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UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE
DISTRIBUIÇÃO NA CADEIA DE
SUPRIMENTOS EM OPERAÇÕES
HUMANITÁRIAS
Sergio Ricardo Argollo da Costa (UNIGRANRIO)
Renata Albergaria de Mello Bandeira (IME)
Vania Barcellos Gouvea Campos (IME)
Eventos da natureza caracterizam-se como desastres quando
ocorrem em regiões povoadas, provocando a destruição da
infra-estrutura local e levando pessoas ao estado de
privação e sofrimento. Nas últimas três décadas, as
ocorrências de desasttres naturais têm aumentado
significativamente. Imediatamente após a ocorrência destas
catástrofes, iniciam-se operações humanitárias com intuito
de prestar rápido socorro às vítimas, direcionadas a
diferentes aspectos, como remoção ou resgate de mortos e
feridos, distribuição dos recursos disponíveis, dificuldade de
acesso aos locais mais remotos e o suprimento imediato de
abrigo, alimentos e ajuda médica. Em operações
humanitárias, o atraso no envio da ajuda pode custar vidas.
Portanto, uma logística eficiente é um fator-chave de
sucesso, pois garante o fluxo adequado de bens e serviços
em uma cadeia de suprimentos complexa. Apesar das
similaridades existentes entre as logísticas humanitária,
comercial e militar; no contexto humanitário o ambiente que
se instala é considerado “wicked”, em constante mutação,
com escassez e até mesmo falta de recursos adequados
(materiais, humanos e financeiros), privado da infra-
estrutura necessária para as operações de movimentação,
armazenagem e distribuição; e guiado por uma demanda
incerta. Diante da necessidade de preparação destas
operações em resposta rápida a um desastre, desenvolveu-se
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um estudo sobre o processo de logística de distribuição de
doações e itens de ajuda humanitária adotado em três
grandes catástrofes ocorridas no Paquistão (2005), Oceano
Índico (2004) e Japão (2011); e a maior ocorrida no Brasil
(2010). Da análise dos procedimentos foram identificadas
algumas linhas básicas de atuação que podem subsidiar o
desenvolvimento de modelos de resposta rápida em diversos
outros eventos desta natureza.
Palavras-chaves: Logística Humanitária, emergência,
desastres naturais, distribuição, vítimas
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1. Introdução
Os eventos naturais podem ser caracterizados como desastres quando ocorrem
em áreas povoadas, causando a destruição de infraestrutura local e levando à
população a um estado de privação e sofrimento. Nas últimas três décadas, a
ocorrência de desastres naturais tem aumentado significativamente.
Imediatamente após a ocorrência desses desastres, operações humanitárias são
iniciadas com a intenção de prestar uma assistência rápida às vítimas em diferentes
aspectos, tais como remoção ou resgate de mortos e feridos, distribuição de
recursos, fornecimento de ajuda alimentar, abrigo e assistência médica, bem como
restaurar o acesso a locais remotos. Nas ações humanitárias, os atrasos na entrega
ou alívio podem custar vidas. Portanto, a eficiência em logística é um fator chave
de sucesso, porque ela garante o bom fluxo de bens e serviços em uma cadeia de
suprimentos complexa.
A logística ocupa um papel fundamental em operações de resposta a desastres,
pois serve como uma ponte entre a preparação e resposta a desastres, entre
aquisição e distribuição, e entre a sede e o campo, além de ser crucial para a
eficácia e rapidez de resposta para os grandes programas humanitários, tais como
saúde, alimentação, abrigo, água e saneamento (Thomas, 2003).
Considerando a importância da logística para o sucesso de operações de resposta
a desastres, este trabalho apresenta uma análise dos principais processos logísticos
que foram adotados na distribuição de suprimentos de emergência em três dos
maiores desastres internacionais ocorridos na última década: o tsunami no Oceano
Índico em 2004, o terremoto no Pasquistão em 2005 e o tsunami e terremoto no
Japão em 2011. Também é realizada a análise comparativa com a operação de
resposta ao pior desastre natural ocorrido no Brasil, a enchente na região serrana
fluminense em 2011. Baseado na análise destes processos, foram identificados
procedimentos básicos que devem ser seguidos no processo de distribuição na
cadeia de suprimento em operações humanitárias. Tais procedimentos podem servir
como base para o desenvolvimento de modelos para a rápida resposta em eventos
similares, afinal o estudo da logística nas respostas a desastres naturais é crítica
para o desempenho de operações e programas atuais e futuros.
Este artigo segue a seguinte estrutura. A seção 2 apresenta uma visão geral de
operações humanitárias em respostas a catástrofes, enquanto a seção 3 aborda a
estrutura e o funcionamento da cadeia de suprimentos neste tipo de operação. A
seção 4 discute o processo de tomada de decisão na Logística Humanitária. Através
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da análise de dados secundários, é realizada a avaliação dos quatros desastres sob a
ótica da distribuição de suprimentos, sendo apresentadas sugestões para aumentar a
eficácia do processo quando aplicado a outras operações humanitárias (seção 5).
Enfim, a seção 5 apresenta as conclusões finais da pesquisa.
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2. A Resposta Humanitária às Catástrofes
As operações humanitárias, em casos de catástrofes, devem ser planejadas de
forma a permitir uma resposta rápida e apropriada, minimizando os impactos do
desastre. No entanto, segundo Tatham e Houghton (2011) a multiplicidade de
objetivos das organizações humanitárias internacionais, associada ao aumento do
número de stakeholders envolvidos, aumenta consideravelmente a complexidade de
implantação e coordenação destas operações.
Respostas a desastres são geralmente multi-facetados e envolvem governos,
organizações não governamentais (ONG), agências das Nações Unidas, militares e
organizações do setor privado. Segundo Moore and Antill, (2000), as ações
humanitárias devem ser comandadas por um dos atores no cenário, conhecedor das
práticas comerciais e da teoria acadêmica em gerenciamento da cadeia de
suprimentos. Contudo, nem sempre os objetivos individuais dos diversos atores
envolvidos na operação humanitária conduzem a esforços integrados e
coordenados. Ainda, os diferentes estilos de gestão e de estruturas administrativas,
juntamente com as complexidades nos relacionamentos, prejudicam a implantação
de estratégias efetivas para a cadeia de suprimentos.
Organizações humanitárias internacionais têm, basicamente, responsabilidade
junto a três grupos de “stakeholders”: (i) doadores, que provêem fundos para os
programas de ajuda e desenvolvimento (Oloruntoba and Gray, 2006); (ii)
beneficiários do programa; e (iii) a comunidade internacional, que recebe a maioria
das informações sobre as operações através da mídia. Barton (2000) destaca uma
preocupação geral das organizações humanitárias com relação à forma como os
doadores distribuem às ajudas, a natureza reativa dos financiamentos, a falta de
vontade para o financiamento de despesas voltadas à gestão, a ameaça a liberdade
de ação das organizações e a crescente pressão por responsabilidade. Porém, pouca
importância é dada para serviços cruciais indiretos, como: sistemas de informações,
gerenciamento da cadeia de suprimentos, treinamento de pessoal e preparação para
desastres (Kovács and Spens, 2007; Oloruntoba and Gray, 2006; Van Wassenhove,
2006).
3. Estrutura e Funcionamento da Cadeia de Suprimentos no Contexto Humanitária
A Cadeia de Suprimentos Humanitária, tal qual a logística de negócios, abrange
as seguintes atividades: preparação, planejamento, obtenção, transporte,
armazenagem, rastreamento e liberação alfandegária (Thomas e Kopczak, 2005).
Uma das diferenças entre as cadeias de suprimentos voltadas para negócios e para
ações humanitárias está no foco principal. Para a primeira, o foco é o consumidor
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final, como fonte de entrada de recursos para toda a cadeia. No caso da segunda, o
usuário final raramente participa de uma transação comercial, tendo pequeno
controle sobre os suprimentos. De acordo com Heasip et. al (2010), quando
aplicada às ações humanitárias, a cadeia de suprimentos precisa ser flexível e capaz
de responder rapidamente a eventos imprevisíveis, de forma efetiva (que pode ser a
diferença entre vida e morte) e eficiente (atender a um maior número de
necessitados) sob fortes restrições orçamentárias.
O principal desafio da gestão da cadeia de suprimentos humanitária consiste em
estabelecer um fluxo de materiais doados de fontes diferentes (nacionais e
internacionais), nem sempre úteis ou apropriados para o momento e situação, com
o mínimo desperdício de recursos e precária qualidade e quantidade de
informações, extremamente necessárias para as freqüentes tomadas de decisões
(Smilowitz e Dolinskaya, 2010). A gestão da cadeia de suprimentos humanitária
envolve a integração e coordenação de um largo grupo de especialistas disperso
com intuito de garantir a missão básica da ajuda humanitária: “a entrega de
produtos e/ou serviços ao usuário, cuja sobrevivência imediata ou de longo prazo
pode depender da execução eficiente da atividade operacional da logística e da
cadeia de suprimentos incluindo os cruciais ‘últimos cinqüenta metros’” (Heaslip,
2010).
Um modelo genérico de cadeia de suprimentos aplicável em muitos cenários de
ajuda humanitária permite um fluxo unidirecional de bens e equipamentos para as
áreas afetadas, especialmente, aos locais onde há maior necessidade de recursos
(Hoff, 1999). Um modelo simples de cadeia de suprimentos humanitária,
desenvolvido por Oloruntoba e Gray (2006) é apresentado na Fig. 1.
Fig. 1 - Modelo de uma Cadeia de Suprimentos Humanitária. Fonte: Oloruntoba e Gray (2006).
Dentre as dificuldades encontradas para a melhor operacionalização da cadeia de
suprimentos para ajuda humanitária, destacam-se os gargalos administrativos e
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logísticos devido a pobre infraestrutura de recebimento de ajudas e a multiplicidade
de agências e governos (Van Wassenhove, 2006).De acordo com Oloruntoba e
Gray (2006), um dos fatores de dificuldade na coordenação da cadeia de
suprimentos humanitária tem forte vinculação às conveniências políticas e militares
dos países doadores e recebedores, e a exigências da “indústria dos doadores”, além
da carência de planos coordenados. Ainda, Mileti (1999) considera a dispersão
geográfica e a comunicação insuficiente ou imprecisa entre o campo e as bases das
organizações humanitárias, ou entre as diferentes organizações, como fatores que
trazem prejuízos a coordenação nas operações de ajuda.
4. Tomada de Decisão na Logística Humanitária
De acordo com Benini et al (2006), há informações importantes a serem
conhecidas para a condução da operação logística no contexto humanitário: (i)
informações sobre as necessidades (avaliação das necessidades, tamanho da
população afetada e vulnerabilidade às adversidades adicionais, população: as
estimativas das populações afetadas, os níveis de danos, nível de pobreza pré-
existente); e (ii) informações Logísticas (distância do centro operacional,
capacidade de transporte em um determinado dia, acesso à estradas abertas em um
determinado dia, pedidos de movimentação de cargas existentes).
Tomadores de decisão no contexto humanitário (diretores de programas
humanitários e de logística) necessitam de uma visão geral mais precisa da
interligação dos sistemas que os permita compreender e prever o efeito de
mudanças no sistema ao longo do tempo (Wielgosz, 2006). Além disto, o atraso na
tomada de decisão tende a afetar, entre outras coisas, a eficiência das equipes de
socorro em atender as necessidades dos vitimados no prazo necessário.
Segundo Benini et al. (2006), a identificação das necessidades têm uma
importância significativa sobre o desempenho das decisões logísticas sendo que, no
contexto de ações humanitárias, estas decisões variam de acordo com os tipos de
commodities (alimentos, vestuário, abrigo contra materiais de reconstrução) e com
as diferentes fases de resposta da ação. Benini et al. (2006) reporta que, após o
terremoto no Paquistão em 2005, as remessas de auxílios eram o resultado
freqüente de incontáveis decisões, muitas delas tomadas diante de difíceis “trade-
offs” para a alocação de bens e recursos logísticos escassos. Estas decisões
utilizaram modelos cognitivos sobre a tarefa a ser executada, que consideraram
variáveis como: as necessidades específicas dos sobreviventes, os estoques,
capacidade de transporte, condições de segurança na região e as condições
climáticas.
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Smilowitz e Dolinskaya (2011), com base em experiências e entrevistas
realizadas por ocasião do terremoto no Haiti em 2010, apresentam os seguints
componentes do processo decisório da Logística Humanitária: política de alocação
de recursos, levantamento de necessidades, incerteza da demanda e do suprimento,
localização para armazenagem e expedição de bens, tipo de frota de veículos e
tecnologia, e incerteza sobre rotas e veículos. Segundo Long e Wood (1995) e
Kovács e Spens (2007), as áreas sobre as quais recaem os maiores problemas na
fase de resposta imediata são: a coordenação do recebimento, a imprevisibilidade
da demanda e a “última milha” para transporte do auxílio às vítimas.
5. Avaliação de desastres sob a ótica da distribuição de suprimentos
Uma análise de grandes desastres naturais foi realizada com objetivo de
identificar os principais processos e/ou ações desenvolvidas no contexto da
distribuição de suprimentos para fins secundários. A Tabela1 apresenta as
principais características dos desastres naturais estudados, enquanto a Figura 2
indica o foco do estudo.
Figura 2. Escopo do estudo na cadeia de suprimentos humanitária. Fonte: Adaptado de Thomas
(2003).
Tabela 1 – Características dos desastres naturais estudados.
O estudo identifica o perfil das operações, seus pontos de sucesso e de
dificuldade; na busca dos pontos semelhantes e complementares entre necessidades
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e ações adotadas. O resultado indica os pontos críticos do processo decisório com
as lições aprendidas, e propõe um conjunto de melhores práticas que podem ser
adotadas pelos gestores das operações de ajuda humanitária.
5.1 Oceano Índico 2004(Fontes: Telford,and Cosgrave – 2006; TEC Needs Assessment Report – 2006; Christoplos – 2006)
Este desastre, resultado de um terremoto seguido de tsunami, causou extensa
devastação a 14 pasíses no Oceano Índico, e teve como principal característica o
excesso de ONGs envolvidas e de donativos disponibilizados. A baixa qualidade
das operações e o excesso de bens supérfluos doados causaram sobrecarga da
cadeia de suprimentos que sofreu com problemas operacionais inerentes a
quantidade e a qualidade do pessoal local e internacional; métodos, programas e
ferramentas inadequados; e pouco engajamento na gestão ou na coordenação do
processo. Nestas condições, as conseqüências foram: aeroportos obstruídos;
excesso de containeres bloqueando portos e áreas de alfândega; armazéns
saturados; materiais e equipamentos caros deteriorando ao sol e chuva; suprimentos
inadequados e poucos funcionários para registro de materiais; relatórios logísticos
pobres; além de perdas, roubo ou comercialização de doações.
Em termos de planejamento, avaliações mal partilhadas, associadas à capacidade
limitada para fornecê-las de forma rápida e profissional, levaram a ausência de
listas completas, tanto de bens como de pessoas afetadas, fazendo com que a
distribuição de donativos fosse realizada, muitas das vezes de forma aleatória.
Entretanto, como ponto positivo, constatou-se que a relevante participação dos
militares foi chave para a operação, suprindo as deficiências das instituições
internacionais, principalmente no que diz respeito à capacidade de carga aérea.
Porém, uma coordenação conjunta, planejamento e treinamento com o pessoal da
ajuda humanitária mostraram-se temas a serem desenvolvidos.
5.2 Paquistão 2005 (Fontes: Khan - 2006; Aldo Benini et al. – 2008; ActionAid International – 2006; Tulloch – 2006)
Abalada por um terremoto de 7,6 na escala Richter, a região ao norte do
Paquistão e a Caxemira Indiana foi palco em 2005 de uma dos grandes desastres
naturais ocorridos no mundo, atingindo aproximadamente 3,5 milhões de pessoas.
A situação tornou-se mais grave devido a quatro fatores: a topografia
extremamente acidentada com áreas afetadas em grandes altitudes; o nível de
pobreza característico da população atingida; a proximidade do inverno colocando
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em risco os desabrigados e a o permanente estado de conflito armado na região,
estabelecendo um estado de insegurança.
O grande desafio da ação humanitária em resposta ao desastre a necessidade
imediata e simultânea um número de atividades de ajuda, como: evacuação de
feridos, controle de danos, ajuda médica e abastecimento de produtos de primeira
necessidade. A capacidade de transportes impediu que a expedição de bens de
ajuda humanitária ocorresse de forma rápida e eficiente junto às áreas mais
necessitadas; aliando-se a captação de fundos, avaliação de necessidades,
aquisições dos bens necessários e a dificuldade de alcançar locais remotos como os
demais fatores restritivos à operação humanitária.
O resgate e remoção de mortos e feridos, rápida distribuição das forças e a
provisão imediata de abrigo, comida e medicamentos foram as prioridades
adotadas. Para enfrentar a geografia acidentada da região atingida, utilizou-se tanto
o transporte rodoviário quanto o aéreo (sendo utilizada uma grande frota de
helicópteros, que fez entregas em mais de duzentos pontos) para a distribuição de
produtos. Apesar do sucesso da operação em relação à chegada do inverno,
algumas regiões não receberam três dos principais grupos de suprimentos
(alimentos, suprimentos de cozinha e água; abrigo e roupa; materiais e ferramentas
de construção) devido a deficiências na aplicação dos modelos de distribuição;
evidenciando a carência de mecanismos apropriados de rastreamento e controle dos
fluxos de ajuda da fonte ao usuário final.
5.3 Japão 2011 (Fontes: World Health Organization – 2011; Holguín-Veras, J.
- 2011)
Em uma das mais recentes catástrofes naturais, após um terremoto seguido de
mais 50 tremores secundários, dos quais sete medidos pelo menos 6,3 graus na
escala Richter; um tsumani atingiu as zonas costeiras de Tohoku e sul de Hokkaido,
em um trecho contínuo de mais de 500 km de comprimento nas zonas costeiras da
ilha de Honshu. As sucessões destes eventos obrigaram a evacuação de 402.069
pessoas, e levaram à morte outras 15.848 vítimas. Na usina nuclear de Fukushima,
foi relatada emergência de saúde pública potencial, motivo de preocupação
internacional, atingindo o nível 7 na Escala Internacional de Ocorrências Nucleares
(o mais alto).
A falta de eletricidade e de água paralisou hospitais localizados mais no interior.
Além disso, os trabalhadores da saúde pública também foram afetados pelo tsunami
(com muitos perdendo suas vidas), levando a falta de recursos humanos para o
atendimento médico às vítimas. O desastre afetou a infra-estrutura de transportes,
comunicações e apoio logístico, além de causar a interrupção do fornecimento de
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combustível, fator crucial para limitar todas as atividades de resposta. Deste modo,
os governos locais foram paralisados ou severamente limitados na sua capacidade
de realizar avaliações iniciais e informar sobre a extensão do desastre.
Foram estabelecidas as seguintes diretrizes: disponibilização de recursos
médicos (tornar hospitais operacionais, remédios e profissionais), liberação de
estradas, restabelecimento da comunicação e restauração do sistema de informação,
melhor utilização dos recursos limitados, redução das barreiras administrativas,
coordenação da logística de suprimentos e equipamentos médicos, manter governos
e parceiros informados através de Relatórios de Situação, e disponibilizar abrigos
para as vítimas. Com importante apoio da OMS- Organização Mundial da Saúde,
de Forças Militares e de grandes empresas de Logística (UPS, DHL e Fedex), e
com base em sistemas de informações e de comunicação, suportados por
levantamentos de campo, algumas importantes ações foram adotadas:
- Apoio para o governo local para o resgate de mortos, incluindo para os
serviços funerários;
- Orientação aos governos locais acerca de cuidados médicos e alimentares;
- Treinamento de equipe de profissionais de saúde;
- Estabelecimento de unidades habitacionais temporárias (projetadas para
abrigar pessoas deslocadas por dois ou mais anos) em Miyagi e Iwate para
reduzir o número de pessoas em centros de evacuação;
- Envio de gestores para conduzir avaliações de necessidades diretamente nas
áreas afetadas;
- Implantação de sistema de triagem para serviços médicos;
- Disponibilização de leitos específicos e de pessoas para cuidarem de idosos,
crianças e pessoas com necessidades especiais.
5.4 Brasil 2011(Fontes: Entrevistas à órgãos da Defesa Civil - 2012;
SEDEC/MI - 2011; Ministério da Saúde – 2011; EM-DAT - Banco de
dados mantido pela OMS e o Governo da Bélgica. ,2011)
Em janeiro de 2011, a Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro foi atingida
por uma enchente seguida por deslizamento de terra que, apesar da emissão de
aviso de risco meteorológico através do Instituto Nacional de Meteorologia. Esta
catástrofe foi considerada pela ONU como o 8º maior deslizamento da história
mundial (EM-DAT, 2011).
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As ações iniciais encontraram sérias restrições, tais como: falta de informação
sobre as reais dimensões da catástrofe, saques e insegurança em algumas
localidades atingidas, falta de transporte adequado para a operação, dificuldades no
uso de sistema de comunicação disponível devido à topografia do terreno, má
qualidade mapas disponíveis da região, falta de equipamentos flutuantes
adequados, reduzida quantidade de equipamentos para o restabelecimento do
tráfego, e a grande destruição dos acessos às áreas afetadas. Sob estas condições,
foram estabelecidas como diretrizes: o estabelecimento de comunicação com as
áreas afetadas; o reconhecimento aéreo e terrestre; o resgate de sobreviventes; e a
limpeza e recomposição das vias de acesso.
Apesar da dedicação e superação das equipes de campo, questões de
planejamento e logísticas observadas merecem maior atenção:
- Falta de orientação e equipamento às equipes que chegavam às localidades
atingidas;
- Dificuldade e inexperiência na administração de acampamentos para
desabrigados (70 no total);
- Distribuição de donativos realizada de maneira aleatória, em função da falta de
informações;
- Problemas no apoio logístico as atividades operacionais (alimentação e
combustível entre outros);
- Necessidade de melhoria na utilização de helicópteros (que desempenharam
um importante papel);
- Pouca ou nenhuma qualificação do pessoal de campo.
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De forma geral, vários problemas associados à coordenação, planejamento,
treinamento, transportes, armazenagem e distribuição ficaram evidentes; em
contraposição à disposição e capacidade de mobilização mostrada pela população,
a motivação das Forças Armadas e o uso intensivo das redes sociais que permitiram
importantes resultados nas operações. A Tabela 3 sintetiza os pontos observados
nos desastres estudados, que poderão guiar futuros trabalhos
Tabela 3 – Pontos para a observação do estudo das catástrofes realizado.
6. Proposições de melhores práticas
A partir da análise realizada sobre os quatro desastres apresentada na seção 5,
foram identificados alguns pontos de aprofundamento, visando uma melhor atuação
no processo de distribuição de suprimentos em ações humanitárias para desastres
naturais. Estas ações podem ser classificadas com base na Figura 2.
- Transportes: mapear as regiões de risco, e identificar a disponibilidade de
recursos de transportes por tipologia (rodoviário, aquaviário,aéreo) capazes de
serem mobilizados no menor tempo em caso de ocorrência de desastres naturais.
Desta forma, é preciso realizar um levantamento dos prestadores de serviço de
transportes, bem como entidades do governo ou organizações privadas com frotas
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disponíveis, que possam auxiliar em caso de operações humanitárias,
identificando dos tipos de veículos e suas capacidades. Em geral, as operações
humanitárias utilizam em grande parte o transporte rodoviário e aéreo. Porém, é
preciso avaliar a melhor forma de utilização de outros modais (aquaviário e aéreo
– helicópteros), visando mais eficiente no apoio às atividades de distribuição,
tanto na estratégia de carregamento, quanto no apoio logístico à operação;
- Armazenagem e Movimentação: Definição de pontos de recebimento dos
produtos (doações nacionais e internacionais) com o objetivo de definir de
forma objetiva a distribuição por depósitos e armazenamento por classes ou por
“kits de suprimentos” para facilitar a distribuição. Nestes pontos, é realizado o
manuseio, triagem (para identificar material indesejado/rejeitado), carga,
emissão e descarga de material rejeitado . Em pontos com recebimento de
doações internacionais, ainda é preciso ter pessoal com conhecimento aduaneiro,
de modo a evitar congestionamento no ponto de entrada. Enfim, deve-se
qualificar pessoal para trabalhar na área, de forma a reduzir erros e evitar o
congestionamento de aeroportos e o saturamento de armazéns. Também deve ser
realizado um levantamento de potenciais pontos de armazenamento,
pertencentes a entidades do governo ou a organizações privadas, bem como
identificar a disponibilidade de equipamentos (empilhadeiras, transportadores de
paletes etc) capazes de serem mobilizados no menor tempo possível;
- Distribuição: a definição da quantidade de pontos de distribuição deve ser
realizada de forma a minimizar as distâncias de deslocamento dos beneficiários,
porém os pontos de distribuição devem ser alocados em centros comunitários já
estabelecidos (pontos de encontro – clubes, igrejas etc). A programação
eficiente da distribuição requer dados atualizados sobre os bens disponíveis e
pessoas afetadas. A utilização de forças militares nas atividades de
movimentação de carga e na desobstrução de vias de acesso;
- Avaliação de desempenho: definição de indicadores e metas para avaliação
periódica, utilizando dados obtidos junto ao pessoal de campo, permitindo
verificar a eficácia das ações e a eficiência no uso dos recursos disponíveis.
Desenvolvimento de procedimentos padrão e especificações técnicas de
suprimentos.
7. Conclusões e recomendações para trabalhos futuros
Foi possível observar a ocorrência de problemas logísticos comuns nas
atividades estudadas da cadeia de suprimentos para fins humanitários,
independentemente do tipo de desastre ocorrido. Também foi verificado que ações
bem sucedidas em determinados desastres não costumam ser replicadas em outras
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operações humanitárias de resposta a novos desastres. Tampouco são adotados
modelos para otimização das operações de distribuição neste tipo de operação, que
é dificultada pela falta de informações, recursos e pessoal adequado. Como
conseqüências, sucedem-se desperdícios e perdas de recursos escassos ou não, mas
que acabam por não atender a expectativa principal de muitas vítimas. Entende-se
que uma avaliação semelhante a feita neste trabalho, porém envolvendo um maior
número de desastres naturais, permitirá uma visão mais precisa sobre estas
oportunidades e a possibilidade de soluções com maior alcance entre desastres de
mesma origem e/ou de origens diferentes. O cruzamento de experiências e
melhores práticas permitirá a identificação de importantes pontos para o
intercâmbios e desenvolvimento de soluções comuns.
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