Trecho do livro "A História do Brasil em 50 frases"

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Dos desbravadores

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SE ALGURES NA TERRA EXISTE O PARAÍSO TERRESTRE, NÃO PODE ELE ESTAR LONGE DAQUI!

Américo Vespúcio

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Pedro Álvarez Cabral comandou uma frota com 13 navios, com 1.500 homens a bordo, e descobriu o Brasil, em 1500. O florentino Américo Vespúcio veio ao Novo Mundo como reles tripulante numa expedição portuguesa de apenas três carave-las, em 1501. A missão era conferir as dimensões da descoberta de Cabral. A terra é imensa, pôde informar o capitão Gonçalo Coelho ao rei Dom Manuel, o Venturoso.

Apesar da imensidão territorial do Brasil, o Novo Mundo recebeu o nome do piloto italiano e não o do capitão-mor da Armada portuguesa. Parte da explicação para a inversão de va-lores é a seguinte: a notícia do achamento de terra firme no Ocidente causou pouca comoção. Das mãos de Dom Manuel, a carta de Pero Vaz de Caminha passou à secretaria de Estado carimbada como documento sigiloso. Não era do interesse da Coroa anunciar, antes do tempo, tal descobrimento, se é que existia. Ainda era incerto se o Brasil estava ou não na porção do mundo atribuída aos portugueses pelo Tratado de Tordesi-lhas. Existia o risco de a Espanha reivindicar a nova terra ou até enviar navios para tomar posse. Em Portugal, as primeiras informações sobre as viagens cabralinas só foram impressas em 1550.

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Portugal não investira na frota de Cabral para encontrar no-vas terras. O propósito era o de instalar feitorias na África e nas Índias. A viagem deveria também passar um recado às cidades--estados da Itália – o de que o comércio com o Extremo Oriente agora tinha novo dono. De volta a Portugal, o fidalgo chegou a ser convocado para comandar nova expedição às Índias. Às vésperas da partida, desentendeu-se com Dom Manuel e foi substituído. Pelo resto da vida, o descobridor do Brasil viveu anonimamente no seu casarão em Santarém.

Sabe-se que o rei comentou, maldosamente, que Cabral “não é bem-afortunado nas coisas do mar”. Seria uma referência às perdas sofridas pela frota na viagem que descobriu o Brasil?

Dos treze navios que deixaram Portugal, apenas cinco re-tornaram ao Tejo com os porões cheios de especiarias. A nau de Vasco de Ataíde desapareceu logo no início da viagem, per-to de Cabo Verde. Quatro embarcações naufragaram na tra-vessia do Atlântico em direção ao Cabo da Boa Esperança, levando toda a tripulação para o fundo do mar. Outra nau, sob o comando de Sancho de Tovar, carregada de especiarias, en-calhou na volta do Oriente. Duas chegaram de porões vazios (uma delas foi aquela enviada com a notícia da descoberta do Brasil).

Pois é bom dizer logo: não foi fiasco algum. A perda de na-vios era um risco aceitável das grandes navegações. Ninguém criticou o capitão-mor por deixar metade da frota pelo cami-nho. A carga dos cinco navios rendeu um lucro de 800% para a Coroa portuguesa. O dinheiro foi suficiente para pagar o custo das embarcações perdidas e ainda sobrou para financiar novas expedições. Cabral, que tinha direito a parte da carga, ficou po-dre de rico. O que não alcançou em vida foi notoriedade pela

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descoberta do Brasil ou a homenagem de ter uma terra – uma simples província que fosse – com seu nome.

Américo Vespúcio foi, no estilo renascentista, homem de múltiplos talentos. Explorador, financista, navegador, cartógra-fo, escritor de sucesso. Enviado para Cádiz, na Espanha, para cuidar da filial do banco da família Médici, ele expandiu os ne-gócios para o ramo da navegação. Dom Manuel o convidou a participar como observador de várias viagens entre 1499 e 1502.

A modesta expedição de Gonçalo Coelho foi um marco na história da cartografia por ter confirmado que as terras recém--descobertas não faziam parte da Ásia. Cristovão Colombo descobriu a América e morreu pensado ter chegado às Índias. Vespúcio foi o primeiro a reconhecê-la como novo continente – e foi ele quem espalhou a boa nova na Europa.

“Quem relata e explica torna-se, muitas vezes, mais impor-tante que o verdadeiro autor”, escreveu Stefan Zweig a respei-to do florentino.1 Com sua pena e talento narrativo, Américo Vespúcio assentou a pá de cal na geografia de Ptolomeo, a úni-ca conhecida desde o século II. A expressão Mundus Novus foi usada pela primeira vez na carta que ele enviou a seu benfeitor Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, o banqueiro de Florença. A carta, cujo original está perdido, foi traduzida para o latim e publicada em latim em livro no final de 1502. Um best-seller, que alcançou 22 edições nos três anos seguintes.

“E é legítimo chamar isso um novo mundo, porque nenhum desses países era do conhecimento de nossos ancestrais e tudo o que se ouvir a respeito deles será inteiramente novo”, escreveu Américo Vespúcio.

Um de seus leitores, o cartógrafo e humanista alemão Martin Waldseemüller, foi o primeiro a sugerir que o novo continen-te fosse nomeado ab Americo Inventore. O próprio cartógrafo

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concretizou a ideia ao dar o nome de América ao continente em seu monumental mapa-múndi publicado em 1507.2 A designação aparecia sobreposta no Nordeste brasileiro e, por essa razão, foi usada por um tempo para identificar a América do Sul. Não tar-dou a ser aceita para todo o continente.

Na elaboração do mapa-múndi, Waldseemüller contou com a colaboração do cartógrafo Matthias Ringmann. Eles eram jovens clérigos na catedral de Saint-Dié, em Lorena, na França, e é um mistério como podiam conhecer com tanta precisão a configuração da América do Sul e a existência do Oceano Pacífico.

Em tese, o espanhol Vasco Nuñez de Balboa avistaria o Pací-fico pela primeira vez em 1513. O extremo sul do continente só iria ser contornado pelo português Fernando de Magalhães em 1520. Em anotação no próprio mapa, Waldseemüller forneceu a seus contemporâneos uma dica intrigante:

“Se você não está familiarizado com as novas descobertas, não precisa se assustar com o que vê neste mapa, pois isso é como você verá o mundo no futuro.”3

Quando Vespúcio morreu em 1512, em Sevilha, o continente já era conhecido por todos como América.

A propósito, quando esteve por aqui, um ano depois de Ca-bral, o florentino escreveu um simpático comentário:

“Se algures na terra existe o paraíso terrestre, não pode ele estar longe daqui!”

Referências:

1 Stefan Zweig, Caminhos da verdade. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1936.

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2 A única cópia conhecida da primeira edição do mapa- múndi de Waldsee-müller está na Biblioteca do Congresso, em Washington. Foi comprada por 10 milhões de dólares em maio de 2003.

3 John W. Hessler (org.), The Naming of America: Martin Waldseemüller’s 1507 World Map and the Cosmographie Introductio, Giles, 2008.

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