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ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 4 - PLANEJAMENTO, SUSTENTABILIDADE E TURISMO TURISMO E BARRAGENS: O caso de Babaçulândia-TO Wilhans Aparecido de Almeida Júnior 1 Letícia Lima de Freitas 2 O turismo tem sido apontado como a chave para o desenvolvimento local de vários pequenos municípios brasileiros. Nesta perspectiva, há inúmeros exemplos de cidades e comunidades tradicionais que entraram para o mapa do turismo, por trabalhar suas peculiaridades e desenvolver alternativas de exploração sustentáveis de seus recursos e patrimônios culturais e/ou ambientais. No entanto, o que fazer quando esses recursos e patrimônios estão degradados ou modificados por fatores excepcionalmente relacionados à economia, como a construção de uma hidrelétrica, por exemplo? A resposta para esse questionamento pode estar diretamente relacionada com a capacidade do município ou comunidade de se recuperar, acreditar e desenvolver medidas alternativas de, a partir do turismo, retomar o crescimento. O trabalho foi elaborado a partir de um questionamento recorrente de um projeto de conscientização ambiental no município de Babaçulândia-TO, onde na ocasião em conversa com os moradores que descreveram a “antiga Babaçulândia”, referência à cidade antes da construção da hidrelétrica de Estreito-MA, que afetou diretamente a rotina da cidade, onde indagou-se sobre a situação da cidade, no momento, em relação ao turismo, já que várias características naturais foram perdidas, além de patrimônios materiais e imateriais de grande representatividade para essa população. A importância desse estudo se deu por buscar as características turísticas ainda presentes em Babaçulândia e destacar que mesmo com todos os efeitos da construção da barragem o turismo ainda pode ser apontado com um indutor de desenvolvimento local. Como objetivo geral deu-se a necessidade de analisar como a construção da barragem de Estreito-MA, que modificou o cenário turístico de Babaçulândia-TO, em relação ao patrimônio cultural e ambiental gerou perdas para o desenvolvimento do turismo. A partir disto estabeleceu-se como objetivos específicos deste trabalho: Avaliar o cenário turístico atual da cidade de Babaçulândia-TO; Entender como o turismo pode ser tratado como um potencial de desenvolvimento para a cidade, de acordo com a situação atual; Refletir sobre as mudanças econômicas e socioculturais do município de Babaçulândia-TO recorrentes do turismo. Busca-se então o aprofundamento do conhecimento da realidade a partir de uma abordagem metodológica qualitativa, além de usar um estudo exploratório 1 Graduado em gestão em tecnologia de Turismo pela Universidade Federal do Tocantins. E- mail: [email protected] 2 Bacharel em Turismo pela Universisade Federal do Pará, Mestra em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo da UnB. E-mail:[email protected]

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ESPIRAL DO CONHECIMENTO 2016 GRUPO DE DISCUSSÃO 4 - PLANEJAMENTO, SUSTENTABILIDADE E TURISMO

TURISMO E BARRAGENS: O caso de Babaçulândia-TO

Wilhans Aparecido de Almeida Júnior

1

Letícia Lima de Freitas2

O turismo tem sido apontado como a chave para o desenvolvimento local de

vários pequenos municípios brasileiros. Nesta perspectiva, há inúmeros exemplos de cidades e comunidades tradicionais que entraram para o mapa do turismo, por trabalhar suas peculiaridades e desenvolver alternativas de exploração sustentáveis de seus recursos e patrimônios culturais e/ou ambientais.

No entanto, o que fazer quando esses recursos e patrimônios estão degradados ou modificados por fatores excepcionalmente relacionados à economia, como a construção de uma hidrelétrica, por exemplo? A resposta para esse questionamento pode estar diretamente relacionada com a capacidade do município ou comunidade de se recuperar, acreditar e desenvolver medidas alternativas de, a partir do turismo, retomar o crescimento.

O trabalho foi elaborado a partir de um questionamento recorrente de um projeto de conscientização ambiental no município de Babaçulândia-TO, onde na ocasião em conversa com os moradores que descreveram a “antiga Babaçulândia”, referência à cidade antes da construção da hidrelétrica de Estreito-MA, que afetou diretamente a rotina da cidade, onde indagou-se sobre a situação da cidade, no momento, em relação ao turismo, já que várias características naturais foram perdidas, além de patrimônios materiais e imateriais de grande representatividade para essa população.

A importância desse estudo se deu por buscar as características turísticas ainda presentes em Babaçulândia e destacar que mesmo com todos os efeitos da construção da barragem o turismo ainda pode ser apontado com um indutor de desenvolvimento local.

Como objetivo geral deu-se a necessidade de analisar como a construção da barragem de Estreito-MA, que modificou o cenário turístico de Babaçulândia-TO, em relação ao patrimônio cultural e ambiental gerou perdas para o desenvolvimento do turismo. A partir disto estabeleceu-se como objetivos específicos deste trabalho: Avaliar o cenário turístico atual da cidade de Babaçulândia-TO; Entender como o turismo pode ser tratado como um potencial de desenvolvimento para a cidade, de acordo com a situação atual; Refletir sobre as mudanças econômicas e socioculturais do município de Babaçulândia-TO recorrentes do turismo.

Busca-se então o aprofundamento do conhecimento da realidade a partir de uma abordagem metodológica qualitativa, além de usar um estudo exploratório

1 Graduado em gestão em tecnologia de Turismo pela Universidade Federal do Tocantins. E-

mail: [email protected] 2 Bacharel em Turismo pela Universisade Federal do Pará, Mestra em Turismo pelo Centro de Excelência

em Turismo da UnB. E-mail:[email protected]

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descritivo por ter a necessidade de descrever ambientes e situações, utilizando-se posteriormente de pesquisa explicativa, que identifica os fatores que contribuem ou determinam a ocorrência dos fenômenos.

Como técnica, utilizou-se primeiramente a pesquisa bibliográfica a partir de trabalhos existentes com temas relacionados. Foi adotada também um roteiro de entrevista realizada no dia 8 e 9 de abril de 2015 em modelo semiestruturado.

Na ocasião foi usado a técnica denominada “entrevista com pessoas chave”, utilizada para “privilegiar a obtenção de informações de forma sistematizada, rápida e de baixo custo que representam a realidade como ela é percebida pelos agentes sociais que interagem no meio real” (TAVARES, MOTA, FONTES, FERREIRA & CARON, 1996, p.30-44). Foram escolhidos atores importantes da comunidade que se relacionam com o tema da pesquisa como representantes dos comerciantes, alguns moradores, e uma ex- quebradeira de coco, e o Secretário de Meio Ambiente, Cultura e Turismo da época.

Dando continuidade, Babaçulândia é um município brasileiro, localizado no nordeste do estado do Tocantins, com uma unidade territorial de 1.788.461 km², limitando-se com o estado do Maranhão. O município, possui uma população de cerca de 10.424 (dez mil quatrocentos e vinte e quatro) habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010).

Babaçulândia se tornou um grande referencial nas temporadas de férias, sendo uma praia bastante frequentada da região, atraindo milhares de turistas nessas épocas. No período entre os meses de junho a setembro, o nível do rio baixava e formava bancos enormes de areia, onde eram construídos barracos rústicos de palha e madeira que serviam de bares e lanchonetes, e com uma estrutura básica, se tornavam uma oferta de lazer aos turistas da região.

Surgiam trabalhos alternativos e extras que serviam como complemento de renda de várias famílias, além da divulgação do artesanato local feito a partir de coco babaçu e produzido pelas chamadas “quebradeiras de coco”, barqueiros, barraqueiros, ambulantes e várias outras profissões se faziam existentes e efetivas nessa temporada.

Porém, com a construção da hidrelétrica de Estreito-a em 2010, a rotina natural do rio foi modificada, não existindo mais as praias devido ao “alagamento” de parte da região e tornando impossível a realização das mesmas práticas, conforme pode ser assinalada pelo trecho de Almeida (2005):

A construção das hidrelétricas forma enclaves modernos e os desdobramentos políticos dela decorrentes tendem a romper com as tramas e com os laços que conformam as relações de identidade com o território, alterando-as ou substituindo-as por outras. Este rompimento ocorre uma vez que os habitantes locais passam a se relacionar com outros territórios impostos no ato de construção de barragens e usinas hidrelétricas. As atividades econômicas, a vida social, as relações das populações que ai residem defrontam-se, portanto, com o novo, o ambiente desconhecido proposto pelo sistema hidrelétrico. (p.1)

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Ainda houve a iniciativa da criação de uma praia artificial, mas com as novas condições, não alcançou o mesmo mérito por não ser tão agradável aos sentidos, porque é perceptível a presença de algas que antes não existiam e o lameamento da água pelo fato dela ter invadido um espaço que naturalmente não era o rio. Houve uma grande queda no fluxo de turistas, e com isso, mais uma vez a cidade se viu com a economia em sofrimento.

Juntamente com a praia nos meses de estiagem, se foi também a vila de Palmatuba, tendo atingido diretamente 35 famílias que lá residiam e possuíam enorme valoração do lugar, pelo seu valor de uso, e que conforme abordado em Sieben (2010), mesmo tendo sido ressarcidas em forma de cartas de crédito, o dinheiro recebido não pagava as memórias e o valor que eles tinham de lá.

Como esses tipos de alterações são irreversíveis, resta a busca por novas alternativas para a retomada de um ciclo evolutivo de desenvolvimento, sem períodos frequentes de estagnação econômica como os que Babaçulândia viveu ao longo de sua história. A partir daí, surge o questionamento se será possível realmente a retomada deste desenvolvimento, com matrizes sustentáveis, e se realmente é visível esse potencial turístico a ser trabalhado.

Nesse sentido, faz-se necessário analisar a relevância do patrimônio ambiental e cultural. É justamente nesse ponto que a problemática que envolve patrimônios começa a se evidenciar.

Por um lado, em relação ao patrimônio cultural, geralmente vemos cidades com destaque por serem de épocas coloniais, ou construídas por grandes arquitetos da história que lançaram tendências ou seguiram outras. Em contraponto, existem outras cidades, de épocas mais recentes da história do Brasil, que saem desse “padrão histórico”, que são levadas às margens de proteção e muitas vezes esquecidas por órgãos regulamentadores ou instâncias do governo, que a todo tempo comercializa patrimônios “de maior valor” e por muitas vezes desvaloriza o restante sem levar em conta a historicidade daquele lugar, e acaba por abandonar em diversos casos ou muitas vezes até os põe a perder, como ocorreu na cidade de Babaçulândia, estado do Tocantins, objeto de estudo desta pesquisa, problemática esta que veremos a posteriori.

O mesmo ocorre ao tratarmos de patrimônio ambiental, que são a todo tempo ignorados, modificados e prejudicados, principalmente por ser alvo da ganância e da corrida contínua em busca de lucro acima de todos os outros interesses recorrente da exploração de recursos naturais. Esses recursos podem ser usados a favor do turismo de diversos modos, e pode ser trabalhado para que não se sobrecarregue, desgaste e acabe, especialmente ao tratarmos de água.

Nesta mesma perspectiva, todas essas utilizações do patrimônio ambiental infelizmente estão cada vez mais ofuscados e ignorados pelo desejo exacerbado das grandes organizações e do governo de querer apenas, transformar a água em energia elétrica, já que na prática essas medidas adotadas, fazem crer que é muito mais fácil modificar os recursos naturais a ter que preservá-los, colocando os ganhos pela modificação a frente dos ganhos da preservação que é o fator mais

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importante, ou seja, a sustentabilidade deve sair dos discursos e se mostrar na prática como ferramenta efetiva da preservação, que como Freitas (2013) aborda,

Agregar novos saberes e diferentes tipos de conhecimento para a solução de problemas ambientais, sociais e culturais, reconhecendo a diversidade e respeitando as diferenças, são desafios que se propõem à ciência e à sociedade em geral. No entanto, em muitos momentos, a sustentabilidade só acontece nos discursos, por conta da difícil operacionalidade. (p. 25)

Quando tratamos de desgaste dos patrimônios naturais, é interessante tratar sobre os danos causados também às populações afetadas, por serem parte desse meio ambiente, e que sofrem muito e de diversas maneiras com essas mudanças, como por exemplo a desterritorialização e a reterritorialização que não afetam apenas o meio ambiente físico como já discutido.

Desta forma, o turismo tem sido apontado por estudiosos como a “carta curinga” no desenvolvimento econômico e social de diversas localidades. Por ser versátil e englobar uma variada gama de oportunidades, o que torna possível o trabalho e exploração de potenciais turísticos de formas diferentes, de acordo com as localidades receptoras.

Assim, o desvio a imposições político-econômicas passa a ser indispensável e coloca o indivíduo como peça principal no desenvolvimento do turismo, de modo endógeno, relacionando diretamente o desenvolvimento à ciência social do Turismo.

Em suma, no contexto do turismo, há que se avaliar, de forma contínua, os custos culturais e ambientais no desenvolvimento de suas atividades em relação aos benefícios de ordem econômico-financeiros que proporciona. Somente dessa forma o turismo ocorrerá de forma responsável e sustentável, efetivando sua colaboração ao desenvolvimento.

O turismo se configura assim, como forte indutor de desenvolvimento local, devendo acontecer de maneira endógena, como já destacado, e interagir com todos os envolvidos, dada essas possibilidades de ver o turismo, como Kunz (2012) afirma que o turismo pode potencializar os laços sociais e o patrimônio cultural e ambiental das comunidades receptoras, delas com os turistas e, dessa forma, amplia as possibilidades de coesão social, com vistas ao desenvolvimento.

Desta forma, a condução de políticas turísticas de nível local, que tenham como eixo condutor a sustentabilidade, se fazem necessárias e pressupõem a mobilização do capital social dos atores do desenvolvimento para tal realização.

Atualmente, a cidade de Babaçulândia tem enfrentado um período muito rígido e difícil no que diz respeito ao cenário turístico. Como já explicitado, após a construção da hidrelétrica de Estreito-MA, a cidade passou a vivenciar um período de forte estagnação econômica recorrente das perdas sofridas no turismo.

A construção da hidrelétrica trouxe uma série de problemas para o município que além de ter sofrido grandes perdas ambientais como a impossibilidade de surgir a praia comum na época de estiagem e que constituía a identidade turística de Babaçulândia, teve perdas na fauna e na flora do município, contabilizando também a

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inundação da Ilha de São José descrita pelo Secretário do Meio Ambiente, Cultura e Turismo de Babaçulândia como a segunda maior ilha fluvial do mundo.

Perdas visíveis também foram percebidas no que diz respeito a cultura e a identidade local, já que com o desaparecimento da comunidade de Palmatuba, se foi também a oportunidade de retratar a história do município aos turistas e a obtenção de matéria-prima para o artesanato local (coco babaçu, hoje muito escasso) que era fonte de renda para várias famílias.

Na “nova Babaçulândia” (denominação para a cidade após o alagamento, construções na orla e a construção da praia artificial), a possibilidade de receber turistas frequentemente é visível, mas ocorre de maneira moderada e não favorece todos os elementos do trade da cidade, tampouco a comunidade local, causando a má distribuição dos benefícios recorrentes do turismo.

Para tentar reverter tal cenário, estão sendo desenvolvidas medidas alternativas para o fomento do turismo na cidade. Segundo o secretário de Meio Ambiente, Cultura e Turismo nenhum estudo foi feito anteriormente para tabular de fato esse decréscimo do fluxo turístico na cidade, mas que é evidente as perdas, e o município está passando por um momento de readequação, procurando nessas novas medidas o alicerce para devolver Babaçulândia ao mapa turístico da região.

Dentre as novas alternativas a serem trabalhadas para o desenvolvimento turístico do município estão projetos para incentivar o turismo náutico e de esportes aquáticos na região através da inauguração de uma escola de esportes preparada, utilizando o lago como cenário para estas práticas. O uso de restaurantes flutuantes instalados em catamarãs são uma aposta singular já que compõe um possível diferencial atrativo.

Assim, identificou-se com esta pesquisa que cidade de Babaçulândia ainda se encontra capaz de desenvolver práticas de turismo que possa favorecer a todos e envolver cada vez mais indivíduos nos benefícios do turismo, não apenas se tratando de economia, mas em outros aspectos como cultura e conscientização de preservação do meio ambiente.

É impossível retomar aos aspectos antigos da cidade e buscar de volta os elementos patrimoniais já perdidos, no entanto, resta ao poder público e aos moradores reerguer este cenário, o adaptando aos novos elementos nele presente, e fazer devidas adequações para que o turismo de maneira sustentável volte a configurar a principal fonte de renda.

Com este trabalho, sugere-se que seja elaborado um inventário turístico da cidade, com a finalidade de catalogar os serviços turísticos oferecidos, além de usar possíveis técnicas de valoração de problemas, como por exemplo o uso da Matriz GUT (Gravidade, Urgências e Tendências) de modo a facilitar a análise mais apurada das deficiências encontradas para desenvolver o turismo. É necessário também a abertura de espaço para investidores na cidade, para surgir novos negócios e instalações como hotéis por exemplo, com preferência para investidores de Babaçulândia a fim de cada vez mais favorecer os membros locais.

Deve ser desenvolvido projetos que retomem o artesanato local, utilizando as artesãs que ainda moram na cidade, para ajudar a transmitir os conhecimentos e os

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valores envolvidos na criação e produção das peças feitas a partir do coco babaçu, enfatizando a importância delas na construção da identidade da cidade. REFERÊNCIAS.

ALMEIDA, Maria Geralda (2004). Fronteiras, territórios e territorialidades. Anais IV Simpósio Nacional sobre Espaço e Cultura,. (pp. 103-114.), NEPEC- UERJ.

FREITAS, Letícia L. Sustentabilidade Sociocultural e Turismo na Reserva Extrativista Marinha de Caeté-Taperaçu. (2013). Dissertação de Mestrado não publicada, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.

KUNZ, J. G. (2012) O turismo como indutor de desenvolvimento: revisitando as dimensões ambiental, econômica e sociocultural. Turismo & Sociedade. Curitiba.

SIEBEN, Airton. Estado e Política Energética: a desterritorialização da Comunidade rural de Palmatuba em Babaçulândia (TO) pela Usina Hidrelétrica Estreito. (2012) Tese de Doutorado não publicada, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil.

TAVARES, E.D.; MOTA, D.M.; FONTES, H.R.; FERREIRA, J.M.S.; CARON, P.(1996) Uso do método de entrevistas com pessoas chaves para o diagnóstico territorial rápido dos tabuleiros costeiros de Sergipe. In: Geotextos. V.1. n.2. (pp. 30-44), Aracaju.

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Responsabilidade Social Empresarial no Turismo: gestão e integração social

Sirley da Conceição Ferreira¹

A relação ética e transparente das empresas turísticas com a comunidade local e

outros públicos com os quais ela se relaciona é a forma mais clara de entendermos o conceito

de responsabilidade social empresarial no turismo. “Suas metas empresariais devem ser

compatíveis com a realidade local e com o desenvolvimento sustentável da sociedade’’ (RICO,

2004), ou seja, conservar os recursos culturais e ambientais, respeitando e reduzindo as

desigualdades sociais, mas não esquecendo do seu papel social, que é integrar as pessoas do

entorno (comunidade local) nesse processo.

As empresas turísticas devem pensar em assumir uma gestão socialmente responsável,

através de ações públicas pautadas em valores éticos com foco na integração dos atores

responsáveis pela geração de empregos, na cadeia produtiva do turismo, como os clientes,

consumidores, fornecedores, agentes de mercado (público e privado), planejadores e

organizadores, e principalmente a comunidade local, que é afetada pela atividade turística.

Nesta perspectiva, podemos dizer que é possível criar um turismo integrado, desde

que as empresas turísticas na organização da atividade turística respeitem e atuem de forma

responsável. Também, é necessário sensibilizar os gestores de turismo com relação as

características culturais do local, para que suas ações na comunidade local não sejam um

processo de exclusão, e sim, de inclusão, onde todos possam participar da atividade.

Enfim, o turismo integrado é a atividade em que todos participam da produção da

atividade turística ‘’tornando-se parte de um ’todo’ em condições semelhantes’’ (OLIVEIRA,

2008, p. 93).

______________________

¹ Turismológo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ, Pós graduando em Turismo Sustentável CEFET/Nova Friburgo. Email:[email protected]

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É importante ressaltar que as empresas turísticas são indutores na geração de

empregos (diretos e indiretos) na gestão social e na melhoria da infraestrutura. E também são

fundamentais na criação de novas necessidades, geração de demandas para a localidade

turística e na catalisação de empresas em diferentes tipos de escala.

Dentre essas ações, a melhor forma das empresas turísticas contribuírem de forma

política para a integração social, através da responsabilidade social empresarial no turismo, se

dá por meio da:

[...]capacitação dos profissionais de turismo que irão realizar os atendimentos, os agentes, comerciantes, hoteleiros, recepcionistas e outros, pois a eles competem a maior tarefa de hospitalidade e de inserção aos atrativos turísticos’’ (OLIVEIRA, 2008, p. 93).

A capacitação dos profissionais e de outros agentes do turismo, a participação da

comunidade no planejamento e desenvolvimento da atividade turística é um fator importante

na boa receptividade na cidade, na empregabilidade do setor, como política de

inclusão/integração social e turismo responsável e ético.

A partir dessa compreensão, a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e a

integração social são elementos que podem andar lado a lado na organização da atividade

turística, no entanto, o turismo é uma ‘’atividade produtiva moderna, reproduz a organização

desigual e combinada dos territórios capitalistas, sendo absorvido com maneiras diferenciadas

pelas culturas e modos de produção locais’’ (CORIOLANO, 2006, p. 368).

Mas, é preciso entender que a organização e o desenvolvimento do turismo de forma

equilibrada, se dá a partir do diálogo entre os atores envolvidos no processo e a sensibilização

dos agentes públicos e privado mediante à melhoria da cidade, respeitando a harmonia,

simplicidade e a identidade da população local. Enfim, a responsabilidade social empresarial é

a ferramenta ideal para as empresas que atuam no turismo possam pensar na melhor forma

de beneficiar a si e a comunidade do entorno.

De acordo com FERREIRA (2008, p. 36) A RSE é uma forma de gestão, utilizada pelas

empresas como estratégia de marketing e ‘’contribui de forma decisiva para a boa imagem do

destino turístico, e que não pode ser utilizado de forma corriqueira em âmbitos diversos’’,

referida ao papel do estado, movimentos de cidadania e, principalmente no setor privado.

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O tema Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é bastante usado em diversos

ambientes, sejam eles públicos e privado, mas também como forma de gestão no

desenvolvimento dos destinos turísticos. No setor privado, pode-se fazer uma análise em

diversos aspectos distintos: transparência nos negócios; relacionamento com parceiros;

democratização nas relações de trabalho e atenção do entorno da empresa, este último

devemos dar maior atenção pelo fato de envolver a comunidade local (FERREIRA, 2008).

Embora, as empresas precisem satisfazer não apenas a si, mas a sociedade como o

todo, principalmente em seu entorno, cabe as empresas turísticas criarem e promoverem

ações que tragam benefícios para população dentro de uma perspectiva ética, inclusiva e

sustentável.

Neste caso, é importante a empresa pensar na gestão participativa e democrática e

dar satisfações de suas ações a população local. Logo, o uso de forma generalizada do tema

tornou-se um consenso, usadas por todos e também como forma maquiadora e política de

algumas organizações públicas e privadas.

Segundo FERREIRA (2008), as empresas utilizam outros espaços (cidades, centros

turísticos etc.) para impor ‘’indiscriminadamente sua lógica capitalista de produção, na

transferência e aplicações de modelos em regiões culturalmente muito distintas’’. E é

importante ressaltar que esses modelos impostos pelas empresas, nas localidades, são

negados pela comunidade na medida em que o processo de desenvolvimento não são

compatíveis com a comunidade local gerando, assim, um conflito entre esta e os empresários

do ramo do turismo.

No entanto, na atividade turística, o monopólio das grandes empresas em algumas

regiões aumenta a violência, a desigualdade social e mudanças sócio-espaciais dependendo da

forma como a atividade é organizada (PIRES; CASTRO, 2010). Neste caso, o crescimento de um

movimento de RSE (Responsabilidade Social Empresarial) das empresas devem ser pautados

em ações políticas que possam minimizar as desigualdades sócioeconômicas e a abertura de

diálogo entre os atores envolvidos na atividade turística.

Nesta perspectiva, é fundamental o envolvimento dos cidadãos locais no planejamento

estratégico do desenvolvimento de sua cidade, pois são eles os maiores conhecedores da

realidade local e diretamente interessados nesse processo. E a importância da

responsabilidade social das empresas turísticas e seu compromisso com a integração social é

uma nova forma de gestão social e democrática no turismo.

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Da mesma forma em que a geração do lucro permanece sendo a prioridade deste

setor, “...o consumidor exigente passa a se preocupar não só com preço e qualidade do

produto, mas também com o contexto produtivo”, e é importante que as pessoas tenham essa

consciência, para que o turismo seja uma atividade sustentável (FERREIRA, 2008).

O turismo pode ser discriminador, excludente, injusto e beneficiar apenas setores mais

poderosos, pela forma de quem e como empreender. Logo, os modos econômicos, sociais e

locais devem ser respeitados como negociações e soluções e gestão apropriadas, sem

estereotipar as populações locais nos projetos turísticos, valorizando microeconomias e

diminuindo as diferenças, fortalecendo uma gestão democrática, participativa, integradora e

sustentável.

A pesquisa realizada teve caráter bibliográfico, adotando-se para a análise os seguintes

referenciais: Helena Catão Henriques Ferreira (2008); Luiza Neide M. T. Coriolano (2006);

Hélida Vilela Oliveira (2008); Claudia Moreira de S. Pires & Jânio Roque Barros de Castro

(2010); Elizabeth de M. Rico (2004). A pesquisa reflete o papel das empresas na atividade

turística, sua responsabilidade na organização desta atividade, tendo como foco de análise a

Responsabilidade Social Empresarial como instrumento de gestão e integração social.

Portanto, nesse sentido o levantamento bibliográfico teve por propósito refletir sobre

a necessidade de sensibilizar gestores e planejadores da atividade turística sobre a possível

forma de planejar e organizar essa atividade de maneira mais ética e sustentável, respeitando

e valorizando as características culturais ali presentes, evitando conflitos e má receptividade

por parte da comunidade local.

Referência bibliográfica

FERREIRA. Helena C. H. (2008). Turismo e responsabilidade social: um debate no campo da sustentabilidade. Disponível em: <https://www.rbtur.org.br/rbtur/issue/view/56>, acessado em: 15 de setembro de 2016. M. T. Coriolano, Luzia Neide. (2006). Turismo: prática social de apropriação e de dominação de territórios. En publicación: América Latina: cidade, campo e turismo. Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo, María Laura Silveira. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, San Pablo. Diciembre. OLIVEIRA, Hélida Vilela. (2008). A prática do turismo como fator de inclusão social. Revista de Ciências Gerenciais. Vol. XII, Nº. 16. PIRES, Claudia Moreira de S. & CASTRO, Jânio Roque Barros de. (2010). A paisagem e lugar no contexto da turistificação de Guaibim- Valença, BA: uma leitura a partir das políticas públicas e da comunidade local. UNEB- Universidade do Estado da Bahia, Campus V. RICO, Elizabeth de M. (2004). A Responsabilidade Social Empresarial e o Estado: uma aliança para o desenvolvimento sustentável. São Paulo em perspectiva, 18(4): 73-82.

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Identificação do perfil dos turistas que participaram do Circuito Experiências da Natureza: Expedição Travessia Grutas e

Cavernas - Terra Ronca

Giovanna Adriana Tavares Gomes1 Victória de Melo Leão2 João Bittencourt Lino3

Carlos Henrique Pereira de Freitas4 Rafael Araújo Rosa5

RESUMO O cicloturismo é uma modalidade do ecoturismo que está ganhando cada vez mais simpatizantes no país, por ser uma atividade de baixo impacto ambiental, já que é realizado com bicicletas. Além disso, é uma atividade de lazer que colabora para uma melhor qualidade de vida e proporciona ao ciclista uma relação maior com o ambiente visitado. Este ensaio tem como propósito apresentar os resultados da pesquisa realizada pelo Observatório do Turismo do Estado de Goiás – IPTUR, da Agência Goiana de Turismo – Goiás Turismo, para a identificação do perfil dos participantes do Circuito Experiências da Natureza: Expedição Travessia Grutas e Cavernas – Terra Ronca. Os resultados foram alcançados a partir da amostragem de 53 participantes nos dois dias de evento. Palavra-chave: Cicloturismo, Perfil do turista, Turismo. INTRODUÇÃO

O cicloturismo é um segmento do turismo que mobiliza outras cinco

modalidades: o ecoturismo, turismo de aventura, turismo rural, turismo cultural e

gastronômico. Também é uma atividade do turismo de lazer que possui como cerne o

exercício físico, contato com a natureza e a experiência de apreciar detalhes de

ambientes que seriam imperceptíveis em outros meios de transporte. A criação de

percursos de cicloturismo pode operar como diversificador da economia regional,

gerador de emprego, enaltecedor da herança cultural, conservador do patrimônio

(histórico, ambiental e cultural), divulgador da cidade e incentivador para a 1 Mestra em Turismo e Hotelaria pela Universidade Vale do Itajaí – SC. Bacharel em Turismo pela

Faculdade Cambury – GO. Docente na Faculdade Cambury – GO e Coordenadora de Pesquisa Turística

na Agência Estadual de Turismo – GOIÁS TURISMO – IPTUR – OBSERVATÓRIO DO TURISMO. E-

mail: [email protected] 2 Mestranda em Ambiente e Sociedade (PPGAS/UEG). Graduada em Planejamento Turístico (IFG-2015).

Possui Pós-Graduação Latu-Sensu em Docência no Ensino Superior (FABEC/GO-2016). Pesquisadora

voluntária do Observatório de Turismo - IPTUR - Goiás Turismo. E-mail: [email protected]. 3 Gerente de Projetos, Pesquisa e Produtos Turísticos na Agência Estadual de Turismo – GOIÁS

TURISMO. 4 Graduando em Economia pela Alfa. Estagiário no Observatório de Turismo - IPTUR - Goiás Turismo.

5 Graduando em Estatística pela UFG. Estatístico no Observatório de Turismo - IPTUR - Goiás Turismo.

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permanência de turistas em períodos de sazonalidade. Podem, ainda, conscientizar a

comunidade e os visitantes sobre a necessidade da preservação ambiental, partindo

do conceito “conhecer para preservar” e, também, agir como intermédio para a

permanência da população rural, evitando o processo do êxodo. Para Cavallari (2012,

p.133):

Hoje, o cicloturismo representa muito mais do que apenas uma forma eficiente e econômica de viagem. Em meio à crise climática, aos questionamentos éticos e econômicos sobre nosso atual estilo de vida, nosso métodos de produção e hábitos de consumo, diante da busca constante e mais responsável por melhor qualidade de vida, novamente a bicicleta, através do cicloturismo, apresenta seu discurso revolucionário e libertário.

Para Cavallari (2012), o cicloturista viaja a procura da filosofia da experiência

ao ar livre, se inter-relacionando com a natureza e com a população local. Ele necessita

conhecer e seguir códigos de ética, respeitando, sobretudo, as comunidades. O autor

aconselha algumas ações como reconhecer e respeitar a ordem social, política e

econômica local, respeitar os limites territoriais estabelecidos e estabelecer uma

passagem minimamente impactante.

A Agência Goiana de Turismo - Goiás Turismo é um órgão oficial do Estado de

Goiás que tem como objetivo executar a política estadual de turismo. A mesma, em

conjunto com a Secretaria do Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura,

Cidades e Assuntos Metropolitanos – SECIMA, desenvolveram um projeto de

Cicloturismo e trilhas chamado Circuito Experiências da Natureza. O projeto contou

com o desenvolvimento de pesquisa realizado pelo Observatório do Turismo do Estado

de Goiás – IPTUR.

O objetivo da pesquisa era conhecer o perfil do público e identificar a

satisfação dos participantes do Circuito Experiências da Natureza: Expedição Travessia

- Grutas e Cavernas Terra Ronca, realizado no Parque Estadual de Terra Ronca,

localizado entre os municípios de Guarani, Posse e São Domingos, nos dias 27 e 28 de

Fevereiro de 2016. Entender o perfil deste turista com características específicas é

essencial para divulgar melhor qualquer roteiro cicloturístico.

A pesquisa ocorreu no período das 9 às 20 horas, com intervalo de 1h para o

almoço, e contou com a participação de 1 coordenadora/pesquisadora. Os

participantes eram abordados aleatoriamente pela coordenadora de pesquisa do

IPTUR.

Após a apresentação, fez-se uma triagem utilizando-se de um formulário

específico que identifica elementos específicos do perfil do turista. Foram abordados

53 participantes nos 2 dias do evento.

RESULTADOS DAS ENTREVISTAS – PERFIL DO TURISTA

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Para o levantamento do perfil do turista, confeccionou-se um questionário

com treze perguntas. O primeiro questionamento foi direcionado ao estado de origem

do participante. Dos 53 (100%) entrevistados, 39 (73%) são de Goiás, 12 (23%) são do

Distrito Federal e 2 (4%) são da Bahia. Gráfico 1: Estado de origem

Fonte: Dos Autores (2016)

Complementando o primeiro questionamento, a segunda pergunta foi

direcionada a cidade de origem do participante. Dos 53 (100%) entrevistados, 12

(22,6%) são de Brasília-DF, 8 (15,1%) são de Goiânia, 8 (15,1%) são de Posse, 7 (13,2%)

são de Campos Belos, 6 (11,3%) são de Mambaí, 4 (7,5%) são de Caldas Novas, 4 (7,5%)

são de São Domingos, 2 (3,8%) são de Correntina-BA, 1 (1,9%) é de Aparecida de

Goiânia e 1 (1,9%) é de Alvorada do Norte.

Gráfico 2: Cidade de origem

Fonte: Dos Autores (2016)

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O terceiro item questionado foi sobre o sexo do participante. Dos 53 (100%)

entrevistados, 41 (77%) são do sexo masculino e 12 (23%) são do sexo feminino.

A quarta questão está direcionada a faixa etária dos participantes. Dos 53

(100%) entrevistados, 3 (5,7%) possuem até 18 anos, 4 (7,5%) possuem entre 18 a 24

anos, 19 (35,8%) possuem entre 25 a 31 anos, 18 (34%) possuem entre 32 a 40 anos, 6

(11,3%) possuem entre 41 a 50 anos, 2 (3,8%) possuem entre 51 a 59 anos e 1 (1,9%)

possui 60 anos ou mais.

Gráfico 4: Faixa Etária

Fonte: Dos Autores (2016)

A quinta questão levanta informações entorno da renda mensal individual do

entrevistado. Dos 53 (100%) entrevistados, 13 (27,1%) possuem renda de até 2 salários

mínimos, 22 (45,8%) possuem renda entre 2 a 4 salários mínimos, 6 (12,5%) possuem

renda entre 4 a 6 salários mínimos, 4 (8,3%) possuem renda entre 6 a 8 salários

mínimos e 3 (6,3%) possuem renda acima de 10 salários mínimos, tendo a média

ponderada de R$ 3.338,54.

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Gráfico 5: Renda mensal individual

Fonte: Dos Autores (2016)

A sexta questão está relacionada ao “status” de participação no evento. Dos

53 (100%) entrevistados, 10 (19%) eram Apoios ao Atleta, 36 (68%) eram Atletas

Amadores, 6 (11%) eram Atletas não profissionais e 1 (2%) era Praticante Ocasional.

Gráfico 6: Status de Participação

Fonte: Dos Autores (2016)

CONSIDERAÇÕES

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É essencial, também, que um roteiro de cicloturismo obedeça a regras e

normas de segurança para minimizar situações de risco. é importante estudá-lo

previamente adquirindo o máximo de informações; analisar sua viabilidade e adquirir

dados sobre cada um dos participantes e contar com o auxílio de carros de apoio.

Compreender o perfil do cicloturista possibilita o desenvolvimento adequado

da atividade na região. O desenvolvimento adequado do cicloturismo poderá trazer

inúmeras possibilidades, como o fechamento de parcerias com a população rural para

atuarem deste o planejamento e até mesmo como ponto de apoio, ofertando serviços

ao viajante durante o percurso para ajudar a complementar a renda destas famílias.

REFERÊNCIAS BRASIL.(2014) Ministério do Turismo. Turismo sobre duas rodas. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20120201.html>. Acesso em 14/09/2016.

CAVALLARI, G. (2012) Manual de mountain bike & cicloturismo. 1. ed. São Paulo: Kalapalo.

GOIÁS. (2016) Agência Goiana de Turismo. Pesquisa Circuito Experiências na Natureza: Expedição Travessia Grutas e Cavernas – Terra Ronca. GOMES, G. A. T. (Coord.). Goiânia.

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A intensidade dos indicadores da rede do Festival Santos Café e as perspectivas para o desenvolvimento turístico do município

de Santos (SP).

Daniela Tineo1

Edegar Luis Tomazzoni2

O turismo pode ser considerado base importante para ressignificação e

valoração da cultura e da identidade de uma cidade ou região. Para se tornarem

competitivos, os destinos turísticos necessitam de nova adequação, a fim de atender a

novas demandas de visitantes, que desejam vivenciar novas experiências culturais.

As constantes transformações e o crescimento das cidades muitas vezes se

contradizem com a demanda de preservação de seu patrimônio histórico e cultural. As

transformações do espaço atingem a população que nele circula diariamente,

desenvolvendo atividades diversas, e que guarda na memória referências anteriores

que evidenciam os novos aspectos visuais e as novas possibilidades de utilização que

se apresentam na esteira dos processos de requalificação de conjuntos históricos.

(Murta, 2008).

A cidade de Santos, localizada no litoral de São Paulo, tem forte relação com a

exportação do café, cujo crescimento, tornou o município o maior exportador cafeeiro

do país. Um dos legados dessa conquista são os detalhes e as riquezas de materiais,

utilizados na construção e na decoração de edificações históricas, como o prédio da

Bolsa Oficial do Café, atual sede do museu do Café, a Alfândega, o prédio dos Correios

e Telégrafos, entre outros estabelecimentos do centro histórico da cidade.

Assim, a Secretaria de Turismo lançou, em 2015, o Festival Santos Café para

promover a região do centro histórico e fortalecer o turismo na cidade. Na visão de

Lerner (2011), não se prepara a cidade para turistas, mas para sua população, e a

qualidade de vida atrairá turistas. Identidade, autoestima e sentimento de

pertencimento são aspectos intimamente ligados aos pontos de referência que as

pessoas têm da própria cidade. (Lerner, 2011).

A abordagem deste estudo é qualitativa, com caráter exploratório-descritivo. O

objetivo é analisar a formação da rede de cooperação entre os atores do Festival

1 Mestranda em Desenvolvimento do Turismo Each (USP). MBA em gestão estratégica de negócios.

Bacharel em Turismo. Atua na Secretaria de Turismo de Santos. Email: [email protected]. 2 Doutor em Ciências da Comunicação (ECA-USP), Docente do Mestrado em Turismo, do Mestrado em

Mudança Social e Participação Política, e do Curso de Graduação em Lazer e Turismo, na EACH- USP. E-mail: [email protected].

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Santos Café e as contribuições do evento para a revitalização do centro histórico e o

desenvolvimento do turismo na cidade.

As redes são iniciativas voltadas para o desenvolvimento da cultura associativa

e participativa, cujo maior desafio é fortalecer a capacidade de relacionamento,

incentivando a troca produtiva. (Brasil, 2007). Assim, Camarinha-Matos e Afsarmanesh

(2006) afirmam que uma rede envolve basicamente a comunicação e a troca de

informações para benefícios mútuos. Novelli et al. (2006) afirmam que, durante a

última década, foram feitas várias tentativas usando gestão de redes, clustering e

teorias de aglomeração, para explicar o papel do turismo e sua influência no

crescimento local. Ao analisarem esses sistemas de organização de destino, Scott et al.

(2007), sugerem três elementos básicos da rede do turismo: atores, recursos e

relações. Dessa forma, as alianças têm se mostrado necessárias para as oportunidades

de negócio, quando recursos ou habilidades são requeridos externamente às

organizações.

As redes, nesse sentido, podem combinar organizações públicas e privadas de

diferentes dimensões. Nelas, as fontes das informações são claramente distribuídas,

heterogêneas, autônomas e estão em constante evolução. (Camarinha-matos;

Afsarmanesh, 2000).

Nesse contexto de redes e desenvolvimento local, os eventos podem contribuir

para revitalização dos centros históricos dos destinos turísticos. Tendo em vista que os

eventos culturais estão relacionados à identidade de um povo. Os eventos podem

contribuir para redução da sazonalidade em períodos de baixa estação, assim como

possibilitar uma maior integração entre os anfitriões (munícipes) e os turistas. Para

Tum et al. (2007), os festivais, eventos culturais e festas temáticas são atividades que

têm representatividade muito grande para a comunidade, pois, além de promover o

envolvimento dos residentes, proporcionam a oportunidade de receberem visitantes,

divulgar a localidade e impulsionar a economia local.

É necessário encontrar um equilíbrio entre o turismo e a vida da comunidade

local. Nesse sentido, como exemplo de estratégia, para Ashton et al. (2014), as festas

temáticas da comunidade têm o objetivo de reunir pessoas com interesses comuns,

visando a dinamizar a cadeia produtiva do turismo. São iniciativas de criatividade em

turismo, que proporcionam projeção da imagem dos destinos, contribuem para o

fortalecimento da identidade e o desenvolvimento socioeconômico local.

Quando pessoas, instituições, cidades, entram em contato e mantêm

comunicação ativa, implementa-se a conexão, que se caracteriza pelo intercâmbio de

conhecimentos. A conexão é relação, ou relacionamento. A conectividade é fenômeno

de produção de relacionamentos no interior do conjunto de participantes, o que

confere dinâmica à rede (Martinho, 2003; Brasil, 2007).

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Dentro do processo turístico, a possibilidade de realização dos eventos deve

estar integrada ao planejamento turístico das cidades, com base em política de ação

voltada aos eventos, à qual compete mobilizar os valores sociais autênticos da

localidade (Canton, 2009, p. 209).

Para analisar se as redes se efetivaram, aplicaram-se os conceitos de

propriedades para formação de redes estabelecidos por Martinho (2003) e Brasil

(2007), sendo eles: conectividade, densidade, processo de multiplicação e expansão.

Quadro 1 - Propriedades para Formação de Redes

Conectividade É o fenômeno de produção ou ocorrência de relacionamentos no interior do conjunto de participantes, o que confere dinâmica à rede.

Densidade Indica o grau de inter-relacionamento que os participantes da rede mantêm entre si.

Processo de multiplicação e expansão.

A intensa capacidade de fazer conexões simultâneas proporciona que a estrutura de rede tenha alto poder de multiplicação e de expansão. Propicia um ambiente favorável à disseminação de boas práticas, tecnologias e informações.

Fonte: Adaptado de Martinho (2003) e Brasil (2007).

Ao quadro de propriedades para formação de redes, os autores deste artigo

agregaram mais dois conceitos inerentes aos princípios organizacionais de uma rede,

definidos por Brasil (2007) como ação concertada e ação difusa (bilaterais ou

multilaterais). Sendo, ação concertada uma ação coletiva, na qual muitos elementos

diferentes atuam de forma combinada, como se fosse um só corpo. A ação difusa

(bilaterais e multilaterais) é a colaboração que ocorre em partes diferentes do

conjunto, em forma, modo e grau diversos. São pares ou grupos de atores que firmam

parcerias bilaterais ou multilaterais. Assim, quanto mais os atores mantiverem

relações entre si, e quanto mais densa for a rede, mais os atores serão capazes de

promover uma grande quantidade de ações colaborativas bilaterais ou multilaterais.

(Brasil, 2007).

Dessa forma, elaborou-se um quadro com estes conceitos, correlacionando-os

com os graus de intensidades (nenhum, baixo, médio e alto) e os indicadores

observados antes, durante e após o evento, por meio da observação participante.

Quadro 2: Análise da Formação de Redes

Conceito Grau de intensidade

Indicadores observados

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Conectividade Alto

Funcionários públicos mobilizados em torno de um objetivo comum; Proposta aceita por um grupo de estabelecimentos comerciais, associações e atrativos turísticos; Participação e envolvimento de várias secretarias da administração municipal; Reuniões periódicas para planejamento das ações.

Densidade Baixo

A secretaria de Turismo foi a realizadora do evento e promoveu a integração entre os demais atores. Por estar em processo de formação, caso algum integrante se desligasse da rede, poderia se desintegrar, perdendo coesão e densidade.

Processo de multiplicação e expansão

Alto

O processo de multiplicação e expansão aconteceu por membros da rede, que se conectaram com seus relacionamentos, propagando e difundindo informações, boas práticas e tecnologia. Observaram-se, no planejamento, e durante o evento, condições favoráveis para o intercâmbio, apoio mútuo, parcerias, capacidade empreendedora e inovação.

Ação concertada

Médio

Os participantes do planejamento, execução e coordenação do evento colaboraram e exerceram conexão máxima. Todavia, diversos atores foram convidados a participar da rede e não aceitaram, causando alguns aspectos desfavoráveis para o evento.

Ações difusas (bilaterais e multilaterais)

Alto

A produtividade dos atores foi acima do esperado pela organização. Identificaram-se pares e grupos de participantes, que firmaram parcerias bilaterais e multilaterais, possibilitando inovação, criatividade e qualidade ao evento.

Fonte: Elaboração própria (2015).

Por meio deste quadro, é possível analisar os graus dos fatores da rede

estabelecida para a realização do evento. Observa-se a presença de atores, recursos e

relações, fatores determinantes para a formação de uma rede.

Com base nestes pressupostos, pode-se afirmar que o Festival Santos Café tem

grande potencial para se tornar um evento no calendário do Brasil em futuro próximo.

A ideia de aliar a história e os atrativos ao café, que foi determinante para o

desenvolvimento da cidade, contribuiu para a revitalização do centro histórico, por

meio da ação do poder público e da rede de parceiros da iniciativa privada.

O festival contribuiu significativamente para a revitalização do centro histórico,

pois muitos munícipes não o frequentavam por insegurança e por falta de motivação.

Despertou-se o sentimento de pertencimento e a criação de elo com parte da história,

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ainda desconhecida por muitos moradores da cidade. Além disso, os equipamentos

turísticos localizados no centro também tiveram grande aumento de visitação, o que

revela que o evento contribuiu para o desenvolvimento dos atrativos e do comércio da

cidade. A formação de rede foi fundamental, todavia, o conjunto ainda não é coeso,

pelos fatores apresentados anteriormente. Quando a rede se fortalecer, isto é,

adquirir alta densidade e ampliarem-se as ações concertadas, o desligamento de

algum dos atores não comprometerá sua eficácia, em razão da conectividade, dos

processos de multiplicação e expansão e das ações difusas. Quanto mais densa for a

rede, mais os participantes serão capazes implementar ações colaborativas, bilaterais

ou multilaterais.

Observou-se que muitos participantes da rede já se conheciam, mas faltava a

iniciativa de acionar as articulações para a cooperação, visando à realização do Festival

do Café e contribuindo para a revitalização do centro histórico de Santos (SP).

As alianças estratégicas e as redes são de suma relevância para que o evento se

viabilize e prospere, tendo em vista que na primeira edição poucos comerciantes

aderiram por não acreditarem na força da iniciativa. Em 2016, na segunda edição, a

participação foi muito mais expressiva, além do evento passar a fazer parte do

calendário oficial da cidade.

O Festival é um exemplo de que os eventos, destacados no calendário turístico

nacional, contribuem para o desenvolvimento, a valorização e o sentimento de

pertencimento da população local, com divulgação e promoção do destino turístico.

Além disso, as redes de cooperação estabelecidas, para a realização de eventos,

podem ser duradouras e possibilitar ações, projetos e programas, que contribuam para

o desenvolvimento local sustentável de uma região.

Referências

Ashton, M. S. G.; Tomazzoni, E. L.; Emmendoerfer, M. (2014). Elementos para a

validação de cidades criativas como destinos turísticos competitivos. TURyDES

(Málaga), v. 7, p. 1-16.

Brasil, Ministério do Turismo. (2007). Programa de Regionalização do Turismo -

Roteiros do Brasil: Formação de Redes / Ministério do Turismo. Secretaria Nacional de

Políticas de Turismo. Departamento de Estruturação Articulação e Ordenamento

Turístico. Coordenação Geral de Regionalização. – Brasília.

Camarinha-Matos, L. M.; Afsarmanesh, H. (2000). Future smart-organizations: a virtual tourism enterprise. In: WISE 2000 – 1st ACM/IEEE International Conference on Web - Information Systems Engineering, v. 1 (Main Program), Hong Kong. Anais. Hong Kong: IEEE Computer Society Press. p. 456-461.

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Canton, A. (2009). Evento um potencializador de negócios. In Ansarah, M; Panosso, A (Org.). Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas. (p.197-212). Barueri, SP: Manole.

Lerner, J. (2011). Qualquer cidade pode ser criativa. In: REIS, A. C. F; KAGEYAMA, P, (orgs.). Cidades criativas: perspectivas - São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011.

Martinho, C. (2003). Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização. Brasília: WWF Brasil, 2003, 164p.

Murta, R. S.A. (2008). Patrimônio Material e Turistificação: um estudo sobre a Praça da Estação – BH/MG/ dissertação de mestrado. Centro Universitário UMA.

Novelli, M; Schmitz, B; Spencer, T. (2006). Networks, clusters and innovation in tourism: a UK experience. Tourism Management, Guildford, v. 27, n. 6, p. 1141-1146, Dec.

Scott, N; Cooper, C; Baggio, R (2007). Destination network: four Australian cases. Annals of Tourism Reaserch.

Tum, J.; Norton, P.; Wright, J. N. (2007). Management of Event Operations. In: Tourism Management. v. 28. Elsevier Heinemann, New York, p. 937-938.

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MANEJO E BOAS PRÁTICAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:

COM ÊNFASE NOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS

Alyne Albuquerque da Silveira1 Iara Lúcia Gomes Brasileiro2

Elaine Gomes Borges da Silva3

O mundo atual é movido por um modo de produção capitalista, por uma busca de desenvolvimento “a qualquer custo”, despreocupado com consequências e impactos. Montaner (2014) ressalta que o alto nível de consumo leva a esse tipo de problema, visto que não há um cuidado com aspectos sustentáveis. A cidade se torna espaço de grandes mudanças, de exclusão, despreocupação com o verde e com o outro. A sociedade do alto consumo não carrega os valores do desenvolvimento sustentável.

A relação desse consumo se dá também com o turismo, com a natureza, que está vinculada a diversas questões voltadas para o setor econômico, pois para a realização da atividade turística o ambiente representa uma fonte de negócios e investimentos. Até porque se não existir infraestrutura não existe o turismo. Daí a importância de criar alternativas para minimizar os impactos causados sobre o ambiente. Questionamentos sobre como fazer uso de um ambiente sem degradá-lo são levantados. Observa-se que o equilíbrio dessa relação resulta em fortes dificuldades na prática, sobretudo quando se constrói um empreendimento turístico próximo a áreas naturais protegidas, assim como a destinação de entulhos que são gerados.

Atualmente uma das maiores preocupações no mundo é com a preservação do meio ambiente. Nesta perspectiva, relacionam-se os resíduos que sempre estiveram presentes no cotidiano populacional e que são uma das principais problemáticas que merecem nossa atenção. O processo de urbanização é constante gerando o aumento no índice da construção civil, em que cada vez mais se constroem novos empreendimentos. Isso resulta em problemas ambientais para a sociedade, como a destinação final dos resíduos e entulhos gerados pela construção civil.

Há que se considerar os pilares do desenvolvimento sustentável preconizado no relatório Brundtland de 1987 (1991) “[...] aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem as suas necessidades e aspirações” difundido por autores como Sachs, Swarbrooke, Ruschmann, Azevedo e tantos outros preocupados com a manutenção da vida na terra.

1 Alyne Albuquerque da Silveira - Graduanda em Turismo do Centro de Excelência em Turismo da

Universidade de Brasília – CET/UnB. [email protected] 2 Iara Lúcia Gomes Brasileiro (Orientadora) – Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo –

USP, professora do CET/UnB. [email protected] 3 Elaine Gomes Borges da Silva - Mestre em Turismo e especialista em Gestão de Negócios Turísticos

pelo CET/UnB, professora, pesquisadora da EB Consultoria. [email protected]

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A construção civil é hoje o setor da economia que mais gera resíduos sólidos no Brasil. E a que mais desperdiça na utilização dos recursos naturais, o que acaba em pouca sustentabilidade para os empreendimentos, sendo motivo de diversas discussões quanto à necessidade de se buscar o desenvolvimento sustentável. Este tipo de desenvolvimento, de acordo com Bellen (2006), implica uma mudança evolucionária auto-organizativa e adaptativa constante. Quanto maior o número de diferentes alternativas inovadoras, melhor para o sistema, mais espaço avaliável. Os recursos devem ser utilizados correta e eficientemente com relação ao alcance das necessidades humanas.

O mundo tem sofrido transformações cada vez mais rápidas e intensas ao longo dos últimos anos. A quantidade de pessoas no planeta aumenta e as cidades se expandem. Com isso, a globalização vem se tornando cada vez mais a dinâmica do mundo atual. Nesse sentido, vários problemas em diferentes âmbitos surgem: um deles são os resíduos gerados para bens de consumo duráveis (edifícios, pontes, estradas, resorts e outros) e os não duráveis (embalagens descartáveis). Nesse processo, quase sempre se utiliza matérias primas não renováveis.

O interesse em conhecer a quantidade de resíduos gerados pela indústria da construção civil existe há muito tempo, muitas vezes introduzido na discussão da redução de desperdícios. A primeira referência nacional sobre essa questão, que suscitou um debate mais amplo sobre a temática, foi uma pesquisa realizada por Pinto (1989). O assunto tem gerado discussão acerca da real problemática, principalmente em relação ao despejo dos materiais (denominados como entulho de construção), e o desperdício dos recursos naturais, o que coloca a indústria da construção civil como parte da discussão dos aspectos ambientais. Vale ressaltar a dificuldade e escassez de locais para depositar os resíduos gerados, principalmente dentro dos centros urbanos, no que resulta a aglomeração de entulho, ocasionando transtornos à população e à própria imagem da cidade.

No entanto é importante ter uma destinação adequada desses resíduos como também o reaproveitamento e reciclagem dos materiais que sobram, como forma de contribuir e amenizar o impacto no meio ambiente até porque que já existe uma política de coleta segregada dos resíduos dentro dos canteiros de obras.

Desta forma, a reciclagem na construção civil pode gerar benefícios como: redução no consumo de recursos naturais não renováveis, quando substituídos por resíduos reciclados; e redução de áreas necessárias para aterro, pela minimização de volume de resíduos por meio da reciclagem. Destaca-se a necessidade da própria reciclagem dos resíduos de construção e demolição, que representam mais de 50% da massa dos resíduos sólidos urbanos (Pinto, 1999); redução do consumo de energia durante o processo de produção. Ressalta-se a indústria do cimento, que usa resíduos de bom poder calorífico para a obtenção de sua matéria-prima (co-incineração) ou a utilização da escória de alto-forno, resíduo com composição semelhante ao cimento; e, redução da poluição causada pela emissão de gás carbônico (John, 2000).

De acordo com a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Câmara dos Deputados, 2011), é praticamente consensual a necessidade de uma prática de sustentabilidade na construção. Nota-se a presença do discurso e da

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retórica ambiental na construção no que se refere à arquitetura, inclusive na administração pública, que cada vez mais admite incorporar os conceitos da sustentabilidade. Contudo, apesar dos discursos, ações políticas, projetos, ações e muita mídia, tem-se muito mais divergências e contradições do que convergências. Um primeiro ponto é que, se por um lado concordamos que deveríamos construir um mundo mais sustentável, por outro há uma série de divergências sobre como atingir esse objetivo. O primeiro questionamento frisa até que ponto os empreendimentos divulgados como verdes são de fato sustentáveis.

Uma grande referência internacional para a arquitetura sustentável é o selo criado pelo Green Building Council, o LEED – Leadership in Energy and Environmental Design, originalmente criado nos Estados Unidos. Os defensores do leed argumentam que essa seria uma maneira de certificar as edificações e garantir que elas estejam adequadas do ponto de vista ambiental. Inclusive esta certificação serve de paradigma para construções voltadas ao entretenimento e esporte e foi utilizada para nortear as obras dos estádios brasileiros para a Copa do Mundo FIFA 2014 (Da Silva, 2015). Encontra-se, ainda, nas orientações presentes no ‘Passaporte Verde’ que devem ser atentadas as práticas para meios de hospedagem que levem a reduzir o impacto ambiental de novos projetos e construções, visando a preservação do cenário natural, sua fauna, flora e a cultura local na arquitetura. Materiais naturais, técnicas construtivas de baixo impacto e baixo consumo energético devem merecer atenção por parte dos responsáveis pelas edificações e empreendimentos (PNUMA, 2009, p. 177)

Outros aspectos relevantes para reflexões que foram encontrados (Câmara dos Deputados, 2011) nesta pesquisa são até que ponto as edificações sustentáveis realmente seguem boas práticas em prol do meio ambiente ou se tornaram simplesmente propaganda e publicidade sobre um produto que tem muito mais influência que a própria natureza do produto e qual o lugar do projeto de arquitetura na promoção da sustentabilidade. Referências

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Análise dos Processos de Exclusão Socioeconômica no Sistema Turístico de Pirenópolis (GO)

Barbara Nascimento Rodrigues1

João Paulo Faria Tasso2

Mateus Reginato Sé3

Pirenópolis está localizado no leste goiano e pertence à Região Integrada de

Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE/DF) e à microrregião Entorno de

Brasília (IBGE, 2016). Sua localização, próxima às capitais Goiânia e Brasília, favorece o

contínuo fluxo turístico para a localidade. Ao todo, ele compreende sete Reservas

Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e o Parque Estadual Serra dos Pirineus,

inseridos na Área de Proteção Ambiental dos Pireneus. Além disso, o município

também conta com um patrimônio histórico cultural relevante, e com uma agenda de

eventos movimentada, algo que, somado aos feriados nacionais e regionais, reforça a

vinda de visitantes e a dinamização da economia local (CARVALHO, 2001; SILVA e

SILVA, 2011).

Em razão da construção da capital federal, que favoreceu a integração de novas

estradas, e com a intensificação da divulgação nos últimos 20 anos, a cidade começou

a ficar conhecida regionalmente pelo seu bucolismo, suas cachoeiras e suas trilhas

ecológicas, preservados pelo longo tempo de isolamento do município. Atualmente, a

localidade é reconhecida como um Destino Indutor pelo Ministério do Turismo (MTur),

devido a sua relevância no cenário turístico nacional, com infraestrutura básica e

atrativos qualificados para ser classificado como tal.

Decerto, o turismo contribui com uma porcentagem significativa do PIB nos

locais em que ocorre. No Brasil, segundo o Ministério do Turismo, o setor contribui

atualmente com 3,7% do PIB e gera 3,15 milhões de empregos (BRASIL, 2016). O

turismo também é capaz de favorecer outros impactos positivos, como estimular a

valorização do patrimônio natural e, assim, a conservação da biodiversidade local. Ele

também incentiva a criação de organizações sociais e produtivas, a crescente

profissionalização da mão-de-obra, a melhoria de serviços, equipamentos e

infraestruturas e a dinamização de economias locais (COSTA, 2009).

Referente aos fatores de desenvolvimento humano, em 2013, Pirenópolis

registrou um Índice de Desenvolvimento Municipal total de 0,719, considerado como

de desenvolvimento moderado. Os índices relativos à “saúde” e à “educação” também 1 Mestranda em Desenvolvimento Sustentável pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da

Universidade de Brasília (UnB) e Bacharela em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo da UnB.

[email protected] 2 Professor Adjunto do Centro de Excelência em Turismo da UnB. Doutor e Mestre em Desenvolvimento

Sustentável pela UnB, e Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

[email protected] 3 Graduando em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo da UnB. [email protected]

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se mantiveram na faixa de desenvolvimento moderado, ao longo dos anos de 2008 a

2013 (SISTEMA FIRJAN, 2014).

Contudo, o foco desta pesquisa se justifica pelo componente de “emprego e

renda” que, dentre todos os componentes do Índice Firjan de Desenvolvimento

Municipal (IFDM), é aquele com piores pontuações em todo o período avaliado. Tal

indicador é, justamente, aquele que afeta negativamente na soma do índice total. O

componente “emprego e renda” sofreu variações negativas, chegando a 0,3824 em

2011, atestando baixo desenvolvimento e, atualmente, se mantendo na faixa de

desenvolvimento regular, com 0.599 pontos, bem abaixo da linha de pontuação dos

demais componentes, que se mantiveram acima dos 0.700. Pirenópolis encontra-se

em 111º no ranking estadual do IFDM consolidado, e está acima da mediana brasileira,

de 0,6605.

Em relação à quantidade de empregos em Pirenópolis, dados do Cadastro Geral

de Empregados e Desempregados (CAGED) mostram que no ano de 2015 o saldo da

relação entre admitidos e desligados foi negativo, totalizando menos 698 empregos,

demonstrando, no município, um momento de grave instabilidade econômica e a

necessidade imediata de um plano de contensão dessa brusca queda na

empregabilidade.

Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS, 2014), baseando-se na

Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), nota-se a participação do

turismo, de forma significativa, devido às seguintes atividades: hotéis e similares (11%

- 417 atividades) e restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação

e bebidas (4% - 166 atividades). Dessa forma, os empregos no turismo representam

15% (583) diante das demais atividades econômicas do município.

Em especial pela última questão colocada, a retórica de crescimento econômico

e de geração de empregos por meio do turismo é, continuamente, usada por

instituições públicas e privadas. Muitas vezes ela não considera as consequências que

o fenômeno pode trazer às outras dimensões além da econômica.

Portanto, o objeto da pesquisa se concentrou no estudo sobre a relação entre o

potencial turístico do Município de Pirenópolis (GO) e os indícios de um cenário de

exclusão socioeconômica que o permeia. Dentre os variados impactos que o turismo

pode causar, o foco desta pesquisa está direcionado para um em específico: os

processos de exclusão social presentes na comunidade pirenapolina.

Entende-se por exclusão social os vários processos que acarretam na privação

de capacidades, e direitos fundamentais à vida digna de um indivíduo (SEN, 2000b).

Esses processos caracterizam-se por serem dinâmicos e, principalmente,

multidimensionais (NASCIMENTO in BURSZTYN, 2000; PNUD, 2009). Uma das formas

possíveis de se interpretar a exclusão social compreende o fenômeno como uma

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exclusão de direitos. Ou seja, um fenômeno que faz com que distintos grupos sociais

não se integrem ao mundo do trabalho, assim os excluindo de condições mínimas de

vida (NASCIMENTO, 2000).

Ainda que a exclusão social não se resuma ao mercado de trabalho, pela

sociedade atual considerar a inserção econômica como questão central no contexto

social, seus efeitos são sentidos de forma drástica no processo de “destruição dos

valores integrativos tradicionais” (DEMO, 1998, p.21).

Ao explorar a exclusão social por essa abordagem, é possível estabelecer uma

relação entre sua existência e a privação das capacidades dos indivíduos, por essas

dependerem da conversão da renda em bens necessários à sobrevivência (SEN,

2000b). Logo, o fenômeno traz limites ao desenvolvimento dessas capacidades,

inserindo os indivíduos de forma precária no sistema econômico, ao tempo que os

supre do acesso a um conjunto de bens sociais (POCHMANN, 2004; PNUD, 2009). A

partir dessa perspectiva, identifica-se o desemprego como um dos principais

determinantes da exclusão social (PNUD, 2009).

O turismo, visto como um fenômeno social com grande dinamismo econômico,

pode favorecer a mitigação desse problema por meio da geração de emprego e renda,

como já apontado anteriormente. Com o propósito de contribuir com a inclusão social,

em especial a inclusão socioeconômica, por meio do seu desenvolvimento, o turismo

pode se vincular com premissas éticas, e uma consciência crítica e cidadã. Esse fato

contribui para um planejamento mais participativo, que traz a comunidade para um

papel central nos processos decisórios de desenvolvimento local (IRVING et al., 2015).

O cuidado para que essa interpretação não seja apropriada de maneira

oportunista, como em alguns discursos e em algumas políticas públicas, é essencial. É

necessário o reconhecimento do processo excludente para que esse seja evitado na

prática do planejamento turístico, e para que o fenômeno possa se desenvolver em

padrões mais sustentáveis (NASCIMENTO & COSTA in IRVING et al., 2015).

Logo, torna-se fundamental a tentativa de compreender as diferentes

possibilidades de inclusão e exclusão junto às relações de poder no sistema produtivo

local de turismo. De tal forma, isso implica no pensamento crítico dos modos de

produção de uma sociedade com base nos ideais capitalistas de desenvolvimento

(CORIOLANO, 2005).

Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo identificar se o turismo age como

um fator atenuante ou agravante do cenário de exclusão socioeconômica encontrado

em Pirenópolis. Utilizou-se como base discussões apresentes em estudo prévio sobre

fatores de inclusão socioeconômica em destinos turísticos brasileiros (TASSO, 2014), a

fim de melhor entender se as evidências encontradas em outras regiões brasileiras,

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com relação aos obstáculos para a inclusão da comunidade no sistema produtivo local

turístico, de alguma forma, poderiam vir a ser semelhantes no destino de Pirenópolis.

Dessa forma, os procedimentos metodológicos desta pesquisa foram

estruturados por meio de abordagens simultaneamente exploratórias, qualitativas e

quantitativas. Além do levantamento bibliográfico e documental, e a busca de autores

de referência, foram realizadas quatro entrevistas semiestruturadas com atores locais

e grupo de atores representativos das diferentes esferas da comunidade local:

Conselho Municipal de Turismo (COMTUR); Sindicato dos Trabalhadores Rurais;

Universidade Estadual de Goiás (UEG); e com o ex-Secretário de Turismo (na gestão do

período de 2001 a 2004). Também foi feita a aplicação de questionários em modelo

survey junto à população local do centro histórico e de quatro povoados

circunvizinhos. No total foram aplicados 398 questionários (100%), seguindo um

cálculo amostral com base na expectativa da população em 2015.

Os resultados mostram que Pirenópolis, por suas características encontradas, à

primeira vista, aparenta conduzir o (ou ser conduzida pelo) turismo de forma

harmoniosa. Entretanto, alguns aspectos relacionados ao mercado de trabalho

turístico merecem maior atenção.

No esforço de identificar os fatores que impediram a efetivação do emprego na

área de turismo, a partir dos dados obtidos, destacam-se, segundo os entrevistados, a

“baixa escolaridade” (17,8%), seguido da “pouca capacitação técnica para o serviço”

(14,2%). Aqueles que conseguiram o emprego o devem, principalmente, por sua

capacitação técnica (24,0%), por meio da indicação por conhecidos (19,7%) e/ou pela

sua experiência anterior com o mesmo trabalho (23,0%).

De fato, em relação ao nível de escolaridade dos indivíduos entrevistados,

percebeu-se uma maior porcentagem de respondentes com, apenas, o ensino

fundamental incompleto, equivalente a 30,3% (119 respondentes) do total. Se

somados os respondentes com ensino fundamental incompleto e aqueles sem

escolaridade, a porcentagem amplia-se para 38,1% (150 entrevistados) do total. Este

dado gera indícios de um cenário que reflete o baixo nível de instrução formal da

população local, o que pode refletir sobre questões de inclusão socioeconômica,

apresentadas posteriormente.

Entende-se que a educação é um dos principais fatores responsáveis pela

elevação direta da qualidade de vida da população, sendo essencial para a eliminação

da vulnerabilidade de renda. Logo, quanto maior a inclusão na educação básica, mais

chances dos potencialmente pobres se afastarem de um quadro de exclusão social

(SEN, 2000a).

A falta de capacitação pode ser uma consequência do baixo nível de

escolaridade encontrado. Como o indivíduo não tem a escolaridade necessária para se

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capacitar a nível técnico ou superior, ele deixa de buscar uma oportunidade de ter

melhores condições de trabalho no setor turístico.

A baixa escolaridade relaciona-se também a outro indicativo de exclusão

encontrado: o alto índice de informalidade no emprego. De um total de 86

respondentes, que afirmaram trabalhar (ou terem trabalhado) no turismo, 44 (51%)

disseram não trabalharem com carteira assinada.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) “(...) rendimentos

baixos e irregulares e, frequentemente, a ausência de políticas públicas impedem o

indivíduo de investir na sua educação e adquirir as qualificações que lhe permitiriam

melhorar a sua empregabilidade e a sua produtividade (...)” (OIT, 2005. p.12).

A representante do COMTUR sustenta que tal cenário ocorre pela falta de

interesse do próprio trabalhador em estabelecer um vínculo empregatício com o

proprietário do empreendimento, na intenção de utilizar-se do tempo livre no final de

semana para fins de lazer pessoal. Esse fato, segundo a entrevistada, dificulta a

inserção formal (com carteira assinada e direitos garantidos) do indivíduo no setor, já

que pela sazonalidade típica de fins de semana e feriados, o empregador demanda

pessoas disponíveis nesses períodos.

Entretanto, ao longo da aplicação dos questionários, muitos moradores

relataram que isso ocorre não por motivos de busca por lazer pessoal, mas pela baixa

remuneração oferecida no setor. Para o trabalhador, segundo relatos de moradores

locais, é mais lucrativo trabalhar aos fins de semana nos eventos, e demais atividades

da cidade, de maneira informal, do que ter uma renda fixa insuficiente para sua

sobrevivência. A literatura mostra que a dinâmica turística, quando mal gerida, pode

favorecer a exploração excessiva dos recursos, tanto humanos quanto materiais, de

um destino (BURSZTYN, 2005; CORIOLANO,2006; COSTA, 2013).

Ainda nas entrevistas com o representante da UEG e com o Ex-Secretário de

Turismo, ambos sinalizaram a problemática do subemprego como recorrente no

município. Porém, eles possuem uma visão distinta sobre a situação. O representante

da UEG afirma que tal fato ocorre pelo aproveitamento de menores de idade para

trabalhar aos fins de semana, com a intenção de suprir a falta dos trabalhadores que

escolhem não criar um vínculo empregatício, considerando como algo negativo. Já o

Ex-Secretário entende que o subemprego ainda é mais benéfico do que a situação de

desemprego, frequente antes do desenvolvimento do turismo no município.

Entretanto, é válido lembrar que a principal justificativa para o esforço de se

formalizar o empregado é a garantia à proteção social e aos direitos do trabalhador.

Em uma escala maior, no cenário brasileiro, evidencia-se um alto índice de

descumprimento da legislação trabalhista, que é facilitado por meio de brechas legais

e pela falta de fiscalização (KREIN; PRONI, 2010). No cenário pirenapolino, não foi

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possível analisar tais aspectos, mas os relatos dos entrevistados do survey e da

entrevista com o representante da UEG apresentam situações de exploração da

comunidade, como a exploração infantil e cargas horárias de trabalho excessivas, e

merecem um aprofundamento.

Nas entrevistas com os representantes foram relatados ainda dois processos de

exclusão presentes no Município de Pirenópolis. O primeiro, relatado pelo

representante da UEG, diz respeito à expulsão da comunidade local de suas residências

localizadas no Centro Histórico da cidade, para venda e criação de empreendimentos

turísticos ou “casas de veraneio”. Portanto, favorecendo um processo de

marginalização da comunidade tradicional pirenapolina.

O segundo, relatado pela representante do COMTUR, diz respeito ao aumento

de preços na venda de produtos e na oferta de serviços à população local. Como o

município é constantemente visitado por turistas que possuem um poder aquisitivo

que sustenta esse aumento, os moradores sofrem um impacto desse hiato

inflacionário que ocorre, principalmente, nos fins de semana e eventos.

Portanto, a pesquisa mostra que, apesar do turismo ter uma relevância notória

na composição da economia local, os vários processos de exclusão social presentes

fazem com que o fenômeno não contribua de forma mais eficaz com a inclusão

socioeconômica da comunidade pirenapolina no sistema produtivo local de turismo.

Referências

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RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

NA HOTELARIA DE BRASÍLIA Josely do Carmo de Almeida1

O contínuo avanço tecnológico e a globalização fazem com que as empresas

busquem novas estratégias para o alcance de melhor posicionamento no mercado, no

entanto, apenas estratégias voltadas para investimentos tecnológicos e novas

estruturas organizacionais não fazem o diferencial para atender a exigência da

sociedade contemporânea. Assim, as empresas aderem às práticas e ações voltadas

para a responsabilidade socioambiental, que vão para além da administração

convencional. Este trabalho trata da avaliação da contribuição da responsabilidade

socioambiental na hotelaria de Brasília, tendo como recorte os hotéis do Plano Piloto,

da cidade de Brasília - Distrito Federal, no ano de 2016. Será utilizada a técnica de

pesquisa do tipo Estudo de Caso, por meio de um estudo quali-quantitativo, de nível

de profundidade exploratório e interpretativo. Será aplicado o Método Multicritério

de Apoio à Decisão - Construtivista (MCDA-C) – que possibilitará à pesquisadora a

análise das ações de responsabilidade socioambiental, a partir das informações dadas

pelos clientes da hotelaria.

Serão palavras-chave deste estudo: Hotelaria de Brasília – Responsabilidade

Socioambiental - Método Multicritério de Apoio à Decisão Construtivista – MCDA-C –

Stakeholders.

Com a globalização, a sociedade está mais consciente e exigente, assim, não é

mais o Estado o único responsável pelo fator socioambiental, as empresas são

chamadas a exercer, além do desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social e

ecológico de maneira responsável.

Segundo YOUNG (2004), “as empresas têm co-responsabilidade na solução dos

problemas sociais e ambientais, pois têm poder político e habilidade de mobilizar

recursos financeiros e tecnológicos para desenvolverem ações que podem ser

replicadas pelos outros atores sociais”.

Com seus clientes mais conscientes e mais exigentes, as empresas adotam

diversas práticas de gestão com Responsabilidade Social, ou apenas algumas ações que

nem sempre representam, exatamente, responsabilidade social e sim, apenas uma

mera filantropia pontual. O fato é que há uma grande pressão para a inserção de

práticas de responsabilidade social nos negócios das empresas de um modo geral.

1 Mestranda do Centro de Excelência em Turismo – CET/ Universidade de Brasília - UNB

ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria Elenita Menezes Nascimento.

E-mail: [email protected]

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Já existem diversos critérios para implantação e avaliação das práticas de

responsabilidade socioambiental, como: Norma Social – AS 8000; Accountability AA

1000; Global Compact; Indicadorres Ethos de Responsabilidade Social; e Prêmio ECO

Rio de Janeiro.

O objetivo desta pesquisa é avaliar a contribuição da responsabilidade

socioambiental na hotelaria, tendo como recorte os hotéis do Plano Piloto, da Cidade

de Brasília, Distrito Federal, no ano de 2016. Para isto será necessário a interação entre

sociedade, hotéis e pessoas relacionadas ao tema da pesquisa.

O setor hoteleiro de Brasília vem recebendo investimentos tanto de origem

nacional quanto internacional. Os principais hotéis localizam-se nos eixos específicos

para os hotéis e próximos aos três principais parques da cidade: o Parque da Cidade

Sarah Kubitschek, o Parque Nacional de Brasília, mais conhecido pelo apelido de "Água

Mineral" e o Parque Ecológico e de Uso Múltiplo Olhos d'Água.

O surgimento da hotelaria na cidade de Brasília se confunde com a história de

sua construção, uma vez que era necessário abrigar os profissionais que vieram e

atuaram no processo de soerguimento da cidade (SANTOS, 2005).

Atualmente, segundo dados obtidos pelo Cadastro de Meios de Hospedagem

do Ministério do Turismo, o Cadastur1 (2016), o Distrito Federal tem atualmente, um

número aproximado de 5.170 leitos, distribuídos em 3.522 quartos de 22 meios de

hospedagem, entre hotéis e flats, resort e pousadas.

Conforme informações do Relatório de Ofertas Turísticas do Distrito Federal,

elaborado pelo Observatório do Turismo no ano de 2015, os números do ministério

são muito menores dos que os divulgados pela Secretaria de Turismo. De acordo com

pesquisa interna realizada neste ano pela secretaria, o Distrito Federal conta com

31.439 leitos que estariam em 17.538 unidades habitacionais, situados em 228

equipamentos de hospedagem, considerando todos os meios de hospedagem

disponíveis, tais como hotéis, pousadas, apart hotéis e motéis, conforme apresentado

a seguir:

1 Disponível em: <http://www.cadastur.turismo.gov.br/cadastur/index.action#>. Acessado em:

14 out. 2016.

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Figura 1: Tipologia dos Meios de Hospedagem do Distrito Federal

Assim, será destacada a importância deste trabalho, tanto acadêmico como

social, para a implantação e manutenção da responsabilidade socioambiental no

mundo corporativo. A responsabilidade socioambiental está inserida no cotidiano de diversas empresas que englobam “além de interesses de proprietários, dirigentes e trabalhadores, ações que correspondam às responsabilidades de que está investida, dentre as quais: a qualidade intrínseca de seus produtos e as conseqüências de sua utilização; o padrão dos serviços prestados; proteção e preservação do meio ambiente, bem como os efeitos diretos de sua atividade sobre o bem-estar da comunidade” (KARKOTLI e ARAGÃO, 2008).

No contexto nacional podemos observar diversas iniciativas da sociedade civil

em busca de práticas de responsabilidade socioambiental, sejam elas filantrópicas ou

beneficentes, tais como Organização não Governamental - ONG, Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, Institutos ou Fundações sem fins

lucrativos. Como nos mostram Duarte & Dias, 1986:113: Como acontece no resto do mundo, o universo das empresas brasileiras, visto sob o prisma da responsabilidade social, apresenta um leque muito amplo de posturas. Há empresas que só conhecem as práticas do “capitalismo selvagem”, enquanto outras situam-se em posição avançada no contínuo de Responsabilidade Social. Felizmente para nossa sociedade, há muitas que pautam sua atuação por filosofias abertas ao interesse social (...).

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No cenário contemporâneo, diante do rápido avanço tecnológico, percebe-se a

incompatibilidade do rápido progresso com o desenvolvimento humano de maneira

igualitária, haja vista o contexto administrativo do Estado.

Neste sentido, também observa-se o consenso em garantir o bem-estar das

pessoas, com o surgimento de novas empresas fundamentadas numa política de

gerenciamento voltada à participação e inclusão social.

Assim, o acúmulo de experiências já praticadas pelo Estado e por empresas

voltadas à responsabilidade socioambiental, soma-se ao importante papel da

sociedade e do mundo acadêmico na discussão sobre a vida, os costumes, os desafios

e as possíveis ações para o desenvolvimento da responsabilidade socioambiental.

Pretende-se com esta pesquisa, numa área pouco explorada, a investigação

sobre a contribuição da responsabilidade socioambiental na hotelaria de Brasília, com

base na análise dos seguintes aspectos:

(a): fatores determinantes para as ações dos hotéis, em Brasília, na

adoção de práticas de responsabilidade socioambiental;

(b) histórico nacional sobre a inserção da responsabilidade

socioambiental nas empresas; e

(c): diferentes condutas (normas, indicadores, critérios )para aplicação

da responsabilidade socioambiental.

Observando a literatura existente sobre esse assunto, pode-se notar a baixa

quantidade de referências recentes que permitem compreender os atuais debates em

que se envolvem as questões do tema a ser abordado. Portanto, a pesquisa a ser

realizada, também terá como meta cobrir parte dessas lacunas, com base nos

referenciais teóricos e na metodologia a serem utilizadas.

Assim, é de suma importância a realização desta pesquisa, para saber se as

ações empreendidas na hotelaria de Brasília estão em consonância com as práticas de

responsabilidade socioambiental.

Referências Bibliográficas: ALVES, Magda. Como Escrever Teses e Monografias – Um roteiro passo a passo. Ed. Campus, 2ª Edição. DUARTE, Gleuso Damasceno e DIAS, José Martins. Responsabilidade Social: a empresa hoje. Rio de Janeiro; São Paulo: LTC – Livros Técnicos e Científicos: Fundação Assistencial Brahma. 1986. GARCIA, Joana. O Negócio do Social. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor. 2004. IBGE. As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil. Rio de Janeiro: 2004. INSTITUTO Ethos empresas e responsabilidade social. (Disponível em http:// www.ethos.org.br) KARKOTLI, Gilson e Aragão, Sueli Duarte. Responsabilidade social: uma contribuição à gestão transformadora das organizações. Petrópolis, RJ. Vozes, 2008. SANTOS, R. C. X. Perfil do setor hoteleiro do Distrito Federal. Brasília: SEBRAE/DF, 2005. VOLTOLINI, Ricardo (organizador). Terceiro setor: planejamento e gestão. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004. YOUNG, R. Dilemmas and advances in corporate social responsibility in Brazil: the work of the Ethos Institute. Natural Resourcers Forum, V.28, p- 291-301, 2004.

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TURISMO RESPONSÁVEL EM PARQUES: UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO NO PARQUE DA CIDADE SARAH KUBITSCHEK

EM BRASÍLIA 1 MESQUITA, Elielba Rosa Moura

2 DUARTE, Donaria Coêlho Palavras - chave: Turismo Responsável. Parque Sarak Kubitschek. Brasília.

1.0 INTRODUÇÃO O turismo pode romper barreiras e inovar no lazer recriando atividades nas

quais os indivíduos possam sentir-se livres de qualquer obrigação. Agindo com responsabilidade e coerência, os parques podem minimizar o estresse do dia-a-dia e ainda ajudar na preservação e conservação do espaço.

Segundo Beni (2012), o turismo é considerado uma indústria, mas se for feito com responsabilidade, poderá provocar um baixo impacto, sobre o ambiente e a cultura local, gerando, um turismo sustentável. Deve ser concebido e praticado como meio privilegiado de desenvolvimento, de aprendizagem das diferenças entre povos e culturas.

Desta forma o turismo tem uma importância social, por ser um espaço de encontro e de convívio para despertar as pessoas a descoberta de que os espaços urbanos equipados e conservados e, sobretudo animados para o lazer recreação e turismo, sem descuidar da acessibilidade, são indispensáveis para a qualidade de vida e se constitui um direito a todos.

Baseado nisto, é que se resolve descrever esse trabalho, para perspectivas de mudanças que venham trazer melhorias de segurança e conservação do patrimônio físico do Parque da Cidade Sarah Kubitschek, o qual vem sofrendo deterioração, comprometendo à infraestrutura e desagregando valores. Este é um dos maiores parques urbanos do mundo, com urbanismo de Lucio Costa, arquitetura de Oscar Niemayer e paisagismo de Burle Marx, o qual oferece diversas opções de lazer, (SETUR, 2015). Nesse sentido a problemática desse estudo é discutir até que ponto o turismo é feito com responsabilidade no Parque Sarah Kubitschek? Assim o objetivo geral do trabalho é analisar se as atividades que o Parque oferece estão sendo conduzidas dentro da responsabilidade. Justifica-se a realização desta pesquisa por esse parque concentrar uma alta procura, nas diversas categorias que o mesmo oferece, (SETUR/ DF, 2015). Este estudo pretende discutir se o turismo responsável pode ou não ser

1 Autor: Graduada em Turismo pela Faculdade Estácio Brasília em 2015/Atuou na secretaria de Saúde por mais de 30 anos/Aluna especial do Mestrado Profissional em Turismo do Centro de Excelência em Turismo da UNB 2016. E-mail: [email protected] 2 Autor: Mestre e Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Professora do Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de Brasília (CET/UnB). Coordenadora do Núcleo de Estudos em Turismo Responsável, Acessível e Sênior (Netras-All). Endereço para acessar CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/7361440038891329 E-mail: [email protected].

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visualizado no Parque da Cidade com iniciativas que se desenvolvam sustentavelmente, com foco de fazer para o outro, aproximando-o e englobando e apontando como está à estrutura do Parque e em consequencia a isso à sua acessibilidade. Portanto, os turistas querem qualidade nos serviços e produtos. O turismo transforma uma comunidade ou cidade, positiva ou negativamente. Ele não abrange somente o fenômeno em si, mas todos os serviços e produtos que permitem sua ocorrência com responsabilidade, como turismo responsável em áreas de parques.

Metodologicamente a pesquisa baseia-se na abordagem qualitativa que inclui a realização de entrevistas, foram entrevistadas 2 pessoas, as quais ocorreram no dia 21 de outubro de 2015, com a assessora da administração do Parque e a gerente de eventos do Parque. A coleta de dados com informações fornecidas por servidores do Parque ocorreu dia 11/10/2015. Utilizou-se na pesquisa referências primárias e secundárias, como consultas aos acervos da Secretaria do Turismo (SETUR), consulta a livros, bibliotecas on-line, site do Governo do DF, pesquisas em artigos científicos, e a observação direta no local que tem como principal objetivo explorar as relações existentes, entre o turismo praticado no destino e os princípios da responsabilidade.

2.0 A RESPONSABILIDADE SOB A ÓTICA DO TURISMO O turismo pode ser entendido de várias formas, estabelecendo relações em

diversas áreas, busca aproximação com o lazer, e possibilita trazer benefícios, já que o lazer tem a capacidade de sustentação do corpo e mente.

A sustentabilidade pressupõe uma conexão da humanidade com outros elementos do ecossistema natural. Assim lazer recreação e turismo é a descoberta da responsabilidade para a conservação. O turismo responsável deve ser sempre com ações de equilíbrio que levem ao desenvolvimento sustentável. Segundo Beni (2012), a adaptação para a mudança, inclui também a reciclagem dos recursos naturais, culturaise sociais. O gerenciamento para a mudança é imprescindível, planejamento, monitoramento, avaliação e controle e isto não tem sido prática corrente em nossas destinações turísticas.

Assim, estas questões de responsabilidade, dizem respeito a toda uma sociedade organizada como um todo, as quais devem participar e se comprometer com os resultados decorrentes dos projetos turísticos. (MTUR, 2007).

Uma das preocupações do turismo responsável refere-se ao zelo com as pessoas com mobilidade reduzida, nesse sentido entende-se que a execução de obras, devem estar adequadas as normas, sem a necessidade de refazê-la, de acordo com (guia de rodas 2015), a não promoção da acessibilidade no momento atual, poderá resultar em despesas maiores, em contraposição, aos princípios da eficiência e da economicidade.

Entende-se que o crescimento do turismo é uma realidade e as pessoas desfrutam cada vez mais, mas, é preciso que as sociedades se organizem e proporcione o acesso às necessidades básicas e os desejos, de todas as pessoas sem distinção. De acordo com o decreto federal 5.296/2004, deve ser observado no planejamento e urbanização dos parques, o rebaixamento das calçadas com rampas acessíveis e instalação de piso tátil direcional e de alerta para pessoas com mobilidade reduzida

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Concordando, com o MTUR (2007), considera que é possível um turismo mais justo e sustentável como acontece em vários lugares do mundo. As possibilidades de crescimento equilibrado existem e as novas tecnologias devem privilegiar a vida sem distinção.

3-TURISMO EM ÁREAS DE PARQUES Na atualidade vive-se fugindo da agitação e stress que geralmente está

presente nas cidades, com isso, indo a procura de paz e sossego em locais de áreas verdes como os Parques. Para Pena (2002) planejar e administrar sustentavelmente o uso do solo permitirá o crescimento da cidade de forma ordenada, assegurando reservas protegidas de espaços ecológicos, evitando a extinção de espécies da fauna e da flora, criando unidades de conservação, como é o caso dos Parques.

O meio urbano nem sempre é sustentável provocando assim alterações no ambiente das cidades, desta forma está aí a importância dos Parques.

Um Parque deve ter uma área relativamente extensa e respeitar algumas condições. Segundo Brito (2000), que os sistemas não devem estar materialmente alterados pela exploração e ocupação humana, e, onde espécies da fauna e flora estejam protegidos em seu habitat, para interesse científico, educacional e recreativo e que contenham paisagens naturais para serem contemplados. Segundo o autor o poder público deve tomar medidas preventivas para evitar a exploração e a ocupação da área mantendo assim a integridade natural que justifique seu estabelecimento.

4-- RESULTADO DO ESTUDO Os dados analisados na pesquisa foram à responsabilidade sob a ótica do

turismo, turismo em áreas de Parques e por fim o estudo de caso no Parque da cidade Sarah Kubitschek. Foi feito visita ao local e verificou-se a evolução de cada caso, a infraestrutura e conservação do patrimônio físico do Parque e também ações que estão sendo tomadas para futuras mudanças. De acordo com os resultados da pesquisa, observou-se que o local é grande em extensão, para conhecê-lo totalmente deve fazer por etapas. É um local arejado, com pistas de caminhadas quase todas arborizadas, alguns locais com bebedouros e outros abandonados. Algumas pistas de atletismo e caminhada foram duplicadas recentemente, devido às paraolimpíadas, as quais foram adaptadas rampas de acessibilidade em vários pontos, como também piso tátil, e, banheiros específicos para mobilidades, Mas também há equipamento e atrativos que se deterioram com o uso e não recebem manutenção, placas de sinalização enferrujadas, há falta de lixeiras em alguns locais, gerando acúmulo de lixo. Segundo a assessoria do Parque. Em entrevista realizada em (2015):

A Administração cuida da manutenção com muita dificuldade, inclusive conta com a mão de obra dos presidiários para fazer a limpeza, mas a população é a primeira a depredar o Parque, arrancam torneiras, mesmo com lixeiras jogam lixo fora do lugar. A população tem que ajudar cuidando, e sabemos que três coisas são necessárias ao Parque: limpeza, segurança, iluminação.

Ainda nesta entrevista a assessora comenta que estão sempre tentando tomar medidas que minimizem a insegurança e que o policiamento oferece um suporte aos

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vigilantes, o Parque é aberto 24 horas, mas os estacionamentos são fechados à meia noite, este parque é muito amplo e qualquer policiamento se torna insuficiente. Segundo ela a tenente coronel Sheila do 1° batalhão é a responsável pelo policiamento do Parque, mas que infelizmente não se consegue o controle de todo o Parque, por abranger várias entradas para outros locais, como Sudoeste, Asa Norte, Asa Sul, Setor de Industrias Gráfica, ficando difícil o policiamento atingir todas as áreas. Assessoria, (2015).

O governo está tentando abrir um projeto para que seja feito um estudo, em que as empresas privadas se apresentem e assumam as partes que estão sem manutenção e sem uso. As famílias levam as crianças para aproveitarem os brinquedos infantis, como o Parque Ana Lídia, que passou por uma revitalização. Para minimizar recursos, aproveitou-se os brinquedos antigos, fazendo com que ficassem com aparência de novos. As crianças ao que parece adoram, está sempre cheio aos finais de semana.

No dia 09 de outubro de 2016, inauguraram brinquedos para crianças com mobilidade reduzida. É desta forma que se caminha para o sucesso de realizar a conservação de bens patrimoniais, gerando um cidadão mais consciente da conservação e preservação e adaptação importando- se com a preservação, através de reciclagens, reaproveitamento, mudando assim a cultura de que tudo é infinito. Devemos ser parceiros, com ações integradas. A sociedade tem que ser sensível em relação aos bens patrimoniais, sem que necessite ser coagido, partindo de uma concepção de que todos têm direitos iguais, com livre acesso em todos os aspectos.

5- Considerações Finais De acordo com a observação direta no local, questionários e entrevistas,

verifica-se que o Parque Sarah Kubitschek oferece atividades de lazer e recreação diversificados, embora alguns sem uso por falta de manutenção. Mas, que de um modo geral as pessoas estão presentes, não levando em consideração os atrativos que vão deixando de existir por surgirem outras opções. O Parque é provido de uma natureza em espécie de cerrado que escondem diversidades da fauna e flora, dando mais qualidade de vida à área urbana em que está inserido, não necessitando que o morador ou turista daquela área se desloque para longe.

Evidenciou que para se obter um turismo bem sucedido tem que haver a relação com à melhoria da infraestrutura e de equipamentos urbanos respeitando às pessoas com mobilidade reduzida. Ações foram tomadas com relação à melhoria da acessibilidade, mesmo que essas ações tenham sido feitas, por razão das paraolimpíadas 2016, mas ficou como bom legado para que todos possam usufruir com liberdade, sem barreiras constrangedoras. Os pontos negativos é uma exigência para não depredar e sim refletir que, todos, temos obrigação de zelar pelo patrimônio ou espaço. O governo está abrindo um projeto de parcerias com as empresas privadas, fazendo concessões para cuidar destes equipamentos públicos, para tornar o Parque mais atraente e acessível, quem sabe tão conhecido como o Central Park em Nova York.

As sociedades contemporâneas precisam ser fundamentadas no humanismo e no conhecimento cientifico direcionado ao desenvolvimento dos recursos que dê

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acesso a todos. Deve-se evidenciar que um turismo bem sucedido relaciona-se à melhoria da infraestrutura e de equipamentos urbanos; o respeito às pessoas com mobilidade reduzida com treinamento de recursos humanos, à comunidade bem informada, participativa e amigável, a defesa dos interesses locais e a preocupação com as localidades do turismo de inserção das mesmas.

Referências

BENI, Mário Carlos (2012). Planejamento Estratégico e Capacidade de Gestão. Ed. Manoele, SP

BRITO, Maria Cecília Wey (2000).Unidade de Conservação – Intenções e Resultados. FAPESP – São Paulo, Annablum

DIAS, Reinaldo (2005). Introdução ao Estudo do Turismo. São Paulo, Atlas

BITTENCORT, Pedro de Alcântara. STIGLIANO, Beatriz Veroneze (2007). RAIMUNDO Sidnei. NUCCI, João Carlos. Ecoturismo. Coordenação Regina Araújo de Almeida ... [et al.], Ed. Rev e Amp, São Paulo, IPSIS

MAHFUZ, Bruno, BELDI, Leandro e R., Otávio. Aplicativo Guia de rodas para cadeirantes. Recuperado em 28/09/2016 de https://www.youtube.com/watch?v=-H1vcSogQo4.

Ministério do Turismo. Manual de Orientações para Cadastramento dos Prestadores de Serviços

Turísticos no Ministério do Turismo (2011). Recuperado em 25/10/2015de HTTP://Cadastur.turismo.gov.br. pdf

PEÑA, Ricardo S. Sánchez (2002) Ed. IEEE, Virtual. Recuperado em 19/09/2015.

Secretaria de Turismo do Distrito Federal. Centro de Atendimento ao Turista. Recuperado em: 15/10/2015 de <http:www.setur.df.gov.br/visite-brasília/centros-de-atendimento-ao-turista/item/2041.

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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E EVENTOS NO BRASIL: Rumo à sustentabilidade

1 Ângela Araújo Gomes

2 Valéria Gentil Almeida 3 Thamyris Andrade

Pereira (2010) assegura que “evento sustentável” é aquele que agrega os

princípios da sustentabilidade em seu planejamento e organização; já para Yeoman (2006), a sustentabilidade nos eventos está pautada nos benefícios para a comunidade anfitriã. Ao abordar a temática de sustentabilidade, por se tratar de um termo que possui uma amplitude extensa, é importante identificar objetivamente as suas dimensões econômicas, sociais e ambientais em sua estreita correlação. Sachs (2007) destaca que a sustentabilidade em questão deve ser pautada em cinco dimensões: ecológica, social, econômica, cultural e geográfica ou espacial. A escolha concreta da dimensão a ser utilizada para fins de pesquisa é variável conforme o ambiente escolhido e a interpretação de cada pesquisador, referindo-se neste caso aos eventos.

As ações sustentáveis devem ser aplicadas conforme a realidade do local, com o enfoque no alcance dos objetivos e interesses comuns, envolvendo dimensões ecológicas, econômicas e sociais na busca de ações que promovam um desenvolvimento a curto, médio e longo prazo. De acordo com Fontes (2008), podem ser desenvolvidas ações com as dimensões de sustentabilidade ambiental, econômica, política, social e cultural.

Segundo Zanella (2008), os impactos positivos dos eventos em determinada localidade podem ser classificados como: geração de empregos, principalmente na utilização de mão de obra de baixa qualificação; contribuição para a estabilidade econômica local, aumento da taxa de ocupação hoteleira no período de baixa estação, incremento da arrecadação de impostos e tributos, promoção da melhoria dos serviços de infraestrutura da localidade sede e diversos benefícios para a comunidade como um todo.

Dentre os impactos negativos gerados por eventos na localidade sede destacam-se: acúmulo de pessoas dentro de um espaço no mesmo período; engarrafamentos; utilização de espaços públicos e vias de acesso como áreas de estacionamento; poluição sonora e visual; especulação imobiliária; geração de lixo; desvalorização da cultura local; violência; alteração no cotidiano da população local, e similares (Zanella, opt. cit.).

1 Mestra em Turismo pelo Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília. Bacharel em

Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Doutora e Mestra em Desenvolvimento Sustentável pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da

Universidade de Brasília e Phd Visiting Student at Johns Hopkins University. 3 Mestre em Turismo, área de Cultura e Sustentabilidade no Turismo, pela Universidade de Brasília –

UnB. Professora e pesquisadora na Universidade Federal do Tocantins - UFT. Email:

[email protected]

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Neste contexto, um dos principais impactos negativos é o volume de resíduos gerados em eventos, quais sejam folders, cartazes, banners, lonas, papéis, copos descartáveis e os demais itens usados antes e durante o evento, que não terão mais utilidade depois deste. Para Mortean (2010), os resíduos gerados devem ser gerenciados para que possam ser coletados, separados corretamente e encaminhados para reciclagem.

Atualmente a palavra “lixo” vem sendo substituída tecnicamente pelo termo “resíduos”. O “lixo” está associado à inutilidade, àquilo que não serve mais, enquanto o “resíduo” remete a uma nova utilização de determinados produtos (Zaneti, 2006, p. 37). Os resíduos devem ter um processo adequado em todo o seu ciclo, desde a sua geração até o seu destino final, sem agredirem a natureza. A destinação correta dos resíduos é uma das preocupações sociais discutidas ao longo dos anos. Um exemplo disso foi a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92, com a Agenda 21 que buscava soluções para os problemas ambientais.

Em comemoração aos 20 anos da ECO-92, aconteceu no Rio de Janeiro em 2012 a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a RIO+20, onde foram discutidas as ações desenvolvidas pelos países participantes e apresentadas novas perspectivas. Durante a conferência foi apresentado o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos da Rio+20 (PGRS) que estabeleceu princípios e diretrizes de sustentabilidade em eventos, considerado com um marco para organização de eventos sustentáveis. Esse documento pretende auxiliar na organização de futuros eventos, principalmente no que se refere à gestão de resíduos sólidos e à integração de práticas de sustentabilidade. A importância do Plano é destacada em um dos seus objetivos, que prevê “deixar um legado de sustentabilidade para execução de grandes eventos na cidade do Rio de Janeiro e no âmbito da ONU” (Brasil, 2012, p.21).

O PGRS Rio+20 aponta os seguintes indicadores para uma avaliação de sustentabilidade em eventos: “perfil e quantidade de público; quantidade total de resíduos gerados; quantidade de resíduos recicláveis, não recicláveis e compostáveis; metas estabelecidas e atingidas; além das destinações utilizadas” (Brasil, 2012 p. 20). Também estabelece uma estimativa de volume de resíduos gerados em dado evento, levando-se em conta o número de participantes, a duração da programação por dia e a quantidade diária de resíduos domiciliares na localidade sede.

Em relação à classificação dos resíduos, o Plano separa os eventos que agregam o setor de gastronomia, o preparo de alimentos, vendas e degustação de produtos alimentícios, dos que não agregam esse setor, conforme tabela 1. A separação ou triagem dos resíduos gerados é essencial para a recuperação e a reutilização destes. Após a triagem, eles são encaminhados para a reciclagem, sendo posteriormente utilizados como matéria-prima para a fabricação de novos produtos, e a compostagem que se traduz na obtenção de um material orgânico usado na agricultura (Cunha e Filho, 2002).

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Tabela 1: Quantidade de resíduos indicada pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos da Rio+20

Tipo dos Resíduos Eventos com área de

Alimentos&Bebidas

Eventos sem área de

Alimentos&Bebidas

Envio para reciclagem 40% 40%

Não reciclável 50% 60%

Compostável 10% -

Fonte: Brasil (2012 p. 33)

O PGRS RIO+20 (2012) estabelece, outrossim, as principais diretrizes para o desenvolvimento da gestão de resíduos sólidos em eventos.

Faz-se necessário ressaltar a importância de dois tópicos no processo de gestão de resíduos sólidos, a saber: (1) participação da comunidade local, notadamente das cooperativas envolvidas com a coleta seletiva e reciclagem dos resíduos gerados no decorrer de determinado evento, e (2) realização de pesquisas relativas a esse processo.

O papel de cooperativas de catadores em eventos é de suma importância para garantir uma correta gestão de resíduos. Gentil (2008) e Araujo (2011) caracterizam-nas como mão de obra especializada para a execução das atividades definidas na gestão: os catadores tratam os resíduos como uma fonte de renda, possuindo conhecimentos específicos quanto à separação e triagem dos resíduos e ações de reciclagem, o que contribui para o desenvolvimento social e econômico de suas cooperativas e para a adequada reciclagem dos resíduos.

Para Nery (2008), as pesquisas sobre gestão de resíduos em eventos ainda são restritas. Entretanto, ressalta-se a importância desse tipo de pesquisas no intuito de promover a redução e a reciclagem dos resíduos, assim como a participação da comunidade local com a respectiva geração de empregos, e de garantir, dentro de um contexto mais amplo, uma maior sustentabilidade ambiental, econômica e social. ANÁLISE DOS DADOS

Diante dessa abordagem, vale destacar os principais eventos realizados no Brasil nos últimos 5 anos, destacados no Plano da Rio+20 e resumidos na Tabela 2, bem como identificar a quantidade de resíduos sólidos gerados e as ações desenvolvidas para a redução do impacto ambiental.

Tabela 2: Principais eventos realizados no País, destacados no Plano da Rio+20 (2012), e a quantidade

total dos resíduos gerados e ações desenvolvidas.

EVENTO VOLUME TOTAL DE RESÍDUOS

AÇÕES DESENVOLVIDAS

Jogos Pan Americanos

(2007)

761 toneladas

- Coleta e triagem dos resíduos perigosos para produção de sabão e detergente; - Recolhimento e tratamento do óleo de cozinha para produção de sabão e detergente; - Transformação do esterco produzido em instalações do Hipismo em fertilizantes, sendo utilizado na adubação de jardins e parques públicos; - Uniformes da força de trabalho e voluntários feitos de tecidos cuja composição contém 50% de plástico reciclável e 50% de algodão;

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- Dentre outras ações.

SWU (2010)

52 toneladas

- Coleta e triagem dos resíduos coletados; - Estruturas construídas com tampinhas de garrafa, latas, garrafas de plástico, garrafas de vidro; - Mobiliário confeccionado com material reciclado; - Tinta utilizada à base de água; - Dentre outras ações.

Rock In Rio (2011)

318 toneladas

- Coleta e triagem dos resíduos coletados; - Uso de materiais reciclados ou recicláveis; - Sinalização dos coletores identificados por meio de adesivos com o nome “reciclável” e “não reciclável”; - Móveis e decoração da área VIP; - Dentre outras ações.

Fonte: Silva (2012); Gomes (2014).

A Tabela 3 sintetiza os dados apresentados acima, referentes a cada evento, a quantidade de resíduos gerados e sua caracterização.

Tabela 3: Eventos pesquisados e resíduos gerados.

EVENTO TOTAL DE RESÍDUOS TIPO DE RESÍDUOS

Reciclável Não reciclável Orgânico

Jogos Pan Americanos 2007 761 toneladas 12,2% 74,5% 13,3%

SWU 2010 52 toneladas 53% 46% 1%

Rock In Rio 2011 318 toneladas 25% 54% 21%

Fonte: Gomes e Gentil (2014).

Considerando a diretriz estabelecida pelo Plano de Gestão de Resíduos Sólidos

da Conferência Rio+20 e referente à porcentagem da classificação dos resíduos gerados em eventos, destaca-se que dos três eventos analisados somente o SWU se enquadra como um evento que possui premissas de um evento sustentável. CONSIDERAÇÕES

Há no Brasil a necessidade de uma gestão de resíduos sólidos urbanos em mega e grandes eventos que seja eficaz e eficiente e esteja de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A sustentabilidade em eventos é um aspecto ainda pouco discutido entre os organizadores, motivo pelo qual o desenvolvimento das respectivas estratégias ambientais anuncia-se como imprescindível. Um dos principais documentos que norteiam a pesquisa científica nessa área é o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos (PGRS) elaborado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada em 2012 no Rio de Janeiro. Esse documento foi utilizado como a fonte chave do presente estudo no qual se destacam a quantidade de resíduos gerados e as ações desenvolvidas para a gestão de resíduos sólidos nos Jogos Pan Americanos de 2007, SWU de 2010 e Rock In Rio de 2011. Com base nas diretrizes estabelecidas pelo PGRS da Rio+20, pode-se concluir que, dos três eventos analisados, somente o SWU pode ser considerado como um evento que apresenta um perfil de sustentabilidade. Dessa forma, cabe aos organizadores e participantes assumirem a responsabilidade ambiental em relação aos eventos futuros, tomando atitudes que minimizem os impactos ambientais causados pelos eventos. Os mais diversos problemas (concentração de muitas pessoas com um perfil social, econômico e educacional diversificado no mesmo espaço, falta de planejamento quanto à gestão de resíduos gerados durante o evento e, finalmente, desconhecimento dos impactos que

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este pode causar à localidade sede, entre outros) precisam ser abordados para a implantação das práticas sustentáveis que permitirão reduzir ao mínimo os impactos negativos provocados por “comportamentos pouco amigáveis” com o meio ambiente. Referências Bibliográficas

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A importância do turismo sustentável para o alcance dos objetivos das áreas protegidas

Paula Gomes1 Nathália Garay2

André Cunha3

Atualmente, usamos mais recursos naturais do que o planeta é capaz de

fornecer, isso vem gerando uma imensa crise ambiental e consequentemente levando

a uma preocupação e mobilização de parte da sociedade para enfrentá-la (Primack &

Rodrigues, 2002; WWF, 2016). Isso resulta em ecossistemas entrando em colapso,

exaustão de bens e serviços ambientais, e cada vez mais espécies são ameaçadas

devido à destruição, fragmentação e degradação de habitat, introdução de espécies

exóticas, caça predatória, e recentemente também às mudanças climáticas globais

(Hoffmann et. al., 2010; WWF, 2016).

Para mitigar as consequências dessa crise, a ideia do desenvolvimento

sustentável surgiu como uma resposta ao problema da degradação ambiental, causada

pelo modelo econômico atual. O conceito de desenvolvimento sustentável nasceu na

década de 70, e em 1972 houve a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente - PNUMA e a Conferência de Estocolmo. Ali nasceu o conceito de

ecodesenvolvimento e gradativamente se tornou desenvolvimento sustentável (Sachs,

2002).

O grande marco se deu, quando publicado o Relatório Brundtland, o qual

apresentou um novo olhar sobre desenvolvimento, definindo que o ideal é o processo

que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações

futuras de suprir suas próprias necessidades”. O Relatório aponta para a

incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e

consumo, trazendo à tona mais uma vez a necessidade de uma nova relação “ser

humano-meio ambiente” (WWF, 2016).

Por isso, o desenvolvimento sustentável pressupõe uma estratégia de

desenvolvimento que não se baseia em uso predatório da natureza (Costa, 2005). É um

conceito que leva em conta o meio ambiente e comunidades locais, representando

uma nova forma de desenvolvimento econômico, que sugere a qualidade em vez da

quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da

1 Mestranda em Turismo. Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (CET/UnB). E-

mail: [email protected]. 2 Mestranda em Turismo, Bacharel em Administração, Bolsista FAP/DF. E-mail: [email protected].

3 Doutor em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, UFMG. Professor Adjunto do Instituto de

Biologia do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (IB/ECL/UnB), do Centro de Excelência em Turismo CET-UnB, e do Centro de Estudos do Cerrado – Centro UnB Cerrado. E-mail: [email protected].

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reutilização, da reciclagem e da preocupação com as comunidades locais e questões

sociais.

Assim, fundamentalmente, o desenvolvimento sustentável tem como questão

inerente a conciliação do desenvolvimento econômico com as necessidades de

preservar o ambiente, distribuir riquezas e utilizar os fluxos e fundos naturais a longo

prazo (Binswanger, 1999).

Em meio à crise da biodiversidade atual, e todas as consequências danosas

advindas da sociedade moderna, alguns segmentos do turismo, principalmente os

tipos voltados para a natureza, tem sido promovido como uma atividade capaz de

conciliar a conservação da biodiversidade, a sensibilização da sociedade com relação às

questões ambientais e o desenvolvimento de alternativas econômicas que beneficiem

a manutenção das áreas protegidas e as comunidades (Rodrigues, 2009).

Observando esse enfoque ecológico, durante as últimas décadas surgiram

muitos termos que contemplam o turismo em áreas naturais, como: turismo de

natureza, turismo sustentável, turismo responsável, turismo verde, turismo de base

comunitária, ecoturismo e outros.

Destaca-se o turismo sustentável que está intrinsecamente ligado ao

desenvolvimento sustentável, é alicerçado nos mesmo pilares, visando atender as

dimensões social, econômica, ambiental e política. Segundo Hunter, é o turismo que

contribui para o desenvolvimento sustentável do destino em que ocorre (Hunter,

1997). O turismo sustentável pode ser definido como aquele que desenvolve as suas

atividades de forma a minimizar os impactos ambientais e sociais negativos e a

maximizar os positivos.

Por isso, o turismo sustentável deve fazer um uso ótimo dos recursos naturais

que constituem um elemento chave no desenvolvimento do turismo, de forma a

manter os processos ecológicos cruciais e ajudar na conservação da biodiversidade;

respeitar a autenticidade das comunidades locais, conservar as suas heranças culturais

construídas e os valores tradicionais, contribuindo para a existência de um espírito de

compreensão intercultural e tolerância; e assegurar operações econômicas viáveis no

longo prazo, de forma a providenciar benefícios socioeconômicos a todos os

stakeholders, pessoas ou instituições envolvidos no processo. Estes benefícios devem

ser distribuídos de forma justa, e devem ser considerados essenciais a criação de

empregos estáveis e a contribuição para o alívio da pobreza nas comunidades locais

(OMT, 2003).

Paralelamente, ressalta-se que as questões de conservação estão na vanguarda

da opinião pública (Wearing & Neil, 2014). O autor Keith Thomas (2010) afirma que

estamos passando por uma mudança de atitude do homem com os ambientes

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naturais, onde deixa de vê-las com algo rústico e selvagem e passa a enxerga-las como

um refúgio de beleza natural e espiritual.

Nesse contexto, o turismo em áreas protegidas vem emergindo mundialmente

como estratégia de desenvolvimento, de conservação e preservação da natureza

(Goodwin, 1998; Niefer, 2002). Por isso, a criação de áreas protegidas, como parques e

reservas tem sido um dos principais elementos da estratégia para conservação da

biodiversidade (Diegues, 2008), resultado de políticas públicas direcionadas à proteção

e uso sustentável do meio ambiente.

No Brasil, as áreas protegidas adquiriram certo reconhecimento no decorrer do

século XX, antes disso, o País se focava somente no que fosse economicamente

relevante, como o cultivo de madeira e a produção de minérios (Medeiros, Irving &

Garay, 2004).

Essas áreas têm como ideal a preservação de ecossistemas naturais de grande

relevância ecológica e beleza cênica, a realização de pesquisas científicas e o

desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação

em contato com a natureza e de turismo ecológico (Brasil, 2000).

Atualmente, as Unidades de Conservação Brasileiras, tipo de área protegida,

são organizadas a partir da regulamentação da lei federal n° 9.985/2000 que instituiu o

SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação, estabelecendo critérios e

normas para a criação, implantação e gestão das Unidades. A existência de objetivos

diversos de conservação entre os variados tipos de UCs determinou também a criação

de categorias distintas que, devidamente ordenadas, fossem capazes de alcançar a

totalidade dos objetivos nacionais de conservação (WWF, 2016).

De acordo com o uso que lhes são permitidos, há dois grupos de UCs, um

engloba as categorias de Uso Sustentável, que visam conciliar a conservação da

natureza com o uso sustentável dos recursos naturais (Brasil, 2000). O outro o grupo

engloba as UCs de Proteção Integral, que têm por meta preservar os recursos naturais,

de modo a manter os ecossistemas livres da modificação provocada pela ação

humana, restringindo a exploração e o proveito dos recursos naturais, às atividades

econômicas sem a extração de bens ou produtos, como, por exemplo, a visitação

(Brasil, 2000). Os Parques Nacionais, categoria de Proteção Integral, objetivam a

preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica,

possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades

de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de

turismo de natureza (Brasil, 2000).

A viabilidade do turismo como instrumento de conservação depende de um

entendimento das expectativas dos turistas, a adequação do turismo na área visitada,

e a capacidade dos gestores do parque para fornecer uma experiência de alta

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qualidade ao mesmo tempo minimizando os potenciais impactos negativos da

visitação (Eagles & Hillel, 2008), e aliado ao planejamento de políticas públicas pode se

tornar uma estratégia eficaz para manutenção de tais áreas.

Assim, a visitação pode incrementar a renda dos Parques Nacionais por meio de

diversificadas modalidades, como a cobrança de taxas de ingressos e atividades

recreativas, utilização de instalações, como camping, estacionamento e abrigos,

concessão de serviços, venda de alimentos e de mercadorias e doações dos visitantes

(Geluda, 2010).

Os debates a esse respeito têm se concentrado em melhorar a sustentabilidade

financeira dessas áreas, o que denota a capacidade de garantir recursos financeiros

suficientes, estáveis e de longo prazo. E assim, reparti-los em tempo hábil e de forma

adequada, para cobrir os custos totais das áreas protegidas e garantir uma gestão

eficaz e eficiente quanto à conservação e demais objetivos ambientais (Emerton et al,

2006).

O problema essencial das áreas protegidas é a baixa atratividade política de

destinar recursos para um setor cujos benefícios ocorrem no longo prazo e tendem

muitas vezes a ser percebidos pela sociedade como de pouca relevância. Os governos

não têm instrumentos gerenciais adequados para administrar atividades que

requerem doses elevadas de agilidade, flexibilidade e criatividade (Riva et al., 2014).

No Brasil, as UCs são estratégias de conservação principalmente financiados

pelo governo e que passam por inúmeras dificuldades para atingir seus objetivos,

inclusive promover a conservação da natureza e o turismo sustentável. Entre outros

motivos, não recebem verbas suficientes, forçando-as a operarem com receitas abaixo

das despesas necessárias para uma gestão efetiva. Existe uma grande lacuna, tanto

para suprir as demandas das áreas existentes, quanto para garantir a criação de novas

áreas, no financiamento de áreas protegidas e não parece que estas necessidades

serão sanadas pelos meios tradicionais, ou seja, orçamento público e filantropia

(Castro, 2007).

Ademais, a gestão pública das UCs possui um grande entrave, o qual se refere à

fragilidade dentro da estrutura governamental, o que as torna mais vulneráveis a

mudanças políticas e cortes orçamentários, sendo pouco prestigiadas na divisão dos

recursos, o que significa fluxo de verbas insuficiente e irregular (Nogueira & Salgado,

2001).

Assim, o entendimento de que as áreas protegidas são espaços que devem

permanecer intocados está ultrapassado. A maioria dos usos do solo e da exploração

de recursos naturais permitidos nas UCs brasileiras prevê e potencializa atividades que

contribuem para a geração de renda, emprego, aumento da qualidade de vida e o

desenvolvimento do país, sem prejuízo à conservação ambiental (Gurgel et al., 2009).

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No entanto, o sistema de áreas protegidas não é suficiente para a conservação

de todos os componentes representativos da biodiversidade. Para isso precisam ser

mais bem localizadas, projetadas e gerenciadas para lidar com problemas como a falta

de representatividade, impactos da ocupação humana, a coleta ilegal de plantas e caça

de animais, turismo insustentável, os impactos de espécies invasoras e a

vulnerabilidade à mudança global (Watson et al., 2005).

Por fim, observa-se o enorme o potencial econômico que o Brasil desperdiça

por não explorar efetivamente suas UCs, ainda que nem todas sejam aptas a abrigar

atividades econômicas. Há potencial para transformar as áreas protegidas brasileiras

em oportunidades de geração de emprego e renda por meio da visitação, entretanto,

falta perspectiva de exploração do potencial nacional de modo a transformar a

conservação dessas áreas em fonte de riqueza para o país (Riva et al., 2014).

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As possibilidades de caminhos turísticos para pedestres na cidade de Goiás-GO

Diego Pinto de Mendonça1

Joana Darc Paiva da Silva2

1. Introdução

A cidade de Goiás, antiga capital do estado, recebeu em 2001 da Organização das Nações

Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o título de Patrimônio Mundial Cultural.

Colaborando assim para a preservação da herança cultural e arquitetônica existente na cidade, o que

acabou norteando o segmento predominante de turismo presente na cidade, o turismo cultural.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), iniciou o tombamento da

cidade de Goiás em 1950 com suas principais igrejas e o quartel, no ano seguinte foi a vez da antiga Casa

de Câmara, hoje conhecida como Museu das Bandeiras, além do Palácio Conde dos Arcos e do Chafariz

de Cauda. Em 1978 foi tombado o centro histórico (CARNEIRO, 2005).

Quadro 1 - Bens tombados na cidade de Goiás:

Fonte: Portal IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Lista_de_bens_tombados_2016.pdf>. Acesso em 3 de junho de 2016.

Percebe-se com esse breve histórico que o patrimônio cultural da cidade de Goiás possui

diversos bens materiais. Esses bens estão localizados em sua maioria dentro do centro histórico ou

próximos a ele, o que acaba facilitando a criação de caminhos turísticos.

1 Graduando do 4º período em Gestão de Turismo pela Universidade Estadual de Goiás - Câmpus Cora

Coralina. [email protected] 2 Graduada em Gestão de Turismo pela UEG (2010), Especialista em História Cultural: Identidades,

Imaginários e Narrativas pela UFG (2012), e mestranda em Turismo pela CET/UNB 2016. Professora temporária na UEG do curso de Gestão em Turismo – Câmpus Cora Coralina. [email protected]

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Vale mencionar que,

A mobilidade e a acessibilidade refletem as múltiplas soluções que as

pessoas adotam para se deslocar no espaço da cidade. As pesquisas

demonstram que, entre as formas de deslocamento, os percursos a

pé são cada vez mais importantes e, em se tratando de cidades

históricas, com grande presença de turistas, esse modo de

locomoção tem ainda maior destaque. (RIBEIRO, 2014, pg.07)

Desta forma, a cidade ‘reconhecida’ por suas singularidades coloniais, pois, se processa no

decorrer dos anos, entre os períodos: Colônia, Império e República; e, conserva-se delicadas heranças

nos saberes e fazeres do povo Vilaboense, os quais são do seu modo simples, ou interiorano, pessoas

alegres e comunicativas.

2. Metodologias

Para o estudo, visitas às ruas foram realizadas, visando observar in loco os espaços-ambientes

conforme suas reais circunstâncias. Os percursos foram pontuados seguindo os dados do Quadro 1 – de

modo à acompanhar os bens consagrados, passando por ruas, praças, becos e avenidas, sugeridas por

ora, para desenvolver passeios à pé, de modo a contemplar as belezas e peculiaridades da cidade.

O Guia Brasileiro de Sinalização Turística (2001, p.28), elaborado pelo Instituto Brasileiro de

Turismo (EMBRATUR), IPHAN e Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), discorre sobre os

caminhos turísticos para pedestres.

Para definição dos caminhos turísticos para pedestres e portadores de deficiência, devem ser considerados os aspectos de segurança, acessibilidade, conforto e atratividade. […] Havendo espaços adequados, o sistema de sinalização deve ser complementado com placas de sinalização interpretativa, que dão mais subsídios para a escolha dos caminhos, […] possibilitando maior interação do visitante com o objeto de interesse e melhor planejamento do seu tempo para visitação.

De acordo com Beni (1998), é preciso compreender todos os envolvidos no Sistema de Turismo

(SISTUR) inclusive o poder público, para direcionar e demandar responsabilidades e parcerias. Para

implantar caminhos turísticos é de suma importância que as políticas públicas do município consigam

viabilizar a estrutura necessária para criação de tais caminhos turísticos.

3. Considerações

No quesito segurança, é preciso prover condições para que os pedestres caminhem em locais

adequados como passeios públicos ou áreas destinadas a circulação dos mesmos, com iluminação ao

longo do percurso, travessias de vias sinalizadas e percurso provido de policiamento. Na acessibilidade,

considerando a topografia da cidade de Goiás, é preciso pensar na distância máxima para o caminho,

levando em conta a proximidade com estacionamentos e sistemas de transporte que facilitem o acesso

a seus usuários. Sobre conforto e atratividade, é indicado que o caminho turístico tenha mobiliário

urbano (lixeiras e bancos para descanso), favorecendo que o caminho seja percorrido em etapas,

sanitários também são importantes para o conforto, além de locais para alimentação do turista.

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De acordo com o Guia Brasileiro de Sinalização Turística (2001, p.104), “as placas

interpretativas são a tradução do conhecimento por meio de uma linguagem prazerosa e de fácil

compreensão”. O objetivo desse tipo de sinalização é disseminar informações, fazer com que o turista

se familiarize com a cidade e os locais visitados, além de ser algo que faça o turista pensar, lembrar ou

explorar.

Segundo Scatolin, Silva, Barbosa e Monteiro (2006, p. 18), “Quando o turista chega a seu

destino, mesmo que seja sua segunda visita, não tem conhecimento profundo sobre o lugar e, precisará

de informações para se deslocar”. Os caminhos turísticos tem a função não só de informar e guiar o

visitante, mas também fazer com que ele vivencie um pouco da história do lugar, despertando a

imaginação de cada turista ao ler e interpretar a sinalização.

Na cidade de Goiás, existe um trecho localizado entre a Igreja do Rosário e o Museu das

Bandeiras, onde se localiza a maioria dos bens tombados, além do Museu Casa de Cora Coralina, o

Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e a Cruz do Anhanguera, constituem-se como pontos

importantes da cidade. Esse trecho é propício para elaboração de um caminho turístico, tendo em vista

a distância de 750 metros, e por conter, além dos pontos turísticos citados no texto, serviços turísticos

como restaurantes, bares, agências de turismo, loja de artesanatos e souvenirs. Outra possibilidade é a

implantação de mais de um caminho, podendo ser divididos em níveis variados do fácil ao difícil,

dependendo da distância e do trajeto percorrido, possibilitando conhecer outros atrativos da cidade de

Goiás.

REFERÊNCIAS BENI, Mario C. Análise estrutural do turismo. 2. ed. São Paulo: Senac, 1997. CARNEIRO, Keley C. Cartografia de Goiás: patrimônio, festa e memória. 2005. 123 f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia. Universidade Federal de Goiás, Goiânia. DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO (DENATRAN). GUIA BRASILEIRO DE SINALIZAÇÃO TURÍSTICA. Brasília, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO (EMBRATUR). INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). RIBEIRO. Sandra Bernardes. Mobilidade e acessibilidade urbana em centros históricos. Brasília: Iphan, 2014. 120 p. (Cadernos Técnicos; 9) SCATOLIN, K., SILVA, N. G., BARBOSA, T., & MONTEIRO, V. Sinalização Turística Interpretativa e Indicativa: um Estudo de Caso do Centro Velho da cidade de São Paulo. Monografia de graduação, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2006.

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Turismo e suas Faces na Comunidade Kalunga do Engenho II-Cavalcante GO

Rosiene Francisco dos Santos1

Soraia Brito da Silva2 Giovanna Adriana Tavares Gomes3

Victória de Melo Leão4

RESUMO: O turismo em comunidades tradicionais vem ocupando espaço no cenário mundial. É uma atividade que pode gerar renda para esses povos, que na maioria das vezes, encontram-se em áreas afastadas dos grandes centros urbanos e passam por necessidades, como a falta de emprego. Este trabalho tem como objetivo analisar as faces do turismo na Comunidade Kalunga do Engenho II, município de Cavalcante-GO, quais os impactos gerados por essa atividade. Os impactos são tanto positivos quanto negativos, mas o que se tem que analisar é o bem estar das pessoas que vivem nesse ambiente e também daquelas que vão para conhecer a cultura, as belezas naturais. Pode-se observar que a atividade turística provoca impactos socioambientais, culturais e econômicos na comunidade Kalunga do Engenho II.

Palavras-chave: Turismo. Belezas Naturais. Comunidade Kalunga Engenho II.

INTRODUÇÃO

O turismo em comunidades tradicionais vem ocupando espaço no cenário

mundial é uma atividade que pode gerar renda para esses povos, que na maioria das

vezes encontram-se em área afastadas dos grandes centros urbanos, e passam por

necessidades, como a falta de emprego. A pesquisa em questão trata sobre os

impactos do turismo na comunidade Kalunga do Engenho II, localizada no município de

Cavalcante, do estado de Goiás, na região nordeste na Chapada dos Veadeiros.

Este povo viveu isolado até a década de 1982, e hoje traz uma carga histórica

que chama a atenção das áreas acadêmicas como forma de estudo. Outro fator

relevante é sua localização que se encontra no cerrado brasileiro, bem conservado e

cercado de belezas naturais que atraem turistas do país inteiro. A palavra Kalunga é de

origem africana (bantu), com K ou C, tem inegavelmente múltiplos significados. Em

que calunga escrito com a letra C significa coisa pequena e insignificante, como o

1 Graduação em Gestão de Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás.

2 Graduação em Gestão de Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás.

3 Mestra em Turismo e Hotelaria pela Universidade Vale do Itajaí – SC. Bacharel em Turismo pela

Faculdade Cambury – GO. E-mail: [email protected]. 4 Mestranda em Ambiente e Sociedade (PPGAS/UEG). Graduada em Planejamento Turístico (IFG-2015).

E-mail: [email protected].

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camundongo catita do Nordeste em que foi dado pelos colonizadores (BAIOCCHI,

2013; BRASIL 2001).

Mas quando se refere no sentido da palavra Kalunga pelos próprios negros o

significado se inverte, tem o significado de mar, campo sangrado para o repouso dos

ancestrais (cemitério), em quimbundo é um tratamento de pessoa ilustre ou até

mesmo sinônimo de negro enfim na Chapada dos Veadeiros também existe uma

humilde plantinha que faz lembrar a necessidade da união e da solidariedade de todos.

Ela é a marca da realeza africana sustentada pela força dos ancestrais.

Pois essa planta é símbolo da dignidade do negro e da grandeza do povo

Kalunga (BRASIL, 2001). Os Kalunga usam da terra para sua subsistência, plantando e

criando animais em pequena escala. Atualmente essa comunidade está desenvolvendo

a atividade turística, mais uma oportunidade geradora de renda. No entanto essa

atividade pode gerar impactos nas dimensões, social, econômica, cultural e ambiental.

Segundo Mendonça (2001, p. 19), “o turismo é considerado uma indústria e, assim

como os demais setores da economia moderna, depende da apropriação e exploração

da natureza e das sociedades locais”.

A autora explica que o turismo é uma fonte exploratória de serviços, em que

utiliza a natureza e a cultura como sua principal fonte de renda, muitas vezes

de forma inapropriada, fazendo com que a comunidade sofra influência de outras

culturas e perca a sua identidade, também levando à degradação do patrimônio

natural.

Com relação à abordagem, a pesquisa adotou um estudo qualitativo, porque

analisa os aspectos socioeconômicos, culturais, ambientais de uma localidade, sem

atribuição direta de números. Segundo Flick (2009, p. 23), essa pesquisa tem aspectos

como “probabilidade de métodos e teorias, perspectivas dos participantes e sua

diversidade, reflexividade do pesquisador e da pesquisa, variedade de abordagens e

métodos de pesquisa qualitativa”, permitindo uma melhor análise das relações da

Comunidade Kalunga do Engenho II com o turismo.

É uma pesquisa descritiva que busca relatar com exatidão os fatos e

fenômenos existentes em uma determinada realidade na comunidade, mostrando

suas características e problemas devido à implantação do turismo (DENCKER 1998).

RESULTADOS

O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga é uma região simples que

pratica atividades no campo, como a fabricação de alimentos como frutos e legumes

colhidos nas roças, além de possuir manifestações culturais e diversas belezas naturais

atraindo um grande número de visitantes. Situando-se a 27 km de Cavalcante e a 537

km de Goiânia. Localiza-se a Comunidade Kalunga do Engenho II, banhados pelos

córregos Capivara, Tiririca, Quebra Coco entre outros.

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O local vem crescendo nos aspectos socioeconômico por causa da divulgação

do seu potencial turístico, pois há uma grande variedade de cachoeiras, em que um

condutor de visitante fala que no povoado existe mais de trinta cachoeiras

catalogadas, paisagem belíssima que atraem pessoas e interessados em seus bens

naturais e culturais.

Após a chegada dos visitantes ao local, a população começou a receber o

apoio e o patrocínio dessas empresas, houve melhorias na comunidade, como o

surgimento de condutores, capacitação para alguns moradores e a construção de um

Centro de Atendimento ao Turista (CAT). Conforme Beni (1998, p, 67) “O turismo

provoca o desenvolvimento intersetorial, em função do efeito multiplicador do

investimento e dos fortes crescimentos da demanda interna e receptiva”.Com isso o

turismo passou a movimentar o cenário econômico da região na forma de

mercantilização, devido ao surgimento de restaurantes, áreas de camping, e da

obrigatoriedade da contratação de um guia local no valor de R$ 70,00 e da taxa

cobrada no valor de R$ 20,00 no CAT para a visitação, que permite o acesso aos

atrativos naturais, nas três cachoeiras, Candarú, Capivara e Santa Bárbara.

No aspecto econômico o comércio está mais acelerado, ampliou a renda uns

por venderem produtos e artesanatos na loja do CAT, outros por serem proprietários

de estabelecimentos, e na condução de visitantes a cachoeira.

Trouxe muita coisa, muito movimento, turismo aqui pra nós minha fia, mudou foi tudo, porque se vê que era tão difícil! Às vezes a pessoa comer todo dia feijãozinho com arroz em casa sabe! Hoje não, hoje você chega numa casa, que dia rapaz... É difícil ouvir um falar que vai comer só arroz com feijão. Hoje por quê? Porque hoje corre dinheiro. Aqui ô, eu fui um dos primeiros a matar vaca aqui, mexer com um açougue. Nós matava uma vaca passava uma semana sem matar, e hoje é dois dias, com dois dias não tem no açougue mais, e ninguém deve no açougue porque corre dinheiro do turismo (Morador, 54 anos. Junho 2016).

Em outras entrevistas notou-se que mesmo com a chegada dessa atividade

muitos não deixaram seus afazeres corriqueiros como a atividade agrícola, pequena

pecuária e a venda de produtos regionais aumentaram. De acordo com os moradores a

atividade turística é uma das melhores oportunidades que chegou à região, pois é mais

uma renda que acrescenta a essas outras atividades que os moradores já possuíam

antes da chegada do turismo.

É uma das mais interessantes porque nós nunca deixamos os nossos costumes só por causa do turismo, se fosse a mais interessante a gente deixava de plantar e de cuidar das outras coisas só pra ficar em função do turismo e a gente tenta conciliar todas as coisas igual à lavoura a plantação da roça com o turismo a nossa cultura (Morador, 60 anos\ junho 2016).

De acordo (VELOSO, 2003.p 73) “no turismo o dinheiro volta com outros

rendimentos, além do financeiro. Ele volta em forma de alegria, de satisfação de

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pessoas, em forma de integração de cultura, provocando a melhoria de qualidade de

vida da comunidade”. Baseado nas entrevistas a maioria da população ainda não sabe

para onde a taxa de R$ 20,00, arrecadada no CAT do Engenho II, é destinada. A

população local comenta “Parte a gente sabe e parte a gente não sabe noventa por

cento nós não sabemos,” (Morador, 60 anos\ junho 2016), o turismo em comunidades

tradicionais tende a englobar a participação de todos de uma localidade.

Coriolano (2003, p.41) completa que “o envolvimento de todos considera os

direitos e deveres individuais e coletivos e elabora um processo de planejamento

participativo desde as tomadas de decisões até a execução das atividade turísticas”.

Conforme relatos dos moradores e dos representantes do poder público o capital

arrecadado no CAT é depositado em uma conta de responsabilidade da associação

comunitária local, porém esse dinheiro não é aplicado de maneira visível aos olhos da

população do Engenho II, do secretário do turismo, Prefeitura Municipal ou até mesmo

do Conselho Municipal do Turismo (COMTUR), que não são informados de valores

recebidos durante nenhum período e não existe nenhuma fiscalização que controle

essa quantia.

Para um morador sua opinião é bem clara “isso aí a Fulana pega mais o

Ciclano,“ e ai eu não sei da um resposta. Aí não sei se é Fulano ou Beltrano... Aí vai pro

banco e põe lá ai não sei o que resolve é de lá pra cá.” (Morador, 60 anos\ junho

2016). Um Representante do Poder Público informa que “o dinheiro da portaria hoje é

um dinheiro fantasma, onde não é pago imposto e não há uma transparência com esse

dinheiro”. [...] (Representante do Poder Público 78 anos\ junho 2016).

Em outra entrevista com os moradores foi comentado que a aplicação do

capital da portaria está em prol do abastecimento de água e em reformas de um local

comunitário, porém essas reformas estão acontecendo nos últimos dois anos e o

abastecimento de água está em contrapartida, pois uma parte dos entrevistados falou

que esse benefício foi uma parceria com Governo Federal, no Projeto Água para Todos

e outros falavam que utilizaram a renda arrecadada do turismo.

Foi notado pelos visitantes que existe uma falta da divulgação cultural do local

visto que o local é um Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga sendo isso um

diferencial. A população possui histórias e tradições incríveis onde é necessário

divulgar cada vez mais a cultura não apenas as belezas naturais existentes no local uma

moradora fala “não somos só cachoeira, temos algo a mais, temos muito mais a

ensinar e aprender do que só cachoeira”(moradora,39 anos/junho 2016). O turismo na

comunidade Kalunga do Engenho II trouxe benefícios econômicos como o aumento da

renda dos moradores, intercâmbio cultural, capacitação para alguns moradores, inicio

de infraestrutura como criação de restaurantes e áreas de camping e o êxodo urbano.

De negativos trouxe a desunião e impactos como erosões e o assoreamento na

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cachoeira Santa Bárbara. Porém os moradores já estão despertando a consciência

ambiental em que uma moradora fala “eu quero continuar ganhando meu dinheiro

com o turismo, mas também não quero perder meu cantinho entendeu, porque aqui é

a minha casa eu quero que meus filhos meus netos conheçam aqui como ainda é”

(moradora, 39 anos/junho 2016).

CONCLUSÃO

Ao entender o universo estudado pudemos compreender que o processo de

evolução turística na comunidade Kalunga do Engenho II está inteiramente ligado a

ausência de planejamento, que reflete a falta de politicas voltadas para os setores

envolvidos com o turismo. No qual não teve uma capacitação necessária de seus

atuantes, e que na prática turística isso são elementos fundamentais para o sucesso

dessa atividade.

O lugar já possui sete restaurantes e três áreas de campings, uma lojinha de

venda de produtos naturais e artesanato, um Centro de Atendimento ao Turista (CAT),

além de trazer conhecimento para a população. Com relação à questão

socioeconômica a comunidade cresceu, porém não está sendo de forma igualitária e

até o atual momento, a mesma é uma forma de complementação de renda para os

moradores, pois essa atividade não atinge a todos.

REFERÊNCIAS

BAIOCCHI, Mari de Nazaré (2013). Kalunga: Povo da Terra. 3 ed. Goiânia: Editora UFG.

BENI, Mario Carlos (1998). Analise Estrutural do Turismo. Decima terceira edição. São Paulo: Editora Senac, São Paulo.

BRASIL (2001). Uma historia do Povo Kalunga. Ministério da Educação e Cultura-Mec /SEF, Brasília.

CORIOLANO, Luzia Neide M.T (2003). O Desenvolvimento Voltado as Condições Humanas e o Turismo. in: LIMA, Luiz Cruz; CORIOLANO, Luzia Neide(org.) Fortaleza.

DENCKER, Ada de Freitas Maneti (1998). Médotos e Técnicas de Pesquisa em Turismo. São Paulo: Futura.

FLICK, UWE (2009). Introdução à Pesquisa Qualitativa. Tradução: Joice Elias Costa. 3 edição. Porto Alegre: Artmed.