Trovadorismo (séc. XII ao XV) - · PDF fileCurso completo Professora Sílvia...

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  • Curso completo Professora Slvia Gelpke Literatura

    Trovadorismo (sc. XII ao XV)

    Contexto histrico

    Momento em que Portugal, a partir da segunda metade do sc. XII,

    comea a afirmar-se como reino independente, ainda que mantivesse ligaes

    econmicas, sociais e culturais com a pennsula Ibrica. Desses laos surgiu,

    prximo Galcia (regio ao norte do rio Douro), uma lngua particular, de traos

    prprios, chamada galego-portugus. A produo literria dessa poca foi feita

    nessa variao lingustica.

    Era a poca das Cruzadas, da luta contra os mouros, do feudalismo, do

    poder espiritual do clero. A cultura trovadoresca refletia bem o panorama

    histrico desse perodo em que o poder da Igreja era bastante forte.

    O sistema econmico dominante, o feudalismo, consistia numa hierarquia

    rgida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concesso de uma terra

    (feudo) a outro indivduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia

    proteo ao vassalo como recompensa por certos servios prestados.

    Essa poca foi caracterizada por uma viso teocntrica (Deus como

    centro do Universo. At mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos.

    Tanto a pintura como a escultura procuraram retratar cenas da vida de santos

    ou episdios bblicos.

    Quanto arquitetura, predominava o estilo gtico. As catedrais eram

    enormes e imponentes, projetadas para o alto semelhana de mos tentando

    tocar o cu.

  • A literatura

    Na literatura, desenvolveu-se em Portugal um movimento literrio

    chamado Trovadorismo. Os poemas produzidos nessa poca eram feitos para

    serem cantados por poetas e msicos (trovadores, menestris, jograis e segris).

    Recebiam o nome de cantigas porque eram acompanhados de instrumentos de

    corda e de sopro.

    Mais tarde, essas cantigas foram manuscritas e reunidas em livros,

    conhecidos como Cancioneiros. Temos conhecimento de apenas trs

    Cancioneiros. So eles:

    Cancioneiro da Biblioteca Nacional

    Cancioneiro da Ajuda

    Cancioneiro da Vaticana.

    A poesia medieval portuguesa

    Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros, podemos

    classific-las da seguinte forma:

    Gnero lrico em que o amor a temtica predominante.

    Pertencem ao gnero lrico:

    -- Cantigas de amigo

    -- Cantigas de amor

    Gnero satrico em que o objetivo criticar algum, ridicularizando-o de

    forma sutil ou grosseira.

    Pertencem ao gnero satrico:

    -- Cantigas de escrnio

    -- Cantigas de maldizer

  • Caractersticas das cantigas de amigo:

    Eu lrico feminino;

    Motivo literrio principal: o lamento da moa cujo namorado partiu;

    Amor natural e espontneo;

    Ambientao popular rural ou urbana;

    Presena da tradio oral ibrica;

    Presena do paralelismo; musicalidade;

    Paralelismo - a mesma ideia se repete, com leve alterao, em estrofes

    de trs versos, sendo o terceiro o refro.

    Cantiga de Amigo

    Ai flores, ai flores do verde pino,

    se sabedes novas do meu amigo!

    ai Deus, e u ?

    Ai flores, ai flores do verde ramo,

    se sabedes novas do meu amado!

    ai Deus, e u ?

    Se sabedes novas do meu amigo,

    aquel que mentiu do que ps comigo!

    ai Deus, e u ?

    Se sabedes novas do meu amado,

    aquel que mentiu do que mi h jurado!

    ai Deus, e u ?

    Caractersticas das cantigas de amor:

    Eu lrico masculino.

    Ausncia do paralelismo; predominncia das ideias.

    Motivo literrio principal: a coita amorosa do poeta perante uma mulher

    idealizada.

    Homem (vassalo), mulher (suserana).

    Amor corts, convencionalismo.

  • Ambientao aristocrtica das cortes.

    Forte Influncia provenal.

    Cantiga de amor

    Estes meus olhos nunca perdern,

    senhor, gran coita, mentr' eu vivo for.

    E direi-vos, fremosa mia senhor,

    destes meus olhos a coita que han:

    choran e cegan quand'algun non veen

    e ora cegan per algun que veen.

    1. grande sofrimento

    2. enquanto

    3. o sofrimento que meus olhos tm

    Cantigas de Escrnio:

    Nestas cantigas o nome da pessoa satirizada no aparecia. As stiras eram

    feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.

    Cantiga de Escrnio

    Ai dona fea! foste-vos queixar

    porque vos nunca louv'en meu trobar

    mais ora quero fazer un cantar

    en que vos loarei toda via

    e vedes como vos quero loar

    dona fea, velha e sandia !

    Cantigas de Maldizer

    Por meio delas, os trovadores faziam stiras diretas, chegando muitas

    vezes a agresses verbais. Em algumas situaes eram utilizados palavres. O

    nome da pessoa satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou no.

    "Ben me cuidei eu, Maria Garcia,

  • en outro dia, quando vos fodi,

    que me non partiss'eu de vs assi

    como me parti j, mo vazia,

    vel (1) por servio muito que vos fiz;

    que me non deste, como x'omen diz (2),

    sequer um soldo que ceass'(3) um dia.

    1 em troca de 2 como se diz 3 - suficiente

    Desenvolvendo Competncias

    1. (Enem) Leia atentamente um trecho de uma msica de Caetano Veloso e, em

    seguida, assinale a alternativa correta.

    Um amor assim delicado Voc pega e despreza No devia ter despertado Ajoelha e no reza Dessa coisa que mete medo Pela sua grandeza No sou o nico culpado Disso eu tenho a certeza Princesa, surpresa, voc me arrasou Serpente, nem sente que me envenenou Senhora, e agora, me diga onde eu vou Senhora, serpente, princesa (...)

    a) O texto remete ao lirismo trovadoresco presente nas cantigas de amigo. b) O texto apresenta uma clara postura de vassalagem amorosa. c) O texto moderno, com referncia clara s razes da poesia palaciana. d) A presena do vocativo Senhora remete ao amor carnal, tpico do perodo feudal. e) O homem posiciona-se como um heri perante a mulher amada. 2. (Enem) As produes culturais abaixo foram realizadas em momentos

    distintos, mas possuem elementos que as aproximam. Sobre elas marque o item

    errado.

    Texto I Atrs da porta

  • Quando olhaste bem nos olhos meus

    E o teu olhar era de adeus, juro que no acreditei

    Eu te estranhei, me debrucei

    Sobre o teu corpo e duvidei

    E me arrastei, e te arranhei

    E me agarrei nos teus cabelos

    Nos teus pelos, teu pijama

    Nos teus ps, ao p da cama

    Sem carinho, sem coberta

    No tapete atrs da porta

    Reclamei baixinho

    Dei pr maldizer o nosso lar

    Pra sujar teu nome, te humilhar

    E me vingar a qualquer preo

    Te adorando pelo avesso

    Pra mostrar que ainda sou tua

    At provar que ainda sou tua. Chico Buarque\ Francis Hime

    Texto II

    Ondas do mar de Vigo,

    se vistes meu amigo?

    E ai Deus, se vir logo!

    Ondas do mar levado,

    se vistes meu amado?

    E ai Deus, se vir logo!

    Se vistes meu amigo,

    por quem eu suspiro?

    E ai Deus, se vir logo!

    Se vistes meu amado,

    por quem tenho grande cuidado?

    E ai Deus, se vir cedo! Martim Codax

    a) Um dos pontos fundamentais que torna as duas produes acima comuns

    seria a voz que expressa o seu sentimento, que em ambos os casos feminina.

    b) O texto II uma tpica cantiga de amigo do Trovadorismo cuja origem popular

    associa escassez vocabular e a insistente repetio de versos (refro).

  • c) Em ambos os casos o elemento masculino instaurou uma espcie de crise no

    interior do universo feminino e, ao que tudo indica, somente ele poderia trazer o

    equilbrio daquela que sofre.

    d) No texto I, a linguagem possui uma maior capacidade de articulao dos

    recursos poticos como, por exemplo, a metfora, aspecto que o torna muito

    mais polissmico que o outro.

    e) O objeto potico do texto II passou a ser venerado de outra maneira (pelo

    avesso) com o ntido intuito de traz-lo para a antiga comunho do casal.

    3. (Mackenzie adaptada) Utilizando como base o texto a seguir, responda

    questo 3.

    1. Me sinto com a cara no cho, mas a verdade precisa

    2 ser dita ao menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava

    3. a admirvel forma lrica da cano paralelstica

    4. ().

    5. O Cantar de amor foi fruto de meses de leitura

    6. dos cancioneiros. Li tanto e to seguidamente aquelas

    7. deliciosas cantigas, que fiquei com a cabea

    8. cheia de velidas e mha senhor e nula ren;

    9. sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias

    10. a San Servando. O nico jeito de me livrar da

    11. obsesso era fazer uma cantiga.

    Manuel Bandeira

    No texto, o autor:

    a) manifesta sua resistncia obrigatoriedade de ler textos medievais durante o

    perodo de formao acadmica.

    b) utiliza a expresso cabea cheia (linha 08) para depreciar as formas

    lingusticas do galaico-portugus, como mha senhor e nula ren (linha 08 ).

    c) relata circunstncias que o levaram a compor um poema que recupera a

    tradio medieval.

    d) emprega a palavra cancioneiros (linha 06) em substituio a poetas, uma

    vez que os textos medievais eram cantados.

    e) usa a expresso deliciosas cantigas (linha 07) em sentido irnico, j que os

    modernistas consideraram medocres os estilos do passado.

  • 4. (Mackenzie) Assinale a alternativa incorreta a respeito do Trovadorismo em

    Portugal.