turbinas aeroderivativas

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2 Fundamentos Teóricos 2.1. Introdução O escopo desta dissertação abrange diversos campos do conhecimento que não se restringem apenas às Termociências. Para que todos os assuntos envolvidos no trabalho sejam entendidos, é feita uma revisão da Termodinâmica elementar de turbinas a gás e alguns tópicos de modelagem destes equipamentos. Além disto, são apresentados elementos de Lógica Fuzzy que permitem compreender a nomenclatura utilizada do texto e a forma de construção do sistema de diagnóstico. Este capítulo, através da revisão da teoria, permite identificar uma série de termos utilizados ao longo dos capítulos, muitos dos quais constituem siglas e estrangeirismos comuns à literatura específica.

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  • 2 Fundamentos Tericos

    2.1. Introduo

    O escopo desta dissertao abrange diversos campos do conhecimento que

    no se restringem apenas s Termocincias. Para que todos os assuntos envolvidos

    no trabalho sejam entendidos, feita uma reviso da Termodinmica elementar de

    turbinas a gs e alguns tpicos de modelagem destes equipamentos. Alm disto,

    so apresentados elementos de Lgica Fuzzy que permitem compreender a

    nomenclatura utilizada do texto e a forma de construo do sistema de

    diagnstico.

    Este captulo, atravs da reviso da teoria, permite identificar uma srie de

    termos utilizados ao longo dos captulos, muitos dos quais constituem siglas e

    estrangeirismos comuns literatura especfica.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 19

    2.2. Turbinas a Gs

    2.2.1. Introduo

    As turbinas a gs so turbomquinas trmicas que atuam como elementos

    motores, aplicados na gerao eltrica e na propulso aeronutica, naval e

    automotiva. Estes equipamentos se destacam, principalmente, pela independncia

    de fontes de gua, pela baixa razo volume versus potncia e pela inexistncia de

    fluidos de trabalho intermedirios.

    Seu desenvolvimento esteve diretamente relacionado evoluo das

    turbinas a vapor, que atingiram elevado grau tecnolgico no sculo XX. Mas alm

    destas mquinas necessitarem de um fluido intermedirio para gerar o vapor,

    necessitam tambm de instalaes extremamente robustas para resistir aos nveis

    de presso adotados. A turbina a gs possui um elemento expansor similar ao da

    turbina a vapor, mas seu fluido de trabalho gerado pela combinao de dois

    outros componentes, no processo de combusto: o combustvel, que fornece a

    energia e o compressor, que fornece o fluido pressurizado, o qual transporta o

    oxidante do combustvel. Em turbinas a gs de circuito fechado, o fluido de

    trabalho no se altera ao longo do percurso do gs.

    As turbinas a gs possuem variadas configuraes por tipos de aplicao,

    um esquema com a configurao bsica da mquina utilizada como referncia

    neste trabalho mostrada na Figura 1, a Figura 2 indica os componentes em uma

    turbina real.

    Compressor Turbina

    Cmara de

    combusto

    Ar

    Combustvel

    Produtos da

    combusto

    Figura 1: Esquema bsico de uma turbina a gs de ciclo simples.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 20

    Compressor

    Cmaras de

    combusto

    Cmaras de

    combusto

    Turbina

    Figura 2: Esquema bsico Turbina a gs industrial Siemens SGT5-4000F [3].

    As turbinas a gs industriais podem ser divididas em dois subgrupos: as

    aeroderivativas e as heavy duty. As turbinas aeroderivativas so adaptaes de

    modelos aeronuticos, caracterizam-se pelos reduzidos volume e massa, podendo

    atingir potncias de at 50 MW. As turbinas industriais caracterizam-se pela sua

    robustez, baixo custo, alta confiabilidade e maior flexibilidade de combustvel,

    podendo atingir potncias de 340 MW [4].

    As turbinas aeroderivativas possuem, normalmente, uma turbina livre,

    desacoplada mecanicamente do conjunto compressor-turbina. Esta turbina

    comumente denominada turbina de potncia (PT) e o conjunto montante

    denominado gerador de gs. Alm disto, podem haver vrios conjuntos

    compressor-turbina, tambm chamados de rotores, desacoplados mecanicamente,

    conforme mostra a Figura 3.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 21

    LPC: Compressor de baixa presso

    HPC: Compressor de alta presso

    CC: Cmara de combusto

    HPT: Turbina de alta presso

    LPT: Turbina de baixa presso

    PT: Turbina de potncia

    ~LPC HPC HPT LPT PT

    CC

    Gerador de gs

    Figura 3: Esquema de uma turbina multi-eixo com turbina de potncia.

    2.2.2. Anlise Termodinmica da Turbina a Gs

    O ciclo termodinmico proposto por Brayton o ciclo ideal aplicado s

    turbinas a gs. A anlise terica deste ciclo pode ser conduzida admitindo-se: (i)

    que o fluido de trabalho o ar; (ii) o mesmo um gs ideal, (iii) a variao de

    energia cintica entre a entrada e a sada de cada componente desprezvel e (iv)

    o fornecimento e rejeio de calor no ciclo so dados por transferncia de calor; o

    que simplifica a anlise e evita, a priori, uma discusso mais complexa sobre o

    processo de combusto. Alm disso, as perdas de presso ao longo do ciclo so

    desprezadas [5, 6]. Um esquema desse modelo idealizado de ciclo de turbina a gs

    mostrado na Figura 4.

    Trocador de

    Calor

    Trocador de

    Calor

    Compressor Turbina

    1

    2 3

    4

    EQ

    SQ

    W

    Figura 4: Esquema da turbina a gs idealizada para o Ciclo Brayton.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 22

    Uma vez apresentado o esquema da Figura 4, pode-se fazer uma anlise do

    balano de energia e eficincia do ciclo. Aplicando-se a Primeira Lei da

    Termodinmica aos volumes de controle definidos em torno da turbina e do

    compressor, tem-se,

    43 hhm

    Wt

    e (1)

    12 hhm

    Wc

    . (2)

    De maneira anloga, para os trocadores de calor, obtm-se,

    23 hhm

    QE

    e (3)

    14 hhm

    QS

    . (4)

    Pode-se, ento, definir a eficincia do ciclo com base na eficincia trmica

    de uma Mquina Trmica Motora, mostrada na Figura 5.

    Fonte fria

    Fonte quente

    EQ

    SQ

    W

    EE

    SE

    Q

    W

    Q

    QQ

    Figura 5: Diagrama bsico de uma Mquina Trmica Motora.

    Este resultado proporciona um primeiro parmetro de desempenho do

    motor, uma vez que ele correlaciona as potncias consumida e produzida no ciclo.

    Uma boa frao da potncia produzida, de 40 a 80%, consumida pelo

    compressor. A ttulo de comparao, em um ciclo a vapor, em que a compresso

    da gua realizada no estado lquido, a relao de consumo de potncia de 1 a 2

    % porque a variao do volume especfico do gs a ser comprimido muito maior

    que o da gua lquida [5]. Pode-se, a partir do clculo da eficincia da mquina

    trmica, definir a relao da eficincia da turbina a gs, mostrada na equao (5).

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 23

    E

    TG

    E

    ct

    TGQ

    W

    m

    Qm

    W

    m

    W

    (5)

    A eficincia pode ainda ser escrita em termos de temperatura e presso.

    Considerando-se o balano de massa e substituindo-se as

    equaes (1), (2) e (3) em (5), obtm-se a equao (6), dada em funo das

    entalpias especficas entre os componentes.

    )(

    )()(

    23

    1243

    hh

    hhhhTG (6)

    Os diagramas T s e p v do ciclo ideal so mostrados na Figura 6. Neles

    observa-se que so desprezadas todas as irreversibilidades e os processos de

    expanso e compresso so considerados adiabticos.

    p

    vs

    T

    32

    14

    1

    2

    3

    4

    Figura 6: Diagramas p - v e T - s do Ciclo Brayton ideal.

    Como os processos 1-2 e 3-4 so isentrpicos, pode-se escrever:

    1

    1

    2

    1

    2

    p

    p

    T

    T e (7)

    1

    3

    4

    3

    4

    p

    p

    T

    T . (8)

    Como p1 = p4 e p2 = p3 e desprezando-se as perdas de presso e

    irreversibilidades, pode-se, ainda, escrever que,

    2

    3

    1

    4

    T

    T

    T

    T (9)

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 24

    Pela hiptese de que o ar um gs ideal o cp constante, logo, obtm-se a

    equao (10), atravs da qual pode-se relacionar diretamente a eficincia da

    turbina a gs com a razo de presso do compressor.

    2

    1

    2

    3

    1

    4

    2

    1

    23

    14

    23

    1243

    1

    1

    111

    )(

    )()(

    T

    T

    TT

    TT

    T

    T

    TT

    TT

    TTc

    TTcTTc

    P

    PPTG

    1

    1

    2

    11

    p

    p

    TG (10)

    Pode-se estender a anlise apresentada at agora atravs da introduo do

    conceito de propriedades de estagnao [6]. Define-se propriedade de estagnao

    como sendo a propriedade que o fluido teria se desacelerado adiabaticamente at a

    velocidade nula. Este conceito aplicado para que se considere na anlise a

    contribuio da energia cintica.

    Os fundamentos termodinmicos da operao de uma turbina a gs que

    foram lanados at aqui desprezaram todas as irreversibilidades e perdas. Sero

    apresentadas agora as correes que devem fazer parte dos clculos reais da

    mquina.

    As principais causas de perdas e irreversibilidades so listadas abaixo [5, 6]:

    Perdas de carga nos trocadores de calor ou cmaras de combusto e

    dutos de admisso e exausto;

    Em decorrncia das altas velocidades no interior dos componentes, a

    compresso e expanso ocorrem por processos irreversveis;

    Mancais, geradores e outros componentes auxiliares causam perdas

    mecnicas;

    Os valores de cp e variam significativamente com a temperatura e, no

    caso de combusto, com a composio qumica.

    Uma vez considerados esses efeitos, pode-se propor um diagrama T s da

    forma mostrada na Figura 7.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 25

    T

    1

    2

    3

    4

    isobaras

    s

    Figura 7: Diagrama T s do Ciclo Brayton com perdas.

    2.2.3. Modelagem off-design de turbinas a gs

    O texto clssico para a modelagem fora do ponto de projeto (off-design) de

    turbinas a gs o de Cohen et al. [6] segundo o qual necessrio a

    compatibilizao entre as faixas de operao dos diversos componentes da

    turbina, referentes vazo mssica, potncia e rotao. Bathie [7] apresenta as

    principais formas de compatibilizao que podem ser adotadas no clculo de

    turbinas a gs. As faixas de operao podem ser determinadas pelos mapas de

    desempenho, ou de caractersticas, que renem os parmetros adimensionais e

    semi-dimensionais responsveis pela sua caracterizao; de forma que fixada a

    sua geometria o mapa seja nico [8]. Detalhes do estado da arte na modelagem

    dos componentes sero abordados separadamente nos pargrafos que se seguem.

    Compressor:

    O compressor o responsvel no ciclo pelo aumento da presso total do ar,

    com o uso mnimo de potncia. Estes equipamentos se dividem em compressores

    axiais, nos quais o escoamento paralelo ao eixo do rotor e centrfugos, nos quais

    a velocidade do fluido na sada do compressor pertence um plano ortogonal ao

    eixo do rotor. Neste trabalho somente sero abordados os compressores axiais,

    comuns em turbinas a gs de grande porte.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 26

    Um exemplo de mapa de compressor apresentado na Figura 8. A razo de

    presso PR e a eficincia so mostradas como funo da vazo mssica semi-

    dimensional e referenciadas a rotaes caractersticas, .

    PR

    p

    Tm

    TN

    Linha de surge

    Linha de choke

    Figura 8: Mapa de compressor tpico [8].

    Esto indicadas na Figura 8 duas regies em que ocorrem fenmenos que

    devem ser evitados na operao do compressor: surge (bombeamento) e choke

    (entupimento), ambos de natureza aerodinmica. O surge ocorre quando o

    escoamento atinge tal combinao de razo de presso e vazo mssica que as

    palhetas do compressor operem em estol aerodinmico, ou seja, ocorre o

    descolamento do escoamento por gradiente de presso adverso, o que pode

    resultar em escoamento em sentido contrrio ao desejado e causar severos danos.

    O choke ocorre quando o escoamento atinge Mach unitrio entre as palhetas, de

    forma que o compressor no consiga mais impelir o fluido.

    Qualquer modelagem de compressor deve restringir seus pontos de operao

    ao interior da zona permitida do mapa, o qual representa, graficamente, o regime

    de operao aerodinmica permissvel. Uma tcnica usual de navegao pelo

    mapa o uso das linhas beta, as quais constituem um recurso computacional que

    discretiza o mapa atravs do traado de curvas. O nmero de curvas e a forma de

    construo so arbitrrios, variando conforme o tipo de compressor. Esta tcnica

    tambm minimiza a instabilidade do mtodo numrico nas regies em que as

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 27

    linhas de rotao tendem a uma assntota vertical. A Figura 9 mostra o uso de

    curvas beta sobre um mapa de compressor tpico.

    PR

    p

    Tm

    TN

    Linha de surge

    Linhas beta

    Figura 9: Mapa de compressor e linhas beta [8].

    O mapa de compressor nico para uma geometria fixa, mas uma boa parte

    dos mesmos possui elementos de geometria varivel, os IGVs (Inlet Guide Vanes)

    e VSVs (Variable Stator Vanes). Esses componentes mveis atuam no

    escoamento de forma a evitar os fenmenos de surge e de choke, o que

    observado na prtica pelo deslocamento do mapa de forma a levar o ponto de

    operao para a zona permitida.

    Nas diversas abordagens da modelagem de turbinas a gs publicadas

    recentemente, os estudos so limitados pela falta de material publicado pelos

    fabricantes, o que torna complexa a modelagem principalmente pela falta de

    mapas adequados de componentes. Uma maneira de contornar a ausncia de

    mapas de compressor a utilizao de mapas de turbinas a gs com potncia e

    razo de presso similares modelada [9, 10].

    Um grande empecilho modelagem a deformao do mapa que ocorre

    com a atuao dos elementos de geometria varivel, pois no existem referncias

    muito claras na literatura para a soluo do problema. Alguns trabalhos [10, 11]

    utilizam algoritmos genticos para determinar fatores de deslocamento do mapa,

    como funo do ngulo das IGVs.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 28

    Turbinas:

    A turbina expande o gs, transformando energia trmica em energia

    mecnica. De maneira anloga ao compressor, o comportamento off-design da

    turbina pode ser descrito por mapas de desempenho. Entretanto, para grande parte

    das turbinas a gs operando em regime permanente, seja ou no em ponto de

    projeto, o bocal de entrada de gs na turbina encontra-se em choke [6, 8], o que

    mantm o escoamento no interior da mesma limitado. Desta forma, fixadas as

    condies termodinmicas na entrada do expansor, sua eficincia pode ser

    considerada constante. Essa hiptese vale, tambm, para o caso de turbinas

    dotadas de bocais de geometria varivel (nozzle guide vanes NGV), embora,

    para este caso, exista um novo valor de eficincia para cada geometria, o que

    implica em tcnicas mais apuradas de adaptao de mapas de caracteristicas.

    Cmara de combusto:

    Como na prtica a combusto ocorre de maneira quase isobrica [6,8], as

    perdas de presso entre o compressor e a turbina so consideradas constantes e so

    ajustadas para cada equipamento.

    Alguns autores [9, 12, 13] utilizam um equacionamento simples, baseado

    em conservao de massa e energia, para obter os parmetros termodinmicos da

    combusto. Em [14] proposto um mtodo que considera o combustvel e o ar

    substncias multi-elementares e conduz a combusto de forma estequiomtrica

    levando em conta a formao das espcies qumicas mais importantes, bem como

    determina diretamente o poder calorfico inferior do combustvel e sua exergia

    qumica. Este tipo de abordagem permite uma anlise muito mais detalhada dos

    produtos de combusto e a possibilidade de configurar o modelo para queima de

    virtualmente qualquer combustvel.

    Alm das questes inerentes ao projeto dos componentes da turbina a gs,

    outros aspectos so fundamentais para a sua importncia e devem ser

    considerados na modelagem [12, 15]:

    Temperatura ambiente

    Umidade relativa do ar

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 29

    Presso atmosfrica ou altitude

    Perdas de presso na tomada de ar ou na exausto de gases

    Composio do combustvel

    Injeo de gua ou vapor no fluido de trabalho

    Tais influncias podem ser contabilizadas por modelos matemticos ou por

    curvas de correo que transladem as condies de operao real para um sistema

    de referncia padro.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 30

    2.3. Lgica Fuzzy

    2.3.1. Introduo

    A lgica nebulosa, ou fuzzy, surgiu como ferramenta de reduo da

    complexidade da anlise de sistemas, observada na anlise matemtica tradicional

    [16]. Ela se baseia no funcionamento do pensamento humano, que caracteriza as

    situaes quantitativas de maneira lingustica e no numrica. Esta caracterstica

    tem feito com que a lgica fuzzy seja aplicada com sucesso em diversas reas

    relacionadas tecnologia [16, 17, 18, 19].

    Um sistema fuzzy calcula o grau de compatibilidade de um evento a uma

    determinada classificao lingustica, como, por exemplo; frio, morno e quente.

    Embora este tipo de classificao esteja carregado de incerteza e ambiguidade,

    comum no pensamento humano estabelecerem-se aes do tipo: se a gua est

    quente, diminua a vazo de gs; observa-se que quente e diminua so

    classificaes ambguas e imprecisas, porm, o resultado prtico pode fazer

    sentido se as regras que caracterizam o evento so suficientes para descrev-lo.

    Pode-se associar a classificao nebulosa da frase acima a valores

    numricos de acordo com o mostrado na Figura 10, na qual a classificao

    quente funo de um valor de temperatura, de forma que seja avaliada a

    compatibilidade deste valor a esta classificao semntica.

    Verdadeiro

    Falso

    C20 40 60 80 1000-20

    QUENTE

    Gra

    u d

    e

    co

    mp

    atib

    ilid

    ad

    e

    Temperatura

    Figura 10: Associao de classificao fuzzy a valores numricos.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 31

    Ao longo deste texto sero utilizados alguns termos em lngua inglesa que

    foram adotados na literatura nacional e que so amplamente difundidos. Nas

    prximas sub-sees sero mostrados os conceitos da lgebra fuzzy e os

    fundamentos tericos bsicos para a construo de um sistema fuzzy.

    2.3.2. Conjuntos Fuzzy

    A teoria clssica dos conjuntos, definida a partir da lgica booleana, prope

    que um determinado elemento pertence ou no a um determinado conjunto

    (conjuntos ou sistemas booleanos so comumente denominados crisp). A lgica

    fuzzy estabelece que um elemento pertence com um certo grau a um determinado

    conjunto [17], como mostra a Figura 11.

    Ax

    A

    Ay

    A

    Crisp Fuzzy

    y??

    certeza! com

    Ax

    Figura 11: Representao de pertinncia segundo as lgicas booleana e fuzzy.

    Essa incerteza de pertinncia pode ser eliminada pela definio matemtica:

    seja A um conjunto fuzzy definido em um espao de discurso X pelo conjunto de

    pares ordenados A = {(A(x),x)}, x X, onde A(x) a funo de pertinncia do

    conjunto fuzzy e A(x) [0,1]. Isto faz com que, na verdade, cada conjunto fuzzy

    seja uma funo [20] e, em termos computacionais, pode ser implementado como

    tal [16]. Existem diversos tipos de funes de pertinncia, que variam conforme a

    aplicao do sistema fuzzy. Em geral, so utilizadas funes triangulares,

    trapezoidais ou gaussianas [21].

    A funo de pertinncia indica, em uma escala de zero a um, o quanto

    determinado evento verdadeiro ou falso. Desta forma, pode-se refazer a Figura

    10 de acordo com o indicado na Figura 12. Essa atribuio de funes de

    pertinncia aos elementos semnticos denominada fuzzificao.

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 32

    1 Quente

    0

    Temperatura (C) (x)

    20 40 60 80 1000-20

    (x)

    Figura 12: Funo de pertinncia referente ao conjunto quente.

    2.3.3. Operadores Fuzzy

    Como foi visto, a lgica fuzzy uma generalizao da lgica booleana. As

    operaes com conjuntos fuzzy se estabelecem com operadores anlogos aos

    operadores crisp, embora elas sejam descritas em termos das funes de

    pertinncia [18, 22]. Existem outras definies alm destas aqui apresentadas, mas

    que no so tratadas no trabalho.

    Sejam A e B conjuntos fuzzy, so apresentadas a seguir as principais

    operaes entre eles:

    Interseo: A B = min[A(x), B(y)];

    Unio: A B = max[A(x), B(y)];

    Complemento: ~A = 1 - A(x).

    2.3.4. Regras Fuzzy e Sistema de Inferncia

    As regras fuzzy, que estabelecem as relaes entre os conjuntos das variveis

    de entrada e as sadas com as classificaes semnticas, so construdas a partir da

    lgebra fuzzy e de regras SE-ENTO, como pode-se observar de maneira

    simplificada no exemplo [23]: se z pertence ao conjunto fuzzy A, ento x

    pertence ao conjunto fuzzy B, onde a primeira orao representa o antecedente e

    a segunda o conseqente. A inferncia de cada regra envolve trs fases:

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  • Captulo 2: Fundamentos Tericos 33

    (i) fuzzificao das entradas, formando o antecedente com grau de

    pertinncia entre 0 a 1;

    (ii) aplicao dos operadores fuzzy para antecedentes com mltiplas partes;

    (iii) aplicao do resultado ao conseqente.

    A arquitetura completa dos sistemas de inferncia fuzzy, mostrada na Figura

    13, constituda de trs partes [23]. A primeira a identificao, por parte do

    especialista, das variveis de entrada, normalmente parmetros medidos, e da

    varivel de sada. A segunda a aplicao das regras fuzzy para a gerao dos

    conjuntos de sada a partir dos parmetros de entrada e o clculo dos efeitos

    superpostos pelo sistema de inferncia. A terceira a defuzzificao das variveis,

    que transforma a sada fuzzy, resultante do processo de inferncia de todas as

    regras, em uma resposta crisp.

    Entradas

    Fuzzificao

    Lgica Fuzzy

    Sistema de

    Inferncia

    Regras

    (SE/ENTO)Sadas

    Defuzzificao

    Figura 13: Arquitetura de um Sistema Fuzzy [23].

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