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v.13, Jan. – Jul. 2016 ISSN 1982 – 2065 Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.13, Jan. - Jul. 2016 UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS GRANDES CIDADES: O CASO DA CIDADE DE RECIFE, PERNAMBUCO-BRASIL Andrea Karla Pereira da SILVA 1 Múcio Luiz banja FERNANDES. 2 Midiã da Silva RODRIGUES 3 Renata Laranjeiras GOUVEIA 3 RESUMO A busca pelo desenvolvimento sustentável, considerando as dimensões social, política, cultural, econômica e ambiental é hoje o grande desafio das grandes cidades, exigindo mudanças profundas de percepção, de perspectivas, de ações e de valores, acerca do significado e da sinergias das vertentes que permeiam a sustentabilidade. Nenhum esforço político terá sucesso sem a receptividade às mudanças por parte da população, assim como nenhum projeto se consolida, sem adesão e a mobilização da sociedade e do Estado. Conhecer e compreender os processos e interações ecológicas no ambiente urbano é fator preponderante para dinamizar e possibilitar o desenvolvimento sustentável nas grandes cidades brasileiras. Assim, a educação ambiental para o desenvolvimento sustentável é fundamental para todos aqueles que, de forma individual ou coletiva, esperam viver numa cidade socialmente equitativa, com identidade cultural preservada aliada a uma economia dinâmica e um ambiente saudável. Neste artigo são levantadas as características de grandes cidades, com elevada densidade populacional, à exemplo do Recife, capital de Pernambuco, no Nordeste do Brasil, e os problemas inerentes à esses territórios, buscando, a partir da compreensão das origens dos problemas, discutir as possibilidades de promoção do desenvolvimento sustentável, valorizando os aspectos da ecologia latentes no ambiente antrópico e mais evidentes em sistemas naturais, aproximando-os da percepção destes como ecossistemas. Palavras-chave: ambiente urbano, educação para a sustentabilidade, ecodesenvolvimento 1 Prefeitura da Cidade do Recife & Profº Drª. Adjunta da Universidade de Pernambuco, docente do Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS). Email:[email protected] 2 Profº Drº. Associado da Universidade de Pernambuco, Coordenador do Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS). Email: [email protected] 3 Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS) pela Universidade de Pernambuco. Email: [email protected] ; [email protected]

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v.13, Jan. – Jul. 2016 ISSN 1982 – 2065

Revista da Ciência da Administração versão eletrônica v.13, Jan. - Jul. 2016

UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS GRANDES CIDADES: O CASO DA

CIDADE DE RECIFE, PERNAMBUCO-BRASIL

Andrea Karla Pereira da SILVA 1 Múcio Luiz banja FERNANDES. 2

Midiã da Silva RODRIGUES 3 Renata Laranjeiras GOUVEIA3

RESUMO A busca pelo desenvolvimento sustentável, considerando as dimensões social, política, cultural, econômica e ambiental é hoje o grande desafio das grandes cidades, exigindo mudanças profundas de percepção, de perspectivas, de ações e de valores, acerca do significado e da sinergias das vertentes que permeiam a sustentabilidade. Nenhum esforço político terá sucesso sem a receptividade às mudanças por parte da população, assim como nenhum projeto se consolida, sem adesão e a mobilização da sociedade e do Estado. Conhecer e compreender os processos e interações ecológicas no ambiente urbano é fator preponderante para dinamizar e possibilitar o desenvolvimento sustentável nas grandes cidades brasileiras. Assim, a educação ambiental para o desenvolvimento sustentável é fundamental para todos aqueles que, de forma individual ou coletiva, esperam viver numa cidade socialmente equitativa, com identidade cultural preservada aliada a uma economia dinâmica e um ambiente saudável. Neste artigo são levantadas as características de grandes cidades, com elevada densidade populacional, à exemplo do Recife, capital de Pernambuco, no Nordeste do Brasil, e os problemas inerentes à esses territórios, buscando, a partir da compreensão das origens dos problemas, discutir as possibilidades de promoção do desenvolvimento sustentável, valorizando os aspectos da ecologia latentes no ambiente antrópico e mais evidentes em sistemas naturais, aproximando-os da percepção destes como ecossistemas. Palavras-chave: ambiente urbano, educação para a sustentabilidade, ecodesenvolvimento

1 Prefeitura da Cidade do Recife & Profº Drª. Adjunta da Universidade de Pernambuco, docente do Mestrado

Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS). Email:[email protected] 2 Profº Drº. Associado da Universidade de Pernambuco, Coordenador do Mestrado Profissional em Gestão do

Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS). Email: [email protected] 3 Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (GDLS) pela Universidade de Pernambuco. Email:

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AN ANALYSIS OF THE CONTRIBUTIONS OF ENVIRONMENTAL EDUCATION TO THE SUSTAINABLE DEVELOPMENT IN BIG CITIES: THE CASE OF RECIFE

CITY, PERNAMBUCO, BRAZIL

ABSTRACT The search for sustainable development, considering the social, political, cultural, economic and environmental is now the major challenge of the big cities. It’s requires profound changes in perception, prospects, actions and values, the meaning and the synergies of the aspects that permeate sustainability. No political effort will succeed without the responsiveness to changes to the population, as well as any project consolidates without adhesion and mobilization of society and the state. Know and understand the processes and ecological interactions in the urban environment is a major factor in stimulating and enabling sustainable development in large Brazilian cities. Thus, environmental education for sustainable development is essential for all those who, individually or collectively, expect to live in a socially equitable city with preserved cultural identity, a dynamic economy and a healthy environment. This article raised the characteristics of large cities , the example of Recife, capital of Pernambuco in northeastern Brazil , with high population density, and the problems inherent in these territories. This is done from the understanding of the origins of the problems raise the sustainable development opportunities, valuing aspects of latent ecology in the anthropic and more evident in natural systems environment, approaching the perception of these as ecosystems. Keywords: urban environment, education for sustainability, eco-development

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1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de forma sustentável visa garantir qualidade de vida para

as pessoas e o meio ambiente, respeitando os princípios de ecologia e reconhecendo

a sociedade humana como uma relação integrada e interdependente de tudo e do

todo. Holden, Linnerud, e Banister (2014) defendem não haver atualmente uma

definição clara de desenvolvimento sustentável para orientar os políticos em resolver

desafios nos níveis globais ou regionais. Em vez disso, o uso do conceito tem cada

vez mais refletido atributos socialmente desejáveis de soluções locais e problemas ao

nível de projetos, mas estes ignoram os desafios globais que o conceito estava

destinado a abordar.

Considerando a definição original de desenvolvimento sustentável utilizada no

Relatório Brundtland e considerando o carácter multidimensional que fundamenta o

desenvolvimento sustentável, há que considerar que o ambiente urbano, os recursos

naturais, as necessidades de cada um e cada uma, além das necessidades coletivas

estão integrados. À essa percepção, damos o nome de visão sistêmica. Sem a

compreensão de que o agir numa cidade, seja nas atividades domésticas, no trabalho,

no lazer dentro ou fora de casa, repercute diretamente não apenas em nós e ao nosso

redor, mas também afeta o planeta inteiro (GUTIÉRREZ, 2013). É por isso que a

Educação é necessária na gestão e no cotidiano das pessoas.

Para Jacobi, Monteiro e Fernandes (2011), “os desafios colocados para a

consolidação de sociedades sustentáveis passam pela reavaliação do papel que a

educação assume na formação de agentes promotores de novos paradigmas de

relacionamento e convivência social.” Chamamos de Educação ambiental, o processo

de construção de conhecimento que traz o empoderamento das pessoas sobre suas

decisões, e a compreensão das responsabilidades pelas nossas escolhas, no trato

das questões ambientais.

Na Educação ambiental, é necessária a compreensão e a definição das

responsabilidades que cabem a cada um: qual o papel do governo local? Estadual? e

Federal? Quais as responsabilidades coletivas na sociedade e de cada cidadão?

Trazemos à tona a urgência de pensarmos num processo educativo voltado para a

sustentabilidade, onde devemos vencer os desafios de, simultaneamente,

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desenvolver a cidade economicamente, ser equitativo socialmente, manter a

identidade local e favorecer o equilíbrio do meio ambiente.

Sabemos que a mudança para uma sociedade sustentável é permeada por

obstáculos. É cada vez mais notória a complexidade desse processo de

transformação de uma sociedade crescentemente ameaçada e diretamente afetada

por riscos e agravos socioambientais (JACOBI, 2011)

Nesse sentido, os esforços individuais e coletivos na busca da sustentabilidade

exigem um olhar atento aos sinais de vitalidade da população. As inquietudes, o

protagonismo, a efervescência cultural são indicativos de uma predisposição para a

mudança, pois refletem a vida da cidade. Como afirma Capra (2006) uma comunidade

viva é sempre uma comunidade que aprende.

Na gestão ambiental de uma cidade esses indicativos são fundamentais para

gerir um território em que se busca a sustentabilidade (VEIGA, s.d.) Para isso, não

existe caminho mais eficiente para florescer e resignificar uma sociedade. Isso só

pode ser atingido através da educação.

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2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O conceito de desenvolvimento sustentável surge como um termo que

expressa os anseios coletivos, tais como a democracia e a liberdade (BARBOSA,

2008). Não há como negar que a Educação é o caminho pelo qual pode-se transformar

a realidade do lugar onde se vive, E, portanto, é o caminho para promover o

desenvolvimento sustentável. Com esse intuito, discutiremos a temática de educação

para a sustentabilidade.

Lucie Sauvé (1997) relata que é preciso fazer uma reflexão crítica entre a

educação ambiental e o desenvolvimento sustentável, pois a Educação ambiental

para a sustentabilidade, esconde diferentes concepções de meio ambiente, de

educação e do próprio desenvolvimento sustentável. Vare; Scott (2007) estudaram a

relação entre educação e desnvolvimento sustentável. Segundo os autores essa

relação é um processo que é capaz de proporcionar o futuro emergente

ecologicamente saudável e humanamente habitável à medida que emerge, através

da aprendizagem que é responsiva contínua, um empoderamento mais característico

da espécie humana; um processo de aprendizagem social da melhoria da condição

humana; um processo que pode ser mantido indefinidamente.

Sauvé (2005) categoriza essas percepções conforme estratégias de educação

ambiental assumidas pelos educadores. Na percepção do meio ambiente limitado à

Natureza, as pessoas estabelecem uma relação com o ambiente enxergando-o como

algo para ser aprecisado, preservado. Nessa perspectiva, Melo et al (2015) relatam

que a concepção de desenvolvimento sustentável ganha relevo quando associado

com as questões ambientais e nesse caso, o ambiente é visto como uma catedral, um

útero: pura e original. Isto limita a forma de interagir das pessoas, que percebem

apenas a necessidade de contemplação e de imersão na Natureza. Em outra

vertente, a autora identifica a percepção do ambiente como recurso. Aí se estbelece

uma relação de uso da natureza pelo homem, que considera o ambiente como algo a

ser gerenciado. As características dessa percepção ressaltam uma herança biofísica,

coletiva, com vistas à qualidade de vida. Nessa categoria, identificam-se as

metodologias de educação ambiental como as campanhas dos três Rs, as auditorias,

os relatórios técnicos.

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Uma terceira forma de perceber o ambiente está numa prática de educação

ambiental voltada para análise do ambiente como um problema. Nesse enfoque, se

estabelece uma relação de controle em que o ser humano deve ter a solução. A ênfase

dessa modalidade de educação ambiental está na poluição, derioração e ameaças ao

equilíbio ecológico. As metodologia de educação ambiental nesses casos envolvem

estudo de soluções de problemas. Nesse modelo de educação ambiental, Melo et al

(2015) defendem a necessidade do estímulo ao pensamento crítico, com vistas às

soluções dos problemas ambientais, criação de políticas públicas a aplicação de

metodologias de gestão. Trata-se, portando de uma forma de educação ambiental

instrumental.

Algumas práticas de educação ambiental referem o ambiente como lugar para

se viver, nessa perspectiva busca-se uma educação ambiental para, sobre, e no

cuidado com o ambiente. As caracteristicas que imperam essa modalidade de

educação ambiental envolvem a natureza com seus componentes sociais, históricos

e tecnológicos. Utilizam-se estratégias didáticas como projetos de jardinagem, lugares

ou lendas sobre a natureza.

Outra modalidade de educação ambiental que Lucie Sauvé (2005) descreve,

trata do ambiente como biosfera, numa relação de lugar, que deve ser compartilhado,

trata o ambiente numa visão holística, com notória percepção de interdependência

dos seres vivos com os não vivos. As metodologias envolvem estudos de caso em

problemas globais e diferentes cosmologias. Sobre essa visão de meio ambiente,

Rodrigues (2015) defende como direito Constitucional essa percepção, já que como

direito social, meio ambiente é assim considerado por somente poder ser tratado como

bem de uso comum do povo (portanto, difuso), onde integra o patrimônio coletivo.

“Não é possível, portanto, em nome deste direito, apropriar-se individualmente de

parcelas do meio ambiente para consumo privado, pois a realização individual deste

direito fundamental está intrinsecamente ligada à sua realização

social”(RODRIGUES, 2015, p. 140).

Por último, a autora traz a educação ambiental como projeto comunitário, nesse

caso, o ambiente é algo que deve ser vivido. As caracteristicas defendem a natureza

com foco na análise crítica na participação política da comunidade. Há uma

necessidade de ressignificação da Educação, onde a Educação Crítica não emerge

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ou evolui da Conservadora, tendo um caráter revolucionário no que seja o processo

de aprendizagem (RODRIGUES, 2015). Aí se aplicam metodologias de pesquisa-

ação, aprendizagem social, participativa, para a transformação da realidade (SAUVÉ,

2005).

Pensando não apenas em uma, mas em todas as formas de Educação

ambiental, para a sustentabilidade da cidade do Recife, conclui-se que não existe uma

prática de Educação Ambiental mais apropriada, mas todas as formas de

percebermos o mundo que nos cerca. Assim, a cidade de Recife vai buscar a

sustentabilidade, pelos caminhos da educação que considera tais cenários.

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3 RECIFE PODE SER UMA CIDADE SUSTENTÁVEL?

Ao discutir sobre a sustentabilidade urbana, Barbosa (2008) destaca que nas

grandes metrópoles, os problemas causados pelo aumento da população urbana sem

a presença do poder público acompanhando essa urbanização pode está associada

à violência, à poluição, ao tráfego caótico, às enchentes, à desigualdade social. Por

outro lado, a autora salienta que no atual momento histórico, o desenvolvimento está

diretamente ligado à vida das cidades.

A sustentabilidade urbana é definida por Henri Acselrad (1999) como a

capacidade das políticas urbanas se adaptarem à oferta de serviços, à qualidade e à

quantidade das demandas sociais, buscando o equilíbrio entre as demandas de

serviços urbanos e investimentos em estrutura e o uso racional dos recursos naturais.

A boa forma do ambiente urbano baseado na interação com o clima e os recursos

naturais, além das respostas às necessidades urbanas com o mínimo de transferência

de dejetos e rejeitos para outros ecossistemas atuais e futuros são tambem

fundamentais para desenhar um ambiente urbano sustentável. Essa visão holística

tambem é defendida por Veiga (s.d., p. 20), quando admite que a “evolução e

transformação da sociedade e da economia no processo de desenvolvimento

alteraram de várias maneiras o mundo natural. E esse relacionamento recíproco se

articula e se expressa por meio de formas concretas de ordenamento territorial

urbano”.

Considerando as características de uma metrópole como Recife, com todos os

problemas que uma megacidade apresenta, com elevados níveis de degradação

ambiental e mergulhada num modelo consumista de crescimento econômico, possa

se tornar uma cidade sustentável. À luz de um modelo de gestão estratégica que utiliza

a educação ambiental voltada para a sustentabilidade visando a formação

emancipatória para construção de conhecimento e poder nas mãos de seus citadinos,

para transformar a realidade.

Para Monteiro (2011), o caminho passa pela aprendizagem social, que não se

refere ao que as pessoas deveriam aprender ou saber fazer, mas sim como as

pessoas aprendem. O autor relata que é preciso superar, coletivamente, as barreiras

impostas por valores, doutrinas e inclinações pessoais.

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Uma estratégia importante é buscar compreender os problemas da cidade, a

partir de suas origens, de suas causas, buscando as soluções em sua raiz e não nas

suas consequências. Como a maioria dos problemas nas cidades ocorrem de forma

sistêmica, eles não são isolados nem podem ser resolvidos separadamente (CAPRA,

2006). Portanto as decisões que tomamos sobre determinados aspectos afetarão

direta ou indiretamente sobre outras. Barbosa (2008) defende que uma

sustentabilidade urbana só será atingida com direitos à água, ao abrigo, à

alimentação, à saúde, à educação de qualidade garantidos para todos. Sendo assim,

como já evidenciou Rodrigues (2015), com as garantias dos direitos cosntitucionais

difusos à vida de qualidade para todos.

Mas partindo das realidades vivenciadas pela população urbana, tomemos

como exemplo a densidade populacional. Todos sabemos que o adensamento da

população nas grandes cidades é um grande problema, pois aumenta a demanda por

mais serviços, estrutura e infraestrutura, aumenta a carga de esgotos, os consumos

de água e de energia, só para listar alguns problemas sistêmicos.

Atualmente existe uma revalorização da densidade populacional alta por parte

dos pesquisadores urbanos. Jacobs (2000) considera que a baixa densidade

populacional é o principal fator do declínio das cidades. Segundo ela, baixas

densidades reduzem a diversidade de usos das áreas urbanas, tornando-as mais

desertas e acentuando problemas como criminalidade e vandalismo.

Haughton e Hunter (1994) assumem que densidades urbanas maiores são

importantes para se alcançar um desenvolvimento sustentável, pois a grande

concentração de pessoas aumenta a demanda por infraestrutura instalada, diminuindo

o custo relativo de sua implantação, reduzindo a necessidade de expandir essa

infraestrutura para áreas periféricas. Alem disso, alta densidade reduz também a

necessidade de deslocamentos maiores já que a concentração de pessoas favorece

as atividades econômicas como comércio e serviço ao nível local (JACOBS, 2000).

Elevada densidade populacional tambem encoraja a população a andar a pé, viabiliza

a implantação de sistema de transportes coletivos e outros modais de deslocamento.

Nessa perspectiva e sob o ponto de vista da ecologia, a densidade favorece

aspectos positivos ao desenvolvimento sustentável. Elevada densidade nas cidades

permite também elevada diversidade e, com elas novas possibilidades: Diversidade

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social; Diversidade econômica; Diversidade ambiental; Diversidade na solução de

problemas; Diversidade no enfrentamento das crises.

No entanto o enfoque da sustentabilidade que enxerga a densidade como ponto

favorável às megacidades, tambem requer uma política educacional eficiente, uma

vez que a sustentabilidade passa a ser medida em função dos indicadores como

aqueles para as cidades sustentáveis. Portanto, é preciso ser uma sociedade

educada!

Em Pesquisa realizada pela Brookings Global Cities Iniciative, em 2012 o

Recife estava em um ranking entre as treze maiores regiões metropolitanas do Brasil.

No item Densidade populacional, o Recife ocupava o 6º. Lugar, porem a Região

Metropolitana do recife - RMR ocupava o 9º lugar em relação à empregos e é o

penúltimo (12º lugar) no PIB per capita, embora ocupe o 3º lugar em desempenho

econômico no mesmo período. Isso mostra que na RMR há uma má distribuição de

renda e elevada taxa de desemprego. A população do Recife cresceu 34% no período

de 2009 a 2012, quando no resto do país este crescimento foi de 24%. No quesito

educação, os dados apontam para uma taxa de 91% da população alfabetizada, mas

apenas 11% tem nível universitário (BROOKINGS, 2012).

Importante considerar que, na educação para a sustentabilidade não é apenas

a escolarização que faz um cidadão educado. É necessário redefinir as diretrizes

educacionais com foco numa aprendizagem social (MONTEIRO, 2011) para que

possamos atingir o patamar de uma cidade sustentável.

Há tendência para a sustentabilidade no Recife?

A cidade de Recife enfrenta problemas comuns à uma megacidade: distorções

sociais, modelo de consumo desordenado, falta acesso a informação. Dentro da

intrincada rede de construção da sustentabilidade identificam-se quatro dimensões

que devem ser igualmente consideradas: a dimensão social, cultural, econômica e

ambiental. Essas dimensões não se sobrepõem; elas se complementam, estão

integradas. A sustentabilidade se estabelece nas relações em que são levadas em

consideração a solução de problemas numa perspectiva sistêmica.

Mas na teia das relações (CAPRA, 2006) entre essas dimensões: carências

sociais caracteriazadas pela necessidade de atendimento às necessidades básicas

da população como acesso à saúde, educação, moradia, laser, nutrição; as

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discrepâncias econômicas marcadas por uma hierarquia injusta: o modelo de

desenvolvimento em que impera o crescimento econômico em detrimento de outras

variáveis da sustentabilidade não atribui igual valor à manutenção de uma dinâmica

ecológica dentro da capacidade de suporte dos ecossistemas, que dessa forma,

limitam qualitativa e quantitativamente os seus serviços ecossistêmicos. Stern;

Commom; Barbier (1996) já afirmavam que o que faz com que as maiores actividades

económicas inevitavelmente impactem negativamente o ambiente é o modelo de

desenvolvimento baseado em suposições estáticas sobre tecnologia, falta de

iniciativas e de investimentos ambientais.

A falta de empoderamento das pessoas que vivem na cidade é resultado de

uma educação não problematizadora, pouco reflexiva, que não promove o

protagonismo e, consequentemente não afeta o senso de responsabilidade individual

e coletiva, onerando ainda mais o papel do Estado. Este é o quadro das dificuldades

que o Recife enfrenta, quando planeja a busca do desenvolvimento sustentável.

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4 CONCLUSÃO

É importante considerar, no entanto, que a sociedade vive hoje um processo de

transição e como em todo processo, estamos atravessando momentos de crise. É

necessária a avaliação de conceitos, preceitos e fundamentos, para resolvermos

essas crises e planejarmos um futuro sustentável. As crises que as sociedades hoje

atravessam se identificam com as próprias dimensões do desenvolvimento

sustentável. São elas: a crise econômica, ambiental, social, cultural e política.

Acrescenta-se a estas, uma outra, ainda mais complexa, que é fruto do momento de

turbidez que ora atravessamos: a crise de percepção! Precisamos entender o mundo

que nos cerca, conhecer a realidade para tentar mudar nosso modelo de

desenvolvimento. Um dos caminhos já se sabe: é a educação ambiental.

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