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UFSCar - Universidade Federal de São Carlos Catálogo de Práticas Populares de Saúde de São Carlos - SP Volume III - Região do Bairro Jardim Gonzaga Organização: MAPEPS - MAPEAMENTO E CATALOGAÇÃO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE MAPEAMENTO E CATALOGAÇÃO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE

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UFSCar - Universidade Federal de São Carlos

Catálogo de Práticas Populares de Saúde de São Carlos - SP

Volume III - Região do Bairro Jardim GonzagaOrganização:

MAPEPS - MAPEAMENTO E CATALOGAÇÃO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE

MAPEAMENTO E CATALOGAÇÃO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE

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Catálogo de Práticas Populares de Saúde de São Carlos - SPVolume 3: Região do Bairro Jardim Gonzaga(levantamento realizado entre 2010 e 2011)

Realização:

PROJETO “MAPEAMENTO E CATALOGAÇÃO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE”

UFSCar

Coordenação Geral:Maria Waldenez de Oliveira

Coordenação Executiva:Aline Guerra AquilanteFábio Gonçalves PintoAida Victoria Garcia Montrone

Equipe Executiva:Fabiana Arruda Xavier Hananiah Tardivo QuintanaHondina Cabral FortesNataly SantileRaquel Moretti LuchesiRenata Kazumi TakaesuSilvana Faraco de OliveiraTalita Pinheiro Parra Batista

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Catálogo de Práticas Populares de Saúde de São Carlos - SPVolume 3: Região do Bairro Jardim Gonzaga(levantamento realizado entre 2010 e 2011)

Realização: MAPEPS:

MAPEAMENTO E CATALOGAÇÃO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE

Diagramação: Verônica Garcia DonosoSão Carlos, 2011.

UFSCar - Universidade Federal de São Carlos - SP

MAPEAMENTO E CATALOGAÇÃO DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE

CONTATO:E-mail: [email protected]: (16) 3351-8373Endereço: Rod. Washington Luis, Km. 235 – Caixa Postal 676CEP 13565-905 - São Carlos - SP - Brasil

APOIO:

INCOOP – Incubadora Regional de Cooperativas Populares da UFSCar ANEPS - Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Po-pular e Saúde – Regional SP.

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BIBLIOGRAFIA:

LOYOLA, Maria André (1984) Médicos e curandeiros: conflito social e saúde. São Paulo: DIFEL.

LUZ, Madel T. (1992) “Introdução” in ________ et cols. Primeiro semi-nário - projeto racionalidades médicas. IMS/UERJ, Rio de Janeiro: MimeoLUZ, Madel T. (2003) Novos saberes e práticas em saúde coletiva: Estudos sobre Racionalidades Médicas e Atividades Corporais. São Paulo: HUCITEC.

OLIVEIRA, Maria Waldenez (coord.) (2008) Catálogo de práticas popu-lares de saúde de São Carlos. Vol 1: Região do bairro de Santa Felícia (levantamento realizado entre 2006 e 2007). São Carlos:MAPEPS. Dis-ponível para consulta em: www.processoseducativos.ufscar.br (CLICAR EM “PROJETOS”).

OLIVEIRA, Maria Waldenez (coord.) (2009) Catálogo de práticas popu-lares de saúde de São Carlos. Vol 2: Região do bairro do Parque Re-sidencial Maria Stella Fagá (levantamento realizado entre 2008 e 2009). São Carlos:MAPEPS. Disponível para consulta em: www.processoseducativos.ufscar.br (CLICAR EM “PROJETOS”).

OLIVEIRA, M. W. ; MORAES, J. V . (2010) Práticas Populares de Saú-de e a Saúde da Mulher. Revista de APS (Impresso), v. 13, p. 412-420. Disponível para consulta em: www.aps.ufjf.br/index.php/aps/article/download/723/387

QUEIROZ, Marcos de Souza (1991) Representações sobre saúde e doença; agentes de cura e pacientes no contexto do SUDS. Campinas: Editora da UNICAMP.

SITES:GRUPO DE PESQUISA “PRÁTICAS SOCIAIS E PROCESSOS EDUCATI-VOS”: www.processoseducativos.ufscar.brREDE DE EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE: www.edpopsaude.net

Catálogo de práticas populares de Saúde de São Carlos – SP /C356 coordenação geral Maria Waldenez de Oliveira ; coordenação executiva Aline Guerra Aquilante ... [et al.] ; [realização: MAPEPS]. –- São Carlos : MAPEPS, 2011. 3 v. 36p

Resultado do Projeto Mapeamento e Catalogação de Práticas Populares de Saúde – UFSCar. Conteúdo: Volume 1 – Região do bairro de Santa Felícia (levantamento realizado entre 2006 e 2007). – Volume 2 – Região do Parque Residencial Maria Stella Fagá.

ISBN v.1 - 978-85-99803-51-6. ISBN v.2 – 978-85-7993-035-5 ISBN v.3 - 978-85-7993-088-1

1. MEDICINA ALTERNATIVA 2. EDUCAÇÃO EM SAÚDE 3. ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE I. Oliveira, Maria Waldenez de, coord. geral. II. Montrone, Aida Victória Garcia, coord. executiva. III. Mapeamento e Catalogação de Práticas Populares de Saúde. IV. Grupo de Pesquisa Práticas Sociais e Processos Educativos. VI. Grupo de Pesquisa Laboratório Interdisciplinar de Estudos e Práticas em Políticas Públicas,Trabalho e Educação em Saúde.

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AGRADECIMENTOS:

Dedicamos a construção deste catálogo à Articulação Nacional de Movimen-tos e Práticas de Educação Popular e Saúde (ANEPS); à coordenação, professores(as) e usuários(as) do Centro Comunitário Maria Bernadete Rossi Ferrari - CRAS-Pacaembú, às equipes das Unidades de Saúde da Família da região do Bairro Jardim Gonzaga (equipes dos bairros Jardim Gonzaga e Cruzeiro do Sul) e aos/às praticantes das práticas populares aqui descritas. Agradecemos a todos os demais membros da Incubadora Regional de Cooperativas Populares (INCOOP) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) pela confiança e parceria em cada etapa deste

levantamento.Agradecemos ao apoio financeiro da Pró-Reitoria de Extensão da UFSCar; do Programa de Extensão Universitária (ProExt) do Ministério da Educação/Secretaria de Educação Superior, do Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares (PRONINC) do Ministério do Trabalho e Emprego, da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) do Ministério da Ciência

e Tecnologia.

Parceiros que nos ajudaram a consolidar este estudo.

Praticante de Umbanda (23)

“A Umbanda é um pronto socorro de pessoas que estão perdendo a fé; quando elas já foram em tudo quanto foi lugar e não deu certo, elas vêm no terreiro de Umbanda” (Fala da praticante)

Morfologia: Para a praticante, o ser humano é formado de matéria, espírito, periespírito e alma.

Dinâmica Vital:“Tudo começa com alguma coisa que essa pessoa passou, ou passa, muito grave. Por exemplo, uma morte na família e que a pessoa não aceita, não se conformou; no princípio ela não percebe, mas cai a energia dela, começa a se sobrecarregar de carga negativa, porque ela atrai aquilo que ela está sentindo, cada um de nós temos um “pai de cabeça”, temos nossas características e temos órgãos mais frágeis, geralmente são esses órgãos que desenvolvem essa doença.” (Praticante)

Diagnose:“Eu não faço perguntas, eu dou o passe, isso quando não é um trabalho; porque se for, é a entidade que vai falar, não sou eu. Quando eu dou o passe nela, eu percebo que tem alguma coisa em determinado lugar, algum órgão; como eu não sou médica, eu nem chuto que órgão, claro que se for na perna eu pergunto se a pessoa está com algum problema na perna, mas da cintura pra cima eu não arrisco, porque eu morro de medo de confundir fígado com rim por exemplo, principalmente se eu não estiver incorporada, porque se eu estiver eu não tenho esse medo. Daí cabe à pessoa a fazer exame.” (Praticante)

Sistema de Intervenções Terapêuticas:“Geralmente nós trabalhamos junto com os médicos, jamais uma pessoa vai chegar aqui e falar, por exemplo, que está com câncer e eu vou mandar ela sair do médico, jamais, não é esse o nosso papel; se Deus colocou o médico, é porque precisamos dele também. Na verdade, a gente faz o tratamento junto e aí temos o laudo médico, por mais que eu achar alguma coisa. Quer dizer, pra começar, na umbanda você não pode achar, não pode achar nada, na umbanda você não acha nada, você faz o que a entidade mandar e passa pra pessoa.” (Praticante)

Doutrina Médica:“É uma das religiões mais modernas, ela sempre cultua a natureza, ela sempre cuidou da natureza, o ponto de força do umbandista é a natureza, porque o umbandista não precisa do terreiro, precisa da mata, cachoeira, campo aberto, pedreira, tudo o que não temos, tudo o que tiraram de nós. A primeira coisa é que a pessoa precisa querer ser ajudada, a segunda é a fé e a terceira é o merecimento que esta pessoa tem.” (Praticante)

(23) Mulher, 54 anos, começou a desenvolver a prática quando seu irmão teve um infarto fulminante.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante espe-cífico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante de Lian Gong Seni Ba Fa (22)

“A parte mais gostosa de trabalhar na USF é o grupo de caminhadae Lian Gong juntos, porque não é uma relação de profissional com paciente e sim uma relação

horizontal, então muda a relação como usuário.”(Fala da praticante)

Morfologia:“O ser humano é: emoção e razão, tem mais emoção, as doenças são muito disso, o corpo fala pela pessoa. Além disso, muita mágoa, muita tristeza, muito sentimento mesmo.” (Praticante)

Dinâmica vital:“Acredito que medicina não devia ser a primeira opção, tem coisas que não dependem só do remédio. Tem pessoas doentes pelo espiritual, como por exemplo: depressão e angústia.” (Praticante)

Diagnose:“Quando o paciente chega no grupo para fazer os exercícios, eu digo: seja muito bem vindo, explico o intuito da prática, vejo o que a pessoa tem, vamos conversando aos poucos. Primeiro tem que ser acolhido, os que a gente conhece, a gente não pergunta nada. E os que começam, encora-jamos eles a continuarem, vemos qual exercício é mais ideal pra o que a pessoa tem. Tem coisas que são muito íntimas para falarmos na frente do grupo. Vejo no prontuário e não exponho a vida deles. ”(Praticante)

Sistema de intervenções terapêuticas:Segundo a praticante, a maioria das pessoas que procuram Liang Gong é porque estão com uma dor crônica e já fizeram outros tratamentos que não resolveram, então buscam o exercício para tentar aliviar as dores. “Sempre faço os exercícios junto com os pacientes, dura meia hora. Tem exercícios para quem tem insônia, até. Somando os resultados e o retorno disso, aumenta a nossa qualidade de vida. A dor que temos há anos acaba e antes só acabava com uso de analgésicos.” (Praticante)

Doutrina médica:“É uma prática criada por Zhuang Yuan Ming, ele via que seus pacientes tinham dores nos peito e nas costas, então ele bolou exercícios para a saúde. Os exercícios são leves e se parecem com um alongamento. Aliviam sintomas de quem tem escoliose, dores nas pernas.” (Praticante)

(22) Mulher, 46 anos, dentista, praticante de Liang Gong há dois anos e trabalha na Unidade de Saúde da Família há 5 anos.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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SUMÁRIO

Uma aproximação ao conceito de racionalidade médica ........... 07 Contexto de construção do catálogo .................................... 08Praticante Atendente de Farmácia ....................................... 12Praticante de Benzimento .................................................. 13Praticante de Benzimento .................................................. 14Praticante de Benzimento .................................................. 15Praticante de Benzimento .................................................. 16Praticante de Benzimento e Umbanda ................................. 17Praticante de Catolicismo Popular ....................................... 18Praticante Erveira ............................................................ 19Praticante Erveira ............................................................ 20Praticante Erveira ............................................................ 21Praticante de Erveiro ......................................................... 22Praticante de Espiritismo .................................................... 23Praticante de Espiritismo .................................................... 24Praticante Farmacêutica ......................................................... 25Praticante da Igreja Assembléia de Deus de Belém..................... 26Praticante da Igreja Assembléia de Deus: Ministério da Santíssima Trindade... 27Praticante de Igreja Católica ................................................. 28Praticante da Igreja Internacional da Graça de Deus ....................... 29Praticante da Igreja Presbiteriana Renovada.................................... 30Praticante da Igreja Ungido Pentecostal.................................. 32 Praticante de Lian Gong Seni Ba Fa ............................................ 33Praticante de Umbanda ........................................................... 34Bibliografia ...................................................................... 35Sites ............................................................................. 35Contato .......................................................................... 36Apoio ............................................................................ 37

Praticante da Igreja Ungido Pentecostal (21)

“O pastor além de cuidar dele, da família, ele tem que cuidar da igreja e a espe-rança de alcançar a vida eterna é o que nos faz permanecer nessa vocação”. (Fala

do praticante)

Morfologia:“O ser humano é muito frágil, a fragilidade nossa nos leva a contrair do-ença.” (Praticante)

Dinâmica Vital:“Hoje em dia a gente contrai a doença principalmente pela alimentação, a bebida alcoólica, cigarro.” (Praticante)

Diagnose:Conversa com as pessoas, pede para ir na igreja. Também trabalham com campanha, onde “a pessoa faz o pedido, escreve no papel, coloca o pedido dentro do envelope e começa meu trabalho orando e depois a pessoa fala se foi curado e oro em prol daquilo.” (Praticante)

Sistema de Intervenções Terapêuticas:Faz orações, utiliza óleo de unção, mas a pessoa precisa ter fé e pedir perdão pelos seus pecados. “A gente orienta pra ir ao médico, porque veja bem, a gente ora, mas tem que ir ao médico porque foi Deus que instituiu a medicina e não podemos deixar a medicina de lado e ficar só orando; onde Deus coloca a mão, o homem não coloca. Se você está dentro da vontade de Deus, ele opera milagres, mas às vezes Deus quer que a pessoa passe por aquela enfermidade.” (Praticante)

Doutrina Médica:“O que me levou a ser pastor é a vocação na palavra de Deus que me levou a aprofundar no conhecimento. A esperança de uma vida eterna em primeiro lugar.” (Praticante)

(21) Homem, 42 anos, está na prática há 16 anos, decidiu ser pastor porque foi chamado e também porque via a necessidade de ensinar as pessoas.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um(a) praticante específico(a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Diagnose:“Não é rotineiro, mas já houve caso de eu estar pregando e a voz do Espírito de Deus me dizer que a pessoa está com problema e quando eu chego na pessoa e falo o que ela tem, ela até chora, porque nunca tinha contado a ninguém o que tinha. 90% das pessoas que são reveladas por Deus são curadas.” (Praticante)

Sistema de Intervenções Terapêuticas:Através de orações feitas pelo pastor e pelos próprios fiéis que freqüentam a Igreja, da leitura da bíblia e seguimentos dos mandamentos nela escritos, e unção com óleo, as pessoas participam do culto, e pelo poder de Deus a cura é realizada, podem haver curas milagrosas. “Aconselhamos a procura pelos médicos. Não podemos usar armas para todos os tipos de situação. Se existe doença espiritual, existe arma espiritual. A fé vem pelos ouvidos, ouvir a palavra de Deus é que gera fé na pessoa para que ela acredite que naquela noite será curada. Existe muito emocionalismo, algumas pessoas não acreditam e não tem fé. Aconselhamos passar pelo médico, é muito superficial dizer apenas que a dor passou, agora quando é comprovado cientificamente, aí sim consideramos que houve cura.” (Praticante)

Doutrina Médica:Na Igreja Presbiteriana Renovada não existem espetáculos religiosos, como os que a mídia muitas vezes apresenta; a cura é realizada po rmeio de orações e unções. Ninguém escolhe ser pastor, o pastor tem que perceber o dom na sua vida. “Deus fala conosco, a vocação não é uma escolha, é um chamado de Deus”. (Praticante) O pastor recebe o salário pastoral para exercer as atividades sacerdotais. Dentre as atividades pastorais, está ir a hospitais orar pelos doentes, realizar reuniões semanais, visitas domiciliares dos fiéis, programa de rádio. A prática recomenda o compromisso com os padrões bíblicos, ser submisso às autoridades civis, patriarcais e religiosas, ter caráter perante a sociedade e ouvir o chamado de Deus. Para o pastor há o chamado período devocional, que são uma ou duas horas de oração e leitura da bíblia. “Nós aqui tratamos bem as pessoas, ensinamos o Ága-pe, que é o amor incondicional, mesmo se a pessoa estiver embriagada, drogada, se chegar de fusca ou de Ferrari, são todas tratadas da mesma forma, sem nenhuma distinção, mostramos o amor de Deus para contagiá-las.” (Praticante)

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UMA APROXIMAÇÃO AO CONCEITO DE RACIONALIDADE MÉDICA (1)

Para a apresentação das práticas descritas neste Catálogo, tomamos o que Madel Luz (1992, 2005) denomina de Racionalidades Médicas. Essas racionalidades têm cinco dimensões fundamentais:1. Morfologia: representa a estrutura do ser humano, isto é, o que compõe a forma do ser humano (na medicina ocidental contemporânea definida como “anato-mia”). 2. Dinâmica vital humana: explica como a vitalidade humana funciona e que relação haveria entre as estruturas ou componentes do ser humano. Além disso, procura também entender de que modo o ser humano é afetado por elementos ex-ternos e internos (na medicina ocidental contemporânea definida como “fisiologia”)3. Sistema de diagnose: é um conjunto de intervenções técnicas realizadas com o indivíduo, com o objetivo de saber qual problema ele tem (na medicina ocidental contemporânea definido como “diagnóstico”). 4. Sistema de intervenções terapêuticas: é um conjunto de intervenções (conhecidas como “tratamento”) a serem realizadas, dependendo dos problemas que o indivíduo apresenta. 5. Doutrina médica: pode ser considerada o “fio condutor”, a “filosofia” que guia a prática. É definidora da origem e a explicação das causas do adoecimento, o que é estar doente ou sadio, do que é tratável ou curável, de como tratar, etc.Além dessas cinco dimensões, temos a cosmologia, que é como cada racionalidade vê e define o mundo e o ser humano. Essa visão definirá como as práticas de cada dimensão são pensadas e feitas, e será a base que justificará a organização da prática.

O texto referente a cada prática apresentada neste catálogo foi extraído de entrevis-ta com o(a) praticante. Nem sempre, nessas entrevistas, foi possível obter informa-ções precisas e completas de cada uma das dimensões das racionalidades médicas como acima expostas. Neste caso, apresenta-se o trecho ou informações obtidas da entrevista que mais se aproximam da dimensão que se estava buscando. Assim sendo, não se deve entender as dimensões a seguir apresentadas em cada prática como categorizações dos dados obtidos nas entrevistas dentro da dimensão das ra-cionalidades, mas, como elementos da prática que se aproximam de tais dimensões. Lembrando que o objetivo deste catálogo não é de categorização das práticas, mas de sua apresentação aos profissionais de saúde de uma forma que estes as possam compreender da melhor maneira possível.

(1) Agradecemos a Profª. Dra. Madel Luz pela colaboração na revisão deste texto.

Praticante da da Igreja Presbiteriana Renovada (20)

“Pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação”. Romanos capítulo 10, versículo 10 (Trecho da Bíblia Sagrada)

Morfologia:O ser humano é um ser incompleto, nasceu incompleto, existiu incompleto, mas pensar dessa forma é um absurdo, porque Deus não faria nada in-completo. Por outro lado, vemos que somos mesmo incompletos à medida que nascemos sem saber falar, e que a nossa cultura é que age sobre nós e nos imprime uma língua, um modo de ser. O ser humano, quando doente, pode ser tratável; na medida em que se pode recuperá-lo, não há ser humano perdido, aquele que é mal, se bem tratado e orientado, pode ficar bom.

Dinâmica Vital:As doenças podem surgir porque o ser humano causa o desmatamento, seca as fontes, faz mal uso da natureza e “o homem devora o homem”. A tecnologia, às vezes, está em detrimento à saúde, gases são emitidos, poluindo o ambiente. Muitas doenças tem âmbito espiritual que a ciência não explica. “Há doenças que com certeza são espirituais, é Satanás que impõe” (Praticante). É preciso freqüentar a igreja, crer na palavras de Deus que estão na bíblia, orar e ter fé, acreditar que Deus pode curar e transformar vidas, fazer milagres. É preciso ver os talentos que Deus outorga às pessoas e investir neles, ajudar a pessoa a crescer espiritualmente e ouvir o sobrenatural que Deus pode realizar. A palavra de Deus escrita na bíblia é comparada pelo praticante como “alimento para os fiéis”.

(20) Homem, pastor de Igreja Presbiteriana Renovada, morador do bairro há quase 2 anos, está com 38 anos e exerce atividade sacerdotal nessa igreja há 2 anos. Converteu-se ao evangelho em agosto de 1989 devido a doença grave de sua irmã, que foi curada mila-grosamente por Deus. Estudou filosofia, teologia e marketing na época que fez seminário. Ensina os fiéis a orar.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um(a) praticante específico(a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante da Igreja Internacional da Graça de Deus (19)

“O que me motiva a ser pastor é o fato de eu olhar para a minha vida e vê-la transformada, mudada, hoje eu tenho tudo que eu quero, eu tenho Jesus”. (Fala

do praticante)

Morfologia:Vejo o ser humano muito frágil, somos muito frágeis e maleáveis; para mim é isso que eu vejo, fragilidade, muito frágil e parece que é forte. (Praticante)

Dinâmica Vital:Segundo o praticante, as pessoas ficam doentes primeiramente pela falta de cuidado com a saúde, principalmente homens, a pessoa vai abusando da alimentação, do stress. “Também, agora na nossa realidade, a parte da igreja, na nossa parte, na nossa área a gente acredita e temos certeza, a convicção de que existe uma outra vida, existe um Deus e se existe o bem também existe o mal, forças negativas que atuam nessa terra e as pessoas às vezes são influenciadas por forças negativas que trazem o mal, trazem o câncer, trazem o mal-estar, trazem a dor de cabeça e as pessoas absorvem esse mal trazido por esses espíritos malignos, então, nós acreditamos nessa força negativa e tem a força positiva que é a força de Deus.” (Praticante)

Diagnose:Aqui é como se fosse um médico espiritual, eu pergunto o que está acon-tecendo, sento com a pessoa e ela vai explicar. Alguns vêm sentindo dor de cabeça, outros tontura; ela expõe o que ela tem passado para que eu possa tratar o que tem acontecido com ela. (Praticante)

Sistema de Intervenções Terapêuticas:Segundo o praticante, a cura depende tanto do médico e do pastor quanto da pessoa que está doente. “É como se fosse uma consulta médica e Je-sus perguntava o que queres que eu te faça? Que eu volte a ver, mestre. E Jesus falava, então vai que a tua fé te salvou. (Praticante).”

Doutrina Médica:Segundo o praticante, o pastor deve ser sincero, determinado, não se beneficiar enganando os outros e acima de tudo amar a Deus e servi-lo acima de todas as coisas.

(19) Homem, 27 anos, freqüenta a Igreja há 6 anos.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) pra-ticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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CONTEXTO DE CONSTRUÇÃO DO CATÁLOGO

Em 2005, a ANEPS – Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde, regional de SP, debateu a necessidade da interlocução das várias racionalidades médicas na formação profissional em saúde. Nessa ocasião, a ANEPS-SP propôs aos seus membros de São Carlos um projeto piloto junto à UFSCar – Universidade Federal de São Carlos (SP) – de oficinas para profissionais de saúde em formação. Em 2006, professores(as)/pesquisadores(as) da UFSCar que compartilham de um projeto de atenção à saúde que dialoga com a cultura popular, elabora-ram o projeto de pesquisa e extensão “Mapeamento e Catalogação Inicial de Experiências de Educação Popular e Saúde de São Carlos”, com o objetivo de levantar as práticas populares que futuramente seriam incluídas em uma proposta de formação profissional na UFSCar . Juntos com estudantes da área da Saúde da UFSCar, foram realizados estudos que subsidiaram os procedimentos iniciais do mapeamento. Durante os anos de 2006 e 2007 realizou-se o levantamento na primeira região, do Bairro de Santa Felícia, em São Carlos, tendo-se publicado o Volume 1 do Catálogo (OLIVEIRA et al., 2008). Durante os anos de 2008 e 2009 realizou-se o levantamento na segunda região, do Bairro do Parque Residencial Maria Stella Fagá, em São Carlos, tendo-se publicado o Volume 2 do Catálogo (OLIVEIRA et al., 2009). Desde 2008, a equipe vem oferecendo, anualmente, o curso de extensão “Práticas Populares de Saúde”, que conta com a participação dos praticantes nas aulas. Este curso tem sido freqüentado, majoritariamente, por profissionais de saúde que estão atuando ou que estão em processos de formação. Como foram identificadas as práticas que constam deste catálogo.Durante os anos de 2010 e 2011 realizou-se o presente levantamento na região do Bairro Jardim Gonzaga. O mapeamento e catalogação cumpriram 4 etapas. Na primeira etapa, foram entrevistados(as) moradores(as) usuários(as) do Centro Comunitário da região, num total de 48 pessoas, sendo 3 ho-mens e 45 mulheres. Sobre os encaminhamentos dos problemas de saúde, estes(as) informaram recorrer a: farmácia/farmacêutico; Unidade de Saúde da Família (USF); Centro de Assistência Social (CRAS); traficantes; as-sistente social; ginástica; hospital escola; erveiras; benzedeiras, cartomante; curandeiras; pastoral da criança; agente comunitário de saúde; vizinhos; espiritismo; igrejas; bolsa família; programa de rádio; centro de atenção

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psicossocial (CAPS). Referiram também fazer uso de chás caseiros. Em relação às práticas populares, a Igreja Católica recebeu o maior nú-mero de citações (47), seguida de Igreja Pentecostal ou Neopentecostal (46), com destaque para a Igreja Assembléia de Deus (17). Depois fo-ram mencionados farmácia/farmacêuticos (32), benzimento (30) e Centro Espírita (25). No total, 18 pessoas citaram terreiros, embora dificilmente as pessoas entrevistadas conseguissem fazer a distinção entre umbanda e candomblé. A prática de erveiro apareceu em 12 entrevistas, enquanto o Catolicismo Popular em 7 e, yoga e parteira tiveram 4 menções cada. Três entrevistados(as) relataram conhecer a prática de massagem no bairro, enquanto as práticas de acupuntura, homeopatia e raizeira tiveram, cada uma, duas citações. Duas pessoas apontaram Lian Gong e, outras duas, um locutor “que ensina a fazer chás no programa de rádio”. Outra prática que apareceu em uma entrevista foi o aborto. No total foram 237 menções a práticas. Procurou-se saber da experiência pessoal e avaliação dos(as) entrevistados(as) sobre cada prática popular. Apenas foram consideradas para este catálogo as práticas que foram avaliadas positivamente e que tinham sido experienciadas peló(a) entrevistado(a) ou por pessoa de sua confiança. Também foram consideradas práticas indicadas pelos(as) entrevistados(as), porém não experenciadas pessoalmente por eles(as); nestes casos, cuidou-se de verificar se outros(as) entrevistados(as) man-tinham tal indicação, para que tal prática constasse do catálogoA segunda etapa foi de localização dos(as) praticantes. Sabe-se, pela nossa experiência anterior, que algumas das práticas mencionadas podem vir a serem menções distintas de uma mesma prática ou praticante (um entrevistado, por exemplo, menciona o nome, mas não sabe o endereço, outro menciona o endereço, mas não sabe o nome, ou dá outro nome pelo qual a pessoa também é conhecida, sendo que todos estão se referindo a mesma prática/praticante). Antes de proceder à localização dos praticantes, fez-se uma avaliação das 237 menções. Os praticantes/práticas que esta-vam repetidos foram registrados como uma única prática/praticante. Os pra-ticantes/práticas que se localizavam em outra região de abrangência, mesmo que utilizadas pelos moradores, foram registradas pela equipe para quando fizermos o levantamento na região específica mencionada e retiradas da lis-tagem para localização. Chegou-se ao final dessa avaliação, a 104 práticas/praticantes aos quais procederíamos a localização. Destes, constatou-se que ainda haviam 14 praticantes/práticas duplamente registradas quando a equipe procedeu a localização dos mesmos no bairro. Ao final, tivemos o total de

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Praticante de Igreja Católica (18)

“Enquanto a técnica disparou na frente, a ética ficou pra trás.” (Fala do prati-cante)

Morfologia:O ser humano é constituído de corpo e espírito, sendo que “o homem é a imagem semelhante a Deus.” (Praticante)

Dinâmica Vital:O praticante afirma que cada um temos dentro de nós um pouco de Deus, ou seja, que Deus colocou dentro de cada um pouco dele mesmo. Acredita que a sociedade cria dentro de nós as preocupações e que estas são as responsáveis pelas doenças, lembrando também que a raiz de todos os males está no pecado “original” de Adão e Eva.

Diagnose:“A pessoa chega pra conversar, tentamos ver o que tem de errado” (Pra-ticante) e é investigada a causa do problema. O praticante citou que muitas pessoas não gostam de assumir que estão doentes, mas é so começar a conversar que a pessoa começa a chorar e ele percebe que ela precisa de ajuda.

Sistema de Intervenções Terapêuticas:Orientação de vida, palavras de conforto e orações.

Doutrina Médica:“Cada um de nós temos um pouco de Deus dentro de nós. Ele nos ensinou a amar, e amar é o caminho da felicidade.” (Praticante)

(18) Homem, 79 anos, trabalhava em uma fábrica e após ler um jornal descobriu que o seu sonho era ser padre e a partir daí largou tudo e foi estudar.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante da Igreja Assembléia de Deus: Ministério da Santíssima Trindade (17)

“Deus é o caminho, a verdade e a vida, ele veio para que todos aqueles que crerem nele,não viessem a perecer, mas viessem a ter a vida eterna”. (Fala da praticante)

Morfologia:O ser humano possui corpo físico, alma e uma parte espiritual, deve ter fé em Deus para ter um bom alicerce espiritual.

Dinâmica Vital:“O alicerce da nossa vida, na verdade, a partir do momento que conhecemos a palavra de Deus é espiritual, temos nossa vida espiritual é o nosso equilíbrio, temos que ter equilíbrio espiritual”. (Praticante) As doenças afetam os componentes: corpo, alma e espírito. Há algumas enfermidades que aparecem em decorrência dos pecados cometidos ou ainda por a pessoa estar possessa possuída por demônios. “Nosso corpo é carnal, então nós estamos sujeitos a adversidades, enfermidades é também conseqüência do pecado.” (fala do Praticante)

Diagnose:Tem vários tipos de doença tanto da carne quanto da alma, espiritualmente. As pessoas pedem pelo que querem que o pastor faça as orações, dizem o que estão sentindo e pelos problemas que estão passando: perturbações, angústias, desemprego, problemas familiares, vícios, doenças.

Sistema de Intervenções Terapêuticas:As pessoas procuram a Igreja e o pastor. Deus que tem poder para curar, libertar de vícios e de demônios, conciliar casamentos; para que ocorra o que se busca é preciso fazer a leitura da Bíblia, obedecer o que está escrito, freqüentar sempre a Igreja presenciando os cultos e através das orações, feitas pelo praticante e pelos fiéis que freqüentam a Igreja, sempre tendo fé em Deus. É preciso dar testemunhos na Igreja das bençãos recebidas de Deus e também ser consagrado na Igreja. “A gente ora e determina que a pessoa seja curada, mas, é segundo a vontade de Deus porque muita das vezes a pessoa vem para receber uma cura e volta a praticar aquilo que estava fazendo, ou até pior e não agradece a Deus, não dá importância para a palavra de Deus.” (Praticante). É necessária a fé da pessoa, a fé do pastor e também consagração porque às vezes a enfermidade não vem só da carne, ela é espiritual também.

Doutrina Médica:O mais importante é buscar ajuda espiritual. A doutrina evangélica se baseia no que é lido no livro Bíblia Sagrada, pois a palavra de Deus é a Bíblia. O que está escrito na Bíblia é vivo e eficaz para a vida das pessoas, tudo que está escrito nela vem desde a fundação do mundo. Deus pode salvar as vidas das pessoas, pode curar, libertar dos espíritos demoníacos e mudar uma vida de dentro para fora. É preciso renunciar às coisas carnais e banais e crer em Deus, crer no amor dele, nele pode-se encontrar vida eterna, paz e amor. (17) Homem, há 12 anos é evangélico, pastor há 5 anos em sua Igreja, está com 43 anos, mora no bairro há 11 anos. Recebeu um chamado de Deus para se tornar pastor e deste então foi ungido para exercer esse trabalho. (*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante espe-cífico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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90 praticantes/práticas distintas mencionadas para essa região. Quando a indicação de moradia pelo(a) entrevistado(a) não era suficiente, recorreu-se a moradores próximos da localidade apontada. Mesmo assim, alguns praticantes não foram localizados. Houve também casos em que o local da prática foi encontrado, no entanto o local havia “fechado” ou o(a) praticante havia se mudado. Das 90 práticas populares levantadas, identifi-cou-se e localizou-se 22 praticantes. Todos(as) foram contatados(as) e permitiram as entrevistas. O roteiro para entrevista foi construído com base nas dimensões das racionalidades médicas (ver página 7).

Como foi elaborado este catálogo.Na terceira etapa, o catálogo começou a ser elaborado a partir da síntese das informações obtidas nas entrevistas com os(as) praticantes. Na quarta etapa, ocorreu a checagem das informações do catálogo junto aos(às) praticantes entrevistados.

Delimitação da Região do Bairro Jardim Gonzaga.Para ser incluído neste Volume 3 do catálogo, a prática mencionada pelo(a) entrevistado(a) deveria se dar dentro da região do bairro Jardim Gonzaga. Essa região foi delimitada pela divisão da Prefeitura Municipal de São Carlos para o Orçamento Participativo e inclui os bairros de: Jardim Cruzeiro do Sul, Vila Monte Carlo, Jardim das Rosas, Vila Conceição, Jar-dim Gonzaga, Jardim Pacaembu, Jardim Santa Tereza, Vila Morumbi, Vila Santa Madre Cabrine, Vila Sônia, Jardim Martinelli, Jardim Industrial João Leopoldino. Práticas mencionadas fora desses bairros não foram mapeadas para este Volume.

Outros encaminhamentos deste levantamento.No levantamento desta região específica, o MAPEPS esteve em parceria com a Incubadora Regional de Cooperativas Populares - INCOOP / UFS-Car com o objetivo de promover e ampliar empreendimentos e iniciativas de Economia Solidária na região. Especificamente o MAPEPS se propôs a identificar os praticantes que utilizavam ervas e convidá-los a conhecer um empreendimento de horta comunitária na região. Três praticantes, uma er-veira; um erveiro/raizeiro e um benzedeiro/umbandista interessaram-se. No segundo semestre de 2011 iniciou-se a articulação entre esses praticantes e os demais membros do empreendimento da horta comunitária com o objetivo de incorporar o plantio de ervas na horta comunitária visando a implantação futura de uma farmácia verde.

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Por fim...Este catálogo foi construído num período de tempo específico. Possivelmente outras práticas poderão ser encontradas na região e algumas das que aqui estão poderão não mais estar lá. Não é nossa pretensão que este catálo-go seja completo ou mesmo seja um guia para a localização das práticas populares. Tampouco é nossa pretensão “enquadrar” as práticas dentro das dimensões das racionalidades médicas, como já ressalvado na página 7. Nossa intenção é mostrar a diversidade de práticas populares de saúde presentes usando um referencial de análise que permite uma melhor com-preensão pelos profissionais de saúde, geralmente formados dentro de uma visão biomédica de corpo humano, do processo saúde-doença-cura. Para o enfrentamento das situações de adoecimento, os(as) moradores(as) buscam apoio não apenas nos profissionais de saúde das unidades dessa região, mas também nos agentes das práticas populares, complementando os sistemas terapêuticos. As pessoas avaliam que as práticas populares têm algo que as práticas do serviço não oferecem e vice-versa. Complementar práticas biomédicas com práticas populares não é um costume apenas das classes populares; além do quê, é um costume bastante tradicional, no sentido de que isso acontece há muito tempo. Abrir-se para o entendimento desse modo de enfrentar a doença pode significar uma escuta mais acolhe-dora pelo(a) profissional de saúde e uma atenção à saúde mais integral, dialogada com os modos que cada um encontra para construir sua saúde.--------------------

Este projeto liga-se às pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisa “Prá-ticas Sociais e Processos Educativos” (cadastrado no CNPq desde 1998), na Linha de Pesquisa “Educação, Participação, Direitos e Saúde” e ao Grupo QUÍRON – Estudos e Práticas em Saúde Coletiva ( cadastrado no CNPq desde 2006).

Praticante da Igreja Assembléia de Deus de Belém (16)

“O diabo veio pra matar, roubar e destruir, e Jesus veio para dar a vida” (Fala do praticante)

Morfologia:“O ser humano é meio difícil de compreender. O Senhor criou o homem... Deus criou em perfeito estado, mas o próprio homem ele gosta de ter o seu rumo, o ser humano é duro, tem o coração duro, e hoje cada vez mais vai endurecendo, já não tem mais aquele amor, aquele carinho.” (Praticante)

Dinâmica Vital:O praticante acredita que o corpo funciona tanto com o lado espiritual quanto com o lado carnal e que no caso as doenças podem se manifestar em um dos dois ou ate mesmo nos dois, e assim a cura depende em qual lado foi atingido. Se for espiritual, as orações são capazes de curar; e se for carnal, o médico é o responsável.

Diagnose:Não faz perguntas, apenas ora para Deus, e se Deus mandar fazer alguma pergunta, o praticante faz procurando sempre ajudar. Quando Deus revela alguma enfermidade, o praticante ora.O praticante citou que existe doença carnal e doença espiritual; se ele ora e percebe que a doença é carnal, ele manda para os médicos; agora, se for espiritual, ele continua orando pela pessoa.

Sistema de Intervenções Terapêuticas:Se for do lado espiritual, tem que continuar orando e nunca esquecer o que está se buscando. “Tem que continuar voltando na casa de Deus pedindo oração, que Deus vai ajudar e vai libertar. Então a pessoa tem que ter um acompanhamento espiritual, ela nunca pode deixar.” (Praticante)“Às vezes a gente aconselha a pessoa: vai orando, mas vai no médico, vai fazendo exame, tira uma radiografia. Isso, a gente orienta também porque nem tudo a cura é espiritual.” (Praticante) Quando Deus revela alguma enfermidade, o praticante ora pedindo para Deus ir expulsando aquela perturbação ou enfermidade para que a pessoa se sinta melhor.

Doutrina Médica:“A primeira coisa é que ele tem que amar. Se não amar, ter aquela caridade no coração, ser transparente... ser sincero. Não pode ser arrogante, tem que ser hu-milde primeiramente. E dedicar somente ao reino, somente a Jesus. Jesus nos leva a evangelizar a ganhar a alma no reino dele. Tem que amar acima de tudo. Eu amar o meu amigo é fácil, tem que amar o meu inimigo, por isso tem que amar.” (Praticante)

(16) Homem, 52 anos, começou aos 40 anos após uma dificuldade, tinha uma vida muito desregra-da, já foi católico, fez curso de teologia para se preparar.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante Farmacêutica (15)

“Cabe ao farmacêutico zelar pelo perfeito desempenho ético da Farmácia e pelo prestígio e bom conceito da profissão.”

(Código de Ética da Profissão Farmacêutica))

Morfologia:“As pessoas se curam porque tiveram cuidado com si próprias, com a saúde delas. Deus é tudo, mas se curam devido ao cuidado que tem com a própria saúde.” (Praticante)

Dinâmica vital: Segundo a farmacêutica, as pessoas adoecem não se alimentando, tendo contato com outras pessoas doentes, por virose, patologias diversas. Na época do calor tem ar seco, as pessoas vão adquirindo diversas patolo-gias.

Diagnose:“Peço a receita do médico que a pessoa trouxe e procuro o medicamento nas prateleiras e entrego pra pessoa. Só vendo se estiver com receita.” (Praticante)

Sistema de intervenções terapêuticas:“Comendo bem, e de tudo, adquire-se a imunidade de volta, os medi-camentos fazem o efeito que tem que ser feito. Se chega alguém com diarréia dou orientação para tomar gatorade, água, comer comida leve, e fazer soro caseiro, ensino a fazer o soro caseiro e ensino como usar o medicamento que a pessoa veio comprar, o horário que ela vai obter me-lhor efeito, tomar com leite ou suco, algo ácido, antes ou após refeições, etc.” (Praticante)

Doutrina médica:Segundo a praticante, o farmacêutico não pode recomendar nem receitar remédio nenhum, ele tem que gostar da profissão, se dedicar e cursar Farmácia na Universidade.

(15) Mulher, 27 anos, farmacêutica há 8 anos, atua em uma farmácia do bairro há dois anos e meio.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante Atendente de Farmácia (2)

“Não só trabalho na farmácia, eu vou na casa das pessoas que acreditam em mim e me chamam para atende-las. Às vezes me procuram para conversar sobre

problemas pessoais, então nem todas estão doentes fisicamente, somente que-rem conversar, desabafar de seus problemas, porque confiam em mim.” (Fala do

praticante)

Morfologia:“Para que ocorra uma cura, precisa olhar para o espírito e para o corpo. Mas o corpo dá para ver que cura, porque é físico, mas o espírito não tem como ver.” (Praticante).

Dinâmica Vital:Segundo o praticante as pessoas adoecem pela falta da felicidade e es-tresse.“Hoje as pessoas não riem mais, são sérias e carrancudas, se você não ri, não tem mais felicidade acaba ficando doente. “(Praticante)

Diagnose:“Quando a pessoa chega aqui eu só escuto, eles que me dizem o que tem, para que eu possa ajudar com medicamentos, a partir da doença que a incomoda ou em certos casos aconselhando a procurar ajuda médica, quando necessários exames e conhecimento da medicina. Descubro as do-enças porque eles me falam.” (Praticante)

Sistema de Intervenções Terapêuticas:Segundo o praticante, a felicidade ajudaria a curar as pessoas.“Os medicamentos curam o corpo, mas é o espírito que vai curar todo o resto.” (Praticante)

Doutrina Médica:Segundo o praticante, nessa doutrina os farmacêuticos não poderiam fazer da farmácia um simples comércio. Para ajudar as pessoas é preciso ter um dom espiritual.

(2) Homem, atendente e dono da farmácia, 49 anos, trabalha em farmácia há muitos anos e também há muito tempo está no bairro.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) pra-ticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante de Benzimento (3)

“Eu falo as palavras com fé em Deus e Nossa Senhora e peço pra eles me ajudarem.Eu rezo, mas é Deus quem cura, eu tenho fé, e ele abençoa as

minhas palavras” (Fala da praticante).

Morfologia:Tanto o corpo físico como a alma e o espírito adoecem e são curados através da fé e de orações a Deus.

Dinâmica Vital:Outras pessoas podem influenciar a saúde de uma criança, por exemplo: “que-brante que é quando ficam olhando pra criança, achando muito bonita e num falam ‘Benza Deus’” (praticante). As orações podem curar corpo e mente. Somente Deus pode entender como a cura é feita. Corpo e alma estão juntos, “Quando a gente morre, sai a alma e o espírito, e aí Deus já sabe o que faz com cada um, cada um vai pra um lugar, vai depender de como que se comportou na vida”. (Praticante). Diagnose:A mãe conta à praticante qual o problema que a criança tem, ou então a prati-cante pergunta o que está ocorrendo . “Tem muita criança que vem com bucho virado ou ventre virado né, que é quando a criança fica caída, tristinha, sabe?” (Praticante) Atende também crianças com dor de barriga, vomitando, com que-brante, dor de garganta.

Sistema de Intervenções Terapêuticas:As intervenções são feitas pelo uso de orações, da fé dos que procuram a ben-zedeira e da fé da benzedeira em Deus e nos Santos, e do uso do rosário bento, galhos de arruda e erva guiné durante o benzimento. Também é recomendado o uso de chás que a praticante ensina a fazer. A mãe traz a criança para benzer por três dias consecutivos, e mesmo que haja melhora, o benzimento continua por esses três dias. “Eu tenho muita fé em Nossa Senhora Aparecida e então eu rezo o rosário com fé” (Praticante)

Doutrina Médica:A doutrina desta prática se baseia no poder que Deus e Nossa Senhora Aparecida têm de curar os males, mas o veículo para que a cura seja realizada são as palavras. “Deus que cura, por meio das palavras” (praticante).

(3) Mulher, benzedeira desde a mocidade, católica, está com 73 anos, moradora do bairro há 24 anos. Aprendeu a benzer com um tio que era benzedeiro. Somente benze crianças. Nunca ensinou ninguém mas, “se vier alguém aqui com fé de benzer eu posso ensinar, sim” (fala da praticante)(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

Praticante de Espiritismo (14)

“Nessa vida a gente tem que passar por muita coisa, porque não é só caminho de rosas, não; quem planta amor, colhe amor; quem planta maldade, colhe malda-

de.(Fala do Praticante)”

Morfologia:“É uma coisa que confunde muito sua mente, porque você não sabe como julgar, porque tem gente do lado do bem e tem gente do lado do mal. Nós precisamos ter o amor e a paz, sem a fé nada feito.” (Praticante)

Dinâmica vital:“Só que precisa estudar os dois lados, tanto do bem quanto do amor, porque nós somos os dois, na gente mora o amor e o ódio juntos. Onde mora o bem, mora o mal, nós somos de duas partes, tem gente que vem com doença de pregação ou doença da matéria, você voltou pra passar aquilo ali, no fundo, no fundo tem muito segredo, o cristal é muito fino, nem todo olho vê, nem todo espírito enxerga.” (Praticante)

Diagnose:A pessoa chega para uma consulta e são os espíritos que vão guiar a praticante. Ela examina para ver se é problema espiritual ou “problema de homem na terra”, ou seja, problema que deve ser encaminhado ao médico. Se for esse o caso, ela encaminha a pessoa para uma consulta médica para ela voltar depois; se o problema for espiritual e estiver ao alcance da praticante, ela tenta resolver.

Sistema de intervenções terapêuticas:A praticante diz que ela só tem a sabedoria, quem manda e conduz o tratamento são os espíritos. “E eu vou até onde eu posso, eu ajudo, faço o que posso, dou um chá, umas ervas...” (Praticante)

Doutrina médica:“É pra quem sabe amar, e gostar, em primeiro lugar é o amor.” (Pra-ticante). Para ela, uma pessoa boa é aquela que tem amor pelo o que faz e não se deixa dominar pelo dinheiro, que tem prazer pelo que faz e caridade pelo próximo.

(14) Mulher, 36 anos, Espírita, nasceu na Bahia, médium desde os 18 anos.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) pra-ticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante de Espiritismo (13)

“ Porque nós seres humanos somos aqui da terra, um dia seremos do além.” (Fala do praticante)

Morfologia:Para o praticante, o ser humano é formado por espírito e carne.

Dinâmica vital:O praticante acredita que as pessoas possuem uma entidade própria, e que a carne não é eterna, mas o espírito permanece e vai para outra vida.

Diagnose:O praticante incorpora a entidade, e é ela quem identifica o problema por meio da conversa com a pessoa.

Sistema de Intervenções Terapêuticas:“Chega aqui eu chamo o orixá, ele vai orientar e vai falar o que deve fazer. Agora, se você tem um problema grave, passou pelo médico e ele não descobriu o que é que você tem, eu chamo o guia pra atender, e ele vai atender; e alguma solução, um caminho ele vai dar.” (Praticante)

Doutrina Médica:O praticante em si não é capaz de realizar a cura, mas sim os seus mentores, que são as entidades, orixás, guias etc.

(13) Homem, 71 anos, aposentado, começou aos 15 anos quando foi levado ao centro e começou a desenvolver a prática.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um(a) praticante específico(a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

Catálogo de Práticas Populares de Saúde de São Carlos - SP Volume 3: Região do Bairro Jardim Gonzaga 14 Catálogo de Práticas Populares de Saúde de São Carlos - SP Volume 3: Região do Bairro Jardim Gonzaga 23

Praticante de Benzimento (4)

“Benzimento vem de quando Cristo andou na terra, e veio por gerações e nunca saiu da minha família [...] Se eu não benzer eu não fico bem e não durmo, como eu nasci com o dom, tenho que usar, me deixa bem comigo mesmo benzer [...]Eu paro tudo que eu to

fazendo pra benzer, até de comer eu paro e benzo”. (Fala do praticante)

Morfologia:“Ser humano tem corpo, alma e espírito, o corpo pode ficar doente, mas a alma e o espírito ficam perturbados”. (Praticante)

Dinâmica Vital:O benzimento pode curar todos os tipos de doenças físicas, psíquicas ou espirituais. O corpo físico pode adoecer por microorganismos ou por um mau espírito que entra na pessoa (macumba, mal olhado, quebrante, inveja, olho gordo), causando perturbações ao espírito e à alma. “Trato qualquer tipo de perturbação e doença, o benzimento cura de tudo, até câncer”. (Praticante).

Diagnose:O benzedeiro sabe qual a doença ou perturbação que vai tratar olhando nos olhos da pessoa, tendo visões e sente o que ela tem. Mas, permite que as pessoas contem o problema que têm, se quiserem. “O benzimento cura tudo, desfaço trabalho, macumba, tudo, tiro mal olhado. Vem mais sarna, cobreiro, hepatite, queimadura, câncer, olho ardendo, quebranto, inveja, olho gordo. Só não cura o que precisa de cirurgia, porque aí é com os médicos” (Praticante).

Sistema de Intervenções Terapêuticas:Para benzer é necessário estar com saúde e se manter tranqüilo, para que o benzi-mento ocorra e dê certo. Quem cura é Deus e os Santos. Não importa o horário do dia, é importante benzer na hora que a pessoa chega, pode ser de noite se precisar. Não se pode benzer quando se está mal consigo mesmo. O benzimento ocorre através de orações com palavras voltadas para o que a pessoa tem, juntamente com o uso de alecrim e/ou arruda, sendo cada uma para uma enfermidade ou perturbação diferente. “Cada erva é para uma coisa diferente e cada problema tem as palavras certas” (Praticante).As pessoas tem que orar e pedir à Deus depois do benzimento.

Doutrina Médica:Para este praticante, na doutrina de sua prática é preciso nascer com o dom do benzimento, e aprender a usar esse dom. O benzedeiro é um mensageiro de Deus que por meio do benzimento e orações Deus realiza a cura, com ajuda dos Santos também. “Quem é benzedor não pode parar de benzer até morrer”. (Praticante).

(4) Homem, benzedeiro há 40 anos, católico e espírita, está com 82 anos, mora no bairro há 21 anos, benze durante o dia todo. O benzimento é um dom de nascença que está em sua família há muitas gerações, aprendeu a usar o dom com o pai desde menino. Ensina a uma familiar com o mesmo dom de benzer.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante de Benzimento (5)

“O benzimento eu não escolhi, porque é um dom, eu só escolhi usar o dom para fazer uma coisa boa: para ajudar pessoas a se curarem ou a encontrarem o que elas precisam [...]se es-

tou fazendo alguma coisa, paro e atendo quem precisa benzer [...]pode ser coisas da casa ou cuidando dos meus netinhos[...]. A medicina acha que ela está em primeiro lugar, não dão

espaço para a gente. Então a gente tem que ficar em casa e orar em intenção daquela pessoa e que está internada.” (Fala da praticante)

Morfologia:Os seres humanos são formados de carne, ossos, espírito e alma. E é preciso ser bom e fazer coisas boas para outros ao nosso redor.

Dinâmica Vital:As pessoas ficam doentes fisicamente e espiritualmente por motivos diversos, podendo ser algum mal na vida, doenças físicas ou espíritos ruins. E são curadas por vontade de Deus, pois só ele pode curar.

Diagnose:A praticante conversa com as pessoas que benze para saber por qual motivo fará a oração do benzimento. Também sente pressentimentos dos problemas (podem ser familiar, financeiro), das doenças ou de algum mau espírito que esteja causando mal. Mesmo que ela já saiba o que a pessoa tem, deixa a pessoa falar para que possa desabafar. São vários os problemas que atende: desemprego, lombriga de criança, dor de cabeça, olho-gordo, gripe, espírito ruim e câncer. “É tudo misturado, todas as doenças, vem criança, adulto [...]” (Praticante).

Sistema de Intervenções Terapêuticas:O benzimento ocorrerá durante três dias através de orações, com palavras voltadas para Deus como pedido para que a cura ou livramento do mal seja feito por ele. O rosário também é usado durante as orações. São indicadas orações para serem feitas em casa durante os três dias de benzimento. A praticante faz rezas, na casa dela, em intenção de pessoas internadas ou quando estas não podem vir até sua casa. Alguns problemas não estão ao alcance da benzedeira e nestes casos ela manda ir ao médico, procurar o posto de saúde. “E também tem algumas coisas que são meio pesadas, aí mando procurar gente que tem mais força que eu, pode ser outra benzedeira ou mando para o padre” (Praticante).

Doutrina Médica:A doutrina se baseia no nascimento com o dom do benzimento que foi dado por Deus e em ajudar aos outros através desse dom, não se sentindo bem não realiza o ben-zimento. Faz parte do benzimento realizar orações para limpeza do corpo da praticante, quando algum mal passa para ela vindo da pessoa benzida. A cura é considerada pela praticante como algo divino que só Deus pode explicar. “...sinto quando vai acontecer as coisas e o que as pessoas estão passando, então se não tem o dom, não dá pra aprender. Tem que ter o dom mesmo, e ser uma pessoa boa e benzer para ajudar aos outros a se curarem”. (Praticante). Para ser benzedeira, além do dom, ter que ser uma boa pessoa e ajudar os outros a fazerem coisas boas.

(5) Mulher, benzedeira há 38 anos, católica, está com 60 anos, mora no bairro há 4 anos. A mãe tam-bém era benzedeira e aprendeu a benzer com ela por volta dos 22 anos, após sentir que tinha o dom do benzimento. Não ensina a ninguém o benzimento, pois “vem de dentro da gente, é um dom que precisa nascer com ele, não dá pra ensinar” (fala da praticante).(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante espe-cífico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

Praticante de Erveiro (12)

“Sou filho de cacique, nas tribos a gente aprende a mexer com o mato, nas andanças com meu pai ele ia explicando, o que servia pra que. Nós somos nativos do mato, então tive que aprender porque todos caciques ensinam o filho, lá não tem tempo de aprender

outra coisa senão mato.” (Fala do praticante)

Morfologia:“O ser humano tem de acreditar que tem Jesus, somos pó da terra, estamos emprestados aqui, nós todos estamos no mesmo caminho, não tem rico, nem pobre, nós saímos da terra e voltamos para terra (o corpo). O espírito vai para Deus, aí Deus vai ver o que você fez de bom para ele, vai estar tudo na tábua de madeira o que a gente fez de bom.” (Praticante)

Dinâmica vital:Segundo o praticante, as pessoas fazem extravagâncias e acabam adoecendo. Ele acredita que ao sair em busca do fumo, do álcool, ou até mesmo se arris-cando ao tomar friagem, banho frio e vento, as pessoas estão procurando uma doença para o organismo.

Diagnose:“As pessoas é que me dizem por que elas precisam de remédio. Elas me contam o que elas têm aí eu ensino fazer o remédio.” (Praticante)De acordo com fala do praticante, sabe-se que as pessoas especificam o que estão sentindo, se dor de barriga ou gripe, por exemplo, e então se ele tem uma erva que serve para determinada doença, ele já dá para a pessoa, senão saem para procurar essa erva.

Sistema de intervenções terapêuticas:“Eu nunca curei, só Jesus que cura, mas eu ensinei várias plantas, até para animal, vou no mato, arrumo castanha para curar até animal. Tem doença, o câncer é doença terminal, só Jesus pode curar porque a pessoa toma muito remédio ele só acalma, tem que operar aí é só Jesus mesmo. Tem que acre-ditar para dar certo e fazer o remédio certo e tomar direitinho, senão não vira nada. Se o problema é serio, peço para procurar Jesus e o médico também, mas Jesus é o médico dos médicos .” (Praticante)

Doutrina médica:Segundo o praticante, para mexer com as plantas é necessário ser calmo, in-teligente e zeloso. É preciso conhecer as plantas e saber o que está dizendo para não ensinar um remédio errado a ninguém.

(12) Homem, índio, 77 anos, mexe com as plantas desde os 12 anos e reside no bairro há 20 anos, aprendeu a ser erveiro com o pai.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante Erveira (11)

“Na minha adolescência fomos criados com chás; quando ficávamos doentes, a nossa mãe fazia chás pra gente, eu sei que os chás são bons.”

(Fala da praticante)

Morfologia:Para a praticante, o ser humano tem que ter espírito senão a vida não faria sentido.

Dinâmica vital:Na visão da praticante, as pessoas adoecem por descuido com o cor-po.

Diagnose:“As pessoas quando vinham falavam o que tinham e pediam plantas para fazer chás para aquilo que fosse bom para elas.” (Praticante)

Sistema de Intervenções Terapêuticas:Segundo a praticante, quando as pessoas pediam alguma planta ela dava, ensinava a fazer o chá e ressaltava a importância de acreditar que aquele chá teria algum efeito. “Câncer é uma doença mais difícil de tratar, mas tem um chá que cura, de avelós, tem que tomar acreditando que vai curar, aí eu tenho certeza que ajuda. Você toma três gotas do leite da plantinha com água que ajuda.” (Praticante)

Doutrina Médica:“Para tomar chás é preciso que você tenha fé para que funcione. Até com remédios é assim, você toma, mas tem que ter fé que vai fun-cionar.” (Praticante)

(11) Mulher, 53 anos, moradora do bairro há 30 anos e ex voluntária de um projeto com plantas liderado por um radialista.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante de Benzimento (6)

“Quem tem força no espírito tem força para qualquer coisa”.(Fala da praticante)

Morfologia:O ser humano em si é carne, o espírito faz parte do ser humano, e sem ele o corpo não se locomove, sem o espírito não há vida.

Dinâmica Vital:Para a praticante, as doenças se encontram no espírito, e a cura para os males se dá porque se eleva o espírito,; deixando o espírito saudável, seu corpo se torna saudável. “As pessoas se curam louvando a Deus, orando, através das orações que faço e pelas que elas fazem também”. Também pode acender velas e dedicá-las aos santos certos pra cada assunto. “Porque a chama acesa representa a busca pelo caminho de louvor a Deus e ao santo certo pra resolver o problema que a pessoa busca curar. Se o espírito se curar e se elevar, a cura será feita”. (Praticante). Diagnose:As pessoas contam, conversam com a praticante, expondo o que sentem, ne-cessitam, e/ou os problemas que estão buscando resolver. A praticante sente um pouco o que as pessoas têm.

Sistema de Intervenções Terapêuticas:A praticante ensina as pessoas a fazerem orações em casa, pode ser voltada para um santo se a pessoa quiser ou não, orienta sobre o uso de velas para acender, sendo cada cor de vela voltada para um propósito distinto e um Santo também distinto; também acende as velas levadas pelas pessoas que benze em sua própria casa. Faz orações e rezas com muita fé buscando a resolução dos problemas das pessoas.

Doutrina Médica:A praticante vê o benzimento como uma prática divina. A doutrina do mesmo é baseada na doutrina da religião espírita, a religião a qual a praticante pertence, sendo todos os processos desse benzimento firmados por muita fé que a pra-ticante possui. “Ter um bom coração, ser fiel, respeitar as pessoas e ter amor por elas. Ter humildade porque não tem como tratar uma pessoa se você não é humilde. Tem que ter amor, humildade, bom caráter para isso”. (Praticante).

(6) Mulher, benzedeira há 50 anos, espírita e umbandista, está com 60 anos, mora no bairro há 30 anos. Esse dom foi passado a ela pela mãe, que também benzia. Escolheu ser benzedeira, pois as pessoas vêm, procuram e ela não recusa ajuda. Não ensina a ninguém o benzimento, pois considera um dom.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante de Benzimento e Umbanda (7)

“Deus criou o diabo, assim como nos criou, ninguém está acima de Deus e nunca vai estar Ele só deu um “poderzinho” para o diabo, mas Ele não é tão

ruim assim, nós é que somos ruins, porque os espíritos nós conseguimos manipular, já o ser humano não. Um bom espírito jamais vai te prejudicar.”

(Fala do praticante)

Morfologia:O praticante vê o ser humano como sendo composto de matéria e es-pírito.

Dinâmica Vital:A força da mente é muito poderosa e a maioria das coisas que aconte-cem no nosso organismo é ela quem guia, lembrando que cada organismo funciona de uma forma. “Quando você passa da vida terrena para a vida espiritual você vai desencarnar, mas este mesmo espírito pode voltar e a gente não lembra, por exemplo, quem foi nossa mãe na vida passada e tal.” (Praticante).

Diagnose:Para realizar o diagnóstico é necessário identificar e definir o que é espiritual ou não, porque ou a doença está no espírito ou na matéria. “A doença ataca primeiro o espírito e depois a matéria, então o que é de medico é de medico e o que é de médium é de médium.” (Pra-ticante)

Sistema de Intervenções Terapêuticas:“Dou o passe, faço uma leitura espiritual, explico, porque muitas pessoas resistem e diz que Deus não a ajudou, mas na verdade foi a própria pessoa que não está se ajudando, tem que saber o que é bom e o que é ruim. Se a doença for espiritual eu tento, mas se for matéria é para o medico.” (Praticante) Receita chá de ervas.

Doutrina Médica:“É uma forma de se sentir útil para a sociedade e para as outras pes-soas ne? A gente se sente bem, sabe; quantas vezes pensamos: nossa o que estou fazendo? Para quê? Para quem? Tem que praticar o dom que foi me dado e temos que explicar o espiritismo porque as pessoas se amedrontam.” (Praticante)

(7) Homem, trabalha com reciclagem, começou a desenvolver a prática quando sofreu um acidente.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

Praticante Erveira (10)

“Tem que gostar e ter amor para mexer com plantas e ter muita fé que elas vão curar e que Jesus que vai curar com a sua mão santa. É a coisa mais gos-

tosa que tem no mundo”. (Fala da praticante)

Morfologia:Os seres humanos foram criados por Jesus, nos dando corpo físico e uma alma.

Dinâmica vital:Somente Jesus sabe o que as pessoas têm de ruim, de doenças, ou porque estão mal quando se referem ao psíquico; as doenças da carne, as plantas podem curar, pelos remédios naturais.

Diagnose:As pessoas chegam à casa da praticante e pedem chás e ervas. Con-forme o que estão sentindo, a praticante indica as ervas corretas.

Sistema de Intervenções Terapêuticas:“Deus ensina que o natural é que é remédio, você pega a planta aqui, faz o chá, sem Deus não somos nada. Só Jesus que cura, se não orar antes de tomar o chá nem vai curar” (Praticante). A praticante orienta a pessoa a colher, cortar e preparar o chá corretamente, para que faça bem e a cura seja obtida; também se pode usar ervas maceradas e beber água em seguida. É necessário ter fé em Jesus para que a cura seja feita, além de tomar chás. Antes de beber é preciso dizer palavras como: “Jesus esse chazinho aqui vai me curar! Deus olhe por mim” (Praticante).

Doutrina Médica:A doutrina se baseia em amar, cuidar, ter carinho e conversar com as plantas, isso ajuda no preparo de remédios naturais com as plantas medicinais. É preciso amar as plantas como se fosse um filho, tratá-las como pessoas. Ter fé em Jesus, orar e pedir para que ele abençoe o chá que irá tomar faz parte do processo da prática. “Eu amo as plantas, tem que amar elas pra gente saber mexer com elas. Tem que tratar com carinho e amor, porque são que nem gente, se tratar bem elas vão crescer e ficar bem e ser boa pra usar”. (Praticante).

(10) Mulher, erveira, católica, moradora do bairro há 25 anos, mexe com ervas e plantas medicinais desde os 15 anos, aprendeu na lavoura, com os pais, sozinha, e por intermédio de Deus. Para ensinar alguém a mexer com plantas é preciso ter amor a carinho pelas plantas.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante Erveira (9)

“ Eu converso com as plantas como se elas fossem pessoas, digo: vocês vão crescer, são feinhas, mas vão ficar bonitas.

Depois disso as plantas crescem e ficam realmente lindas. Precisa ser caprichoso, ter carinho e amor pelas plantas”.

(Fala da praticante)

Morfologia:“Nosso corpo tem uma alma, somos filhos de Deus, do Pai, temos um lugar escolhido para nós; se Deus vê a gente, ele sabe para onde nós vamos”. (Praticante)

Dinâmica vital:O corpo é composto por uma parte física que adoece e se cura, com o uso de ervas medicinais e remédios feitos dessas ervas, acrescenta-do da fé em Deus e da fé na cura. A doença ocorre por abuso das pessoas, com o próprio corpo, por uso de remédios em excesso, uso do álcool, ou por ingerirem muita comida, e pelo estresse de hoje em dia.

Diagnose:“As pessoas chegam e me pedem ajuda pra fazer chá, aí eu pergunto para que é, e o que elas estão sentindo e ensino fazer o chá ou pomada se for para feridas. Elas que me contam, tem umas que só de olhar eu vejo que não estão bem”. (Praticante)

Sistema de Intervenções Terapêuticas:As intervenções da praticante se baseiam em remédios caseiros feitos de plantas e ervas medicinais, são remédios que saram aos poucos e não possuem efeitos colaterais. Para que a cura seja feita através dos remédios caseiros, faz-se necessário a fé em Deus e em que a cura ocorrerá. A praticante ensina as pessoas a fazerem chás e pomadas com as plantas e ervas, para diversas enfermidades do corpo físico ou psíquico (como chás “calmantes” ou contra “nervoso”). Também faz orações pedindo pelas pessoas que lhe procuram.

Doutrina Médica:A doutrina é baseada no amor, carinho e dedicação que se tem pe-las plantas, e da fé depositada na cura pelas ervas medicinais e em Deus.

(9) Mulher, erveira desde criança, católica e praticante de candomblé, está com 76 anos, mora no bairro há 20 anos. Mexe com plantas e ervas desde que era pequena, pois a mãe mexia e ela pegou amor pelas plantas. (*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) praticante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.

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Praticante de Catolicismo Popular (8)

“As pessoas pedem para eu rezar, é o que eu faço! Nada é mais importante do que servir a Deus. Sempre há tempo para fazer o bem e testemunhar a palavra de Deus.”

(Fala da praticante)

Morfologia:“Na minha fé católica, o ser humano é um filho de Deus porque ele criou todas as criaturas e por último criou o homem e a mulher que são sua imagem e semelhança. O batismo é o ingresso para entrar na família de Deus, a partir daí se torna um seguidor de Jesus. É bom fazer o sinal da cruz em frente ao cemitério porque ali tem pessoas que conheceram Jesus. É carne, osso e espírito.” (Praticante)

Dinâmica vital:“As pessoas ficam doentes por coisas da vida, talvez muitos tenham a vida sofrida, má alimentação, falta de médico na hora certa, falta de prevenção. A doença vem quando tem que adoecer.” (Praticante)

Diagnose:Segundo a praticante, por morar em um bairro pequeno ela acaba se tornando uma referência às pessoas que necessitam de ajuda. Assim, quando alguém adoece, ela é logo comunicada e vai até a casa das pessoas visitar, levar comida. As pessoas procuram a praticante para que ela vá até suas casas fazer novenas, para rezar.

Sistema de Intervenções Terapêuticas:“Faz uma diferença enorme eu rezar pelas pessoas. Deus cura através da medicina. Deus deixou a medicina ao nosso alcance, peço para Deus aben-çoar os médicos. Doei uma imagem da face de Jesus para um hospital e quando fui levar o padre foi comigo e disse palavras bonitas, que a ima-gem iria abençoar os médicos e todos os que ali entrassem. Pedi para que Deus fizesse o coração dos médicos semelhante ao dele, afinal Deus é o médico dos médicos. Nós vamos buscar os recursos que Deus nos deixou.” (Praticante)

Doutrina Médica:Segundo a praticante, a Fé é muito importante na vida das pessoas, sem fé não há esperança. “É importante o testemunho, temos que dar testemunho da palavra de Deus, trazer Deus para a família e para comunidade, pois quem tem Deus é feliz!” (Praticante)

(8) Mulher, 58 anos, moradora do bairro há muitos anos e católica praticante desde a infância. Ajuda na pastoral do dízimo, do batismo e é ministra da eucaristia.(*) Esta prática foi caracterizada de acordo com as informações obtidas junto a um (a) prati-cante específico (a) da região do Bairro Jardim Gonzaga, São Carlos.