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FRANCESCO BORDIGNON UMA ANÁLISE DA METODOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CERÂMICA: COMPARAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MONOQUEIMA NA ITÁLIA E NO BRASIL Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Engenharia. São Paulo 2007

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FRANCESCO BORDIGNON

UMA ANÁLISE DA METODOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CERÂMICA: COMPARAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MONOQUEIMA

NA ITÁLIA E NO BRASIL

Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Engenharia.

São Paulo 2007

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FRANCESCO BORDIGNON

UMA ANÁLISE DA METODOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CERÂMICA: COMPARAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MONOQUEIMA

NA ITÁLIA E NO BRASIL

Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Engenharia.

Área de Concentração: Engenharia Naval

Orientador: Prof. Dr. Paulo Carlos Kaminski

São Paulo 2007

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A Sandra, esposa, amiga, companheira, cúmplice,

minha vida.

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AGRADECIMENTOS

O mais profundo agradecimento ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Carlos

Kaminski, pelo grande exemplo de seriedade, profissionalismo, honestidade e

competência; pela paciência, pelo constante encorajamento, pela ajuda profissional

e pela amizade.

Agradecimentos, também, à minha esposa, Sandra, por ter, sempre e

incondicionalmente, acreditado em minhas escolhas.

A meu pai, pelo apoio.

Ao Sr. Silvério Maffei, meu amigo e mentor no mundo da cerâmica.

Aos Professores Carlo Palmonari (ad memoriam) e Giorgio Timellini, do Centro

Ceramico de Bologna, pela atenção, aconselhamento, ajuda e disponibilidade.

Aos Professores Nilton Nunes Toledo, Marcelo Ramos Martins, Marcelo

Massarani, pelas sugestões e pelas críticas.

Ao Prof. Dr. Cláudio Possani, pelo encorajamento e pela amizade.

Ao pessoal da Secretaria de pós-graduação da Naval e da Secretaria automotiva

pelo suporte.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização

deste trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho se propõe a analisar as marcantes diferenças entre os

mercados italiano e brasileiro de cerâmica para revestimento. Desde os anos 60,

marco de início da produção industrial moderna de pisos e azulejos, a Itália assumiu

a liderança e o Brasil ocupou o terceiro lugar; apenas recentemente a China assumiu

a liderança absoluta, como produtor, porém não tem ainda forte expressão como

exportador. O estudo visa a melhorar a compreensão das causas geradoras de tais

diversidades, a verificar a sua persistência e a estimular uma reflexão dos

produtores nacionais a respeito da evidente necessidade de uma profunda

reestruturação do setor, buscando recuperar competitividade através da

modernização tecnológica e, principalmente, dos sistemas de gestão estratégica.

Inicialmente é descrito o que é um produto cerâmico, como é classificado e o estado

atual das normas; é fornecida uma imagem geral do mercado mundial, expondo a

distribuição de produção e consumo, detalhando as realidades italiana e brasileira,

com dados atualizados. Em seguida, é analisado o processo de monoqueima,

identificando as diferenças entre os dois países. Finalmente, uma análise das

estratégias adotadas identifica as causas históricas da situação atual. Verifica-se a

subsistência das motivações que justificam as escolhas tecnológicas, gerando uma

lista de recomendações, base para futuras pesquisas sobre a viabilidade de adequar

o Brasil, para recuperar competitividade e abrir novos espaços de mercado.

Palavras chave: Cerâmica (Produção). Pisos. Azulejos. Planejamento estratégico.

Administração da produção.

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ABSTRACT

The present work intends to analyze the outstanding differences between the Italian

and the Brazilian ceramic tile markets. Since the sixties, “square one” of the modern

ceramic tile industrial production, Italy took on the leadership and Brazil the third

place; just recently China took on the absolute leadership as a producer, but still do

not have strong expression as an exporter. This study aims at improving the

comprehension of the causes that generate these differences, verifying their current

persistency and stimulating a reflexion by the national producers about the clear

need of a deep business field restructuration, searching for competitivity recuperation

through technological and, mainly, strategic management system modernization. In

the beginning there are a description of a ceramic product, its classification and a

survey of the Standards state of the art. A general view of the world market is also

supplied, exposing production and sale distribution and detailing the Italian and

Brazilian realities, using up-to-date data. Following, the single-firing process is

precisely analyzed, identifying the differences between the two countries. Finally, an

analysis of the adopted strategies identifies the historical causes of the present

situation. It’s verified the subsistence of the reasons that support the technological

choices, creating a list of observations, base for future researches about the viability

to up-date the Brazil ceramic reality, to generate higher competitiveness and open

new market spaces.

Keywords: Ceramic (Production). Ceramic tiles. Strategic Planning. Production

management.

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LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Classificação de produtos cerâmicos pela Norma ISO 13006 ........... 11

Tabela 2 - Relação entre tipo de produto e classificação da Norma ISO 13006 . 11

Tabela 3 - Classificação de produtos cerâmicos pela Norma ANSI A 137.1 ...... 12

Tabela 4 - Classificação dos produtos cerâmicos em função das

denominações técnico-comerciais ..................................................... 15

Tabela 5 - Características técnicas dos produtos cerâmicos conforme a Norma

ISO 13006 .......................................................................................... 16

Tabela 6 - Normas técnicas aplicáveis ................................................................ 17

Tabela 7 - Sistemas de certificação .................................................................... 17

Tabela 8 - Produção mundial na década 1990-2000 e em 2001, dividida por

áreas geográficas ............................................................................... 20

Tabela 9 - Fluxo de exportações ......................................................................... 20

Tabela 10 - Consumo mundial de produtos cerâmicos em 2004 .......................... 22

Tabela 11 - Distribuição da produção italiana por tipologia de produto ................ 23

Tabela 12 - Volume e variação de vendas da produção italiana por destino ........ 24

Tabela 13 - Distribuição da produção brasileira por tipologia de produto ............. 25

Tabela 14 - Mercados de destino das exportações brasileiras ............................. 25

Tabela 15 - Preço unitário dos produtos cerâmicos (US$ FOB/t) ......................... 30

Tabela 16 - Resumo comparativo dos dados de produção e venda – ano 2004 .. 32

Tabela 17 - Custos totais de fabricação no mercado italiano ................................ 49

Tabela 18 - Composição de custos de produção no mercado italiano .................. 50

Tabela 19 - Resumo das características tecnológicas .......................................... 51

Tabela 20 - Situação normativa atual .................................................................... 52

Tabela 21 - Principais dados de mercado ............................................................. 53

Tabela 22 - Principais características tecnológicas ............................................... 54

Tabela 23 - Matriz de presença de atores e áreas de atuação ............................. 59

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização dos pólos cerâmicos ....................................................... 32

Figura 2 - Fluxograma do processo genérico de produção de monoqueima ...... 36

Figura 3 - Fluxograma do processo de produção de monoqueima na Itália ....... 43

Figura 4 - Fluxograma do processo de produção de monoqueima no Brasil ...... 47

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANFACER Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para

Revestimento

ANSI American National Standard Institute

APL Arranjo Produtivo Local

ASPACER Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento

ASSOPIASTRELLE Associazione Nazionale dei produttori di piastrelle di

ceramica e di materiali refrattari

ASTM American Society for Testing Materials

EU European Union

EUA Estados Unidos da América

FOB Free On Bord (Incoterms)

IPC Índice de preços ao consumidor

ISO International Organization for Standardization

NAFTA North American Free Trade Agreement

UNI Ente Nazionale Italiano di Unificazione

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LISTA DE SÍMBOLOS

AA absorção de água

a. C. antes de Cristo

Cd Cádmio (elemento)

cm centímetro

°C Grau Célsius

CO2 dióxido de carbono

g grama

GN gás natural

Hg mercurio (elemento)

kg kilograma

m metro

Mm2 milhões de metros quadrados

min minuto

mm milímetro

N Newton

Nm3 metro cúbico em condições normais (760 mmHg e 15 °C)

Pa Pascal

Pb Chumbo (elemento)

t tonelada

US$ Dólar dos Estados Unidos

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1. Objetivos do trabalho ................................................................................... 1

1.2. Revisão bibliográfica .................................................................................... 1

1.3. Abrangência e limites do projeto .................................................................. 2

1.4. Estrutura do trabalho ................................................................................... 2

1.5. O produto cerâmico ...................................................................................... 3

2. CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CERÂMICOS .......................................... 7

2.1. Normas Aplicáveis ....................................................................................... 10

2.2. Síntese ......................................................................................................... 17

3. O MERCADO CERÂMICO .................................................................................. 19

3.1. O mercado mundial ...................................................................................... 19

3.2. O mercado italiano ....................................................................................... 22

3.3. O mercado brasileiro .................................................................................... 24

3.4. Síntese ......................................................................................................... 30

4. O PROCESSO DE PRODUÇÃO ........................................................................ 33

4.1. O processo geral de monoqueima ............................................................... 33

4.2. A produção de monoqueima na Itália .......................................................... 42

4.3. A produção de monoqueima no Brasil ......................................................... 45

4.4. Aspectos ambientais .................................................................................... 48

4.5. Aspectos econômicos .................................................................................. 48

4.6. Síntese ......................................................................................................... 50

5. ANÁLISE COMPARATIVA E RECOMENDAÇÕES ............................................ 52

5.1. Análise comparativa ..................................................................................... 52

5.2. Recomendações .......................................................................................... 56

6. CONCLUSÕES ................................................................................................... 60

7. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 62

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Objetivos do trabalho

A presente dissertação se propõe analisar, de forma ampla e atualizada, o setor de

produção de cerâmica para revestimento na Itália e no Brasil. O foco principal do

trabalho são os aspectos normativo, de mercado, tecnológico e estratégico.

Verificando a existência de grandes diferenças do ponto de vista da tecnologia

adotada, da qualidade e da composição do leque de produtos oferecidos, das

características do mercado em termo de consumo interno e exportação, de preços

praticados, de estratégias de gestão, o objetivo é identificar as causas geradoras

das diversidades observadas, procurar verificar, entender e justificar a persistência

das motivações, analisar as conseqüências da situação atual sobre mercado e

produção e, finalmente, listar uma série de recomendações que podem ser utilizadas

para orientar as escolhas estratégicas necessárias à garantia da sobrevivência e da

expansão da cerâmica brasileira no mercado mundial.

1.2. Revisão bibliográfica

O presente trabalho baseia-se numa ampla bibliografia, resultado de cuidadosa

pesquisa; as fontes consultadas compreendem normas técnicas, textos científicos,

produção acadêmica (dissertações e monografias), artigos técnicos publicados em

jornais e revistas nacionais e internacionais, informações e dados disponibilizados

em sites de instituições e organizações nacionais e internacionais. Sempre que

possível, a pesquisa bibliográfica foi realizada procurando material atualizado, dando

preferência a publicações posteriores ao ano 2000; exceção foi aberta para alguns

textos considerados fundamentais e únicos, que - apesar da data de publicação bem

anterior ao limite imposto – podem ainda ser considerados atuais.

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1.3. Abrangência e limites do projeto

A presente dissertação limita-se à análise dos produtos realizados com o

processo de monoqueima1 que, a partir dos anos setenta, é o mais difundido e

representa cerca de 80% da produção total. Restringe-se também ao Brasil e à Itália,

respectivamente 4° e 2° produtores no mundo por capacidade. A China, embora hoje

o primeiro produtor mundial em quantidade, não é analisada por ser um mercado

muito jovem e carente de informações detalhadas e confiáveis a respeito de

produção e processos. A Espanha, atualmente 3° produtor, também não é incluída

na presente avaliação, por ser um mercado relativamente jovem, com uma produção

mais específica e direcionada para a fabricação de monoporosa2, e por utilizar uma

tecnologia similar à italiana.

1.4. Estruturação do trabalho

O trabalho apresenta-se dividido em sete capítulos.

No primeiro capítulo, são declarados os objetivos da dissertação, indicando os

limites de abrangência da pesquisa e apresentando, brevemente, a estrutura do

trabalho. Finalmente é fornecida uma rápida descrição do produto cerâmico, focando

as tipologias aqui discutidas e reportando as definições disponíveis na literatura

pesquisada, procurando fornecer algumas noções básicas para o leitor.

No segundo capítulo, é apresentada a classificação dos produtos cerâmicos

conforme as denominações comerciais mais utilizadas e as normas específicas do

setor, hoje amplamente difundidas, constituindo referência obrigatória para os

produtores que queiram ter acesso aos mercados mundiais. Neste contexto, as

normas são examinadas por blocos econômicos, considerando-se a Europa (normas

ISO), a América do Norte (ANSI-ASTM) e a América do Sul, com particular foco no

Brasil (ABNT).

1 Monoqueima: processo de produção que prevê uma única passagem no forno de queima. 2 Monoporosa: peças cerâmicas de monoqueima com níveis de porosidade e absorção de água maiores que a monoqueima tradicional. (Centro Ceramico di Bologna, 1999).

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O terceiro capítulo apresenta uma análise atualizada dos mercados cerâmicos,

avaliando a situação mundial em geral e, mais especificamente, os dois mercados

de interesse: o italiano e o brasileiro.

O quarto capítulo descreve o processo de produção de peças cerâmicas para

revestimento, com enfoque principal sobre o processo chamado de “monoqueima”,

hoje o mais difundido. Neste contexto são avaliados os princípios tecnológicos gerais

do processo e as particularidades que diferenciam a realidade italiana da brasileira.

São analisados, também, os aspectos econômicos e ambientais que mais

influenciam os mercados analisados.

O quinto capítulo é um compêndio das comparações das principais normas

técnicas do setor, informações de mercado, de processo e estratégias, destacando

os fatores e parâmetros julgados mais significativos. É também gerada uma lista de

recomendações que visam a chamar a atenção dos produtores brasileiros sobre os

aspectos mais delicados do setor, podendo servir-lhes de guia na tomada de

decisões estratégicas.

O sexto capítulo traz as considerações finais sobre a diferenciação entre a Itália e

o Brasil e sugere novos trabalhos para expansão e aprofundamento das

problemáticas aqui tratadas.

O sétimo e conclusivo capítulo lista as referências bibliográficas que foram

utilizadas para o desenvolvimento da presente dissertação.

1.5. O produto cerâmico

A cerâmica é um dos manufaturados mais antigos: pense-se nas estátuas ou nos

vasos de barro, testemunhas de civilizações remotas. É também um dos materiais

mais modernos e avançados: composições cerâmicas especiais encontram

aplicação cada vez mais difundida nas indústrias eletrônica, mecânica, nuclear,

química, etc. (PALMONARI; TIMELLINI, 2000a).

Material cerâmico é qualquer produto, de forma definida, composto de matérias

primas inorgânicas, não metálicas (minerais ou artificiais), que de um estado de pó é

transformado em semimanufaturado e, por queima, passa a ser sólido com estrutura

parcialmente cristalina e parcialmente vidrosa (VECCHI, 1977).

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As peças cerâmicas são materiais sintéticos, obtidos a partir da combinação de

matéria primas naturais, para fabricar produtos com características predefinidas

(SACMI, 2003). Pisos e azulejos são chapas relativamente finas e de vários formatos

de material cerâmico, utilizados para revestir pisos e paredes.

O termo “cerâmico” define a natureza do material constituinte e aplica-se

tradicionalmente a produtos obtidos a partir de massas de argilas, areia e outras

substâncias naturais. Tais massas, após adequada preparação, são conformadas

nas dimensões desejadas e queimadas a elevada temperatura (1.000 – 1.250°C,

dependendo do tipo). Este processo de queima modifica de maneira substancial a

estrutura do material “verde” e fornece as bem conhecidas características de dureza,

resistência mecânica, inércia química e física (PALMONARI; CARANI, 2005). As

propriedades gerais dos materiais cerâmicos, em particular de pisos e azulejos,

podem ser reconduzidas à sua composição e estrutura e são determinadas pelas

modalidades de fabricação.

Os métodos de conformação do material são dois: extrusão e prensagem. A

extrusão é utilizada para produtos como “cotto” e clinker, em que a massa das

matérias primas é preparada em forma de pasta com conteúdo de umidade variável

entre 15 e 20%. A massa é forçada a passar por uma abertura que reproduz a

secção transversal do produto, criando um tapete contínuo, oportunamente cortado.

A prensagem é a técnica mais utilizada para produtos como grés porcelanato e

monoqueima. A massa é preparada em forma de pó com umidade variável entre 4 e

7% e é comprimida entre a matriz e o punção da prensa, com pressões nominais

entre 20 e 40 MPa.

A maioria dos produtos cerâmicos (neste contexto, piso e azulejo) é constituída

por um suporte de massa cerâmica, que pode ser recoberto por uma capa vidrosa,

genericamente chamada de “vidrado” ou esmalte. O produto esmaltado apresenta a

superfície recoberta por uma camada de vidro que fornece importantes

características estéticas (cor, brilho, decoração, efeitos) e técnicas (dureza,

impermeabilidade), que dependem do tipo de esmalte e podem variar muito. No

produto esmaltado é reconhecida uma descontinuidade de composição e uma

mudança de características na espessura; os produtos não esmaltados apresentam

uniformidade na espessura. Outras características importantes que a massa deve

apresentar são fácil floculabilidade (no caso de preparação por via úmida);

composição mineralógica que confere uma dilatação controlada; porosidade e

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constância dimensional compatíveis com os processos de esmaltação e queima. As

matérias primas utilizadas na preparação de massas cerâmicas raramente são

substâncias puras.

Renau (1994) define uma massa cerâmica como mistura equilibrada de matérias

primas plásticas e não plásticas que cumprem uma série de exigências que as

fazem úteis para a fabricação de produtos cerâmicos. Matérias primas plásticas são,

principalmente, argila, caolim e bentonita; as não plásticas compreendem quartzo,

feldspatos, carbonato de cálcio, talco e chamotas3. A relação entre matérias primas

plásticas e não plásticas deve ser feita de maneira que confira à massa uma

plasticidade suficiente para facilitar o processo de conformação do produto, por

prensagem, e uma aceitável resistência mecânica ao produto formado, antes e

depois da queima (BORDIGNON, 2004).

A capa vidrosa4 que cobre o suporte tem a estrutura de um líquido sub-resfriado,

de altíssima viscosidade, com aparência de sólido à temperatura ambiente

proporcionada por uma rigidez mecânica devida ao grande aumento da viscosidade

de uma massa fundida. Por outro lado, por ter estrutura amorfa, não pode ser

considerada sólida, pois falta-lhe a estrutura cristalina que caracteriza e define o

estado sólido e não tem uma temperatura de fusão determinada.

Os vidros cerâmicos, ou esmaltes, são obtidos de misturas controladas de

matérias primas inorgânicas e de vidrados “base”, chamadas fritas5. Todos os

esmaltes utilizados na produção industrial de pisos e azulejos contêm uma parte de

fritas, em maior ou menor quantidade, na sua composição. Pode-se tratar de uma

única frita ou de uma mistura de fritas de tipos diferentes; a proporção da parte

“fritada” no esmalte depende do tipo de produto e do ciclo de queima. Entre as

características fundamentais das fritas, podem-se enumerar: permitir o uso, no

esmalte, de matérias primas solúveis em água, que na fusão se combinam com

substâncias insolúveis, adquirindo esta característica; reduzir a toxicidade de alguns

componentes, como o óxido de chumbo; aumentar os intervalos de fusão dos

3 Chamota: restos de suporte cerâmico já queimado ou de refratário, moídos. Venturi (1986). 4 Os vidros cerâmicos são preparados a partir de misturas que, na fusão, se unem intimamente ao suporte; trata-se de vidros, isto é, formas diferentes de alumino-silicatos fundidos, que podem conter ou não formações cristalinas em suspensão. Venturi (1986). 5 Fritas: compostos vítreos, insolúveis em água, obtidos por fusão complexa de elementos de origem mineral e sintética e sucessivo resfriamento rápido; os componentes devem ter capacidade de “formar vidros”, ou seja, de passar de uma estrutura cristalina a uma amorfa, por simples resfriamento. Renau (1994).

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esmaltes; permitir maior uniformidade do vidro; reduzir a presença de defeitos

superficiais e aumentar a estabilidade das cores.

O “vidrado” deve cumprir uma série de funções, com respeito ao processo de

fabricação do próprio produto (viscosidade e tensão superficial adequadas para

aplicação e, ao longo do processo de queima, intervalos de fusão compatíveis com o

processo de queima, distribuição homogênea no suporte, temporária permeabilidade

aos gases do suporte, controle de dilatação, etc.) e às características exigidas no

produto final (impermeabilidade, resistência à abrasão ou desgaste, insolubilidade

em água e reagentes químicos com os quais pode entrar em contato, facilidade de

limpeza, resistência mecânica adequada ao uso previsto, estética, brilho, cor,

transparência ou opacidade, textura). Tais propriedades dependem da composição

química, das condições de aplicação e de fatores inerentes ao processo de

fabricação, como temperatura e tempo de maturação6, atmosfera do forno e ciclo

térmico total.

6 Maturação do esmalte: seqüência de fases na queima do esmalte (sinterização das partículas de frita, amolecimento progressivo do sinterizado, distribuição uniforme sobre o suporte, solidificação).

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2. CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CERÂMICOS

É necessário introduzir o conceito de classificação dos produtos para poder

distinguir produtos similares, mas que se destinam a utilizações diversas (SACMI,

2003).

Uma primeira distinção pode ser realizada separando os materiais cerâmicos em

tradicionais e especiais ou avançados. Entre os tradicionais, estão normalmente

incluídos compostos de óxidos naturais, como piso e azulejo, sanitários, louças,

produtos de olaria e alguns tipos de refratários. Os especiais ou avançados são

compostos de não-óxidos ou óxidos especiais, incluindo biocerâmicos, porcelanas

elétricas e técnicas, cerâmicas para eletrônica, catalisadores e refratários especiais

e não serão analisados neste contexto. Para melhor entender a composição de um

cerâmico tradicional, pode-se generalizar a composição da massa para pisos7, que

compreende materiais argilosos (fornecem plasticidade para obter uma forma

definida e contêm alumínio e sílica, com parte de cálcio, ferro e titânio); materiais

fundentes (feldspatos e nefelina, que na queima produzem fases vidrosas que agem

como colante entre as partículas, contendo sódio, potássio, alumínio e sílica);

materiais inertes (talco, sílica, carbonato de cálcio, contendo principalmente cálcio,

magnésio e sílica) e aditivos (inorgânicos ou orgânicos, introduzidos na mistura em

quantidades muito pequenas, < 1%, melhorando a reologia8 das suspensões em

água).

A classificação é baseada em padrões internacionais e em costumes comerciais.

Os padrões internacionais são baseados no tipo de processo produtivo e na

absorção da água do produto queimado. Os costumes comerciais são baseados em

velhas nomenclaturas, como grés, maiólica, clinker, etc. A forma correta de

abordagem, obviamente, deve integrar um conjunto completo de características

tecnológicas.

A identificação e a descrição das tipologias de produtos cerâmicos disponíveis no

mercado referem-se a características técnicas, além de estéticas, cujo parâmetro de

avaliação principal é estabelecido pelas Normas ISO (PALMONARI; TIMELLINI, 7 Para aprofundamentos em relação às características químico-físicas das matérias primas, remete-se aos inúmeros manuais e textos específicos. 8 Reologia (do grego: “reo” = escorrimento e “logo” = estudo): estudo do escorrimento de sólidos, no caso dos pós, e de líquidos, no caso das barbotinas.

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2000b). As normas atuais contêm, essencialmente, uma classificação de piso e

azulejo cerâmico em grupos, uma definição das características que os produtos de

cada grupo devem possuir em relação ao uso para o qual são destinados, uma

descrição dos métodos de medição das diferentes características e uma indicação

dos requisitos de aceitabilidade que os produtos de cada grupo devem respeitar

para cada característica. Os requisitos representam, substancialmente, limites ou

referências que os produtos devem respeitar para serem julgados de boa qualidade.

As normas, portanto, garantem a retidão do relacionamento comercial, tutelando

ambas as partes, mas, principalmente, o consumidor.

A cada denominação comercial corresponde o uso prevalecente, sugerido em

função de o produto ser ou não esmaltado, ser ou não de espessura fina, etc.

Dependendo do tipo de utilização (piso/azulejo; interno/externo), o produto cerâmico

deverá apresentar boa ou ótima resistência às cargas, à retração, à flexão, à

abrasão e às manchas, ou deverá formar desenhos geométricos regulares, exigindo

dimensões rigorosamente calibradas. Ainda poderá ser utilizado em ambiente

externo e sujeito a ciclos de gelo-degelo ou em climas úmidos e quentes,

requerendo características diferentes de absorção, de pós-reatividade com água ou

umidade e de cor da massa base. Resumindo, entre as qualidades finais para um

produto cerâmico devem ser consideradas de primária importância a resistência

mecânica e as características geométricas (calibragem e planicidade).

Baseado nestas considerações e em função das exigências de produção, de

limites técnicos, de pedidos de mercado, de disponibilidade e de custo de matérias

primas adequadas, as diferentes tipologias de pisos e azulejos cerâmicos podem ser

esquematizadas em três grandes classes de produtos: revestimento (ou azulejo),

piso e grés porcelanato.

Com relação ao uso como revestimento, os produtos cerâmicos são um dos

primeiros materiais tecnológicos produzidos pelo homem, com funções artísticas,

além das primárias funções higiênicas, com origem comprovada no século V a.C.

Dentro da classificação geral de cerâmica para revestimento, encontram-se produtos

obtidos com os processos de biqueima e monoqueima. São materiais que

apresentam características importantes para o uso, como máxima estabilidade

dimensional na queima (valores de contração praticamente nulos, < 1%), porosidade

entre 13% e 18% (como porcentagem de água absorvida), tensão limite de ruptura

(do queimado) entre 20 e 25 Mpa.

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Considerando o piso, o uso de cerâmica vermelha com tal finalidade tem origem

tão antiga que não é identificável, ao passo que a difusão de cerâmica esmaltada

decorada é atribuível ao século XI. Uma classificação comercial divide as massas

para monoqueima greificada em “vermelhas” e “brancas”, que se distinguem pela

natureza da argila que as compõe (concentração de ferro). As massas brancas

apresentam melhor estabilidade dimensional e de porosidade. Entre os materiais

para piso (pavimentação), o que melhor suporta usuras de qualquer tipo, em virtude

da elevada dureza superficial, é o “grés porcelanato fine”, ou, mais simplesmente,

grés porcelanato. Possui também ótimas propriedades antigelivas, de resistência

mecânica à flexão e à compressão, de resistência ao ataque químico e às manchas.

A denominação "grés porcelanato" é suficiente para chamar a atenção nas

características do produto; "grés" indica uma massa compacta, constituída de várias

fases cristalinas numa matriz vidrosa; o termo "porcelanato" tem clara raiz

etimológica no termo “porcelana”, o material cerâmico mais nobre, conhecido e

prezado há séculos. É um produto de ótimas características técnicas, apresentando

elevada resistência mecânica e valores de absorção de água muito baixos,

freqüentemente < 0,1%. No contexto da indústria cerâmica, o grés assumiu um

papel sempre crescente, alcançando os mais diversificados segmentos. Se no

passado o produto era prezado apenas pelas características técnicas, hoje

demonstra notáveis potencialidades estéticas, que permitem a penetração em

segmentos mais sofisticados. Do ponto de vista cerâmico, o grés não é um produto

novo, pois tem origem em tecnologias de produção já utilizadas no passado, mas

hoje obsoletas. O atual desenvolvimento deve ser associado à introdução de

adequadas composições químico-mineralógicas inovadoras, coordenadas a

modernas tecnologias, como a conformação de alta pressão, recentes técnicas de

decoração e a queima rápida estendida a grandes formatos.

Conforme a classificação da ISO 13006 (1998), mais adiante detalhada, o grés

porcelanato é incluído no Grupo BIa, que compreende materiais greificados e

caracterizados por valores de porosidade inferiores a 0,5% (como absorção de

água). Na realidade, os produtos industriais apresentam uma porosidade inferior à

prevista pela norma, geralmente < 0,1%.

Com relação às denominações técnicas, as normas prevêem uma classificação

diferente da comercial, baseada em apenas dois parâmetros: o método de

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conformação (extrusão ou prensagem) e a porosidade (medida com a determinação

da absorção de água).

A absorção de água vem a ser a medida convencional da porosidade de uma

peça cerâmica, pois mede a quantidade de água que, em particulares condições

experimentais de embebição, o produto pode absorver. A absorção acontece através

dos poros do material que estão em comunicação com a superfície externa, portanto

este parâmetro constitui uma medida da sua quantidade, que é definida como

“porosidade aberta”. A “porosidade fechada”, ao contrário, é constituída pelos poros

não intercomunicantes, não acessíveis à superfície externa. A absorção de água

fornece, então, uma indicação imediata da estrutura do material. Um valor elevado

de absorção corresponde a uma estrutura altamente porosa. Ao contrário, uma baixa

absorção indica uma estrutura compacta (greificada). Com base nestes dois

parâmetros, os produtos cerâmicos são divididos em 9 grupos.

Para os produtos cerâmicos existem, por conseguinte, duas classificações

distintas, não ligadas uma à outra por uma relação específica. Esta posição deriva

do fato que as classificações comerciais são anteriores à classificação técnica

estabelecida pela norma e, para muitos produtos, são utilizadas apenas localmente,

pois algumas denominações ou produtos são tipicamente regionais.

A classificação ISO é a única possibilidade de uma norma geral, válida no mundo

inteiro, segundo a qual todos os produtos podem encontrar colocação.

2.1. Normas aplicáveis

Duas são as normas ISO para produtos cerâmicos (pisos e azulejos): a 10545 e a

13006. A ISO 10545 (1997) é relativa aos métodos de teste previstos para a

medição das características de qualificação de pisos e azulejos cerâmicos em

função das condições de utilização. Esta norma é composta de 17 partes, uma para

cada método de teste. Na realidade, a parte 17, relativa à resistência ao

escorregamento, é vazia, pois não prevê métodos de testes, sobre os quais não foi

encontrado acordo. A ISO 13006 é relativa a definições, critérios de classificação e

requisitos; o revestimento cerâmico é classificado em grupos, dependendo do

método de conformação e do valor de absorção de água do produto acabado. Uma

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das novidades substanciais presente nesta norma é representada pela introdução,

na classificação dos produtos, do Grupo BIa, no qual convergem as peças obtidas

para conformação com prensagem e que apresentam absorção de água não

superior a 0,5%; a tal grupo pertencem muitas das peças esmaltadas e não,

denominadas comercialmente “grés porcelanato”. Pelo que concerne ao requisito

relativo à resistência ao escorregamento acima citado, é prescrito apenas especificar

o método de teste adotado. Concluindo, para os produtos cerâmicos existem normas

válidas no mundo inteiro (Norma ISO). Estas normas fornecem uma classificação

dos produtos em 9 grupos; a cada grupo é associada uma norma específica que

detalha os requisitos que os produtos do grupo devem apresentar. Em conseqüência

disso, para definir e identificar um tipo de produto cerâmico, deve-se conhecer a

classe a que pertence, na classificação comercial, e o grupo da classificação ISO. A

Tabela 1 esquematiza a classificação ISO dos produtos cerâmicos.

Tabela 1 - Classificação de produtos cerâmicos pela Norma ISO 13006

Absorção de água A.A. (%) Método de conformação Grupo I:

AA < 3 Grupo IIA: 3 < AA < 6

Grupo IIB: 6 < AA < 10

Grupo III: 10 < AA

Extrusão: A AI AIIa AIIb AIII

Prensagem: B BIa AA < 0,5 BIb 0,5 < AA < 3

BIIa BIIb BIII

(Adaptada de ISO, 1998)

Para facilitar a compreensão da classificação dos produtos cerâmicos, na Tabela

2 encontra-se uma distribuição das tipologias diferentes em função da classificação

ISO. Neste contexto, considerando os produtos de monoqueima, todos pertencem

ao grupo B: produtos obtidos para prensagem.

Tabela 2 - Relação entre tipo de produto e classificação da Norma ISO 13006

├──────────┼─────────┼──────────┼────────┼─── ─ ─ ─ ─ ┤AA% 0 0,5 3 6 10 ├ Grupo BIa ┼ Grupo BIb ┼ Grupo BIIa ┼ Grupo BIIb ┼ Grupo BIII ┤ ├ Grés Porcelanato ┼ Piso ┼ Revestimento ┤

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Os países anglo-saxões, mais especificamente os Estados Unidos, embora

tenham participado ativamente da preparação das normas ISO, não estavam

colaborando construtivamente para sua adoção; o motivo principal desta demora é

atribuído ao diferente sistema de unidades de medida. Esta realidade, até 2003,

dificultava o relacionamento comercial com um dos maiores importadores de

produtos cerâmicos e precisou ser cuidadosamente considerada nas negociações e

no fornecimento. Nos Estados Unidos existem dois Órgãos de Normalização: a ANSI

e a ASTM. A ANSI (American National Standard Institute) predispõe as definições, a

classificação, a marcação e os requisitos; a norma referente à cerâmica era a ANSI

A 137.1, de 1988, hoje substituída pela ANSI AS 4662 (2003). Recentemente a ANSI

publicou a série AS 4459 (1997-1999), de 4459.1 até 4459.16, que absorve a ISO

10545. Oliveira (2001) chama a atenção sobre a norma ANSI A 137.1 (1980), que

comporta uma classificação diversa da ISO, embora também relacionada aos

valores de absorção de água, resumida na Tabela 3. A ASTM (American Society for

Testing Materials) predispõe e atualiza os métodos de teste.

Tabela 3 - Classificação de produtos cerâmicos pela Norma ANSI A 137.1

Absorção de água A.A. (%) Peças cerâmicas prensadas AA < 0,5 0,5 < AA < 3 3 < AA < 7 7 < AA < 18

Pavimentos muito vitrificado Vitrificado semi-vitrificado não vitrificado

Revestimentos - - semi-vitrificado não vitrificado

Esta situação incômoda está hoje aparentemente resolvida com a publicação das

ANSI 4662 e 4459 que, juntas, absorvem integralmente as ISO 10545 e 13006.

Para a qualificação das peças cerâmicas, os métodos de teste apresentam

freqüentemente, dependendo do país emissor, parâmetros operativos diferentes e,

algumas vezes, a determinação da mesma propriedade não é prevista em todas as

normas. Em muitos casos, para os requisitos impostos, é impossível operar uma

comparação direta. Notáveis diversidades aparecem, seja para classificação, seja

para controle, não justificadas por reais diferenças de produção e de utilização das

peças cerâmicas (VENTURI, 1986).

A apresentação das informações detalhadas e completas a respeito da

classificação ISO é evidenciada nas Tabelas 4 e 5, que indicam, respectivamente, a

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classificação dos produtos cerâmicos em função das denominações técnico-

comerciais e as características técnicas para os diferentes produtos cerâmicos.

No caso do Brasil, as normas vigentes são 3: a ABNT 13816, que indica a

terminologia a ser utilizada; a 13817, referente à classificação dos produtos; a

13818, que estabelece especificações e métodos de teste. Na prática, as ABNT

(1997) absorvem integralmente as ISO 10545 e 13006. Muito recentemente, em

fevereiro de 2007, a ABNT (2007) lançou uma quarta norma para produtos

cerâmicos, a ABNT 15463, específica para grés porcelanato, que determina

requisitos técnicos mais exigentes, na tentativa de atender às crescentes

necessidades e expectativas do mercado consumidor (PASCHOAL, 2007).

Na Europa, a necessidade de qualificar o produto e, conseqüentemente, valorizá-

lo para enfrentar a crescente concorrência, a existência de outros mercados

produtores mais favorecidos em termos de custos e a busca de proteção contra

contrafações ou concorrência desleal levaram a um interessante e bem sucedido

desenvolvimento de sistemas de certificação, seja em termo de qualidade, seja de

registro de indicações geográficas.

Analisando o quadro normativo europeu (PALMONARI; CARANI, 2005), a

conformidade das peças cerâmicas àquilo que é prescrito pelas normas pode ser

simplesmente declarada pelo produtor ou certificada por uma entidade apropriada

que, com base no controle do produto e na verificação da confiabilidade da gestão

do processo de produção, confere ao produto um Selo de Qualidade.

Na Itália, o selo Certiquality – UNI certifica os produtos cerâmicos por meio de

atividades de testes, inspeções e controle, tornando possível deduzir que o produto

não apenas responde aos requisitos da norma técnica de referência, mas também

que todas as fases do processo de produção são adequadamente controladas.

Assim, mesmo que não seja possível efetuar todos os testes, a constância da

qualidade de produção pode ser razoavelmente garantida (CERTIQUALITY, 2005).

É fundamental ressaltar que este é um selo de certificação de produto, diferente da

ISO 9000, que certifica o sistema.

A Itália desenvolveu também o selo “Ceramica di qualitá”, que tutela a

denominação de origem da produção italiana de cerâmica artística e tradicional e

dos produtos industriais. O selo cobre a produção de cerâmica decorativa, louça e

cerâmica para uso alimentar, piso, azulejo e sanitários. As condições para a

obtenção do selo se referem à origem e à qualidade. No caso da origem, o produto,

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em todas as fases do processo de produção, deve ser realizado em território da

União Européia, sem utilizar produtos semimanufaturados provenientes de outros

países. No caso da qualidade, o produto cerâmico deve ser cadastrado na lista dos

produtores de cerâmica de qualidade, criada pelas Câmaras de Comércio locais, e

deve estar de acordo com as características definidas pelas normas vigentes.

Em âmbito europeu, atendendo a uma diretriz comunitária sobre a segurança dos

materiais para construção que exige a conformidade das obras civis a normas de

segurança dos bens e dos usuários (ASSOPIASTRELLE, 2004), a partir do 1° de

dezembro de 2005, é obrigatório o selo “CE” para a comercialização e livre

circulação de pisos e azulejos cerâmicos. Observe-se que o selo “CE” é de

“idoneidade”, não de qualidade: os produtos devem ser seguros, independentemente

da qualidade comercial.

Na Europa, para pisos e azulejos, existe também o selo “Ecolabel”, de excelência

ambiental.

Como relatado acima, existe um denominador comum em termos de segurança

do produto (o selo CE). Até pouco tempo atrás, a certificação da qualidade era

realizada em âmbito nacional, com referência às normas nacionais, nem sempre

harmonizadas, podendo gerar barreiras à livre circulação de mercadorias na Europa.

Para ultrapassar este obstáculo, recentemente foi criado um selo europeu de

qualidade, o KEYMARK, com função de denominador comum para a certificação do

produto. Os vários países da EU harmonizaram as normas de qualidade, permitindo

a geração de regras unívocas de certificação de produto, hoje reconhecidas e

aceitas internacionalmente.

É importante lembrar que as normas não constituem lei, mas uma referência

oficial a respeito da qualidade e das características dos diferentes tipos de pisos e

azulejos. As normas são regras técnicas que permitem, aos produtores e aos

clientes, estabelecer e demonstrar se um determinado produto é de boa qualidade.

Deve-se ressaltar que o respeito das normas é técnico; o produtor cerâmico não é

obrigado a produzir piso e azulejo conformes as normas. É também claro que, se o

produtor assume o compromisso, frente ao consumidor, de ter operado conforme as

normas, passa a ter essa obrigação.

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Tabela 4 - Classificação dos produtos cerâmicos em função das denominações técnico-comerciais (Adaptada de Palmonari,

2000b) Superfície Estrutura do suporte Método de formação Cor suporte Formatos

previstos Destinação prevista Denominação

comercial esmaltada não

esmaltada poroso greificado A.A.(%) prensagem extrusão branco outro [cm]

Ciclo tecnológico

piso parede interno externo

Grupo ISO

Maiólica ● - ● - 15-25 ● - - ● 15x1515x20 20x20

biqueima massa seco

- ● ● - BIII

Cottoforte ● - ● - 7-15 ● - - ● 15x2520x20 20x30

biqueima massa seco

● ● ● - BIII

Terralha pasta branca

● - ● - 10-20 ● - ● - 15x15 biqueimamassa úmida

- ● ● - BIII

Monoqueima vermelha

● - - ● 2-10 ● - - ● 10x2020x30 30x30 40x40

monoqueimamassa úmida

● - ● ●

BI BIIa BIIb

Monoqueima clara

● - - ● 2-7 ● - ● - 30x3040x40

monoqueimamassa úmida

● - ● ● BIBII

Monoporosa (verm./clara)

● - ● - >10 ● - ● ● 20x20 monoqueimamassa úmida

- ● ● - BIII

Presso-esmaltadura

● - - ● <3 ● - ● ● - - ● - ● ● BI

Clinker ● ● - ● 2-6 - ● ● ● 12x2420x20 30x30

monoqueimamassa úmida

● ● ● ● AIAIIa

Cotto ● ● - ● 3-15 - ● - ● 25x2520x40 30x30 40x60

monoqueimamassa seca

● - ● ● AIIaAIIb AIII

Grés vermelho - ● - ● 1-4 ● - - ● 7,5x15 monoqueimamassa seca

massa úmida

● - ● ● BIb

Grés porcelanato

● ● - ● <0,5 ● - ● ● 20x3030x30 40x40

monoqueimamassa úmida

● ● ● ● BIa

A.A. (%) = absorção de água, em % ponderal.

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Tabela 5 - Característica técnicas dos produtos cerâmicos conforme a Norma ISO 13006 (Adaptada da SACMI, 2003)

Valores prescritos pela Norma PISO

Características ReferênciaISO REVESTIMENTO

Grupo BIb Grupo BIIa Grupo BIIb GRÉS PORCELANATO

Absorção de água 10545.3 >10, <20%-min. 9% > 0,5, < 3% (max. 3,3) > 3, < 6% (max. 6,5) > 6, < 10% (max. 11) ≤0,5% Módulo de ruptura (1) 10545.4 12-15 N/mm2 30 N/mm2 (min. 27) > 22 N/mm2 (min. 20) > 18 N/mm2 (min. 16) > 35 N/mm2 (min.32) Carga de ruptura (1) 10545.4 min. 600–min. 200 N min.1100–min. 700 N min.1000–min. 600 N min.800–min. 500 N min.1300–min. 700 N Resistência a abrasão profunda (2)

10545.6 Declarada peloProdutor

max. 175 mm3 345 mm3 540 mm3 < 175 mm3

Resistência a abrasão superficial (2)

10545.7 Declarada peloProdutor

Declarada pelo Produtor Declarada pelo Produtor Declarada pelo Produtor Declarada pelo Produtor

Coeficiente de dilatação 10545.8 Teste disponível Teste disponível Teste disponível Teste disponível Teste disponívelResistência a choque térmico 10545.9 Teste disponível Teste disponível Teste disponível Teste disponível Teste disponívelExpansão a umidade 10545.10 Teste disponível Teste disponível Teste disponível Teste disponível Teste disponível Resistência a cavillo 10545.11 Sob pedido Sob pedido (2) Sob pedido (2) Sob pedido (2) Sob pedidoResistência a gelo 10545.12 Teste disponível Pedido para uso externo

com gelo Declarada pelo Produtor Declarada pelo Produtor Sob pedido

Resistência a produtos químicos 10545.13 Classe GB min. Classe GB min.-UB min. (3)

Classe GB min.-UB min. (3)

Classe GB min.-UB min. (3)

Classe GB min.

Resistência a ácidos e bases 10545.13 Teste disponível Teste disponível Declarada pelo Produtor Declarada pelo Produtor Teste disponível Resistência a manchas 10545.14 Classe 3 min. Classe 3 min. (4) Classe 3 min. (4) Classe 3 min. (4) Classe 3 min. Extração de Pb e Cd dos vidros 10545.15 Teste disponível - - - Teste disponívelDiferença de cor 10545.16 Teste disponível Teste disponível Teste disponível Teste disponível Teste disponívelCoeficiente de fricção (2) 10545.17 Teste disponível Declarada pelo Produtor Declarada pelo Produtor Declarada pelo Produtor Teste disponível As normas 10545.1 e 10545.2, relativas às metodologias de aceitação da amostra e às determinações dimensionais e de qualidade das superfícies, não são reproduzidas na tabela por exigências de espaço. (1) Dependendo da espessura (< 7,5 mm e ≥7,5 mm). (2) A ser realizado apenas no caso de uso como piso. (3) Materiais não esmaltados. (4) Materiais esmaltados

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2.2. Síntese

Do ponto de vista normativo, é possível desdobrar a análise do setor cerâmico em

dois focos: um primeiro, puramente técnico, que padroniza os aspectos de

classificação dos produtos e a metodologia de teste; um segundo, técnico-comercial,

que prevê sistemas de certificação de qualidade e de origem do produto. Este último

conjunto de normas visa a garantir a qualidade do produto em termos de sistema de

qualidade, como no caso da ISO 9000, e em termos absolutos, assumindo assim

uma conotação comercial, orientada para sustentar ações de marketing e a imagem

dos produtores em âmbito internacional. As Tabelas 6 e 7 concentram as

informações principais do enfoque normativo atual.

Tabela 6 - Normas técnicas aplicáveis

ENTE NORMATIZADOR / OBJETIVO ITÁLIA BRASIL

Ente Normatizador ISO ABNT

Terminologia / Definições 13006 13816

Classificação 13006 13817

Especificações e métodos de teste 10545 13818

Grés porcelanato: requisitos técnicos 13006 15463

Tabela 7 - Sistemas de certificação

ITÁLIA BRASIL OBJETIVO

ENTE NORMA / SELO ENTE NORMA

Qualidade de sistema ISO 9000 ISO 9000

Qualidade do produto (Conformidade à norma e controle de processo)

UNI Certiquality - -

Denominação de Origem (produto) - Ceramica di qualitá - -

Segurança dos materiais para construção (idoneidade)

- CE - -

Excelência ambiental ISO Ecolabel - -

Empresa de qualidade - Keymark - -

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Uma rápida observação das informações resumidas na Tabela 6 evidencia que,

do ponto de vista técnico, o Brasil está alinhado com os maiores concorrentes

mundiais.

A Tabela 7, por outro lado, chama a atenção para a falta (ou atraso) do

desenvolvimento de estratégias comerciais mais sofisticadas, que poderiam ser

implementadas, até seguindo o exemplo italiano.

Vale ressaltar que, em se tratando de estratégias de mercado nacional, o estímulo

não pode ser originado por produtores isolados, mas pelas Associações de categoria

ou por Centros de Pesquisa, que no caso poderiam se transformar nos próprios

certificadores.

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3. O MERCADO CERÂMICO

Tanto associações de categoria, como órgãos públicos e privados recolhem e

elaboram anualmente um grande volume de dados a respeito de produção, vendas e

exportações, disponibilizando informações úteis para o entendimento dos mercados

e das relativas tendências. Utilizando fontes diferentes, é comum encontrar dados

nem sempre concordantes e, por isso, é indispensável um grande cuidado com a

escolha das fontes. Nos últimos anos, as associações de categoria e as entidades

oficiais têm demonstrado ser fontes confiáveis.

Dentro do grande volume de dados disponíveis, para se ter uma clara imagem

geral dos mercados, é possível limitar a análise a dois tipos de informações:

produção e exportação, esta estritamente relacionada ao consumo. Nos capítulos a

seguir, portanto, os mercados mundial, italiano e nacional são apresentados com

base em produções e exportações.

Outro aspecto a salientar é que a disponibilidade de dados atualizados é

dificultada pela sua elaboração, existindo, conseqüentemente, um sensível atraso

entre a disponibilidade das informações e o período de referência.

Os dados consolidados mais recentes, no ato da redação da presente

dissertação, referem-se ao ano 2004 e são disponibilizados pelas associações de

categoria italiana (ASSOPIASTRELLE) e brasileira (ANFACER).

3.1. O mercado mundial

Gambuli (2001) apresenta uma imagem bem completa e articulada do mercado

mundial, resultado da análise dos fluxos de produção e exportação da última década

(1990 –2000) de cada área geográfica. Trabalho similar, com referência ao ano

2001, é produzido por Sezzi (2002). Embora alguns dados não estejam

perfeitamente de acordo com os de Gambuli, as diferenças entram na margem de

erro das fontes e podem ser desconsideradas. Resultados e valores são explicitados

nas Tabelas 8 e 9.

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Tabela 8 - Produção mundial na década 1990-2000 e em 2001, dividida por áreas geográficas

Região Europa Leste Europeu NAFTA América do Sul Oriente Médio Ásia África TOTALProdução Itália(1) Espanha Total URSS Total México EUA Total Brasil(2) Total Turquia(3) Iran Em.Ar. Total

China Índia Total Total

1990 447 219 860 55 130 35 50 88 190 261 52 24 7 100 200 - 280 30 19602000 632 621 1460 25 150 130 62 200 453 543 175 60 30 270 1600 85 657 95 5000∆% +41% +184% +71% -55% +15% +271% +24% 127% +138% +108% +236% +150% +329% +170% +700% - +208% +217% +155%2001 638 638 1476 n.d. n.d. n.d. n.d. 193 473 579 n.d. n.d. n.d. n.d. 1700 n.d. 860 115 5000

Obs.: dados em Mm2. (1) A participação da Itália no total mundial passou de 23% em 1990 para 12,6% em 2000. (2) O Brasil representa 83% da produção da área. (3) A Turquia representa 65% da produção da área. n.d.: dado não disponível Tabela 9 - Fluxo de exportações

Exportação para: Exportação de:Europa América Ásia África Oceania TOTAL

Itália 300 (70%) 72 (17%) 31 (7%) 17 (4%) 12 (2%) 435 (100%)Espanha 145 (46%) 69 (22%) 72 (23%) 21 (7%) 5 (2%) 312 (100%)Brasil 4 (7,5%) 40 (85%) 0,5 (1%) 2 (4%) 1 (2,5%) 47,5 (100%)Turquia 34 (67%) 7 (13%) 9 (18%) - 2 (3%) 52 (100%) Obs.: dados em Mm2; a percentagem refere-se ao total de exportações do país.

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Analisando a tabela 8, é interessante observar como, ao longo de uma década, se

alteraram os dados de produção dos produtores “chave” no mercado mundial. Neste

contexto, como já antes evidenciado, é desconsiderada a China, por representar um

fenômeno único de desenvolvimento e por ser um mercado que ainda apresenta

anomalias e instabilidades.

A Itália manteve um crescimento positivo e a liderança mundial como produtor. A

Espanha quase dobrou a produção, no mesmo período, alcançando o líder. O Brasil

também apresenta um crescimento consistente, mantendo a posição de terceiro

maior produtor. Em termos de produção, alguns países podem ser considerados

“emergentes”, seja pelo incremento relativo da produção, seja pela significância do

volume absoluto, como o México e a Turquia. Na opinião do autor, nos próximos

anos a Turquia representará uma ameaça para os produtores europeus,

considerando a proximidade geográfica, a inclusão no mercado único da Europa, o

alto volume de investimentos que está estavelmente recebendo e a excelente

qualidade das matérias primas disponíveis localmente. Similarmente, o México

tenderá a substituir grande parte da produção brasileira destinada aos Estados

Unidos, em consideração da participação no NAFTA, da maior proximidade e do

constante crescimento da qualidade dos produtos.

A observação da tabela 9 confirma as ameaças, podendo verificar o principal

destino das exportações de Itália e Brasil, respectivamente Europa e Estados

Unidos. Nesta situação, a Itália goza de situação privilegiada, pois detém a liderança

mundial de tecnologia e design, o que muito dificulta a substituição dos próprios

produtos. O Brasil, pelo contrário, não possui pontos de força e alavancagem

significativos, exportando produtos de qualidade comum. Na Europa existe alta

produção, alto consumo e um grande fluxo cruzado de importação e exportação. O

Brasil exporta uma percentagem limitada da produção.

A Tabela 10 recolhe dados referentes ao consumo de produtos cerâmicos no

mundo em 2004 (ASSOPIASTRELLE, 2006).

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Tabela 10 - Consumo mundial de produtos cerâmicos em 2004

Países Consumo total 2004 [Mm2]

China 2402

Europa Ocidental 567

Europa centro- oriental 488

Brasil 449

Ásia e África sub-sahara 377

Espanha 363

América latina 333

América do Norte 327

Oriente médio e África do Norte 265

Itália 192

Austrália 41

Outros 1116

Total 6919

3.2. O mercado italiano

A indústria italiana de pisos e azulejos cerâmicos apresenta-se como líder no

panorama mundial, precedida em volume total de produção apenas pela China, que,

porém, só em 2003 começa a ter expressividade como exportadora. Em 2004 a Itália

totaliza uma produção de 589,2 Mm2, o que corresponde a 9% da produção mundial

e a 43% da européia. O faturamento total alcança 5,33 bi de Euro e representa 35%

do comércio internacional de placas cerâmicas, resultado obtido exportando 412,5

Mm2, correspondente a 71% das vendas totais, dirigidos a mais de 180 países

(ASSOPIASTRELLE, 2006).

O setor cerâmico italiano é constituído por 228 empresas que ocupam 29.817

pessoas em 317 unidades de produção, quase inteiramente concentrado no pólo da

cidade de Sassuolo (Modena), que representa, de acordo com a Assopiastrelle

(2006), 80% da produção italiana. A região de Sassuolo abriga, numa área restrita,

fabricantes de cerâmicas e fornecedores de equipamentos e serviços, constituindo

um dos mais desenvolvidos e conhecidos “clusters” ou Arranjo Produtivo Local (APL)

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da Europa. A proximidade de fornecedores e concorrentes e a facilidade de

circulação da informação geraram um impulso único no desenvolvimento de

produtos e tecnologia, tanto que a realidade de Sassuolo é objeto de estudo de

economistas e sociólogos do mundo inteiro. A grande eficiência produtiva das

empresas deve-se ao alto nível de pesquisa e de inovação tecnológica, seja pela

qualidade do produto, seja pela gestão das plantas de produção, altamente

automatizadas e otimizadas. Isso é mantido com um constante esforço em

investimentos, que em 2004 alcançou os 241,5 milhões de Euro e, nos últimos anos,

vem se estabilizando em 4,5 % do faturamento total.

É importante observar que, nos últimos 10 anos, a produção quase dobrou,

passando de 311 Mm2 em 1985 a quase 600 em 2004, ao passo que o faturamento

cresceu mais de 3 vezes, passando de 1,58 bilhões de Euro de 1985 a 5,33 bilhões

em 2004. Isto evidencia a constante qualificação e apreciação dos produtos no

mercado internacional.

A Assopiastrelle (2006) comunica os dados sobre a distribuição da produção

italiana por tipologia de produto, em 2004, resumidos na Tabela 11.

Tabela 11 - Distribuição da produção italiana por tipologia de produto

Tipologia de produto monoqueima tradicional biqueima grés não esmaltado grés esmaltado outros

% da produção total 25,5 4,5 20,8 40,4 8,8

Outra leitura dos dados estatísticos da Assopiastrelle permite identificar uma

lenta, porém contínua alteração do destino das exportações italianas, com aumento

dos volumes no mercado interno e em dois mercados preferenciais e mais

remunerativos, Europa ocidental e América do Norte, e redução dos volumes nos

mercados da Europa oriental e no “resto do mundo” (Tabela 12).

Conforme observa Beltrame (1998), os produtos italianos apresentam o melhor

desempenho comercial, embora sejam os mais caros do mercado mundial. O

principal fator que determina este resultado é a credibilidade ganha pela cerâmica

made in Italy. Bordignon e Kaminski (2005) reportam que, no Brasil, os colorifícios

desenvolvem 80% dos novos produtos com base na produção italiana. Os mesmos

autores indicam, ainda, que a Itália é líder mundial de tecnologia e estética

(BORDIGNON, KAMINSKI, 2006). A marca do design produzido na Itália é,

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provavelmente, a mais importante vantagem competitiva da indústria daquele país,

apesar da boa qualidade dos produtos concorrentes.

Tabela 12 - Volumes e variação de vendas da produção italiana por destino

Variação % VENDAS Base 2003 (1)

2004 2005 2006

Itália 170 +1,3 +0,9 +0,2

Europa ocidental 211 +1,1 +1,8 +1,3

Europa oriental 65 -5,4 -0,6 -0,8

América do Norte 79 +5,2 +2,5 +1,1

“Resto do mundo” 51 -6,2 -1,1 -0,4

Total exportação 418 0,0 +1,3 +0,8

Total 588 +0,4 +1,2 +0,6

Produção 603 -0,3 +1,2 +0,6

(1) Volumes em Mm2.

3.3. O mercado brasileiro

A indústria cerâmica nacional, em 2000, era constituída por 127 empresas com

23.000 empregos diretos e 160.000 indiretos, movimentando 2,3 bilhões de Reais

(ARAÚJO; ROMACHELLI; MARTINS, 2001a, b).

Em 2004, o mercado brasileiro de cerâmica ocupava a 4a posição no mundo, com

uma produção 566 Mm2, fabricada por 94 empresas produtoras, num total de 117

plantas e uma capacidade produtiva instalada de 622 Mm2. O setor gera 25.486

postos de trabalho direto e 250.000 indiretos (ANFACER, 2006).

Ao mercado interno, que é o segundo maior mercado consumidor mundial em

volume, é destinado 78% da produção. As exportações alcançam a meta de 125,8

Mm2, destinados a 139 países, num valor de 342 milhões de US$, valores FOB. O

maior importador de produtos brasileiros é os EUA, com totais 36,7 Mm2.

Dados referentes a 2005 (JORNAL PÓLO CERÂMICO, 2006) indicam que as

exportações subiram, em valor, para 376 milhões de US$, embora reduzindo as

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quantidades para 113,8 Mm2. A forte valorização do Real frente ao dólar e a

concorrência da China são os principais fatores que reduziram o desempenho

internacional.

A distribuição da produção por tipologia de produto é resumida na Tabela 13; o

destino das exportações é relatado na Tabela 14.

Tabela 13 - Distribuição da produção brasileira por tipologia de produto

Uso do produto piso revestimento fachada grés porcelanado

Mm2 387,0 150,0 11,0 18,0

% da produção total 68,4 26,5 1,9 3,2

Tabela 14 - Mercados de destino das exportações brasileiras

Destino América do Norte

Leste Europeu

Ásia Oriente Médio

Oceania Europa África América Central

América do Sul

% da produção

47,07 0,17 1,14 1,85 2,00 6,77 8,31 16,56 16,14

A indústria brasileira tem como principal origem as antigas fábricas de tijolos,

blocos e telhas. Essas empresas, no início do século XX, começaram a fabricar

ladrilhos hidráulicos e, posteriormente, azulejos e pastilhas de cerâmica e vidro

(RIBEIRO; QUINTAL, 2001). A localização das empresas está fortemente

concentrada nas regiões sul e sudeste, que constituem 92% da capacidade

instalada no país. Um dos fatores mais importantes que justificam a alta

concentração é a proximidade dos maiores centros consumidores.

Com um mercado interno que chegou a 421 Mm2 em 2003, o Brasil é hoje o

segundo maior mercado consumidor do mundo, depois da China (BOSCHI, 2004).

Até 2001, as exportações brasileiras eram pouco expressivas. A partir de então,

entretanto, o crescimento do pólo de Santa Gertrudes colocou pressão sobre as

empresas que trabalhavam por via úmida, forçando-as a substituir a redução da

participação no mercado interno com aumento das exportações. Um dos fatores que

contribuiu significativamente foi o fortalecimento do Euro em relação ao Dólar, que

dificultou as vendas dos competidores Italianos e Espanhóis.

Em 2003, as exportações brasileiras alcançaram os 103 Mm2, correspondentes a

19,3% da produção. Em 2003 os Estados Unidos, o maior importador de

revestimento cerâmico do mundo, consumiu 42,3 Mm2. Entretanto o valor médio dos

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produtos exportados em 2002 foi de 3,93 US$/m2, significativamente inferior aos

valores praticados pelos principais concorrentes nesse mercado: Itália e Espanha.

Considerável parte desta desvalorização dos nossos produtos deve-se à falta de

união e de organização do setor. A maioria das exportações é efetuada por

compradores externos que buscam o produto brasileiro por causa dos preços baixos

e não especificamente pelos produtos. Os produtores nacionais comparam os

preços de exportação com os do mercado interno, o que gera uma venda de

oportunidade circunstancial e representa um mercado extremamente volátil. O que

falta, então, é uma política de desenvolvimento do setor e o comprometimento dos

fabricantes.

As mais de 120 indústrias brasileiras de revestimento cerâmico podem ser

divididas em dois grandes grupos, segundo o processo de fabricação: as de via

úmida e as de via seca. De acordo com a “Análise Setorial 2003” da Anfacer (2004),

só 42,4% das cerâmicas brasileiras produzem com massa atomizada.

A grande maioria das indústrias que trabalha por via seca está localizada próxima

ao centro do Estado de São Paulo. Das 60 indústrias localizadas no Estado de São

Paulo, 43 constituem o Pólo de Santa Gertrudes. Dados de 2003 indicam que a

produção do Estado de São Paulo representa 63% da produção brasileira e o Pólo

de Santa Gertrudes, 71% da produção de São Paulo e 45% da produção brasileira.

Por outro lado, considerável parte das empresas que trabalha por via úmida está

localizada no Estado de Santa Catarina, onde formam o Pólo de Criciúma.

Recentemente o número de indústrias localizadas na região nordeste tem

aumentado consideravelmente.

Algumas das principais vantagens competitivas que proporcionaram o surgimento

e o crescimento acentuado do importante pólo regional de Santa Gertrudes,

principalmente a partir da década de 90, são:

• investimentos iniciais menores e processo mais econômico que o tradicional por

via úmida;

• consumo de uma única matéria prima local: as massas da maioria das indústrias

de Santa Gertrudes, que trabalham por via seca, são constituídas de uma única

argila (formação Corumbataí), que é praticamente uma massa pronta;

• custos de produção inferiores: estima-se que a fabricação por via seca seja

aproximadamente 30% mais econômica do que a por via úmida; além disso, os

produtores locais trabalham com um número de produtos consideravelmente

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menor do que usualmente encontrado nas indústrias de via úmida, reduzindo

muito as paradas para troca de produto e os estoques de insumos e produtos;

• proximidade do maior pólo consumidor do Brasil;

• preocupação do público alvo (constituído pelas classes de baixa renda) mais com

os preços baixos do que com a qualidade. Até então praticamente não existiam

produtos com preços acessíveis para essas camadas da população.

Em um ambiente extremamente competitivo, defrontam-se duas estratégias

principais de liderança: de um lado, a busca da liderança através do custo, com a

fabricação de produtos “commodities”, alicerçada no sistema de produção em

massa, e representada pelos produtores que utilizam o sistema de moagem a seco.

Do outro lado, as empresas que foram “forçadas”, pela escolha do sistema de

produção, a utilizar o sistema de produção flexível, determinado pela estratégia

mercadológica da diferenciação, porém ao menor custo possível. Comparam-se,

portanto, as indústrias que utilizam o processo de moagem a seco com aquelas que

utilizam o processo de moagem a úmido (NOGUEIRA; ALVES; TORKOMIAN, 2001).

Noguerira, Alves e Torkomian (2001) realizaram uma interessante pesquisa para

definir as estratégias competitivas, principalmente a estratégia de produção do setor

cerâmico no Brasil. A análise baseia-se em um leque significativo de empresas de

porte grande e pequeno, com produtos fabricados por via seca e por via úmida,

localizadas nos dois pólos principais, de Santa Catarina e São Paulo. O estudo

indica que o setor apresenta deficiências no âmbito do planejamento estratégico e

da gestão de produção. As empresas mais novas, de menor porte, localizadas no

pólo de Santa Gertrudes, que utilizam tecnologia de preparação de massa por via

seca, tendem a adotar estratégias competitivas de liderança em custo. As

alternativas de estratégia de produção se orientam para o aumento de produtividade,

a racionalização da produção, a integração para trás na cadeia de suprimentos e a

utilização de canais tradicionais de distribuição e vendas. Neste segmento, a

tecnologia utilizada é menos sofisticada e depende mais do apoio dos fornecedores.

A qualificação da mão de obra é baixa, as estruturas administrativas são pouco

especializadas e os sistemas de gestão, rudimentares.

As empresas de maior porte e mais tradicionais, localizadas em Santa Catarina e

que utilizam tecnologia de preparação de massa por via úmida, adotam estratégias

competitivas de diferenciação, focando segmentos de mercado de alta renda. Elas

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detêm maior domínio da tecnologia no desenvolvimento de produtos e na gestão da

produção e da qualidade.

No caso de Santa Gertrudes, a tendência é a profissionalização da administração

e a melhoria da qualidade, com investimentos na automação de processo e no

aumento da capacidade instalada. No caso de empresas operantes por via úmida,

seja em Santa Catarina, seja em São Paulo, a tendência é o investimento em novas

tecnologias de produto e processo, em design mais sofisticado e em integração para

frente na cadeia de suprimentos, absorvendo canais de distribuição e venda. Em

relação à gestão da qualidade, existem espaços para aprimoramento do controle de

processo. Os mesmos autores aconselham, também, a agir nas empresas, nas

associações de classe, nas universidades ou nas agências governamentais para

melhorar a competitividade.

Os custos de mão de obra, inferiores aos europeus, frearam a expansão da

automação, tanto que poucos fabricantes nacionais utilizam estoque pulmão ao

longo da linha e nenhum adota o sistema de estoque automático do produto antes e

depois da queima. Tal sistema, universalmente utilizado nas plantas de alta

produtividade na Europa, permite eliminar o 3° turno (noturno) e limitar a produção a

5 dias semanais, com altas economias e enorme ganho na qualidade do produto

acabado. Motivo decisivo para a atual situação nacional é o poder aquisitivo dos

clientes finais, pois o preço médio do produto aceito no mercado não permite realizar

um revestimento de qualidade internacional.

O horizonte brasileiro foi fortemente penalizado pelas políticas de proteção da

década de 80, que geraram uma relativa tranqüilidade entre os produtores locais,

beneficiando-os só temporariamente (aparentemente), por um período que acabou

com a abertura dos mercados advinda com o Plano Real. A inércia gerada pelo

protecionismo deixou os ceramistas brasileiros com produtos de qualidade muito

abaixo dos padrões internacionais, com uma tecnologia quase obsoleta e carentes

de normas técnicas e diretrizes setoriais, desprovidos de estruturas comerciais

orientadas à exportação.

O setor cerâmico brasileiro, ao longo das décadas 1980-2001, de acordo com

uma recente análise de Oliveira (2002), passou a maior crise entre 1982 e 1985,

com a construção civil praticamente inerte. Nessa fase, o mercado foi sustentado

apenas por um pequeno número de unidades habitacionais de alto luxo e pelo

mercado de reformas imobiliárias. Neste período, o setor foi sensivelmente

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penalizado pela elevação do preço do petróleo e pela escassez de combustível. As

empresas trabalharam com constante capacidade ociosa e com a necessidade de

buscar diversificação e substituição de fontes energéticas e, ao longo de 1987,

fizeram grandes investimentos acreditando que o Governo tentaria encontrar uma

solução às necessidades habitacionais, o que não se realizou. O setor foi

penalizado, também, pela inflação, que gerou defasagem em relação a outros

setores, e pelo Plano Collor, paralisando a produção como conseqüência da

paralisação do mercado. Paralelamente, a flutuação do câmbio melhorou a

competitividade dos ceramistas brasileiros. A partir de 1994, os efeitos positivos do

Plano Real, estabilizando a moeda, reduzindo a taxa de inflação a valores próximos

a zero e aumentando o poder aquisitivo do pequeno consumidor, propiciaram um

crescimento quase constante das vendas. Em 1999, iniciou-se a utilização de gás

natural, reduzindo os custos de produção.

Durante as décadas de 80 e 90, a produção nacional passou de 129,7 Mm2, em

1980, para 452,7 Mm2 em 2000, crescendo quase 250%. Com referência às

exportações, no mesmo período, passaram de 6 Mm2, em 1980, para 47,5 Mm2 em

2000, crescendo quase 700%, porém em ritmo oscilante. Considere-se que em 1982

e 1990 verificaram-se quedas muito sensíveis dos volumes exportados

(respectivamente de 26% e 37%), exigindo alguns anos para recuperar o patamar

alcançado antes destas crises (OLIVEIRA, 2002).

O maior freio ao incremento das exportações era representado (e talvez o seja

ainda hoje) pelo sistema portuário e o custo do frete, chegando a representar 30%

do custo final do produto. Para participar do mercado internacional, o produto

brasileiro precisou realizar sérias mudanças; a maior foi alcançar a conformidade às

ISO 13006.

Ainda sobre as exportações de 2005, deve-se relatar que, por ocasião de uma

recente feira de setor, componentes da alta diretoria de alguns dos maiores

produtores nacionais, em conversa informal, comentaram ter registrado perdas da

ordem de dezenas de milhões de Reais. A causa é a contínua revalorização do real

sobre o dólar, juntamente à impossibilidade de reduzir a exportação devendo

respeitar acordos comerciais de longo prazo definidos em períodos anteriores à

alteração do câmbio.

A principal e mais atual meta do setor cerâmico brasileiro, com referência às

exportações, é a diminuição da participação nos mercados americano e argentino,

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que representam, juntos, quase metade do mercado consumidor externo e a

implementação de novas estratégias de marketing, concentrando os esforços

comerciais em outros mercados, diversificando países e faixas de consumidores

(OLIVEIRA, 2002).

No presente contexto de comparação dos mercados italiano e brasileiro, é

importante ressaltar os valores unitários de produtos cerâmicos no mercado

internacional, que melhor podem caracterizar as duas realidades (ibidem), como

indicado na Tabela 15.

Tabela 15 - Preço unitário dos produtos cerâmicos (US$ FOB / t)

Ano de referência Itália Brasil Valor unitário médio mundial

1980 975 656 717

1985 472 430 435

1991 731 502 600

1995 625 378 472

1998 524 323 385

Valores deflacionados pelo IPC dos EUA (base: média de 1982 a 1984 = 100)

3.4. Síntese

A análise dos dados históricos e atuais permite resumir em poucos pontos a

comparação entre a cerâmica brasileira e a italiana.

A Itália é líder mundial do setor e exporta mais de 70% da produção que é

concentrada em um único cluster (Sassuolo) responsável por 80% do volume total.

O setor é caracterizado por alta taxa de investimento (4,5% do faturamento)

destinado a tecnologia de produção e de acabamento. O investimento em tecnologia

gera inovação e modernização do parque industrial, focando a automação mais

avançada e integrada, e a redução do impacto ambiental. No caso do acabamento,

os investimentos se destinam a pesquisa de novos métodos e materiais para a

decoração do produto, visando a melhorar a qualidade e a estética. A produção tem

crescimento constante e o faturamento cresce mais que linearmente com a produção

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(em 10 anos a produção dobrou e o faturamento multiplicou por 3). Os produtos são

os mais caros do mundo, destacando-se por inovação tecnológica e artística. A

exportação privilegia a Europa e a América do Norte, com tendência a restringir o

leque dos mercados de destino. Com referência à tecnologia de produção, 100%

das empresas italianas produzem pelo processo “a úmido”.

O Brasil é, mantendo a exclusão da China, o 3° produtor mundial; 78% da

produção é destinada ao consumo interno, representando o segundo maior mercado

consumidor. A produção está alcançando a italiana (apenas 6% menor) e é realizada

num número menor de instalações (quase a metade) e com menor número de

empregados (85%), o que, aparentemente, indicaria uma economia de escala maior.

Na realidade, esta diferença de produtividade deve ser atribuída à tipologia da

produção. O grés porcelanato é um produto que, embora não exija incidência maior

de mão de obra, é responsável por uma produtividade consideravelmente menor que

os produtos tradicionais; por outro lado carrega um valor agregado muito superior ao

da cerâmica tradicional. Na Itália a produção se foca no grés porcelanato, que entre

esmaltado e não esmaltado representa mais de 65% da produção total. No Brasil a

produção de grés é responsável por apenas 3% do total. Considerando estas

informações, é possível afirmar que a produtividade específica, por tipologia de

produto, ainda é menor no Brasil, sendo comparável com a européia apenas no caso

das instalações produtivas mais recentes.

A exportação brasileira privilegia o hemisfério oeste, particularmente a América do

Norte. O setor é caracterizado por baixo investimento e parque industrial obsoleto,

com automação limitada. A localização dos produtores é concentrada em dois pólos

(sul e sudeste) e está iniciando o desenvolvimento de um terceiro (nordeste). O valor

médio do produto brasileiro é decididamente inferior ao italiano, com 2,72 US$/m2 do

produto exportado contra 11 US$/m2 do italiano, calculado no volume integral de

venda. Apenas 42% do produto brasileiro é obtido pelo processo “a úmido”.

A tabela 16 agrega alguns dados gerais de produção e valores.

A Figura 1 permite a localização geográfica dos centros de produção de cerâmica

para revestimento no Brasil.

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Tabela 16 - Resumo comparativo dos dados de produção e venda – ano 2004

PARÂMETRO ITÁLIA BRASIL

[Mm2] 589,20 566,00 Produção total

% mundial 9,00% 8,60%

[Mm2] 601,00 574,00 Venda total

bi US$ 1 6,48 1,56 (2)

[Mm2] 188,50 448,00

% da prod. tot 30,00% 78,00%

Venda interna

bi US$ 1 1,82 (2) 1,16 (2)

[Mm2] 412,50 125,80

% da prod. tot 70,00% 22,00%

Exportação

bi US$ 1 4,66 (2) 0,34

N° 228 94

Unidades produção 317 117

Empresas

empregados 29.817 25.486

mi US$ / empregado 0,22 (2) 0,06 (2) Produtividade específica

m2 / empregado 19.760 (2) 22.202 (2)

Preço médio do vendido US$ / m2 11,00 2,72 (2) (1): valor em Euro, convertido com taxa de câmbio média do mês de junho 2004: 1 Euro = 1,2155 US$ (Banco Central, 2006). (2): dados estimados pelo autor, na ausência de dados oficiais.

Área do Nordeste

Pólo de São Paulo (Santa Gertrudes – Mogi Guaçú)

Pólo de Santa Catarina (Criciúma)

Adaptado de: Guia geográfico, 2007.

Figura 1 - Localização dos pólos cerâmicos

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4. O PROCESSO DE PRODUÇÃO

4.1. O processo geral de monoqueima

No processo de produção de peças cerâmicas por monoqueima, a aplicação do

esmalte é feita no suporte "verde", ou cru, chamado "biscoito". A queima sucessiva é

simultânea no biscoito e no esmalte (VENTURI, 1986). Desde que a cerâmica

começou a assumir proporções industriais, o conceito de queima única foi preferido,

quando possível. No caso da porcelana para uso doméstico (apesar de secar o

biscoito a alta temperatura, 900°C, apenas para poder manusear a peça) dos

isoladores elétricos de porcelana, dos sanitários e de outros produtos, as peças são

queimadas uma única vez. A presente dissertação se refere, porém, ao processo de

monoqueima relativo à fabricação de peças esmaltadas para pisos e paredes, o qual

efetivamente, constitui-se como uma tecnologia nova, sendo que as primeiras

plantas industriais de grande dimensão datam do início dos anos setenta.

Os materiais produzidos com este sistema podem ser divididos basicamente em

duas categorias: materiais greificados (grés vermelho), aptos para uso externo e em

condições de baixa temperatura, cujas características tecnológicas são

predominantes, e materiais porosos, aptos a serem utilizados em ambientes

internos, como piso e revestimento de parede, cujas características estéticas e

decorativas são preponderantes (VECCHI, 1977). O processo se contrapõe ao mais

tradicional de "biqueima", que prevê queimar as peças duas vezes, a primeira

reservada exclusivamente ao suporte, a segunda destinada à "maturação" do

esmalte aplicado entre as duas fases de queima. A monoqueima, portanto, prevê

uma queima única para a sinterização do suporte e a maturação do esmalte

(VENTURI, 1986).

Inicialmente, a monoqueima representou uma verdadeira inovação. A biqueima

permite queimar a produção em "massa", isto é, alimentando o forno com várias

peças empilhadas, apoiadas em estruturas que mantêm uma distância mínima entre

elas, apenas para não danificar o esmalte, sendo possível, também, queimar

qualquer tipo de massa cerâmica. A monoqueima, por processar um suporte "verde"

e pela tendência de produzir um material altamente greificado (com proeminente

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fase líquida), exigia a passagem no forno das peças sobre suportes individuais

(placas refratárias), em simples camada. A escolha da baixa porosidade resídua da

produção era ditada pela baixa homogeneidade térmica dos fornos, que garantia

estabilidade dimensional do produto apenas com a porosidade próxima de zero

(produto altamente greificado). Esta tecnologia favorecia o uso de massa vermelha

em comparação à branca ou semibranca, pela menor característica refratária.

Nasceram assim os fornos monocamada, com vários canais independentes, com

ciclo rápido, de até 150 minutos. Dessa tipologia de fornos, derivam os modernos

fornos rápidos de rolos, hoje universalmente utilizados pela monoqueima. A tipologia

de forno de rolos permitiu ampliar as tipologias de produtos, aumentando suas

dimensões e características. Hoje a Espanha é o maior produtor do mundo de

"monoporosa", isto é, um produto de média ou alta porosidade, para revestimento

(azulejo), obtido por monoqueima.

A partir dos anos 70, então, passou-se do processo de queima lenta ao de

queima rápida e conseqüentemente todas as fases do processo foram repensadas

em função desta grande inovação que determinou perspectivas tecnológicas antes

impensáveis. As dimensões dos fornos aumentaram, os sistemas de combustão e

de controle melhoraram, permitindo uma distribuição térmica otimizada em relação

aos materiais, especialmente nas áreas críticas da curva de queima.

A dinamicidade do setor cerâmico foi determinante ao favorecer a contínua

evolução dos processos de produção. Ao longo dos anos 70 se assistiu à

transformação tecnológica das plantas de produção, passando dos processos

tradicionais em forno de túnel aos modernos sistemas que adotam forno de rolos,

com ciclos rápidos de queima. A adoção destas novas tecnologias exigiu novos lay-

outs e o elevado grau de automação permitiu uma forte compressão dos custos

industriais. Conseqüentemente, nos anos 80, verificou-se a evolução dos processos

de produção, nas diferentes fases, por meio de difusão da moagem a úmido

descontínua, introdução do processo de atomização9 da barbotina10, difusão das

prensas hidráulicas, adoção de secadores rápidos e difusão de fornos de rolos. O

9 Atomização: processo para obter a evaporação da água contida numa barbotina, até valores residuais de 4–7 %; consiste na injeção em alta pressão (2,5-3,0 MPa) e nebulização da barbotina do lado inferior do atomizador, em contracorrente com um fluxo de ar quente. A barbotina é assim transformada em aglomerado de pó seco, de granulometria e umidade controlada. Venturi (1986). 10 Barbotina: dispersão da massa cerâmica moída em água; produto final da moagem a úmido. Facilita a homogeneização de matérias primas extremamente diferentes. Venturi (1986).

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uso da moagem contínua está se firmando, cada vez mais, também para plantas de

pequena e média dimensão.

Nos anos 90, assiste-se à consolidação dos processos de produção da

monoporosa e da biqueima rápida, permitindo a redução dos custos industriais.

São evidentes, então, os efeitos da rápida evolução tecnológica ao longo dos

últimos 30 anos, que podem ser resumidos em aumento da produtividade por

pessoa, diminuição da área ocupada pela planta e redução dos custos industriais

(SACMI, 2003).

A adoção, cada vez mais difundida, de dispositivos eletrônicos avançados

permitiu automatizar completamente o processo, com particular evidência no que se

refere à movimentação do produto. Ao longo da linha, o produto é deslocado com

sofisticados sistemas de transporte contínuo, de rolo ou correia. Devido à alta

produtividade dos equipamentos, é necessário dispor em vários pontos do processo

de "acumuladores" de estoques, com função de segurança. Caso algum problema

se verifique numa seção da linha, os dispositivos de acúmulo permitem realizar as

intervenções emergenciais necessárias, sem provocar parada às seções que

precedem e seguem. O último e sofisticado desenvolvimento dos sistemas de

movimentação é representado pelo uso de equipamentos de guia laser para

estocagem e movimentação do produto verde e queimado. Trata-se de verdadeiros

sistemas logísticos, mais adiante descritos com detalhes.

O sucesso da tecnologia de monoqueima se deve a vários fatores, como a

rapidez do ciclo de queima, que permite sensível economia (em tempo, espaço,

energia, mão de obra), o incremento das características mecânicas do produto

acabado, a resultante simplicidade dos sistemas de esmaltação, a possibilidade de

produção de grandes formatos e de utilização de automação extremamente

avançada.

Na figura 2 é exposto o fluxograma do processo geral de produção de

monoqueima. Na descrição que segue, são sinteticamente descritas as fases e as

operações características que compõem o processo geral de monoqueima, com

referência à figura 1 (BORDIGNON, 2004).

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DOSAGEM

PENEIRAÇÃO

PRENSAGEM

SECAGEM

ESMALTAÇÃO

QUEIMA

ESCOLHA

EMBALAGEM

MOAGEM

ESTOQUE MASSA MOÍDA

PREPARAÇÃO ESMALTES

ESTOQUE PRODUTO ACABADO

ESTOQUE MATÉRIAS PRIMAS

PARA ESMALTE

ESTOQUE MATÉRIAS PRIMAS

Figura 2 - Fluxograma do processo genérico de produção de monoqueima

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O processo inicia-se com o recebimento das matérias primas, que, no caso das

argilas, devem ser mantidas no estoque por tempo determinado, para homogeneizar

a umidade.

Juntamente à natureza química e às associações mineralógicas das matérias

primas, as características finas do produto dependem fortemente dos parâmetros

tecnológicos adotados ao longo do processo de fabricação. Alguns comentários

serão estendidos, ao longo do texto, evidenciando os aspectos mais importantes.

Prossegue com a dosagem, quando diferentes matérias primas são pesadas nas

proporções determinadas pela formulação do produto. Esta fase pode ser realizada

com pesagem descontínua ou contínua e pode ser realizada com equipamentos de

diferentes níveis de automação; no caso descontínuo, podem ser usados sistemas

mecânicos tradicionais. Ao contrário, para alimentar moinhos contínuos, é

necessário dispor de esteiras de pesagem contínua, controladas por

microprocessador. A massa dosada pode ser estocada temporariamente em silos de

pré-carga dos moinhos (SACMI, 2003).

Em seguida, as matérias primas são encaminhadas à fase de moagem, que pode

ser a úmido ou a seco e com processo contínuo ou descontínuo. A moagem tem

como objetivo a redução dimensional e a homogeneização das matérias primas, até

a obtenção de características finais constantes em termo de composição e de

granulometria. É uma fase importante e delicada, pois o grau de moagem influencia

a estabilidade dimensional e a porosidade do produto final (BORDIGNON, 2004).

No caso da monoporosa, o grau de moagem das matérias primas pode influenciar

também a temperatura final de eliminação de gases da massa ou a reatividade dos

componentes durante a queima. No caso de massa greificada, influi sobre os valores

de encolhimento e porosidade residual. Em ambos os casos, altera sensivelmente as

características mecânicas finais do produto (SACMI, 2003).

Com base nas características das matérias primas, os fatores principais que

condicionam o processo são as dimensões iniciais, a dureza, a estrutura física, o

conteúdo de água, o comportamento reológico e as impurezas dos minerais. Outro

fator determinante é a granulometria final do pó a ser obtido e as considerações de

economia e eficiência do processo.

No caso descontínuo, dois são os momentos de interrupção do processo, a carga

e a descarga do moinho. O processo de moagem contínua está se difundindo

amplamente, em virtude das vantagens que apresenta, em termo de maior

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constância das características do pó, aumento da densidade, melhores

características reológicas, maior racionalidade na planta e sensível economia direta

(mão de obra) e indireta (energia requerida pela moagem).

No caso da moagem a úmido, pode ser realizada a dissolução prévia de parte da

argila (geralmente a fração mais fina e de maior plasticidade), produzindo uma

suspensão argilosa que é colocada no moinho ou diretamente na barbotina em

saída.

No caso do porcelanato, a cor da massa base pode ser obtida adicionando, de forma

descontínua, “xaropes”11 concentrados, cuja moagem é realizada em moinhos

específicos. No processo de moagem a úmido é necessário secar a barbotina. Esta

fase é realizada com a atomização, que efetua a evaporação da água e realiza a

formação de partículas esferoidais. A massa moída é estocada até prosseguir o

ciclo.

O dimensionamento da planta de atomização, no caso do porcelanato, depende

da tipologia de produto e do número de cores requeridas. Embora o processo de

atomização seja conceitualmente o mesmo para todo tipo de produto cerâmico, a

complexidade do conjunto de pó necessário define número e potencialidade de

tanques, silos e até atomizadores a serem instalados. Prevendo a produção de re-

granulado, a configuração da planta é ainda mais complexa.

Na fase sucessiva, após uma peneiração de controle, a massa moída alimenta a

prensa, que realiza a compactação e a conformação do suporte. A prensagem é

uma fase extremamente importante do processo. O objetivo é a obtenção da máxima

densidade da massa verde, para não gerar defeitos na queima (esfoliação, falta de

resistência mecânica, auréola12, coração negro13, densidade não uniforme). As

prensas hidráulicas atualmente utilizadas representam o melhor compromisso entre

características do produto, confiabilidade mecânica e economia energética. A

operação é realizada em prensas hidráulicas de alta potência (até 7.000 t) e a

pressão específica, na massa, varia entre 20 e 30 MPa; no caso de massas

vermelhas e mais plásticas pode descer a valores de 15 MPa. No caso do grés

11 Xarope concentrado é constituído de barbotina colorida com alta concentração de pigmentos. 12 Auréola: defeito devido a alta quantidade de pó fino na massa, gerado pelo movimento do ar deslocado pelo punção móvel durante o fechamento do estampo, que arrasta o pó fino adensando-o nas bordas (BIFFI, 2000). 13 Coração negro: defeito devido à incompleta oxidação na queima de substâncias orgânicas presentes na massa, constituído por uma mancha escura na parte interna das placas (núcleo), (BIFFI, 2000).

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porcelanato, a compactação da massa é maior, sendo necessário utilizar pressões

específicas de 35 até 45 MPa.

O produto “verde” deve perder a umidade residual, o que se realiza na secagem,

cujo ciclo deve garantir a eliminação da umidade residual da massa (4-7%), o

controle da estabilidade dimensional e o incremento da resistência mecânica do

material, necessário para enfrentar as solicitações da decoração serigráfica.

Utilizam-se secadores verticais, com o produto colocado em estruturas de suporte,

ou horizontais, mono ou multicamada, sobre rolos. Com o uso de secadores

verticais, o ciclo é aproximadamente de 35 a 70 minutos; com a tipologia horizontal,

o ciclo tem duração de 6 a 20 minutos.

Segue a esmaltação. A decoração do produto é obtida por deposição de

esmaltes. A tipologia do produto final define o tipo e o número das aplicações na

linha de esmaltação e o estado físico dos esmaltes, que podem ser suspensões em

água ou pastas misturadas com veículos serigráficos ou secas, com colas e outros

aditivos. As exigências são as mais variadas, de 4 ou 5 até 25 ou mais aplicações,

depositando de 300 g/m2 até 3 kg/m2 de esmalte. A linha de esmaltação completa é

obtida compondo, na seqüência estabelecida, módulos padrão, cada um com o

próprio sistema de transporte e com suas unidades de aplicação. Variáveis de

processo importantes são as características reológicas dos esmaltes, o correto

funcionamento das máquinas decoradoras, as características do produto após a

secagem, o peneiramento dos esmaltes e a eliminação de contaminantes

cromóforos (ferro).

A extrema automação que regula o processo de produção em todas as fases de

trabalho entra com dificuldade na linha de esmaltação, na qual o rolo dos

operadores continua prioritário e fundamental.

Com referência ao processo do grés porcelanato, se antes não era realizada a

esmaltação das peças, hoje a sofisticação dos produtos, exigida pelo mercado,

impõe a presença de linhas com algum grau de complexidade. A tecnologia ligada

ao uso de sais solúveis ou outros tipos de esmaltes é relativamente recente e, em

alguns casos, sofisticada. O comprimento das linhas pode variar de 30 até 120 m.

Entre os fatores mais importantes desta fase do processo, destacam-se a

temperatura do suporte, que influi sobre a difusão da solução salina e o método de

aplicação, pois a quantidade de sais cromóforos ou esmaltes a serem aplicados

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depende do sistema aplicador, determinando a intensidade da cor e a quantidade de

solvente utilizado, que altera a profundidade de impregnação.

A estabilização do sal após a aplicação pode ser feita naturalmente (no ambiente) ou

com uso de máquinas térmicas (pequenos secadores de linha).

A fase sucessiva é a queima, operação fundamental da produção cerâmica, que

permite o desenvolvimento de todas as reações que determinam a aquisição das

características tecnológicas e estéticas desejadas, com a sinterização do suporte e a

maturação do esmalte (VENTURI, 1986). A definição dos parâmetros de queima

(curva térmica) é fundamental para o correto desenvolvimento do complexo quadro

de reações químico-físicas que se realizam. É importante observar que os resultados

dependem da natureza químico-física da massa, do grau de moagem, da densidade

aparente do suporte prensado e da temperatura máxima de queima. A análise de

tais parâmetros não pode ser feita separadamente, mas considerando as respectivas

interações e os efeitos sinérgicos obtidos pela variação simultânea de vários deles.

O processo hoje mais utilizado é a queima rápida, monocamada e sobre rolos, em

fornos rápidos de passagem (BORDIGNON, 2004). Os ciclos de queima atualmente

usados variam de 35 a 60 minutos e as temperaturas máximas podem oscilar entre

1.080°C e 1.220°C. No caso do grés porcelanato, variam de 45 min., para formato e

espessura modesta, a 90 min., necessários para formatos de grande dimensão e

espessura elevada, e até a 120-160 min., no caso das dimensões máximas hoje

produzidas (1 x 2 m). As temperaturas máximas variam de 1.180°C a 1.270°C,

dependendo das características da massa, do grau de moagem da barbotina e da

compactação na fase de prensagem (SACMI, 2003).

São identificadas as fases de pré-aquecimento, até 800°C, temperatura em que

se verifica a destruição dos materiais argilosos; de aquecimento, até 900°C, em que

os carbonatos são decompostos e o CO2 é eliminado; de queima, até 1.100°C, em

que se realizam as reações de síntese dos óxidos com as fases amorfas e verifica-

se a neoformação de compostos, que são fundamentais para definir as

características mecânicas do produto; de sinterização, até a temperatura máxima

(próxima a 1.180°C para monoporosa e 1.270°C para grés), em que são

completadas a sinterização do suporte e a fusão do esmalte; de resfriamento rápido,

até 600°C, para obter a solidificação do esmalte; de resfriamento lento, até 200°C,

para redistribuir as tensões internas devidas à transformação do quartzo livre.

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As características de planicidade são controladas gerenciando pequenos

gradientes de temperatura entre as faces superiores e inferiores do produto.

O processo de produção termina com a escolha e a embalagem. A escolha é

realizada em duas fases, uma relativa a cor e tonalidade do esmalte e uma relativa a

parâmetros dimensionais. O controle das características estéticas do produto final e

sua classificação é realizado manualmente, por operadores especificamente

treinados. Nesta fase, o produto é deslocado sobre esteira e passa na frente do

operador que compara o produto com uma ou mais amostras de referência postas

numa mesa ao lado da esteira; o operador marca com tinta especial as peças

defeituosas ou com classificação especial. Na fase seguinte, o equipamento que

verifica as características dimensionais do produto reconhece as marcas do

operador e separa as peças de acordo com a classificação definida. A seleção

dimensional dos produtos é realizada em máquinas automáticas, com equipamentos

eletrônicos que verificam o calibre e a planicidade das superfícies, classificando o

produto automaticamente e separando-o para a embalagem.

Embora não tenha intervenção nas características do produto, a escolha é uma

fase muito delicada do ciclo de produção, pelo que tange à qualidade final do

produto. É importante ressaltar que a seleção do produto, com respeito à tonalidade

da decoração e a eventuais defeitos estéticos, é manual e depende exclusivamente

da habilidade e atenção do operador e das condições luminotécnicas do ambiente.

Alguns fabricantes europeus, recentemente desenvolveram sofisticados

equipamentos óticos de escolha em função da tonalidade do produto. Em

consideração da alta produtividade, do grande número de variantes de formatos

desenhos e cores dos produtos, das pequenas diferenças de tonalidade a serem

detectadas, os resultados ainda não alcançaram a confiabilidade necessária,

inviabilizando a difusão deste interessante tipo de equipamento.

O processo de embalagem é também automatizado e no caso de linhas de alta

produção, a automação se estende até a formação da paleta e seu revestimento

com filme plástico extensível ou termo-encolhível (BORDIGNON, 2004).

Algumas linhas de produtos de grés porcelanato requerem uma ulterior fase de

processo: o polimento e a esquadrejatura, ou retífica dimensional. A elevada

compactação do grés permite obter, com o polimento, superfícies especulares, com

grande ganho estético. A retífica das bordas permite a colocação final das peças

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lado a lado, dispensando a utilização de rejunte, criando assim pisos contínuos com

resultados estéticos de grande efeito visual.

A fase de polimento se caracteriza mais como um pequeno processo separado,

prevendo as fases de polimento próprio e o de esquadrejatura e “bisellatura"14. O

polimento, geralmente a úmido, é realizado exclusivamente sobre produto de 1a

escolha e inclui as subfases de calibragem da peça, desbaste, primeiro polimento e

polimento final.

A esquadrejatura consiste de uma calibragem fina do produto e deixa todas as

peças com tamanho único.

A bisellatura realiza um chanfre nas bordas (SACMI, 2003).

Com respeito à produção do grés porcelanato, se comparada à de outras

tipologias de produtos cerâmicos, salienta-se a introdução de alguns aspectos

tecnológicos e de planta peculiares. Trata-se do uso de barbotinas coloridas (comum

a todas as produções de grés porcelanato) da dosagem e mistura de pó colorido

(exigido para a realização de granitos) da realização de granulados, da mistura com

pó de diferente densidade para a realização dos macro-granitos, da distribuição de

pó colorido na fase de prensagem, na produção dos “variegati”, da formulação,

aplicação e secagem de soluções cromóforas para os produtos decorados.

4.2. A produção de monoqueima na Itália

A configuração do processo produtivo pode apresentar diferentes níveis de

sofisticação, dependendo do grau de automação e do tipo de controle adotado.

A Figura 3 representa o fluxograma do processo de monoqueima universalmente

adotado na Itália.

Os principais fatores a serem examinados para definir o grau de sofisticação da

planta são, geralmente, o nível tecnológico e a cultura local, as dimensões da planta

e a sua flexibilidade (SACMI, 2004).

Na Itália, o processo de produção é altamente consolidado e a quase totalidade

dos produtores utiliza o processo de moagem a úmido e o estoque pré/pós queima,

além de um grau de automação muito elevado.

14 bisellatura: termo técnico, de origem italiana, que indica a execução de um chanfre nas bordas das peças cerâmicas.

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DOSAGEM

PENEIRAÇÃO

PRENSAGEM

SECAGEM

ESMALTAÇÃO

QUEIMA

ESCOLHA

EMBALAGEM

ATOMIZAÇÃO

ESTOQUE MASSA MOÍDA

PREPARAÇÃO ESMALTES

ESTOQUE PRODUTO ACABADO

ESTOQUE PULMÃO VERDE

ESTOQUE PULMÃO QUEIMADO

POLIMENTO

ESTOQUE MATÉRIAS PRIMAS

PARA ESMALTE

MOAGEM A ÚMIDO

ESTOQUE MATÉRIAS PRIMAS

PORCELANATO

Figura 3 - Fluxograma do processo de produção de monoqueima na Itália

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O uso de estoque pré/pós queima permite, ao longo do dia (em dois turnos), a

acumulação de uma quantidade de produto suficiente para alimentar o forno de

queima no período noturno (3° turno) e nos finais de semana, quando todos os

outros equipamentos, à exceção do forno, permanecem inativos. Paralelamente, nos

mesmos períodos de inatividade, na saída do forno é criado um estoque de produto

queimado que, ao longo dos períodos normais de trabalho, é processado pela

secção final de escolha e embalagem. As conseqüências deste tipo de escolha

tecnológica são de grande relevância.

A moagem a úmido permite a obtenção de um produto com características

técnicas muito superiores às do produto moído a seco.

A maior limitação para obter uma satisfatória constância no controle de qualidade

do produto acabado, pelo que se refere a cores e tonalidades, é representada pelas

condições do ambiente de trabalho. A escolha é efetuada por operadores

oportunamente treinados, que comparam visualmente o produto que passa na linha

de produção com algumas amostras padrão. É evidente que a capacidade objetiva

de julgamento do operador depende de muitos fatores, como tempo de trabalho

contínuo, disposição física e, principalmente, das condições ambientais, em termo

de iluminação. Por iluminação se entende o significado mais completo em termo de

iluminotécnica, o que envolve não apenas o nível luminoso da mesa de trabalho,

mas as características de temperatura-cor, reflexão e outros parâmetros próprios do

material. Os parâmetros de iluminação da mesa dependem fortemente das

condições do ambiente externo, particularmente pela influência da iluminação

natural. É evidente que as condições de trabalho e, conseqüentemente, a

capacidade de julgamento do operador muda do dia para a noite. A eliminação do

trabalho de escolha no período noturno incrementa muito a constância da qualidade

do processo de escolha do produto a ser embalado.

A última análise de mercado da ASSOPIASTRELLE (2006) releva que a produção

de biqueima, na Itália, é responsável por aproximadamente 8% da produção total de

cerâmica para revestimento, baseada na maior facilidade desse processo em aceitar

tipologia de decoração altamente sofisticada. Trata-se, portanto, de nichos

específicos de mercado.

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4.3. A produção de monoqueima no Brasil

No Brasil o processo de monoqueima também é preponderante. Ainda existem

instaladas e operativas algumas linhas de biqueima, limitada à produção de azulejo

de pequeno formato, em unidades obsoletas e destinadas a serem desativadas a

curto prazo, quando serão substituídas por linhas modernas de monoqueima.

A Figura 4 representa o fluxograma geral do processo de monoqueima adotado

no Brasil.

Como antes relatado, a maioria dos fabricantes (58%) adotou o processo a seco.

A escolha pode ser justificada pelas características do mercado e por conveniência

dos fabricantes.

Do ponto de vista tecnológico, o tipo de processo que utiliza a moagem a seco e a

re-granulação do pó é utilizável na produção de revestimento e pode ser adotado na

biqueima, quando se pode utilizar uma composição de massa muito rica em

materiais argilosos ou, melhor, quando se usam materiais com características

morfológicas similares. Por outro lado, menos freqüente e de qualquer forma

dificultada, resulta a produção de monoporosa em linhas que integram este tipo de

moagem (SACMI, 2003). É exatamente o que ocorreu no pólo de Santa Gertrudes,

onde há disponibilidade de matéria prima uniforme e com característica de

preponderante argilosa, porém utilizada na fabricação de produtos de baixa

densidade (monoporosa).

Ribeiro e Quintal (2001, pp. 14-15) ressaltam a diferente qualidade dos produtos

obtidos por moagem a úmido ou a seco, informando sobre a escolha tecnológica de

um produtor que instalou duas unidades de produção: uma “... para produtos de

revestimentos cerâmicos de alto valor agregado pelo processo conhecido como via

úmida” e outra “... para produção de revestimentos cerâmicos de menor valor

agregado pelo processo via seca”.

Experimentos realizados pelo Centro Cerâmico de Bologna (NASSETTI,

PALMONARI, 1997) tornaram possível uma comparação precisa entre massas

preparadas pelos processos via seca e via úmida, partindo da mesma composição,

para a produção de peças de monoqueima de base vermelha. Os resultados

ressaltam que as massas granuladas (processo a seco) possuem menor retração de

queima, maior absorção de água e menor resistência mecânica. Percebe-se, então,

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que as massas preparadas com o processo via úmida possuem melhores

características tecnológicas, quando todas as condições são iguais.

Araújo, Romachelli e Martins (2001, p. 29) evidenciam que “os produtos

confeccionados por via úmida tendem a apresentar maior constância de

qualidade...”.

Outra grande diferenciação da tecnologia brasileira, quando comparada com a

européia, aparece no grau de automação das linhas. Como antes ressaltado, no

Brasil não acontece a estocagem, de automação integral, antes e após a fase de

queima.

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DOSAGEM

PENEIRAÇÃO

PRENSAGEM

SECAGEM

ESMALTAÇÃO

QUEIMA

ESCOLHA

EMBALAGEM

ATOMIZAÇÃO

ESTOQUE MASSA MOÍDA

PREPARAÇÃO ESMALTES

ESTOQUE PRODUTO ACABADO

ESTOQUE MATÉRIAS PRIMAS

PARA ESMALTE

MOAGEM A ÚMIDO

POLIMENTO

MOAGEM A SECO

GRANULAÇÃO

EMBALAGEM

ESTOQUE MATÉRIAS PRIMAS

PORCELANATO

Figura 4 - Fluxograma do processo de produção de monoqueima no Brasil

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4.4. Aspectos ambientais

Com relação aos aspectos ambientais, novamente se observa uma “gritante”

diferença entre as realidades dos dois países. Na Itália, a existência de limites

rígidos das emissões de efluentes líquidos e atmosféricos, a constante fiscalização

dos Órgãos de controle, a efetiva aplicação de penalidades de caráter pecuniário e

penal e caso os limites impostos sejam ultrapassados, mesmo que temporariamente,

a recente necessidade de coordenação das políticas comunitárias da União

Européia obrigam os fabricantes a manter um rigoroso controle sobre características

poluentes das instalações e o impacto ambiental. A título de exemplo, em 1998

verificou-se que 90% das empresas tratavam e reciclavam as águas de processo,

limitando o consumo efetivo a 40% das necessidades; todas as plantas eram

dotadas de equipamentos para depuração das emissões gasosas, respeitando

integralmente os limites impostos pela legislação. Do ponto de vista energético, as

empresas consumiam, sempre em 1998, as mesmas quantidades de 1977, com uma

produção mais que dobrada (ASSOPIASTRELLE, 1998). Todos estes resultados são

atribuídos à inovação tecnológica e à constante modernização das plantas de

produção. Nesta área deve ser também salientada a constante ação da Associação

de setor (Assopiastrelle), que muito participa da divulgação de uma cultura

ambientalista entre os empresários, fornecendo cursos, informações, realizando

estudos e participando ativamente da definição de normas específicas e até

negociando a definição de leis com as entidades governamentais.

No Brasil, este aspecto ainda não foi abordado com a necessária seriedade,

faltando parâmetros técnicos claros para os limites de emissão, fiscalização eficaz e

diretrizes para planos de desenvolvimento ambiental.

4.5. Aspectos econômicos

A crescente concorrência interna e internacional pressionou, ao longo dos anos,

os ceramistas italianos a realizar produtos de valor agregado cada vez maior e com

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um conteúdo crescente de inovação, como o grés porcelanato, cuja participação,

atualmente, ultrapassa 65% da composição do mix total da produção e cresce

constantemente. As características técnicas do grés porcelanato exigem matérias

primas de altíssima qualidade, principalmente do ponto de vista da pureza, não

totalmente disponíveis na Itália, obrigando os produtores a importar uma

percentagem preponderante do volume total de materiais (>60%).

O Brasil, pelo contrário, não é obrigado a importar matérias primas, seja pela

grande disponibilidade de matérias primas nacionais de alta qualidade, seja pela

menor exigência de qualidade, em consideração do padrão do mix de produtos que

o mercado nacional exige.

Do ponto de vista de consumo energético, a Itália alcançou níveis de eficiência

altíssimos, investindo em isolamento térmico, recuperação de calor e co-geração;

atualmente a co-geração é utilizada em mais de 35% das empresas e o consumo

específico de energia térmica desceu a quase 2,5 Nm3 de GN (gás natural) por m2

de piso produzido. Dados históricos (ASSOPIASTRELLE, 2007) indicam que, de

1978 até 1998, a produção dobrou e o consumo energético permaneceu constante.

No Brasil, a co-geração ainda não entrou no processo e os consumos térmicos

específicos se atestam em valores maiores, estima-se acima de 3,5 Nm3GN / m2 no

caso das plantas de monoqueima mais modernas, e próximo de 5 Nm3GN / m2 para

a biqueima (BORDIGNON, KAMINSKI, 2007).

Com referência à mão de obra, vale salientar que a capacitação técnica dos

profissionais é similar nos dois países.

A título de exemplo, as tabelas 17 e 18 resumem a composição dos custos dos

produtos italianos. No Brasil não é publicado oficialmente um levantamento de

custos similar.

Tabela 17 - Custos totais de fabricação no mercado italiano

Itens de custo Euros/m2 Participação %

Produção 6,94 70,54 %

Comerciais 2,09 21,12 %

Administrativos e Financeiros 0,82 8,34 %

Custo médio total 9,86 100,00 %

(Adaptado de Confindustria Cerâmica, 2007)

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Tabela 18 - Composição de custos de produção do mercado italiano

Itens de custo Euros/m2 Participação %

Matérias primas suporte 1,26 18,08 %

Esmaltes e cores 0,64 9,18 %

Energia elétrica 0,38 5,46 %

Energia térmica 0,72 10,39 %

Materiais consumíveis – manutenção 0,66 9,48 %

Embalagens 0,29 4,18 %

Mão de obra direta (produção) 1,63 23,52 %

Acessórios e manufaturas externas 0,88 12,66 %

Depreciação 0,49 7,04 %

Custo médio total 6,94 100,00 %

(Adaptado de Confindustria Cerâmica, 2007)

4.6. Síntese

Em síntese, a comparação da tecnologia de produção na Itália e no Brasil se

reduz a dois pontos importantes: no Brasil é amplamente difundido o uso de massa

preparada com processo a seco e falta a automação pré/pós queima. Em ambos os

casos, as conseqüências sobre a qualidade do produto acabado são indiscutíveis e

o reflexo sobre o preço de produto já foi amplamente descrito e explicado.

Um breve comentário merece ser feito a respeito da biqueima, que na Itália ainda

é responsável por um volume não insignificante e restrito a azulejos com decoração

altamente sofisticada e de alto custo. Estima-se que, no Brasil, esta tecnologia é

responsável por uma produção comparável à italiana e próxima a 7% do total. A

diferença marcante é que a fabricação nacional é obsoleta. A tendência da produção

é decrescente com a progressiva desativação das linhas de produção a favor de

novas instalações de monoqueima.

A tabela 19 resume algumas características tecnológicas da produção na Itália e

no Brasil.

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Tabela 19 - Resumo das características tecnológicas

PARÂMETRO ITÁLIA BRASIL

Monoqueima 86,7% 90% (1) Tipologia de produção

Biqueima 8,8% < 7,0 (1)

Convencional 35% 97% Tipologia de produto

Grés porcelanato 65% 3%

Massa úmida 99% (1) 42,4% Processo de produção

Massa seca 1% (1) 57,6%

Automação de linha Estoque pré/pós queima 100% (1) 0% (1)

(1): dados estimados pelo autor, na ausência de dados oficiais.

A Tabela 19 procura mostrar, de forma resumida, os aspectos destacados na

comparação entre os mercados analisados, focando os fatores tecnológicos.

A distribuição por tipologia de produção (monoqueima-biqueima) é perfeitamente

comparável em termos de volume de produção, mas diverge substancialmente

analisando as características técnicas do produto e das linhas de produção. Na

Itália, a produção é limitada a produtos de alto valor agregado e realizada com

equipamentos modernos, ao passo que no Brasil a biqueima é resíduo de produções

tradicionais de baixo valor manufaturadas em plantas obsoletas e de altos custos.

A análise da tipologia de produto espelha a característica do mercado italiano, de

busca de excelência, privilegiando uma abordagem sofisticada de pesquisa,

inovação e qualidade do produto, o grés porcelanato, e alto investimento e

profissionalização em tecnologia e sistemas de gestão. Esta tendência é confirmada

pela distribuição do processo de produção. Na Itália, a escolha do processo a úmido

está consolidada e é indiscutível, lembrando que a pequena percentagem de

utilização do processo a seco é relacionada com produtos especiais. No Brasil, a

escolha da tecnologia a seco é determinada por razões de economia de processo e

orientada à fabricação de produtos de qualidade inferior. Confirmando o acima

comentado, a adoção das características de automação de linha, na Itália, visam a

sustentar de forma coerente a obtenção da máxima qualidade do produto,

juntamente com a minimização dos custos de produção.

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5. ANÁLISE COMPARATIVA E RECOMENDAÇÕES

No presente capítulo são recolhidas as principais comparações entre as

realidades brasileira e italiana, focando a relação entre os diferentes aspectos

analisados ao longo do trabalho, incluindo normas, mercado, tecnologia e estratégia,

procurando identificar os reflexos sobre a qualidade do produto e as implicações de

mercado.

As considerações conclusivas da análise realizada permitem a geração de

algumas recomendações, consideradas essenciais para a sobrevivência e a

recuperação do setor, especificando os atores mais influentes a que estas

recomendações se destinam.

5.1. Análise comparativa

A situação normativa no Brasil pode ser considerada satisfatória e plenamente

coerente com os maiores competidores do mercado, quando analisada do ponto de

vista estritamente técnico. Aparece, todavia, fortemente inadequada se avaliada sob

o enfoque técnico-comercial, já que a certificação de qualidade de sistema ISO 9000

é considerada atualmente exigência mínima e não mais suficiente a sustentar uma

imagem de alta qualidade da produção. A Tabela 20 permite visualizar a situação

atual nos dois países.

Tabela 20 - Situação normativa atual

SITUAÇÃO OBJETIVO ITÁLIA BRASIL

Norma técnica (Classificação, especificação de produto e metodologia de teste)

Normas harmonizadas

Qualidade de sistema ISO 9000 Certificação de excelência ambiental (ISO 14000) Ecolabel - Qualidade do produto Denominação de Origem Segurança

Certiquality Cerâmica di qualitá

CE - Keymark

- - -

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No âmbito do presente trabalho, da comparação entre Itália e Brasil, observa-se

que a Itália gerou as próprias normas técnicas (UNI), que foram mundialmente

aceitas com a integração nas normas ISO; o Brasil publicou as normas ABNT,

perfeitamente harmonizadas com as correspondentes ISO.

Em ambos os países um número relevante de produtores obtiveram a certificação

do sistema de qualidade, conforme as normas ISO 9000.

Muitos fabricantes italianos responderam com rapidez à publicação da norma ISO

14000 de gerenciamento ambiental, coordenados e apoiados pela associação de

categoria, solicitando e obtendo a certificação Ecolabel de excelência ambiental. A

UNI gerou uma certificação de produto, o selo Certiquality. A União Européia exige

também uma certificação de conformidade às normas de segurança para produtos

destinados à construção civil, o Keymark.

Na ótica de preservar a liderança em termos de qualidade, a Assopiastrelle

solicitou, com sucesso, a criação e um selo de Denominação de Origem, o

“Ceramica di Qualitá”.

A comparação entre os mercados europeu e brasileiro é extremamente complexa

e baseia-se em inúmeros fatores históricos, econômicos e sociais. A tabela 21

apresenta os principais dados de mercado.

Tabela 21 - Principais dados de mercado

PARÂMETRO UNIDADE ITÁLIA BRASIL

Produção total [Mm2] 589 566

Venda total [Mm2] 601 574

Venda no mercado nacional [Mm2] 188 448

Exportação [Mm2] 413 126

Preço médio do vendido US$ / m2 11,0 2,72

Base: 2004.

A produção total dos dois países é muito próxima. A Itália exporta 70% da

produção, dirigida aos mercados europeu e norte-americano. A liderança comercial

deste país é sustentada por grandes investimentos em pesquisa de materiais e

produtos e pelo constante aprimoramento da qualidade e da eficiência do processo

de produção. Os fabricantes brasileiros se desenvolveram num grande mercado

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consumidor, focando a distribuição local que exige material de baixo custo, podendo

utilizar matérias primas locais. Desfrutando de alguns períodos de política de

proteção, cresceram num ambiente de pouca concorrência e sem necessidade de

desenvolvimento extremo. Quase 80% da produção é distribuída no mercado

interno. A exportação é dispersa, privilegiando, todavia, o mercado norte-americano,

no qual consegue um valor dos produtos significativamente inferior ao dos

concorrentes. A desvalorização é devida à tendência de abastecer compradores

externos em busca de preços baixos, gerando vendas de oportunidade

circunstancial e um mercado volátil. Os fabricantes italianos, operando num mercado

muito competitivo e com custos crescentes, foram obrigados a desenvolver

continuamente produtos mais sofisticados e de alto valor agregado.

O parâmetro que mais claramente evidencia as diferenças entre os dois mercados

é o preço médio do produto vendido, verificando que a razão entre os dois valores é

próxima a 5. A Itália consegue o maior preço de produto no mundo, ao passo que o

Brasil realiza um preço entre os menores do mercado mundial, comparável apenas

ao valor obtido por países não representativos, sem a estrutura produtiva e a

tradição do quarto produtor mundial.

O resultado é, atualmente, uma forte vulnerabilidade em função da obsolescência

das linhas de produção e das estruturas organizativas e comerciais.

Comparando as duas realidades no campo tecnológico, o Brasil apresenta um

parque industrial obsoleto; os investimentos permanecem num patamar baixíssimo e

limitados a novas instalações.

A Tabela 22 resume as características tecnológicas salientes.

Tabela 22 - Principais características tecnológicas

PARÂMETRO ITÁLIA BRASIL

Convencional 35% 97% Tipologia de produto

Grés porcelanato 65% 3%

Massa úmida 99% 42,4% Processo de produção

Massa seca 1% 57,6%

Automação de linha Estoque pré/pós queima 100% 0%

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O custo de capital limita novos investimentos para aumentar a eficiência

energética e o controle ambiental. Novas linhas de produção continuam sendo

implantadas sem o cuidado de melhorar automação, eficiência térmica e emissões

de poluentes. A produção de grés porcelanato, no Brasil, não alcança 3% do total,

permanecendo o foco no produto tradicional. Os produtores nacionais são divididos

com respeito à escolha do processo, parte produzindo a úmido, parte a seco.

A Itália tem estimulado a busca da excelência, com altas taxas de investimento

destinado a tecnologia, automação e pesquisa. Para a obtenção de produtos da

máxima qualidade com custos controlados, a opção geral foi a massa atomizada,

obtida por via úmida, realizando materiais de alto valor agregado, que atualmente

representam mais de 65% do total produzido.

A forte preocupação com a preservação ambiental, na Europa, se reflete nas

características das instalações produtivas dos ceramistas italianos, dotadas de

sistemas de filtragem das emissões gasosas, de reciclagem das águas de processo,

de recuperação de calor e, cada vez mais, de cogeração. No Brasil faltam dados

estatísticos a respeito das instalações de proteção ambiental. Pela experiência do

autor, várias empresas adotam algum sistema, embora parcial, de tratamento das

águas de processo, pouquíssimas apresentam tratamento de efluentes gasosos,

limitadamente a algumas fases do processo, e o descuido com o fator energético é

generalizado.

Com relação aos aspectos econômicos, tratados no item 4.5., vale evidenciar que

a Itália é fortemente penalizada pela necessidade de importar grande quantidade de

matéria prima, fato que encarece sensivelmente o produto. Os custos energéticos,

na Itália, são cuidadosamente controlados e a cogeração é uma prática em forte

expansão. No Brasil, as matérias primas são integralmente nacionais, a recuperação

de calor não é utilizada e nenhuma empresa utiliza sistemas de cogeração.

Nesta área, também, o Brasil carece de dados e informações oficiais e confiáveis.

Para completar a comparação, examinaram-se os aspectos estratégicos de

gestão empresarial e da produção.

O forte crescimento profissional dos fabricantes italianos levou, nos últimos anos,

ao desenvolvimento de sistemas de gestão que prezam o uso cuidadoso de um alto

volume de dados e indicadores técnico-econômicos confiáveis. Estas informações,

devidamente compartilhadas, permitem uma participação pró-ativa da associação de

setor (Assopiastrelle), que publica e executa estudos, análises e projeções,

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determinando linhas-guia e colaborando de forma sinérgica com o desenvolvimento

do setor, disponibilizando um quadro claro da situação econômica e das tendências

de mercado, sugerindo o desenvolvimento de novos produtos e de políticas de

vendas, de marketing e ambientais.

Totalmente diferente é a situação nacional. As associações locais não conseguem

realizar uma participação ativa na vida empresarial do setor. A falta de sistemas

modernos de gestão e de uma cultura empresarial avançada impede a necessária

elaboração e disponibilização, por parte dos fabricantes, de dados e informações

preciosas para a geração e manutenção de banco de dados do setor.

Conseqüentemente, inviabiliza-se a elaboração de estudos ou análises setoriais, a

criação de observatórios e de todas as outras atividades que normalmente

competem às associações de categoria. A falta de difusão de informações é

comumente justificada com a necessidade de sigilo a respeito de dados estratégicos.

Esta motivação, objetivamente, confirma a carência de capacitação e

profissionalismo dos gestores e, provavelmente, é utilizada para ocultar algumas

práticas ilegais de informalidade.

5.2. Recomendações

Com base nas pesquisas e análises efetuadas no presente trabalho, é perceptível

a situação de latente fragilidade do setor cerâmico nacional. A velocidade de

desenvolvimento do ambiente econômico mundial gera uma situação de alto risco

que deve ser entendida e interpretada rapidamente.

É evidente a imediata necessidade de reestruturação da produção cerâmica no

Brasil, envolvendo cada empresa atuante e o setor como um todo.

Algumas recomendações podem ser formuladas, juntamente com a definição dos

atores principais aos quais são destinadas. Vale evidenciar que, para manter

objetividade e foco, serão relatadas apenas as sugestões mais importantes e

urgentes.

É possível restringir a apenas três os atores importantes, que mais podem

influenciar o setor cerâmico nacional, sendo estes o Governo, as Empresas e as

Associações de categoria.

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Do ponto de vista normativo, a situação européia pode servir de inspiração para

estruturar algum tipo de regulamentação ambiental, baseada na definição de

políticas ambientais e estratégias energéticas de alcance nacional.

Seguidamente, as entidades responsáveis para a normatização definem as

certificações relativas. Os atores envolvidos são o Governo e as Associações dos

ceramistas, pois é impensável a regulamentação de um setor produtivo sem a

determinante participação dos representantes das indústrias.

As estratégias comerciais devem ser, ao menos parcialmente, revistas,

destinando uma percentagem maior da produção à exportação e procurando

estruturar redes próprias de distribuição no exterior, com revendas, agentes ou

representantes. Para conter os custos, às vezes proibitivos, de criação de uma

estrutura comercial própria para cada empresa, devem ser exploradas formas de

associações ou consórcios de distribuição, concentrando-se num número menor de

mercados e privilegiando aqueles pouco explorados ou de baixo interesse para os

maiores competidores. Esta atuação envolve principalmente as empresas,

coordenadas pelas Associações.

Do ponto de vista da tecnologia de produção, é necessário realizar altos

investimentos na tecnologia de processo, modernizando as linhas de produção e

dotando as novas instalações de sistemas avançados de controle energético

(isolamento e recuperação de calor) e ambiental. Fundamental é também manter o

foco na melhoria e integração da automação de linha. Uma parcela dos

investimentos deve, também, ser destinada à pesquisa; em ambos os casos

procurando aumento da qualidade dos produtos. Chiva e Alegre (2007), numa

recente pesquisa entre empresas cerâmicas na Itália e na Espanha, destacam a

importância da pesquisa em tecnologia e design para realizar produtos de alto valor

agregado e de alta qualidade, fundamentais para sustentar a imagem da marca e as

lideranças no mercado mundial.

Para sustentar a necessidade de investimentos em tecnologia, cita-se Grahl

(2004), que descreve recentes investimentos realizados no setor cerâmico nos EUA.

O estudo confirma que, definindo corretamente os mercados alvos, utilizando

processos e matérias primas selecionadas e de alta qualidade, instalando

equipamentos de última geração e realizando sólidas parcerias com órgãos oficiais e

profissionais do setor, é possível ganhar mercado e realizar atividades lucrativas

mesmo em áreas hoje consideradas críticas ou não favorecidas, em considerações

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dos custos de mão de obra, dos rígidos limites legais e ambientais e da concorrência

de outros países que dominam o mercado mundial.

Quando possível, é importante analisar as experiências européias, principalmente

na Espanha, de criação de consórcios de produção de massa atomizada. Trata-se

de centros de produção de alta potencialidade, gerenciados de forma cooperativa

por vários ceramistas e dimensionados para produzir a massa necessária a todos os

associados. Tais estruturas permitem grandes economias de escala, custos baixos,

aumento da qualidade das matérias primas e redução, para cada fabricante, da

necessidade de investimentos, gerenciamentos e manutenção de todo o setor de

preparação de massa. O projeto destas plantas prevê a presença de grandes

equipamentos de cogeração, que, dependendo do dimensionamento, pode tornar

auto-suficientes todos os consorciados, no consumo de energia elétrica. É supérfluo

comentar economias e ganhos em termos de autonomia e estratégia.

Na realidade brasileira, este tipo de aplicação seria especialmente adequado para

a região de Santa Gertrudes, em consideração da grande semelhança entre os

produtos, da matéria prima altamente homogênea, do alto número e da proximidade

dos fabricantes da região.

O aspecto tecnológico envolve principalmente as empresas e, considerando o

volume de investimento e as resultantes energéticas, o Governo. Este deve

participar com planos de incentivos, prevendo linhas de financiamento específicas e

desconto ou redução de impostos para os investidores. Vale lembrar que a indústria

cerâmica gera um alto volume de negócios dentro do setor industrial; em 2004, o

setor cerâmico representava mais de 25.000 empregos diretos e 250.000 indiretos

(ANFACER, 2006).

Por último, o aspecto estratégico. Nessa área os principais responsáveis são as

empresas e as Associações de categoria.

Devem ser desenvolvidos planos estratégicos, de médio e longo prazo, com

cuidadosa programação em termos de investimentos para novas tecnologias,

renovação de parque industrial, profissionalização e qualificação dos recursos

humanos (desde a alta direção até o pessoal operativo), realizações de parcerias

reais e conscientes com Universidades, Associações de categoria, Centros de

pesquisa, fornecedores e canais de distribuição profissionais.

Outro aspecto que se torna de fundamental importância para que o Brasil

recupere competitividade é disponibilizar e gerenciar dados técnicos, econômicos e

Page 70: UMA ANÁLISE DA METODOLOGIA DE PRODUÇÃO …...v RESUMO O presente trabalho se propõe a analisar as marcantes diferenças entre os mercados italiano e brasileiro de cerâmica para

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financeiros confiáveis, com o objetivo de aprofundar análises e comparações entre

as empresas nacionais e outras realidades mais desenvolvidas (Itália e Espanha),

otimizando a pesquisa, fomentando práticas de benchmarking e aproveitando as

experiências já realizadas nestes países.

Uma participação construtiva de ANFACER e ASPACER seria extremamente

saudável para poder alcançar o desenvolvimento sustentável do mundialmente

importante setor cerâmico brasileiro.

Uma outra possibilidade que facilitaria o processo de recuperação e

desenvolvimento do setor é representada pela fusão das duas principais

associações de categoria, a ANFACER e a ASPACER. A presença simultânea e

paralela de duas organizações setoriais, com os mesmos objetivos e funções, reduz

a eficácia de qualquer ação em prol dos empresários nacionais. A existência de dois

pólos de produção de cerâmica não justifica a criação de associações separadas e

independentes já que interesses, mercados de atuação, problemáticas industriais,

comerciais, econômicas, ambientais e tecnológicas são os mesmos para todos os

produtores. A união das associações representaria um forte ganho em eficiência e

eficácia, podendo desfrutar a acumulação sinérgica das competências de cada

entidade, com conseqüências positivas em termos de credibilidade e força de

negociação.

A Tabela 23 resume e visualiza as áreas de atuação e os principais atores

envolvidos.

Tabela 23 - Matriz de presença de atores e áreas de atuação

Atores Áreas de atuação

GOVERNO EMPRESAS ASSOCIAÇÕES

NORMAS X X

MERCADO X X

TECNOLOGIA X X

ESTRATÉGIA X X

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6. CONCLUSÕES

A proposta do presente trabalho nasce da observação de diferenças estruturais

entre os mercados cerâmicos da Itália, líder absoluto em termos de qualidade e

preços, e do Brasil, 4° produtor, que apresenta crescente vulnerabilidade.

O objetivo da Dissertação é compreender as causas, verificar sua persistência,

analisar as conseqüências sobre mercado e produção e evidenciar a necessidade

de reestruturação do setor; o foco de análise são os aspectos normativo, de

mercado, tecnológico e estratégico.

O estudo comparativo da norma vigente verifica a equivalência entre os dois

países do ponto de vista técnico, frente a um forte desnível nos aspectos comerciais

relacionados com a citada norma.

Os dados de mercado permitem identificar uma situação aparentemente similar

em termos de volume de produção, porém amplamente diferenciada do ponto de

vista qualitativo, evidenciando uma preponderante vulnerabilidade da produção

nacional.

A verificação da situação histórica e da atual, do ponto de vista tecnológico,

aponta para poucas causas geradoras da diversidade que, todavia, permanece

efetiva, colocando o mercado brasileiro numa posição de risco latente à frente da

evolução do panorama mundial.

A comparação das estratégias empresariais adotadas nos dois países aponta

para a necessidade de reformulação e modernização das empresas brasileiras,

passando por um processo de reciclagem dos atuais gerentes, objetivando técnicas

de gestão mais consistentes e participativas.

O exame da ampla bibliografia nacional e internacional consultada, juntamente a

considerações críticas, sustenta a demonstração da necessidade urgente de uma

profunda reestruturação deste importante setor econômico nacional, com o objetivo

de recuperar uma competitividade perdida.

Os caminhos para esta recuperação passam por uma renovação tecnológica e de

gestão estratégica. A síntese do trabalho apresenta uma breve lista de

recomendações que poderiam iniciar, de forma eficaz, o processo de renovação.

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O trabalho pode ser considerado relevante, pois representa uma análise crítica de

um setor econômico aparentemente estável, apontando para fraquezas e situações

de riscos.

A partir desta dissertação é esperado o desenvolvimento de outros trabalhos

acadêmicos; os temas principais a serem abordados derivam da lista de

recomendações do Capítulo 5, envolvendo prospecções estatísticas, estudos de

estratégia empresarial, propostas de investimentos, análises de caráter técnico-

econômico.

Possíveis objetivos serão:

1.

2.

3.

4.

5.

6.

propostas de implementação de novas tecnologias de processo, focando a

extensão da automação de linha, avaliando as condições econômicas e

financeiras do setor;

desenvolvimento de estratégias de geração de produtos com maior valor

agregado, focando realização de pesquisas sobre novos materiais e tecnologias;

projetos para a realização de consórcios para a produção centralizada de massa

atomizada em alguns pólos de produção, sustentadas por estudos de

harmonização de exigências e conflitos entre os participantes, projetos e análise

de viabilidade;

pesquisas, no mercado produtor, para avaliar o nível de estratégias atualmente

implementadas e para verificar a adequação às exigências futuras de

internacionalização;

análise de atuação das Associações nacionais de categoria e eventuais

propostas de desenvolvimento de estratégias de setor, baseadas na comparação

dos casos de sucesso das Associações européias;

pesquisas e análises da situação ambiental e energética, com propostas de

adequação aos padrões internacionais.

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7. REFERÊNCIAS

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