Trata Efluentes Solo Veg Bambu

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ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS MBA EM GERÊNCIA DE PROJETOS FREDERICO ROSALINO DA SILVA ANÁLISE DA VIABILIDADE DA DISPOSIÇÃO DE EFLUENTE DOMÉSTICO PÓS- TRATADO EM SOLO VEGETADO COM BAMBU BRASÍLIA 2010

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ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS

MBA EM GERÊNCIA DE PROJETOS

FREDERICO ROSALINO DA SILVA

ANÁLISE DA VIABILIDADE DA DISPOSIÇÃO DE EFLUENTE DOMÉSTICO PÓS-

TRATADO EM SOLO VEGETADO COM BAMBU

BRASÍLIA

2010

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2

FREDERICO ROSALINO DA SILVA

ANÁLISE DA VIABILIDADE DA DISPOSIÇÃO DE EFLUENTE DOMÉSTICO PÓS-

TRATADO EM SOLO VEGETADO COM BAMBU

Monografia apresentada à Escola

de Administração e Negócios – ESAD

como requisito parcial à obtenção do

grau de Especialista em Gerenciamento

de Projetos.

ORIENTADOR: Profª Camilo Mussi

BRASÍLIA

2010

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3

FREDERICO ROSALINO DA SILVA

ANÁLISE DA VIABILIDADE DA DISPOSIÇÃO DE EFLUENTE DOMÉSTICO

PÓS-TRATADO EM SOLO VEGETADO COM BAMBU

Aprovada em de de 2010

____________________________________

Prof. Camilo Mussi

ESAD - Escola de Administração e Negócios

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4

AGRADECIMENTOS

A minha família que sempre

acreditou em meus sonhos e minha

busca por uma sociedade mais justa

e um ambiente mais saudável, a

minha madrinha Maria Inês que

muito me ensinou em minha

caminhada, aos professores Ricardo

Bernardes e Antônio Brito, a minhas

mulheres Estefânia e Maíra e

principalmente a Deus.

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5

RESUMO

SILVA, Frederico Rosalino: Análise da viabilidade da disposição

controlada de efluente doméstico pós-tratado em solo vegetado com bambu.

2010. 58 f. MBA em Gerência de Projetos – ESAD, Escola de Administração e

Negócios, Brasília, Distrito Federal.

Este estudo buscou avaliar a viabilidade da utilização de um sistema de

disposição controlada de efluentes domésticos pós-tratados em solo vegetado com

bambu, comparando esta alternativa com unidades convencionais de tratamento

terciário. Segundo os estudos observados, a estrutura radicular dos bambus da

espécie Dendrocalamus Giganteus e Guadua Angustifólia Kunt, permite a formação

de uma malha filtrante capaz de realizar processos físicos e químicos que

favorecem a redução considerável dos níveis de carga orgânica, nutrientes e

patógenos, possibilitando a proteção do lençol freático além de atender as normas

ambientais mais exigentes. A comparação com tratamentos terciários convencionais

se deu devido ao fato que o lançamento de efluentes tratados apenas a nível

secundário pode representar um risco ao meio ambiente, mesmo adotando a

desinfecção por ultravioleta, contudo, a disposição do efluente após o tratamento

secundário em solo vegetado com bambu é capaz de alcançar níveis de tratamento

equivalentes ao de tratamentos terciários convencionais, com diversas vantagens

como a beleza paisagística, barreira de vento e odores, a captura de carbono, entre

outros, e principalmente o ganho financeiro com a comercialização de colmos

maduros. Observou-se que o investimento para a implantação do sistema com

bambu pode ser maior que o convencional, porém, o custo de manutenção do

sistema terciário é bastante superior, sendo que, a partir do terceiro ano após o

início da operação, os custos dos sistemas, considerando o Valor Presente Líquido,

praticamente se equivalem, e a partir do sexto ano, inicia-se a comercialização dos

colmos maduros, de modo que a receita desta atividade custeia a manutenção do

sistema, podendo até mesmo gerar lucro. Contudo, a sustentabilidade econômica e

socioambiental do sistema de zona de raízes, o coloca como uma opção importante

para o tratamento de esgotos, justificando, portanto, investimentos em pesquisas

para o estudo dos processos envolvidos neste sistema, observando as

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6

peculiaridades de cada espécie, exótica ou nativa, capacidade de carga, de

tratamento e de adaptabilidade ao clima e solo de cada região.

Palavras-chave: Bambu, tratamento de esgotos domésticos, zona de raízes.

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ABSTRACT

This study investigates the viability of using a system of controlled disposal of

domestic sewage after treated in soil vegetated with bamboo, comparing this

alternative to the conventional tertiary treatment. According to the studies observed,

the root structure of the bamboo species Dendrocalamus giganteus and Guadua

angustifolia Kunth, allows the formation of a mesh filter able to perform physical and

chemical processes that favor a sharp reduction in the levels of organic load,

nutrients and pathogens, allowing protection of groundwater in addition to meeting

the highest standards. A comparison with conventional tertiary treatment occurred

due to the fact that the release of treated effluent only at secondary level may

represent a risk to the environment, even assuming the ultraviolet disinfection,

however, the disposal of effluent after secondary treatment soil vegetated with

bamboo is able to achieve treatment levels equal to conventional tertiary treatment,

with many advantages such as beauty, wind barrier and odors, carbon capture and

especially financial gain with the sale of mature culms. It was observed that the

investment for the deployment of the bamboo may be higher than conventional, but

the cost of maintaining the tertiary system is far superior, and from the third year

after the operation, the costs of systems, considering the Net Present Value,

practically equivalent, and from the sixth year, begins the sale of mature stalks, so

that the revenue from this activity funds the maintenance of the bamboo and can

even generate profit. However, sustainability and socio-economic system root zone

have made it an important option for the treatment of sewage, thus justifying

investments in research to study the processes involved in this system, noting the

peculiarities of each species, exotic or native , capacity, treatment and adaptability to

climate and soil of each region.

Key words: Bamboo, sewage treatment, roots zone.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Sistema de rizoma Anfipodial (NMBA 2004). ..............................................20

Figura 2: Forma de desenvolvimento do Guadua Angustifólia Kunth.......................21

Figura 3: Mata de Guadua Angustifolia Kunth – Colômbia ........................................21

Figura 4: Sistema Radicular do Dendrocalamus Giganteus ......................................22

Figura 5: Sistema radicular do Dendrocalamus Giganteus .......................................23

Figura 6: Touceira adulta de Dendrocalamus Giganteus – Brazlândia/DF ..............23

Figura 7: Mata de bambu destinada ao tratamento de efluentes (PHYTOREM®)..24

Figura 8: 5.000 m2 de bambu plantado utilizado no projeto piloto de Portugal .......26

Figura 9: Produtos confeccionados com o bambu produzido no sistema. ...............27

Figura 10: Disposição no solo por aspersão. ..............................................................27

Figura 11: Touceira plantada ao lado do coletor tronco de esgoto doméstico. .......28

Figura 12: Detalhe do colmo da Touceira plantada ao lado do coletor tronco de

esgoto doméstico. ..........................................................................................................29

Figura 14: Bosque em bambu na China ......................................................................30

Figura 13: Bambus ornamentais - a) Bambusa ventricosa, b) Phyllostashys

pubescens, c) Bambusa vulgaris Wamim, d) Bambusa Lako, - ................................31

Figura 15: Vista da barreira de vento e odores em bambu ao lado do pátio de

secagem de lodo – ETE Norte ......................................................................................32

Figura 16: Imagem das barreiras de vento, na esquerda de eucalipto e direita em

bambu. ............................................................................................................................33

Figura 17: Vista da barreira de vento e odores em ETE de Viradouro/SP ...............34

Figura 18: Colmos tratados vendidos em lojas de material de construção na

Colômbia .........................................................................................................................35

Figura 19: Colmos tratados e esteiras de bambu vendidos em lojas de material de

construção no Peru. .......................................................................................................35

Figura 20: a – Gazebinho, Frederico Rosalino b - Parque De la Vida-Armenia,

Colômbia, c – Jardim Botânico, Colômbia, d – Playground, Celina Llerena ............40

Figura 21: a) Pergolado na entrada da residência, b) Suporte para vinho, c) poltrona,

d) cama ...........................................................................................................................41

Figura 22: Custo de Upgrade” de Estações de Tratamento de Esgotos – Tratamento

Secundário para Terciário .............................................................................................45

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9

Figura 23: Custos Operacionais de Upgrade” de Estações de Tratamento de Esgotos

– Tratamento Secundário para Terciário .....................................................................46

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Grau de tratamento dos esgotos necessário, em função do tipo de cultura

e da técnica de irrigação ...............................................................................................16

Tabela 2 - Fatores que afetam a seleção da técnica de irrigação e medidas

necessárias quando se utilizam esgotos sanitários....................................................17

Tabela 3 - Razão entre tensão de tração e a massa específica de alguns materiais19

Tabela 4 - Valor do poder calorífico do carvão de alguns bambus e eucalipto .......19

Tabela 5 – Níveis de tratamento do sistema ...............................................................25

Tabela 6 –Produtividade do bambu em relação ao Eucalipto e Pinus .....................36

Tabela 7- Estoque líquido anual de CO2 em diferentes tipos de plantação. ...........37

Tabela 8: Balanço de CO2 na plantação de bambu, considerando os cenários

Propostos ........................................................................................................................38

Tabela 9 - Recomendações de insumos para o plantio das mudas .........................49

Tabela 10 – Custo de insumos por cova .....................................................................50

Tabela 11 – Custo anual de manutenção das plantas ...............................................51

Tabela 12 - Custos envolvidos na implantação de sistema Terciário Convencional52

Tabela 13 - Custos envolvidos na implantação de sistema de disposição controlada

em solo vegetado com bambu ......................................................................................52

Tabela 14 - Comparativo de custos das alternativas ................................................53

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13

2 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 15

3 DESENVOLVIMENTO ....................................................................................... 18

3.1 Descrição sobre espécies de bambu ................................................... 18

3.1.1 Descrição geral ....................................................................................... 18

3.1.2 Espécies propostas para o estudo ....................................................... 19

3.2 Utilização de solo vegetado com bambu para disposição de efluentes

24

3.2.1 Estado da Arte ........................................................................................ 24

3.2.2 Legislação vigente.................................................................................. 29

3.3 Benefícios do plantio de bambu para o sistema proposto ................. 30

3.3.1 Beleza Paisagística ................................................................................ 30

3.3.2 Barreira de vento e odores; ................................................................... 31

3.3.3 Venda de colmos .................................................................................... 34

3.3.4 Crédito de Carbono ................................................................................ 36

3.3.5 Utilização do material no local .............................................................. 39

3.3.6 Marketing verde ...................................................................................... 41

3.4 Viabilidade econômica da adoção sistema de disposição de efluente

doméstico pós-tratado em solo vegetado com bambu. ................................. 42

3.4.1 Custo de Sistemas convencionais de tratamento terciário ................ 44

3.4.2 Desinfecção com Ultravioleta ................................................................ 46

3.4.3 Custo da terra ......................................................................................... 47

3.4.4 Custo do sistema de disposição ........................................................... 48

3.4.5 Custo do plantio ...................................................................................... 49

3.4.6 Custo de manutenção ............................................................................ 50

3.4.7 Quadro comparativo de custos ............................................................. 51

4 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 54

5 RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 55

6 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 56

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LISTA DE SIGLAS

ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

ETE Estação de Tratamento de Esgotos

NBR Norma Brasileira

OD Oxigênio dissolvido

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

GEE Gases de Efeito Estufa

DAIA Distrito Agroindustrial -

CAESB Companhia de Saneamento de Brasília

BDI Bonificação de Despesas Indiretas

UV Ultra Violeta

EMATER Empresa de Assistência e Técnica e Extensão Rural

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1 INTRODUÇÃO

A utilização de sistemas de disposição controlada de efluentes industriais e

domésticos em solo vegetado tem sido utilizado em todo mundo, como práticas de

fertirrigação, ou simplesmente para alcançar níveis de tratamento compatíveis com

as leis ambientais.

Há registros de que as primeiras experiências realizadas de disposição de

esgoto no solo de forma controlada ocorreram no século XIX em alguns países

europeus, contudo já se alertava para os cuidados que deveriam ser tomados em se

tratando de processo de fertirrigação de hortaliças e outros vegetais cujo consumo

se dá de forma direta.

Já no século XX as práticas de disposição controlada em solo vegetado

foram sendo abandonadas devido ao crescimento populacional, incremento da

geração de efluentes e redução das áreas para a implantação de fazendas de

tratamento de esgotos, com isso, iniciou-se estudos para utilização de sistemas de

tratamento mais compactos com a necessidade de menores áreas para

implantação. Outro fator preponderante para a quase abolição desta pratica foi o

medo da população em consumir um vegetal irrigado por esgoto, a rejeição deste

tipo de produto temendo doenças além do odor desagradável que muitos alegavam

sentir.

A prática do reuso da água em fertirrigação se desenvolveu principalmente

em países com déficit hídrico, como México e Israel, onde a baixa disponibilidade de

água obrigou o desenvolvimento de sistemas de tratamento com disposição

controlada no solo por meio de processos superficiais e subsuperficiais. No Brasil,

mais especificamente na região Nordeste, práticas de reuso de esgotos com

disposição controla por canais irrigam forrageiras, as quais são utilizadas para o

consumo do gado.

A opção de utilizar sistemas de disposição de esgotos domésticos de forma

controlada, em solos vegetados com bambu, se apresenta viável do ponto de vista

técnico em estudos desenvolvidos principalmente na em países como a França,

Portugal, Índia e China.

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Contudo, o presente estudo objetiva reunir algumas das principais

experiências de disposição controlada de esgoto em solo vegetado com bambu

desenvolvidas pelo mundo e analisar a viabilidade econômica da disposição

controlada de efluente de origem doméstica em solo vegetado com bambu com

potencial de comercialização após tratamento secundário em reatores anaeróbicos.

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2 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

A utilização de sistemas de disposição de efluentes industriais e domésticos

em solo vegetado, como pós-tratamento, se apresenta como uma alternativa para a

melhoria das condições do efluente final com um custo reduzido, e em alguns

casos, com o aproveitamento do vegetal para fins econômicos, tendo sido utilizado

principalmente em regiões onde a disponibilidade de água é reduzida.

Uma série de vantagens, além do tratamento do efluente propriamente dito,

podem ser elencadas para este tipo de sistema, o benefício agrícola, o baixo

investimento, o pequeno custo de operação, o baixo consumo de energia e,

principalmente, o impedimento de descargas de substâncias poluentes em corpos

d’água.

A disposição controlada de efluentes no solo pode ser considerada como

reuso, pois, são fontes de água e nutrientes para o solo e conseqüentemente para a

planta, e também contribuem, quando tratados, para a recarga do lençol freático ou

podem ser evaporados por processo de evapotranspiração. Os efluentes lançados

no solo passam por processo destinos: absorção pelas plantas, adsorção à

estrutura do solo, e contato com a água subterrânea.

Durante o processo, mecanismos de ordem física (sedimentação, filtração,

radiação, volatilização, desidratação), química (oxidação, redução, precipitação,

adsorção, troca iônica e complexação) e biológica (biodegradação e predação)

atuam na remoção dos poluentes no solo (Von Sperling, 1996).

Segundo Von Sperling (1996), a forma mais importante de aplicação de

esgoto no solo, visando o reuso do efluente em processos produtivos é a

fertirrigação. Nessa forma os esgotos são aplicados no solo com o objetivo de

fornecer água e nutrientes necessários ao desenvolvimento das plantas.

O sistema de disposição em solo vegetado pode ser realizado de várias

formas no que se refere ao lançamento do efluente pós-tratado, segundo

ANDRADE NETO (1991) a forma de lançamento deverá ser definida em função da

exigência condicionada a cultura a ser utilizada no sistema.

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Tabela 1 – Grau de tratamento dos esgotos necessário, em função do tipo de cultura e da técnica de

irrigação

Fonte: Andrade Neto (1991)

O tipo de sistema de disposição do efluente no solo mais recomendado, no

caso em que se deseja utilizar a área plantada para o lazer, é a irrigação

subsuperficial, no qual os efluentes são lançados sob o solo por meio de canais ou

tubulações perfuradas de forma a espalhar o efluente sem o contato com a

superfície.

As principais vantagens e desvantagens de cada uma das formas de

disposição são mostradas na tabela 2.

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Tabela 2 - Fatores que afetam a seleção da técnica de irrigação e medidas necessárias quando se

utilizam esgotos sanitários.

Neste grupo de cultivo, os trabalhadores do campo são também o primeiro grupo de risco, porém

podem existir riscos indiretos para o consumidor. Nesta categoria incluem-se: cultivos de pastagens

e forrageiras consumidas verdes; cultivos cujos produtos para o consumo humano não entrem em

contato direto com os esgotos sanitários; cultivos cujos produtos sejam ingeridos cozidos; cultivos

cujos produtos sejam consumidos após serem descascados; qualquer cultivo irrigado por aspersão.

Fonte: Adaptado de GHEYI (1999).

Page 18: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

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3 DESENVOLVIMENTO

3.1 DESCRIÇÃO SOBRE ESPÉCIES DE BAMBU

3.1.1 Descrição geral

Os bambus pertencem à família das gramíneas e a subfamília Bambusoideae

que por sua vez se divide em duas grandes tribos: bambus herbáceos e os bambus

lenhosos com cerca de 60 gêneros distribuídos em 700 espécies. Ocorre em todos

os continentes exceto no europeu, sendo que os asiáticos são os que mais utilizam

este recurso a milhares de anos. O Brasil o país mais rico em gêneros e espécies,

concentram 81 % dos gêneros existentes no mundo (Londoño, 1990).

Sua produtividade chega a 60 ton/ha.ano, podendo ser propagado de forma

espontânea com o surgimento de novos brotos, ou de forma induzida, sendo que

cada espécie possui uma maneira diferenciada de propagação. A maioria das

espécies dispensa o replantio podendo sobreviver por mais de 100 anos na mesma

área.

Atingem seu tamanho máximo em seis meses após o surgimento de um

broto, mas somente após três anos ficam maduros. Algumas espécies podem

chegar 30 cm de diâmetro a 35 metros de altura, sendo que existem registros de

crescimento de até 120 cm por dia.

O bambu possui vários usos que vão desde a alimentação até a construção

civil. Sua estrutura possui alta resistência mecânica, por isso, vem sendo

amplamente utilizado na construção de casas, pontes, entre outras estruturas.

Existem inúmeros estudos que comprovam a elevada resistência do material,

superior até mesmo que o aço considerando esforços de tração (figura 03).

Page 19: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

19

Tabela 3 - Razão entre tensão de tração e a massa específica de alguns materiais

Fonte: Tecnologias e materiais alternativos de construção (2003).

O poder calorífico do bambu comparado com o eucalipto, matéria prima de

referência para o uso como biomassa na geração de energia, é um pouco superior

(Tabela 4), o que confere ao material um grande potencial tanto na forma de lenha

como para a produção de carvão.

Tabela 4 - Valor do poder calorífico do carvão de alguns bambus e eucalipto

Fonte: Brito et al (1987) modificado por Silva (2005)

3.1.2 Espécies propostas para o estudo

As espécies Dendrocalamus Giganteus e Guadua Angustifólia Kunt serão as

utilizadas para o estudo de viabilidade da disposição controlada de efluentes em

solo vegetado com bambu, pois, são espécies que apresentam excelentes

propriedades mecânicas, rápido crescimento, grande porte, além da existência de

algumas experiências exitosas de plantio no Brasil que demonstrando a viabilidade

de seu cultivo.

Page 20: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

20

A espécie Guadua angustifolia Kunth apresenta diâmetro médio de 12 cm, e

pode alcançar até 30 metros de altura apresentando um crescimento médio dos

colmos de 11 a 20 cm por dia. Seu sistema radicular é do tipo Entouceirante ou

Simpodial, sendo que alguns autores classificam ainda como anfipodial ou semi-

entouceirante, visto que, embora não seja uma espécie do tipo alastrante, seu

rizoma possui pescoço longo o que favorece um espaçamento entre os colmos.

Figura 1: Sistema de rizoma Anfipodial (NMBA 2004).

Page 21: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

21

Figura 2: Forma de desenvolvimento do Guadua Angustifólia Kunth

Figura 3: Mata de Guadua Angustifolia Kunth – Colômbia

Page 22: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

22

Graças a sua alta resistência, é a espécie mais utilizada na América Latina.

Ocorre naturalmente principalmente na Venezuela, Equador e Colômbia, sendo que

nos dois últimos países, a utilização desta espécie para a construção se dá de

forma mais intensa e atualmente é referência mundial na construção de estruturas.

A espécie Dendrocalamus giganteus, também conhecida como bambu

gigante ou bambu balde, é relativamente comum em nosso meio como destacam

Azzini et alli. (1982). É uma planta com grande potencial agrícola devido a sua

produtividade e rebrota, apresenta colmos com altura entre 24-40 metros, entrenós

entre 30 a 50 cm e diâmetros entre 10 e 20 cm. Seu centro de origem de ocorrência

é o Myanmar, no continente Asiático, em altitudes em torno de 1200m e se adapta

bem em climas tropicais e subtropicais. Seu sistema radicular é do tipo Simpodial ou

Paquimorfo também conhecido como entouceirante (Figura 4).

Figura 4: Sistema Radicular do Dendrocalamus Giganteus

Há registros de raízes de touceiras adultas de Dendrocalamus Giganteus que

chegam a atingir 20 metros de raio, ou seja, se escavarmos a 20 metros de

distância do centro da touceira, é possível encontrar um sistema radicular denso

formando uma “malha” capaz de realizar a depuração do efluente (figura 5). Muitos

agricultores consultados na região do Distrito federal e entorno afirmam que não é

possível cultivar uma série de cultivares nos arredores de uma touceira, em um raio

de até 30 metros, isto demonstra na prática o alcance do sistema radicular.

Page 23: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

23

Figura 5: Sistema radicular do Dendrocalamus Giganteus

Fonte: Embambu, 2009.

Na região do Distrito Federal é possível observar grandes touceiras com mais

de 30 anos com alta produtividade e dimensões que confirmam a grande adaptação

da espécie nas condições de clima, solo e altitude que existem no planalto central,

colmos com mais de 30 metros de altura e 20 cm de diâmetro (foto 6).

Figura 6: Touceira adulta de Dendrocalamus Giganteus – Brazlândia/DF

Page 24: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

24

3.2 UTILIZAÇÃO DE SOLO VEGETADO COM BAMBU PARA

DISPOSIÇÃO DE EFLUENTES

3.2.1 Estado da Arte

Algumas experiências em disposição controlada de efluente pós-tratado em

solo vegetado com bambu estão sendo conduzidas em várias partes do mundo,

visto que, além da infinidade de usos que pode ser dado ao material, sua

capacidade de tratamento é bastante satisfatória.

Na França, a empresa Phytorem® atua na implantação de sistemas de

tratamento de efluentes com diversas espécies de bambu. Os sistemas implantados

pela empresa são certificados pala Agência de Águas Francesa, visto que, todos os

sistemas implantados são exaustivamente testados em escala piloto previamente a

sua implantação efetiva.

Em um sistema implantado pela PHYTOREM® para o tratamento de

efluentes de Vinícolas na França por Fertirrigação em zona de raízes identificou a

necessidade de se plantar bambu do gênero Phyllostashys a ordem de 0,5 m² por

cada hectolitro de vinho produzido. Com estas proporções não foram encontrados

quaisquer vestígios de contaminantes, pois os efluentes orgânicos são

metabolizados e os outros poluentes que oferecem maior perigo, como por

exemplo, os metais pesados ficam retidos nos colmos.

Figura 7: Mata de bambu destinada ao tratamento de efluentes (PHYTOREM®)

Page 25: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

25

Os níveis de tratamento do sistema chegam próximos a 100% com pode ser

observado na tabela 5, onde O nitrogênio, o fósforo e o potássio são reduzidos em

99,9%, 99,4 e 99,4 respectivamente.

Tabela 5 – Níveis de tratamento do sistema

Fonte: (PHYTOREM®)

A empresa portuguesa COBELGAL Company vem estudando na prática o

tratamento de esgotos domésticos de pequenas vilas em solo vegetado com

bambu. O sistema consiste em um tratamento inicial em um tanque séptico ou

tanque Imhoff de forma a reduzir, principalmente, o total de sólidos em suspensão e

DBO na ordem de 50%.O segundo passo do tratamento é realizado por zonas

úmidas construídas com bambu.

Page 26: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

26

A proposta da empresa é desenvolver sistemas de landfarming onde uma

floresta de bambu é irrigada por efluentes após o tratamento secundário. Esta

solução é interessante para as práticas agrícolas como qualquer criação intensiva

de animais. Pretende-se com os experimentos evitar qualquer contaminação da

água e ao mesmo tempo produzir uma biomassa valiosa.

Os trabalhos pilotos em desenvolvimento em Portugal adotaram cargas de

poluentes e áreas de plantio estimadas, em um dos projetos piloto trata 10m ³ / dia

de efluentes provenientes de uma pequena criação de suínos. Após a separação

física sólido - líquido e um tratamento secundário os efluentes finais serão dispostos

em uma floresta de bambu de 5.000 m² (figura 8)

Figura 8: 5.000 m2 de bambu plantado utilizado no projeto piloto de Portugal

Fonte: COBELGAL Company, 2005

Um projeto piloto iniciado em 2005 está sendo desenvolvido em Addis Ababa

na Etiópia com o objetivo de melhorar a qualidade das águas residuais e reduzir os

riscos ambientais e de saúde, associados à sua reutilização. O projeto

visa o desenvolvimento ecológico de alternativas em saneamento, usando o bambu

para o tratamento terciário de águas residuais, aproveitando o material na

confecção de produtos artesanais e a construção de habitações visando a geração

de renda (figura 9).

Page 27: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

27

Figura 9: Produtos confeccionados com o bambu produzido no sistema.

Está sendo conduzido na Universidade Federal de Goiás, projeto de

tratamento de efluentes do Distrito Agroindustrial - DAIA de Senador Canedo,

município próximo á Capital, utilizando para tanto, algumas espécies de bambu

atuando por processos de evapotranspiração. Várias espécies têm se mostrado

eficiente no tratamento de efluentes

O objetivo do trabalho é avaliar a eficiência de três espécies de bambu no

tratamento final do efluente, o Guadua angustifolia Kunth; Guadua magna Londoño

& Filgueiras e Dendrocalamus giganteus Munro.

Figura 10: Disposição no solo por aspersão. Fonte: Embambu 2009

Page 28: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

28

Uma experiência de fertirrigação de bambu com esgoto doméstico

ocorreu acidentalmente em uma propriedade no bairro do Lago Norte em

Brasília. Uma muda de Dendrocalamus Giganteus foi plantada a menos de

1 metro do coletor tronco de esgoto sanitário sem a pessoa responsável

pelo plantio ter o conhecimento desta tubulação. O fato é que a planta se

desenvolveu de forma anormal para os padrões observados na região do

Distrito Federal, com brotação ocorrendo praticamente durante o todo ano,

sendo que, é normal acontecer apenas nos meses de janeiro e fevereiro.

Após três anos do plantio, um técnico da Companhia de Saneamento de

Brasília – CAESB foi ao local e identificou que as raízes invadiram a

tubulação e estavam se fertirrigando do efluente bruto.

Tal fato nos levou a constatação da incrível capacidade da planta de

consumir os nutrientes disponíveis no esgoto bruto, contudo, nenhum

parâmetro foi coletado ou observado, apenas a observação visual (figura 11

e 12).

Figura 11: Touceira plantada ao lado do coletor tronco de esgoto doméstico.

Page 29: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

29

Figura 12: Detalhe do colmo da Touceira plantada ao lado do coletor tronco de esgoto doméstico.

3.2.2 Legislação vigente

A Resolução CONAMA Nº 357/05, que dispõe sobre a classificação dos

corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como

estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, define no Art. 29

que “A disposição de efluentes no solo, mesmo sendo tratados, não poderá causar

poluição ou contaminação das águas”, ou seja, não poderá ser lançado no solo

efluente que venha causar algum tipo de contaminação tanto das águas

subterrâneas quanto das águas superficiais.

Esta mesma Resolução define também que águas doces, cujos parâmetros

físico-químicos e bacteriológicos atendem os padrões de lançamento em corpos

d’água de classe especial, I, II e III, podem ser utilizadas para a irrigação de culturas

arbóreas, cerealíferas e forrageiras.

Page 30: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

30

3.3 BENEFÍCIOS DO PLANTIO DE BAMBU PARA O SISTEMA

PROPOSTO

3.3.1 Beleza Paisagística

A beleza das diversas espécies de bambu desperta a admiração de cada vez

mais pessoas por todo o mundo, admiração esta incrementada quando se tem

conhecimento de suas inúmeras formas de utilização.

É comum observar nos jardins de casas, áreas comerciais, hospitais,

shopping centers, entre outros locais, a utilização de variadas espécies de bambu

para a sua composição (figura 13), isto se dá logicamente pela sua beleza estética,

no entanto, a sensação de bem estar e harmonia, visto que o bambu remete a

espaços de meditação muito utilizado pelos orientais, é certamente uma de suas

qualidades que os paisagistas mais se apóiam para sua utilização.

Figura 13: Bosque em bambu na China

Page 31: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

31

a) b)

b) d)

Figura 14: Bambus ornamentais - a) Bambusa ventricosa, b) Phyllostashys pubescens, c)

Bambusa vulgaris Wamim, d) Bambusa Lako, -

Fonte: http://www.thepeaceofbamboo.com.au/photos.html, acessado em 19/12/09

3.3.2 Barreira de vento e odores;

Em locais onde existe a necessidade de se criar uma barreira de vento para

impedir a sua ação nociva a alguma atividade, como os silos em campos de soja,

onde os sojicultores plantam eucalipto ao redor da área de silo para a proteção

contra o vento, é possível a utilização de bambu. O rápido crescimento do bambu,

principalmente das espécies Dendrocalamus Giganteus, e Asper, podem formar

uma barreira importante de até 30 metros de altura em menos de seis anos.

Page 32: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

32

Outra boa utilidade é a utilização de barreira de vento em Estações de

Tratamento de Esgotos e em Aterros Sanitários onde os odores são muitas vezes

desagradáveis e quando estão próximas de centros urbanos, as legislações

obrigam o empreendedor a constituir estes elementos. É possível observar na ETE

Norte em Brasília, uma barreira de odores voltada para o sul, com

aproximadamente 30 metros de altura, executada com bambus da espécie

Bambusa vulgaris vitata, cuja massa verde atua como um filtro bloqueando o ar

fétido do pátio de secagem de lodo proveniente do processo de tratamento.

Figura 15: Vista da barreira de vento e odores em bambu ao lado do pátio de secagem de lodo –

ETE Norte

É possível observar na figura 16 que a ETE Norte é cercada em sua face

sudoeste por uma barreira de vento e odores com eucalipto e a sudeste com

bambu. Foi observado em campo que a quantidade de indivíduos plantados para

formar a barreira é muito superior na área de eucalipto, portanto, a área utilizada

para se criar uma massa de folhagem densa capaz de impedir a proliferação de

odores foi menor para o bambu.

Page 33: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

33

Figura 16: Imagem das barreiras de vento, na esquerda de eucalipto e direita em bambu.

Sugere-se para tanto, que pesquisas neste campo sejam realizadas a

fim de determinar a eficiência das barreiras de vento e odores executadas com

bambu, pois a observação sugere que seja mais eficiente que a de eucalipto.

Um benefício que bode ser alcançado também na utilização destas

barreiras em bambu é a capacidade da gramínea de consumir parte do efluente

que infiltra no solo, pois, sua malha densa de raízes forma uma espécie de filtro

ao redor da fonte poluidora. Em uma ETE na cidade de Viradouro, estado de

São Paulo, um plantio de bambu atua como barreira de vento e odores tal

como na proteção do manancial ao lado da lagoa de tratamento (foto 17).

Page 34: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

34

Figura 17: Vista da barreira de vento e odores em ETE de Viradouro/SP

3.3.3 Venda de colmos

A venda de colmos de bambu se apresenta como a principal vantagem do

plantio para o tratamento de esgoto. Estudo realizado por M. A. dos R. PEREIRA na

Universidade UNESP determinou uma produtividade média de 1462 colmos

maduros por hectare/ano em uma plantação com espaçamento de 8 x 8m. Este

índice significa que uma touceira produz em média 10 colmos maduros por ano.

Em Brasília, muitos profissionais que executam obras em bambu compram

colmos maduros da espécie Dendrocalamus Giganteus em propriedades rurais,

principalmente na região de Brazlândia e Riacho Fundo. As matas de bambu foram

introduzidas por imigrantes Japoneses nos anos 70, sendo que muitas destas

encontra-se em plena produtividade. Os colmos são vendidos em média a R$ 10,00

a unidade, cabendo ao comprador providenciar sua retirada da touceira. Este valor

está bem acima do praticado em países como Colômbia, Peru e China, onde é

possível comprar colmos maduros por até R$ 3,00 a unidade, no entanto, como a

oferta de material no Brasil ainda é pequena, é compreensível que o preço praticado

seja bastante elevado.

Page 35: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

35

Figura 18: Colmos tratados vendidos em lojas de material de construção na Colômbia

Figura 19: Colmos tratados e esteiras de bambu vendidos em lojas de material de construção no Peru.

Deste modo, 01 hectare de Dendrocalamus Giganteus plantado com

espaçamento de 8 x 8 m e uma produtividade média de 1462 colmos maduros / ano

sendo vendido a R$ 10,00 o colmo, pode gerar uma receita em torno de R$

14.620,00/ano, um valor quase o dobro de culturas florestais como o eucalipto, cujo

lucro gira em torno de R$ 8.000,00 por hectare/ano. Se considerarmos o valor

praticado em países que a oferta de bambu é alta, ou seja, R$ 3,00 o colmo,

teremos um lucro de R$ 4.926,00 por hectare / ano.

Page 36: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

36

Plantios realizados na região de Goiânia e Distrito Federal demonstram que

um espaçamento de 6 x 6 m se apresentado pode ser adotado conservando todas

os benefícios de um espaçamento maior, com isso, é possível realizar um plantio

com 250 mudas por hectare, com uma produtividade média de 10 colmos por

touceira / ano, obtendo 2.500 colmos maduro / ano, ou seja, um lucro de R$

7.500,00 ano.

Uma grande vantagem do bambu em relação a outras culturas florestais é o

fato de não ser necessário realizar o replantio com freqüência, é possível observar

touceiras com mais de 50 anos com grande produtividade. A produtividade por

hectare também se encontra acima das principais espécies florestais (tabela 6)

Tabela 6 –Produtividade do bambu em relação ao Eucalipto e Pinus

Fonte: Associação Catarinense de Bambu

3.3.4 Crédito de Carbono

Além de todos os usos já conhecidos, o bambu é uma planta com grande

potencial de seqüestro de carbono, pois, seu crescimento rápido e sua perenidade

favorecem a armazenagem de uma grande quantidade de dióxido de carbono em

um curto espaço de tempo. A tabela 6 apresenta alguns dados de estocagem de

CO2 de alguns tipos de plantações onde é possível observar que o a plantação da

espécie de bambu do Gênero Phylostachys pubescens apresenta a maior

quantidade de CO2 estocado.

Page 37: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

37

Tabela 7- Estoque líquido anual de CO2 em diferentes tipos de plantação.

Fonte: Determinação das emissões e estoque de CO2 em uma plantação comercial de bambu, Netto at al. *Soma da produção líquida de carbono de cada parte da planta (tC/ha ano): 2,06 (folhas); 0.99 (ramos); 0.79 (galhos); 4.66 (colmos); 7.48 (rizomas; 16.7 t biomassa/ha ano x 0.448 fração de concentração de carbono) e 11.19 (raízes finas; 11.19 t biomassa

A tabela 8 mostra dados de um estudo realizado pela Universidade Paulista

em uma plantação comercial de Bambusa vulgaris na região nordeste do Brasil, de

propriedade do Grupo Itapagé, cuja produção da espécie é direcionada a fabricação

de papel e geração de energia. No estudo buscou-se determinar as emissões e

estoque de CO2 de todo o processo de cultivo até a sua utilização como matéria

prima.

A determinação das emissões e do estoque bruto de CO2 nas plantações

observou o período de implantação, adaptação e operação. Na implantação,

período de aproximadamente 3 anos, foram observadas questões como adubação,

calagem, roçagem do mato, e aplicação de formicida. No período de adaptação,

entre o 4º e o 10º ano, considerou-se a aplicação de fertilizantes, já a operação,

período de colheita intensa dos colmos que vai do 11º ao 25º ano, a utilização do

maquinário foi o principal item considerado em relação a emissão de CO2.

Page 38: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

38

A tabela 8 demonstra o balanço de CO2 na plantação de bambu

considerando dois cenários diferentes, o primeiro considera a permanência de toda

matéria orgânica, folhas e galhos, após a colheita dos colmos, já o segundo cenário

considera a retirada de toda parcela do horizonte “O” deixando na plantação apenas

a parte subterrânea.

Tabela 8: Balanço de CO2 na plantação de bambu, considerando os cenários Propostos

Implantação (Ano 1 ao 10)

1 Diesel e Lubrificantes 4.897 27

2 Trator (4x2) - Aço + Plástico/Borracha 16 >1

3 Maquinários Agrícolas - Aço + Plástico/Borracha 19 >1

4 Insumos

Formicida 4 > 1

Herbicida Round-up 58 > 1

Fertilizante - Hiperfosfato natural 426 2

Calcário 1000,00 >1 > 1

Calcário Dolomítico 1.150 6

Fertilizante 14-20-14 1.610 9

5 Veículos - Aço + Plástico/Borracha 29 > 1

6 Emissão de CO2 (Implantação) 8.209

7 Subsolo

Rizomas 29.926 10

Raízes Finas 44.752 15

8 Estoque de CO2 (Implantação) 74.678

Operação (Ano 11 ao 25)

9 Diesel e Lubrificantes 5.306 30

10 Trator (4x2) - Aço + Plástico/Borracha >1 > 1

11 Insumos

Fertilizante 14-20-14 4.293 24

12 Veículos - Aço + Plástico/Borracha 53 >1

13 Emissão de CO2 (Operação) 9.653

14 "Horizonte O"

Folhas 123.600 41

Folhas Grandes 59.400 19

Ramos 47.400 16

15 Estoque de CO2 (Operação) 230.400

16 TOTAL (Emissão/Estoque de CO2) 17.862 305.078 100 100

17 BALANÇO DE CO2 (Estoque - Liberado) 287.216

18 BALANÇO DE CO2 SEM "HORIZONTE O" 56.816

Item

Descrição

CO2

liberado

/

(kgCO2/

ha)

CO2

estocado

/

(kgCO2/

ha)

Percentu

al de CO2

liberado

/ (%)

Percentu

al de CO2

estocado

/ (%)

Fonte: Determinação das emissões e estoque de CO2 em uma plantação comercial de bambu,

Netto at al

Page 39: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

39

É possível observar que as maiores emissões de CO2 são provenientes dos

fertilizantes e do óleo diesel consumido nos equipamentos, portanto, a fim de

minimizar estas emissões, o estudo sugere a substituição do fertilizante por adubo

orgânico e do óleo diesel por biodiesel, esta constatação é favorável à disposição

controlada de efluentes domésticos em solo vegetado com bambu, pois, a carência

de fertilizantes da planta seria parcialmente ou totalmente suprida pelo esgoto

lançado em suas raízes.

Considerando que o principal objetivo do presente estudo de viabilidade é a o

tratamento do efluente em atendimento as normas ambientais, recomenda-se que

seja feito pelo menos a colheita de colmos maduros para sua utilização no local ou

para a venda a terceiros, deste modo, o Horizonte “O” não será utilizado para

queima ou qualquer outra destinação, tem-se então, um valor estimado de 69,147

tCO2/ha/ano estocados na plantação, e se considerarmos a não necessidade da

utilização de fertilizantes industrializados, este valor pode ser ainda maior.

Mesmo que o mercado de créditos de carbono ainda seja algo para o futuro,

contratos estão sendo firmados em várias partes do mundo. Segundo especialistas,

a Bolsa de Chicago calcula o valor de tonelada do carbono em torno de US$ 2,00,

isto significa um valor estimado de U$ 138,00 por hectare/ano em uma plantação de

bambu nos moldes da sugerida para a disposição de efluentes domésticos.

3.3.5 Utilização do material no local

A utilização dos colmos de bambu no próprio local se apresenta como um

importante fator que deve ser considerado na análise de viabilidade. Por exemplo,

no caso da implantação de uma estação de tratamento de esgoto com disposição

final em solo vegetado com bambu da espécie Dendrocalamus Giganteus, ou

Guadua angustifólia, após um tratamento secundário em reatores anaeróbios ou

filtros biológicos, temos um material de excelente qualidade e resistência, cujos

colmos maduros poderão ser destinados à construção de quiosques, gazebos,

pergolados, pontes, entre outras edificações para uso comum dentro das áreas de

lazer do condomínio.

Page 40: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

40

a) b)

c) d)

Figura 20: a – Gazebinho, Frederico Rosalino b - Parque De la Vida-Armenia, Colômbia, c – Jardim

Botânico, Colômbia, d – Playground, Celina Llerena

Outro uso de consumo interno seria a utilização pelos próprios condôminos

em suas casas, em bricolagem em geral, em cercas, móveis e outros artefatos que

a versatilidade do material proporciona.

Page 41: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

41

a) b)

c ) d)

Figura 21: a) Pergolado na entrada da residência, b) Suporte para vinho, c) poltrona, d) cama

O custo da utilização do bambu na própria residência é difícil de ser

mensurado, pois, o mesmo pode ser utilizado em substituição de diversos tipos de

madeira, de metal e até mesmo do plástico.

3.3.6 Marketing verde

Com a pressão mundial para que empreendimentos adotem práticas

sustentáveis com menor impacto ao meio ambiente, motivada principalmente pelas

mudanças climáticas ocasionados pelo aquecimento global e pala exaustão dos

recursos naturais, a população vem exigindo que os empreendimentos sejam

menos poluentes, consumam menos recursos e financiem práticas ambientalmente

saudáveis.

Page 42: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

42

Segundo estudos, só em 2009, as empresas brasileiras investiram cerca de 1

bilhão de dólares em projetos ligados ao meio ambiente, o que reforça a idéia de

que as empresas estão direcionando esforços para a geração de uma imagem

ecologicamente correta.

Para que uma empresa possa usufruir o marketing ambiental é necessário o

aporte de recursos destinados aos ativos ambientais. Os ativos ambientais são

investimentos que uma empresa destina à proteção, preservação e recuperação

ambiental, os quais, segundo (TEIXEIRA, 2000), deverão ser classificados em títulos

contábeis específicos, visualizados como investimento a médio e longo prazo. Com

isso, é possível que um sistema de tratamento de esgotos baseado em práticas de

reflorestamento, sustentabilidade e geração de renda, seja favorecido

financeiramente com os benefícios relacionados ao marketing ambiental que tal

sistema proporciona.

O bambu é visto por todo o mundo como um material que simboliza a

sustentabilidade, versatilidade e beleza, mesmo sendo desconhecida pela grande

maioria das pessoas as suas inúmeras formas de utilização. Deste modo, a adoção

de um sistema de tratamento associado ao cultivo de bambu pode se converter em

uma imagem ecologicamente correta, não só pelo plantio em si, mas por todos os

benefícios à comunidade que o material pode trazer.

3.4 VIABILIDADE ECONÔMICA DA ADOÇÃO SISTEMA DE

DISPOSIÇÃO DE EFLUENTE DOMÉSTICO PÓS-TRATADO EM SOLO

VEGETADO COM BAMBU.

Foram discutidos nos itens anteriores os diversos benefícios que um plantio

de bambu para fins comerciais pode trazer, tanto do ponto de vista social, na

geração de renda, beleza paisagística, sustentabilidade, entre outros benefícios,

quanto no econômico, venda de colmos, crédito de carbono e utilização do material

na construção de edificações no próprio local.

Page 43: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

43

Com isso, pretende-se a seguir, avaliar a viabilidade da utilização desta

tecnologia em substituição de tratamentos terciários convencionais, levando em

consideração os seguintes fatores:

Custo da implantação de sistema de disposição controlada de

efluente pós-tratado em solo vegetado com bambu;

Custo de um sistema convencional de tratamento terciário;

Custo de manutenção das soluções propostas;

Custo da terra em área rural no Distrito Federal;

Para o levantamento dos custos envolvidos na implantação de um sistema de

disposição controlada de efluente pós-tratado em solo vegetado com bambu será

considerado um sistema sem a necessidade de bombeamento, ou seja, todo o

sistema será por gravidade, com isso, os custos de energia elétrica não serão

contabilizados.

O tipo de sistema de disposição será a irrigação por irrigação subsuperficial,

e para efeito de estimativa, será adotado um sistema para atendimento a uma

população de 10.000 habitantes na região de Sobradinho, Distrito Federal, para

tanto temos os seguintes parâmetros:

a) Per capita de consumo: qc = 150 L/hab.dia;

b) Pessoas por família: 5 pessoas/família

c) Coeficiente do dia de maior consumo: K1 = 1,20

d) Coeficiente da hora de maior consumo: K2 = 1,50

e) Coeficiente de vazão mínima: K3 = 0,5

f) Coeficiente de retorno de esgoto: c = 0,80

g) Taxa de infiltração na rede e esgoto: i = 0,0002 L/s/m

Page 44: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

44

Com isso, temos uma vazão aproximada de 25 l/s de efluentes domésticos

direcionados à estação de tratamento de esgoto.

Estudos indicam que são necessários de 4 a 5 m²/hab de área plantada com

bambu para se garantir uma boa eficiência na remoção de nutrientes e DBO do

efluente lançado, de modo que o mesmo atinja a qualidade recomendada pela

legislação. É certo que ainda não temos estudos que determinem com maior

confiabilidade este parâmetro, principalmente em relação ao tipo de solo e clima

encontrado no Distrito Federal, em sua maioria de Latossolo Vermelho, o qual se

apresenta bastante argiloso.

Deste modo, para a população adotada de 10.000 habitantes temos uma

área aproximada de 5 ha, ou seja 50.000 mil metros quadrados de área plantada, o

que corresponde a 1.250 touceiras de bambu Dendrocalamus Giganteus. Para

tanto, os custos estimados para a implantação e manutenção deste sistema serão

detalhados posteriormente.

Considerando que a produtividade desta espécie após o sexto ano contado a

partir do plantio gira em torno de 2.500 colmos maduros por hectare plantado / ano,

deste modo temos aproximadamente 12.500 colmos maduros por ano disponíveis

no sistema.

3.4.1 Custo de Sistemas convencionais de tratamento terciário

As estações de tratamento de esgotos cujos sistemas contemplam nível

terciário de tratamento do efluente, geralmente têm como objetivo o atendimento a

resolução CONAMA 357, ou seja, a remoção suficiente de nutrientes tornando o

efluente adequado segundo os parâmetros exigidos pela classe em que o curso

d’água foi enquadrado.

No entanto, acredita-se que seja importante independentemente da classe

em que o curso d’água fora enquadrado, a adoção de sistema terciário para que

sejam preservados os cursos d’água de qualquer natureza, para que esta e as

futuras gerações possam usufruir deste recurso.

Page 45: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

45

No estudo realizado pela Companhia de Saneamento do Distrito Federal –

CAESB, denominado de Plano Diretor de Águas e Esgotos do Distrito Federal, um

dos tópicos estudados refere-se ao “Upgrade” de Estações de Tratamento de

Esgotos. O estudo visa avaliar os custos referentes à melhoria da eficiência de

Estações de Tratamento já construídas, cujos sistemas de tratamento contemplam

apenas o nível secundário, com a construção de processo de tratamento em nível

terciário, para tanto, foi elaborada uma curva de custos para a construção desta

unidade adicional, tal como para os custos de manutenção.

Figura 22: Custo de Upgrade” de Estações de Tratamento de Esgotos – Tratamento

Secundário para Terciário

Fonte: Plano Diretor de Águas e Esgotos do Distrito Federal

Os custos foram definidos a partir de dados reais da própria Companhia nas

diversas ETE`s em operação no Distrito Federal. Considerando a população

hipotética sugerida no item anterior de 10.000 habitantes e uma vazão aproximada

de 25 l/s de efluente doméstico, temos um custo de implantação estimado de R$

26.000 por l/s, ou seja, R$ 650.000,00.

Page 46: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

46

Este mesmo estudo indica também os custos de manutenção dos mesmos

sistemas terciários propostos. Para esta mesma vazão, o estudo indica um custo

médio de manutenção, custos fixos, pessoal, terceiros, entre outros e custos

variáveis, energia elétrica materiais e produtos químicos, de aproximadamente R$

8.500,00 por mês para a manutenção apenas do processo de tratamento terciário,

desconsiderando todo o tratamento secundário.

Figura 23: Custos Operacionais de Upgrade” de Estações de Tratamento de Esgotos – Tratamento

Secundário para Terciário

Fonte: Plano Diretor de Águas e Esgotos do Distrito Federal

3.4.2 Desinfecção com Ultravioleta

A CAESB recomenda que a disposição controlada no solo, de efluentes

domésticos pós-tratados em sistemas secundários, seja precedida de desinfecção.

O interesse na desinfecção dos esgotos é em função da crescente deterioração das

fontes de abastecimento de água para uso humano, tendo como objetivo destruir os

patogênicos entéricos, que podem estar presentes no efluente tratado, de modo a

preservar o lençol freático, as águas meteóricas que escorrem para os cursos

d’água e os profissionais responsáveis pela manutenção dos sistemas.

Page 47: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

47

A desinfecção do efluente pode se feita de diversas maneiras, sendo a

desinfecção com cloro a mais utilizada. Para o presente estudo será sugerido,

todavia, a utilização de sistema de desinfecção com radiação ultravioleta. A

desinfecção com radiação ultravioleta é um mecanismo físico, onde a energia

ultravioleta é absorvida pelos diferentes componentes orgânico-moleculares

essenciais ao funcionamento normal das células (HUFF et al, 1965). A ação

germicida da ultravioleta está relacionada a alterações estruturais do DNA das

células, interrompendo assim o processo de duplicação e conseqüentemente a sua

ploriferação.

Uma das vantagens deste sistema é a não utilização de produtos químicos e

por conseqüência não existe residual desinfetante no esgoto. Outra vantagem é a

operação dos reatores de desinfecção, é simples, e constitui basicamente na

limpeza das instalações e a verificação do funcionamento das lâmpadas,

substituindo quando necessário.

O custo estimado para a implantação de desinfecção por ultravioleta foi

determinado através de consulta a firma especializada na produção deste

equipamento, considerando além dos equipamentos, os custos de transporte,

seguro, obras civis e BDI é de aproximadamente R$ 29,00/ habitante.

Segundo SÔNIA (2007), o custo operacional médio de um sistema de

desinfecção por UV gira em torno de R$ 0,076/ m³ de esgoto já considerando mão

de obra, energia e manutenção.

3.4.3 Custo da terra

Para a implantação de uma Fazenda de bambu para a disposição do efluente

pós-tratado é necessário a aquisição de área, que apresente algumas

características básicas:

Sem vegetação nativa, ou seja, já desmatada;

Área de pasto, de preferência com capim;

Área que não seja de proteção, APP, Reserva Legal;

Page 48: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

48

Topografia adequada para a disposição do efluente por

gravidade;

O custo da terra em área rural na região do entorno do Distrito Federal,

segundo informações coletadas em imobiliárias gira em torno de R$ 30.000,00 a

50.000,00 o hectare de terra nua, ou seja, sem benfeitoria.

Para o sistema de disposição controlada em solo vegetado com bambu será

considerado uma área de 5 hectares, já para o sistema terciário, apenas 1 hectare é

suficiente.

3.4.4 Custo do sistema de disposição

O sistema de disposição que será sugerido para a análise de viabilidade será

o de infiltração sub-superficial por meio de tubulações tipo espinha de peixe. Este

sistema proporciona uma maior segurança sanitária, embora o efluente já tenha

passado por processo de desinfecção, deste modo, a área pode ser usada para fins

de lazer e a manutenção do sistema, poderá ser realizada sem maiores problemas.

No entanto o sistema de disposição deverá ser definido a partir de informações da

área a ser utilizada.

O custo do sistema de disposição sub-superficial será estimado a partir dos

parâmetros estimados considerando 1 hectare:

Espaçamento entre linhas ............................... 6 metros

Tubulação perfurada ........................................2.720 metros

Brita .................................................................. 150 m³

Manta geotêxtil Bidim OP-60 ............................ 8.704 m²

Para a estimativa de custo por hectare da implantação de um sistema de

irrigação sub-superficial, a partir dos parâmetros descritos acima, foram

considerados os preços de serviços fornecidos pela Caixa Econômica Federal por

meio do Sistema de Preços Custos e Índices com referência do mês de fevereiro de

2010. Temos então um custo estimado de R$ 125.000,00 por hectare.

Page 49: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

49

3.4.5 Custo do plantio

O plantio do bambu envolve uma série de custos entre insumos e mão de

obra os quais são definidos a partir da análise de solo do local, contudo,

basearemos em experiências realizadas no sítio Bambuaçú, em Brazlândia, onde

foram plantados 1 hectare de bambu Dendrocalamus Giganteus e 0,5 ha de

Guadua Angustifolia, entre outras espécies em menor quantidade.

Para esta experiência, a EMATER de Brazlândia/DF foi consultada para

emitir um parecer das análises de solo realizadas no sítio Bambuaçú, e baseado em

informações existentes de plantios realizados em outros países, emitiu

recomendações de insumos a serem aplicados nas covas (tabela 9).

Tabela 9 - Recomendações de insumos para o plantio das mudas

RECOMENDAÇÕES DE INSUMOS

Adubação com calcário em plantio:

300g/cova

Adubação de plantio:

Fonte de N= 20L de esterco de curral / cova

Fonte de P= 150g/cova

Fonte de K= 150g/cova

Adubação de manutenção:

NPK= 20-05-20

Com isso, é apresentado na tabela 10, o custo estimado de insumos por

cova, baseado em preços praticados no Distrito Federal na data base de janeiro de

2010. Além dos insumos, serão adicionados; o custo da mão de obra da escavação

das covas, o plantio das mudas, envolvendo a mistura dos insumos no solo

escavado, o posicionamento da muda e a cobertura da mesma.

Page 50: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

50

O serviço de acero de 1 metro de diâmetro ao redor das covas tem como

finalidade a remoção de plantas oportunistas antes do plantio.

As mudas podem ser adquiridas no valor de R$ 10,00 para a espécie

Dendrocalamus Giganteus e R$ 5,00 para o Guadua Angustifolia.

Contudo, os custos envolvidos têm as seguintes proporções:

Tabela 10 – Custo de insumos por cova

Total de Covas 250

Insumo R $/c ova Total R $/ha

Calcário 0,56 140,00Esterco de gado 5,00 1.250,00Cloreto de Potássio 0,19 47,50SS 0,17 42,50M.O. escavação 3,00 750,00M.O Plantio e cobertura 1,00 250,00Mudas 10,00 2.500,00Acero com 1 m de diâmetro 2,00 500,00

R $ 5.480,00Total

3.4.6 Custo de manutenção

O custo de manutenção da plantação pode ser resumido apenas no custo do

manejo do bambu, ou seja, o corte dos colmos, o que envolve basicamente a mão

de obra, ocorrendo a partir do quarto ano. Os custos da aplicação de fertilizantes e

a irrigação são dispensados neste sistema, pois, o efluente disposto no solo se

encarregará de realizar a tarefa de fertilizar e irrigar as plantas.

Outro custo envolvido na manutenção do plantio refere-se às podas que

deverão ser feitas tanto nos bambus quanto no mato que crescerá entre as plantas.

A poda do mato pode ser um simples acero de 1 a 2 metros de raio em volta de

cada planta, ou também, além do acero, pode-se realizar a roçagem em toda a área

plantada a fim de se obter um ambiente agradável para o lazer.

Page 51: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

51

Quanto á poda das plantas, poderá ser realizado apenas a partir do quarto

ano após o plantio com a retirada de colmos maduros iniciando assim o manejo das

touceiras. A partir do sétimo ano após o plantio, inicia-se o corte comercial, deste

modo, os custos envolvidos nesta atividade não serão computados, pois, o custo

descrito anteriormente para a venda dos colmos maduros considera que o corte

será por conta do comprador das varas maduras, não computando, portanto, esta

atividade nos custos finais de manutenção.

Tabela 11 – Custo anual de manutenção das plantas

Total de Covas 250

Serviço R $/c ova Total R $/ha

Acero com 1 m de diâmetro 2,00 500,00Poda de plantas a partir do quarto ano

até o 7 ano10,00 2.500,00

R $ 3.000,00

Ano C us to anual

1 ano R $ 500,002 ano R $ 500,003 ano R $ 500,004 ano R $ 3.000,005 ano R $ 3.000,006 ano R $ 3.000,00

Total

3.4.7 Quadro comparativo de custos

Para verificarmos a viabilidade da utilização de um sistema de disposição de

efluentes domésticos pós-tratados em solo vegetado com bambu, como opção a

sistemas convencionais de tratamento terciário, serão sintetizados a seguir, todos

os custos envolvidos em um sistema desta natureza, considerando os parâmetros já

descritos anteriormente para uma população de 10.000 habitantes.

Com isso, os custos de implantação e manutenção serão avaliados

considerando o Valor presente líquido destes investimentos a uma taxa de 12% ao

ano em 20 anos de projeto sem considerar a necessidade de ampliação do sistema.

Page 52: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

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Tabela 12 - Custos envolvidos na implantação de sistema Terciário Convencional

Sistema Terciário Convencional

Custos de implantação Valor (R$)

Aquisição da área R$ 50.000,00

Obras civis R$ 650.000,00

Desinfecção com Ultravioleta R$ 290.000,00

Total R$ 990.000,00

Custos de Manutenção

Manutenção do sistema Terciário /ano R$ 102.000,00

Manutenção Desinfecção com Ultravioleta /ano R$ 30.000,00

Total R$ 132.000,00

Tabela 13 - Custos envolvidos na implantação de sistema de disposição controlada em solo

vegetado com bambu

Sistema de disposição controlada em solo vegetado com bambu

Custo de implantação Valor (R$)

Aquisição da área R$ 200.000,00

Sistema de disposição sub-superficial R$ 625.000,00

Plantio de mudas R$ 5.480,00

Desinfecção com Ultravioleta R$ 290.000,00

Total R$ 1.120.480,00

Custos de Manutenção

Manutenção do sistema /ano R$ 3.000,00

Manutenção Desinfecção com Ultravioleta /ano R$ 30.000,00

Total R$ 33.000,00

Venda de colmos maduros

Venda de colmos / ano a partir do 6 ano R$ 7.500,00

Page 53: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

53

Os custo de manutenção do sistema com bambu é totalmente custeado pala

comercialização dos colmos maduros ocorrendo a partir do sexto ano após a

implantação do sistema, podendo ocorrer até mesmo uma arrecadação maior que

os custos de manutenção.

Tabela 14 - Comparativo de custos das alternativas

ANO Sistema Terciário

Convencional

Sistema de disposição

controlada em solo vegetado com

bambu

Ano 01 R$ 990.000,00 R$ 1.120.480,00

Ano 02 R$ 132.000,00 R$ 33.000,00

Ano 03 R$ 132.000,00 R$ 33.000,00

Ano 04 R$ 132.000,00 R$ 33.000,00

Ano 05 R$ 132.000,00 R$ 33.000,00

Ano 06 R$ 132.000,00 R$ 33.000,00

Ano 07 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 08 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 09 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 10 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 11 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 12 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 13 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 14 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 15 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 16 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 17 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 18 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 19 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 20 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

Ano 21 R$ 132.000,00 -R$ 4.500,00

VPL R$ 1.764.255,86 R$ 1.091.113,05

Page 54: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

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4 CONCLUSÃO

O estudo teve como objetivo apenas uma avaliação, em ordem de grandeza,

da alternativa de disposição controlada de efluentes domésticos pós-tratados em

solo vegetado com bambu, pois são parcos os estudos disponíveis que abrangem o

assunto de forma prática, principalmente de estudos em nível de Brasil, o que

dificulta, portanto, um dimensionamento mais preciso dos custos envolvidos e ainda

a real efetividade do sistema considerando fatores como o clima e o solo.

Entretanto, nota-se no estudo, que a viabilidade desta alternativa se dá ao

longo do tempo, quando se inicia a comercialização de colmos maduros, onde o

montante destinado à manutenção do sistema passa a ser custeado pela receita

advinda da venda do material, restando ainda uma pequena quantia. Se

considerarmos os outros benefícios descritos no item 2.4, os quais são mais difíceis

de mensurar, é possível se obter um ganho ainda maior para a sociedade como um

todo.

È certo que o principal empecilho para a adoção desta alternativa é o custo

da terra em áreas urbanas, e considerando que a área necessária para esta

tecnologia é superior a de sistemas convencionais, a aquisição da área para a

implantação das fazendas de bambu demanda valores que oneram

substancialmente o custo de implantação do sistema.

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5 RECOMENDAÇÕES

A falta de informações sobre o tema deve ser suprida por meio de estudos

científicos, deste modo, a partir de observações constatadas durante a elaboração

deste estudo, é possível indicar alguns pontos que deveram ser estudados mais

profundamente a fim de verificar a viabilidade da proposta, entre eles podemos citar:

Melhor espécie a ser adotada em cada região;

Capacidade de carga de efluentes das espécies estudadas;

Capacidade de tratamento, remoção de nutrientes, patógenos,

metais peados e carga orgânica;

Melhor forma de disposição do efluente considerando a

permeabilidade do solo o uso e ocupação da área plantada;

Determinação de espaçamentos para o plantio;

Estudo de potencial de mercado consumidor; e

Melhoramento genético;

Contudo, sistemas que apresentam maior sustentabilidade do ponto de vista

econômico e ambiental devem ser cada vez mais adotados, seguindo a corrente

mundial onde o desenvolvimento de sistemas que demandem menor consumo

energético, favoreçam a conservação dos recursos naturais e emitam menores

quantidades de Gases de Efeito Estufa – GEE em seus processos é colocado como

premissa para o desenvolvimento de novos projetos e exigido a empreendimentos

que se encontram em desacordo com esta necessidade do mundial.

Page 56: Trata Efluentes Solo Veg Bambu

56

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