Treinar Para Exame Português 9ºano a Crónica Cont.1

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3. Relê o excerto: «Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas?» (linhas 17-18) 3.1. Transcreve uma metáfora. Cenário de resposta: «(Não conhecemos nós) sorrisos que são rápidos clarões […]» 3.2. Transcreve uma dupla adjetivação. Cenário de resposta: «[…] (como esse brilho) súbito e inexplicável (que soltam os peixes nas águas fundas?)». 3.3. Explica de que forma a expressão «[…] sorrisos que são rápidos clarões […]» valoriza a descrição de «sorriso». Cenário de resposta: A descrição é valorizada através da identificação de sorriso com «rápidos clarões», ficando assim o sorriso associado a velocidade/movimento/e a brilho/luz do clarão. O sorriso transmite algo de inesperado e surpreendente. 4. No final do texto, o autor declara: «Sorrir assim, mesmo sem olhos que nos recebam, é o verbo mais transitivo de todas as gramáticas. Pessoal e rigorosamente transmissível. O ponto está em haver quem o conjugue» (linhas 27-28). Explica o sentido deste excerto. Cenário de resposta: As expressões significam que sorrir é o ato mais transmissível de todos e que, embora pessoal, é um ato necessariamente partilhável. Acrescenta que, para tal, é necessário alguém dispor-se a sorrir, mesmo que não tenha a quem. Exame Nacional de Língua Portuguesa, 3.º Ciclo – 1.ª Chamada – 2008 (adaptado) Agora faz tu o texto. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado. As palavras As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendi- das e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças: vêm nos livros, nos jornais, nos slogans publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas 1 ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas con- trárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que fazem. Há muitas palavras. E há os discursos, que são palavras encostadas umas às outras, em equilíbrio instável graças a uma precária sintaxe, até ao prego final do Disse ou Tenho dito. Com discursos se comemora, se inaugura, se abrem e fecham sessões, se lançam cortinas de fumo ou dispõem bambinelas de veludo. São brindes, orações, palestras e conferências. Pelos discursos se transmitem louvores, agradecimentos, programas e fantasias. E depois as palavras dos discursos aparecem deitadas em papéis, são pintadas de tinta de impressão – e por essa via entram na imortalidade do Verbo. Ao lado de Sócrates, o presidente da junta afixa o discurso que abriu a torneira do marco fontanário. 5 10 15 20 ©AREAL EDITORES E as palavras escorrem, tão fluidas como o «precioso líquido». Escorrem interminavelmente, alagam o chão, sobem aos joelhos, chegam à cintura, aos ombros, ao pescoço. É o dilúvio uni- versal, um coro desafinado que jorra de milhões de bocas. A terra segue o seu caminho envolta num clamor de loucos, aos gritos, aos uivos, envolta também num murmúrio manso, represo e conciliador. Há de tudo no orfeão: tenores e tenorinos, baixos cantantes, sopranos de dó de peito fácil, barítonos enchumaçados, contraltos de voz-surpresa. Nos intervalos, ouve-se o ponto. E tudo isto atordoa as estrelas e perturba as comunicações, como as tempestades solares. Porque as palavras deixaram de comunicar. Cada palavra é dita para que não se oiça outra palavra. A palavra, mesmo quando não afirma, afirma-se. A palavra não responde nem pergunta: amassa. A palavra é erva fresca e verde que cobre os dentes do pântano. A palavra é poeira nos olhos e olhos furados. A palavra não mostra. A palavra disfarça. Daí que seja urgente mondar 2 as palavras para que a sementeira se mude em seara. Daí que as palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação. Daí que a palavra só valha o que valer o silêncio do ato. Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, exa- mina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus 3 do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão. José Saramago, «As palavras», Deste Mundo e do Outro, 5.ª edição, Lisboa, Editorial Caminho, 1997 VOCABULÁRIO 1 melífluas (linha 6) – doces. 2 mondar (linha 28) – limpar. 3 húmus (linha 32) – matéria negra, orgânica. 20 25 30 Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem. 1. O autor começa por enumerar diferentes tipos de palavras. Explica o que ele pretende mostrar com essa enumeração. 2. Relê o excerto: «E as palavras escorrem tão fluidas como o «precioso líquido». Escorrem interminavelmente, alagam o chão, sobem aos joelhos, chegam à cintura, aos ombros, ao pescoço. É o dilúvio universal, um coro desa- finado que jorra de milhões de bocas.» (linhas 17-19) 2.1. Transcreve uma metáfora. 2.2. Transcreve uma enumeração. 2.3. Explica de que forma a frase «E as palavras escorrem tão fluidas como o “precioso líquido”» valoriza a descrição do discurso do presidente da junta. 3. No terceiro parágrafo, o autor declara que as palavras deixaram de comunicar. Indica em que medida as palavras deixaram de ter essa função. 4. No final do texto, o autor declara: «Caem sobre ele [o silêncio] as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão.» (linhas 33-34) Explica o sentido deste excerto. 1. TEXTOS DE DIFERENTES TIPOLOGIAS 21 ©AREAL EDITORES

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EXAME9

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  • 3. Rel o excerto: No conhecemos ns sorrisos que so rpidos clares, como esse brilho sbito e inexplicvel que soltam os peixes nas guas fundas? (linhas 17-18)

    3.1. Transcreve uma metfora.

    Cenrio de resposta: (No conhecemos ns) sorrisos que so rpidos clares []

    3.2. Transcreve uma dupla adjetivao.

    Cenrio de resposta: [] (como esse brilho) sbito e inexplicvel (que soltam os peixes nas guas fundas?).

    3.3. Explica de que forma a expresso [] sorrisos que so rpidos clares [] valoriza a descrio de sorriso.

    Cenrio de resposta: A descrio valorizada atravs da identificao de sorriso com rpidos clares, ficando assim o sorriso associado a velocidade/movimento/e a brilho/luz do claro. O sorriso transmite algo de inesperado e surpreendente.

    4. No final do texto, o autor declara: Sorrir assim, mesmo sem olhos que nos recebam, o verbo mais transitivo de todas as gramticas. Pessoal e rigorosamente transmissvel. O ponto est em haver quem o conjugue (linhas 27-28).

    Explica o sentido deste excerto.

    Cenrio de resposta: As expresses significam que sorrir o ato mais transmissvel de todos e que, embora pessoal, um ato necessariamente partilhvel. Acrescenta que, para tal, necessrio algum dispor-se a sorrir, mesmo que no tenha a quem.

    Exame Nacional de Lngua Portuguesa, 3. Ciclo 1. Chamada 2008 (adaptado)

    Agora faz tu

    L o texto. Em caso de necessidade, consulta o vocabulrio apresentado.

    As palavrasAs palavras so boas. As palavras so ms. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa.

    As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras so dadas, trocadas, oferecidas, vendi-das e inventadas. As palavras esto ausentes. Algumas palavras sugam-nos, no nos largam: so como carraas: vm nos livros, nos jornais, nos slogans publicitrios, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impem, segregam, eliminam. So melfluas1 ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com leo de pacincia. Os crebros esto cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas con-trrias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrrio do que pensam, julgando pensar o que fazem. H muitas palavras.

    E h os discursos, que so palavras encostadas umas s outras, em equilbrio instvel graas a uma precria sintaxe, at ao prego final do Disse ou Tenho dito. Com discursos se comemora, se inaugura, se abrem e fecham sesses, se lanam cortinas de fumo ou dispem bambinelas de veludo. So brindes, oraes, palestras e conferncias. Pelos discursos se transmitem louvores, agradecimentos, programas e fantasias. E depois as palavras dos discursos aparecem deitadas em papis, so pintadas de tinta de impresso e por essa via entram na imortalidade do Verbo. Ao lado de Scrates, o presidente da junta afixa o discurso que abriu a torneira do marco fontanrio.

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    E as palavras escorrem, to fluidas como o precioso lquido. Escorrem interminavelmente, alagam o cho, sobem aos joelhos, chegam cintura, aos ombros, ao pescoo. o dilvio uni-versal, um coro desafinado que jorra de milhes de bocas. A terra segue o seu caminho envolta num clamor de loucos, aos gritos, aos uivos, envolta tambm num murmrio manso, represo e conciliador. H de tudo no orfeo: tenores e tenorinos, baixos cantantes, sopranos de d de peito fcil, bartonos enchumaados, contraltos de voz-surpresa. Nos intervalos, ouve-se o ponto. E tudo isto atordoa as estrelas e perturba as comunicaes, como as tempestades solares.

    Porque as palavras deixaram de comunicar. Cada palavra dita para que no se oia outra palavra. A palavra, mesmo quando no afirma, afirma-se. A palavra no responde nem pergunta: amassa. A palavra erva fresca e verde que cobre os dentes do pntano. A palavra poeira nos olhos e olhos furados. A palavra no mostra. A palavra disfara.

    Da que seja urgente mondar2 as palavras para que a sementeira se mude em seara. Da que as palavras sejam instrumento de morte ou de salvao. Da que a palavra s valha o que valer o silncio do ato.

    H tambm o silncio. O silncio, por definio, o que no se ouve. O silncio escuta, exa-mina, observa, pesa e analisa. O silncio fecundo. O silncio a terra negra e frtil, o hmus3 do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as ms. O trigo e o joio. Mas s o trigo d po.

    Jos Saramago, As palavras, Deste Mundo e do Outro, 5. edio, Lisboa, Editorial Caminho, 1997

    VOCABULRIO1 melfluas (linha 6) doces.2 mondar (linha 28) limpar.3 hmus (linha 32) matria negra, orgnica.

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    Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

    1. O autor comea por enumerar diferentes tipos de palavras. Explica o que ele pretende mostrar com essa enumerao.

    2. Rel o excerto:

    E as palavras escorrem to fluidas como o precioso lquido. Escorrem interminavelmente, alagam o cho, sobem aos joelhos, chegam cintura, aos ombros, ao pescoo. o dilvio universal, um coro desa-finado que jorra de milhes de bocas. (linhas 17-19)

    2.1. Transcreve uma metfora.

    2.2. Transcreve uma enumerao.

    2.3. Explica de que forma a frase E as palavras escorrem to fluidas como o precioso lquido valoriza a descrio do discurso do presidente da junta.

    3. No terceiro pargrafo, o autor declara que as palavras deixaram de comunicar. Indica em que medida as palavras deixaram de ter essa funo.

    4. No final do texto, o autor declara: Caem sobre ele [o silncio] as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as ms. O trigo e o joio. Mas s o trigo d po. (linhas 33-34)

    Explica o sentido deste excerto.

    1. TEXTOS DE DIFERENTES TIPOLOGIAS

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