Um mundo quente e faminto

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www.oxfam.org Oxfam MARÇO 2014 UM MUNDO QUENTE E FAMINTO: COMO IMPEDIR QUE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS COMPROMETAM A LUTA CONTRA A FOME.

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O combate à fome em nível mundial pode sofrer um retrocesso de várias décadas caso medidas de adaptação às mudanças climáticas não sejam colocadas em prática imediatamente. Isso é o que revela um estudo da Oxfam, divulgado na semana em que se espera o 5° Relatório sobre Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação do Clima do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), no dia 31 de março. O alerta é de que as mudanças climáticas levarão ao declínio de até 2% dos rendimentos agrícolas globais em cada próxima década, ao mesmo tempo em que a demanda por alimentos aumenta 14% por década. O estudo “Um mundo quente e faminto: como impedir que as mudanças climáticas comprometam o combate à fome” analisa dez fatores crucias que terão influência cada vez maior sobre a capacidade dos países de alimentar a população num mundo em processo de aquecimento. Abrangendo dez áreas, a Oxfam encontrou sérias defasagens entre o que os governos estão fazendo e o que necessitam fazer para proteger nossos sistemas alimentares, desde já. Nenhum país está em condições hoje de responder aos desafios que as mudanças climáticas já representam para a segurança alimentar no mundo.

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Oxfam MARÇO 2014

UM MUNDO QUENTE E FAMINTO:COMO IMPEDIR QUE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS COMPROMETAM ALUTA CONTRA A FOME.

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Oxfam | BRIEFING À IMPRENSA

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UM MUNDO QUENTE E FAMINTO: COMO IMPEDIR QUE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS COMPROMETAM A LUTA CONTRA A FOME.

Sumário

A fome não é e não precisa ser inevitável. No entanto, as alterações climáticas ameaçam a luta de décadas para erradicá-la - e nosso sistema alimentar global é lamentavelmente despreparado para lidar com este desafio.

Na próxima semana, o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima publicará um relatório com novas evidências de que o impacto das alterações climáticas sobre a fome global será mais forte e chegará mais cedo do que se pensava.

Diante deste desafio, a Oxfam analisa até que ponto o sistema alimentar do mundo está preparado para os impactos das mudanças climáticas. Avaliamos dez fatores de grande relevância que influenciam a capacidade de um país para alimentar seu povo em um mundo em aquecimento - que incluem a qualidade de sistemas de monitoramento do clima , as redes de segurança social, a pesquisa agrícola e o financiamento da adaptação às mudanças climáticas.

Nas dez áreas encontramos grande defasagem entre o que está acontecendo e o que é necessário acontecer para proteger nossos sistemas alimentares. Essas defasagens na preparação para o enfrentamento deste desafio são decorrentes da pobreza, da desigualdade e da falta de vontade política. Embora muitos países – ricos ou pobres – não estejam adequadamente preparados para o impacto das alterações climáticas na alimentação, em geral são os países mais pobres e com maior insegurança alimentar, os menos preparados e os mais suscetíveis os danos da mudança do clima. O sistema alimentar de nenhum país deixará de ser afetado pelo agravamento das mudanças climáticas.

Ainda há tempo para resolver o problema. O que os países fazem hoje para se preparar para as mudanças climáticas – e o nível em que os países mais pobres são apoiados - será, em

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grande medida, determinante para que se saiba quantas pessoas passarão fome ao longo das próximas duas décadas. E a rapidez e a extensão dos nossos cortes nas emissões determinarão se os nossos sistemas alimentares terão condições de continuar a nos sustentar na segunda metade do século.

A Oxfam conclama governos, empresas e pessoas do mundo todo a tomar medidas para deter a mudança climática que deixa as pessoas com fome.

COMO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS AFETAM O QUE COMEMOS?

A mudança do clima já afeta o que as pessoas comem, quando comem e quanto comem no mundo todo, bem como onde moram e o que fazem para ganhar a vida.

Poderá haver mais de 25 milhões de crianças desnutridas com menos de 5 anos em 2050, comparando-se com um mundo sem mudanças climáticas – isso equivale a todas

as crianças menores de 5 anos de idade dos EUA e do Canadá.i

Este ano já ocorreram vários eventos climáticos recordistas no mundo todo que tiveram impacto catastrófico na agricultura, assim como na disponibilidade e nos preços dos alimentos. No Brasil, a pior seca em uma década arruinou lavouras na região celeiro do país - incluindo a valiosa colheita do café, fazendo com que seu preço desse um salto de 50%.ii Na Califórnia, a pior seca em mais de 100 anos está prejudicando o setor agrícola do estado, que produz quase a metade de todos os vegetais, de todas as frutas, das castanhas e nozes produzidas nos EUA.iii E na Austrália, o ano começou com uma onda de calor e seca recordes, atingindo duramente os agricultores.iv

Esses eventos de climas extremos estão coerentes com o que os cientistas vêm nos dizendo sobre o que esperar do aquecimento do clima.

Em 31 de março de 2014, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que representa a visão da comunidade científica global, publicará o seu 5º Relatório de Avaliação sobre Mudanças Climáticas: Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação. Cópias do relatório que vazaram indicam que o impacto das alterações climáticas sobre a fome global vai ser pior do que o divulgado anteriormente, e que graves impactos serão sentidos muito mais cedo - nos próximos 20-30 anos, nos países mais pobres..v

i http://www.ifpri.org/sites/default/files/publications/pr21.pdf Dados sobre população dos EUA e Canadá com idade inferior a 5 anos, em, http://www.unicef.org/statistics/index_24183.html ii http://www.theguardian.com/world/2014/feb/25/brazil-drought-threatens-coffee-crops iii New York Times, 01/02/2014, http://www.nytimes.com/2014/02/02/us/severe-drought-has-us-west-fearing-worst.html?action=click&module=Search&region=searchResults%230&version=&url=http%3A%2F%2Fquery.nytimes.com%2Fsearch%2Fsitesearch%2F%3Faction%3Dclick%26region%3DMasthead%26pgtype%3DHomepage%26module%3DSearchSubmit%26contentCollection%3DHomepage%26t%3Dqry426%23%2F500+drought+california ou 13/02/2014, http://www.nytimes.com/2014/02/14/us/california-seeing-brown-where-green-used-to-be.html?action=click&module=Search&region=searchResults%230&version=&url=http%3A%2F%2Fquery.nytimes.com%2Fsearch%2Fsitesearch%2F%3Faction%3Dclick%26region%3DMasthead%26pgtype%3DHomepage%26module%3DSearchSubmit%26contentCollection%3DHomepage%26t%3Dqry426%23%2F500+drought+california

iv Serviço de Meteorologia da Australia. v Guardian, 07/11/2013, http://www.theguardian.com/environment/world-on-a-plate/2013/nov/07/climate-change-environment-food-security-ipcc-emissions-united-nations-global-warming

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Destruição da pesca nas filipinas

O tufão Haiyan - a tempestade mais forte já vista em terra firme - atingiu as Filipinas em novembro de 2013 deixando um rastro de morte e devastação por onde passou.

A outrora próspera indústria pesqueira das Filipinas foi dizimada; 20.000 famílias de pescadores foram afetadas. Muitos pescadores perderam seus barcos e dependem da ajuda alimentar para sobreviver. O tufão destruiu manguezais e recifes de corais, que são criadouros importantes para peixes e mariscos, e o volume das populações de peixes está substancialmente mais baixo do que era antes do tufão. Em um esforço para aumentar a quantidade de peixes que conseguem, um número crescente de pessoas se voltou para práticas ilegais, como a pesca com dinamite e o uso de redes finas, atividades que prejudicam ainda mais as populações de peixes.

Mario Waniwan (23) vive em Barangay Batang, no lado oriental de Samar e ganha a vida com a pesca e apanhando caranguejos da lama nos mangues.

“Não posso pescar, meu barco foi destruído e todo o meu equipamento de pesca de caranguejo foi perdido. Os manguezais foram totalmente devastados de modo que não há mais caranguejos. Vai levar de três a cinco anos até que os mangues voltem a se formar e possam ser ocupados por seres marinhos.

‘Eu sou casado e tenho um filho de 10 meses de idade, o Marvin. Nós comíamos três refeições por dia antes do tufão... Agora, não há mais peixe, não há carne, não há dinheiro. Não tenho outra renda, portanto, se a ajuda alimentar cessar, não teremos mais nada que nos ajude. Estou muito preocupado.”

A mudança do clima poderá tornar eventos climáticos extremos como o tufão Haiyan mais comuns no futuro.

Produção de alimentos

Em seu último relatório, publicado em 2007, o IPCC apresentou um quadro misto sobre os impactos das mudanças climáticas na produção agrícola global. O órgão dizia que os efeitos negativos em algumas partes do mundo poderiam ser compensados por efeitos positivos em outras.v Este ano a expectativa é de um alerta de que os impactos negativos superarão quaisquer efeitos positivos - com perspectivas de queda de 2% nas produções agrícolas globais por década. Essencialmente, essas quedas na produção ocorrerão em um contexto de manutenção da fome e de um rápido crescimento da população mundial, onde a demanda por alimentos deve crescer 14% por década.v

Os impactos das condições climáticas extremas sobre a produção e o consumo estão muito bem documentados. Por exemplo, inundações extremas no Paquistão em 2010, destruíram cerca de dois milhões de hectares de lavouras, mataram 40% do gado nas áreas afetadas e atrasaram o plantio das culturas de inverno, fazendo com que o preço de alimentos básicos, como arroz e trigo, disparasse.v Em consequência, cerca de 8 milhões de pessoas, relataram ter comido menos quantidade de alimentos e alimentos menos nutritivos por um longo tempo. Entretanto, não são apenas os eventos extremos das mudanças climáticas que ameaçam a segurança alimentar. Outras mudanças climáticas marginais, incluindo aparentes pequenos aumentos de temperatura e mudanças nos padrões de chuva, já têm grandes impactos na capacidade das pessoas de alimentar suas famílias.

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Mudança de estações e fome na América central

Milhões de pessoas pobres na América Central estão enfrentando a fome e a miséria, como resultado de mudanças nos padrões de chuvas e de temperaturas em elevação.

Na Guatemala, o volume total de chuva está aumentando, mas há significativamente menos chuva durante momentos críticos do ciclo das lavouras, e isso está se tornando um problema para as colheitas. Nos últimos dois anos, os pequenos produtores perderam 80% de suas colheitas de milho por causa da seca.

As altas temperaturas, combinadas com fortes chuvas e períodos de estiagem também têm dado origem à ferrugem , peste que já infectou 70% das plantações de café. Estima-se que pelo menos 22% da safra de café foi perdida durante 2013-14, e os pequenos agricultores estão entre os mais afetados. Trabalhadores agrícolas pobres foram muito atingidos - um número estimado de 200.000 empregos agrícolas temporários será perdido como resultado da ferrugem. A perda de lavouras e de empregos significa que as pessoas estão lutando mais ainda para alimentar suas famílias. Em 2013 houve uma diminuição estimada de 30% no consumo de milho e feijão - os alimentos básicos na Guatemala -, enquanto a incidência de desnutrição aguda aumentou 23% em 2013, depois de já ter subido quase 25% em 2012 em comparação com o ano anterior.

Preços dos alimentos

Outros resultados esperados no relatório do IPCC incluem preços mais altos e voláteis dos alimentos em consequência da mudança do clima.

No decorrer dos últimos seis anos houve três aumentos nos preços dos alimentos em âmbito global - 2008, 2010 e 2012, estreitamente relacionados com choques de fornecimento causados, em parte, por fatores ligados a eventos climáticos extremos. Pesquisas da Oxfam avaliam que os preços dos alimentos poderão dobrar até 2030, com metade dessa alta causada pelas mudanças climáticas.v Um estudo realizado pelo Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar revela magnitudes similares de aumentos de preços devido às alterações climáticas. O estudo estima que, como resultado deste aumento, a disponibilidade de calorias em 2050 será inferior a de 2000 em todo o mundo em desenvolvimento – colocando efetivamente a luta contra a fome de várias décadas, em cheque.v Eventos climáticos extremos provocarão aumentos de preços ainda maiores.v

A Oxfam e o Instituto de Estudos do Desenvolvimento documentaram o impacto do aumento e da volatilidade nos preços dos alimentos na vida das pessoas em 10 países em desenvolvimento. Descobrimos que as pessoas empregam uma série de estratégias para lidar com o problema, incluindo trabalhar por mais horas; cortes em alimentos mais caros e preferenciais - carne e peixe, particularmente alimentos ricos em proteínas - compram alimentos mais baratos e menos nutritivos; compram a granel para obter descontos; criam, colhem e processam seus próprios alimentos; compram pequenas quantidades para administrar os rendimentos diários; pedem empréstimos, mendigam, roubam, reduzem as porções, cortam refeições e passam fome.v

O aumento dos preços não é um problema apenas no mundo em desenvolvimento. O custo dos alimentos no Reino Unido aumentou em 30,5% nos últimos cinco anos e exacerbou outras pressões – tais como o desemprego, os baixos salários e a remoção de proteção social – o que tornou mais difícil às pessoas se alimentar. Esse quadro triplicou o uso de banco de alimentos em 2013.v

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Limiar para a adaptação

Já se veem os impactos das mudanças climáticas nos alimentos e na fome, e pode-se esperar consequências graves para a segurança alimentar de milhões de pessoas se as temperaturas globais subirem cerca de 1,5 graus centígrados, o limite de aquecimento apoiado por mais de 100 países pobres. Há expectativas de que o IPCC, em seu próximo relatório, ressalte o limite de temperatura global de três a quatro graus centígrados, além do qual haverá pouco o que possamos fazer para evitar graves prejuízos à produção de alimentos em muitas regiões do planeta. Acima deste limiar enfrentaríamos crises alimentares sem controle. Atualmente caminhamos no rumo certo para cruzar esse limiar na segunda metade do século XXI.

O MUNDO NÃO ESTÁ PREPARADO PARA OS IMPACTOS DO CLIMA NOS ALIMENTOS

A Oxfam avaliou até que ponto o nosso sistema alimentar global está preparado para os impactos das mudanças climáticas, analisando 10 áreas de políticas climáticas e alimentares nacionais e globais. Há muitos determinantes importantes da fome, incluindo níveis de renda, tendências demográficas e conflitos, que não estão incluídos nesta análise. Da mesma forma, a luta contra o impacto da mudança climática segurança alimentar, exigirá ações por meio de uma gama muito mais ampla de políticas e práticas do que apenas essas 10 áreas, na verdade, os efeitos das mudanças no clima devem ser integradas em todas as políticas relativas aos alimentos. Contudo, a experiência da Oxfam e a literatura acadêmica sugerem que essas 10 áreas terão grande influência sobre se os países estão aptos a se alimentar em um mundo em aquecimento.

Embora nossos resultados mostrem grande variedade na preparação entre e dentro dos países, o quadro global é de um sistema alimentar perigosamente despreparado para os impactos das mudanças climáticas. Isso indica que muitos países – ricos ou pobres – estão despreparados para os impactos do clima nos alimentos, mas são quase sempre os países mais pobres e com menos segurança alimentar os mais atrasados nessas áreas importantes da política e prática alimentares.

As 10 áreas fundamentais de políticas e práticas são descritas a seguir. A cada área atribuímos uma pontuação de um a dez para indicar a extensão da defasagem na adaptação da área.

Nova análise complementar da Oxfam demonstra que os países que atualmente passam por altos níveis de insegurança alimentar, também enfrentam o maior risco de impactos climáticos (veja gráfico abaixov). No entanto, também mostra que alguns países, como Gana, Vietnã e Malaui contrariam essa tendência - desfrutando de níveis muito mais elevados de segurança alimentar do que países como Nigéria, Laos e Níger, que têm níveis comparáveis de renda e enfrentam magnitudes comparáveis de risco relativas às alterações climáticas. A diferença fundamental é que Gana, Vietnã e Malaui já adotaram medidas em algumas das 10 principais áreas de políticas e práticas que destacamos. Esses exemplos, descritos em mais detalhes no quadro a seguir – ilustram que a fome ainda não é inevitável. Nas próximas duas décadas, o modo como os países se adaptam e se preparam para os impactos das mudanças climáticas sobre os alimentos e o nível em que os países mais pobres são apoiados para fazê-lo, determinará, em grande medida, onde e se as pessoas passarão fome .

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Insegurança alimentar e riscos da mudança climática

Contrariando a tendência

Os impactos das mudanças climáticas, que já estão confirmados, não tornam a fome inevitável se a ação correta for tomada - como ilustrado pelos países que parecem estar contrariando a tendência de insegurança alimentar frente aos riscos do clima.

• Gana e Nigéria são dois países de renda média baixa na África Ocidental que enfrentam níveis comparáveis de risco climático. No entanto, Gana constantemente supera a pontuação da Nigéria nas principais medidas alimentares e políticas de adaptação ao clima, inclusive muitas delas são avaliadas neste trabalho, como cobertura da proteção social, gastos públicos em P&D agrícolas e número de estações meteorológicas. Mesmo que muitos desafios ainda permaneçam, Gana desfruta de níveis muito mais elevados de segurança alimentar e está em melhores condições para enfrentar riscos climáticos crescentes.

• No Leste da Ásia, Vietnã e Laos são dois países de renda média baixa e enfrentam níveis comparáveis de risco climático. Embora o Vietnã se beneficie de terras cultiváveis de melhor qualidade e outras vantagens ecológicas, o país frequentemente supera a pontuação do Laos em medidas como proteção social, irrigação de lavouras e acesso à água potável, ajudando-o a conseguir segurança alimentar acima da média. O Laos enfrenta desafios de segurança alimentar piores do que a média.

• Malaui supera o desempenho da maioria dos outros países da África Subsaariana nos indicadores de segurança alimentar. Em comparação com o Níger, a pontuação de Malaui é superior em medidas importantes, como cobertura de proteção social, irrigação de lavouras, investimento público total na agricultura e gastos em pesquisa e desenvolvimento agrícolas.

Embora alguns países estejam adequadamente preparados para níveis cada vez mais altos de risco climático, esses países parecem mostrar que as políticas e medidas certas podem fazer diferença vital à segurança alimentar em um mundo em processo de aquecimento.

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DEFASAGEM EM 10 ÁREAS

Pontuação das defasagens

Para cada uma das 10 áreas, definimos indicadores de desempenho do que poderia ser um mundo preparado para enfrentar os impactos das mudanças climáticas nos alimentos. Em seguida, avaliamos dados relevantes em nível nacional ou global para determinar o quanto estamos caindo nos indicadores de desempenho em cada área e usamos uma escala de notas para converter isso em uma pontuação até 10. Por exemplo, na área de adaptação financeira, definimos os indicadores de desempenho como se os países com insegurança alimentar recebessem 100% das suas necessidades financeiras para adaptação ás mudanças climáticas. Essa pontuação é baseada em uma amostra de 40 países com insegurança alimentar. Foi calculado o valor médio que esses países receberam em financiamento para adaptação nos últimos anos e o valor médio estimado das necessidades de financiamento para adaptação no mesmo período. A pontuação final é a proporção média de financiamento recebido em comparação com a necessidade. Para obter mais detalhes sobre como cada pontuação foi calculada, veja o anexo.

1. Financiamento para a adaptação - pontuação: <1/10

Segundo a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), os países desenvolvidos se comprometeram a ajudar a adaptação dos países pobres às mudanças climáticas.

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International adaptation finance gap

International adaptation finance received under 'Fast Start Finance' (2010-12) (million USD)Rough estimate of total adaptation costs 2010-12 (million USD)

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Na reunião de cúpula de Copenhague, em 2009, os líderes mundiais prometeram fornecer U$$100 bilhões por ano até 2020 para ajudar os países pobres a se adaptarem às mudanças do clima e a reduzir suas emissões (mitigação). Também se comprometeram a fornecer US$ 30 bilhões em “Financiamento de Arranque Rápido” (Fast Start Finance), entre 2010 e 2012, distribuído entre adaptação e mitigação.

O Fast Start Finance não foi eficiente – iniciativas de adaptação receberam não mais que 20% de fundos prometidos, no máximo.v Entretanto, mesmo a aplicação de 50% dos recursos previstos, teria sido muito pouco para atender às necessidades estimadas para a promoção da adaptação dos paises pobres aos impactos das mudanças climáticas, calculadas em pelo menos US $ 100 bilhões por ano - esse valor equivale a somente 5% da riqueza dos 100 maiores milionários do mundo.v

A defasagem entre as verbas insignificantes fornecidas a cada país sob o Fast Start e uma estimativa conservadora das necessidades de adaptação nacionais são mostradas no gráfico. Os países considerados neste estudo receberam, em média, apenas 2% da estimativa de suas necessidades financeiras para a adaptação.v A qualidade do financiamento à adaptação também é um problema - por exemplo, muito pouco apoio à adaptação chega às mulheres produtoras de alimentos.

O esforço para cobrir o aumento dos custos de adaptação pode ser visto também nos países ricos, por exemplo, em recentes debates no Reino Unido sobre os gastos com medidas de defesa contra inundações.

Inundações no Reino Unido

No início de 2014, mais de 5.000 propriedades e milhares de hectares de terras agrícolas em toda a Inglaterra e no País de Gales ficaram submersos sob as enchentes após o inverno mais chuvoso desde o início desses registros, em 1776. As enchentes – que o Escritório de Meteorologia do Reino Unido supõe que estejam associadas às mudanças climáticas - provocaram uma tempestade política quanto aos gastos em medidas de defesa contra inundações em áreas rurais, em meio a alertas de que inundações extremas mais frequentes irão minar a segurança alimentar num país que já importa 30% do que consome. Segundo estimativas, 58% das terras inglesas mais produtivas encontram-se em uma planície aluvial.v

Liz Crew cultiva uma pequena propriedade de 12 acres nas planíces de Somerset - uma das áreas mais afetadas.

"Nós trabalhamos a vida inteira para formar nossa fazenda de gado e agora, a sensação de que o trabalho de uma vida toda pode ter sido em vão, é arrasadora. Não recebemos nenhuma indenização pela inundação em nossas terras ou pelo prejuízo financeiro porque nossa apólice de seguros só funciona se a casa estiver inabitável.”

“A agricultura do Reino Unido não está preparada. Os fazendeiros sabem que as enchentes são mais prováveis no primeiro trimestre do ano – por essa razão constroem seus estábulos em locais altos – portanto, não esperam que os estábulos sejam inundados.” ‘Precisamos reduzir as emissões. É preciso fazer adaptações. Meu receio é que os fazendeiros tenham que abandonar suas propriedades nas planíces de Somerset.”

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2. Proteção social – pontuação: 3/10

As pessoas mais pobres gastam a maior parte da sua renda em alimentos e são as mais atingidas quando a crise de alimentos se agrava.

Programas de proteção social – incluindo sistemas de merenda escolar, transferência de dinheiro e garantia de emprego – são uma forma comprovada de garantir acesso a alimentos, manter as crianças na escola e evitar que as pessoas tenham que vender seus bens básicos, como seu gado, para conseguir alimentos.

Exemplos incluem a iniciativa "Bolsa Família", no Brasil, e a Lei Nacional de Garantia de Emprego Rural, da Índia. A Lei Nacional de Garantia de Emprego Rural, da Índia, garante 100 dias de emprego por ano nos 200 distritos rurais mais pobres do país, em atividades que frequentemente ajudam a aumentar a resiliência do distrito ao impacto das alterações climáticas – por exemplo, fortalecendo aterros ou desassoreando canais de irrigação.v

Embora quase todos os países industrializados garanta que a maioria da sua população é coberta por algum tipo de proteção social, em âmbito global, apenas 20% das pessoas tem proteção social adequada.v Em muitos países pobres, como Zâmbia, Mali e Laos, a cobertura é inferior a 5%. Entretanto, a proteção social é notavelmente maior em países pobres que vem contrariando a tendência de insegurança alimentar e riscos climáticos, como por exemplo, Malaui, Gana e Vietnã onde sua abrangência da cobertura chega a 21%, 28% e 29% respectivamente.v

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Social protection gap

% population covered by social protection programmesEstimated average in developed countriesAverage in food insecure countries in sample

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3. Ajuda humanitária para crises alimentares - pontuação: 6/10

A ajuda humanitária é a última linha de defesa para pessoas que enfrentam a fome devido a impactos climáticos.

A cada ano a ONU apela por ajuda para assistir pessoas em emergências humanitárias. No decorrer da última década, foram concedidos em média, 66%dos fundos financeiros solicitados. No entanto, o custo da ajuda humanitária aumenta cada vez mais e a defasagem entre os fundos solicitados e os fundos comprometidos está em constante aumento - o déficit do financiamento humanitário anual quase triplicou desde 2001.v A mudança climática implica eventos climáticos cada vez mais extremos nos próximos anos, colocando peso ainda maior em um sistema já sobrecarregado.

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Humanitarian aid gap

Humanitarian aid provided (billion USD)

Humanitarian aid required (billion USD)

Funding shortfall (billion USD)

Linear (Humanitarian aid provided (billion USD))

Linear (Humanitarian aid required (billion USD))

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4. Estoques de alimentos - pontuação: 5/10

Os estoques de comida são uma reserva crucial contra a fome em caso de perda de colheitas e picos de preços de alimentos motivados por eventos climáticos extremos.

Mas nos últimos anos a proporção de estoques de alimentos para o consumo caiu a níveis muito baixos para os padrões históricos - a cada ano da última década, a relação de estoque para uso caiu abaixo da média de 25 anos, com os menores índices coincidindo com picos de preços de alimentos significativos em âmbito mundial, como em 2007-8.v Essa diminuição na proporção do estoque para uso deve-se em parte a choques de condições meteorológicas extremas na produção, desvio de culturas para atender à demanda por biocombustíveis e a falta de atenção dada à armazenagem pública e privada adequada. Para os países em desenvolvimento, o aumento dos preços dos alimentos levou-os a investir na criação de reservas de alimentos. Um mundo que enfrenta crescentes interrupções de produção e instabilidade nos preços de alimentos devido às mudanças climáticas precisa de reservas maiores do que tem atualmente. Uma maneira de resolver esse problema é os países em desenvolvimento construírem suas próprias reservas públicas locais, nacionais ou regionais. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 35 países liberaram estoques públicos durante a crise alimentar de 2007-2008.v Na Índia, uma grande compra de arroz e trigo, em 2008, possibilitou ao governo liberar no mercado estoques suficientes para estabilizar os preços e evitar que muitos milhares de pessoas passassem fome.v

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5. Discriminação de Gênero – pontuação: 5/10

As mulheres constituem 43% da força de trabalho dos países em desenvolvimento e exercem papel vital na produção e preparação dos alimentos no mundo.v Como resultado, o impacto das mudanças climáticas sobre a alimentação é sentida de forma especialmente severa pelas mulheres.

Sabemos que as adaptações realizadas levando em conta as mulheres resultam em melhoria da produção e mais segurança alimentar, bem como na redução da carga de trabalho para as mulheres e seus familiares. As mulheres do campo detêm uma riqueza de conhecimento sobre as sementes, plantas, água e manejo da terra, e estão bem posicionadas para desenvolver estratégias de adaptação à mudança climática e reduzir seus impactos sobre suas comunidades e meios de subsistência. As mulheres nos dão nossa melhor chance de produção suficiente de alimentos em um mundo em processo de aquecimento. Mas muitas coisas conspiram contra seus esforços para fazê-lo.

Por exemplo, menos de cinco por cento das mulheres na Ásia Ocidental e Norte da África possuem terra.v Dessa forma, elas não têm incentivo para investir em sua terra e não podem decidir como a terra será cultivada.v As mulheres também não têm acesso a informações de sistemas de alerta antecipado sobre condições climáticas extremas que possam afetar suas lavouras, rebanhos e às vezes até sua vida. Uma pesquisa sobre comunidades em 15 países em desenvolvimento descobriu que, em média, apenas 43% das mulheres receberam informações sobre eventos de condições climáticas extremas, porque essas informações costumam ser transmitidas de homens para homens em espaços públicos e raramente comunicadas ao resto da família.v

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Agricultural investment gap

Estimated expenditure on agriculture as % national budget

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Average expenditure in African country sample

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6. Investimento público na agricultura – pontuação: 7/10

Até 80% de pessoas com fome no mundo são pequenos produtores , cuja subsistência depende da agricultura e dos recursos naturais. Isso os torna especialmente vulneráveis aos impactos do clima.v Níveis adequados de investimento público na agricultura são vitais a fim de garantir que eles recebam o apoio necessário para construir a sua resistência.

A Ajuda Oficial ao Desenvolvimento para a agricultura foi reduzida nos últimos 30 anos, passando de aproximadamente 43% dos orçamentos nacionais na década de 1980, para cerca de 7% atualmente.v Em 2003, os líderes africanos comprometeram-se a aumentar seus gastos em agricultura para 10% dos seus orçamentos nacionais. Uma década depois apenas quatro, entre os 20 países incluídos neste estudo, cumprem essa meta.

Tão importante quanto isso é saber em que são gastos os orçamentos agrícolas. A grande quantidade de evidências sugere que investir em mulheres pequenas produtores, pesquisa e desenvolvimento, desenvolvimento rural e agrícola e na melhoria do acesso aos serviços de extensão, tais como capacitação e crédito, pode fazer uma diferença vital na luta contra a fome em um clima em mudança. Investimento privado responsável na adaptação agrícola também é fundamental. O setor privado, especialmente a indústria de alimentos e bebidas, deve garantir que os pequenos produtores em suas cadeias de suprimento recebem o apoio que necessitam para se adaptarem.

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Agricultural investment gap

Estimated expenditure on agriculture as % national budget

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Average expenditure in African country sample

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7. Pesquisa e desenvolvimento em agricultura - pontuação: 2/10

Investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) agrícolas é vital para a resiliência às alterações climáticas da agricultura.

A diversidade global das sementes diminuiu 75% nos últimos 100 anosv , privando as comunidades de variedades nativas que podem ser mais adequadas à mudança dos padrões climáticos locais. O desenvolvimento de novas sementes e a redescoberta de antigas variedades adaptadas às alterações das condições climáticas de crescimento é crucial.

Contudo, o investimento público em P&D agrícola fica muito aquém ao necessário, nos países mais carentes. Para cada US$ 100 gastos na produção agrícola, os países desenvolvidos gastam US$ 2,16 em P&D pública agrícola, enquanto os países em desenvolvimento gastam apenas US$ 0,55, em média. Países que vem desafiando a tendência alimentar e climática, como Malaui e Gana, estão investindo mais em pesquisa agrícola.v

Mas não é apenas uma questão de quanto dinheiro está disponível - é também sobre como é gasto. A P&D é mais eficaz em melhorar a segurança alimentar quando é realizada com a participação de pequenos produtores, incluindo mulheres, e quando aproveita o conhecimento tradicional para resolver problemas como a disseminação de pragas e doenças, a gestão da água e a conservação do solo ou a falta da diversidade de sementes.

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3.5Agricultural research gap

Research intensity ratio ($ spent per $100 agricultural GDP growth)

High income countries average

Average of food insecure developing countries sample

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8. Irrigação – pontuação: <1/10

Mais de 80% da agricultura mundial e 95% da agricultura africana são de sequeiro, e à mercê da mudança dos padrões de precipitações e intensidade das chuvas.v Em um mundo em aquecimento, onde as estações do ano são menos previsíveis, acesso à irrigação responsávelv é fundamental, especialmente em regiões quentes e secas.

Na Califórnia, que atualmente enfrenta a pior seca em mais de 100 anos, a irrigação cobre cerca de 80% das terras cultiváveis.v Contudo, grande parte da irrigação é dedicada à agricultura industrial de larga escala em áreas onde a água é escassa, drenando recursos hídricos em grandes áreas do oeste os EUA. Os países do sul da Europa são muito menos equipados para o clima mais quente e seco que temos pela frente, com apenas 16% de suas terras irrigadas. Contudo, é nos países africanos que se verificam as situações mais desfavoráveis - em Níger, Burkina Fasso e Chade, onde os agricultores enfrentam estiagens cíclicas, a irrigação cobre menos de um por cento das terras cultiváveis. De fato, a África enfrenta um déficit de irrigação significativo em comparação com os países asiáticos.v Em muitos países em desenvolvimento, a irrigação que existe é destinada a grandes fazendas industriais em detrimento da água da comunidade e irrigação em pequena escala. Além da irrigação de lavouras, outras deficiências na infraestrutura detêm muitos países na luta contra a fome em um mundo em processo de aquecimento, que inclui a falta de acesso à água potável (as mulheres na África subsaariana gastam coletivamente 40 bilhões de horas a cada ano colhendo águav), instalações de armazenamento para as colheitas e boas estradas para ligar os pequenos agricultores aos mercados.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Crop irrigation gap

% Agricultural area equipped for irrigationAverage of Asian food insecure country sampleAverage of African food insecure country sample

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Como tornar o Sahel verde: Uma lição em adaptação

Os agricultores da Califórnia e Austrália, que atualmente se esforçam para lidar com os impactos da seca extrema, podem aprender algumas lições úteis de abordagens inovadoras para a adaptação com seus colegas no Sahel, que é a região da África de transição entre o deserto do Saara e as terras mais férteis a sul. Ao longo das últimas três décadas, centenas de milhares de pequenos agricultores em Níger e Burkina Faso têm transformado grandes áreas de paisagem árida do Sahel em terras agrícolas produtivas – melhorando a segurança alimentar de 3 milhões de pessoas. Eles conseguiram essa façanha modificando de forma engenhosa a agrofloresta tradicional, o aproveitamento da água e práticas de manejo do solo. Por exemplo, em Burkina Faso agricultores semeiam culturas de sorgo e milheto em fendas com esterco forradas com pedras e cercadas por diques. As fendas concentram os nutrientes e a água exatamente onde eles são necessários, reduzem a erosão do solo durante a estação chuvosa e retém água por períodos mais longos, ajudando na sobrevivência das plantações nos períodos de estiagem.

Essas práticas simples e de baixo custo têm ajudado a recuperar entre 200.000 e 300.000 hectares de terras e a produzir um adicional de 80.000 toneladas de alimentos por ano.v

9. Seguro agrícola – pontuação: 2/10

O seguro pode fazer uma enorme diferença para a capacidade dos agricultores em lidar com os choques relativos à mudança climática, oferecendo uma indenização para cobrir perdas, melhorar a disponibilidade de crédito e assegurar uma renda mais regular. Na Bolívia, a Oxfam ajudou o governo a definir um sistema nacional de seguro agrícola para aumentar a resiliência dos pequenos produtores. Até agora, 60.000 pessoas acessaram o seguro agrícola e 90.000 hectares de lavora foram protegidos.

Contudo, a maioria dos agricultores do planeta não tem cobertura de seguro para a lavoura. Enquanto 91% dos agricultores nos EUA têm seguro agrícola, na Austrália a porcentagem é de 50%, na Índia 15%, 10% na China e apenas um por cento ou menos no Malaui e na maioria dos países de baixa renda.v As desigualdades na cobertura são ressaltadas, na esteira de eventos climáticos extremos, como o recente Supertufão Haiyan nas Filipinas e as secas de 2012 nos EUA e na Rússia. A tabela abaixo mostra a proporção do total de perdas de safras relatada em cada um dos eventos segurados pelos quais, em consequência, os agricultores foram indenizados.

Evento de condições atmosféricas extremas

Perda de safras ($m)

Perdas de safra assegurada (US$

milhões)

Parte do total de perda da safra assegurada (%)

Seca nos EUA em 2012v 20,000 15,000 75

Seca na Rússia em 2012v

600 170 28.33

Tufão Haiyanv 110 6.8 6.18

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Pagando pela seca nos EUA e na Rússia em 2012

A seca de 2012 na Rússia foi extremamente penosa para os agricultores. O governo pagou indenização, mas ou não foi suficiente ou chegou tarde demais. Além disso, alguns agricultores foram informados de que não tinham direito a receber nenhuma indenização. Em consequência, muitos faliram.v O governo russo tem planos de criar reservas financeiras adicionais – no valor de US $ 500 milhões - para enfrentar os impactos climáticos negativos sobre os agricultores e aumentar os subsídios para a agricultura familiar e os jovens agricultores.

“Afinal de contas as pessoas fazem seguro de carros e propriedades. Agricultores lidam com um negócio arriscado e eles, mais do que qualquer outra pessoa, precisam de algum tipo de garantia.”

Por outro lado,, na seca de 2012 nos EUA um total recorde de US$ 15 bilhões foi pago a agricultores, em sua maioria produtores de milho, soja e trigo.v As apólices de seguros são vendidas por empresas privadas, mas altamente subsidiadas pelos contribuintes, em até US$ 1,3 bilhão por ano.v Uma vez que o seguro é reconhecido como fundamental para a gestão de risco em um clima em mudança, os grandes grupos de commodities fizeram lobby com sucesso para obter subsídios mais elevados do governo em 2014, projeto de lei agrícola dos EUA. O projeto de lei aumenta significativamente os subsídios do seguro agrícola - quase eliminando o risco de grandes produtores de commodities, mas não está acessível para muitos outros agricultores.

PREVISÃO METEOROLÓGICA – PONTUAÇÃO: 3/10

Fornecer bons dados meteorológicos é uma forma importante de ajudar os agricultores a lidar com as mudanças climáticas. Na Tailândia e no Zimbábue, a Oxfam está investindo em projetos visando melhorar a previsão meteorológica para dar aos agricultores mais certeza sobre quando e o quê plantar e colher.

Ainda assim, a concentração de estações meteorológicas varia muito no mundo todo. Ironicamente, os países mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas sobre os alimentos, têm a menor concentração de estações meteorológicas.

Na Califórnia, há uma estação meteorológica a cada 2.000 km2, enquanto em Chade há apenas uma a cada 80.000 km2 – uma área com aproximadamente o tamanho da Áustria.v A distância potencial entre uma estação meteorológica do Chade é tão grande que as informações fornecidas podem ser para um tipo de clima completamente diferente do local onde está o agricultor. É como consultar as condições meteorológicas em Munique para decidir se deve usar um casaco em Roma.v

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LIMITES À ADAPTAÇÃO

Embora os governos tenham concordado em limitar o aquecimento global a dois graus centígrados, e mais de 100 dos países mais vulneráveis sustentem a necessidade de um limite de 1,5 grau centígrados, atualmente não temos maneira de cumprir nenhum deles. Talvez a defasagem mais grave que enfrentamos no combate à fome em um mundo em processo de aquecimento seja a diferença entre os níveis das emissões de gases de efeito estufa projetada para 2020 e os níveis necessários para manter a meta de 1,5 grau centigrado possível.v

Há expectativas de que no próximo relatório, o IPCC alerte que além de três a quatro graus centígrados de aquecimento, a produção de alimentos não será mais possível em grandes áreas do globo - mesmo com adaptação.v Se não forem tomadas medidas suficientes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o IPCC prevê que iremos alcançar esses níveis de temperatura na segunda metade deste século.v

Mesmo atualmente, já estão ocorrendo perdas e danos irreparáveis e inevitáveis em terras agrícolas e áreas pesqueiras. Por exemplo, mudanças nos padrões de precipitação pluviométrica, invasão de água salgada e perda de terra costeira devido a inundações já estão tendo impacto significativo sobre a agricultura nas ilhas do Pacífico. Em Kiribati, a comunidade de Tebunginako já foi forçada a se mudar em virtude da invasão das águas do mar. O peixe-leite que anteriormente alimentava todo o vilarejo há muito está extinto e lavouras importantes, como as de coco e inhame/cará, estão sendo contaminadas de modo irrecuperável pelo sal. Todo ano, os moradores do vilarejo precisam ir cada vez mais para o interior em busca de alimento fresco e água potável, mas com os 33 atóis e ilhas de coral de Kiribati a apenas dois metros acima do nível do mar, em média, não podem ir muito longe.v

A experiência de Kiribati é uma amostra do quanto pode piorar se as temperaturas continuarem a subir. Na Ásia, a elevação do nível do mar e a invasão de água salgada ameaçam a atividade agrícola em deltas importantes, podendo atingir cerca de 3,5 milhões a 5 milhões de pessoas. O Delta do Mekong no Vietnã, por exemplo, é responsável por cerca de 50% da produção agrícola do país e corre sério risco de invasão de água salgada. Estima-se que uma elevação de 30 cm. do nível do mar, que pode ocorrer em 2040, poderia resultar em perda de aproximadamente 12% da produção agrícola.v

A redução das chuvas e a elevação das temperaturas também estão diminuindo a capacidade dos agricultores de alimentar a família e fornecer alimentos para os mercados locais. Países como Djibuti, Somália e partes de Mali, Níger e Quênia já recebem menos de 290 mm de chuvas por ano. Isso está abaixo dos níveis suficientes para a agricultura de sequeiro sustentável e as colheitas já não estão acompanhando o ritmo de crescimento da população.v O IPCC estima que cerca de 75 milhões de hectares de terra atualmente adequada para a agricultura irrigada por água pluvial serão perdidos na África Subsaariana até 2080.v

Em todos os lugares, áreas de terras agrícolas de alta qualidade no Mediterrâneo, no sul da Europa e no Meio Oeste dos Estados Unidos também devem sofrer uma vez que temperaturas mais altas e secas tornam a atividade agrícola inviável.v

Está claro que se quisermos garantir que nós, nossos filhos e famílias no mundo todo tenham o suficiente para comer, haverá necessidade de reduções urgentes e ambiciosas de emissões juntamente com aumento maciço de apoio aos processos de adaptação.

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Atingindo os limites da adaptação no Zimbábue

O Distrito de Gutu no sudeste do Zimbábue sempre foi um lugar seco e empoeirado, mas nas últimas décadas, as chuvas irregulares tornaram-se ainda mais instáveis. Lavouras após lavouras secaram e se perderam e mais pessoas estão passando fome.

O projeto de irrigação de Ruti, comunidade no Distrito de Gutu, foi elaborado pela Oxfam, pelo governo local e pela comunidade para fornecer uma fonte de água alternativa segura. O projeto alocou 0,25 hectares de terra para cada uma das 270 famílias e deu-lhes acesso à água de irrigação em rotação. A água flui de uma represa próxima, a 3 quilômetros de distância, por um sistema de encanamento e canais para cada lote de terra. O sistema é movido a gravidade, o que mantém os custos baixos. Os resultados têm sido notáveis, as pessoas são capazes de semear e colher três lavouras por ano em vez de uma, a segurança alimentar e a nutrição melhoraram significativamente e a renda dos participantes mais pobres quase triplicou.

Ipaishe Masvingise, uma viúva de 49 anos, disse:

“Nossa terra era fértil e costumávamos ter boas colheitas, mas aí o clima mudou. A chuva é realmente irregular. Você trabalha e trabalha, mas não tem nenhum retorno se não tiver água.

‘Agora que temos lotes no esquema de irrigação, temos nova vida e colhemos muito mais. Voltamos a ser agricultores. Isso nos dá mais do que o necessário para comer, e posso vender os grãos para pagar impostos, contas médicas, ajudar na lavoura e até sustentar minha família mais distante que não tem sua própria terra.”

No entanto, há limites para o que a adaptação de projetos como esse pode alcançar em face de eventos climáticos extremos. A seca em 2013 foi tão grave que os níveis de água da represa caíram abaixo da capacidade de 25% e não havia pressão de água suficiente para alimentar de forma adequada o sistema de irrigação. A autoridade da água tomou a decisão de reservar a água que havia para as grandes propriedades de açúcar a jusante. A seca foi excepcionalmente seguida de chuvas torrenciais que encheram a barragem, mas também despencaram pedras sobre o gasoduto, quebrando-o e reduzindo mais uma vez a pressão da água.

COMO FAREMOS PARA IMPEDIR QUE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS CAUSEM FOME?

Apesar dos crescentes impactos das mudanças do clima, a fome pode ser evitada. A Oxfam conclama governos, empresas e pessoas do mundo todo a tomar as urgentes medidas a seguir para deter a mudança climática que leva às pessoas à fome.

Criar nas pessoas resiliência à fome e as mudanças climáticas

• Consagrar o direito legal a alimentos na legislação nacional e nas políticas das empresas.

• Proteger o acesso à alimentação para todos, resolvendo a defasagem na ajuda humanitária em situações de crise de alimentos, garantindo uma cobertura abrangente de programas de proteção social e reconstruindo estoques reguladores de alimentos.

• Apoiar os pequenos produtores de alimentos, aumentando o investimento público e privado, garantindo aos pequenos agricultores e, especialmente, às mulheres o acesso

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à terra, a água e as sementes, resolvendo crises de infraestrutura, como a irrigação e o armazenamento de colheitas, ampliando o seguro agrícola e reforçando a coleta e disseminação de dados sobre o tempo.

• Garantir que as políticas de adaptação nacionais são compatíveis com o direito à alimentação.

Reduzir as emissões de gases de efeito estufa

• Cobrar dos governos o compromisso com cortes justos e profundos nas emissões para que o aquecimento global fique abaixo de 1,5 grau centígrados .

• Cortar as emissões das cadeias de suprimento do setor de alimentos e bebidas.

• Eliminar o financiamento dos combustíveis fósseis e aplicar recursos em desenvolvimento de baixo carbono, e ampliar o acesso à energia renovável para as pessoas mais pobres.

Acordos internacionais seguros que combatam as mudanças climáticas e a fome.

• Aperfeiçoar esforços para alcançar um acordo justo, ambicioso e legalmente vinculado à mudança climática em 2015.

• Cumprir as promessas de concessão de financiamento de US$100 bilhões por ano para os países mais pobres até 2020 para questões do clima, com muito mais sendo aplicado em adaptação, e se preparar para novos compromissos após 2020.

• Apoiar a meta de fome zero até 2025 nas bases do pós 2015.

Assumir a iniciativa das ações

• Insistir para que governos e empresas tomem medidas para interromper as mudanças climáticas que levam as pessoas à fome, em www.oxfam.org/foodclimatejustice

• Fazer escolhas sobre o modo como vivemos, incluindo a redução de desperdício de alimentos, diminuindo o consumo de carne e comprando de empresas alimentícias responsáveis.

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ANEXO

Os dados brutos utilizados para pontuar as defasagens e informar os gráficos estão disponíveis para download em: http://oxf.am/iwb

Calculando as pontuações

Para cada área, definimos indicadores de desempenho do que poderia ser um mundo preparado para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Em seguida, foram avaliados dados relevantes de nível mundial ou nacional e comparados com essa referência de acordo com uma escala de notas para dar uma pontuação de 10. Quando os dados de nível nacional foram relevantes, tiramos a média de uma amostra dos países mais importantes dos quais existem dados disponíveis, usando o ano mais recente de dados disponíveis. Quando as amostras de países com insegurança alimentar são relevantes, definimos os países com insegurança alimentar nesse contexto específico, como países com pontuação acima de 20 no índice de alimentos da Oxfam. Quando os dados de nível mundial foram relevantes, tiramos a média dos dados globais no decorrer da última década. As metodologias específicas para cada área estão descritas abaixo.

1. Recursos financeiros para adaptação: Definimos os indicadores de desempenho de prontidão considerando o recebimento pelos países com insegurança alimentar de 100 de suas necessidades de recursos financeiros para adaptação dos países que fornecem recursos financeiros internacionais para adaptação. Para calcular a pontuação, tomamos a média de recursos financeiros para adaptação fornecidos a uma amostra de 40 países com insegurança alimentar e cujos dados estão disponíveis no ‘Fast Start Finance’, período de 2010-2012, como uma proporção da estimativa (conservadora) das necessidades de recursos financeiros de cada país. A escala de notas utilizada é: 10% das necessidades financeiras para adaptação fornecidos = 1/10; 20% das necessidades financeiras para adaptação fornecidos = 2/10 e assim por diante.

2. Proteção social: Definimos os indicadores de desempenho de prontidão considerando que os países com insegurança alimentar garantam uma cobertura 100% de proteção social à sua população. Para calcular a pontuação, tomamos a cobertura média de uma amostra de 35 países com insegurança alimentar cujos dados estão disponíveis. A escala de notas utilizada é: 10% de população coberta = 1/10; 20% de população coberta = 2/10 e assim por diante.

3. Ajuda humanitária em crises de alimento: definimos os indicadores de desempenho de prontidão considerando o fornecimento pela comunidade internacional de100% da ajuda humanitária necessária a cada ano. Para calcular a pontuação nessa área, tomamos a média de ajuda humanitária fornecida como uma proporção do nível necessário anualmente durante a última década. A escala de notas utilizada é: 10% das necessidades atendidas = 1/10; 20% das necessidades atendidas = 2/10 e assim por diante.

4. Estoques de alimentos: definimos os indicadores de desempenho de prontidão como a média de longo prazo de 25 anos da relação anual global de estoque para uso (24%). Para calcular a pontuação, pegamos a proporção média dos estoques para uso ao longo dos últimos 10 anos. A escala de notas utilizada é: 10-proporção média anual de estoque para uso de 18% (o nível mais baixo atingido durante a crise de preços dos alimentos de 2008) = 1/10; proporção de estoque para uso de 19% = 1.6/10; proporção de 20% = 3.3/10; proporção de 21% = 5/10 e assim por diante.

5. Desigualdade de gênero: Definimos os indicadores de desempenho de prontidão como uma pontuação que indica a igualdade de gênero perfeita no Índice de Desigualdade de Gênero do UNDP. Para calcular a pontuação, tomamos a cobertura média de uma amostra de 61 países em desenvolvimento com insegurança alimentar cujos dados estão disponíveis. A escala de notas utilizada é: a pontuação GII mais alta, que significa igualdade perfeita (ex. uma pontuação 0) = 10/10, pontuação de GII mais baixa (1) = 1/10 e assim por diante.

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6. Investimento agrícola: Definimos os indicadores de desempenho de prontidão como a meta estabelecida pelos governos africanos de gastar 10% do orçamento nacional na agricultura. Para calcular a pontuação, tomamos a proporção média dos orçamentos nacionais gastos na agricultura em 20 países africanos com insegurança alimentar cujos dados estão disponíveis. A escala de notas utilizada é: 1% do orçamento nacional gasto na agricultura = 1/10; 2% do orçamento nacional gasto na agricultura = 2/10 e assim por diante.

7. P&D na agricultura: Definimos os indicadores de desempenho de prontidão considerando a intensidade média de pesquisa do PIB agrícola nos países desenvolvidos (isto é, a quantidade de dinheiro gasto com P&D na agricultura de países desenvolvidos por unidade de PIB agrícola). Para calcular a pontuação, tomamos a intensidade média de pesquisa em uma amostra de 28 países em desenvolvimento com insegurança alimentar cujos dados estão disponíveis como uma proporção da intensidade média de pesquisa em países de alta renda. A escala de notas utilizada é: 10% da renda média alta = 1/10; 20% da renda média alta = 2/10 e assim por diante.

8. Irrigação de lavouras: Definimos os indicadores de desempenho de prontidão considerando a cobertura média de irrigação em 16 países asiáticos com insegurança alimentar, cujos dados estão disponíveis, uma vez que a Ásia tem a maior cobertura de irrigação do mundo. Para calcular a pontuação, tomamos a cobertura média de uma amostra de 33 países africanos com insegurança alimentar, cujos dados estão disponíveis, como uma proporção dos indicadores de desempenho dos países asiáticos. A escala de notas utilizada é: 10% da média asiática = 1/10; 20% da média asiática = 2/10 e assim por diante.

9. Seguro de safras: Definimos os indicadores de desempenho de prontidão considerando a proporção média de agricultores com seguro nos países desenvolvidos. Para calcular a pontuação, tomamos a proporção média de agricultores com seguro em países em desenvolvimento, cujos dados estão disponíveis, como uma proporção da proporção média de agricultores com seguro nos países desenvolvidos. A escala de notas utilizada é: 10% dos indicadores de desempenho dos países desenvolvidos = 1/10; 20% dos indicadores de desempenho dos países desenvolvidos = 2/10 e assim por diante. 10. Monitoramento meteorológico: Definimos os indicadores de desempenho de prontidão considerando a distância média entre as estações meteorológicas em países desenvolvidos. Para calcular a pontuação, tomamos a distância média entre as estações meteorológicas em uma amostra de 31 países em desenvolvimento om insegurança alimentar, cujos dados estão disponíveis, e comparamos com a distância média entre estações meteorológicas em uma amostra de 5 países desenvolvidos. Dividimos um por cada média (já que quanto menor a distância entre estações meteorológicas, melhor), e calculamos o resultado para os países em desenvolvimento como proporção do resultado para os países desenvolvidos. A escala de notas utilizada é: 10% dos indicadores de desempenho dos países desenvolvidos = 1/10; 20% dos indicadores de desempenho dos países desenvolvidos = 2/10 e assim por diante.

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NOTAS v http://www.ifpri.org/sites/default/files/publications/pr21.pdf Dados sobre população dos EUA e Canadá com idade inferior a 5 anos, em, http://www.unicef.org/statistics/index_24183.html v http://www.theguardian.com/world/2014/feb/25/brazil-drought-threatens-coffee-crops v New York Times, 01/02/2014, http://www.nytimes.com/2014/02/02/us/severe-drought-has-us-west-fearing-worst.html?action=click&module=Search&region=searchResults%230&version=&url=http%3A%2F%2Fquery.nytimes.com%2Fsearch%2Fsitesearch%2F%3Faction%3Dclick%26region%3DMasthead%26pgtype%3DHomepage%26module%3DSearchSubmit%26contentCollection%3DHomepage%26t%3Dqry426%23%2F500+drought+california ou 13/02/2014, http://www.nytimes.com/2014/02/14/us/california-seeing-brown-where-green-used-to-be.html?action=click&module=Search&region=searchResults%230&version=&url=http%3A%2F%2Fquery.nytimes.com%2Fsearch%2Fsitesearch%2F%3Faction%3Dclick%26region%3DMasthead%26pgtype%3DHomepage%26module%3DSearchSubmit%26contentCollection%3DHomepage%26t%3Dqry426%23%2F500+drought+california

v Serviço de Meteorologia da Australia. v Guardian, 07/11/2013, http://www.theguardian.com/environment/world-on-a-plate/2013/nov/07/climate-change-environment-food-security-ipcc-emissions-united-nations-global-warming v IPCC, n.d. ‘De modo global, o potencial para produção de alimentos está projetado para aumentar com o aumento da temperatura média local com uma variação em torno de 1–3°C, mas acima disso está projetada para abaixar.’ http://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg2/en/spmsspm-c-3-food-fibre.html AR5, estimam-se impactos negativos na produção das principais lavouras em regiões tropicais e temperadas, com impactos médios prováveis de 0-2% por década a partir dos anos 2030 em diante. v Atraso (07/11/2013), op. cit. v http://www.oxfam.org/en/pressroom/pressrelease/2010-11-11/oxfam-blasts-third-talk-fest-pakistan-seven-million-without-shelter v R. Bailey (2011) ‘Growing a Better Future: Justiça alimentar em um mundo de recursos limitados’, Oxfam, maio de 2011, http://www.oxfam.org/en/grow/reports/growing-better-future v http://www.ifpri.org/sites/default/files/publications/pr21.pdf v Condições atmosféricas extremas, preços extremos: O preço de alimentar um mundo em processo de aquecimento, Oxfam, setembro de 2012, http://policy-practice.oxfam.org.uk/publications/extreme-weather-extreme-prices-the-costs-of-feeding-a-warming-world-241131 v Encolhendo: Vivendo com preços de alimentos voláteis, Oxfam, 2013 http://policy-practice.oxfam.org.uk/blog/2013/05/squeezed-living-with-volatile-food-prices v Tripling in foodbank usage sparks Trussell Trust to call for an inquiry, Trussell Trust, 16/10/2013, http://www.trusselltrust.org/foodbank-numbers-triple v O gráfico mostra a correlação entre Good Enough To Eat Index, da Oxfam (http://www.oxfam.org/en/grow/pressroom/pressrelease/2014-01-15/dutch-beat-french-and-swiss-top-oxfams-new-global-food-table) e o Centre for Global Development’s clima Vulnerability Index (http://www.cgdev.org/publication/quantifying-vulnerability-climate-change-implications-adaptation-assistance-working). Para os primeiros, temos usado os indicadores de disponibilidade de alimentos, acessibilidade e qualidade, uma vez que os indicadores para uma alimentação saudável não estão ligados à mudança climática Para este último, usamos os indicadores dos controladores do clima, que compreendem riscos dos países a desastres relacionados ao clima, aumento do nível do mar e redução da produtividade agrícola. São previstos riscos decorrentes de mundanças extremas nas condições atmosféricas no período de 2008 a 2015, e riscos associados com tempestades e prejuízos com perdas de produtividade agrícola de 2008-2050.

China e Índia aparecem como valores atípicos no gráfico, em grande parte por causa de suas grandes populações e áreas. As três variáveis de risco de clima são reescalonadas individualmente e ponderadas pelo tamanho do grupo em relação à população nacional. Como a China e a Índia têm grandes populações totais relativas às suas populações costeiras e rurais, o indicador de condições atmosféricas extremas assume uma parcela maior de seus pontos, e nesse indicador, China e Índia estão em primeiro e segundo lugar, respectivamente - em grande parte porque cobrem grande área de terra e, consequentemente, ficam cada vez mais expostas a vários eventos climáticos. v http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/oxfam-media-advisory-climate-fiscal-cliff-doha-25nov2012.pdf v A riqueza dos 100 bilionários mais ricos equivale a aproximadamente US$2.1 trilhões, http://www.bloomberg.com/news/2013-11-05/world-s-richest-add-200-billion-as-global-markets-surge.html v Ver anexo técnico. v http://www.theguardian.com/environment/2014/feb/08/severe-floods-threaten-food-security-climate-change v Social protection for food security, CFS, June 2012, http://www.fao.org/fileadmin/user_upload/hlpe/hlpe_documents/HLPE_Reports/HLPE-Report-4-Social_protection_for_food_security-June_2012.pdf v http://www.ilo.org/global/about-the-ilo/decent-work-agenda/social-protection/lang--en/index.htm v Ver anexo técnico. v Ver anexo técnico.

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v Ver anexo técnico. v http://www.iatp.org/files/2012_07_13_IATP_GrainReservesReader.pdf v http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/bn-preparing-thin-cows-food-reserves-210611-en.pdf v http://www.fao.org/docrep/013/am307e/am307e00.pdf v http://www.fao.org/gender/landrights/home/en/ v The State of Food and Agriculture 2010-2011 (SOFA), FAO, 2011, http://www.fao.org/docrep/013/i2050e/i2050e.pdf v CGIAR, dados de Pesquisa de Mudança Climática, Agricultura e Previsão de Segurança Alimentar em, http://ccafs.cgiar.org/resources/baseline-surveys#.UybqoVFdVwU and IFAD (Investing in Rural People). “A vantagem de gênero”. http://www.ifad.org/climate/resources/advantage/gender.pdf / v FAO calculates that around half of the world's hungry people are from smallholder farming communities, surviving off marginal lands prone to natural disasters like drought or flood. Outros 20% pertencem a famílias de sem-terra dependentes da agricultura e cerca de 10% vive em comunidades cuja subsistência depende de pastoreio, pesca ou recursos florestais. http://www.wfp.org/hunger/who-are v http://www.wider.unu.edu/stc/repec/pdfs/wp2013/WP2013-014.pdf v http://www.fao.org/docrep/007/y5609e/y5609e02.htm v See technical annex. v http://www.fao.org/ag/save-and-grow/en/5/index.html v Irrigação sustentável, responsável inclui gestão de recursos sustentáveis e práticas agrícolas que respeitem o meio ambiente e os recursos hídricos. v http://home.windstream.net/bsundquist1/ir3.html v See technical annex. v http://www.undp.org/content/undp/en/home/librarypage/hdr/human-development-report-2006/ v http://www.ifpri.org/sites/default/files/publications/oc64ch07.pdf v Ver anexo técnico. v http://www.artemis.bm/blog/2013/03/14/drought-will-become-one-of-the-most-destructive-natural-catastrophes-munich-re/ v http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/cs-russia-drought-adaptation-270913-en.pdf NB figures given are for government compensation rather than private insurance pay-outs. Em 2010, a Rússia assegurava apenas 13% das suas terras cultiváveis (8 milhões de hectares de um total de 63 milhões). Atualmente, o governo russo está propondo aumentar esse número para 40% em 2012: http://www.mapfre.com/mapfrere/docs/html/revistas/trebol/n61/pdf/Articulo2-en.pdf v Danos às culturas: http://www.fao.org/giews/english/shortnews/Philippines_11_2013.pdf e as perdas seguradas: http://www.businessinsurance.com/article/20131216/NEWS09/131219897 v http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/cs-russia-drought-adaptation-270913-en.pdf v http://www.bloomberg.com/news/2013-01-25/munich-re-says-world-crop-insurance-costs-top-record-on-drought.html v http://www.businessweek.com/ap/2012-09-13/crop-insurance-losses-begin-to-mount-amid-drought v See technical annex. v http://www.freemaptools.com/area-calculator.htm v http://www.unep.org/pdf/UNEPEmissionsGapReport2013.pdf v Abaixe o calor: Porque um mundo com aquecimento de 40ºC deve ser evitado, Banco Mundial, novembro de 2012, http://climatechange.worldbank.org/sites/default/files/Turn_Down_the_heat_Why_a_4_degree_centrigrade_warmer_world_must_be_avoided.pdf v http://www.climatechange2013.org/images/report/WG1AR5_SPM_FINAL.pdf v http://www.climate.gov.ki/ v http://www-wds.worldbank.org/external/default/WDSContentServer/WDSP/IB/2013/06/14/000333037_20130614104709/Rendered/PDF/784220WP0Engli0D0CONF0to0June019090.pdf v R. Bailey (2013), Managing Famine Risk: Vinculando um alerta antecipado à uma ação rápida, relatório da Chatham House, Londres: Instituto Royal de Assuntos Internacionais. v Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (2011), Mudanças Climáticas, Água e Segurança Alimentar, Roma: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, p.3 v http://www.int-res.com/articles/cr_oa/c044p083.pdf ;http://www.ucsusa.org/assets/documents/global_warming/climate-change-minnesota.pdf

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