Um consultório muito diferenciado

4

Click here to load reader

description

Saiba por que a onda da sustentabilidade atingiu a sociedade com tanta força e como você pode fazer do seu consultório um parceiro do meio ambiente.

Transcript of Um consultório muito diferenciado

Page 1: Um consultório muito diferenciado

34

Médico S/A

Antes de o novo milênio completar uma década o alarme soou e o que parecia roteiro de filme catástrofe se tornava realidade. Geleiras - que se acreditavam

eternas no topo do monte Kilimanjaro -, na Tanzânia, derretiam e o efeito estufa, colaborador do surgimento da vida na Terra, foi transformado em inimigo público.Em 1972, já preocupada, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou em Estocolmo, Suécia, a primeira Conferência sobre Ambiente Humano das Nações Unidas e produziu uma declaração com 26 princípios e desenvolvimento. Era dada a largada para a evolução do conceito de sustentabilidade que representa um desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer o atendimento às populações futuras.Mesmo “quarentão”, porém, o tema ainda precisa ser muito discutido, especialmente no Brasil, diz o professor de arquitetura da Faculdade de Belas Artes, Rodrigo Mindlim Loeb. A discussão pode, inclusive, se transformar em tema de exposição, como foi o caso da edição 2009 da Casa Cor. Realizada anualmente em diversas cidades brasileiras e considerada a maior mostra de arquitetura, decoração, design e paisagismo na América Latina, esta edição decidiu discutir a sustentabilidade, contando com vários ambientes com essa característica. Em São Paulo, a organização instalou uma sala de espera de

um consultório médico sustentável. Patrocinado pela Lincx e projetado pela C+A Arquitetura e Interiores, o ambiente tem 38m² e conta com móveis de MDF, um aglomerado de madeira certificado. A proposta é inovadora para as empresas, afinal foi a estreia delas na mostra. Além disso, é a primeira vez que a Casa

Consultório sustentávelSaiba por que a onda da sustentabilidade atingiu a sociedade com tanta força e como você pode fazer do seu consultório um parceiro do meio ambiente

Thiago Bento

Page 2: Um consultório muito diferenciado

35

Cor tem uma área totalmente projetada por um plano de saúde para a alegria do presidente da Lincx, Silvio Corrêa da Fonseca.Habituadas a projetar ambientes de saúde, as arquitetas responsáveis pela instalação, Ana Carolina Tabach e Ana Paula Perez comentam que o conceito do consultório foi demonstrar

que esses locais não precisam ser frios. “Escolhemos o amarelo por ser uma cor vibrante e acolhedora”, explica Ana Paula. A tonalidade também contribui na iluminação do local, elemento arquitetônico essencial, segundo elas.“Trabalhamos com diferentes lâmpadas, misturando o branco e o

Sobed - No 5 - Abr/Jun - 2009

Sala de espera do consultório sustentável patrocinado pela LINCX na Casa Cor

Page 3: Um consultório muito diferenciado

36

Médico S/A

amarelo criando vários cenários para valorizar o espaço”, explica Ana Paula. A iluminação, aliás, também ajudou na economia de energia. As arquitetas comentam que optaram por tipos específicos de quadro elétrico e fontes de luz para diminuir os gastos.Opções para isso, teoricamente, não faltam. O conselho de nossas avós de não acender as luzes durante o dia continua valendo, assim como cores claras nas paredes e teto, pois elas refletem melhor a iluminação natural que vem através das janelas. Quanto a isso, entretanto, Loeb alerta para cuidados como a utilização excessiva de vidros. “É preciso atenção, do contrário, criamos uma estufa”, explica.

ProjetosNo ano passado, Loeb, participou da Casa Aqua, um protótipo em escala real de uma construção sustentável. O projeto resultou de uma iniciativa conjunta da Missão Econômica da França no Brasil, do departamento de certificação da Fundação Carlos Alberto Vanzolini, da Inovatech Engenharia e da Reed Exhibitions. Seu objetivo era divulgar soluções de sustentabilidade de alto, médio e baixo custo, além de promover a internacionalização de práticas sustentáveis, a certificação e o reconhecimento de empreendimentos de alta qualidade ambiental e a construção sustentável.Segundo Ana Carolina, projetos sustentáveis já devem nascer assim: com estudos de melhor aproveitamento da insolação e soluções para economizar energia. “Não adianta querer transformar depois de tudo pronto”, enfatiza. Ela explica ainda

que muitos itens são definidos durante o planejamento, “Tudo é pensado para não agredir o meio ambiente”, lembra a arquiteta.O maior desafio no projeto de ambientes de saúde, porém, é especificar materiais que atendam os pré-requisitos de sustentabilidade e continuem dentro das normas do Ministério da Saúde, direcionadas à assepsia dos ambientes e à segurança dos pacientes (como os móveis arredondados da Casa Cor - veja foto). Além de checar a origem dos materiais com os fornecedores, Ana Carolina afirma ser essencial analisar se há desperdício de materiais e recursos naturais, o que encarece a obra. Preço, aliás, é um fator importante a ser considerado durante uma construção sustentável. Segundo as arquitetas, os valores desses edifícios podem chegar em média a cinco ou 10% a mais do que os normais. O resultado positivo vem em longo prazo, pois, além da responsabilidade sócioambiental do local, sua manutenção costuma demorar mais, o que acaba por “baratear” os custos.Para quem se interessou pela proposta, seja pelo bem da saúde do planeta ou de seu bolso, Ana Carolina alerta que os critérios de sustentabilidade em construções vão além de janelas grandes e cores claras e estão muito bem definidas. “Um bom parâmetro no mercado é a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) emitida pelo GBC Brasil (Green Building Council)”, explica.O teste para consegui-lo é rigoroso e envolve seis pré-requisitos: reaproveitamento de energia; uso eficiente da água; manutenção da biodiversidade local, como árvores típicas; infraestrutura suficiente para evitar o uso excessivo de automóvel; utilização de materiais ecologicamente corretos na construção e garantia de um ambiente interno saudável.

Ferramentas do escritório sustentávelA sustentabilidade abriu portas para a produção de tecnologias híbridas compostas por peças eletrônicas e ecológicas. A

“Não adianta querer transformar um ambiente em

sustentável depois de tudo pronto”

CASA CORUm dos critérios para a escolha dos profissionais desta edição da Mostra foi buscar especialistas que pudes-sem transmitir o tema Sustentabilidade. Eles foram incentivados a aplicar em seus ambientes, por meio de produto, mobiliários ou mesmo todo o projeto algo que conscientizasse os visitantes.Para saber quando a Mostra estará na sua cidade acesse: www.casacor.com.br e clique no link “Onde/Quando”.

Page 4: Um consultório muito diferenciado

fabricante de computadores taiwanesa Asus, por exemplo, lançou recentemente o Eco Book, um laptop revestido com tiras de bambu. Mas tão importante quanto à ferramenta, é como a utilizamos. Afinal, de nada adianta a peça ser sustentável se os sites que visitamos, por exemplo, não são.Uma solução para isso é o Blackle (www.blackle.com), dedicado às buscas na Internet semelhante ao Google, porém de cor preta. A diferença vai além da estética. Quando o monitor está todo branco, como em uma página do Word, o computador consome aproximadamente 74 watts, mas todo preto, utiliza cerca de 60 watts. Em uma conta rápida isso representa uma economia de 750 megawatts/hora por ano.Mesmo com todas essas vantagens ainda há o detalhe das impressões. Como ser sustentável utilizando papel? Existem duas opções; primeiro utilize folhas recicladas e segundo, talvez um pouco mais difícil, tenha em mãos a RITI Coffee Printer,

uma impressora que utiliza borra de café ou chá em vez de tinta e que não precisa de tomada, funcionando com energia elétrica vinda de um gerador. Entretanto, é preciso certa paciência. Primeiro porque nem o laptop nem a impressora estão disponíveis no Brasil. Segundo, porque mesmo que tivéssemos apenas o último item da lista, a energia serve somente para puxar o papel, o movimento com o toner deve ser realizado manualmente.

Sobed - No 5 - Abr/Jun - 2009