Trigueirinho Dissertação Figueira

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    MRCIA DE OLIVEIRA ESTRZULAS

    A COMUNIDADE ESPIRITUAL FIGUEIRA: AINFLUNCIA DE TRIGUEIRINHO SOBRE O EU

    (SELF) DE SEUS SEGUIDORES

    1 EDIO

    2010

    FORMA DIAGRAMAO

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    Dedico esta dissertao aos meuspais, Daniel e Eny, aos quais devo tudo,aos quais amo profundamente, e a meusobrinho e afilhado, Marcelo, na espe-rana de despertar seu interesse pela

    pesquisa.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Roberto Ramos, professor do Doutorado da Facul-dade de Comunicao Social - PUCRS (Famecos-PUCRS), que me re-comendou ao Mestrado de Cincias Sociais PUCRS;

    Prof. Dra. Merli Leal Silva, professora coordenadora do Cur-so de Publicidade e Propaganda da Universidade Metodista IPA,da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e do PGCOM-PUCRS, que me incentivou a fazer o mestrado e me indicou aoPGCS-PUCRS;

    Ao Prof. Me. Eduardo Pedro Corsetti, professor de CinciasPolticas da UFRGS, que me recomendou ao PGCS;

    Ao Prof. Dr. Glnio Nicola Povoas, professor da Famecos, pelacpia do filme de Trigueirinho Bahia de todos os Santos (1960) epelas cpias da revista Anhembi de crtica de cinema editada pelaUSP;

    Ao Prof. Dr. Hlio R.S. Silva, professor convidado do PGCS, porter despertado em mim a admirao por Erving Goffman e pelo

    interacionismo simblico, alm de suas ricas orientaes extra-ofi-ciais;

    Ao Prof. Dr. Joo Lus Medeiros, ex-professor convidado doPGCS, pelo incentivo, considerao e orientaes;

    Ao Prof. Dr. Ricardo Mariano, professor permanente do PGCS,excelente ouvidor, mediador e coordenador;

    Ao Prof. Dr. dson Gastaldo, professor do PGCSUNISINOS, pelasorientaes e por seu parecer sobre as alteraes requeridas pela

    Banca, mesmo sem termos nos conhecido pessoalmente; Agradeo ao ex-colega, ex-vice reitor da UNISC, Me. Marcos

    Moura Batista dos Santos, atual Coordenador do Departamento de Antropologia da UNISC, por seu parecer sobre as alteraesrequeridas pela Banca;

    Agradeo ao ex-colega, Me. Joo Paulo Cunha, professor depoltica da graduao da UFRGS, por seu parecer das alteraessugeridas pela Banca;

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    professora Dra. M Suzana Arrosa Soares, professora doPGCS-UFRGS, pelo seu parecer e consultoria em relao as altera-es sugeridas pela Banca;

    Ao Prof. Me. Celso Dias, professor da FACCAT, pela orientaoprovidencial e apoio emocional; Prof. Me. Ivone Bengochea, professora da Faculdade So

    Judas Tadeu, por sua ajuda metodolgica e didtica na apresenta-o oral;

    Ao Prof. Dr. Jos Rogrio Lopes, professor do PGCS-UNISINOS,pela disposio em contribuir, mesmo sem nos conhecermos pes-soalmente at o momento da Banca. Ele um mestre que no s

    transmite conhecimento, mas ensina pelo prprio exemplo. Esta a verdadeira maestria, uma vocao que me re-encantou pelo of-cio do educador;

    Agradeo ao Professor Dr. Lo Peixoto Rodrigues, pela sua re-orientao em relao as alteraes sugeridas pela Banca;

    Ao tempo, o melhor dos mestres, senhor da razo e da justi-a;

    AO MEU MESTRE, MESTRE DOS MESTRES, MESTRE DOS AN-

    JOS E DOS HOMENS.

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    NOTA DO AUTOR

    Este livro a publicao na ntegra da Dissertao apresenta-da como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre emCincias Sociais, pelo Programa de Mestrado em Cincias Sociais,rea de concentrao Organizaes e Sociedade, da Faculdadede Filosofia e Cincias Humanas da Pontifcia Universidade Catli-ca do Rio Grande do Sul.

    Como tal, este trabalho uma pesquisa metodolgica cient-fica cujo fim no pessoal com relao pessoas ou fatos, apenas

    uma anlise comportamental cinetfica.

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................ 13

    2 A COMUNIDADE FIGUEIRA ..................................... 29

    2.1 A COMUNIDADE FIGUEIRA E ASPECTOS DA TRAJETRIADE SEU LDER ............................................................... 302.1.1 A Fundao da Comunidade Nazar ................. 342.2 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE FIGUEIRA,

    ASPECTOS LOGSTICOS, MATERIAIS, ETC. .................... 372.2.1 Estrutura Fsica: Sede, Casas, Setores, Monastrios,Redes de Servio no Brasil e no Exterior ....................... 402.2.2 Organizao Administrativa, Hierarquia, Categoria deMembros, Atividades, etc. ............................................. 44

    2.2.3 Forma de Subsistncia, Trabalho Voluntrio e Gratuito..................................................................................... 47

    2.3 CULTURA ESPIRITUAL DE FIGUEIRA ..................... 502.4 CONCLUSO ........................................................... 55

    3 ERVING GOFFMAN - O INTERACIONISMO SIMBLICOCOMO MARCO PARA A ANLISE DOS RITOS DA INSTITUIOE DOS RITOS DA INTERAO........................................ 57

    3.1 ERVING GOFFMAN - UMA VIDA MESCLADA COM SUAVISO TERICA ............................................................ 573.2 INTERAO SOCIAL................................................ 683.1.1 A persuaso entre atores sociais .......................... 72

    3.1.2 Instituies Totais ................................................ 75

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    3.1.3 Comunidade desviante......................................... 84

    4 MTODO DE GOFFMAN E SUA APLICAO NA INTERAOSOCIAL DE FIGUEIRA.................................................. 89

    4.1 PROCEDIMENTOS TERICO-METODOLGICOS...... 894.2 A PESQUISA DE CAMPO SEGUNDO O MTODO DEGOFFMAN ..................................................................... 924.3 CATEGORIAS DE ANLISE DOS RITOS DA INSTITUIODIMENSIONADAS COMO categorias ABSORVENTES ..... 95

    4.3.1 Anotaes das observaes de campo dos ritos dainstituio j categorizadas .......................................... 974.4 CATEGORIAS SOBRE OS RITOS DE INTERAODIMENSIONADAS COMO categorias CONVERGENTES 1134.4.1 Roteiro dramtico de uma instituio total ........ 115

    4.4.2 Concluso .......................................................... 126

    CONSIDERAES FINAIS............................................. 127

    REFERNCIAS ............................................................. 135

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    1 INTRODUO

    Esta dissertao tem como objetivo apresentar o estudo dacomunidade Figueira. Para tanto foram organizados cinco cap-tulos. A introduo o primeiro.

    No segundo h o histrico de Figueira. Traamos a trajet-ria pessoal do fundador da comunidade, trazendo luz alguns dadosda sua biografia, sua formao de diretor de cinema no Brasil e noexterior, seus trabalhos e obras na rea, seus sucessos e fracassosprofissionais at a desistncia da carreira de cineasta e a posterior

    fundao da comunidade Nazar, de onde foi excludo pelo pr-prio grupo devido sua forma de administr-la. Aps sair daNazar, Trigueirinho funda a comunidade Figueira, uma orga-nizao ainda mais fechada que a Nazar. Concomitantemente administrao de Figueira, Trigueirinho escreveu dezenas de li-vros com profecias do fim do mundo e o resgate da terra com aju-da de extraterrestres. Hoje vive isolado.

    Depois, apresentamos a comunidade Figueira, propriamen-

    te dita, sua localizao geogrfica, o nmero aproximado de resi-dentes, objetivo principal, extenso territorial, sua fauna e flora,um panorama geral das atividades cotidianas e os perfis das pes-soas que podem participar das rotinas e tarefas.

    A estrutura fsica da comunidade, a utilizao do espao geo-grfico tem relao com a organizao espiritual e hierrquica. Aorganizao hierrquica segue o modelo de pirmide. O lder vita-lcio Trigueirinho fica no topo (o profetismo tornou-se sua formade ascendncia), os grupos externos e itinerantes na base e,intermediando ambos, os coordenadores mais prximos do lder.

    Descrevemos a sede, as atividades e funes das casas na reaurbana, dos setores e monastrios nas reas rurais e dos grupositinerantes do Brasil e exterior que se hospedam e participam dasatividades da comunidade Figueira.

    A diviso de trabalho, de tarefas e de atividades, descrita nes-te trabalho, conseqncia do desenvolvimento da organizao.Uma caracterstica a se destacar so os conflitos decorrentes do

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    choque de valores do grupo de residentes internos e do grupoexterno itinerante. Outro fator que desencadeia divergncias ointeresse do grupo estar acima das individualidades. Tambm o

    modo como as tarefas devem ser executadas e o tempo de duraodas mesmas so previstos pelo grupo de coordenadores internos,sem espao para criatividade, liberdade de escolha e livre-arbtrio,aos grupos de externos itinerantes.

    Tambm apresentamos as formas de subsistncia da comuni-dade: produo agrcola para subsistncia; troca do excedente;doaes de alimentos, remdios, equipamentos, roupas, dinheiro,etc.; mo-de-obra voluntria e gratuita; venda de livros, fitas k-7,

    cds, fitas de vdeo (VHS).Descrevemos a cultura espiritual de Figueira, o eremitrio,onde vivem os eremitas em recluso; seus monastrios femininose masculinos, reclusos e semi-reclusos; as regras, normas, discipli-nas e hbitos advindos da atividade espiritual; a formao ou re-quisitos dos monges, oblatos, zeladores, sacerdotes, seres-espe-lhos, residentes, aspirantes e instrutores so outras peculiaridadesaqui esclarecidas.

    Estivemos pessoalmente em Figueira, e constatamos que lresidem mais ou menos trezentas pessoas. Sua base a vida grupal,h pessoas de todas as idades e nacionalidades com diferentesvivncias. Figueira tem como principal objetivo ser uma escolade formao e instruo espiritual. Como um centro espiritual, cul-tiva o servio e a vida espiritual.

    As terras de Figueira localizam-se na cidade de Carmo daCachoeira, interior de Minas Gerais, regio sudeste do Brasil. Sua

    rea geogrfica , atualmente, uma fazenda de uns cem hectares.Figueira possui fauna e flora abundantes, plantaes para sub-sistncia, casas para alojamento dos visitantes, bibliotecas paraestudo, locais para curas alternativas, laboratrios artesanais e ofi-cinas de trabalho, obras e manuteno. Os alojamento so sim-ples, tanto nas casas da cidade, quanto nas da fazenda, e so dis-tribudos aos visitantes pela secretaria geral conforme a disponibi-lidade e necessidades das tarefas internas.

    No era e no permitido, no perodo em que nos hospeda-mos ali, chamadas telefnicas e contatos externos considerados

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    desnecessrios por parte da administrao. No so permitidostelefones celulares, filmadoras, mquinas fotogrficas ou gravado-res. Os residentes optaram pelo celibato. Os hspedes ou visitan-

    tes so obrigados a assumir essa condio enquanto permanecemno local. Enquanto os visitantes esto ocupando os quartos, soproibidas visitas ao recinto ntimo. Em Figueira no se estimu-lam intimidades e vnculos emocionais.

    O alimento disponibilizado, de acordo com as estaes dotempo, plantado em Figueira organicamente e sem agrotxicos.Os frutos da terra no so comercializados e nenhum dos volunt-rios que participam dessas tarefas remunerado. As refeies so

    vegetarianas e integrais, sem laticnios, acar refinado, sal, alho,cebola, temperos, caf, bebidas alcolicas ou refrigerantes. Noso usadas bebidas alcolicas, drogas ou fumo.

    Os que se hospedam em Figueira devem levar roupas sim-ples para trabalhos, agasalhos para trabalhos noturnos ou mati-nais, relgio para cumprir a agenda de tarefas, despertador paraacordar cedo, lanterna para trabalhos noturnos e para falta de luze demais objetos pessoais. O vesturio deve ser discreto.

    As tarefas compem-se de limpeza de casa, preparo de ali-mentos, desidratao de legumes e frutas, trabalhos na padaria,lavanderia, marcenaria e manuteno, horticultura, jardinagem,plantios e colheitas em geral. Mutires para aberturas de estradas,radioamadorismo para contatos de emergncia, apicultura, edioe difuso de livros, folhetos, boletins e gravaes, recepo dehspedes, alm de atendimento a pessoas necessitadas.

    Todas as atividades so grupais, os estudos e as tarefas so

    desenvolvidos nas reas de trabalho. Aos semi-internos, hspedes,visitantes itinerantes so distribudos tarefas que devem ser reali-zadas nos seus devidos setores. As tarefas comeam antes que odia amanhea e seguem at tardinha. Bem cedo, o grupo todocoopera na limpeza bsica dos ambientes. S depois que servi-do o caf da manh. H refeies ao meio-dia e noite. O recolhi-mento para o sono deve iniciar-se s 20h30min. O silncio deveser respeitado a partir das 21h30min.

    As palestras com Trigueirinho acontecem semanalmente, emespecial, no dia da viglia mensal, nos encontros de orao e nas

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    reunies dos monastrios. Os encontros do setor sade (mdicos eterapeutas) realizam-se tambm semanalmente. Os encontros deorao ocorrem trs vezes ao ano.

    Como fomos, por vrias vezes, Figueira, constatamos queh uma organizao fsica por setores. So duas reas, uma urbanae uma rural na fazenda. A urbana situa-se geograficamente na cida-de de Carmo da Cachoeira, interior de MG. Encontra-se ali a Casa 1,que foi a primeira sede no incio em 1987. Ela designada secreta-ria geral de Figueira, coordena e distribui tarefas. Na rea rural,h uma fazenda de mais ou menos cem hectares e h um setor quechama-se Vida Criativa, onde so feitos plantio de hortas, colhei-

    ta e armazenamento.Em Figueira h, atualmente, sete monastrios. Alguns soreais, fsicos, com localizao geogrfica precisa, onde vivem osresidentes internos; outros so virtuais, ainda no se materializa-ram fisicamente, no tm localizao geogrfica, so considera-dos um modo de vida, uma filosofia, sem precisar de um localfsico concreto propriamente dito:

    O monastrio 1 feminino, semi-recluso. Localiza-se na fa-

    zenda e chamado Figueira 1 ou F1. Ali h o ptio com uma reaaberta e outra reclusa, sendo esta ltima o local onde residemmonjas, que so desestimuladas a ter qualquer contato social como grupo semi-interno e com o prprio grupo interno.

    O monastrio 2 masculino, semi-recluso. Localiza-se na fa-zenda e chamado de Figueira 2 ou F2. H uma rea reclusa, ondeficam os monges.

    O monastrio 3 misto, eremtico (recluso).Figueira 3 ou F3

    localiza-se na fazenda. designado eremitrio, onde atualmentereside Trigueirinho e mais duas pessoas. Este trio vive como ere-mita e no tem contato social com o grupo interno, muito menoscom o grupo externo ou semi-interno. Dos trs, apenas Trigueirinhopode transitar livremente por qualquer setor ou ter contato socialcom quem bem lhe aprouver. So permitidos retiros eremticos emFigueira. O interessado deve levar uma barraca e sua prpria ali-mentao, pois ficar no eremitrio sem contato com ningum.

    O monastrio 4 misto, externo. Localiza-se na casa 4, quefica na cidade de Carmo da Cachoeira.

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    O monastrio 5 misto, externo. Localiza-se em F1 na fazen-da.

    O monastrio 6 misto, domiciliar. Localiza-se em cidades

    distantes da fazenda Figueira.O monastrio 7 misto, itinerante. Localiza-se em cidadesdistantes da fazenda Figueira.

    A organizao Figueira est aberta para pessoas abnegadase teis que formam grupos que poderiam ser denominados de semi-internos ou itinerantes, hspedes, visitantes, simpatizantes, cola-boradores, adeptos, discpulos ou redes de servio. Hospedam-seem Figueira para ouvir as palestras de Trigueirinho. Compram

    livros, executam tarefas, em troca, Figueira fornece comida parao corpo e alimento para o esprito.Percebemos, nas vezes em que visitamos Figueira, que

    Trigueirinho, devido sua personalidade forte e a seu carisma,possui ascendncia sobre o grupo, est, portanto, no topo da pir-mide hierrquica. Trigueirinho, por ser cineasta, por viajar pelomundo, teve uma vida intelectual, uma cultura mais vasta que osintegrantes de seu grupo, adquiriu mais conhecimentos, mais po-

    der intelectual. A poder do saber, de maior soma de conheci-mentos, levou-o a se tornar lder, superior em relao s pessoasdo seu grupo, podendo assim atrair, em torno de si, quantidadede simpatizantes e a organizar comunidades.

    A grande profecia de Trigueirinho, hoje considerado um pro-feta pelo seu grupo, fala sobre a Operao Resgate da raa huma-na. Ela salvar o seu grupo do fim do mundo. Porm para queessas pessoas sejam resgatveis precisam passar por uma mudan-

    a de comportamento. Essa mudana de padro de personalidadetm como finalidade torn-lo humilde, sem liberdade de escolha,sem livre-arbtrio. Dessa forma passam a aceitar, acatar ordens efunes alheias sua natureza individual egosta e a atender aosobjetivos do coletivo, do grupo, e no aos da sua individualidade.

    Percebemos que os internos de Figueira no lidam com di-nheiro, nem conhecem o valor a moeda nacional. A organizaoFigueira, por sua vez, dispe de meios para a obteno de recur-

    sos para a consecuo de suas metas. Uma das formas de arrecadarrecursos atravs de mo-de-obra voluntria e gratuita, alm de

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    contribuies voluntrias. Outra maneira o cultivo agrcola parasubsistncia prpria. A produo excedente trocada na cidade deCarmo da Cachoeira por gneros alimentcios que estejam faltan-

    do. H, atualmente, poucos residentes em Figueira. No h umnmero maior porque, segundo Trigueirinho, no atual momentoda civilizao, poucas pessoas conseguem libertar-se, liberar-se docompromisso com a sociedade. A estrutura, a engrenagem da pre-sente civilizao continua exercendo grande influncia. Algumastm, portanto, que se despojar de encargos e desvincular-se detendncias retrgradas e antiquadas, segundo Trigueirinho, para

    corresponder ao que exigido do residente. Esta postura emergirda renncia das ambies e satisfaes pessoais em funo da co-letividade.

    Os que aspiram vida no local so chamados aspirantes. Elesdevem ter uma disposio para seguir, sem reservas, com abnega-o, com desapego, de forma altrusta e impessoal, o caminho doservio. O aspirante deve deixar de lado o orgulho e o preconceitopara servir humanidade. Deve aprender que a sujeio a uma

    organizao, a uma ordem, s regras, s normas, a determinadascondutas necessria para um trabalho evolutivo e que, impostasnum ambiente, servem de exemplo aos demais.

    O terceiro captulo tem o objetivo de contextualizar, compre-ender e explicar a organizao Figueira. Para tanto utilizamos,como referencial terico e metodolgico, o interacionismo simb-lico. Neste vis esto as pesquisas de Erving Goffman, autor queenfoca as interaes entre atores sociais.

    Num primeiro momento, h a biografia de Erving Goffman, oexplica e justifica temas e conceitos tericos prprios. Assim, al-guns dados biogrficos ajudam a entender como a obra deste au-tor reproduz o status social dele. Uma pesquisa cientfica nunca totalmente dissociada da formao de classe que lhe preexiste, detal maneira que a obra encerra sempre a marca da trajetria socialdo seu autor.

    Traamos os princpios e paradigmas do interacionismo sim-

    blico, dando especial relevncia aos conceitos tericos do livro Arepresentao do Eu na Vida Cotidiana. A abordagem dinmica

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    constitui uma preocupao dos socilogos e antroplogos, por istooptamos por embasar o presente estudo neste referencial terico. Joas (1999) sustenta que a teoria deve ser desenvolvida a partir

    das observaes das interaes dos atores sociais na vida real. Afinalidade desta pesquisa mostrar o que os atores sociais real-mente fazem em determinados contextos, em processos observveisde interao.

    O interacionismo simblico uma escola da microssociologia*e introduz um objeto novo, a situao de interao. Dentro desta viso, a sociologia das organizaes sugere que o funcionamentode uma organizao torna-se vivel com a existncia de um pro-

    cesso flexvel e permanente de negociao entre os vrios atoressociais interessados na forma de diviso do trabalho. A principaltarefa da sociologia das organizaes, dentro da viso dointeracionismo simblico, a reconstituio dos processosinteracionais, definidos e desdobrados no tempo. A tese centralque o sustenta a da conversao diplomtica, o que mantm ainstituio contnua da sociedade. O que tem por objetivo mantera continuidade da instituio da sociedade. (JOAS, 1999)

    Segundo Joas (1999), a interao social um processo quecondiciona o comportamento humano. O ator social tem um eu(self), que se torna objeto para si mesmo, comunica-se consigo pr-prio e age em relao a si. O eu (self) precisa de uma viso reflexi-va; o ator social, atravs de um processo de self-interaction, interagecom o mundo e com outros. Nessa interao, define o significadodas coisas. Por isso h influncia das pesquisas dessa corrente naantropologia e na sociologia. Sua tarefa central identificar o que

    na sociedade condiciona os comportamentos individuais do atorsocial, o que nele faz diferena para aspectos coletivos da socieda-de. O quanto o comportamento individual, a interao social e oator social so afetados pela estrutura social e tambm como osatores sociais podem, atravs de seus comportamentos, individual

    * Referimo-nos microssociologia para apontar diferentes vertentes tericas quesurgem aps a crise dos clssicos, sobretudo Durkheim e Weber nas primeiras dca-das do sculo xx. A microssociologia desenvolveu-se sobretudo no interior da escola

    de Chicago onde surgiram vertentes tais como o evolucionismo psicolgico,quantativismo, condutivismo.

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    e coletivo, alterar as estruturas em que atuam. No possvel con-ceber o ator social sem a sociedade e a sociedade sem o ator social.Os dois so gerados na interao. H influncia do ator social na

    sociedade e vice-versa. A partir da interao, a natureza dual darelao ator social e sociedade gera o processo de individualizaoque derivado da socializao (JOAS, 1991).

    Goffman delimita um campo de estudo propriamente sociol-gico centrado nas situaes, na anlise das relaes sociais em ter-mos de aes recprocas. Em seu estudo sobre os rituais deinterao, examina o trabalho de construo da face (GOFFMAN,1999). O termo face determinado pelos valores percebidos numa

    interao com o ator social. A face d indcios da identidade, do selfformado por caractersticas sociais reconhecidas e aceitas pelo gru-po de atores sociais. As regras do grupo determinam as faces apre-sentadas em interao.

    O livro A Representao do Eu na Vida Cotidiana serve deorientao para estudar a vida social sob o ponto de vista da mani-pulao da impresso aplicvel a qualquer estabelecimento socialconcreto, poderia servir como uma referncia a ser utilizada no

    estudo de casos da vida social institucional.Um estabelecimento social qualquer lugar no qual se reali-za regularmente uma forma particular de atividade. Nesse espaoh uma equipe de atores que, em conjunto, apresenta-se platiautilizando regras de comportamentos social. H uma regio onde preparada a representao. Tambm h uma rea onde essa ence-nao apresentada. A entrada nessas regies vigiada para evi-tar que a platia ou o auditrio veja os bastidores. Entre os mem-

    bros da equipe h certa conivncia, fidelidade, lealdade, vigilnciapara que os segredos que possam prejudicar a representao novenham a pblico.

    O ponto de vista do livro A Representao do Eu na VidaCotidiana o de uma representao teatral, na qual se utilizampremissas, axiomas, princpios de carter dramatrgico. No palcose apresentam simulaes. O ator social se apresenta sob umamscara de um personagem social para personagens sociais,

    projetados por outros atores sociais, a platia social.

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    Em quarto lugar, buscamos na obra de Goffman, publicada nolivro Prises, Manicmios e Conventos, trazer luz as categoriasde anlises que poderiam definir as instituies totais. A caracte-

    rstica marcante de uma instituio total o condicionamento da vida dos indivduos atravs da imposio de regras internas paraas interaes. Neste ambiente institucionalizado, a face, o eu, oself, a identidade ameaada ou deteriorada, podendo ser estig-matizada por parte ou por todos os membros do grupo do qual oator social faz parte, mesmo que no apresente caractersticas fsi-cas que incentivem tais atitudes.

    Em termos conceituais mais detalhados, limitam suas prpri-

    as atividades num nico espao fsico, um mesmo local de mora-dia e trabalho, e as regras de comportamento condicionam a iden-tidade ideolgica e filosfica do grupo. Existe um fechamento emrelao sociedade. Goffman (1999) diz que h importncia socio-lgica nas pesquisas das instituies totais, porque so locais decondicionamento dos atores sociais. Normas coletivas e compuls-rias condicionam o comportamento interacional daqueles que per-tencem ao grupo.

    Tambm um objetivo da instituio total transformar o atorsocial num ser o mais prximo possvel da perfeio idealizada.Goffman (1999) explica que as normas culturais condicionam comoos atores sociais devem agir quando inseridos num determinadogrupo social.

    Ao se fazer parte de uma instituio qualquer, um novo pro-cesso de socializao iniciado, porque comea um processo deadaptao com carter permanente a seus padres de interao.

    Podemos observar como um ator social condiciona sua conduta deacordo com as circunstncias. Isto se explica pelo fato de o atorsocial ser flexvel e ter a capacidade de se adaptar ao meio social ecultural. O contexto e a conjuntura social condicionam a atitude eat o pensamento, porque a instituio exerce domnio sobre oeu (self) ou personalidade dos seus membros, condicionando suaideologia, cultura, costumes, hbitos, conduta e postura.

    Por ltimo, buscamos delinear, superficialmente, o perfil da-

    queles que se identificam com comunidades desviantes, os estig-matizados, divergentes, outsiders, liminares, retrados, marginais,

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    deslocados, rebeldes, perdidos, desenraizados, minorias, artistas,etc. Durante a mudana do sculo XX para o XXI, houve um pero-do de transio. Dentro desse contexto surgiu Trigueirinho re-anun-

    ciando a Era de Aqurio, um movimento to diverso quanto acontracultura da dcada de 1960, e com razes na New Age.Trigueirinho anunciava em suas profecias que a transio para omilnio aquariano, de amor e fraternidade, seria plena de violn-cia e riscos para os espiritualmente despreparados. Por outro lado,os que estivessem em harmonia com a operaoresgate, lideradapor ele, ingressariam numa nova era de iluminao espiritual eseriam orientados por seres intra-terrenos, superiores e avana-

    dos, emissrios de uma civilizao extra-terrestre, cujas espaonaveseram os OVNIS, ajudariam a criar uma nova civilizao.Contemporaneamente no existe mais a identificao fsica

    do estigma, mas existem os estigmatizados. So aqueles que poralgum motivo no so aceitos em determinada comunidade, por-que se afastam das expectativas sociais, culturais, econmicas, in-telectuais, fsicas, etc.Suas resignaes sociais podem se manifes-tar como um mecanismo de fuga e abandono da sociedade, con-

    vergindo para comunidades desviantes (GOFFMAN, 1988), ondeentram em contato com seus semelhantes formando uma sub-cul-tura.

    Os desviantes sociais, descreve Goffman (1988), orgulham-sede sua rebeldia e evitam as divergncias (Velho, 1974), restringin-do-se proteo auto-defensiva de viverem isolados numa sub-comunidade. Ali no se sentem mais deslocados como na socieda-de aberta. Sentem-se melhores, superiores, exemplos e modelos

    de vida para os atores sociais da sociedade aberta, assim atraemmais simpatizantes. Turner (1974) diz que a communitas formadapor um conjunto de atores sociais concretos e idiossincrsicos que,apesar de serem diferentes quanto ao fsico e s personalidades,so iguais do ponto de vista da humanidade comum a todos. Bus-cam uma transformao e encontram algo profundamente comunale compartilhado: sua alma ou humanidade, sua comumunidade.

    No quarto captulo, descrevemos o mtodo de pesquisa, cria-

    do por Goffman, para observar de forma participativa as interaes.Em primeiro lugar, descrevemos o procedimento terico-

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    metodolgico Goffminiano utilizado na pesquisa de campo emFigueira. Em segundo lugar, tomamos cincia desta comunidadepor intermdio da cadeira de cinema, da Faculdade de Comunica-

    o Social da PUCRS (FAMECOS-PUCRS). Trigueirinho foi um diretorpremiado na fase do Cinema Novo brasileiro, em 1960, com o fil-me Bahia de todos os Santos. Em terceiro lugar, importanteressaltar que esta pesquisa pioneira. No existiam estudos, en-saios, artigos, textos acadmicos anteriores sobre esta organiza-o. Tivemos, pois, que desbravar um novo caminho de pesquisa econstruir um novo saber, um novo conhecimento. O ineditismotornou-a trabalhosa. Levamos seis anos para realiz-la. Tivemos

    paradas que foram muito frutferas, pois procuramos pr em prti-ca o que o socilogo Domenico de Masi chamou de cio criativo,isto , utilizar o tempo de lazer, o tempo recreativo para criar, pro-duzir sem presso, sem estresse.

    Por curiosidade, um exemplo do esforo que fizemos: H umlivro chamado Internados, de Goffman, editado em Buenos Aires,pela Amorrortu Editores. Na poca, estava esgotado na editora,no foi encontrado na Feira Internacional do Livro de Porto Alegre

    em novembro de 2006. No estava disponvel na biblioteca daPUCRS, UFRGS, Ulbra nem Unisinos. Nenhum dos professores doPGCS, nem os sebos de Porto Alegre, RS, possuam um exemplaroriginal ou cpia de tal livro. Somente encontramos um exemplar,de 1972, em um sebo de So Paulo, SP, atravs da internet e envi-ado via sedex.

    Esperamos que esta dissertao possa servir de referncia paraposteriores estudos e aprofundamentos sobre o mesmo tema. Po-

    damos ter optado pelo vis do messianismo, ou, pelo vis dopoder, estudado por Foucault, ou, ainda, do mesmo autor , o visde vigilncia e punio. Ainda, poderamos ter optado, pelo pon-to de vista do lder carismtico, de communitas e liminaridade es-tudado por Victor Turner, pelo recorte do desvio de divergnciade Gilberto Velho, etc, mas escolhemos o Interacionismo Simbli-co e a trilogia de Goffman que trata das instituies totais, da re-presentao do eu na vida cotidiana e do estigma.

    Goffman, em sua tese de doutorado na comunidade das IlhasShetland, construiu sua prpria metodologia. Apresentou-se aos

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    moradores das Ilhas como um estudante universitrio que deseja- va obter informao direta sobre a economia insular. Ele se colo-cou no prprio espao da pesquisa de campo, ou seja, no espao

    das interaes dos moradores. Ali pde perceber o infinitamentepequeno, o evidente e o bvio. No utilizou questionrios, grava-dor, cmera de filmar. Tomava algumas notas escondidas. Mais tar-de, j conhecido e mais participante observador do que obser-vador participante, vai simplesmente reviver as interaes e relat-las no seu dirio elaborado noite no silncio do seu quarto.

    Goffman teve a oportunidade de observar as crisesinteracionais que surgem, por vezes, no meio de pequenos grupos

    de atores sociais. Ele participava de atividades mais informais eobservou as interaes em forma de conversa. A interao, objetoda ateno de Goffman, denominava-se conversacional. Goffmanobservou a interao que ocorrem nos espaos cotidianos e ex-cluiu a preocupao com as caractersticas macrossociolgicas dacomunidade. Excluiu traos que distinguiam esta ilha de uma ou-tra e examinou as interaes que se assemelhavam s dos lugaresmais impessoais da vida moderna. Goffman rejeitou o tempo e o

    espao, anulou a tradio da histria. Dessa forma isolou as carac-terstica do homem interacional puro. Ele observou as interaesmais impessoais das Ilhas Shetland, o resto no lhe interessava.Isto justificava sua posio, de que o seu estudo se desenrolou nacomunidade das Ilhas Shetland, mas no era um estudo da comuni-dade das Ilhas Shetland.

    Atravs de indcios sutis das interaes, Goffman captou a l-gica do ato de encenao, o conjunto de estratgias para exibir

    uma imagem social que valorizava o ator, que causava uma boaimpresso, que distinguia um do outro, aspectos por vezes des-percebidos pelos leigos e que no eram considerados relevantespela maioria dos socilogos. No entanto, esses detalhes modifica-ram o pensar sociolgico no mundo.

    Sua pesquisa etnogrfica do hospital psiquitrico para doen-tes mentais Santa Elizabeth colaborou para deflagrar a lutaantimanicomial no mundo. A juno do socilogo e do etologista

    serviu como uma vantagem a mais para Goffman. A linguagem docorpo ,em interao, que se observava nas ruas estava conectada

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    aos contextos antropolgicos de todas as interaes sociais e issose tornou um critrio de julgamento das formas institucionais decontrole social e dos esquemas explicativos da socializao.

    Este estudo das instituies totais e, particularmente, domundo dos atores sociais, denominados por ns como hspedes e/ou visitantes itinerantes da comunidade Figueira, tem como umdos seus interesses principais avaliar, o mais possvel, a verso so-ciolgica do eu (self) em interao na organizao Figueira. Aocontrrio de Goffman, acentuamos nesta pesquisa o mundo do atorsocial no-internado, dos hspedes e/ou visitantes itinerantes quese hospedam em Figueira e que, ao interagirem com os atores

    sociais ou residentes permanentes fazendo parte ou no da equi-pe dirigente , entram em conflito em funo de diferentes perso-nalidades, comportamentos, interesses, objetivos, hbitos, costu-mes, usos, criando-se, assim, um clima constante de conflito, dis-crdia, etc.

    Apresentamo-nos como colaboradores e ficamos hospedadoscomo algum que simpatizava com a cultura espiritual propostano local, mas evitamos a intimidade e a amizade, at porque esta

    conduta condenada. Colocamos-nos no prprio espao dasinteraes, no campo de pesquisa propriamente dito, para fazeruma observao participante das interaes, para verificar como aintegrao faz a vida social acontecer. Procuramos nos integrar vida cotidiana para observar as interaes. No pudemos usar gra- vadores, filmadoras, nem fotografar. Estes instrumentos so proi-bidos. Tambm no fizemos questionrios, porque chamaria mui-ta ateno e tiraria a espontaneidade, a naturalidade das pessoas

    analisadas. Tomvamos, inicialmente, pequenas notas aqui e acolescondidas. Mais tarde, tomvamos notas, no quarto, mesmo es-tando, quase sempre, em quartos coletivos. Hospedados e viven-do no meio deles, tivemos a oportunidade e o privilgio de pre-senciar comunicaes, interaes e conversas cotidianas interes-santes e bastante elucidativas da sua cultura mpar ou singular.

    Queremos informar que fizemos uma observao participan-te das interaes que se passam na comunidade Figueira, por-

    tanto no realizamos um estudo, propriamente dito, da comuni-dade Figueira. Por esta razo, no pesquisamos as caractersticas

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    macrossociolgicas, no levamos em conta o tempo, a histria,mas somente estudamos o espao e os traos que caracterizamesta comunidade. Procuramos examinar as interaes impessoais

    que podem ocorrer por divergncias nas relaes de poder. Portan-to, coletamos informaes da organizao Figueira seguindo,passo a passo, o mtodo criado por Goffman.

    Foram seis observaes participantes ao todo no campo depesquisa. O tempo de permanncia determinado por eles. A pri-meira foi nas frias acadmicas de vero, porque, obviamente, t-nhamos mais tempo e porque nesta poca afluem mais atores so-ciais Figueira. Realizou-se no primeiro semestre de 2001, em

    janeiro, por dez dias consecutivos; a segunda, nas frias acadmi-cas de inverno, tambm por termos mais tempo, e tambm porirem mais pessoas para l nessa ocasio, portanto realizou-se noprimeiro semestre de 2001, em julho, por quinze dias consecuti- vos; a terceira observao foi no primeiro semestre de 2002, emjulho, tambm nas frias acadmicas de inverno, por sete dias con-secutivos; a quarta, no primeiro semestre de 2004, nas frias aca-dmicas de vero, em fevereiro, por quinze dias consecutivos; a

    quinta foi no primeiro semestre de 2006, em fevereiro, nas friasacadmicas de vero, por sete dias consecutivos. A sexta e ltimafoi no primeiro semestre de 2006, em julho, por cindo dias. Almdisso, fizemos duas pesquisas de campo na comunidade Nazar,situada na cidade de Nazar Paulista, interior do Estado de SoPaulo, as quais se realizaram nas frias de vero do ano 2003, maisprecisamente em janeiro, por uma semana, retornando novamen-te em fevereiro por quinze dias.

    Fizemos vrias outras pesquisas de campo nos subgrupos ourede de servio de Porto Alegre. Realizamos reunies com atoressociais do grupo e fizemos algumas observaes participativas nasaudies pblicas. Tambm pesquisamos a bibliografia, exclusiva-mente utilizada para consulta interna, do grupo de Figueira edas redes de servio, pesquisamos a bibliografia das obraspublicadas por Trigueirinho, algumas indicaes bibliogrficasapontadas pelo prprio Trigueirinho em seus escritos tais como:

    Revistas de Sinais, Jornais de Sinais, Boletim de Sinais, textos eartigos na internet, seu filme Bahia de todos os Santos, seus VHS,

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    cds, fitas k-7, seus artigos crticos publicados na Revista Anhembi,editada pela USP, algumas crticas especializadas em cinema sobresua obra. Quase todas as fontes citadas esto anexadas para futu-

    ras consultas, j que seria muito dispendioso em termos de tempoe muito oneroso deslocar-se at Figueira, alm de toda uma bu-rocracia para entrar l.

    Conforme Becker (1977) aconselha, esclarecemos que a pes-quisa foi feita sob o ponto de vista de hspedes e/ou visitantes.Este autor enfatiza que a neutralidade ideal nas pesquisas cientfi-cas dificilmente atingida, tornando assim necessrio informar dequal ponto de vista nos situamos. A presente pesquisa, portanto,

    foi feita buscando compreender os atores sociais denominadoshspedes e/ou visitantes itinerantes que permanecem temporaria-mente em Figueira e que, ao interagirem com os residentes ouinternos, sejam auxiliares ou coordenadores, entram em conflitoem funo da sujeio hierrquica. Isto gera um clima de tensopermanente, pois as disciplinas, normas, regras e tarefas impostaspelo grupo de Figueira, liderado por Trigueirinho, condicionamo seus eus (self) ou personalidades.

    Quanto s instituies totais, Goffman (1999) salienta que hum interesse sociolgico no estudo delas, porque condicionam osatores sociais. Regras e normas condicionam o comportamento e oque devem pensar coletivamente em virtude de pertencerem ouno quele grupo especfico. Nossa tese que Figueira pode serclassificada, parcialmente, como uma instituio total por possuirmuitas caractersticas inerentes a esse fenmeno. O mais impor-tante a percepo do seu condicionamento sobre o eu (self),

    sobre o comportamento, o pensamento e at os sentimentos dosque esto ligados a ela direta ou indiretamente.Numa terceira instncia, definimos as categorias de anlise

    dos ritos da instituio e dos da interao, as quais foram extra-das do referencial terico. As categorias definidas na representa-o dos atores sociais so convergentes s categorias absorven-tes das instituies totais. A seguir, fizemos um quadro de catego-rias de anlises fundamentadas no livro A Representao do Eu na

    Vida Cotidiana, tais como: manipulao da impresso; represen-tao; regies e comportamento regional/estabelecimentos soci-

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    ais; regio frontal/regio de fachada; regio posterior/fundo/basti-dores; equipe; platia/observador; segredos; papis discrepantes;princpio norteador. As interaes dos atores sociais foram exami-

    nadas tomando por base a interpretao teatral, a representao,o desempenho de um papel e/ou simulao de carter dramatrgico. A representao dos atores sociais e as caractersticas da

    instituio total, no contexto do Interacionismo Simblico, pres-supem que a situao da interao, a circunstncia, o espao dascontrovrsias (os quais tm muita importncia para a sociologia)no deveriam dissociar os ritos de interao e os da instituio. Nocasoestudado da comunidade de Figueira, no se observou tal

    dissociao entre os ritos. Alguns aspectos foram apresentadosseparadamente apenas para fins analticos.Em quarto lugar, listamos o material emprico e o classifica-

    mos em categorias. Por fim, analisamos as observaes de campoque esto divididas em ritos da instituio e ritos de interao efazemos algumas consideraes finais em forma de anlise domaterial relacionado s categorias.

    Mesmo conhecendo o fato de que existem muitas crticas s

    instituies totais nesta contemporaneidade, a importncia desteestudo, vincula-se ao fato de que: ainda existem instituies totaisno mbito das organizaes sociais que podem ser consideradas,mesmo que parcialmente, ou em alguma medida, em instituiestotais. Neste sentido, o Interacionismo Simblico de ErvingGoffman que pode e deve ser utilizado como referncia terica parao conhecimento de tais instituies em detrimento dos estudoscontemporneos sobre religio.

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    2 A COMUNIDADE FIGUEIRA

    O presente captulo tem como objetivo apresentar a comuni-dade Figueira, para tanto foram organizados subcaptulos.

    Primeiro, traamos a trajetria pessoal do fundador, mostran-do alguns dados da sua biografia, sua formao de diretor de cine-ma no Brasil e no exterior, seus trabalhos e obras na rea, seussucessos e fracassos profissionais at a desistncia da carreira decineasta e a posterior fundao da comunidade Nazar, de ondefoi excludo devido sua forma absolutista de administr-la. Aps

    sair da Nazar, Trigueirinho funda a comunidade Figueira, umaorganizao ainda mais fechada que a Nazar.

    Em segundo lugar, apresentamos a comunidade Figueira,sua localizao geogrfica, o nmero aproximado de residentes,seu objetivo principal, sua extenso territorial, sua fauna e flora,um panorama geral de suas atividades, seu cotidiano, suas rotinase tarefas, quais so os perfis das pessoas que poderiam participardessas atividades dirias.

    A estrutura fsica da comunidade e a utilizao do espao ge-ogrfico tm relao com a organizao espiritual e hierrquica. Aorganizao hierrquica segue o modelo de pirmide. O lder vita-lcio Trigueirinho no pice (o profetismo tornou-se sua forma depoder), os grupos externos e itinerantes na base e, intermediandoambos, os discpulos, os adeptos e os coordenadores mais prxi-mos do lder.

    Descrevemos a sede, as atividades e funes das casas na rea

    urbana, dos setores e monastrios nas reas rurais e dos grupositinerantes do Brasil e exterior que se hospedam e participam dasatividades da comunidade Figueira.

    A diviso de trabalho, de tarefas e de atividades, descrita nes-te trabalho, conseqncia do aumento da organizao. Uma ca-racterstica a se destacar so os conflitos decorrentes do choque devalores do grupo de residentes e do grupo externo itinerante. Ou-tro fator que desencadeia divergncias o interesse do grupo estar

    acima das individualidades. O modo como as tarefas obrigatrias

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    devem ser executadas e o tempo de durao das mesmas so im-postos pela administrao e pelo grupo de residentes aos gruposde externos itinerantes sem espao para criatividade, liberdade de

    escolha e livre-arbtrio.Tambm apresentamos as formas de subsistncia de Figuei-ra: produo agrcola para subsistncia; troca do excedente; doa-es de alimentos, remdios, equipamentos, roupas, dinheiro, etc.;mo-de-obra voluntria e gratuita; venda de livros, fitas k-7, cds,fitas de vdeo (VHS).

    Numa terceira parte, focalizamos a cultura espiritual de Fi-gueira, o eremitrio, onde vivem os eremitas em recluso; seus

    monastrios, feminino e masculino, reclusos e semi-reclusos; asregras, normas, disciplinas e hbitos advindos da atividade espiri-tual; a formao ou requisitos dos monges, oblatos, zeladores,sacerdotes, seres-espelhos, residentes, aspirantes e instrutores. Porltimo, apresentamos a concluso.

    2.1 A COMUNIDADE FIGUEIRA E ASPECTOS DA TRAJETRIA DESEU LDER

    Figueira uma organizao liderada por Jos HiplitoTrigueirinho Netto. Ele nasceu em So Paulo, no ano de 1929. Seupai era um coronel do exrcito e professor de portugus.

    Segundo Jos Incio de Melo Souza (2003), pesquisador daCinemateca Brasileira, Trigueirinho iniciou a carreira de diretor naCompanhia Vera Cruz como auxiliar do produtor Alberto Cavalcanti.Costumava freqentar a casa de Cavalcanti em So Bernardo do

    Campo - SP, onde ele e vrios intelectuais conversavam sobre odestino do cinema brasileiro. Seu estudo de cinema foi no Centrode Estudos Cinematogrficos do Museu de Artes de So Paulo.

    Trigueirinho auxiliou o diretor Adolfo Celi no filme Caiara.Foi crtico de cinema e escrevia artigos para a revista Anhembiespecializada em cinema (editada pela Faculdade de Comunicaoe Artes da USP). Nas crticas de cinema que escrevia para a revista,sempre se colocava contra o imperialismo norte-americano e sua

    indstria cinematogrfica. Ajudou em roteiros de documentrios;escreveu um roteiro de propaganda para o JockeyClube de So Pau-

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    lo. Em 1953, ganhou uma bolsa de estudos do Instituto Culturaltalo-Brasileiro para o Centro Sperimentale de Cinematografia, emRoma.

    Trigueirinho morou na Itlia de 1953 a 1958, cinco anos, por-tanto, embora apenas trs fossem suficientes para obter o diplomade diretor de cinema. Em 1956, colaborou nos argumentos cine-matogrficos da equipe brasileira de produo internacional co-ordenada por Joris Ivens, Die Windrose.

    Escreveu um argumento cinematogrfico para Roma deNotte, outro para Estate Romana, e fez o roteiro de Epoca Bella.O roteiro de Bahia de todos os Santos (1959/1960), seu longa-

    metragem premiado, foi escrito nessa mesma poca, concorrendoao Prmio Fbio Prado, enquanto Trigueirinho realizava na Itlia odocumentrio Nasce un Mercatto.

    Visando ao prmio Fbio Prado, em 1958, para melhor rotei-ro do filme Bahia de todos os Santos, Trigueirinho retornou aopas para finalizao do filme. No segundo semestre, trabalhou naRex Filme. Bahia de todos os Santos foi filmado com JurandirPimentel (ator que cometeu suicdio aps sua atuao em Bahia).

    Em quatro de setembro de 1958, Trigueirinho solici-tou financiamento de dois milhes de cruzeiros aoBanco do Estado de So Paulo (Banespa), que foi nega-do. Em quatorze de maio de 1959, foi pedido, direta-mente ao presidente do banco Banespa, o reexame doroteiro. A Comisso de Moral e Costumes da Confe-derao das Famlias Crists, que era uma espcie decomisso de censura, colaborou no reexame do rotei-ro e concluiu que o mesmo no deveria ser censurado,

    mas salientava o fato de o filme poder se tornar gros-seiro se no fossem subtradas algumas palavras taiscomo: Que merda; tem ainda bons peitos; as brancasgostam de ir pra cama com negro; mas virgem?; espe-ra que eu vou mijar. Para fazer essas modificaes,era necessria a concordncia de Trigueirinho, a qualse deu por carta em nove de junho de 1959:

    Desnecessrio seria dizer que, sendo a minha inten-

    o realizar um documento cinematogrfico limpo,despido de qualquer intuito menos limpo, capaz de

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    vir a representar, em verdade, uma pelcula de cunhoaltamente social, estou disposto a exibir, de acordocom a sugesto da Confederao das Famlias Crists,os rushes (tomadas), na proporo em que a fita for

    rodada (TRIGUEIRINHO apud SOUZA, 2003, p. 7).

    Uma semana aps a carta de Trigueirinho, o Banespa conce-deu-lhe o emprstimo de dois milhes de cruzeiros. Com o gover-no da Bahia, Trigueirinho conseguiu passagens de avio gratuitaspara o elenco e tcnicos, bem como a cooperao da Polcia Militarpara acomodao do grupo e, ainda, suporte nos translados nacidade e arredores. As filmagens foram feitas em Salvador entrenovembro de 1959 e janeiro de 1960.

    O custo final do filme foi quatro milhes de cruzeiros. Poresse motivo foi necessrio um pedido de emprstimo suplementarde um milho. A necessidade de mais recursos devia-se, tambm,ao convite para exibio do filme na XXI Mostra Internacional deVeneza, que comearia em agosto do mesmo ano. Esta participa-o em Veneza no se concretizou. Trigueirinho pretendia enviar ofilme para os festivais de So Francisco, Berlim eKarlovy-Vary, mas a

    Diviso Cultural vetou sua participao no exterior. Em novembrode 1961, o Banco do Estado enviou a Trigueirinho a cobrana dottulo de dois milhes de cruzeiros, vencido em doze de setembrode 1960. Bahia de todos os Santos somou-se lista de emprsti-mos insolventes da Carteira de Cinema Nacional. Bahia de todosos Santos atraiu cerca de trezentos mil espectadores somente nacidade de So Paulo, mas eram necessrios novecentos mil parano haver prejuzo. A demora para saldar a dvida com o banco era

    conseqncia da espera por vaga nos cinemas para veiculao defilmes no-comerciais, rotulados como cultpelos exibidores. Bahiade todos os Santos estreou em setembro de 1960, em Salvador,mas somente em maro de 1961 entrou em cartaz em So Paulo.No circuito de Belo Horizonte, seis meses depois.

    Trigueirinho era tido no meio cinematogrfico como um cine-asta promissor, Alguns crticos cinematogrficos, professores, pro-dutores apostavam na sua carreira. Por anos, ele foi identificado

    como um discpulo do mestre Cavalcanti. Os estudos deTrigueirinho no Centro Sperimentale forneceram-lhe knowhow teri-

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    co. Ele era um intelectual afinado com a vanguarda cinematogrfi-ca, o vis rosselliniano. Trigueirinho seguiu, no filme Bahia de to-dos os Santos, as mesmas preocupaes com a esttica barroca de

    Roberto Rossellini e Frederico Fellini. Segundo confirma em suaspalavras, em 1961:

    [...] esses homens (Cavalcanti e Rossellini) contribu-ram para que eu me dedicasse de corpo e alma aocinema. Mas, se sua linguagem fosse reconhecida emminha fita, isso significaria falta de perfeita assimila-o de minha parte. Cultura exatamente aprender omximo, manifestando-se em seguida atravs de re-

    cursos prprios. Seria absurdo imitar Rosselini eCavalcanti, j que, no que se propuseram exprimir,eles foram completos (TRIGUEIRINHO apud SOUZA,2003).

    O roteiro transcorria no perodo ditatorial, salientando o can-dombl, o sindicalismo, a greve e a questo racial. Tinha um cu-nho sociolgico ao captar o homem baiano em suas razes, levan-tando o problema da miscigenao, contextualizando a questo

    do homem e do humanismo, desenvolvendo uma vertente do ci-nema moderno: o documentrio social (SALLES, 1988). Enquantofilmando, criou um novo paradigma para alguns crticos e futuroscineastas em Salvador, para os quais Bahia de todos os Santos setornaria inspirao.

    O diretor Trigueirinho tende a um existencialismo. A buscado homem rosselliniano de profundas razes religiosas. Em termosde religio, Trigueirinho no se declarava catlico, tinha interesse

    pelo hindusmo. Foi administrador de um ashram (comunidade es-piritual hindusta formada em torno de um guru) do indiano Sri

    Aurobindo, em Salvador. Tambm no era partidrio dos cultos afro-brasileiros.

    Traduzia um realismo social na sua concepo do homem ilus-trada em obras como Francisco, Arauto de Deus e Romance naItlia. Tambm expressava uma modernidade em outros aspec-tos. Seguia a escola neo-realista, a improvisao com atores no-

    profissionais, o que favorecia uma maior criao artstica. No rotei-

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    ro, apareciam cenas de homossexualismo, relaes ilcitas, dilo-gos chulos, cenas realistas (Miss Collins em camisola). Eram filmesproibidos para menores de dezoito anos. Para os adultos, talvez

    fossem uma contribuio intelectual. Para os cultos, talvez forne-cessem uma viso real da Bahia e para os incultos, mostravam aproblemtica do mulato, da miscigenao.

    Trigueirinho prometeu a filmagem do romance de Mrio deAndrade Amar Verbo Intransitivo, mas parou em um nico longa-metragem:

    Com o abandono da carreira por Trigueirinho, vriasperguntas ficaram sem ser respondidas, como, porexemplo, qual o papel do homossexualismo na cons-truo de um personagem como Tonio, ator protago-nista do filme Bahia de todos os Santos? O comple-xo sexual poderia ser um sentimento de diviso naidentidade nacional do cineasta, dividido entre doispases, o Brasil e a Itlia... (SOUZA, 2003).

    Aps desistir do cinema, Trigueirinho gerenciou grupos derecursos humanos em hotis, onde foi treinador de matres noSENAC/SP, foi administrador do ashram-comunidade do guru india-no Sri Aurobindo em Salvador. Trigueirinho ainda fundou comuni-dades alternativas. Primeiro, a comunidade Nazar Paulista, de-pois Figueira. Concomitantemente, escreveu dezenas de livroscom profecias do fim do mundo e o resgate da terra com ajuda deextraterrestres.

    2.1.1 A FUNDAODA COMUNIDADENAZAR

    Antes de fundar Figueira, Trigueirinho criou a comunidadeNazar, onde estivemos pessoalmente por duas vezes, na cidadede Nazar Paulista, interior de So Paulo.

    Inicialmente, o centro da comunidade Nazar, construdoem terreno doado a Trigueirinho em comodato, foi chamado deComunidade Nazar (Anexo A) e era um local de retiro espiritual

    (SILVEIRA, 2003).

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    Para organizar Nazar, Trigueirinho utilizou como base omesmo modelo de organizao da Fundao Findhorn, a qual ficaao norte da Esccia. Ele convidou Sara Marriot, escritora america-

    na, que residia em Findhorn, para conhecer a comunidade Nazar.Sara permaneceu mais uma temporada, somente em 1983, decidiufiar e morar na comunidade Nazar. Assim, Nazar passou acontar com uma co-administradora que seguia tambm o modelode Auroville, comunidade criada por Sri Aurobindo na cidade dePondicherry, ndia. Organizao esta que foi, tambm, co-adminis-trada pela artista plstica francesa Mira Alfhassa.

    A comunidade Nazar uma organizao no-governamen-

    tal (Ong). Conta com mo-de-obra e contribuies voluntrias(GOHN, 2000). A Ong tem um centro de vivncias onde se realizamworkshops e palestras terceirizados, parte do lucro destasterceirizaes serve para a auto-manuteno.

    A comunidade Nazar localiza-se numa rea de proteoambiental(APA), porque havia problemas ambientais existentes naregio, esta era uma rea de devastao permanente.Mas apesardisso, pode-se encontrar uma variedade de animais e plantas. H

    poucos anos, a comunidade Nazar emprestou parte de suas ter-ras para o Instituto de Pesquisas Ecolgicas (IP) objetivando con-tribuir para a sustentabilidade ecolgica local (PDUA, 2003).

    Nazar tambm um centro ecumnico. Por l circulampessoas de vrias religies, cor, raa, sexo, idade, status social oueconmico e provenientes de vrias cidades do Brasil e de vriasnacionalidades.

    Na comunidade, h horta e pomar, onde so plantadas verdu-

    ras, legumes e frutas sem agrotxicos. A alimentao vegetaria-na e natural. H um jardim de ervas com estufa para secagem dasmesmas que serviro para tinturas de chs medicinais. Nesta rea,h flores de diversas reas geogrficas do mundo e um jardim deinverno. Na parte construda, h copa e cozinha industrial, umapadaria que abastece o local, sala de vdeo, sala de artes e costura,alm de lavanderia. Tambm uma sala de cura para massagens,uma sala de msica e outra de estudos. Ainda h uma oficina de

    ferramentas, uma despensa e um centro comunitrio onde as pes-soas se renem. Os quartos so individuais, alguns com banheiros

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    privativos A maioria dos banheiros coletiva. H uma sala zen es-pecial para meditaes que so feitas em conjunto trs vezes aodia e, finalmente, uma biblioteca esotrica com vrios ttulos em

    ingls, pois a mesma foi organizada por Sara Marriot.Segundo alguns integrantes antigos do grupo, houve umarebelio, com o apoio de Sara Marriot, contra a administrao radi-cal e centralizadora de Trigueirinho, no lhe restando outra opoque a de se retirar. Assim, em 1987, Trigueirinho cria e funda acomunidadeFigueira, situada em Carmo da Cachoeira - MG, saidefinitivamente de Nazar. Quem ficar testa da administra-o de Nazar ser Sara Marriot at abril de 1999, quando esta

    retorna ao seu pas de origem, Estados Unidos da Amrica. Emdois de novembro de 2000, com noventa e cinco anos de idade,faleceu.

    Desde sua fundao, Nazar recebe pessoas de vrias cida-des do Brasil e do exterior. A sua finalidade ser uma escola deeducao informal. Hoje, a comunidade tornou-se uma Universida-de da Luz, a Uniluz, e continua prestando servios atravs de di-versos workshops, cursos e vivncia, a principal vivncia a de resi-

    dncia temporria, que possibilita experienciar, residir e estudarno seu campus.A Uniluz um laboratrio experimental de convivncia grupal,

    coletiva e cooperativa, a experincia de viver valores humanos nocotidiano estimula o trabalho voluntrio, exercitar-se a responsa-bilidade social. A interao se d de forma saudvel, propiciando-se uma vivncia e experincia ecolgica interna e externa. NazarUniluz uma Ong que pratica a sustentabilidade do viver em

    coletivo, em grupo. As interaes se constroem e sopotencializadas nos encontros tericos-experenciais, comprome-tendo-se dessa forma com a sustentabilidade ecolgica do planeta(SILVEIRA, 2003).

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    2.2 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE FIGUEIRA, ASPECTOSLOGSTICOS, MATERIAIS, ETC.

    Estivemos pessoalmente em Figueira e constatamos que lresidem aproximadamente trezentas pessoas, tendo como princi-pal objetivo a formao e instruo espiritual.

    As terras de Figueira localizam-se na cidade de Carmo daCachoeira, interior de Minas Gerais, regio sudeste do Brasil. Suarea geogrfica era originalmente uma fazenda de uns cem hecta-res. Recentemente, Trigueirinho adquiriu mais terras.

    Figueira possui bosques, lagos, matas naturais, plantaes,

    casas para alojamento, estudos, cura, laboratrios artesanais e ofi-cinas de trabalho. No est ligada a doutrinas, seitas, religies neminstituies. Sua base a vida grupal. Cultiva o servio e a vidaespiritual. L encontramos pessoas de todas as idades e nacionali-dades com diferentes vivncias. As tarefas do dia-a-dia so vistascomo sagradas. No era e no permitido, no perodo em que noshospedamos ali, chamadas telefnicas e contatos externos consi-derados desnecessrios por parte da administrao.

    No estimulam intimidades e vnculos emocionais. Por essarazo, parentes e amigos, em geral, ficam hospedados em reasdistintas. Existem pouqussimas crianas, porque devem estar pron-tas para cuidar de si mesmas sem a presena dos pais e sem darmuito trabalho. So acompanhadas com ateno pelos encarrega-dos das reas. Eles at permitem que menores de idade hospe-dem-se em Figueira e participem dos trabalhos, desde que com oconhecimento e a autorizao escrita dos responsveis. Os resi-

    dentes optaram pelo celibato. Os hspedes ou visitantes so obri-gados a assumir essa condio enquanto permanecem no local.

    As acomodaes so simples e rsticas, tanto nas casas dacidade quanto nas da fazenda, e so designadas aos visitantes pelasecretaria geral de Figueira conforme as necessidades das tarefasinternas e a disponibilidade de alojamentos. Enquanto os visitan-tes esto ocupando os quartos, probem-se visitantes ao recintontimo.

    O alimento servido disponibilizado, de acordo com as esta-es do ano, cultivado organicamente e sem agrotxicos. As re-

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    feies so vegetarianas e integrais, sem laticnios, acar refina-do, sal, alho, cebola, temperos, caf ou refrigerantes. No so usa-das bebidas alcolicas, nem drogas, nem fumo. Os produtos da

    terra no so comercializados e nenhum dos colaboradores quecompartilham de suas metas remunerado. Come-se ao redor debufetes e senta-se fora da mesa em bancos ou cadeiras, em siln-cio. Depois, cada um lava os utenslios utilizados.

    Para solicitar uma temporada, participar de algum treinamen-to ou seminrio, ou em qualquer estudo, ou mesmo para uma sim-ples visita preciso seguir certa burocracia: avis-los com antece-dncia prvia e aguardar resposta, pois no permitem a presena

    de pessoas sem a devida autorizao.Os que se hospedam em Figueira devem levar roupas debanho, roupas simples para trabalhos na lavoura, horta, pomar,estradas, agasalhos para trabalhos noturnos ou matinais, relgiopara cumprir a agenda de tarefas, despertador para acordar cedo,lanterna para trabalhos noturnos e para falta de luz e demais obje-tos pessoais. O vesturio sbrio e discreto. No se permitemmaquiagens, decotes, saias curtas, vestidos curtos, roupas trans-

    parentes, shorts, cala de cintura baixa, miniblusa, saltos altos, etc.No se permite uso de perfumes, incensos, telefones celulares,filmadoras ou mquinas fotogrficas. Tambm no se podem usargravadores.

    Todas as atividades so grupais, os estudos e as tarefas sodesenvolvidos nas reas de trabalho. Aos semi-internos, hspedes, visitantes so distribudos trabalhos compulsrios diversos, feitosnos setores (sero explicados posteriormente). As tarefas comeam

    antes que o dia amanhea e seguem at 17h30min. Compem-sede limpeza de casa, preparo de alimentos, desidratao de legu-mes e frutas, trabalhos na padaria, lavanderia, marcenaria e manu-teno, horticultura, jardinagem e plantios e colheitas em geral,mutires para aberturas de estradas, radioamadorismo para conta-tos de emergncia, apicultura, edio e difuso de livros, folhetos,boletins e gravaes, recepo de hspedes, alm de atendimentoa pessoas necessitadas. s seis horas, o grupo todo em conjunto

    coopera na limpeza bsica dos ambientes. O caf da manh s7h30min. H refeies s doze e dezoito horas. O recolhimento

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    para o sono tem incio s 20h30min. O silncio deve ser feito emespecial a partir das 21h30min.

    Palestras com Trigueirinho realizam-se s quartas-feiras e aos

    sbados, s dezessete horas; aos domingos, s 11h30min; no diada viglia mensal s dezessete horas; nos encontros de orao enas reunies dos monastrios s seis horas e s 13h30min. Osencontros do setor sade realizam-se s quartas-feiras s nove ho-ras pelos mdicos e terapeutas. Os encontros de orao ocorremtrs vezes ao ano. Nestes encontros, h uma palestra com Arthur(nome espiritual do brao direito de Trigueirinho), s seis horas. As reunies do monastrio so feitas no segundo fim de semana

    do ms. s vezes, so realizados, durante o ano, treinamentos eseminrios na rea da sade, alimentao, socorro e sobrevivnciaem momentos de catstrofes.

    H em Figueira uma viglia permanente, uma espcie demeditao, que feita dia e noite num bosque de eucaliptos. Osparticipantes revezam-se de duas em duas horas. Tambm, umaviglia mensal realizada por todo o grupo na ltima quarta-feira doms, ocasio em que se dedicam ao silncio reflexivo. Neste dia,

    acontece uma palestra s nove horas com Arthur e uma comTrigueirinho s dezessete horas. Em ocasies especiais, mantrasso entoados (Anexo B), sons sem lgica ou sentido. O nico lazere atividade cultural o coral (Anexo C), com execuo de peascriadas pelo prprio grupo. Criou-se um novo idioma, chamadopor eles de Irdin. mntrico, sem significao, o que importa osom utilizado em repeties orais e no coral que h em Figueira.Segundo Trigueirinho:

    Irdin, idioma csmico, usado nos universos confedera-dos. Revestido de forma adequada ao estado de cons-cincia do planeta onde se manifesta. Exprime a es-sncia criadora e arqutipos da evoluo. Como vibra-o, est na origem e na base de todos os idiomas.Palavras e smbolos em irdin unificam conscincias,mundos e ciclos evolutivos. Podem surgir espontane-amente no interior do homem em decorrncia da suasintonia com a Lei e com a supraconscincia. umacomunicao com a vida maior, a Vida Csmica, e apre-

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    senta-se a ns nesta poca em especial medida quetranscendemos as fronteiras da mente. Em Figuei-ra, a maioria dos mantras foi concebida em irdin(TRIGUEIRINHO, 1997, p. 220).

    Tambm h em Figueira tratamentos para revitalizao ecura por meio de medicamentos sutis, homeopatia, florais, chs deervas e procedimentos teraputicos como compressas, enemas(colonterapia), desintoxicao, cuidados com a coluna, etc. Essestratamentos so disponibilizados aos que necessitam de cuidadosmdicos leves. H uma unidade especfica, chamada abrigo, queatende pessoas traumatizadas ou excludas pelo caos social, pes-

    soas que procuram equilbrio e paz. Figueira no clnica mdi-ca, mas l h mdicos voluntrios que tambm se hospedam eprestam servios com sua especialidade. Figueira no um cen-tro de reabilitao, por este motivo no aloja dependentes de l-cool, fumo ou drogas. Eles tampouco tm estrutura para atendercasos psiquitricos (Anexo D).

    2.2.1 ESTRUTURA FSICA: SEDE, CASAS, SETORES, MONASTRIOS, REDESDESERVIONO

    BRASILENO EXTERIOR

    Constatamos que existe uma organizao fsica por setores, aqual se divide em duas reas, uma urbana, localizada na cidade deCarmo da Cachoeira, interior de MG; e uma rural, na fazenda.

    Na rea urbana situa-se, geograficamente, a casa 1, primeirasede em 1987 e chama-se secretaria geral, pois coordena e distri-

    bui tarefas; a casa 2 uma espcie de ambulatrio; a casa 3 umlocal para hspedes; a casa 4, ou central de atendncia (Anexo E),recebe e distribui doaes de remdios, gneros e roupas e coor-dena o abrigo, que atende pessoas necessitadas; a casa 5 o apirio.

    Na rea rural, h uma fazenda de aproximadamente cem hec-tares. No setor da vida criativa so feitos o plantio e colheita, huma lavanderia, padaria, cozinha e marcenaria, setor de manuten-o, silo para armazenamento de alimentos, estufa para sementes

    e setor de ferramentas para horta e pomar. H tambm um labirin-

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    to de pedra, onde as pessoas fazem caminhadas reflexivas e tera-puticas.

    Em Figueira h, atualmente, sete monastrios, alguns so

    reais, fsicos, localizam-se gepgraficamente em Figueira mesmo,onde vivem os residentes internos; outros so virtuais, no estomaterializados, no possuem uma existncia concreta, no temlocalizao fsica, nem geogrfica, pois so um modo de vida,uma filosofia, so um estado de conscincia, segundo Trigueirinho,sem precisar de um local fsico e/ou geogrfico propriamente dito:

    O monastrio 1 feminino, semi-recluso. Ali h a prtica doyoga (significa religare ou religao na lngua hindi) da entrega,

    agrega personalidades com perfil espiritual ou linhagem dos se-res-espelhos, seres que devem espelhar na matria o arqutipoespiritual puro. Localiza-se na fazenda e chamado Figueira 1 ouF1. Tambm no F1 existe, com a colaborao de mdicos e dentis-tas semi-internos, um laboratrio que produz remdios homeop-ticos e florais, um consultrio dentrio e um ambulatrio. Ali hum ptio, tipo um jardim de inverno, com uma rea aberta e outrareclusa, sendo esta ltima o local onde residem monjas, que so

    desestimuladas a ter qualquer contato social com o grupo semi-interno e com o prprio grupo interno.O monastrio 2 masculino, semi-recluso, onde se pratica o

    yoga da igualdade. Agrega pessoas com o perfil espiritual ou linha-gem dos sacerdotes. Localiza-se na fazenda e chamado de Figuei-ra 2 ou F2. H uma rea reclusa, onde ficam os monges do sexomasculino e uma rea aberta, onde se realiza plantio e colheita deervas aromticas, temperos, verduras, leguminosas e cereais.

    O monastrio 3 misto, eremtico (recluso). Neste pratica-seo yoga da totalidade. Agrega pessoas com o perfil espiritual oulinhagem dos contemplativos. Figueira 3 ou F3 localiza-se na fa-zenda. designado eremitrio, onde atualmente reside Trigueirinhoe mais duas pessoas, uma ex-freira catlica j acostumada com aclausura e/ou vida reclusa e Arthur. L ningum possui sobrenome,todos foram rebatizados com novos nomes. Este trio vive comoeremita e no tem contato social com o grupo interno, muito me-

    nos com o grupo externo ou semi-interno. Dos trs, apenasTrigueirinho pode transitar livremente por qualquer setor ou ter

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    contato social com quem bem lhe aprouver. So permitidos retiroseremticos em reas de silncio, junto natureza. A pessoa develevar uma barraca e sua prpria alimentao, pois ficar no eremi-

    trio sem contato com ningum.Arthur sai, esporadicamente, para dar palestras internas. Nin-gum do grupo de internos pode entrar no eremitrio. Se quise-rem morar l, devero viver uma vida isolada do grupo principal.

    O monastrio 4 misto, externo, pratica-se o yoga da aoabnegada. Agrega pessoas com o perfil espiritual ou linhagem dosguerreiros. Localiza-se na casa 4, que fica na cidade de Carmo daCachoeira.

    O monastrio 5 misto, externo, pratica oyoga da cura. Agre-ga pessoas com o perfil espiritual ou linhagem dos curadores. Lo-caliza-se em F1 na rea rural da fazenda.

    O monastrio 6 misto, domiciliar, pratica oyoga do corao. Agrega pessoas com o perfil espiritual ou linhagem dos instruto-res. Localiza-se em cidades distantes da fazenda Figueira.

    O monastrio 7 misto, itinerante, pratica o yoga do fogo.Agrega pessoas com o perfil espiritual ou linhagem dos governantes.

    Localiza-se em cidades distantes da fazenda Figueira. (Anexo F).A organizao Figueira est aberta para quem se comportede maneira adequada, dcil, obediente, abnegada, submissa, sub-serviente, subalterna, subordinada e, ainda, mostre-se til. Essesgrupos podem ser denominados semi-internos ou itinerantes. Elesse hospedam para ouvir as palestras de Trigueirinho que so cha-madas de partilha. Compram livros e, em troca, Figueira fornececomida e alimento para o esprito. O grupo visitante executa ta-

    refas compulsrias, na maioria braais, designadas conforme asnecessidades e sem prvio acordo com a coordenao geral. Fi-gueira conta com uma equipe de supervisores que coordena ossetores e zela pelo exato cumprimento (em tempo e perfeio) des-sas tarefas (Anexo G).

    O somatrio dos grupos de visitantes ou itinerantes compeuma Rede de servios no Brasil e no exterior que tendem a mul-tiplicar-se. Para participar de uma, necessrio dedicar-se volunta-

    riamente a assuntos prticos e operacionais. Trabalhos grupais doorigem s redes que nas horas de caos e catstrofes estaro prepa-

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    rados para se defrontar com situaes que os levaro a uma atua-o prtica de socorro. Precisaro contribuir para a sobrevivnciacoletiva, minimizar o sofrimento alheio e, segundo eles, auxiliar

    muitos seres a passarem em harmonia para outros mundos ou pla-nos de existncia.Os membros de uma Rede de servios so das mais diversas

    origens. So estimulados a interiorizar-se e a buscar conhecimentoatravs do estudo espiritual. Cada um tem tarefas especficas a cum-prir como, por exemplo, a sintonizao de mantras, etc., mas for-ma com os demais um conjunto. Nem sempre devem se tornarnumerosas. No so criadas para entrar em disputas, discusses

    ou polmicas. So campos de prtica para autoconhecimento e paratransformaes pessoais e, portanto, coletivas (Anexo H).No Brasil, so extenses e/ou prolongamentos de Figueira e

    esto subordinadas administrao da comunidade. principal-mente com a mo-de-obra, voluntria e gratuita desses gruposexternos, semi-internos ou itinerantes que Figueira se mantmprodutiva, pois seguidamente so convocados para mutires e reu-nies em regime de internato em Carmo da Cachoeira. As necessi-

    dades internas so supridas com o dinheiro de doaes destas pes-soas. Com o excedente, eles ajudam pessoas carentes com doaesde remdios, roupas e alimentos.

    A rede de servios de Figueira tem prolongamentos e/ougrupos no Cu Azul, Rua Astolfo Bueno, 20, em Belo Horizonte,Minas Gerais - Cep 31545-350; Granja Vianna, Rua Otelo Zeloni,333 - Cep 06351-160 Carapicuba, SP; So Carlos, Rua Abraho Joo,1114, Jd. Bandeirantes, So Carlos, SP (Anexo H).

    Figueira tem contatos para informaes no Brasil em Atibaia(SP); Belo Horizonte (MG); Braslia (DF); Campinas (SP); Campo Gran-de (MS); Curitiba (PR); Fortaleza (CE); Gov. Valadares (MG); Jundia(SP); Londrina (PR); Montes Claros (MG); Porto Alegre (RS); Recife(PE); Ribeiro Preto (SP); Rio de Janeiro (RJ); Salvador (BA); So Carlos(SP); So Paulo (SP); Vitria (ES).

    Em Porto Alegre, h cinco grupos: a) grupo de audies pbli-cas quinzenal s segundas-feiras, s 19h30min b) grupo de sintonia

    (mantras) semanal s teras-feiras, s 18h30min; c) grupo desintonia (atributos do monastrio) semanal, s quartas-feiras, s

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    15h30min; d) grupo de estudos semanal, s quintas-feiras, s 20h;e) grupo de audies pblicas quinzenal, aos sbados, s 14h30min.O grupo principal em Porto Alegre situa-se na Rua So Benedito,

    815, loja 05 - Bairro Jardim do Salso (Anexo I). As redes de servio no exterior esto localizadas em vriascidades da Argentina Ciudad de Buenos Aires; Buenos Aires, MarDel Plata; Chaco-Fontana; Corrientes; Crdoba; Mendonza; Formosa;Misiones - Posadas; Rio Negro - Viedma; Santa F-Santo Tom.

    H rede de servios na Austrlia cidade de Sidney; Canad cidade de Victria; as redes de servio do Chile esto centralizadasem Santiago; Equador cidade de Quito; Espanha cidade de Bar-

    celona e Cceres; Estados Unidos cidade de Tahlequah eTrumansburg; Inglaterra cidade de Berks; Paraguai cidade de Assuno; Portugal cidade de Colares, cidade de Oeiras, cidadedo Porto; Sucia cidade de Estocolmo; Uruguai cidade de Mon-tevidu; Venezuela cidade de Caracas.

    2.2.2 ORGANIZAO ADMINISTRATIVA, HIERARQUIA, CATEGORIADEMEMBROS, ATIVIDADES,ETC.

    Percebemos, nas vezes em que visitamos Figueira, queTrigueirinho, devido sua personalidade forte e carisma que lheoutorga poder (WEBER, 1979), alcanou ascendncia sobre seugrupo, portanto, est no topo da pirmide hierrquica. Teve umavida mais variada que os integrantes de seu grupo, adquiriu maiorsoma de conhecimentos, mais poder intelectual, mais oratria. Eracineasta, viajou pelo mundo. A posse de mais conhecimentos le-

    vou-o a se tornar lder, levou-o a um lugar superior ao comum daspessoas do seu grupo, reunindo em torno de si simpatizantes eorganizando comunidades h vinte anos(desde 1987), como o casode Figueira. J Nazar tem vinte e cinco anos(desde 1982).

    A grande profecia de Trigueirinho, hoje considerado um pro-feta com vrios livros escritos, fala sobre a operao resgate daraa humana, que salvar o seu grupo do fim do mundo. Para queessas pessoas sejam resgatveis precisam passar por uma mudan-

    a de comportamento e sujeitarem-se a um ritual de passagem(TURNER, 1974), a uma disciplina, a um treinamento, a um ades-

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    tramento, a um condicionamento, a uma subordinao, a uma re-educao, a uma desconstruo, a uma desprogramao, a umadespersonalizao, a uma purificao, a uma mortificao, a uma

    domesticao, a uma homogeneizao, a um despojamento, a umnivelamento, a uma modelagem, a uma uniformidade, a uma igual-dade, at chegar santidade, perfeio moral do ser humano. Oresgate e mudana de padro de personalidade tm como finalida-de torn-los humildes, modestos, dceis (FOUCAULT, 1979), teis,maleveis, obedientes, submissos, subservientes, flexveis, sem li-berdade de escolha, sem livre-arbtrio, para que aceitem, acatemordens e funes alheias sua natureza vocacional e atendam aos

    objetivos do coletivo e no da sua individualidade.As relaes de Trigueirinho com o grupo que dirige esto es-treitamente ligadas s suas qualidades carismticas e profticas(QUEIROZ, 1977). Desse modo, consegue que os internos e exter-nos de Figueira cumpram suas normas, regras quotidianas, e tra-balhem em atividades gratuitas e voluntrias com o fim coletivode transformao dos que transitam por ali em seres humanos res-gatveis. So os colaboradores semi-internos, externos, itinerantes,

    autoconvocados ou visitantes que fazem parte das redes de servi-o.Os grupos externos, visitantes, itinerantes so supervisiona-

    dos, vigiados (FOUCAULT, 1984), controlados por um grupo desupervisores, por coordenadores de setores e por colaboradoresinternos com o intuito de sujeit-los, submet-los, condicion-los,domin-los para que sejam obedientes, dceis e teis s ativida-des e tarefas necessrias manuteno de Figueira. Obviamente,

    h um permanente conflito (VELHO, 1989) entre os desejos, hbi-tos, necessidades, caractersticas e comportamentos resultantes dainterao entre colaboradores internos e externos. O interesse dogrupo est acima das individualidades. O indivduo encontra-sesubordinado a determinaes coletivas, seno haver sanes pri- vando sua independncia, seu livre-arbtrio.

    Os supervisores ou colaboradores so os indivduos mais che-gados a Trigueirinho. Ajudam ativamente e, em geral, tambm so

    dotados de certas virtudes carismticas. Tambm ministram pales-tras e servem de intermedirios entre Trigueirinho e o restante do

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    grupo, portanto dispem de certo poder: so reconhecidamentediscpulos de Trigueirinho Dr. Jos Maria Clemente (mdico) e Arthur.Trigueirinho e os coordenadores procuram organizar os colabora-

    dores internos e externos, constituindo-os em uma sociedade comdireitos e obrigaes estabelecidos de acordo com as instruesdadas por Trigueirinho, que modela, de certa forma, a comunidadeque o cerca.

    A quantidade de funes impe diviso de trabalho e, conse-qentemente, o aparecimento de uma srie de colaboradores in-ternos e externos. Como no pode assumir sozinho as mltiplastarefas do setor espiritual e temporal, Trigueirinho divide-as com

    os coordenadores. Assim, h um tipo nico de estrutura social,com trs camadas superpostas, com Trigueirinho no pice, os ex-ternos ou semi-internos ou redes de servio na base. Intermedirioa ambos, est um grupo de coordenadores internos mais chega-dos, escolhidos por Trigueirinho, pessoas de confiana. A divisodo trabalho condio indispensvel para que a comunidade sediscipline e possa partir para o resgate do mundo, atravs da Ope-rao resgate.

    Os coordenadores dos setores de Figueira, por sua vez, es-to constantemente sendo mudados por Trigueirinho. H umarotatividade, um rodzio de funes (GOFFMAN, 1999) com o intui-to de evitar apego s tarefas, cultivar o desapego entre os colabo-radores e no permitir a possvel formao de cls, como os quesurgiram na Comunidade Nazar, resultando na excluso deTrigueirinho. A centralizao (CROZIER,1981) das decises deTrigueirinho acarretam a falta de comunicao interna. H uma

    barreira entre Trigueirinho e o grupo menos prximo de forma ano se desenvolver cls que venham a se insurgir contra a lideran-a dele. Suas ordens no podem ser, portanto, criticadas e/ou con-trariadas. Os colaboradores so condicionados a no se comunica-rem. Uma das maiores regras em Figueira o silncio. Tambmh um isolamento que priva os colaboradores de iniciativa ecriatividade, porque esto submetidos s regras impostas que re-gulam a funo, o comportamento, as operaes e a forma de

    realiz-la, seu modo operativo nico ao qual devem conformar-se. A ordem do seu desenvolvimento j est especificada. Tudo est

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    previsto com bastante exatido, portanto no h espao para ainiciativa pessoal ou para o livre-arbtrio. Para Trigueirinho, o livre-arbtrio gera um estado catico, egosta. Os colaboradores, para

    serem salvos e resgatados, devem ceder e entregar seu livre-arb-trio sua autoridade (HOBBES, 1974).Trigueirinho torna os limites de Figueira muito precisos em

    funo de experincias negativas passadas que o excluram da co-munidade Nazar. Por isso, os indecisos no podem ser aceitos.Todos os membros devem manifestar zelo no desempenho dosdeveres. Se um membro recusa obedincia, a salvao do grupotodo posta em perigo, em jogo. Assim, uma das grandes preocu-

    paes de Trigueirinho dar nfase aos limites do grupo, preser-vando os integrantes do contato nocivo com as pessoas com ideaiscontrrios. Isto, em parte, determina a segregao do grupo emrelao sociedade global.

    Figueira, sob a gide de um novo cdigo cultural, subvertea ordem social estabelecida, fazendo normas que contrariam a so-ciedade estruturada. Com isso, o grupo interno, que possui idiasque conflitam com os valores da sociedade maior, gera tenso e

    discordncia permanentes com o grupo de externos quandointeragem (JOAS,1999;MERTON,1968).

    2.2.3 F ORMADESUBSISTNCIA, TRABALHO VOLUNTRIOEGRATUITO

    Percebemos, nas vezes em que visitamos Figueira, que osinternos no conhecem o valor do dinheiro, no lidam com ele,nem conhecem a moeda nacional atual. S alguns poucos adminis-

    tram contas bancrias. So os que trabalham na secretaria, que ficana Casa 1, na rea urbana. Eles precisam, eventualmente, sair pararealizar compras para os que permanecem na fazenda, os quaisno podem sair nunca, nem em feriados, nem de frias, etc.

    Embora os internos desconheam valores monetrios, a orga-nizao, por sua vez, dispe de meios para a obteno de recursospara a consecuo de suas metas. Uma das formas de arrecad-los atravs de mo-de-obra voluntria e gratuita, alm de contribui-

    es voluntrias. Outra forma so os cultivos agrcolas para subsis-

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    tncia prpria. A produo excedente trocada na cidade de Carmoda Cachoeira por gneros alimentcios que estejam faltando.

    Para se manter economicamente Figueira tem, tambm,

    como um de seus meios de vida, a venda de livros. Possui umaeditora prpria Irdin Editora Ltda. (Anexo J) - So Paulo - CGC01303476/0001-64, sem fins lucrativos. Atualmente, esto em cir-culao, dois milhes segundo Trigueirinho de exemplares noBrasil, em Portugus, pelas editoras Pensamento, Nova Cultural,Crculo do Livro e Irdin; e em espanhol, na Argentina, pela EditoraKier. Parte dessa obra comea a ser lanada em ingls pela IrdinEditora, e em francs pela ditions Vesica Piscis. A Irdin tambm

    comercializa 572 gravaes feitas ao vivo de palestras deTrigueirinho. Em todos os setores, h expositores e preos mos-tra, induzindo compra por impulso de livros. Abaixo, est trans-crito um pedido de colaborao para o setor de difuso de livros efitas (Anexo K):

    O setor de Difuso de Livros e Fitas de Figueira temcomo meta (...) a venda de livros e fitas (...) Nossaproposta para o corrente ano de 2001 a seguinte:

    levantar recursos para vendas por preos simblicosde 14.500 livros de Trigueirinho, cujo total R$64.000,00; 1.350 livros do Dr. Jos Maria Campos (Cle-mente), cujo custo total de R$15.000,00. Formas departicipar: comprar livros e do-los por iniciativa indi-

    vidual (...) Qualquer quantia bem-vinda.

    Tambm so vendidos em Figueira fitas de vdeo (VHS), cds,fitas k-7 com gravaes ao vivo das palestras de Trigueirinho para

    divulgao da obra dele. Alm disso, tm sido organizadas audi-es dessas fitas em outras cidades, complementando essa divul-gao. Tambm h, s dezessete horas, aos domingos, uma parti-lha de Trigueirinho numa rdio da internet, chamada Rdio Mun-dial FM 95. 7 AM 660. Pode-se escut-la no site www.radiomundial.com.br (Anexo L).

    Outra forma de Figueira manter-se produtiva d-se pela pre-sena dos meeiros (Anexo N). Os residentes internos e os grupos

    de itinerantes no conhecem profundamente as tcnicas de agri-cultura. Os meeiros conhecem e fazem um trabalho cooperativo.

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    Os participantes dessas frentes de trabalho, em geral camponeses,renem-se com os responsveis pelo setor de plantios para o pla-nejamento do ano agrcola. A partir da, cada um assume a sua

    parte. A maioria encontra nessa cooperao uma forma de comple-mentar seus meios de subsistncia, enquanto outros se colocamcomo voluntrios pela simples oportunidade de ajudar o prximo.Usam tcnicas naturais de cultivo e abastecem-se de alimentos sa-dios, sem circulao de dinheiro. Devidamente processadas, frutasda regio so conservadas para consumo durante o ano todo. Par-te do grupo de Figueira dedica-se ao trato das rvores frutferas,ao passo que as famlias dos meeiros elaboram os produtos e os

    embalam para armazenagem. Gros como arroz, milho e feijo sosemeados aps o devido preparo da terra feito por tratores, en-quanto mutires formados por meeiros e membros do grupo deresidentes e visitantes encarregam-se das capinas e colheitas. Ab-bora, amendoim, batata, inhame, mandioca e milho foram inclu-dos nesses plantios a pedido dos prprios meeiros. Recentemente,outras atividades so oferecidas a eles nos mesmos moldes, taiscomo a produo de leite de soja e a confeco e conserto de rou-

    pas. O setor de plantios e sementes, com a ajuda dos colaborado-res, residentes ou visitantes que se apresentam, cuida do cultivode alimentos no apenas para hspedes e moradores, mas tam-bm para famlias carentes da regio. O volume de tarefas realiza-das por esse setor considervel, e nelas procura-se preservar assementes originais, respeitar a vida do solo e da natureza em ge-ral. Em 2002, foram produzidas 77 toneladas de gros, alm dehortalias e frutas de modo natural e sem agrotxicos.

    Ainda, para manter sua fazenda produtiva, Figueira contacom a mo-de-obra voluntria de grupos urbanos de servio. Sogrupos rotativos provenientes de cidades prximas chamados tam-bm de redes de servio. Eles fazem mutires para tarefas varia-das, como construes e aberturas de estradas e produo orgni-ca.

    No h pagamento de taxas para nenhuma atividade nem parahospedagem. Isso pode ocorre devido ao trabalho voluntrio e

    gratuito de todos os grupos que tambm fazem doaes espont-neas em dinheiro, roupas, gneros alimentcios, remdios ou equi-

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    pamentos, etc. Com relao s doaes, apresentamos transcriode carta-aberta (Anexo N) dirigida aos colaboradores, solicitandocontribuies e/ou doaes:

    Aos colaboradores de Figueira (...) faz-se notar quealgumas providncias devem ser tomadas para que agua no venha a faltar em Figueira (...) A ampliaodo sistema de abastecimento de gua pressupe, en-tre outros itens: a construo de um novo reservat-rio com capacidade de 500 mil litros, para suprir F1(Figueira 1 monastrio feminino) e F3 (Figueira 3 eremitrio), no valor aproximado de R$ 80.000,00(2001). A instalao de quatro rodas de gua, com suas

    respectivas barragens, para completar o bombeamentosem uso de eletricidade. Bombas e 4.500 m de tubula-es e conexes, tanto para interligar a rede de abas-tecimento das reas recm-incorporadas com a j exis-tente, quanto para redimensionar a rede atual. Aconcretizao desse importante projeto custar apro-ximadamente R$ 250.000,00 (2001). Estamos, pois,levando ao conhecimento de todo o grupo essas ne-cessi