Um Inédito de Agostinho Da Silva

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Um inédito de Agostinho da Silva: "Ide, portugueses, ide! Afrontai as tempestades, os ventos sibilantes. Segue-vos num olhar de ansiedade e de ternura a Alma Portuguesa; assim Ela outrora olhava os seus nautas destemidos que cortando o mar descobriram a Índia e o Brasil. Tombastes, águias lusitanas! É o Adamastor do ar, fremente de raiva e de desespero que vos corta a passagem. Mas as caravelas do Gama não temeram os rugidos do gigante que se torcia em paroxismos de furor, não recearam as suas profecias horrendas, porque sabiam que a Cruz de Cristo que lhe esmaltava as velas e lutava com temporais no tope dos mastros os protegia. Heróis, avante!, que Nun’Álvares ergue-se do seu tumulto e vai orar por vós na magnificência rendilhada da Batalha; avante! que D. Henrique no cimo dos rochedos de Sagres olha-vos, como dantes, para procurar nas curvas do horizonte as asas brancas da nau de Gil Eanes. Duarte Pacheco e Afonso de Albuquerque, Bartolomeu D ias e Gonçalo Velho vêm vibrar em vós a Alma de Portugal, a Alma que palpitou em Cochim, em Ormuz, no Cabo da Boa Esperança. Camões apara a pena, a velha pena das iluminuras dos «Lusíadas» -, o livro de Horas da Pátria Portuguesa; e em letras de ouro escreve a «Epopeia do Ar». Das campinas verdes do Minho aos campos quentes do Algarve, das serranias da Beira aos fios de água da Veneza lusitana um frémito de patriotismo percorre o povo português e eleva-se aos ares azuis, os ares que agora sulcais, a voz de Portugal. - Salve, Heróis! Obrigado, gigantes!" 2 Junho 1922 [datação manuscrita], “Águias”, O Comércio do Porto, Porto, Ano LXVIII, n.º 129, 2 de Junho de 1922, p. 1 (Victor Alberto, pseudónimo de Agostinho da Silva) João das Regras

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Um inédito de Agostinho da Silva: "Ide, portugueses, ide! Afrontai as tempestades, os ventos sibilantes. Segue-vos num olhar de ansiedade e de ternura a Alma Portuguesa; assim Ela outrora olhava os seus nautas destemidos que cortando o mar descobriram a Índia e o Brasil. Tombastes, águias lusitanas! É o Adamastor do ar, fremente de raiva e de desespero que vos corta a passagem. Mas as caravelas do Gama não temeram os rugidos do gigante que se torcia em paroxismos de furor, não recearam as suas profecias horrendas, porque sabiam que a Cruz de Cristo que lhe esmaltava as velas e lutava com temporais no tope dos mastros os protegia. Heróis, avante!, que Nun’Álvares ergue-se do seu tumulto e vai orar por vós na magnificência rendilhada da Batalha; avante! que D. Henrique no cimo dos rochedos de Sagres olha-vos, como dantes, para procurar nas curvas do horizonte as asas brancas da nau de Gil Eanes.Duarte Pacheco e Afonso de Albuquerque, Bartolomeu Dias e Gonçalo Velho vêm vibrar em vós a Alma de Portugal, a Alma que palpitou em Cochim, em Ormuz, no Cabo da Boa Esperança. Camões apara a pena, a velha pena das iluminuras dos «Lusíadas» -, o livro de Horas da Pátria Portuguesa; e em letras de ouro escreve a «Epopeia do Ar».Das campinas verdes do Minho aos campos quentes do Algarve, das serranias da Beira aos fios de água da Veneza lusitana um frémito de patriotismo percorre o povo português e eleva-se aos ares azuis, os ares que agora sulcais, a voz de Portugal. - Salve, Heróis! Obrigado, gigantes!" 2 Junho 1922 [datação manuscrita], “Águias”, O Comércio do Porto, Porto, Ano LXVIII, n.º 129, 2 de Junho de 1922, p. 1 (Victor Alberto, pseudónimo de Agostinho da Silva)João das Regras