Três Contos Populares Portugueses

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O livro ideal para crianças que são apaixonadas por livros. Três Contos Populares Portugueses Elaborado por: Ricardo Leonardo

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O livro ideal para crianças que são apaixonadas por livros.

Três Contos Populares

Portugueses

Elaborado por:Ricardo

Leonardo

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Índice:

História do Grão-de-Milho

A Vendedora de Cebolas

Lenda da Caninha

Verde

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História do Grão-de-Milho (Conto Tradicional)

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História do Grão-de-Milho

ERA UMA VEZ uns casados e não tinham filhos. A mulher tanto pediu a Nossa Senhora que lhe desse um filho, ainda que fosse do tamanho de um greiro de milho, que ao fim de nove meses ela pariu um filho, mas tão pequeno, tão pequeno, que era mesmo do tamanho de um greiro de milho. Foi-se passando tempo e o pequeno não crescia nada, de sorte que ficou sempre do mesmo tamanho. O pai era lavrador e, quando andava a trabalhar no campo, era o Grão-de-Milho que lhe ia levar o jantar numa cesta; mas, como era tão pequeno, ninguém o via o que fazia correr aquela cesta pela rua abaixo. O pai recomendava-lhe que não se chegasse para o pé dos bois, mas uma vez que ele tinha ido levar o jantar ao pai, a brincar trepou para cima de uma folha de milho e um dos bois, pensando que era um greiro de milho, lambeu-o com a língua.

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oO pai quando quis voltar para casa, por mais que o procurasse não deu com ele, mas tanto chamou que por fim ouviu responder que o boi o tinha comido e estava dentro da tripa. O pai ficou muito aflito e matou logo ali o boi e começou a procurá-lo nas tripas, mas por mais que procurasse não o encontrou, até que deixou ficar tripas e tudo. De noite um lobo, atraído pelo cheiro da carne, veio e comeu as tripas do boi, e deitou a fugir. O lobo teve umas grandes dores de barriga e o Grão-de-Milho começou a gritar-lhe: "C... aí, c... aí!" Mas o lobo, ouvindo isto teve tanto medo que mais fugia e não podia obrar. O Grão-de-Milho continuava a gritar: "C... aí, c... aí!", até que o lobo tão atrapalhado se viu que fez as suas necessidades.

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O Grão-de-Milho logo que saiu para fora, lavou-se muito bem lavado numa pocinha que ali estava e foi por ali fora. No meio caminho encontrou uns almocreves que levavam os machos carregados de dinheiro e disse-lhes. De repente, saltam uns ladrões, matam os almocreves e levam os machos com o dinheiro para uma casa que havia nuns pinherais. O Grão-de-Milho, como ia medito numa alforges, foi também sem ser pescado. Os ladrões despejaram o dinheiro em cima de uma grande mesa e começaram a contá-lo. O Grão-de-Milho pôs-se debaixo da mesa e começou a gritar: "Quem dá dé-reis, quem dá dé-reis!" Os ladrões, assim que ouviram isto, tiveram tanto medo que deitaram a fugir. Então o Grão-de-Milho ensacou o dinheiro, pô-lo em cima dos machos e foi para casa. Quando lá chegou, era ainda de noite e bateu à porta. O pai perguntou: "Quem está aí?" e ele respondeu: "Sou eu, meu pai; abra depressa." O pai veio logo abrir a porta e o Grão-de-Milho contou-lhe então tudo, entregou-lhe os machos e o dinheiro e o lavrador, que era pobre, ficou muito rico.

História do Grão-de-Milho

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A Vendedora de Cebolas (Conto Tradicional)

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A rapariga tinha sido mandada à feira pela madrasta para vender um cesto de cebolas e uma giga de ovos. Saíra de casa com o cesto à cabeça ainda o sol não tinha nascido. Por várias vezes, ao longo do caminho, os socos derraparam nas pedras escorregadias pela geada. Salvou-a da queda o bom equilíbrio que sempre teve. Deixasse cair o cesto e era certa a tareia da madrasta. Tanto mais que não se vendem cebolas maçadas e ovos muito menos e ela tinha de entregar em casa o dinheiro certinho.

A Vendedora de Cebolas

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A Vendedora de Cebolas

Chegou à feira já o sol ia alto. Quanto mais cedo se chegasse, melhor negócio se fazia. Os preços começavam a baixar com o arrastar da manhã e os mercadores acabavam por vender os últimos produtos a menos de metade do preço, para não terem de regressar a casa com eles.

Passou ao lado da tenda do mercador de caldeirões e corou quando o viu a falar com uma velha que apontava para um caldeirão. Ele era tão bonito, que a rapariga gostava de passar ali só para o ver. O jovem mercador nem para ela olhava. E como poderia ele olhar para uma rapariga tão feia e tão miseravelmente vestida? Mas ela não se importava. A lembrança dele nos dias duros de trabalho e nas noites frias aquecia-lhe o peito e isso bastava-lhe.

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Poisou o cesto – ninguém ali à volta se oferecera para a ajudar a descê-lo da cabeça, nem mesmo as conhecidas de outros dias de feira que ao lado apregoavam os produtos – e sentiu-se derreada.

No dia anterior, a madrasta tinha-a mandado retirar o estrume do curral, trabalho que lhe ocupou grande parte do dia. Já na cozinha, quando tinha mais vontade de comer e ir para a cama do que fazer o que quer que fosse, a madrasta ainda a obrigou a fazer a ceia e a preparar o cesto para a feira. Enquanto picava uma cebola para o refogado, chorou e o pai, que acabava de chegar de uma lavrada, perguntou-lhe:

– Por que choras, minha filha?

E ela disse-lhe que por causa da cebola. O pai acreditou e sentou-se junto à lareira a tirar as botas antes de pôr os pés ao fogo. A madrasta, ao lado, cosia uns fundilhos e ali estiveram a fazer sala à espera que o manjar estivesse pronto, enquanto os dois miúdos, seus meio-irmãos, por ali andavam a arranhar-se com gritos e correrias.

A Vendedora de Cebolas

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A Vendedora de Cebolas

Foi muito tarde que a rapariga se foi deitar no quarto das traseiras, depois de ter lavado a loiça, preparar o avental, a saia e a blusa que no dia seguinte vestiria para a feira. Mesmo assim, aos olhos de quem passava, não parecia mais do que uma mendiga, tão remendada estava a saia, tão gasto o avental e tão puída a blusa.

Apesar de todas as desgraças, o negócio corria-lhe bem e no final da manhã tinha vendido quase todos os ovos e boa parte das cebolas. Estava com tanta fome que se atreveu a pegar numa cebola, das mais pequenas.

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Tirou-lhe as várias camadas de casca e começou a comê-la com um pedacito de pão duro que guardara no bolso do avental. Estava ela de boca cheia, sentindo a acidez da cebola a picar-lhe a língua, quando se aproximou a velha que ela tinha visto a conversar com o jovem mercador. Trazia um caldeirão na mão, parou junto ao cesto e perguntou-lhe pelo preço das cebolas. A rapariga disse-lhe que, como eram as últimas, lhas dava por metade do preço. A velha apalpou uma e comentou:

– Não me parece que durem todo o Inverno. Têm a casca mole.

Piscou o olho direito e acrescentou:

– Se mas deres por metade do preço dessa metade que dizes, talvez as leve.

– Não posso, tiazinha – respondeu a rapariga. – A minha madrasta recomendou-me que não descesse o preço mais do que o justo. Se não lhe entregar o dinheiro certo, ela castiga-me.

A Vendedora de Cebolas

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– E como sabe ela qual é o dinheiro certo antes de a feira acabar? – perguntou a velha piscando desta vez o olho esquerdo. – É por acaso bruxa?

A rapariga não sabia dizer. As bruxas são más, toda a gente sabe, e se assim fosse, a madrasta era uma bruxa. Mas a rapariga também sabia que as bruxas eram velhas e

feias. E então a madrasta já não podia ser bruxa. Foi por ser nova e bonita que o pai, quando ficou viúvo, casou com ela. Mas não sabia explicar como sabia a madrasta o dinheiro que a rapariga lhe deveria entregar.

– Talvez – sugeriu a velha – ela não saiba, mas diz que sabe para tu ficares com medo e não te deixares enganar pelos clientes ou não gastares o dinheiro mal gasto.

E pôs-se a matutar. Bem que as cebolas valiam o dinheiro que a rapariga pedia. Mas ela não tinha moedas suficientes. Foi então que lhe surgiu uma ideia:

– Dás-me as cebolas pelo meu preço e não precisarás mais de te preocupar com a tua madrasta, que deve ser uma mulher bem mais malvada do que eu.

A rapariga não percebeu bem a fala da velha do caldeirão. Mas porque lhe pareceu que a velha era atrasadinha, coitada, deu-lhe as cebolas ao preço que ela estava disposta a pagar. A velha meteu as cebolas no caldeirão e foi-se embora muito satisfeita depois de ter dito como despedida:

Eu te fado bem fadadaPara que sejas bem casada.A rapariga guardou as moedas no bolso do avental, acabou de comer

A Vendedora de Cebolas

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Eu te fado bem fadadaPara que sejas bem casadaA rapariga guardou as moedas no bolso do avental, acabou de comer

a cebola e o pão, ajeitou o cesto na cabeça, agora bem mais leve e preparou-se para abandonar a feira. Passou na tenda do mercador dos caldeirões e, como sempre fazia, olhou para lá de relance. Estava estranhamente abandonada, com os caldeirões brilhando ao sol sem ninguém que os guardasse. A rapariga aproximou-se, poisou o cesto e pôs-se a observar a tenda. Ali perto havia um charco e ela ouviu um coaxar. Junto à água estava um enorme sapo, tão grande como ela nunca vira. A maneira como o bicho coaxava parecia dizer: Beija-me, beija-me, mas dito pelo nariz. Ela pôs-lhe a mão e sentiu-lhe o dorso viscoso. Se fosse outra, sentiria nojo e fugiria dali a cuspir. Mas a rapariga estava habituada a coisas bem mais nojentas que a madrasta a obrigava a fazer.

– Estás aqui sozinho? Coitadinho! – disse ela.

E o sapo coaxava: Beija-me, beija-me. Ela pegou nele em ambas as mãos, como se pegasse numa flor, passou-lhe os lábios pela cabecita sem pescoço e, sem que ela percebesse como, viu-se ao colo do jovem mercador de caldeirões. Ele sorriu e retribuiu-lhe o beijo. Depois disse:

– És a rapariga mais bela deste reino. E porque me salvaste, farei de ti a rainha dos caldeirões

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Lenda da Caninha Verde (Vouzela)

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Em tempos que já lá vão, nos primeiros tempos da Reconquista, vivia num palácio em Fataunços, perto de Vouzela, o nobre guerreiro El Haturra,

descendente do famoso chefe mouro Cid Alafum.

El Haturra era velho e feio e nunca era visto sem a sua bengala, uma velha cana que vinha sendo transmitida na sua família, de geração em geração, entregue

ao seu novo possuidor com umas palavras misteriosas...

Ora, o facto de El Haturra se fazer acompanhar por aquela cana negra e ressequida era objecto de troça de todos, a tal ponto que um seu amigo, o

jovem português Álvaro o aconselhou a desfazer-se dela. El Haturra confidenciou-lhe então que a vara tinha magia e que se um dia chegasse a ficar verde era o sinal sagrado do profético encontro de dois primos descendentes

de Cid Alafum.

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Nesse dia esperado, as terras e os tesouros do antigo chefe mouro voltariam à posse da família e as formosas mouras seriam desencantadas. Uma condição essencial era que ambos os descendentes professassem a religião de Alá. Um dia, passeavam El Haturra e o seu amigo Álvaro pelo campo quando viram uma linda princesa acompanhada por uma formosa aia, de cabelo negro e olhos azuis, que cavalgava um cavalo negro.

De repente, a vara começou a ficar verde e El Haturra começou a rejuvenescer, tornando-se jovem e belo. Ao primeiro olhar, El Haturra tinha reconhecido na aia a descendente de Cid Alafum e, juntamente com Álvaro, saiu atrás das duas jovens que se dirigiam à corte do rei de Portugal.

Diz a lenda que El Haturra conseguiu convencer a jovem aia a casar-se com ele e o rei de Portugal abençoou a união com uma condição: o baptismo de El Haturra. De início o agora jovem El Haturra opôs-se veemente, mas por fim a sua paixão foi mais forte e aceitou o desejo real.

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O baptismo ficou marcado para o dia do casamento e foi então que aconteceu algo de extraordinário: no momento em que estava a ser baptizado, El Haturra voltou a ser velho e feio como dantes. A magia da caninha verde só seria válida se ambos os nubentes professassem a religião de Maomé.

A noiva desmaiou naquele mesmo momento e nunca mais quis ouvir falar no seu noivo que desapareceu para sempre, enquanto que a sua cana verde foi guardada num sítio secreto. Segundo a tradição, se alguém gritar "Viva o fidalgo da caninha verde!" no mesmo local e à mesma hora em que se deu o encontro entre os dois descendentes de Cid Alafum, ouvirá gargalhadas alegres das mouras encantadas que pensam que chegou a hora da sua libertação.

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Mas esperem…Há Mais!

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