um Concelhos perigo mais vigilância · Texto AMADEU ARAÚJO e CARLA TOMÁS Foto RUI DUARTE SILVA e...

3
INCÊNDIOS Prevenção Nos municípios onde há mais probabilidade de haver um grande incêndio faz-se o trabalho de casa Concelhos em perigo pedem mais vigilância Os 20 concelhos sinalizados como de maior risco têm todos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios. Mas em Portugal, ainda 40 municípios que não os têm, entre os quais Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Coimbra, Aveiro e Pombal

Transcript of um Concelhos perigo mais vigilância · Texto AMADEU ARAÚJO e CARLA TOMÁS Foto RUI DUARTE SILVA e...

Page 1: um Concelhos perigo mais vigilância · Texto AMADEU ARAÚJO e CARLA TOMÁS Foto RUI DUARTE SILVA e cada um dos cem mil pinheiros dos baldios das Terras de Aquilino brotam 40 cêntimos

INCÊNDIOSPrevenção Nos municípios onde há mais probabilidadede haver um grande incêndio faz-se o trabalho de casa

Concelhosem perigopedem maisvigilância

Os 20 concelhos sinalizadoscomo de maior risco têm todosplanos municipais de defesada floresta contra incêndios.Mas em Portugal, ainda há 40municípios que não os têm,entre os quais Pedrógão Grande,Castanheira de Pêra, Coimbra,Aveiro e Pombal

Page 2: um Concelhos perigo mais vigilância · Texto AMADEU ARAÚJO e CARLA TOMÁS Foto RUI DUARTE SILVA e cada um dos cem mil pinheiros dos baldios das Terras de Aquilino brotam 40 cêntimos

Texto AMADEU ARAÚJOe CARLA TOMÁS

Foto RUI DUARTE SILVA

e cada um dos cemmil pinheiros dosbaldios das Terras de

Aquilino brotam 40cêntimos de resinapor ano, riqueza queé reinvestida na flo-

ã resta. Em Moimentada Beira, os estradões

que travam as chamas são em calçadade granito e as matas estão limpas. Hávida e rendimento em todo o períme-tro. Nos últimos dois anos, o municípioinvestiu um milhão de euros em pre-venção florestal, os bombeiros gasta-ram meio milhão em viaturas e há 78voluntários e 19 profissionais nos bom-beiros, a que se juntam duas equipas de

sapadores florestais. Os investimentos

começaram logo após os grandes fo-

gos de 2013 e desde então as igniçõessão residuais, 57 incêndios por anoem média e área ardida inferior a 100hectares. Mas conhecem-se os riscos e

pede-se pré-posicionamento de meios emais fiscalização.

Segundo a carta de risco elaborada

por investigadores da Universidadede Lisboa — cruzando informação doCentro de Estudos Florestais (CEF/ISA), Centro de Estatística e Aplicaçõese do Instituto Dom Luiz — a Moimentada Beira ocupa o décimo lugar entreos 20 concelhos do país (ver caixa) queenfrentam uma maior probabilidadede vir a sofrer um grande incêndio em2018. José Eduardo Ferreira, o socia-lista que preside à Câmara, não escon-de o espanto "tendo em conta que os

dados do Instituto da Conservação daNatureza e Florestas revelam uma me-nor perigosidade" e que "o estudo nãoteve em conta os investimentos feitos".E apela: "Se é este o risco, queremosaqui o pré-posicionamento de meios",criticando o facto de os helicópterosde combate a incêndios estarem a 15

quilómetros, em Armamar e Meda; e

os aviões em Viseu, a 30.No terreno, Eduardo Seixas, diretor

do gabinete técnico florestal, apontaas conquistas. "Há charcas de água, arede primária foi alargada, duas equi-pas de sapadores florestais garantemvigilância armada e tudo está limpo."A limpeza dos terrenos custou caro.

"Em cada hectare foram abatidas 80árvores", o que significa "rentabilidadetirada à floresta", lamenta o autarcaque está contra a transferência "de ver-bas da agricultura para a floresta". JoséEduardo Ferreira lembra que "a gestãoflorestal precisa dos mosaicos agrícolaspara impedir a progressão dos fogos e

se nós desviamos verbas da agricultu-ra para a floresta estamos a permitira desertificação". O concelho vive da

maçã (metade da que o país consome)e das vinhas. "O interior precisa das

pessoas e isso só se faz com agriculturaporque se não tivermos rendimento só

aumentamos a desertificação. A flores-ta não é inimiga, nem do país nem da

agricultura, e é preciso que se percebaque desviando dinheiro para a florestapodemos perder a lavoura", reforça.Atentos aos sinais de fumoGilberto Ramos, presidente dos Baldiosdas Terras de Aquilino concorda. "Osnossos 700 hectares de floresta rendem40 mil euros por ano e empregam sazo-nalmente 50 pessoas." Neste baldio, háuma carrinha com um tanque de águae um trator para combater as chamas."Todos sabem onde estão as chaves e

em caso de fogo o primeiro a chegarvai proteger a floresta." O problema,retoma o autarca, "é a falta de vigilân-cia". José Requeijo, comandante dosbombeiros exemplifica: "Nos Borra-lhais, em Vila Nova de Paiva, tivemos27 incêndios o ano passado. Ninguémpatrulhou e no último incêndio arde-ram 500 hectares", alerta. Havendosensibilização e resposta inicial prepa-rada, o problema é a vigilância GilbertoRamos já garantiu que uma das equipasde sapadores seja colocada no períme-tro de Caria, atenta aos sinais de fumo.

"Mostrar os locais mais problemáti-cos de modo a que as autoridades noterreno definam onde colocar os meios,focar a vigilância ou apertar a dissuasãodo uso impróprio do fogo" foi o objeti-vo deste estudo coordenado por JoséCardoso Pereira, do Instituto Superiorde Agronomia. O mapa, que identificaos 20 concelhos de maior risco, foi feitocom base "num modelo estatístico queusa como variáveis o número médio de

anos desde o último fogo, a área quei-mada em 2017, a média da área quei-mada anualmente nos últimos 40 anose o índice de perigo meteorológico" àescala nacional, mas não tem em contao que foi ou está a ser feito em termosde prevenção.

"Este mapa não pretende de formanenhuma ser alarmista", sublinha o in-vestigador, reforçando a ideia de que os

concelhos sinalizados como estando naclasse mais elevada de risco represen-tam "apenas 1,9% do país" em termosde área. Ou seja, na escala das proba-bilidades, se viessem a arder quase natotalidade, tal corresponderia a umaárea total de 175 mil hectares, o queequivale a cerca de um terço da áreadevastada pelos fogos de 2017.

O mapa foi enviado para a Estruturade Missão para a Gestão Integrada de

Fogos Rurais e é considerado por TiagoOliveira "uma informação técnica útilpara apoio à decisão e que pode ajudara definir prioridades". Mas o Governocontinua a ter os olhos postos no mapade risco mais alargado, elaborado peloInstituto da Conservação da Nature-za e das Florestas (ICNF) no final de

2017, garante o secretário de Estado das

Florestas, Miguel Freitas. O mapa de

prioridades do ICNF abrange cerca de180 concelhos e mais de mil freguesiasem todo o país. Para a elaboração de

OS HABITANTES

DE MOIMENTA DA BEIRA

ESPANTAM-SE AO SABER

QUE ESTÃO NA LISTA

DOS MUNICÍPIOS

COM MAIOR HIPÓTESE

DE SEREM ATACADOS

PELO FOGOfaixas de interrupção de combustível

(FIC) da rede primária foram identifi-cados como prioritários metade des-tes concelhos (93). Até agora, foramexecutados 544 quilómetros de FIC(em 43 concelhos) de um total de 1343quilómetros que deverão ser limpos atéfinal de junho. "O que está a ser feitodá confiança para enfrentar o verão",afirma Miguel Freitas.

Viver em cenário de riscoConfiantes também estão os autarcasde Monchique, no Algarve; e de Cami-nha, no Minho, que ocupam respetiva-mente o primeiro e o terceiro lugaresna lista dos 20 concelhos sob alertavermelho. "Temos consciência de quevivemos um cenário de alto risco e es-

tamos preparados para isso", assume

Page 3: um Concelhos perigo mais vigilância · Texto AMADEU ARAÚJO e CARLA TOMÁS Foto RUI DUARTE SILVA e cada um dos cem mil pinheiros dos baldios das Terras de Aquilino brotam 40 cêntimos

o presidente da câmara algarvia, RuiAndré. Fortemente flagelado pelosgrandes incêndios de 2003, que dizi-maram 45 mil hectares, Monchique fez

um protocolo com as associações de

caçadores e com o Exército para refor-

çar a vigilância no terreno e a primeiraintervenção. "Quando há uma ignição,fazemos logo uma triangulação e conta-mos com bombeiros de todo o Algarve,

EM MONCHIQUE

E CAMINHA, O LUGAR

NO M/H? DE RISCO

NÃO É UMA SURPRESA

PARA OS RESPETIYOS

AUTARCAS QUE DIZEM

ESTAR PREPARADOS

PARA O QUE POSSA VIR

porque um grande incêndio aqui podeafetar toda a região como destino tu-rístico", sublinha o também vice-pre-sidente da Comunidade Intermunici-pal do Algarve. Para o combate, têmadquirido carros de bombeiros novos

(sete em oito anos) e contratualizadas

máquinas de rasto (têm 16), que consi-dera "essenciais quando um incêndionão é controlado na primeira hora". Naprevenção estrutural têm feito anual-mente gestão de faixas de combustívele já têm aprovados 90 quilómetros dos

240 de FIC candidatadas. No concelhoexistem cerca de 13 mil edificações fora

dos aglomerados urbanos, das quais8820 na serra "com terrenos que se

pegam a menos de 50 metros com odos vizinhos". Para ajudar quem nãotem capacidade financeira para limparem redor das casas, foi criado um pro-grama denominado "casa sem fogo" e

outro, "pioneiro na Europa", para sal-

var animais de companhia em situaçãode incêndio.

O presidente da Câmara de Caminhanão se surpreende com o terceiro lu-

gar que o concelho ocupa no ranking

de risco. "Sabíamos que estávamos nalinha da frente no Alto Minho e temosvindo a fazer muito trabalho no terrenonos últimos dois anos", garante MiguelAlves. Em conjunto com a AssociaçãoFlorestal do Minho criaram uma equipade sapadores municipais "que está a lim-

par tudo o que é faixas de combustível".E com recurso a verbas do PDR contamcom um investimento de 500 mil euros

para limpeza de linhas primárias e se-cundárias e um plano de apoio para os

proprietários que não têm capacidadefinanceira. 'Tudo o que é da responsa-bilidade do município vai estar limpoaté 31 de maio", assegura. "Na Serra daArga, onde até há pouco tempo não ha-via rede de telefone e há uma populaçãoenvelhecida é preciso criar o instinto de

autoproteção", adverte o autarca.O que mais alarma os autarcas é o que

consideram ser o perigo de atrair incen-diários ao serem identificados como hotspots. "O alerta das vulnerabilidades só

devia ser feito internamente aos agentesde proteção civil, de modo a não atiçara maldade", defende o presidente dacâmara de Moimenta da Beira. É certo

que 98% dos fogos têm origem humana,mas mais de metade deve-se a negligên-cia ou comportamentos que violam a lei,mas sem intenção de provocar grandesincêndios, como as queimas e queima-das. No terreno estão a ser desenvolvi-das ações de sensibilização para reduzireste tipo de ignições.

[email protected]