Triste fim de Policarpio Quaresma

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Assim, Lima Barreto encaixa-se no Pré-Modernismo (1902-22), pois, respeita códigos literários antigos (principalmente o Naturalismo, conforme anteriormente apontado), mas já apresenta uma linguagem nova, mais arejada em relação ao momento anterior. O romance narrado em terceira pessoa, descreve a vida política do Brasil após a Proclamação da República, caricaturizando o nacionalismo ingênuo, fanatizante e xenófobo do Major Policarpo Quaresma, apavorado com a descaracterização da cultura e da sociedade brasileira, modelada em valores europeus. Divertido e colorido no início, o livro se desdobra no sofrimento patético do major Quaresma, incompreendido e martirizado, convertido numa espécie de Dom Quixote nacional, otimista incurável, visionário, paladino da justiça, expressando na sua ingenuidade a doçura e o calor humano do homem do povo. O romance anuncia no título o seu desfecho pouco alegre, apesar do enredo em que os efeitos cômicos estão aliados ao entusiasmo ingênuo do personagem central e ao seu inconformismo e obsessões. Quaresma é um tipo rico em manifestações inusitadas: seus requerimentos pedindo o tupi-guarani como língua oficial, seu jeito de receber chorando as visitas, suas pesquisas folclóricas; tudo procurando despertar o riso no leitor que, no final, presencia sua morte solitária e triste: “Com tal gente era melhor tê-lo deixado morrer só e heroicamente num ilhéu qualquer, mas levando para o túmulo inteiramente intacto o seu orgulho, a sua doçura, a sua personalidade moral, sem a mácula de um empenho, que diminuísse a injustiça de sua morte, que de algum modo fizesse crer aos algozes que eles tinham direito de matá-lo”. Outro personagem que merece especial atenção é Ricardo Coração dos Outros, o seresteiro do subúrbio, que enriquece a narrativa em que se mostra a paixão pela cidade, os bairros distantes, as serenatas e os violões compondo um cenário pitoresco do Rio de Janeiro da época. Estrutura da obra A obra divide-se em três partes. Primeira parte - Retrata o burocrata exemplar, patriota e nacionalista extremado, interessado pelas coisas do Brasil: a música, o folclore e o tupi- guarani. Esta parte está ligada à Cultura Brasileira, onde conhecemos a personagem e suas manias. Sabe tudo sobre a geografia do nosso país. Sua casa é repleta de livros que se refiram à nossa nação. O que come e bebe é tipicamente brasileiro. Até o seu jardim só possui plantas nativas. Chega a estudar violão – instrumento de má fama na época, pois era associado a malandros – com Ricardo Coração dos Outros, já que descobre que a modinha, estilo tipicamente brasileiro, era tocada com esse instrumento. Duas são suas grandes ações. A primeira está em estudar o folclore do Brasil para incrementar uma festa de seu vizinho, General Albernaz com algum folguedo popular. Descobre então o Tangolomango, brincadeira que consistia na dança com

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sobre o livro O Triste Fim de Policarpio Quaresma

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Assim, Lima Barreto encaixa-se no Pr-Modernismo (1902-22), pois, respeita cdigos literrios antigos (principalmente o !at"ralismo, con#orme anteriormente apontado), mas $ apresenta "ma ling"agem no%a, mais are$ada em rela&'o ao momento anterior() romance narrado em terceira pessoa, descre%e a %ida pol*tica do Brasil aps a Proclama&'o da +ep,-lica, caricat"ri.ando o nacionalismo ing/n"o, #anati.ante e xen#o-o do Ma$or Policarpo 0"aresma,apa%orado com a descaracteri.a&'o da c"lt"ra e da sociedade -rasileira, modelada em %alores e"rope"s(1i%ertido e colorido no in*cio, o li%ro se desdo-ra no so#rimento pattico do ma$or 0"aresma, incompreendido e martiri.ado, con%ertido n"ma espcie de 1om 0"ixote nacional, otimista inc"r%el, %isionrio, paladino da $"sti&a, expressando na s"a ingen"idade a do&"ra e o calor 2"mano do 2omem do po%o() romance an"ncia no t*t"lo o se" des#ec2o po"co alegre, apesar do enredo em 3"e os e#eitos c4micos est'o aliados ao ent"siasmo ing/n"o do personagem central e ao se" incon#ormismo e o-sess5es( 0"aresma "m tipo rico em mani#esta&5es in"sitadas6 se"s re3"erimentos pedindo o t"pi-g"arani como l*ng"a o#icial, se" $eito de rece-er c2orando as %isitas, s"as pes3"isas #olclricas7 t"do proc"rando despertar o riso no leitor 3"e, no #inal, presencia s"a morte solitria e triste6 Com tal gente era melhor t-lo deixado morrer s e heroicamente num ilhu qualquer, mas levando para o tmulo inteiramente intacto o seu orgulho, a sua doura, a sua personalidade moral, sem a mcula de um empenho, que diminusse a inustia de sua morte, que de algum modo !i"esse crer aos algo"es que eles tinham direito de mat-lo#$ )"tro personagem 3"e merece especial aten&'o +icardo 8ora&'o dos )"tros, o seresteiro do s"-,r-io,3"e enri3"ece a narrati%a em 3"e se mostra a paix'o pela cidade, os -airros distantes, as serenatas e os %iol5es compondo "m cenrio pitoresco do +io de 9aneiro da poca(Estrutura da obraA o-ra di%ide-se em tr/s partes( Primeira parte - +etrata o -"rocrata exemplar, patriota e nacionalista extremado, interessado pelas coisas do Brasil6 a m,sica, o #olclore e o t"pi-g"arani( :sta parte est ligada ; 8"lt"ra Brasileira, onde con2ecemos a personagem e s"as manias( eneral Al-erna. com alg"m #olg"edo pop"lar( 1esco-re ent'o o ?angolomango, -rincadeira 3"e consistia na dan&a com de. crian&as, at 3"e "m s"$eito, com "ma mscara, de%eria pegar "ma a "ma s"cessi%amente( ) pro-lema 3"e 0"aresma empolgo"-se tanto com a -rincadeira 3"e termino" passando mal, por #alta de ar, o", como se di.ia na poca, aca-o" tendo "m @tangolomangoA( Por a* $ se tem "ma idia da ironia do a"tor() cl*max da #alta de senso de rid*c"lo do protagonista #oi ter mandado ; 8Bmara "m re3"erimento, pedindo para 3"e a l*ng"a o#icial do Brasil deixasse de ser o Port"g"/s, idioma emprestado e por isso incenti%ador de in,meraspol/micas entre nossos gramticos (se" arg"mento, nesse aspecto, o de 3"en'o podemos dominar "m idioma 3"e n'o nosso e 3"e, portanto, n'o respeita a nossa realidade( Cdias-astante interessantes, mas apenas isso, pois rid*c"lo imaginar 3"e "ma l*ng"a se$a m"dada por decreto)( !o se" l"gar prop5e o t"pi(+es"ltado6 %ira moti%o de c2acota at na Cmprensa( enel*cio e B"stamante, sa*ram-se %itoriosos(!o #inal, tal 3"al 1om 0"ixote, 0"aresma acorda, reco-ra a ra.'o( Perce-e 3"e a ptria, por 3"e sempre l"tara, era "ma il"s'o, n"nca existira( !"m momento p"ngente, tocante, desco-re 3"e passara toda a s"a%ida n"ma in"tilidade(:m %riste &im de 'olicarpo (uaresma, na con#ig"ra&'o dos elementos da narrati%a, notamos a presen&a predominante da ironia e as impertin/ncias contidas na #ig"ra central do romance, 0"aresma, alegando 3"e o t"pi, por ser a l*ng"a nati%a -rasileira proporcionaria mel2or adapta&'o ao nosso aparel2o #onador( Alm disso, seg"ndo ele, os port"g"eses s'o os donos da l*ng"a e, para alter-la ter*amos de pedir licen&a a eles( ) narrador solidrio com s"a personagem pois n'o deixa de criticar os 3"e .om-am de 0"aresma( !o li%ro, encontramos ora "m 0"aresma, ent"siasmado, apaixonado pelo Brasil, ora "m 0"aresma desil"dido, amargo, diante da ingratid'o do pa*s para com se"s -ons o-$eti%os( !esse ponto, o 3"e %emos "m personagem condenado ; solid'o, $ 3"e se"s ideais -atem de #rente com os interesses pol*ticos e com o capital estrangeiro(1esse modo, temos o personagem central %i%endo tr/s momentos na o-ra6 %alori.ando as coisas da terra= a 2istria, a geogra#ia, a literat"ra, o #olclore7 no s*tio do sossego a #r"strada -"sca de "ma sol"&'o parao pro-lema agrrio, o 3"e #a. o romance se %estir de "ma pro#"nda at"alidade7 #inalmente, o en%ol%imento na +e%olta da Armada, o 3"e aca-a l2e c"stando a %ida(Enredo) #"ncionrio p,-lico Policarpo 0"aresma, nacionalista e patriota extremado, con2ecido por todos comoma$or 0"aresma, no Arsenal de >"erra, onde exerce a #"n&'o de s"-secretrio( "erra( ) incidente gera%a s"a s"spens'o - 3"e apenas n'o se trans#ormara em demiss'o por inter%en&'o de Jicente 8oleoni - e ole%ara a tomar a decis'o de interna-se no 2osp*cio, locali.ado na Praia das