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Tratado de Toxicologia Ocupacional

PrefcioA infortunstica da sade ocupacional e exposio a agentes qumicos, em So Paulo e no Brasil que enfrentada no dia-a dia de milhes de brasileiros no considerada por muitos como mbito relevante ao conhecimento jurdico. Costumeiramente os que assim se expressam no conhecem a profundidade da cincia e o desprezo a arma utilizada. H, verdade, de um lado no polo ativo e hipossuficiente a reivindicar o direito de segurado imposto pela Constituio Federal e de outro, no polo passivo, a entidade autrquica federal (INSS) detentora de monoplio estatal. Talvez em parte da obra haja resposta para os questionamentos e o sentimento expresso no julgamento com embasamento cientfico. Fica uma mensagem de coragem do Meritssimo Sr Dr: Irineu Antonio Pedrotti, autor da obra Doenas profissionais ou do Trabalho: ''O amor e a dedicao ao direito no tem barreiras. Pode-se plantar uma rvore, cultivando-a com carinho e s vezes com sacrifcio receber dela, um dia ou flores, ou frutos, ou sombra para deleite. Trabalho e Valor O mundo de hoje, encontra-se num processo de plena busca pela produo mxima e custo mximo. Tal objetivo deve-se ao fato da procura do desenvolvimento por parte dos subdesenvolvidos e, pela busca do controle econmico mundial por parte dos pases desenvolvidos. Evidentemente, que esse interesse geral est relacionado com o bem estar do ser humano, pois o Estado tem como meta principal, a sociedade. Para alcanar tais objetivos, os pases tero que dispor de um fator imprescindvel, a tecnologia. Esse fator traz positivos benefcios econmicos, desde que haja um investimento no binmio Homem Mquina. Porm, faz-se necessrio considerarmos que tal fator poder contribuir para um resultado contrrio ao esperado pelo Estado, pois haver uma influncia direta no meio de trabalho do homem. Sendo assim, torna-se necessrio algo que venha a proteger o trabalho humano, surge ento, o conceito de segurana. Em 1700, foi publicado, na Itlia, um livro, cujo autor era um mdico chamado Bernardino Ramazzini, que teve repercusso em todo o mundo,

devido sua importncia. Nesta obra, Ramazzini descreve cinquenta profisses distintas e as doenas a elas relacionadas. introduzido um novo conceito por Ramazzini: Qual a sua ocupao?. Hoje, poderamos interpretar esta pergunta da seguinte forma: Digas qual o seu trabalho, que direi os riscos que ests sujeito. Por essa importante obra, Bernardino Ramazzini ficou conhecido como o Pai da medicina do Trabalho. Na poca da publicao deste livro, as atividades profissionais ainda eram artesanais, sendo realizadas por pequenos nmeros de trabalhadores e, consequentemente, os casos de doenas profissionais eram poucos, ou seja, pouco interesse surgiu com relao aos problemas citados na obra de Ramazzini. No sculo XVIII, surge ento, quase um sculo mais tarde, na Inglaterra, a Revoluo Industrial, um movimento que iria mudar toda a concepo em relao aos trabalhos realizados, acidentes e doenas profissionais que deles advinham. As primeiras fbricas foram instaladas prximas aos cursos dgua, pois as mquinas eram acionadas atravs da energia hidrulica; devido a esta localizao, tinha-se uma escassez de trabalhadores. Com o aparecimento da mquina a vapor, as fbricas puderam ser instaladas nas grandes cidades onde a mo-de-obra era conseguida com maior facilidade. As operaes de industrializao tornam-se simplificadas com a maquinaria introduzida na produo. As tarefas a serem executadas pelo trabalhador eram repetitivas, o que levaram a um crescente nmero de acidentes. Aliado ao fato acima citado, no havia critrio para o recrutamento de mo-de-obra, onde homens, mulheres e at mesmo crianas eram selecionadas sem qualquer exame inicial quanto sade e ao desenvolvimento fsico ou qualquer outro fator humano. A procura por mo-de-obra era to inescrupulosa que essas crianas eram compradas de pais miserveis, chegando a ser aceito at uma criana dbil mental para cada gruo de doze crianas sadias. O nmero de acidentes de trabalho crescia assustadoramente, onde a morte de crianas era frequente, causados por mquinas projetadas inadequadamente, que no ofereciam qualquer segurana. Como a produo estava em primeiro lugar, no havia limites de horas de trabalho, sendo utilizado bicos de gs para o horrio noturno. Nos ambientes de trabalhos haviam rudos provocados por precrias mquinas, altas temperaturas, devido falta de ventilao, iluminao deficiente, etc. fatores esses, que contribuam para o elevado nmero de

acidentes, pois, at as ordens de trabalho na produo no eram escutadas pelo trabalhador, devido ao elevado nvel de rudo. ''No processo de trabalho, a atividade do homem efetua, portanto mediante o meio de trabalho, a transformao do objeto de trabalho, desejada desde o incio. Esse processo extingue-se no produto. Seu produto um valor de uso ;uma matria natural adaptada s necessidades humanas mediante transformao da forma. O trabalho se uniu com o seu objetivo, trabalhado. Antes de tudo o trabalho um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua prpria ao, medeia, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matria natural como uma fora natural. Ele pe em movimento as foras naturais pertencentes sua corporalidade, braos e pernas, cabea e mos, a fim de se apropriar da matria natural numa forma til para a sua prpria vida. Ao atuar por meio deste movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modific-la, ele modifica, ao mesmo tempo sua prpria natureza. Ele desenvolve as potncias nela adormecidas e sujeita o jogo de suas foras a seu prprio domnio.. . Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operaes semelhantes s do tecelo, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construo dos favos de suas colmias. Mas o que distingue, de antemo, o pior arquiteto da melhor abelha que ele construiu o favo em sua cabea, antes de constru-lo em cera. No fim do processo de trabalho, obtm-se um resultado que j no incio deste existiu na imaginao do trabalho.. . Ele no apenas efetua uma transformao da forma da matria natural;realiza, ao mesmo tempo, na matria natural, seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espcie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa subordinao no um ato isolado. Alm do esforo dos rgos que trabalham, exigida a vontade orientada a um fim, que se manifesta como ateno durante todo o tempo de trabalho.. . Os elementos simples do processo de trabalho so a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios. '' (Marx, O capital, I, 1 seo III, cap. V) Este tratado dedicado ao ensinamento e a divulgao de informaes que constituem a formao do conhecimento de doenas ocupacionais, somente atravs de medidas de segurana e aplicao efetiva do EPI (equipamento de proteo individual ), bem como exames peridicos mdicos ocupacionais que poderemos reduzir o nmeros de acidentes, e doenas crnicas decorrentes de intoxicao ocupacional. Suelen Queiroz

Dedicatria Aos que contriburam com esclarecimentos e assessoria jurdica: Dr: Paulo Francisco Coelho Soares CRM/PR: 12. 372 - Ortopedista Dr Valdecir V. Carneiro CRM/PR: 12058 - Ortopedista Dr Antonio C. Leme Neto CRM/PR: 20279 -Cardiologista Dr Paula Christiane Brisola Delegada de Polcia do Nucrisa (Ncleo De Represso Aos Crimes Contra A Sade) Em Curitiba/Pr. Dr Horminio De Paula Lima Neto Delegado do 10 Distrito de Curitiba/PR. Dr Viviane Dockhorn Weffort Procuradora Chefe Substituta da Procuradoria Regional do Trabalho da 9 Regio Dr Sergio Henrique Dias Garcia Procurador Federal do INSS Alfredo Elias Junior Engenheiro De Segurana Do Trabalho Glomb Advogados Associados Dr Noa Piat Bassfeld Gnata OAB-PR: 54979

Dr Vitor Tavares Botti OAB-PR: 55. 280 Especialmente ao Dr Irineu Antnio Pedrotti, cujo Livro Doenas Profissionais ou do Trabalho foi fonte de inspirao para a presente obra. Desembargador Do Tribunal De Justia De So Paulo.

INTRODUO Desde a Antiguidade greco-romana, o trabalho j era visto como um fator gerador e modificador das condies de viver, adoecer e morrer dos homens. Trabalhos de Hipcrates, Plnio, Galeno e outros chamavam a ateno para a importncia do ambiente, da sazonalidade, do tipo de trabalho e da posio social como fatores determinantes na produo de doenas. Com a realidade social de tais pocas, em que naes escravizavam outras naes subjugadas em guerra, esses relatos dificilmente teriam o cunho de denncia social. De Re Metallica, obra de Georg Bauer (Georgius Agricola) de 1556, faz referncia a doenas pulmonares em mineiros, com descrio interessante de sintomas que hoje atribumos silicose, e que Agrcola denominou asma dos mineiros. J Paracelso, em l567, descreve tambm doenas de mineiros da regio da Bomia e a intoxicao pelo mercrio. E em 1700, surge a extraordinria obra de Bernardino Ramazzini, mdico que atuava na regio de Modena na Itlia, e, com uma viso clnica impressionante para aquela poca onde no existiam recursos propeduticos maiores, descreve doenas que ocorriam em mais de cinqenta profisses. Em seu livro De Morbis Artificum Diatriba pode-se encontrar, alm da agudeza das observaes, uma sutil crtica de costumes. Em funo da importncia de seu trabalho, recebeu da posteridade o ttulo de pai da Medicina do Trabalho. Ramazzini, antecipando alguns conceitos bsicos da Medicina Social, enfatizou a importncia do estudo das relaes entre o estado de sade de uma determinada populao e suas condies de vida, que estavam, segundo ele, na dependncia da situao social (ROSEN, 1994). E, na verdade, se observarmos como pano de fundo o panorama poltico-social da Europa de ento, encontraremos a viso de Ramazzini aceita por muitos, acrescentando-se a idia de que a vida social e tudo que a ela se referisse (tal como condies de trabalho e de sade) deveriam estar a servio do Estado, configurando-se a um dos elementos doutrinrios de um sistema, a que se chamou mais tarde de mercantilismo ou cameralismo. Voltando s referncias de doenas associadas ao trabalho, lembramos MORGANI que em Tratado de Patologia de 1761 apud MENDES (1980) observou e enfatizou o item ocupao, no relato de todos os casos descritos. PERCIVAL POTT, em 1776, fez as primeiras e minuciosas referncias a cncer escrotal em limpadores de chamins, o que, na verdade, se constituiu como marco inicial dos estudos de relao entre cncer e

trabalho (apud MENDES, 1994). Em 1700, Ramazzini, mais tarde cognomiado o Pai da Medicina do Trabalho , publicava a sua obra, De Morbis Artificum Diatriba uma srie de doenas relacionadas com o trabalho. Com o progresso, novos processos industriais foram surgindo e com eles novas funes ou ocupaes apareceram. Tornou-se cada vez mais imperiosa a necessidade de existncia de servios que cuidassem da sade e do bem estar dos trabalhadores. Condies adversas do ambiente de trabalho tm favorecido o aparecimento de molstias profissionais e a ocorrncia de acidentes de trabalho cujas consequncias so amplamente sabidas. Em toda a Europa, principalmente na Alemanha, mas tambm na Frana e na Inglaterra, difunde-se a doutrina da Medicina de Estado, baseada em idelogos como PETTY que afirma; ".. . uma populao saudvel sinnimo de opulncia e poder". Vivia-se a preocupao com a urbanizao crescente, com as questes de alimento para o povo, saneamento, as grandes epidemias (FOUCAULT, 1987). A medicina comea a se tornar coletiva, urbana, social (MENDES, 1994). E justamente a, que surge um fato novo, que modificaria todo um sistema econmico mundial, com reflexos sociais e para a sade das populaes europias: a REVOLUO INDUSTRIAL. Historicamente, segundo frisa bem ROSEN (1994), um dos fatores responsveis pelo desenvolvimento do mundo moderno e da organizao e das aes da moderna Sade Pblica foi a ascenso de uma economia industrial que, para a maioria dos autores, tem seu perodo marcante entre 1760 e 1850. Ainda vivendo um modelo feudal de Idade Mdia, mas com um crescente movimento de urbanizao, a Inglaterra inicia a moderna industrializao, e as fbricas se instalaram principalmente nos aglomerados urbanos. O trabalho artesanal, onde o homem era detentor de todo o processo, d lugar a um processo industrial com profundas modificaes sociais. Com a REVOLUO INDUSTRIAL surge uma nova situao: o trabalho em ambientes fechados, s vezes confinados, a que se chamou de fbricas. O xodo rural, as questes urbanas de saneamento e de misria se juntaram a outro grande problema: as pssimas condies de trabalho (e ambiente) alterando o perfil de adoecimento dos trabalhadores que passaram a sofrer acidentes e desenvolver doenas nas reas fabris, como por exemplo, o tifo europeu (na poca chamado febre das fbricas). A maioria da mo de obra era composta de mulheres e crianas que sofriam a agresso de diversos agentes, oriundos do processo e/ou ambiente de trabalho. Em 1831, C. Turner Thackrar, mdico ingls, em sua obra "Os

efeitos das artes, ofcios e profisses e dos estados civis e hbitos de vida sobre asade e a longevidade", revelou as lamentveis condies de vida e de trabalho na cidade de Leeds, Inglaterra. A preocupao com a fora de trabalho, com as perdas econmicas suscitou a interveno dos governos dentro das fbricas. E chegamos ao incio do sculo XIX com a presena de mdicos em fbricas (exemplo emblemtico do mdico Robert Baker, na Inglaterra, citado por MENDES, 1980) e surgimento das primeiras leis de sade pblica que marcadamente abordavam a questo sade dos trabalhadores (Act Factory, 1833, por exemplo). A Medicina do Trabalho tinha a seu marco inicial. No fim do sculo XIX se vislumbrava uma nova era: os conhecimentos da "medicina cientfica", com base na teoria microbiana, somavam-se ao reconhecimento dos conceitos da Medicina Social, onde aspectos como habitao, saneamento, trabalho e outros entram como co-fatores determinantes na gnese do processo de doena. O modelo de servios mdicos dentro das empresas difundiu-se para vrios pases da Europa e de outros continentes, paralelamente ao processo de industrializao, e passou a ter um papel importante no controle da fora de trabalho atravs do aumento da produtividade e regulao do absentesmo (MENDES & DIAS, 1991). Chegamos ao incio do sculo XX, com o mundo volta com grandes mudanas. O iderio marxista, o socialismo e comunismo, se contrapondo ao capitalismo e a Primeira Guerra Mundial, fruto ainda do imperialismo herdado do sculo passado. Todos estes fatos, como explica (HOBSBAWUN, 1995), determinaram profundas mudanas no panorama poltico-social de todo o mundo. O processo de industrializao e a crescente urbanizao modificaram o panorama da relao capitaltrabalho. O movimento sindical emergente comeou a expressar o controle social que a fora de trabalho necessitava. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias, ao incorporaram novos processos de trabalho, geravam riscos que culminavam em acidentes de trabalho e doenas profissionais. Como sabemos, o fim do sculo passado e o incio deste, foram pontuados por grandes invenes, e a incorporao deste novo acervo cientfico e tecnolgico no aconteceu sem danos. A prpria dinmica da relao capital-trabalho se modificou, embora mantendo o binmio final: explorador e explorado, capitalista e operrio. A Medicina do Trabalho que encontramos no incio do sculo XX, tem a tica da medicina do corpo, individual e biolgica, estruturada sob a figura do mdico do trabalho como agente, e que, atravs de instrumentos empricos, atuava sobre seu objeto, o homem trabalhador, com uma abordagem clnico-teraputica, em

que, no mximo, se analisava o microambiente de trabalho e a ao patognica de certos agentes ( DIAS, 1994; TAMBELLINI, 1993). Este modelo tambm se mostrou insuficiente pelo reducionismo cientfico e conceitual. O homem trabalhador tinha suas demandas biolgicas sim, mas tambm psquicas e sociais e, neste aspecto, a revoluo industrial veio trazer o que LEAVELL & CLARK (1976) definem como infelicitao do trabalhador. No incio do sculo XX, com a expanso e consolidao do modelo iniciado com a revoluo industrial e com a transnacionalizao da economia, surgiu a necessidade de medidas e parmetros comuns, como regulamentao e organizao do processo de trabalho, que uniformizassem os pases produtores de bens industrializados. Assim , que foi criada a Organizao Internacional do Trabalho em 1919. Tal entidade j reconhecia, em suas primeiras reunies, a existncia de doenas profissionais. Por sua vez, o modelo capitalista criado transformou as relaes do homem com a natureza, dos homens entre si, com o trabalho e com a sociedade. Surgiu a organizao cientfica do trabalho, o taylorismo e o fordismo, convertendo o trabalhador de sujeito em objeto, bem coadjuvado pelas teorias modernas de Administrao, que tinham como finalidade precpua, embora no exclusiva, a produtividade. E, por consequncia, a conquista do mercado. As cincias por sua vez evoluram, configurando novos campos do saber, principalmente a qumica pura e aplicada, a engenharia, as cincias sociais e a incorporao da dimenso da psicanlise. Desenvolviam-se os primeiros conceitos de Higiene Industrial, de Ergonomia e fortalecia-se a Engenharia de Segurana do Trabalho. Paralelamente, no campo da Sade Pblica, comearam a ser criadas Escolas, como a John Hopkins, a de Pittsburgh, com nfase na Medicina Preventiva que tinha como figuras exponenciais LEAVELL & CLARK. Tudo isto veio configurar um novo modelo baseado na interdisciplinaridade e na multiprofissionalidade, a Sade Ocupacional, que nasceu sob a gide da Sade Pblica com uma viso bem mais ampla que o modelo original de Medicina do Trabalho. Ressalte-se que esta no desapareceu, e sim ampliou-se somando-se o acervo de seus conhecimentos ao saber incorporado de outras disciplinas e de outras profisses. Desta forma: "A Sade Ocupacional surge, principalmente nas grandes empresas, com o trao da multi e interdisciplinaridade, com a organizao de equipes progressivamente multi-profissionais, e a nfase na higiene industrial,

refletindo a origem histrica dos servios mdicos e o lugar de destaque da indstria nos pases industrializados. " (MENDES, 1991). A Sade Ocupacional passava a dar uma resposta racional, cientfica, para problemas de sade determinados pelos processos e ambientes de trabalho e atravs da Toxicologia e dos parmetros institudos como limites de tolerncia, tentava-se quantificar a resposta ou resistncia do homem trabalhador aos fatores de risco ocupacionais. Ainda hoje, nos principais pases industrializados, o modelo da Sade Ocupacional hegemnico, porquanto uma efetiva legislao de proteo ao trabalhador e ao meio ambiente se alia ao igualmente eficiente dos rgos fiscalizadores (como exemplo temos a Occupational on Safety Health Administration-OSHA e o National Institute for Occupational Health and Safety- NIOSH, nos Estados Unidos da Amrica). Mas, mesmo a, por fora dos movimentos sociais da dcada de 60, onde se discutia desde o modelo de sociedade at o prprio significado intrnseco do trabalho, sentia-se a necessidade da maior participao dos trabalhadores e da sociedade como um todo, na discusso das grandes questes atinentes rea. J na Europa, onde fervilhavam movimentos renovadores, irrompeu na Itlia da dcada de 70, um movimento de trabalhadores exigindo maior participao nas questes de sade e segurana, o que resultou em mudanas na legislao, tais como a participao das entidades sindicais na fiscalizao dos ambientes de trabalho, o direito informao (riscos, comprometimento ambiental, mudanas tecnolgicas) e, finalmente, melhoramento significativo nas condies e relaes de trabalho. Este foi o movimento operrio italiano. E mudanas na legislao de sade e segurana dos trabalhadores continuaram acontecendo em vrios pases, e o movimento que se iniciava na Itlia, chegou Amrica Latina, onde a turbulncia poltico-social e a sde de mudanas fez com que germinasse, tendo como base a reforma sanitria e as lutas democratizantes, que praticamente todos os pases da Amrica do Sul e Central travavam nesse contexto, que a rea temtica Sade do Trabalhador se configurou e estruturou em um contexto de profundas mudanas nos processos de trabalho que se iniciaram na dcada de 70, e cuja caracterstica marcante era uma transnacionalizao das economias, onde indstrias se transferiram para o Terceiro Mundo, principalmente aquelas que ocasionavam danos para a sade ou para o ambiente, como a de agrotxicos, a de amianto e chumbo. Tambm a automao a informatizao, a terceirizao, ao determinarem marcantes transformaes na organizao e processo de trabalho, impactaram sobre

os trabalhadores e sua sade. A Sade do Trabalhador surgiu tambm como um novo enfoque de proteo de homens e mulheres, luz da presso do capital. Os trabalhos de Laurell & Noriega incorporaram marcadamente esta discusso-resistncia e influenciaram pesquisadores e sanitaristas de toda a Amrica Latina contribuindo para determinar o objeto da sade do trabalhador como o estudo do processo sade-doena dos grupos humanos sob a tica do trabalho,. Delineava-se um campo em construo dentro da Sade Pblica e com premissas tericometodolgicas que TAMBELLINI (1993) e MENDES (1994) expressaram como a ruptura com a concepo hegemnica que estabelece um vnculo causal entre a doena e um agente especfico, evitando cair no extremo oposto do determinismo social exclusivo. Da o marco terico conceitual de TAMBELLINI (1985) "Sade do Trabalhador a rea de conhecimento e aplicao tcnica que d conta do entendimento dos mltiplos fatores que afetam a sade dos trabalhadores e seus familiares, independente das fontes de onde provenham, das conseqncias da ao desses fatores sobre tal populao (doenas) e das variadas maneiras de atuar sobre estas condies.. . " De tudo que se pode depreender destes e de outros autores que tentam traar um esboo histrico e terico para a rea sade do trabalhador, fica ntido o papel do prprio trabalhador como ator social, dinmico, sofrendo e reagindo s presses do capital, e desenvolvendo ele prprio mecanismos de controle social para um novo tempo e modelo de organizao do processo de trabalho. Em resumo, por Sade do Trabalhador entende-se um conjunto de prticas tericas interdisciplinares e interinstitucionais desenvolvidas por diversos atores situados em lugares sociais distintos e aglutinados por uma perspectiva comum ( MINAYO-GMEZ & THEDIM, 1997). Observa-se que a Sade do Trabalhador se consolida na Amrica Latina rediscutindo seu modelo prprio, que chega aos anos 90 mais pragmtico e menos ideolgico, questionando alguns referenciais paradigmticos que delinearam sua prtica mais intensa, no incio dos anos 80. 2. 2 A questo sade-trabalho no Brasil Na curta histria do Brasil, de somente cinco sculos, a maneira com que se estruturou social e economicamente o pas tambm determinou o modelo de relao com o trabalho. O extrativismo mineral que motivou o conhecimento e posterior ocupao do interior brasileiro; o modelo agrrio feudal, dos latifndios, dos senhores de engenho e posteriormente dos

coronis; a explorao do indgena nativo, por vezes tambm escravizado e os anos de escravido negra, determinaram que de modo semelhante ao ocorrido na Antiguidade do antigo Egito, Grcia e Roma, - o trabalho braal fosse destitudo de atributo de valor, bem como quaisquer processos mrbidos que o envolvessem, como doenas do trabalho e acidentes do trabalho, banalizados todos pela pouca importncia concedida mo de obra destituda de quaisquer direitos de cidadania. Com a abolio da escravatura no fim do sculo passado e a vinda dos imigrantes europeus no incio deste sculo, o Brasil d incio ao seu primeiro grande surto Industrial com quase cem anos de atraso. As grandes invenes do fim do sculo XIX, a revoluo industrial da mquina a vapor e da indstria txtil, alm das transformaes polticas, sociais e econmicas do mundo, impactaram sobre o Brasil repblica. A medicina de ento evidenciava preocupao natural com as grandes epidemias, bem como, reproduzindo o modelo de medicina social francs, um cuidado especial com cemitrios, matadouros, hospitais, presdios e fbricas. MENDES (1980) cita trabalhos sobre o assunto como o de MENDONA em 1850 que escreveu "Das fbricas de charutos e rap". E o modelo de desenvolvimento industrial em nada diferia daquele vivido na Inglaterra muitos anos antes: fbricas primitivas, sem condies mnimas de higiene, empregando mo de obra barata, mulheres e crianas, em pssimas condies de trabalho. E chegamos ao incio do sculo XX com profundas modificaes da relao capital-trabalho no pas e, de resto, em todo o modelo de organizao e sistematizao do processo de trabalho, ressaltando-se os movimentos liberalizantes de organizao dos operrios, como os sindicatos, de base socialista. Para disciplinar o crescimento e para manter o princpio de poder que amalgamava os brasis, cresce o controle estatal, semelhante ao mercantilismo europeu. A partir da, no incio do sculo XX, passamos a ter dois referenciais: as influncias externas, doutrinrias, advindas da Europa e dos Estados Unidos, e internamente, o eco das transformaes polticas e profundas mudanas sociais no pas. No incio deste sculo, mdicos da Faculdade Nacional de Medicina, na Praia Vermelha, protestavam contra a realidade das fbricas no Brasil. No Congresso da jovem Repblica do Brasil, surge a proposta, em 1904, que se concedam benefcios previdencirios a trabalhadores acidentados no trabalho, uma constante na ento capital federal, o Rio de Janeiro. ( MENDES, 1980) A partir da, com a influncia maior da medicina norte americana e das escolas de Sade Pblica, como a John Hopkins, o ensino

de Higiene do Trabalho passou a ser includo nos cursos de sanitaristas e posteriormente nos cursos de Medicina em todo o Brasil. Contraditoriamente. foi em um perodo de governo totalitrio (a ditadura do Estado Novo), que surgiu a Consolidao das Leis Trabalhistas - CLT, que agrupava e sistematizava as leis trabalhistas, representando notvel avano do ponto de vista jurdico. Tambm foi um perodo marcado pelo crescimento e afirmao do movimento sindical no Brasil. Atualizaes da Lei de Acidentes do Trabalho se sucederam (FALEIROS, 1992). A dcada de 50 representou o segundo grande surto industrial do Brasil. O desenvolvimento tcnico-cientfico da Medicina do Trabalho, principalmente no Rio de Janeiro e So Paulo passou pela existncia de entidades como o SESP (Servios Especializado de Sade Pblica) e do SESI (Servio Social da Indstria). As Escolas de Medicina Preventiva, de influncia americana, fizeram incorporar a multiprofissionalidade e a interdisciplinaridade ao modelo original de Medicina do Trabalho, que passou, tambm no Brasil, a contextualizar uma rea mais abrangente, a Sade Ocupacional. Tambm na formao mdica, disciplinas como Medicina do Trabalho foram includas na maioria dos currculos das escolas mdicas do pas. Foi criada a Associao Brasileira de Medicina do Trabalho (ABMT), com sede no Rio de Janeiro. Profissionais como Daphnes de Souto, Talita Tudor, Bernardo Bedrikow e Diogo Pupo Nogueira, entre outros, foram figuras proeminentes da Sade Ocupacional naquele perodo. Proliferavam os servios mdicos de empresas, afirmando-se tambm como mercado de trabalho interessante para mdicos do pas, principalmente aqueles com formao em Sade Pblica (sanitaristas) ou em Medicina Preventiva. A dcada de 60 encontrou o Brasil em nova crise poltica, que culminou com o golpe militar de 31 de maro de 1964. O Brasil, igualmente ditadura anterior do Estado Novo, com Getlio Vargas, entre as dcadas de 30 a 50, passou a viver um Suelen Queiroz 26 perodo de restrio das liberdades democrticas, ao mesmo tempo em que - mantendo a lgica do totalitarismo - o Governo tentava disciplinar a questo do trabalho, aplicando leis e reformas. A Previdncia Social unificou os Institutos de categorias, no s para organizar a poltica de benefcios sociais, mas tambm para enfraquecer o movimento sindical. O Ministrio do Trabalho tambm consolidou suas aes, intervindo decisivamente em segurana e sade do trabalhador. De um modo geral, acatvamos as recomendaes tcnicas da Organizao Internacional do Trabalho (OIT) e posteriormente do Comit

Misto OIT- OMS e as adaptvamos nossa Legislao. O nacionalismo exacerbado, do incio do Governo Militar, deu origem a atitudes como a estatizao do seguro de acidentes do trabalho em 1966, a retomada de motes antigos como "o petrleo nosso", campanha pelas 200 milhas (soberania da costa). Acontecia o terceiro grande surto industrial do pas; era o "milagre brasileiro", com o incio de construo de obras faranicas, como a Transamaznica, ponte Rio-Niteri, estdios de futebol, hidroeltricas, etc. financiadas com endividamento interno e externo. O ritmo clere de tais obras transformava os canteiros em verdadeiros campos de batalha, onde operrios morriam, todos os dias. Em 1968, o mundo vivia verdadeira revoluo de valores, tendo como pano de fundo o dualismo ideolgico e poltico: capitalismo x socialismo. A tenso da guerra fria, a ameaa do holocausto atmico, o fracasso das guerras como a do Vietn, alm de uma verdadeira revoluo de costumes (movimentos pacifistas e ecolgicos, etc. ) tiveram em 1968 talvez seu apogeu, e movimentos libertrios e democratizantes se disseminaram por toda a Europa (HOBSBAWN, 1995). O Brasil, pas de populao marcadamente jovem naquele perodo, sofreu influncia de tais movimentos, e teve sua prpria histria de sofrimento e revolta, contra a ditadura militar determinando nos anos seguintes um perodo conhecido como anos de chumbo ou de terror. A dcada de 70 veio encontrar o pas s voltas com tais conflitos, com a instabilidade poltica prpria dos perodos de exceo. A alternativa para a reduo de acidentes de trabalho encontrada pelo regime militar, no incio dos anos 70, frente aos altos ndices de ocorrncia de acidentes, foi a imposio legal s empresas, de contratarem profissionais especializados (mdicos do trabalho, auxiliares de enfermagem ou enfermeiros do trabalho, engenheiros e tcnicos de segurana), criando assim os Servios Especializados em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho - SESMTs- dimensionados de acordo com o grau de risco e o nmero de trabalhadores das empresas (BONCIANI, 1994). A criao de tais servios j era recomendada pela OIT desde 1959, mas no Brasil foi enfatizada nos anos 70. Era um modelo tcnico subordinado ao setor empresarial. O governo do Brasil preocupava-se exclusivamente com os acidentes do trabalho, quer pela repercusso econmica (graves prejuzos aos cofres pblicos), quer pelo destaque dado em toda a mdia: "Brasil, campeo mundial de acidentes de trabalho". Pouca ou nenhuma ateno era conferida s ditas doenas do trabalho. interessante reproduzirmos trecho de discurso de Arnaldo Prieto, ministro do Trabalho, em 1976, e citado ainda por BONCIANI

(1994) : "Para tanto, voltemos nossa ateno para 1974, quando o total de acidentes do trabalho atingiu a cifra de 1. 796. 761, com uma mdia de 5. 891 acidentes por dia til de trabalho, sendo que daquele total resultaram 3. 764 mortes e 65. 373 incapacitados permanentemente (.. . ) acarretando perdas de oito (8) bilhes de cruzeiros. " Havia necessidade de medidas intervencionistas, portanto. A nvel acadmico, a Escola de Sade Pblica da USP (Universidade de So Paulo) criava o departamento de Sade Ambiental, que abrigava uma rea de Sade Ocupacional. Por essa poca, vrios cursos de Medicina tinham tambm essa rea em seus currculos. Para preparar tcnicos especializados em nmero necessrio, o Governo criou a Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho FUNDACENTRO, rgo do Ministrio do Trabalho tambm afeto pesquisa. Cursos de ps-graduao em Medicina do Trabalho e Engenharia de Segurana disseminaram-se de norte a sul do pas, geralmente em convnio com Universidades. Tambm na rea jurdica, o Governo ampliou e modificou o captulo V da CLT, que versa sobre medicina e segurana do trabalho, ao criar as Normas Regulamentadoras, (BRASIL. Ministrio do Trabalho. Portaria 3. 214) em junho de 1978, adotando avaliao quantitativa de riscos ambientais e limites de tolerncia, bem dentro do escopo da Sade Ocupacional, permanecendo a legislao previdenciria-acidentria, com caractersticas de uma prtica medicalizada, de cunho individual e, contemplando exclusivamente os trabalhadores segurados, ou formalmente engajados no mercado de trabalho (MENDES & DIAS, 1991). No final da dcada de 70 surgiram, no Brasil, dois movimentos no campo da sade, com vertentes distintas, dentro de um incio de processo de redemocratizao do Pas e de grande importncia. O primeiro o chamado Movimento Sanitrio, que, inspirado nos princpios da Conferncia de Alma-Ata (1978) e na prpria luta interna pelos direitos de cidadania do brasileiro, entre os quais o de acesso sade, gestaram a proposta de Reforma sanitria brasileira, buscando a integralidade da assistncia e superao do modelo dicotmico - Medicina preventiva, medicina curativa (AUGUSTO, 1995). O segundo movimento o Movimento Sindical, processo que no por acaso iniciou-se no ABC paulista, a partir das grandes greves de 1978 nas indstrias automobilsticas, e que se espalharam por boa parte do territrio nacional a partir da. (LACAZ, 1994). Com a reorganizao do movimento

sindical, introduziu-se a questo sade nas pautas de discusso e reivindicao, seguindo pelo menos a, o modelo operrio italiano das dcadas de 60 e 70. Ainda em 1978, foi criada a Comisso Intersindical de Sade e Trabalho que posteriormente se transformaria no Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Sade e dos Ambientes do Trabalho -DIESAT, que teria importante papel ao subsidiar os sindicatos na discusso de assuntos ligados sade e trabalho, tentando superar o assistencialismo, herana do Estado Novo (LACAZ, 1994). Paralelamente, vrios sindicatos estruturaram diretorias especficas, para o tratamento das questes de sade dos trabalhadores. A vertente sindical agregou tcnicos que tambm militavam no processo da reforma sanitria brasileira, outros da academia, principalmente departamentos de medicina preventiva das universidades (TAMBELLINI, 1993). As centrais sindicais, como a Central nica dos Trabalhadores (CUT) ao criar o INSS, tiveram um papel importante no assim chamado controle social da questo sade no trabalho. Estava lanado ento um dos pilares dessa nova rea temtica, a Sade do Trabalhador, vinda para preencher uma lacuna deixada pelos modelos anteriores, da Medicina do Trabalho clssica, eda Sade Ocupacional, que se mostraram insuficientes, como bem colocam MENDES & DIAS (1991), em virtude de: da Sade Ocupacional, que se mostraram insuficientes, como bem colocam MENDES & DIAS (1991), em virtude de: a. estarem firmados no mecanicismo; b. no realizarem uma verdadeira interdisciplinaridade, no sentido da integrao dos saberes em prol do trabalhador; c. a capacitao de recursos humanos, a produo de conhecimento e de tecnologia de interveno, no acompanharem o ritmo de transformao dos processos de trabalho. Esta nova rea temtica, a Sade do Trabalhador, assumiu as bandeiras: direito de saber, recusa ao trabalho em situaes de risco, sade no se troca por dinheiro, incluso de clusulas de sade e ambientais nos acordos coletivos de trabalho, integralidade nas aes de sade do trabalhador, reconhecimento do saber operrio, participao na gesto dos servios de sade, validao consensual, grupos homogneos de risco, incorporao da epidemiologia como instrumento de reconhecimento de riscos e danos sade e ao meio ambiente (ODDONE, 1986). Os organismos internacionais tambm influenciaram na gnese da Sade do Trabalhador: a Oficina Panamericana Sanitria (OPAS) lanando o documento "Programas de Ao da Sade dos Trabalhadores" em 1983, e o Comit

misto OIT-OMS lanando a Conveno 161 e a recomendao 171 (Servios de Sade no Trabalho). O Brasil, vivendo o perodo dito de reabertura ou de redemocratizao, viu surgir na Sade Pblica, um novo modelo com valores oriundos da reforma sanitria e dos ncleos de medicina preventiva, o Programa de Sade do Trabalhador. Os Programas de Sade do Trabalhador, que comearam a ser criados em vrios Estados brasileiros, a partir do incio da dcada de 80, tiveram seu verdadeiro momento de criao ideolgica com a VIII Conferncia Nacional de Sade, em 1986, evento que marcou os princpios filosficos do SUS. Tanto , que foi convocada para aquele mesmo ano a I Conferncia Nacional de Sade do Trabalhador, que, ao congregar de modo indito, sindicalistas, tcnicos da rea de sade e de outras afins, universidades e comunidade em geral, lanou com xito, as bases para um novo caminhar. A reforma constitucional de 1988, definindo como direitos de cidadania sade e trabalho, marcou um avano, j na dita Nova Repblica, em um momento poltico de transio democrtica, ao confirmar o papel do Estado como responsvel por condies dignas de sade para os trabalhadores e o povo em geral. Em 1990 o Brasil promulgou a Lei Orgnica de Sade, 8. 080, que se constituiu como a referncia do SUS e veio, na verdade, no como uma iniciativa governamental, mas como o reflexo das lutas por uma reforma sanitria, que tiveram como marcos a VIII Conferncia Nacional de Sade e a I Conferncia Nacional de Sade do Trabalhador. Alm de definir princpios e objetivos do SUS, como a descentralizao, a universalidade, a integralidade e a hierarquizao dos servios, a Lei 8. 080 contempla decisivamente a questo sade do trabalhador em seu artigo 6 conceituando-a como: "... um conjunto de atividades que se destina, atravs das aes de vigilncia epidemiolgica e vigilncia sanitria, promoo e proteo da sade dos trabalhadores, assim como visa recuperao e reabilitao dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condies de trabalho". Em 1991, o Ministrio da Sade, atravs de sua Diviso de Proteo Sade do Trabalhador (DIPSAT), rea nova criada a partir da Secretaria Nacional de Vigilncia em Sade, promoveu o I Seminrio Nacional de Sade do Trabalhador, reunindo todos os Estados da Federao, representados na maioria por coordenadores ou gerentes de Programas de Sade do Trabalhador, onde foi amplamente discutida a operacionalizao da Lei 8. 080 e a realidade dos programas regionais. Como um dos

produtos desse Seminrio, ficou agendado o I Seminrio Nacional sobre o Acidentado do Trabalho, que se realizaria em novembro de 1991. Ainda em 1991, o Ministrio da Previdncia publicou a nova Lei de Custeios e Benefcios (8. 212 e 8. 213) com alguns significativos avanos na questo seguridade, como a estabilidade para o trabalhador acidentado. Uma conquista importante, nesta primeira metade dos anos noventa, foi a constituio da Comisso Interministerial de Sade do Trabalhador, cujo relatrio de novembro de 1993 continha princpios de atuao conjunta de rgos do Governo em prol da sade do trabalhador. Progrediam no pas as aes de interveno ambiental voltadas para a defesa da sade do trabalhador. At 1993, eram 161 os Programas de Sade do Trabalhador organizados ou em fase de organizao no Brasil (DIAS, 1994). Esta vitalidade pde ser constatada na II Conferncia Nacional de Sade do Trabalhador, realizada em maro de 1994, precedida de pr-conferncias em quase todos os Estados da Federao e contou com cerca de mil delegados: servidores pblicos, representantes de sindicatos, associaes de classe, assessores tcnicos e organizaes acadmicas (AUGUSTO, 1995). Em dezembro de 1994, o Ministrio de Sade, com o objetivo de fomentar as aes de sade do trabalhador em Estados e Municpios e encaminhar as deliberaes da II Conferncia Nacional de Sade do Trabalhador, apresentou a Norma Operacional de Sade do Trabalhador no SUS (NOST). Aspectos como sistema de informaes em sade do trabalhador, preparo de recursos humanos, financiamento e vrios outros foram abordados neste documento, que se props a ser uma diretriz, para que em todas as regies do Pas a prtica da ateno integral sade dos trabalhadores se realizasse com a qualidade desejada. No mesmo perodo, o Ministrio do Trabalho modificou vrias normas regulamentadoras que vigoravam praticamente intactas desde a Portaria 3. 214 de 1978. Como aspectos de relevncia, a nova NR 7, instituindo a obrigatoriedade das empresas elaborarem um Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional- PCMSO, e a NR 9, criando o Programa de Preveno de Riscos Ambientais- PPRA. A NR 17 que aborda de uma maneira mais racional a questo da ergonomia nos postos de trabalhos e a NR 18- instituiu o Programa de Controle e Meio Ambiente de Trabalho PCMAT, direcionado para construo civil, representaram um grande avano no campo prevencionista. Hoje as normas regulamentadoras so reformuladas a partir de comisses tripartitis, envolvendo trabalhadores, tcnicos e empresrios. Doenas ocupacionais comearam a ser melhor

identificadas (doenas osteomusculares relacionadas com o trabalho e perda auditiva induzida pelo rudo, por exemplo) e aes indenizatrias se acumulam nos tribunais. J se discute amplamente sade do trabalhador nos Contratos Coletivos de Trabalho. Seguradoras se interessam pela privatizao do seguro de acidentes do trabalho . Mesmo diante de um modelo ainda hegemnico de Sade Ocupacional, sob controle do capital, que oculta a magnitude dos danos sade dos trabalhadores e ao ambiente, e se ampara em um arcabouo institucional dicotomizado, anacrnico e corporativo, (AUGUSTO, 1995), a participao conjunta de trabalhadores e tcnicos da rea tem ensejado esperanas de que, apesar dos retrocessos e perdas evidenciadas ao longo das lutas j citadas por DIAS (1994), o sonho se faa real, garantindo a todos os trabalhadores condies dignas de segurana e sade expressando assim a qualidade de vida e os direitos de cidadania to reclamados e ainda no conquistados. A sade, como direito universal e dever do Estado, uma conquista do cidado brasileiro, expressa na Constituio Federal e regulamentada pela Lei Orgnica da Sade. No mbito deste direito encontra-se a sade do trabalhador. Embora o Sistema nico de Sade (SUS), nos ltimos anos, tenha avanado muito em garantir o acesso do cidado s aes de ateno sade, somente a partir de 2003 as diretrizes polticas nacionais para a rea comeam a ser implementadas. Tais diretrizes so: Ateno Integral Sade dos Trabalhadores; Articulao Intra e Intersetoriais; Estruturao de Rede de Informaes em Sade do Trabalhador; Apoio ao Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas; Desenvolvimento e Capacitao de Recursos Humanos; Participao da Comunidade na Gesto das Aes em Sade do Trabalhador. Entre as estratgias para a efetivao da Ateno Integral Sade do Trabalhador, destaca-se a implementao da Rede Nacional de Ateno Integral Sade do Trabalhador (BRASIL, 2005), cujo objetivo integrar a rede de servios do SUS voltados assistncia e vigilncia, alm da notificao de agravos sade relacionados ao trabalho em rede de servios sentinela (BRASIL, 2004) 1.

Paracelso - Alquimista e mdico suo (1493-1541) Todas as substncias so venenos; no existe nada que no seja veneno. Somente a dose correta diferencia o veneno do remdio. "Paracelsus (1493-1541)

Bernardino Ramazzini (3/10/1633 a 5/11/1714 ) foi um mdico italiano. Ramazzini foi um precursor no uso de um derivado do quinino no tratamento de malria. Porm sua mais importante contribuio medicina foi o trabalho sobre doenas ocupacionais chamado De Morbis Artificum Diatriba (Doenas do Trabalho) que relacionava os riscos sade ocasionados por produtos qumicos, poeira, metais e outros agentes encontrados por trabalhadores em 54 ocupaes. Este foi um dos trabalhos pioneiros e base da medicina ocupacional, que desempenhou um papel fundamental em seu desenvolvimento. Ele trabalhou como professor dena Universidade de Pdua desde 1700 at sua morte.

JURAMENTO a) REA MDICA HIPCRATES, mdico grego, 460-377a. C JURO: Considerar os meus mestres igualmente a meus pais. Ensinar esta arte, generosamente, aos meus e aos seus filhos, considerando-os iguais a meus irmos, bem como queles que se comprometeram a pratic-la, sujeitos a este juramento, e a nenhum

outro em contrrio. Aplicar o tratamento em benefcio dos doentes de acordo com a minha capacidade de conscincia, evitando-lhes qualquer malefcio, mesmo sob injuno de quem quer que seja; Praticar jamais mtodos que provoquem o abortamento; Conservar a dignidade de minha vida e minha arte; Entrar na intimidade dos doentes to s em seu benefcio sem corromper os costumes, nem lhes causar ofensa ou dano; Guardar segredo do que quer que eu veja, oua ou venha a conhecer no exerccio da medicina ou fora dela, que no deve ser divulgado, considerando a discrio como um dever; Manter este compromisso at o limite de minhas foras. Se eu cumprir este juramento e de forma alguma o violar, seja-me permitido desfrutar de minha vida e de minha arte, gozando perenemente, fama e honra entre os homens. Se eu transgredir ou perjurar seja o contrrio meu destino. II-Traduo livre do grego pelo Dr. Amilcare Carletti. Juro e prometo que no exerccio da Medicina, serei sempre fiel s exigncias da honra, aos princpios da cincia e aos deveres. Dar gratuitamente os meus cuidados profissionais ao indigente e no exigir nunca os meus salrios superiores ao meu trabalho. Admitido na intimidade do lar, os meu olhos no vero o que a se passa, a minha lngua ficar muda ao conhecer os segredos que me forem confiados, e a minha profisso no servir para corromper os costumes, nem para favorecer o crime, nem praticarei mtodos que provoquem o abortamento. Tratarei no mesmo plano de igualdade, ricos e pobres. TORNAREI SANTA A MINHA VIDA E A MINHA ARTE. Prometo manter este juramento at o limite extremo das minhas foras e da minha vida. Se no cumprir este meu compromisso, seja a minha fama e o meu destino desprezveis frente aos homens.

HISTRIA E CONCEITUAO DA TOXICOLOGIA Na antiguidade chinesa, existem relatos do imperador Shen Nung, que viveu por volta de 5000 a. C. (tambm conhecido como Imperador Yan, o fazendeiro divino, por ter introduzido o advento da agricultura na China antiga e, ainda, como o pai da medicina chinesa, uma vez que testou cerca de 365 ervas e possivelmente morreu em funo de doses txicas das mesmas) e foi o responsvel por compor um tratado sobre ervas que por sua vez foi sendo atualizado por futuras geraes, o que justifica o profundo conhecimento do povo chins no tocante a ervas medicinais. Seguindo a saga do conhecimento toxicolgico, surge, em torno de 1500 a. C., o Papiro de Ebers, considerado um dos mais antigos documentos com informaes toxicolgicas preservado at os presentes dias. Em 1862, em Luxor, o Papiro foi adquirido por Edwin Smith, aventureiro americano que residia na cidade de Cairo, e que permaneceu com o documento at 1869, quando o ps venda. Em 1872 o Papiro foi comprado pelo romancista egiptlogo Georg Moritz Ebers, vindo da a denominao Papiro de Ebers. O Papiro um vasto relato da histria mdica do antigo Egito. Nele, encontram-se dados como conhecimento do organismo humano, estrutura vascular e cardaca e prescries de substncias curativas para vrias enfermidades causadas por agentes txicos de origem tanto animal quando vegetal e mineral. Depois de 100 anos, na Sumria (1400 a. C. ), textos ligados a uma figura mitolgica denominada Gula, foram associados com encantos, feitios e envenenamentos, demonstrando que a toxicologia, novamente, como em outras localidades, era ligada a magia e poder. Na linha da evoluo, Homero descreve a utilizao de veneno em flechas nas suas obras mundialmente conhecidas A Odissia e A Ilada. Scrates condenado a morrer bebendo a amarga cicuta (alcalide vegetal com grande poder txico) e seu algoz. Depois de 100 anos, na Sumria (1400 a. C. ), textos ligados a uma figura mitolgica denominada Gula, foram associados com encntos, feitios e envenenamentos, demonstrando que a toxicologia, novamente, como em outras localidades, era ligada amagia e poder. Na linha da evoluo, Homero descreve a utilizao de veneno em flechas nas suas obras mundialmente conhecidas A Odissia e A Ilada. Scrates condenado a morrer bebendo a amarga cicuta (alcalide vegetal com grande poder txico) e seu algoz demonstrando j um bom conhecimento do mecanismo de ao txica, diz ao famoso filosofo grego para que aps sorver o lquido permanea andando at no

mais sentir as pernas, pois com isso acelerar o efeito da droga. Tambm Alexandre o grande, um dos maiores conquistadores da antiguidade e rei da Macednia (discpulo de Aristteles, discpulo de Plato, discpulo de Scrates) morreu envenenado. Inmeras outras personagens histricas lendrias como Mitridates IV, Clepatra, os componentes da famlia Borgia, Leonardo da Vinci, Paracelsus, Catarina de Mdici, Mateu J. B. Orfila tem citao obrigatria em qualquer texto de histria da Toxicologia, pela importncia representaram na evoluo dessa cincia, cada um com sua contribuio nica. Quando Paracelsius postulou que a diferena entre o que cura e o que envenena a dose, estabeleceu alguns referenciais tericos da toxicologia como disciplina cientfica, para onde houve uma posterior convergncia universal. Com isso, constituiu um novo domnio conceitual, rompendo com o senso comum, deixando de lado as poes mgicas populares de sua poca. Foi uma ruptura dentro do conhecimento emprico vigente naquele momento da civilizao. Porm, foi somente no sculo XIX que a Toxicologia se configurou como cincia moderna e, dentro de todas as transformaes contundentes que se davam no viver e no pensar da Europa daquela poca, sobretudo com os caminhos que o desenvolvimento da qumica ia abrindo. A toxicologia no se limitou s constataes dos efeitos txicos. Procurou tambm descobrir e compreender os mecanismos de ao das substncias txicas. Deixou de ser uma cincia apenas descritiva e analtica e adquiriu um cunho experimental (MORAES, 1991). Com isso, absorveu um recente enfoque que o da preveno, atravs da sua aplicao para o reconhecimento, identificao e quantificao de riscos. Brasil Obviamente que a questo toxicolgica tambm conhecida no Brasil h diversos sculos. Desde os ndios brasileiros, que j exibiam tal tipo de informao, at o escravo negro, que trouxe seu ancestral conhecimento pertinente das prticas e religies de sua terra, e ao portugus, com o conhecimento europeu da poca. Do ponto de vista da Toxicologia configurada aqui como matria de estudo, de pesquisa e de ensino, podemos dizer que ela surge com fora nos anos 1950. Em 1976 realiza-se, na cidade de Manaus, o nome, primeiro evento tcnico - cientifico registrado em toxicologia no Brasil. Em 1977, na praiana cidade de Guaruj, So Paulo, ocorre o Primeiro Congresso Brasileiro de Toxicologia, cujas discusses permanecem apenas

na memria dos bravos sobreviventes que dele participaram. Aps 15 edies sucessivas de congressos, desde aquele primeiro no Guaruj, a toxicologia brasileira cresceu, e hoje representada por uma vasta, pluridisciplinar e multiprofissional famlia de toxiclogos. Casa mter de nossa toxicologia, a Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTox, www. sbtox. com. br, ) tem organizado todos esses congressos e vrios outros eventos, cumprindo seu papel de divulgar e afirmar entre ns essa cincia, alertando a populao brasileira e as autoridade do pas para os mais importantes fatos a ela relacionados. Dentre outros, cumpre-nos aqui tambm ressaltar a existncia e a cooperao de instituies e organismos como a Sociedade Brasileira de Ecotoxicologia e o Grupo de Analistas de Resduos de Pesticidas. CONCEITO DE TOXICOLOGIA a parte da fisiologia que estuda osefeitossobre o organismo de agentes qumicos patognicos. ALIMENTO, MEDICAMENTO, VENENO Todas as substncias so venenos; no existe nada que no seja veneno. Somente a dose correta diferencia o veneno do remdio. "Paracelsus (1493-1541). Fonzes-Diacon, em sua toxicologia, apresenta a seguinte definio: veneno uma substncia qumica definida que, introduzida no organismo, age, at a dose txica, proporcionalmente massa e ocasiona desordens, podendo acarretar a morte. Sydney Smith, afirma que quase impossvel definir o termo veneno, porque certas substncias perigosas para a vida. em circunstncias determinadas, revelam-se incuas em outras;e quantas coisas podem absorver-se, chegam a fazer-se perigosas para a sade, ingeridas em excesso DIVISO DA TOXICOLOGIA Atentando-se aos estudos das substncias nocivas toxicologia divide-se em: I-profiltica II-industrial III-clnica IV-forense V-analtica I-TOXICOLOGIA PROFILTICA Estudo dos agentes qumicos nocivosdo meio ambiente em geral. Identifica os txicos, suas origens e quantidades. Propem medidas higinicas necessrias e precisas para o controle sanitrio

, evitando intoxicaes em larga escala populacional. A toxicologia profiltica destina-se manuteno dos limites de segurana para o organismo humano exposto ao de inmeros agentes qumicos dispersos no meio ambiente. II-TOXICOLOGIA INDUSTRIAL So considerados os aspectos: a) Qumicos: produo de novos produtos que so destinados teraputica, como medicamentos, devem ser isolados e sintetizados; b) Higinico, destinado ao saneamneto do meio por inseticidas, parasiticidas, estticacomo cosmticos, ao conforto do lar ( tintas, alvejantes, detergentes, adesivos, etc); c) Cirrgica, como antisspticos, etc. Exemplo desse ltimo caso pode ser lembrado em relao indstria farmacutica que, aps os efeitos dramticos da talidomida houve por recobrar seus cuidados. III-TOXICOLOGIA CLNICA Atravs do estudo da sintomatologia e dos sinais clnicos que os efeitos nocivos dos agentes qumicos produzem no organismo humano, a toxicologia clnica procura diagnosticar e orientar a teraputica adequada. Recomenda-se, sempre, que qualquer forma de intoxicao ou de envenenamento tenha especial ateno clnica, mesmo nos pacientes com intoxicao grave em que no foi seguido de bito. O paralelo est sempre presente luz da corrida econmico industrial: o lanamento de novos produtos qumicos no mercado farmacutico provocam novos txicos. A intoxicao iatrgnica. IV-TOXICOLOGIA FORENSE de relevante valor satisfao da Justia, quer pela propedutica clnica, como pela anlise qumica, pois tem condies de identificar os venenos de qualquer espcies e orientar os ditames perseguidos. A importncia do estudo da Toxicologia Forense resulta da necessidade de apurar, em casos de morte por envenenamento, se a mesma foi oriunda de suicdio, acidente ou crime. A toxicologia forense teve nestes ltimos anos to ampliado seu campo de ao, que se emancipou praticamente da medicina legal, constituindo disciplina parte. Nos programas de Medicina Forense a matria toxicolgica estudada muito pela rama, visando apenas a fornecer alguns conhecimentos mais necessrios aos legistas e juristas .

CAPTULO 1 INTOXICAES Intoxicao consiste no ato ou efeito de intoxicar. Intoxicar envenenar. a intorduo de determinada substncia txica no organismo. Conforme o tipo de especializao a toxicologia pode ser considerada de diversas formas. Interessa ao caso presente as profissionais, posto que objeto da medicina do trabalho. Podero ter correspondncia em circunstncias especiais as alimentares, provocadas no s por alimentos txicos, vegetais ou animais, como por aditivos qumicos, as por entorpecentes e estupefacientes e as por medicamentos. O diagnstico formal em pessoa intoxicada deve atender ao seguinte: a) histria clnica;b) exame clnico;c) exames de laboratrio clnico e toxicolgico necessrios.O exame fsico (clnico) deve ser completo e bastante cuidadoso, com ateno a verificao das pupilas, do quadro febril, da presso arterial, do pulso, do rtmo cardaco, da pele, das anomalias bucais, dos distrbios neurolgicos, etc.O histrico clnico deve ser levantar com detalhes, dos familiares ou de terceiros, fatos ocorridos antes e envolvendo o paciente com intoxicao. Em casos de intoxicao ocupacional deve-se salientar a importncia de detalhar a atividade exercida e evidenciar a possibilidade de exposio contnua e permanente ou intermitente ao agente qumico laboral contaminante. So sintomas freqentes de alguns tipos de intoxicaes: a) alteraes oculares: midrase (pupilas dilatadas), intoxicao atropnica, por vegetais beladonados, solventes, nicotina, depressores etc) ;miose (pupilas contradas), (intoxicao por organofosforados, opiceo b) anomalias bucais: secura na boca (intoxicao atropnica, vegetais beladonados, etc) ;hipersalivao (pesticidas, metais pesados), alteraes gengivais (metais pesados) ; c) distrbios neurolgicos: coma (intoxicao por lcool etlico, barbitricos, opiceos, tranqilizantes, salicilatos, solventes orgnicos, cianetos, anti- histamnicos) ;convulses (inseticidas organoclorados, organofosforados, estricnina, aminofilina, etc) ;tremores e abalos musculares (inseticidas organofosforados, nicotina) ;paralisias (intoxicao por metais pesados) ;cefalia (intoxicao por monxido de carbono, nitrito, nitrato) ;d) distrbios urinrios: reteno de urina (intoxicao atropnica) ;hematria (anticoagulantes) ;anrias (txicos que determinam distrbios. PENETRAO NO ORGANISMO

Penetrao (do latim penetratione) repousa no ato ouefeito de penetrar. A velocidade e a absoro dependem da via de penetrao. como tambm os efeitos, a neutralizao e a eliminao possvel do txico.Os txicos (ou venenos) e os medicamentos podem ser proporcionados por via oral, gstrica, retal, inalatria, cutnea, subcutnea, intramuscular, intraperitoneal, endovenosa, intraartrial, intrassea e intratecal.As mais comuns so as vias oral e gastrintestinal. A droga pode ser absorvida ao nvel da mucosa oral ou, deglutida,, ao nvel das mucosas gstricas e intestinais. Para que possa agir o veneno precisa chegar ao sistema arterial e capilar.A seus efeitos se manifestaro. O sistema capilar o campo de ao dos venenos (FONZES-DIACON), de maneira que a rapidez de aodo veneno depende do maior ou menor trajeto que tenha a fazer at chegar ao sistema capilar, bem como dos obstculos que encontrar em seu caminho. TOXIDADE Consiste na capacidade do agente qumico produzir efeitos nocivos ao organismo humano. sempre medida em relao com outros agentes e varia entre as espcies biolgicas e dentro da mesma espcie.O coeficiente (da toxidade) a dose txica por quilo-animal.A dose fatal considerada aquela capaz de eliminar 100% dos animais da mesma espcie, a dose fatal mdia a que tem condies de matar 50% dos mesmos animais. produzida a toxidade pelos efeitos: a) desejados exacerbados, como hemorragias consequentes ao uso de anticoagulantes. b) diversos dos desejados, como asma brnquica consequncias do uso de salicilatos letais (parada cardaca consequente ao uso de anestsico). Quanto menor for a dose fatal mdia tanto mais txico ser considerado o agente penetrante. Para o ser humano a toxidade classificada: a) extremamente txica:. ...........1mg/Kg ou menos; b) altamente txica:. ..................1 a 50 mg/Kg c) moderadamente txica:. ........... 50 a 100 mg/Kg d) levemente txica:. ....................0, 5a 5 g/Kg INTOXICAES ENDMICAS So aquelas produzidas pela natural presena do txico no meio ambiente. As principais so: a) o hidroarsenismo crnico regional endmico, que ocorre nas regies de Crdoba, San Luiz, Santiago del estero; b) a hidrofluorose que ocorre no sul de Buenos Aires e nos pampas. INTOXICAES SOCIAIS So aquelas que apresentam profundas repercusses sociais pelos

transtornos psicomorais que produzem nas pessoas. o que se pode dizer das toxicomanias e das intoxicaes por anticoncepcionais.Elas provocam euforia, tolerncia, hbito, sintomas de dependncia e de abstinncia e podem ser consideradas toxicomangena. A euforia consisteem estadofalso de bem estar com manifestaes hilariantes.O hbito na necessidade do aumento progressivo de doses para conseguir o mesmo efeito (alguns chegam a doses letais). A tolerncia se reduz na capacidade desenvolvida com o hbito de tolerar doses consideradas nocivas ou letais.A dependncia psquica um desejo incontido que reclama a droga.A dependncia fsica o estado que se caracteriza pelo surgimento dos sintomas fsicos quando suspensa a droga.A abstinncia resume-se na sndrome caracterizada por um conjunto de sintomas e sinais opostos aos produzidos pela droga. INTOXICAES GENTICAS So aquelas relacionadas com as alteraes enzimticas ou idiossincrticas transmitidas por herana. A ao de um agente qumico sobre o organismo seguida pelo metabolismo ou pela armazenagem. A cessao dos efeitos ocorre com a eliminao completa. A transformao metablica pode dar em resultado um produto mais ou menos txico. Dessa forma, quando uma enzima cataliza uma reao que faz de um agente qumico muito ativo outro menos ativo, a falta dessa enzima faz com que a toxidade do agente qumico seja maior e mais prolongadas. Sabe-se que os caracteres genticos so transmitidos pelos genes eu estudo desses problemas est afeto farmacogentica. INTOXICAES IATROGNICAS So aquelas que surgem paradoxalmente em consequncia do uso de medicamentos, pela dose superior, somao, sinergismo, hipersensibilidade ou ento por erro de indicao, ou de via de aplicao, dando ensejo ao surgimento da exacerbao dos efeitos desejados e colaterais.A responsabilidade atribuda aos mdicos, paramdicos e s prprias pessoas atingidas e que no consideram as recomendaes teraputicas. Incluem -se tambm as prescritas pelos curandeiros, ou infuses, cataplasmas, clisteres, preparados pela prpria pessoa ou circunstantes leigos, mas com fins teraputicos. Podem (intoxicaes iatrognicas) produzir: a) malformaes congnitas (talidomida, selnio orgnico) b) pertubaes neuropsquicas (convulses e parkinsonismo;corticosterides;neurite;arsenicais e antimoniais;Kerncteros;vitamina k em prematuros, encefalopatia )

d) alteraes metablicas (gota secundria ;mostarda, fsforo radioativo, TEM-tri-etileno-metenamina, desmineralizao, cortisona por muito tempo) ; Crescem dia -a -dia os nmeros de intoxicaes iatrognicas, os choques alrgicos penicilina ou a determinados anestsicos. No h dvida que a indstria farmacutica apresenta na atualidade novas armas teraputicas com valores elementares, sendo elas responsveis pela eliminao de muitas doenas, em especial as infecciosas, mas essas mesmas armas so lanadas no comrcio sem cuidados precisos e aumentam os riscos teraputicaspela falta de fiscalizao nas vendas. INTOXICAES ALIMENTARES So as que ocorrem pela ingesto de alimentos contaminados. Podem se dar as contaminaes por: a) produtos qumicos: metlicos, praguicidas, preservadores, corantes artificiais, antioxidantes de gorduras, azeite etc. b) substncias qumicas do prprio alimento: fungos, moluscos, peixes, ervilhas, favas, mandioca, c) bactrias: estafilococos, salmonelas, proteus, enterococos, clostidium botulinum (devida presentade germe patognico em si e nas suas toxinas, razo pela qual chamada de toxi-infeco alimentar. Tais bactrias encontram excelentes meios de cultura no charque, toucinho, no presunto, na linguia, nas salsichas, na salada, na maionese, nos ovos, nos cremes, nos doces e nos sorvetes. Os peixes, o camaro, as ostras, os mexilhes tm decomposies rpidas que favorecem e facilitam o desenvolvimento bacteriano. Recebe a denominao especial de micetismo a intoxicao pelos fungos.so mais venenosas as espcies: amanita phalloides, verna e vitrosa;amanita muscarnica e pantherica, glyromitaesculento. Caracterizase a intoxicao alimentar em curto perodo de tempo entre a alimentao e os sintomas, de sorte que a presena do agente patognico no organismo assim favorece. DEFESA ORGNICA O trajeto do veneno no se faz livremente, sem obstculos. O organismo costuma defender-se, na medida de suas foras. O primeiro obstculo que o veneno encontra est no fgado.Esta vscera goza da propriedade de fixar em seus tecidos certos elementos estranhos sob forma de combinaes orgnicas. Doses mnimas de chumbo podem assim ser detidas, sendo depois eliminadas pela bile. S doses grandes de chumbo podem provocar

rapidamenete a morte, transpondo o obstculo heptico. O fgado pode ainda modificar a natureza qumica de certos alcalides e lhes atenuar a toxidez.Os ossos tambm cooperam na defesa orgnica.O arsnico, os sais de mercrio, absorvidos em grandes doses, podem chegar ao sistema capilar e determinar a morte, em doses fracas, uma parte ser fixada pelo fgado e outra pelo tecido sseo.O veneno poder provocar pertubaes, mas no a morte, porque subtrado circulao, graas combinao pouco ativa que forma com os ossos, no pode acumular-se. A defesa do organismo nos explica por que certos venenos, muito txicos quando absorvidos diretamente pelo sangue, sem passar pelo fgado, no exercem nenhuma ao nociva quando penetram na via gastrintestinal. O veneno da cobra, por exemplo, mortal quando penetra diretamente na circulao em seguida a mordedura, pode ser absorvido por suco da ferida, sem nenhum perigo. Os pulmes tambm agem defensivamente em prol da economia.Quando se ingere um gs em dissoluo, antes de chegar ao sistema capilar, o mesmo tem que passar pelos pulmes.Ora, nos pulmes se efetuam as trocas gasosas entre o organismo e o meio: o gs carbnico exalado e o oxignio fixado;o sangue venoso, escuro, torna-se sangue arterial, vermelho rutilante. Pelos pulmes, eliminam-se, pelo menos em parte as substncias txicas, gasosas, volteis, tais como o xido de carbono, o cido sulfdrico, clorofrmio, o lcool, o ter. Os leuccitos tambm tomam parte na defesa orgnica (ao fagocitria). BESREDKA demonstrou que quando se introduz, sob a pele de um animal, pequena quantidade dum composto solvel ou insolvel de arsnico (anidrido arsenioso, trissulfureto de arsnico), produz-se uma hiperleucocitose, que desembaraa o organismo desses txicos, graas a uma variedade de fagocitiose.O arsnico mineral desagregado e transformado em arsnico orgnico, muito menos txico, que se elimina mais tarde pelos rins. Finalmente, o organismo defende-se pelo vmito e pela diarria.Em geral, as substncias txicas tem propriedades emticas enrgicas, de modo que a maior parte do veneno pode ser rejeitada pelos vmitos antes que a absoro tenha sido suficiente para causar a morte. As evacuaes alvinas, sobrevindo ingesto de certos txicos, expulsam ainda do organismo uma parte do veneno. FATORES QUE INFLUEM NA AO DOS VENENOS O estado de diviso dum txico influi favoravelmente sobre sua absoro.

O anidrido arsenioso, por exemplo, administrado em p, agir menos rapidamente do que em soluo, pois no primeiro caso o veneno s ser absorvido proporo de sua lenta dissoluo nos lquidos orgnicos, ao passo que na segunda hiptese ser imediatamente absorvido. Os alimentos, que so ingeridos ao mesmo tempo que a substncia txica, podem facilitar ou retardar sua absoro.Os corpos graxos facilitaro a absoro do fsforo, dissolvendo-o e permitindo assim sua penetrao na corrente circulatria;pelo contrrio, retardaro a absoro dum veneno, tambm temvel, o anidrido arsenioso. O estado de vacuidade ou de repleo do estmago influi igualmente sobre a absoro dos venenos.Se o estmago est vazio no momento da ingesto do txico, este, no sendo diludo na massa alimentar, ser mais rapidamente absorvido.No caso contrrio, ser mais lentamente absorvido, e mais facilmente localizado no fgado ou rejeitado pela bile e urina. Entretanto, o cianureto de potssio ter sua ao mxima no caso de repleo do estmago: que o cianureto de potssio txico pelo cido ciandrico que desprende sob a influncia do cido clordrico do suco gstrico, que secretado quando o estmago contm alimentos. O organismo enfraquecido pela doena resiste menos ao dos venenos que em estado de sade.Certas pessoas so mais sensveis ao dum mesmo veneno que outras;essa suscetibilidade particular chamada de idiossincrasia. ELIMINAO DOS VENENOS Sob que forma so eliminados os venenos do nosso organismo?Alguns atravessam o organismo e so eliminados sem alterao na sua constituio qumica. A maior parte dos alcalides (a estricnina, a morfina, a brucina, a nicotina) so rejeitados pelas urinas, sem que nada tenha mudado na sua estrutura molecular (nos envenenamentos, os alcalides sendo sempre absorvidos em excesso, no seno esse excesso que se encontra, no modificado, na urina). O xido de carbono, o cido ciandrico, o clorofrmio, o ter etc., esto ainda no mesmo caso. Outros corpos, ao contrrio, so modificados durante sua passagem atravs do organismo e rejeitadossob forma diferente.Alguns so reduzidos, os bromatos passam ao estado de bromureto, os iodatos ao estado de iodureto, porm, as mais das vezes, os mesmos so oxidados a expensas do oxignio do sangue.Os sulfuretos, sulfitos, hipossulfitos se transformam em sulfatos etc.Algumas vezes o txico muda de natureza, por uma dupla decomposio, que se efetua no estmago entre os elementos do suco gstrico e o veneno.Assim, pequenas

quantidades de acetato de chumbo daro origem a cloreto de chumbo insolvel, ao contato do cido clordrico do suco gstrico, e cido actico inofensivo. Tenham ou no sofrido modificao, os txicos sero eliminados mais ou menos lentamente pelo organismo, que tende sempre a desembaraar-se dos elementos estranhos. VIAS DE ELIMINAO As vias de eliminao dos txicos, ou dos produtos deles resultantes, so: os aparelhos de secreo ou excreo, tais como o fgado (pela bile), os rins (pela urina), as diversas glndulas da economia (sudorparas, salivares, as mucosas, a pele) e, enfim, para as substncias gasosas (xido de carbono, hidrognio sulfurado, lcool etc), os pulmes. Mas as substncias eliminadas pelas glndulas salivares so reabsorvidas parcialmente com o bolo alimentar ;as eliminadas pela bile passam em parte nas fezes, mas podem ser reabsorvidas no intestino, de sorte que a grande via de eliminao o rim. Somente o estudo particular de cada veneno que permite referncia explcita ao tempo de durao de seu perodo de eliminao. ESPCIES DEVENENOS Os trs reinos da natureza podem fornecer substncias txicas de modo que temos venenos minerais (sulfato de cobre, acetato de chumbo), venenos vegetais (estricnina, morfina), que so os mais temveis; venenos animais, descobertos ao fim do sculo passado, quase simultaneamente, pelo italiano SELMI e pelo francs ARMAND GAUTIER (leucomanas e ptomanas). As leucomanas produzem-se nos rgos durante os estados patolgicos, e as ptomanas originam-se da putrefao orgnica. GASES DAS HABITAES: O xido de carbono substncia inodora, incolor, de densidade igual a 0,96, queimando com chama azul, e muito txico para o organismo humano. Suas fontes habituais so os vapores da queima do carvo, os braseiros, os incndios e as exploses. Entre ns tem quase sempre como fonte originria o gs de rua. O gs comum, que usamos nas cozinhas, proveniente da calcinao da hulha e apresenta composio bastante complexa, na qual podemos distinguir hidrognio, metano, xido de carbono, nitrognio, acetileno. O envenenamento por xido de carbono na forma superagudaseriam casos relatados de inalao brusca e macia. A vtima faz apenas trs a quatro inspiraes e imediatamente atacada de tremores, vertigens, perde a conscincia e morre. O comum, porm, a forma aguda, em que o paciente apresenta cefaleia, alucinao, zumbidos, escotomas cintilantes,

impotncia muscular, nuseas, vmitos, convulses e coma.O coma pode durar horas ou dias, e tanto mais fatal ser o prognstico quanto maior for sua durao. Se o indivduo se restabelece, apresenta muitas vezes, estado confusional, delrio, neurites, paralesias, hiperstesias, nevralgia, xantopsia, amaurose, zumbidos, vertigens, edema e pertubaes trficas da pele, pneumonia de aspirao etc. Alm das duas formas precedentes, h ainda uma forma crnica de intoxicao oxicarbonada, via de regra profissional (cozinheiros, foguistas etc). O paciente acusa pertubaes psquicas com torpor intelectual, perda de vontade, insnia etc; motoras como astenia;sensitivas como dores reumticas, epistaxes, nuseas, vmitos. INTOXICAES PROFISSIONAIS So aquelas resultantes da exposio da pessoa aos agentes qumicos no exerccio de suas atividades. So as que mais interessam rea infortunstica. Apresentam-se por manifestaes agudas e crnicas.Tm aumentado na atualidade em razo do crescente nmero de agentes qumicos e /ou txicos que o trabalhador tem contato. A intoxicao profissional pode ser definida como doena profissional ou do trabalho (tendo a intoxicao aguda reconhecimento como acidente na acepo do termo por alguns peritos mdicos). A medicina do trabalho e /ou ocupacional tem dedicado maior ateno notadamente aps o pacote de maro de 1986 -Decreto lei n: 2.284 de 1986 -pelos recentes nmeros de novos empregos nas indstrias e no comrcio em geral. As doenas profissionais pulmonares so as mais comuns das intoxicaes crnicas e agudas da atualidade. Podem ser relacionadas: a) pneumoconiose mineral (causada por silicatos) (caolin, talco, mica, e asbestos); por carvo; por ferro, grafite, estanho (estanose) ;pelo sulfato de brio (baritose) ;pelo alumnio ;pelo berlio ;pelo nquel ;pelo cdmio ;pelo vandio ;pelo selnio;pelo telrio, pelo tungstnio b) pneumoconiose orgnica causada por algodo, sisal, juta, bagao de cana, etc. c) doenas profissionais causadas por gases e aerosis solveis: amnia, cloro, xido nitroso (fertilizante) etc. d) Merecem destaque especial os praguicidas, fumegantes, roedores, herbicidas, inseticidas, fungicidas, e repelentes, pois provocam com frequncia vtimas tanto na manipulao no preparo, no trabalho em

si, como na pulverizao e/ou no uso. O cncer profissional produzido por: a) alcatro, piches e leos, arsnico, raios x ( na pele) ; b) benzidina, anilina, difenilamina, auramina, xenilamina, betanaftamina (na bexiga) ; e) benzeno, radiao (leucemia) f) substncias radioativas (cncer sseo) DOENA DO TRABALHO: a) Qualquer das chamadas doenas profissionais, inerentes a determinados ramos de atividade e relacionadas em ato do Ministrio do Trabalho. A doena no degenerativa nem inerente a grupos etrios, resultante das condies especiais ou excepcionais em que o trabalho seja executado, desde que, diretamente relacionada com a atividade exercida, cause reduo da capacidade para o trabalho que justifique a concesso do benefcio por incapacidade prevista na lei. TUMORES PROFISSIONAIS Os tumores profissionais podem originar-se da exposio prolongada a substncias cancergenas ou resultar da ao de traumatismo no revestimento cutnea etiologia dos tumores, no se deve desdenhar a existncia de causas conominantes, tais como constituio individual, hbitos de vida, especialmente no que se refere s intoxicaes crnicas, como alcoolismo, manuteno de condies desfavorveis de alimentao e ao repouso. AGENTES CANCERGENOS QUMICOS Exposio : Arsnico, Cromo, Hulha, Aminas aromticas, Nquel, Petrleo e metais pesados. CAPTULO 2 DOENAS PROFISSIONAIS Dados de 1991 estimavam em 100 mil o nmero de mineiros ativos registrados e cerca de 400 mil os trabalhadores envolvidos em atividades de garimpo. Na indstria de transformao o IBGE, em 1996, estimava em 8, 5 milhes de trabalhadores em atividade, com cerca de 43% deles potencialmente expostos a poeiras. No mesmo ano, a estimativa na construo civil era de 4, 5 milhes de trabalhadores. O setor agrcola, por sua vez, contava com 16, 7 milhes de trabalhadores expostos a poeiras orgnicas principalmente. Dados recentes de estimativa de expostos slica no Brasil apontam que para o perodo de 1999 a 2000, cerca de 1.815.953 trabalhadores vinculados a empregos formais estavam expostos slica por mais de 30% de sua jornada de trabalho.A exposio ao asbesto

envolve cerca de 20 mil trabalhadores empregados na extrao e transformao do mineral (minerao de asbesto, produtos de cimentoamianto, materiais de frico, papis especiais, juntas e gaxetas e produtos txteis). Este nmero caiu nos ltimos quatro anos devido perda de mercado e substituio do asbesto em alguns produtos industrializados. Entretanto, calcula-se que outros 250 mil 300 mil trabalhadores estejam expostos de forma inadvertida nos setores de construo civil e manuteno mecnica. A extrao de carvo mineral emprega atualmente (2004 a 2005) trs mil quatro mil mineiros. uma atividade que apresenta nmeros flutuantes, na dependncia da poltica energtica, demanda e preo do carvo mineral. Dados epidemiolgicos provindos de vrios pases mostram que o risco de ocorrncia de pneumoconiose ainda um problema mundial, tanto nos pases desenvolvidos, quanto nos em vias de desenvolvimento, embora nestes ltimos as condies de trabalho e precariedade do controle ambiental e individual da exposio, levem a um risco maior. Na dcada de 90, por exemplo, foram relatadas epidemias (clusters) de silicose em pases como Frana, Itlia, Holanda, EUA ,Canad e Finlndia, apesar de a mortalidade por silicose nesses pases ter decrescido dramaticamente nas ltimas dcadas. Em pases como a frica do Sul, na mesma dcada, a estimativa de ocorrncia de silicose entre mineiros era de 20 a 30%. A essa elevada taxa associa-se o elevado risco de tuberculose e as altas prevalncias de infeco pelo HIV.Da mesma forma, pesquisadores em pases como China, ndia e Brasil tm publicado resultados de estudos com alta prevalncia de silicose, demonstrando a existncia do problema e a necessidade de melhoria no diagnstico e no controle de exposio.Os dados epidemiolgicos sobre pneumoconioses no Brasil so escassos e referem-se a alguns desses ramos de atividades em situaes focais.Os dados que se dispe sobre ocorrncia de silicose, por exemplo, do uma idia parcial da situao de risco relacionada a esta pneumoconiose.A maior casustica nacional de silicose provm da minerao de ouro subterrnea de Minas Gerais, na qual j foram registrados cerca de quatro mil casos. Outras casusticas importantes foram investigadas na indstria cermica. Alguns estudos descritivos transversais publicados at o momento do percentuais de ocorrncia de silicose que variam de 3, 5% no ramo de pedreiras (explorao de granito e fabricao de pedra britada) a 23, 6% no setor de indstria naval (operaes de jateamento com areia). Com relao exposio ao asbesto, ou amianto, os poucos estudos publicados mostram prevalncia de 5, 8% de asbestose no setor de

fibrocimento (fabricao de telhas e caixas dgua) e ocorrncia de 74 casos de asbestose (8, 9%), e de 246 casos de placas pleurais (29, 7%) em populao selecionada de ex-trabalhadores desse mesmo setor da indstria do amianto. Na minerao de carvo no Brasil, restrita Regio Sul, existem mais de 2.000 casos de PTC diagnosticados. A prevalncia pontual de PTC em mineiros ativos na dcada de 80 era de 5, 6% e a probabilidade de ocorrncia foi estimada em 20% aps 15 anos de trabalho subterrneo. Casos clnicos e srie de casos de outras pneumoconioses tm sido descritos ao longo dos anos, alertando para possibilidades de ocorrncia de doenas relacionadas exposio de xido e ferro, rocha fosftica, talco, abrasivos, metais duros, berlio e sericita. 1.4 PATOGENIA E FISIOPATOLOGIA Para que ocorra pneumoconiose necessrio que o material particulado seja inalado e atinja as vias respiratrias inferiores, em quantidade capaz de superar os mecanismos de depurao: o transporte mucociliar, transporte linftico (conhecidos como clearence) e a fagocitose pelos macrfagos alveolares. O transporte mucociliar predominantemente realizado pelo sistema mucociliar ascendente (80%), atravs do sistema ciliar a partir dos bronquolos terminais. Cerca de 20% do transporte pulmonar realizado pelo sistema linftico, que recebe partculas livres ou fagocitadas por macrfagos alveolares. As pneumoconioses so doenas por inalao de poeiras, substncias que o organismo pouco consegue combater com seus mecanismos de defesa imunolgica e/ou leucocitria, diferentemente do que ocorre com microorganismos que podem ser fagocitados, digeridos ou destrudos pela ao de anticorpos e de clulas de defesa por meio das enzimas lisossomais e outros mecanismos. Para ter eficcia em atingir as vias respiratrias inferiores as partculas devem ter a mediana do dimetro aerodinmico inferior a 10m, pois, acima deste tamanho so retidas nas vias areas superiores. A frao respirvel (