Foi com esse enunciado que tudo começou, na cidade que ganha tantas outros títulos como centro da logística, turismo de negócios, capital do triângulo mineiro e todas outras denomina-ções positivas ou negativas que um território urbano possa a vir ter. Mas foi com essa proposta que Fred Oliva e Ronaldo Botelho, a partir de um simples tapume que cobria um estabelecimento para reforma, se transformou numa intervenção no centro próximo a uma das praças mais tradicionais da cidade de Uberlândia. A ideia surgiu a partir de suas inúmeras referências, que a através do Folia dos Reis – um laboratório criativo comprometido com a feli-cidade – iniciaram a ação após verem o projeto funcionarem de forma semelhante em outros locais do mundo. Segundo Fred, o conceito foi o mesmo uti-lizado pelos idealizadores do Shoot the Shit – um grupo do Rio Grande do Sul que com propósitos em sintonia ao do Folia dos Reis almeja transfor-mar a cidade de Porto Alegre em um lugar me-

lhor, através de campanhas como essa descrita. Para Ronaldo, não se trata de saber de onde partiu a ideia originalmente ou se alguém é de-tentora de tal ação, pois o objetivo vai além de qualquer direito autoral, sendo a conscientiza-ção coletiva o principal pilar para gerar esse tipo de reflexão por meio das diversas expressões artísticas. Acredito que intervenções como essa de-veriam ser encaradas com maior naturalidade, ao passo que o impacto para a participação de todo mundo deveria ser a grande função (foco) dessa arte – afirma o designer, parte da dupla que propiciou a intervenção no tapume. De acordo com Fred, ao invés de tomarmos por barreiras de questionamentos como “Quem fez isso” e “Por que estão fazendo e o que querem com isso?” a proposta desse tipo de atividade deve estar muito mais voltada para o COMO foi feito e como isso pode quebrar a nossa rotina de alguma forma, fazendo-nos repensar sobre valores muitas vezes mais simplistas do que aqueles que são tomados como prioridades para

o público, como benefícios em educação, saúde, transporte e demais esferas da sociedade. Isso se comprova a medida que as pes-soas preenchiam com giz o tapume do local completando a afirmação “Uberlândia precisa de ______________”, com aquilo que vai além do óbvio, mas nem por isso superficiais ao nos-so modo ideal de viver. Frases precisas foram escritas, como no caso de “Uberlândia precisa de mais verde”, “tolerância”, “dar seta” desper-taram a curiosidade das pessoas que circulam pelo local e puderam ser destacadas em meio à outras necessidades fundamentais, porém que são mais comuns e dadas como politicamente complexas para uma cidade. De acordo com o Folia dos Reis, eles acr-editam que a ação cumpre seu papel indepen-dente de qualquer preocupação com o saldo positivo ou negativo. Em questões como essa não procuramos estimar o nível de satisfação ou de êxito por algo estar concluído/alcançado, defendem a dupla. Da mesma forma, afirma que a ideia está em apenas fazer algo e isso estar lá de alguma forma acontencendo, pois a intera-ção das pessoas (por mais diversas que ela se-jam) vai partir delas mesmas, tanto no sentido de apenas ler, participar, compartilhar ou até mesmo para servir como uma inspiração para novas transformações – visto que querendo ou não carregamos o fardo de conviver juntos. Então por que não buscarmos facilitar isso em nossas vidas? É disso que não só Uberlândia, mas qualquer ambiente precisa. E apesar de soar como uma demagogia qualquer, depende so-mente de você que esta lendo isso acreditar que é possível.

Renan Castro

Folia dos Reis é um laboratório criativo com-prometido com a felicidade. Tendo realizado vários trabalhos que transitam entre o design e a arte, a dupla e outros colaboradores paralelos já desen-volveu projetos de identidade visual para empre-sas, bandas e blogs, além de participar de ativi-dades como o Bicicletada Uberlândia, que ocorre mensalmente na cidade.