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Uma análise do varejo de alimentos no Brasil e nos Estados Unidos: estudo de caso nos supermercados Zona Sul e Wegmans Thiago Couto Fernandez Orientadora: Klitia Valeska Bicalho de Sá, D.Sc. Rio de Janeiro Agosto de 2015

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Uma análise do varejo de alimentos no Brasil e nos Estados

Unidos: estudo de caso nos supermercados Zona Sul e

Wegmans

Thiago Couto Fernandez

Orientadora: Klitia Valeska Bicalho de Sá, D.Sc.

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

ii

UMA ANÁLISE DO VAREJO DE ALIMENTOS NO BRASIL E NOS ESTADOS

UNIDOS: ESTUDO DE CASO NOS SUPERMERCADOS ZONA SUL E

WEGMANS

Thiago Couto Fernandez

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinada por:

____________________________________________

Profa. Klitia Valeska Bicalho de Sá, D.Sc. (Orientadora)

____________________________________________

Prof. Renato Flórido Cameira, D.Sc.

____________________________________________

Prof. Roberto Ivo da Rocha Lima Filho, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Agosto de 2015

iii

Fernandez, Thiago Couto

Uma análise do varejo de alimentos no Brasil e nos

Estados Unidos: estudo de caso nos supermercados Zona Sul

e Wegmans / Thiago Couto Fernandez. – Rio de Janeiro:

UFRJ / Escola Politécnica, 2015.

XI, 87 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadora: Klitia Valeska Bicalho de Sá.

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica /

Curso de Engenharia de Produção, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 82-85

1. Varejo de Alimentos. 2. Satisfação do Cliente. 3.

Satisfação do Funcionário. 4. Estudo de Caso.

I. de Sá, Klitia Valeska Bicalho. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia de Produção. III. Uma análise do varejo de

alimentos no Brasil e nos Estados Unidos: estudo de caso

nos supermercados Zona Sul e Wegmans.

iv

Agradecimentos

À sociedade brasileira, por acreditar que impostos gastos em educação pública

de qualidade são um investimento válido.

Pai e mãe, por me oferecerem a melhor educação acadêmica possível, pois sei

que, apesar de direito básico, não é garantia de todo cidadão brasileiro. Sei do esforço

que vocês fizeram para que nada impedisse o meu crescimento intelectual e pessoal. A

vocês, aos meus avós, avôs, irmão e toda família, obrigado pela minha formação como

pessoa. Cresci num ambiente de amor, e assim espero portar-me perante o mundo.

Ania, pela motivação que me faltava para a conclusão dessa etapa. Obrigado

pela paciência e compreensão nas incontáveis horas em que estive ocupado.

Aos amigos da Engenharia de Produção da UFRJ, por toda a colaboração ao

longo de todo o curso. Além de apoio, vocês sempre “levantaram o sarrafo”. Aos

amigos de fora da Engenharia de Produção, muito obrigado pela amizade de sempre.

Participantes da pesquisa, sem os quais esse projeto não seria possível.

Aos mestres que passaram pela minha vida, desde a escola primária. Sem a troca

que sempre tivemos, eu não seria parte do que sou hoje. Aos professores do querido La

Salle Instituto Abel, que nos levaram pelas mãos, em especial durante o pré-vestibular:

Moura, Poppe, Marcelo, Déo, Aurélio, Eliane, Carlito, Miguel e todos os outros que

fizeram a diferença. Aos professores de verdade da UFRJ, principais responsáveis pela

manutenção da qualidade da instituição, apesar de tudo e todos: em especial à

professora Klitia, orientadora paciente, diligente e extremamente comprometida. Aos

professores Meirelles, Zé Miguel, Ericksson, Vinicius, Rose, Alice, Adriano, Cameira,

Eduardo Jardim, Thereza, Edilson, Heitor. Não tive contato próximo com alguns de

vocês, porém admiro seu trabalho e persistência com a UFRJ.

Por fim, à própria UFRJ e seus funcionários de verdade, desde a limpeza ao

administrativo. À Universidade de Melbourne, onde aprendi que organização e

planejamento fazem a diferença. E à Universidade de Cornell, cujas bibliotecas

acolheram-me por longas horas durante a elaboração deste trabalho.

Thiago Couto Fernandez

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

UMA ANÁLISE COMPARATIVA DO VAREJO DE ALIMENTOS NO BRASIL E

NOS ESTADOS UNIDOS: UM ESTUDO DE CASO NOS SUPERMERCADOS

ZONA SUL E WEGMANS

Thiago Couto Fernandez

Agosto/2015

Orientadora: Klitia Valeska Bicalho de Sá

Curso: Engenharia de Produção

O presente trabalho explora a relação entre satisfação do cliente e satisfação do

funcionário no campo do varejo de alimentos, com foco em supermercados, assumindo

que a satisfação do cliente tem potencial para impactar de forma significativa o

desempenho organizacional. A revisão da literatura aponta para os principais pontos a

serem explorados, e a partir de tais pontos é realizado um estudo de caso em duas redes

de supermercados, de tamanho, abrangência e características semelhantes em alguns

aspectos: Zona Sul, no Rio de Janeiro, e Wegmans, no Noroeste dos Estados Unidos. O

estudo de caso abrange aspectos gerais dessas redes, bem como a satisfação de seus

clientes e funcionários de loja, incluindo operadores de caixa e outras funções. Os

resultados analisados permitiram comparações entre as redes. Busca-se explicar tais

comparações, entender em qual “estágio” as redes encontram-se e elucidar as possíveis

implicações gerenciais que os achados possam ter.

Palavras-chave: Varejo de Alimentos, Satisfação do Cliente, Satisfação do Funcionário,

Estudo de Caso.

vi

Abstract of Undergraduate Project presumed to POLI/UFRJ as a partial fulfilment of the

requirements for the degree of Engineer.

A COMPARATIVE ANALYSIS OF THE FOOD RETAIL INDUSTRY IN BRAZIL

AND IN THE UNITED STATES OF AMERICA: A CASE STUDY AT THE

SUPERMARKETS ZONA SUL AND WEGMANS

Thiago Couto Fernandez

August/2015

Advisor: Klitia Valeska Bicalho de Sá

Course: Industrial Engineering

This work explores the relationship between customer satisfaction and employee

satisfaction in the food retail industry, focusing on supermarkets. It assumes that

customer satisfaction has the potential to significantly impact organisational

performance. The literature review points to the main topics to be explored, from which

a case study is developed. Two supermarket chains of similar size, coverage and

characteristics are analysed: Zona Sul, in Rio de Janeiro, and Wegmans, in the

Northeast of the United States of America. The case study comprises general aspects of

these chains, as well as customer satisfaction and employee satisfaction – cashiers and

other roles with direct contact with the customers. The results are shown and debated,

generating a comparison between both chains. The conclusion aims at explaining such

comparison, and at understanding at which stage each of the chains currently is.

Besides, it suggests management implications that its findings may have.

Keywords: Food retail, Customer Satisfaction, Employee Satisfaction, Case Study.

vii

Sumário

1 Introdução............................................................................ 12

1.1 Metodologia ............................................................................................... 13

1.1.1 O método .............................................................................................. 13

1.1.2 A abordagem ......................................................................................... 14

1.1.3 A escolha dos casos ............................................................................... 15

1.2 Limitações e fronteiras ................................................................................ 16

2 Revisão Bibliográfica ............................................................ 18

2.1 Performance versus satisfação do cliente ..................................................... 18

2.2 Satisfação do cliente ................................................................................... 21

2.3 Satisfação do funcionário ............................................................................ 22

2.4 Satisfação do cliente versus satisfação do funcionário .................................. 25

3 Aplicação da metodologia às empresas ................................... 30

3.1 Informações gerais...................................................................................... 30

3.2 Tópicos a serem explorados ........................................................................ 30

3.2.1 Clientes ................................................................................................. 31

3.2.2 Funcionários .......................................................................................... 34

3.3 Questionários.............................................................................................. 39

3.3.1 Clientes ................................................................................................. 42

3.3.2 Funcionários .......................................................................................... 43

4 Análise ................................................................................. 44

4.1 Zona Sul – apresentação da empresa............................................................ 44

4.2 Zona Sul – entrevistas com clientes e funcionários de loja ............................ 46

4.2.1 Clientes ................................................................................................. 46

4.2.2 Funcionários .......................................................................................... 51

viii

4.3 Wegmans – entrevistas com clientes e funcionários de loja .......................... 56

4.3.1 Clientes ................................................................................................. 58

4.3.2 Funcionários .......................................................................................... 62

5 Pesquisa adicional ................................................................. 68

5.1 Diretor de RH Zona Sul .............................................................................. 68

5.2 Entrevistas Adicionais................................................................................. 70

6 Análise dos resultados ........................................................... 72

6.1 Barreiras à entrada e concentração do setor .................................................. 72

6.2 Falta de infraestrutura fornecida pelo governo.............................................. 73

6.3 Qualidade da gestão de pessoas ................................................................... 73

6.4 Sensibilidade ao preço ................................................................................ 74

6.5 Competição com outros setores por mão de obra .......................................... 74

6.6 Atributos de qualidade reconhecidos pelos clientes ...................................... 75

6.6 Pontos críticos na gestão de funcionários de lojas/supermercados ................. 77

7 Conclusões............................................................................ 80

Referências Bibliográficas .............................................................. 82

ANEXO I – Questionários em inglês ............................................... 86

ix

Lista de Figuras

Figura 1 - Fronteiras exploratórias ............................................................................. 17

Figura 2 - Fronteiras conceituais ............................................................................... 17

Figura 3 - Perspectivas das práticas de RH em uma organização................................. 24

Figura 4 - Modelo da cadeia de satisfação do cliente .................................................. 27

Figura 5 - Questionário para clientes em português .................................................... 42

Figura 6 - Questionário para funcionários em português ............................................. 43

Figura 7: Estacionamento do Wegmans ..................................................................... 62

Figura 8 - Questionário para clientes em inglês .......................................................... 86

Figura 9 - Questionário para funcionários em inglês................................................... 87

x

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Grandes áreas: clientes ............................................................................. 31

Tabela 2 - Grandes áreas: funcionários ...................................................................... 34

Tabela 3 - Grandes áreas e perguntas: clientes ........................................................... 39

Tabela 4 - Grandes áreas e perguntas: funcionários .................................................... 40

Tabela 5 - Quadro de análise dos aspectos observados no estudo ................................ 81

xi

Lista de Abreviaturas e Siglas

ECR Efficient Consumer Response (Resposta Eficiente ao Consumidor)

ES Espírito Santo

EUA Estados Unidos da América

GPA Grupo Pão de Açúcar

NY New York

RFID Radio-frequency identification (Identificação por radiofrequência)

RH Recursos Humanos

RJ Rio de Janeiro

ZS Zona Sul

12

1 INTRODUÇÃO

A indústria e o comércio de alimentos e bebidas estão entre as principais

atividades de qualquer economia e, nas mais desenvolvidas, são usualmente o mais

significativo setor industrial (GOMEZ, MCLAUGHLIN e WITTINK, 2003). No Brasil,

o varejo alimentar representou em 2014 um mercado de R$ 324 bilhões

(SUPERMERCADO MODERNO, 2015).

Em um ambiente competitivo com margens de lucro estreitas, como é o caso do

varejo alimentar (BEN-NER, KONG e BOSLEY, 1999) a operação é um fator crítico e

aspectos como nível de satisfação de clientes e funcionários são amplamente estudados.

Como previsto por Yuen e Chan, 2010, é justo assumir que os resultados de uma

empresa varejista serão altamente influenciados por quão satisfeitos seus consumidores

estão. A qualidade do atendimento, garantida por funcionários atenciosos, prestativos,

bem informados e habilidosos é um fator importante para satisfação do cliente, e

representa um desafio para um setor caracterizado por alto turnover e baixos salários.

Assim, o objetivo geral do presente trabalho é contribuir para um melhor

entendimento sobre aspectos que caracterizam a satisfação de clientes e funcionários no

varejo alimentar. Em especial, buscou-se entender como a satisfação dos funcionários

afeta o nível de serviço que eles prestam, e como esse nível de serviço é percebido pelos

consumidores. A relação entre satisfação dos funcionários e satisfação dos clientes, bem

como entre satisfação do cliente e performance financeira, já são tidas como existentes a

partir de diversos estudos (HÄRTEL, FUJIMOTO, et al., 2010) como será evidenciado

na revisão bibliográfica realizada.

No entanto, aspectos particulares do tema para o caso de supermercados

despertaram a atenção do autor. Dentre as perguntas que motivaram o trabalho, estão as

seguintes:

Quais são as particularidades do varejo de alimentos que impactam a relação

satisfação de funcionários e clientes? Quanto as baixas margens, baixas qualificações

dos funcionários ingressos e a grande concorrência entre players representam desafios?

A natureza do trabalhador de supermercados na indústria brasileira é diferente daquela

do trabalhador na indústria americana, onde a maioria dos estudos disponíveis na

13

literatura são realizados? Nos EUA, muitos funcionários trabalhariam em regime de

tempo parcial, no chamado “emprego transicional” (ESBJERG, GRUNERT e BUCK,

2008), por serem, por exemplo, estudantes, ou estarem nessa indústria temporariamente,

somente até conseguirem empregos em outras áreas, o que não é comum no Brasil, onde

o trabalhador do varejo de alimentos tem baixa qualificação.

As questões acima são complexas e o presente trabalho não tem a pretensão de

obter respostas a todas elas. O que se pretendeu foi, ao longo do presente estudo, testar e

entender melhor o varejo alimentar brasileiro a partir de suas diferenças com o mercado

americano. Trata-se de um estudo exploratório, através do qual se espera melhor

entendimento das questões inicialmente levantadas, e identificar outras questões

relevantes. O objetivo deste trabalho é, portanto, entender melhor a relação entre

recursos humanos e desempenho organizacional para o caso do setor de supermercados

no Brasil. Mais especificamente, busca-se testar a relação entre satisfação do

funcionário e satisfação do cliente, de forma a impactar o desempenho organizacional.

A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica e entrevistas qualitativas, as

quais permitirão a construção de um estudo de caso, muito útil em situações complexas

como as delineadas acima.

1.1 Metodologia

1.1.1 O método

A escolha do método de Estudo de Casos é adequada para problemas complexos

onde se busca a compreensão detalhada de uma situação particular, no entendimento de

que ela pode fornecer insights que podem ser generalizados por representar outras

situações semelhantes. Foram escolhidas duas redes de supermercados para estudo: uma

brasileira e outra americana, pois se espera realizar comparações entre os dois casos

estudados, de forma a fornecer sugestões à gerência das organizações, a partir do

entendimento das implicações gerenciais que tais sugestões podem ter.

De acordo com (EASTON, 2010), um estudo de caso permite que se entenda um

fenômeno de forma mais abrangente e profunda do que de outra forma. Isso permite que

se coletem informações através de diversas fontes, oferecendo ao pesquisador

flexibilidade e possibilidade de “ir e vir” em sua investigação. Naturalmente, eventuais

14

evidências de relações entre variáveis podem ser uma confirmação daquelas já

supostas/testadas, ou novidades. Em todo caso, há espaço para a análise estatística

futura, porém, dados os questionamentos que motivam essa pesquisa, a opção pelo

estudo de caso parece a mais acertada para o estágio atual de conhecimento sobre o

tema.

1.1.2 A abordagem

Dada a natureza da investigação, a maioria das informações a serem analisadas

são subjetivas, porém também trabalhou-se com dados objetivos. Quando necessário, a

coleta de informações tem um tom quantitativo, com itens likert, que é escala de valores

atribuídos a determinado critério, de forma a facilitar a resposta dos entrevistados

(HODGSON, 2003); não obstante, quando possível, explora-se todo o potencial de uma

entrevista semiestruturada, com coleta qualitativa das informações (RICHARDS, 2014).

Essa é mais uma das liberdades que um estudo de caso permite: que se explorem de

diversas formas um tópico que se deseja compreender melhor, sem a necessidade de

focar em uma relação entre poucas variáveis olhando para muitos casos: analisam-se

diversas relações em um ou poucos casos (JOHANSSON, 2003).

O foco está, portanto, nas relações observadas entre os tópicos que se desejam

estudar no objeto de estudo, de forma a observar seu comportamento e influências

mútuas ou unilaterais. O objeto de estudo, já apontado, consiste em supermercados,

mais especificamente na relação entre satisfação do cliente e do funcionário. De acordo

com (JOHANSSON, 2003), um estudo de caso pode ou não ser feito com o objetivo

primário de generalização. Caso não haja tal interesse, a escolha pelo caso

provavelmente é feita com base em um interesse intrínseco naquela instância específica.

Caso haja interesse em generalização, a escolha pode se dar devido ao caso ser rico em

informações, único, ou mesmo extremo. Nesse caso, buscou-se compreender melhor a

relação-objeto e, como já explicitado, oferecer material e suposições para futuras

investigações mais conclusivas. Pode-se arguir, portanto, que o presente estudo tem o

objetivo de generalização.

Dentro dos estudos de caso que buscam generalização, há diversos métodos que

podem ser adotados, cujos extremos são testar hipóteses, de um lado, e formular

hipóteses a partir de observações, do outro (JOHANSSON, 2003). Embasado no estudo

15

do autor citado e no caminho natural que a pesquisa seguiu, o presente trabalho combina

esses diferentes métodos, pois em alguns momentos o que se busca é testar suposições

prévias à investigação, e em outros momentos os fatos observados apontam para novas

suposições.

1.1.3 A escolha dos casos

Dada a abordagem acima, de modo a conferir mais riqueza ao trabalho e atender

aos objetivos da pesquisa, foram estudados dois supermercados de características

semelhantes em termos do alto poder aquisitivo do público alvo, mas em situações

bastante distintas, na medida que um se localiza no estado de NY, Estados Unidos, e o

outro na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

No Rio de Janeiro, foi escolhida a rede de empresas Zona Sul, por se tratar de

uma entre as duas principais empresas do varejo de alimentos na cidade, em especial

nos bairros nobres. Dada a classe social média dos consumidores dessa rede, a

competição por mercado é não somente com base em preços, mas também com base em

serviços prestados, o que permite mais riqueza no estudo de caso. A opção pelo Zona

Sul, em detrimento do Pão de Açúcar, foi principalmente pelo fato de o último fazer

parte de um conglomerado maior, com vários modelos de varejo alimentar e diferentes

públicos alvo. O Zona Sul vem de origem familiar, e acreditou-se que o acesso a

funcionários e gerentes para entrevistas seria facilitado pelo porte da empresa e pela

mesma ser de capital fechado. Uma empresa aberta possui maior controle sobre acesso a

funcionários, visando a evitar o fluxo de informações privilegiadas. A rede conta

atualmente com um total de 35 lojas, de acordo com o gestor de RH da empresa.

A escolha da empresa americana Wegmans, por outro lado, foi motivada por ser

a mesma um benchmarking internacional em relação ao alto nível de satisfação dos

funcionários. A rede de varejo Wegmans, com sede em Gates, NY foi criada em 1916,

serve o nordeste dos Estados Unidos, e possui 85 lojas (WEGMANS, 2015). O

supermercado também tem como público-alvo as camadas mais abastadas da sociedade,

e alcança uma popularidade memorável nos locais onde está presente. A empresa é

constantemente listada em revistas especializadas, como a Fortune, como um dos

melhores locais para se trabalhar. Assim como o Zona Sul, a empresa tem seu capital

fechado, e as similaridades com seu par carioca motivaram sua escolha como objeto de

16

estudo. Espera-se que o estudo desse exemplo ofereça esclarecimentos sobre caminhos

que o Zona Sul pode adotar, bem como contrastes que impeçam a tomada de tais rumos

na realidade brasileira e, mais especificamente, carioca.

1.2 Limitações e fronteiras

A lista a seguir não é necessariamente extensiva: a comparação entre lojas da

mesma cadeia de supermercados em dois bairros diferentes já seria problemática

(ESBJERG, GRUNERT e BUCK, 2008); então, não se pode acreditar que a

comparação entre lojas de cadeias de supermercados distintas em dois países diferentes

estaria isenta de vieses; a definição de satisfação do cliente e satisfação do empregado é

arbitrária, e cada estudo revisado nesse trabalho adota uma perspectiva diferente – e o

presente trabalho, claro, adotou a sua; apesar de todo o cuidado e preparação adotados

para conduzir as entrevistas da forma mais isenta e confortável possível para os

entrevistados, em local longe de outras pessoas e com a garantia de anonimato, não se

pode afirmar que o entrevistador não influenciou os respondentes, ou que os

respondentes não se sentiram, de alguma forma, acuados ou encorajados a emitir

opiniões mais positivas do que as de fato tidas, especialmente em relação aos

funcionários e sua satisfação com a empresa.

Dado o limite do tempo que funcionários e clientes seriam permitidos/estariam

dispostos a doar para a pesquisa, buscou-se ser o mais breve possível e restringir a

exploração do tema a um roteiro pré-estruturado. Isso significa que, caso houvesse

tópicos que surgissem durante a entrevista e estivessem fora do escopo da pesquisa, os

mesmos seriam explorados quando possível; caso contrário, seriam dignos de nota e

incluídos quando da análise dos resultados, porém não seriam explorados mais a fundo

nas conversas.

Vale, ainda, ressaltar a tendência já conhecida de marcação de “meio” de opção

na escala likert, sendo esse um fator de atenção quando da análise das respostas

(exemplo: em escala de 1 a 5, a tendência é marcar 3).

As fronteiras exploratórias do trabalho são três, uma contendo a outra,

respectivamente: varejo, varejo de alimentos, e supermercados.

17

Figura 1 - Fronteiras exploratórias

Fonte: Elaboração própria

No entanto, em nível conceitual, a delimitação é a satisfação do cliente – físico,

que vai pessoalmente à loja realizar as compras – e a satisfação do funcionário – o

chamado funcionário “de linha”, que pode ou não incluir o gerente de loja, por também

ser considerado dessa mesma classe; exclui níveis superiores de gestão, que não estão

constantemente no “chão de fábrica” do supermercado.

Figura 2 - Fronteiras conceituais

Fonte: Elaboração própria

Varejo

Varejo de Alimentos

Supermercados

Funcionários de linha

Clientes físicos

18

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os parágrafos a seguir apresentam uma revisão da literatura sobre a indústria do

varejo de alimentos. Eles seguem a estrutura de “funil”, a qual reflete a forma como as

questões que permeiam o trabalho foram pensadas. Mais especificamente, sobre como

os resultados podem ser relacionados com a satisfação do cliente; sobre a satisfação do

cliente em si; sobre a satisfação do empregado; e sobre como a satisfação do empregado

pode ser relacionada com a satisfação do cliente. Isso forma a base para o entendimento

das questões que se desejam estudar nos casos analisados.

2.1 Performance versus satisfação do cliente

(GOMEZ, MCLAUGHLIN e WITTINK, 2003) acompanharam 250 lojas de

uma cadeia de supermercados de 1998 a 2001, em seis coletas de dados diferentes ao

longo desse período, e apontam quantitativamente para a correlação entre a satisfação

geral do cliente e a performance de vendas da organização. Para a construção do modelo

matemático, cada loja foi considerada uma unidade de análise, e teve a si atribuídos os

critérios relevantes de acordo com o que os clientes avaliaram. Os pesquisadores

tiveram acesso à base de dados do cartão de fidelidade da empresa, selecionaram

aleatoriamente em torno de 100 clientes por coleta, que foram mantidos anônimos, e

enviaram-nos por correios 21 perguntas, com notas possíveis de 1 a 6. As respostas

foram compiladas e a cada loja foi atribuída uma nota para cada critério avaliado, que

consiste da média dos resultados da avaliação pelos consumidores daquela loja. A série

temporal para cada loja possui 6 valores por item, e os itens foram divididos nos

seguintes critérios: nível de serviço ao cliente (customer service), qualidade (quality) e

valor (value). O estudo conclui que todos os critérios analisados para a satisfação do

cliente são estatisticamente significativos em explicar o resultado das vendas por área da

loja. Também é relevante a constatação de que há um pico de vendas em dezembro,

sendo esse o único mês que apresenta sazonalidade nos dados.

É posto, ainda, que supermercados e afins formam um universo bastante

particular, devido à alta frequência com que os consumidores visitam as lojas (GOMEZ,

MCLAUGHLIN e WITTINK, 2003). Na realidade, esse é um dos setores do varejo com

os maiores índices de revisita por clientes. Além disso, os consumidores são

basicamente toda a população da área em que estão localizados, ainda que

19

indiretamente, dado que nem todos os integrantes de uma família vão às compras,

porém não deixam de consumir, uma vez que todo ser humano necessita de alimentos, e

muito poucos – se é que algum inteiramente – cultivam tudo o que consomem em seus

quintais. Com a quantidade de opções disponíveis para compra de alimentos crescendo

ao redor do mundo (A.T. KEARNEY, 2014), e em uma indústria historicamente de fácil

acesso por parte de competidores (BEN-NER, KONG e BOSLEY, 1999) – o que

significa uma presença histórica grande de players –, só se pode concluir que a escolha

de uma pessoa por uma loja específica seja impactada por sua satisfação com aquela

loja.

(ANDERSON e SULLIVAN, 1993) tomaram como base uma pesquisa com

22300 consumidores de 57 empresas suecas de diversas áreas, nos anos de 1989 e 1990,

administrada via telefone. Os respondentes deveriam atribuir, em uma escala de 1 a 10,

uma nota aos seus níveis de satisfação, intenção de recompra, expectativas e qualidade

percebida. Seu estudo, quantitativo, estimou diferentes relações entre as variáveis, sendo

a mais relevante em termos do presente trabalho a relação entre satisfação e intenção de

recompra. O estudo conclui, como era de se esperar, que os consumidores tendem a

retornar à loja caso sintam-se satisfeitos. Aponta, ainda, para a possível presença de

custos ou incentivos à substituição, explicados de acordo com os valores dos interceptos

estimados. Outra descoberta importante é de que há alta elasticidade-preço da demanda

no setor, apesar de que quanto mais satisfeitos os clientes, menor a elasticidade-preço

para esses clientes, o que seria uma vantagem extra para as firmas que proporcionam

alta satisfação aos clientes.

Não obstante, os baixos custos de substituição entre redes para o consumidor,

descritos por (GOMEZ, MCLAUGHLIN e WITTINK, 2003), que são basicamente

deslocar-se até o concorrente mais próximo, também são fatores que contribuem para a

relevância da satisfação do cliente para os resultados de uma empresa no varejo de

alimentos. Os cada vez mais populares cartões de desconto, fidelidade e/ou crédito

oferecidos pelas redes de supermercados são uma tentativa de, além dos tradicionais

objetivos de conhecimento dos hábitos de consumo da clientela e pura oferta de crédito,

aumentar as barreiras de substituição para os clientes. Contudo, essa é uma prática

facilmente copiável, e cada vez mais redes a adotam. Do ponto de vista do consumidor,

é fácil cadastrar-se para um cartão desse tipo, e essa iniciativa não cria de fato uma

barreira eficiente à substituição, sendo inclusive uma iniciativa que fomenta os clientes

20

a cadastrarem-se para os cartões de fidelidade dos concorrentes (BELLIZZI e

BRISTOL, 2004).

De acordo com (YUEN e CHAN, 2010), há evidência para acreditar na

importância da satisfação do cliente para a performance e manutenção do market share

e posicionamento de um varejista, através da fidelidade criada, recompra e

recomendação para terceiros. Surpreendentemente, não houve evidências para afirmar

que a qualidade do produto influenciou na fidelidade do cliente. Esse último foi

analisado em termos da loja e em termos dos funcionários, e a conclusão é que a maior

parte da fidelidade do cliente é à loja, apesar de haver indícios de que interações

pessoais com determinado empregado sejam relevantes na fidelização do cliente àquele

empregado. Foram analisados 200 questionários administrados por e-mail e telefone,

com 40 perguntas agrupadas nos critérios qualidade do serviço, qualidade do produto e

fidelidade do cliente. Os resultados foram obtidos a partir de regressões lineares com

vistas a estimar os parâmetros entre as diferentes categorias.

Cabe lembrar, em contraste, que muitos resultados positivos podem ser

enviezadamente atribuídos a práticas de RH, quando na realidade são explicados por

alguma circunstância externa que crie um pico nas vendas, ou um aumento na satisfação

do cliente (BOSELIE, 2010). Um exemplo de viés em satisfação do cliente seria a

melhora nesse indicador em uma empresa provedora de streaming de vídeo, ocorrida

devido ao aumento da velocidade de conexão com a internet do próprio consumidor,

mas erroneamente atribuída a alguma outra prática da empresa provedora; e, para o caso

de desempenho financeiro em si, uma fabricante de ar-condicionado pode ter

implementado novas práticas de RH próximo à chegada do verão, o que levaria ao

aumento expressivo das vendas devido ao próprio calor, sem que isso pudesse ser

justificado pela melhoria do atendimento ou maior satisfação do cliente. De tais fatores

deriva a importância de um olhar holístico para a análise do sucesso de certas práticas.

Não obstante, os parágrafos anteriores nos levam a crer na importância da satisfação do

cliente para o resultado financeiro das empresas, validando a condição da primeira

como proxy da última.

21

2.2 Satisfação do cliente

É importante notar que satisfação do consumidor, posto dessa forma, é um

conceito geral, subjetivo e genérico. Para melhor explicá-lo, (GOMEZ, MCLAUGHLIN

e WITTINK, 2003) utilizam os já expostos termos nível de serviço ao cliente, qualidade

e valor. Serviço ao cliente é apontado como o fator mais impactante na satisfação do

cliente, e qualidade é apontado como um fator sine qua non para a satisfação, porém

não tem impacto positivo na satisfação geral. Ou seja, falta de qualidade é negativa,

enquanto que um aumento desse fator não tem impacto tão forte na satisfação. Os

autores também sugerem que estudos futuros incorporem a retenção de clientes e

fidelidade, além do nível de competição na indústria.

Já (HUDDLESTON, WHIPPLE, et al., 2009) realizaram estudo comparando

supermercados tradicionais com aqueles com proposta mais especializada, do tipo

gourmet. A amostra foi obtida selecionando aleatoriamente códigos postais de

localidades onde havia ambos os tipos de supermercados, em dez estados dos Estados

Unidos. O número recebido de respostas foi 659, de um total de 4500 tentativas. O

questionário foi primeiramente testado entre estudantes de pós-graduação e acadêmicos

familiares com o varejo de alimentos. Após aprovado o questionário, as perguntas

foram enviadas por correios para serem retornadas pelos respondentes-alvo da pesquisa.

Os respondentes eram perguntados se frequentavam supermercados convencionais ou

gourmet, e o nome das lojas preferidas era perguntado (uma lista era fornecida).

Perguntas de comportamento de compras específico foram realizadas, como valores

usualmente gastos e frequência de visitas à loja, e após isso havia 27 perguntas, cuja

resposta possível era a concordância ou discordância, em uma escala de 1 a 5. As

perguntas abrangeram as supostas principais variáveis responsáveis pela satisfação do

cliente: serviço prestado (employee service), preço (price), variedade de produtos

(product assortment) e qualidade (quality). O estudo, quantitativo, conclui que todas as

variáveis são significativas em explicar a satisfação do cliente para ambos os tipos de

loja, não necessariamente na mesma ordem de importância. Ademais, clientes de lojas

gourmet foram identificados como mais satisfeitos do que aqueles de lojas tradicionais,

e veem aquelas como com melhor serviço, variedade e qualidade que as tradicionais. Os

pesquisadores apontam que é mais fácil delinear as características responsáveis pela

satisfação do cliente dos supermercados gourmet. Ainda de acordo com

22

(HUDDLESTON, WHIPPLE, et al., 2009), práticas de fidelização não contribuíram

significativamente para o aumento da satisfação geral do consumidor.

Os estudos de (LU e LUKOMA, 2011) testam quantitativamente as dimensões

localização (location), serviços adicionais (additional services), qualidade do produto

(quality), qualidade do serviço (service quality), instalações (facilities), confiabilidade

(reliability), processos (process), custo-benefício (value for money), funcionários (staff)

e serviço prestado pelos funcionários (personnel service) em relação à satisfação do

cliente. Foram considerados três supermercados na ilha de Gotland, Suécia, com coleta

transversal de dados, por meio de questionários de perguntas fechadas, feitos

pessoalmente com os clientes, totalizando uma amostra de 125 indivíduos. Os

questionários foram compostos por 21 perguntas, e cada dimensão era composta por, ao

menos um e ao máximo, quatro, elementos. Para todos os supermercados, os fatores

críticos para a satisfação do cliente foram localização, funcionários, confiabilidade,

qualidade do produto e serviços adicionais.

Em estudo sobre práticas de recursos humanos no varejo de alimentos, (BEN-

NER, KONG e BOSLEY, 1999) afirmam que gerentes apontam baixos níveis de

educação e habilidades dos empregados como fatores impeditivos na implementação de

práticas de ECR (resposta eficiente ao consumidor), afetando a satisfação do cliente.

2.3 Satisfação do funcionário

De acordo com as percepções de (BEN-NER, KONG e BOSLEY, 1999), o

varejo de alimentos sofre com a má reputação de empregados, e isso se dá devido à falta

de oportunidades interessantes de carreira no longo-prazo. Isso significa que esse é visto

como um setor de maus empregos, e por isso os funcionários não são vistos como bem-

sucedidos. Outra constatação do mesmo estudo pode servir como complemento na

explicação para isso: de que o baixo nível de liberdade para tomada de decisões no dia-

a-dia do trabalho dos funcionários gera baixos níveis de envolvimento desses

funcionários nas práticas da indústria, e que o setor de varejo de alimentos encaixa-se

nesse padrão. O autor chega a essas conclusões a partir da análise comparativa entre

práticas de recursos humanos de firmas de diferentes indústrias no Minnesota, Estados

Unidos, sendo 211 varejistas de alimentos – incluindo 27 supermercados. Os dados

abrangem o período de 1980 a 1996, e são uma classificação em níveis (escala de 1 a 5

23

ou alto/baixo, dependendo da variável) de variáveis divididas nos critérios

características da atividade desenvolvida, tecnologia associada, questões individuais dos

empregados e sistema de trabalho. A coleta das informações ocorreu em 1994 e 1996, e

o desenvolvimento dos questionários foi parte de um estudo à parte da Universidade de

Minnesota.

(ESBJERG, GRUNERT e BUCK, 2008) realizaram estudos de caso em cinco

redes de varejo da Dinamarca, de natureza diferente (baixo preço, supermercado e

hipermercado), com foco em estudar os operadores de caixa e auxiliares. Foram

visitadas duas ou três lojas de cada rede, e a escolha de quais lojas seriam visitadas foi

feita pelos gerentes das empresas estudadas. No total foram entrevistados mais de 60

indivíduos entre gestores de RH, gerentes de loja, gerentes de seção, representantes dos

empregados, além dos operadores de caixa e auxiliares. Os pesquisadores afirmam que

empregados do varejo de alimentos podem ser divididos em três grupos: temporários

(transitional workers), que não têm interesse em continuar na empresa/setor no longo

prazo; empregados-chave (core employees), que estão na indústria há bastante tempo,

realizando as mesmas tarefas, nas quais têm muita experiência, mas que não buscam

seguir carreira; e caçadores de carreira (career seekers), que são empregados que

desejam subir hierarquicamente na empresa.

Esse mesmo estudo concluiu que a satisfação do empregado não é afetada pelos

baixos salários comumente pagos nesse setor, provavelmente porque é de conhecimento

público que a remuneração é baixa, o que faz com que potenciais funcionários já

cheguem ao mercado com suas expectativas ajustadas. O autor também reporta que

horários de trabalho inconsistentes podem ser um fator comprometedor da satisfação

entre os empregados, porém na amostra estudada os funcionários tinham relativo

controle de suas jornadas de trabalho e horários, o que contradiz a noção popular.

Outros fatores que afetam a satisfação do empregado são o estresse emocional,

devido ao rápido ritmo dos acontecimentos em um supermercado, e também de

eventuais abusos por parte dos consumidores, potencializados pelo fato de que o contato

entre funcionários e consumidores é constante e intenso; os pesos a serem transportados,

e outros tipos de atividades que demandem esforço físico, como o pronto-deslocamento

pela loja para reposicionar ou repor produtos, ou para auxiliar clientes; e a qualidade do

relacionamento com os outros funcionários, fator esse tido como extremamente

24

importante para os empregados, em especial os temporários, os quais dão grande valor

aos relacionamentos sociais decorrentes do grupo de trabalho (ESBJERG, GRUNERT e

BUCK, 2008).

(BEN-NER, KONG e BOSLEY, 1999) lembram que os avanços tecnológicos,

desde código de barras e registradoras eletrônicas, até a gestão de estoques em geral –

que atualmente já pode contar com ferramentas como RFID, ou identificadores por

radiofrequência (ROUSSOS, 2006) – têm sido responsáveis pela redução da demanda

física dos empregados. Contudo, outros fatores adicionaram pressão e contribuíram para

o aumento do estresse relacionado à atividade profissional nos supermercados, como

por exemplo, o aumento nos níveis de serviço requeridos no setor, e a menor quantidade

de pessoal disponível, decorrente em parte dos próprios avanços tecnológicos.

Não se pode negar, ainda, a influência cruzada entre as variáveis observadas

nessa seção (BOSELIE, 2010). Por exemplo, uma melhora, por qualquer motivo, na

satisfação com o trabalho pode gerar mais comprometimento do funcionário, gerando

melhores resultados e, por conseguinte, melhores salários e benefícios, o que

retroalimentaria o ciclo. (BOSELIE, 2010) aponta para três diferentes perspectivas para

as mesmas práticas de RH: as intenções da empresa, a forma real com que elas são

implementadas, e o modo como elas são percebidas e recebidas pelos funcionários.

Cabe ressaltar aqui que qualquer relação que se meça a partir do ponto de vista do

empregado será reflexo do terceiro grupo, ou seja, das práticas de RH como elas forem

percebidas pelos funcionários. A figura abaixo ilustra a relação entre cada uma das três

perspectivas, e aponta como precedente imediato de qualquer resultado prático a

percepção dos funcionários sobre as práticas de RH da organização.

Figura 3 - Perspectivas das práticas de RH em uma organização

Fonte: Adaptado de (BO SELIE, 2010)

25

2.4 Satisfação do cliente versus satisfação do funcionário

Apesar de diversos estudos analisarem a relação satisfação do cliente versus

satisfação do empregado no varejo, o número de estudos que contemplam essa relação

no contexto de alimentos (incluindo, por exemplo, restaurantes) é bastante reduzido;

ainda mais reduzido é o número de estudos que abrangem a dita relação na realidade de

supermercados e afins – os mais notáveis do último grupo encontrados pelo autor estão

expostos abaixo, bem como um estudo sobre restaurantes, incluído porque seu

questionário é considerado consideravelmente mais longo que a maioria dos estudos

encontrados até o momento, o que enriquece os contrastes na presente revisão.

(LIAO e CHUANG, 2004), em seu estudo com 52 unidades de uma franquia de

restaurantes nos Estados Unidos, enviaram por correios questionários aos consumidores

(150 por unidade), gerentes e todos os funcionários (em média 25 por unidade) desses

restaurantes, com garantia de anonimato. As perguntas foram divididas nas seguintes

categorias: serviço prestado pelo empregado; personalidade; histórico da organização;

performance do serviço prestado; envolvimento do empregado; treinamento; avaliação

da qualidade do serviço pelo consumidor; mecanismos de incentivo para a performance;

satisfação do consumidor; fidelidade do consumidor. A forma de medir cada um dos

itens varia, porém exemplos são concordância em escala de 1 a 5 para alguns, e escala

de 1 a 11 para outros. No total, foram mais de 65 itens a serem respondidos, e a taxa de

resposta obtida foi próxima de 50% para restaurantes, funcionários e gerentes (não foi

possível calcular a taxa de resposta para clientes, pois os pesquisadores não sabem

quantos clientes foram convidados a preencher as avaliações). A amostra aproveitada

após o retorno dos questionários foi de 257 empregados, 44 gerentes e 1993

consumidores. Entre outras hipóteses, o estudo buscou testar a correlação entre o nível

geral de serviço do restaurante e a satisfação do cliente, fidelidade e qualidade do

serviço. O estudo utilizou como forma de medida do nível geral de serviço a auto

avaliação dos funcionários, em vez da avaliação de supervisores, que seria a outra forma

comumente utilizada. Foram validadas as correlações do nível de serviço com satisfação

e fidelidade do cliente, mas não com a qualidade do serviço.

Uma das principais cadeias de supermercados do Reino Unido passou a adotar a

premissa de que satisfação e fidelidade dos funcionários geram satisfação e fidelidade

nos clientes (SILVESTRO e CROSS, 2000). A partir disso, (SILVESTRO e CROSS,

26

2000) investigam toda a rede de performance do serviço (HESKETT, SASSER e

SCHLESINGER, 1997) dessa cadeia, mas para efeitos de nosso estudo focamos nos

itens satisfação dos clientes e funcionários, representados pelas hipóteses “H1a” e “H2”

do estudo: “valor do serviço é positivamente correlacionado com satisfação do

empregado”; e “satisfação do cliente é positivamente correlacionada com valor do

serviço”. Foi utilizada uma amostra de seis lojas em uma mesma área geográfica. Foram

entrevistados pessoalmente 30 consumidores em cada loja – que o autor defende como o

mínimo necessário para validade estatística –, logo após passarem pelo caixa com suas

compras. As entrevistas foram conduzidas entre os horários de 10 e 15 horas para

manter a consistência nas condições enfrentadas pelos frequentadores. Foram avaliados

20 aspectos da qualidade do serviço, em escala de 1 a 5. Já para os empregados, a

amostra foi de 20 a 32 para cada loja, com a avaliação dos itens “satisfação com o

trabalho” (job satisfaction), “tendência a indicar a loja como um local para trabalhar”

(willingness to refer the store as a place to work ), “percepções do empregado sobre a

qualidade do serviço e o estilo de supervisão na loja” (employee perceptions of service

quality and of the style of supervision in the store), e “percepções do empregado sobre

sua habilidade em afetar a experiência do consumidor e o resultado da loja” (their

perceived ability to affect the customer experience and store performance). Limitações

importantes do estudo são o espaço amostral, que pode não ser representativo de todas

as lojas no setor (essa é uma limitação presente, em maior ou menor grau, na totalidade

dos estudos encontrados até o momento), bem como o método de avaliação do valor do

serviço, que é basicamente a percepção dos consumidores sobre esse valor. Para nossas

conclusões, cabe ressaltar que “valor do serviço” é testado como variável resposta a

cinco outras variáveis, e que o estudo não busca correlacionar diretamente satisfação do

empregado com satisfação do cliente. Apesar de a hipótese de correlação entre

satisfação do cliente e valor do serviço não ter sido rejeitada, não foi possível afirmar

que há correlação entre valor do serviço e satisfação do empregado.

(COELHO e VILARES, 2003) partem da premissa de que há forte relação entre

satisfação do empregado e do consumidor, e procedem para o teste dessa relação no

universo de supermercados. O estudo propõe um modelo para a cadeia que gera

satisfação ao cliente agregando estudos anteriores, cuja representação em diagrama

segue abaixo:

27

Figura 4 - Modelo da cadeia de satisfação do cliente

Fonte: Adaptado de (CO ELHO e VILARES, 2003)

28

Os autores ressaltam que satisfação não é um item diretamente mensurável, ou

seja, necessita de indicadores que a expliquem; classificam o conceito, ainda, entre

satisfação com uma instância de compra, e satisfação com o cumulativo das transações

realizadas no local ao longo do tempo. Dito isso, cabe ressaltar que há diferença clara na

percepção de satisfação entre mercados monopolísticos e aqueles com maior

competição entre players. Outras limitações desse tipo de estudo são o provável tempo

– não passível de análise em um estudo transversal – entre mudanças na satisfação dos

empregados e consequente impacto na satisfação dos clientes; e diferentes variáveis

medidas para satisfação de empregados e satisfação de clientes.

Para tentar uniformizar as medidas, no que tange aos conceitos de satisfação do

funcionário e do consumidor, os autores adotam para satisfação do funcionário os

subgrupos satisfação, fidelidade e comprometimento do empregado, analisados sob a

ótica da percepção dos consumidores; além da própria satisfação do consumidor e

outros itens do quadro acima, medidos diretamente com o consumidor. São analisadas

duas redes de supermercados, uma grande e outra média, em uma amostra de 298 e 249

consumidores, respectivamente. O estudo realiza estimativas para todas as relações

explicitadas na figura acima, sendo as mais relevantes para a presente discussão as

correlações entre satisfação e comprometimento do empregado (percebidas pelo

consumidor) na percepção de qualidade do serviço, apontadas como “muito

importantes”; satisfação e comprometimento (percebidas) na satisfação do cliente,

apontadas como “significativas, porém menos fortes”; e a ausência de significância para

a correlação entre lealdade do funcionário (percebida pelo consumidor) e satisfação do

cliente.

A relação entre satisfação com o trabalho e satisfação do consumidor é

diretamente testada através da hipótese “H3” do estudo de (PANTOUVAKIS e

BOURANTA, 2013). Os pesquisadores utilizaram uma amostra de 437 empregados e

supervisores dos setores de porto (168), supermercados (130) e reparo de automóveis

(139), os quais receberam os questionários e posteriormente submeteram as respostas

por serviço postal para os pesquisadores. Satisfação com o trabalho foi medida através

de nove construtos, a saber: pagamento, promoção, supervisão, benefícios trabalhistas,

recompensas por certos comportamentos/resultados, regras e procedimentos, colegas de

trabalho, natureza do trabalho e comunicação. Aos entrevistados foi solicitado que

atribuíssem uma nota de 1 a 7 na escala likert (como na grande maioria dos estudos

29

visitados nesse trabalho) para as diversas afirmativas do questionário relativas ao

tópico. Satisfação do cliente foi medida de forma semelhante, porém com escala de

tamanho cinco, e sob a ótica da percepção dos trabalhadores da empresa: se os serviços

prestados são bons, se a companhia é uma boa organização para fazer negócios, se os

consumidores estão satisfeitos com o relacionamento com a companhia, se a companhia

trata os consumidores de forma justa, e se os consumidores estão satisfeitos com os

serviços prestados pela companhia. O estudo encontra que satisfação com o trabalho

tem correlação significativa com satisfação do consumidor, além de que uma cultura

organizacional de aprendizado terá mais impacto sobre a satisfação do consumidor via

satisfação do empregado, de acordo com o nível de educação dos empregados. Ou seja,

quanto maior o nível de educação, mais evidente é essa relação.

30

3 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA ÀS EMPRESAS

3.1 Informações gerais

A primeira parte do estudo é uma busca extensiva em fontes disponíveis ao

público sobre as empresas. Isso significa jornais, revistas, periódicos, internet,

conhecimento do público etc. Para entendimento das unidades organizacionais

estudadas, fez-se necessário compreender mais do que somente as instâncias-foco do

estudo. Não somente foram analisados os tópicos descritos nas próximas duas seções

sob a ótica dos clientes e funcionários, como também foi obtida a maior quantidade

possível de informações sobre as duas organizações por todos os outros métodos

disponíveis ao pesquisador. O relatório detalhado das informações obtidas está no

tópico “apresentação das empresas”, e inclui os mais diversos aspectos envolvidos na

operação das empresas. Estão incluídos o histórico, crescimento, unidades, cultura,

opinião pública e reputação, etc.

3.2 Tópicos a serem explorados

Para a composição dos pontos a serem abordados no estudo, retornou-se à

revisão da literatura, selecionando-se as “grandes áreas” que os autores das obras

revisadas nesse texto utilizaram, em seus respectivos estudos, para a possível explicação

da satisfação dos clientes e satisfação dos funcionários. Para isso foi elaborado um

quadro com a quantidade de ocorrências de cada uma das “grandes áreas” nos estudos,

bem como com o grau de similaridade do estudo em questão com os objetivos do

presente trabalho. Junto a isso, manteve-se o entendimento de que o número total de

perguntas para um eventual questionário deveria estar entre 10 e 20, dado o

benchmarking com os estudos revisados, bem como o bom senso em relação ao tempo a

ser tomado dos funcionários e clientes para a realização das entrevistas.

A partir da revisão bibliográfica, foram identificadas 26 grandes áreas em

satisfação do cliente, e 21 em satisfação dos empregados. Após análise mais detalhada,

observou-se que algumas áreas poderiam ser mescladas, e outras eliminadas da análise

por falta de relação com o objeto de estudo (satisfação do cliente versus satisfação do

funcionário). Houve, ainda, casos em que a variável foi alterada de eventualmente

responsável por satisfação do cliente para satisfação do empregado e vice-versa, pois no

31

estudo ela foi utilizada para controlar ou mediar uma das duas variáveis, enquanto que

na prática ela é uma medida da outra. Por fim, o autor fez a inclusão das áreas que

julgou relevantes as quais não haviam sido identificadas a partir dos estudos anteriores.

Abaixo está o quadro final com as grandes áreas a serem abordadas para cada um dos

grupos estudados, totalizando 9 para clientes e 16 para funcionários. Apesar de, ao

longo do estudo, algumas perguntas terem sido ajustadas, retiradas ou inseridas (como

será explicado mais abaixo), as grandes áreas, presentes nas duas seções abaixo, foram

mantidas.

3.2.1 Clientes

Tabela 1 - Grandes áreas: clientes

Grande área Zona Sul Wegmans

Nível de serviço ao cliente Respostas divididas. Excelente.

Fidelidade

Não se outra qualidade ou

preço e localização forem melhor.

Clientes são fieis, desde

que preço não seja abusivo.

Expectativas Neutro ou sim. Sim.

Recompra

Respostas divididas, mas não caso outra opção estivesse

vazia.

Sim.

Recomendação a terceiros Somente pela localização; caso tenha cartão zona sul.

Sim.

Qualidade dos serviços Ou igual ou melhor que

concorrentes, porém ruim. Excelente.

Confiabilidade Lojas variam muito entre unidades da mesma rede.

Maioria sim.

Nível dos funcionários

Deixam a desejar, especialmente com clientes

mais difíceis. Muito bom.

Custo-benefício Não satisfeitos. Neutro ou satisfeitos. Fonte: Elaboração própria

Nível de serviço ao cliente: esse item busca compreender qual a percepção dos

clientes sobre o tratamento recebido pela empresa, sobre a atenção que lhes é

dispensada por funcionários, gerentes e processos em geral, além de entender como a

empresa se encontra, na opinião do cliente, em comparação com os concorrentes.

Fidelidade: busca explicar se o cliente realiza as compras naquele

estabelecimento por falta de opções, dadas as suas restrições, ou por “vontade própria”.

O objetivo é saber não somente se o cliente tem se mantido fiel à empresa, mas também

32

se o cliente manter-se-ia fiel caso suas restrições para compra em outros

estabelecimentos fossem relaxadas. Permite, ainda, que se entenda se o cliente realiza

todas as suas compras naquele estabelecimento, ou se o utiliza de forma complementar a

outros, realizando partes de suas compras em empresas diferentes.

Expectativas: a intenção desse item é entender se a experiência do cliente com a

empresa está dentro do que ele imaginava. É possível utilizar o ponto como gatilho para

uma discussão de trajetória da empresa – ou seja, se ela tem melhorado, piorado ou

mantido a qualidade em geral, na opinião do cliente. Também é possível utilizar esse

ponto para compreender quão exigente o consumidor daquela empresa é.

Recompra: esse ponto é similar à fidelidade, exceto pelo fato de que engloba a

medida da vontade do cliente em retornar ao estabelecimento. É especialmente passível

de exploração mais profunda caso se identifique um cliente extremamente insatisfeito, o

qual não voltaria a comprar na empresa mesmo com suas restrições atuais mantidas; ou

que tenha tamanha aversão à empresa que, caso suas restrições atuais fossem relaxadas,

não voltaria à mesma nem para os itens que, por algum motivo, fossem mais vantajosos

de serem obtidos lá.

Recomendação a terceiros: elucida quão confortável o consumidor encontra-se

para recomendar a empresa a outras pessoas. Indiretamente, permite que se entenda

quão alinhadas as expectativas de um consumidor particular estão em relação aos outros

consumidores daquela região, e é também uma outra forma de medir as próprias

expectativas daquele consumidor.

Qualidade dos serviços: Diferentemente do item “nível de serviço ao cliente”,

essa grande área permite que se explore uma comparação direta com a concorrência, em

relação à qualidade dos serviços “finais” prestados pela empresa. Em outras palavras, se

um supermercado possui, por exemplo, corte de carnes, esse item permitirá medir a

percepção do cliente a respeito da qualidade do corte em si; caso o estabelecimento

possua serviços gastronômicos no local, é possível saber a qualidade de tais serviços.

Confiabilidade: permite que se meça, na percepção dos clientes, quão capaz a

empresa é de cumprir com suas promessas – por exemplo, de reembolso no caso de

insatisfação do cliente, ou de cumprir seus horários de abertura e fechamento; além da

33

procedência e qualidade dos itens postos à venda – como, por exemplo, data de

validade, fair trade, e responsabilidade socioambiental.

Nível dos funcionários: aqui, busca-se entender diretamente a opinião dos

consumidores sobre os funcionários de linha, pois é com eles que esses consumidores

têm contato constante no ambiente de supermercados. Pode-se depreender desse ponto o

nível de educação e cortesia dos funcionários para com os clientes e entre eles próprios;

a disponibilidade de ajuda dos funcionários aos clientes; a qualidade e eficiência do

atendimento dos funcionários aos clientes, tanto para esclarecer dúvidas, quanto para

solucionar problemas.

Custo-benefício: o objetivo dessa área é medir, na opinião do cliente, quão bem

gasto é o seu dinheiro naquele supermercado, ou seja, se ele recebe um bom valor para o

seu dinheiro. Em última instância, mede se o preço dos produtos está, na opinião do

cliente, compatível com a qualidade que ele recebe para tais produtos, além de englobar

nessa análise, implicitamente, os serviços prestados. Permite, ademais, que se

comparem as percepções entre clientes acerca do que é custo-benefício. Ou seja, que se

comparem os níveis de exigência e padrões de consumo entre indivíduos.

34

3.2.2 Funcionários

Tabela 2 - Grandes áreas: funcionários

Grande área Zona Sul Wegmans

Desempenho organizacional

Empresa é lucrativa, mas falta concorrência (só GPA e

Hortifruti). Hortifruti é melhor.

Muito positivo.

Tratamento justo da empresa

aos funcionários

Parcialmente. Foco no cliente atrapalha cuidado com

funcionário. Sim.

Percepção sobre qualidade do

serviço e estilo de supervisão,

regras e procedimentos

Serviço prestado é bom. Relacionamentos com

gerência contam muito para promoções.

Bom serviço, bom relacionamento com

gerência.

Comprometimento Nada além do necessário. Alto grau.

Salários e benefícios Baixos, não satisfatórios, mas

funcionários resignados.

Compatível com o ramo, gostam dos aumentos

periódicos, e reclamam de falta de vale

alimentação.

Oportunidades de longo

prazo Não vislumbram.

Depende do tipo de funcionário. Existe certa

meritocracia.

Colegas de trabalho

Mais problemas com gerência.

Colegas são bons porém não grandes amizades.

Bons, porém não grandes amizades.

Tendência a indicar a loja

como local a trabalhar Não. Sim.

Percepção sobre habilidade

em afetar a experiência do

consumidor e a performance

da loja

Funcionários conscientes do

ponto, porém por vezes o ignoram.

Conscientes e praticantes.

Fidelidade Não hesitariam em trocar de

emprego.

Os que desejam ficar no

longo prazo têm.

Satisfação do consumidor Acreditam que consumidores

estão satisfeitos.

Acreditam que consumidores estão

satisfeitos.

Recompensas por

resultados/comportamentos

Para promoções, é mais importante ter apoio dos

gerentes das lojas.

Há meritocracia, porém também é importante ter apoio dos gerentes para

promoções.

Relacionamento com a

empresa Sem maiores problemas. Excelente, canal aberto.

Tratamento justo da empresa

aos consumidores Sim. Sim.

35

Comunicação

Funcionários não sentem coerção para falar com a gerência, mas há falta de

informação por vezes.

Bom canal de comunicação.

Estresse emocional Há alto índice de faltas, o que sobrecarrega os funcionários.

Força de trabalho de tamanho adequado.

Fonte: Elaboração própria

Desempenho organizacional: a ideia aqui é medir a percepção dos funcionários

acerca do desempenho da empresa em comparação com os concorrentes. Como essa

comparação é facilmente obtida por fontes externas, esse item também permite que se

meça quão de acordo com a realidade as percepções dos funcionários estão.

Tratamento justo da empresa aos funcionários: é uma forma direta de obter a

opinião dos funcionários acerca do tratamento a eles dispensado pela organização.

Permite também que se comparem as percepções dos funcionários entre organizações

diferentes, bem como entre os funcionários de uma mesma organização.

Percepção sobre qualidade do serviço e estilo de supervisão, regras e

procedimentos: esse é um tópico genérico, que permite o surgimento de discussão.

Contudo, um dos objetivos é entender a opinião da força de trabalho sobre quão

controladora a organização é, sobre a validade das ferramentas burocráticas em vigor,

sobre a liberdade oferecida pela gestão aos funcionários, e sobre a visão desses

funcionários a respeito das regras em prática. Permite, ainda, que se perceba quão

conscientes os funcionários são a respeito de procedimentos de segurança e saúde

alimentar e do trabalho, bem como se a empresa se preocupa de alguma forma em tornar

esses cuidados de conhecimento do staff. Além de tornar possível a obtenção do

feedback dos funcionários sobre diversos pontos que seriam necessários à empresa para

que ela melhorasse seu desempenho. Esse último ponto é especialmente interessante

pois funcionários mais atentos têm a capacidade de perceber no dia-a-dia o que mais

incomoda os clientes, e essa é uma forma de obter tais informações, já que nem todos os

clientes participariam, por exemplo, de uma pesquisa de satisfação instituída pela

organização.

Comprometimento: essa área fornece entendimento tanto da clareza com que a

organização transmite seus objetivos aos colaboradores, quanto da vontade e disposição

dos colaboradores em trabalhar para atingir tais objetivos. É possível, a partir do

conjunto de respostas dos funcionários de uma organização, entender quão coeso o

36

grupo é, e quão padronizadas são as políticas de transmissão de informações da

empresa.

Salários e benefícios: esse item permite que se obtenham diretamente duas

informações: quão satisfeitos estão os funcionários com o que a organização oferece,

dado que o universo é do varejo de alimentos – ou seja, permite cruzar a expectativa dos

funcionários com a realidade desse mercado; e quão vantajoso é o pacote oferecido por

uma organização específica em comparação com outras organizações da mesma

indústria e na mesma região.

Colegas de trabalho: ponto muito importante para alguns funcionários, em

especial para os temporários (como explicado na revisão da literatura), essa grande área

explora a opinião dos funcionários sobre seus colegas de forma mais ampla, enquanto

seres sociáveis, e também de forma profissional, medindo quão solidários os

funcionários são uns com os outros – por exemplo, trocando turnos, “cobrindo” os

faltantes etc.

Tendência a indicar a loja como local a trabalhar: desse quesito obtém-se a

percepção dos funcionários sobre o mercado de trabalho em geral, bem como sobre sua

satisfação com seu emprego, dadas as suas qualificações. Mais especificamente, sobre a

disposição dos funcionários em continuar trabalhando naquela empresa e,

adicionalmente, sobre a percepção de se outras pessoas ficariam felizes em trabalhar

para aquela organização. Desse item é possível, ainda, depreender as expectativas dos

funcionários em relação ao mercado de trabalho em geral.

Percepção sobre habilidade em afetar a experiência do consumidor e a

performance da loja: esse item tem algumas semelhanças com a área comprometimento

porém, em vez de buscar saber quão dispostos os funcionários estão em praticar as

políticas organizacionais ou em afetar positivamente o cliente, o objetivo desse tópico é

medir o nível de consciência dos funcionários a respeito de seu potencial enquanto

agentes efetivos daquela empresa. Em outras palavras, pode-se obter o nível de

empoderamento (empowerment, ou delegação de autoridade) que o funcionário acredita

que tem ou que pode ter. Em última instância, é também possível utilizar essa área para

avaliar se as políticas da organização sobre conscientização dos colaboradores oferecem

resultado satisfatório, ou ainda se elas sequer existem.

37

Fidelidade: a ideia aqui é entender quão fiel à organização o funcionário tem

efetivamente sido. Não se pretende medir quão fiel ele “seria”, pois isso só seria

possível formulando perguntas hipotéticas ao funcionário (como, por exemplo, “você

continuaria trabalhando nessa empresa caso recebesse uma proposta X?”), e as respostas

não seriam dignas de confiança, pois, em se tratando de salários e oportunidades de

emprego, é improvável que um indivíduo saiba qual reação ele próprio teria ao receber

uma proposta específica. Portanto, busca-se medir o tempo que o funcionário tem de

casa.

Satisfação do consumidor: a abordagem desse quesito joga luz sobre a percepção

do funcionário sobre a satisfação do cliente. Permite, em segundo plano, que se obtenha

a existência de visão comparativa em relação a outras organizações por parte do

funcionário – ou seja, seu entendimento do mercado no qual ele trabalha. Por fim,

permite ainda que se cruze a percepção do empregado com a percepção de satisfação do

cliente, elucidando eventuais discrepâncias.

Recompensas por resultados/comportamentos: esse item permite que se meça a

efetividade das políticas de incentivo da organização para que seus funcionários ajam de

determinado modo. Em segunda instância, também fornece subterfúgios à compreensão

do nível de satisfação dos funcionários com tais políticas.

Relacionamento com a empresa: esse item permite que se avalie o grau de

conexão que os funcionários têm com a organização, bem como a efetividade das

políticas de motivação e engajamento dessa organização. Indiretamente, pode-se utilizar

esse tópico para avaliar e grau de comprometimento e perfil dos funcionários dessa

empresa.

Tratamento justo da empresa aos consumidores: aqui, o pesquisador tem a

oportunidade de saber se o funcionário acredita que a empresa faz o melhor que pode

para satisfazer o consumidor; se as expectativas do funcionário enquanto consumidor

são as mesmas que as dos consumidores daquela organização; se o funcionário

acredita/admite estar fazendo o seu melhor para satisfazer o cliente, e seu entendimento

sobre se o seu melhor é suficiente; e, por fim, se há algum tipo de rancor por parte dos

funcionários aos clientes, o que poderia ser causado por falta de cortesia dos próprios

clientes, falta de treinamento recebido, ou mesmo dificuldade em trabalhar em uma

posição de contato intenso com o consumidor.

38

Comunicação: com o uso desse grupo, deseja-se saber quão confortáveis os

funcionários são em comunicar-se com a empresa, tanto para situações corriqueiras

quanto para questões mais sérias. Dessa forma, pode-se depreender a qualidade e

variedade dos meios de comunicação (tanto formais quanto informais) fornecidos pela

gerência, bem como a própria cultura organizacional que circunda a questão.

Estresse emocional: esse item poderia ser manifestado de diversas formas e, em

certo grau, qualquer ocupação tem por consequência certo nível de estresse.

Pretendemos medir, aqui, não as individualidades de cada funcionário, mas a percepção

dele sobre quão estressante é o fato de estar em contato contínuo com o cliente, e ser o

“intermediador” entre a empresa e seu consumidor. Como o perfil da gestão já é

avaliado em itens anteriores, acredita-se que a informação mais válida para o

entendimento dessa área é o tamanho da força de trabalho, ou, mais especificamente, se

ela é suficiente. A partir dessa informação pode-se inferir o nível de demanda a que

cada funcionário é submetido no dia-a-dia, como, por exemplo, se ele é constantemente

requisitado em uma seção que não é a sua, ou se ele precisa substituir funcionários

faltantes.

39

3.3 Questionários

Em seguida, a cada uma das grandes áreas selecionadas foi atribuída uma

pergunta que a pudesse explorar. Caso a mesma pergunta pudesse explorar mais de uma

área, ela seria utilizada mais de uma vez. Para o critério de satisfação do cliente, foram

abordadas perguntas para cada uma das nove grandes áreas, como mostrado abaixo.

Tabela 3 - Grandes áreas e perguntas: clientes

Grande área Perguntas

Nível de serviço ao cliente Os clientes aqui sentem-se tratados de forma diferenciada

Fidelidade Se eu pudesse escolher, eu não voltaria a comprar nessa

empresa/que outros supermercados você frequenta?

Expectativas No geral, essa empresa atende às minhas expectativas

Recompra Se eu pudesse escolher, eu não voltaria a comprar nessa empresa

Recomendação a terceiros Eu recomendaria essa empresa a outras pessoas

Qualidade dos serviços A qualidade dos serviços é superior aos da concorrência

Confiabilidade Essa empresa é confiável

Nível dos funcionários Funcionários desta empresa são competentes e prestativos

Custo-benefício Estou satisfeito com a relação custo-benefício dos serviços

oferecidos por esta empresa Fonte: Elaboração própria

40

Já para satisfação do funcionário, foram selecionadas perguntas para as 16

grandes áreas.

Tabela 4 - Grandes áreas e perguntas: funcionários

Grande área Perguntas

Desempenho

organizacional

O desempenho da empresa é muito melhor do que o desempenho dos principais concorrentes.

Tratamento justo aos

funcionários Esta empresa dispensa tratamento justo aos funcionários.

Percepção sobre qualidade

do serviço e estilo de

supervisão

Esta empresa tem todas as competências de que necessita para ser bem sucedida.

Comprometimento As pessoas nesta empresa são altamente focadas em realizar resultados organizacionais.

Salários e benefícios Esta empresa tem uma política de remuneração e benefícios satisfatória.

Oportunidades de longo

prazo

Empregados nesta empresa ficariam felizes em passar o resto de suas carreiras aqui.

Colegas de trabalho Os funcionários dessa empresa ajudam-se, socializam-se e/ou formam um

grupo unido.

Tendência a indicar a loja

como local a trabalhar

Empregados nesta empresa ficariam felizes em passar o resto de suas carreiras aqui.

Percepção sobre afetar o

consumidor e a loja

Eu acredito que meu trabalho pode afetar a experiência do cliente e a performance da empresa.

Fidelidade Há quanto tempo você trabalha nessa empresa?

Satisfação do consumidor No geral, nossos funcionários são conhecidos por oferecer um serviço superior ao cliente.

Recompensas por

resultados/comportamentos

As pessoas nesta empresa são altamente focadas em realizar resultados

organizacionais.

Relacionamento com a

empresa Esta empresa tem um grande significado para os funcionários daqui.

Tratamento justo da

empresa aos consumidores

Ao realizar o seu trabalho, o cliente é a coisa mais importante para os funcionários da empresa.

Comunicação Esta empresa tem um bom canal de comunicação com os funcionários.

Estresse emocional Esta empresa sempre tem uma força de trabalho de tamanho adequado. Fonte: Elaboração própria

Essas foram as perguntas utilizadas na primeira parte de validação dos

questionários. Foram entrevistados cinco consumidores e cinco funcionários, de forma

que elas pudessem dar seu feedback, e o pesquisador pudesse realizar os ajustes

necessários.

41

A segunda parte de validação do estudo ocorreu a partir das correções e

sugestões obtidas na fase anterior, e nessa etapa as perguntas já estavam nos formatos

que, apoiado pela revisão bibliográfica, o pesquisador decidiu apresentá-las. Esse

formato foi, como já explicado anteriormente, o de uma entrevista semiestruturada, de

forma que se pudesse extrair o máximo de informações no menor espaço de tempo,

porém sem deixar de lado a oportunidade de obter riqueza maior de informações caso

fosse possível. Para isso, foram utilizados itens Likert, em escala de 1 a 5, representados

pelos valores “discordo fortemente”, “discordo parcialmente”, “neutro”, “concordo

parcialmente”, “concordo fortemente”. No total, foram quatro questionários: clientes e

funcionários, em português e inglês. Foram entrevistados cinco falantes nativos de cada

idioma para cada um dos questionários, os quais apontaram falhas, pontos de

desentendimento e sugestões. Depois de compilados os feedbacks, o pesquisador

também fez suas observações, e montou a versão final dos questionários.

Abaixo estão os modelos idênticos aos questionários utilizados para obtenção de

informações a partir dos clientes e funcionários, tanto em português quanto em inglês.

Vale ressaltar que os modelos abaixo representam os questionários finais utilizados no

estudo, após a aplicação dos questionários-piloto. A aplicação dos questionários-piloto

permitiu ao pesquisador corrigir perguntas, receber o feedback dos entrevistados, bem

como incluir e excluir itens, além de alterar a redação e forma de abordagem de

determinadas perguntas. O resultado final consiste em perguntas que abrangem todos os

tópicos que se desejou explorar, além de outras perguntas, inseridas por diferentes

motivos, entre os quais: entender melhor a empresa como um todo, incluir tópicos

sugeridos ou percebidos durante a aplicação dos questionários-piloto, permitir a

observação de questões por ângulos diferentes, e obter informações que poderiam ser

úteis na análise comparativa entre as empresas.

42

3.3.1 Clientes

1 Idade 0-20 20-30 30-40 40-60 >60

2 Há quanto tempo você é cliente dessa empresa?

3 Quantas vezes por mês você vem a essa loja?

4 Que outros supermercados você frequenta? Pão de Açúcar, Extra, Mundial, Prezunic, Guanabara.

Marque a opção que mais se adequa a cada uma

das afirmativas abaixo: discorda

fortemente

discorda

parcialmente neutro

concorda

parcialmente

concorda

fortemente

5 Os clientes aqui se sentem tratados de forma

diferenciada.

6 Eu recomendaria essa empresa a outras pessoas.

7 Funcionários desta empresa são competentes e prestativos.

8 A localização desta loja é o principal fator de atratividade para o cliente.

9 No geral, essa empresa atende às minhas expectativas.

10 Se eu pudesse escolher, eu não voltaria a comprar nessa empresa.

11 A qualidade dos serviços é superior aos da

concorrência.

12 Essa empresa é confiável.

13 Estou satisfeito com o custo-benefício dessa empresa.

14 A qualidade e variedade dos produtos é superior aos da concorrência.

15 O nível de satisfação geral com a loja é alto.

Há algum evento que você queira comentar para ilustrar as respostas acima?

Figura 5 - Q uestionário para clientes em português Fonte: Elaboração própria

43

3.3.2 Funcionários

1 Qual o seu cargo atualmente?

2 Há quanto tempo você trabalha nessa empresa?

3 Há quanto tempo você trabalha em supermercados?

4 Há quanto tempo você ocupa cargo semelhante ao atual?

5 Quanto tempo você leva para chegar ao trabalho?

6 Em que outros supermercados você já trabalhou?

Marque a opção que mais se adequa a cada uma das afirmativas abaixo:

discorda

fortemente

discorda

parcialmente neutro

concorda

parcialmente

concorda

fortemente

7 Empregados nesta empresa ficariam felizes em passar o resto de suas carreiras aqui.

8 As pessoas nesta empresa são altamente focadas em atingir resultados organizacionais.

9 Esta empresa tem um grande significado para os

funcionários daqui.

10 Os funcionários dessa empresa ajudam-se,

socializam-se e/ou formam um grupo unido.

11 O desempenho da empresa é muito melhor do que o desempenho dos principais concorrentes.

12 Esta empresa tem uma política de remuneração e benefícios satisfatória.

13 Esta empresa tem uma força de trabalho de tamanho adequado.

14 Esta empresa tem todas as competências de que necessita para ser bem sucedida.

15 Esta empresa tem um bom canal de comunicação com os funcionários.

16 Esta empresa dispensa tratamento justo aos funcionários.

17 Ao realizar o seu trabalho, o cliente é a coisa mais importante para os funcionários da empresa.

18 No geral, nossos funcionários são conhecidos por oferecer um serviço superior ao cliente.

19 Eu acredito que meu trabalho pode afetar a experiência do cliente e a performance da empresa.

20 No geral, os funcionários nesta empresa estão muito satisfeitos com seus empregos.

Figura 6 - Q uestionário para funcionários em português

Fonte: Elaboração própria

44

4 ANÁLISE

Neste capítulo, será feita uma apresentação das empresas bem como dos resultados

das entrevistas realizadas, descritas no capítulo 3. A apresentação dos resultados das

entrevistas seguirá a ordem dos questionários, ainda que isso signifique que algumas

informações sejam brevemente repetidas (pois uma determinada resposta, ou

comentário, pode ter impacto em mais de um item abordado). Na apresentação de um

estudo de caso, deve-se atentar para não tornar a análise dos resultados uma mera

repetição das informações obtidas, sem, contudo, deixar de transcrever os comentários

mais importantes e relevantes entre aspas (RUNESON e HOST, 2008).

As informações reportadas abaixo, como em qualquer estudo de caso, decorrem de

uma compilação do autor sobre o que foi obtido pelos diversos canais utilizados –

observação direta, pesquisa online, entrevistas, pesquisas de satisfação, contato com a

gerência etc. Em outras palavras, essa é a parte em que o autor expressa sua versão do

que foi obtido em termos de informação ao longo de toda a pesquisa, de forma lógica,

seguindo o racional que foi adotado até o momento. No capítulo seguinte, o autor

aprofundará suas análises dos resultados, interpretando o que foi obtido em forma de

comparações, implicações gerenciais e conclusões.

4.1 Zona Sul – apresentação da empresa

As informações sobre a empresa apresentadas nesta seção foram obtidas de

notícias de jornal, dados do setor disponibilizados por associações setoriais e entrevista

com um dos diretores do ZS.

O supermercado Zona Sul, com localização focada na cidade do Rio de Janeiro,

possui atualmente 35 lojas (sendo uma em Angra dos Reis, e as demais na Zona Sul e

Barra da Tijuca). tem sua fundação datada de 1959, pelo imigrante italiano Francesco

Leta (SUPERMERCADO ZONA SUL, 2015). Assim como o Wegmans, é uma

empresa de capital fechado, e pertencente a uma família.

No Brasil, as quatro maiores redes são o Grupo Pão de Açúcar, detentor de

marcas como Pão de Açúcar, Extra e Assai; Carrefour, detentor da marca de mesmo

nome e Champion; Wal-Mart; e Cencosud, detentor do Prezunic (SUPERMERCADO

MODERNO, 2014). Juntas, tais empresas abocanham 50% do market share no país

45

(MELLO, 2012), enquanto que o Zona Sul ocupa a 23ª (SUPERMERCADO

MODERNO, 2014), apesar de estar localizado somente na cidade do Rio de Janeiro,

além de possuir uma loja em Angra dos Reis.

No Rio de Janeiro, o supermercado ocupa posição de destaque, rivalizando, no

segmento de mercado em que foca, com o Pão de Açúcar, o qual encontrou no Zona Sul

uma grande barreira para sua entrada no Rio de Janeiro (BARRIZZELI, 2002).

A empresa emprega em torno de 5 mil funcionários, e seu faturamento anual em

2014 foi da ordem de R$1,5 bi, fazendo dela a 55ª maior varejista do país. Por dia,

circulam aproximadamente 75000 clientes por todas as unidades.

Em termos de faturamento por funcionário, o Zona Sul possui um número

relativamente baixo em comparação com players como Wal-Mart, de aproximadamente

R$250 mil no ano de 2013. Seu faturamento por m², contudo, é relativamente alto, da

ordem de R$42 mil anuais, principalmente devido ao fato de a loja estar instalada nas

áreas mais nobres da cidade, onde o aluguel é mais caro e o espaço mais escasso,

obrigando as lojas a faturar mais para cobrir seus custos.

Na realidade do Rio de Janeiro, a empresa é responsável por diversas inovações,

entre as quais a máquina de suco de laranja, frutas e verduras embaladas prontas para o

consumo, embalagens mais práticas e higiênicas, introdução de produtos orgânicos (em

1996) etc.

Segundo um ex-diretor do Zonal Sul, Jaime Xavier, em entrevista datada de 2015,

as inovações que marcaram a história da empresa incluem foco em produtos orgânicos,

vendas pela internet, pizzaria, e serviço de entrega em uma hora. Por atender as classes

A e B, a empresa foi precursora em priorizar o atendimento ao cliente, e busca formas

de atingir tal objetivo através de capacitação de lideranças e funcionários. A empresa

também buscou diferenciar-se com a oferta de produtos importados, entre os quais

vinhos, queijos e azeites.

Nas entrevistas disponíveis com gestores da empresa, pôde-se perceber o foco na

diferenciação, através da satisfação do cliente. O objetivo é manter as lojas limpas, o

atendimento rápido e eficiente, e a experiência do consumidor agradável. Em entrevistas

obtidas na mídia, estes eram aspectos sempre citados, como em um caso em que o

gestor comentava sobre um programa de treinamento de lideranças recém lançado.

46

A concorrência tem acirrado-se fortemente na zona sul do Rio de Janeiro, foco da

Rede ZS. Até 2003, o ZS dominava o mercado no Rio de Janeiro, juntamente com as

Sendas. A partir dessa data, o Grupo Pão de Açúcar e Sendas uniram-se, ocasionando a

formação da maior rede de supermercados da cidade. Em 2011, a rede Prezunic foi

comprada pelo grupo Ceconsud, oferecendo mais uma concorrência de grande porte (o

Prezunic, contudo, foca nas classes B e C, mas há algum “overlapping” entre os

mercados). Atualmente, a rede Hortifruti também figura como um grande concorrente

dos supermercados tradicionais, posicionando-se cada vez mais de modo a competir

com o ZS e Pão de Açúcar.

4.2 Zona Sul – entrevistas com clientes e funcionários de loja

No supermercado Zona Sul, as entrevistas com clientes e funcionários foram

primeiramente obtidas via aproximação direta ou contato telefônico, e os questionários

foram aplicados no mês de abril e maio de 2015. Como já visto na revisão da literatura,

o fator sazonalidade não é relevante na correlação entre satisfação de clientes e

performance de vendas, exceto no mês de dezembro (GOMEZ, MCLAUGHLIN e

WITTINK, 2003). Em se tratando da cidade do Rio de Janeiro, adotou-se a precaução

extra de não se aplicarem os questionários durante o período do Carnaval, de forma a

mitigar os riscos de lojas superlotadas, ansiedade por parte dos consumidores e

funcionários, perfil diferente de clientes etc.

No total, foram entrevistados 6 clientes, 3 funcionários e 1 gestor, nas lojas da rua

Visconde de Pirajá 504, Prudente de Morais 49, Bambina 36, e Jardim Botânico 81, nos

bairros de Ipanema, Botafogo e Jardim Botânico, respectivamente.

4.2.1 Clientes

Foram entrevistados clientes no local físico da empresa, bem como pessoas que

frequentam o local, porém não estavam no supermercado naquele momento. Como já

dito, o público que frequenta o local é do estrato superior de poder aquisitivo, classes A

e B, sendo os principais concorrentes o Pão de Açúcar e Hortifruti. Pôde-se observar

que a maioria dos clientes escolhe o supermercado devido à localização. Como há certa

proximidade entre as lojas do Pão de Açúcar, Hortifruti e Zona Sul, o cliente não deixa

de ter que escolher a qual ir, porém ficou claro que o fator principal de atratividade para

47

a grande maioria dos clientes é a localização. Com relação à qualidade do atendimento

pelos funcionários, observou-se menor satisfação com os operadores de caixa do que

com outros funcionários. Ademais, os clientes estão cientes de que pagam um prêmio

por estarem comprando na zona sul da cidade.

Há quanto tempo você é cliente dessa empresa?

Os clientes entrevistados frequentam a loja “desde sempre que moram na zona

sul do Rio de Janeiro”. Isso tornou a pesquisa mais rica, pois 4 dos entrevistados são

clientes há mais de 20 anos, o que permitiu que a pesquisa abordasse alterações na

percepção do cliente ao longo do tempo; houve, ainda, quem fosse cliente há menos de

1 ano.

Quantas vezes por mês você vem a essa loja?

Identificaram-se dois tipos de comportamento, e os clientes podem apresentar

um deles ou ambos: os que frequentam a loja constantemente, realizando compras

“pequenas”, corroborando a tese de que o supermercado é utilizado para complementar

as compras do mês, eventualmente realizadas em local com melhor custo-benefício

(porém somente acessível de carro, taxi ou ônibus); e os que realizam compras grandes,

ou por serem idosos demais para se deslocar aos locais mais baratos, ou por não terem

tempo para tal, confirmando a extrema importância da localização das lojas para a

atração de clientes – e também explicando o motivo de ser comum haver todos os três

concorrentes próximos uns aos outros. Por fim, também se notou que há os clientes que

adotam a mesma postura, porém não gostam do Zona Sul, e só vão a ele quando não

encontram o que buscam no Pão de Açúcar ou Hortifruti.

Que outros supermercados você frequenta?

Nenhum dos entrevistados afirmou dar exclusividade ao Zona Sul, e os

principais concorrentes, como Pão de Açúcar e Hortifruti, são também frequentemente

visitados. Além disso, os clientes que possuem tempo e meios para se deslocar

afirmaram realizar as “compras do mês” em supermercados com melhor custo-

benefício, em regiões mais distantes do local onde moram, como o Mundial, Extra,

Guanabara e Prezunic. Foi observado, ainda, que um cliente em específico afirmou ir a

feiras. Apesar de a maioria dos clientes praticarem a compra seletiva, alguns

frequentavam prioritariamente o Zona Sul, devido à localização ser ainda melhor do que

48

a dos concorrentes, aceitando pagar mais por determinados produtos somente para não

ter que ir a outros locais.

Os clientes aqui se sentem tratados de forma diferenciada.

Esse ponto causou certa divisão. Alguns clientes afirmaram ter um tratamento de

qualidade e diferenciado, enquanto que outros acreditam ser tratados de forma similar

em outros locais. Nenhum cliente afirmou ser “maltratado”, apesar de uma entrevistada

ter afirmado ser mais bem tratada no Mundial. Esta informação foi preocupante, pois a

rede Mundial tem em média preços muito inferiores ao Zona Sul. Uma cliente do Zona

Sul e Mundial indicou ter pesquisado tal diferença de preços e o Zona Sul é em média

25% mais caro que o Mundial. Os principais elogios foram aos funcionários que não os

operadores de caixa (como, por exemplo, padaria, peixaria etc.). Esse é outro ponto

preocupante, pois os operadores de caixa têm um tempo maior de interação com o

cliente.

Eu recomendaria essa empresa a outras pessoas.

Uma das afirmações “lugar-comum” entre os entrevistados foi que

“recomendaria, caso a pessoa fizesse o cartão zona sul”. O cartão Zona Sul é o cartão de

desconto da empresa (não é cartão de crédito), que funciona nos moldes de cartões de

fidelidade tradicionais, oferecendo descontos na compra de determinados produtos. 2

entrevistados mencionaram, ainda, que a recomendação seria, principalmente, pela

variedade de produtos do local, e pelo fato de ser conveniente em termos de localização,

ou seja, ou para comprarem “o que estiver faltando”, ou “produtos específicos”.

Mencionaram, no entanto, que avisariam à pessoa a quem estivessem recomendando

que o supermercado é muito caro.

Funcionários desta empresa são competentes e prestativos.

Clientes relataram, ocasionalmente, falta de disponibilidade ou intenção de

ajudar em determinados funcionários, mas no geral relataram ser bem atendidos. Um

cliente em específico apontou, contudo, que operadores de caixa “não parecem

satisfeitos” com seus trabalhos, e mostrou consciência de que é provavelmente devido à

baixa remuneração. Esse mesmo cliente confirmou que, por vezes, os operadores não

são bem tratados pelos clientes e que tais operadores, por sua vez, deixam a desejar no

tratamento aos clientes, como em desejar “bom dia”, por exemplo.

49

A localização desta loja é o principal fator de atratividade para o cliente.

Talvez o ponto mais de acordo entre todos os entrevistados seja de que a

localização é o fator principal de atratividade. Apesar de alguns clientes gostarem da

loja e da variedade de produtos, eles não ignoram que vão à loja principalmente pela

localização próxima à, na maioria dos casos, suas residências e, em algumas instâncias,

a seus trabalhos. Sem exceção, os clientes afirmaram que o trânsito do Rio de Janeiro

não permite que eles se aventurem a buscar supermercados com mais custo-benefício

constantemente (apesar de alguns clientes irem, mensalmente, a tais locais), além de,

caso sejam idosos, não terem meios de ir a esses supermercados mais distantes

(poderiam ir de taxi, mas o trânsito seria o mesmo; além da dificuldade em carregar

pesos).

No geral, essa empresa atende às minhas expectativas.

As respostas para essa pergunta variaram de “neutro” para “sim,

completamente”. O que parece claro é que o carioca já está “acostumado” com o prêmio

que se paga por estar na zona sul, e embute nesse prêmio o valor pago “por não precisar

se deslocar”. Uma cliente afirmou que o preço pago reflete a qualidade do produto, e

outra afirmou que os preços são muito altos, mas ainda assim está relativamente

satisfeita. As respostas a esse ponto demonstram certa incoerência, que parecem refletir

mais uma resignação e falta de expectativa do que uma satisfação real. A satisfação é

apresentada para justificar a escolha do cliente que não se vê com muitas alternativas de

outros supermercados próximos à sua residência.

Se eu pudesse escolher, eu não voltaria a comprar nessa empresa.

Essa foi a pergunta cuja resposta foi mais divergente entre os entrevistados.

Houve os que dissessem que gostam da loja e discordam da afirmativa, dizendo que o

supermercado “é caro, mas bom”. Houve, porém, quem afirmasse que só vai ao local

por falta de opção. Logo, caso houvesse outro mercado próximo, essa pessoa não iria

mais ao Zona Sul. A ressalva feita foi: “continuaria indo ao Zona Sul caso a outra opção

estivesse lotada e o Zona Sul vazio”.

50

A qualidade do serviços é superior ao da concorrência.

Os entrevistados divergiram também nesse ponto. Enquanto alguns afirmaram

que “é igual aos principais concorrentes”, outros afirmaram que é o melhor serviço

existente entre empresas que atuam no mesmo segmento de mercado. Um entrevistado

em particular afirmou ser mais bem tratado no Mundial, além de que o tempo de espera

lá é muito mais curto do que no Zona Sul, apesar de as filas no último serem menores;

ou seja, o tempo por cliente nas filas é muito maior. Esse mesmo entrevistado afirmou

que isso se deu após a eliminação da função de empacotador pelo Zona Sul. Por outro

lado, um outro entrevistado afirmou que o preço reflete a qualidade dos produtos e o

bom atendimento recebido.

Essa empresa é confiável.

Um cliente em específico comentou que a empresa nem sempre possui o produto

desejado pelo cliente. Um comentário recorrente foi que a qualidade, limpeza e nível de

serviço das lojas depende muito de qual unidade específica se está visitando. Ou seja, há

grande variabilidade entre as lojas, sendo que as mais recentes seriam mais agradáveis

de visitar. Ainda que a nossa amostra seja pequena, pois o objetivo é exploratório, fica

claro que as respostas obtidas não são coerentes com uma empresa que se posiciona

com serviços/produtos diferenciados e por isto maiores preços.

Estou satisfeito com o custo-benefício dessa empresa.

Nesse ponto, o “lugar-comum” foi a discordância. Em outras palavras, nenhum

dos entrevistados acreditou que o valor que se paga pelos produtos vale o que eles de

fato são. Todos discordam ou discordam parcialmente da afirmativa, e parecem

concordar que se paga pela localização, mas se paga mais caro do que se imagina ser

justo. Uma cliente mencionou o benefício do cartão zona sul, melhorando a relação

custo-benefício consideravelmente para diversos produtos.

A qualidade e variedade dos produtos é superior aos da concorrência.

Esse ponto ofereceu certa concordância em relação a todas as opções de

supermercados, porém quando o assunto é o principal concorrente, o GPA, foi afirmado

que é similar. A respeito dos produtos especiais, foi comentado que “não há nada no

51

Zona Sul que não se consiga em outro local”, ainda que ao mesmo preço do praticado

pelo ZS.

O nível de satisfação geral com a loja é alto.

Novamente foi mencionado que as lojas variam muito em termos de limpeza,

conforto e atendimento, então a resposta foi que “depende da loja”. De qualquer forma,

um cliente em específico mencionou que a empresa consegue se diferenciar de forma

positiva, e que o cartão zona sul traz benefícios reais, além de que comprar na loja,

quando não está lotada, é uma experiência agradável, diferentemente de outros

supermercados como Mundial, Guanabara etc. Afirmou, ainda, ser satisfatória a

variedade dos produtos disponíveis.

4.2.2 Funcionários

Foram entrevistados operadores de caixas da empresa. Os entrevistados eram

funcionários da empresa desde há 1 até há mais de 5 anos, o que fez possível observar a

mudança na percepção, ao longo do tempo, da qualidade do emprego e serviço no ZS.

Um ponto a ser observado é a distância do trabalho que os funcionários têm

diariamente. Com raras exceções, é comum que o funcionário leve mais de uma hora,

chegando por vezes a duas horas, em um traje de ida ou de volta, totalizando de duas a

quatro horas no total do dia em deslocamento do e para o trabalho.

Empregados nesta empresa ficariam felizes em passar o resto de suas

carreiras aqui.

As opiniões foram em linha com o “não”. Tanto os funcionários que atualmente

estão satisfeitos com seus empregos quanto os que não estão reportaram que

dificilmente alguém veria o ZS como uma empresa para “construir carreira”. Muito

provavelmente aquele era o “trabalho que estava disponível”, e por isso alguém estaria

ocupando os cargos que ocupa no ZS. A etapa inicial no emprego foi mais animadora,

mas logo a realidade vem. Foi também afirmado que muitos funcionários faltam ao

trabalho sem justificativa intencionalmente, na tentativa de serem demitidos, porém que

a empresa não vem mais demitindo como fazia antigamente. A justificativa dos

funcionários para essa não demissão foi que está difícil conseguir quem queira trabalhar

pelo salário pago. Por fim, um entrevistado afirmou que a qualidade do emprego varia

52

fortemente de acordo com a loja em que se está trabalhando, com o gerente em questão

e etc.

As pessoas nesta empresa são altamente focadas em atingir resultados

organizacionais.

Foi afirmado que existem metas, e existem inclusive bônus para os funcionários

que as atingem (como, por exemplo, número de “passagens” do cartão fidelidade no

registro), porém ninguém se importa com essas metas e os funcionários não buscam

atingi-las. Há prêmios para quem as atinge, entre os quais cartões-presente no valor de

R$50,00 em lojas como a Marisa, Casas-Bahia e etc. Foi informado que o “funcionário

do mês”, inclusive, é selecionado com base nos resultados de passagens de cartões. Um

dos motivos para poucos se importarem, de acordo com os entrevistados, foi a falta de

perspectiva de promoção e a noção de que há “favorecidos” pela gerência, portanto não

importa quão dedicado um funcionário seja, ele não crescerá na empresa a menos que

seja bem relacionado com gerentes. Uma das entrevistadas mencionou que atualmente

está trabalhando em uma equipe “até legal”, uma vez que, de acordo com ela, sua

equipe anterior era terrível.

Esta empresa tem um grande significado para os funcionários daqui.

Como mencionado por todos os entrevistados, esse é o “emprego que a pessoa

conseguiu”, portanto a empresa não possui grande significado para seus funcionários,

uma vez que eles lá estão por falta de opção. Um entrevistado afirmou já ter sido esse o

caso, no passado, porém atualmente a empresa é mal administrada e os funcionários

pouco se importam com seu rumo. Em contraste, foi mencionado que existe um “gás

novo” na empresa, de pouco tempo para cá, através de esforços da gerência.

Os funcionários dessa empresa ajudam-se, socializam-se e/ou formam um

grupo unido.

Foi reportado que, no passado, o relacionamento entre os funcionários era muito

mais integrado. Ninguém reportou problemas com colegas, porém também não foi

reportada integração e socialização entre funcionários (somente no passado havia, como

já mencionado). Foi afirmado, ainda, que caso alguém falte, ninguém notará, portanto

não há a prática de “cobrir” colegas quando necessário. O que acontece, em tais casos, é

que os funcionários que estão presentes ficam sobrecarregados. Não foi relatada a

53

existência de atividades após o trabalho ou eventos de integração. Uma das

entrevistadas afirmou lá ser “cada um por si, e Deus por todos”.

O desempenho da empresa é muito melhor do que o desempenho dos

principais concorrentes.

Esse ponto pode ser dividido em dois: a percepção quanto à lucratividade do

negócio, de um lado, e o desempenho da empresa em comparação com os principais

concorrentes, de outro. Em ambos os casos, porém, os entrevistados não parecerem

muito convencidos a respeito do tema.

Sobre a lucratividade, foi consenso que a empresa tem um alto faturamento e

“ganha muito dinheiro”.

Sobre o desempenho, um funcionário relatou que o Hortifruti é, em geral, melhor

que o ZS.

Uma única entrevistada afirmou que, devido à falta de concorrência, o

desempenho da empresa é positivo. “Perto do Zona Sul só existem outros Zona Sul, e

nem mesmo o Pão de Açúcar que tinha lá perto (da loja da rua Prudente de Morais)

existe”.

Esta empresa tem uma política de remuneração e benefícios satisfatória.

O salário-base é baixo (R$1000,00), porém os funcionários relataram poder

alimentar-se na loja (há três refeições: café da manhã, almoço e lanche da tarde). Além

disso, há plano de saúde, pagamento extra para feriado e Domingos em forma de crédito

para utilizar na loja ou cartão alimentação. Os aumentos salariais podem ocorrer de 6

em 6 meses (e são decorrentes de salários definidos para a classe e válidos para todos os

supermercados), e foi dito que muitos dos benefícios oferecidos pelo ZS não são

oferecidos em outros locais. Um entrevistado afirmou que o salário é, possivelmente,

melhor do que no supermercado Extra (controlado pelo Grupo Pão de Açúcar).

Contudo, foi afirmado que não é tão comum conseguir promoções, e quando ocorrem

são principalmente porque se tem afinidade com o gerente. Uma entrevistada reclamou

da falta de transparência nos descontos que são realizados na folha de pagamento,

dizendo ficar difícil identificar os motivos.

54

Esta empresa tem uma força de trabalho de tamanho adequado.

A principal reclamação nesse ponto foi a de que a empresa acabou com a função

de empacotador, sobrecarregando os operadores de caixa. Ademais, por haver alto

absenteísmo, também existe certa sobrecarrega nos funcionários presentes. A

entrevistada da loja da rua Prudente de Morais afirmou que, na loja em que ela trabalha,

já foi pior, e atualmente existe até uma certa sobre de funcionários.

Esta empresa tem todas as competências de que necess ita para ser bem

sucedida.

Os entrevistados acreditam que a empresa valoriza muito o cliente, e isso garante

a sustentabilidade do negócio. O fato de ela ser estabelecida e estar presente no mercado

há bastante tempo a conferem uma vantagem em relação a potenciais novos

concorrentes, e a garantem todas as capacidades necessárias para uma empresa bem

sucedida. O contraponto nessa pergunta foi o de que a empresa, apesar de focar muito

no cliente, deixa o tratamento dado aos funcionários a desejar, e isso poderia causar

certo problema para seu sucesso de longo prazo.

Esta empresa tem um bom canal de comunicação com os funcionários.

Nenhum dos entrevistados mostrou qualquer tipo de coerção para a comunicação

com seus superiores. Vale notar que um entrevistado afirmou que se pode ir direto ao

gerente e reportar situações, sem medo de represálias, e com a certeza de que o gerente

fará o que for possível para ajudar. Esse mesmo participante afirmou, ainda, que é

possível entrar em contato com os membros da família controladora do supermercado,

caso eles estejam presentes na loja. Ou seja, o canal de comunicação é bastante aberto.

Outro entrevistado reiterou a existência de tal canal de comunicação, porém afirmou

que o seu gestor imediato “não está nem aí”, apesar de “fingir que ouve” os problemas;

e que, para que qualquer problema seja resolvido, ela precisa ir ao gestor principal da

loja, o qual resolverá efetivamente a situação.

Por outro lado, foi também afirmado que existe certa dificuldade na obtenção de

informações; ou seja, é necessário saber por terceiros determinações como demissões,

mudanças de horários e escalas e etc., já que a informação não vem direta e clara da

gerência.

55

Esta empresa dispensa tratamento justo aos funcionários.

Parte dos entrevistados afirmou que o tratamento é parcialmente justo, apesar de,

para que um funcionário seja promovido, ser necessário que ele/ela tenha bom

relacionamento com seu gerente. Um entrevistado chegou a afirmar que o tratamento

“só é justo para quem puxa o saco do patrão”. Contudo, caso haja algum problema da

parte do funcionário, a empresa empenhar-se-á em resolver a situação. Outra parte dos

entrevistados, por outro lado, afirmou que o tratamento é ruim, que o funcionário não é

valorizado, e que o foco no cliente faz com a empresa negligencie o funcionário. Vale

destacar este aspecto interessante: a possibilidade de o funcionário colocar-se como

competidor dos clientes na busca pela atenção dos gestores. Foi um comentário feito

como que em um “deslize”, já que os funcionários entrevistados nas perguntas

subsequentes apresentaram o discurso convencional de que a satisfação do cliente

depende de um bom serviço e que eles precisam ser aliados do cliente.

Ao realizar o seu trabalho, o cliente é a coisa mais importante para os

funcionários da empresa.

Os entrevistados mostraram plena consciência de seu papel na satisfação do

cliente e da necessidade de serem prestativos e buscarem focar no cliente. Contudo, foi

dito que parte dos funcionários não se importa com o cliente, não por falta de

consciência, mas por simples vontade de ignorá-los, sob a justificativa de a empresa não

se importar com seus empregados. Outro motivo citado foi haver clientes rudes, que

fazem questão de ser desagradáveis, o que leva o colaborador a retribuir a atitude.

Contudo, esse tipo de atitude foi destacada como exceção, e a maioria dos consumidores

é tida como respeitosa, bem como a maioria dos colegas de trabalho são tido como

respeitosos para com os consumidores.

No geral, nossos funcionários são conhecidos por oferecer um serviço

superior ao cliente.

Os entrevistados concordaram com esse ponto, e o principal exemplo fornecido

foi o de que clientes são conhecidos pelo nome pelos funcionários, e vice-versa. Os

funcionários acreditam oferecer um ótimo serviço ao cliente.

56

Eu acredito que meu trabalho pode afetar a experiência do cliente e a

performance da empresa.

Nesse ponto, fica também clara a consciência dos funcionários em relação ao

potencial de afetar a experiência do cliente. Os entrevistados concordam com essa

afirmação, e acreditam que podem ajudar o cliente de forma ativa e efetiva. No entanto,

foi observado que os funcionários não têm um comprometimento profundo com esse

objetivo, especialmente entre os entrevistados que relataram não receber a devida

atenção por parte da gerência. Por outro lado, caso haja algum problema e a gerência

perceba, uma das entrevistadas afirmou que “a resolução do problema será rápida, e o

trabalho a partir daquele momento será muito focado no cliente”.

No geral, os funcionários nesta empresa estão muito satisfeitos com seus

empregos.

Como era de se esperar, a resposta para essa pergunta foi negativa, e vem a

corroborar o que se imaginaria a partir do restante da entrevista. O principal ponto

levantado pelos funcionários nessa questão foi o de que “ninguém trabalha lá porque

ama, mas porque é o que conseguiram”. Em relação às opiniões individuais, pôde-se

observar que a funcionária de mais idade a ser entrevistada (55 anos de idade) foi a

única parcialmente satisfeita, dado que, segundo ela, suas possibilidades de ser

empregada em outro local seriam reduzidas devido à sua idade. Os outros entrevistados,

com menos de 40 anos, estavam todos parcial ou totalmente insatisfeitos. Uma das

justificativas para a procura de supermercados como um local a se trabalhar é de que

são poucos os locais que ainda aceitam somente ensino médio como grau de

escolaridade, e supermercados são um deles.

4.3 Wegmans – entrevistas com clientes e funcionários de loja

A rede de supermercados Wegmans, cuja sede fica na cidade de Rochester, NY,

possuia em junho de 2015 85 lojas concentradas em 6 estados do Nordeste dos EUA.

Iniciada em 1916, a rede começou sua expansão em 1941, tendo essa sido acelerada a

partir dos anos 50. De origem familiar, os presidentes sempre tiveram em seus

sobrenomes a marca “Wegman”, incluindo a atual, Colleen Wegman, e o CEO, Danny

Wegman (WEGMANS, 2015).

57

A empresa emprega em torno de 45.000 funcionários, e é muito bem vista pela

população local por estar engajada em diversas atividades que envolvem a comunidade.

A empresa também conduz amplos programas de responsabilidade socioambiental,

incluindo um programa de reciclagem em suas lojas, além de vender uma variedade de

produtos cultivados por fazendeiros locais. A empresa oferece sacolas reutilizáveis a

todos os clientes que se cadastram em seu cartão de benefícios (não é cartão de crédito),

e tem um programa de monitoramento das práticas de pesca de seus fornecedores, que

clama poder, atualmente, rastrear 100% de seus frutos do mar postos à venda. No estado

da Pensilvânia, algumas paleteiras são movidas a hidrogênio, e a empresa iniciou há

poucos anos um amplo programa sobre utilização de energia solar. As sobras e produtos

prestes a expirarem a validade são doados a “bancos de comida” e “cozinhas de sopa”

locais, que oferecem alimentação a grupos de pessoas carentes (WEGMANS, 2015).

Há 18 anos a companhia figura na lista da revista Fortune como uma das

melhores empresas para se trabalhar. Em 2015, a lista é encabeçada por Google e BCG,

e o Wegmans vem em sétimo lugar. Com lucros de 2014 em US$ 6,85 bilhões, o

Wegmans é a 52ª maior empresa privada dos Estados Unidos. O Wegmans oferece

dentro de suas lojas, além do serviço tradicional de supermercado, farmácias,

restaurantes e, em alguns locais, uma loja de bebidas (FORTUNE MAGAZINE, 2015).

Um ponto interessante de se notar, bastante incomum, especialmente em comparação

com a realidade brasileira e com a própria indústria do varejo de alimentos, é a taxa de

desligamento da empresa, ou turnover, que estava em torno de 3,6% em 2013

(FORTUNE MAGAZINE, 2013). Para efeitos de comparação, o turnover do GPA foi,

em 2014, igual a 37% (GPA, 2014).

Um ponto importante sobre a rede é o extensivo nível de treinamento oferecido

aos funcionários, que costumam ser muito bem informados sobre tudo o que ocorre nas

dependências de determinada loja, além de ter um conhecimento amplo sobre os

produtos que são vendidos. A empresa oferece treinamento de segurança alimentar aos

seus funcionários, incluindo operadores de caixa (WEGMANS, 2015).

O estudo foi realizado ao longo dos meses de fevereiro e março, na unidade de

Ithaca, NY, onde o autor esteve pessoalmente. Foram entrevistados cinco funcionários

de linha, entre os quais caixas, gerentes “locais” e gerente de unidade.

58

4.3.1 Clientes

Foram entrevistados cinco clientes nas lojas, bem como pessoas que frequentam

o local, porém não estavam nas lojas naquele momento. Como já dito, o público que

frequenta o local é do estrato superior de poder aquisitivo, sendo aquele uma das opções

mais “premium” em qualquer local em que ele esteja. Sua competição não se dá com

empresas como, por exemplo, Wal-Mart, que são vistas como discount stores. Pôde-se

observar que há dois tipos de mentalidade dos clientes que vão ao Wegmans: aqueles

que são altamente entusiasmados com a empresa, e de fato frequentam o local por

gostarem do ambiente e sentirem-se bem – chegando ao extremo, por exemplo, de

realizar encontros com amigos na área de alimentação (o supermercado tem não

somente um café, mas também um buffet, com mesas e espaço confortável para um

número entre 50 e 100 pessoas comerem confortavelmente); e aqueles que apreciam a

variedade de produtos oferecida pela empresa, porém não têm como um fim em si a

visita ao supermercado, mas simplesmente a aquisição desses produtos diferenciados.

Há quanto tempo você é cliente dessa empresa?

A loja onde a pesquisa foi realizada iniciou suas atividades há mais de 20 anos,

e é bastante estabelecida no local. Os entrevistados que moram na cidade há esse tempo

ou mais visitam a loja desde sua abertura ou próximo disso, ou seja, frequentam o local

há aproximadamente 20 anos.

Quantas vezes por mês você vem a essa loja?

Foram observados alguns padrões de comportamento: os que vão raramente,

algo em torno de 1 vez por ano, quando desejam algo muito específico; os que vão

frequentemente, mais de 1 vez por mês, que desejam os produtos oferecidos pelo local

mas realizam suas pequenas compras nas lojas muito próximas ao local de residência; e

os que realizam compras toda semana, basicamente realizando compras em pequenos

lotes e, eventualmente, em lotes maiores.

Que outros supermercados você frequenta?

Nenhum dos entrevistados afirmou dar exclusividade ao Wegmans, e

supermercados de linha similar, em especial, também são visitados pelos consumidores.

Percebeu-se que, em maior ou menor grau, todos os consumidores entrevistados

59

pareciam cientes das diferenças de preços para itens similares entre locais, e praticam a

compra seletiva, escolhendo locais distintos para itens distintos.

Os clientes aqui se sentem tratados de forma diferenciada.

Todos os entrevistados afirmaram que o serviço ao cliente no local é excelente, o

que combina com a impressão dos funcionários do local e com a reputação da empresa

na mídia e no consciente coletivo. Os clientes sentem-se muito bem tratados pelos

funcionários, e afirmam ter a assistência necessária durante as compras.

Eu recomendaria essa empresa a outras pessoas.

Todos os entrevistados recomendariam o local a terceiros como uma boa loja

para realizar compras, e o principal motivo apontado, surpreendentemente, não foi o

serviço ao consumidor – apesar de ter sido um dos motivos -, mas a variedade de

produtos disponível. Alguns clientes afirmaram haver muito mais produtos do que em

todos os concorrentes, enquanto que um entrevistado afirmou haver mesma variedade

de produtos (apesar de não exatamente os mesmos) no supermercado “Tops”. Outra

razão para a recomendação é o espaço de alimentação da loja, que uma cliente em

específico disse ser um ótimo local para encontrar pessoas e socializar (ela estava,

inclusive, aguardando uma amiga naquele momento).

Funcionários desta empresa são competentes e prestativos.

Funcionários foram avaliados como completamente competentes, habilidosos e

prestativos, sem nenhum comentário negativo a respeito do assunto.

A localização desta loja é o principal fator de atratividade para o cliente.

Nenhum dos entrevistados afirmou que a razão principal para realizar suas

compras no Wegmans fosse localização. Vale dizer que a loja não está no centro da

cidade, e é necessário tomar condução pública (há linhas de ônibus regulares que

atendem confortavelmente o trajeto) ou dirigir até o local. Raríssimos são os casos de

pessoas deslocando-se a pé à loja (não se identificou nenhum, porém se pôde observar

que algumas poucas pessoas o fazem). Isso foi muito diferente do observado no

supermercado Zona Sul.

60

No geral, essa empresa atende às minhas expectativas.

Esse foi um dos pontos mais debatidos nas entrevistas. Observa-se aqui,

novamente, o agrupamento dos clientes entre os que de fato são grandes entusiastas da

loja, e os que não demonstram tal entusiasmo mas gostam da variedade de produtos do

local, e por isso o frequentam. Foi observado que a loja é muito cheia, especialmente

nos fins de semana, e alguns clientes afirmaram sentir-se incomodados e insatisfeitos

com este aspecto. Outro ponto observado é que alguns preços são altos demais em

comparação com produtos similares em outras redes, em especial nas lojas que são

conhecidas por oferecer preços menores – como o Aldi (rede de descontos alemã

presente ao redor do mundo).

Se eu pudesse escolher, eu não voltaria a comprar nessa empresa.

Dois tipos de respostas foram obtidas: os que retornariam ao local, e os que são

neutros. Os que retornariam são os mesmos que foram classificados acima como

“entusiastas” do local. Os neutros são aqueles que têm suas necessidades, em geral,

atendidas pela empresa, porém a trocariam caso houvesse uma opção semelhante em

outra rede, ou caso outra rede completasse todas as suas necessidades. Uma cliente

afirmou que frequentaria mais o local caso ela fizesse compras de forma “recreativa”, o

que, segundo ela, é o que muitas pessoas fazem – elas vão ao supermercado para

encontrar conhecidos e porque se divertem fazendo compras. Tal afirmação pode ser

corroborada pela afirmação de outra cliente, a qual afirmou que “as pessoas vão ao

Wegmans para se encontrar, porque aqui é um ótimo lugar para isso”.

A qualidade do serviços é superior ao da concorrência.

Nenhum dos entrevistados acredita que a qualidade dos serviços no Wegmans

seja inferior ao dos concorrentes. Alguns, porém, afirmam ser similar aos concorrentes

do mesmo nível, enquanto que outros afirmam ser de fato a qualidade mais alta entre

todos os players da indústria.

Essa empresa é confiável.

Todos os entrevistados acreditam que a empresa é plenamente confiável. Um

entrevistado compartilhou uma história negativa sobre o assunto sem, contudo, ter

mudado sua opinião a respeito da confiabilidade do produto. Segundo ele, a resposta da

61

empresa foi pronta e eficiente, desculpando-se efusivamente e enviando, inclusive,

unidades grátis dos mesmos produtos estragados aos clientes, o que mostrou um alto

grau de comprometimento com confiabilidade, qualidade, atenção e serviço ao cliente.

Segundo esse entrevistado, um casal de conhecidos comprou produtos alimentícios que

estavam quebrados, algo que só foi descoberto após os clientes chegarem a suas

residências. Após reclamação, a empresa deu prontamente uma resposta, da forma

explicitada acima.

Estou satisfeito com o custo-benefício dessa empresa.

Outro ponto bastante esclarecedor foi a visão de custo-benefício dos clientes.

Todos os entrevistados têm a noção de que muitos itens são um pouco mais caros do

que na concorrência, ou um pouco mais caros do que são julgados valer. No entanto, no

preço estão embutidos a qualidade, variedade (ou seja, muitos itens diferentes

disponíveis em um só local, o que facilita as compras do consumidor) e serviço ao

cliente. Pelos motivos acima, acredita-se, a avaliação dada pelos clientes a respeito de

custo-benefício foi intermediária para positiva. Ou seja, os clientes até estão satisfeitos

com a variedade de produtos e dispostos a pagar o preço para tais produtos; no entanto

não acham que o custo-benefício é, de fato, excelente. Alguns comentários foram:

“produtos bons, porém caros para estudantes”, “a loja possui alguns produtos um pouco

mais caros, mas a qualidade é superior”, e “eu não diria que o valor pelo meu dinheiro é

o mais alto, porém estou satisfeita aqui”. Pelo exposto, existe um boa relação custo-

benefício percebida pelos clientes, decorrente da alta qualidade do serviço coerente com

o posicionamento por diferenciação da empresa.

A qualidade e variedade dos produtos é superior aos da concorrência.

Esse foi um dos pontos mais bem avaliados pelos consumidores. De acordo com

todos os entrevistados, no Wegmans é possível encontrar produtos que não estão

disponíveis em nenhum outro competidor. As lojas possuem seções específicas de

produtos do mundo todo, além de uma ampla seção de alimentos orgânicos, home

brands e peixaria, queijos, açougue e alimentos para animais.

O nível de satisfação geral com a loja é alto.

Os níveis de satisfação geral com a empresa são altos, sendo os pontos negativos

mais comentados o fato de que a loja fica muito cheia, em especial nos fins de semana;

62

e de que os preços são um pouco elevados – ou consideravelmente elevados, para o caso

de estudantes. Os consumidores estão cientes de que a empresa é muito bem sucedida, e

afirmam que o café e restaurante no local são ótimos. A mesma cliente que comentou

constantemente sobre o fato de as lojas serem muito cheias também reclamou que, por

diversas vezes, encontrou dificuldades em estacionar seu carro perto da loja, de forma

que ela tinha que andar muito. Em observação direta, pôde ser observado que sempre

havia espaço para estacionar, sendo o pior dos casos somente quando o cliente precisava

estacionar ainda no estacionamento da empresa, porém na parte mais distante da

entrada. Essa caminhada, contudo, não representava mais de 330 metros até a loja,

como pode ser observado na imagem abaixo.

Figura 7: Estacionamento do Wegmans

Fonte: Google Maps

Ademais, um entrevistado afirmou que, em comparação com a loja da cidade de

Buffalo, essa era muito pequena, e esse era provavelmente o motivo da superlotação.

4.3.2 Funcionários

Como inicialmente desejado, foram entrevistados funcionários de loja - caixas e

gerentes – e também um gerente de loja. A situação da entrevista exigiu que se

evitassem as perguntas mais pessoais aos funcionários – tempo de trabalho naquela

63

empresa, tempo de trabalho em supermercados, tempo na mesma posição, tempo de

deslocamento e outros locais em que o funcionário trabalho. A análise para esse grupo,

portanto, focou no questionário de opinião a respeito da empresa.

Empregados nesta empresa ficariam felizes em passar o resto de suas

carreiras aqui.

Os funcionários afirmam que, em geral, observam os melhores colegas serem

promovidos. Mas também foi citado que em alguns casos há promoções de funcionários

apontados como “favoritos” pela gerência. O ponto negativo em continuar na empresa

foi justamente o fator promoção, enquanto que o ponto positivo foram os benefícios,

ambiente de trabalho e cuidado da empresa com os funcionários, além da possibilidade

de desenvolvimento e treinamento oferecida pela empresa, através da qual o profissional

pode desenvolver suas competências sem precisar de cursos “externos” ou de sair da

empresa para se qualificar. Foi informado pela gerência que 65 é o número médio de

horas anuais oferecidas em treinamento aos funcionários. Vale lembrar que os

funcionários do Zona Sul citaram, mesmo entre os mais antigos, que não recebiam

treinamentos.

As pessoas nesta empresa são altamente focadas em atingir resultados

organizacionais.

Em termos dos funcionários de linha, observa-se sua vontade em realizar o

serviço rápida e eficientemente, o que é, ainda que indiretamente, parte do objetivo

organizacional da empresa – oferecer ótimos serviços aos clientes. Dessa forma,

funcionários agilizam a estadia dos clientes nas filas. Pôde ser observado que, de fato,

as filas raramente passam de 4 clientes em espera e, ainda que com carrinhos lotados, o

tempo máximo de espera gira em torno de 10 minutos. Observou-se, ainda, grande

versatilidade em abrir caixas de acordo com os tamanhos das filas, o que suscitou a

dedução de que ou funcionários são facilmente convocados ao trabalho ou, mais

provavelmente, o mecanismo de previsão de lotação das lojas opera muito bem.

Como a empresa tem sido continuamente avaliada, com ótimos resultados, por

revistas especializadas, os funcionários do local mostram certo orgulho pelo fato. Isso

os leva a querer manter o nível positivo de avaliação, bem como leva a gerência a

buscar o mesmo. Observa-se um ciclo virtuoso, onde a alta gerência busca manter os

64

níveis de satisfação de funcionários e clientes, os funcionários felizes por isso, e o

cliente sendo muito bem tratado tanto pela gerência quanto pelos funcionários. Foi dito

por um dos funcionários que “nós realmente tentamos fazer o dia do cliente um pouco

melhor”. Observa-se, ainda, que os funcionários são capacitados para tal, dado que eles

recebem o treinamento necessário, inclusive em áreas não diretamente correlatas ao

trabalho que desempenham – como, por exemplo, o fato de que a todos os funcionários

são informados os produtos que estão em promoção em determinado momento.

Esta empresa tem um grande significado para os funcionários daqui.

Funcionários reportam orgulho por trabalhar na empresa, e costumam

compartilhar essa informação com amigos e comunidade, em geral. Foi escutado por

diversas vezes o termo “família Wegmans”, o que demonstra o nível de engajamento

dos funcionários com a empresa. Entre ex-funcionários que emitiram suas opiniões em

sites especializados, como o “glassdoor”, pôde ser visto que o carinho pela empresa

perdura até após o desligamento.

Os funcionários dessa empresa ajudam-se, socializam-se e/ou formam um

grupo unido.

Em todas as entrevistas realizadas, os funcionários afirmaram que os colegas de

trabalho são ótimos, excelentes, divertidos, e que é um prazer trabalhar com os mesmos.

Eles são, inclusive, muito mais bem avaliados que os gerentes. Os funcionários

afirmaram que buscam dar o melhor de si e manter uma atmosfera positiva, mas que não

são capazes de sair de suas rotinas para auxiliar funcionários em necessidade..

O desempenho da empresa é muito melhor do que o desempenho dos

principais concorrentes.

Os funcionários no local acreditam na qualidade da empresa e têm uma visão de

sucesso muito grande. Isto pode ser atribuído aos seguintes fatores: a empresa é

continuamente listada entre melhores locais para se trabalhar, além de estar muito bem

avaliada por clientes; em conversas informais pela cidade em cuja unidade o trabalho

foi realizado, o nome da empresa aparece frequentemente, e a conotação é quase sempre

positiva; ademais, a empresa é a 52ª maior empresa privada americana, levando-se em

conta o ano de 2014 (FORBES, 2014), o que reforça a percepção dos funcionários.

65

Esta empresa tem uma política de remuneração e benefícios satisfatória.

Os salários praticados pela empresa são de acordo com os salários oferecidos por

esse ramo de serviços. A empresa, contudo, mantém uma política de elevação dos

salários a cada seis meses – em aproximadamente US$0.5/hora, o que é apontado como

positivo pelos funcionários. Atualmente, o valor gira em torno de US$10.00/hora. Um

dos pontos mais comentados em termos de outros benefícios é que a empresa oferece a

seus funcionários em tempo parcial bolsas para cursar o ensino superior. Há também

bons benefícios tanto para o funcionário quanto para sua família na área de saúde, com a

empresa subsidiando 85% a 100% dos valores. A empresa ainda oferece amplas

oportunidades de treinamento aos funcionários. Ou seja, os benefícios foram muito

comentados como diferenciais, ainda que alguns pontos de melhora hajam sido citados.

Por exemplo, em alimentação, não existe nenhum tipo de subsídio. A empresa oferece

uma grande variedade de opções para venda, e os funcionários devem comprar suas

próprias refeições – sem desconto.

Esta empresa tem uma força de trabalho de tamanho adequado.

Não foi relatada, em momento algum, dificuldade com falta de funcionários, e

tampouco isso foi observado a partir das visitas realizadas.

Esta empresa tem todas as competências de que necessita para ser bem

sucedida.

Foi comentado que a empresa costuma oferecer ampla variedade de treinamentos,

visando a preparar os funcionários para lidar com diferentes questões postas pelos

clientes. Um funcionário mencionou, por exemplo, que ele tem a possibilidade de

aprender mais sobre seus alimentos preferidos e, adicionalmente, ajudar o consumidor

quando necessário, ainda que sua função principal não envolva lidar com seus alimentos

preferidos (nesse caso específico, o funcionário referiu-se a pescados). Os funcionários

consideram-se incentivados a oferecer sugestões sobre como realizar suas tarefas da

melhor forma. Foi também levantado que os funcionários possuem certa liberdade para

tomar decisões, o que os alivia de pressão e excesso de interferência da gerência durante

a realização de seu trabalho.

66

Esta empresa tem um bom canal de comunicação com os funcionários.

Não foram relatados problemas de comunicação com gerência, apesar de que a

empresa foi apontada como levemente burocrática por alguns. Ademais, foi colocado

que a progressão de carreira se faz difícil tanto pelo fato de a empresa ser burocrática

quanto pelo fato de que há “preferidos” entre a gerência – isso pode atuar como um

fator inibidor de comunicação funcionários – gerentes. Funcionários costumam dizer

que o ambiente de trabalho é ótimo, porém têm preferência pelos colegas de trabalho

em detrimento dos gestores. Isto é natural.

Esta empresa dispensa tratamento justo aos funcionários.

Os funcionários em geral sentem-se muito bem tratados pela empresa. Um deles

chega a afirmar que o “Wegmans me faz sentir muito importante, e em nenhum outro

lugar que eu tenha trabalhado anteriormente isso ocorreu”. É levantado, como ponto

negativo, que há dificuldades em se obter uma promoção, além de que por vezes

gerentes são vistos como favorecendo alguns funcionários em detrimento de outros.

Ao realizar o seu trabalho, o cliente é a coisa mais importante para os

funcionários da empresa.

Definitivamente, clientes são a prioridade nessa companhia. Em todos os

discursos dos funcionários, o objetivo principal era “atender ao cliente da melhor

forma”, “fazer o dia do cliente”, “ver o cliente saindo satisfeito com um sorriso no

rosto” e etc. Indubitavelmente todos são altamente treinados para satisfazer o cliente e,

aparentemente, o resultado é muito bem sucedido.

No geral, nossos funcionários são conhecidos por oferecer um serviço

superior ao cliente.

Os funcionários não comentam muito sobre a concorrência, porém o serviço

prestado pelo Wegmans é de alta qualidade. Quando não é superior, é no mínimo

similar aos concorrentes de mesmo nível (estrato superior do mercado).

67

Eu acredito que meu trabalho pode afetar a experiência do cliente e a

performance da empresa.

Em geral, os funcionários possuem boa consciência de sua responsabilidade com

o cliente. Isso significa que eles acreditam que o que fazem tem impacto direto sobre a

experiência do consumidor.

No geral, os funcionários nesta empresa estão muito satisfeitos com seus

empregos.

Um funcionário mencionou que se sente desafiado em seu trabalho, o que o faz sempre

buscar atender aos clientes da melhor forma possível. Ele também mencionou que se

sente muito feliz quando consegue “fazer o dia do cliente” e o mesmo sai com um

sorriso no rosto. Um dos pontos negativos levantados foi a falta de oportunidade de

crescimento, que o pesquisador entende ser algo intrínseco a um ambiente com muitos

funcionários “de linha” e pouca margem de ocupações para a empresa promover seus

funcionários.

68

5 PESQUISA ADICIONAL

O estudo de caso no supermercado Zona Sul levantou mais algumas suspeitas em

relação às iniciais, e o autor julgou importante explorar mais a fundo determinados

tópicos, por meio de entrevistas adicionais e benchmarking com outros players da

indústria. A explicação e desdobramento das hipóteses originais e adicionais serão

oferecidos em seção à frente.

5.1 Diretor de RH Zona Sul

A fim de contrastar a opinião dos funcionários com a de um gestor, foi feita uma

entrevista com o diretor de RH da rede de supermercados, na função há dois anos e

meio, através da qual se buscou entender se algumas das questões abordadas nas

entrevistas com funcionários e clientes eram percebidas pela alta gerência, e quais as

medidas estavam em curso em relação aos problemas identificados.

Primeiramente o diretor levantou números da empresa, que já se havia obtido

anteriormente na pesquisa, tais como número de lojas (34), receita (R$1,5 bilhão),

número de empregados (5000), clientes que visitam a loja diariamente (75000), classe

social atendida (75% A e B).

Mencionou, ainda, inovações da empresa, a maioria implementada há mais de

uma década, tais como:

Alimentos orgânicos;

Internet;

Pizzaria;

Entrega em uma hora.

Em relação a vantagens competitivas, na gestão de pessoas, o diretor afirmou que

a empresa oferece oportunidade de carreira e um ambiente familiar. Interessante

observar que os funcionários não reconhecem este ambiente familiar na empresa.

Segundo o Diretor, o setor conviveu com grande dificuldade para atrair mão de

obra, por conta do aquecimento da indústria de construção civil nos últimos cinco anos.

Além disso, o fato de as lojas dos supermercados da empresa serem localizadas na zona

sul do Rio de Janeiro também se põe como um problema, pois o típico funcionário da

69

empresa é morador de regiões menos nobres da cidade. Adicionalmente, o fato de as

lojas serem menores gera pouco espaço de fundos nas lojas para que se ofereça maior

conforto aos funcionários em seus horários de refeição ou descanso.

O executivo afirmou que os acionistas e outros diretores resistem em aumentar o

investimento em pessoal, principalmente porque as margens são baixas. O diretor

trabalhou antes na indústria farmacêutica que, de acordo com ele, investe alto em

pessoas, até porque as margens são altas naquele setor.

Ao ser questionado sobre problemas internos à empresa – como, por exemplo,

insatisfação de funcionários, diminuição da qualidade dos produtos, altos preços

praticados etc. - em adição às dificuldades externas, o executivo inicialmente negou,

mas ao longo da conversa apontou alguns problemas, como:

A empresa não faz pesquisa de clima com os funcionários;

Os dependentes dos empregados não possuem plano de saúde. Em

entrevistas com funcionários do Pão de Açúcar, observou-se que lá

também funciona assim.

Ele afirmou, no entanto, que o ponto mais crítico ocorreu há aproximadamente

dois anos, a partir de quando certas medidas foram adotadas, entre as quais:

Contratação de funcionários com idade superior a 50 anos. Tais

funcionários tendem a ser mais satisfeitos. Como ponto negativo, para

algumas funções, como caixa, a agilidade é fundamental, e isso pode ser

um fator comprometedor da política;

Preços mais competitivos. O Zona Sul não tem mais nenhum produto que

seja muito mais caro que os concorrentes. Quando presente, esse fator

incomoda muito o cliente;

Maior atenção a produtos básicos. A estratégia da empresa em ter produtos

premium que não são encontrados em outros supermercados ainda existe,

contudo a empresa não pode se descuidar dos produtos básicos. E isso

ocorreu nos últimos anos.

Reformulação/reforma das lojas.

70

5.2 Entrevistas Adicionais

Após feitas as entrevistas inicialmente planejadas, sentiu-se necessidade de

explorar algumas questões observadas em outros supermercados. Pão de Açúcar e

Hortifruti foram escolhidos pelo seu foco no mesmo público do Zona Sul. O Pão de

Açúcar faz parte do Grupo CDB, cujo faturamento no segmento de alimentos em 2014

foi igual R$ 28 bilhões, com mais de 2000 lojas (GPA, 2014), e o Hortigil Hortifuti teve

faturamento em 2014 de R$ 921,3 milhões, com 31 lojas (HORTIGIL HORTIFRUTI

S.A., 2014).

Foram feitas entrevistas com três funcionários do supermercado Pão de Açúcar,

explorando os tópicos que geraram mais dúvidas nas entrevistas descritas nas seções

anteriores. No Pão de Açúcar, também se observou alta insatisfação entre funcionários,

os quais apontam como principais fatores os baixos salários (R$940, mesmo salário

base do Zona Sul), que para os funcionários são incompatíveis com as grandes

responsabilidades carregadas, agravados pela falta de pessoal, que é, por vezes, não

planejada. A razão para tal está, em grande parte, no alto turnover. No dia da entrevista,

por exemplo, dois funcionários haviam se desligado da empresa sem aviso prévio, e isso

atrapalhou o planejamento dos trabalhos do dia, tendo os funcionários presentes que

cobrir uma grande área da loja que deveria ser atendida pelos faltantes.

O Grupo Pão de Açúcar, tem seus resultados financeiros em constante evolução

(GPA, 2015), contrastando com tal insatisfação dos funcionários, em aparente

contradição. Mas vale lembrar que os resultados financeiros de hoje são reflexos de

ações passadas e a insatisfação dos funcionários atual (não se sabe quando ela começou)

tem o potencial para afetar a performance financeira futura da rede. Por outro lado, pode

ser deliberado da gestão da empresa priorizar outros atributos de qualidade como o

ambiente, limpeza, beleza das lojas do Pão de Açúcar.

Foram feitas ainda entrevistas com três funcionários da rede Hortifruti, e o que

mais se destacou foram os salários mais altos e a maior satisfação dos empregados.

Enquanto no Zona Sul, Pão de Açúcar e outros players do mercado o salário base é em

torno de R$950,00 ao mês, no Hortifruti o salário inicial é de R$1.200,00, com um

sistema de progressão que leva, em dois anos, o valor para R$1.360,00. Trata-se de uma

diferença relevante, mais importante por se referir a valores base muito baixos.

71

Já no que tange à satisfação do funcionário, entrevistas com clientes levaram o

autor a crer que o cliente sente que recebe um tratamento personalizado vindo dos

funcionários do Hortifruti do que de outras redes. Foi apontado que diversos

funcionários da rede são trazidos do ES, local de origem da rede. Na loja de Itaipu,

Niterói, a empresa inclusive possui uma casa, na mesma rua da unidade, onde diversos

desses funcionários habitam.

72

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentadas análises dos resultados das entrevistas

realizadas visando a evidenciar aspectos importantes a serem endereçados na gestão de

funcionários de varejo de alimentos no Brasil orientada para a maior satisfação do

cliente. Tais aspectos incluem: concentração e barreiras à entrada do setor, baixa

qualidade dos serviços de transporte público, sensibilidade a preço, atributos de

qualidade e pontos críticos na gestão de funcionários.

Ficou evidenciado nas entrevistas que a qualidade do atendimento dos

funcionários de supermercados no Brasil em grandes redes como Pão de Açúcar e Zona

Sul está muito ruim.

Assim, as pergunta que podem ser feitas são:

Por que este nível tão baixo da qualificação dos funcionários no varejo no Brasil?

Como podemos melhorar tal situação?

6.1 Barreiras à entrada e concentração do setor

O varejo em geral, e mais especificamente o varejo de alimentos, caracteriza-se

por baixas barreiras de entrada. Com baixos investimentos é possível iniciar uma

operação de varejo, como foi o caso do próprio ZS, que começou com uma venda de

frutas em Ipanema. O Grupo Pão de Açúcar também teve a mesma origem simples em

São Paulo no ano 1948.

Tem-se observado uma crescente concentração no setor. Esta concentração tem

potencial para impactar não só os preços, mas também a qualidade dos serviços,

aparentemente em queda. A qualidade do atendimento dos funcionários, se

generalizadamente ruim, tende a criar nos clientes uma expectativa baixa por qualidade

de serviços, levando os clientes a aceitar tal situação como natural.

As grandes empresas podem defender-se alegando que a falta de qualidade dos

serviços pelos grandes players representaria um potencial para a atuação de empresas

que atuem em nichos que ofereçam uma qualidade de serviço diferenciada, como é o

caso do Hortifruti, e como já foi o Zona Sul no passado.

73

Recomendamos que a seguinte pergunta mereça maior investigação: será que os

órgãos reguladores, quando avaliam os impactos de uma fusão, não estão focando muito

no preço e pouco na qualidade, até porque é muito mais complicado caracterizar a

qualidade?

6.2 Falta de infraestrutura fornecida pelo governo

No Rio de Janeiro, foi observado que a localização da loja é um fator importante

para a clientela da rede de supermercados, enquanto que nos EUA observou-se a

intenção deliberada dos clientes em ir à loja do Wegmans, especificamente. Mas em

ambos os casos, a localização foi muito citada pelos clientes, e isso tem sido observado

em outras pesquisas. No entanto, observa-se que, nos EUA, é comum os clientes

citarem que tomavam transporte público ou realizavam viagens com seus carros e

visitavam outras redes ou outras lojas da mesma rede.

No Brasil, a dificuldade para o cliente locomover-se via transporte público de

qualidade é um fator que reduz a concorrência e estimula a baixa qualidade dos

serviços.

Adicionalmente, o fato de no Brasil o empregado poder levar até duas ou três

horas para chegar ao trabalho foi citado como motivo de insatisfação dos funcionários.

Trata-se de um aspecto que gera dificuldades para a gestão das empresas brasileiras,

pois elas têm de lidar com o desafio de motivar um funcionário cuja qualidade de vida é

precária pela má qualidade dos serviços públicos.

6.3 Qualidade da gestão de pessoas

Observa-se no mundo todo que o funcionário do varejo alimentar possui um

salário baixo comparado a outros ramos. Assim, mais importantes tornam-se os

benefícios nem sempre traduzidos em dinheiro, como um bom ambiente de trabalho,

orgulho em relação à marca etc. O supermercado Zona Sul teve isso no passado, porém

perdeu essa visão ao longo do tempo.

O atual Diretor de RH, no cargo faz dois anos, demonstrou-nos experiência e

competência, e deixou claro que reconhece a importância de se investir em pessoas.

Contudo, relatou que às vezes é difícil convencer os acionistas sobre tais questões.

74

Com relação ao Pão de Açúcar, desde a saída do Sr. Abílio Diniz a empresa tem

passado por muitas mudanças de diretoria que podem estar impactando a gestão da

empresa. Um gestor competente e com visão de longo prazo tende a avaliar melhor o

risco que se corre em manter um nível de serviços baixo num setor onde a barreira de

entrada é baixa.

6.4 Sensibilidade ao preço

Observou-se que, para o Rio de Janeiro, o consumidor está ciente de que deverá

pagar um preço mais alto por estar comprando na Zona Sul da cidade, e aceita isso. O

mesmo foi observado nos EUA, mas com uma diferença: o preço um pouco mais alto

foi atribuído à escolha pela melhor qualidade de produtos e serviços do supermercado

Wegmans.

Tanto nos EUA quanto no Brasil há clientes que utilizam a loja para compras

maiores, e outros para compras menores. Nos EUA, a perda de mercado mais

potencialmente perigosa para o Wegmans seria dos clientes que realizam compras

menores em locais mais próximos de suas residências; no Brasil, a ameaça vem dos

consumidores que realizariam compras maiores em concorrentes mais baratos e mais

afastados.

Por outro lado ainda que os clientes aceitem pagar um pouco mais, eles disseram

não aceitar exageros e em ambos os países estudados, os clientes não demonstraram

fidelidade irrestrita à empresa estudada.

6.5 Competição com outros setores por mão de obra

O Diretor do supermercado ZS entrevistado citou que o alto crescimento do setor

de Construção Civil no Brasil dos últimos 5 anos vinha criando dificuldades para atrair

mão de obra para os supermercados e fez previsões de melhora na medida que o setor de

Construção Civil se desacelera. Nos EUA, a situação foi oposta, o país viveu uma crise

na Construção Civil e vem se recuperando nos últimos dois anos. Difícil quantificar o

impacto deste contexto nas diferenças de qualidade de serviços observadas, mas parece

importante considerar que as condições macroeconômicas do país e suas influências

para setores que competem pelo mesmo perfil de mão de obra devem ser incluídas nos

75

fatores com potenciais para explicar a baixa qualidade de serviços do varejo de

alimentos brasileiro obtida nesta pesquisa.

Sobre a competição entre empresas para atrair a melhor mão de obra, observou-se

que esta competição é fraca no Brasil. Os funcionários não mostram uma preferência

por trabalhar no Zona Sul, no Pão de Açúcar ou mesmo no Extra. A exceção fica com o

Hortifruti, onde se praticam os melhores salários e perspectivas de desenvolvimento.

Na rede americana Wegmans, contudo, a preferência é claramente observada. Ou seja,

ele é, na visão dos empregados, a melhor opção em termos de supermercados para se

trabalhar.

6.6 Atributos de qualidade reconhecidos pelos clientes

Pôde-se perceber, nos discursos do Wegmans, um foco constante na satisfação do

funcionário (sabemos que a empresa, na prática, foca no cliente e oferece altos níveis de

serviço; no entanto, a força de seu discurso parecia no sentido de passar a mensagem

“orgulhosamente, tratamos bem nossos funcionários”). Já no Zona Sul, o discurso é

focado na satisfação do cliente. Isso pôde ser observado nas entrevistas com os gestores,

nas campanhas de marketing, e nos depoimentos dos funcionários. Mas os funcionários

do supermercado e os clientes estão insatisfeitos de uma forma que é incoerente com o

discurso da empresa. No Pão de Açúcar, apesar da insatisfação dos funcionários,

observou-se uma maior satisfação dos clientes, atribuída à qualidade das lojas. Isso

pode ser explicado pela baixa expectativa generalizada do brasileiro com a qualidade do

atendimento, fator que pode estar associado à alta concentração no setor. Como já

mencionado, tal concentração tem prejudicado a competição.

No Wegmans, os clientes afirmaram ser muito bem tratados, e esse foi um fator

de grande diferenciação para a empresa. Já no Zona Sul, o que se observou foi que basta

o cliente não se sentir “maltratado” para que a empresa não sofra.

Ambas as empresas seriam recomendadas pelos consumidores, sendo que o

Wegmans seria principalmente devido à variedade de produtos disponíveis, enquanto

que o Zona Sul seria principalmente pela comodidade de localização.

Em termos de atendimento às expectativas, os resultados foram assaz

surpreendentes: nos EUA, houve mais comentários negativos, enquanto que no Rio de

76

Janeiro parece que os consumidores possuem mais baixas expectativas. Isso reforça o já

mencionado ponto de que, nos EUA, o mercado está mais maduro, e a diferenciação

através da qualidade de serviço é mais comum do que no Brasil. Ademais, parece que o

cliente, no Rio de Janeiro, já se acostumou aos altos preços praticados, apesar do não

acompanhamento da qualidade do serviço em relação ao prêmio cobrado, enquanto que

nos EUA a consciência em relação aos preços é mais presente, mesmo entre os

entusiastas de uma empresa específica.

Por outro lado, é importante ressaltar que os clientes não demonstraram fidelidade

às empresas embora tenham uma inércia a mudanças. Em ambos os países, alguns

clientes disseram que, sem problema, substituiriam a empresa por outra que fosse

melhor, oferecesse melhores preços ou fosse de melhor qualidade. Apesar disso, em

ambos os casos parte dos clientes afirmou que gosta da loja e continuaria comprando na

mesma loja apesar de preços mais altos, baixa qualidade dos funcionários. Foi destacada

a qualidade dos produtos e localização.

Outro ponto de atenção a ambas as empresas é quando da expansão e abertura de

lojas. Os clientes que frequentam mais de uma loja (e esses são comuns) observam as

diferenças de qualidade, espaço, limpeza e conforto entre unidades. Isso pode gerar

certa confusão/preferência por unidade, e deve ser observado pelas empresas caso as

mesmas desejem transmitir uma imagem uniforme a seus clientes.

O ZS somente consegue cobrar os preços que cobra devido à falta de opções no

local. No entanto, segundo o Diretor o supermercado tem sentido perda de clientes para

redes como Mundial e tem feito correções em suas políticas: os preços estariam mais

baixos e tem-se trabalhado na melhora da qualidade física das lojas, e também da

qualidade do funcionário. Já no Wegmans, o consumidor entende que o custo é um

pouco mais alto, porém o aceita por “opção própria”.

Observaram-se distorções no discurso do Diretor do ZS, que afirmou que sua

variedade de produtos é superior ao da concorrência. Isso, porém, não tem sido

observado pelos clientes. O gerente parece descrever um Zona Sul como era no passado,

e não como é hoje. É possível, no entanto, que o Diretor não nos tenha revelado suas

reais preocupações na entrevista para não prejudicar a imagem da empresa, mas o fato é

que a empresa parece estar com problemas operacionais sérios que precisam ser

corrigidos. O mesmo não parece ocorrer no Wegmans.

77

6.6 Pontos críticos na gestão de funcionários de lojas/supermercados

Obviamente que salário é um aspecto crítico na satisfação dos funcionários.

Observaram-se diferenças de salários são grandes: no Brasil, um salário de R$950/mês

equivale a aproximadamente R$5/hora ou US$1.9/hora (se usarmos uma relação de

R$2.7/1US$), valor muito abaixo dos US$10/hora de salário da Wegmans nos EUA. A

relação R$2.7/ US$1 refere-se ao índice de paridade Big Mac, considerando preço do

produto no Brasil de R$12 e nos EUA de US$4,5.

Uma das causas para tal diferença podem ser os altos encargos trabalhistas

brasileiros, muito maiores nos EUA, porém aplicáveis a outras categorias de

profissionais, os quais não possuem diferenças salariais tão altas entre os dois países.

Para exemplificar, podemos comparar o salário inicial de um engenheiro no Brasil, de

aproximadamente R$60.000/ano ou US$22.500/ano (R$5.000/mês) com um salário nos

EUA em torno de US$45.000/ano, o que leva a uma diferença de salário de 2 x e não 5

x, como observada nos funcionários de loja de supermercados.

Os salários em mercados onde o valor de equilíbrio é maior do que o salário

mínimo são regidos pelas forças de oferta e demanda, e o excesso de oferta de mão de

obra de baixa qualificação somada à concentração na ponta demandante explica o

salário baixo para a categoria. Foi observada certa aceitação quanto ao salário baixo por

parte dos funcionários entrevistados do supermercado Zona Sul e mesmo do Pão de

Açúcar. Ainda que os funcionários não se manifestem explicitamente contra os salários,

por perceberem ser uma regra do setor, nossa percepção é que a insatisfação com os

mesmos impacta as outras insatisfações expressas pelos funcionários.

No caso do Wegmans, muitos funcionários estão realmente satisfeitos e não

pensam em abandonar a empresa – seja por falta de vontade ou de possibilidade de

seguir estudos mais avançados. No ZS, ninguém parece estar lá por realmente amar a

empresa. A visão dos funcionários tanto do Wegmans quanto do ZS é a de que a

empresa possui resultados positivos, e em ambos os casos é vista como “de sucesso”.

Sobre a qualidade do ambiente de trabalho, em ambos os locais foi abordado que

existem os “favoritos” da gerência, e que, muitas vezes, promoções ocorrem somente

para esses favoritos. Foi mencionado, em ambos os casos, que os funcionários devem

ser gentis com os gerentes, porque é a partir deles que a promoção vem.

78

Para o ZS, observou-se a leniência dos funcionários com os objetivos da empresa, e

a falta de importância dada a bônus e premiações por metas de eficiência.

No Wegmans, observou-se que o ambiente de trabalho é bastante positivo, e apesar

de funcionários não necessariamente saírem de suas tarefas para ajudar outros, o

ambiente profissional mantém-se saudável. Para o ZS, foi observado que, por vezes, o

ambiente não é dos melhores entre os funcionários, e há uma certa noção de

“abandono”, de “cada um por si”, o que evita maior colaboração quando necessário,

como, por exemplo, quando o supermercado está lotado ou quando há necessidade de

atendimento especial ao cliente para solução de um problema.

Pelo exposto, observa-se que a gestão de funcionários de supermercados não é uma

tarefa fácil. Empresas de nicho e menores podem tirar vantagem disso, na medida que

podem criar um ambiente mais familiar que agrade o funcionário. O Zona Sul fazia isso

no passado, e a rede Hortifruti parece fazê-lo hoje. Deve-se lembrar que o Wegmans,

apesar de grande, é uma empresa de nicho americana, e empresas maiores americanas,

não estudadas neste trabalho, podem estar enfrentando os mesmos problemas

observados no Zona Sul e Pão de Açúcar.

Apesar das dificuldades para lidar com o problema, pareceu-nos que os acionistas

estão negligenciando o problema no ZS. Um exemplo disto é o fato de ter-se observado

no ZS que os salários dos funcionários do caixa quase não se difere dos outros

funcionários. Estes funcionários são críticos para a empresa, devido ao maior contato

com os clientes. Portanto, ao menos a eles poderiam ser oferecidas melhores condições

de trabalho e treinamento. Uma funcionária de caixa do Zona Sul com 10 anos de casa

disse ter recebido treinamento somente quando contratada e que, após este treinamento

inicial, somente seria submetida a uma palestra anualmente.

Para o ZS, percebeu-se ainda que poderia haver mais clareza na comunicação

gerência-funcionários, além de um treinamento mais efetivo nos gerentes imediatos,

pois, segundo os colaboradores, muitos de tais gerentes ignoram demandas, que só são

atendidas após recurso ao gerente geral do estabelecimento. Gestores precisam estar

mais atentos ao bom atendimento ao cliente e ao cuidado com os funcionários.

Devem-se buscar ações mais concretas que valorizem o funcionário. Ademais,

observou-se que a idade dos funcionários parece ter impacto na sua satisfação.

79

Funcionários com mais idade (a partir de 40 anos) tendem a ser mais satisfeitos,

provavelmente pela percepção de uma menor empregabilidade, ficando, portanto,

satisfeitos no ZS. O Diretor de RH da empresa disse que tem aumentado as contratações

de pessoas com mais idade, mas lembrou que para a função de caixa tais pessoas não

possuem a agilidade necessária.

Segundo o Diretor do ZS entrevistado, outras possibilidades começam a ser

avaliadas pelos supermercados no mundo para buscar menos dependência deste

funcionário, seja pela automação de certas atividades, seja pelo incentivo ao consumidor

empacotar suas próprias compras, como layout de sacolas que permita empacotamento

mais rápido. Cabe avaliar o quanto destas ações cairá no gosto do brasileiro, muito

acostumado ao atendimento por funcionários. De qualquer forma, a automação bem

sucedida dos bancos e a baixa qualidade dos funcionários podem representar um

estímulo para os clientes brasileiros de supermercados lidarem com situações

historicamente cuidadas por funcionários. Se esta possibilidade tornar-se realidade, ela

pode representar um problema para os governantes e para a economia do país, na

medida que o governo precisará investir na maior qualificação das pessoas.

80

7 CONCLUSÕES

Nessa etapa final do trabalho, cabe ao autor reiterar as limitações que permearam a

elaboração desse trabalho, em especial que o mesmo foi desenvolvido no escopo de um

projeto de graduação e o tempo limitou o número de funcionários e clientes abordados

nas duas redes de supermercado entrevistadas. No entanto, na visão do autor isso não

prejudicou as conclusões obtidas sobre a relação entre satisfação de funcionário e

clientes para o setor supermercadista em geral e especialmente o setor supermercadista

brasileiro.

Foi utilizada a metodologia do estudo de caso construído a partir de entrevistas

qualitativas, as quais nos permitiram explorar um tema que, como descrito por

diferentes autores visitados na revisão bibliográfica, é complexo devido ao

envolvimento de múltiplas variáveis muitas vezes difíceis de serem isoladas.

O trabalho realizado permitiu compreender alguns aspectos relevantes para a gestão

de funcionários de supermercados, visando à maior satisfação dos clientes, bem como

para explicar diferenças de qualidade de serviço entre uma rede de supermercados

brasileira e uma americana, ambas focadas em público de maior renda. As principias

conclusões obtidas são resumidas na Tabela 5 abaixo.

81

Tabela 5 - Q uadro de análise dos aspectos observados no estudo

Aspecto analisado Conclusão

Estrutura da indústria e fatores

macroeconômicos afetam

pressupostos financeiros e

operacionais das empresas.

Observou-se que a concentração da indústria de

supermercados pode estar reduzindo a competição

e prejudicando a qualidade dos serviços prestados

aos clientes de forma generalizada.

Satisfação do consumidor

influencia resultados financeiros

da empresa.

Não se puderam acessar os resultados financeiros

das duas empresas estudadas por serem tais

empresas de capital fechado. Contudo, o número

de abertura de novas lojas pode ser um indicativo

de melhor performance financeira do Wegmans em

comparação ao Zona Sul.

Satisfação do funcionário

influencia satisfação do cliente.

Essa relação ficou evidenciada nos dois casos

estudados.

Satisfação do funcionário afeta o

nível de serviço oferecido.

Essa relação ficou evidenciada nos dois casos

estudados.

O nível de serviço oferecido é

percebido como muito importante

pelo cliente.

Essa relação não ficou evidenciada no caso

brasileiro. Clientes mostraram-se mais

preocupados com qualidade de produtos e

ambientação das lojas. Percebeu-se certa

resignação do cliente brasileiro com a baixa

qualidade dos funcionários.

O trabalho no setor de

supermercados é visto com pouco

orgulho pelo funcionário de loja,

o que representa um desafio para

o gestor.

Esse aspecto ficou evidenciado no caso do Zona

Sul e mesmo do grupo Pão de Açúcar.

Empresas varejistas que têm

como foco diferenciação possuem

forte preocupação com a

satisfação dos funcionários.

No caso Wegmans percebeu-se sintonia entre o

discurso da empresa e a prática. O mesmo não foi

observado no Zona Sul. Apesar de o executivo

entrevistado mostrar-se sensível ao tema, pareceu-

nos que sua visão não é compartilhada pelos

controladores, como se esperaria ser.

Fonte: Elaboração própria

82

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86

ANEXO I – QUESTIONÁRIOS EM INGLÊS

1 Age 0-20 20-30 30-40 40-60 >60

2 For how long have you been a customer of this company?

3 How often do you shop at this company?

4 Which other supermarkets do you shop at? Tops, Aldi, Wal-mart, Green street market, Wegmans.

Choose the option that best represents your opinion about the sentences below:

strongly disagree

partially disagree

neutral partially agree

strongly agree

5 This company offers excellent customer service.

6 I would recommend this company as a place to shop.

7 Employees at this company are competent and

helpful.

8 The main reason why I shop here is because of location.

9 In general, this company fulfils my expectations.

10 If I could choose, I would not shop again at this company.

11 The quality of the services here is higher than that of the competitors.

12 This company is reliable.

13 This company offers a good value for my money.

14 The quality and variety of products in this company is superior to that of the competition.

15 Overall, I am satisfied with this company.

Is there any specific event you can think of that would exemplify your answers?

Figura 8 - Q uestionário para clientes em inglês

Fonte: Elaboração própria

87

1 What is your current position in this company?

2 For how long have you been working in this company?

3 For how long have you been working in supermarkets?

4 For how long have you held a similar position to your current one?

5 How long does it take you to get to work?

6 In what other supermarkets have you worked before?

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strongly disagree

partially disagree

neutral partially agree

strongly agree

7 Employees in this company would be happy to spend the rest of their careers here.

8 People in this company are highly focused on achieving organizational goals.

9 This company means a lot to its employees.

10 The employees in this company help each other,

socialize and form a cohesive group.

11 This company performs better than its main competitors.

12 The wages and benefits offered by this company are satisfactory.

13 There are enough staff to keep up with the demand.

14 This company has all the required characteristics for

success.

15 Do you feel comfortable communicating with management?

16 This company treats its employees fairly.

17 The customers are the main priority of this company.

18 The employees of this company are known for offering a superior service to the customers.

19 I believe that my job can affect the customer experience and the performance of the company.

20 Overall, the employees of this company are very satisfied with their jobs.

Figura 9 - Q uestionário para funcionários em inglês

Fonte: Elaboração própria