UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina · a clarificação total (e às vezes até o...

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1 UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Depto De Eng. Química e de Eng. De Alimentos EQA 5313 Turma 645 Op. Unit. de Quantidade de Movimento FILTRAÇÃO A filtração é uma das aplicações mais comuns do escoamento de fluidos através de leitos compactos. A operação industrial é análoga às filtrações realizadas em um laboratório que utilizam papel de filtro e funil. O termo filtração pode ser utilizado para processos de separação dos sólidos de suspensões líquidas e, também para separação de partículas sólidas de gases, como por exemplo, a separação das poeiras arrastadas pelos gases utilizando tecidos. O objetivo da operação é separar mecanicamente as partículas sólidas de uma suspensão líquida com o auxílio de um leito poroso. Quando se força a suspensão através do leito, o sólido da suspensão fica retido sobre o meio filtrante, formando um depósito que se denomina torta e cuja espessura vai aumentando no decorrer da operação. O líquido que passa através do leito é chamado de filtrado. Em princípio a filtração compete com a decantação, a centrifugação e a prensagem. Seu campo específico é: a separação de sólidos relativamente puros de suspensão diluídas; a clarificação total (e às vezes até o branqueamento simultâneo) de produtos líquidos encerrando pouco sólido; a eliminação total do líquido de uma lama já espessada. Em certas situações a filtração não compete com outras operações. Por exemplo, se o líquido for o produto e o sólido constituir o resíduo, como no caso do óleo existente nas tortas de algodão ou amendoim, a prensagem é o processo mais indicado. Porém, quando o objetivo é a clarificação de suspensões de média e elevada concentração, a centrifugação compete com a filtração. A filtração industrial difere da filtração de laboratório somente no volume de material operado e na necessidade de ser realizada a baixo custo. Assim para se ter uma produção razoável, com um filtro de dimensões moderadas, deve-se aumentar a queda de pressão, ou diminuir a resistência ao escoamento, a fim de aumentar a vazão. A maioria dos equipamentos industriais opera mediante a diminuição da resistência ao escoamento, fazendo com que a área filtrante seja a maior possível, sem que as dimensões globais do filtro aumentem proporcionalmente. A escolha do filtro depende em grande parte da economia do processo, porém as vantagens econômicas são variáveis de acordo com o seguinte: Viscosidade, densidade e reatividade química do fluido; Dimensões da partícula sólida, tendência à floculação e deformabilidade; Concentração da suspensão de alimentação; Quantidade do material que deve ser operado; Valores absolutos e relativos dos produtos líquido e sólido;

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UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

Depto De Eng. Química e de Eng. De Alimentos

EQA 5313 – Turma 645 – Op. Unit. de Quantidade de Movimento

FFIILLTTRRAAÇÇÃÃOO

A filtração é uma das aplicações mais comuns do escoamento de fluidos

através de leitos compactos. A operação industrial é análoga às filtrações

realizadas em um laboratório que utilizam papel de filtro e funil.

O termo filtração pode ser utilizado para processos de separação dos

sólidos de suspensões líquidas e, também para separação de partículas sólidas

de gases, como por exemplo, a separação das poeiras arrastadas pelos gases

utilizando tecidos.

O objetivo da operação é separar mecanicamente as partículas sólidas de

uma suspensão líquida com o auxílio de um leito poroso. Quando se força a

suspensão através do leito, o sólido da suspensão fica retido sobre o meio

filtrante, formando um depósito que se denomina torta e cuja espessura vai

aumentando no decorrer da operação. O líquido que passa através do leito é

chamado de filtrado.

Em princípio a filtração compete com a decantação, a centrifugação e a

prensagem. Seu campo específico é:

a separação de sólidos relativamente puros de suspensão diluídas;

a clarificação total (e às vezes até o branqueamento simultâneo) de

produtos líquidos encerrando pouco sólido;

a eliminação total do líquido de uma lama já espessada.

Em certas situações a filtração não compete com outras operações. Por

exemplo, se o líquido for o produto e o sólido constituir o resíduo, como no caso

do óleo existente nas tortas de algodão ou amendoim, a prensagem é o processo

mais indicado. Porém, quando o objetivo é a clarificação de suspensões de média

e elevada concentração, a centrifugação compete com a filtração.

A filtração industrial difere da filtração de laboratório somente no volume

de material operado e na necessidade de ser realizada a baixo custo. Assim para

se ter uma produção razoável, com um filtro de dimensões moderadas, deve-se

aumentar a queda de pressão, ou diminuir a resistência ao escoamento, a fim de

aumentar a vazão.

A maioria dos equipamentos industriais opera mediante a diminuição da

resistência ao escoamento, fazendo com que a área filtrante seja a maior

possível, sem que as dimensões globais do filtro aumentem proporcionalmente.

A escolha do filtro depende em grande parte da economia do processo, porém as

vantagens econômicas são variáveis de acordo com o seguinte:

Viscosidade, densidade e reatividade química do fluido;

Dimensões da partícula sólida, tendência à floculação e deformabilidade;

Concentração da suspensão de alimentação;

Quantidade do material que deve ser operado;

Valores absolutos e relativos dos produtos líquido e sólido;

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Grau de separação que se deseja realizar;

Custos relativos da mão-de-obra, do capital e da energia.

Um filtro funciona como indicado na Fig. 1. Há um suporte do meio

filtrante sobre o qual vai se depositando a torta à medida que a suspensão passa

através do filtro. A força propulsora da operação varia de um modelo de filtro

para outro, podendo ser:

próprio peso da suspensão, como no caso da figura;

pressão aplicada sobre o líquido;

vácuo;

força centrífuga.

Ao contrário do que se pensa comumente, os poros do meio filtrante não

precisam ser necessariamente menores do que o tamanho das partículas. De

fato, os canais do meio filtrante são tortuosos, irregulares e mesmo que seu

diâmetro seja maior do que o das partículas, quando a operação começa

algumas partículas ficam retidas por aderência e tem início a formação da torta,

que é o verdadeiro leito poroso promotor da separação. Tanto isso é verdade,

que as primeiras porções do filtrado são geralmente turvas.

Figura 1. Princípio de funcionamento de um filtro

Em muitas situações o meio filtrante é previamente recoberto com um

material inerte que se destina a reter os sólidos contaminantes da suspensão,

isto consiste o pré-revestimento. O sólido empregado é denominado auxiliar de

filtração, ou ainda, coadjuvante de filtração.

Os auxiliares de filtração são bastante utilizados para acelerar a filtração

ou ainda para possibilitar a coleta mais completa das partículas mais finas da

suspensão. Estes coadjuvantes são sólidos finamente divididos, com estrutura

rígida, que formam tortas abertas, não compressíveis. Portanto, outra função do

auxiliar de filtração é diminuir a compressibilidade da torta. Ele desempenha o

papel de “esqueleto” da torta. A adição tem por finalidade impedir a

compactação da torta que vai se formando durante a filtração, mantendo-a

porosa durante todo o ciclo.

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Os auxiliares de filtração mais comuns são: terras de infusórios; terra

fuller; areia fina; diatomita ou kieselguhr; polpa de celulose; carbonato de cálcio;

gesso; amianto; perlita; carvão.

A quantidade a empregar varia com uma série de fatores. Como regra

recomenda-se 1 a 2 kg de auxiliar de filtração por kg de contaminante, mas há

uma quantidade ótima. Quantidades menores aumentam o ciclo, porque o meio

filtrante entope, enquanto que maiores quantidades contribuem para aumentar a

perda de carga através da torta sem remover o contaminante.

Auxiliares de filtração

Diatomáceas: As diatomáceas ou terras diatomáceas são rochas

sedimentares formadas por esqueletos silíceos microscópicos de algas de origem

marinha ou lacustre, de formas muito variadas e cujas dimensões variam de 5 a

100 µm. São submetidos a trituração seguida de secagem, sendo que os

coadjuvantes calcinados são submetidos a um tratamento complementar em um

forno rotatório com a finalidade de aumentar as dimensões das partículas por

aglomeração. Os coadjuvantes sinterizados são calcinados em presença de um

sal de sódio que aumenta o efeito de aglomeração.

Perlita:Trata-se de uma rocha vítrea de origem vulcânica que se expande a

alta temperatura. Como as terras diatomáceas, a perlita é essencialmente sílica

sendo também rica em alumínio, que a deixa quimicamente neutra.

Celulose:Se emprega em forma de farinha de madeira para dar forma a

uma pré-capa ou para aerar uma capa de alimentação. Também pode empregar-

se em forma de pasta de papel dividida por uma pré-capa e em forma de pó de

celulose obtido a partir do pó de madeira mediante a dissolução de lignina e

purificação das fibras.

Carvão ativo: Obtido a partir dos sub-produtos da fabricação de papel, é

importante pelas suas propriedades absorventes.

Meio filtrante

Tão grande é a variedade de meios filtrantes utilizados industrialmente

que seu tipo serve como critério de classificação dos filtros: leitos granulares

soltos, leitos rígidos, telas metálicas, tecidos e membranas.

Os leitos granulares soltos mais comuns são feitos de areia, pedregulho,

carvão britado, escória, calcáreo, coque e carvão de madeira, prestando-se para

clarificar suspensões diluídas.

Os leitos rígidos são feitos sob a forma de tubos porosos de aglomerados

de quartzo ou alumina (para a filtração de ácidos), de carvão poroso (para

soluções de soda e líquidos amoniacais) ou barro e caulim cozidos a baixa

temperatura (usados na clarificação de água potável). Seu grande inconveniente

é a fragilidade, não podendo ser utilizados com diferença de pressão superiores a

5 kg/cm2.

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Telas metálicas são utilizadas nos “strainers” instalados nas tubulações de

condensado que ligam os purgadores às linhas de vapor e que se destinam a

reter ferrugem e outros detritos capazes de atrapalhar o funcionamento do

purgador. Utilizam-se também nos filtros mais simples que existem, os “nutsch”,

e nos rotativos. A importância das telas metálicas na filtração vem crescendo

ultimamente. Podem ser chapas perfuradas ou telas de aço carbono, inox, níquel

ou monel.

Os tecidos são utilizados industrialmente e ainda são os meios filtrantes

mais comuns. Há tecidos vegetais, como o algodão, a juta (para álcalis fracos), o

cânhamo e o papel; tecidos de origem animal, como a lã e a crina (para ácidos

fracos); minerais: amianto, lã de rocha e lã de vidro, para águas de caldeira;

plásticos: polietileno, polipropileno, PVC, nylon, teflon, orlon, saran, acrilan e

tergal. O inconveniente é que a duração de um tecido é limitada pelo desgaste, o

apodrecimento e o entupimento. Por este motivo, quando não estiverem em

operação, os filtros devem ficar cheios de água para prolongar a vida do mesmo.

Por outro lado, o uso de auxiliares de filtração diminui o entupimento dos

tecidos, prolongando sua vida útil.

Membranas semi-permeáveis, como o papel pergaminho e as bexigas

animais, são utilizadas em operações parecidas com a filtração, mas que na

realidade são operações de transferência de massa: diálise e eletro-diálise.

Os critérios de escolha do meio filtrante devem incluir:

a capacidade de remoção da fase sólida;

a possibilidade de uma elevada vazão de líquido para uma dada queda

de pressão;

a resistência mecânica;

a inércia química frente a suspensão a ser filtrada e a qualquer líquido

de lavagem.

Como é natural, cada uma destas considerações deve ser contra

balanceada com os aspectos econômicos, de modo que o operador do filtro

escolha o meio filtrante que satisfaça aos padrões da filtração e que resulte em

um custo global da operação o mais baixo possível.

Tipos de torta

As características da torta produzida variam de uma operação para outra.

Sólidos cristalinos formam tortas abertas que facilitam o escoamento do filtrado.

Já os precipitados gelatinosos, como os hidróxidos de ferro e alumínio, produzem

tortas pouco permeáveis. De um modo geral o tipo de torta depende:

da natureza do sólido,

da granulometria e da forma das partículas,

do modo como a filtração é conduzida,

do grau de heterogeneidade do sólido.

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Uma torta com uma dada espessura oferece uma resistência bem definida

ao escoamento do filtrado. Quando a vazão de filtrado aumenta, também a

resistência aumenta e, como o escoamento no interior da torta é laminar, a

queda de pressão deve ser, em princípio, proporcional à velocidade. Se a vazão

dobrar, a queda de pressão ficará duas vezes maior. Algumas tortas cristalinas

comportam-se dessa forma. Outras, porém, acarretam quedas de pressão que

aumentam mais rapidamente com a vazão e, assim sendo, quando se duplica a

vazão, a queda de pressão resulta mais do que o dobro. É evidente, neste

segundo caso, que a resistência da torta ao escoamento do filtrado aumenta com

a pressão. Tortas deste tipo denominam-se compressíveis, em contraste com as

outras, que são incompressíveis.

Uma torta compressível comporta-se como uma esponja. Pressionada, a

esponja oferece maior resistência ao escoamento de líquidos pelo seu interior

porque os canais fecham-se e alguns até deixam de existir. É evidente, portanto,

que a filtração de uma suspensão que produz torta compressível é mais difícil do

que se a torta for incompressível. Como foi dito anteriormente, uma das funções

do auxiliar de filtração é diminuir a compressibilidade da torta, sendo que ele

desempenha o papel de “esqueleto” da torta.

Portanto, a torta é compressível quando a resistência específica, ou

permeabilidade, é função da diferença de pressão através da mesma. Com

relação a compressibilidade esta pode ser dividida em:

reversível, quando a torta é elástica;

irreversível, quando a torta é inelástica

A reversibilidade da torta quanto à compressão está relacionada e

atribuída à elasticidade das partículas, enquanto na torta filtrante inelástica a

maior resistência ao escoamento se deve ao maior grau de empacotamento das

partículas formadoras da torta filtrante. A resistência da torta inelástica é

correspondente ao valor da maior pressão aplicada. Logo, em processos com

esse tipo de torta formada, a pressão nunca deve exceder um máximo permitido.

Tipos de operação

Embora o mecanismo seja sempre o mesmo, uma filtração pode visar

objetivos bem diferentes. Um “strainer”, por exemplo, visa reter escamas de

ferrugem, fios, etc., enquanto que certos filtros têm por finalidade clarificar do

modo mais perfeito possível certos líquidos, como águas e bebidas. Nestes

exemplos o sólido é o refugo da operação, mas em outras filtrações ele constitui

o produto, como no caso da filtração de cristais, pigmentos e outros produtos

sólidos valiosos.

O filtro funciona para produzir torta que na maioria das vezes é lavada e

drenada para purificar e separar os sólidos no estado mais seco possível. Há

também situações nas quais, tanto o sólido quanto o filtrado são produtos, sendo

a nitidez da separação um requisito da operação. Em outros casos, uma

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separação parcial já é satisfatória. Neste caso o filtro é um espessador e sua

função é produzir uma lama espessa a partir de uma suspensão.

No geral, quando o sólido na suspensão a filtrar for menos que 0,1% a

operação poderá ser considerada como clarificação. Quando a concentração

superar bastante este valor a operação poderá ser vista como uma extração: do

sólido, quando este for o produto, do líquido ou de ambos.

Tipos de filtro

Diversos são os fatores que devem ser considerados para especificar um

filtro. Em primeiro lugar estão os fatores associados com a suspensão: vazão,

temperatura, tipo e concentração dos sólidos, granulometria, heterogeneidade, e

forma das partículas. Vêm depois as características da torta: quantidade,

compressibilidade, valor unitário, propriedades físico-químicas, uniformidade e

estado de pureza desejado. Há, também, fatores associados com o filtrado:

vazão, viscosidade, temperatura, pressão de vapor e grau de clarificação

desejado. E finalmente o problema dos materiais de construção.

A seleção é feita a partir desses fatores mencionados, porém alguns

fatores são dominantes em certos casos, como a escala de operação ou a

facilidade de remoção da torta, a perfeição da lavagem ou a economia de mão de

obra. O tipo mais indicado para uma dada operação é aquele que, além de

satisfazer aos requisitos de operação, também satisfaz quanto ao custo total de

operação.

A classificação dos diversos modelos pode ser feita com base nos

seguintes critérios:

Força propulsora: gravidade, pressão (com ar ou bomba), vácuo, vácuo-

pressão e força centrífuga;

Material que constitui o meio filtrante: areia, tela metálica, tecido, meio

poroso rígido, papel;

Função: “strainers”, clarificadores, filtros para torta e espessadores;

Detalhes construtivos: filtros de areia, placas e quadros, lâminas e

rotativos;

Regime de operação: batelada e contínuos;

Às vezes a classificação é feita em grupos caracterizados pelos tipos de

maior tradição: Kelly, Vallez, Oliver, Moore, Sweetland.

O inconveniente de adotar um critério isolado como base de classificação é

que existem modelos de um mesmo tipo de filtro que acabam ficando em classes

diferentes. É o que acontece quando se adota o primeiro critério como único,

pois haverá filtros de lâminas entre os filtros a vácuo e os de pressão.

Adotando os detalhes construtivos como critério principal e fazendo a

combinação dos outros critérios, os modelos seguem a distribuição abaixo:

1. Filtros de leito poroso granular

2. Filtros prensa

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de câmaras

de placas e quadros

3. Filtros de lâminas

Moore

Kelly

Sweetland

Vallez

Tipos variantes

4. Filtros contínuos rotativos

Tambor

Disco

Horizontais

5. Filtros especiais

1. Filtros de leito poroso granular

Os filtros industriais mais simples são os de meio filtrante granulado,

constituídos por uma ou mais camadas de sólidos particulados, suportados por

um leito de cascalho sobre uma grade, através do qual o material a ser filtrado

flui por gravidade ou por pressão.

São empregados geralmente para retirar pequenas quantidades de sólidos

de grandes volumes de líquidos, nas quais nem o sólido nem o líquido possuem

alto valor unitário, e quando o produto sólido não deve ser recuperado. Por isto,

constituem o suporte principal dos sistemas de purificação de águas. Sua

principal vantagem é o baixo custo de instalação, operação e manutenção. O

inconveniente é a grande área requerida, em virtude da baixa velocidade de

filtração.

O modelo mais simples é uma caixa com fundo falso perfurado e sobre o

qual é colocado um leito poroso granular, geralmente pedregulho e areia. O

líquido turvo é alimentado sobre o leito e o filtrado sai pelo fundo da caixa. Há

caixas de concreto (Fig 2a) e tanques cilíndricos de aço. Neste último caso é

possível trabalhar sob pressão para aumentar a capacidade (Fig 2b). Há um tipo

variante que funciona a vácuo.

Figura 2a e Figura 2b. Filtros de leito poroso

A Fig. 3 mostra um filtro de meio filtrante granulado, construído para

operar sob pressão.

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Figura 3. Corte de um filtro de leito vertical granulado

Os meios filtrantes duplos permitem operação mais prolongada no ciclo de

filtração, antes de ser necessária a lavagem em corrente inversa, pois as

partículas, ou os flocos, maiores ficam retidos no leito mais aberto. Porém,

chega-se a um ponto em que a vazão cai ou em que a queda de pressão se torna

excessiva. Então a filtração cessa e o leito tem que ser limpo, mediante uma

lavagem com corrente invertida de água, seguida possivelmente por uma

lavagem com ar. A lavagem reversa pode ser bastante rápida para fluidizar o

leito granulado.

2. Filtros-prensa

O princípio de funcionamento de um filtro-prensa pode ser entendido

facilmente com base nas operações dos funis de Gooch e de Büchner de

laboratório. Se dois destes funis com papéis de filtro forem unidos pelas bordas,

sendo a suspensão alimentada na câmara formada, a filtração será realizada

através dos dois papéis. A diferença é que no filtro-prensa várias câmaras são

justapostas e em geral a filtração não é realizada a vácuo, mas sob a ação de

uma pressão exercida sobre a suspensão no interior das câmaras. A suspensão é

bombeada diretamente para os compartimentos do filtro onde a torta é

recolhida. Nos modelos comerciais os papéis de filtro são substituídos por um

tecido que chamamos genericamente de lona, muito embora qualquer um dos

tecidos mencionados possa ser usado.

Um filtro-prensa é fornecido sob a forma de uma série de placas que são

apertadas firmemente umas das outras, com uma lona sobre cada lado de cada

placa. Vem daí a denominação filtro-prensa de placas. Há placas circulares e

placas quadradas, horizontais ou verticais e com depressões ou planas. As placas

com depressões, quando justapostas formam o filtro-prensa de câmaras. Quando

as placas são planas os compartimentos de alimentação da torta são formados

por meio de quadros que separam as diversas placas. Este tipo é chamado filtro-

prensa de placas e quadros.

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a) Filtro-prensa de câmaras

Tem este nome porque as placas, sendo rebaixadas na parte central,

formam câmaras quando justapostas (Fig. 4). Cada placa tem um furo central.

Quando a prensa está montada os furos formam um canal através do qual a

suspensão é alimentada nas diversas câmaras. As placas são revestidas com

lonas que também apresentam furos centrais correspondentes aos furos das

placas. Anéis metálicos de pressão prendem as lonas às bordas do furo central

das placas e ao mesmo tempo servem para vedar a passagem da suspensão pelo

espaço entre a lona e a placa. As faces das placas têm pequenos ressaltos com a

forma de troncos de pirâmide quadrados e que, em seu conjunto, formam uma

verdadeira rede de canais por onde vai escoando o filtrado até chegar às

aberturas que se comunicam com as torneiras de saída. Cada placa tem uma

torneira, de modo que, se o filtrado de uma dada placa sair turvo, a torneira

correspondente poderá ser fechada e essa placa deixará de funcionar. De cada

lado da placa há uma orelha de suspensão que serve para apoio nos tirantes de

suporte. Em uma das extremidades da prensa há um cabeçote fixo e, na outra,

um cabeçote móvel que serve para prensar o conjunto por meio de um parafuso

resistente operado por um volante. Outras vezes as placas são prensadas por

meio de um sistema hidráulico.

Figura 4. Filtro-prensa de câmaras

A seqüência de operação é a seguinte: a prensa é montada, começa-se a

alimentar a suspensão e prossegue-se até que as câmaras estejam cheias de

torta ou quando a pressão exceder um valor pré-fixado. Abre-se a prensa, retira-

se a torta e monta-se novamente o conjunto.

A principal vantagem oferecida pelos filtros-prensa de câmaras é o baixo

custo. As desvantagens são: o custo elevado de operação (a montagem consome

muito tempo) e o desgaste excessivo das lonas. Além disso, não se pode lavar a

torta. Por estas razões os filtros de câmaras foram quase completamente

substituídos pelos de placas planas ou de placas e quadros.

b) Filtro-prensa de placas e quadros

O filtro-prensa de placas e quadros é, há muito tempo, o dispositivo de

filtragem mais comum na indústria. Embora esteja sendo substituído, nas

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grandes instalações, por dispositivos de filtragem contínua, têm as seguintes

vantagens:

Construção simples, robusta e econômica;

Grande área filtrante por unidade de área de implantação;

Flexibilidade (pode-se aumentar ou diminuir o número de elementos

para variar a capacidade);

Não têm partes móveis;

Os vazamentos são detectados com grande facilidade;

Trabalham sob pressões até 50 kg/cm2;

A manutenção é muito simples e econômica: apenas substituição

periódica das lonas.

Desvantagens:

Operação intermitente. A filtração deve ser interrompida, o mais tardar,

quando os quadros estiverem cheios de torta;

O custo da mão-de-obra de operação, montagem e desmontagem é

elevado;

A lavagem da torta, além de ser imperfeita, pode durar várias horas e

será tanto mais demorada quanto mais densa for a torta. Suspensões de

granulometria uniforme dão tortas homogêneas e, portanto mais fáceis de lavar.

Partículas finas tendem a produzir tortas de lavagem difícil. O uso de auxiliares

de filtração melhora as condições de lavagem, mas não resolve completamente o

problema.

Figura 5. Filtro-prensa de placas e quadros

Este tipo de filtro apresenta placas quadradas, com faces planas e bordas

levemente ressaltadas. Entre duas placas sucessivas da prensa há um quadro

que serve como espaçador das placas. De cada lado de um quadro há uma lona

que encosta-se à placa correspondente. Assim, as câmaras onde será formada a

torta ficam delimitadas pelas lonas. A estrutura de suporte do conjunto tem

barras laterais que servem de suporte para as placas e os quadros. O aperto do

conjunto é feito por meio de um parafuso ou sistema hidráulico (Fig. 5).

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Há duas classes de filtros-prensa de placas e quadros: os que permitem

lavar a torta, denominados filtros-prensa lavadores, e os não-lavadores.

A Fig. 6 mostra uma placa e um quadro vistos em perspectiva. A placa é

identificada por um botão na face externa e, o quadro, por dois botões. Em um

dos cantos superiores (às vezes nos inferiores) de cada quadro há um furo

circular que se comunica com a parte interna dos quadros. As placas também

apresentam um furo na mesma posição. Quando a prensa é montada, estes

furos formam um canal de escoamento da suspensão através do qual se alimenta

a lama no interior de cada quadro.

Figura 6. Placas e quadros

O filtrado atravessa as lonas colocadas de cada lado dos quadros e passa

para as placas, onde escoa pela superfície até chegar aos furos de saída no canto

inferior oposto ao canal de entrada da suspensão nos quadros. As lonas têm

furos na posição correspondente aos canais. A saída de filtrado pode ser feita

através de uma torneira existente em cada placa, ou por um canal idêntico ao de

alimentação da suspensão formado pela justaposição de furos circulares que se

comunicam com a saída das placas.

A vantagem do primeiro sistema é permitir retirar de operação as placas

que estiverem produzindo filtrado turvo. Por outro lado, em certas circunstâncias

a filtração tem que ser realizada a quente e, assim sendo, deve-se usar contra-

pressão para evitar a vaporização do líquido. Nestas situações o canal coletor

único de saída oferece vantagens. Uma outra vantagem deste segundo tipo de

saída é evitar a exposição do filtrado ao ar, o que muitas vezes é um requisito de

processo. O inconveniente é a necessidade de desmontar a prensa se em virtude

de uma falha de montagem o filtrado sair turvo.

Figura 7. Filtro-prensa lavador

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Um filtro-prensa lavador difere do anterior pela inclusão das placas

lavadoras identificadas por três botões (Fig. 7). A montagem é feita com placas

filtrantes e placas lavadoras alternadas, ficando sempre um quadro entre elas.

No conjunto os elementos ficam assim dispostos: cabeçote fixo (que é uma placa

filtrante modificada) – quadro – placa lavadora – quadro – placa filtrante e assim

sucessivamente. A Fig. 8 esclarece a montagem e o princípio de funcionamento

durante a filtração.

Figura 8. Funcionamento de um filtro-prensa lavador

Observa-se que durante este tipo de lavagem a água atravessa toda a

espessura a torta e não mais a metade como durante a filtração. Para variar, os

desenhos apresentam uma prensa com canais coletores, tanto para a saída do

filtrado como da água de lavagem. Durante a filtração estão abertos os canais S

(entrada de suspensão) e F (saída de filtrado), de modo que a suspensão entra

pelos quadros e sai pelas placas.

Durante a lavagem estes canais estão fechados e os canais L e L’ estão

abertos. A água de lavagem entra pelas placas de três botões e sai pelas placas

de um botão. É fácil observar que durante a lavagem o líquido percorre um

caminho diferente daquele percorrido na filtração. A água de lavagem entra por

uma face da torta e sai pela outra. Assim sendo, a área de lavagem é metade da

de filtração e o caminho percorrido pelo líquido é o dobro, o que justifica a baixa

velocidade de lavagem neste tipo de filtro.

3. Filtros de lâminas

São constituídos de lâminas filtrantes múltiplas dispostas lado a lado. As

lâminas ficam imersas na suspensão a filtrar, sendo feita a sucção do filtrado

para o seu interior por meio de uma bomba de vácuo. Em outros tipos a

suspensão é alimentada sob pressão em um tanque fechado que aloja as

lâminas. Em ambos os casos, a torta se forma por fora das lâminas e o filtrado

passa para o seu interior, de onde sai por um canal apropriado para o tanque de

filtrado.

Uma lâmina típica consta de um quadro metálico resistente (quadrado ou

circular) que circunda uma tela grossa revestida dos dois lados com duas telas

mais finas. O conjunto é envolto por uma lona em forma de saco ou fronha. A

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vedação é feita com cantoneiras metálicas (Fig. 9). Na parte superior de cada

lâmina há uma tubulação de saída do filtrado com válvula e visor. Se uma lâmina

estiver filtrando mal, a válvula correspondente é fechada. O conjunto de tubos

de saída é reunido em um coletor geral que se comunica com o tanque mantido

em vácuo, onde é recolhido o filtrado. Se a torta tiver que ser lavada, o coletor

de saída de filtrado deverá ter uma derivação que vai até um segundo tanque em

vácuo para recolher a água de lavagem.

Figura 9. Filtro de lâminas

De um modo geral a lavagem é sempre melhor realizada em um filtro de

lâminas do que em um filtro-prensa porque a água de lavagem percorre o

mesmo caminho do filtrado. É o que se denomina lavagem por deslocamento,

que é o modo ideal de lavar a torta, chegando a eliminar até 90% do filtrado em

condições favoráveis. Teoricamente a velocidade de lavagem é igual à velocidade

no fim da filtração. Há quatro tipos principais de filtros de lâminas: Moore; Kelly;

Sweetland e Vallez. Abaixo se têm figuras mostrando alguns desses tipos de

filtro.

Figura 10. Filtro Kelly

Figura 11. Variante do filtro Kelly Figura 12. Variante do filtro Kelly

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Figura 13. Variante vertical do filtro Kelly Figura 14. Filtro Sweetland

4. Filtros contínuos rotativos

Como o nome indica, são filtros de funcionamento contínuo, sendo

indicados para operações que requerem filtros de grande capacidade. A saída de

filtrado, a formação, a lavagem, a drenagem e a descarga da torta são realizadas

automaticamente. Embora haja alguns tipos que funcionam sob pressão, estes

filtros geralmente operam a vácuo. Os tipos existentes são: tambor; de discos e

horizontais.

a) Filtro de tambor rotativo (filtro Oliver)

Consta de um tambor cilíndrico horizontal que gira a baixa velocidade

parcialmente submerso na suspensão a filtrar. A superfície externa do tambor é

feita de tala ou metal perfurado sobre a qual é fixada a lona filtrante. O cilindro é

dividido em um número de setores (8 a 24) por meio de partições radiais com o

comprimento do tambor. Ligando estas partições há um outro cilindro interno de

chapa comum. Assim, cada setor é parte de um compartimento que se comunica

diretamente com um furo na sede de uma válvula rotativa especial colocada no

eixo do cilindro. A cada setor corresponde um tubo e um furo na válvula (Fig.

15). A sede da válvula gira com o tambor, mas está em contato com uma outra

placa estacionária com rasgos junto à periferia. Estes rasgos comunicam-se

através de tubulações presas em uma terceira placa, também estacionária, com

os reservatórios de filtrado, água de lavagem e, algumas vezes, de ar

comprimido.

À medida que o tambor gira, os diversos setores vão passando

sucessivamente pela suspensão. Enquanto um dado setor estiver submerso, o

furo que lhe corresponde na sede da válvula estará passando em frente ao rasgo

que comunica com o reservatório de filtrado e que é mantido em vácuo. Logo

que o setor sair da suspensão e a torta estiver drenada começa a lavagem e o

furo correspondente passa a ficar em comunicação com o reservatório de água

de lavagem. Depois de feitas quantas lavagens forem necessárias, a torta é

soprada com ar comprimido e raspada por meio de uma faca. A retirada da torta

nunca é total por duas razões: primeiro, para não haver o risco de rasgar a lona

ou a tela do filtro e segundo, para não “perder” o vácuo. Muitas vezes trabalha-

se com pré-revestimento.

15

As vantagens dos filtros rotativos são a grande capacidade e a pequena

mão-de-obra necessária. Geralmente 30 a 40% da área ficam submersos na

suspensão. Para obter maior capacidade a imersão pode ser aumentada até

70%.

As desvantagens são o custo elevado, o alto custo de operação, a

limitação da diferença de pressões e a imperfeição da lavagem.

Figura 15. Filtro Oliver

b) Filtro de disco-rotativo

Este filtro possibilita uma taxa de filtração especialmente elevada, para um

dado espaço de ocupação da fábrica. Neste caso o tambor é substituído por

discos verticais que giram parcialmente submersos na suspensão (Fig. 16). O

elemento filtrante é constituído de lâminas, mas este não deixa de ter as

características de um filtro contínuo rotativo. O princípio de funcionamento é o

mesmo do filtro de tambor rotativo, mas a lavagem torna-se menos eficiente.

Figura 16. Filtro de disco-rotativo

16

c) Filtros horizontais

O filtro rotatório horizontal mostrado na Fig. 17 é especialmente bem

adaptado à filtração de sólidos cristalinos com drenagem rápida. A superfície

filtrante horizontal impede que os sólidos caiam ou sejam arrastados pela água

de lavagem, e possibilita a operação com camadas excepcionalmente pesadas de

sólidos.

Figura 17. Filtro Prayon

Este filtro é constituído por uma mesa horizontal circular que gira em torno

do eixo central. A mesa é constituída por um conjunto de segmentos, na forma

de setores circulares, cada qual com o topo metálico perfurado ou feito em tela

metálica. Cada setor é recoberto por um meio filtrante conveniente, e está ligado

a um mecanismo central de válvulas, que regulam os instantes apropriados de

remoção do filtrado e dos líquidos de lavagem e do enxugamento da torta,

durante cada volta da mesa. Cada setor recebe, sucessivamente, a suspensão,

depois ocorre a drenagem e a lavagem da torta. A etapa de lavagem pode ser

feita até três vezes. Para a retirada da torta, em alguns modelos, o setor gira e

fica invertido, enquanto a torta é ejetada por um sopro, ao chegar ao final da

volta.

5. Filtros especiais

São alguns filtros que desempenham funções especiais e cuja inclusão em

qualquer das classes anteriores não seria muito nítida. Mais importantes são os

filtros a vácuo de batelada, o espessador Shriver e os metalfiltros.

Os filtros a vácuo de batelada são os Nutsch, semelhantes aos funis de

Büchner de laboratório. Prestam-se para operações de pequena escala e para

filtrar líquidos corrosivos. O investimento é pequeno, mas a mão-de-obra de

operação é elevada.

17

O espessador Shriver parece um filtro-prensa, mas não tem quadros.

Funciona sob pressão, dando um líquido claro e uma lama espessada. Podem-se

utilizar unidades em série para conseguir maior espessamento da lama.

Os metalfiltros são modelos especiais de filtros que se prestam para

clarificar líquidos contendo pequenas quantidades de sólidos muito finos. São

conhecidos também como filtros de cartucho (Fig. 18). São usados para a

clarificação de águas, solventes e óleos vegetais. Sua operação é muito

econômica.

Figura 18. Metalfiltro

RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS

FOUST, A. S. et.al. (1982). “Princípios das Operações Unitárias” – Ed LTC,

Rio de Janeiro – RJ, 2ª edição.

GOMIDE, R. (1980). “Operações Unitárias”, vol. 3 – Ed do Autor, São

Paulo.

PAYNE, J. H. (1989). “Operações Unitárias na Produção de Açúcar de

Cana” – Ed. Nobel: STAB, São Paulo.

SHREVE, R. N.; BRINK Jr, J. A. (1980) “Indústrias de Processos Químicos”

– Ed. Guanabara Dois S.A., Rio de Janeiro – RJ, 4ª edição.

http://www.enq.ufsc.br/disci/eqa5313/