Abel Cruz - A Nobreza Portuguesa Em Marrocos No Séc. XV (1415-1464)
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Curso completo Professora Slvia Gelpke Literatura
Trovadorismo (sc. XII ao XV)
Contexto histrico
Momento em que Portugal, a partir da segunda metade do sc. XII,
comea a afirmar-se como reino independente, ainda que mantivesse ligaes
econmicas, sociais e culturais com a pennsula Ibrica. Desses laos surgiu,
prximo Galcia (regio ao norte do rio Douro), uma lngua particular, de traos
prprios, chamada galego-portugus. A produo literria dessa poca foi feita
nessa variao lingustica.
Era a poca das Cruzadas, da luta contra os mouros, do feudalismo, do
poder espiritual do clero. A cultura trovadoresca refletia bem o panorama
histrico desse perodo em que o poder da Igreja era bastante forte.
O sistema econmico dominante, o feudalismo, consistia numa hierarquia
rgida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concesso de uma terra
(feudo) a outro indivduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia
proteo ao vassalo como recompensa por certos servios prestados.
Essa poca foi caracterizada por uma viso teocntrica (Deus como
centro do Universo. At mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos.
Tanto a pintura como a escultura procuraram retratar cenas da vida de santos
ou episdios bblicos.
Quanto arquitetura, predominava o estilo gtico. As catedrais eram
enormes e imponentes, projetadas para o alto semelhana de mos tentando
tocar o cu.
A literatura
Na literatura, desenvolveu-se em Portugal um movimento literrio
chamado Trovadorismo. Os poemas produzidos nessa poca eram feitos para
serem cantados por poetas e msicos (trovadores, menestris, jograis e segris).
Recebiam o nome de cantigas porque eram acompanhados de instrumentos de
corda e de sopro.
Mais tarde, essas cantigas foram manuscritas e reunidas em livros,
conhecidos como Cancioneiros. Temos conhecimento de apenas trs
Cancioneiros. So eles:
Cancioneiro da Biblioteca Nacional
Cancioneiro da Ajuda
Cancioneiro da Vaticana.
A poesia medieval portuguesa
Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros, podemos
classific-las da seguinte forma:
Gnero lrico em que o amor a temtica predominante.
Pertencem ao gnero lrico:
-- Cantigas de amigo
-- Cantigas de amor
Gnero satrico em que o objetivo criticar algum, ridicularizando-o de
forma sutil ou grosseira.
Pertencem ao gnero satrico:
-- Cantigas de escrnio
-- Cantigas de maldizer
Caractersticas das cantigas de amigo:
Eu lrico feminino;
Motivo literrio principal: o lamento da moa cujo namorado partiu;
Amor natural e espontneo;
Ambientao popular rural ou urbana;
Presena da tradio oral ibrica;
Presena do paralelismo; musicalidade;
Paralelismo - a mesma ideia se repete, com leve alterao, em estrofes
de trs versos, sendo o terceiro o refro.
Cantiga de Amigo
Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u ?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u ?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que ps comigo!
ai Deus, e u ?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi h jurado!
ai Deus, e u ?
Caractersticas das cantigas de amor:
Eu lrico masculino.
Ausncia do paralelismo; predominncia das ideias.
Motivo literrio principal: a coita amorosa do poeta perante uma mulher
idealizada.
Homem (vassalo), mulher (suserana).
Amor corts, convencionalismo.
Ambientao aristocrtica das cortes.
Forte Influncia provenal.
Cantiga de amor
Estes meus olhos nunca perdern,
senhor, gran coita, mentr' eu vivo for.
E direi-vos, fremosa mia senhor,
destes meus olhos a coita que han:
choran e cegan quand'algun non veen
e ora cegan per algun que veen.
1. grande sofrimento
2. enquanto
3. o sofrimento que meus olhos tm
Cantigas de Escrnio:
Nestas cantigas o nome da pessoa satirizada no aparecia. As stiras eram
feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.
Cantiga de Escrnio
Ai dona fea! foste-vos queixar
porque vos nunca louv'en meu trobar
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via
e vedes como vos quero loar
dona fea, velha e sandia !
Cantigas de Maldizer
Por meio delas, os trovadores faziam stiras diretas, chegando muitas
vezes a agresses verbais. Em algumas situaes eram utilizados palavres. O
nome da pessoa satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou no.
"Ben me cuidei eu, Maria Garcia,
en outro dia, quando vos fodi,
que me non partiss'eu de vs assi
como me parti j, mo vazia,
vel (1) por servio muito que vos fiz;
que me non deste, como x'omen diz (2),
sequer um soldo que ceass'(3) um dia.
1 em troca de 2 como se diz 3 - suficiente
Desenvolvendo Competncias
1. (Enem) Leia atentamente um trecho de uma msica de Caetano Veloso e, em
seguida, assinale a alternativa correta.
Um amor assim delicado Voc pega e despreza No devia ter despertado Ajoelha e no reza Dessa coisa que mete medo Pela sua grandeza No sou o nico culpado Disso eu tenho a certeza Princesa, surpresa, voc me arrasou Serpente, nem sente que me envenenou Senhora, e agora, me diga onde eu vou Senhora, serpente, princesa (...)
a) O texto remete ao lirismo trovadoresco presente nas cantigas de amigo. b) O texto apresenta uma clara postura de vassalagem amorosa. c) O texto moderno, com referncia clara s razes da poesia palaciana. d) A presena do vocativo Senhora remete ao amor carnal, tpico do perodo feudal. e) O homem posiciona-se como um heri perante a mulher amada. 2. (Enem) As produes culturais abaixo foram realizadas em momentos
distintos, mas possuem elementos que as aproximam. Sobre elas marque o item
errado.
Texto I Atrs da porta
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus, juro que no acreditei
Eu te estranhei, me debrucei
Sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei, e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pelos, teu pijama
Nos teus ps, ao p da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrs da porta
Reclamei baixinho
Dei pr maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preo
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
At provar que ainda sou tua. Chico Buarque\ Francis Hime
Texto II
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ai Deus, se vir logo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se vir logo!
Se vistes meu amigo,
por quem eu suspiro?
E ai Deus, se vir logo!
Se vistes meu amado,
por quem tenho grande cuidado?
E ai Deus, se vir cedo! Martim Codax
a) Um dos pontos fundamentais que torna as duas produes acima comuns
seria a voz que expressa o seu sentimento, que em ambos os casos feminina.
b) O texto II uma tpica cantiga de amigo do Trovadorismo cuja origem popular
associa escassez vocabular e a insistente repetio de versos (refro).
c) Em ambos os casos o elemento masculino instaurou uma espcie de crise no
interior do universo feminino e, ao que tudo indica, somente ele poderia trazer o
equilbrio daquela que sofre.
d) No texto I, a linguagem possui uma maior capacidade de articulao dos
recursos poticos como, por exemplo, a metfora, aspecto que o torna muito
mais polissmico que o outro.
e) O objeto potico do texto II passou a ser venerado de outra maneira (pelo
avesso) com o ntido intuito de traz-lo para a antiga comunho do casal.
3. (Mackenzie adaptada) Utilizando como base o texto a seguir, responda
questo 3.
1. Me sinto com a cara no cho, mas a verdade precisa
2 ser dita ao menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava
3. a admirvel forma lrica da cano paralelstica
4. ().
5. O Cantar de amor foi fruto de meses de leitura
6. dos cancioneiros. Li tanto e to seguidamente aquelas
7. deliciosas cantigas, que fiquei com a cabea
8. cheia de velidas e mha senhor e nula ren;
9. sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias
10. a San Servando. O nico jeito de me livrar da
11. obsesso era fazer uma cantiga.
Manuel Bandeira
No texto, o autor:
a) manifesta sua resistncia obrigatoriedade de ler textos medievais durante o
perodo de formao acadmica.
b) utiliza a expresso cabea cheia (linha 08) para depreciar as formas
lingusticas do galaico-portugus, como mha senhor e nula ren (linha 08 ).
c) relata circunstncias que o levaram a compor um poema que recupera a
tradio medieval.
d) emprega a palavra cancioneiros (linha 06) em substituio a poetas, uma
vez que os textos medievais eram cantados.
e) usa a expresso deliciosas cantigas (linha 07) em sentido irnico, j que os
modernistas consideraram medocres os estilos do passado.
4. (Mackenzie) Assinale a alternativa incorreta a respeito do Trovadorismo em
Portugal.