UFRRJ INSTITUTO DE VETERINÁRIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM...

69
UFRRJ INSTITUTO DE VETERINÁRIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS TESE ANÁLISES GENOTÍPICA E FILOGENÉTICA DO GENE 18S RNAr DE ISOLADOS BRASILEIROS DE Cytauxzoon felis (APICOMPLEXA: THEILERIIDAE) ALESSANDRA SCOFIELD AMARAL 2006

Transcript of UFRRJ INSTITUTO DE VETERINÁRIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM...

UFRRJ

INSTITUTO DE VETERINÁRIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

TESE

ANÁLISES GENOTÍPICA E FILOGENÉTICA DO GENE 18S RNAr

DE ISOLADOS BRASILEIROS DE Cytauxzoon felis

(APICOMPLEXA: THEILERIIDAE)

ALESSANDRA SCOFIELD AMARAL

2006

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE VETERINÁRIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

ANÁLISES GENOTÍPICA E FILOGENÉTICA DO GENE 18S RNAr

DE ISOLADOS BRASILEIROS DE Cytauxzoon felis

(APICOMPLEXA: THEILERIIDAE)

ALESSANDRA SCOFIELD AMARAL

Sob a Orientação do Professor Dr. Adivaldo Henrique da Fonseca

Co-orientação do Professor

Dr. Paulo Fernando Vargas Peixoto

e do Dr. Cleber Oliveira Soares

Tese submetida ao Curso de Pós-

Graduação em Ciências Veterinárias,

área de Concentração em Parasitologia

Veterinária como requisito parcial para

obtenção do grau de Doutor em

Ciências.

Seropédica, RJ

Fevereiro de 2006

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE VETERINÁRIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

ALESSANDRA SCOFIELD AMARAL

Tese submetida ao curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, área de

concentração em Parasitologia Veterinária, como requisito parcial para obtenção do

grau de Doutor em Ciências.

TESE APROVADA EM 22/02/06

__________________________________________

Adivaldo Henrique da Fonseca (Ph.D.)

UFRRJ (Orientador)

___________________________________________

Cleber Oliveira Soares (Ph.D.)

Embrapa Gado de Corte

___________________________________________

Carina Elisei de Oliveira (Ph.D.)

Embrapa Gado de Corte

_________________________________________

Kátia Regina dos Santos Teixeira (Ph.D.)

Embrapa Agrobiologia

__________________________________________

Carlos Luiz Massard (Ph.D.)

UFRRJ

A Deus pelo auxílio e proteção constantes em minha vida.

À minha Mãe Geralda Janeth Scofield Amaral

e Irmãs Vivianne Scofield Amaral

e Carolline Scofield Amaral, pelo amor, carinho,

apoio, estímulo, conselhos e por compreenderem a

minha ausência física em busca dos meus ideais.

Vocês são fundamentais em minha vida!

Ao meu saudosoPai Aroldo Amaral Costa,

pelo amor, carinho e educação.

Amo vocês!

Ao Alessandro Antônio da Silva pelo carinho, paciência, apoio, estímulo e companheirismo.

Aos meus irmãos de espírito Franziska Huber, Jadier C. de Oliveira Júnior, Maria Dalila

Forlano, Marcos Antônio Vargas, Carina Elisei, Daniele Ramos e Astrid Barbosa

pela amizade, carinho, apoio e maravilhosa convivência durante todos esses anos.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Adivaldo Henrique da Fonseca, pela amizade, orientação e apoio

durante os dez anos de trabalho em conjunto. Obrigada pela confiança depositada!

Agradeço também à Profa. Marília pela amizade e carinho.

Ao Pesquisador Dr. Cleber Oliveira Soares da Embrapa Gado de Corte, pelo

apoio incondicional, ensinamentos e por me apresentar o mundo fascinante da pesquisa

científica. Obrigada, meu Amigo! Você contribuiu muito para a minha formação!

Ao Prof. Dr. Carlos Luiz Massard, pelos valiosos ensinamentos, amizade e amor

pela parasitologia.

Ao Dr. W. O. Neitz por ser constante fonte de inspiração.

Ao Prof. Dr. Paulo Vargas Peixoto, pelos conselhos, apoio, incentivo e amizade.

Ao Prof. Dr. Carlos Hubinger Tokarnia e à Profa. Dra. Marilene de Farias Brito

Queiroz, pela amizade e importante apoio.

À Pesquisadora Dra. Kátia Regina dos Santos Teixeira da Embrapa

Agrobiologia e a Profa. Dra. Teresa Cristina Bérgamo do Bomfim, pela amizade e

incentivo.

Ao Pesquisador Dr. Flábio Ribeiro Araújo da Embrapa Gado de Corte, pela

amizade e orientação durante o processamento das amostras.

Ao Pesquisador Dr. Cláudio Roberto Madruga da Embrapa Gado de Corte, pela

contribuição durante a execução deste trabalho.

À Professora Dra. Karla S. C. Yotoko da Universidade Federal de Juiz de Fora,

pela amizade e orientação durante as análises filogenéticas.

Aos Pesquisadores Dr. Stênio Perdigão Fragoso e Paulo R. C. Arauco do

Instituto de Biologia Molecular do Paraná, pelo apoio e realização do seqüenciamento

das amostras estudadas.

A todos os Professores, Funcionários e Amigos do Curso de Pós-graduação em

Ciências Veterinárias, pelos ensinamentos, incentivo e amizade.

A todos os Professores e Funcionários do Curso de Graduação em Medicina

Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o meu muito obrigada!

A todos os Funcionários do Projeto Sanidade Animal-Embrapa, pela amizade e

apoio.

À equipe do Laboratório de Doenças Parasitárias - Projeto Sanidade Animal/

Embrapa: Cátia Marques da Costa, Charles Rangel, Jania Rezende, Fábio Jorge Moreira

da Silva, Genevaldo Barbosa da Silva, Rafaela Câmara Teixeira, Marlone Martins

Coelho, Victor Dantas Whittmann, Fabíola do Nascimento Corrêa, Raquel Lisbôa,

Nathalie Costa da Cunha, Renata Cunha Madureira, Daniel da Silva Guedes Júnior e

Luciana Rodrigues de Almeida pela amizade, importante apoio e por compartilharem de

muitos momentos na realização deste trabalho.

À equipe da área de Sanidade Animal, Embrapa Gado de Corte: Carlos Ramos,

Gisele Bacanelli, Elaine Melo, Renata, Maristeli B. Oliveira e Midori Miguita pelo

apoio e amizade.

A todos os meus familiares, pelo carinho, orações e em especial ao meu tio,

padrinho e amigo Wagner Rachid Scofield, pelo importante apoio durante todos esses

anos. Obrigada por tudo! Amo vocês!

Aos meus queridos cunhados Adriano Mendonça Joaquim e Robério Farias Reis

pela amizade e apoio.

À D. Maria José Gomes Alexandre e Alessandra Maria Gomes da Silva, pelo

apoio e carinho.

À querida Tia Célia Elisei e ao amigo Thiago Elisei, pelo carinho e apoio.

Aos amigos Carlo José Freire de Oliveira e Jaime da Silva Pena, pelo importante

auxílio no início da fase experimental.

Aos animais que tanto contribuíram para a realização deste estudo.

Aos amigos da Universidade Federal do Pará: Valíria Duarte Cerqueira, Gabriela

Riet Correa, Vivina Monteiro e Gustavo Góes Cavalcante, pelo importante apoio nesta

etapa final.

A todos que de alguma forma auxiliaram na realização deste trabalho e me

incentivaram no decorrer desta jornada.

Ao CNPq, Capes, Faperj, Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias –

UFRRJ e Embrapa Gado de Corte pelo apoio e auxílio financeiro.

BIOGRAFIA

Alessandra Scofield Amaral, filha de Aroldo Amaral Costa e Geralda Janeth

Scofield Amaral, é natural da cidade de Itambacuri, Estado de Minas Gerais (M.G.),

onde cursou o ensino primário na Escola Estadual Dr. Tristão da Cunha e o ensino

fundamental na Escola Estadual Madre Serafina de Jesus. O ensino médio foi cursado

no Colégio Ibituruna da cidade de Governador Valadares – M.G., no período de 1990 a

1993.

No ano de 1995, ingressou no Curso de Medicina Veterinária da Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), colando grau e obtendo o título de Médica

Veterinária em 25 de novembro de 2000.

Foi bolsista de Iniciação Científica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) no período de fevereiro de 1997 a novembro de 2000,

junto a projetos de pesquisa na área de hemoparasitologia. Foi bolsista de

Aperfeiçoamento Científico do CNPq de dezembro de 2000 a fevereiro de 2001 na

mesma linha de pesquisa.

Durante o período acadêmico participou de projetos de pesquisa no

Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública e no Departamento de Parasitologia

Animal da UFRRJ. Colaborou no desenvolvimento de projetos de pesquisa em conjunto

com a Universidade de São Paulo, Universidade Federal Fluminense, Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento e com a Embrapa Gado de Corte. Participou de

cerca de 50 publicações científicas entre artigos em periódicos indexados, anais de

congressos e eventos científicos nacionais e internacionais.

Em março de 2001 ingressou no Curso de Pós-graduação em Ciências

Veterinárias – Área de concentração Parasitologia Veterinária da UFRRJ em nível de

Mestrado, onde foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) entre março de 2001 a fevereiro de 2002. Foi contemplada, entre

seus pares, como Bolsista de Mestardo do Programa “Bolsa Nota 10” da Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) entre março de 2002 a

outubro de 2002.

Em outubro de 2002 defendeu a dissertação intitulada “Caracterizações

morfológica, morfmétrica e ultraestrutural de formas intraeritrocíticas de Cytauxzoon

felis simile” obtendo o título de Magister Science.

Em junho de 2005 prestou concurso público de provas e títulos na Universidade

Federal do Pará (UFPA) - Campus Castanhal, para o cargo de Profesoor Assistente I da

Disciplina Zoologia/Parasitologia, sendo aprovada em primeiro lugar e contratada em

agosto do mesmo ano.

Em novembro de 2002 ingressou no Curso de Pós-graduação em Ciências

Veterinárias - Parasitologia Veterinária da UFRRJ em nível de Doutorado. E nesta data,

apresenta e defende a presente tese como requisito parcial para a obtenção do grau de

Doutor em Ciências.

SUMÁRIO

Páginas

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 1

2. REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................

3

2.1. Breve Histórico e Aspectos Gerais sobre a Citauxzoonose............................

3

2.2. Gênero Cytauxzoon.........................................................................................

3

2.2.1. Citauxzoonose felina...................................................................................

4

2.3. Cytauxzoon felis..............................................................................................

5

2.3.1. Biologia, morfologia e ultraestrutura...........................................................

5

2.3.1.1. Formas intrahistiocíticas............................................................................

5

2.3.1.2. Formas intraeritrocíticas............................................................................

7

2.3.1.3. Gametogonia e esporogonia......................................................................

8

2.3.2. Vetores.........................................................................................................

8

2.3.3. Hospedeiros..................................................................................................

9

2.3.4. Diagnóstico...................................................................................................

12

2.3.4.1. Diagnóstico direto.....................................................................................

12

2.3.4.2. Diagnóstico indireto e exames auxiliares..................................................

13

2.3.4.3. Diagnóstico diferencial..............................................................................

13

2.3.5. Tratamento.................................................................................................... 14

2.3.6. Distribuição.................................................................................................. 14

2.3.7. Potencial zoonótico...................................................................................... 15

2.4. Filogenia e evolução.......................................................................................

15

2.4.1. Posição sistemática e status taxonômico.....................................................

16

2.5. Análises Moleculares...................................................................................... 17

2.5.1. PCR (Polymerase chain reaction)............................................................... 17

2.5.2. RNA ribossômico (RNAr)........................................................................... 18

2.5.3. Análises moleculares e filogenéticas........................................................... 19

3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ 20

3.1. Origem das Amostras de Cytauxzoon felis simile........................................... 20

3.2. Manutenção do Isolado de Panthera onca em Gatos Domésticos................. 20

3.2.1. Detecção da parasitemia e coleta das amostras do isolado de Panthera

onca........................................................................................................................

20

3.3. Escolha do Gene............................................................................................. 21

3.4. Desenho dos Oligonucleotídeos Iniciadores................................................... 21

3.5. Extração de DNA ...................................................................................... ..... 21

3.6. Amplificação das Amostras de DNA de Cytauxzoon felis simile................... 22

3.7. Análise dos Produtos de Amplificação........................................................... 22

3.8. Clonagem dos Produtos de PCR..................................................................... 23

3.9. Lise e Análise de Colônias............................................................................. 24

3.10. PCR de Colônia............................................................................................ 24

3.11. Reação de Minipreparação de Plasmídeos (Miniprep)................................. 24

3.12. Sequenciamento............................................................................................ 25

3.13. Análise das Seqüências (in silico)................................................................ 25

3.14. Alinhamento e Análise Filogenética............................................................. 26

4. RESULTADOS................................................................................................

29

4.1. Desenho dos Oligonucleotídeos Iniciadores..................................................

29

4.2. Amostras Analisadas e Extração de DNA......................................................

29

4.3. Amplificação das Amostras de DNA de Cytauxzoon felis ............................

30

4.4. Clonagem e PCR de Colônia........................................................................... 32

4.5. Sequenciamento.............................................................................................. 33

4.5.1. Análise de identidade entre as seqüências................................................... 33

4.6. Análise Filogenética........................................................................................ 36

5. DISCUSSÃO.................................................................................................... 38

CONCLUSÕES.................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 42

ÍNDICE DE TABELAS

Páginas

Tabela 1. Hospedeiros naturais e experimentais e distribuição geográfica da

infecção causada por Cytauxzoon felis....................................................................

11

Tabela 2. Espécies de parasitos, número de acesso no GenBank, hospedeiros e

país de origem usados na construção da árvore filogenética e a análise de

agrupamento das seqüências de 18S RNAr de Cytauxzoon felis............................

27

ÍNDICE DE FIGURAS

Páginas

Figura 1. Representação esquemática da unidade de repetição do DNA dos

eucariontes. A proporção entre as diversas regiões dentro da unidade não está

necessariamente representada na figura. ETS: espaçador externo; 18S região que

codifica para RNAr 18S; ITS: espaçador interno; 25-28S: região que codifica

para RNAr 25-28S; NTS: espaçador externo ou espaçador intergênico (GORAB,

2001 adaptado)..........................................................................................................

19

Figura 2. Esquema do plasmídeo pTrcHis – TOPO (INVITROGEN®) utilizado

na clonagem dos produtos de PCR dos isolados de Cytauxzoon felis de Panthera

onca e Leopardus tigrinus........................................................................................

23

Figura 3. A-B. Esquema dos dois pares de iniciadores (Cfe304F e Cfe1159R e

Cfe843F e Cfe1680R) utilizados na amplificação do gene 18S RNAr de

Cytauxzoon felis e seus respectivos sítios de anelamento; C. Representação dos

sítios de anelamento dos iniciadores na seqüência consenso de Cytauxzoon felis

(AF399930)...............................................................................................................

29

Figura. 4. Trofozoítas de Cytauxzoon felis () em esfregaço sangüíneo de gato

doméstico infectado experimentalmente com isolado de Panthera onca. Giemsa (1000x)......................................................................................................................

30

Figura 5. Eletroforese dos produtos de amplificação do gene 18S RNAr de

Cytauxzoon felis do isolado de Panthera onca, em gel de agarose a 1%. M)

Marcador de pares de base; 1) DNA total de extrato de sangue de um gato

doméstico negativo com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R; 2) DNA total de

extrato de sangue do gato-doméstico positivo com iniciadores Cfe843F e

Cfe1680R; 3) DNA total de extrato de sangue de um gato doméstico negativo

com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R, e 4) DNA total de extrato de sangue do

gato doméstico positivo com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R...............................

31

Figura 6. Eletroforese dos produtos de amplificação do gene 18S RNAr de

Cytauxzoon felis da amostra de Leopardus tigrinus, em gel de agarose a 1%. M)

Marcador de pares de base; 1) DNA total de extrato de sangue de um gato

doméstico negativo com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R 2) DNA total de

extrato de sangue de Leopardus tigrinus com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R;

3) DNA total de extrato de sangue de um gato doméstico negativo com

iniciadores Cfe304F e Cfe1159R, e 4) DNA total de extrato de sangue do

Leopardus tigrinus com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R......................................

32

Figura 7. Eletroforese dos produtos de amplificação da PCR de colônia do gene

18S RNAr de Cytauxzoon felis da amostra de Leopardus tigrinus, em gel de

agarose a 1%. M) Marcador de pares de base; 1) Produto de amplificação da

colônia contendo inserto amplificado com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R; 2)

Colônia sem inserto amplificado com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R; 3-4)

Produto de amplificação das colônias contendo inserto amplificado com

iniciadores Cfe304F e Cfe1159R..............................................................................

33

Figura 8. Seqüência consenso do gene 18S de Cytauxzoon felis obtida do isolado

de Panthera onca: em azul está marcada a seqüência do iniciador Cfe843F e em

amarelo está a seqüência do iniciador Cfe1159R......................................................

34

Figura 9. Seqüência consenso do gene 18S de Cytauxzoon felis obtida da amostra

de Leopardus tigrinus: em azul está marcada a seqüência do iniciador Cfe843F e

em amarelo a seqüência do iniciador Cfe1159R.......................................................

34

Figura 10. Estruturas secundárias do gene 18S RNAr de espécies de Cytauxzoon.

A) C. felis isolado de Panthera onca (DQ382276), Brasil. B) C. felis de amostra

de Leopardus tigrinus (DQ382277), Brasil. C) C. felis de gato doméstico

(AF399930), Estados Unidos. D) C. manul de gato Pallas (AY485690),

Mongólia...................................................................................................................

35

Figura 11. Árvore filogenética com as duas seqüências de Cytauxzoon felis

obtidas neste trabalho indicadas por setas (). Em rosa estão identificadas as

espécies do gênero Cytauxzoon, em vermelho as espécies do gênero Babesia, em

azul claro as espécies do gênero Theileria, em azul escuro os Piroplasmidas não

identificados e em preto o grupo externo representado pelas espécies Neospora

sp. e Toxoplasma gondii. (*) Espécies que recebem sinonímia de Gonderia e (**)

espécie que recebe sinonímia de Cytauxzoon............................................................

37

RESUMO

AMARAL, Alessandra Scofield. Análises genotípica e filogenética do gene 18S

RNAr de isolados brasileiros de Cytauxzoon felis (Apicomplexa: Theileriidae).

Seropédica: UFRRJ, 2006. 53p. (Tese, Doutorado em Ciências Veterinárias).

O presente trabalho teve como objetivos determinar a espécie de Cytauxzoon que

infectou onça-pintada (Panthera onca) e gato-do-mato (Leopardus tigrinus) do

Zoológico Municipal de Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro, utilizando técnicas

de diagnóstico molecular, comparar as seqüências consenso obtidas neste trabalho com

seqüências de Cytauxzoon, Theileria, Babesia e de Piroplasmida depositadas em bancos

de dados (GenBank), e realizar análises filogenéticas com a espécie estudada. Para

caracterizar os isolados de Cytauxzoon diagnosticados em Panthera onca e Leopardus

tigrinus, foi realizada a reação em cadeia da polimerase (PCR) com dois pares de

iniciadores universais do gene codificador 18S RNAr desenhados a partir da seqüência

de Cytauxzoon felis (n° de acesso no GenBank AF399930). Dois gatos domésticos

foram inoculados experimentalmente com sangue de P. onca infectado com

Cytauxzoon. Amostras de sangue desses animais e de L. tigrinus naturalmente infectado

foram utilizadas para extração de DNA. DNA extraído de sangue de um gato doméstico

não infectado foi utilizado como controle negativo. Os produtos da PCR das duas

amostras foram clonados e seqüenciados. As seqüências consenso foram obtidas com o

auxílio do programa computacional Clustal-W e alinhadas com outras seqüências do

gene 18S RNAr de espécies de Cytauxzoon depositadas no GenBank com o auxílio do

programa computacional Blastn. Posteriormente, algumas seqüências homólogas foram

selecionadas para o alinhamento e análises filogenéticas segundo os programas

computacionais MEGA 3, GeneBee e PAUP. A seqüência consenso do isolado da P.

onca apresentou 947 pares de bases (n° de acesso no GenBank DQ382276) e identidade

de 99% com a espécie C. felis originária dos EUA, 98% com Cytauxzoon sp. e

Cytauxzoon manul originário da Mongólia e com Cytauxzoon sp. diagnosticado em

lince da Espanha, e 97% com Cytauxzoon sp. diagnosticado em gato doméstico da

Espanha, segundo o programa computacional Blastn. A seqüência consenso da amostra

de L. tigrinus apresentou 1204 pares de bases (n° de acesso no GenBank DQ382277) e

identidade de 99% com a espécie C. felis originária dos EUA e de 96% com Cytauxzoon

sp. e C. manul originário da Mongólia, e Cytauxzoon sp. isolado na Espanha. As

análises filogenéticas demonstraram que as seqüências estudadas agruparam com outras

seqüências de Cytauxzoon felis que infecta felídeos nos EUA formando um grupo irmão

das espécies C. manul que infecta gatos Pallas da Mongólia e Cytauxzoon sp. que

infecta lince e gato doméstico da Espanha. Pôde-se observar também o monofiletismo

das espécies do gênero Cytauxzoon e a ausência deste nos grupos de Babesia e

Theileria. Os resultados obtidos neste trabalho confirmam que o agente da

citauxzoonose felina em P. onca e L. tigrinus é C. felis.

Palavras-chave: Cytauxzoon felis 18S RNAr-PCR, sequenciamento, análise filogenética.

ABSTRACT

AMARAL, Alessandra Scofield. Genotypic and phylogenetic analysis of the 18S

rRNA gene to brazilian Cytauxzoon felis (Apicomplexa: Theileriidae) isolates. Seropédica: UFRRJ, 2006. 53p. (Thesis, Doctor in Veterinary Sciences).

The objectives of this work were to determine the species of Cytauxzoon that infected one

jaguar (Panthera onca) and one wild cat (Leopardus tigrinus) of the Volta Redonda

Municipal Zoo, Rio de Janeiro State, using molecular diagnostic techniques; compare the

consensus sequences obtained in this study with the sequences of Cytauxzoon, Theileria,

Babesia and Piroplasmida deposited in data banks (GenBank); and to perform

phylogenetic analysis of the studied species. In order to characterize the species of

Cytauxzoon diagnosticated in Panthera onca e Leopardus tigrinus, polymerase chain

reaction (PCR) assays were done using two pairs of universal primers of the coding gene

18S rRNA designed from Cytauxzoon felis (AF399930) deposited in GenBank. Two

domestic cat were experimentally infected with blood of the Cytauxzoon infected P. onca.

Blood samples of these cats and from the naturally infected L. tigrinus were used for

DNA extraction. DNA extracted from a non infected domestic cat was used as negative

control. The products of the PCR were cloned and sequenced. The consensus sequences

were obtained using the computer program Clustal-W; they were aligned with other

sequences of the 18S rRNA gene of Cytauxzoon species deposited in GenBank using the

computer program Blastn. Afterwards, some homologous sequences were selected for the

alignment and phylogenetic analysis based on the computer programs MEGA3, GeneBee

and PAUP. The consensus sequence of the jaguar isolate showed 947 pairs of basis

(GenBank acess nr. DQ382276); identity of 99% with the species C. felis originated from

the USA, 98% with the Cytauxzoon sp. and C. manul originated from Mongolia;

Cytauxzoon sp. diagnosed in Lynx from Spain and 97% with the Cytauxzoon sp.

diagnosticated from domestic cats in Spain. The consensus sequence of the wild cat

sample showed 1204 pairs of basis (GenBank acess nr. DQ382277), identity of 99% to

the species C. felis originated from the USA and 96% to Cytauxzoon sp. and C. manul

originated from Mongolia and Cytauxzoon sp. from Spain. The phylogenetic analysis

showed that the studied sequences clustered with other sequences of Cytauxzoon felis that

infects felids in the USA, forming a related group of the C. manul species that infects

Pallas cats of Mongolia and Cytauxzoon sp. that infects lynx and domestic cats of Spain.

The monophyletic characteristic of the species of the genus Cytauxzoon, in contrast with

the poliphyletic structure of Babesia and Theileria groups could also be observed. The

results obtained in this study confirmed that the agent of feline cytauxzoonosis in P. onca

and L. tigrinus is C. felis.

Keywords: Cytauxzoon felis18S rRNA-PCR, sequencing, phylogenetic analysis.

1

1. INTRODUÇÃO

Os membros do gênero Cytauxzoon Neitz e Thomas, 1948 (Apicomplexa:

Theileriidae) são hemoparasitos transmitidos por carrapatos que causam enfermidades

principalmente em ruminantes e felinos. Esses protozoários caracterizam-se por realizar

esquizogonia em histiócitos, nos quais um único grande esquizonte é formado, e por

apresentar formas intraeritrocíticas diminutas com cromatina nuclear compacta e

citoplasma hialino, típicas dos teilerídeos (NEITZ e THOMAS, 1948; NEITZ, 1956;

SIMPSON et al., 1985a; KOCAN et al., 1992; SOARES, 2002).

A citauxzoonose foi primeiramente descrita em ruminantes silvestres no

continente africano (Neitz e Thomas, 1948; NEITZ, 1956; 1957). Mais tarde uma

doença fatal foi reportada em felídeos domésticos na América do Norte (WAGNER,

1976; KIER et al., 1982a;b, 1987). Atualmente são conhecidas cinco espécies deste

gênero: Cytauxzoon silvicaprae, Cytauxzoon strepsicerosi e Cytauxzoon taurotragi, os

quais infectam ungulados na África (NEITZ, 1956; BROCKLESBY, 1962;

MEHLHORN et al., 1994), Cytauxzoon felis, que parasita, principalmente, felídeos nos

Estados Unidos da América (EUA) (WAGNER et al., 1976; 1980; GARNER et al.,

1996; MEIER e MOORE, 2000) e Cytauxzoon manul que infecta gatos Pallas oriundos

da Mongólia (REICHARD et al., 2005).

Na América Latina os primeiros registros sobre a citauxzoonose felina natural

foram feitos em leões (Panthera leo) (PEIXOTO et al., 1999), em onça-pintada

(Panthera onca) (SOARES et al., 1999a) e em gato-do-mato pequeno (Leopardus

tigrinus) (SOARES et al., 1999b), todos no Estado do Rio de Janeiro. Mais

recentemente, formas parasitárias intraeritrocíticas semelhantes a C. felis foram

diagnosticadas no esfregaço sangüíneo de uma onça-parda (Puma concolor) em Mato

Grosso do Sul. Embora não tenham sido observadas formas esquizogônicas, o parasito

foi denominado de Cytauxzoon felis-like (JULIANO et al., 2004).

A citauxzoonose felina cursa, de forma severa e fatal, em gatos domésticos,

linces da Flórida, em tigre branco, nos EUA e em tigre de bengala na Alemanha

(WAGNER et al., 1976; FERRIS, 1979; KIER et al., 1982a; GARNER et al., 1996;

JAKOB e WESEMEIER, 1996). Em lince americano, puma do Texas, puma da Flórida,

guepardo e experimentalmente em ovinos a doença é assintomática e de curso longo

(ZINKL et al., 1981; BUTT et al., 1991; WEHINGER et al., 1995; ROTSTEIN et al.,

1999). Um agente morfologicamente semelhante a C. felis determinou doença fatal em

macaco rhesus no Panamá (GARDINER, 1998 – comunicação pessoal). No Brasil, a

enfermidade causada por C. felis simile cursa de forma fatal em leões (PEIXOTO et al.,

1999) e com quadro mais brando em onça-pintada (SOARES, 2002); em gato-do-mato

pequeno, experimentalmente em gato doméstico (SCOFIELD et al., 1999; SOARES,

2002), e em onça-parda (JULIANO et al., 2004) a infecção pode ser inaparente.

Até o momento, o único transmissor de C. felis comprovado experimentalmente

é o carrapato Dermacentor variabilis (BLOUIN et al., 1984; 1987; KOCAN et al.,

1992), todavia, para as espécies de Cytauxzoon que ocorrem no continente africano,

diversas espécies de ixodídeos têm sido incriminadas como transmissores (NEITZ,

1956; BROCKLESBY, 1962; YOUNG et al., 1980; JARDINE, 1992; MEHLHORN et

al., 1994).

A citauxzoonose vem ganhando importância não só pela sua dispersão e

patogenicidade para felinos de companhia, mas também por ser capaz de infectar

bovinos, ovinos, e até mesmo primata (ALLSOPP et al., 1994; COX, 1994;

2

GARDINER, 1998; KJEMTRUP et al., 2000a,b; SOARES, 2002). Não obstante, tem-se

pouco conhecimento a respeito de Cytauxzoon spp. fora da América do Norte. Ademais,

muitas dúvidas ainda persistem quanto a sua biologia, transmissão e seus aspectos

morfológicos e ultraestruturais. O diagnóstico de citauxzoonose é baseado,

principalmente, na observação de formas intraeritrocíticas e/ou formas esquizogônicas

teciduais típicas do agente. Entretanto, na ausência das formas esquizogônicas, torna-se

difícil o diagnóstico específico.

A dificuldade de diagnóstico baseado em parâmetros fenotípicos e o

desconhecimento de muitos fatores biológicos de diferentes grupos de parasitos têm

incentivado pesquisadores a empregar técnicas moleculares e análises filogenéticas no

diagnóstico e na classificação e/ou reclassificação de diferentes grupos. Dentre as

seqüências de DNA mais utilizadas neste tipo de abordagem, destaca-se a que codifica a

subunidade 18S RNAr, que constitue a subunidade menor dos ribossomas, em estudos

filogenéticos para um grande número de espécies de protozoários. O sequenciamento de

regiões do DNA que codificam esta subunidade pode incrementar ainda mais o

conhecimento a respeito das espécies, subespécies ou cepas e ainda auxiliar na

identificação das mesmas facilitando o diagnóstico da doença.

No Brasil o agente diagnosticado em Panthera onca e Leopardus tigrinus foi

denominado de Cytauxzoon felis simile, não sendo determinada a espécie (SOARES,

2002).

O presente estudo teve como objetivos determinar a espécie de Cytauxzoon que

infectou onça-pintada (Panthera onca) e gato-do-mato (Leopardus tigrinus) do

Zoológico Municipal de Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro utilizando técnicas de

diagnóstico molecular, comparar as seqüências consenso obtidas neste trabalho com

seqüências de Cytauxzoon, Theileria, Babesia e Piroplasmida depositadas em bancos de dados (GenBank), e realizar análises filogenéticas com a espécie estudada.

3

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Breve Histórico e Aspectos Gerais sobre a Citauxzoonose

A citauxzoonose é uma hemoparasitose determinada por protozoários do gênero

Cytauxzoon Neitz e Thomas, 1948, que acomete ruminantes domésticos, ruminantes

silvestres e felídeos (NEITZ, 1956; 1957; BROCKLESBY, 1962; KIER et al., 1987;

SOARES, 2002). Foi descrita pela primeira vez na África do Sul, causando uma doença

aguda em duiquer (Sylvicapra grimmia) (NEITZ e THOMAS, 1948), logo em seguida

foi reportada em kudus (Strepsiceros strepsiceros) (NEITZ e de LANGE, 1956) e em

elande (Taurotragus oryx) (MARTIN e BROCKLESBY, 1960). Nos Estados Unidos da

América (EUA), em 1976, uma citauxzoonose fatal foi descrita em gato doméstico

(WAGNER, 1976).

Embora os gêneros Cytauxzoon e Theileria possuam algumas semelhanças,

Cytauxzoon spp apresentam características biológicas e morfológicas que podem ser

consideradas apomórficas deste gênero, principalmente quanto à esquizogonia tecidual,

que pode ocorrer em diversos tipos de células mononucleares (NEITZ, 1957; KIER et

al., 1987), enquanto que Theileria spp realizam esquizogonia exclusivamente em

linfócitos. A despeito do conhecimento biológico destes Theileriidae, alguns

taxonomistas consideram os dois gêneros sinônimos e os agrupam em um único gênero,

Theileria (GROOTENHUIS et al., 1979). Outros preferem mantê-los separados

(NEITZ, 1957; BARNETT, 1977; ALLSOPP et al., 1994; UILENBERG, 1995).

Na maioria dos hospedeiros susceptíveis a Cytauxzoon sp., a enfermidade cursa

com o quadro severo, geralmente agudo, de hipertermia, anorexia, perda de peso,

anemia, icterícia, dispnéia, letargia e fraqueza, com evolução para coma e morte

(NEITZ, 1957; BROCKLESBY, 1960; GLENN e STAIR, 1984; KIER et al., 1987;

GARNER et al., 1996; MEINKOTH et al., 2000).

Uma ampla variedade de mamíferos, principalmente ruminantes e carnívoros, tem

sido descrita como hospedeiros de Cytauxzoon sp. no continente africano e nos EUA

(McCULLY et al., 1970; YOUNG et al., 1980; GLENN et al., 1982; KIER et al., 1982a;

GARNER et al., 1996; JAKOB e WESEMEIER, 1996). Recentemente, foi verificada

citauxzoonose em primatas não-humanos no Panamá (GARDINER, 1998).

No Brasil, Estado do Rio de Janeiro, a citauxzoonose foi diagnosticada

primeiramente em leões (PEIXOTO et al., 1999) e logo em seguida em onça-pintada

(SOARES et al., 1999a) e gato-do-mato pequeno (SOARES et al., 1999b). Estudos

experimentais dessa enfermidade em gatos domésticos também foram realizados

avaliando os aspectos clínicos, patológicos e parasitológicos (SCOFIELD et al., 1999;

SOARES, 2002; SCOFIELD, 2002). Em 2004, formas parasitárias intraeritrocíticas

semelhantes a C. felis foram observadas em esfregaço sangüíneo de uma onça-parda em

Campo Grande-M.S. e o agente identificado como C. felis like (JULIANO et al., 2004).

2.2. Gênero Cytauxzoon

O gênero Cytauxzoon Neitz e Thomas, 1948 foi assim nominado para referir-se a

dezenas ou centenas de diminutos (0,5 a 0,75 mm) corpos circulares regularmente

distribuídos, que caracterizavam a esquizogonia desse parasito no citoplasma de

histiócitos. Este parasita se multiplica por fissão binária simples em eritrócitos e por

4

esquizogonia em histiócitos (NEITZ e THOMAS, 1948; NEITZ, 1956; 1957) e tem

Cytauxzoon silvicaprae Neitz e Thomas, 1948 como espécie-tipo.

Até o momento, são reconhecidas cinco espécies pertencentes ao gênero

Cytauxzoon: Cytauxzoon silvicaprae Neitz e Thomas, 1948; C. strepsicerosi Neitz e de

Lange, 1956; C. taurotragi Martin e Brocklesby, 1960; C. felis Kier, 1979 e C. manul

Reichard et al., 2005, porém existem suspeitas de novas espécies (LOPEZ-REBOLLAR

et al., 1999; SOARES, 2002).

2.2.1. Citauxzoonose felina

Uma doença fatal foi descrita em quatro gatos domésticos (Felis catus) no

Sudoeste do Estado de Missouri, EUA, entre setembro de 1973 e junho de 1975. Esses

animais apresentavam quadro grave que, em princípio, foi diagnosticado como anemia

infecciosa felina (= hemobartonelose) com base na sintomatologia. No terceiro caso,

contudo, detectaram-se formas intraeritrocíticas com aspecto de anel de rubi no

esfregaço sangüíneo, sendo estabelecido então o diagnóstico ante-mortem de

citauxzoonose (WAGNER, 1976).

Pelo acompanhamento clínico dos quatro gatos, verificou-se uma doença aguda e

fatal caracterizada por hipertermia, anorexia, fraqueza, letargia, palidez de mucosas,

desidratação, anemia, icterícia e morte. Observaram-se trofozoítas intraeritrocíticos com

média de parasitemia oscilando entre 1 e 4 % e formas predominantemente em anel de

rubi, alongadas ou puntiformes, medindo 1 a 1,2 mm (WAGNER, 1976).

À necropsia havia icterícia generalizada, petéquias e equimoses na superfície do

coração e dos pulmões e distensão do saco pericárdico com líquido seroso amarelo-

claro. O exame microscópico revelou formas esquizogônicas em diferentes fases de

desenvolvimento, parasitando histiócitos e células retículo-endoteliais de diversos

órgãos (pulmão, fígado, baço, coração, rins e vesícula biliar). Observaram-se oclusão

parcial ou total de vasos sangüíneos pelos esquizontes e marcada eritrofagocitose

tecidual. Os esquizontes pleomórficos continham centenas de pequenos corpos medindo

de 0,1 a 0,2 mm (= merozoítas), enquanto outros esquizontes evidenciavam dezenas de

corpos maiores (citômeros), com muitos dos pequenos corpos (WAGNER, 1976).

Com base nestas observações, a enfermidade foi primariamente descrita como

uma citauxzoonose simile fatal em gatos (WAGNER, 1976). Mais tarde verificou-se

que a doença era endêmica no Sudoeste de Missouri, pois muitos casos de infecção

natural surgiram com os mesmos aspectos clínico-patológicos (WAGNER, 1976;

WAGNER et al., 1976). A enfermidade foi reproduzida em outros gatos domésticos

pela inoculação de sangue e fragmentos de baço, por passagens consecutivas; todos os

animais inoculados apresentaram doença aguda e morreram entre sete e 12 dias após

inoculação (WAGNER et al., 1976). Os estudos iniciais evidenciaram que o gato

doméstico é o hospedeiro definitivo terminal para esta citauxzoonose (WAGNER, 1976;

WAGNER et al., 1976).

Inicialmente pensou-se que esta nova doença de gatos norte americanos estava

restrita ao Sudoeste de Missouri. A enfermidade, porém, foi posteriormente registrada

nos Estados do Texas, Arkansas e Geórgia. Em todos os casos, os animais estavam

parasitados por carrapatos ou co-habitavam locais com bovinos, eqüinos, caprinos,

ovinos ou com cães parasitados por carrapatos (WAGNER, 1976; WAGNER et al.,

1976; WIGHTMAN et al., 1977; FERRIS, 1979).

Estes fatos despertaram o interesse na investigação da doença em outros

mamíferos, especialmente animais de produção, bem como no seu possível potencial

5

zoonótico, principalmente pelos seguintes motivos: i) a citauxzoonose só havia sido

descrita em ungulados na África (NEITZ, 1956); ii) felinos ocorrem em todos os

continentes e iii) animais silvestres são continuamente transportados de um continente

para outro (WAGNER, 1976; WAGNER et al., 1976; WIGHTMAN et al., 1977;

FERRIS, 1979).

Adicionalmente, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos concentrou

esforços para melhor compreender esta enfermidade, descobrir sua relação com as

citauxzoonoses africanas e verificar o potencial de infecção para animais de produção.

Mais de 500 gatos foram estudados sob condições experimentais e outros sob condições

naturais e mais de 100 passagens seriadas do agente foram feitas no intuito de

compreender as doenças natural e experimental, o diagnóstico diferencial, o prognóstico

e a epizootiologia (FERRIS, 1979).

Ainda assim, muitas dúvidas permaneceram como por exemplo: existe esta doença

em gatos em outros continentes ou ilhas? A doença tem potencial para se dispersar? É

cosmopolita ou regional? Quais os hospedeiros e reservatórios? Qual é realmente o

agente etiológico (espécie)? (WAGNER et al; 1976; FERRIS, 1979).

2.3. Cytauxzoon felis

O agente etiológico da doença fatal para gato doméstico, semelhante à

citauxzoonose dos ungulados africanos foi inicialmente diagnosticado, nos EUA, com

base nos caracteres morfológicos e biológicos, especialmente das formas

esquizogônicas, sendo tentativamente classificado como pertencente ao gênero

Cytauxzoon Neitz e Thomas, 1948, família Theileriidae (WAGNER, 1976; WAGNER

et al., 1976).

Posteriormente, com base em estudos de ultraestrutura, histológicos, tipos de

célula infectada e modo de multiplicação, o protozoário foi nominado Cytauxzoon felis.

Esta nominação, no entanto, não atende aos requisitos do Código Internacional de

Nomenclatura Zoológica (CINZ) (UILENBERG, 1995), pois foi proposta no trabalho

de tese de Ann B. Kier, o qual não é um documento aceito pelo CINZ. Logo em

seguida, contudo, foram publicados os estudos clínico-patológicos e da transmissão

experimental do agente para gatos domésticos e para 30 espécies de mamíferos

domésticos e silvestres, nos quais se considerou como agente etiológico C. felis Kier,

1979 (KIER et al., 1982a,b). Pelo fato da literatura internacional reconhecer até o

presente momento os estudos e a nominação dada por Ann B. Kier, trataremos a espécie

como C. felis Kier, 1979.

Recentemente foram diagnosticadas formas parasitárias intraeritrocíticas

semelhantes a C. felis em gatos Pallas (Otocolobus manul) oriundos da Mongólia e

importados pelos EUA. Ketz-Riley et al. (2003) sugeriram uma nova espécie para esse

agente e Reichard et al. (2005) classificaram-no como Cytauxzoon manul após estudos

morfométricos, moleculares e filogenéticos.

2.3.1. Biologia, morfologia e ultraestrutura

2.3.1.1. Formas intrahistiocíticas

O carrapato inocula no hospedeiro esporozoítas que infectam histiócitos para

formar esquizontes (KOCAN et al., 1992). Para C. felis apenas um esporozoíta infecta

6

um histiócito. O desenvolvimento do parasito sob observação ultraestrutural, começa

como uma indistinta massa dentro do citoplasma da célula hospedeira, que

progressivamente torna-se mais densa. Com o desenvolvimento, a divisão nuclear

ocorre e vários núcleos individualizados tornam-se mais evidentes com o aumento da

densidade do nucleoplasma e o aparecimento da membrana nuclear (SIMPSON et al.,

1985a).

Neste estágio, o parasito inicia um processo de multilobulação, cujos lóbulos são

interconectados por numerosas pontes citoplasmáticas. Com o aumento de tamanho e

complexidade do parasito, organelas são formadas ao longo das margens da membrana

do parasito. O citóstoma torna-se visível no plasmalema, inicia-se o aparecimento do

retículo endoplasmático, do anel polar, da mitocôndria não-pregueada e o núcleo torna-

se mais denso que o citoplasma (SIMPSON et al., 1985a). Com o desenvolvimento,

aumentam as lobulações e as róptrias aparecem no ápice das lobulações. Os merozoítas

surgem da fissão multinucleada de um único esporonte existente nesta fase. Os

citômeros são porções desenvolvidas deste único esporonte interconectadas por

numerosas pequenas pontes citoplasmáticas (KOCAN et al., 1992).

A massa do parasito diminui de tamanho, formando o corpo residual e os

merozoítas permanecem associados ao corpo residual que contém o núcleo do parasito e

organelas (SOARES, 2002). Os merozoítas são produzidos a partir de um arranjo com

aspecto de roseta em torno do pequeno corpo residual (SIMPSON et al., 1985a;

KOCAN et al., 1992). O merozoíta formado contém um único núcleo em posição oposta

às róptrias e aos micronemas. Assim, diversos merozoítas em desenvolvimento

permanecem nutrindo-se no citoplasma da célula hospedeira até sua completa

maturação (SIMPSON et al., 1985a).

Aparentemente, a ruptura da célula hospedeira só ocorre após a completa

maturação dos merozoítas (SIMPSON et al., 1985a).

As marcantes diferenças na esquizogonia entre Theileria sp. e Cytauxzoon sp.

fundamentam-se no fato de que, no primeiro gênero, este processo ocorre apenas em

linfócitos e no segundo, em histiócitos. No gênero Cytauxzoon, apenas um único

esporozoíta invade a célula hospedeira para desenvolver o esquizonte, enquanto que em

Theileria muitos esporozoítas invadem linfócitos, dando origem a vários esquizontes

(MEHLHORN e SCHEIN, 1984; KOCAN et al., 1992; MEHLHORN et al., 1994).

Os esquizontes de C. felis são pleomórficos, com formas predominantemente

arredondadas com dimensão variando entre 15 e 250 µm de diâmetro (WAGNER, 1976;

WAGNER et al., 1976; KIER et al., 1987; PEIXOTO et al., 1999; SOARES, 2002). A

esquizogonia em C. felis parece ser um processo de curta duração e limitado (BLOUIN

et al., 1987). Experimentalmente observou-se que após inoculação de esporozoítas por

adultos de Dermacentor variabilis, em gatos domésticos, os esquizontes foram

visualizados nos tecidos aos 11 dias após inoculação. Aos 30 dias pós-inoculação, via

carrapato, não mais havia esquizontes, permanecendo os animais-portadores de formas

intraeritrocíticas, com baixa parasitemia, por longo período (BLOUIN et al., 1987). Por

outro lado, o inóculo de fragmentos de tecidos de felídeos (gato doméstico ou linces)

com esquizontes em gatos domésticos e/ou linces resultou na formação de esquizontes,

baixa parasitemia de formas eritrocíticas e doença grave, com morte entre sete e 20 dias

(WAGNER et al., 1976; WIGHTMAN et al., 1977; FERRIS, 1979; WAGNER et al.,

1980; KIER et al., 1982a,b; 1987).

7

2.3.1.2. Formas intraeritrocíticas

O merozoíta maduro livre possui uma camada enrugada sobre a membrana

plasmática e entra no eritrócito circulante por um processo semelhante à endocitose.

Quando o merozoíto entra em contato com o eritrócito, a membrana deste inicia um

processo de modificação no ponto de contato com o merozoíto, invaginando-se. À

proporção que o merozoíto entra na célula, a invaginação alarga-se e aprofunda-se para

acomodá-lo. A margem da membrana invaginada fica intimamente aderida ao

merozoíto. A camada enrugada do merozoíto desaparece quando o mesmo está

parcialmente internalizado. Uma vez que o merozoíto se encontra dentro do eritrócito, a

membrana invaginada fusiona-se, abraçando o merozoíto e formando um vacúolo. A

entrada do merozoíto ocorre sem ruptura da membrana do eritrócito, porém o merozoíto

sofre fissão binária, dando origem à trofozoítas, com capacidade de invadir outros

eritrócitos (KOCAN et al., 1992).

Sob exame ultraestrutural, as formas intraeritrocíticas possuem uma dupla

membrana citoplasmática, núcleo pobremente definido contendo discreta cromatina,

retículo endoplasmático, ribossomos livres, mitocôndrias não-pregueadas, vacúolo

alimentar e citóstoma na membrana plasmática que circunda o parasito (SIMPSON et

al., 1985b). No Brasil estudos ultraestruturais de trofozoítas de C. felis simile isolado de

Panhtera onca revelaram a presença de membrana citoplasmática dupla e delgada,

núcleo excêntrico, circundado por uma membrana também dupla, mitocôndria atípica

(não-pregueada), com dupla membrana e localizada no pólo oposto ao núcleo e

vacúolos digestivos limitados por dupla membrana. Microtúbulos extranucleares,

ribossomos, retículo endoplasmático e lisossomos foram observados dispersos pelo

citoplasma do trofozoíto. Foram visualizados também citóstoma com dupla membrana e

pregas citoplasmáticas interligando formas parasitárias durante o processo de divisão

binária (SCOFIELD, 2002).

Nos eritrócitos, encontram-se usualmente um ou dois trofozoítas, eventualmente

três ou quatro (em cruz-de-malta). As formas intraeritrocíticas podem ser ovais,

arredondadas, puntiformes, piriformes, em anel de rubi, alongadas ou em tétrades

(WAGNER, 1976; KIER et al., 1982a,b; 1987; SIMPSON et al., 1985b; SCOFIELD,

2002). A cromatina nuclear, geralmente periférica, cora-se basofílicamente e o

citoplasma cora-se azul-hialino ou cora-se fracamente. Esta forma pode medir de 0,5 a

2,5 µm de diâmetro, mas usualmente atinge 0,5 a 1,5 µm de diâmetro, e encontra-se

freqüentemente no centro ou excêntrico quanto à localização no eritrócito (WAGNER,

1976; KIER et al., 1987; SIMPSON et al., 1985b; GLENN e STAIR, 1984; SOARES,

2002; SCOFIELD, 2002).

Normalmente a parasitemia por C. felis é baixa, entre 0,5 e 5% e, na maioria dos

casos de infecção natural está em torno de 1% (WAGNER, 1976; WAGNER et al.,

1976; 1980; FERRIS, 1979; SIMPSON et al., 1985b; BLOUIN et al., 1987; KIER et al.,

1987; SCOFIELD et al., 1999; SOARES, 2002; SCOFIELD, 2002). Os trofozoítas

permanecem infectando eritrócitos e pelo repasto do carrapato, dá-se continuidade ao

ciclo biológico. Os trofozoítas são infectantes para outros hospedeiros, via transmissão

sangüínea iatrogênica, mas aparentemente dão origem apenas a novas formas

eritrocíticas (BLOUIN et al., 1984; 1987; SIMPSON et al., 1985b).

8

2.3.1.3. Gametogonia e esporogonia

O ciclo de C. felis no carrapato ainda é desconhecido. Com base no ciclo de C.

taurotragi em R. appendiculatus (YOUNG et al., 1980) e nos fenômenos de

gametogonia, singamia e esporogonia que ocorrem em todos os Piroplasmida (NEITZ,

1956; 1957; MEHLHORN e SCHEIN, 1984; KAKOMA e MEHLHORN, 1994;

MEHLHORN et al., 1994), poder-se-ia comentar resumidamente um possível ciclo:

alguns trofozoítas nos eritrócitos sofrem diferenciação e quando ingeridos pelo

carrapato, formam microgametócitos ou macrogametócitos que, posteriormente, dão

origem a micro ou macrogametas, respectivamente. Estes formam o zigoto, por

singamia, que ao penetrar em células intestinais diferencia-se em cineto. O cineto, via

hemolinfa, invade os ácinos de glândulas salivares, realiza a esporogonia, com liberação

de esporozoítas que são inoculados pelo carrapato (MEHLHORN e SCHEIN, 1984;

KAKOMA e MEHLHORN, 1994; MEHLHORN et al., 1994).

2.3.2. Vetores

Os Piroplasmida são transmitidos biologicamente apenas por carrapatos (NEITZ,

1956; HOOGSTRAAL, 1985; SONESHINE, 1991; COX, 1994). Os teilerídeos são

transmitidos essencialmente por carrapatos heteroxenos (NEITZ, 1956; MEHLHORN e

SCHEIN, 1984; UILENBERG, 1995), apesar de existir um relato sobre Boophilus

annulatus transmitindo Theileria mutans para bovinos exportados dos EUA para a

Alemanha (REICHENOW, 1935, citado por NEITZ, 1956).

O carrapato transmissor natural de C. felis não é conhecido. Experimentalmente,

foi verificado que Dermacentor variabilis alimentado no estágio de ninfa em lince

(Lynx rufus) parasitado por C. felis, adquire a infecção e transmite para gato doméstico

quando adulto (BLOUIN et al., 1984). Esta constatação foi confirmada posteriormente

com outros experimentos similares (BLOUIN et al., 1987; KOCAN et al., 1992).

De forma geral, a literatura considera D. variabilis como vetor natural de C. felis

(KIER et al., 1987; BUTT et al., 1991; GARNER et al., 1996; JAKOB e WESEMEIER,

1996). Por outro lado, vários autores têm observado desde a descrição original da

enfermidade (WAGNER, 1976) que nas áreas onde ocorre a doença em gato doméstico

e lince, o carrapato mais prevalente é Amblyomma americanum (WAGNER, 1976;

WAGNER et al., 1976; 1980; WEHINGER et al., 1995; GARNER et al., 1996).

Recentemente, Bondy Jr. et al. (2005) realizaram análises moleculares para

detecção de DNA de C. felis em 1362 exemplares de carrapatos das espécies A.

americanum, D. variabilis e Rhipicephalus sanguineus. Esses carrapatos foram

coletados em diferentes cidades do Estado de Missouri onde já havia sido diagnosticada

citauxzoonose felina. Entre os exemplares analisados, apenas três ninfas de A.

americanum foram positivas e essa espécie foi considerada como potencial vetor de C.

felis.

Adicionalmente, em um estudo conduzido entre 1974 e 1991, na Flórida, para

determinar a incidência de carrapatos em lince (Lynx rufus floridanus) e em puma ou

pantera da Flórida (Felis concolor coryi), observou-se que estes animais (n= 189) eram

parasitados principalmente por adultos de Ixodes scapularis, I. affinis, D. variabilis, A.

americanum e A. maculatum (WEHINGER et al., 1995), sendo a espécie I. scapularis a

mais incidente em ambos os hospedeiros. Assim, estes autores consideram que

principalmente I. scapularis pode ser considerado como um potencial vetor de C. felis

para estes felídeos (WEHINGER et al., 1995).

9

As espécies de Theileria são transmitidas, principalmente, por carrapatos dos

gêneros Rhipicephalus e Hyalomma (NEITZ, 1956; SCHEIN, 1975; MEHLHORN e

SCHEIN, 1984; UILENBERG, 1995), enquanto que as espécies do gênero Cytauxzoon

que acometem ungulados são transmitidas por Rhipicephalus spp. As espécies Theileria

mutans e T. velifera, que ocorrem tanto na África quanto no Caribe, são transmitidas por

diversas espécies do gênero Amblyomma: Amblyomma variegatum, Amblyomma

hebraeum, Amblyomma gemma, Amblyomma lepidum, Amblyomma coherens entre

outras (NEITZ, 1956; MEHLHORN et al., 1994; UILENBERG, 1995). Theileria cervi,

que ocorre na América do Norte, é transmitida principalmente por A. americanum

(HAZEN-KARR et al., 1987; MEHLHORN et al., 1994).

No Brasil, foi verificada a presença de Amblyomma cajennense no recinto de leões

mantidos em cativeiro que morreram em decorrência de citauxzoonose (PEIXOTO et

al., 1999). Na mesma localidade, outros felinos como onça-pintada e gato-do-mato

pequeno também foram encontrados naturalmente parasitados por C. felis simile

(SOARES et al., 1999a;b). No entanto, ainda não é conhecido o transmissor deste

teilerídeo no País.

2.3.3. Hospedeiros

Cytauxzoon felis foi originalmente descrito parasitando gato doméstico (Felis

catus) (WAGNER, 1976; WAGNER et al., 1976; WIGHTMAN et al., 1977), no qual

determinava invariavelmente uma doença fatal (FERRIS, 1979; WAGNER et al., 1980;

KIER et al., 1987) e de curso rápido, o que levou os pesquisadores a considerarem ser o

gato doméstico um hospedeiro acidental e/ou final para o parasito (KIER et al., 1982a,b;

1987; SIMPSON et al., 1985a,b; BLOUIN et al., 1987).

Posteriormente, verificou-se que a inoculação de esquizontes e trofozoítas foi bem

sucedida em duas espécies de linces, sendo que o lince americano (L. rufus rufus)

apresentou apenas formas sangüíneas e não desenvolveu a doença, enquanto o lince da

Flórida (L. rufus floridanus) apresentou trofozoítas e esquizontes e desenvolveu uma

doença fatal idêntica à observada em gatos domésticos (KIER et al., 1982a,b). Nos

EUA, diversos casos foram descritos de linces americanos parasitados por C. felis. Na

maioria deles, os animais apresentavam apenas formas intraeritrocíticas do parasito.

Pelo inóculo de sangue desses animais em gatos, porém desenvolveu-se uma doença

fatal com formação de esquizontes teciduais (GLENN et al., 1982, 1983; KIER et al.,

1982a,b; BLOUIN et al., 1984) (Tabela 1). Acredita-se, portanto, que o lince é o

principal reservatório de C. felis na América do Norte (GLENN et al., 1982, 1983;

BLOUIN et al., 1987; WEHINGER et al., 1995).

Experimentalmente foi demonstrado que ovinos são susceptíveis à C. felis

(Tabela 1). Estes animais não apresentam sintomas aparentes, mas desenvolvem uma

baixa e persistente parasitemia (KIER et al., 1982a). Ao se avaliar experimentalmente o

potencial de transmissão interespécies de C. felis, proveniente de gato doméstico, em

quatro espécies de animais domésticos de produção, nove espécies de animais de

laboratório e 17 espécies de animais silvestres, observou-se que somente lince

americano, lince da Flórida e ovino foram infectados (KIER et al., 1982a).

As infecções naturais por C. felis em guepardo (ZINKL et al., 1981), em puma ou

pantera da Flórida (BUTT et al., 1991; ROTSTEIN et al., 1999) e em puma ou pantera

do Texas (ROTSTEIN et al., 1999) têm sido descritas com formas eritrocíticas e quadro

assintomático, e, em tigre branco (GARNER et al., 1996) e em tigre de bengala

(JAKOB e WESEMEIER, 1996) com formas eritrocítica e esquizogônicas e doença

10

fatal. Recentemente verificou-se, em macaco rhesus, uma típica citauxzoonose, com

formas esquizogônicas semelhantes à C. felis (GARDINER, 1998) (Tabela 1).

No Brasil, C. felis simile foi observado primeiramente em leões causando uma

enfermidade severa e lesões patognomônicas, caracterizadas pela oclusão parcial ou

total de vasos sangüíneos (PEIXOTO et al., 1999). Em seguida foi diagnosticado o

parasitismo por formas intraeritrocíticas típicas deste Theileriidae em onça-pintada

(SOARES et al., 1999a) e em gato-do-mato pequeno (SOARES et al., 1999b).

Posteriormente, estudos experimentais avaliaram os aspectos clínicos, patológicos e

parasitológicos em gatos domésticos (SCOFIELD et al., 1999; SOARES, 2002;

SCOFIELD, 2002). Em 2004, JULIANO et al. diagnosticaram em um esfregaço

sangüíneo de uma onça-parda capturada no estado do Mato Grosso do Sul formas

parasitárias intraeritrocíticas semelhantes a C. felis. Embora não tenham sido observadas

formas esquizogônicas, o parasito foi denominado de Cytauxzoon felis-like.

11

12

2.3.4. Diagnóstico

2.3.4.1. Diagnóstico direto

O diagnóstico direto de citauxzoonose é baseado, principalmente, na observação

de formas intraeritrocíticas e/ou formas esquizogônicas teciduais, típicas do agente. O

diagnóstico de trofozoíta é feito pela confecção de esfregaço a partir de sangue

periférico, obtido por punção de vasos marginais. Estes esfregaços são fixados em

metanol absoluto e podem ser corados por derivados do Romanowsky como Giemsa,

Leishman, May-Grünwald-Giemsa etc, ou por laranja de acridina (BOBADE e NASH,

1987; MacWILLIAMS, 1987; FOREYT, 1989; SOARES, 2002).

O exame sob microscopia fotônica deve basear-se na verificação de formas

intraeritrocíticas de pequeno porte (0,5–1,5 m x 0,8–2,0 m), predominantemente

arredondadas e em forma de anel de rubi. Estes tipos morfológicos encontram-se em

posição central no eritrócito. Formas em tétrade também ocorrem, porém em menor

freqüência. Os trofozoítas possuem cromatina nuclear basofílica e de localização

periférica e citoplasma azul-hialino fracamente corado (WAGNER, 1976;

WIGHTMAN et al., 1977; GLENN e STAIR, 1984; SIMPSON et al., 1985a,b; KIER et

al., 1987; MEIER e MOORE, 2000; SOARES, 2002; SCOFIELD, 2002).

As formas intrahistiocíticas podem ser diagnosticadas por citologia de

fragmentos de tecidos e órgãos. Na observação citológica de aposições ou “arrastes” de

tecidos e órgãos, processados como descrito para esfregaços de sangue, pode-se

verificar histiócitos contendo no citoplasma esquizontes com citômeros e inúmeros

merozoítas. Na observação de tecidos processados por técnicas histológicas e corados

por hematoxilina-eosina ou por Giemsa, verificam-se histiócitos repletos de esquizontes

com citômeros e merozoítas aderidos ao endotélio de vasos sangüíneos de diversos

órgãos (FERRIS, 1979; WAGNER et al., 1980; KIER et al., 1982b; 1987; GLENN e

STAIR, 1984; GARNER et al., 1996; JAKOB e WESEMEIER, 1996; MEIER e

MOORE, 2000; SOARES, 2002).

Cabe salientar, porém, que as formas intraeritrocíticas de C. felis, quando da

infecção via carrapato, aparecem na corrente sangüínea geralmente entre um e três dias

após o surgimento de esquizontes em histiócitos, período no qual surgem os sintomas

(HAUCK et al., 1982; SIMPSON et al., 1985a,b; BLOUIN et al., 1987; KIER et al.,

1987; MEIER e MOORE, 2000).

A parasitemia por C. felis usualmente é baixa (0,5 a 3%) persistente por um

longo período, e o animal também pode permanecer portador crônico assintomático

(WAGNER et al., 1980; KIER et al., 1987; HOOVER et al., 1994; WALKER e

COWELL, 1995; MEINKOTH et al., 2000; SCOFIELD, 1999; SOARES, 2002;

SCOFIELD, 2002). E pelo fato da esquizogonia ser limitada e aparentemente

transitória, o animal pode resistir à infecção e não apresentar esquizontes, persistindo

apenas parasitos intraeritrocíticos (SIMPSON et al., 1985b; BLOUIN et al., 1987; KIER

et al., 1987; KOCAN et al., 1992).

Pode-se proceder, ainda, o diagnóstico molecular, realizado principalmente por

meio da técnica da reação de polimerase em cadeia (PCR), a qual amplifica fragmentos

de gene do parasito utilizando iniciadores. A PCR, seguida do seqüenciamento,

possibilita a comparação de seqüências do gene 18S RNA ribossomal de C. felis com

outras espécies de Cytauxzoon, Theileria e Babesia disponíveis no GenBank

(www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=Nucleotide) (ALLSOPP et al., 1994;

MEINKOTH et al., 2000; REICHARD et al., 2005).

13

2.3.4.2. Diagnóstico indireto e exames auxiliares

O diagnóstico sorológico tem sido feito pela detecção de anticorpos da classe

IgG por meio da técnica de imunofluorescência indireta e pelo imunoensaio

microfluorimétrico. Ambas as provas utilizam formas esquizogônicas como antígeno

(SHINDEL et al., 1978; UILENBERG et al., 1987; COWELL et al., 1988). Estes

ensaios, além de serem um meio indireto de diagnóstico, contribuem para o

conhecimento de possíveis animais portadores em estado subclínico e para a

epidemiologia, determinando a prevalência e distribuição da enfermidade.

Os exames hematológico e bioquímico são auxiliares no diagnóstico da

citauxzoonose. As alterações mais freqüentes e importantes são anemia normocítica

normocrômica, leucopenia, trombocitopenia, decréscimo do volume globular e da

concentração de albumina, aumento da concentração de proteínas plasmáticas totais, de

glicose e de alanina transaminase (KOCAN e BLOUIN, 1985; GARNER et al., 1996;

ROTSTEIN et al., 1999).

Apesar das drogas derivadas das diamidinas e das naftoquinonas terem algum

efeito contra Cytauxzoon spp, o diagnóstico terapêutico não é empregado para a

citauxzoonose felina devido à baixa eficácia das drogas (MOTZEL e WAGNER, 1990;

WALKER e COWELL, 1995; GREENE et al., 1999; MEINKOTH et al., 2000).

2.3.4.3. Diagnóstico diferencial

Os aspectos clínicos das hemoparasitoses em geral são muito semelhantes, e

freqüentemente contribuem para falsos diagnósticos de citauxzoonose felina, quando na

verdade trata-se, em muitos casos, de babesiose ou hemobartonelose (SOARES, 2002).

A qualidade dos preparados citológicos ou teciduais é um fator imprescindível para o

correto diagnóstico de qualquer hemoparasito, pois simples artefatos de técnica e

sujidades freqüentemente confundem profissionais durante a observação microscópica.

Assim, a acuidade e a cautela na diferenciação de hemoparasitos, especialmente no que

diz respeito aos aspectos morfológicos e biológicos do possível agente em questão,

devem ser considerados antes da definição diagnóstica (SOARES, 2002).

Diversos hemoparasitos têm sido objeto de dúvidas em relação a C. felis.

Haemobartonella felis Clark, 1942 é um microrganismo da Ordem Rickettsiales parasita

de eritrócitos de felídeos (CLARK, 1942; BOBADE e NASH, 1987; NEIMAK et al.,

2001). Esta riquétsia é considerada por muitos autores como o principal agente a ser

diferenciado de C. felis (WAGNER, 1976; KIER et al., 1987; FOREYT, 1989; MEIER

e MOORE, 2000; SOARES, 2002). Morfologicamente, todavia, esse agente apresenta

predominantemente formas cocóides e em cadeia, de coloração basofílica densa e

homogênea, tamanho diminuto (0,2–0,9 m) e localizadas perifericamente na superfície

do eritrócito, portanto, formas completamente distinguíveis das de C. felis (WAGNER

et al., 1976; WIGHTMAN et al., 1977; MacWILLIAMS, 1987; COWELL et al., 1988;

HOOVER et al., 1994).

Embora ocorra, aparentemente, com baixa prevalência em felídeos, Babesia spp

pode ser considerada mais importante na diferenciação com C. felis que H. felis. Os

Babesiidae que acometem felídeos são: Babesia felis Davies, 1929; Babesia cati

Mudaliar, Achiary e Alwar, 1950; Babesia herpailuri Dennig, 1967; Babesia pantherae

Dennig e Brocklesby, 1972 e Babesia sp. Lopez-Rebollar, Penzhorn, de Wall e Lewis,

1999 (espécie não-nominada; previamente codificada como pequeno piroplasma KNP).

14

Apesar de haver alguma semelhança entre determinados tipos morfológicos de

Babesia spp com C. felis, não foram verificadas reações sorológicas cruzadas entre estes

dois agentes (UILENBERG et al., 1987; LOPEZ-REBOLLAR et al., 1999).

As formas esquizogônicas de C. felis presentes em tecidos podem ser

consideradas patognomônicas para citauxzoonose, entretanto cabe salientar que

esquizontes de Hepatozoon spp. em felídeos também ocorrem em tecidos de diversos

órgãos e, eventualmente, no endotélio de vasos (SOARES, 2002). Pseudocistos de

Toxoplasma gondii podem ser visualizados em diversos órgãos e tecidos (FOREYT,

1989). Embora em menor freqüência, ninho leishmanióide contendo formas amastigotas

de Trypanosoma cruzi são observados também em felídeos (MacWILLIAMS, 1987;

FOREYT, 1989).

2.3.5. Tratamento

O tratamento eficiente para a citauxzoonose ainda está por ser estabelecido. O

uso de terapia de suporte com solução de Ringer lactato e analgésico associada a

diamidinas, parece apresentar melhor resultado (HOOVER et al., 1994; GREENE et al.,

1999; MEHINKOTH et al., 2000). Contudo, cabe salientar que tanto o aceturato de

diaminazeno quanto o dipropionato de imidocarb possuem moderada ação tóxica para

felinos (GREENE et al., 1999). Ambas as drogas são tóxicas também para outras

espécies animais, inclusive para bovinos (PEREGRINE, 1994). Quando a doença for

aguda, as drogas diamidinas devem ser administradas juntamente com heparina,

mantendo-se a fluidoterapia (MEIER e MOORE, 2000).

A administração de aceturato de diaminazeno e de dipropionato de imidocarb, na

dose única de 2mg/Kg, apresentou eficácia de 50% em gatos com infecção natural por

C. felis (GREENE et al., 1999). O tratamento, com dipropionato de imidocarb, em gatos

com citauxzoonose experimental induzida, via carrapatos, foi ineficiente (MEINKOTH

et al., 2000).

Apesar das naftoquinonas serem consideradas as melhores drogas teilericidas,

essas não têm mostrado eficiência sobre Cytauxzoon spp. A avaliação de parvaquone na

dose única de 20 ou 30 mg/Kg e de buparvaquone na dose de 5 ou 10 mg/Kg, revelou

que ambas são ineficientes no tratamento da citauxzoonose felina experimental

(MOTZEL e WAGNER, 1990).

2.3.6. Distribuição

A citauxzoonose felina foi observada primeiramente em gato doméstico no

sudoeste do Estado de Missouri, EUA (WAGNER, 1976). Posteriormente foi

diagnosticada na região de fronteira entre os Estados de Missouri e Arkansas

(WAGNER et al., 1976) e, em seguida, a enfermidade foi registrada nos Estados do

Texas e Georgia (WIGHTMAN et al., 1977).

Cytauxzoon simile foi reportado infectando naturalmente guepardos cativos (A.

jubatus) no Estado da Califórnia (ZINKL et al., 1981). Só em 1982, no Estado de

Oklahoma, foi diagnosticada a infecção por Cytauxzoon sp. em linces (Tabela 1)

naturalmente parasitados (GLENN et al., 1982).

Posteriormente, a citauxzoonose foi registrada acometendo felinos domésticos e

silvestres experimental e/ou naturalmente infectados em diversos estados americanos

(Tabela 1), principalmente, nas regiões Sul, Sudeste, Centro-oeste e ao longo da costa

15

do Golfo do México (FERRIS, 1979; HAUCK et al., 1982; GLENN et al., 1983; BUTT

et al., 1991; HOOVER et al., 1994; WALKER e COWELL, 1995; GARNER et al.,

1996; ROTSTEIN et al., 1999; MEINKOTH et al., 2000). Experimentalmente, foi

descrita a infecção em ovinos no Estado de Missouri (KIER et al., 1982a).

A maioria dos casos de citauxzoonose felina foi observada nos EUA,

adicionalmente, foi relatada citauxzoonose fatal em tigre de bengala (P. tigris) na

Alemanha (JAKOB e WESEMEIER, 1996) e em macaco rhesus no Panamá

(GARDINER, 1998). Em ambos os casos, o diagnóstico foi estabelecido pelo estudo

histopatológico. Não são conhecidos nestes países quaisquer dados adicionais sobre a

enfermidade e seu agente (Tabela 1).

Na América Latina, os registros de citauxzoonose felina foram realizados no

Brasil, Estado do Rio de Janeiro, em leões (PEIXOTO et al., 1999), em onça-pintada

(SOARES et al., 1999a) em gato-do-mato pequeno (SOARES et al., 1999b) e

experimentalmente em gatos domésticos (SCOFIELD et al., 1999; SOARES, 2002;

SCOFIELD, 2002); no Estado do Mato Grosso do Sul, formas parasitárias

intraeritrocíticas de C. felis like foram diagnosticadas em onça parda (JULIANO et al.,

2002) (Tabela 1).

2.3.7. Potencial zoonótico

O potencial zoonótico de C. felis e outras espécies do gênero Cytauxzoon não é

conhecido, no entanto, pelo fato de ter sido diagnosticada infecção natural e fatal por C.

felis simile em macaco rhesus (GARDINER, 1998) e, por outras características

biológicas e moleculares, não se pode descartar a possibilidade deste hematozoário

infectar humanos.

Curiosamente, as principais espécies de Babesia que infectam humanos, B.

microti, B. rodhaini e B. equi, possuem uma relação molecular e filogenética estreita

com C. felis (ALLSOPP et al., 1994; BRONSDON et al., 1999; KJEMTRUP et al.,

2000b).

Diversas espécies de Babesia têm sido descritas infectando e determinando

doença em seres humanos e entre elas Babesia divergens, B. bovis, B. microti, B. canis,

B. rodhaini e B. equi (TELFORD III et al., 1993; ESKOW et al., 1999). Além disso,

existem cinco espécies descritas e outras ainda não-nominadas em primatas não-

humanos, com potencial zoonótico (TELFORD III et al., 1993; BRONSDON et al.,

1999; ESKOW et al., 1999).

2.4. Filogenia e evolução

A Ordem Piroplasmida foi incluída como grupo próximo aos Amoebae, porém, os

primeiros realizam reprodução sexuada (COX, 1994). Alguns autores colocaram-na

sistematicamente próximo aos Coccidia, enquanto outros a relacionaram aos

Haemosporida (LEVINE, 1988; MEHLHORN, 1988). Como se vê, a classificação dos

Piroplasmida não está bem clara e não satisfaz ao que se conhece a respeito deste grupo

(COX, 1994). Essa ordem possui duas famílias de importância, Babesiidae e

Theileriidae. A primeira família, com o gênero Babesia, contém cerca de 90 espécies

(LEVINE, 1988), a segunda, com o gênero Theileria, contém cerca de 40 espécies

(LEVINE, 1988); o gênero Cytauxzoon, até o momento, apresenta cinco espécies

reconhecidas (SOARES, 2002; REICHARD et al., 2005).

16

A expansão dos Piroplasmida também tem relação com movimentação de seus

hospedeiros, a exemplo do que ocorreu com Babesia bovis e Babesia bigemina para

bovinos (KUTTLER, 1988), mas, principalmente, com a dispersão dos vetores, como

exemplo Boophilus sp. para babésias de bovinos, Amblyomma sp. para Theileria mutans

e Theileria velifera e Rhipicephalus sanguineus para Babesia canis, dentre outros

(NEITZ, 1956; 1957; KUTTLER, 1988; KAKOMA e MEHLHORN, 1994;

MEHLHORN et al., 1994).

Estudos realizados por Allsopp et al. (1994), Cox (1994) e Reichard et al. (2005)

com análises de seqüências de RNA ribossomal 18S revelaram que os membros da

família Theileriidae constituem grupos monofiléticos; assim como alguns membros da

família Babesiidae; ambas as famílias são grupos-irmãos, derivados de um ancestral

parafilético comum (ALLSOPP et al.,1994).

Para alguns autores, o grupo parafilético que originou os taxa monofiléticos

Babesia stricto sensu e Theileria stricto sensu também deram origem a outro taxa

monofilético, o qual contém as espécies Babesia equi, Babesia rodhaini e C. felis

(ALLSOPP et al., 1994). Para estes autores, os três piroplasmídeos encontram-se em

uma posição taxonômica incerta, apesar de possuírem seqüências de RNA similares aos

Theileriidae e Babesiidae. Dessa forma, foi sugerido, com base em similaridades

fenotípicas e filogenéticas, que as três espécies, juntamente com as espécies de Babesia

de aves, formassem uma nova família. Pelo fato de ter sido proposta a reclassificação de

Babesia equi para Nicollia equi (KRYLOV, 1981, citado por ALLSOPP et al., 1994), o

nome apropriado para esta nova família seria Nicolliidae (ALLSOPP et al., 1994).

Mais recentemente, Reichard et al. (2005) realizaram novas análises filogenéticas

com membros da ordem Piroplasmida revelando que o agrupamento das espécies de

Babesia é parafilético, encontrando-se dividido em diferentes clados não-irmãos. Essas

análises também propuseram a reclassificação de Babesia equi e Theileria equi em um

gênero próprio, assim como foi proposto por Allsopp et al. (1994).

Como as mutações no DNA ocorrem de forma aleatória e relativamente constante,

teoricamente é possível medir a divergência entre duas espécies (unidades

reprodutivamente isoladas, ou seja, que não trocam genes) a partir da estimativa das

diferenças encontradas em um determinado fragmento de DNA ou RNA. Os resultados

dessas análises tendem ser mais regulares que a avaliação de caracteres morfológicos

(ALLSOPP et al., 1994; COX, 1994; KJEMTRUP et al., 2000a,b). No entanto, a

associação das análises moleculares às morfológicas e biológicas fornece hipóteses mais

robustas acerca da evolução de organismos (WOESE, 1981; STEWART, 1993; COX,

1994).

2.4.1. Posição sistemática e status taxonômico

Até o momento, foram propostas diversas classificações taxonômicas para os

protozoários, muitas delas baseadas apenas em caracteres morfológicos ou por simples

agrupamento combinatório de caracteres. Assim, a posição sistemática do gênero

Cytauxzoon seria melhor definida com base na associação de diversos parâmetros

morfológicos, biológicos, fisiológicos e patológicos, definidos pelos trabalhos de Neitz

(1956; 1957), Wagner (1976) e Cox (1994).

O status taxonômico de Cytauxzoon spp ainda encontra-se incerto. Para Neitz

(1956), na família Theileriidae du Toit, 1918 encontram-se protozoários que se

multiplicam por esquizogonia em linfócitos e finalmente invadem eritrócitos. As formas

eritrocíticas não se reproduzem e são possíveis gametócitos ou gametas. Esta família é

17

representada por um único gênero Theileria, cuja principal espécie seria Theileria

parva.

Na família Gonderidae Neitz e Jansen, 1956, encontram-se parasitos que se

multiplicam por esquizogonia em linfócitos (Gonderia sp.) ou em histiócitos

(Cytauxzoon sp.) e também em eritrócitos. Nas hemácias se reproduzem por divisão

binária, originando dois ou quatro indivíduos-filhos, que posteriormente assumem a

característica forma de cruz-de-malta. O estágio final do parasito no eritrócito é

possivelmente um gametócito ou gameta. Esta família é representada por dois gêneros,

Gonderia e Cytauxzoon (NEITZ, 1956).

Os membros do gênero Gonderia se multiplicam por esquizogonia em linfócitos e

por fissão em eritrócitos. Possuem diversas espécies: Gonderia annulata, Gonderia

mutans, Gonderia hirci, Gonderia ovis, Gonderia lawrencei, entre outras (NEITZ,

1956). Posteriormente, esse gênero foi considerado sinonímia de Theileria (NEITZ,

1957; LEVINE, 1971; 1985) e todos os piroplasmídeos que realizam esquizogonia em

linfócitos foram classificados como Theileria spp. Alguns autores, todavia, consideram

o gênero Cytauxzoon como Theileria (LEVINE, 1985; GROOTENHUIS et al., 1979) e

outros, baseados em diversos parâmetros citados anteriormente, o mantém na condição

original (WAGNER, 1976; KIER et al., 1982a,b; ALLSOPP et al.,1994). Em

concordância com essa última colocação, será adotada a nomenclatura original do

gênero.

Desta forma, de acordo com Soares (2002), a posição sistemática do parasita em

estudo pode ser assim definida: Domínio Eucarya, Reino Protozoa, Sub-reino Alveolata,

Super-filo Apicomplexa, Filo Sporozoa, Classe Piroplasmea, Ordem Piroplasmida,

Família Theileriidae, Gênero Cytauxzoon e provável espécie Cytauxzoon felis.

2.5. Análises Moleculares

O controle das doenças parasitárias de importância veterinária depende do

diagnóstico rápido e exato dos agentes etiológicos, bem como da habilidade para

caracterizar os agentes parasitários baseando-se na epidemiologia, incluindo

especificidade do hospedeiro, potencial zoonótico, virulência e sensibilidade às drogas.

As técnicas de diagnóstico tradicionais que envolvem microscopia óptica têm sido

complementadas com uma variedade de ferramentas moleculares. A aplicação destas

ferramentas também tem ajudado a resolver problemas taxonômicos que no passado

foram motivo de controvérsia quando novas espécies eram descobertas e descritas

baseadas nas características fenotípicas ou observações epidemiológicas, principalmente

em áreas endêmicas. Recentemente, o enfoque tem sido dirigido em definir e

caracterizar regiões específicas do DNA, que podem ser usados como marcadores para

detectar variações entre diferentes taxons. Isto requer a eleição da ferramenta molecular

capaz de diferenciar as variantes genéticas nos diferentes níveis hierárquicos. Estas

técnicas têm-se mostrado úteis e apropriadas no desenvolvimento e avanço da

taxonomia em diversas áreas da biologia, inclusive na parasitologia (ALLSOPP et al.,

1994; MATHEW et al., 2000).

2.5.1. PCR (Polymerase chain reaction)

A técnica denominada de reação em cadeia da polimerase (PCR) é um método

que envolve a síntese enzimática “in vitro” de bilhões de cópias de um segmento

18

específico de DNA na presença da enzima termoestável, a Taq DNA polimerase. A

reação de PCR se baseia no pareamento de oligonucleotídeos iniciadores ou

“primers”(pequenas seqüências de ácidos nucléicos de fita simples) que delimitam a

região do DNA alvo que será multiplicada. Esses iniciadores são sintetizados

artificialmente de maneira que suas seqüências de nucleotídeos sejam complementares

às seqüências específicas de cada fita do DNA que flanqueiam a região alvo

(ALBERTS et al., 1997).

O princípio da técnica de PCR se baseia em três etapas: desnaturação,

pareamento ou “annealing” e extensão. Estas etapas são organizadas em ciclos, sendo

que cada ciclo da reação é caracterizado pela separação das fitas da dupla-hélice de

DNA genômico durante a etapa da desnaturação. O resfriamento da mistura de PCR na

etapa de pareamento permite que se formem ligações entre os iniciadores com as

seqüências genômicas complementares. Após o pareamento, a DNA-polimerase, na

presença dos desoxirribonucleosídeos trifosfatados (dNTP’s), inicia a etapa de extensão

a partir das regiões extremas de cada uma das fitas de DNA pareadas com os

iniciadores. A cada ciclo, o procedimento de duplicação é repetido e os novos

fragmentos sintetizados servem como moldes para a ligação de outros iniciadores, o

produto final predominante dessa reação de amplificação exponencial é um fragmento

de DNA delimitado pela região onde os iniciadores parearam. Normalmente são

necessários de 20 a 30 ciclos de reação para que amplificação do DNA seja efetiva.

Cada ciclo dobra a quantidade de DNA sintetizada no ciclo anterior resultando em

multiplicação exponencial do número de moléculas do DNA alvo (SAMBROOK et al.,

1989).

2.5.2. RNA ribossômico (RNAr)

Os RNAs ribossômicos são seqüências essenciais na fisiologia celular. Estes

componentes interagem de modo específico com as proteínas ribossômicas para formar

as subunidades dos ribossomos que atuam no processo de síntese de proteínas. Os

RNAs ribossomais são os principais produtos da transcrição em qualquer célula,

constituindo geralmente de 80 a 90% da massa de RNA total dos procariontes e

eucariontes (GORAB, 2001).

As seqüências que codificam para o RNAr são altamente conservadas e podem

ocorrer várias cópias nos diversos organismos estudados. Nos eucariontes, essas cópias

de DNAr estão organizadas em tandem em uma ou mais regiões cromossômicas. Os

RNAs ribossômicos são classificados conforme seu coeficiente de sedimentação em

campo gravitacional de centrifugação de acordo com tamanho utilizando-se como

medida as unidades Svedberg (S). De forma geral, cada unidade de repetição do DNAr

eucarionte possui uma organização conservada, constituída por: um espaçador externo

(external transcribed spacer-ETS), transcrito em uma seqüência que contém a

extremidade 5´da molécula precursora do RNAr 18S com alto coeficiente de

sedimentação (até 45S); região que codifica para RNAr 18S; um espaçador interno que

é transcrito (internal transcribed spacer-ITS) e que contém a região que codifica o

RNAr 25-28S e um espaçador externo (non transcribed spacer NTS), que não é

transcrito (GORAB, 2001).

19

Figura 1. Representação esquemática da unidade de repetição do DNAr dos

eucariontes. A proporção entre as diversas regiões dentro da unidade não está

necessariamente representada na figura. ETS: espaçador externo; 18S região que

codifica para RNAr 18S; ITS: espaçador interno; 25-28S: região que codifica para

RNAr 25-28S; NTS: espaçador externo ou espaçador intergênico (GORAB, 2001

adaptado).

2.5.3. Análises moleculares e filogenéticas

A classificação taxonômica dos parasitos baseava-se anteriormante nas

características morfológicas, ecológicas, epidemiológicas e clínicas. Atualmente a

dificuldade de diagnóstico específico baseado em parâmetros fenotípicos e o

desconhecimento de muitos fatores biológicos de diferentes grupos de parasitos têm

incentivado pesquisadores a empregar técnicas moleculares e análises filogenéticas no

diagnóstico, na classificação e/ou reclassificação de diferentes grupos (ALLSOPP et al.,

1994; KJEMTRUP et al., 2001; REICHARD et al., 2005). O gene 18S tem sido

frequentemente utilizado em análises filogenéticas de diferentes espécies de

protozoários por ser conservado e por se tratar de gene efetivo na fisiologia dos

organismos (ALBERTS et al; 1997; GORAB, 2001; REICHARD et al., 2005).

Para o gênero Cytauxzoon a utilização dessas técnicas tem auxiliado na

identificação de espécies e seqüenciamento de subunidades do gene. Reichard et al.

(2005), utilizando caracterísicas morfológicas, PCR e análises filogenéticas do gene 18S

descreveram a espécie C. manul, que infecta gatos Pallas (Odocoelus manul) oriundos

da Mongólia e importados pelos EUA. Recentemente Bondy Jr. et al. (2005)

identificaram e sequenciaram o gene ITS-1 de C. felis.

ITS

ETS

18S

NTS

25S/28S

20

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Origem das Amostras de Cytauxzoon felis simile

Foram utilizadas três amostras de C. felis simile, uma obtida a partir de órgãos

de uma leoa (Panthera leo) de oito anos e sete meses, outra a partir de onça-pintada

(Panthera onca) macho, com cinco anos, e uma terceira a partir de gato-do-mato,

pequeno (Leopardus tigrinus) macho, com quatro anos, procedentes do Zoológico

Municipal de Volta Redonda (altitude = 390m, latitude sul = 22° 31’ 23” e longitude

oeste = 44° 06’ 15”) (CIDE, 1997), Estado do Rio de Janeiro (SOARES, 2002).

As análises moleculares de C. felis simile do isolado da P. onca foram realizadas

a partir de sangue de gato doméstico inoculado experimentalmente (Item 3.2) e para a

amostra do L. tigrinus foi utilizado uma alíquota de sangue criopreservada em

nitrogênio líquido, mantida no Laboratório de Doenças Parasitárias desde o ano de

1998. Fragmentos de órgãos contendo esquizontes de C. felis simile, conservados em

formalina a 10%, desde 1998, foram doados gentilmente pelo Professor Paulo Peixoto

para a realização das análises moleculares.

3.2. Manutenção do Isolado de Panthera onca em Gatos Domésticos

Em 1998, amostras de sangue de P. onca contendo trofozoítas de C. felis simile

(SOARES et al., 1999a; 2002) foram inoculadas experimentalmente em gatos

domésticos (Felis catus) para manutenção e estudos clínico-biológicos (SCOFIELD et

al., 1999; SOARES, 2002; SCOFIELD, 2002). Em 2003, dois gatos domésticos, com

idade de aproximadamente cinco meses, saudáveis e negativos para hemoparasitos em

esfregaço sangüíneo, foram utilizados para multiplicar o isolado da P. onca. Cada

animal recebeu três inóculos de sangue (1,0 ml) de um gato doméstico doador inoculado

em 1998. As inoculações foram realizadas por via subcutânea, com intervalo de 30 dias

entre cada inóculo. Entre o segundo e terceiro inóculo foi realizada imunossupressão em

cada animal, sendo administrado dexametasona (1mg/Kg) via oral, durante sete dias.

Esses animais foram doados gentilmente por um médico veterinário logo após o

desmame.

Os animais foram mantidos em ambiente isolado, segundo recomendações do

Serviço de Sanidade Animal/Delegacia Federal de Agricultura/RJ–Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no biotério do Laboratório de Doenças

Parasitárias–Projeto Sanidade Animal, Município de Seropédica (altitude = 26m,

latitude sul = 22° 44’ 38” e longitude oeste = 43° 42’ 27”) (CIDE, 1997), Estado do Rio

de Janeiro. Esses foram alimentados com água e ração comercial para gatos (Top Cat e

Leroy), ad libitum e acompanhados pelo período de dois anos e meio.

3.2.1. Detecção da parasitemia e coleta das amostras do isolado de P. onca

Esfregaços sangüíneos foram confeccionados, a cada três dias a partir do

primeiro inóculo, por veno-punção de vasos marginais da orelha dos dois animais até a

detecção da parasitemia. Os esfregaços sangüíneos periféricos foram secados ao ar,

21

fixados em álcool metílico absoluto, corados pelo Giemsa diluído em tampão Sorensen

pH 6,8 (LUBINSKY, 1960) e observados em microscópio óptico (Dialux 20 ES, Leitz).

A partir da detecção de trofozoítas circulantes, quinze dias após o terceiro

inóculo, amostras de sangue foram coletadas assepticamente, por venopunção radial

utilizando tubos de ensaio do tipo “vacuntainer” contendo anticoagulante citrato-

fosfato-dextrose. As amostras de sangue foram levadas ao Laboratório de Doenças

Parasitárias, Projeto Sanidade Animal/Embrapa onde foi adicionado glicerol 80%.

Posteriormente, essas amostras foram mantidas em nitrogênio líquido até o momento de

serem transportadas para o Laboratório de Biologia Molecular, da área de Sanidade

Animal, Embrapa - Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte (CNPGC), no

Município de Campo Grande-MS, onde foram processadas para análise genotípica.

3.3. Escolha do Gene

A escolha do gene foi baseada nos trabalhos de Allsopp et al. (1994) e Meinkhot

et al. (2000) que utilizaram o gene 18S (região Ssu-rDNA, menor sub-unidade do

ribossomo nuclear) para discutir a evolução da Ordem Piroplasmida e realizar análises

moleculares e filogenéticas de C. felis. Durante as análises deste estudo, este gene

também foi o único que permitiu a comparação com outras seqüências de Cytauxzoon

depositadas em bases de dados do GenBank (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), pois até o

momento das análises havia apenas seqüências do gene 18S para C. felis. Além disso,

em estudos de filogenia o gene 18S tem sido frequentemente utilizado por ser

conservado e por se tratar de gene efetivo na fisiologia dos organismos.

3.4. Desenho dos Oligonucleotídeos Iniciadores

Devido ao escasso número de trabalhos referentes a estudos moleculares para o

gênero Cytauxzoon, foram desenhados dez pares de oligonucleotídeos iniciadores

utilizando o programa computacional DNAStar (http://www.dnastar.com/web/r6.php)

tendo como base a seqüência parcial do gene 18S da subunidade ribossomal de C. felis

(n° de acesso AF399930) depositada no GenBank. Dois pares de iniciadores foram

escolhidos baseando-se na temperatura média, sítio de anelamento e tamanho do

produto amplificado. A seqüência consenso gerada pelo sequenciamento dos produtos

de PCR amplificados com os pares de iniciadores desenhados poderia apresentar

aproximadamente 1445 pares de base (pb).

3.5. Extração de DNA

O DNA nuclear de C. felis simile do isolado de P. onca e da amostra de L.

tigrinus foram obtidos a partir de amostras de 350,0 μl de sangue total de gato

doméstico (Item 3.2.1) e de L. tigrinus (Item 3.1) respectivamente, utilizando o Kit

Easy-DNATM (Genomic Isolation-INVITROGEN ®), conforme especificação do

fabricante para extração de amostras de sangue. O DNA nuclear de C. felis presente nas

amostras de tecido de P. leo (Item 3.1) foi extraído utilizando o mesmo Kit, conforme

especificação do fabricante para extração de amostras de tecido.

Como controle negativo, foi utilizada amostra de sangue de um gato doméstico

saudável e negativo para hemoparasitos em esfregaço sangüíneo. O DNA genômico foi

22

extraído utilizando o Kit Easy-DNATM (Genomic Isolation-INVITROGEN®), conforme

especificação do fabricante para extração de amostras de sangue.

A concentração do DNA extraído de cada amostra foi determinada por

espectrofotômetro (Gene Quant®, Amersham Pharmacia, EUA), sob absorbância de

280 m.

3.6. Amplificação das Amostras de DNA de Cytauxzoon felis simile

A amplificação do gene 18S de Cytauxzoon felis simile foi realizada por meio da

PCR (Polymerase Chain Reaction), com os dois pares de oligonucleotídeos iniciadores

desenhados.

Realizou-se a padronização da PCR, utilizando a amostra extraída de sangue de

gato doméstico (isolado de Panthera onca). Para cada reação foram testados dois

volumes de cada par de iniciadores 100ηg/µL (0,5 e 1,5 µL), três volumes de MgCl2

50Mm (1,5, 2,5 e 3,0 µL), três volumes de DNA (0,5, 1,0 e 2,0 µL) e dois volumes de

Taq DNA polimerase 5 U/L (CENBIOT®) (0,25 e 0,5 µL). Para completar a reação

utilizou-se 2,5 µL tampão de reação 10x (10mM de tris-HCl pH 8,3; 50mM de KCl,

3,0), 0,5 µL de uma mistura contendo 250 M de cada dNTPs, e volume de água

comercial para PCR livre de DNAse (INVITROGEN®), perfazendo o volume final de

25,0 µL de reação.

Após a padronização da reação acima foi amplificado o DNA do isolado de L.

tigrinus. Para essa amostra, utlizou-se também o Kit PCR Master Mix (PROMEGA®),

com a seguinte reação de PCR para cada par de iniciadores: 12,5 µL do PCRMasterMix

(tampão pH 8,5; 3,0 mM de MgCl2; 400 µM de cada dNTPs; Taq DNA polimerase 50

U/mL), 0,5 µL de cada iniciador (100 ηg/µL), 2,0 µL DNA total e 9,5 µL de água

comercial para PCR livre de DNAse (INVITROGEN®), perfazendo um volume final de

25,0 µL de reação.

Para a PCR da amostra de fígado e rim de P. leo, foi utilizado uma reação para

cada par de iniciadores com 2,0 µL tampão de reação 10x (10mM de tris-HCl pH 8,3;

50mM de KCl, 3,0), 1,2µL de MgCl2 50Mm, 0,4 µL de uma mistura contendo 250 µM

de cada dNTPs, 0,4 µL de cada iniciador (100ηg/µL), 0,4 µL de Taq DNA polimerase 5

U/µL (CENBIOT®). Dois volumes de DNA foram testados: 4,0 e 5,0µL. Cada reação

foi completada para um volume final de 20,0 L com água comercial para PCR livre de

DNAse (INVITROGEN®).

As reações de amplificação de DNA de Cytauxzoon felis simile isolado de P.

onca foram realizadas em um termociclador (MJ – RESEARCH® - modelo PTC – 200)

programado da seguinte maneira: um ciclo de um minuto a 94C; 35 ciclos de 94C por

um minuto, gradiente de temperatura de anelamento com as seguintes variações 47, 53,

55, 57, 57,7, 60 e 61C por um minuto e 72C por um minuto. Um ciclo final de

extensão a 72 C por sete minutos foi realizado ao término dos ciclos e as reações foram

resfriadas a 4 °C para interromper a amplificação. Após a padronização, todas as

reações de amplificação de DNA de Cytauxzoon felis simile foram realizadas conforme

descrito acima, alterando apenas a temperatura de anelamento que foi de 60°C.

3.7. Análise dos Produtos de Amplificação

Os produto de PCR (5,0 μL de cada) (Item 3.6) foram adicionados ao tampão de

amostra (1,0 μL), distribuídos separadamente em géis de agarose (1,0%) com Tampão

23

TAE (Tris-acetato-EDTA pH 8,0) e submetidos à eletroforese por uma hora a 60 V.

Para estimar o peso molecular dos produtos de PCR foi utilizado o marcador 1Kb plus

de 100 a 12000 pares de base (INVITROGEN ®) como padrão. Os géis foram corados

em solução de brometo de etídio (5 g/L) por 15 minutos. As bandas obtidas foram

visualizadas em transiluminador (SPECTROLINE® - modelo TL-312A – 312 m

ultravioleta) e fotografadas usando máquina fotográfica digital interligada ao sistema

AlphaDigidoc® (Gel Documentatation e Imagem Analysis System - Alpha Innotech

Corporation).

3.8. Clonagem dos Produtos de PCR

Para a clonagem dos produtos de PCR dos isolados de C. felis de P. onca e de L.

tigrinus, foi realizada uma reação de ligação, catalisada pela enzima topoisomerase I,

adicionando em microtubos de 1,5 mL, 0,5 μL de plasmídeo pTrcHis – TOPO

(INVITROGEN®) e 4,5 μL do produto de PCR (Item 3.7) (Figura 2). Realizou-se

também, para a clonagem dos produtos de PCR do isolado de C. felis de L. tigrinus uma

reação de ligação com 0,5 μL de plasmídeo pTrcHis – TOPO (INVITROGEN®) e 6,0

μL do produto de PCR. As amostras foram homogeneizadas levemente e incubadas por

cinco minutos em temperatura ambiente (Figura 2).

Figura 2. Esquema do plasmídeo pTrcHis – TOPO (INVITROGEN®) utilizado na

clonagem dos produtos de PCR dos isolados de Panthera onca e Leopardus tigrinus.

Os produtos de ligação foram utilizados na transformação de células E. coli TOP

10 produzidas segundo protocolo do Laboratório de Biologia Molecular da Embrapa

Gado de Corte; esses produtos foram adicionados às células homogeneizando levemente

e incubando em gelo por 30 minutos. Posteriormente os tubos foram colocados por 30

segundos em banho-maria à 42°C sem agitação. Em seguida estes foram transferidos

imediatamente para o gelo, onde permaneceram por um período suficiente para serem

transportados até a câmara de fluxo laminar, onde adicionou-se em cada tubo 250,0 μL

de meio SOC. Os tubos foram vedados e submetidos à agitação horizontal a 37°C por

30 minutos. Os produtos transformados foram semeados com auxílio de uma alça de

vidro em placas de Petri 20 x 24 cm devidamente identificadas, contendo meio Luria –

Bertani (LB) ágar com 100 μg/mL de ampicilina. As placas foram incubadas por 12

horas à 37°C para o crescimento das colônias bacterianas.

24

3.9. Lise e Análise de Colônias

As colônias bacterianas contendo o inserto de DNA de C. felis foram

selecionadas. Com auxílio de palitos de dente estéreis, foram removidas doze colônias

das placas de Petri do isolado de Panthera onca e quatro colônias das placas de Petri da

amostra de Leopardus tigrinus; todas as colônias foram distribuídas separadamente em

microtubos de 1,5 mL. Com os mesmos palitos usados para distribuir as colônias,

preparou-se placas “mãe” com meio LB àgar com 100 μg/mL de ampicilina que foram

incubadas durante 12 horas à 37°C para o desenvolvimento das colônias bacterianas.

Nos microtubos contendo as bactérias adicionou-se 15,0 μL de água comercial

para PCR livre de DNAse (INVITROGEN®), homogeneizou-se em vortex por 10

segundos e incubou-se por 10 minutos em banho-maria a 100°C. As amostras (5,0 μL)

mais 1,0 μL de tampão de amostra foram aplicadas em gel de agarose a 1% (utilizando

pentes com dentes finos), em tampão tris – EDTA – acetato (TAE) pH 8,0 e separadas

por eletroforese submarina horizontal em gel sob corrente de 60 V. O gel foi corado em

solução de brometo de etídio (5 g/L) por 15 minutos e as bandas foram visualizadas

sob luz ultravioleta em transiluminador (SPECTROLINE® - modelo TL-312A – 312

m ultravioleta).

Após essa etapa as amostras foram centrifugadas e o sobrenadante utilizado para

a PCR de colônia.

3.10. PCR de Colônia

A PCR de colônia foi realizada para identificar os clones bacterianos que

continham os insertos de interesse. Assim como na PCR (Item 3.6), foram utilizados os

dois pares de oligonucleotídeos iniciadores desenhados.

A reação de PCR para cada par de iniciadores foi realizada com 2,0 µL tampão

de reação 10x (10 mM de tris-HCl pH 8,3; 50 mM de KCl, 3,0), 1,2 µL de MgCl2 50

Mm, 0,4 µL de uma mistura contendo 250 M de cada dNTPs, 0,4 µL de cada iniciador

(100 ηg/µL), 0,4 µL de Taq DNA polimerase 5 U/µL (CENBIOT®) e 2,0 µL do

sobrenadante resultante da lise das colônias (Item 3.9). Cada reação foi completada para

um volume final de 20,0 L com água comercial para PCR livre de DNAse

(INVITROGEN®).

As reações de amplificação foram realizadas em termociclador (MJ –

RESEARCH® - modelo PTC – 200) programado da seguinte maneira: um ciclo de um

minuto a 94C; 35 ciclos de 94C por um minuto, 60C por um minuto e 72C por um

minuto. Um ciclo final de extensão a 72C por sete minutos foi realizado ao término dos

ciclos e as reações foram resfriadas a 4°C para interromper a amplificação.

3.11. Reação de Minipreparação de Plasmídeos (Miniprep)

Para purificação do DNA plasmidial das amostras do gene 18S de C. felis a

partir de cultura de E. coli, utilizou-se o Kit Ultra Clean TM (MOBIO Laboratories®),

conforme especificação do fabricante.

As células transformadas (Item 3.8), previamente selecionadas pela técnica de

PCR de colônia, foram transferidas para tubo “Falcon” de 15,0 mL contendo 2,0 mL de

LB líquido com 100 μg/mL de ampicilina, e incubadas overnight à 37°C sob agitação.

25

Em seguida, 2,0 mL das células cultivadas foram transferidos para tubos de

microcentrífuga, devidamente identificados e centrifugados por um minuto a 10.000 xg.

Descartou-se o sobrenadante por inversão dos tubos e o restante foi retirado com auxílio

de uma pipeta. Ressuspendeu-se o pellet adicionando 50,0 μL da solução de suspenção

(solução I), homogeneizou-se no vortex por um minuto, sendo dez segundos no vortex e

um segundo fora. Adicionou-se 100,0 μL da solução de desnaturação de proteína e de

DNA bacteriano (solução II), homogeneizou-se os tubos invertendo-os por uma vez.

Adicionou-se 325,0 μL da solução de precipitação de proteína e de renaturação de DNA

plasmidial (solução III), homogeneizou-se os tubos invertendo-os por uma vez.

Centrifugou-se os tubos por dois minutos à 10.000 xg. Os sobrenadantes com o DNA

plasmidial dos diferentes isolados foram transferidos para novos microtubos, contendo

colunas com membrana de sílica. Centrifugou-se o conjunto por 30 segundos à 10.000

xg. Adicionou-se 300,0 μL da solução de lavagem. Centrifugou-se o conjunto por 30

segundos à 10.000xg e descartou-se o líquido da solução de lavagem (solução IV).

Finalmente adicionou-se 50,0 μL da solução de eluição (solução V), centrifugou-se o

conjunto por 30 segundos à 10.000 xg e descartou-se as colunas.

Para analisar a qualidade do DNA plasmidial obtido dos diferentes isolados,

aplicou-se 5,0 μL da solução e 1,0 μL de tampão de amostra em gel de agarose a 1%,

em tampão tris – EDTA – acetato (TAE) pH 8,0 e separou-se por eletroforese

submarina horizontal em gel sob corrente de 60V. O gel foi corado em solução de

brometo de etídio (5 g/L) por 15 minutos, as bandas foram visualizadas sob luz

ultravioleta em transluminador e documentado usando o sistema AlphaDigidoc® (Gel

Documentatation e Imagem Analysis System – Alpha Innotech Corporation).

3.12. Sequenciamento

Os produtos obtidos na minipreparação de plasmídios e placas de Petri contendo

as colônias das diferentes amostras foram enviadas para o Instituto de Biologia

Molecular do Paraná – Curitiba, PR, onde foram seqüenciadas (BigDy®Terminatorv

1.1 Cicle Sequencing Kit - Apllied Biosystems), em seqüenciador automático ABI 3100

de 16 capilares (Apllied Biosystems) pelo método dideoxi (SANGER et al., 1977),

segundo as recomendações do fabricante. As amostras foram seqüenciadas com os

iniciadores do gene 18S de Cytauxzoon felis e com os iniciadores do vetor pTrcHis –

TOPO (XpressF e PtrcHisR).

3.13. Análise das Seqüências (in silico)

Para avaliar a qualidade das seqüências foram utilizados três pacotes

computacionais Phred, Phrap, Cross-match (http://www.phrap.org) e Blast

(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/blast/); essas análises foram realizadas na Embrapa Gado

de Corte.

O programa Phred faz a leitura dos cromatogramas, traduz a seqüência das bases

em letras e atribui valores de qualidade para cada uma das bases. O valor de qualidade

está relacionado com a probabilidade de erro na leitura da base. Quanto menor a

probabilidade de erro, maior é o valor da qualidade. O valor da qualidade é calculado

pela fórmula:

26

VQ=-10 x log (PE)

VQ = Valor de qualidade

PE = probabilidade de erro

Log = logaritmo na base 10

O programa Phrap faz a detecção de sobreposições e alinhamento das

seqüências e o consenso destas. O Cross-match é um programa de aplicação geral para

comparação de dois conjuntos de seqüências, este programa é utilizado para verificar se

a seqüência obtida não é do plasmídeo utilizado na clonagem.

O Blast consiste em uma busca heurística desenvolvida para ser uma alternativa

mais rápida de comparar seqüências. Esse programa busca, em um banco contendo

milhares de seqüências, aquelas que são similares aos fragmentos de interesse (neste

caso, verifica se os fragmentos recém seqüenciados são realmente do RNAr 18S de

espécies de Cytauxzoon).

3.14. Alinhamento e Análise Filogenética

Os programas computacionais ClustalW (http://www.ebi.ac.uk/clustalw) e Blast

foram utilizados para gerar a seqüência consenso de C. felis de cada amostra estudada e

para compará-las com seqüências de espécies de Cytauxzoon depositadas no GenBank.

O alinhamento das seqüências estudadas com outras seqüências homólogas depositadas

no GenBank (Tabela 2) foi realizado usando o programa MEGA 3

(http://www.megasoftware.net/) e GeneBee

(http://www.genebee.msu.su/services/rna2reduced.html) que leva em conta a estrutura

secundária do RNA ribossomal. As espécies Neospora sp. e Toxoplasma gondii foram

utilizadas como grupo externo com base nos trabalhos de Ketz-Riley et al. (2003) e

Reichard et al. (2005).

A árvore filogenética foi inferida através do método de Máxima

Verossimilhança (MV) (CAVALLI-SFORZA e EDWARDS, 1967; FELSENSTEIN,

1981) com o uso do programa PAUP* (SWOFFORD, 1998). Neste tipo de abordagem,

a seleção cautelosa do modelo de substituição de nucleotídeos é fundamental para

aumentar a confiabilidade da estimativa. Assim, foi utilizado o programa ModelTest

3.06 para estabelecer o modelo de substituição que melhor se ajusta aos nossos dados

(HUELSENBECK e CRANDALL, 1997; POSADA e CRANDALL, 1998). O modelo

escolhido foi o TrN (TAMURA e NEI, 1993), com 44% de sítios invariáveis e o valor

do parâmetro gama em 0,41. Depois de escolhido o modelo, foi construída uma árvore

preliminar através do método de Neighbor Joining (NJ) (SAITOU e NEI, 1987) que foi

otimizada pelo algoritmo TBR (tree-bissection-reconnection) para obter a árvore de

Máxima Verossimilhança. A análise Bayesiana foi utilizada para obter a sustentação dos

nós internos através do programa Mr. Bayes 3.1 (HUELSENBECK e RONQUIST,

2001). Foram realizadas 1.000.000 de gerações através da cadeia de Monte Carlo,

amostradas de 100 em 100 para gerar a árvore consenso.

27

Tabela 2. Espécies de parasitos, número de acesso no GenBank, hospedeiros e país de

origem usados na construção da árvore filogenética e a análise de agrupamento das

seqüências de 18S RNAr de Cytauxzoon felis (continua).

Parasito Nº de acesso no GenBank Hospedeiro Origem

Babesia microti AB032434 Humano Japão

B. microti AY144698 Gambá EUA

B. microti AY144700 Cão Espanha

B.microti AB197940 Quati Japão

B. microti AY144701 Quati EUA

B. microti AY144702 Raposa EUA

B. gibsoni AF158702 Cão EUA

B. rhodaini AB049999 Roedor -

B. canis canis AY649326 Carrapato Rússia

B. canis vogelli AY371198 Cão EUA

Babesia sp. AF188001 Cão Espanha

B. crassa AY260176 Ovino Irã

B. ovata AY603401 Ovino China

B. motasi AY533147 Ovino Espanha

B. bovis AY150059 Bovino Portugal

B. bigemina AY603402 Bovino China

B. odocoilei AY144689 Veado EUA

Babesia sp. WA1 AY027816 Humano EUA

Babesia sp. WA1 AY027815 Humano EUA

B. felis AY542707 Gato África do Sul

B. felis AF244912 - -

B. leo AF244911 Leão África do Sul

B. caballi AY534883 Equino Espanha

B. equi AY150062 Equino Espanha

B. equi AY150063 Equino Espanha

B. equi AY150064 Cão Espanha

B. equi Z15105 Equino África do Sul

Theileria equi AY534882 Equino Espanha

Theileria sp. AB012194 Cervo Japão

Theileria sp. AB012195 Cervo Japão

T. cervi AF086804 Cervo EUA

Theileria sp. AF162432 Veado -

Theileria sp. AY421708 Veado -

Theileria sp. AF162433 Veado -

Theileria sp. U97054 Veado EUA

Theileria sp. AF529273 Cervo Japão

Theileria sp. AF529271 Cervo Japão

T. ovis AY260171 Ovino Sudão

T. ovis AY260172 Ovino Turkia

T. ovis AY533144 Ovino Espanha

T. separata AY260175 Ovino África do Sul

Theileria sp. AY262115 Ovino China

Theileria sp. AY262116 Ovino China

Theileria sp. AY533143 Ovino Espanha

Theileria sp. AY533145 Ovino Espanha

T. cf. ovis AY260174 Caprino Tanzânia

28

Tabela 2. Continuação.

Parasito Nº de acesso GenBank Hospedeiro Origem

T. cf. ovis AY260173 Caprino Tanzania

Theileria sp. AB012200 Caprino Japão

Theileria sp. AB012201 Caprino Japão

Theileria sp. AF078816 Bovino África do Sul

T. sergenti AF081137 Bovino China

Theileria sp. AF162431 Bovino EUA

Theileria sp. AF036336 Bovino China

T. mutans AF078815 Bovino Kenya

T. annulata AY524666 Bovino Turkia

Theileria sp. U97051 Bovino Korea

T. buffeli Z15106 Bovino -

T. buffeli AB000272 - -

T. parva AF013418 Búfalo Kenya

T. parva L02366 - -

T. velifera AF097993 Bovino Tanzânia

T. youngi AF245279 Roedor EUA

T. bicornis AF499604 Rinoceronte preto África do Sul

T. lestoquardi AJ006446 - -

T. taurotragi L19082 - -

Cytauxzoon felis AF399930 Gato EUA

C. felis L19080 Gato -

Cytauxzoon sp. AY309956 Gato Espanha

Cytauxzoon sp. AY496273 Lince Espanha

Cytauxzoon sp. AF531418 Gato Pallas Mongólia

C. manul AY485690 Gato Pallas Mongólia

C. manul AY485691 Gato Pallas Mongólia

Piroplasmida gen. sp. AF158701 Hamster EUA

Piroplasmida gen. sp. AF158706 Cervo EUA

Piroplasmida gen. sp. AF158708 Ovino EUA

Piroplasmida gen. sp. AF158709 Ovino EUA

Neospora sp. U17345 Bovino -

Toxoplasma gondii L37415 - -

29

4. RESULTADOS

4.1. Desenho dos Oligonucleotídeos Iniciadores

Foram utilizados dois pares de iniciadores para cada amostra estudada de DNA

de C. felis simile com o objetivo de obter uma seqüência maior com menor

probabilidade de erros. O primeiro par de iniciadores (Cfe304F 5’ -

ATTGCTTTATGCTGGCGATGTATCA - 3’ e Cfe1159R 5’ -

ACCTGGTAAGTTTTCCCGTGTTGAGTC - 3’) favoreceu a amplificação de um

fragmento de aproximadamente 922 pares de base (pb), enquanto que o segundo par

(Cfe843F 5’ - TTGGGGGCATTCGTATTTAACTGTCAGAG - 3’ e Cfe1680R 5’ -

TTCACAAAACTTTCCATGGCGTATCTAAC - 3’) favoreceu a amplificação de um

fragmento de aproximadamente 866pb (Figura 3). A região de sobreposição entre os

fragmentos amplificados pelos dois pares de oligonucleotídeos iniciadores foi de

aproximadamente 343 pb.

Figura 3. A-B. Esquema dos dois pares de iniciadores (Cfe304F e Cfe1159R e Cfe843F

e Cfe1680R) utilizados na amplificação do gene 18S RNAr de Cytauxzoon felis e seus

respectivos sítios de anelamento; C. Representação dos sítios de anelamento dos

iniciadores na seqüência consenso de Cytauxzoon felis (AF399930).

4.2. Amostras Analisadas e Extração de DNA

As amostras de sangue e órgãos dos animais estudados foram transportadas ao

Laboratório de Biologia Molecular da Embrapa Gado de Corte onde foram processadas

para análises moleculares. É importante ressaltar que o gato doméstico doador

inoculado com isolado de P. onca viveu por aproximadamente cinco anos com baixa e

persistente parasitemia, e que os animais utilizados na multiplicação desse isolado

viveram por mais de dois anos e meio não apresentando sintomatologia de

citauxzoonose.

Em relação à extração de DNA total, a utilização do protocolo do Kit Easy-

DNATM (Genomic Isolation-INVITROGEN®) promoveu um bom resultado nas

Cfe304F

Cfe1159R

Cfe843F

Cfe1680R

Cfe1680R

A

B

C

Cfe843F

Cfe304F

Cfe1159R

30

amostras de sangue de gato doméstico (isolado de P. onca) com parasitemia média de

0,8% (Figura 4), de L. tigrinus com parasitemia média de 0,4% (SOARES, 2002) e do

controle negativo (gato doméstico não infectado por C. felis simile). A concentração de

DNA total das amostras de sangue foi de 115,8 ηg/µL, 55,6 ηg/µL e 70,4 ηg/µL,

respectivamente. Vale ressaltar que após a utilização do DNA extraído dessas amostras

em algumas PCR, este se degradava e novas extrações eram realizadas.

Em relação à extração de DNA total das amostras de fígado e rim de P. leo, foi

observada uma baixa concentração, 3,6 ηg/µL e 2,5 ηg/µL, respectivamente.

Figura. 4. Trofozoítas de Cytauxzoon felis () em esfregaço sangüíneo de gato

doméstico infectado experimentalmente com isolado de Panthera onca. Giemsa (1000x).

4.3. Amplificação das Amostras de DNA de Cytauxzoon felis

A padronização da PCR utilizada para amplificação das amostras de DNA de

Cytauxzoon felis foi realizada durante, aproximadamente, nove meses de análises.

Foram testados diferentes volumes para os reagentes, sendo escolhidos os seguintes:

para cada par de iniciadores 0,5 µL (100 ηg/µL); para o MgCl2 50Mm 1,5 µL; para cada

amostra de DNA 2,0 µL, e para a Taq DNA polimerase 5 U/L (CENBIOT®) 0,5 µL,

em uma reação de PCR com volume final de 25,0 µL. Os demais componentes da

reação foram utilizados segundo protocolo padrão do Laboratório de Biologia

Molecular da Embrapa Gado de Corte, previamente padronizadas para outras espécies

de hemoparasitos de modo a diminuir a quantidade de testes a serem realizados.

O DNA de C. felis extraído das amostras de sangue de gato doméstico (isolado

da P. onca) e do L. tigrinus (Item 3.2) foi amplificado na presença dos iniciadores

Cfe304F e Cfe1159R apresentando um perfil de banda de 922 pb (Figuras 5 e 6). Essas

amostras também foram amplificadas na presença dos iniciadores Cfe843F e Cfe1680R

31

apresentando um perfil de banda de 866 pb (Figuras 5 e 6). O DNA do controle

negativo não amplificou com nenhum par de iniciadores (Figuras 5 e 6).

O DNA total extraído das amostras esquizogônicas de C. felis de fígado e rim de

P. leo (Item 3.2) não amplificou com nenhum par de iniciadores utilizados.

Figura 5. Eletroforese dos produtos de amplificação do gene 18S RNAr de Cytauxzoon

felis do isolado de Panthera onca, em gel de agarose a 1%. M) Marcador de pares de

base; 1) DNA total de extrato de sangue de um gato doméstico negativo com iniciadores

Cfe843F e Cfe1680R; 2) DNA total de extrato de sangue do gato-doméstico positivo

com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R; 3) DNA total de extrato de sangue de um gato

doméstico negativo com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R, e 4) DNA total de extrato de

sangue do gato doméstico positivo com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R.

Pb

12.000

5.000

2000

1650

1000

850

650

500

400

300

200

100

M 1 2 3 4

922pb 866pb

Cytauxzoon felis

32

M 1 2 3 4

Figura 6. Eletroforese dos produtos de amplificação do gene 18S RNAr de Cytauxzoon

felis da amostra de Leopardus tigrinus, em gel de agarose a 1%. M) Marcador de pares

de base; 1) DNA total de extrato de sangue de um gato doméstico negativo com

iniciadores Cfe843F e Cfe1680R 2) DNA total de extrato de sangue de Leopardus

tigrinus com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R; 3) DNA total de extrato de sangue de

um gato doméstico negativo com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R, e 4) DNA total de

extrato de sangue do Leopardus tigrinus com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R.

4.4. Clonagem e PCR de Colônia

Com a clonagem dos produtos de PCR da amostra de DNA de C. felis

proveniente do isolado de P. onca, foram obtidas cinco colônias do produto de PCR

com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R. Os resultados do PCR de colônia indicaram que

apenas uma colônia continha inserto amplificado com este par de iniciadores. Não foi

detectada colônia dos produtos de PCR com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R. Nova

clonagem foi realizada utilizando 0,5 μL de plasmídeo pTrcHis – TOPO

(INVITROGEN®) e 6,0 μL do produto de PCR, obtendo assim, sete colônias. A PCR

de colônia indicou que apenas duas colônias continham inserto amplificado com os

iniciadores Cfe843F e Cfe1680R.

Para os produtos de amplificação de L. tigrinus, não foram obtidos clones

quando foi utilizado na reação de ligação 0,5 μL de plasmídeo pTrcHis – TOPO

(INVITROGEN®) e 4,5 μL do produto de PCR. Então, nova clonagem foi realizada

utilizando 0,5 μL de plasmídeo pTrcHis – TOPO (INVITROGEN®) e 6,0 μL do

produto de PCR, obtendo-se assim, uma colônia com os produtos de PCR com os

iniciadores Cfe843F e Cfe1680R e três colônias com os produtos de PCR com os

iniciadores Cfe304F e Cfe1159R. Os resultados do PCR de colônia indicaram que a

única colônia obtida continha inserto amplificado com os iniciadores Cfe843F e

Cfe1680R, e das outras três colônias que cresceram, duas colônias continham inserto

amplificado com os iniciadores Cfe304F e Cfe1159R (Figura 7).

Pb

12.000

5.000

2000

1650

1000

850

650

500

400

300

200

100

922pb 866pb

Cytauxzoon felis

33

M 1 2 3 4

Figura 7. Eletroforese dos produtos de amplificação da PCR de colônia do gene 18S

RNAr de Cytauxzoon felis da amostra de Leopardus tigrinus, em gel de agarose a 1%.

M) Marcador de pares de base; 1) Produto de amplificação da colônia contendo inserto

amplificado com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R; 2) Colônia sem inserto amplificado

com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R; 3-4) Produto de amplificação das colônias

contendo inserto amplificado com iniciadores Cfe304F e Cfe1159R.

4.5. Sequenciamento

4.5.1. Análise de identidade entre as seqüências

Foram realizadas três repicagens de cada colônia, das diferentes amostras, em

placas de Petri 20 x 24 cm devidamente identificadas, contendo meio Luria – Bertani

(LB) ágar com 100 μg/mL de ampicilina. Posteriormente realizou-se a técnica de

minipreparação e o seqüenciamento. Do isolado de P. onca foram obtidas 12 seqüências

com iniciadores Cfe843F e Cfe1680R (seis foward e seis reverse) e seis seqüências com

iniciadores Cfe304F e Cfe1159R (três foward e três reverse).

Da amostra de L. tigrinus foram obtidas duas seqüências com iniciadores

Cfe843F e Cfe1680R (uma foward e uma reverse) e quatro seqüências com iniciadores

Cfe304F e Cfe1159R (duas foward e duas reverse).

As duas seqüências parciais do gene 18S RNAr de C. felis obtidas neste trabalho

foram depositadas em banco de dados (GenBank). A seqüência de C. felis do isolado de

P. onca recebeu o número de acesso DQ382276 (Anexo 1) e a seqüência de C. felis da

amostra de L. tigrinus recebeu o número de acesso DQ382277 (Anexo 2).

A seqüência consenso do isolado de P. onca apresentou 947pb (Figura 8) e

identidade de 99% com a espécie C. felis originária dos EUA (AF399930, e-value 0.0),

98% com Cytauxzoon sp. (AF531418, e-value 0.0) e C. manul originário da Mongólia

(AY485690 e AY485691, e-value 0.0) e com Cytauxzoon sp. diagnosticado em lince da

Espanha (AY496273, e-value 0.0), e 97% com Cytauxzoon sp. diagnosticado em gato

Pb

12.000

5.000

2000

1650

1000

850

650

500

400

300

200

100

922pb 922pb

866pb

Cytauxzoon felis

34

doméstico da Espanha (AY309956, e-value 0.0), segundo o programa computacional

Blastn (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/blast/Blast.cgi).

A seqüência consenso da amostra de L. tigrinus apresentou 1204 pb (Figura 9) e

identidade de 99% com a espécie C. felis originária dos EUA (AF399930, e-value 0.0) e

de 96% com Cytauxzoon sp. (AF531418, e-value 0.0) e C. manul originário da

Mongólia (AY485690, AY485691, e-value 0.0), e com Cytauxzoon sp. isolado da

Espanha (AY496273; AY309956, e-value 0.0), segundo o programa computacional

Blastn (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/blast/Blast.cgi).

1 tatttatgtt gtggcttttt ctggtgatta tatttcggta tgattatcca gattgttact

61 ttgagaaaat tagagtgctt aaagcaggca tttgccttga atactttagc atggaataac

121 taagtaggac tttggttcta ttttgttggt ttaagagcca aagtaatgat taataggaac

181 agttgggggc attcgtattt aactgtcaga ggtgaaattc ttagatttgt taaagacgaa

241 ctactgagaa agcatttgcc gaggatgttt tcattaatca agaacgaaag ttaggggatc

301 gaagacgatc agataccgtc gtagtcctaa ccataaacta tgccgactag agattggagg

361 tcgtcagttt gaacgactcc ttcagcacct tgagagaaat caaagtcttt gggttctggg

421 gggagtatgg tcgcaaggct gaaacttaaa ggaattgacg gtagggcacc accaggcgtg

481 gagcctgcgg cttaatttga ctcaacacgg gaaaacttac caggtccaga cagaggaagg

541 attgacagat tgatagctct ttcttgattc tttgggtggt ggtgcatggc cgttcttagt

601 tggtggagtg atttgtctgg ttaattccgt taacgaacga gaccttaacc tgctaaatag

661 gatctgagaa taaactttat gttgtctcag catcgcttct tagagggact ttgcggntat

721 aaatcgcaag gaagtttaag gcaataacag gtctgtgatg cccttanatg tcctgggctg

781 cacgcgcgct acactgatgc attcatcgag tatatccttg gccgagaggc ttgggtaatc

841 tttagtatgc atcgtgatgg ggattgatta ttgcaattat taatcatgaa cgaggaatgc

901 ctagtagacg cgagtcatca gctcgtgtcg attacgtccc tgccctt

Figura 8. Seqüência consenso do gene 18S de Cytauxzoon felis obtida do isolado de

Panthera onca: em azul está marcada a seqüência do iniciador Cfe843F e em amarelo

está a seqüência do iniciador Cfe1159R.

Figura 9. Seqüência consenso do gene 18S de Cytauxzoon felis obtida da amostra de

Leopardus tigrinus: em azul está marcada a seqüência do iniciador Cfe843F e em

amarelo a seqüência do iniciador Cfe1159R.

1 aacggggaat tagggttcga ttccggagag ggagcctgag aaatggctac cacatctaag

61 gaaggcagca ggcgcgtaaa ttacccaatc ctaacacagg gaggtagtga caagaaataa

121 caatacgagg cttaaagtct tgtaattgga atgacggaaa tttaagctct ttccggagta

181 tcaattggag ggcaagtctg gtgccagcag ccgcggtaat tccagctcca atagcgtata

241 ttaaacttgt tgcagttaaa aagctcgtag ttgaatttct gctgcatcat ttatattcct

301 taatcggttt attcatgttg tggctttttc tggtgattat acttcggtat tattatccag

361 attgttactt tgagaaaatt agagtgctta aagcaggcat ttgccttgaa tactttagca

421 tggaataact aagtaggact ttggttctat tttgttggtt taagagccaa agtaatgatt

481 aataggaaca gttgggggca ttcgtattta actgtcagag gtgaaattct tagatttgtt

541 aaagacgaac tactgcgaaa gcatttgcca aggatgtttt cattaatcaa gaacgaaagt

601 taggggatcg aagacgatca gataccgtcg tagtcctaac cataaactat gccgactaga

661 gattggaggt cgtcagtttg aacgactcct tcagcacctt gagagaaatc aaagtctttg

721 ggttctgggg ggagtatggt cgcaaggctg aaacttaaag gaattgacgg aagggcacca

781 ccaggtgtgg agcctgcggc ttaatttgac tcaacacggg aaaacttacc aggcccagac

841 agaggaagga ttgacagatt gatagctctt tcttgattct ttgggtggtg gtgcatggcc

901 gttcttagtt ggtggagtga tttgtctggt taattccgtt aacgaacgag accttaacct

961 gctaaatagg atctgagaat aaactttatg ttgtctcagc atcgcttctt agagggactt

1021 tgcggttata aatcgcaagg aagtttaagg caataacagg tctgtgatgc ccttagatgt

1081 cctgggctgc acgcgcgcta cactgatgca ttcatcgagt atatccttgg ccgagaggct

1141 tgggtaatct ttagtatgca tcgtgatggg gattgattat tgcaattatt aatcatgaac

1201 gagg

35

As seqüências estudadas foram alinhadas e agrupadas comparativamente usando

as estruturas secundárias obtidas através de simulação pelo programa Genebee

(http://www.genebee.msu.su/services/rna2reduced.html). Estas estruturas foram

comparadas com as estruturas secundárias de C. felis dos Estados Unidos (AF399930) e

C. manul da Mongólia (AY485690) (Figura 10), verificando diferenças entre elas.

Figura 10. Estruturas secundárias do gene 18S RNAr de espécies de Cytauxzoon. A) C.

felis isolado de Panthera onca (DQ382276), Brasil. B) C. felis de amostra de Leopardus

tigrinus (DQ382277), Brasil. C) C. felis de gato doméstico (AF399930), Estados

Unidos. D) C. manul de gato Pallas (AY485690), Mongólia.

B

C D

A

36

4.6. Análise Filogenética

As seqüências consenso obtidas pela amplificação, clonagem e sequenciamento

de DNA de C. felis do isolado de P. onca e da amostra do L. tigrinus foram submetidas

à análise filogenética para testar a identidade das amostras e a distância entre estas

seqüências com as outras seqüências de Cytauxzoon, Babesia, Theileria e Piroplasmidas

não identificados depositadas no GenBank. A Tabela 2 (Item 3.14) mostra todas as

espécies utilizadas neste estudo, seus números de acesso no GenBank, o hospedeiro que

parasitam e o país de origem.

A árvore de MV foi construída com sete seqüências do gene 18S de Cytauxzoon,

27 de Babesia, 38 de Theileria, quatro de Piroplasmidas não identificados e duas do

grupo externo (Toxoplasma gondii e Neospora sp.). Os valores representados nos nós

internos da árvore correspondem à freqüência de árvores que recuperaram cada um

deles nas 1.000.000 árvores geradas durante a análise bayesiana. Essa árvore (Figura

11) mostra a distribuição das espécies do gênero Cytauxzoon que infectam felídeos,

indicando que as amostras estudadas provavelmente são representantes da espécie C.

felis.

Após a separação basal de Toxoplasma gondii e Neospora sp. (espécies

utilizadas como grupo externo), as demais espécies de Piroplasmida dividiram-se em

dois grandes grupos. O primeiro (de cima para baixo) reúne espécies de Babesia que

infectam roedores, marsupiais, humanos e felinos. O segundo grande grupo se subdivide

em três grupamentos de espécies de Babesia, um grupamento de Piroplasmidas não

identificados, dois grupamentos de espécies de Theileria e um grupamento de espécies

de Cytauxzoon. Esse último grupamento foi dividido em dois grupos discretos, o

primeiro contendo apenas seqüências identificadas como C. felis originárias dos EUA,

onde estão também inseridas as duas seqüências estudadas, e o segundo grupo onde

estão inseridas seqüências de Cytauxzoon sp. e Cytauxzoon manul oriundas da

Mongólia, e Cytauxzoon sp. diagnosticado na Espanha.

Pôde-se observar que as espécies de Cytauxzoon que infectam felídeos formam

um grupo monofilético, diferindo das espécies do gênero Babesia que formaram quatro

grupos distintos e das espécies de Theileria que formaram dois grupos distintos. Vale

ressaltar que o grupo das espécies de Babesia que infectam felídeos, principal

diagnóstico diferencial para a espécie C. felis, ficou distante do grupo das espécies de

Cytauxzoon.

37

Figura 11. Árvore filogenética com as duas seqüências de Cytauxzoon felis obtidas neste trabalho

indicadas por setas (). Em rosa estão identificadas as espécies do gênero Cytauxzoon, em vermelho as espécies do gênero Babesia, em azul claro as espécies do gênero Theileria, em azul escuro os

Piroplasmidas não classificados e em preto o grupo externo representado pelas espécies Neospora sp. e Toxoplasma gondii. (*) Espécies que recebem sinonímia de Gonderia e (**) espécie que recebe sinonímia

de Cytauxzoon.

*

*

*

*

**

*

38

5. DISCUSSÃO

O presente estudo relata a caracterização molecular de isolados de C. felis

diagnosticados em Panthera onca e Leopardus tigrinus no Brasil. A amplificação e o

sequenciamento do gene 18S RNAr de C. felis obtido a partir de sangue de gato

doméstico (isolado de P. onca) e de L. tigrinus revelaram a sensibilidade do diagnóstico

molecular, confirmando o diagnóstico microscópico de trofozoítas intraeritrocíticos de

C. felis simile realizado por Soares et al. (1999a,b). Vale ressaltar que a parasitemia de

C. felis do isolado de P. onca obtida neste estudo foi em média de 0,8% e da amostra de

L. tigrinus foi de 0,4% segundo Soares (2002). Meinkoth et al. (2000) também

relataram a sensibilidade do diagnóstico molecular, confirmando com PCR casos

suspeitos de cytauxzoonose felina em animais que sobreviveram à infecção.

A não amplificação do gene 18S RNAr de C. felis das amostras de rim e fígado

de Panthera leo pode ter ocorrido devido a baixa concentração de DNA em decorrência

de degradação promovida pelo longo tempo de conservação em formalina 10%. Estudos

revelaram que o processo de fixação por formalina promove a degradação de ácidos

nucléicos e proteínas, modificando também as ligações covalentes do RNA, dificultando

a extração. A presença de endonucleases nas amostras teciduais também pode atuar

como fator inibitório de amplificação de DNA (SHI et al, 2002; KÖRBLER at al.,

2003).

O desenho dos iniciadores consistiu em uma etapa importante neste estudo, uma

vez que os iniciadores utilizados nos trabalhos de Allsopp et al. (1994), Meinkoth et al.

(2000) e Ketz-Riley et al. (2003) amplificaram muitas espécies da Ordem Piroplasmida.

Os dois pares de iniciadores utilizados, Cfe304F e Cfe1159R e Cfe843F e Cfe1680R,

além de amplificarem um número menor de espécies dessa Ordem, permitiram também

a obtenção de uma seqüência com maior número de pares de base e menor número de

erros. As duas seqüências parciais do gene 18S RNAr de C. felis obtidas neste trabalho

foram depositadas em banco de dados GenBank. A seqüência consenso do gene 18S

RNAr de C. felis obtido a partir de sangue de gato doméstico (isolado de P. onca)

resultou em 947 pb (DQ382276), e a seqüência consenso obtida a partir de sangue de L.

tigrinus apresentou 1204 pb (DQ382277). Os dois pares de iniciadores não

amplificaram o DNA do controle negativo (DNA extraído do sangue de dato doméstico

não infectado). Em 2005, Bondy Jr. et al. identificaram e sequenciaram o gene ITS-1 de

C. felis, desenhando um iniciador reverse específico. Os dados obtidos no presente

trabalho com o gene 18S de C. felis não foram comparados com os dados destes autores,

pois, até o momento das análises realizadas, todas as seqüências de Cytauxzoon

depositadas no GenBank eram do gene 18S.

Em relação às análises das estruturas secundárias das duas seqüências de C. felis

estudadas (DQ382276 e DQ382277), da seqüência de C. felis dos EUA (AF399930) e

da seqüência de C. manul (AY485690) foi possível observar as diferenças estruturais

existentes. Apesar da estrutura secundária ser resultante da simulação a partir de uma

pequena região codificadora para 18S RNAr, suas formas estão associadas à diferença

entre algumas bases das seqüências dessa região nestas espécies.

As análises filogenéticas das duas seqüências estudadas foram realizadas com

outras 78 depositadas no GenBank. Duas espécies, Toxoplasma gondii e Neospora sp.,

foram utilizadas como grupo externo com base nos estudos filogenéticos realizados por

Ketz-Rilley et al. (2003) e Reichard et al. (2005). As análises realizadas revelaram um

agrupamento irmão entre os grupos de espécie de C. felis que parasita felinos nos

39

Estados Unidos, com as duas seqüências obtidas neste trabalho e o grupo de Cytauxzoon

manul oriundo da Mongólia e Cytauxzoon sp. da Espanha. Pôde-se observar o

monofiletismo entre as espécies de Cytauxzoon que infectam felídeos, concordando com

os resultados obtidos por Ketz-Riley et al. (2003) e Reichard te al. (2005). Já Allsopp et

al. (1994), com base em similaridades fenotípicas e filogenéticas, propuseram a

reclassificação de C. felis, Babesia equi e B. rodhaini em uma nova família denominada

Nicolliidae.

Quanto ao grupo das espécies de Theileria, as análises realizadas revelaram que

esse foi dividido em dois subgrupos distintos: um pequeno com as espécies T. youngi e

T. bicornis, e outro com todas as outras espécies de Theileria, não sendo um grupo

monofilético. Esses resultados discordam daqueles apresentados por Reichard et al.

(2005) que defendem o monofiletismo desse grupo, propondo uma nova classificação

para a espécie Theileria youngi; a seqüência de Theileria bicornis não foi analisada por

esses autores. As duas seqüências de C. felis obtidas neste estudo apresentaram 96% de

identidade com T. youngi e T. bicornis. Existe a possibilidade destas espécies

pertencerem ao gênero Cytauxzoon, mas outros marcadores devem ser usados e mais

informações sobre a biologia dessas espécies devem ser estudadas para confirmar esta

reclassificação. O presente trabalho também confirma a sinonímia de Theileria annulata

(= Gonderia annulata), T. mutans (= G. mutans) e T. ovis (= G. ovis, G. hirci) citada por

Neitz (1957) e Levine (1988); essas espécies ficaram agrupadas com outras espécies de

Theileria.

Outra seqüência depositada no GenBank e utilizada nas análises filogenéticas do

presente estudo foi Theileria taurotragi que ficou agrupada com outras espécies do

gênero Theileria. Essa espécie foi descrita inicialmente como Cytauxzoon taurotragi

Martin e Brocklesby, 1960 (BROCKLESBY, 1962), mas outros autores como YOUNG

et al. (1980) classificaram-na como T. taurotragi. Os resultados obtidos concordam com

YOUNG et al. (1980) classificando esta espécie como membro do gênero Theileria.

Em relação ao agrupamento das espécies de Babesia, pôde-se observar a

formação de quatro grupos distintos: um agrupando as espécies que infectam felinos,

roedores, humanos e marsupiais; um segundo com as espécies que infectam ruminantes,

cães e eqüinos, um terceiro grupo representado pela espécie B. equi (=T. equi) e um

quarto representado por espécies diagnosticadas em cães, humanos, ovinos, cervos e

hamsters. Torna-se evidente o não monofiletismo desse grupo, corroborando com os

resultados apresentados por Allsopp et al. (1994) e Reichard te al. (2005). Foi observado

também que as seqüências de B. equi formaram um grupo mais próximo do

agrupamento das espécies de Theileria, do que das espécies de Babesia, corroborando

com os resultados obtidos por Reichard et al. (2005). A classificação dessa espécie,

ainda está incerta, pois alguns autores classificam-na como Nicollia equi (KRYLOV,

1981, citado por ALLSOPP et al.,1994), outros como Babesia equi (GUIMARÃES et

al., 1998) e ainda como Theileria equi (MELHORN e SCHEIN, 1998). Neste estudo foi

adotada a classificação da espécie como B. equi, sugerindo que mais estudos devam ser

realizados com o objetivo de definir a correta classificação taxonômica desse agente.

Neste estudo foram identificados dois novos hospedeiros naturais de C. felis,

onça-pintada (P. onca) e gato-do-mato (L. tigrinus) no Brasil. Anteriormente infecção

natural por C. felis tinha sido relatada em guepardo (ZINKL et al., 1981), em puma ou

pantera da Flórida (BUTT et al., 1991; ROTSTEIN et al., 1999), em puma ou pantera do

Texas (ROTSTEIN et al., 1999), em tigre branco (GARNER et al., 1996), em tigre de

bengala (JAKOB e WESEMEIER, 1996) e em leões (PEIXOTO et al., 1999).

As informações referentes ao ciclo biológico, aspectos morfológicos,

patogenicidade e dados epidemiológicos de um determinado agente parasitário,

40

associadas às análises moleculares e filogenéticas são de fundamental importância, uma

vez que as combinações dessas informações garantem um diagnóstico mais seguro e de

maior sensibilidade, além de contribuir para a taxonomia do agente estudado.

41

CONCLUSÕES

1. Com base nos estudos moleculares do gene 18S RNAr e análises filogenéticas

das amostras estudadas, a espécie de teilerídeo diagnosticada em Panthera onca e

Leopardus tigrinus é Cytauxzoon felis;

2. A PCR do gene 18S RNAr é indicada como método de diagnóstico para C.

felis.

3. O grupo das espécies de Cytauxzoon que parasitam felídeos é monofilético,

sendo que o grupo de C. felis onde estão inseridas as seqüências do presente trabalho é

irmão do grupo de C. manul da Mongólia e Cytauxzoon sp. isolado da Espanha.

4. Duas novas espécies de hospedeiros naturais de C. felis, Panthera onca e

Leopardus tigrinus, são relatadas ampliando a faixa de hospedeiros conhecidos.

42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTS, B.; BRAY, D.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WATSONN, J. D.

Biologia molecular da célula. 3º Edição, Artes Médicas Porto Alegre, 2983p. 1997.

ALLSOPP, M. T. E. P.; CAVALIER-SMITH, T.; DE WAAL, D. T.; ALLSOPP, B. A.

Phylogeny and evolution of the piroplasms. Parasitology, v. 108, p. 147-152. 1994.

BARNETT, S. F. Theileria. In: KREIER, J. P. Parasitic Protozoa. Vol. 4. Academic

Press, New York. p. 77-114. 1977.

BLOUIN, E. F.; KOCAN, A. A.; GLENN, B. L.; KOCAN, K. M. Transmission of

Cytauxzoon felis Kier, 1979 from bobcats, Felis rufus (Schreber), to domestic cats by

Dermacentor variabilis (Say). Journal Wildlife Disease, v. 20, n. 3, p. 241-242. 1984.

BLOUIN, E. F.; KOCAN, A. A.; KOCAN, K. M. Evidence of a limited schizogonous

cycle for Cytauxzoon felis in bobcats following exposure to infected ticks. Journal

Wildlife Disease, v. 23, n.3, p. 499-501. 1987.

BOBADE, P. A.; NASH, A. S. A comparative study of the efficiency of acridine orange

and some Romanowsky staining procedures in the demostration of Haemobartonella

felis in feline blood. Veterinary Parasitology, v. 26, p. 169-172. 1987.

BONDY Jr., P. J.; COHN, L. A.; TYLER, J. W.; MARSH, A. E. Polymerase chain

reaction detection of Cytauxzoon felis from field-collected ticks and sequence analysis

of the Small subunit and Internal transcribed spacer 1 region of the ribosomal RNA

gene. Journal of Parasitology, v. 91, n. 2, p. 458-461. 2005.

BOURDEAU, P. Les babésioses félines. Le Point Vétérinaire, v. 27, n.173, p. 947-953.

1996.

BROCKLESBY, D. W. Cytauxzoon taurotragi Martin e Brocklesby, 1960 a piroplasm

of the eland (Taurotragus oryx pattersonianus Lydekker, 1906). Research in Veterinary

Science, v. 3, p. 334-348. 1962.

BUTT, M. T.; BOWMAN, D.; BARR, M. C.; ROELKE, M. E. Iatrogenic transmission

of Cytauxzoon felis from a Florida panther (Felis concolor coryi) to a domestic cat.

Journal of Wildlife Disease, v. 27, n. 2, p. 342-347. 1991.

CASADEVALL, A.; PIROFSKI, L-A. Host-pathogen interactions: Basic concepts of

microbial commensalism, colonization, infection, and disease. Infection and Immunity,

v. 68, n. 12, p. 6511-6518. 2000.

CAVALLI-SFORZA, L. L.; EDWARDS, A. W. F. Phylogenetic analysis: models and

estimation procedures. American Journal Human Genetics, v. 19, p. 122-257. 1967.

43

CIDE. Território, Rio de Janeiro. Fundação de Informação e Dados do Rio de Janeiro.

80p. 1997.

CLARK, R. Eperythrozoon felis (Sp. Nov.) in a cat. Journal of South African

Veterinary Medical Association, XIII, p. 15-16. 1942.

COWELL, R. L.; FOX, J. C.; PANCIERA, R. J.; TYLER, R. D. Detection of

anticytauxzoon antibodies in cats infected with a Cytauxzoon organism from bobcats.

Veterinary Parasitology, v. 28, p. 43-52. 1988.

COX, F. E. G. The evolutionary expansion of the sporozoa. International Journal for

Parasitology, v. 24, p.1301-1316. 1994.

DAVIS, L. J. On a piroplasm of the Sudanese wild cat (Felis ocreata). Transaction of

the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 22, p. 523-534. 1929.

DENNIG, H. K. Eine unbekannte babesienart beim jaguarundi (Herpailurus

yaguarondi). Die Kleintierpraxis, v. 12, p. 146-152. 1967.

DENNIG, H. K.; BROCKLESBY, D. W. Babesia pantherae sp. nov., a piroplasm of

the leopard (Panthera pardus). Parasitology, v. 64, p. 525-532. 1972.

ESKOW, E.; KRAUSE, P. J.; SPIELMAN, A.; FREEMAN, K.; ASLANZADEH, J.

Southern extension of the range of human babesiosis in the Eastern United States.

Jounal of Clinical Microbiology, v. 37, n. 6, p. 2051-2052. 1999.

FELSENSTEIN, J. Evolutionary trees from DNA sequences: a maximum likelihood

approach. Journal of Molecular Evolution, v. 17, p. 368-376. 1981.

FERRIS, D. H. A progress report on the status of a new disease of American cats:

Cytauxzoonosis. Comparative Immunology Microbiology and Infectious Diseases, v. 1,

p. 269-276. 1979.

FOREYT, W. J. Diagnostic Parasitology. Veterinary Clinical North American Small

Animal Practice, v. 19, n. 5, p. 979-1001. 1989.

GARDINER, C. H. Comunicação pessoal. (Armed Forces Institute of Pathology,

Washington, DC, USA). Seminário apresentado no Departamento de Parasitologia

Animal da UFRRJ, Brasil, em 19 de dezembro de 1998.

GARNER, M. M.; LUNG, N. P.; CITINO, S.; GREINER, E. C.; HARVEY, J. W.;

HOMER, B. L. Fatal cytauxzoonosis in a captive-reared write tiger (Panthera tigris).

Veterinary Pathology, v. 33, p. 82-86. 1996.

GLENN, B. L.; ROLLEY, R. E.; KOCAN, A. A. Cytauxzoon-like piroplasms in

erythrocytes of wild-trapped bocats in Oklhoma. Journal of the American Veterinary

Medical Association, v. 181, n. 11, p. 1251-1253. 1982.

GLENN, B. L.; KOCAN, A. A.; BLOUIN, E. F. Cytauxzoonosis in bobcats. Journal of

the American Veterinary Medical Association, v. 183, n. 11, p. 1155-1158. 1983.

44

GLENN, B. L; STAIR, E. L. Cytauxzoonosis in domestic cats: report of two cases in

Oklahoma, with a review and discussion of the disease. Journal of the American

Veterinary Medical Association, v. 184, n. 7, p. 822-825. 1984.

GORAB, E. Evolução dos genes nucleares de RNA ribossômico. In: MATIOLI, S.R.

Biologia Molecular e Evolução. Holos Editora. Ribeirão Preto, p. 202. 2001.

GREENE, C. E.; LATIMEER, K.; HOPPER, E.; SHOEFFLER, G.; LOWER, K.;

CULLENS, F. Administration of diminazene aceturate or imidocarb dipropionate for

treatment of cytauxzoonosis in cats. Journal of the American Veterinary Medical

Association, v. 215, n. 4, p. 497-500. 1999.

GROOTENHUIS, J. G.; YOUNG, A. S.; DOLAN, T. T.; STAGG, D. A. The

characteristics of Theileria species (eland) infections in eland and cattle. Research in

Veterinary Science, v. 27, p. 59-68. 1979.

GUIMARÃES, A.M.; LIMA, J.D.; RIBEIRO, M.F.B.; CAMARGOS, E.R.S.; BOZZI,

I.A. Ultrastructure of sporogony in Babesia equi in salivary glands of adult female

Boophilus microplus ticks. Parasitology Research, v. 84, p. 69-74. 1998.

HAUCK, W. N.; SNIDER, T. G.; LAWRENCE, J. E. Cytauxzoonose in a native

Louisiana cat. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 180, n. 12, p.

1472-1474. 1982.

HAZEN-KARR, C. G.; KOCAN, A. A.; KOCAN, K. M.; HAIR, A. The ultrastructure

of sporogony in Theileria cervi (Bettencourt et al., 1907) in salivary glands of female

Amblyomma americanum (L.) ticks. Journal of Parasitology, v. 73, n. 6, p. 1182-1188.

1987.

HOOVER, J. P.; WALKER, D. B.; HEDGES, J. D. Cytauxzoonosis in cats: Eight cases

(1985-1992). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 205, n. 3, p.

455-460. 1994.

HOOGSTRAAL, H. Argasid and Nuttalliellid ticks as parasites and vectors. Advances

in Parasitology, v. 24, p. 135-238. 1985.

HUELSENBECK, J. P.; CRANDALL, K. A. Phylogeny estimations and hypothesis

testing using maximum likelihood, Annual Review Ecology Systematic, v. 28, p. 437-

466. 1997.

HUELSENBECK, J. P.; RONQUIST, F. Mr. Bayes: Bayesian inference of phylogenetic

tree, Bioinformatics Applications Note, v. 17, p. 754-755. 2001.

INVITROGEN. Invitrogen life technologies - Instruction Manual. Printe in USA, p. 6-

7. 2003.

JAKOB, W.; WESEMEIER, H. H. A fatal infection in a bengal tiger resembling

cytauxzoonosis in domestic cats. Journal of Comparative Pathology, v. 114, p. 439-444.

1996.

45

JARDINE, J. E. The pathology of cytauxzoonosis in a tsessebe (Damaliscus lunatus).

Journal of South African Veterinary Association, v. 63, n. 1, p. 49-51. 1992.

JULIANO, R. S.; SOUZA, A. I.; TÉRCIO NETTO, N.; SCHEIDE, R.; SCOFIELD, A.

Cytauxzoon felis like in the Mountain Lion (Puma concolor): A Case Report. Journal of

Animal and Veterinary Advances, v. 3, n. 12, p. 820-823. 2004.

KAKOMA, I.; MEHLHORN, H. Babesia of domestic animals. In: KREIER, J. P.

Parasitic Protozoa. 2ª edition, Vol. 7. Academic Press, New York. 1994. p. 141-216.

KETZ-RILEY, C. J.; REICHARD, M. V.; BUSSCHE, R. A. V. D.; HOOVER, J. P.;

MEINKOTH, J.; KOCAN, A. A. An intraerythrocytic Small piroplasm in wild-caugth

Pallas’s cats (Otocolobus manul) from Mongolia. Journal of Wildlife Disease, v. 39, n.

2, p. 424-430. 2003.

KIER, A. B.; WIGHTMAN, S. R.; WAGNER, J. E. Interspecies transmission of

Cytauxzoon felis. American Journal of Veterinary Research, v. 43, n. 1, p. 102-105.

1982a.

KIER, A. B.; WAGNER, J. E.; MOREHOUSE, L. G. Experimental transmission of

Cytauxzoon felis from bobcats (Lynx rufus) to domestic cats (Felis domesticus).

American Journal of Veterinary Research, v. 43, n. 1, p. 97-101. 1982b.

KIER, A. B.; WAGNER, J. E.; KINDEN, D. A. The pathology of experimental

cytauxzoonosis. Journal of Comparative Pathology, v. 97, p. 415-432. 1987.

KJEMTRUP, A. M.; THOMFORD, J.; ROBINSON, T.; CONRAD, P. A. Phylogenetic

relationships of human and wildlife piroplasm isolates in the Western United States

inferred from the 18S nuclear small subunit RNA gene. Parasitology, v. 120, p. 487-

493. 2000a.

KJEMTRUP, A. M.; KOCAN, A. A.; WHITWORTH, L.; MEINKOTH, J.;

BIRKENHEUER, A. J.; CUMMINGS, J.; BOUDREAUX, M. K.; STOCKHAM, S. L.;

IRIZARRY-ROVIRA, A.; CONRAD, P. A. There are at least three genetically distinct

small piroplasms from dogs. International Journal for Parasitology, v. 30, p. 1501-

1505. 2000b.

KOCAN, A. A.; BLOUIN, E. F. Hematologic and serum chemical values for free-

ranging bobcats, Felis rufus (Schreber), with reference to animals with natural

infections of Cytauxzoon felis Kier, 1979. Journal of Wildlife Disease, v. 21, n. 2, p.

190-192. 1985.

KOCAN, A. A.; KOCAN, K. M.; BLOUIN, E. F.; MUKOLWE, S. W. A redescription

of schizogony of Cytauxzoon felis in the domestic cat. Annals New York Academy of

Sciences, v. 653, p. 161-167. 1992.

KÖRBLER, T.; GRSKOVIÉ, M.; DOMINIS, M.; ANTICA, M. A simple method for

RNA isolation from formalin-fixed and paraffin-embedded lymphatic tissues.

Experimental and Molecular Pathology, v. 74, p. 336-340. 2003.

46

KUTTLER, K. L. World-wide impact of babesiosis. In: RISTIC, M. Babesiosis of

Domestic Animals and Man. CRC Press, Boca Raton. 1988. p. 1-22.

LEVINE, N. D. Taxonomy of the piroplasms. Transactions of the American

Microscopical Society, v. 90, p. 2-33. 1971.

LEVINE, N. D. Veterinary Protozoology. Iowa State University Press, Ames. 1985. 414

p.

LEVINE, N. D. The Protozoan Phylum Apicomplexa. Vol. 2. CRC Press, Boca Raton.

1988. 154 p.

LOPEZ-REBOLLAR, L. M.; PENZHORN, B. L.; DE WAAL, D. T.; LEWIS, B. D. A

possible new piroplasm in lions from the Republic of South Africa. Journal of Wildlife

Disease, v. 35, n. 1, p. 82-85. 1999.

LUBINSKY, G. Note of the use of McLrvaine’s buffer solutions in staining blood

Protozoa. Canadian Journal of Zoology, v. 38, p. 437-438. 1960.

MACWILLIAMS, P. S. Erythrocytic rickettsia and protozoa of the dog and cat

Veterinary Clinical North American Small Animal Practice, v. 17, n. 6, p. 1443-1461.

1987.

MARTIN, H.; BROCKLESBY, D. W. A new parasite of eland. Veterinary Record, v.

72, p. 331-332. 1960.

MATHEW, J. S.; VAN DEN BUSSCHE, R. A., EWING, S. A. Phylogenetic

relationships of Hepatozoon (Apicomplexa: Adeleorina) based on molecular,

morphologic, and life-cicle characters. The Journal of Parasitology, v. 86, p. 366-372.

2000.

McCULLY, R. M.; KEEP, M. E.; BASSON, P. A. Cytauxzoonosis in a giraffe (Giraffa

camelopardalis (Linneaus, 1758) in Zululand. Onderstepoort Journal of Veterinary

Research, v. 37, p. 7-10. 1970.

MEINKOTH, A.; KOCAN, A. A.; WHITWORTH, L.; MURPHY, G.; FOX, J. C.;

WOODS, J. P. Cats surviving natural infection with Cytauxzoon felis: 18 cases (1997-

1998). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 14, p. 521-525. 2000.

MEHLHORN, H.; SCHEIN, E. The piroplasms: life cycle and sexual stages. Advances

in Parasitology, v. 23, p. 37-103. 1984.

MEHLHORN, H.; SCHEIN, E. Redescription the Babesia equi Laveran,1901 as

Theileria equi Mehlhorn e Schein, 1998. Parasitology Research, v. 84, p. 467-475.

1998.

MEHLHORN, H.; SCHEIN, E.; AHMED, J. S. Theileria. In: KREIER, J. P. Parasitic

Protozoa. 2ª edition, Vol. 7. Academic Press, New York. 1994. p. 217-304.

47

MEIER, H. T.; MOORE, L. E. Feline cytauxzoonosis: a case report and literature

review. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 36, p. 493-496. 2000.

MOTZEL, S. L.; WAGNER, J. E. Treatment of experimentally induced cytauxzoonosis

in cats with parvaquone and buparvaquone. Veterinary Parasitology, v. 35, p. 131-138.

1990.

MUDALIAR, S. V.; ACHARY, G. R.; ALWAR, V. S. On a species of Babesia in a

Indian wild cat (Felis catus). Indian Veterinary Jounal, v. 26, p. 391-395. 1950.

NAGORE, D.; GARCIA-SANMARTIN, J.; GARCIA-PEREZ, A.L.; JUSTE, R.A.;

HURTADO, A. Detection and identification of equine Theileria and Babesia species by

reverse line blotting: epidemiological survey and phylogenetic analysis. Veterinary

Parasitology, v. 123, n. 1-2, p. 41-54. 2004.

NEIMARK, H.; JOHANSSON, K. E.; RIKIHISA, Y.; TULLY, J. G. Proposal to

transfer some members of the genera Haemobartonella and Eperythrozoon to genus

Mycoplasma with descriptions of Candidatus Mycoplasma haemofelis, Candidatus

Mycoplasma haemomuris, Candidatus Mycoplasma haemosuis and Candidatus

Mycoplasma wenyonii. International Journal of Systematic and Evolutionary

Microbiology, v. 51, p. 891-899. 2001.

NEITZ, W. O.; THOMAS, A. D. Cytauxzoon sylvicaprae gen. nov., spec. nov., a

protozoan responsible for a hitherto undescribed disease in the duiker Sylvicapra

grimmia (Linné). Onderstepoort Journal of Veterinary Science Animal Industry, v. 23,

p. 63-76. 1948.

NEITZ, W. O. Classification, transmission and biology of piroplasms of domestic

animals. Annals New York Academy of Sciences, v. 64, p. 56-111. 1956.

NEITZ, W. O.; de LANGE, M. Onderstepoort, Experimental observations. (citado em

NEITZ, 1957). 1956.

NEITZ, W. O. Theileriosis, gonderiosis and cytauxzoonosis: a review. Onderstepoort

Journal of Veterinary Research, v. 27, p. 275-430. 1957.

PEIXOTO, P. V.; SOARES, C. O.; SANTIAGO, C. D.; BARROS, S. S.; BARROS, C.

L. S.; CUNHA, B. M. Citauxzoonose fatal em leões (Panthera leo) no Brasil. In: XXVI

CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 1999, Campo Grande,

M.S. Anais eletrônico... Campo Grande, M.S: CONBRAVET, 1999. CD-ROM.

PEREGRINE, A. S. Chemotherapy and delivery systems: haemoparasites. Veterinary

Parasitology, v. 54, p. 223-248. 1994.

POSADA, D.; CRANDALL, K. A. Modeltest: testing the model DNA substitution.

Bioinformatics, v. 14, p. 817-818. 1998.

PROMEGA. Promega protocols and applications guide. Second edition. Printe in USA,

p, 52-53. 1991.

48

REICHARD, M. V.; BUSSCHE, R. A. V. D.; MEINKOTH, J. H.; HOOVER, J. P.;

KOCAN, A. A. A new species of Cytauxzoon from Pallas’ cats caught in Mongolia and

comments on the systematics and taxonomy of Piroplasmids. Journal of Parasitology,

v. 91, n. 2, p. 420-426. 2005.

RZHETSKY, A.; NEI, M. A simple method for estimating and testing minimum-

evolution trees. Molecular Biology Evolution, v. 9, p. 945-967. 1992.

ROTSTEIN, D. S.; TAYLOR, S. K.; HARVEY, J. W.; BEAN, J. 1999. Hematologic

effects of cytauxzoonosis in Florida panthers and Texas cougars in Florida. Journal of

Wildlife Disease, v. 35, n. 3, p. 613-617. 1999.

SAITOU, N.; NEI, M. The neighbor-joining method: a new method for reconstructing

phylogenetic trees. Molecular Biology Evolution, v. 4, p. 406-425. 1987.

SANGER, F.; NICKLEN, S.; COULSON, A. R. DNA sequencing with chain-

terminating inhibitors. Proceedings of the National Academy of Sciences, v.74, p. 5463-

5467. 1977.

SAMBROOCK, J.; FRITSCH, E.F.; MANIATIS, T. Molecular Cloning. A Laboratory

Manual. Cold Spring Harbor Laboratory Press, New.York. 1989.

SCHEIN, E. On the life cycle of Theileria annulata (Dschunkowsky and Lunhs, 1904)

in the midgut and hemolymph of Hyalomma anatolicum excavatum (Kock, 1844).

Zeitschrift für Parazitenkunde, v. 47, p. 165-167. 1975.

SIMPSON, C. F.; HARVEY, J. W.; LAWMAN, M. J. P.; MURRAY, J.; KOCAN, A.

A.; CARLISLE, J. W. Ultrastructure of schizonts in the liver of cats with

experimentally induced cytauxzoonosis. American Journal of Veterinary Research, v.

46, n. 2, p. 384-390. 1985a.

SIMPSON, C. F.; HARVEY, J. W.; CARLISLE, J. W. Ultrastructure of the

intraerythrocytic stage of Cytauxzoon felis. American Journal of Veterinary Research,

v. 46, n. 5, p. 1178-1180. 1985b.

SHI, S. R.; COTE, R. J.; WU, L.; LIU, C.; DATAR, R.; SHI, Y.; LIU, D.; LIM, H.;

TAYLOR, C. R. DNA extraction from archival formalin-fixed, paraffin-embedded

tissue sections base don the antigen retrieval principle: heating under the influence of

pH. The Journal of Histochemistry and Cytochemistry, v. 50, n. 8, p.1005-1011. 2002.

SHINDEL, N.; DARDIRI, A. H.; FERRIS, D. H. An indirect fluorescent antibody test

for the detection of Cytauxzoon-like organisms in experimentally infected cats.

Canadian Journal of Comparative Medicine, v. 42, p. 460-465. 1978.

SCOFIELD, A.; SOARES, C. O.; MANERA, G. B.; FONSECA, A. H.; PEIXOTO, P.

V.; GONZALEZ, A. A P. Citauxzoonose felina experimental em gato doméstico (Felis

catus). In: XI SEMINÁRIO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA VETERINÁRIA,

1999a, Salvador, B.A. Anais... Salvador: SBPV, 1999a. p. 236.

49

SCOFIELD, A. Caracterizações morfológica, morfmétrica e ultraestrutural de formas

intraeritrocíticas de Cytauxzoon felis simile. 2002. 56f. Dissertação (Mestrado em

Ciências Veterinárias - Parasitologia Veterinária) - Curso de Pós-graduação em Ciências

Veterinárias da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2002.

SOARES, C. O.; PEIXOTO, P. V.; SCOFIELD, A.; FONSECA, A.H.; MASSARD, C.

L.; SANTIAGO, C. D. Cytauxzoon sp. Neitz e Thomas, 1948 (Apicomplexa:

Theileriidae) em Panthera onca. In: XI SEMINÁRIO BRASILEIRO DE

PARASITOLOGIA VETERINÁRIA, 1999a, Salvador, B.A. Anais... Salvador: SBPV,

1999a. p.235.

SOARES, C. O.; PEIXOTO, P. V.; SCOFIELD, A.; FONSECA, A.H.; SANTIAGO, C.

D. Cytauxzoon sp. Neitz e Thomas, 1948 (Apicomplexa: Theileriidae) em Felis tigrina

(Leopardus tigrinus) no Brasil. In: XXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE

MEDICINA VETERINÁRIA, 1999b, Campo Grande, M.S. Anais eletrônico... Campo

Grande, M.S: CONBRAVET, 1999b. CD-ROM.

SOARES, C. O. Estudos biológicos e clínico-patológico da citauxzoonose causada por

Cytauxzoon felis simile (Apicomplexa: Theileriidae) no Brasil. 2002. 150f. Tese

(Doutorado em Ciências Veterinárias - Parasitologia Veterinária) - Curso de Pós-

graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,

Seropédica, 2002.

SONENSHINE, D. E. Biology of Ticks. Vol. 2. Oxford University Press, New York.

1991. 464 p.

SUAREZ, C. E.; FLORIN-CHRISTENSEN, M.; HINES, S. A.; PALMER, G. H.;

BROWN, W. C.; McELWAIN. Characterization of allelic variation in the Babesia bovis

merozoite surface antigen 1 (MSA-1) locus and identification of a cross-reactive

inhibition-sensitive MSA-1 epitope. Infection and Immunity, v. 68, n. 12, p. 6865-6870.

2000.

SWOFFORD, D. L. PAUP* – A computer program for phylogenetic inference using

Maximum Parsimony (*and other methods). Version 4. Sinauer Associates, Sunderland,

Massachusetts. 1998.

TAMURA, K.; NEI, M. Estimation of the number of nucleotide substitutions in the

control region of mitochondrial DNA in humans and chimpanzees. Molecular Biology

and Evolution, v. 10, p.512-526. 1993.

TELFORD III, S. R.; GORENFLOT, A.; BRASSEUR, P.; SPIELMAN, A. Babesial

infections in man and wildlife. In: KREIER, J. P. Parasitic Protozoa. 2ª edition, Vol. 5.

Academic Press, New York. 1993. p. 1-47.

UILENBERG, G. International collaborative research: Significance of tick-borne

hemoparasitic diseases to world animal health. Veterinary Parasitology, v. 57, p. 19-41.

1995.

50

UILENBERG, G.; FRANSSEN, F. F. J.; PERIÉ, N. M. Relationships between

Cytauxzoon felis and African piroplasmids. Veterinary Parasitology, v. 26, p. 21-28.

1987.

WALKER, D. B.; COWELL, R. L. Survival of a domestic cat with naturally acquired

cytauxzoonosis. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 206, n. 9,

p. 1363-1365. 1995.

WAGNER, J. E. A fatal cytauxzoonosis-like disease in cats. Journal of the American

Veterinary Medical Association, v. 168, n. 7, p. 585-588. 1976.

WAGNER, J. E.; KIER, A. B.; MOREHOUSE, L. G. Feline cytauxzoonosis: A newly

reported blood protozoan disease from Southwestern Missouri. Missouri Veterinary, v.

26, n. 2, p. 12-13. 1976.

WAGNER, J. E.; FERRIS, D. H.; KIER, A. B.; WIGHTMAN, S. R.; MARING, E.;

MOREHOUSE, L. G.; HANSEN, R. D. Experimentally induced cytauxzoonosis-like

disease in domestics cats. Veterinary Parasitology, v. 6, p. 305-311. 1980.

WEHINGER, K. A.; ROELKE, M. E.; GREINER, E. C. Ixodid ticks from panthers and

bobcats in Florida. Journal of Wildlife Disease, v. 31, n. 4, p. 480-485. 1995.

WIGHTMAN, S. R.; KIER, A. B.; WAGNER, J. E. Feline cytauxzoonosis: Clinical

features of a newly described blood parasite disease. Feline Practice, May, p. 23-26.

1977.

WOLTERS, K. The troublesome parasites: molecular and morphological evidence that

Apicomplexa belong to the dinoflagellate-ciliate clade. BioSystems, v. 25, p. 75-83.

1991.

WOESE, C. R. Archaebacteria. Scientific American, v. 244, n. 6, p. 98-122. 1981.

XIAO, L.; ESCALANTE, L.; YANG, C.; SULAIMAN, I.; ESCALANTE, A. A.;

MONTAL, R. J.; FAYER, R.; LAL, A. A. Phylogenetic analysis of Cryptosporidium

parasites based on the small-subunit rRNA gene locus. Applied and Environmental

Microbiology, v. 65, n. 4, p. 1578-1583. 1999.

ZINKL, J. G.; McDONALD, S. E. Cytauxzoon-like organisms in erythrocytes of two

cheetahs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 179, n. 11, p.

1261-1262. 1981.

YOUNG, A. S.; GROOTENHUIS, J. G.; LEITCH, B. L.; SCHEIN, E. The

development of Theileria = Cytauxzoon taurotragi (Martin and Brocklesby, 1960) from

eland in its tick vector Rhipicephalus appendiculatus. Parasitology, v. 81, p. 129-144.

1980.

51

ANEXOS

Páginas

Anexo 1. Informações sobre o depósito da seqüência de Cytauxzoon felis isolado

de Panthera onca (DQ382276) no Brasil................................................................

52

Anexo 2. Informações sobre o depósito da seqüência de Cytauxzoon felis isolado

de Leopardus tigrinus (DQ382277) no Brasil.........................................................

53

52

Anexo 1. Informações sobre o depósito da seqüência de Cytauxzoon felis isolado de

Panthera onca (DQ382276) no Brasil.

LOCUS DQ382276 947 bp DNA linear INV 16-FEB-2006

DEFINITION Cytauxzoon felis from Panthera onca small subunit ribosomal RNA gene, partial sequence.

ACCESSION DQ382276

VERSION DQ382276

KEYWORDS .

SOURCE Cytauxzoon felis

ORGANISM Cytauxzoon felis

Eukaryota; Alveolata; Apicomplexa; Piroplasmida; Theileriidae;Cytauxzoon.

REFERENCE 1 (bases 1 to 947)

AUTHORS Scofield, A.

TITLE Characterization of genotype and phylogeny of Cytauxzoon felis in Brazil

JOURNAL Unpublished

REFERENCE 2 (bases 1 to 947)

AUTHORS Scofield, A., Araujo, F.R., Soares, C.O., Elisei, C., Fragoso, S.P.,Arauco, P.R.C. and

Oliveira, C.J.

TITLE Direct Submission JOURNAL Submitted (30-JAN-2006) Animal Parasitology, Veterinary, Br 465, Rio de Janeiro, RJ,

Brazil

FEATURES Location/Qualifiers

source 1..947

/organism="Cytauxzoon felis"

/mol_type="genomic DNA"

/isolation_source="blood"

/specific_host="Panthera onca"

/db_xref="taxon:27996"

/country="Brazil"

rRNA <1..>947

/product="small subunit ribosomal RNA"

1 tatttatgtt gtggcttttt ctggtgatta tatttcggta tgattatcca gattgttact

61 ttgagaaaat tagagtgctt aaagcaggca tttgccttga atactttagc atggaataac

121 taagtaggac tttggttcta ttttgttggt ttaagagcca aagtaatgat taataggaac

181 agttgggggc attcgtattt aactgtcaga ggtgaaattc ttagatttgt taaagacgaa

241 ctactgagaa agcatttgcc gaggatgttt tcattaatca agaacgaaag ttaggggatc

301 gaagacgatc agataccgtc gtagtcctaa ccataaacta tgccgactag agattggagg

361 tcgtcagttt gaacgactcc ttcagcacct tgagagaaat caaagtcttt gggttctggg

421 gggagtatgg tcgcaaggct gaaacttaaa ggaattgacg gtagggcacc accaggcgtg

481 gagcctgcgg cttaatttga ctcaacacgg gaaaacttac caggtccaga cagaggaagg

541 attgacagat tgatagctct ttcttgattc tttgggtggt ggtgcatggc cgttcttagt

601 tggtggagtg atttgtctgg ttaattccgt taacgaacga gaccttaacc tgctaaatag

661 gatctgagaa taaactttat gttgtctcag catcgcttct tagagggact ttgcggntat

721 aaatcgcaag gaagtttaag gcaataacag gtctgtgatg cccttanatg tcctgggctg

781 cacgcgcgct acactgatgc attcatcgag tatatccttg gccgagaggc ttgggtaatc

841 tttagtatgc atcgtgatgg ggattgatta ttgcaattat taatcatgaa cgaggaatgc

901 ctagtagacg cgagtcatca gctcgtgtcg attacgtccc tgccctt

53

Anexo 2. Informações sobre o depósito da seqüência de Cytauxzoon felis isolado de

Leopardus tigrinus (DQ382277) no Brasil.

LOCUS DQ382277 1204 bp DNA linear INV 16-FEB-2006

DEFINITION Cytauxzoon felis from Leopardus tigrinus small subunit ribosomal RNA gene, partial sequence.

ACCESSION DQ382277

VERSION DQ382277

KEYWORDS

SOURCE Cytauxzoon felis

ORGANISM Cytauxzoon felis

Eukaryota; Alveolata; Apicomplexa; Piroplasmida; Theileriidae; Cytauxzoon.

REFERENCE 1 (bases 1 to 1204)

AUTHORS Scofield, A.

TITLE Characterization of genotype and phylogeny of Cytauxzoon felis in Brazil

JOURNAL Unpublished

REFERENCE 2 (bases 1 to 1204)

AUTHORS Scofield, A., Soares, C.O., Araujo, F.R., Elisei, C., Fragoso, S.P., Arauco, P.R.C. and

Rangel, C.P.

TITLE Direct Submission

JOURNAL Submitted (30-JAN-2006) Animal Parasitology, Veterinary, Br 465, Rio de Janeiro, RJ,

Brazil FEATURES Location/Qualifiers

source 1..1204

/organism="Cytauxzoon felis"

/mol_type="genomic DNA"

/isolation_source="blood"

/specific_host="Leopardus tigrinus"

/db_xref="taxon:27996"

/country="Brazil"

rRNA <1..>1204

/product="small subunit ribosomal RNA"

1 aacggggaat tagggttcga ttccggagag ggagcctgag aaatggctac cacatctaag

61 gaaggcagca ggcgcgtaaa ttacccaatc ctaacacagg gaggtagtga caagaaataa

121 caatacgagg cttaaagtct tgtaattgga atgacggaaa tttaagctct ttccggagta

181 tcaattggag ggcaagtctg gtgccagcag ccgcggtaat tccagctcca atagcgtata

241 ttaaacttgt tgcagttaaa aagctcgtag ttgaatttct gctgcatcat ttatattcct

301 taatcggttt attcatgttg tggctttttc tggtgattat acttcggtat tattatccag

361 attgttactt tgagaaaatt agagtgctta aagcaggcat ttgccttgaa tactttagca

421 tggaataact aagtaggact ttggttctat tttgttggtt taagagccaa agtaatgatt

481 aataggaaca gttgggggca ttcgtattta actgtcagag gtgaaattct tagatttgtt

541 aaagacgaac tactgcgaaa gcatttgcca aggatgtttt cattaatcaa gaacgaaagt

601 taggggatcg aagacgatca gataccgtcg tagtcctaac cataaactat gccgactaga

661 gattggaggt cgtcagtttg aacgactcct tcagcacctt gagagaaatc aaagtctttg

721 ggttctgggg ggagtatggt cgcaaggctg aaacttaaag gaattgacgg aagggcacca

781 ccaggtgtgg agcctgcggc ttaatttgac tcaacacggg aaaacttacc aggcccagac

841 agaggaagga ttgacagatt gatagctctt tcttgattct ttgggtggtg gtgcatggcc

901 gttcttagtt ggtggagtga tttgtctggt taattccgtt aacgaacgag accttaacct

961 gctaaatagg atctgagaat aaactttatg ttgtctcagc atcgcttctt agagggactt

1021 tgcggttata aatcgcaagg aagtttaagg caataacagg tctgtgatgc ccttagatgt

1081 cctgggctgc acgcgcgcta cactgatgca ttcatcgagt atatccttgg ccgagaggct

1141 tgggtaatct ttagtatgca tcgtgatggg gattgattat tgcaattatt aatcatgaac

1201 gagg