Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais...

26
UM CALL-TO-ACTION AOS PRINCIPAIS STAKEHOLDERS DO FUTEBOL PORTUGUÊS Como sabemos que plano de ação tomar para proteger os nossos jogadores? SÍNTESE O processo de tomada de decisão na Medicina Desportiva precisa urgentemente de ser otimizado. Vários experts vêm levantando a necessidade de recolha oficial e fidedigna de dados relativos à condição clínica dos atletas para fomentar a aplicação de medidas eficazes de redução do risco de lesão de forma consistente. É urgente que as entidades responsáveis facilitem, e responsabilizem, os clubes neste processo de salvaguarda da saúde dos atletas, elevando o patamar de excelência do trabalho feito pelos clubes e respetivos departamentos clínicos. João Noura Fisioterapeuta

Transcript of Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais...

Page 1: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

UM CALL-TO-ACTION AOS

PRINCIPAIS STAKEHOLDERS

DO FUTEBOL PORTUGUÊS Como sabemos que plano de ação tomar para proteger os

nossos jogadores?

SÍNTESE O processo de tomada de

decisão na Medicina Desportiva

precisa urgentemente de ser

otimizado. Vários experts vêm

levantando a necessidade de

recolha oficial e fidedigna de

dados relativos à condição clínica

dos atletas para fomentar a

aplicação de medidas eficazes de

redução do risco de lesão de

forma consistente. É urgente que

as entidades responsáveis

facilitem, e responsabilizem, os

clubes neste processo de

salvaguarda da saúde dos

atletas, elevando o patamar de

excelência do trabalho feito pelos

clubes e respetivos

departamentos clínicos.

João Noura Fisioterapeuta

Page 2: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 1

Índice

Introdução ..................................................................................................................... 2

Enquadramento ............................................................................................................ 2

Eficiência Estratégica .................................................................................................... 6

Justificação e Pertinência de um Estudo Epidemiológico .............................................. 8

Intervenção nos Fatores de Risco............................................................................... 12

Aplicação de Planos de Redução do Risco de lesão .................................................. 14

Conclusão ................................................................................................................... 17

Bibliografia .................................................................................................................. 21

Tabela 1 Características de diversas lesões no futebol .................................................... 15

Tabela 2 Proposta de constituintes de um estudo epidemiológico [47] .......................... 18

Figura 1 Rede de influência do aparecimento de lesões na relação entre vários

stakeholders ................................................................................................................................ 5

Figura 2 Perspetiva Socio-Ecológica do aparecimento de lesão (adaptada de Bolling

et al. [24]) ..................................................................................................................................... 8

Figura 3 Metodologia para adoção de estratégias de redução de lesão (adaptada de

Bolling et al. [24]) ........................................................................................................................ 9

Page 3: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 2

Introdução

Este documento pretende ser um mobilizador da massa crítica dentro da

Medicina Desportiva, de onde se podem contar profissionais de saúde com valências

académicas altas e a quem se deve exigir a melhor conduta técnica e deontológica,

dentro das quais estão o acompanhamento da melhor evidência disponível. Enquanto

profissionais de saúde, faz também parte dos nossos deveres, quando não existe

informação suficiente, criá-la: isto implica que sejamos pioneiros e empreendedores na

busca contínua da otimização do nosso trabalho.

Em último caso, o meu grande objetivo é sensibilizar Departamentos Clínicos e

todos os profissionais que estes envolvem (desde Médicos, Fisioterapeutas,

Enfermeiros, Psicólogos, Nutricionista, etc.) para a necessidade premente de obtermos

dados concretos sobre o que se anda, de facto, a passar com os nossos atletas em

termos de lesões desportivas; sensibilizar aqueles que já dispõem destes dados, para

que os partilhem numa tentativa de cooperação e sinergia; e que aqueles que podem

ajudar na sua obtenção, que tomem medidas executivas para que este processo seja

facilitado.

Os destinatários deste documento são, em primeira análise, todos os departamentos

clínicos e respetivos profissionais de clubes que militam na 1ª e 2ª Liga. Gostava

também de salientar para o facto de que pelo menos a adoção das medidas aqui

expostas pelos clubes pode, pelo menos, ajudar os próprios clubes. Assim, e porque a

tomada da dianteira pode ser feita por todos, convido também os departamentos clínicos

de clube mais pequenos a tentar sistematizar a sua recolha de dados.

Enquadramento

As lesões de futebol têm importantes consequências para todas as entidades

desportivas, e são um importante foco de atenção e tomada de decisão por todos os

intervenientes desportivos, tendo um forte impacto em várias dimensões, desde

desportivas a financeiras, passando por complicações de participação, comprometendo

sonhos e perspetivas de carreira e até a vida e saúde dos atletas.

➢ As direções pretendem ser o mais eficientes possível, conseguindo os melhores

resultados possíveis com os menores custos associados.

➢ As equipas técnicas pretendem contar com todos os jogadores do seu plantel

de forma a que as respetivas equipas sejam mais competitivas.

➢ Os departamentos clínicos pretendem preservar a saúde e participação dos

intervenientes.

Page 4: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 3

➢ Os jogadores pretendem estar disponíveis o maior tempo possível, de forma a

alcançar sucesso desportivo, pessoal e profissional sob a forma de títulos ou

progressão na carreira, sempre monitorizados e aconselhados de perto pelos

respetivos agentes desportivos.

➢ Os adeptos pagam bilhete para ver a sua equipa com os melhores jogadores no

campo, seja para ter a maior probabilidade possível de ganhar, seja pelo

espetáculo e emoções que estes têm maior tendência a proporcionar.

Quando estudamos o efeito que as lesões podem ter nestes pressupostos, é

possível estabelecer várias considerações.

É plausível haver uma forte influência da ausência de jogadores por lesão no

sucesso competitivo e classificação final das respetivas equipas [1] [2], dado que a priori

equipas que tenham os seus melhores jogadores mais vezes disponíveis, estarão mais

próximas de ganhar, mais vezes.

Em termos financeiros, há relatos de equipas de nível competitivo internacional que

gastam verbais mensais que podem chegar aos 500 mil euros com atletas lesionados

[3]. Em níveis competitivos mais próximos do comum para as equipas portuguesas,

estima-se que uma equipa profissional de 2ª Liga gaste em salários de atletas

lesionados aproximadamente 15 mil euros anuais (dados não-publicados) (ANEXO 2),

ao que acrescem ainda os custos associados à utilização de infraestruturas, ocupação

de staff, procedimentos efetuados, ativação dos seguros, entre outros.

Para os atletas, a lesão poderá ser uma barreira e um forte detrator na progressão

de carreira. Estima-se que um 1/3 dos atletas que sofrem uma lesão do Ligamento

Cruzado Anterior não conseguem permanecer no mesmo nível competitivo num follow-

up de 3 anos após a lesão [4].

No que concerne ao departamento clínico este é, por definição, o principal

departamento responsável por apresentar uma atitude de preservação da saúde, bem-

estar e participação dos atletas, começando pela adoção de medidas profiláticas mesmo

antes de ser responsável pela reabilitação e retorno à competição dos seus atletas. Isto

torna-nos, por excelência, os mediadores da influência que as lesões têm no jogo e em

todas as considerações que forma estabelecidas previamente.

Nas nossas funções podem contar-se não só a gestão das consequências a

curto/médio-prazo como a disponibilidade de todos os atletas para competição – e que

serão aquelas que são mais alvo desta reflexão – mas, e porque é importante ainda

mencionar essa questão frequentemente negligenciada, também as complicações de

Page 5: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 4

saúde a longo-prazo dos atletas, tanto a física [5] como a psicológica [6], que podem

ser resultantes da sua carreira desportiva.

No que diz respeito então à participação dos atletas na sua modalidade

desportiva, de forma a podermos corresponder e cumprir com os standards que lhes é

exigido, o departamento clínico tem ao encargo das suas obrigações e competências o

desenho de planos de redução do risco de lesão que sejam eficazes e, idealmente –

numa relação que abordaremos mais à frente – eficientes.

Mas será que existem premissas prévias que não estão cumpridas e que

impossibilitam os corpos clínicos de o fazer?

Page 6: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 5

Figura 1 Rede de influência do aparecimento de lesões na relação entre vários stakeholders

É frequente estarmos sensibilizados para as complicações que as lesões acarretam – e ainda bem - para os jogadores. Mas a verdade é que o momento da lesão, e não sendo possível preveni-lo a 100%, trará também complicações em muitas outras dinâmicas relacionais e institucionais. Quanto mais preparados estivermos então para 1) reduzir a sua incidência e 2) precaver as suas consequências, menos influência negativa elas terão.

Page 7: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 6

Eficiência Estratégica

De forma a podermos atuar como agentes ativos com uma atitude positiva e

profilática, cumprindo com as obrigações discutidas previamente, temos de nos munir

de direitos e autoridade, mas, e com isso, também de responsabilidade [7]. Temos a

obrigação deontológica de assumir um papel na linha na frente nos comités e painéis

decisores, interferindo quando necessário de forma a defender a saúde – em primeiro

lugar – e o acesso à melhor performance – em segundo lugar – dos nossos atletas.

Contudo, não poderemos fazer isto baseado em premissas assentes em opiniões, ou

na tradição. É sabido que no contexto do futebol profissional, a qualidade das tomadas

de decisões é baixa e pouco informada pela melhor evidência disponível,

providenciando aquilo a que chamamos de low-value care [8]. Isto leva a que muitas

vezes se gastem recursos económicos e tempo (talvez duas das barreiras mais

frequentemente citadas como barreiras para a tomada de decisão) com estratégias que

não apresentam valor acrescentado. Por exemplo, procuramos com a utilização de

ferramentas como o Functional Movement Screening (FMS) [9] [10] ou a avaliação por

dinamometria isocinética [11] predizer os jogadores mais em risco ou as lesões mais

prováveis, quando esse exercício parece ser logo a priori muito difícil de fazer [12].

Mudar o paradigma de um método de decisão baseado na opinião e tradição

para um método de decisão baseado em factos vai permitir-nos, entre outras coisas,

reduzir o número de erros de metodologia de treino, ponderar adequadamente os

riscos e benefícios das nossas intervenções e desafiar os nossos próprios viés,

permitindo a integração adequada das preferências dos atletas e da equipa técnica na

tomada de decisão [13]; por exemplo, conhecer o estado-da-arte vai permitir-nos ao

mesmo tempo retirar dos alongamentos o papel fulcral que muita gente acredita que

eles têm como uma ferramenta de redução do risco de lesão em atletas saudáveis [14]

– quando parece ser claro que não o é [15] [16] -, mas ao mesmo tempo compreender

que muito dificilmente estes são detrimentais para os atletas quando realizados num

contexto diário prático, uma vez que neste nunca o são feitos de forma isolada [17].

Noutro exemplo, utilizarmos uma prática baseada na melhor evidência vai permitir-nos

enquadrar a preferência de uma equipa técnica que compreende como preponderante

para o rendimento técnico-tática da equipa e dos jogadores a inclusão de espaços

curtos no microciclo de treinos, sensibilizando-a para o risco que isto acarreta pela

possível falta de exposição a estímulos de sprints longos de alta intensidade no

jogo. Assim, esta capacita-nos para promover - ou não - a utilização devida das

ferramentas à disposição dos diversos intervenientes de acordo com a

Page 8: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 7

preferência sua preferência, com vista à otimização do resultado e minimização

dos riscos consequentes.

No caso da lesão, esta é um fenómeno multifatorial que tem vários fatores

contribuintes [18], o que pode levar à reflexão de que é preciso ter uma abordagem mais

global, baseada em sistemas de tomada de decisão complexas, e não na simples

adoção de medidas isoladas [19]. Estudos recentes com a devida robustez que se exige

para tomar decisões com segurança apontam para o facto de não haver provas

conclusivas de que a implementação de planos de redução de lesão influencie o número

de lesões a que vimos testemunhando [20], o que acaba por confirmar o facto de, de

forma geral e a grande escala, a incidência e severidade não vir diminuindo [21] [22]

[23].

Mas será que o que isto quer dizer é que o que nos resta é observar

enquanto as lesões acontecem? Já estamos a fazer tudo e o melhor que sabemos

para reduzir a taxa de incidência de lesões? E se não estamos, o que temos de

fazer? E por onde começar?

Page 9: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 8

Justificação e Pertinência de um Estudo Epidemiológico

Assim, e apesar de serem logo à partida impossíveis de irradicar, as lesões

desportivas constituem um problema que deve ser intervencionado. Uma vez que este

é realmente um problema multifatorial, devem ser, conforme discutido antes, estudados

os fatores que podem predispôr a isto. No entanto, há várias questões que se colocam:

é possível extrapolar dados de lesões de outros desportos para o futebol? Todos os

países/regiões têm a mesma incidência das diversas lesões? Os fatores que contribuem

para a mesma lesão são os mesmo independentemente do país/ região em causa? O

contexto cultural, social e económico de determinado país/região é negligenciável como

contribuinte para o risco de lesão?

O primeiro passo para uma eficaz intervenção no número de lesões desportivas,

seja através de planos específicos, multimodais, ou outras estratégias como

regulamentares ou governamentais, passa pela identificação de quais as lesões cujo

aparecimento tem de ser intervencionado [24], para que de seguida possamos

explorar quais os contribuintes para o seu aparecimento, procedendo de seguida à sua

modulação.

Recorrentemente, os clubes “grandes” já têm registados os seus dados para os

estudos epidemiológicos da UEFA (ainda que os dados não sejam revelados). Contudo,

este não deve ser o (grande/único) problema para o qual estar sensibilizado - se

pretendemos de facto aumentar a igualdade de oportunidades de sucesso desportivo e

Figura 2 Perspetiva Socio-Ecológica do aparecimento de lesão (adaptada de Bolling et al. [24])

Page 10: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 9

portanto equalizar o nível competitivo pela excelência, é fulcral que a atenção esteja

também nos clubes mais pequenos, quer do primeiro escalão, quer, principalmente, de

escalões inferior, uma vez que é nestes que a falta de condições de infraestruturas,

acesso ou expertise do staff clínico irá implicar mais complicações [25], como o aumento

da taxa de recidiva, e consequentemente a perda de atletas do período competitivo. Daí

que haja por parte das instâncias superiores do Comité Médico da UEFA uma atitude

de sensibilização para a criação e operacionalização de estudos a nível nacional que

permitam estudar, registar, classificar e assim compreender os padrões de lesão

desportivos [26]. Outros dos benefícios propostos resultantes desta monitorização dos

registos clínicos são otimizar o contacto entre equipas e seleções nacionais,

desenvolver estratégias de redução do risco de lesão, e adoção de medidas

profiláticas nas regras do jogo e nas infrestruturas e modelos de atuação [27].

Transportando isto para a nossa realidade, é então absolutamente

necessário, de forma a desenhar convenientemente planos de redução do risco

de lesão baseando-os na incidência e fatores de risco que acometem a população

desportiva, específica, dos jogadores de futebol de elite a atuar em Portugal,

estudar primeiro em que medida estes são acometidos por lesões desportivas.

Figura 3 Metodologia para adoção de estratégias de redução de lesão (adaptada de Bolling et al. [24])

Page 11: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 10

Já em diversos outros países esta medida profilática de levantamento dos

registos clínicos foi realizada. Existem estudos globais, como já mencionados, como os

estudos da UEFA [23] [28], mas uma vez que as realidades globais não podem ser

diretamente extrapoladas para as realidades nacionais, já existem também estudos em

países como Holanda [29], Espanha [30] e Suécia [31] e Noruega [32] – dois dos países

de origem daqueles que mais contribuem para a realização de estudos epidemiológicos

no futebol – através de contactos aos clubes (e nos quais a larga maioria aceitou em

fornecer dados) e Itália através da consulta de uma plataforma online que dispunha dos

dados [33]. Até no Qatar (certamente propulsionado pelas perspetivas de atingir níveis

de excelência a médio-prazo e facilitado pelo cenário sócio-económico favorável e o

consequente largo investimento) isto é algo que já foi feito [34] e em Inglaterra não só

já foi feito [35] [36] como é uma prática regular e transparente, com os clubes a

reportarem aos próprios media, de forma quase indiscriminada e respeitando os seus

pressupostos éticos, as lesões que ocorrem e alguns dados com elas relacionados.

Caso disto é o site https://www.premierinjuries.com/, originalmente desenvolvido por

Ben Dinnery,

Seria plausível pedir responsabilidade aos clubes pela obtenção, registo e

tratamento destes dados. Contudo, é ingrato colocar a responsabilidade total da

obtenção destes dados exclusivamente nos clubes – não será errado assumir que o

contexto económico-financeiro vivido nos países antes mencionados promove que, com

o maior investimento, haja maior pedido de responsabilidades. Assim, e tal como

observado na Figura 2, as tomadas de decisão para reduzir o risco de lesão não podem

ter origem apenas nos clubes; outras medidas de entidades superiores têm de ser

promovidas, uma vez que estas são importantes mediadores das dinâmicas das

entidades por elas albergadas. Por exemplo, a alocação de verbas primordialmente

destinadas a este fim, ou a recompensa no caso de cumprimento exemplar de

planos de registos propostos podem ser medidas que encorajam os clubes, e respetivos

departamentos clínicos, a adotar e manter estas práticas [3]. Em última análise, estas

entidades estatais, estando ao serviço da população, têm de fazer valer-se de exemplo

e guiar-se pelas melhores práticas, para além do dever deontológico que têm de

assegurar algo tão básico como a saúde dos intervenientes numa prática tão

disseminada e tão seguida como o futebol.

A pergunta sobre como fazer este registo é extremamente pertinente e deve ser

colocada. É certo que não existe uma definição consensual sobre o que constitui uma

Page 12: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 11

“lesão” [37], apesar de esta questão ser reconhecida e abordada na literatura [38] e,

talvez por isso, já várias terminologias e classificações tenham sido propostas [39] [40]

[41].

O registo atempado e fidedigno, quando comparado com uma observação

restrospetiva, é fundamental. Por exemplo, foi visto que relato a posteriori de episódios

lesionais como método de recolha de dados para a tomada de decisão relativa a

medidas profiláticas é um método falacioso. Uma larga parte dos jogadores (cerca de

1/3) não considera relevante ou não reporta problemas moderados, e menos de 10%

indica os problemas ligeiros. Isto tem importantes implicações diretas por exemplo no

modus operandi dos clubes no mercado de transferências, uma vez que, e sendo um

dos principais fatores de risco para lesão a lesão prévia [42], é papel primordial do

departamento clínico informar a equipa técnica e quadro diretivo de quando se está a

contratar um jogador sujeito a esse risco acrescido, sendo essa informação crucial para

avançar ou não para a contratação [43]. Se na entrevista inicial o jogador, por qualquer

motivo, não reporta a lesão prévia, o departamento clínico terá o seu trabalho

condicionado; se por outro lado este registo estiver feito noutro clube, pode haver o

cruzamento de informação entre ambos – levantando questões importantes, mas

salvaguardando sempre, o direito do atleta à confidencialidade.

Mais importante ainda que esta questão, é o facto de, ao não reportar uma lesão

prévia, o atleta estar inconscientemente a deturpar o putativo efeito benéfico que a

adoção de medidas profiláticas pudessem vir a ter. Por exemplo, quando o atleta não

reporta uma entorse prévia da tibio-társica, não está a permitir ao departamento clínico

desenhar estratégias de avaliação e mitigação do risco de novas entorses ou de

intervenção em achados como instabilidade crónica do tornozelo.

Tudo isto realça a pertinência dos próprios clubes criarem, redigirem e

estabelecerem o seu método próprio de registo e monitorização dos atletas. Contudo, e

como mencionado inicialmente, nem sempre lhes é fácil operacionalizar o dia-a-dia,

sendo quase impensável propor-lhes a criação de raiz um modelo de registo que permita

ser eficaz e ao mesmo tempo fornecer os dados absolutamente pertinentes para os

transferir para a prática, conseguindo ainda depois ter recursos humanos disponíveis

para o fazer.

O modelo da UEFA desenvolvido pelo grupo de estudos escandinavo liderado

pelo ex-Vice-Presidente do Comité Médico da UEFA Prof. Jan Ekstrand é um modelo

de obtenção e registo de dados que permitiu criar um dos mais extensos e relevantes

estudos epidemiológicos para o futebol, que consistiu no desenvolvimento de um

Page 13: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 12

acompanhamento a longo-prazo (atualmente com cerca de 16 anos) das equipas que

disputavam a UEFA Champions League. Isto permitiu não só estabelecer considerações

importantes sobre o tempo de retorno à prática desportiva para as principais lesões,

como perceber a média movível do número de lesões, o que nos permite identificar

possíveis correlações entre estes números e as medidas que vimos tomando para os

alterar. Isto é o que possibilita depois estabelecer possíveis relações de causalidade,

sempre tendo em considerações depois outros fatores variáveis de que são exemplo a

congestão dos calendários [44], o aumento do nível competitivo [45], a adesão dos

jogadores aos planos de redução de risco prescritos [46] ou outros fatores contextuais,

e genéticos, que hoje possivelmente ainda não são abordados o suficiente na literatura.

De forma a auxiliar nesta medida, a metodologia utilizada para o estudo

epidemiológico das competições da UEFA [47] pode ser uma ferramenta já madura e

válida para adotar como base de registos, quando realizado apenas a nível interno.

Pode também - e neste caso com menos flexibilidade, deve - ser uma ferramenta a

recorrer caso uma instância superior como a Liga ou a Federação Portuguesa de

Futebol (FPF) decidisse um dia avançar para uma proposta/convite formal aos clubes

para registar os seus incidentes clínicos. É possível consultar os constituintes desta

proposta no ANEXO 1.

Depois de ser realizado este levantamento das lesões mais frequentes e

com maior severidade, seria então possível começar a estabelecer-se

associações entre determinados indicadores que sejam plausíveis de precipitar o

aparecimento de lesões – a estes chamam-se fatores de risco.

Intervenção nos Fatores de Risco

Estão estudados os fatores de risco gerais para a população geral de jogadores

de futebol. Estes podem ser divididos em intrínsecos e extrínsecos e modificáveis ou

não-modificáveis [42].

Normalmente, estamos sensibilizados para o estudos dos fatores intrínsecos –

especialmente para os modificáveis (que serão abordados mais à frente) –, contudo

assumimos que o estudo dos fatores de risco não-modificáveis (como a meteorologia

Page 14: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 13

ou humidade) não têm pertinência prática, ou que não é necessário estudar por exemplo

fatores associados a mecanismos de lesão diretos, uma vez que não são, na teoria,

“preveníveis”. Esta perspetiva, ainda que verosímil, é falaciosa

Em jeito de exemplo, as tentativas de desarme em carrinho por trás do jogador

na posse de bola nem sempre foram sancionadas com o cartão vermelho [48]. Contudo,

e após análise cuidada dos riscos associados a este tipo de ação (como a lesão do

Ligamento Cruzado Anterior, cujo mecanismo de lesão pode ser direto através de um

impacto por trás e/ou de lado, levando à translação anterior da tíbia e/ou valgo do joelho

em cadeia cinética fechada), foi instruído a que os árbitros sancionassem esta ação com

cartão vermelho, de forma a dissuadi-la por ser perigosa para a saúde, integridade física

e participação dos jogadores [49]. Mesmo assim, os últimos dados disponíveis

descrevem realidades (neste caso, na Noruega) onde apenas cerca de 40% dos lances

que levavam a lesão (e nos quais havia disputa de bola independentemente do

mecanismo de lesão) implicaram a marcação de falta e apenas 10% levaram a sanção

com cartão amarelo, sendo que quando avaliada a qualidade de decisão do árbitro de

acordo com as regras do jogo, estas estavam recorrentemente corretas [49]. Isto é mais

um sinal de alarme para a necessidade de se dispormos de mais dados dentro da

Medicina Desportiva de forma a poder sensibilizar as entidades responsáveis para a

adoção de medidas que possam proteger os atletas.

Noutro caso, o conhecimento de que o clima seco aumenta o risco de lesão do

Ligamento Cruzado Anterior [50] pode influenciar também outras dimensões do modus

operandi e recomendações das entidades competentes; por exemplo, criando a

obrigatoriedade de regar o relvado antes da prática desportiva [51].

Muitas destas variáveis já foram ponderadas e discutidas por Fuller et al. [52],

expondo as variáveis que poderão influenciar o estado de saúde dos atletas e mesmo

providenciando estratégias de gestão e minimização do risco nas competições da FIFA.

Assim, no contexto FIFA, e de forma a assumir estas tomadas de decisão,

atualmente unânimes e consensuais, foi necessário primeiro reportar a presença,

incidência e gravidade deste tipo de lesões, antes de se poder de seguida estudar

medidas profiláticas e a sua eficácia e adequação prática, só depois agindo em

conformidade dentro das políticas desportivas, constrangimentos ambientais e

regras de jogo, numa abordagem sócio-ecológica, conforme proposto na Figura

1. É agora necessário compreendermos como isto se enquadra, aplicando-o, ao

contexto português.

Page 15: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 14

Aplicação de Planos de Redução do Risco de lesão

O Departamento Clínico de uma equipa de futebol tem de ser um espaço

destinado à presença e discussão de Ciência aplicada ao contexto desportivo. Esta não

se faz apenas de efetividade e eficácia, mas também de eficiência. Este é um conceito

fundamental para podermos provar valor; o benchmark da nossa atuação não passa

apenas pela aplicação de medida de que resultem, mas sim pela demonstração de que

somos eficazes com o mínimo dispêndio de recursos possível.

No âmbito do desenho e aplicação de planos de exercício com o intuito de reduzir

o risco de lesão, não parece que vimos sendo muito competentes. Por exemplo, grande

parte dos clubes (internacionais, não há dados em Portugal) não utilizam nos seus

planos de redução do risco de lesão exercícios que parecem ter alguma eficácia [53].

Noutro exemplo, apesar de já sabermos que exercícios de reforço de uma forma geral

podem plausivelmente ter uma efeito de melhoria na redução do risco de lesão [54] mas

depois, como já discutido, passamos tempo a recomendar aos nossos atletas que

alonguem apesar de não haver qualquer indício que isso tenha um efeito significativo

na performance ou na redução do risco de lesão.

Foquemo-nos agora no facto de que temos alguns pequenos indicadores de que

a inclusão de alguns exercícios podem fazer sentido [55] [56] [57], quando dentro de um

plano multimodal – não só de exercício, mas de outras atitudes e comportamentos em

saúde. Há só um problema: será que se justifica o investimento de tempo nestes

programas?

Esta pergunta pode ser dividida em três:

• Estamos de facto a conseguir algo com os nossos planos quando

comparados com não fazer nada?

• Estamos a conseguir algo com os nossos planos quando comparado com

outros planos?

• Mesmo estando os nossos planos bem desenhados para o seu objetivo,

estes destinam-se a causas nas quais vale a pena intervir?

Ilustrando com um exemplo, podemos comparar algumas situações cuja

condição clínica implica o afastamento da prática desportiva no futebol.

1. Lesão muscular dos ísquio-tibiais

2. Concussão

3. Lesão da coifa dos rotadores

4. Lesão do Ligamento Cruzado Anterior (LCA)

Page 16: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 15

Quando falamos de futebol, será pertinente desenhar - ou incluir medidas nos -

planos de forma a minimizar o aparecimento de todas elas?

As lesões musculares são lesões extremamente frequentes no futebol [21],

apesar de a sua severidade não ser, regra geral e com algumas exceções [58], muito

alta [23]. Por outro lado, as lesões do Ligamento Cruzado Anterior são pouco frequentes

mas implicam um tempo de ausência muito prolongado [23].

Consideremos agora as lesões da coifa dos rotadores, que são frequentemente

lesões que causam um enorme impacto funcional, ainda que não se tratem de lesões

no membro inferior. Por fim, as concussões são lesões que implicam um tempo de

ausência relativamente curto.

As grandes conclusões a tirar são as seguintes:

Lesão Incidência Prevalência Gravidade

Lesão muscular dos ísquio-tibiais Muito Alta Média Baixa

Concussão Baixa Muito Baixa Grave a Catastrófica

Lesão da coifa dos rotadores Negligenciável Alta Média

Lesão do LCA Relativamente Baixa Alta Média

Tabela 1 Características de diversas lesões no futebol

Naturalmente, a ponderação dada aos indicadores incidência, prevalência e

gravidade não pode ser a mesma. Apesar de os ísquio-tibiais serem uma estrutura cuja

lesão retira o atleta da competição durante muito tempo, as suas consequências não se

compararm com o impacto funcional a médio-prazo que lesões do LCA ou da coifa dos

rotadores pode ter na vida (futura) do atleta, e menos ainda com o risco de morte que

acarreta uma potencial concussão. Uma lesão na coifa tem um impacto grande na vida

do atleta e demora bastante tempo a ser reabilitada, mas a sua incidência é

praticamente nula.

Assim sendo, a reflexão a fazer é que enquanto profissionais de saúde e agentes

da Medicina Desportiva, estando ao nosso encargo uma parte do rendimento físico, da

saúde, e em parte, da vida do atleta, tendo de ser responsáveis por uma boa gestão dos

recursos humanos e financeiros, e tendo de demonstrar resultados que sejam

pertinentes do ponto de vista prático, sendo transferíveis para ganhos reais no nosso

contexto. Isto é saber que tipo de relação e prioridade estabelecer: será benéfico

prescrever alguns exercícios que funcionem na redução do risco ou impacto que a

concussão possa ter, dado a sua baixa incidência mas enorme severidade? E exercícios

para a coifa dos rotadores, dada a quase inexistente incidência de lesão? Ou poderá

esta quase negligente incidência de lesão transformar-se em relativamente alta, por

Page 17: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 16

exemplo, em guarda-redes, quando comparada com as lesões dos ísquio-tibais que

teriam à partida um lugar central em qualquer plano de redução do risco de lesão?

Não podemos basear-nos em opiniões para tomar decisões deste âmbito.

Precisamos de dados concretos, objetivos e o mais fidedignos possível, para que nos

possamos escudar a nós e principalmente aos nossos atletas, ajudando a nossa equipa

técnica e provando-nos como elementos preponderantes na poupança e máxima

utilização de recursos da nossa instituição, revertendo o investimento em tempo e

recursos, em benefícios demonstráveis para todos os intervenientes [59].

Page 18: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 17

Conclusão

As principais mensagens a retirar são:

✓ As lesões desportivas no futebol não vêm diminuindo. Não é possível dizer que

isto é inequivocamente fruto da forma de operar dos departamentos clínicos,

mas poderá ser hipotetizado como um dos fatores.

✓ A forma de atuar dos departamentos clínicos deve pressupor eficácia, atingindo

o objetivo a que se propõe, e eficiência, atingindo-o com o gasto dos mínimos

recursos possíveis.

✓ Todos os stakeholders se preocupam certamente com os problemas do

aparecimento de lesões. Estes acarretam uma série de perdas de entre as quais

financeiras, desportivas e pessoais.

✓ Contudo, é possível dizer também que os stakeholders responsáveis pela gestão

e tentativa de resolução deste problema o têm tentado fazer manietados: a

indisponibilidade ou ausência de dados concretos e fidedignos que auxiliem na

tomada de decisão faz com que estejamos todos a tentar resolver um problema

sem saber qual é que ele é.

✓ Apresenta-se como absolutamente mandatório realizar uma exploração

epidemiológica das lesões sofridas pelos jogadores de futebol a atuar em

Portugal: isto irá não só cumprir o pressuposto de auxiliar na tomada de decisão

acerca da prevenção de lesão, mas é um passo importante no avanço da

Medicina Desportiva em Portugal, acompanhando assim outras competências e

áreas que se vêm desenvolvendo e que nos levaram a ser campeões europeus

em 2016.

✓ Os clubes não se podem excluir da responsabilidade; antes, devem chamá-la a

si através da sensibilização das instâncias superiores, requerendo o seu apoio,

seja através da criação de uma task-force externa que cumpra com os deveres

éticos necessários, quer através da prestação de apoios ou bónus que motivem

e facilitem ao registo e manutenção de dados pertinentes às decisões clínicas,

políticas e económicas.

✓ Em último caso, as consequências de isto não realizado acabam por afetar todos

os intervenientes do jogo, com principal impacto nos resultados desportivos

obtidos pelas equipas técnicas, na carreira e vida dos jogadores, nas

performance e atuação dos departamentos clínicos, e por fim nas questões

económicas das direções executivas, comprometendo, em último caso, o

sucesso dos projetos desportivos.

Page 19: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 18

ANEXOS

Anexo 1

Constituintes do Estudo Epidemiológico da UEFA [47]

Conceito Definição/Recomendação

Desenho do Estudo Estudo de Cohort Prospetivo

Fator de Exposição Tempo (em horas) de participação

desportiva individual

Período de recolha Uma ou várias épocas desportivas

Formulários Necessários

Ficha individual com caracterização e fatores

antropométricos; relatório de exposição;

formulário de incidente (curto, 1 página)

Manual do Estudo Definições necessárias de clarificar; casos e

situações fictícias

Meio de Contacto Elemento do Corpo Clínico Responsável

pela recolha e envio dos dados

Critérios de Inclusão Jogadores com contrato com a equipa sob

estudo

Lesão Tempo de participação perdido e contraído

numa sessão de treino ou jogo

Severidade da Lesão

Baseada no tempo de ausência de

participação; Ligeira (até 3 dias), Minor

(entre 4 e 7 dias), Moderada (entre 8 e 28

dias), Severa (mais que 28 dias)

Tipo de lesão Consultar o artigo de Ekstrand et al. [23]

Local da lesão

Recidiva Mesma lesão no mesmo local no espaço de

dois meses

Reabilitação

Atleta está em reabilitação enquanto não

tiver permissão para retornar ao treino na

íntegra

Sessão de Treino

Sessões de treino orientadas por um

treinador (ou seu representante) dentro do

contexto de equipa

Outras questões metodológicas importantes podem ser consultadas no artigo original de

Hagglund et al. [47] e numa revisão de erros comuns de uma operacionalização de um

estudo epidemiológico de Bjørneboe et al. [60]

Tabela 2 Proposta de constituintes de um estudo epidemiológico [47]

Page 20: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 19

Anexo 2

Dados não publicados de 15000 euros em custos de salários em atletas da 2ª Liga

ausentes da participação por lesão recolhidos na época 2017/2018, assumindo que:

Lesão: Evento que implica a perda de participação em treino ou jogo

Salário Médio para jogador de futebol da 2ª Liga = 1500 euros

1 Mês salarial = 30 dias

Page 21: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 20

Page 22: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 21

Bibliografia

[1] M. Hägglund, M. Waldén, H. Magnusson, K. Kristenson, H. Bengtsson e J. Ekstrand,

“Injuries affect team performance negatively in professional football: an 11-year follow-

up of the UEFA Champions League injury study,” Br J Sports Med, pp. 807-808, 2013.

[2] J. Windt, J. Ekstrand, K. M. Khan, A. McCall e B. D. Zumbo, “Does player unavailability

affect football teams’ match physicaloutputs? A two-season study of the UEFA

champions league,” Journal of Science and Medicine in Sport, pp. 525-532, 2018.

[3] J. Ekstrand, “Keeping your top players on the pitch: the key to football medicine at a

professional level,” Br J Sports Med, pp. 723 - 724, 2013.

[4] M. Waldén, M. Hägglund, H. Magnusson e J. Ekstrand, “ACL injuries in men’s professional

football: a 15-year prospective study on time trends and return-to-play rates reveals only

65% of players still play at the top level 3 years after ACL rupture,” Br J Sports Med, p.

744–750, 2016.

[5] V. Gouttebarge e M. Frings-Dresen, “Risk and consequences of osteoarthritis after a

professional football career: A systematic review of the recent literature,” The Journal of

sports medicine and physical fitness, pp. 494-504, 2014.

[6] H. Ling, H. R. Morris, J. W. Neal, A. J. Lees, J. Hardy, J. L. Holton, T. Revesz e D. D. R.

Williams, “Mixed pathologies including chronic traumatic encephalopathy account for

dementia in retired association football (soccer) players,” Acta Neuropathol, p. 337–352,

2017.

[7] J. Orchard, “On the value of team medical staff: can the ‘‘Moneyball’’ approach be

applied to injuries in professional football?,” Br J Sports Med, p. 963–965, 2009.

[8] J. Zadro, C. G. Maher e C. J. Barton, “High- and low-value care in sport and exercise

medicine: areas for consideration,” Translational Sports Medicine, 2020.

[9] R. W. Moran, A. G. Schneiders, J. Mason e S. J. Sullivan, “Do Functional Movement Screen

(FMS) composite scores predict subsequent injury? A systematic review with meta-

analysis,” Br J Sports Med, p. 1–10, 2017.

[10] F. Philp, D. Blana, E. K. Chadwick, C. Stewart, C. Stapleton, K. Major e A. D. Pandyan,

“Study of the measurement and predictive validity of the Functional Movement Screen,”

BMJ Open, pp. 1-7, 2018.

[11] B. Green, M. N. Bourne e T. Pizzari, “Isokinetic strength assessment offers limited

predictive validity for detecting risk of future hamstring strain in sport: a systematic

review and meta-analysis,” Br J Sports Med, p. 1–9, 2017.

Page 23: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 22

[12] A. McCall, M. Fanchini e A. J. Coutts, “Prediction: The Modern-Day Sport-Science and

Sports-Medicine “Quest for the Holy Grail”,” International Journal of Sports Physiology

and Performance, pp. 704 -706, 2017.

[13] A. J. Coutts, “Challenges in Developing Evidence-Based Practice in High-Performance

Sport,” International Journal of Sports Physiology and Performance, p. 717, 2017.

[14] A. McCall, C. Carling, M. Nedelec, M. Davison, F. L. Gall, S. Berthoin e G. Dupont, “Risk

factors, testing and preventative strategies for non-contact injuries in professional

football: current perceptions and practices of 44 teams from various premier leagues,” Br

J Sports Med, p. 1352–1357, 2014.

[15] S. Thacker, J. Gilchrist, D. Stroup e D. Kimsey, “The Impact of Stretching on Sports Injury

Risk: A Systematic Review of the Literature,” Medicine & Science in Sports & Exercise, pp.

371-378, 2004.

[16] J. B. Lauersen, D. M. Bertelsen e L. B. Andersen, “The effectiveness of exercise

interventions to prevent sports injuries: a systematic review and meta-analysis of

randomised controlled trials,” Br J Sports Med, pp. 871-877, 2014.

[17] L. Simic, N. Sarabon e G. Markovic, “Does pre-exercise static stretching inhibit maximal

muscular performance? A meta-analytical review,” Scand J Med Sci Sports, pp. 131-48,

2012.

[18] F. N. Bittencourt, W. H. Meeuwisse, L. D. Mendonça, A. Nettel-Aguirre, J. M. Ocarino e S.

T. Fonseca, “Complex systems approach for sports injuries: moving from risk factor

identification to injury pattern recognition—narrative review and new concept,” Br J

Sports Med, p. 1309–1314, 2016.

[19] J. C. Tee, S. J. McLaren e B. Jones, “Sports Injury Prevention is Complex: We Need to

Invest in Better Processes, Not Singular Solutions,” Sports Medicine, p. 689–702, 2019.

[20] M. Fanchini, I. B. Steendahl, F. M. Impellizzeri, R. Pruna, G. Dupont, A. J. Coutts, T. Meyer

e A. McCall, “Exercise-Based Strategies to Prevent Muscle Injury in Elite Footballers: A

Systematic Review and Best Evidence Synthesis,” Sports Medicine, 2020.

[21] J. Ekstrand, M. Waldén e M. Hägglund, “Hamstring injuries have increased by 4%

annually in men’s professional football, since 2001: a 13-year longitudinal analysis of the

UEFA Elite Club injury,” Br J Sports Med, p. 731–737, 2016.

[22] J. Ekstrand, M. Hägglund, K. Kristenson, H. Magnusson e M. Waldén, “Fewer ligament

injuries but no preventive effect on muscle injuries and severe injuries: an 11-year

follow-up of the UEFA Champions League injury study,” Br J Sports Med, p. 732–737,

2013.

[23] J. Ekstrand, W. Krutsch, A. Spreco, W. v. Zoest, C. Roberts, T. Meyer e H. Bengtsson,

“Time before return to play for the most common injuries in professional football: a 16-

year follow-up of the UEFA Elite Club Injury Study,” Br J Sports Med, p. 1–6, 2019.

Page 24: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 23

[24] C. Bolling, W. v. Mechelen, H. R. Pasman e E. Verhagen, “Context Matters: Revisiting the

First Step of the ‘Sequence of Prevention’ of Sports Injuries,” Sports Medicine, p. 2227–

2234, 2018.

[25] M. Hägglund, M. Waldén e J. Ekstrand, “Injury recurrence is lower at the highest

professional football level than at national and amateur levels: does sports medicine and

sports physiotherapy deliver?,” Br J Sports Med, pp. 751-758, 2016.

[26] M. Waldén, M. Hägglund, H. Bengtsson e J. Ekstrand, “Perspectives in football medicine,”

Der Unfallchirurg, p. 470–474, 2018.

[27] J. Ekstrand, J. Dvorak e M. D’Hooghe, “Sport medicine research needs funding: the

International football federations are leading the way,” Br J Sports Med, pp. 726-728,

2013.

[28] J. Ekstrand, M. Hägglund e M. Waldén, “Injury incidence and injury patterns in

professional football: the UEFA injury study,” Br J Sports Med, p. 553–558, 2011.

[29] J. Stubbe, A.-M. v. Beijsterveldt, S. v. d. Knaap, J. Stege, E. Verhagen, W. v. Mechelen e F.

J. Backx, “Injuries in Professional Male Soccer Players in the Netherlands: A Prospective

Cohort Study,” Journal of Athletic Training, pp. 211-216, 2015.

[30] J. N. Salces, P. M. Gómez-Carmona, L. Gracia-Marco, D. M. -Urdiales e M. Sillero-

Quintana, “Epidemiology of injuries in First Division Spanish football,” Journal of Sports

Sciences, pp. 1263-1270, 2014.

[31] M. Hagglund, M. Waldén e J. Ekstrand, “Injury incidence and distribution in elite football

- a prospective study of the Danish and the Swedish top divisions,” Scand J Med Sci

Sports, p. 21–28, 2005.

[32] J. Bjørneboe, R. Bahr e T. E. Andersen, “Gradual increase in the risk of match injury in

Norwegian male professional football: A 6-year prospective study,” Scand J Med Sci

Sports, pp. 189-196, 2012.

[33] L. Falese, P. D. Valle e B. Federico, “Epidemiology of football (soccer) injuries in the

2012/2013 and 2013/2014 seasons of the Italian Serie A,” Research in Sports Medicine,

pp. 426-432, 2016.

[34] C. Eirale, A. Farooq, F. A. Smiley, J. L. Tol e H. Chalabi, “Epidemiology of football injuries in

Asia: A prospective study in Qatar,” Journal of Science and Medicine in Sport, p. 113–117,

2016.

[35] R. D. Hawkins, M. A. Hulse, C. Wilkinson, A. Hodson e M. Gibson, “The association

football medical research programme: an audit of injuries in professional football,” Br J

Sports Med, p. 43–47, 2001.

[36] A. Jones, G. Jones, N. Greig, P. Bower, J. Brown, K. Hind e P. Francis, “Epidemiology of

Injury in English Professional Football Players: a cohort study,” Physical Therapy in Sport,

pp. 18-22, 2018.

Page 25: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 24

[37] A. Junge e J. Dvorak, “Influence of Definition and Data Collection on the Incidence of

Injuries in Football,” The American Journal of Sports Medicine, pp. S40-S46, 2000.

[38] W. Fuller, J. Ekstrand, A. Junge, T. E. Andersen, R. Bahr, J. Dvorak, M. Hagglund, P.

McCrory e W. H. Meeuwisse, “Consensus statement on injury definitions and data

collection procedures in studies of football (soccer) injuries,” Scand J Med Sci Sports, p.

83–92, 2006.

[39] H.-W. Mueller-Wohlfahrt, L. Haensel, K. Mithoefer, J. Ekstrand, B. English, S. McNally, J.

Orchard, C. N. v. Dijk, G. M. Kerkhoffs, P. Schamasch, D. Blottner, L. Swaerd, E. Goedhart

e P. Ueblacker, “Terminology and classification of muscle injuries in sport: The Munich

consensus statement,” Br J Sports Med, p. 342–350, 2013.

[40] N. Pollock, S. L. J. James, J. C. Lee e R. Chakraverty, “British athletics muscle injury

classification: a new grading system,” Br J Sports Med, pp. 1347-1351, 2014.

[41] X. Valle, E. Alentorn-Geli, J. L. Tol, B. Hamilton, W. E. G. Jr, R. Pruna, L. Til, J. A. Gutierrez,

X. Alomar, R. Balius, N. Malliaropoulos, J. C. Monllau, R. Whiteley e E. Witvrouw, “Muscle

Injuries in Sports: A New Evidence-Informed and Expert Consensus-Based Classification

with Clinical Application,” Sports Med, p. 1241–1253, 2017.

[42] J. Dvorak, A. J. J. Chomiak, L. Peterson, D. Rosch, R. Hodgson e T. Graf-Baumann, “Risk

Factor Analysis for Injuries in Football Players - Possibilities For a Prevention Program,”

The American Journal of Sports Medicine, pp. S-69 - S-74, 2000.

[43] P. A. Coles, “An injury prevention pyramid for elite sports teams,” Br J Sports Med, pp.

1008-1010, 2018.

[44] H. Bengtsson, J. Ekstrand e M. Hägglund, “Muscle injury rates in professional football

increase with fixture congestion: an 11-year follow-up of the UEFA Champions League

injury study. .,” Br J Sports Med, p. 743–747, 2013.

[45] C. Barnes, D. T. Archer, B. Hogg, M. Bush e P. S. Bradley, “The Evolution of Physical and

Technical Performance Parameters in the English Premier League,” Int J Sports Med, pp.

1095 -1100 , 2014.

[46] M. van Reijen, I. Vriend, W. v. Mechelen, C. F. Finch e E. A. Verhagen, “Compliance with

Sport Injury Prevention Interventions in Randomised Controlled Trials: A Systematic

Review,” Sports Med, p. 1125–1139, 2016.

[47] M. Hagglund, M. Waldén, R. Bahr e J. Ekstrand, “Methods for epidemiological study of

injuries to professional football players: developing the UEFA model,” Br J Sports Med,

pp. 340-346, 2005.

[48] FIFA, “FIFA to crack down on tackle from behind,” 1998.

[49] T. E. Andersen, L. Engebretsen e R. Bahr, “Rule Violations as a Cause of Injuries in Male

Norwegian Professional Football - Are the Referees Doing Their Job?,” The American

Journal of Sports Medicine, pp. 62S - 68S, 2004.

Page 26: Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol ...... · Um call-to action aos principais stakeholders do Futebol Português João Noura 2 Introdução Este documento pretende

Um call-to-action aos principais stakeholders do Futebol Português

João Noura 25

[50] C. E. Pfeifer, P. F. Beattie, R. S. Sacko e A. Hand, “Risk factors associated with non-contact

anterior cruciate ligament injury: a sistematic review,” The International Journal of Sports

Physical Therapy, pp. 575-587, 2018.

[51] E. Alentorn-Geli, J. Mendiguchıa, K. Samuelsson, V. Musahl, J. Karlsson, R. Cugat e G. D.

Myer, “Prevention of anterior cruciate ligament injuries in sports—Part I: Systematic

review of risk factors in male athletes,” Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc, pp. 3-15,

2014.

[52] W. Fuller, A. Junge e J. Dvorak, “Risk management: FIFA’s approach for protecting the

health of football playersColin,” Br J Sports Med, p. 11–17, 2012.

[53] R. Bahr, K. Thorborg e J. Ekstrand, “Evidence-based hamstring injury prevention is not

adopted by the majority of Champions League or Norwegian Premier League football

teams: the Nordic Hamstring survey,” Br J Sports Med, pp. 1-7, 2016.

[54] J. B. Lauersen, T. E. Andersen e L. B. Andersen, “Strength training as superior, dose-

dependent and safe prevention of acute and overuse sports injuries: a systematic review,

qualitative analysis and metaanalysis,” Br J Sports Med, pp. 1-8, 2018.

[55] K. Thorborg, K. Krommes, E. Esteve, M. Clausen, E. Bartels e R. M., “Effect of specific

exercise-based football injury prevention programmes on the overall injury rate in

football: a systematic review and meta-analysis of the FIFA 11 and 11+ programmes,” Br J

Sports Med, pp. 562-571, 2017.

[56] N. van Dyk, F. Behan e R. Whiteley, “Including the Nordic hamstring exercise in injury

prevention programmes halves the rate of hamstring injuries: a systematic review and

meta-analysis of 8459 athletes,” Br J Sports Med, p. 1362–1370, 2019.

[57] J. Harøy, B. Clarsen, E. Wiger, M. Øyen, A. Serner, T. K., P. Hölmich, A. T. e B. R, “The

Adductor Strengthening Programme prevents groin problems among male football

players: a cluster-randomised controlled trial,” Br J Sports Med., pp. 150-157, 2019.

[58] P. Brukner e D. Connell, “‘Serious thigh muscle strains’: beware the intramuscular tendon

which plays an important role in difficult hamstring and quadriceps muscle strains,” Br J

Sports Med, p. 205–208, 2016.

[59] C. W. Fuller, “Assessing the Return on Investment of Injury Prevention Procedures in

Professional Football,” Sports Medicine, p. 621–629, 2019.

[60] J. Bjørneboe, T. W. Flørenes, R. Bahr e T. E. Andersen, “Injury surveillance in male

professional football; is medical staff reporting complete and accurate?,” Scand J Med Sci

Sports, p. 713–720, 2011.