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UM PRIMEIRO OLHAR SOBRE A TATUAGEM-PERSONAGEM
A FIRST LOOK AT THE CHARACTER TATTOO
João Batista Freitas Cardoso 1
Resumo: A pesquisa visa investigar os aspectos de inovação que surgem com a transposição de personagens de histórias em quadrinhos para tatuagens, uma das formas de expressão mais importante de nossos tempos. A transposição de personagens para o corpo humano apresenta-se como um fenômeno novo à medida que altera não só a forma de compreender a tatuagem em si como afeta diretamente o sentido original das personagens. Para atingir os objetivos, a pesquisa faz uso de técnicas de revisão bibliográfica, entrevista com tatuadores e indivíduos tatuados e análise comparativa entre as personagens-tatuagens e as personagens das narrativas em quadrinhos. Com caráter multidisciplinar, a pesquisa recorre a referências das áreas de comunicação, psicologia, sociologia, antropologia, filosofia e artes. Entendemos que a compreensão de tal objeto servirá para refletirmos sobre as inovações de linguagem em um contexto mais amplo que extrapola os limites das mídias e textos convencionais.
Palavra chave: Tatuagem. Personagem. Linguagem. Inovação. Semiótica Visual.
Abstract: The research aims to investigate aspects of innovation that arise with the transposition of characters from comic books to tattoos. The transposition of characters to the human body is presented as a new phenomenon as it alters not only the way of understanding tattooing itself but also how it directly affects the characters’ original meaning. To achieve the objectives, the research use the techniques of literature review, interviews with tattoo artists and tattooed people, besides making comparative analysis between characters: character tattoos and characters from comic narratives. By adopting a multidisciplinary approach, research areas recourse to references in the areas of communication, psychology, sociology, anthropology, philosophy and arts. We believe that the understanding of such an object will serve for reflection on the innovations of language in a wider context that goes beyond the boundaries of conventional media and texts.
Keywords: Tattoo. Character. Language. Innovation. Visual Semiotics.
INTRODUÇÃO
O objetivo do presente texto é iniciar uma discussão sobre o fênomeno da transposição de
personagens originários de histórias em quadrinhos para o campo da tatuagem. Para isso, é preciso
considerar o corpo como mídia e a tatuagem como um sistema de comunicação determinado por
regras de uma linguagem específica que permite gerar textos diversos.
Interessa a este estudo compreender os aspectos comunicacionais relacionados à
transposição de textos (personagens de histórias em quadrinhos), retirados de seus contextos
(narrativas seriadas em quadrinhos), para um sistema distinto, com normas próprias. Interessa
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ainda indagar sobre as relações de linguagem e os sentidos que surgem a partir dessa prática.
Acreditamos que, ao estabelecerem interações com o próprio corpo e com o contexto que envolve o
sujeito, a personagem passa por um processo de ressignificação.
Com base nesse entendimento, pretende-se compreender a tatuagem de personagens de
histórias em quadrinhos como resultado de uma transposição – das páginas das revistas em
quadrinhos para o corpo do sujeito; das narrativas seriadas para a figura – que promove interações
inovativas entre diferentes linguagens. Recorrendo a Walter Benjamin (2011), Regina Rossetti
(2013) lembra que a transposição é uma passagem de um sentido a outro, que separa um original
daquilo que foi transposto. Nesse sentido, a transposição favorece “o surgimento de novas
qualidades e propriedades que não existiam no gênero de partida e que são trazidas à luz do gênero
de chegada, tal qual um processo tradutório ou recriação” (ROSSETTI, 2013, p. 70). Tais
transposições provocam as alterações nas linguagens e “promovem inovações de formato, sintaxe
ou conteúdo” (p. 70). A alteração, nesse sentido, apresenta-se como uma forma de inovação
qualitativa.
[...] é capaz de inovar no sentido de fazer surgir novos estados que não se manifestam
anteriormente [...]. Do ponto de vista dialético, a alteração pode ser a ação ou efeito de alterar-se,
pelo qual um ser em si se transforma em seu ser em outro. Mesmo sendo uma mudança radical do
ser, o resultado da alteração não anula completamente o que havia antes de alterar-se (Hegel,
2005). Toda alteração faz surgir novas qualidades do produto comunicativo [...]. (ROSSETTI,
2013, p. 68-69)
O “ser” das páginas das revistas transforma-se em um “novo ser” no corpo do sujeito. As
referências efêmeras, da cultura popular, eternizam-se na pele. As duas formas de expressão em um
mesmo corpo, a tatuagem e as ilustrações em quadrinhos, estabelecem disputas simbólicas que
comunicam um pouco sobre os valores do sujeito e das comunidades onde esses circulam.
O presente texto é parte da primeira etapa da pesquisa Personagem em tatuagem:
transposição das páginas das histórias em quadrinhos para o corpo humano – desenvolvida pelo
Grupo de Pesquisa O signo visual nas mídias com auxílio da FAPESP –, que visa estudar os
aspectos de inovação que surgem com a transposição de figuras de personagens de histórias em
quadrinhos para o corpo humano em forma de tatuagem. Aqui apresentamos algumas reflexões da
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primeira etapa que é composta por técnica bibliográfica e análise documental – em catálogos de
tatuagens de estúdios localizados na cidade de São Paulo. Trata-se de um primeiro olhar sobre o
que estamos chamando de tatuagem-personagem.
1. OLHARES PARA AS TATUAGENS
Realizando um breve levantamento bibliográfico é possível observar que pesquisas sobre o
uso, ou prática, da tatuagem concentram-se, predominantemente, nas áreas da psicologia,
sociologia, antropologia e artes visuais – a área de comunicação pouco estuda esse objeto. Ainda
que este texto se oriente principalmente pelos interesses da área de comunicação, certas ideias
resultantes de estudos de outras áreas servem para compreendermos um pouco mais tal fenômeno,
assim como para nos mostrar a importância de direcionarmos nossos esforços para compreender a
tatuagem, de um modo geral, como um objeto de comunicação.
Utilizando como base a teoria de Jacques Lacan (1998), Stella Ferraretto (2010), ao estudar
a tatuagem como fenômeno psicossomático, afirma que a constituição do sujeito deve ser
compreendida em razão das estruturas significantes das linguagens: “A linguagem, então, é
responsável pela artificialidade das relações humanas” (p. 15). É na linguagem, sob a ótica
lacaniana, que o sujeito irá definir a sua estrutura. O corpo, nesse contexto, divide-se em três:
imaginário, simbólico e real – respectivamente: o corpo como imagem, o corpo significante e o
corpo como lugar do gozo.
Para Ferraretto, "o tema do corpo circunscreve um ponto central na psicanálise, é nele e
através dele que se dá o discurso como laço social" (p. 25). Em outras áreas, como na sociologia, o
corpo também é tratado como um lugar de inscrição simbólica, "lugar sígnico que reflecte posições
sociais na estrutura de relações de poder" (FERRARETTO, 2011, p. 291).
Partindo desse pressuposto, ao interferir diretamente nas práticas interacionais entre o
sujeito-linguagem e os sistemas da cultura contemporânea, a tatuagem apresenta-se como uma
importante forma de expressão simbólica em nosso tempo. Esse tipo de manifestação, para alguns
estudiosos da psicanálise, vai além do simples objetivo de marcar uma identidade ou diferenciar-se
dos outros. Há, nessa prática, a intenção de “modificar o corpo real, e não só sua imagem” (GIL
apud FERRARETTO, 2010, p. 20). Nesse sentido, as marcas corporais, assim como os traços
impressos, dotam o corpo de um valor simbólico. “Assim, para a psicanálise o corpo é a superfície
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de inscrição que porta um traço unário e que o eleva a uma função significante que transcende seu
ser vivente. A inscrição dessa marca sobre o corpo, dá ao sujeito a possibilidade de fazer laço
social” (FERRARETTO, 2010, p. 26).
Segundo estudos no campo da sociologia, o uso de tatuagens não denota uma ação
apolítica, de pura estetização, "traduzindo uma sucessão de gestos ornamentais, superficiais,
frívolos, lúdicos e paródicos, de signos de consumo" (TURNER apud FERREIRA, 2007, p. 318).
Para Vitor Ferreira (p. 319), tal prática demonstra:
[...] a luta pela construção e reconhecimento de uma identidade imaginada como singular
('ser diferente'), autêntica ('ser eu próprio') e emancipada ('ser livre'), entendida num estilo de vida
que se pretende escapatório às fórmulas estilísticas e etinerários sociais normativizados.
Ao construírem suas identidades pessoais por meio de tatuagens, os jovens se assumem
como cidadãos políticos, "erguendo uma política do corpo que extravasa as categorias do discurso
político clássico, repressivo ou emancipador, na medida em que não seguem um modelo de
normalidade ou de correcção política" (CASCAIS apud FERREIRA, 2007, p. 310). Para Ferreira
(2011, p. 292), atualmente, o uso de tatuagens:
[...] configura um projecto de corpo que [...] continua a ser activamente apropriado como
regime corporal não alinhado, resultante de uma cadeia de gestos simbólicos de irreverência e
transgressão perante determinadas esferas de controle social e relações de poder.
Pesquisas mostram que até mesmo as sociedades mais primitivas fizeram, de alguma
maneira, uso de tatuagens. Seja como forma de segregação social, ritual social de passagem,
crenças ou doutrinas religiosas, identificação de um grupo ou comunidade ou elemento
comemorativo e decorativo (PIERRAT, 2000), as tatuagens ultrapassaram as fronteiras territorias e
temporais. No Brasil, um dos primeiros registros do uso de tatuagens data do início do século XX
(RIO, 1908). Nesse documento, consta que as tatuagens predominavam em três grupos específicos
(os negros, os estrangeiros do oriente médio e os cidadãos marginalizados pela sociedade) e
mantinham certas particularidades para cada grupo.
Nas sociedades ocidentais, de modo geral, a prática de desenhar e escrever no corpo iniciou
com o uso marginal e, ainda que tenha se tornado uma prática da cultura popular, seu uso ainda é
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muitas vezes associado à criminalidade. Em 2011 foi publicada pelo Governo da Bahia uma
cartilha para orientação da polícia sobre as relações entre as tatuagens e a criminalidade. “Na
cadeia, as tatuagens não são utilizadas como mero objeto de adornar o corpo, mas sim feitas para
identificar o tipo de crime praticado pelo detento” (SILVA, 2011, p. 7). No que se refere
especificamente ao uso de tatuagens de personagens, segundo Alden Silva (2011, p. 19), presos que
portam tatuagem com a figura da personagem Coringa da DC Comics, por exemplo, “possuem
ligação com prática de roubo e possibilidade de envolvimento em morte de policiais. [...] a maioria
dos criminosos que a utilizam parecem absorver as características deste personagem”. Contudo,
ainda que certas tatuagens de personagens possam servir como sistema de codificação para
determinada atividade criminosa, é preciso considerar que tais personagens ganham outros sentidos
em outros corpos. Acreditamos que, apesar das convenções que regem o grupo onde está inserido o
sujeito, cada tatuagem carrega significados particulares que estão relacionados ao sujeito que a
exibe.
FIGURA 1 – Tatuagem da personagem Coringa em corpo de presidiário.
FONTE – SILVA, 2011, p. 7.
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Nos últimos anos tal prática adquiriu novos sentidos, tanto quando é utilizada para
coletivizar um determinado grupo como quando é utilizada para singularizar um indivíduo. “A
singularidade vai dizer respeito a um traço que pode capturar o olhar do outro. E o que torna
coletivo é o lugar que esse olhar pode conferir como identidade. Esses elementos podem tornar-se
veículos de circulação social” (COSTA, 2003, p. 19). As marcas no corpo, desse modo, ao mesmo
tempo em que diferenciam o sujeito de outros, colaboram na construção dos sentidos que se
atribuem ao ambiente onde esse sujeito circula.
Para Ana Costa (2003), as tatuagens permitem situar as fronteiras corporais do sujeito com
o outro e com o ambiente – nos termos da autora, “fazer bordas”. Conforme Costa, “apesar de já
nascermos com essas bordas e com a capacidade de que elas funcionem, sua atividade não se dá de
forma natural. Por não funcionarem de forma natural, elas precisam ser recortadas” (p. 17). Para a
pesquisadora, essa necessidade de “recortar” as “bordas” diz respeito à condição de desnaturação
da estrutura do sujeito, que se fundamenta na heterogeneidade do corpo (imaginário, simbólico e
real, conforme divide Lacan). Costa denomina heterogeneidade “a condição de que nosso
organismo inclui símbolos e imagens em seu funcionamento. Assim, podemos considerar que uma
imagem, na medida em que ela é vital, ou seja, é necessária e não dispensável, ela faz parte do
orgânico” (p. 18).
Tratando especificamente do corpo como suporte para a arte, Beatriz Pires (2003) lembra
que todo sujeito percebe o outro por meio da imagem e as percepções mudam conforme mudam as
normas e interesses da sociedade. Logo, os perfis das pessoas tatuadas, os tipos de imagens
tatuadas, as partes do corpo onde são tatuadas, os propósitos que motivam as pessoas a se tatuarem,
entre outros fatores, mudam com a sociedade. Para Nízia Villaça e Fred Góes (2014, p. 43), o
corpo é “lugar de fascínio, sedução, criação de alianças, via pactos estéticos que celebram o
prazer, a criatividade e o humor”.
2. TATUAGEM-PERSONAGEM
O que chama a atenção na atualidade é a variedade de imagens que se espalham pelas mais
diversas partes do corpo humano, “a estrela bela, o nome da amada, o versículo bíblico, o coração
flechado e, mais radicalmente, o nome das empresas em que o tatuado trabalhou, ou da namorada
no pênis” (MERENGUÉ, 2009). Devanir Merengué acredita que, independe da motivação – que
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são as mais diversas –, quando um sujeito faz uma tatuagem está consciente de que está fazendo
algo definitivo. Mesmo que com o tempo resolva fazer alterações em uma tatuagem, o sujeito, no
momento da gravação da imagem em seu corpo, pretende, para Merengué, “congelar um desejo”,
“reter o tempo”.
Ao pensar no sujeito tatuado como um tipo de colecionador, Costa traz um novo elemento
para os estudos de tal objeto. Utilizando como base Benjamin (2011), a autora lembra que o
colecionador destaca o objeto de suas relações funcionais. Assim acontece com a transposição de
personagens de histórias em quadrinhos, que saem das narrativas impressas nas páginas de revistas
para assumirem nova função em braços, costas, pernas etc.
Considerando que o aficcionado por histórias em quadrinhos é, comumente, um
colecionador nato – coleciona, primeiro, as próprias revistas onde são veiculadas as suas
personagens preferidas e, muitas vezes, livros, figurinhas, brinquedos, camisetas e todo tipo de
objeto que estampa a imagem dessas personagens –, não é de se estranhar que possa colecionar em
seu próprio corpo imagens das personagens que gosta. Contudo, a prática de imprimir no próprio
corpo personagens protegidos por direitos autorais reforça a ideia de Ferreira (2008, p. 138), de que
as tatuagens “deixam de ser signos estatutários claros e precisos, socialmente determinados e
sobrecodificados, para passarem a constituir signos identitários voluntariamente apropriados,
simbolicamente flutuantes e ambíguos” – vale destacar que existem estudos que tratam sobre o
direito autoral no segmento de tatuagem considerando apenas o trabalho criado pelo tatuador
(BRADLEY, 2011; HARKINS, 2006), mas não se discute, até o momento, a apropriação de
imagens protegidas por Copyright pelos mesmos tatuadores.
Até certo ponto, a crescente juvenilização dessa prática explica o crescimento de tal
fenômeno. No entanto, é preciso considerar que, de maneira geral, as tatuagens referem-se a
trajetórias pessoais e vicências particulares (FERREIRA, 2008, p. 139). Nesse sentido, acreditamos
que as tatuagens de personagens dizem muito mais sobre as pessoas que as portam do que sobre si
mesmas. Para Maria Ângela Pavan e Josimey C. Silva (2010, p. 70), tais signos testemunham a
vivência dos sujeitos que os portam, “indicam uma experimentação singular do mundo, são
afloramentos de subjetividade”. É justamente sob essa ótica que surge a hipótese de haver um
processo ressignificação das personagens.
A selecção da iconografia a explorar epidermicamente no âmbito de um projecto de
marcação corporal não decorre tão-somente do gosto estético do praticante, mas reclama um
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arsenal metafórico que remete para os seus contextos sociais de pertença e de vivência ao longo
da vida. A dada altura, quando a tatuagem começa a configurar um projecto de corpo, de
identidade e de estilo de vida, emerge uma preocupação com as afinidades estéticas e éticas entre
a iconografia escolhida, a personalidade e o modo de vida do praticante, bem como com o valor
biográfico da iconografia escolhida, no sentido de escolher eventos pessoais marcantes que dêem
significado e justifiquem o acto de marcar indelevelmente o corpo. (FERREIRA, 2008, p. 145)
Se o sujeito tatuado busca sintetizar em seu corpo a memória de sua vida ou traços de sua
identidade – nomes e figuras de pessoas importantes para si; imagens de crenças religiosas;
preferências musicais ou esportivas etc. –, as imagens de personagens licenciados, de alguma
maneira, compartilham com outras referências parte de sua identidade. Como lembra Ferreira
(2008, p. 147), o conjunto iconográfico representa a narração “de uma história de vida que se
traduz em traços directamente inscritos no bios, em gestos performativos que configuram uma
grafia e uma codificação próprias ao sujeito de enunciação”.
Em pesquisa realizada em 2003, Andrea Perez constatou que atualmente não há um perfil
único de sujeito tatuado, “no tiene fronteras de género y cada vez menos de generación, transita por
diferentes clases sociales, tiene distintos niveles educativos, hace varias actividades, en fin, no
posee un perfil social determinado” (2009, p. 81).
Com a profissionalização do mercado de tatuagens no Brasil na década de 1990 e com a
exposição nas mídias de personalidades de diversas áreas utilizando tatuagem – esportistas, artistas,
profissionais liberais –, o estigma que existia em relação ao sujeito tatuado começou a desaparecer.
A tatuagem, antes signo de transgressão, passa a ser mais um elemento da “cultura pop”, como as
histórias em quadrinhos.
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Nos Estados Unidos, segundo Mary Kosut (2006), a tatuagem também passou a ter melhor
aceitação pública na década de 1990. As crianças desse período, que hoje se encontram na faixa
dos 20 anos, cresceram mais próximas e simpáticas a essa forma de expressão. Segundo a autora,
20% da população norte americana é tatuada – pesquisa realizada em 2002 pela Universidade de
Connecticut chegou a um percentual similar. Esse crescimento fez com que os tatuadores se
especializassem em técnicas de ilustração e no desenvolvimento de estilos específicos para os
distintos públicos.
Em seus estudos, Perez verificou que existem padrões femininos e masculinos relacionados
às temáticas e escolha do local do corpo para fazer a tatuagem. Logo, é de se esperar que a
tatuagem de uma determinada personagem também esteja relacionada com o gênero, idade, classe
ou grupo social.
É preciso também considerar que as mesmas crianças que cresceram aceitando com
naturalidade a arte de se tatuar, cresceram cercadas por personagens do cinema, televisão, games –
muitos desses originários das histórias em quadrinhos. Assim, era de se esperar que essas
personagens chegassem naturalmente aos seus corpos jovens.
3. PERSONAGEM-TATUAGEM
Para o campo da literatura, a personagem em si é um ser que só existe na palavra (BRAIT,
1985). Sob esse ponto de vista, a personagem seria um problema unicamente linguístico. No caso
das histórias em quadrinhos, em particular, ainda que esteja intimamente vinculada à palavra e à
narrativa, a personagem tem também sua existência na imagem. De tal maneira que sua figura
chega a produtos diversos (cadernos, mochilas etc.) sem vir acompanhada, muitas vezes, de um
único signo verbal. Contudo, assim como as personagens das obras literárias, para se compreender
todos os sentidos relacionados às personagens em quadrinhos é preciso
[...] encarar frente a frente a construção do texto, a maneira que o autor encontrou para
dar forma às suas criaturas, e aí pinçar a independência, a autonomia e a ‘vida’ desses seres de
ficção. E somente sob essa perspectiva [...], que poderemos [...] vasculhar a existência da
personagem enquanto representação de uma realidade exterior ao texto. (BRAIT, 1985, p.12)
Como bem lembra Brait, as personagens das mídias impressas, apesar de assumirem em
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sua grande maioria formas humanas, são feitas de matéria distintas dos seres humanos. No entanto,
essa condição precisa ser revista quando consideramos que, em uma tatuagem, as personagens
materializam-se também a partir da própria pele humana. Suas cores e texturas são definidas em
função das qualidades da pele do sujeito que traz no corpo as tatuagens. E, mais do que isso, as
partes e movimentos do corpo estão, muitas vezes, intimamente ligadas aos sentidos que se
atribuem à personagem. Algumas vezes, como no exemplo abaixo, duas tatuagens em diferentes
corpos servem justamente para ligar esses corpos. Representam uma relação de união, parceria, um
pacto.
FIGURA 2 – A Tatuagem-Personagem na relação com o corpo.
FONTE – Disponível em: http://visual-culture.com/tattoos/pictures-of-couples-tattoos/.
Acesso em 17/12/15
Para Brait, o que encanta o ser humano em relação às personagens é o fato desses “seres”
se confundirem, “em nivel de recepção, com a complexidade e a força dos seres humanos” (p. 13).
Recorrendo a Poética de Aristóteles, a autora argumenta que a personagem é um reflexo da pessoa
humana. E, utilizando como base Horácio, recorda do “aspecto moral desses seres fictícios” (p. 36).
Fator este que faz com que as personagens possam comunicar algo sobre quem as traz na pele.
Horácio concebe a personagem não apenas como reprodução dos seres vivos, mas como
modelos a serem imitados, identificando personagem-homem e virtude e advogando para esses
seres o estatuto de moralidade humana que supõe imitação. Ao dar ênfase a esse aspecto
moralizante, ainda que suas reflexões tenham chamado a atenção para o caráter de adequação e
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invenção dos seres fictícios, Horácio contribuiu decisivamente para uma tradição empenhada em
conceber e avaliar a personagem a partir dos modelos humanos. (p. 36).
No caso específico das personagens de histórias em quadrinhos, para Fresnault-Duruelle (
apud CIRNE, 1996, p. 92), elas “existem apenas para viverem intensamente [...], pois só aparecem
em função do recorte seletivo de um cartoonist decidido a pôr em cena apenas os momentos que
importem”. Quando não estão nas páginas de histórias em quadrinhos, em animações
cinematográficas, televisivas ou em games, as personagens apresentam-se, na maioria das vezes,
em uma pose ou expressão já conhecida ou em uma cena reproduzida da narrativa. Assim, os
aficionados por Spider-Man, Batman, Mickey, Beth Boop, entre outros, reconhecem na figura
impressa em camisetas, copos, capas de cadernos etc., a personalidade da personagem. Para
Moacyr Cirne, é justamente essa personalidade que atrai o leitor: “[...] um grande personagem de
quadrinhos tem que ser grande, antes de mais nada no interior dos quadrinhos, com uma
tensão/pulsação adequada à linguagem que o formaliza como herói, anti-herói, marginal etc.”
(1996, p. 97). No caso específico das tatuagens, além das figuras das personagens apresentarem-se
com as mesmas expressões ou gestos já conhecidos das narrativas, ainda exibem-se, algumas
vezes, de maneira peculiar – formas essas que, provavelmente, não seriam autorizadas pela
empresa que detém o direito de imagem.
FIGURA 3 – Personagem Popeye em tatuagem que destaca sua principal característica, a
força.
FONTE – Disponível em: http://beforeitsnews.com/motor-junkies/2014/02/tattoo-winner-
and-runner-up-2486730.html. Acesso em 17/02/15.
4. RELAÇÕES ENTRE LINGUAGENS
Para compreender as relações estabelecidas entre sistemas com codificações tão distintas –
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um, em sua natureza, regulado pelas normas do mercado “pop”, e outro, na sociedade ocidental,
motivado por comportamentos “transgressores” –, entendemos ser necessário: conceber a tatuagem
e a história em quadrinhos (HQ) como tipos distintos de linguagens; o corpo como uma mídia que
porta um traço individual com uma função significante; a personagem como figura que independe
do contexto da narrativa; e o contexto que envolve o sujeito tatuado como um conjunto de textos
que altera, em parte, o significado original da personagem.
Conforme Lúcia Santaella (2001, p. 97), a semiótica “colocou à mostra que as formas de
codificação e de comunicação humanas não se restringem apenas à linguagem verbal, oral ou
escrita, mas abrangem todos os tipos de sinais e signos que operam no seio da vida societal,
tornando possíveis a comunicação e a cultura”. Semioticistas de diferentes correntes teóricas
também compartilham desse pensamento. Segundo Roman Jakobson (1996), o estudo dos signos
deve dizer respeito às classes particulares, às possibilidades convencionais de seleções e
combinações de elementos em um sistema específico. Nesse sentido, para conceber a tatuagem
como um tipo de linguagem é preciso identificar as convenções de seleção e combinação próprias.
Considerando também o caráter convencional relacionado aos processos de seleção e combinação,
Santaella complementa:
[...] para funcionar como linguagem um sistema perceptivo deve conter legi-signos
(organização hierárquica, sistematicidade), deve ser passível de registro, nem que seja o registro
da memória (recursividade) e, sobretudo, deve ser capaz da metalinguagem (autoreferencialidade,
metáfora). (2001, p. 79)
Baseado nessa crença, a compreensão da tatuagem como linguagem passa primeiro pela
análise do registro da imagem para identificar a estrutura e sistematicidade dos modelos e
organizações utilizados no sistema. No entanto, utilizando como método teórico aplicado a
classificação de signos de Charles S. Peirce, entendemos que, ainda que o legi-signo seja
fundamental para manter na tatuagem o predomínio do aspecto convencional do signo, seus
aspectos singulares e, principalmente, qualitativos são fundamentais para compreensão da
mensagem. A semelhança do ícone permite ao observador reconhecer a personagem e o
conhecimento das convenções a que esse sujeito está submetido permite compreender os
significados da personagem como tatuagem.
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Considerando que as “hibridizações atuam como propulsores para o crescimento das
linguagens” (SANTAELLA, 2001, p. 28), é preciso também estudar a linguagem da HQ, já que o
sentido gerado pela personagem, como tatuagem, está intimamente ligado à sua existência nas
narrativas. Narrativas essas que seguem convenções próprias da HQ. Os diversos tipos de balões,
onomatopéias, quadros, composição de página etc. determinam a narrativa da HQ e evidenciam os
caracteres dessa linguagem, que, ainda que possua alguns elementos em comum, difere das
linguagens da narrativa literária ou audiovisual.
Tendo compreendido as linguagens da tatuagem e a linguagem da HQ, será preciso
entender o corpo como mídia. O que nos interessa especificamente nesta pesquisa, não é o corpo
em si, mas sim o corpo tatuado. Nesse sentido, assim como Norval Baitello Jr. (2005), entendemos
o corpo como uma mídia secundária:
[...] meios de comunicação que transportam a mensagem ao receptor, sem que este
necessite um aparato para captar seu significado, portanto são mídias secundárias a imagem [...].
Na mídia secundária apenas o emissor necessita um aparato (ou suporte). Assim, constituíram
mídias secundárias as máscaras, pintura e adereços corporais [...]. (2005, p. 108-109)
No entanto, ainda que nosso interesse não recaia especificamente sobre o corpo em si,
precisamos também observar os movimentos e posturas no corpo – mídias primárias no
entendimento de Harry Proos (apud BAITELLO JR., 2005, p. 107) –, já que esses também são
muitas vezes responsáveis pela geração de sentido em uma tatuagem.
A personagem de HQ, como elemento autônomo, é uma configuração simplificada,
composta por traços visuais e verbais, que apresentam aspectos psíquicos limitados. Por serem
esquemáticas, as imagens das personagens podem ser utilizadas fora do contexto da história sem
que se perca sua personalidade. Utilizando categorias do século XVIII, Antonio Cândido (2014, p.
60) apresenta as personagens dos romances em dois modos predominantes, um mais complexo
outro superfical. Um deles pode ser aplicado às personagens de HQ: “[...] seres íntegros e
facilmente delimitáveis, marcados duma vez por todas com certos traços que o caracterizam”.
Essas “personagens de costume” ou “personagens planas”, como apresenta Cândido, tem a
“personalidade superficial e previsível” (2014, p. 62). Acreditamos ser justamente essa
previsibilidade que permita que suas imagens estampadas em outros suportes transmitam a mesma
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personalidade desenvolvida nas narrativas das HQs.
Essa característica das personagens de HQ fez com que desde a primeira metade do século
XX suas imagens fossem apropriadas por: sistemas de comunicação (cinema, TV e literatura);
negócios relacionados ao entretenimento (parques de diversão, brinquedos, games, figurinhas
colecionáveis etc.); produções artísticas (pinturas, esculturas etc.); e diversas áreas comerciais
(licenciamento de produtos diversos, como vestuário, adereços, objetos de decoração, mobiliário,
embalagens de alimentos etc.).
Outro aspecto que define a linguagem das HQs, e que interfere diretamente nas formas de
apropriação das personagens por outros sistemas, é o estilo do desenho, que indica tanto o artista
quanto o gênero da HQ. O desenho da personagem é um dos aspectos artísticos mais evidente nas
HQs. Cada artista possui habilidades que diferenciam seu trabalho de outro. A maneira como o
desenhista utiliza técnicas e recursos gráficos – como o traço (grosso ou fino), as hachuras, as
sombras e as cores – determina seu estilo e personalizar seu trabalho. Para evitar que o estilo do
artista se sobreponha as características da personagem, muitas editoras utilizando model sheets para
padronizar o traço da personagem.
FIGURA 4 – Model sheet elaborado por Floyd Gottfredosn nos anos 1950.
FONTE – Disponível em: http://www.michaelspornanimation.com/splog/?p=2096. Acesso
em 17/02/15.
Entre os estilos mais utilizados no mercado de quadrinhos estão: a linha clara, designação
do traço usado pelos quadrinhos franco-belgas; o estilo realista, em que o artista procura
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representar com fidelidade o mundo externo – esse estilo pode ainda ser subdividido em traço fino
e traço grosso; o estilo cartunesco, que está relacionado à distorção da anatomia; e o estilo sujo,
que é marcado pelo uso de hachuras, manchas de tinta e sombras fortes. Para ser fiel à
representação visual da personagem, e ao seu estilo, tatuadores utilizam diferentes tipos de agulhas
e técnicas para reproduzir os diferentes tipos de linhas. A personagem, assim, determina a técnica
de gravação da tatuagem.
Por fim, é na análise do corpo tatuado que podemos estabelecer relações entre essas
linguagens. Em uma HQ, seguindo as normas estabelecidas pela model sheet ou as convenções
próprias da linguagem dos quadrinhos, a personagem gera sentidos que estão relacionados
diretamente aos seus atos na narrativa. A reprodução de expressões ou cenas já publicadas nas
páginas das revistas (como na figura 1) tende a fazer com que a personagem apresente ter o caráter
já conhecido e transmita certos sentidos já determinados. Como tatuagem, por sua vez, a figura
passa a fazer parte do corpo do sujeito. Como uma marca natural ou uma cicatriz, sua
materialização – diferente de uma camiseta que esse sujeito possa vestir com a mesma estampa –
está intimamente unida à matéria do sujeito. Os movimentos do seu corpo determinam os ângulos
de exibição da figura. E ao estabelecer diálogo com o próprio corpo, com outras tatuagens
(símbolos materializados em frases e figuras diversas) e com o contexto que envolve o sujeito
tatuado, a personagem, ainda que mantenha traços originais, gera novos significados. Remete ao
contexto social, experiência de vida, crenças e valores do sujeito tatuado. Colabora com a narração
da história de vida do sujeito e participa da construção de sua identidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o crescimento, nas últimas duas décadas, do número de pessoas que se tatuam
(KOSUT, 2006), percebeu-se, principalmente entre o público jovem, o aumento no interesse em
desenhar em seus corpos personagens de histórias em quadrinhos – super-heróis da Marvel ou
DC Comics, animações da Disney, entre outros. Não é de se estranhar tal fenômeno se levarmos em
consideração que há décadas as personagens de história em quadrinhos são apropriadas por
diferentes sistemas de comunicação, negócios relacionados ao entretenimento, produções artísticas
e diversas áreas da produção industrial.
Algumas dessas formas de apropriação, em especial no segmento de vestuário, servem
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como forma de expressão para determinados grupos. Utilizando imagens de personagens em
camisetas, por exemplo, muitos jovens comunicam suas preferências, crenças ou valores.
Entretanto, a transposição de personagens para o corpo humano apresenta-se como um fenômeno
novo à medida que altera não só a forma de compreender a tatuagem em si como afeta diretamente
o sentido original de personagens protegidas por direito de imagem. Tais signos identitários,
apropriados voluntariamente, apresentam-se muitas vezes como símbolos ambíguos e em
permanente estado de mutação. Cada uso particular, em cada indivíduo, implica em uma série
mudanças de sentidos.
Pesquisas sobre o uso de tatuagens são desenvolvidas nas áreas da psicologia, sociologia,
antropologia e artes, mas tal objeto é pouco estudado como fenômeno de comunicação. No entanto,
examinando o objeto percebemos que surge uma série de questionamentos que interessam
especificamente ao campo da comunicação, como, por exemplo: O que a personagem-tatuagem
comunica sobre o sujeito e o que o sujeito pretende comunicar por meio da tatuagem-personagem?
No processo de transposição, o que se mantém e o que muda na personagem em termos de
plasticidade e significação? Que interações de linguagens são estabelecidas entre esse tipo
específico de tatuagem e o contexto (partes do corpo, vestuário, adereços etc.)? Como as questões
do direito de uso da imagem devem ser consideradas nesse novo ambiente?
Para responder a questões como essas, primeiro, é preciso considerar cada tatuagem como
um texto específico em um contexto particular: suas especificidades plásticas; os sentidos gerados
pelos signos visuais compositivos; as relações de sentido entre a tatuagem-personagem e as outras
tatuagens que dividem espaço no corpo; as relações de sentido entre a tatuagem e o contexto que
envolve o sujeito que a porta. É preciso também compreender as motivações, pessoais e coletivas,
que fazem com que um sujeito opte por gravar em seu corpo uma personagem de histórias em
quadrinhos. Enfim, é necessário conceber a tatuagem, de modo geral, como linguagem; o corpo
como mídia que porta um traço individual com uma função significante; a personagem como figura
que independe do contexto da narrativa; e o contexto que envolve o sujeito tatuado como conjunto
de textos que afetam diretamente o sentido da tatuagem.
1Doutor e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP com Pós-Doutorado pela ECA/USP,
Professor no Programa de Mestrado em Comunicação da Universidade Municipal de São Caetano
do Sul (PPGCOM USCS). Professor na Universidade Mackenzie., [email protected]
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[1] Auxílio: processo#2014/21537-5, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
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