente   mais   arriscada   e   dispendiosa,   o   que   terá   muito  provavelmente  como  consequência  uma  alteração  das  práticas  de  gestão  para  lidar  com  os  cada  vez  mais  limitados  recursos  hídricos.  O  autor  faz  notar  que  a  situação  será  susceptível  de  agravar  outras  questões  de  ordem  económica,  tais  como  aumentos  no  preço  do  vinho,  uma  redução  no  

número   de   viticultores   e   a   necessidade   de   implementar   estratégias   de   adaptação   onerosas   e  ainda   não   estudadas   (Carter,   2006).   No   seu   conjunto,   estes   estudos,   e   os   outros   previamente  abordados,   indicam   que   os   desafios   que   a   indústria   vinícola   enfrenta   incluem   um  

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desenvolvimento  fenológico  mais  acelerado,  alterações  nos  locais  propícios  para  algumas  castas,  uma   redução   na   janela   temporal   considerada   ideal   para   a   vindima   no   caso   dos   vinhos   de   alta  qualidade  e  uma  melhor  gestão  dos  já  escassos  recursos  hídricos.  

A  REGIÃO  DEMARCADA  DO  DOURO  

Portugal  é  o  10º  maior  produtor  mundial  de  vinho  (FAO,  2010),  com  cultivo  da  vinha  em  

mais  de  30  regiões  vinícolas  com  denominações  de  origem  diferentes.   Indiscutivelmente,  a  mais  conhecida  destas  regiões  vinícolas  é  a  Região  Demarcada  do  Douro  (Figura  5),  onde  as  paisagens,  física  e  cultural  possuem  gravados  quase  2000  anos  de  produção  de  vinho.  Sendo  a  mais  antiga  região   vinícola  demarcada  e   regulamentada  do  mundo,  desde  o   ano  de  1756,  o  Vale  do  Douro  ganhou  notoriedade  graças  à  qualidade  do  seu  principal  produto:  o  Vinho  do  Porto.  No  entanto,  a  

região  é   actualmente   também   reconhecida  pela  qualidade  dos   vinhos   tranquilos  que  produz.  A  Região   Demarcada   do   Douro   abrange   cerca   de   252.000   hectares,   com   a   área   de   vinha   a  representar  aproximadamente  45.600  hectares  ou  18%  da  área  de  solo  total  (Tabela  1).  A  região  produz  os  clássicos  Vinhos  do  Porto  (aproximadamente  45%  da  produção)  e  também  vinhos  com  denominação  Douro  (35%),  dos  quais  78%  de  castas  tintas  e  22%  de  castas  brancas,  autóctones  da  região  e/ou  de  Portugal.  

 

Figura  5:  Portugal  e  a  Região  Demarcada  do  Douro.  

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A   Região  Demarcada   do  Douro   é   composta   por   três   sub-­‐regiões:   o   Baixo   Corgo,   o   Cima  Corgo   e   o   Douro   Superior   (Figura   6;   Tabela   1).   A   parte   mais   oeste   da   região   fica   a  aproximadamente  70  km  da  costa  e  as  partes  mais  a  este,  fazem  fronteira  com  Espanha.  O  Baixo  

Corgo  abrange  a  área  mais  pequena,  seguida  do  Cima  Corgo  e  por  fim  do  Douro  Superior,  a  sub-­‐região  de  maior  dimensão.  A  paisagem  é  caracterizada  por  terreno  montanhoso  que  se  ergue  a  partir   do   rio   Douro   em   encostas   de   declive   moderado   a   escarpado   e   exposições   variadas.   A  altitude  média  de  toda  a  região  é  443  m,  mas  varia  de  quase  40  m  a  um  pouco  acima  de  1400  m.  A  área  de  maior  altitude  situa-­‐se  ao   longo  da  cadeia  montanhosa  do  Marão,  que  proporciona  um  moderado  efeito  de  barreira  das  precipitações  provenientes  do  Atlântico.    

 

 Figura  6:  A  topografia  da  Região  Demarcada  do  Douro.  Inclui  um  mapa  de  localização  da  região  em  Portugal.  Fonte:  IVDP  (2011).  

Tabela  1:   Relação  de   áreas   e   altitudes  para   a  Região  Demarcada  do  Douro  e   suas   três   sub-­‐regiões.   Fonte:  Modelo  Digital  de  Altitude  10m  (IVDP).  

Altitude  (m)  Área   Área  (ha)  

Média  Desv  padrão  

Máximo   Mínimo   Dif  

Toda  a  Região   251.898   443   175,2   1408   42   1366  

Baixo  Corgo   39.624   412   203,6   1408   42   1366  

Cima  Corgo   92.109   482   176,1   964   51   913  

Douro  Superior   120.165   423   158,3   887   102   785  

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O   clima   da   Região   Demarcada   do   Douro   é  mediterrânico,   sendo   caracterizado   por   uma  forte   consistência   interanual   de   insolação   total,   temperatura   e   evapotranspiração   potencial,   e  uma   significativa   variação   interanual   da   precipitação   (ADVID,   2007).   Na   Região   Demarcada   do  Douro,  como  na  maioria  das  regiões  de  clima  mediterrânico,  a  alta  variabilidade  na  precipitação,  

aliada   a   uma   elevada   evapotranspiração   durante   o   período   de   verão,   é   normalmente   um   dos  principais   factores   limitadores   do   desenvolvimento   da   videira,   bem   como   da   produção   e  qualidade  da  vindima  (Sotés,  2001).  No  caso  da  região  vinícola  do  Douro,  as  videiras  estão  sujeitas  a   um   elevado   défice   hídrico   potencial,   em   que   a   diferença   entre   a   evapotranspiração   e   a  

precipitação  pode  chegar  aos  730-­‐750  mm  no  período  que  medeia  o  abrolhamento  e  a  vindima  (Malheiro  et  al.,  2007).  No  entanto,  é  de  salientar  que  uma  parte  importante  da  área  geográfica  do  Douro  regista  regimes  de  precipitação  baixos  (33%  da  área  apresenta  menos  de  600  mm).  Para  além  disso,  a  probabilidade  de  ocorrência  de  um  ano  seco  é  geralmente  maior  do  que  a  de  anos  com  precipitação  acima  da  média.  Segundo  Schultz  (2000),  esta  limitação  pode  ver-­‐se  agravada  no  

futuro,   uma   vez   que   os   cenários   de   alterações   climáticas  mostram   uma   potencial   redução   das  condições  hídricas  do  solo  em  até  70%,  o  que  provavelmente  reduziria  o  rendimento  em  países  do  sul  da  Europa,  particularmente  a  Península  Ibérica  (Stigliani  e  Salomons,  1992).  

Pelos   argumentos   expostos,   a   viticultura   na   Região   Demarcada   do   Douro   é   praticada,  numa  parte  considerável  do  seu  território,  sob  condições  moderadas  a  muito  severas,  sobretudo  quando   se   associa   clima   e   topografia.   Deste   modo,   perante   um   cenário   de   alterações   na  temperatura   para   os   próximos   50   anos   de   1,5-­‐2,5°C,   e   confirmando-­‐se   as   previsões   de  menor  

precipitação   e/ou   grande   variabilidade   na   ocorrência   de   fenómenos   de   vagas   de   calor   ou   de  intensa   precipitação,   tal   terá   consequências   para   a   estabilidade   da   vinha   na   encosta   e  sustentabilidade  de  todas  as  operações  envolvidas   (Schultz,  2000;   Jones  et  al.,  2005).  Com  base  nos   trabalhos   realizados   noutras   regiões   vinícolas   de   todo   o  mundo,   o   impacto   de   cenários   de  

alteração  climática  na  produção  e  qualidade  dos  vinhos  terá  resultados  distintos  de  acordo  com  as  características   de   cada   sub-­‐região,   sua   localização   e   a   capacidade   de   adaptação   das   castas  utilizadas   e   dos   próprios   viticultores/produtores   (Jones   et   al.,   2005).   Poderá   ser   porventura  benéfico  para  algumas  regiões  tradicionalmente  produtoras  de  vinhos  brancos,  ou  permitir  a  sua  produção   em   zonas   onde   não   se   faz   tradicionalmente   o   cultivo   da   vinha,   mas   as   alterações  

poderão   ser   condicionadoras   para   regiões   onde   tradicionalmente   se   obtêm   vinhos   tintos   de  elevado   potencial   qualitativo.   A   evolução   destes   cenários   condicionará   a   tomada   de   decisões  quanto   a   localização   de   vinhas,   escolha   do   material   vegetativo,   itinerários   técnicos   a   seguir   e  definição  do   estilo   de   vinho   a   produzir,   pelo  que   se   torna  urgente  o   exercício   de  uma   reflexão  sobre  a  vulnerabilidade  da  Região  Demarcada  do  Douro  face  a  mudanças  no  clima  e  maximizar  a  capacidade  de  reacção  da  fileira  vinícola.  

Embora   já   se   conheça  de   forma  bastante  aprofundada  o  clima  da  Região  Demarcada  do  

Douro,  permanece  por  fazer  uma  análise  integrada  do  clima  histórico,  contemporâneo  e  futuro  na  região.  Como  tal,  este  trabalho  toma  como  objectivos  estudar  as  condições  climáticas  históricas  na   Região   Demarcada   do   Douro,   obter   um  melhor   entendimento   da   aptidão   regional   do   clima  

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para  a  viticultura,  analisar  a   frequência  e   tendências  em  termos  de   índices  climáticos,  extremos  atmosféricos/climáticos  e  mecanismos  de  variabilidade  climática  regional,  e  representar/sintetizar  as  alterações  previstas  para  a  região.  

DADOS  E  MÉTODOS  Embora  se  conheça  genericamente  o  clima  da  Região  Demarcada  do  Douro,  a  criação  de  

um   banco   de   dados   completo,   de   alta   qualidade   e   longo   prazo   para   a   região   a   partir   de   uma  estação  meteorológica  tem  conhecido  limitações  quer  em  termos  espaciais,  quer  temporais.  Por  esse   motivo,   esta   avaliação   do   clima   serve-­‐se   dos   melhores   dados   disponíveis   de   três   tipos  principais:  1)  normais  climatológicas  históricas;  2)  estações  meteorológicas  na  Região  Demarcada  do  Douro;  e  3)  dados  climáticos  espaciais,  para   registos  passados  e   futuros  do  clima.  Para  além  

disso,   a   avaliação   inclui   uma   análise   das   relações   entre   os   controlos   de   circulação   atmosférica  locais  de  larga  escala  e  a  variabilidade  climática  na  Região  Demarcada  do  Douro.  

NORMAIS  CLIMATOLÓGICAS  HISTÓRICAS  

Os   dados   históricos   mais   relevantes   para   a   região   derivam   das   normais   climatológicas  desenvolvidas  por  Ferreira  (1965).  Os  dados  consistem  em  médias  mensais  de  precipitação  anual,  temperatura  máxima  e  mínima,  humidade  relativa,  evapotranspiração  e  radiação  solar  para  várias  estações  meteorológicas  em  Portugal.   Estes  dados   foram  digitalizados  para  contornos  nacionais  

(Figura  7)  pelo  Serviço  Meteorológico  Nacional,  Direcção  Geral  do  Ambiente,  1974,  Edição  Digital  -­‐  Instituto  do  Ambiente  (2002).  No  entanto,  a  exactidão  dos  dados  é  limitada,  no  sentido  em  que  os  contornos  generalizados  não  levam  em  consideração  efeitos  topográficos  à  escala  local.  Para  além  disso,  os  dados  não  foram  actualizados  de  forma  consistente,  pelo  que  não  foram  criadas  normais  climatológicas   futuras.   Para   esta   avaliação,   apenas   foram   considerados   dados   da   precipitação,  temperatura  e  evapotranspiração.  

Para  a  Região  Demarcada  do  Douro   (dentro  da   sua   fronteira  e  num  raio  de  25  km  dela)  existem  76  estações  meteorológicas  para  precipitação  e  57  para  temperatura  e  evapotranspiração  nos   dados   de   Ferreira   (1965)   entre   1931-­‐1960.   Estas   estações   servirão   nesta   análise   para  quantificar  a  estrutura  climática  geral  histórica  na  região,  examinar  a  relação  entre  estas  estações  e  outras  especificidades  locais,  bem  como  validar  outros  dados  climáticos  utilizados  na  avaliação.  

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Figura  7:  Mapa  da  temperatura  média  das  normais  climatológicas  de  1931-­‐1960  desenvolvidas  por  Ferreira  (1965)  e  digitalizadas  para  contornos  nacionais  pelo  Instituto  do  Ambiente  (2002).  

ESTAÇÕES  METEOROLÓGICAS  DA  REGIÃO  DEMARCADA  DO  DOURO  

Embora   os   dados   das   normais   climatológicas   1931-­‐1960   descritas   acima   nos   forneçam  uma  razoável  percepção  das  condições  históricas  em  Portugal  e  na  Região  Demarcada  do  Douro,  os  dados  actualmente  obtidos  de  estações  meteorológicas  em  Portugal  estão  limitados  a  apenas  

algumas  estações  principais  qualificadas   (por  ex.   Lisboa,  Porto,  Bragança,  Coimbra,  Beja,  Tavira,  etc.).  Estas  estações  dão-­‐nos  uma  boa  cobertura  espacial  geral  para  o  país  e  estão  disponíveis  a  partir   de   várias   fontes   (Instituto   de   Meteorologia,   Portugal,   European   Climate   Assessment   &  Dataset,  e  Instituto  da  Água,  Portugal).  Infelizmente,  estações  desta  escala  não  têm  utilidade  para  uma   avaliação   climática   para   a   Região   Demarcada   do   Douro.   O   Instituto   de   Meteorologia  

português   possui,   ainda   assim,   três   estações   na   região:   Vila   Real,   Régua   e   Pinhão,   que   são  

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utilizadas   nesta   avaliação   para   o   período   comum   de   disponibilidade   de   dados   de   1967-­‐2010.  Outras  estações  meteorológicas  na  região,  operadas  pela  ADVID  e  outros,  possuem  registos  mais  sintéticos  que  foram  utilizados  para  controlo  de  qualidade.  

Naturalmente,  o  controlo  de  qualidade  é  um  aspecto   importante  na  análise  de  dados  de  estações  meteorológicas.  Os  dados  climatológicos  consistem  nos  registos  de  condições  climáticas  

observadas  recolhidos  em  locais  e  momentos  específicos  com  instrumentos  próprios  respeitando  um  conjunto  de  procedimentos  padrão.  Um  conjunto  de  dados  climatológicos  contém,  por   isso,  informação  climática  dos   locais  de  observação,  bem  como  de  outros   factores  não  directamente  associados   ao   clima,   tal   como   o   ambiente   da   estação   de   observação,   e   informação   sobre   os  

instrumentos  e  procedimentos  de  observação  sob  os  quais  os  registos  foram  efectuados.  Quando  os   dados   são   utilizados   em   análises   climatológicas,   parte-­‐se   do   princípio   de   que   os   registos   da  estação  são  representativos  das  condições  climáticas  de  uma  região.   Infelizmente,   todavia,  nem  sempre   pode   ser   considerado   deste   modo   (Peterson   et   al.,   1998).   Relocalização   da   estação,  mudança   de   instrumentos,   questões   de   calibração,   erros   nos   sistemas   de   registo,   etc.,   podem  

gerar   problemas   nos   dados   de   uma   dada   estação   meteorológica.   Para   eliminar   potenciais  problemas  com  dados  das  estações,   foram  desenvolvidas   inúmeras   ferramentas  de  gestão  e/ou  correcção.  Esta  avaliação  climática  usa  uma  dessas  ferramentas,  criada  pela  CCl/CLIVAR/JCOMM  Expert  Team  (ET)  on  Climate  Change  Detection  and  Indices  (ETCCDI).  O  principal  objectivo  desta  ferramenta   é   verificar   a   homogeneidade   dos   dados   e   fazer   o   controlo   de   qualidade   de   valores  

atípicos   (valores   irrealistas,   pontos   de   dados   errados,   etc.).   O   objectivo   da   homogeneização   de  dados  climatológicos  é  ajustar  observações,  se  necessário,  de  modo  a  que  as  variações  temporais  nos  dados  ajustados  sejam  causadas  apenas  por  processos  climáticos.  Encontramos  uma  análise  fidedigna  sobre  a  homogeneização  de  dados  climatológicos  em  Peterson  et  al.  (1998)  

A  CCl/CLIVAR/JCOMM  Expert  Team  (ET)  on  Climate  Change  Detection  and  Indices  (ETCCDI)  desenvolveu,   também   uma   série   de   índices   que   visam   a   compreensão   do   comportamento   do  

clima  numa  determinada  estação   (Karl  et  al.,  1999;  Wang  et  al.,  2003;  Peterson,  2005).  Embora  importante,   a   análise   das   condições   climáticas   médias   poderá   não   ser   tão   crítica   quanto   a  compreender  a  alteração  na  frequência  ou  gravidade  de  eventos  climáticos  extremos.  No  entanto,  praticamente   não   existia   uma   estandardização   de   índices   apropriados   para   a   obtenção   de   um  cenário  global  das  condições  e  tendências  até  a  ETCCDI  ter  desenvolvido  uma  série  de  27  índices  

básicos   (Tabela   2).   Estes   índices   fornecem  uma  estrutura   comum  que  possibilita   a   avaliação  da  frequência  ou  gravidade  de   fenómenos  climáticos  extremos  em  todo  o  mundo.  Como  tal,  os  27  índices  foram  calculados  para  Vila  Real,  Régua  e  Pinhão  para  o  período  1967-­‐2010  após  a  devida  avaliação  de  controlo  de  qualidade  e  homogeneização  dos  dados.  

 

 

 

 

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Tabela  2:  Nome  do  indicador,  identificação  (ID),  definições  e  unidades  para  os  27  índices  climáticos  básicos  utilizados  na  avaliação  da  Região  Demarcada  do  Douro.  Os  índices  foram  originalmente  desenvolvidos  pela  CCl/CLIVAR/JCOMM  Expert   Team   (ET)   on   Climate   Change   Detection   and   Indices   (ETCCDI).   No   Apêndice   é   fornecida   uma   descrição   da  forma  como  cada  índice  é  calculado.  ID   Nome  do  indicador   Definições   Unidades  FD0   Dias  com  geada   Contabilização  anual  em  que  TN  (mínimo  diário)<0°C   Dias  SU25   Dias  de  verão   Contabilização  anual  em  que  TX  (máximo  diário)>25°C   Dias  SU35   Dias  de  stress   Contabilização  anual  em  que  TX  (máximo  diário)>35°C   Dias  TR20   Noites  tropicais   Contabilização  anual  em  que  TN  (mínimo  diário)>20°C   Dias  

GSL  Duração  do  ciclo  vegetativo  

Contabilização  anual  (1  de  Jan.  a  31  de  dez.  em  NH)  entre  o  primeiro  período  de  pelo  menos  6  dias  com  TG>5°C  e  primeiro  período  após  1  de  Julho  (NH)  de  6  dias  com  TG<5°C  

Dias  

TXx   Max  Tmax   Valor  máximo  mensal  de  temperatura  máxima  diária   °C  TNx   Max  Tmin   Valor  máximo  mensal  de  temperatura  mínima  diária   °C  TXn   Min  Tmax   Valor  mínimo  mensal  de  temperatura  máxima  diária   °C  TNn   Min  Tmin   Valor  mínimo  mensal  de  temperatura  mínima  diária   °C  TN10p   Noites  frias   Percentagem  de  dias  em  que  TN<percentil  10   Dias  TX10p   Dias  frios   Percentagem  de  dias  em  que  TX<percentil  10   Dias  TN90p   Noites  quentes   Percentagem  de  dias  em  que  TN>percentil  90   Dias  TX90p   Dias  quentes   Percentagem  de  dias  em  que  TX>percentil  90   Dias  

WSDI  Indicador  de  duração  de  ondas  de  calor  

Contabilização  anual  de  dias  com  pelo  menos  6  dias  consecutivos  em  que  TX>percentil  90  

Dias  

CSDI  Indicador  de  duração  de  ondas  de  frio  

Contabilização  anual  de  dias  com  pelo  menos  6  dias  consecutivos  em  que  TN<percentil  10  

Dias  

DTR  Amplitude  térmica  diurna  

Diferença  média  mensal  entre  TX  e  TN   °C  

RX1day  Quantidade  de  precipitação  máxima  em  1  dia  

Precipitação  máxima  mensal  em  1  dia   mm  

Rx5day  Quantidade  de  precipitação  máxima  em  5  dias  

Precipitação  máxima  mensal  em  5  dias  consecutivos   mm  

SDII  Índice  de  intensidade  diária  simples  

Precipitação  anual  total  dividida  pelo  número  de  dias  de  chuva  (definida  como  PRCP>  =1,0mm)  no  ano  

mm/dia  

R10  Número  de  dias  com  precipitação  forte  

Contabilização  anual  de  dias  em  que  PRCP>  =10mm   Dias  

R20  Número  de  dias  com  precipitação  muito  forte  

Contabilização  anual  de  dias  em  que  PRCP>  =20mm   Dias  

Rnn  Número  de  dias  acima  de  nn  mm  

Contabilização  anual  de  dias  em  que  PRCP>  =nn  mm,  nn  é  o  limiar  definido  pelo  utilizador  

Dias  

CDD   Dias  secos  consecutivos   Número  máximo  de  dias  consecutivos  com  RR<1mm   Dias  

CWD  Dias  húmidos  consecutivos  

Número  máximo  de  dias  consecutivos  com  RR>  =1mm   Dias  

R95p   Dias  muito  húmidos   PRCP  anual  total  em  que  RR>percentil  95   mm  

R99p  Dias  extremamente  húmidos  

PRCP  anual  total  em  que  RR>percentil  99   mm  

PRCPTOT  Precipitação  anual  total  em  dias  húmidos  

PRCP  anual  total  em  dias  húmidos  (RR>  =1mm)   mm  

 

CIRCULAÇÃO  REGIONAL  E  PADRÕES  METEOROLÓGICOS  

As  grandes   alterações  meteorológicas   sazonais   e  diárias   verificadas  nas   latitudes  médias  estão  relacionadas  com  alterações  na  circulação  atmosférica  e  na  predominância  de  massas  de  ar  provenientes  das   regiões  do  Árctico,  polares  e   subtropicais   (Wallace  e  Gutzler,   1981,  e  outros).  

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Tendo   inúmeros   estudos  demonstrado  que   vários   índices   de   teleconexão,   como  a  Oscilação  do  Atlântico  Norte,   estão   intimamente   relacionados   com  o   tempo   e   o   clima  na   Europa   e   resto   do  mundo   (Hurrell,   2003),   a   utilização   de   classificações   de   tipo   de   tempo   (Santos   et   al.,   2005)   ou  

sinópticas  (Jones  e  Davis,  2000a)  provou  ser  eficaz  no  estabelecimento  de  um  calendário  diário  de  eventos   e   suas   relações   com  a   agricultura   regional.  Dada  a   interligação  entre  massas  de   ar   e   a  circulação  da  atmosfera,  um  estudo  das  frequências  diárias  de  massas  de  ar  e  dos  vários  padrões  de   circulação  que  controlam  os   seus  movimentos   seria  útil   para   compreender  as   influências  no  clima  da  Região  Demarcada  do  Douro.  Para  realizar  esta  vertente  da  avaliação  climática  da  Região  

Demarcada  do  Douro,  este  estudo  recorre  a  uma  actualização  recente  do  estudo  de  Santos  et  al.  (2005).  Trata-­‐se  da  actualização  de  dados  de  Reanálise  NCEP/NCAR  de  1948-­‐2011  para  classificar  os   padrões   meteorológicos   existentes   em   Portugal.   Os   padrões   meteorológicos   são   criados   a  partir  de  anomalias  médias  diárias  da  pressão  atmosférica  ao  nível  do  mar  nas  coordenadas  30°W-­‐20°E   -­‐   25-­‐65°N   sobre   o   Atlântico   Este,   Europa   Ocidental   e   o   Mediterrâneo.   Os   padrões  

meteorológicos  são  formados  por  meio  de  um  processo  bietápico  em  que  a  pressão  atmosférica  ao  nível  do  mar  é  alvo  de  uma  Análise  de  Componentes  Principais  (ACP)  em  que  os  componentes  principais  resultantes  são  agrupados  usando  o  método  de  agrupamento  K-­‐médias.  Os  resultados  são   seis   padrões  meteorológicos:   anticiclone   (A),   crista  de   altas  pressões   (R),   fluxo  de  noroeste  

(NW),  fluxo  de  este  (E),  anticiclone  dos  Açores  e  Europa  (AA,  dois  anticiclones)  e  ciclone  (C),  que  estão  globalmente  de  acordo  com  estudos  anteriores  (Santos  et  al.,  2005).  No  período  1948-­‐2011  cada   dia   foi   classificado   segundo   um   destes   seis   padrões   meteorológicos,   resultando   num  calendário  que  pretende  estabelecer  a  estrutura  sazonal  e  anual  da  circulação  regional  e  analisar  os  seus  efeitos  na  variabilidade  climática  local.  

CLIMA  ESPACIAL:  HISTÓRICO  

Esta  avaliação  climática  para  a  Região  Demarcada  do  Douro  utiliza  também  uma  base  de  

dados   global   chamada   “WorldClim”   desenvolvida   por   Hijmans   et   al.   (2005).   Os   dados   da  WorldClim  foram  compilados  com  recurso  a   informação  de  várias   fontes   (por  ex.,  GHCN,  WMO,  FAOCLIM,   etc.),   sendo   as   estações   interpoladas   utilizando   um   algoritmo   “thin-­‐plate   smoothing  spline”   implementado   no   software   para   interpolação   ANUSPLIN   (Hutchinson,   2004)   tendo   a  latitude,  longitude  e  altitude  como  variáveis  independentes.  Os  dados  recolhidos  pela  estação  são  

interpolados  a  30  segundos  de  arco  de  resolução  espacial,  o  que  equivale  a  cerca  de  0,86  km2  no  equador  e  menos  nas  restantes  latitudes,  mas  está  próximo  de  1  km  numa  zona  de  latitude  média  como  é  Portugal.  O  conjunto  de  dados  matriciais   fornece   temperaturas  máximas,   temperaturas  mínimas   e   precipitação   mensais   para   o   período   1950-­‐2000,   representando   a   maior   resolução  disponível  à  escala  global  para  análises  climáticas  espaciais.  

Os  dados  da  WorldClim  foram  igualmente  meticulosamente  analisados  quanto  a  questões  de  incerteza,  tais  como  as  que  decorrem  dos  dados  recolhidos  nas  estações  meteorológicas  e  da  

rotina   de   interpolação   (Hijmans   et   al.,   2005).   Isto   foi   feito   por   meio   de   um   mapeamento   da  densidade   das   estações,   condicionalismos   relativos   às   altitudes   a   que   se   encontram   estas  estações,   variação  de   altitude  nas   células   da   grelha   e   através  da  partição  de  dados   e   validação  cruzada.   Os   resultados   mostraram   que   os   condicionalismos   de   altitude   das   estações   eram  

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tendencialmente  negativos  (as  estações  encontravam-­‐se  a  cotas  mais  baixas  do  que  o  esperado)  em   latitudes   elevadas,  mas   positivos   nos   trópicos.   Regra   geral,   concluiu-­‐se   que   a   incerteza   era  maior   em   áreas   muito   montanhosas   e   naquelas   com   baixa   densidade   de   estações.   Para   além  

disso,  a  partição  de  dados  mostrou  elevada  incerteza  das  superfícies  matriciais  em  ilhas  isoladas,  por  ex.  no  Pacífico.  Uma  comparação  com  um  conjunto  de  dados  existente  com  uma  resolução  de  10   min   de   arco   mostrou   globalmente   uma   concordância,   mas   com   variação   significativa   em  algumas   regiões   (New   et   al.,   2002).   Uma   comparação   com   dois   conjuntos   de   dados   de   alta  resolução   para   os   Estados   Unidos   (Daymet   e   PRISM)   identificou   ainda   áreas   com   grandes  

diferenças  locais,  particularmente  em  regiões  muito  montanhosas  (Thornton  et  al.,  1997;  Daly  et  al.,  2002).  No  entanto,  comparativamente  a  bases  de  dados  globais  desenvolvidas  anteriormente,  a  WordClim  tem  as  seguintes  vantagens:  1)  os  dados  possuem  uma  maior  resolução  espacial  (400  vezes   maior   ou   mais),   2)   inclui   mais   registos   de   estações   meteorológicas,   3)   utiliza   dados  melhorados  no  que  toca  a  altitudes  e  4)  documenta  de  forma  mais  extensa  os  padrões  espaciais  de  incerteza  nos  dados.  

Com   vista   a   assegurar   a   precisão   e   aplicação   dos   dados   da  WorldClim,   os  mesmos   são  comparados   com  a   rede  de  57  estações  para   as  normais   climatológicas  de  1931-­‐1960  descritas  acima.  É  aplicada  uma  correlação  espacial  entre  os  dois  conjuntos  de  dados  (estações  comparadas  com   grelhas)   para   avaliar   a   sua   correspondência.   Adicionalmente,   os   dados   da  WorldClim   são  também  comparados  com  dados  das  estações  de  Vila  Real,  Régua  e  Pinhão  para  o  período  1967-­‐

2010.  Embora  estes  três  conjuntos  de  dados  digam  respeito  a  períodos  ligeiramente  diferentes,  as  suas   relações   deverão   permanecer   estáveis   ao   longo   do   tempo,   resultando   numa   elevada  correlação  entre  os  valores  das  estações  e  das  grelhas,  o  que  valida  a  relevância  da  sua  utilização  numa  avaliação  de  carácter  regional  como  é  o  caso  desta  para  a  Região  Demarcada  do  Douro.  

CLIMA  ESPACIAL:  PROJECÇÕES  FUTURAS  

A  análise  das  potenciais  alterações  climáticas  futuras  é  geralmente  realizada  com  recurso  a  Modelos  de  Circulação  Geral  (GCMs  na  sigla  inglesa).  Os  GCMs  são  representações  dos  processos  

físicos   que   ocorrem   na   atmosfera,   oceano,   massas   de   gelo   polares   e   superfícies   terrestres,  constituindo  as  mais   avançadas   ferramentas   actualmente  existentes  para   simular  a   resposta  do  sistema  climático  global  a  maiores  concentrações  de  gases  de  estufa  e  outras  alterações  biofísicas  no  sistema  terra-­‐atmosfera.  Os  GCMs  ilustram  o  clima  por  meio  de  uma  grelha  tridimensional  do  globo,  geralmente  com  uma  resolução  horizontal  entre  250  e  600  km,  10  a  20  camadas  verticais  

na   atmosfera   e   por   vezes   até   30   camadas   nos   oceanos.   No   entanto,   as   escalas   espaciais  disponíveis  nos  GCMs  não  são  práticas  para  avaliar  paisagens  agrícolas,  particularmente  quando  as   condições   orográficas   e   climáticas   variam   de   forma   significativa   ao   longo   de   distâncias  relativamente  pequenas,   como  acontece  na  Região  Demarcada  do  Douro.   Sendo  embora  muito  úteis   para   abordagens   de   carácter   geral,   as   projecções   climáticas   futuras   de   larga   escala  

apresentam  limitações  para  interpretações  mais  precisas  dos  efeitos  do  clima  e  cenários  futuros  na  qualidade  do  vinho,  especialmente  numa  região  com  uma  tal  variação  topográfica,  climática  e  de  uso  do  solo  como  a  Região  Demarcada  do  Douro.  

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Os   dados   de  modelos   climáticos   (GCM)   futuros   provêm   normalmente   de  muitas   fontes  (por  ex.  o  Hadley  Centre  em  Inglaterra  ou  o  Intergovernamental  Panel  on  Climate  Change  [IPCC],  mas   abrangem  geralmente   uma  única   grelha   de   2,5°   x   2,5°   de   latitude/longitude   a   representar  

Portugal   inteiro.   Até   as   melhores   resoluções   de   GCM   em   grelhas   de   0,5°   x   0,5°   de  latitude/longitude   continuam   a   ser   sobredimensionadas,   frequentemente   não   caracterizando  adequadamente  áreas  heterogéneas.  Para  representar  adequadamente  uma  região  vinícola  como  o  Douro  são  necessários  modelos  regionais  obtidos  por  meio  de  uma  redução  de  escala  espacial  (Moriondo  e  Bindi,  2004;  Jones  et  al.,  2005)  para  facilitar  as  devidas  avaliações  a  uma  escala  de  

25-­‐50  km  ou  menos.  Com  vista  a  analisar  as  condições  climáticas  futuras  na  Região  Demarcada  do  Douro,  esta  avaliação  serve-­‐se  de  conjuntos  de  dados  desenvolvidos  pelo  programa  “Decision  and  Policy  Analysis”  (DAPA)  do  International  Centre  for  Tropical  Agriculture’s  (CIAT).  Os  dados  foram  originalmente   obtidos   através   do   portal   de   dados   do   IPCC   e   reprocessados   com   recurso   a   um  algoritmo   de   interpolação   “spline”   das   anomalias   e   à   actual   distribuição   de   climas   da   base   de  dados  WorldClim  desenvolvida  por  Hijmans  et  al.  (2005).  

Estes  dados  representam  GCMs  do  4º  “IPCC  Assessment  Reports”  (IPCC,  2007)  reduzidos  à  mesma   escala   da   grelha   WorldClim   atrás   descrita   (cerca   de   1   km   para   Portugal).   O   método  assume  que  as  geografias  das  mudanças  que  se  possam  verificar  nos  climas  não  variam  muito  à  escala   regional   e   que   as   relações   entre   as   diferentes   variáveis   permanecerão   basicamente   as  mesmas  no  futuro.  As  novas  superfícies  climáticas  são  assim  geradas  utilizando  uma  abordagem  

empírica  de  redução  de  escala,  em  vez  de  reformular  os  padrões  climáticos  usando  um  modelo  climático  regional  (RCM  na  sigla   inglesa).  O  método  de  redução  de  escala  espacial  tem  por  base  uma   interpolação   espacial   “thin   plate   spline”   de   anomalias   de   dados   originais   de   GCMs.   As  anomalias  são  interpoladas  entre  centróides  de  células  do  GCM,  sendo  então  aplicadas  ao  clima  de  base  para  o  período  1950-­‐2000  do  WordlClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  Para  esta  avaliação,  três  

períodos  futuros  (2020,  2050  e  2080)  para  três  cenários  de  emissões  de  gases  de  estufa  (B2,  A1B  e  A2),   utilizando   o   modelo   HADCM3,   são   comparados   com   as   condições   históricas   (1950-­‐2000).  Estes   cenários   de   emissões   representam  uma   camada   da   população   e   crescimento   económico,  eficiências   distintas   em   termos   de   tecnologias,   e   a   estrutura   social   entre   países   e   regiões.   O  cenário   B2   representa   condições   de   população   em   crescimento   contínuo,   níveis   de  

desenvolvimento  económico  e  mudança  tecnológica  intermédios,  e  um  mundo  mais  dividido  mas  com  menos  necessidades  energéticas.  O  cenário  A1B  representa  um  mundo  mais  integrado  com  rápido   crescimento   económico,   uma   população   global   que   atinge   o   seu   pico   em   2050   e   inicia  então  um  decréscimo  gradual,  uma  rápida  difusão  de  tecnologias  novas  e  eficientes,  bem  como  

vastas  interacções  a  nível  social  e  cultural,  o  que  confere  uma  ênfase  equilibrada  a  todas  as  fontes  de   energia.  O   cenário  A2   é   o   de  um  mundo  mais   dividido   com  desenvolvimento   económico  de  âmbito   regional,   impulsionado   por   uma   população   em   crescimento   contínuo   que   dispõe   de  menos  fontes  de  energia  e  apresenta  elevadas  necessidades  energéticas.  

 

 

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RESULTADOS  E  DISCUSSÃO  

NORMAIS  CLIMATOLÓGICAS  HISTÓRICAS  

Para   o   período   de   normais   climatológicas   1931-­‐1960,   as   estações   que   representam   a  Região   Demarcada   do   Douro   mostram   uma   estrutura   climática   relativamente   heterogénea,  globalmente   com   áreas  mais   húmidas   e   frias   a   oeste   e   a  maior   altitude,   e   áreas  mais   secas   e  quentes   a   este   (Figuras   6,   8   e   9).   As   estações   apresentam-­‐se   a   uma   altitude  média   de   487  m,  

variando  no  entanto  entre  os  65  m  na  Régua  e  os  940  m  em  Penedono.  Estão  localizadas  desde  aproximadamente  60  km  da  costa  em  Barqueiros  até  mais  de  160  km  em  Fornos  de  Lagoaça.  Em  termos  de  precipitação  anual,  as  76  estações  variam  dos  385  mm  em  Barca  d’Alva  aos  1953  mm  em   Lamas   de   Alvadia,   apresentando   um   valor   de   mediana   de   694   mm   (Tabela   3).   Durante   o  repouso  vegetativo,  de  Novembro  a  Março,  a  precipitação  mediana  é  de  442  mm,  variando  mais  

de   1000   mm   entre   a   localização   mais   seca   (218   mm)   e   a   mais   húmida   (1223   mm;   mesmas  estações   usadas   para   a   precipitação   anual).   Já   durante   o   ciclo   vegetativo   (Abr   -­‐   Out),   a  precipitação  mediana   é   de   257  mm,   com   um  mínimo   de   162  mm   em   Freixo   de   Numão   e   um  máximo   de   730   mm   registado   em   Lamas   de   Alvadia.   No   período   1931-­‐1960,   nestas   estações  meteorológicas   a   precipitação   foi   em  média   de   64%   no   inverno   e   36%   no   ciclo   vegetativo   em  termos  de  precipitação  anual.  

As   temperaturas   médias   anuais   nas   57   estações   durante   1931-­‐1960   apresentaram   um  

valor  de  mediana  de  14,3°C,  com  uma  variação  de  5,4  graus,  dos  11,4°C  em  Castanheiro  do  Sul  aos  16,8°C  no  Vesúvio   (Tabela   3).  Os   padrões   gerais   de   temperaturas   anuais   nesta   região  mostram  que   as   zonas   mais   quentes   situam-­‐se   geralmente   a   mais   baixa   altitude   ao   longo   da   bacia   do  principal  curso  fluvial  e  para  este  (Figura  9).    

Tabela   3:   Resumo   estatístico   das   normais   climatológicas   de   1931-­‐1960   para   as   estações   da   Região   Demarcada   do  Douro.  Para  cada  variável  são  apresentados  valores  anuais,  do  ciclo  vegetativo  (Abr   -­‐  Out)  e  do  repouso  vegetativo  (Nov  -­‐  Mar)  para  76  estações  no  caso  da  precipitação  e  57  estações  no  caso  das  temperaturas  e  evapotranspiração.  

Variável   Período   Média   Mediana  Desv.  padrão  

Máx.   Mín.   Dif.  

Anual   794   694   311   1953   385   1568  

Ciclo  vegetativo  (Abr-­‐Out)   287   257   96   730   162   568  Precipitação  (mm)  

Repouso  vegetativo  (Nov-­‐Mar)   506   442   218   1223   218   1005  

Anual   14,3   14,3   1,3   16,8   11,4   5,4  

Ciclo  vegetativo  (Abr  -­‐Out)   18,7   18,7   1,5   21,8   15,3   6,5  Temperatura  média  (°C)  

Repouso  vegetativo  (Nov-­‐Mar)   8,1   8,2   1,1   10,0   5,1   4,9  

Anual   20,7   20,5   1,7   24,1   16,6   7,5  

Ciclo  vegetativo  (Abr-­‐Out)   26,3   26,1   2,0   30,3   22,4   7,9  Temperatura  máxima  (°C)  

Repouso  vegetativo  (Nov-­‐Mar)   12.8   12.6   1.5   15.4   8.4   7.0  

Anual   7,9   7,9   1,2   10,5   5,0   5,4  

Ciclo  vegetativo  (Abr-­‐Out)   11,2   11,0   1,3   14,2   7,8   6,3  Temperatura  mínima  (°C)  

Repouso  vegetativo  (Nov-­‐Mar)   3,4   3,4   1,1   6,0   1,1   4,9  

Anual   781   777   56   917   673   244  

Ciclo  vegetativo  (Abr-­‐Out)   677   675   55   814   575   239  Evapotranspiração  (mm)  

Repouso  vegetativo  (Nov-­‐Mar)   104   103   9   127   79   48  

 

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Figura   8:   Distribuição   da   precipitação   anual  medida   no   Douro,   período   de   1931-­‐1960,   escala   1:1.000.000.   Serviço  

Meteorológico   Nacional,   Direcção   Geral   do   Ambiente,   1974,   Edição   Digital   -­‐   Instituto   do   Ambiente,   2002.   Carta  

Administrativa  Oficial  de  Portugal,  escala  1:250.000,  Instituto  Geográfico  Português  (2004).  

As  temperaturas  médias  no  repouso  vegetativo  variam  igualmente  em  quase  5  graus,  com  o  valor  mais   baixo   em   Castanheiro   do   Sul   (5,1°C)   e   o   mais   alto   no   Pinhão   (10°C).   Durante   o   ciclo  

vegetativo,   as   temperaturas  médias   são  mais   elevadas   no   Vesúvio,   atingindo   os   21,8°C,   e  mais  baixas  em  Moimenta  da  Beira  (15,3°C).  As  temperaturas  máximas  anuais  revelam  uma  estrutura  e  características  semelhantes,  com  Castanheiro  do  Sul  a  apresentar  o  valor  mais  baixo,  e  Ribalonga  o  mais  elevado  durante  todos  os  períodos  (Tabela  3).  Durante  1931-­‐1960,  no  ciclo  vegetativo,  a  diferença   entre   as   temperaturas  máximas  médias   foi   de   quase   8   graus,   variando   entre   22,4   e  

30,3°C.  No  mês  mais  quente  do  ano,  Agosto,  os  valores  máximos  atingem  os  37,0°C  em  Ribalonga  (Figura  10).  As  temperaturas  mínimas  anuais  registam  uma  média  de  7,9°C  e  não  apresentam  uma  variação   tão   acentuada   de   estação   para   estação   quanto   as   temperaturas   máximas,   ficando  compreendidas   entre   o   valor  mais   baixo,   de   5,0°C,   em  Moimenta   Beira   e   o   valor  mais   alto,   de  

10,5°C,   em  Moncorvo   (Tabela   3).   Os   valores   mais   baixos   no   inverno   perfazem   uma   média   de  3,4°C,  com  o  registo  mais  baixo  a  ocorrer  em  Chavães  (1,1°C)  e  o  mais  alto  em  Barqueiros  (6,0°C),  enquanto   as   temperaturas  mínimas   no   ciclo   vegetativo   variam  entre   os   7,8°C   de  Moimenta   da  Beira  e  os  14,2°C  de  Moncorvo.  

 

 

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Figura   9:   Temperatura  média   anual   no   Douro,   com   base   na  média   das   séries   para   1931-­‐1960,   escala   1:1.000.000  

(Adaptado   de   Ferreira,   1965),   versão   digital,   gentilmente   cedido   por   Vicente   Sousa   (UTAD)   Carta   Administrativa  

Oficial  de  Portugal,  escala  1:250.000,  Instituto  Geográfico  Português  (2004).  

 

 

Figura   10:   Temperatura   média   no   ciclo   vegetativo   (ciclo   vegetativo   –   a   verde)   e   temperatura   máxima   média   em  

Agosto  (a  vermelho)  para  o  Douro,  com  base  na  média  das  séries  para  1931-­‐1960.  Fonte:  Ferreira,  1965.  

À   semelhança   da   estrutura   e   características   a   nível   de   temperaturas   e   precipitação,   as  taxas  de  evapotranspiração   (ET)   ao   longo  da  Região  Demarcada  do  Douro   revelam  uma  grande  

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heterogeneidade.   O   valor   da   mediana   de   ET   anual   nas   estações   é   de   777   mm,   ligeiramente  superior  à  mediana  da  precipitação  anual  (Tabela  3).  Durante  o  ciclo  vegetativo,  quando  as  taxas  de  ET  determinam  em  larga  medida  o  stress  hídrico  do  solo,  a  mediana  da  taxa  de  ET  é  675  mm,  

mais  de  250%  da  mediana  dos  dados  de  precipitação  durante  o  período  vegetativo  da  videira.  O  valor   de   ET  mais   elevado   no   ciclo   vegetativo   foi   registado   no  Vesúvio   (917  mm),   tendo   o  mais  baixo  ocorrido  em  Moimenta  da  Beira  (575  mm).  

ESTAÇÕES  METEOROLÓGICAS  DA  REGIÃO  DEMARCADA  DO  DOURO  

Na   Região   Demarcada   do   Douro   existem   três   estações   meteorológicas   com   registos  razoavelmente  extensos  de  dados  de  boa  qualidade:  Régua,  Pinhão  e  Vila  Real  (Figuras  11-­‐16).  Os  registos   diários   de   temperaturas  máximas   e  mínimas   e   precipitação   para   o   período   1967-­‐2010  

foram  sujeitos  a  um  minucioso  controlo  de  qualidade  para  análise  de  valores  atípicos,  avaliação  de  dados  em  falta  e  análise  de  homogeneidade  (relocalização  ou  mudanças  ao  nível  das  estações)  utilizando  ferramentas  da  CCl/CLIVAR/JCOMM  Expert  Team  (ET)  on  Climate  Change  Detection  and  Indices  (ETCCDI).  Foram  encontrados  alguns  dados  atípicos  (<  0,1%  da  totalidade  dos  dados)  nas  séries   temporais   de   cada   estação,   tratando-­‐se   na   sua  maioria   de   valores   irrealistas   (pontos   de  

dados  errados),   tendo  os  mesmos   sido  ajustados  quer  manualmente,  quando  o  erro   se   revelou  óbvio  (valores  invertidos),  quer  efectuando  uma  média  de  +/-­‐  três  dias  a  partir  do  ponto  de  dados.  Os  dados  em  falta   limitaram-­‐se  a  menos  de  1%  no  período  em  análise  (Figuras  11-­‐16)  e  sempre  que  os  dados  apresentaram  dois  ou  menos  dias  em   falta,   foram  substituídos  pela  média  de  +/-­‐  três  dias  a  partir  do  ponto  de  dados.  Em  termos  de  pontos  de  mudança  de  dados,  durante  1967-­‐

2010  as  estações  de  Vila  Real  e  do  Pinhão  não  evidenciaram  sinais  de  falta  de  homogeneidade  nos  seus   registos  de  dados  de   temperatura.  A  Régua,  no  entanto,  apresentou  um  ponto  de   ruptura  nas   temperaturas   mínimas   (descida   acentuada)   durante   2003-­‐04.   Tal   foi   corrigido   utilizando   o  método  de  ajuste  “quantile-­‐matching”  e  a  estação  de  Vila  Real  como  referência  no  procedimento  de  RHtests  da  ETCCDI  (Wang,  2003).    

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   Figura  11:  Séries   temporais  de,   temperaturas  máximas  diárias   (painel  da  esquerda)  e   temperaturas  mínimas  diárias  (painel  da  direita),  para  a  Régua  no  período  1967-­‐2010.

 

 Figura   12:   Séries   temporais,   de   precipitação   diária,   para   a   Régua   no   período   1967-­‐2010.   Os   círculos   vermelhos  representam  observações  em  falta.  

 

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   Figura  13:  Séries   temporais  de,   temperaturas  máximas  diárias   (painel  da  esquerda)  e   temperaturas  mínimas  diárias  (painel  da  direita),  para  o  Pinhão  no  período  1967-­‐2010.  Os  círculos  vermelhos  representam  observações  em  falta.  

 

 Figura   14:   Séries   temporais   de,   precipitação   diária   para   o   Pinhão   no   período   1967-­‐2010.   Os   círculos   vermelhos  representam  observações  em  falta.  

 

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   Figura  15:  Séries   temporais  de,   temperaturas  máximas  diárias   (painel  da  esquerda)  e   temperaturas  mínimas  diárias  (painel  da  direita),  para  Vila  Real  no  período  1967-­‐2010.    

 Figura   16:   Séries   temporais   de,   precipitação   diária   para   Vila   Real   no   período   1967-­‐2010.  

Durante   o   período   1967-­‐2010,   a   Régua   apresentou   uma  média   de   22,1°C   em   temos   de  temperatura  máxima  anual  média  e  10,1°C  como  temperatura  mínima  anual  média.  No  mesmo  período,   o   Pinhão   foi   ligeiramente   mais   frio   no   que   toca   a   temperaturas,   máxima   (21,9°C)   e  

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mínima   (10,0°C)   anuais   médias,   comparativamente   à   Régua,   enquanto   Vila   Real   assinalou   os  valores   mais   baixos   das   três   estações,   com   médias   de   18,6°C   e   8,3°C   para   as   temperaturas,  máxima  e  mínima  anuais,   respectivamente  No  que  concerne  a   temperaturas  máximas  anuais,  o  

ano  mais  frio  nas  três  estações  foi  o  de  1993,  com  valores  2°C  ou  mais  abaixo  da  média.  Os  anos  mais   quentes   foram   1995   para   a   Régua,   1998   para   o   Pinhão   e   1989   no   caso   de   Vila   Real.   As  temperaturas  mínimas  anuais  mais  baixas  ocorreram  durante  1970-­‐80  em  todas  as  estações,  e  as  mais   altas   foram   registadas   em   1997   ou   2003.   Durante   o   ciclo   vegetativo   (Abr   -­‐  Out),   a   Régua  apresentou   uma   média   de   26,8°C   e   13,2°C   para   as   temperaturas   máxima   e   mínima,  

respectivamente.  O   Pinhão   foi   ligeiramente  mais   quente   do   que   a   Régua   simultaneamente   em  termos  de  temperaturas,  máxima  (27,1°C)  e  mínima  (13,3°C),  médias  durante  o  ciclo  vegetativo,  enquanto   Vila   Real   foi   relativamente   mais   frio,   com   médias   de   23,3°C   e   11,3°C   para   as  temperaturas,  máxima  e  mínima,  anuais,   respectivamente.  À   semelhança  das  médias  anuais,  as  temperaturas  máximas  mais  baixas  do  ciclo  vegetativo  ocorreram  em  1993  (2°C  ou  mais  abaixo).  

Os  anos  com  as  temperaturas  máximas  mais  elevadas  durante  o  ciclo  vegetativo  foram  2006  na  Régua  (28,7°C),  1995  no  Pinhão  (28,7°C)  e  2010  em  Vila  Real  (24,9°C).  Em  termos  de  temperaturas  mínimas   no   ciclo   vegetativo,   1974   cifrou-­‐se   como   o   ano  mais   frio   nas   três   estações,   enquanto  2003  ou  2006  registaram  os  valores  mais  elevados.  Durante  o  repouso  vegetativo,  a  Régua  atingiu  

uma  média  de  15,3°C  nas  temperaturas  máximas,  ao  passo  que  o  Pinhão  se  ficou  pelos  14,6°C  e  Vila  Real  pelos  12,0°C   (Tabela  4).  Vila  Real  é  a   localização  mais   fria  em  termos  de  temperaturas  mínimas  durante  o  inverno,  com  uma  média  de  4,2°C,  enquanto  a  Régua  e  o  Pinhão  registam  uma  média   de   5,9°C   e   5,4°C,   respectivamente.   Durante   1967-­‐2010,   as   temperaturas   mínimas   mais  baixas   de   inverno   ocorreram   durante   os   invernos   de   1974-­‐1976   em   todas   as   estações;   já   as  

temperaturas  mais   altas   dizem   respeito   aos   invernos   de   1988-­‐1990.   As   temperaturas  máximas  durante  o  inverno  foram  mais  elevadas  em  1997  tanto  na  Régua  como  no  Pinhão,  1981  no  caso  de  Vila  Real,   enquanto  as  máximas  mais  baixas   foram  observadas  em  1990  no  Pinhão  e  na  Régua,  2004  no  caso  de  Vila  Real.  

A  evolução  da  temperatura  nas  três  estações  mostra  que  tanto  as  temperaturas  máximas  como   as   mínimas   anuais   subiram.   As   temperaturas   máximas   anuais   médias   aumentaram  significativamente  quer   na  Régua,   quer   no  Pinhão,   em  0,03°C   ao   ano  ou   1,2-­‐1,3°C   ao   longo  do  

período  1967-­‐2010  (Tabela  5;  Figura  17).  Não  obstante  as  temperaturas  máximas  anuais  médias  terem   subido   em   Vila   Real,   as   alterações   não   apresentaram   significância   estatística.   As  temperaturas   mínimas   anuais   médias   subiram   significativamente   nas   três   localizações   a   taxas  anuais  de  0,03-­‐0,08°C,   com  o  maior  aquecimento,  de  3,3°C,  a   verificar-­‐se  na  Régua,   seguido  de  

2,1°C  e  1,3°C  no  Pinhão  e  em  Vila  Real,   respectivamente.  No  ciclo  vegetativo   foram  observadas  alterações   semelhantes,   com   a   Régua   e   o   Pinhão   a   aquecerem   de   forma   significativa  simultaneamente   em   termos   de   temperaturas  máximas   e  mínimas,   e   Vila   Real   a  mostrar   uma  tendência  significativa  apenas  nas  temperaturas  mínimas  (Tabela  5;  Figura  17).  As  temperaturas  máximas   alterarem-­‐se   em   1,7°C   e   1,6°C   ao   longo   de   todo   o   período   na   Régua   e   no   Pinhão,  

enquanto  as  temperaturas  mínimas  subiram  1,5°C  em  Vila  Real,  2,5°C  no  Pinhão  e  3,6°C  na  Régua.  Durante   o   inverno,   nenhuma   das   estações   registou   alterações   significativas   nas   temperaturas  máximas;   no   entanto,   as   três   estações   apresentaram   um   aquecimento   significativo   nas  

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temperaturas  mínimas,  com  Vila  Real  a  aumentar  0,9°C,  o  Pinhão  2,0°C  e  a  Régua  3,0°C  durante  1967-­‐2010.  

Quanto   a   precipitação   durante   o   período   1967-­‐2010,   o   Pinhão   foi   a  mais   seca   das   três  estações  meteorológicas  com  uma  média  de  652  mm,  seguida  da  Régua  com  835  mm  e  Vila  Real  com  1034  mm  (Tabela  4).  Todas  as  estações  registaram  uma  variação  substancial  na  precipitação  

de  ano  para  ano,  com  diferenças  praticamente  da  mesma  ordem  dos  valores  médios  (743,  772  e  1018   mm,   respectivamente).   O   ano   mais   seco   durante   o   período   foi   2005,   com   370   mm   no  Pinhão,  476  mm  na  Régua  e  570  mm  em  Vila  Real  (Figura  18;  2007  foi  o  segundo  ano  mais  seco  com  valores  similares).  O  ano  mais  chuvoso  divergiu  para  cada  estação,  com  2001  a  registar  1113  

mm  no  Pinhão,  1977  com  1248  mm  na  Régua  e  1978  com  1588  mm  em  Vila  Real.  A  precipitação  no   ciclo   vegetativo   (Abr   -­‐  Out)   situa-­‐se  nos  38-­‐41%  da  precipitação  anual   para   as   três   estações  durante  o  período  em  análise,  com  o  Pinhão  a  registar  uma  média  de  268  mm,  a  Régua  315  mm  e  Vila  Real  403  mm  (Tabela  4).  As  estações  de  crescimento  mais  secas  durante  1967-­‐2010  foram  as  de  1970  e  1991,  anos  em  que  as  quantidades  de  precipitação  perfizeram  praticamente  metade  da  

média   (Figura  19).  O  ciclo  vegetativo  mais  chuvoso  teve   lugar  em  1993,  com  perto  do  dobro  da  precipitação  média  em  cada  estação.  A  precipitação  no  repouso  vegetativo  é  aproximadamente  60%  do  valor  anual,  com  o  Pinhão  nos  384  mm  de  média,  a  Régua  com  520  mm  e  Vila  Real  com  632  mm  (Tabela  4).  O  inverno  mais  seco  durante  o  período  foi  o  de  1999-­‐00  para  a  Régua,  com  187  mm,  e  2004-­‐05  para  o  Pinhão  (109  mm)  e  Vila  Real  (168  mm).  As  três  estações  coincidiram  no  

registo  de   inverno  mais   chuvoso,   em  2000-­‐01,   com  1402  mm  no  Pinhão,  1326  mm  na  Régua  e  1629  mm  em  Vila  Real  (Figura  20).  Em  nenhuma  das  três  estações  foram  identificadas  tendências  em   termos   de   precipitação   anual,   precipitação   no   repouso   vegetativo   ou   precipitação   no   ciclo  vegetativo  (Tabela  5).  

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   Tabe

la  4:  E

statística  descritiva  pa

ra  tem

peraturas  máxim

as  e  m

ínim

as  e  precipitação  an

uais,  n

o  ciclo  vegetativo  (Abr  -­‐  Out)  e  no

 rep

ouso  vegetativo  (Nov  -­‐  M

ar)  na

 Régua

,  no  

Pinh

ão  e  em  Vila  Real  no  pe

ríod

o  19

67-­‐201

0.  

Régu

a  Pinh

ão  

Vila  Rea

l  Variáveis  

Méd

ia  

Desv.  

padrão

 Máx.  

Mín.  

Méd

ia  

Desv.  

padrão

 Máx.  

Mín.  

Méd

ia  

Desv.  

padrão

 Máx.  

Mín.  

Tempe

ratura  m

áxim

a  an

ual  (°C)  

22,1  

0,7  

23,6  

20,4  

21,9  

0,8  

24,2  

20,0  

18,6  

0,7  

19,7  

16,6  

Tempe

ratura  m

ínim

a  an

ual  (°C)  

10,1  

1,1  

11,9  

8,2  

10,0  

0,9  

11,7  

8,4  

8,3  

0,6  

9,5  

7,4  

Precipita

ção  an

ual  (mm)  

835  

194  

1248

 47

6  65

2  18

5  11

13  

370  

1034

 24

9  15

88  

570  

Tempe

ratura  m

áxim

a  no

 ciclo  vegetativo  (°C)  

26,8  

0,9  

28,7  

24,6  

27,1  

1,0  

28,7  

24,6  

23,3  

0,9  

24,9  

20,4  

Tempe

ratura  m

ínim

a  no

 ciclo  vegetativo  (°C)  

13,2  

1,2  

15,2  

10,7  

13,2  

1,0  

15,2  

11,4  

11,3  

0,7  

12,9  

10,0  

Precipita

ção  no

 ciclo  vegetativo  (m

m)  

315  

96  

635  

150  

268  

103  

533  

110  

403  

114  

751  

229  

Tempe

ratura  m

áxim

a  no

 rep

ouso  vegetativo  (°C)  

15,3  

0,8  

17,0  

13,9  

14,6  

1,0  

17,4  

13,2  

12,0  

0,7  

14,1  

10,7  

Tempe

ratura  m

ínim

a  no

 rep

ouso  vegetativo  (°C)    

5,9  

1,5  

8,9  

2,8  

5,4  

1,3  

8,4  

2,6  

4,2  

0,9  

6,3  

2,5  

Precipita

ção  no

 rep

ouso  vegetativo  (m

m)  

520  

269  

1326

 18

7  38

4  23

3  14

02  

109  

632  

325  

1629

 16

8  

  Tabe

la  5:  P

arâm

etros  de

 ten

dência  para  tempe

raturas  máxim

as  e  m

ínim

as  e  precipitação  an

uais,  n

o  ciclo  vegetativo  (A

br  -­‐  Out)  e

 no  repo

uso  vegetativo  (N

ov  -­‐  Mar)  n

a  Ré

gua,  

no  Pinhã

o  e  em

 Vila  Real  no  pe

ríod

o  19

67-­‐201

0.  

 Ré

gua  

Pinh

ão  

Vila  Rea

l  Variáveis  

R2  

Valor  p  

Declive  

R2  

Valor  p  

Declive  

R2  

Valor  p  

Declive  

Tempe

ratura  m

áxim

a  an

ual  (°C)  

0,29

 0,00

0  0,03

1  0,18

 0,00

4  0,02

7  ND  

0,08

6  0,01

3  

Tempe

ratura  m

ínim

a  an

ual  (°C)  

0,75

 0,00

0  0,07

6  0,58

 0,00

0  0,05

1  0,42

 0,00

0  0,02

9  

Precipita

ção  an

ual  (mm)  

ND  

0,52

4  -­‐1,51  

ND  

0,57

3  1,26

5  ND  

0,40

4  -­‐2,51  

Tempe

ratura  m

áxim

a  no

 ciclo  vegetativo  (°C)  

0,29

 0,00

0  0,04

0  0,24

 0,00

1  0,03

7  ND  

0,13

9  0,01

6  

Tempe

ratura  m

ínim

a  no

 ciclo  vegetativo  (°C)  

0,74

 0,00

0  0,08

3  0,58

 0,00

0  0,05

7  0,41

 0,00

0  0,03

5  

Precipita

ção  no

 ciclo  vegetativo  (m

m)  

ND  

0,61

1  0,60

2  ND  

0,29

4  1,29

8  ND  

0,67

3  0,58

0  

Tempe

ratura  m

áxim

a  no

 rep

ouso  vegetativo  (°C)  

ND  

0,09

7  0,01

6  ND  

0,32

7  0,01

2  ND  

0,35

9  0,00

8  

Tempe

ratura  m

ínim

a  no

 rep

ouso  vegetativo  (°C)    

0,35

 0,00

0  0,06

9  0,19

 0,00

3  0,04

6  0,09

 0,04

3  0,02

1  

Precipita

ção  no

 rep

ouso  vegetativo  (m

m)  

ND  

0,53

7  -­‐2,07  

ND  

0,90

7  -­‐0,34  

ND  

0,34

7  -­‐3,81  

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 Figura  17:  Evolução  da  temperatura  média  no  ciclo  vegetativo  (Abr  -­‐  Out)  para  as  estações  meteorológicas  da  Régua,  do  Pinhão  e  de  Vila  Real  na  Região  Demarcada  do  Douro  entre  1967  e  2010  (ADVID,  2007).    

 Figura   18:   Precipitação   anual   para   as   estações   meteorológicas   da   Régua,   do   Pinhão   e   de   Vila   Real   na   Região  Demarcada   do   Douro   entre   1967   e   2010   (ADVID,   2007).   A   linha   a   preto   representa   a   média   móvel   em   todas   as  estações.    

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 Figura  19:  Precipitação  no  ciclo  vegetativo  (Abr  -­‐  Out)  para  as  estações  meteorológicas  da  Régua,  do  Pinhão  e  de  Vila  Real  na  Região  Demarcada  do  Douro  entre  1967  e  2010  (ADVID,  2007).  A  linha  a  preto  representa  a  média  móvel  em  todas  as  estações.    

 Figura  20:  Precipitação  no  repouso  vegetativo  (Nov  -­‐  Mar)  para  as  estações  meteorológicas  da  Régua,  do  Pinhão  e  de  Vila  Real  na  Região  Demarcada  do  Douro  entre  1967  e  2010  (ADVID,  2007).  A  linha  a  preto  representa  a  média  móvel  em  todas  as  estações.  De  notar  que  os  dados   se   referem  a  um  período  de   inverno  bianual   (por  ex.,   1997   representa  o   inverno  de  1997-­‐98).  

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Tendências   gerais   semelhantes   às   especificadas   acima   foram   observadas   em   toda   a  Península  Ibérica  e  na  Europa  por  outros   investigadores.  Miranda  et  al.  (2002)  concluíram  que  a  recente   tendência   de   aquecimento   para   Portugal   era  maior   no   inverno   e   na   primavera   e  mais  pronunciada   em   termos   de   valores   de   temperatura   mínima   do   que   temperatura   máxima.  

Analisando  o  clima  e  a  fenologia  em  várias  regiões  na  Europa,  Jones  et  al.  (2005)  descobriram  que  as   alterações   eram   geralmente   mais   acentuadas   nas   temperaturas   mínimas   do   que   nas  temperaturas  máximas  nas  estações  meteorológicas  estudadas.  No  caso  da  estação  mais  próxima  da  Região  Demarcada  do  Douro,  Pontevedra,  Espanha,  os  resultados  apontaram  para  aumentos  

significativos  das  temperaturas  mínimas  (1,1°C  de  1952-­‐2004),  sem  que  as  temperaturas  máximas  apresentassem   alterações   de   relevo.   Fazendo   a   média   de   todas   as   localizações   analisadas,   o  aquecimento  durante  1960-­‐2005  foi  de  1,7°C  durante  o  ciclo  vegetativo,  com  aumentos  em  dias-­‐grau  (STA  -­‐  Soma  das  Temperaturas  Acitvas)  e  no  Índice  de  Huglin  (HI  na  sigla  inglesa)  de  perto  de  300   unidades,   fortemente   associado   a   uma   fenologia  mais   precoce   (6-­‐8   dias)   e   intervalos  mais  

curtos   entre   eventos   (4-­‐14   dias)   em  média   nessas   regiões.   Ramos   et   al.   (2008)   registaram   um  aquecimento  global  de  1,0-­‐2,2°C  no  ciclo  vegetativo  na  região  nordeste  da  Espanha  durante  1952-­‐2006.  Os  autores  observaram  ainda  que  os  índices  de  acumulação  de  calor  (índices  de  Winkler  e  Huglin)   aumentaram   significativamente,   essencialmente   devido   às   temperaturas   máximas   e  extremos  de  temperatura  máxima.  As  alterações  revelaram  uma  relação  moderada  a  forte  com  a  

fenologia   (eventos   mais   precoces),   a   qualidade   do   vinho   (mais   elevada   com   maior   amplitude  térmica   diurna)   e   a   produção   (menor   em   virtude   do   stress   térmico   e/ou   hídrico).   Os   autores  concluíram   também  que  umo   ciclo   vegetativo  mais   quente   em  1°C   aumentava   as   necessidades  hídricas   em   6-­‐14%   nas   condições   verificadas   no   nordeste   de   Espanha.   Nas   regiões   vinícolas   do  noroeste   de   Espanha   e   do   vale   do  Miño,   Blanco-­‐Ward   et   al.   (2007)   registaram   uma  média   de  

temperatura  no  ciclo  vegetativo  (TMCV)  de  17,3°C,  variando  entre  14,7  e  19,1°C;  uma  STA  média  de  1382,  com  uma  variação  entre  872  e  1858;  um  HI  com  média  de  2049,  variando  entre  1454  e  2512.  Os  autores  demonstraram  ainda  que  a  variabilidade  espacial  nos  climas  da  região  era  em  grande  medida  resultado  de  variações  na  precipitação  durante  o  ciclo  vegetativo,  a  STA,  o  HI  e  o  DI.  Servindo-­‐se  de  dados  da  GHCN  para  o  período  1950-­‐1999,  Jones  et  al.   (2005)  registaram  um  

aquecimento  médio  durante  o  ciclo  vegetativo  de  1,3°C  em  27  regiões  vinícolas  de  todo  o  mundo.  Uma  célula  de  grelha  climática  do  norte  de  Portugal  mostrou  uma  média  temporal  de  17,7°C  na  TMCV  (aptidão  climática  Pouco  Quente)  e  uma  tendência  significativa  de  0,9°C  de  1950-­‐1999.  

Gimeno  et  al.  (2011)  fornecem  um  resumo  da  situação  do  clima  e  alterações  climáticas  no  noroeste  da  Península  Ibérica,  especificando  as  alterações  regionais  nos  parâmetros  atmosféricos  

e   oceânicos   que   influenciaram  alterações   no   ciclo   hidrológico   da   região   e   afloramento   da   zona  costeira.   De   Castro   et   al.   (2005)   mostraram,   num   detalhado   estudo   para   Espanha,   que   as  

temperaturas   durante   o   Século   XX   registaram   um   aquecimento   generalizado   ligeiramente  superior  em  magnitude  à  média  global.  Observou-­‐se  que  as  tendências  ao  nível  da  temperatura  

eram  mais  acentuadas  durante  o  inverno,  com  um  ligeiro  decréscimo  na  precipitação  no  país,  mas  com   uma   altíssima   variabilidade.   Brunete   et   al.   (2007)   analisaram   os   padrões   temporais   e  

espaciais   das   alterações  de   temperatura  nas   estações  mais   antigas   e   fiáveis   de   Espanha  para  o  período   1850-­‐2005.  Os   resultados   apontaram  para   um   aquecimento   significativo   de   0,10°C   por  

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década   ao   longo   do   período,   com   alterações   ligeiramente   mais   acentuadas   nas   temperaturas  máximas  do  que  nas  mínimas,  resultando  numa  amplitude  térmica  diurna  mais  acentuada.  Seria  

de  esperar  que  as  diferenças  entre  Espanha,  especialmente  o  noroeste  de  Espanha,  e  Portugal  e  a  Região   Demarcada   do   Douro   apontassem   para   uma   similaridade   regional,   embora   a   posição  

geográfica  e  proximidade  costeira  possam  produzir  algumas  disparidades.  Num  amplo  estudo  do  clima  do  noroeste  da  Península   Ibérica,  Gómez-­‐Gesteira  et  al.   (2011)  sistematizam  a  estrutura  e  

tendências   em   inúmeros   parâmetros   climáticos.   Os   autores   registam   que   as   temperaturas  terrestres  da  região  subiram  em  média  0,5°C  desde  1974,  com  a  Régua  a  evidenciar  uma  maior  

tendência   de   aquecimento   do   que   outras   cidades   da   região   (por   ex.,   Porto,   Vigo,   Corunha).   As  temperaturas   da   superfície  marítima   regional   também   sofreram   um   aquecimento   durante   este  

período,  com  uma  média  de  0,24°C  desde  1974,  tendo  o  aumento  do  nível  das  águas  do  mar  sido  significativo  nas  águas  costeiras  da  península.  Tanto  Castro  et  al.  (2005)  como  Gómez-­‐Gesteira  et  

al.  (2011)  referem  que  o  aquecimento  na  Península  Ibérica  é  ligeiramente  superior  ao  verificado  na  Europa  globalmente  considerada,  que  por  sua  vez  é  superior  às  tendências  globais.  

Analisando  os  padrões  e   tendências   ao  nível  da  precipitação  em  Espanha  durante  1961-­‐

2006,   Del   Rio   et   al.   (2011)   encontraram   decréscimos   significativos   na   precipitação   de   finais   do  inverno  e  início  de  verão.  González-­‐Hidalgo  et  al.  (2011)  chegaram  a  resultados  semelhantes  aos  

de   Del   Rio   et   al.   (2011)   no   que   toca   à   evolução   da   precipitação  mensal,   embora   a   sua   maior  densidade  de  estações  meteorológicas   revele  uma  grande  variabilidade   temporal  e  espacial  por  toda  a  Espanha.  No  entanto,  de  Lima  et  al.  (2010)  não  encontraram  uma  tendência  marcada  nas  

quantidades   de   precipitação   anuais   de   longo   prazo   nas   principais   estações  meteorológicas   em  Portugal   ao   longo   dos   últimos   75-­‐110   anos.   Foram   encontradas   algumas   tendências   parciais  

verificáveis  em  períodos  mais  curtos,   indicando  períodos  variáveis  de  aumento  e  diminuição  dos  valores,   o   que   levou   à   redistribuição   das   quantidades   de   precipitação   em   Portugal.   Gómez-­‐

Gesteira   et   al.   (2011)   referem   igualmente   que   não   existem   tendências   significativas   claras   em  matéria   de  precipitação   anual,   embora  pareçam  existir   algumas   alterações   sazonais   com  pouca  

expressão.   Numa   análise   à   evolução   da   precipitação   no   sul   de   Portugal,   Costa   e   Soares   (2009)  encontraram   tendências   pronunciadas   num   índice   de   aridez   durante   1950-­‐1999,   indicando   um  

aumento   da   possibilidade   de   seca   e   desertificação   na   região.   Não   obstante   os   índices   de  humidade   não   evidenciarem   tendências   significativas   para   o   sul   de   Portugal,   os   autores  

encontraram   sinais   de   uma   intensidade   de   precipitação   crescente   no   curto   prazo   durante   as  últimas   três   décadas   do   século   XX.   Costa   e   Soares   (2009)   registaram   ainda   evidências   de   uma  maior   variabilidade   da   precipitação   extrema   na   região.   Briffa   et   al.   (2009)   observaram   uma  

tendência  para  um  aumento  das  condições  de  seca  na  maior  parte  da  Europa,  tendência  que,  nas  últimas   décadas,   estará   fortemente   associada   ao   aumento   das   temperaturas,   mais   do   que   à  

menor  precipitação.  

Com   recurso   às   ferramentas   da   ETCCDI,   foi   calculada   uma   série   de   índices   climáticos  básicos   para   as   três   estações   meteorológicas   de   longo   prazo   na   Região   Demarcada   do   Douro  (Tabela   2).   Em   termos   gerais,   foram   encontradas   mais   tendências   comuns   entre   a   Régua   e   o  

Pinhão  do  que  com  Vila  Real  (Tabela  6).  Abaixo  é  apresentado  um  resumo  das  alterações  para  as  

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três   estações,   com  as   tendências   indicadas   sob   a   forma  das   alterações   totais   no  período  1967-­‐2010,  podendo  ser  encontrados  exemplos  dessas  tendências  nas  Figuras  21-­‐23:  

Índices  de  extremos  com  base  em  valores  absolutos:    

Tmáx  máxima  (°C)  –  aquecimento  significativo  para  a  Régua  (2,2°C)  e  o  Pinhão  (2,5°C)  

Tmáx  mínima  (°C)  -­‐  aquecimento  significativo  para  as  três  estações,  variando  entre  2,9°C  para  Vila  Real  (Figura  23),  3,3°C  para  o  Pinhão  e  4,3°C  para  a  Régua  

Tmín  máxima  (°C)  –  sem  tendências  significativas   Tmín  máxima  (°C)  –  aquecimento  significativo  para  a  Régua  (1,9°C)  e  o  Pinhão  

(2,2°C)  

 Índices  de  extremos  com  base  em  percentis:    

%  de  dias  Tmáx  <  Percentil  10  –  tendência  significativa  de  um  decréscimo  de  4%  apenas  para  a  Régua  

%  de  dias  Tmáx  >  Percentil  90  –  tendência  significativa  de  um  aumento  de  8%  para  a  Régua  e  7%  para  o  Pinhão  

%  de  dias  Tmín  <  Percentil  10  –  decréscimo  significativo  em  todas  as  estações:  6%  para  Vila  Real,  13%  para  o  Pinhão  e  20%  para  a  Régua  (Figura  21)    

%  de  dias  Tmín  >  Percentil  90  –  aumento  significativo  em  todas  as  estações:  9%  para  Vila  Real,  12%  para  o  Pinhão  e  19%  para  a  Régua  (Figura  21)    

 Índices  de  extremos  com  base  em  limiares:    

N.º  de  dias  Tmáx  >  35°C  –  A  Régua  e  o  Pinhão  (Figura  22)  apresentaram  tendências  significativas  para  um  número  de  dias  crescente  acima  dos  35°C:  19  e  16  dias,  respectivamente  

N.º  de  dias  Tmáx  >  25°C  –  A  Régua  e  o  Pinhão  apresentaram  tendências  significativas  para  um  número  de  dias  crescente  acima  dos  25°C:  26  e  21  dias,  respectivamente  

N.º  de  dias  Tmáx.  <0°C  –  não  observado  na  Régua  e  no  Pinhão  e  sem  tendência  significativa  em  Vila  Real  

N.º  de  dias  Tmín  >  20°C  –  tendências  significativas  para  um  número  de  dias  crescente  com  temperaturas  nocturnas  acima  dos  20°C  nas  três  estações:  6,  19  e  13  dias  em  Vila  Real  (Figura  23),  no  Pinhão  e  na  Régua,  respectivamente  

N.º  de  dias  Tmín  <  0°C  –  A  Régua  e  o  Pinhão  apresentaram  tendências  significativas  para  um  menor  número  de  dias  abaixo  dos  0°C:  19  e  12  dias,  respectivamente  

 Índices  de  extremos  com  base  na  duração:    

Índice  de  duração  de  ondas  de  calor  –  apenas  o  Pinhão  apresentou  uma  tendência  significativa  para  mais  ondas  de  calor  (quando  a  temperatura  máxima  diária  excede  o  percentil  90  durante  seis  dias  consecutivos)  

Índice  de  duração  de  ondas  de  frio  –  A  Régua  e  o  Pinhão  (Figura  22)  apresentaram  tendências  significativas  para  uma  menor  ocorrência  de  ondas  de  frio  (quando  a  

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temperatura  mínima  diária  desce  abaixo  do  percentil  10  durante  seis  dias  consecutivos)  

Duração  do  ciclo  vegetativo  (dias)  –  apenas  a  Régua  apresentou  uma  tendência  significativa  para  estações  de  crescimento  mais  longas  (8  dias)  

 Outros  índices  com  base  na  temperatura:    

Amplitude  térmica  diurna  (°C)  –  as  três  estações  apresentaram  tendências  de  um  decréscimo  da  amplitude  térmica  diurna,  variando  entre  os  -­‐0,6°C  para  Vila  Real,  -­‐1,0°C  para  o  Pinhão  e  1,9°C  para  a  Régua  

 Índices  de  extremos  e  médios  com  base  na  precipitação:    

Precipitação  máxima  em  1  dia  –  sem  tendências  significativas   Precipitação  máxima  em  5  dias  –  sem  tendências  significativas   Índice  de  intensidade  de  precipitação  simples  –  o  Pinhão  apresentou  um  aumento  

significativo  no  rácio  de  precipitação  anual  relativamente  ao  número  de  dias  de  chuva  durante  o  ano  

N.º  anual  de  dias  com  precipitação  >  10  mm  –  sem  tendências  significativas   N.º  anual  de  dias  com  precipitação  >  20  mm  –  o  Pinhão  apresentou  uma  tendência  

significativa  no  número  total  de  dias  com  precipitação  superior  a  20  mm   Duração  máxima  de  período  de  seca  –  sem  tendências  significativas   Duração  máxima  de  período  de  precipitação  continuada  –  sem  tendências  

significativas   N.º  anual  de  dias  com  precipitação  >  percentil  95  –  sem  tendências  significativas   N.º  anual  de  dias  com  precipitação  >  percentil  99  –  sem  tendências  significativas   Total  de  precipitação  anual  –  sem  tendências  significativas  

 

 

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    Tabela  6:  Estatística  de  regressão  para  os  27  índices  de  extrem

os  climáticos  básicos  para  a  Régua,  o  Pinhão  e  V

ila  Real.  Todas  as  tendências  com  significância  estatística  ao  

nível  de  0,05  são  apresentadas  em  negrito.  

Régua  Pinhão  

Vila  Real  

Índices  R2  

Valor  p  

Declive  

R2  

Valor  p  

Declive  

R2  

Valor  p  

Declive  

N.º  de  dias  Tm

áx  >  35°C  (dias)  0,28  

0,000  0,432  

0,23  0,001  

0,374  ND  

0,145  0,082  

N.º  de  dias  Tm

áx  >  25°C  (dias)  0,23  

0,001  0,595  

0,16  0,007  

0,481  ND  

0,376  0,136  

N.º  de  dias  Tm

áx  <  0°C  (dias)  Não  observado  

Não  observado  

ND  

0,322  -­‐0,003  

N.º  de  dias  Tm

ín  >  20°C  (dias)  0,42  

0,000  0,312  

0,24  0,001  

0,220  0,30  

0,000  0,143  

N.º  de  dias  Tm

ín  <  0°C  (dias)  0,42  

0,000  -­‐0,436  

0,15  0,008  

-­‐0,264  ND  

0,106  -­‐0,139  

Duração  do  ciclo  vegetativo  (dias)  

0,13  0,017  

0,189  ND  

0,097  0,186  

ND  

0,208  -­‐0,227  

Tmáx  m

áxima  (°C)  

0,24  0,001  

0,051  0,18  

0,004  0,058  

ND  

0,292  0,018  

Tmáx  m

ínima  (°C)  

0,41  0,000  

0,099  0,20  

0,003  0,076  

0,25  0,000  

0,067  

Tmín  m

áxima  (°C)  

ND  

0,530  0,013  

ND  

0,678  -­‐0,008  

ND  

0,970  0,001  

Tmín  m

ínima  (°C)  

0,20  0,002  

0,045  0,18  

0,004  0,051  

ND  

0,072  0,028  

%  de  dias  Tm

áx  <  percentil  10  (%)  

0,10  0,033  

-­‐0,097  ND  

0,085  -­‐0,089  

ND  

0,540  -­‐0,028  

%  de  dias  Tm

áx  >  percentil  90  (%)  

0,26  0,000  

0,184  0,16  

0,007  0,151  

ND  

0,125  0,077  

%  de  dias  Tm

ín  >  percentil  10  (%)  

0,70  0,000  

-­‐0,460  0,61  

0,000  -­‐0,312  

0,29  0,000  

-­‐0,136  

%  de  dias  Tm

ín  >  percentil  90  (%)  

0,65  0,000  

0,439  0,39  

0,000  0,279  

0,33  0,000  

0,217  

Índice  de  duração  de  onda  de  calor  (dias)  ND  

0,100  0,127  

0,14  0,012  

0,272  ND  

0,867  0,018  

Índice  de  duração  de  onda  de  frio  (dias)  0,37  

0,000  -­‐0,390  

0,18  0,004  

-­‐0,244  ND  

0,108  -­‐0,074  

Amplitude  térm

ica  diurna  (°C)  0,50  

0,000  -­‐0,045  

0,22  0,005  

-­‐0,024  0,13  

0,018  -­‐0,015  

Precipitação  máxim

a  mensal  em

 1  dia  (mm)  

ND  

0,954  0,010  

ND  

0,140  0,207  

ND  

0,572  -­‐0,103  

Precipitação  máxim

a  mensal  em

 5  dias  (mm)  

ND  

0,667  -­‐0,125  

ND  

0,102  0,496  

ND  

0,147  -­‐0,703  

Índice  de  intensidade  de  precipitação  simples  (m

m/dia)  

ND  

0,182  0,022  

0,14  0,011  

0,053  ND  

0,081  -­‐0,036  

N.º  anual  de  dias  com

 precipitação  >  10  mm  (dias)  

ND  

0,366  -­‐0,094  

ND  

0,200  0,121  

ND  

0,405  -­‐0,093  

N.º  anual  de  dias  com

 precipitação  >  20  mm  (dias)  

ND  

0,681  0,020  

0,09  0,050  

0,080  ND  

0,843  -­‐0,014  

Duração  m

áxima  de  período  de  seca  (dias)  

ND  

0,295  0,181  

ND  

0,916  -­‐0,024  

ND  

0,286  -­‐0,188  

Duração  m

áxima  de  período  de  precipitação  continuada  (dias)  

ND  

0,122  -­‐0,058  

ND  

0,165  -­‐0,052  

ND  

0,626  0,018  

N.º  anual  de  dias  com

 precipitação  >  percentil  95  (dias)  ND  

0,346  1,254  

ND  

0,226  3,167  

ND  

0,234  -­‐2,071  

N.º  anual  de  dias  com

 precipitação  >  percentil  99  (dias)  ND  

0,821  -­‐0,158  

ND  

0,418  2,062  

ND  

0,198  -­‐1,083  

Precipitação  anual  total  (mm)  

ND  

0,524  -­‐1,512  

ND  

0,573  1,265  

ND  

0,404  -­‐2,513  

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Figura  21:  Exemplo  de  série  temporal  da  percentagem  de  dias  em  que  a  temperatura  mínima  se  situa  acima  do  percentil  90  (painel  da  esquerda)  e  abaixo  do  percentil  10  (painel  da  direita)  para  a  Régua  no  período  1967-­‐2010.  As   tendências   são   calculadas   por   regressão   linear   pelo   método   dos   mínimos   quadrados   (linha   contínua)   e  regressão  linear  ponderada  localmente  (linha  tracejada).      

 Figura   22:   Exemplo   de   série   temporal   do   índice   de   duração   de   onda   de   frio   (painel   da   esquerda;   quando   a  temperatura  mínima  diária  desce  abaixo  do  percentil  10  durante  seis  dias  consecutivos)  e  o  número  de  dias  por  ano   em  que   a   temperatura  máxima   é   superior   a   35°C   (painel   da   direita)   para   o   Pinhão  durante   1967-­‐2010.   As  tendências  são  calculadas  por  regressão  linear  pelo  método  dos  mínimos  quadrados  (linha  contínua)  e  regressão  linear  ponderada  localmente  (linha  tracejada).      

 Figura  23:  Exemplo  de  série  temporal  do  número  de  dias  por  ano  em  que  a  temperatura  mínima  é  superior  a  20°C  (painel  da  esquerda)  e  a   temperatura  mínima  diária  mais  elevada  observada  a  cada  ano  (painel  da  direita)  para  Vila   Real   no   período   1967-­‐2010.   As   tendências   são   calculadas   por   regressão   linear   pelo   método   dos   mínimos  quadrados  (linha  contínua)  e  regressão  linear  ponderada  localmente  (linha  tracejada).  

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As  alterações  nos  extremos  de  temperatura  não  passaram  igualmente  despercebidas  a  outros  autores.  Globalmente,  as  tendências  recentes  nos  extremos  de  temperatura  reflectem  o  aquecimento  geral  com  menos  extremos  de  frio,  mais  extremos  de  calor  e  um  prolongamento  da  estação  sem  gelo  na  maioria  das  regiões  de  média  e  alta   latitude  (IPCC,  2007).  Analisando  

extremos   climáticos   globais   com   recurso   ao   mesmo   método   da   ETCCDMI   utilizado   neste  estudo,   Alexander   et   al.   (2006)   descobriram   alterações   generalizadas   e   significativas   nos  extremos   de   temperatura   com   o   aquecimento   geral,   com   destaque   para   as   temperaturas  mínimas.  Tanto  a  área  espacial  como  a  magnitude  das  tendências  nas  temperaturas  mínimas  

são   superiores   às   temperaturas   máximas   durante   1951-­‐2003.   O   estudo   de   Alexander   et   al.  (2006)  mostra  tendências  significativas  em  termos  de  decréscimo  de  noites  frias,  aumento  de  noites  quentes  e  aumento  de  dias  de  calor  na  Península  Ibérica  durante  este  período.  Outras  investigações  de  cariz  regional  que  analisam  os  extremos  de  temperatura  mostram  projecções  de  extremos  de   temperaturas  máximas   (Tmáx  >  percentil   90)  para  o   final   do   século  XXI  que  

poderão  atingir  valores  de  mais  7°C  do  que  actualmente  em  boa  parte  da  Península  Ibérica  e  que  estes  aumentarão  mais  na  primavera  e  no  verão  do  que  no  outono  e  inverno  (de  Castro  et  al.,   2005).   Os   autores   concluíram   ainda   que   a   frequência   de   dias   com   extremos   de  temperaturas  mínimas  (Tmín  <  percentil  10)  tende  a  diminuir.  As  tendências  nos  extremos  de  precipitação  foram  menos  consistentes,  com  pequenas  alterações  nos  períodos  secos,  mas  sem  

diferenças   notórias   em   termos   de   eventos   de   precipitação   forte   (de   Castro   et   al.,   2005).  Brunete  et  al.   (2007)  debruçaram-­‐se  também  sobre  os  extremos  ocorridos  em  Espanha  entre  1850-­‐2005,  tendo  observado  que  o  aquecimento  geral  tem  estado  mais  associado  a  reduções  nos  extremos  de  frio  do  que  nos  extremos  de  calor.  Igualmente  servindo-­‐se  do  mesmo  método  da   ETCCDMI   utilizado   neste   estudo,   Ramos   et   al.   (2011)   analisaram   extremos   para   23   das  

principais  estações  meteorológicas  em  Portugal.  Tendências  médias  generalizadas  de  todas  as  estações   revelaram  que   tanto   as   temperaturas  máximas   como  mínimas  desceram  durante  o  período  1941-­‐1975,   tendo  depois   aumentado  em  0,49°C   e   0,54°C  por   década  durante   1976-­‐2006   em   termos   de   temperaturas   máximas   e   mínimas,   respectivamente.   Os   autores  observaram  que  as  taxas  de  aquecimento  eram  significativamente  mais  elevadas  do  que  outras  

tendências  calculadas  à  escala  global  e  europeia.  Em  termos  de  extremos,  Ramos  et  al.  (2011)  encontraram   resultados   semelhantes   aos   do   estudo   da   Região   Demarcada   do   Douro,  registando   tendências   positivas   com   significância   estatística   nos   extremos   de   calor   (por   ex.,  noites  tropicais,  dias  de  verão,  ondas  de  calor,  noites  quentes  e  dias  quentes).  

Embora  este  estudo  das   três  estações  na  Região  Demarcada  do  Douro  durante  1967-­‐2010   não   tenha   mostrado   uma   grande   evidência   de   alterações   significativas   ao   nível   da  

precipitação  ou  períodos  de   seca,  outras   investigações  de  cariz   regional   incidentes   sobre  um  período   de   tempo   mais   alargado   fizeram-­‐no.   Vicente-­‐Serrano   et   al.   (2011a)   estudaram   a  gravidade  da  seca  e  os   recursos  hídricos  superficiais  no  noroeste  da  Península   Ibérica  para  o  período   1930-­‐2006.   Os   resultados   em   termos   de   variabilidade   e   tendências   no   índice  normalizado   de   precipitação   (SPI   na   sigla   inglesa)   e   o   índice   normalizado   de   precipitação-­‐

evapotranspiração   (SPEI   na   sigla   inglesa)  mostram  que,   globalmente,   a   precipitação   registou  

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um  acréscimo  na  região,  tendo  no  entanto  a  evapotranspiração  também  aumentado  devido  ao  aquecimento.   Vicente-­‐Serrano   et   al.   (2011)   não   encontraram   qualquer   evidência   de   um  aumento  de  gravidade  da  seca  durante  1930-­‐2006;  ainda  assim,  a  duração  média  dos  episódios  

de  seca  aumentou  em  cerca  de  um  mês  nas  últimas   três  décadas.  Ficou  demonstrado  que  o  caudal   fluvial   no   noroeste   da   Península   Ibérica   deriva   em   larga   medida   da   variabilidade   da  precipitação,  com  menos  influência  do  aquecimento  regional  durante  este  período.  

CIRCULAÇÃO  REGIONAL  E  PADRÕES  METEOROLÓGICOS  

Para  o  período  1948-­‐2011,   a   circulação   regional   no  oceano  Atlântico   Este,   na   Europa  Ocidental  e  no  Mediterrâneo  foi  classificada  em  seis  padrões  meteorológicos  principais  (Figura  24).  As  condições  de  crista  de  altas  pressões  (R)  são  as  mais  frequentes  durante  este  período,  

representando   28,6%   do   total   de   dias,   sendo   sazonalmente   mais   comuns   entre   Abril   e  Setembro,  altura  em  que  representam  27  a  62%  dos  dias  em  cada  mês  (Figura  25).  A  crista  está  geralmente  associada  a  dias  de  céu  limpo,  radiação  solar  elevada  e  temperaturas  moderadas  a  extremas.  As  condições  anticiclónicas  (AA),  com  centros  sobre  os  Açores  e  a  Europa,  ocorrem  em   17,9%   dos   dias   e   distribuem-­‐se   de   forma   mais   uniforme   ao   longo   dos   meses,   com   um  

máximo   de   27%   dos   dias   do   mês   de   Setembro.   Estas   condições   anticiclónicas   propiciam  igualmente   o   céu   limpo,   mas   podem   ocorrer   temperaturas   mais   moderadas   em   função   do  período  do  ano.  O   fluxo  de  este   (E)   segue-­‐se   como  mais   frequente,  ocorrendo  em  16,3%  do  total  de  dias  e   tendo  uma  ocorrência  máxima  durante  o   inverno,  quando  representa  21-­‐25%  dos   dias   durante   os  meses   de   Dezembro   a  Março   (Figura   25).   O   fluxo   de   este   traz   consigo  

frequentemente  ar  frio  da  Europa  de  Leste,  resultando  em  eventos  de  frio  na  Península  Ibérica  quando  ocorre  durante  o   inverno  e  a  primavera.  O  fluxo  de  noroeste   (NW)  ocorre  em  14,6%  dos   dias   durante   1948-­‐2011   e   tende   a   ser   mais   frequente   durante   o   outono   e   o   início   do  inverno  (Setembro  -­‐  Dezembro),  podendo  representar  até  21%  dos  dias  no  mês.  Este  fluxo  está  

geralmente   associado   à   passagem   de   sistemas   frontais   e   a   uma   zona   de   baixas   pressões  centrada   sobre   as   ilhas   britânicas,   sendo   muitas   vezes   o   padrão   predominante   durante   a  transição   das   condições   estáveis   de   verão   para   o   outono/inverno.   As   condições   gerais   de  anticiclone   (A)  ocorrem  em  12,2%  do  total  de  dias   (Figura  25)  com  elevada  sazonalidade  nos  meses   de   inverno,   quando   representa   entre   10   a   22%   dos   dias.   Em   Portugal,   as   condições  

associadas  a  um  anticiclone  (A)  são  frequentemente  dias  de  céu  limpo  e  frio  na  transição  entre  sistemas   frontais.   O   padrão   meteorológico   menos   frequente   durante   o   período   é   o   regime  ciclónico  (C),  que  ocorre  em  10,3%  dos  dias  e  regista  reduzida  sazonalidade,  variando  entre  7  e  14%   dos   dias   em   cada  mês   (Figura   25).   O   regime   ciclónico   (C)   é   um   fluxo   de   curta   duração  associado   à   passagem   de   frentes,   sendo   normalmente   o   mais   chuvoso   dos   seis   padrões  meteorológicos.  

A   frequência   anual   de   cada   um   dos   seis   padrões  meteorológicos   no   ciclo   vegetativo  

(Abr   -­‐   Out)   e   no   repouso   vegetativo   (Nov   -­‐  Mar)   varia  muitas   vezes   entre   cerca   de   25%   da  média  e  quase  o  dobro  da  ocorrência  média.  Por  exemplo,  as  condições  ciclónicas  (C)  durante  o  ciclo  vegetativo  apresentaram  uma  média  de  20  dias  de  Abril  a  Outubro,  mas  variaram  de  uns  meros  4  dias  em  1970  até  um  pico  de  47  dias  em  1993.  Em  resultado  disso,  1970  foi  o  ano  com  

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menos  precipitação  no  período  1967-­‐2010  na  Régua,   e  1993   foi   o  que   registou   valores  mais  elevados.  No  caso  do  inverno,  consideram-­‐se  por  exemplo  as  condições  anticiclónicas  (A),  que  durante  o  inverno  de  1975-­‐76  foram  praticamente  duas  vezes  mais  frequentes  e  resultaram  no  inverno  mais  frio  na  Régua  no  período  1967-­‐2010.  

Sendo  uma  evidência  que  os  padrões  meteorológicos  diários  dão  origem  às  condições  

meteorológicas  diárias  na  Região  Demarcada  do  Douro,  a  complexidade  do  terreno  da  região  traduz-­‐se  potencialmente  numa  relação  menos  clara  entre  a  circulação  regional  e  o  estado  do  tempo  local.  As  correlações  entre  os  padrões  meteorológicos  anuais,  no  ciclo  vegetativo  e  no  repouso  vegetativo,  e  as  temperaturas  máximas  e  mínimas  e  precipitação  médias  especificam  

estas  características.  Em  termos  anuais,  durante  1967-­‐2010,  as  temperaturas  máximas  médias  não   revelam   correlações   significativas   com   os   dados   climáticos   da   Régua.   As   temperaturas  mínimas  médias  mostram  contudo  uma  relação  significativa  com  as  condições  de  crista  de  altas  pressões   (R),   e   cristas  mais   intensas   originam   geralmente   anos  mais   frios   (R2=0,11).   No   que  toca   a   quantidades   de   precipitação   anual,   as   condições   ciclónicas   estão   relacionadas   com  

valores   superiores   na   Régua   durante   1967-­‐2010,   mas   explicam   apenas   12%   da   variação.  Relações   semelhantes   são   encontradas   com   maiores   condições   de   crista   durante   o   ciclo  vegetativo,   que   trazem  anos  mais   frios,   embora   o   efeito   de   arrefecimento   advenha  mais   da  maior   frequência   de   eventos   na   primavera   do   que   eventos   no   verão.   A   influência   mais  marcante   durante   o   ciclo   vegetativo,   em   que   27%   da   oscilação   na   precipitação   é   explicada  

pelas   variações,   está   associada   a   condições   ciclónicas   (C).   Durante   o   inverno,   as   correlações  entre  a   circulação   regional   e  o  estado  do   tempo   local   aumentam.  As   temperaturas  máximas  médias   durante   o   inverno   são   significativamente  mais   baixas   quando   o   fluxo   de   este   (E)   se  intensifica.   As   temperaturas  mínimas  médias   durante   o   inverno   na   região   são   influenciadas  pelas   condições   de   crista   (R),   ciclónicas   (C)   e   de   fluxo   de   noroeste   (NW),   que   em   conjunto  

explicam  43%  da  variação.  Uma  intensificação  da  crista  gera  normalmente  invernos  mais  frios,  enquanto  condições  ciclónicas  e  de   fluxo  de  noroeste  mais   intensas  geralmente  resultam  em  invernos  mais  amenos.  Os  níveis  de  precipitação  na  estação  de  inverno  mostram  uma  elevada  correlação   com   os   padrões   meteorológicos,   com   as   condições   ciclónicas   (C)   e   de   fluxo   de  noroeste   (NW)   a   explicarem   84%   da   variação   durante   1967-­‐2010.   O   efeito   é   de  mais   chuva  

durante   o   inverno,   com   um   aumento   das   condições   ciclónicas   de   ambos   os   padrões  meteorológicos.   A   maior   relação   entre   os   padrões   meteorológicos   e   as   variações   locais   do  estado  do   tempo  durante  o   inverno  é   frequentemente  encontrada  em  estudos  de  circulação  (Jones  e  Davis,  2000a).  

Durante   o   período   de   análise   de   circulação   (1948-­‐2010),   alguns   dos   padrões  meteorológicos   apresentam   tendências   significativas.   Para   o   período   anual,   as   condições  

anticiclónicas   (A)   aumentaram   ligeiramente   (R2=0,09),   tendo   a   crista   (R)   diminuído  moderadamente  (R2=0,22).  A  maior  parte  da  descida  anual  nas  condições  de  crista  (R)  deu-­‐se  durante   o   ciclo   vegetativo   (R2=0,20).   Durante   o   inverno,   foi   observado   apenas   um   ligeiro  decréscimo  nas  condições  de  duplo  anticiclone  (AA)  (R2=0,08).  Dada  a  reduzida  observação  de  tendências   em   termos   de   padrões   meteorológicos,   contrabalançada   por   tendências  

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significativas  em  termos  das  temperaturas  anuais,  no  ciclo  vegetativo  e  no  repouso  vegetativo,  os  resultados  apontam  para  um  aquecimento  geral  que  não  é  grandemente  influenciado  pelas  alterações  ao  nível  da  circulação  regional.  

 

 

 

 

Figura  24:  Campos  de  pressão  média  ao  nível  do  mar  para  os  seis  padrões  meteorológicos  derivados  da  análise  de  agrupamentos   de   componentes   principais.   A-­‐Anticiclone;   R-­‐Crista;   NW-­‐Fluxo   de   noroeste;   E-­‐Fluxo   de   este;   AA-­‐Anticiclones  sobre  os  Açores  e  a  Europa;  e  C-­‐Ciclone.    

 

 

A   R  

NW   E  

AA   C  

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Figura   25:   Frequências   mensais   dos   seis   padrões   meteorológicos   derivadas   da   análise   de   agrupamentos   de  componentes  principais.  A-­‐Anticiclone;  R-­‐Crista;  NW-­‐Fluxo  de  noroeste;  E-­‐Fluxo  de  este;  AA-­‐Anticiclones  sobre  os  Açores  e  a  Europa;  e  C-­‐Ciclone.  

Outros  estudos  em  torno  das  condições  sinópticas  que  afectam  as  regiões  vinícolas  da  Europa  e  outras  obtiveram  resultados  semelhantes  aos  atrás  descritos.   Jones  e  Davis  (2000b)  descobriram  que  a  circulação  regional  e  climatologias  de  massas  de  ar  sinópticas  eram  eficazes  

na  descrição  da  variabilidade  do  clima  local  para  Bordéus,  França.  Os  autores  concluíram  que  a  frequência  de  certos  eventos  sinópticos   influenciava  o  comportamento  fenológico  da  videira,  bem  como  a  produção  e  a  qualidade  do  vinho  na   região.   Jones  e  Davis   (2000b)  descobriram  que  uma  maior  frequência  de  anticiclones  no  final  da  primavera  tendia  a  provocar  eventos  de  frio  que  atrasavam  o  crescimento  e  que  uma  maior  frequência  de  eventos  ciclónicos  durante  a  

floração  estava   relacionada  com  uma  menor  produção,  enquanto  uma  maior   frequência  de  -­‐cristas  e  massas  de  ar  estáveis  promovia  uma  maturação  completa  e  uma  melhor  qualidade  do  vinho   em   Bordéus.   Analisando   as   produções   de   azeite   e   vinho   em   Portugal,   Gouveia   et   al.  (2007)   concluíram   que   ambas   evidenciam   uma   relação   significativa   com   a   variabilidade   do  índice  NAO  no  inverno  e  na  primavera,  sendo  embora  os  resultados  mais  relevantes  em  termos  

da  produção  de  azeite  de  alta  qualidade  e  mais  para  certas  áreas  de  Portugal  do  que  outras.  Um  outro  estudo   recente  de  Gouveia  et   al.   (2011)   concluiu   também  que   temperaturas  mais  elevadas  no  final  da  primavera  foram  benéficas  para  a  produção  de  vinho  na  região  do  Vale  do  Douro.  Para  além  disso,  resultou  notória  a  presença  de  ciclos  nas  séries  temporais  de  produção  de   vinho   no   Vale   do   Douro   que   podem   ser   em   larga   medida   atribuídos   à   variabilidade   da  

temperatura   na   primavera   (Cunha   e   Richter,   2011).   Ficou   demonstrado   que   a   qualidade   da  colheita   para   a   produção   de   Vinho   do   Porto   está   relacionada   com   a   temperatura  máxima   e  precipitação  durante  a  primavera  e  o  verão  (Gouveia  et  al.,  2010).  Gómez-­‐Gesteira  et  al.  (2011)  registam   ainda   mudanças   nas   condições   sinópticas   na   região,   com   um   decréscimo   geral   na  frequência   de   ciclones   no   inverno,   que   controla   fortemente   a   precipitação   no   período   de  

inverno,   e   uma   diminuição   nos   bloqueios   de   inverno/primavera,   que   está   relacionado   com  condições  de  primavera  mais  quentes.  

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Santos  et  al.  (2012)  determinaram  uma  estrutura  e  tendências  espacialmente  coerentes  em   termos   de   acumulação   de   calor   na   Europa   (índices   de   Huglin   e   Winkler)   que   são  grandemente  controladas  pela  circulação  atmosférica  de  larga  escala  durante  o  ciclo  vegetativo  

(Abril  -­‐  Setembro).  Andrade  et  al.  (2011)  concluíram  que  o  inverno  invulgarmente  chuvoso  de  2009-­‐2010   em   Portugal   foi   caracterizado   por   uma   componente   de   fluxo   de   oeste  anormalmente  forte  sobre  o  Atlântico  Norte,  que  resultou  numa  maior  frequência  de  eventos  ciclónicos.   Vicente-­‐Serrano   et   al.   (2011b)  mostram   de   que   forma   os   eventos   de   chuva  mais  forte   estiveram   relacionados   com   os   valores   negativos   mais   extremos   do   índice   NAO   e  

apontam  nas  projecções  para  o  século  XXI  para  um  NAO  a  tender  para  valores  mais  positivos.  No   entanto,   os   autores   fazem   notar   que   valores   negativos   extremos   do   NAO   tal   como  observados  durante  2009-­‐2010  continuarão  provavelmente  a  ocorrer.  

Santos   et   al.   (2011)   concluíram   que   aproximadamente   50%   da   variação   na   produção  durante   1986-­‐2008   poderia   ser   explicada   pelas   temperaturas   e   precipitação   mensais   no  modelo  estatístico  de  rendimento  da  videira.  Os  factores  climáticos  mais  importantes  foram  as  

temperaturas   e   a   precipitação   durante   as   primeiras   fases   de   crescimento   (abrolhamento   e  floração).  Projecções  de  conjunto  à   luz  do  cenário  A1B   indicaram  que  a  produção  aumentará  tendencialmente  ao   longo  do   século  XXI.   Santos  et  al.   (2012)   actualizaram  o  estudo  anterior  mediante  inclusão  de  uma  série  de  produção  de  vinho  mais  longa  (1932-­‐2010),  concluindo  que  a  elevada  precipitação  e   temperaturas  baixas  durante  o  abrolhamento,  desenvolvimento  dos  

pâmpanos   e   das   inflorescências   (Fevereiro   -­‐   Março),   e   temperaturas   elevadas   durante   a  floração   e   desenvolvimento   dos   bagos   (Maio)   são   geralmente   favoráveis   a   uma   elevada  produção.   Analisando   as   probabilidades   associadas   a   anos   de   produção   baixa,   normal   e  elevada,  os  autores  conseguem  estabelecer  uma  previsibilidade  antes  do   início  da  campanha  (3-­‐4  meses  de  avanço)   relativamente  ao  volume  de  produção  global.  Recorrendo  às  mesmas  

projecções   de   conjunto   sob   o   cenário   A1B   em   Santos   et   al.   (2011),   mas   incluindo   16  experiências   transitórias   com   diferentes   cadeias   de   modelos   de   GCMs   /RCMs,   o   estudo  actualizado   indicou   ser   de   prever   um  aumento   da   produção  de   vinho   em  aproximadamente  10%   até   ao   final   do   século   XXI,   com   anos   de   elevada   produção   a   ocorrerem   com   mais  frequência  no  futuro  (de  25%  do  total  de  anos  actualmente  a  mais  de  60%  no  final  do  século  

XXI).  No  entanto,  os  esforços  de  definição  de  um  modelo  têm  de  ter  em  conta  outros  aspectos  climáticos   que   afectam   a   produção,   tais   como   maior   stress   térmico   e/ou   alterações   nas  condições  de  maturação  capazes  de  influenciar  os  aumentos  estimados  (Santos  et  al.,  2012).  

CLIMA  ESPACIAL:  HISTÓRICO  

A   análise   da   WorldClim   para   1950-­‐2000   com   uma   resolução   de   1   km   mostra   uma  estrutura   espacial  mais   detalhada   dos   parâmetros   climáticos   (por   ex.,   precipitação   anual   na  Figura   26)   comparativamente   aos   dados   generalizados   cartografados   das   estações  

meteorológicas   para   o   período   1931-­‐1960   (Figura   8)   ou   às   análises   das   estações   individuais  (Tabela  4).  Embora  os  dados  das  estações  (1931-­‐1960)  e  dados  matriciais  da  WorldClim  (1950-­‐2000)   só   coincidam   em   dez   anos,   uma   comparação   dos   valores   revela   uma   correlação  relativamente   elevada   e   seria  mais   um   indicador   da   utilidade   dos   dados   da  WorldClim   para  

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esta  análise.  Comparando  os  dados  das  estações  relativos  a  1931-­‐1960  e  a  grelha  da  WorldClim  que  cobre  o  mesmo  ponto  de  latitude  e  longitude  das  estações,  conclui-­‐se  que  as  temperaturas  máximas  (r  >  0,80)  apresentam  maior  correlação  do  que  as  temperaturas  mínimas  (r  >  0,70).  A  

diferença  é  de  esperar,  uma  vez  que  as  temperaturas  mínimas  geralmente  variam  mais  numa  área   tão   heterogénea   como   é   a   Região   Demarcada   do   Douro.   A   correlação   em   termos   de  precipitação  é  menor  (r  >  0,50)  do  que  para  a  temperatura,  mas  globalmente  aponta  para  uma  similaridade  geral  nos  dois  conjuntos  de  dados.  

Globalmente,  a   região  regista  uma  mediana  de  precipitação  anual  de  950  mm  (Figura  26);  no  entanto,  existe  aqui  uma  variação  de  1190  mm  no  Baixo  Corgo  para  832  mm  no  Douro  

Superior  (Tabela  7).  O   local  mais  seco  no  Douro  Superior  regista  643  mm  por  ano  em  média,  enquanto  a  área  mais  húmida  localiza-­‐se  nas  montanhas  ao  longo  do  limite  oeste  da  região  do  Baixo  Corgo  com  1625  mm   (Figura  26,  Tabela  7).  As  quantidades  de  precipitação  no   inverno  (Novembro  a  Março)  são  de  aproximadamente  60-­‐65%  do  total  anual  (Figura  27),  perfazendo  cerca  de  35-­‐40%  no  ciclo  vegetativo   (Figura  28),  mas   também  aqui   se  nota  a   tendência  para  

condições   progressivamente   mais   secas   quando   se   avança   de   oeste   para   este   (Apêndice   –  Tabela  1).  Da  decomposição  da  precipitação  anual  em  totais  mensais   (Figura  29)  resulta  uma  variação   espacial   consistente   na   região,   com   Janeiro   e   Fevereiro   a   serem   os   meses   mais  húmidos,  e  uma  forte  sazonalidade  com  os  meses  mais  secos  de  Julho  e  Agosto  a  registarem  níveis  de  precipitação  muito  diminutos  em  toda  a  região.  O  Baixo  Corgo  é  a  região  mais  húmida  

em  todos  os  meses  (Figura  30),  uma  vez  que  as  terras  altas  a  oeste  são  aquelas  que  recebem  a  maior  parte  da  precipitação.  

 

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 Figura  26:  Precipitação  anual  para  a  Região  Demarcada  do  Douro  durante  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

Tabela  7:  Estatística  de  quartis  para  a  precipitação  anual  e  temperaturas  médias  anuais  nas  três  sub-­‐regiões  da  Região  Demarcada  do  Douro.  Os  valores  representam  a  estatística  espacial  de  cada  variável:  mínimo  absoluto,  25%,  mediana,  75%  e  máximo  absoluto.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

Precipitação  anual  Região   Mínimo  (mm)   25%  (mm)   Mediana  (mm)   75%  (mm)   Máximo  (mm)  

Baixo  Corgo   971   1128   1190   1282   1625  Cima  Corgo   778   938   1026   1089   1314  

Douro  Superior   643   776   832   927   1123    

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 Figura  27:  Precipitação  no  inverno  (Novembro  a  Março)  na  Região  Demarcada  do  Douro  durante  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

 Figura  28:  Precipitação  no  ciclo  vegetativo  (Abril  a  Outubro)  na  Região  Demarcada  do  Douro  durante  1950-­‐2000.            Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).

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Figura  29:  Precipitação  méd

ia  m

ensal  para  a  Re

gião

 Dem

arcada

 do  Dou

ro  duran

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0-­‐20

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orldClim

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ans  et  al.,  200

5).  

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 Figura  30:  Precipitação  média  mensal  nas  três  sub-­‐regiões  (Baixo  Corgo,  Cima  Corgo  e  Douro  Superior)  da  Região  Demarcada  do  Douro.  Os  valores  são  a  mediana  das  quantidades  de  precipitação  espacial  nas  regiões  conforme  representadas  na  Figura  29.  

Os   dados   da   WorldClim   mostram   também   uma   estrutura   e   características   da  temperatura   anual   a   uma   escala   muito   mais   detalhada   (Figura   31)   comparativamente   aos  mapas  anteriores  de  1931-­‐1960  (Figura  9).  Em  termos  anuais,  a  Região  Demarcada  do  Douro  regista  uma  média  de  13,7°C,  com  valores  mais  elevados  nas  cotas  mais  baixas  e  em  direcção  a  

leste,   e   valores  mais   reduzidos  nas   cotas  mais   altas  da   região   (Figura  31).   Por   sub-­‐região,   as  temperaturas   médias   anuais   não   variam   muito   (13,5-­‐13,8°C;   Tabela   8),   mas   existe   uma  variação  relativamente  grande  ao  longo  das  estações.  Por  exemplo,  as  temperaturas  máximas  médias   mensais   mostram   que   durante   o   inverno   as   sub-­‐regiões   apresentam   valores  

semelhantes   (Figura   32),   enquanto   durante   o   verão   o   Douro   Superior   apresenta   uma   área  maior   de   temperaturas  máximas   superiores   às   das   outras   duas   sub-­‐regiões.   Durante   o   ciclo  vegetativo,   as   temperaturas   máximas   registam   uma   média   de   23,8°C   em   toda   a   região,  enquanto  as  temperaturas  mínimas  médias  se  ficam  pelos  11,6°C  (Apêndice  –  Figuras  2  e  3,  e  Apêndice  –  Tabela  1).  Em  média,  o  Douro  Superior  apresenta  temperaturas  máximas  e  mínimas  

mais  elevadas  durante  o  ciclo  vegetativo  comparativamente  ao  Baixo  Corgo  e  Cima  Corgo.  As  temperaturas  máximas  no  inverno  registam  uma  média  de  12,2°C  em  toda  a  região,  enquanto  as  temperaturas  mínimas  se  ficam  pelos  3,9°C  (Apêndice  –  Figuras  5  e  6,  e  Apêndice  –  Tabela  1).   Durante   o   inverno,   o   Baixo   Corgo   tende   a   ser   ligeiramente   mais   ameno   devido   à   sua  proximidade  da  costa,  mas  as  zonas  desta  sub-­‐região   localizadas  em  cotas  mais  elevadas  são  

tendencialmente  das  mais  frias  observadas  em  toda  a  Região  Demarcada  do  Douro.  Tanto  nas  temperaturas  máximas  como  nas  mínimas  mensais  constata-­‐se  uma  evolução  mensal  similar,  com  o  núcleo  principal  do  Vale  do  Douro  e  seus  vales  secundários  a  aquecerem  primeiro  e/ou  a  manterem-­‐se   mais   amenos   por   mais   tempo   (Figuras   32   e   33).   Conforme   representado   na  

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Figura   34,   em   termos   médios   as   diferenças   entre   as   três   sub-­‐regiões   não   parecem   ser   de  relevo,  no  entanto  a  maior  dimensão  do  Douro  Superior  e  suas  inúmeras  zonas  a  cota  elevada  reduzem  as  diferenças  observadas  nas  médias.  

 Figura  31:  Temperaturas  médias  anuais  na  Região  Demarcada  do  Douro  durante  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

 Tabela  8:  Estatística  de  quartis  para  as  temperaturas  médias  anuais  nas  três  sub-­‐regiões  da  Região  Demarcada  do  Douro.  Os  valores  representam  a  estatística  espacial  de  cada  variável:  mínimo  absoluto,  25%,  mediana,  75%  e  máximo  absoluto.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

Temperatura  média  anual  

Região   Mínimo  (°C)   25%  (°C)   Mediana  (°C)   75%  (°C)   Máximo  (°C)  

Baixo  Corgo   8,6   12,7   13,6   14,1   15,5  Cima  Corgo   11,0   12,8   13,5   14,2   15,7  

Douro  Superior   11,5   13,0   13,8   14,4   15,5  

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 Figura  32:  Tem

peraturas  máxim

as  médias  m

ensais  na  Região  Dem

arcada  do  Douro  durante  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  W

orldClim  (H

ijmans  et  al.,  2005).  

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Figura  33:  Tem

peraturas  mínim

as  m

édias  men

sais  na  Re

gião

 Dem

arcada

 do  Dou

ro  duran

te  195

0-­‐20

00.  Fon

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ase  de

 dad

os  W

orldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  200

5).  

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Figura  34:  Temperaturas  máximas  e  mínimas  médias  mensais  nas  três  sub-­‐regiões  (Baixo  Corgo,  Cima  Corgo  e  Douro  Superior)  da  Região  Demarcada  do  Douro.  Os  valores  são  a  mediana  das  temperaturas  espaciais  nas  regiões  conforme  representadas  nas  Figuras  32  e  33.  

  Analisando   as   características   espaciais   de   três   índices   habitualmente   usados   para  avaliar  a  aptidão  vitícola,  conclui-­‐se  que  historicamente  a  Região  Demarcada  do  Douro  tem-­‐se  

apresentado   globalmente   como   um   clima   quente   a   temperado-­‐quente   para   a   produção   de  vinho.  Em  termos  de  temperaturas  médias  do  ciclo  vegetativo  (TMCV),  a  média  espacial  global  na  Região  Demarcada  do  Douro  para  o  período  1950-­‐2000  é  17,8°C.  No  entanto,  a  TMCV  varia  na   região,   com   condições  mais   quentes   ao   longo   do   rio   Douro   e   seus   principais   afluentes   e  áreas  mais  frescas  nas  cotas  mais  elevadas  (Figura  35).  A  TMCV  varia  7,6°C,  desde  um  mínimo  

de   12,1°C,   que   seria   considerado   demasiado   frio   para   viticultura,   e   um   máximo   de   19,7°C  (Tabela   9).   Embora   a   mediana   dos   valores   de   TMCV   na   Tabela   9   evidencie   condições   algo  similares   nas   três   sub-­‐regiões,   o   melhor   indicador   estatístico   a   usar   para   avaliar   a   aptidão  espacial  nestas  áreas  é  a  amplitude  interquartil  (IQR  na  sigla  inglesa:  25%  a  75%).  Estes  valores  mostram  que  o  Baixo  Corgo  é  a  região  mais  fria,  com  um  IQR  entre  16,5°C  e  17,9°C,  seguido  do  

Cima  Corgo  com  um  IQR  entre  16,8°C  e  18,3°C,  sendo  o  Douro  Superior  a  região  mais  quente  com   um   IQR   entre   17,1°C   a   18,6°C   (Tabela   9).   Globalmente,   a   região   é   em   65%   um   clima  Temperado,  24%  um  clima   Intermédio  e  quase  10%  um  tipo  de  clima  Quente  em  matéria  de  TMCV   (Figura   36).   Por   sub-­‐região,   cada   área   é   predominantemente   um   tipo   de   clima   Pouco  

Quente,   com   76%,   63%   e   71%   da   área   no   Baixo   Corgo,   Cima   Corgo   e   Douro   Superior,  respectivamente.  O  Cima  Corgo  possui  mais  área  com  um  tipo  de  clima  Temperado  do  que  as  outras  duas  regiões,  e  o  Douro  Superior  possui  o  dobro  da  área  com  um  tipo  de  clima  Quente  relativamente  às  outras  duas  regiões.  

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 Figura  35:  Temperaturas  médias  no  ciclo  vegetativo  na  Região  Demarcada  do  Douro  durante  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

 

Figura  36:  Percentagem  da  Região  Demarcada  do  Douro  e  das  três  sub-­‐regiões  em  cada  classe  do  índice  de  

temperaturas  médias  no  ciclo  vegetativo  durante  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  

2005).  

 

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Tabela  9:  Estatística  de  quartis  para  as  temperaturas  médias  no  ciclo  vegetativo  (Abril  -­‐  Outubro),  dias-­‐grau  de  crescimento  (Abril  -­‐  Outubro)  e  o  Índice  de  Huglin  (Abril  -­‐  Setembro)  nas  três  sub-­‐regiões  da  Região  Demarcada  do  Douro.  Os  valores  representam  a  estatística  espacial  de  cada  variável:  mínimo  absoluto,  25%,  mediana,  75%  e  máximo  absoluto.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

Temperatura  média  no  ciclo  vegetativo  Região   Mínimo  (°C)   25%  (°C)   Mediana  (°C)   75%  (°C)   Máximo  (°C)  

Baixo  Corgo   12,1   16,5   17,5   17,9   19,2  

Cima  Corgo   14,9   16,8   17,5   18,3   19,7  Douro  Superior   15,6   17,1   18,0   18,6   19,7  

Dias-­‐grau  de  crescimento  Região   Mínimo     25%   Mediana   75%   Máximo    

Baixo  Corgo   615   1411   1606   1708   1977  Cima  Corgo   1084   1474   1622   1781   2081  

Douro  Superior   1207   1537   1717   1855   2090  

Índice  de  Huglin  Região   Mínimo     25%   Mediana     75%   Máximo    

Baixo  Corgo   978   1900   2087   2175   2370  Cima  Corgo   1537   1968   2118   2263   2515  

Douro  Superior   1709   2034   2200   2327   2542    

  Os  dias-­‐grau  de  crescimento  (STA)  durante  1950-­‐2000  apresentam  uma  média  de  1680  em  toda  a  Região  Demarcada  do  Douro,  com  um  padrão  semelhante  ao  observado  na  TMCV.  No   entanto,   sendo   embora   a   TMCV   e   a   STA   índices   funcionalmente   idênticos   (Jones   et   al.,  2010),  é  de  notar  que  as  classes  dos  índices  não  são  equivalentes  e  directamente  comparáveis.  

A  acumulação  de  STA  é  maior  ao  longo  do  vale  principal  e  seus  vales  secundários  e  no  Douro  Superior  (Figura  37).  A  amplitude  de  STA  observada  na  região  é  de  1475  unidades,  desde  a  STA  mais  baixa  (615)  nas  montanhas  ao  longo  do  limite  oeste  do  Baixo  Corgo,  até  à  mais  alta  (2090)  observada   imediatamente   a   sul   de   Barca   d’Alva   no  Douro   Superior   (Tabela   9).   Na   escala   de  Winkler,   toda  a  área  é  em  pouco  mais  de  41%  uma  Região   II,  em  pouco  menos  de  40%  uma  

Região  III  e  em  10%  uma  Região  IV  (Figura  38).  Tal  como  acima  referido  para  a  TMCV,  a  IQR  é  um  bom  indicador  para  descrever  a  principal  área  estrutural  das  sub-­‐regiões,  e  com  a  STA  os  resultados  mostram  o  Baixo  Corgo  com  uma   IQR  entre  1411  e  1708,  o  Cima  Corgo  com  uma  IQR   entre   1474   e   1781   e   o   Douro   Superior   com   uma   IQR   entre   1537   e   1855.   Estes   valores  colocam  o  Baixo  Corgo  como  predominantemente  (50%)  uma  Região  III  na  escala  de  Winkler,  

sendo  o  Cima  Corgo  maioritariamente  uma  Região  II  (48%)  (Figura  38).  O  Douro  Superior  é  em  larga  medida  uma  Região  III  (45%)  na  mesma  escala,  mas  contém  o  dobro  da  área  classificada  como  Região  IV  (15%)  relativamente  às  outras  duas  sub-­‐regiões  (Figura  38;  Tabela  9).  

 

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 Figura  37:  Dias-­‐grau  de  crescimento   (STA)  na  Região  Demarcada  do  Douro  durante  1950-­‐2000.  Valores  calculados  com  uma  temperatura   base   de   10°C   sem   limite   superior   e   somados   ao   longo   dos   meses   de   Abril   a   Outubro.   A   legenda   indica  simultaneamente   valores   e   as   regiões   de   aptidão   do   Índice   de  Winkler   (Winkler   et   al.,   1974)   com  uma   actualização   para   a  Região  I  e  limites  superiores  e  inferiores  implementados  por  Jones  et  al.  (2011).  De  notar  ainda  que  os  limites  das  classes  estão  arredondados  para  as  unidades  °F  equivalentes  conforme  o  Índice  de  Winkler  foi  originalmente  desenvolvido.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

 

Figura  38:  Percentagem  da  Região  Demarcada  do  Douro  e  das  três  sub-­‐regiões  em  cada  classe  do  índice  de  regiões  de  Winkler  com  base  nas  classes  de  dias-­‐grau  de  crescimento  durante  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

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  Em   termos   do   Índice   de   Huglin   (HI   na   sigla   inglesa),   a   Região   Demarcada   do   Douro  apresenta   espacialmente   uma   média   de   2160   ou   um   pouco   acima   de   50%   um   clima  Temperado-­‐Quente,   em   35%   um   clima   Temperado,   em   10%   um   clima  Quente   e   em   4%   um  

clima  Frio  para  viticultura  (Figuras  39  e  40).  A  amplitude  da  Região  Demarcada  do  Douro  no  HI  é  de  1564,  com  um  padrão  uniforme  de  valores  mais  baixos  nas  cotas  mais  elevadas  e  a  oeste  e  valores  mais  altos  ao  longo  dos  rios  e  a  este  (Figura  39).  A  IQR  do  HI  para  o  Baixo  Corgo  situa-­‐se  nos  1900  a  2175,  enquanto  para  o  Cima  Corgo  é  de  1969  a  2263  e  para  o  Douro  Superior  de  2034  a  2327  (Tabela  9).  Em  termos  percentuais,  o  Baixo  Corgo  apresenta  em  65%  um  tipo  de  

clima  Temperado-­‐Quente,  em  25%  Temperado  e  em  menos  de  5%  Frio  e  Quente  (Figura  40).  O  Cima  Corgo  é   também  em   larga  medida   Temperado-­‐Quente   (47%)   e   Temperado   (41%),  mas  possui  quase  o  dobro  da  área  classificada  como  Quente  (8%)  relativamente  ao  Baixo  Corgo.  A  sub-­‐região  do  Douro  Superior  é  predominantemente  Temperada-­‐Quente  (55%),  mas  apresenta  mais  do  dobro  da  área  classificada  como  Quente  (16%)  do  que  o  Cima  Corgo.  Enquanto  o  HI  e  a  

STA   resumem   características   de   acumulação   de   calor   similares,   a   adição   de   um   factor   de  duração   do   dia   e   a   ponderação   mais   elevada   das   temperaturas   máximas   faz   com   que   não  sejam  directamente  comparáveis.  De  igual  modo,  os  limites  de  classes  nas  TMCV,  nas  STA  e  no  HI   não   são   equivalentes   (por   ex.   uma   TMCV  Quente   não   é   necessariamente   um  HI  Quente,  

etc.).    

 Figura  39:  Índice  de  Huglin  para  a  Região  Demarcada  do  Douro  durante  1950-­‐2000.  Valores  calculados  com  uma  temperatura  base  de  10°C  sem  limite  superior,  com  uma  correcção  de  latitude  aplicada,  e  somados  ao  longo  dos  meses  de  Abril  a  Setembro.  A  legenda  inclui  os  valores  e  as  categorias  de  aptidão  do  Índice  de  Huglin  conforme  criadas  por  Huglin  (1978).  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

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Figura  40:  Percentagem  da  Região  Demarcada  do  Douro  e  das  três  sub-­‐regiões  em  cada  classe  do  Índice  de  Huglin  durante  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim  (Hijmans  et  al.,  2005).  

 

CLIMA  ESPACIAL:  PROJECÇÕES  FUTURAS  

O  clima  futuro  para  a  Região  Demarcada  do  Douro  é  avaliado  para  três  períodos  futuros  (2020,  2050  e  2080),  para  três  cenários  de  emissões  de  gases  de  estufa  (B2,  A1B  e  A2)  usando  o  

modelo   HADCM3,   e   comparando   com   as   condições   históricas   (1950-­‐2000).   Em   matéria   de  precipitação   média   anual,   as   alterações   estimadas   variam   desde   cerca   de   zero   a   um  decréscimo   na   ordem   dos   21,6%   (Figuras   41   e   45).   O   cenário   B2   aponta   para   pequenas  alterações  com  descidas   ténues  em  2020  e  2050,  mas   ligeiros  aumentos  em  2080.  O  cenário  A1B  antecipa  descidas  de  6-­‐7%  na  precipitação  anual  em  2020,  13-­‐15%  em  2050  e  18-­‐22%  em  

2080.  O   cenário   A2,   por   sua   vez,   apresenta  magnitudes   levemente   inferiores   nas   alterações  previstas,   com  praticamente  nenhuma  alteração  em  2050  e  15-­‐17%  em  2080.  Não  se  estima  que  a  precipitação  no  inverno  se  altere  muito,  podendo  mesmo  aumentar  em  alguns  cenários  (Figura  45  e  Apêndice  –   Figura  1).  As  projecções  para  o   cenário  B2   indicam  um  aumento  na  ordem  dos  7-­‐17%  na  precipitação  no  inverno  desde  o  momento  actual  até  2080.  O  cenário  A1B  

prevê   um   ligeiro   decréscimo   na   ordem   dos   1-­‐7%   ao   longo   do   mesmo   período   de   tempo,  enquanto   o   cenário   A2   tem   resultados   mistos,   com   um   aumento   de   8-­‐10%   em   2050   e   um  pequeno  decréscimo  de  perto  de  2%  em  2080.  É  para  o  ciclo  vegetativo  que  estão  projectadas  as  maiores  alterações  no  que  toca  a  precipitação  (Figura  45  e  Apêndice  –  Figura  2).  Todos  os  cenários   para   o   ciclo   vegetativo   apontam   para   descidas,   com   o   cenário   B2   a   indicar   um  

decréscimo  até  19%  em  2050  e  posteriormente  uma  descida  menos  acentuada  na  ordem  dos  8-­‐10%  em  2080.  O  cenário  A1B  estima  uma  diminuição  da  precipitação  no  ciclo  vegetativo  a  variar  entre  13-­‐14%  em  2020  e  praticamente  42%  no  Douro  Superior  em  2080.  O  cenário  A2  

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prevê  uma  diminuição  semelhante  da  precipitação  no  ciclo  vegetativo,  mas  com  percentagens  ligeiramente  inferiores  de  4-­‐40%.  

Estima-­‐se   que   as   temperaturas   médias   anuais,   que   apresentam   espacialmente   uma  média   entre   13,5-­‐14,0°C   para   a   Região   Demarcada   do   Douro   durante   1950-­‐2000,   irão  aumentar   em   todos   os   cenários   de   emissões   e   períodos   (Figuras   42   e   46).   Em   2020   está  

projectado  um  aquecimento  a  variar  entre  0,5-­‐0,7°C  para  o  cenário  A2,  0,7-­‐0,9°C  no  cenário  B2  e  1,3-­‐1,4°C  no  cenário  A1B.  Para  2050  o  aquecimento  previsto  é  semelhante  para  os  cenários  B2  e  A2,  variando  entre  1,4-­‐1,9°C,  mas  atingindo  até  3,3°C  para  o  cenário  A1B  (Figura  42).  Em  2080,  as  projecções   indicam  um  aquecimento  potencial  de  2,1-­‐2,6°C  no  cenário  B2,  3,1-­‐3,8°C  

no   cenário   A2   e   4,9-­‐5,1°C   no   cenário   A1B.   Por   sub-­‐região,   o   cenário   A1B   mostra   um  aquecimento  da  temperatura  média  anual  praticamente  nivelado,  enquanto  os  cenários  B2  e  A2   evidenciam   um   aquecimento   progressivo   de   oeste   para   este,   com   o   Douro   Superior   a  apresentar  os  valores  mais  elevados  em  termos  de  aquecimento.  

Durante  o  repouso  vegetativo  (Novembro  a  Março),  o  aquecimento  estimado  ao  nível  das   temperaturas  máximas  médias   varia   entre   0,4-­‐0,9°C   em   2020,   1,1-­‐2,0°C   em   2050   e   1,5-­‐3,2°C  em  2080  (Apêndice  –  Figura  5).  À  semelhança  do  que  acontece  nas  temperaturas  anuais,  

o  cenário  A1B  apresenta  um  maior  aquecimento  do  que  os  cenários  A2  e  B2.  As  temperaturas  mínimas  médias  durante  o   repouso  vegetativo  apontam  também  para  uma  subida  na  ordem  dos  0,4-­‐0,8°C  em  2020,  1,0-­‐1,8°C  em  2050  e  1,5-­‐2,8°C  em  2080.  No  caso  do  modelo  HADCM3  e  para  os   três   cenários  de  emissões,   verifica-­‐se  uma   ligeira  diferença  no  aquecimento  previsto  durante   o   repouso   vegetativo,   com   as   temperaturas   máximas   a   subirem   mais   do   que   as  

temperaturas   mínimas   (Apêndice   –   Figuras   5   e   6).   Os   padrões   de   aquecimento   na   Região  Demarcada  do  Douro  apontam  para  os  maiores  aumentos  inicialmente  a  ocorrerem  no  núcleo  principal   da   bacia   fluvial,   seguidos   de   um   aquecimento   generalizado   no   Douro   Superior,   e  depois  aquecimento  nas  zonas  mais  altas  em  praticamente  toda  a  região.  

Em   termos   de   ciclo   vegetativo   (Abril   -­‐   Outubro),   a   Região   Demarcada   do   Douro  apresenta   espacialmente   uma   média   de   17,0-­‐18,0°C   nas   temperaturas   médias   do   ciclo  

vegetativo   (TMCV)   (Figura  43;   Tabela  9).  As   alterações   futuras  nestes   três   índices   são   claras,  com  um  aquecimento  previsto  das  TMCV  de  0,6-­‐1,8°C  em  2020,  1,8-­‐4,3°C  em  2050  e  2,5-­‐6,6°C  em  2080  (Figura  43).  O  padrão  espacial  de  aquecimento  na  região  é  similar  ao  observado  nas  temperaturas  anuais  ou  relativas  à  estação  de  repouso  vegetativo.  O  maior  aquecimento  nas  TMCV   está   projectado   ocorrer   no   cenário   A1B   em   2080.   Decompondo   as   TMCV   em  

temperaturas  máximas  e  mínimas,  encontramos  uma  previsão  de  maior  aquecimento  para  as  temperaturas  máximas  diurnas  durante  o  ciclo  vegetativo,  com  valores  de  0,8-­‐7,9°C  em  todos  os   cenários   de   emissões   e   períodos,   comparativamente   aos   0,4-­‐5,1°C   para   as   temperaturas  mínimas   nocturnas   (Apêndice   –   Figuras   3   e   4).   Isto   implicaria   um   aumento   potencial   na  amplitude  térmica  diurna,  mas  com  valores  globais  mais  elevados.  Fazendo  a  média  de  toda  a  

região,  alterações  desta  magnitude  nas  TMCV  deslocariam  a  Região  Demarcada  do  Douro  de  uma   aptidão   climática   Pouco   Quente   para   uma   aptidão   climática   Quente   ou   nos   limites  superiores  do  Muito  Quente,  dependendo  do  cenário   (Figura  47).  Espacialmente,  a  estrutura  

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climática  de  1950-­‐2000  em  termos  de  TMCV  para  a  região  foi  aproximadamente  em  65%  uma  aptidão  climática  Temperada,  em  25%  Intermédia  e  em  10%  Quente  (Figura  38).  Em  média,  nos  três   cenários  de  emissões  para   cada  período,   as  projecções  mostram  potencial  para  grandes  

alterações  na  percentagem  de  área  em  cada  classe  de  TMCV,  com  a  região  50%  Temperada  e  43%  Quente  em  2020  (Figura  48).  Novas  alterações  em  2050  poderiam  resultar  em  apenas  14%  da  Região  Demarcada  do  Douro  na  classe  de  aptidão  climática  Temperada,  50%  na  Quente  e  36%   na   Muito   Quente.   Em   2080,   as   alterações   ao   nível   das   TMCV   poderiam   resultar  potencialmente   em   perto   de   19%   da   paisagem   a   tornar-­‐se   Demasiado   Quente,   54%  Muito  

Quente,  25%  Quente  e  menos  de  3%  Fria,  Intermédia  ou  Temperada  (Figura  48).  As  alterações  apresentam  um  padrão  de  aquecimento  que  aumenta  mais  rapidamente  ao  longo  das  secções  principais  da  bacia  fluvial,  depois  no  Douro  Superior  e  em  2080  nas  terras  mais  altas  em  grande  parte  da  região  (Figura  43).  

Os   dias-­‐grau   de   crescimento   (STA)   para   a   Região   Demarcada   do   Douro   registaram  espacialmente   uma  média   de   1600-­‐1725   durante   1950-­‐2000   (Figura   44;   Tabela   9).   A   análise  

futura  das  STA  na  região  mostra  projecções  de  aumentos  de  100  para  perto  de  400  unidades  em   2020,   350   a   900   unidades   em   2050,   e   500   a   1400   unidades   em   2080   (Figura   44).   As  alterações  projectadas  nas  STA  são  mais  baixas  com  o  cenário  B2  e  atingem  o  seu  ponto  mais  alto  com  o  cenário  A1B.  Sendo  as  TMCVT  e  as  STA  funcionalmente  diferentes  (ou  seja,  um  é  um  somatório  de  calor  e  o  outro  uma  média  de  temperatura),  o  resultado  apresenta  virtualmente  

o  mesmo  resultado,  sendo  a  única  diferença  a  divisão  em  classes  (Jones  et  al.,  2010).  Como  tal,  será  de  esperar  resultados  semelhantes  dos  modelos,  o  que  de  facto  acontece  em  termos  do  padrão   global   das   alterações   projectadas.   As   STA  médios   para   toda   a   Região  Demarcada   do  Douro   em   1950-­‐2000   colocam-­‐na   como   Região   III   no   Índice   de   Winkler,   com   alterações  previstas  nas  STA  a  deslocarem-­‐na  para  os  limites  superiores  da  Região  III  nos  cenários  B2  e  A2  

e  para  a  Região  IV  no  cenário  A1B  (Figura  47).  Em  2050,  as  projecções  transferem  a  área  para  a  classificação  de  Região  IV  nos  cenários  B2  e  A2  e  para  a  Região  V  no  cenário  A1B.  Já  para  2080,  as   projecções   disparam   para   uma   Região   V   baixa   no   cenário   B2,   uma   Região   V   média   no  cenário  A2,  até  uma  estimativa  potencial  de  tipo  de  clima  Demasiado  Quente  no  cenário  A1B  (Figura  47).  Espacialmente,  os  resultados  para  as  STA  são  semelhantes  aos  das  TMCV,  em  que,  

em  2020,  a  área  se  estima  ser  em  13%  uma  Região   II,  em  40%  uma  Região   III,  em  36%  uma  Região  IV  e  em  9%  uma  Região  V  (Figura  48).  Novas  alterações  até  2050  deixam  antever  que  a  área   se   torne   em   larga  medida   uma   Região   V   (45%),   com   32%   como   Região   IV,   13%   como  Região   III   e   9%   como   demasiado   quente.   Em   2080,   a   área   tida   como   demasiado   quente  

aumenta  para  44%,  enquanto  42%  é  classificada  como  Região  V,  12%  como  Região   IV  e  mais  uma  vez  menos  de  3%  como  Região  I  a  Região  III  (Figura  48).  

O   Índice   de   Huglin   (HI)   durante   o   período   observado   de   1950-­‐2000   registou  espacialmente  uma  média  de  2000-­‐2200  na  Região  Demarcada  do  Douro  (Figura  45;  Tabela  9).  Embora   o   HI   e   as   STA   sejam   ambos   índices   de   acumulação   de   calor,   há   duas   questões   que  precisam  de  ser  lembradas:  1)  os  limites  das  classes  não  são  iguais  (por  ex.,  um  HI  Temperado  não  corresponde  necessariamente  a  uma  Região  III  em  termos  de  STA)  e  2)  o  HI  pondera  mais  

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as   temperaturas   máximas   do   que   as   STA.   Como   tal,   em   virtude   dos   maiores   aumentos  projectados   para   as   temperaturas  máximas   na   região,   será   de   esperar   que   a  magnitude   das  alterações   no  HI   seja   diferente   nas   STA.  No   entanto,   nas   projecções   base,   o  HI   aumenta   de  

forma  semelhante  nas  STA,  com  alterações  de  125  para  375  unidades  em  2020,  375  para  900  unidades  em  2050  e  500  a  1400  unidades  em  2080   (Figura  45).  Uma  vez  mais,  as  alterações  projectadas  são  mais  baixas  com  o  cenário  B2  e  atingem  o  seu  ponto  mais  alto  com  o  cenário  A1B.  O  padrão  geral  de  aquecimento  é  similar   tanto  aos  padrões  de  TMCV  como  de  STA.  No  período  actual  (1950-­‐2000),  a  Região  Demarcada  do  Douro  apresenta  espacialmente  em  média  

uma  classe  HI  Temperado-­‐Quente  baixa,  prevendo-­‐se  que  suba  para  o   topo  dessa  classe  nos  cenários  B2  e  A2  e  mesmo  para  a  classe  de  HI  Quente  no  cenário  A1B  (Figura  47).  Em  2050,  os  cenários  B2  e  A2  empurram  a  região  para  o  topo  da  classe  HI  Quente,  enquanto  o  cenário  A1B  transporta   a   região   para   a   linha   de   divisória   entre   o   Muito   Quente   e   aquilo   que   seria  considerado  Demasiado  Quente  no  HI.  Estão  projectadas  mais  alterações  no  HI  para  2080,  com  

o  cenário  B2  a  deslocar  a  região  para  uma  posição  baixa  na  classe  Muito  Quente  do  HI,  o  A2  no  limite  do  Muito  Quente  e  Demasiado  Quente,  e  o  A1B  a  transportar  toda  a  região  para  o  que  seria  considerado  Demasiado  Quente  no  HI  (Figura  47).  São  também  evidentes  comutações  de  ordem  espacial  na  Região  Demarcada  do  Douro,  com  alterações  em  todos  os  períodos  (Figura  

48).   Durante   1950-­‐2000,   a   região   foi   em   50%   Temperada-­‐Quente,   35%   Temperada,   10%  Quente  e  5%  Fria  ou  Muito  Fria.  Em  2020,  estima-­‐se  que  as  paisagens  da   região  comportem  ainda   uma   grande   área   classificada   como   Temperada-­‐Quente   (40%),   mas   com   alterações  significativas   para   43%   como   Quente,   8%   como   Muito   Quente   e   menos   de   10%   como  Temperada  a  Muito  Fria.  Em  2050  e  2080  o  aquecimento  diferencial  na  temperatura  máxima  

versus  mínima  mostra  alterações  mais  acentuadas  no  HI  do  que  no   índice  de  STA.  Em  2050,  perto  de  22%  da  região  está  estimada  como  tornando-­‐se  Demasiado  Quente,  enquanto  34%  da  área  é  tida  como  Muito  Quente  e  Quente,  e  praticamente  10%  apresenta-­‐se  entre  Muito  Fria  e  Temperada-­‐Quente   (Figura  48).  Em  termos  médios,  à   luz  de  todos  os  cenários,  as  projecções  mostram   que,   em   2080,   a   região   poderá   potencialmente   ser   em   larga   medida   Demasiado  

Quente  (55%),  restando  30%  de  paisagem  Muito  Quente,  13%  Quente  e  apenas  2%  Muito  Fria  a  Temperada-­‐Quente.  

   

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 Figura  41:  Precipitação  méd

ia  anu

al  para  a  Re

gião

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arcada

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s  (Baixo  

Corgo,  Cim

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ro  Sup

erior)  e  as  alterações  previstas  em  %  te

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ans  et  al.,  200

5).  

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 Figura  42:  Tem

peraturas  médias  anuais,  para  a  Região  D

emarcada  do  D

ouro.  A  linha  superior  apresenta  as  condições  históricas  durante  1950-­‐2000,  com

 as  linhas  seguintes  a  representarem  

os  cenários  de  emissões  B2,  A

1B  e  A2  SRES  para  três  períodos  futuros  (2020,  2050  e  2080).  A

s  tabelas  apresentam  os  valores  de  m

ediana  nas  três  sub-­‐regiões  (Baixo  Corgo,  Cima  Corgo  e  

Douro  Superior)  e  as  alterações  previstas  em

 °C  tendo  por  base  o  período  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  2005).  

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 Figura  43:  Tem

peraturas  méd

ias,  no  ciclo  vegetativo  (Abril  a  Outub

ro)  pa

ra  a  Região  Dem

arcada

 do  Dou

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a  supe

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ta  as  cond

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s  seguintes  a  represen

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 e  A2  SR

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80).  As  tabe

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 os  valores  de

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iana

 nas  três  sub-­‐

regiõe

s  (Baixo  Corgo

,  Cim

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rgo  e  Dou

ro  Sup

erior)  e  as  alterações  previstas  em  °C  tend

o  po

r  ba

se  o  período

 195

0-­‐20

00.  Fon

te:  B

ase  de

 dad

os  W

orldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  200

5).  

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 Figura  44:  D

ias-­‐grau  (STA)  de  crescim

ento  (Regiões  de  Winkler)  para  a  Região  D

emarcada  do  D

ouro.  A  linha  superior  apresenta  as  condições  históricas  durante  1950-­‐2000,  com

 as  linhas  

seguintes  a  representarem  os  cenários  de  em

issões  B2,  A1B  e  A

2  SRES  para  três  períodos  futuros  (2020,  2050  e  2080).  As  tabelas  apresentam

 os  valores  de  mediana  nas  três  sub-­‐regiões  

(Baixo  Corgo,  Cima  Corgo  e  D

ouro  Superior)  e  as  alterações  previstas  em  unidades  STA

 tendo  por  base  o  período  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  2005).  

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 Figura  45:  Valores  do  Índice  de  Huglin  para  a  Re

gião

 Dem

arcada

 do  Dou

ro.  A

 linh

a  supe

rior  apresen

ta  as  cond

içõe

s  históricas  duran

te  195

0-­‐20

00,  com

 as  linha

s  seguintes  a  represen

tarem  os  

cená

rios  de  em

issões  B2,  A1B

 e  A2  SR

ES  para  três  período

s  futuros  (202

0,  205

0  e  20

80).  As  tabe

las  ap

resentam

 os  valores  de

 med

iana

 nas  três  sub

-­‐regiões  (B

aixo  Corgo

,  Cim

a  Co

rgo  e  Dou

ro  

Supe

rior)  e

 as  alterações  previstas  em  unida

des  HI  ten

do  por  base  o  pe

ríod

o  19

50-­‐200

0.  Fon

te:  B

ase  de

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os  W

orldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  200

5).  

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Figura  46:  Média  espacial  das  alterações  estimadas  na  precipitação  anual  (A),  no  inverno  (B)  e  no  ciclo  vegetativo  (C)  para  o  Baixo  Corgo  (BC),  Cima  Corgo  (CC)  e  Douro  Superior  (DS).  Os  dados  abrangem  o  período  actual  (1950-­‐2000)  até  2020,  2050  e  2080  para  os  cenários  de  emissões  B2,  A1B  e  A2  a  partir  do  modelo  HADCM3.  

 

A  

B  

C  

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Figura  47:  Média  espacial  da  tendência  de  aquecimento  estimada  para  as  temperaturas  médias  anuais  em  toda  a  Região  Demarcada  do  Douro.  Os  dados  abrangem  o  período  actual  (1950-­‐2000)  até  2020,  2050  e  2080  para  os  cenários  de  emissões  B2,  A1B  e  A2  a  partir  do  modelo  HADCM3.  

 

 

 

Figura  48:  Média  espacial  da  tendência  de  aquecimento  estimada  para  as  temperaturas  médias  no  ciclo  vegetativo  (A),  dias-­‐grau  (STA)  de  crescimento  (B)  e  Índice  de  Huglin  (HI)  em  toda  a  Região  Demarcada  do  Douro.  Os  dados  abrangem  o  período  actual  (1950-­‐2000)  até  2020,  2050  e  2080  para  os  cenários  de  emissões  B2,  A1B  e  A2  a  partir  do  modelo  HADCM3.  Os  níveis  de  classes   indicados  em  cada   figura  são  os  definidos  para  cada   índice   (ver   texto  para  mais  pormenores).  

 

C  

A   B  

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Figura  49:  Percentagem  da  Região  Demarcada  do  Douro  em  cada  classe  do  índice  de  temperaturas  médias  no  ciclo  vegetativo  durante  1950-­‐2000,  2020,  2050  e  2080.  Os  três  períodos  futuros  consistem  em  médias  dos  cenários  B2,  A1B  e  A2.  

 

 

Figura   50:   Percentagem   da   Região   Demarcada   do   Douro   em   cada   classe   do   Índice   de  Winkler   de   dias-­‐grau   de  crescimento  durante  1950-­‐2000,  2020,  2050  e  2080.  Os  três  períodos  futuros  consistem  em  médias  dos  cenários  B2,  A1B  e  A2.  

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Figura  51:  Percentagem  da  Região  Demarcada  do  Douro  em  cada  classe  do  Índice  de  Huglin  durante  1950-­‐2000,  2020,  2050  e  2080.  Os  três  períodos  futuros  consistem  em  médias  dos  cenários  B2,  A1B  e  A2  

Os  resultados  desta  análise  com  recurso  aos  dados  da  WorldClim  a  partir  de  um  único  

modelo   climático   (HADCM3)   são   semelhantes   em  magnitude   à   cadeia   múltipla   de   modelos  regionais   de   ESEMBLES   e   COSMO-­‐CLM   usados   por   Santos   et   al.   (2012).   Os   16   modelos  climáticos   regionais   na   cadeia   têm   uma   resolução   espacial   de   18-­‐25   km,   o   que   resulta   em  menos  grelhas  a  representarem  a  Região  Demarcada  do  Douro  comparativamente  aos  dados  da  WordlClim   com   um   1   km   de   resolução.   A   média   de   conjunto   para   16   experiências   com  

modelos  climáticos  regionais  segundo  o  cenário  A1B  SRES  projecta  taxas  de  aquecimento  nas  temperaturas  médias  anuais  de  0,34°C  por  década  ou  uma  alteração  total  de  3,1°C  entre  2010  e   2100.   O   aquecimento   no   ciclo   vegetativo   (Abril   -­‐   Outubro)   será   previsivelmente   perto   do  dobro   do   aquecimento   no   inverno.   Estima-­‐se   que   as   temperaturas   médias   no   inverno  (Novembro   -­‐  Março)   aumentem   0,24°C   por   década,   resultando   num   aquecimento   global   de  

2,2°C   entre   2010   e   2100.   Estima-­‐se   ainda   que   as   temperaturas   médias   durante   o   ciclo  vegetativo  aumentem  0,42°C  por  década,  com  um  aquecimento  global  de  3,8°C  entre  2010  e  2100.   Alterações   desta   magnitude   indicam   que   as   TMCV   sobem   de   cerca   de   17°C,   que  corresponde  a  uma  aptidão  climática  Intermédia  a  Temperada,  para  aproximadamente  21°C  ou  uma   aptidão   climática   Quente   a  Muito  Quente   no   final   do   século   XXI   na   região   do   Vale   do  

Douro.   As   alterações   projectadas   ao   nível   da   precipitação   no   conjunto   dos   16   modelos  climáticos   regionais   apresentam   uma   variabilidade   muito   superior   nos   vários   modelos   e   ao  longo  do  século  XXI.  No  entanto,  a  média  de  conjunto  aponta  para  uma  diminuição  significativa  na   precipitação   anual   (17   mm)   por   década   ou   uma   redução   de   aproximadamente   15%   em  2100.  A  redução  na  precipitação  anual  evidenciada  pelo  conjunto  de  modelos  resulta  em  larga  

medida  de  reduções  significativas  ao  nível  da  precipitação  no  ciclo  vegetativo,  permanecendo  a  precipitação   no   inverno   altamente   variável   no   período   de   tempo   alvo   da   projecção.   Uma  

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análise  das  projecções  de  precipitação  mensal  mostra  descidas   significativas   a   esse  nível   em  todos   os  meses   do   ciclo   vegetativo,  mas   valores   ligeiramente   superiores   durante   o   final   da  primavera,  início  do  verão  (Maio  e  Junho).  

Outros  estudos  recentes  que  analisam  as  alterações  climáticas  em  regiões  vinícolas  de  todo  o  mundo,   na   Europa,   e   especificamente   na   Península   Ibérica,   apontam  para   alterações  

estimadas   semelhantes   às   conclusões   desta   análise.   Por   exemplo,   Jones   et   al.   (2005)  constataram   um   aquecimento   médio   estimado   de   2,0°C   durante   o   ciclo   vegetativo   em   27  regiões  vinícolas  de  todo  o  mundo  em  2050  utilizando  o  cenário  A2  no  modelo  HADCM3.  No  entanto,  os  resultados  mostraram  que  a  Península  Ibérica  aquecia  mais  do  que  outras  regiões,  

com   um   aquecimento   das   TMCV   de   2,4°C   em   2050   (taxa   de   0,5°C   por   década)   no   norte   de  Portugal.   Webb   et   al.   (2008)   registaram   um   aquecimento   similar   na   Austrália   associado   a  potenciais  reduções  na  qualidade  do  vinho  nas  regiões  já  quentes.  Hall  e  Jones  (2009)  apontam  para   um   aquecimento   nas   regiões   vinícolas   australianas   de   1,3-­‐2,7°C   em   2070,   o   que   irá  provavelmente   empurrar   muitas   regiões   para   fora   daquilo   que   seria   apropriado   para   a  

produção   de   vinhos   de   alta   qualidade.   Para   os   Estados   Unidos   globalmente   considerados,  White  et  al.  (2006)  usaram  um  modelo  climático  regional  de  alta  resolução  (25  km)  compelido  por  um  cenário  de  emissões  de  gases  de  estufa  A2  do  IPCC  e  estimaram  que  a  potencial  área  premium  para  a  produção  de  uvas  para  vinho  nos  Estados  Unidos   (excluindo  Alasca  e  Havai)  poderá   ter   diminuído   em   até   81%   no   final   do   século   XXI.   Esta   investigação   concluiu   que  

aumentos  na  acumulação  de  calor  irão  possivelmente  alterar  a  produção  de  vinho  para  castas  mais  adaptadas  a   climas  quentes  e/ou  gerar  vinhos  de  menor  qualidade.  Adicionalmente,  os  modelos  mostram  que,  embora  os  problemas  com  a  geada  se  vejam  reduzidos,  aumentos  na  frequência  de  dias  extremamente  quentes   (>35°C)  no  ciclo  vegetativo  poderão  comprometer  gravemente   ou   eliminar   por   completo   a   produção   de   uvas   para   vinho   em  muitas   áreas   dos  Estados  Unidos.  

No   caso   da   Europa,   Malheiro   et   al.   (2010),   recorrendo   a   simulações   de   conjunto  transitórias   com  o  modelo   regional   COSMO-­‐CLM  para  os   cenários  B1  e  A1B,  mostram  que  a  geografia   da   viticultura   na   Europa   irá   provavelmente   alterar-­‐se   de   forma   substancial   até   ao  final   do   século   XXI.   Maior   secura   e   efeitos   térmicos   acumulativos   deverão   ter   impacto   nas  regiões   vinícolas   de   todo   o   sul   da   Europa,   prevendo-­‐se   ao   mesmo   tempo   que   no   norte   da  

Europa   surjam   novas   áreas   aptas   para   a   viticultura.   Moriondo   et   al.   (2011)   realizaram   um  estudo  semelhante  a  este  para  a  Toscânia,  Itália,  tendo  concluído  que,  em  consequência  de  um  aumento   progressivo   da   temperatura   e   uma   redução   na   precipitação,   será   de   prever   que   a  região  registe  1)  um  aumento  da  área  apta  para  viticultura  (cotas  mais  elevadas),  2)  um  ciclo  vegetativo  da  videira  mais  curto,  3)  uma  redução  no  rendimento  e  4)  uma  deslocalização  das  

zonas   de   vinho   de   qualidade   premium   para   as   cotas   mais   elevadas.   Santos   et   al.   (2012)  indicaram   concretamente   para   o   Vale   do   Douro   que   as   temperaturas   médias   de   conjunto  durante  Fevereiro-­‐Março  deverão  aumentar  3°C  entre  o  ano  2000  e  o  final  do  século  XXI,  com  um  acréscimo  nas  temperaturas  médias  para  o  mês  de  Maio  de  4°C  durante  o  mesmo  período.  Não  é  de  esperar  que  a  precipitação  na  primavera  sofra  qualquer  alteração  no  longo  prazo  com  

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a   maior   pressão   dos   gases   de   estufa.   No   entanto,   uma   análise   do   mecanismo   de   feedback  cobertura  vegetal-­‐clima  na  Europa,  realizada  por  Wramneby  et  al.  (2010),  mostra  que  no  sul  da  Europa   (incluindo   a   maior   parte   da   Península   Ibérica)   o   acentuar   da   seca   no   verão   poderá  

condicionar   o   crescimento   e   a   sobrevivência   das   plantas,   o   que   por   sua   vez   poderá   resultar  num  feedback  positivo  do  aquecimento  através  de  uma  menor  evapotranspiração.  Os  autores  afirmam  que  o  mecanismo  de  feedback  entre  a  cobertura  vegetal  e  o  clima  na  área  de  estudo  europeia   será   modesto   comparado   com   a   pressão   radioactiva   de   maiores   concentrações  globais  de  CO2,  mas  que  as  interacções  podem  modificar  as  projecções  de  aquecimento  a  nível  local,  regional  e  sazonal.  

Projecções   futuras   para   a   Península   Ibérica   usando   seis   modelos   do   IPCC   mostram   um  aquecimento  continuado  de  0,4°C  por  década  durante  o  inverno  e  0,6°C  por  década  durante  o  verão   com   uma   pequena   diferença   ente   os   cenários   B2   e   A2   (de   Castro   et   al.,   2005).  Apontando   embora   os   resultados   para   projecções   díspares   entre   os   diferentes   modelos  climáticos,   os   autores   mostram   que   globalmente   os   resultados   indicam   uma   redução  

significativa   na   precipitação   anual,   que   será  maior   no   cenário   A2   comparativamente   ao   B2,  com   o   pico   de   reduções   a   ocorrer   no   final   da   primavera.   Servindo-­‐se   do   modelo   climático  regional   PROMES   (resolução   de   50   km),   de   Castro   et   al.   (2005)   apresentam   projecções   para  2070-­‐2100  de  um  aquecimento  continuado  de  5,0-­‐7,0°C  no  verão  e  3,0-­‐4,0°C  no  inverno,  com  taxas  de  aquecimento  mais  baixas  à  medida  que  nos  aproximamos  da  costa  e  mais  elevadas  no  

interior.   Embora   se  verifique  uma  grande  variabilidade  geográfica  na   frequência  e  amplitude  das   anomalias   na   temperatura   mensal,   os   autores   especificam   aumentos   na   variabilidade  temporal   em   todas   as   estações   e   simultaneamente   no   cenário   B2   e   A2.   As   alterações   na  precipitação   no   modelo   climático   regional   PROMES   são   mais   heterogéneas   na   Península  Ibérica,  com  um  forte  gradiente  na  precipitação  média,  desde  o  noroeste  mais  chuvoso  até  ao  

sudeste  mais  seco.  O  que  mais  ressalta  em  termos  de  precipitação  é  a  tendência  para  menor  precipitação  na  primavera/verão  na  maior  parte  da  península.  

Outro  estudo  para  Portugal  usou  o  modelo   regional  HadRM3  e  analisou  as  alterações  na  distribuição   das   temperaturas   máximas   e   mínimas   e   alterações   associadas   em   termos   de  probabilidade  de  eventos  extremos  para  2071-­‐2100  nos  dois  cenários  de  emissões  (Ramos  et  al.,   2011).   As   alterações   projectadas   para   2071-­‐2100   parecem   ser   consistentes   com   as  

encontradas   durante   1976-­‐2006   em  Portugal,   com  um   aumento   na   temperatura  máxima   de  3,2°C   (4,7°C)   para   o   cenário   B2   (A2)   no   verão   e   3,4°C   em   ambos   os   cenários   na   primavera.  Alterações  similares  foram  observadas  nas  temperaturas  mínimas,  com  aumentos  para  o  verão  (primavera)   a   variar   entre   2,7°C   (2,5°C)   no   cenário   B2   e   4,1°C   (2,9°C)   no   cenário   A2.   As  alterações  gerais  a  nível  de   temperaturas  máximas  e  mínimas  para  Portugal  previstas  para  o  

final   do   século  XXI   foram  acompanhadas  por   alterações  na  ocorrência  de   eventos   extremos,  com  os  extremos  de  calor  a  aumentarem  de  frequência  e  os  extremos  de  frio  em  declínio  no  país  (Ramos  et  al.,  2011).  

 

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CONCLUSÕES  A  história  do  cultivo  da  uva  para  produção  de  vinho  mostra-­‐nos  claramente  que  esta  é  

uma   cultura   sensível   sob  o  ponto  de   vista   climático,   em  que  uma  produção  de  qualidade   se  

atinge   apenas   numa   faixa   geográfica   bastante   estreita   (Jones,   2006).   Acresce   a   isto   o   facto  desse   tipo   de   uva   ser   em   larga   medida   cultivado   em   regiões   de   latitude   média   e   portanto  sujeitas   a   elevada   variabilidade   climática   de   que   decorrem   diferenças   relativamente  acentuadas  ao  nível  da  vindima  em  matéria  de  qualidade  e  produtividade.  Para  além  disso,  o  

histórico   de   evolução   dos   parâmetros   climáticos   e   suas   projecções   futuras   para   as   regiões  vinícolas  mostram-­‐nos  que  ocorreram  alterações  e  que  estas   irão  provavelmente  continuar  a  ocorrer   no   futuro   (Jones   et   al.,   2005).   Este   estudo  debruçou-­‐se   sobre   inúmeros   aspectos   do  clima  numa  das  regiões  vinícolas  mais  históricas  do  mundo  –  o  Vale  do  Douro  português  –  com  o   objectivo   de   documentar   e   analisar   as   condições   climáticas   históricas,   atuais   e   futuras   da  região.  

A  Região  Demarcada  do  Douro  abrange  uma  área  superior  a  250.000  hectares  num  vale  

montanhoso   de   orientação   este-­‐oeste,   com   encostas   moderadas   a   escarpadas   e   exposição  variada,  sendo  drenada  pelo  rio  Douro  e  seus  afluentes.  A  área  possui  plantações  de  mais  de  45.000   hectares   de   uvas   para   vinho   em   três   sub-­‐regiões:   Baixo   Corgo,   Cima   Corgo   e   Douro  Superior.   As   condições   climáticas   históricas   na   Região   Demarcada   do   Douro   revelam   uma  estrutura   climática   maioritariamente   do   tipo   mediterrânico   com   variação   intra-­‐anual  

moderadamente  elevada  em  termos  de  temperatura  e  precipitação.  As  temperaturas  da  região  são   normalmente  mais   baixas   a   oeste   e   nas   cotas  mais   elevadas,   situando-­‐se   as   zonas  mais  quentes  ao   longo  do  núcleo  principal  da  bacia   fluvial  e  a  este.  A  precipitação  é  mais  elevada  nas  cotas  mais  altas  e  nas  montanhas  que  delimitam  a  fronteira  oeste  da  região,  que  produzem  

um  notório   efeito   de   sombra   de   chuva   à  medida  que   avançamos  para   este   ao   longo  do   rio.  Dados  históricos  de  várias  estações  meteorológicas   relativos  ao  período  1931-­‐1960  mostram  que  a   região   tem  áreas  que  variam  de  uma  aptidão   climática   Fria  nas   cotas  mais  elevadas  e  uma  aptidão  Quente  em  alguns   locais  no  Douro   Superior.  Ao   longo  do  período  1931-­‐1960  a  precipitação   no   inverno   e   no   ciclo   vegetativo   foi   na   ordem   dos   64%   e   36%   da   precipitação  

anual,  respectivamente,  o  que  é  muito  semelhante  ao  que  acontece  nos  nossos  dias.  Durante  o  ciclo  vegetativo,  quando  as   taxas  de  evapotranspiração  determinam  em   larga  escala  o  stress  hídrico   do   solo,   a   mediana   da   taxa   de   evapotranspiração   na   região   é   superior   em   250%   à  mediana   dos   dados   de   precipitação   durante   o   período   de   crescimento   da   videira.   Dados  climáticos   espaciais   actualizados   para   1950-­‐2000   revelam   condições   climáticas   similares   às  

normais  climatológicas  de  1931-­‐1960.  No  que  toca  a  temperaturas  médias  do  ciclo  vegetativo,  a  região  apresenta  uma  média  de  17,8°C  e  está  espacialmente  classificada  em  65%  como  um  tipo   de   clima   Temperado,   24%   um   tipo   de   clima   Intermédio   e   quase   10%   um   tipo   de   clima  Quente  no   índice  de  TMCV.  Os  dias-­‐grau  de  crescimento  evidenciam  um  padrão  semelhante,  com  uma  média  de  1680  para  toda  a  região,  da  qual  pouco  mais  de  41%  está  classificada  como  

Região  II  de  Winkler,  pouco  menos  de  40%  como  Região  III  e  10%  como  Região  IV.  Em  termos  do  Índice  de  Huglin,  a  região  apresenta  espacialmente  uma  média  de  2160  e  varia  entre  acima  

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de  50%  como  clima  Temperado-­‐Quente,  35%  como  clima  Temperado,  10%  como  clima  Quente  e  4%  como  clima  frio  para  viticultura.  

As   tendências   observadas   na   região   foram   analisadas,   quer   em   termos   das   estações  individuais,  quer  espacialmente  em  toda  a  região.  As  diferenças  entre  os  dados  de  1931-­‐1960  e  1950-­‐2000   revelam   que   o   último   período   foi   mais   quente   em   média   0,9°C   em   termos   de  

temperaturas  anuais  na  região,  com  o  ciclo  vegetativo  e  o  inverno  1,2°C  e  0,4°C  mais  quentes,  respectivamente.  Analisando  individualmente  as  estações  com  registos  de  dados  de  qualidade  e   relativo   longo   prazo   encontram-­‐se   tendências   para  muitos   parâmetros   climáticos   durante  1967-­‐2010.  Durante  este  período,  a  Régua,  o  Pinhão  e  Vila  Real  evidenciaram  tendências  nas  

temperaturas  anuais,  no  ciclo  vegetativo  e  no   inverno.  Em  geral,   as  estações  apontam  todas  elas  para  um  maior  aquecimento  nas   temperaturas  mínimas   comparativamente  às  máximas,  com   taxas   que   variam   entre   os   1,2°C   e   3,6°C   durante   este   período.   Os   resultados   de   uma  análise  das  três  estações  em  matéria  de  eventos  extremos  revelam  alterações  significativas  nos  extremos   quer   das   temperaturas  máximas   quer   das  mínimas,   globalmente   com   noites  mais  

quentes,   dias   mais   quentes,   um   decréscimo   geral   na   amplitude   térmica   diurna,   uma   maior  ocorrências  de  eventos  de  stress  térmico,  alguns  sinais  de  ondas  de  calor  mais  prolongadas  e  uma  clara  redução  na  duração  das  ondas  de  frio.  Não  foram  detectadas  tendências  no  que  toca  a  precipitação  anual  no  repouso  vegetativo  ou  estação  de  crescimento  em  qualquer  uma  das  três  estações.  Ficou  demonstrado  que  a  estrutura  e  frequência  dos  padrões  meteorológicos  de  

larga  escala  sobre  o  Oceano  Atlântico  Este,  a  Europa  Ocidental  e  o  Mediterrâneo  têm  alguma  influência   sobre   a   variabilidade   climática  da   região,   embora  os   resultados   apontem  para  um  aquecimento   geral   que   não   estará   significativamente   associado   a   alterações   ao   nível   da  circulação  regional.  Outras  investigações  de  carácter  global  envolvendo  a  Europa,  a  Península  Ibérica  e  Portugal  chegaram  a  tendências  semelhantes  às  encontradas  nesta  análise  em  termos  de  médias  e  extremos.  

As  condições  climáticas  futuras  na  Região  Demarcada  do  Douro  foram  analisadas  com  recurso   a   projecções   SRES   do   IPCC   do  modelo   HADCM3   para   três   cenários   de   emissões   de  gases  de  estufa  (B2,  A1B  e  A2)  e  três  períodos  futuros  (2020,  2050  e  2080).  Os  resultados  do  modelo  global  de  grande  escala  foram  reduzidos  empiricamente  em  termos  de  escala  por  meio  de   uma   interpolação   espacial   “thin   plate   spline”   de   anomalias   de   dados   originais   de   GCM,  

permitindo  uma  comparação  directa  com  a  estrutura  climática  espacial  na  região  da  base  de  dados  WorldClim  (1950-­‐2000).  Prevê-­‐se  que  as  temperaturas  médias  anuais  subam  para  todos  os   cenários   de   emissões   e   para   todos   os   períodos.   As   projecções   variam  entre   0,5-­‐1,4°C   em  2020,   1,4-­‐3,3°C   em   2050,   e   2,1-­‐5,1°C   em   2080.   O   aquecimento   estimado   é   menor   com   o  cenário  de  emissões  B2  e  maior  com  o  cenário  A1B,  embora  o  cenário  A2  seja  o  mais  quente  de  

2080-­‐2100.  Decompondo  o  ano  em  estação  de   repouso  vegetativo   (Nov   -­‐  Mar)  e  estação  de  crescimento  (Abr  -­‐  Out),  verifica-­‐se  um  aquecimento  em  ambos  os  períodos,  embora  se  preveja  que  as  temperaturas  aumentam  mais  durante  o  ciclo  vegetativo  (0,6-­‐6,6°C)  do  que  no  inverno  (0,4-­‐3,2°C)  em  todos  os  cenários  e  períodos.  Durante  o   inverno,  as  projecções  são  levemente  superiores  para  as  temperaturas  mínimas,  enquanto  durante  o  ciclo  vegetativo  se  prevê  que  as  

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temperaturas   máximas   subam   substancialmente   mais   do   que   as   temperaturas   mínimas.  Considerando  os  três  índices  térmicos  de  aptidão  para  a  viticultura  analisados  neste  estudo  –  temperatura  média  no  ciclo  vegetativo  (TMCV),  dias-­‐grau  de  crescimento  ou  Índice  de  Winkler  

(STA)  e   Índice  de  Huglin  (HI)  –  as  projecções  apontam  para  alterações  significativas  em  todos  na   Região   Demarcada   do   Douro.   No   caso   da   TMCV,   estima-­‐se   que   a   região   passe   de   uma  aptidão  climática  em   larga  medida  Temperado  (65%  da  área)  em  1950-­‐2000  para  uma  maior  área   de   aptidão   climática   Quente   em   2020   (43%)   e  mesmo   uma   aptidão  Muito   Quente   em  2050   (36%).   Em   2080,   o   padrão   espacial   da   TMCV   deverá   abranger   19%   da   paisagem   como  

Demasiado  Quente,  54%  Muito  Quente,  25%  Quente  e  menos  de  3%  Frio,  Intermédio  ou  Pouco  Quente.   Ambos   os   índices   STA   e   HI   apresentam   resultados   semelhantes,   com   alterações   de  relevo   em   todas   as   classes   de   aptidão   de   cada   período,   embora   seja   de   esperar   que   as  alterações   no   HI   sejam   de   maior   monta   em   virtude   de   um   maior   aquecimento   nas  temperaturas   máximas   durante   o   ciclo   vegetativo.   Em   2080,   a   área   tida   como   demasiado  

quente  em  STA  (no   Índice  de  Winkler)  aumenta  para  44%,  enquanto  42%  é  projectada  como  Região  V,  12%  como  Região   IV  e  mais  uma  vez  menos  de  3%  como  Região   I  a  Região   III.  Em  termos  de  HI,  as  projecções  mostram  que,  em  2080,  a   região  poderá  potencialmente  ser  em  larga  medida  demasiado  quente  (55%),  restando  30%  de  paisagem  Muito  Quente,  13%  Quente  

e   apenas   2%   Muito   Fria   a   Temperada-­‐Quente.   As   alterações   apresentam   um   padrão   de  aquecimento  que  aumenta  mais  rapidamente  ao  longo  das  secções  principais  da  bacia  fluvial,  depois  no  Douro  Superior  e  em  2080  nas  terras  mais  altas  em  grande  parte  da  região.  

As  alterações  a  nível  da  precipitação  para  a  Região  Demarcada  do  Douro  deverão  ser  relativamente  reduzidas  a  moderadamente  elevadas,  em  função  do  cenário  e  do  período.  No  que  toca  a  precipitação  média  anual,  as  alterações  previstas  são  próximas  de  zero  ou  com  um  decréscimo  até  21,6%  no  cenário  A1B  em  2080.  Não  se  estima  que  a  precipitação  no  inverno  se  

altere  muito,  podendo  mesmo  aumentar  em  alguns  cenários.  O  cenário  B2  estima  aumentos  de   precipitação  no   inverno  na   ordem  dos   15-­‐17%  em  2080,   enquanto  os   cenários  A1B   e  A2  mostram   ligeiras   descidas   ao   longo   dos   vários   períodos.   A   maior   parte   das   alterações   na  precipitação   deverá   ocorrer   durante   o   ciclo   vegetativo,   estando   projectadas   descidas   de   10-­‐42%  em  2080.  Espacialmente  ao  longo  da  Região  Demarcada  do  Douro,  as  alterações  previstas  

ao   nível   da   precipitação   no   ciclo   vegetativo   mostram   que   o   já   de   si   verão   seco   no   Douro  Superior   tenderá   a   ver   ainda   mais   reforçada   essa   tendência,   enquanto   se   registará   um  decréscimo  moderado  da  precipitação  no  verão  generalizado  em  toda  a  região.  

As  projecções  futuras  para  o  clima  na  região  com  base  nesta  análise  estão  genericamente  em   sintonia   com   outros   estudos   envolvendo   a   Europa,   a   Península   Ibérica   e   Portugal.   Em  estudos   anteriores,   Castro   et   al.   (2005)   definiram   uma   escala   de   certeza   para   as   alterações  

projectadas   (de  1  a  10,  com  grau  de  certeza  decrescente)  para  a  Península   Ibérica  que  é  em  larga  medida  suportada  por  esta  análise  regional  para  a  Região  Demarcada  do  Douro:  

1. Uma   tendência   progressiva   para   um   aumento   das   temperaturas  médias   ao   longo   do  século  XXI.  

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2. Uma   tendência   para   um   aquecimento  mais   pronunciado   nos   cenários   com   emissões  mais  elevadas.  

3. Aumentos  nas  temperaturas  médias  mais  significativos  no  verão  do  que  no  inverno.  4. Um  aquecimento  no  verão  com  mais  expressão  no  interior  do  que  junto  à  costa.  5. Uma  tendência  generalizada  para  uma  menor  precipitação  acumulada  anual.  6. Uma  maior  amplitude  e  frequência  de  anomalias  na  temperatura  mensal.  7. Uma  maior  frequência  de  dias  com  extremos  de  temperaturas  máximas,  especialmente  

no  verão.  8. No  último  terço  do  século  XXI,  estima-­‐se  uma  maior  redução  na  precipitação  nos  meses  

de  primavera.  9. Projecções  globais  de  aumento  de  precipitação  na  parte  oeste  da  Península  Ibérica  no  

inverno.  10. As  projecções  ao  nível  da  precipitação  tendem  a  ser  mais  significativas  nos  cenários  de  

emissões  mais  elevadas.  

As  regiões  vinícolas  desenvolveram-­‐se  de  modo  a  melhor  se  adaptarem  às  suas  condições  ambientais   regionais,   permitindo   uma   maturação   genericamente   consistente   das   castas  

identificadas  como  as  mais  apropriadas  às  regiões.  Uma  vez  que  a  estrutura  geral  do  clima  nas  regiões  determina  a  aptidão,  e  a  variabilidade  climática   influencia   fortemente  a  produção  de  ano  para  ano  e  as  variações  na  qualidade,  a  taxa  e  magnitude  das  alterações  climáticas  futuras  projectadas   deverão   ter   inúmeros   impactos   potenciais   na   indústria   vinícola   (Bisson   et   al.,  2002).   Aqui   se   incluem   uma  maior   pressão   sobre   recursos   hídricos   cada   vez  mais   escassos,  

novas   alterações   ao   nível   da   evolução   dos   estados   fenológicos   da   videira,   perturbação   ou  alteração   do   equilíbrio   ao   nível   da   composição   das   uvas   e   dos   vinhos,   necessidades  regionalmente  específicas  de  mudar  os  tipos  de  castas  cultivados,  inevitáveis  mudanças  no  tipo  dos   vinhos   à   escala   regional   e   alterações   de   ordem   espacial   em   regiões   vitícolas   com  viabilidade  (Jones  et  al.,  2005).  Se  bem  que  este  estudo  não  tenha  incluído  uma  análise  directa  

dos   efeitos   do   CO2,   Gonçalves   et   al.   (2009)   não   registaram   quaisquer   efeitos   negativos   na  qualidade   das   uvas   e   respectivo   vinho;   ainda   assim,   é   necessário  muito  mais   trabalho   nesta  área.  Numa  análise  aos  efeitos  das  alterações  climáticas  na  produção  e  qualidade  dos  vinhos,  de   Orduña   (2010)   conclui   que   os   problemas   a   merecer   mais   atenção   são   a   antecipação   da  época   de   vindima   e   das   temperaturas,  maiores   concentrações   de   açúcar   na   uva   que   geram  

teores   de   álcool   elevados   nos   vinhos,   uma  menor   acidez   e  modificações   na   composição  dos  aromas   varietais.   Anderson   et   al.   (2008)   concretizam,   afirmando   que,   embora   a   indústria  vinícola  seja  particularmente  sensível  a  variações  e  alterações  ao  nível  do  clima,  evidencia  um  elevado   nível   de   adaptabilidade.   No   entanto,   desenvolver   mecanismos   de   adaptação  

adequados  ao  nível  da  videira,  da  vinha,  da  adega  e  do  consumidor   levará  tempo  e   implicará  um  investimento  significativo  em  investigação  e  desenvolvimento.  

A  Região  Demarcada  do  Douro  é  rica  em  paisagem  e  vegetação  com  características  que  poderão  ajudar  a  atenuar  os  efeitos  perniciosos  de  um  clima  em  mudança.  Em  primeiro  lugar,  a  geomorfologia  e  o  relevo  da  região  contribuem  para  múltiplas  situações  de  meso  e  microclima  que  poderão  potenciar  estratégias  de  adaptação  espacial.  A  tal  acresce  o  facto  de  a  paisagem  dotar   os   viticultores   de   opções   de   cultivo   que   permitem   gerir   a   dimensão   ecofisiológica   do  

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meio.  Um  aspecto  muito  importante  será  a  forma  como  os  viticultores  conseguirão  adaptar  a  paisagem   e   as   vinhas   de  modo   a   ajudar   ao   equilíbrio   global   da   actividade   fotossintética   da  videira  e  da  perda  de  água  por  transpiração.  Um  factor  altamente  significativo  na  gestão  das  

mudanças  que  poderão  ser  necessárias   face  às  alterações  climáticas  é  o  património  genético  do  material  vegetativo,  particularmente  as  castas  e  seu  rendimento  enológico  (Almeida,  1998).  Embora   as   características   gerais   e   a   capacidade   de   resistência   à   secura   dos   porta-­‐enxertos  tenham  sido  estudadas  (Alves  e  Magalhães,  2001;  Sousa  et  al.,  1998),  é  acima  de  tudo  no  vasto  património   de   castas   cultivadas   na   Região   Demarcada   do   Douro   que   residirão   algumas   das  

ferramentas   com   maior   potencial   para   o   viticultor,   seja   através   das   diferentes   exigências  térmicas  das   castas  e  da  elasticidade  do   seu  comportamento   fenológico   (Lopes  et  al.,   2007),  seja  através  das  suas  diferentes  respostas   fisiológicas   (Brito  et  al.,  2004;  Moutinho-­‐Pereira  et  al.,  2007).  

Face  à  incerteza  quanto  à  taxa  e  magnitude  exactas  das  alterações  climáticas  no  futuro,  seria   de   todo  o   interesse   para   a   Região  Demarcada  do  Douro   continuar   a   analisar   de   forma  

proactiva  os   impactos,   investir  numa  boa  actividade  viveirista  de   investigação  genética,  estar  preparada  para  adoptar  estratégias  de  adaptação  apropriadas,  estar  aberta  a  alterar  as  castas  e  práticas  de  gestão  ou  controlo,  ou  mitigar  as  diferenças  na  qualidade  do  vinho  mediante  o  desenvolvimento   de   novas   tecnologias.   Munida   de   uma   abordagem   sólida   sustentável   das  condições  atuais,  a  região  estará  melhor  preparada  para  optimizar  os  recursos  disponíveis  de  

modo   a   garantir   uma   viticultura   ambientalmente   responsável   (Malavolta   e   Boller,   1999).   Ao  adoptar   abordagens   sustentáveis   e   uma   atitude   inovadora   transversal   a   todo   o   sistema   de  produção,   a   região   irá   indubitavelmente   reduzir   a   sua   vulnerabilidade   e   aumentar   a   sua  capacidade  adaptativa  perante  um  clima  em  mudança.  

AGRADECIMENTOS  Este  estudo  foi  possível  graças  ao  financiamento  e  apoio  técnico  da  ADVID  (Associação  para  o  Desenvolvimento   da   Viticultura   Duriense).   O   trabalho   desenvolvido   pela   ADVID   junto   dos  

produtores   e   viticultores   na  Região  Demarcada  do  Douro  desde  1982   tem   sido   fundamental  para   o   desenvolvimento   de   iniciativas   de   análise   que   possibilitem   um  melhor   entendimento  dos  problemas  e  potencial  da  região,  promovendo  estratégias  para  a  indústria  no  sentido  de  a  tornar   mais   sustentável   e   economicamente   viável.   Endereço   um   agradecimento   especial   ao  Eng.º   Fernando   Alves   da   ADVID,   a   quem   coube   muito   do   trabalho   inicial   com   os   dados  

climáticos  históricos  e  que  prestou  apoio  técnico  ao  longo  do  projecto.  Agradeço  ainda  aos  Dr.  Marco   Moriondo   e   Dr.   Roberto   Ferrise   da   Universidade   de   Florença,   em   Itália,   pela   sua  contribuição  no  que  toca  aos  cenários  climáticos  futuros,  e  aos  Dr.  João  Santos  e  Dr.  Aureliano  Malheiro  da  Universidade  de  Trás-­‐os-­‐Montes  e  Alto  Douro  pelas  actualizações  em  termos  de  

padrões  meteorológicos  e  resultados  do  ESEMBLES  regional.  Finalmente,  este  estudo  não  teria  sido  possível  sem  a  visão  e  confiança  do  Dr.  António  Graça,  que  me  trouxe  até  este  projecto  e  esta  região.  

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91

Page 96: Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma ...

apêndice

Page 97: Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma ...

   

 Apê

ndice  –  Figura  1:  P

recipitação  de

 inverno  (Novem

bro  a  Março)  p

ara  a  Re

gião

 Dem

arcada

 do  Dou

ro.  A

 linh

a  supe

rior  apresen

ta  as  cond

içõe

s  históricas  duran

te  195

0-­‐20

00,  com

 as  linha

s  seguintes  a  

represen

tarem  os  cená

rios  de  em

issões  B2,  A1B

 e  A2  SR

ES  para  três  período

s  futuros  (202

0,  205

0  e  20

80).  As  tabe

las  ap

resentam

 os  valores  de

 med

iana

 nas  três  sub-­‐regiõe

s  (Baixo  Corgo,  C

ima  Co

rgo  

e  Dou

ro  Sup

erior)  e  as  alterações  previstas  em  percentagem

 tend

o  po

r  ba

se  o  período

 195

0-­‐20

00.  Fon

te:  B

ase  de

 dad

os  W

orldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  200

5).  

Page 98: Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma ...

   

 Apêndice  –  Figura  2:  Precipitação  no  ciclo  vegetativo  (abril  a  outubro)  para  a  Região  D

emarcada  do  D

ouro.  A  linha  superior  apresenta  as  condições  históricas  durante  1950-­‐2000,  com

 as  linhas  

seguintes  a  representarem  os  cenários  de  em

issões  B2,  A1B  e  A

2  SRES  para  três  períodos  futuros  (2020,  2050  e  2080).  As  tabelas  apresentam

 os  valores  de  mediana  nas  três  sub-­‐regiões  (Baixo  Corgo,  

Cima  Corgo  e  D

ouro  Superior)  e  as  alterações  previstas  em  percentagem

 tendo  por  base  o  período  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  WorldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  2005).  

Page 99: Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma ...

   

 Apê

ndice  –  Figura  3:  T

empe

raturas  máxim

as  m

édias  no

 ciclo  vegetativo  (abril  a  ou

tubro)  para  a  Re

gião

 Dem

arcada

 do  Dou

ro.  A

 linh

a  supe

rior  apresen

ta  as  cond

içõe

s  históricas  duran

te  195

0-­‐20

00,  

com  as  linha

s  seguintes  a  represen

tarem  os  cená

rios  de  em

issões  B2,  A1B

 e  A2  SR

ES  para  três  período

s  futuros  (202

0,  205

0  e  20

80).  As  tabe

las  ap

resentam

 os  valores  de

 med

iana

 nas  três  sub-­‐regiõe

s  

(Baixo  Corgo,  C

ima  Co

rgo  e  Dou

ro  Sup

erior)  e  as  alterações  previstas  em  °C  tend

o  po

r  ba

se  o  período

 195

0-­‐20

00.  Fon

te:  B

ase  de

 dad

os  W

orldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  200

5).  

Page 100: Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma ...

   

 Apêndice  –  Figura  4:  Tem

peraturas  mínim

as  médias  no  ciclo  vegetativo  (abril  a  outubro)  para  a  Região  D

emarcada  do  D

ouro.  A  linha  superior  apresenta  as  condições  históricas  durante  1950-­‐2000,  

com  as  linhas  seguintes  a  representarem

 os  cenários  de  emissões  B2,  A

1B  e  A2  SRES  para  três  períodos  futuros  (2020,  2050  e  2080).  A

s  tabelas  apresentam  os  valores  de  m

ediana  nas  três  sub-­‐regiões  

(Baixo  Corgo,  Cima  Corgo  e  D

ouro  Superior)  e  as  alterações  previstas  em  °C  tendo  por  base  o  período  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  W

orldClim  (H

ijmans  et  al.,  2005).  

Page 101: Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma ...

   

 Apê

ndice  –  Figura  5:  T

empe

raturas  máxim

as  m

édias  no

 inverno  (Novem

bro  a  Março)  p

ara  a  Re

gião

 Dem

arcada

 do  Dou

ro.  A

 linh

a  supe

rior  apresen

ta  as  cond

içõe

s  históricas  duran

te  195

0-­‐20

00,  com

 

as  linh

as  seguintes  a  rep

resentarem

 os  cená

rios  de  em

issões  B2,  A1B

 e  A2  SR

ES  para  três  período

s  futuros  (202

0,  205

0  e  20

80).  As  tabe

las  ap

resentam

 os  valores  de

 med

iana

 nas  três  sub-­‐regiõe

s  

(Baixo  Corgo,  C

ima  Co

rgo  e  Dou

ro  Sup

erior)  e  as  alterações  previstas  em  °C  tend

o  po

r  ba

se  o  período

 195

0-­‐20

00.  Fon

te:  B

ase  de

 dad

os  W

orldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  200

5).  

Page 102: Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma ...

   

 Apêndice  –  Figura  6:  Tem

peraturas  mínim

as  médias  no  inverno  (N

ovembro  a  M

arço)  para  a  Região  Dem

arcada  do  Douro.  A

 linha  superior  apresenta  as  condições  históricas  durante  1950-­‐2000,  com  

as  linhas  seguintes  a  representarem  os  cenários  de  em

issões  B2,  A1B  e  A

2  SRES  para  três  períodos  futuros  (2020,  2050  e  2080).  As  tabelas  apresentam

 os  valores  de  mediana  nas  três  sub-­‐regiões  

(Baixo  Corgo,  Cima  Corgo  e  D

ouro  Superior)  e  as  alterações  previstas  em  °C  tendo  por  base  o  período  1950-­‐2000.  Fonte:  Base  de  dados  W

orldClim  (H

ijmans  et  al.,  2005).  

Page 103: Uma Avaliação do Clima para a Região Demarcada do Douro: Uma ...

   Apê

ndice  –  Tabe

la  1:  E

statística  de  qu

artis  pa

ra  a  precipitação  an

ual,  precipitação

 no  inverno  (Novem

bro  a  Março),  precipitação

 no  ciclo  vegetativo  (ab

ril-­‐o

utub

ro)  e  tempe

raturas  méd

ias  

anua

is  para  as  três  sub-­‐regiõe

s  da

 Região  Dem

arcada

 do  Dou

ro.  O

s  valores  represen

tam  a  estatística  espacial  d

e  cada

 variável:  mínim

o  ab

soluto,  2

5%,  m

ediana

,  75%

 e  m

áxim

o  ab

soluto.  

Fonte:  Base  de

 dad

os  W

orldClim

 (Hijm

ans  et  al.,  200

5).  

Precipitação

 no  inverno  

Região

 Mínim

o  (m

m)  

25%  (m

m)  

Med

iana

 (mm)  

75%  (m

m)  

Máxim

o  (m

m)  

Baixo  Co

rgo  

607  

726  

774  

829  

1035

 Cima  Co

rgo  

486  

599  

661  

703  

849  

Dou

ro  Sup

erior  

395  

484  

524  

587  

719  

Precipitação

 no  ciclo  vegetativo

 Re

gião

 Mínim

o  (m

m)  

25%  (m

m)  

Med

iana

 (mm)  

75%  (m

m)  

Máxim

o  (m

m)  

Baixo  Co

rgo  

363  

424  

448  

479  

608  

Cima  Co

rgo  

299  

355  

386  

408  

485  

Dou

ro  Sup

erior  

249  

298  

317  

350  

421  

Tempe

ratura  m

áxim

a  no

 ciclo  vegetativo  

Região

 Mínim

o  (m

m)  

25%  (m

m)  

Med

iana

 (mm)  

75%  (m

m)  

Máxim

o  (m

m)  

Baixo  Co

rgo  

16,8  

22,8  

23,8  

24,2  

25,1  

Cima  Co

rgo  

20,2  

22,8  

23,7  

24,5  

25,9  

Dou

ro  Sup

erior  

21,3  

23,2  

24,0  

24,8  

26,0  

Tempe

ratura  m

ínim

a  no

 ciclo  vegetativo  

Região

 Mínim

o  (m

m)  

25%  (m

m)  

Med

iana

 (mm)  

75%  (m

m)  

Máxim

o  (m

m)  

Baixo  Co

rgo  

7,6  

10,7  

11,4  

11,9  

13,3  

Cima  Co

rgo  

9,7  

10,8  

11,4  

12,0  

13,5  

Dou

ro  Sup

erior  

9,9  

11,1  

11,9  

12,4  

13,5  

Tempe

ratura  m

áxim

a  no

 inverno  

Região

 Mínim

o  (m

m)  

25%  (m

m)  

Med

iana

 (mm)  

75%  (m

m)  

Máxim

o  (m

m)  

Baixo  Co

rgo  

7,0  

11,7  

12,6  

13,2  

14,8  

Cima  Co

rgo  

9,0  

11,1  

11,9  

12,7  

14,4  

Dou

ro  Sup

erior  

9,5  

11,2  

12,0  

12,8  

14,1  

Tempe

ratura  m

ínim

a  no

 inverno  

Região

 Mínim

o  (°C)  

25%  (°C)  

Med

iana

 (°C)  

75%  (°C)  

Máxim

o  (°C)  

Baixo  Co

rgo  

0,5  

3,5  

4,2  

4,7  

6,2  

Cima  Co

rgo  

2,0  

3,2  

3,7  

4,3  

5,9  

Dou

ro  Sup

erior  

1,9  

3,2  

3,9  

4,5  

5,6  

 

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Índices  de  alterações  climáticas    Definições  completas  dos  27  índices  básicos  usados  da  CCl/CLIVAR/JCOMM  Expert  Team  (ET)  on  Climate  Change  Detection  and  Indices  (ETCCDI)    1.  FD,  Número  de  dias  com  geada:  Contabilização  anual  de  dias  em  que  TN  (temperatura  mínima  diária)  <  0°C.  TNij  será  a  temperatura  mínima  diária  no  dia  i  no  ano  j.  Contabilização  do  número  de  dias  segundo:  TNij  <  0°C.    2.  SU,  Número  de  dias  de  verão:  Contabilização  anual  de  dias  em  que  TX  (temperatura  máxima  diária)  >  25°C.  TXij  será  a  temperatura  máxima  diária  no  dia  i  no  ano  j.  Contabilização  do  número  de  dias  segundo:  TXij  >  25°C.    3.  ID,  Número  de  dias  com  gelo:  Contabilização  anual  de  dias  em  que  TX  (temperatura  máxima  diária)  <  0°C.  TXij  será  a  temperatura  máxima  diária  no  dia  i  no  ano  j.  Contabilização  do  número  de  dias  segundo:  TXij  <  0°C.    4.  TR,  Número  de  noites  tropicais:  Contabilização  anual  de  dias  em  que  TN  (temperatura  mínima  diária)  >  20°C.  TNij  será  a  temperatura  mínima  diária  no  dia  i  no  ano  j.  Contabilização  do  número  de  dias  segundo:  TNij  >  20°C.    5.  GSL,  Duração  do  ciclo  vegetativo:  Contabilização  anual  (1  de  janeiro  a  31  de  dezembro  no  Hemisfério  Norte  (NH),  1  de  julho  a  30  de  de  junho  no  Hemisfério  Sul  (SH))  entre  o  primeiro  intervalo  de  pelo  menos  6  dias  com  temperatura  média  diária  TG>5°C  e  primeiro  intervalo  após  1  de  julho  (1  de  janeiro  no  SH)  de  6  dias  com  TG<5°C.  TGij  será  a  temperatura  média  diária  no  dia  i  no  ano  j.  Contabilização  do  número  de  dias  entre  a  primeira  ocorrência  de  pelo  menos  6  dias  consecutivos  com:  TGij  >  5°C  e  a  primeira  ocorrência  após  1  de  julho  (1  de  janeiro  no  SH)  de  pelo  menos  6  dias  consecutivos  com:  TGij  <  5°C.    6.  TXx,  Valor  máximo  mensal  da  temperatura  máxima  diária:  TXx  será  as  temperaturas  máximas  diárias  no  mês  k,  período  j.  A  temperatura  máxima  diária  máxima  de  cada  mês  será  então:  TXxkj=max(TXxkj)    7.  TNx,  Valor  máximo  mensal  da  temperatura  mínima  diária:  TNx  será  as  temperaturas  mínimas  diárias  no  mês  k,  período  j.  A  temperatura  mínima  diária  máxima  de  cada  mês  será  então:  TNxkj=max(TNxkj)    8.  TXn,  Valor  mínimo  mensal  da  temperatura  máxima  diária:  TXn  será  as  temperaturas  máximas  diárias  no  mês  k,  período  j.  A  temperatura  máxima  diária  mínima  de  cada  mês  será  então:  TXnkj=min(TXnkj)    9.  TNn,  Valor  mínimo  mensal  da  temperatura  mínima  diária:  TNn  será  as  temperaturas  mínimas  diárias  no  mês  k,  período  j.  A  temperatura  mínima  diária  mínima  de  cada  mês  será  então:  TNnkj=min(TNnkj)    10.  TN10p,  Percentagem  de  dias  em  que  TN  <  percentil  10:  TNij  será  a  temperatura  mínima  diária  no  dia  i  do  período  j  e  TNin10  o  percentil  10  de  dia  civil  centrado  numa  janela  temporal  de  5  dias  para  o  período  base  1961-­‐1990.  A  percentagem  de  tempo  para  o  período  base  é  determinada  segundo:  TNij  <  TNin10    11.  TX10p,  Percentagem  de  dias  em  que  TX  <  percentil  10:  TXij  será  a  temperatura  máxima  diária  no  dia  i  do  período  j  e  TXin10  o  percentil  10  de  dia  civil  centrado  numa  janela  temporal  de  5  dias  para  o  período  base  1961-­‐1990.  A  percentagem  de  tempo  para  o  período  base  é  determinada  segundo:  TXij  <  TXin10    12.  TN90p,  Percentagem  de  dias  em  que  TN  >  percentil  90:  TNij  será  a  temperatura  mínima  diária  no  dia  i  do  período  j  e  TNin90  o  percentil  90  de  dia  civil  centrado  numa  janela  temporal  de  5  dias  para  o  período  base  1961-­‐1990.  A  percentagem  de  tempo  para  o  período  base  é  determinada  segundo:  TNij  >  TNin90    13.  TX90p,  Percentagem  de  dias  em  que  TX  >  percentil  90:  

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TXij  será  a  temperatura  máxima  diária  no  dia  i  do  período  j  e  TXin90  o  percentil  90  de  dia  civil  centrado  numa  janela  temporal  de  5  dias  para  o  período  base  1961-­‐1990.  A  percentagem  de  tempo  para  o  período  base  é  determinada  segundo:  TXij  >  TXin90    14.  WSDI,  Índice  de  duração  de  onda  de  calor:  Contabilização  anual  de  dias  com  pelo  menos  6  dias  consecutivos  em  que  TX  >  percentil  90.  TXij  será  a  temperatura  máxima  diária  no  dia  i  do  período  j  e  TXin90  o  percentil  90  de  dia  civil  centrado  numa  janela  temporal  de  5  dias  para  o  período  base  1961-­‐1990.  Então  o  número  de  dias  por  período  é  somado  segundo,  em  intervalos  de  pelo  menos  6  dias  consecutivos:  TXij  >  TXin90    15.  CSDI,  Índice  de  duração  de  onda  de  frio:  Contabilização  anual  de  dias  com  pelo  menos  6  dias  consecutivos  em  que  TN  <  percentil  10.  TNij  será  a  temperatura  máxima  diária  no  dia  i  do  período  j  e  TNin10  o  percentil  10  de  dia  civil  centrado  numa  janela  temporal  de  5  dias  para  o  período  base  1961-­‐1990.  Então  o  número  de  dias  por  período  é  somado  segundo,  em  intervalos  de  pelo  menos  6  dias  consecutivos:  TNij  <  TNin10    16.  DTR,  Amplitude  térmica  diária:  Diferença  média  mensal  entre  TX  e  TN.  TXij  e  TNij  serão  respetivamente  a  temperatura  máxima  e  mínima  diária  no  dia  i  no  período  j.  Representando  i  o  número  de  dias  em  j,  então:  

 17.  Rx1dia,  Precipitação  máxima  mensal  em  1  dia:  RRij  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  no  dia  i  no  período  j.  Os  valores  máximos  de  1  dia  para  o  período  j  são:  Rx1diaj  =  max  (RRij)    18.  Rx5dias,  Precipitação  máxima  mensal  em  5  dias  consecutivos:  RRkj  será  a  quantidade  de  precipitação  para  o  intervalo  de  5  dias  terminado  em  k,  período  j.  Os  valores  máximos  de  5  dias  para  o  período  j  são:  Rx5diasj  =  max  (RRkj)    19.  SDII,  Índice  de  intensidade  de  precipitação  simples:  RRwj  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  nos  dias  húmidos,  w  (RR  ≥  1mm)  no  período  j.  Representando  W  o  número  de  dias  húmidos  em  j,  então:  

 20.  R10mm  Contabilização  anual  de  dias  em  que  PRCP≥  10mm:  RRij  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  no  dia  i  no  período  j.  Contabilização  do  número  de  dias  segundo:  RRij  ≥  10mm    21.  R20mm  Contabilização  anual  de  dias  em  que  PRCP≥  20mm:  RRij  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  no  dia  i  no  período  j.  Contabilização  do  número  de  dias  segundo:  RRij  ≥  20mm    22.  Rnnmm  Contabilização  anual  de  dias  em  que  PRCP≥  nnmm,  sendo  nn  um  limiar  definido  pelo  utilizador:  RRij  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  no  dia  i  no  período  j.  Contabilização  do  número  de  dias  segundo:  RRij  ≥  nnmm    23  CDD.  Duração  máxima  de  período  de  seca,  número  máximo  de  dias  consecutivos  com  RR  <  1mm:  RRij  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  no  dia  i  no  período  j.  Contabilização  do  maior  número  de  dias  consecutivos  segundo:  RRij  <  1mm    24  CWD.  Duração  máxima  de  período  de  precipitação,  número  máximo  de  dias  consecutivos  com  RR  ≥  1mm:  RRij  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  no  dia  i  no  período  j.  Contabilização  do  maior  número  de  dias  consecutivos  segundo:  RRij  ≥  1mm    

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25.  R95pTOT.  PRCP  anual  total  RR  >  p.  95.  RRwj  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  num  dia  húmido  w  (RR  ≥  1,0mm)  no  período  i  e  RRwn95  será  o  percentil  95  de  precipitação  em  dias  húmidos  no  período  1961-­‐1990.  Representando  W  o  número  de  dias  húmidos  no  período,  então:  

 26.  R99pTOT.  PRCP  anual  total  em  que  RR  >  p.  99.  RRwj  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  num  dia  húmido  w  (RR  ≥  1,0mm)  no  período  i  e  RRwn99  será  o  percentil  99  de  precipitação  em  dias  húmidos  no  período  1961-­‐1990.  Representando  W  o  número  de  dias  húmidos  no  período,  então:  

 27.  PRCPTOT.  Precipitação  anual  total  em  dias  húmidos:  RRij  será  a  quantidade  de  precipitação  diária  no  dia  i  no  período  j.  Representando  i  o  número  de  dias  em  j,  então:  

   

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