Então venha nos conhecer. Venha até nosso Mosteiro que aqui o nosso chamado se torna real.
Traços de Personalidade e Liderança Estratégica · 2020. 6. 8. · Por fim, ao maior de todos,...
Transcript of Traços de Personalidade e Liderança Estratégica · 2020. 6. 8. · Por fim, ao maior de todos,...
Traços de Personalidade e Liderança Estratégica
presentes na trajetória militar de generais do Exército
Brasileiro
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Cel Art ROGÉRIO DE AMORIM GONÇALVES
Rio de Janeiro
2020
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
INSTITUTO MEIRA MATTOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MILITARES
ROGÉRIO DE AMORIM GONÇALVES
Traços de personalidade e liderança estratégica presentes na trajetória militar de generais do
Exército Brasileiro
Projeto de Pesquisa apresentado à Banca de
Mestrado em Ciências Militares do Instituto
Meira Mattos de Estudos Políticos e
Estratégicos da Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército.
Orientadora: Mariana Montez Carpes
Rio de Janeiro
2020
G635t Gonçalves, Rogério de Amorim.
Traços de personalidade e liderança estratégica presentes na trajetória
militar de Generais do Exército Brasileiro. / Rogério De Amorim Gonçalves. 一2020.
111 f. : il. ; 30 cm.
Orientação: Mariana Montez Carpes
Dissertação (Mestrado em Ciências Militares)一Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2020. Bibliografia: f. 97-100.
1. GENERAIS DE EXÉRCITO. 2. GSI/PR. 3. LIDERANÇA ESTRATÉGICA.
I. Título.
CDD 355.6
AGRADECIMENTOS
Pela trajetória que percorri até chegar aqui, preciso começar agradecendo as três
pessoas que de fato possibilitaram tudo isso: minha orientadora, professora Mariana Montez
Carpes e meus professores Carlos Frederico e Guilherme Dias. Reconheço o apoio constante
e incondicional, devo a conclusão da minha pesquisa a eles, em especial à Mariana, pelas
idas e vindas de revisões de projeto, banca que qualificação e defesa do trabalho,
disponibilização de livros e artigos e por acreditar em mim até o final. Aos três, Mariana,
Carlos Frederico e Guilherme Dias: Muitíssimo grato!
À minha família, pelo carinho e paciência dedicados. Minha sogra Beatriz, minha
amada esposa Fátima e as minhas estimadas filhas Ana Beatriz e Vanessa.
Aos Srs generais Cardoso, Felix, Elito, Etchegoyen (antigo Cmt ECEME) e Heleno
pela fidalguia com que me receberam em suas residências e no próprio Planalto-DF para a
realização das entrevistas e coleta de fontes primárias de suas trajetórias militares.
Aos professores Sandro Teixeira - amigo de trabalho -, Tassio do PPG/CM da
ECEME e José Luiz pelas diversas orientações em diferentes momentos da minha pesquisa.
Todos eles sempre com ótimas ideias e sugestões.
Às tenentes da ECEME, Bárbara e Bruna, pelo apoio constante nos assuntos de seus
domínios, que muito contribuíram para a qualidade do meu trabalho.
Ao PPG/CM da ECEME, na pessoa do seu chefe, coronel De Franciscis, pelos
auxílios concedidos para a conclusão deste trabalho.
Por fim, ao maior de todos, nosso pai eterno, nosso Deus, que nos ilumina e nos
coloca no rumo dos caminhos do bem, com amor ao próximo com muita humildade.
RESUMO
O presente trabalho estuda as trajetórias militares dos Generais de Exército Alberto Cardoso,
Armando Felix, José Elito, Sergio Etchegoyen e Augusto Heleno. Não obstante fazerem
parte do Alto Comando do Exército (ACE) em suas respectivas épocas, a partir da
redemocratização, ou seja, preparados para atuarem em cenários de conflitos de natureza
militar, foram escolhidos para a condição de líderes estratégicos na esfera civil, passando a
ocupar cargos ministeriais no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República (GSI/PR). Verifica-se nesta pesquisa que, na escolha de profissionais militares
para a assunção de cargos ministeriais, levaram-se em conta, a despeito dos elementos
exógenos, de caráter político, os aspectos endógenos, relacionados à trajetória militar. Os
perfis e atributos dos cinco oficiais foram estudados e coletados com base nos traços de
personalidade e no exercício da liderança estratégica. A pesquisa empírica engloba estudo de
casos e comparação focada e estruturada dos generais. Nas considerações finais, mostram-se
os traços e atributos comuns para generalização desses casos.
Palavras-chave: Generais de Exército, GSI/PR, Personalidade, Liderança Estratégica.
ABSTRACT
The present work studies the military careers of Army Generals Alberto Cardoso, Armando
Felix, José Elito, Sergio Etchegoyen and Augusto Heleno. Regardless of being part of the
Brazilian Army High Command (ACE), in their respective times, from the re-
democratization period on, which means being prepared to act in military conflict scenarios,
they were chosen to be strategic leaders in the civil sphere, having taking minister positions,
in the Institutional Security Office of the Presidency of the Republic (GSI / PR). This research
verified that, despite the exogenous elements of political character, the choice of military
professionals to hold the position of State ministers was made on the basis of endogenous
aspects of their military careers. The collection and study of five profiles and attributes were
based on the traits of their personality and on the exercise of strategic leadership. The
empirical research encompasses case studies and focused and structured comparison of the
generals. The final considerations show the common features and attributes for generalizing
these cases.
Keywords: Army Generals, GSI / PR, Personality, Strategic Leadership
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Formas de Liderança ............................................................ p. 27
Figura 2: Proporção entre as formas de liderança ................................ p. 29
Figura 3: Dimensões consolidadas ...................................................... p. 90
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACE – Alto Comando do Exército
AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras
APA - Associação Americana de Psicologia
BFP – Bateria Fatorial de Personalidade
BIG FIVE - Grande Cinco
CAEM – Curso de Altos Estudos Militares
CComSEx – Centro de Comunicação Social do Exército
CCFEx – Centro de Capacitação Física do Exército
CEBW - Comissão do Exército Brasileiro em Washington
CGF – Cinco Grande Fatores
CMRJ - Colégio Militar do Rio de Janeiro
CPEAEx – Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército
DEC – Departamento de Engenharia e Construção
DGP – Departamento Geral do Pessoal
EASA – Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas
ECEME – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
EME – Estado-Maior do Exército
EsACosAe – Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea
EsAO – Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
EsPCEx – Escola Preparatória de Cadetes do Exército
EUA – Estados Unidos da América
FEB - Força Expedicionária Brasileira
1º GAAAe – Primeiro Grupo de Artilharia Antiaérea
Gab Cmt Ex – Gabinete do Comandante do Exército
GSI/PR - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República
MINUSTAH - Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti
OCEAN – Opening, Conscientiousness, Extroversion, Affection e Neuroticism
OM - Organização Militar
ONU - Organização das Nações Unidas
OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte
PT – Process Tracing
PC – Posto de Comando
Sumário do trabalho
Introdução ................................................................................................................................ 10
Cap 1. Discussão Conceitual ...... ..............................................................................................21
1.1 Traços de personalidade ........................................................................................................21
1.2 Liderança Estratégica.............................................................................................................25
Cap 2. Estudo de caso do general Cardoso..............................................................................32
2.1 Traços de Personalidade........................................................................................................ 32
2.2 Liderança Estratégica ........................................................................................................... 35
Cap 3. Estudo de caso do general Felix................................................................................... 44
3.1 Traços de Personalidade........................................................................................................ 44
3.2 Liderança Estratégica ............................................................................................................46
Cap 4. Estudo de caso do general Elito ...................................................................................54
4.1 Traços de Personalidade ........................................................................................................54
4.2 Liderança Estratégica............................................................................................................ 56
Cap 5. Estudo de caso do general Etchegoyen..........................................................................61
5.1 Traços de Personalidade.........................................................................................................61
5.2 Liderança Estratégica.............................................................................................................62
Cap 6. Estudo de caso do general Heleno..................................................................................72
6.1 Traços de Personalidade.........................................................................................................72
6.2 Liderança Estratégica.............................................................................................................73
Cap 7. Comparação estruturada e focada dos casos................................................................83
7.1 Análise dos dados dos traços de Personalidade .....................................................................83
7.2 Análise dos atributos da Liderança Estratégica......................................................................90
Considerações Finais................................................................................................................. 95
Referências ................................................................................................................................ 97
Anexo A: Quadros .................................................................................................................. 101
Anexo B: Cronograma ............................................................................................................105
Anexo C: Perguntas de entrevistas ....................................................................................... 106
Anexo D: Autorizações ............................................................................................................107
10
INTRODUÇÃO
Segundo Clausewitz (2010), “a guerra é a continuação da política por outros meios”.
Trata-se de um dos maiores teóricos de guerra e da estratégia, desde o século XIX. O general
Carl Von Clausewitz (1780-1831) é visto como um dos principais teóricos do pensamento
militar moderno. Suas teorias nos conduziram aos primeiros ensaios da guerra como um
objeto da política de Estado, a partir de suas experiências com as guerras da Revolução
Francesa e com Napoleão Bonaparte (1769-1821). Clausewitz (2010) assinala a importância
da subordinação do estamento militar ao estamento político, tendo como atores específicos
para assumir parte de suas teorias.
Considerada a guerra como a continuação da política, como definida por Clausewitz
(2010), a presente pesquisa assume tal pressuposto na compreensão de como oficiais-
generais do Exército Brasileiro ascenderam ao cargo de Ministro de Estado Chefe do
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR). Em tal acepção,
partindo da ideia do fenômeno da guerra como parte do universo que compõe a política e do
alargamento do entendimento sobre a guerra em fins do século XX e no século XXI, percebe-
se tal movimento na política brasileira, de generais assumindo cargos ministeriais como algo
natural, face as demandas crescentes ligadas à segurança nacional dos Estados na presente
época.
Voltando-se para o caso específico do Brasil, verifica-se uma relação entre os dois
estamentos já mencionados, mesmo em tempo de paz. Nesse sentido, na ausência da guerra,
o Brasil agregou no tempo de paz, desde o surgimento da República, estes dois atores: o
Executivo Federal (Política) e os militares. Assim, chega-se ao problema do presente
trabalho: Por quais razões, dentro de um universo pertencente ao Alto Comando do Exército
(ACE), generais foram alçados para o cargo de Ministro – Chefe do GSI/PR?
Este trabalho trata de compreender a trajetória dos generais Alberto Cardoso,
Armando Felix, José Elito, Sergio Etchegoyen e Augusto Heleno, todos generais do Exército
e que, a despeito das carreiras eminentemente militares, foram alçados à condição de líderes
estratégicos na esfera civil, ocupando cargos ministeriais no Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República 1.
1 O cargo de ministro do GSI/PR é de inteira confiança do presidente da República e tem as seguintes funções:
responsável pela segurança do presidente e vice-presidente — incluindo familiares, palácios e residências
oficiais dos dois; controla a Segurança das Informações sigilosas (em negociações de acordos entre o Brasil e
outros países, por exemplo) e o sistema eletrônico usado na estrutura do governo federal; assessora o presidente
em assuntos militares diversos, como combate ao terrorismo e temas aeroespaciais e antidrogas; faz o
11
O histórico de criação do GSI/PR remonta do governo do Presidente Getúlio
Dornelles Vargas (empossado pela Revolução de 1930, na qualidade de Chefe do Governo
Provisório), sendo criado o Estado-Maior do Governo Provisório. Em seguida, após a eleição
indireta, na forma do art. 1º das Disposições Transitórias da Constituição de 16 de junho de
1934, o Governo e o Estado-Maior, que eram provisórios, foram efetivados. Em 1938, foi
criado o Gabinete Militar, pelo Decreto-lei nº 920, 01 de dezembro. Posteriormente, a Lei nº
6.036, de 01 de maio de 1974, deu ao chefe do Gabinete Militar a condição de Ministro de
Estado. O Decreto nº 92.614, de 02 de maio de 1986, consolidou e aprovou o Regimento dos
Gabinetes da Presidência da República, em que se incluiu o Gabinete Militar. A Lei nº 8.028,
de 12 de abril de 1990, extinguiu o cargo de Ministro de Estado Chefe; e no art. 26, item II,
foi criado o cargo de natureza especial de Chefe do Gabinete Militar. Na evolução dessa
pasta, por meio da Medida Provisória (MP) 309, de 19 de outubro de 1992, convertida na Lei
8.490/92 - DO de 19 de novembro de 1992, art. 1º, passou o Gabinete Militar a chamar-se
Casa Militar: no art. 23, criou-se o cargo de Ministro de Estado da Casa Militar da Presidência
da República, que passou a ter status de Ministro de Estado, art. 14, parágrafo único
(GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL, 2020)
Pela Medida Provisória (MP) nº 1.911-10, de 24 de setembro de 1999, que altera
dispositivos da Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998, a Casa Militar passou a chamar-se
Gabinete de Segurança Institucional: no art. 24-A, criou-se o cargo de Ministro-Chefe do
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Na sequência ainda, pela
Medida Provisória nº 696, de 02 de outubro de 2015 (extingue e transforma cargos públicos
e altera a Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência
da República e dos Ministérios), passou o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
da República a chamar-se Casa Militar. No art. 54, criou-se o cargo de Chefe da Casa Militar
da Presidência da República. Finalmente, nos dias atuais, pela Medida Provisória (MP) nº
726, de 12 de maio de 2016, que altera e revoga dispositivos da Lei nº 10.683, de 28 de maio
de 2003, foi extinta a Casa Militar da Presidência da República e criado o Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República. No art. 5º, foi criado o Cargo de
Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República (GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL, 2020).
Vale ressaltar que não é parte deste trabalho um estudo sobre os aspectos exógenos
dos casos escolhidos, tais como a política, que levaram à nomeação desses generais para os
aconselhamento ao presidente da República na área de Segurança Nacional; controla a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), tendo em vista possíveis ameaças ao Brasil e à sua soberania nacional (como atentados ou
ataques cibernéticos ao governo, por exemplo). Esse ministério, ainda, defende o Programa Nuclear Brasileiro,
acompanhando as construções.
12
cargos civis. Este trabalho foca, exclusivamente, os elementos aqui considerados como
endógenos: os traços de personalidade e o exercício da liderança estratégica.
Quanto aos traços de personalidade dos cinco generais escolhidos para o estudo, é
interessante ter noção básica da psicologia militar e buscar o entendimento de como os
militares reagiram às diferentes situações dos ambientes operacionais de guerra, finalidade
precípua para todos, incluindo, dessa forma, os generais desta pesquisa que saíram do
ambiente militar para o político no Poder Executivo Federal. Kennedy e Zilmer (2009)
consideram que os novos desafios colocados aos militares, bem como o panorama do campo
da psicologia militar, mudaram, exigindo novas capacidades e elevado grau de cultura geral
para o exercício da função na política.
Em relação ao exercício da liderança estratégica, é importante elucidar que, desde a
formação de oficiais combatentes do Exército praticado na Academia Militar das Agulhas
Negras (AMAN), o tema liderança é abordado na AMAN, a partir do seu nível mais básico
- a liderança direta. Essa Escola fundamenta a formação dos futuros oficiais no integral
desenvolvimento da pessoa, atuando nos domínios afetivos, psicomotores e cognitivos.
Merecem atenção especial dos cadetes a aquisição de competências profissionais e o
desenvolvimento de sólidos atributos de liderança. Em continuação à trajetória militar, o
tema liderança prossegue sendo desenvolvido e estudado nas Escolas, passando pela Escola
de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), já como capitães, preparando-os para assumirem
funções de chefia e liderança até o escalão de comando de Batalhão/Regimento/Grupo.
Nos cursos de Altos Estudos Militares (CAEM), na Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército (ECEME), o tema liderança está colocado como uma das disciplinas dos
cursos que funcionam naquele estabelecimento de ensino. O curso considerado de mais alto
nível da ECEME é o curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército
(CPEAEx), realizado por coronéis. Nele se estuda a liderança estratégica, último estágio da
liderança ministrada aos futuros generais e assessores de alto nível do Exército, Ministério
da Defesa e Poder Executivo.
Como antecedentes à atuação dos militares na política, verifica-se que ela encontra
raízes históricas a partir do surgimento do Brasil como país independente, tendo importantes
líderes militares orbitado na política nacional. A exemplo, tem-se o patrono do Exército
Brasileiro Luís Alves de Lima e Silva – o Duque de Caxias. Segundo Carvalho (1976), sua
atuação política ocorreu como Senador pela Província do Rio Grande do Sul, em 1865, como
Ministro da Guerra, em 1855 e na presidência do Conselho, em 1861. Do Império em diante,
a participação dos militares na política continuou pela República até os dias atuais.
13
Essa explicação se faz necessária no sentido de se compreender atuação militar na
política ao longo de toda a história do Brasil. Barbosa et al. (2018) abordam que os militares
participaram da vida política do País e seguem atuantes. Ao recordar fatos históricos entre a
independência do País e o período da redemocratização, percebeu-se que a conjuntura
nacional foi permeada pela influência dos militares nas instituições públicas e civis. Portanto,
verifica-se que a participação de militares na política não se constitui em um fato novo,
observando-se que a partir do período de redemocratização há uma continuidade na escolha
de generais de Exército para cargos ministeriais, especificamente no GSI/PR, conforme
mostram os quadros do Anexo A.
Com isso em mente, o presente trabalho trata do estudo de caso aplicado a cinco
oficiais-generais do Exército Brasileiro, estudando-se os elementos dos traços da
personalidade e do exercício da liderança estratégica que estiveram presentes na trajetória
militar dos generais Cardoso, Felix, Elito, Etchegoyen e Heleno. Tais capacidades os levaram
às posições que ocuparam ou ocupam em cargo ministerial do Poder Executivo. Essa
pesquisa se faz à luz de um diálogo entre as teorias da personalidade e do exercício da
liderança, em sua faceta estratégica.
A fim de possibilitar o cumprimento do objetivo geral deste trabalho, foram
elaborados os seguintes objetivos específicos: a) identificar os elementos de traços de
personalidade e de liderança estratégica presentes no general Cardoso; b) identificar os
elementos de traços de personalidade e de liderança estratégica presentes no general Felix;
c) identificar os elementos de traços de personalidade e de liderança estratégica presentes no
general Elito; d) identificar os elementos de traços de personalidade e de liderança estratégica
presentes no general Etchegoyen; e) identificar os elementos de traços de personalidade e de
liderança estratégica presentes no general Heleno e f) verificar as similaridades entre os casos
a partir da comparação focada e estruturada desses casos.
Quanto à metodologia, o presente trabalho desenvolve-se sob a ótica qualitativa,
conforme evidenciam Hernández, Fernández e Baptista (2010). Assim, se busca entender o
pensamento subjetivo da realidade de um caso no tocante aos traços de personalidade e de
liderança estratégica de generais de Exército como atores. Além disso, o estudo desses casos
é feito de forma empírica para identificar os atributos dos participantes, com os quais se
tratará de extrair e compreender a realidade, que tem um foco subjetivo.
O estudo e os resultados, por sua vez, serão tão claros quanto possíveis, acrescidos da
aplicação do teste de personalidade (Big Five), entrevistas semiestruturadas e pesquisa em
assentamentos primários (alterações de oficiais) dos atores do presente trabalho. Em relação
ao desenho da pesquisa qualitativa, Hernández, Fernández e Baptista (2010) oferecem uma
14
das variadas tipologias dos desenhos qualitativos no processo indutivo, o desenho narrativo,
que é o que pode ser aplicado ao presente trabalho. Da mesma forma, Mertens (2015)
elaborou 24 (vinte e quatro) maneiras de pesquisas qualitativas, como as nomeia, sendo uma
delas o estudo de caso com narrativa histórica. Mertens (2005) ainda relaciona os estudos
narrativos em: de tópicos (focados em uma temática, evento ou fenômeno) e autobiográficos
(de uma pessoa, grupo ou comunidade incluindo testemunhos orais "ao vivo" dos atores
participantes).
Pelo descrito anteriormente, o desenho de narrativa histórica de tópico será utilizado,
tendo em vista que o objeto desta pesquisa está direcionado ao estudo de caso de generais de
Exército. Com a mesma ideia, Creswell (2012) os planeja como procedimentos de pesquisa
qualitativa para descrever, estudar e interpretar os padrões compartilhados de comportamento
de um grupo cultural, cujo desenvolvimento se dá com a trajetória percorrida dos atores
escolhidos para esta pesquisa. Creswell (2012) relaciona o estudo de caso com a análise de
uma pessoa, grupo de pessoas específicas (indivíduos), evento, atividade ou processo dentro
de uma perspectiva cultural; uma exploração de um sistema delimitado por tempo e lugar,
baseado numa coleta ampla de dados.
No presente trabalho, o estudo de caso será sobre o estudo da trajetória militar nos
contextos dos traços de personalidade e na liderança estratégica, aplicado a cinco oficiais-
generais escolhidos, a saber: general Cardoso atuou nos dois governos de Fernando Henrique
Cardoso – de 1995 a 2002; general Felix nos dois governos de Luiz Inácio Lula, de 2003 a
2011; general Elito, no governo de Dilma Russeff, de 2012 a 2015; general Etchegoyen, no
governo de Michel Temer de 2016 a 2019; e general Heleno no atual governo de Jair
Bolsonaro. Todos esses ocuparam ou ocupando o cargo de Ministro do GSI/PR. Acrescenta-
se que a escolha para o estudo de caso desta dissertação seguiu os seguintes critérios: a)
Serem generais escolhidos pelos seus respectivos presidentes, (portanto, não foram eleitos
pelo voto) e (serem cargos do Poder Executivo Federal); b) foram aplicados os aspectos
endógenos no estudo de suas narrativas históricas; c) São generais que estão vivos e residindo
no eixo Rio-Brasília-Salvador; e por último, d) todos eles são oficiais-generais de Exército,
último posto de promoção em tempo de paz.
Com a técnica de Estudo de Caso definida no presente trabalho, o passo seguinte
voltou-se para a escolha do método, a saber, o Process Trancig (rastreamento de processo).
No caso deste trabalho, cinco oficiais-generais escolhidos como atores para o Estudo de Caso
são estudados conforme suas trajetórias históricas, com base em narrativas históricas
presentes em uma das formas de Process Tracing (PT). Como usado em psicologia, o PT
refere-se a técnicas para examinar as etapas intermediárias em processos mentais cognitivos
15
para entender melhor as heurísticas de como humanos tomam decisões.
George e Bennett (2005) mostram as variedades de PT, iniciando pela narrativa
detalhada. A variedade mais simples de PT toma a forma de uma narrativa detalhada ou
histórica, apresentada na forma de uma crônica que pretende esclarecer como um evento
surgiu. Tal narrativa é altamente específica e não faz uso explícito de variáveis relacionadas
à teoria. As crônicas históricas são um exemplo familiar do que é, na melhor das hipóteses,
um tipo de trajetória processual implícita. Deve-se notar, no entanto, que os relatos narrativos
não são desprovidos de valor.
Cada um dos atores será estudado na sua trajetória, com base nos traços de suas
personalidades, no contexto em que eles viveram, e no aproveitamento das oportunidades
com as quais se depararam até ocuparem os cargos ministeriais do Poder Executivo Federal,
com um capítulo para cada um dos atores escolhidos.
Quanto ao tema da narrativa, se o objetivo geral é estudar quais os elementos dos
traços da personalidade e da liderança estratégica estão presentes na trajetória militar de
generais que assumiram posições em cargos ministeriais do Poder Executivo, é fundamental
contar essa história, bem como identificar o que os atores podem contribuir sobre o assunto.
Isso foi realizado por meio da presente pesquisa. As seguintes descrições da narrativa nos
possibilitarão conceituá-la, definir seus limites, perceber o momento de empregá-la e
inclusive diferenciá-la de outras aproximações. George e Bennett (2005) reproduzem a
narrativa como uma forma mais simples de rastreamento de processo, nomeando-a como
narrativa especificada, que evidencia a história na forma de uma narração peculiar que
pretende esclarecer como um fato surgiu.
Salgado (2007) acrescenta que os desenhos narrativos podem relacionar-se a toda a
história da vida de uma pessoa ou grupo, a uma passagem ou época da dita história de vida
ou a um ou vários episódios ou eventos. No mesmo sentido, pode-se citar Webster e Mertova
(2007), que descrevem que a investigação narrativa é definida pelas experimentações das
trajetórias das pessoas, e que dá embasamento aos pesquisadores para vasta conformação,
por meio da qual eles podem pesquisar as formas pelas quais as pessoas trabalham o mundo
representado por meio de suas histórias.
Para Webster e Mertova (2007), o tratamento da pesquisa narrativa tem a
possibilidade de concentrar-se em fatos críticos da vida e, ao mesmo tempo, explorar visões
globalizantes. Assim, possui rico potencial para pesquisadores em um amplo conjunto de
setores de aprendizagem. Creswell (2012) define como uma alternativa literária de pesquisa
qualitativa com importantes vínculos com a literatura, no qual é possível desenvolver de
forma literária e persuasiva. O autor declara, ainda, que a narrativa se aplica quando as
16
histórias contadas seguem uma sequência de fatos dentro de um espaço temporal da história.
Hernández, Fernández e Baptista (2010) afirmam que é constantemente empregada quando
o objetivo é mensurar uma sequência de ocorrências, possibilitando uma mensagem
detalhada que permite, mediante um desenho narrativo, perceber os eventos e as
contribuições do indivíduo, sendo importante o período em que eles participam da trajetória
enquadrada pelo problema, e o espaço onde eles aconteceram.
Salgado (2007) mostra que nos desenhos narrativos, o pesquisador junta os dados
sobre histórias de vida de determinadas pessoas para serem descritas, estudadas e em seguida
representadas, dando importância maior às experiências e ao entorno onde forem
desenvolvidas. Nas palavras de Hernández, Fernández e Baptista (2010) diversas indagações
são analisadas: trajetória de vida, eventos; o lugar da pessoa, ou das ocorrências; as
interações, a sequência de eventos e os resultados. Nesse processo, o pesquisador remonta a
história quase sempre na sequência do tempo.
Para Salgado (2007) a narrativa deve estudar a história dos atores, evento ou
acontecimento, o espaço quando suscitam os fatos, os diálogos, a sequência dos eventos e os
resultados, para depois reconstruir a história seguindo no tempo. Logo após, é narrada.
Representando essas histórias pelo pesquisador, estuda-se sob a base das evidências
disponíveis e se identifica categorias e temas emergentes nos dados narrativos, que vem das
histórias descritas, dos documentos (assentamentos primários das carreiras dos generais),
transcrições de entrevistas e da própria narrativa do pesquisador, fruto do questionário de
perguntas elaboradas para os atores do estudo de caso. Esses dados foram obtidos de
autobiografias, entrevistas, documentos e testes de personalidade (Big Five) nos cinco
generais de Exército.
Apoiando a aplicação do PT nesta pesquisa, este pesquisador também se vale da
técnica de entrevista que, segundo define Gil (1987), é uma técnica em que o investigador se
apresenta frente aos investigados, no caso deste trabalho, os cinco atores escolhidos, e lhes
formula perguntas com o objetivo de obter dados que interessem à investigação (traços de
personalidade e exercício da liderança estratégica). A entrevista é, portanto, uma forma de
interação social. Mais especificamente, uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das
partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação, no caso, os cinco
oficiais-generais de Exército escolhidos.
A entrevista semiestruturada e focada é utilizada para se obter aspectos endógenos
presentes que possam contribuir para o resultado dessa pesquisa, isto é, quando o
entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que
considere adequada.
17
Finalizando a aplicação da metodologia na presente pesquisa, após os capítulos de
estudos de casos, consta o capítulo 7 (sete) que se referem à comparação estruturada e focada
no sentido de se levantar possíveis generalizações entre seus atores (generais). George e
Bennett (2005) abordam o método e a lógica da comparação estruturada e focada simples e
direta. O método é estruturado, na medida em que o pesquisador escreve assuntos gerais que
refletem o objetivo da pesquisa e que esses assuntos são solicitados em cada caso em estudo
para orientar e centralizar a coleta e análise de dados, que no caso dessa pesquisa direcionam-
se para os traços de personalidade e para os atributos de liderança estratégica, possibilitando
a comparação e acumulação sistemática dos perfis revelados dos casos.
O método é focado, na medida em que lida objetivamente para certos aspectos dos
casos históricos estudados, trazendo para o presente trabalho aspectos da trajetória militar
dos generais envolvidos - aspectos endógenos. Os parâmetros de estrutura e foco aplicam-se
igualmente a casos individuais, uma vez que posteriormente podem ser agregados a casos
adicionais em futuros trabalhos. Contextualizando para essa pesquisa, pretende-se sugerir o
estudo dos generais que foram ministros da Defesa, interventores federais e estaduais. O
método foi desenvolvido para estudar a experiência histórica de maneira que permitem o
conhecimento genérico útil da trajetória militar dos generais. O desafio específico foi estudar
fatores como a hereditariedade, classe social, contexto das oportunidades, perguntas sobre
liderança estratégica, liderados e o ambiente situacional, de maneira a envolver as
explicações de cada caso de um fenômeno em particular para a generalização mais complexa
do exterior.
Inicialmente, o pesquisador deve escolher claramente o universo – ou seja, a “classe”
ou “subclasse” de eventos – da qual um grupo de casos a serem estudados são referências.
Aplicando essa metodologia neste trabalho, verifica-se que o universo (classe de eventos)
são generais de Exército pertencentes ao Alto Comando do Exército. Assim, todos os casos
em um determinado estudo devem ser modelos, por exemplo, de apenas um fenômeno:
dissuasão, diplomacia coercitiva, gerenciamento de crises, formação de alianças, término de
guerra, o impacto da política doméstica na formulação de políticas, a importância da
personalidade na tomada de decisão ou qualquer outra coisa que o investigador deseje estudar
e generalizar sobre. Trazendo essa discussão teórica dos exemplos acima como modelo, esta
pesquisa adota como fenômeno a ocupação de cargo de Ministro-Chefe do GSI/PR pelos
generais escolhidos como atores do estudo de caso.
A identificação da classe de eventos para qualquer estudo depende do problema
escolhido para o estudo, conforme objetivo de pesquisa bem definido e planejamento de
pesquisa apropriada para atingir esse objetivo, que devem orientar a seleção e estudo de casos
18
dentro da classe do fenômeno sob investigação. Os casos não devem ser escolhidos
simplesmente porque são “interessantes” ou porque existem dados suficientes para estudá-
los. Os estudos de caso devem empregar ferramentas de interesse teórico para fins de
explicação. Isso deve incluir informações que forneçam alguma relação para os formuladores
de políticas que lhes permitam influenciar na comparação dos dados estudados.
O dispositivo importante de formular um conjunto de perguntas gerais focadas e
padronizadas a serem feitas nos atores dos casos, só terá valor se essas questões forem
embasadas à perspectiva teórica e aos objetivos de pesquisa do estudo. Da mesma forma, um
foco teórico escolhido para o estudo será ser inadequado por si próprio, a menos que seja
associado a um conjunto relevante de perguntas gerais fundamentadas. Em estudos de casos
comparativos, a estrutura e o foco são mais fáceis de obter, se um único pesquisador não
apenas planejar o estudo, mas também conduzir todos os estudos de caso. Portanto, alinhado
com essa teoria de comparação focada e estruturada, esta pesquisa está esquematizada por
um único pesquisador, com perguntas padronizadas para todos os cinco generais do estudo
de caso, com o objetivo de coleta e análise de informações direcionadas para os traços de
personalidade e para o desenvolvimento da liderança estratégica. Consolidando todos esses
dados, o capítulo subsequente é o de comparação dos casos com o objetivo de levantarem-se
possíveis generalizações que possam sugerir, ou não, que tais traços de personalidade e de
atributos de liderança estratégica presentes em generais-de-exército os qualificarão para
ocuparem o cargo de ministro-chefe do GSI/PR.
A trajetória militar é o itinerário formativo a ser estudado, sendo que a explicação de
evidências será acompanhada com a escolha de indicadores/condicionantes como
hereditariedade, desempenho escolar militar, origem de classe social, conhecimento
profissional, inteligência emocional, cultura geral, cursos civis realizados, escolas militares
que os atores serviram e missões realizadas no exterior. Nesse trabalho de pesquisa alguns
aspectos serão observados e considerados como parte da cadeia narrativa de explicações,
conforme o PT, tendo como referência o estudo da personalidade e o exercício da liderança
estratégica dos atores do estudo de caso, o contexto e as oportunidades existentes de ter esses
militares ocupando cargos políticos no Poder Executivo Federal.
As respostas que se procuram têm sua origem nos atores que participaram desse
evento, de forma que a narrativa possibilitará uma transição entre as trajetórias dessas pessoas
e os documentos, além dos testes de personalidades (Big Five) e sua contextualização por
parte do autor da pesquisa, para chegar à realidade histórica e responder a questão-problema
que faz parte dessa pesquisa.
As características do trabalho narrativo, segundo Webster e Mertova (2007), são a
19
experiência humana, a transmissão do conhecimento e o entendimento de uma realidade.
Porém, Creswell (2012) considera ainda as experiências individuais (interações sociais e
pessoais), a cronologia das experiências, as trajetórias de vida. Existem formas alternativas
de esquematizar a narrativa e alguns dos autores deixam essa responsabilidade ao
pesquisador, para atuar independentemente dentro de premissas que permitam caracterizar
que o desenho narrativo está sendo mais adequado. Identificam-se cinco fatores: O contexto
é a situação específica da trajetória, acrescida por elementos como locais, tempo e
características. O pesquisador pode escolher os atores por meio de suas personalidades,
comportamentos ou padrões. As ações são os movimentos (atuações) dos indivíduos na
história, como o pensamento específico ou o comportamento que ocorre durante a trajetória.
O problema representa as questões ou preocupações que surgem durante a história ou os
fenômenos que precisam ser descritos ou estudados. E a resolução é o resultado de abordar
o problema: a resposta a uma pergunta. Finalmente, pode envolver uma explicação sobre o
que causou a mudança do personagem na história.
A pesquisa foi dividida, em uma primeira parte, para construir a discussão teórica e,
em seguida, os capítulos incluindo sequencialmente os generais escolhidos como atores do
estudo de caso. Cada general participante dos casos foi entrevistado em mais de uma ocasião,
forneceu assentamentos de sua trajetória militar, ao longo de quase 40 anos de serviço militar,
além do teste de personalidade (Big Five), que foi aplicado a cada um deles por um oficial
formado em psicologia, autorizado e com a competência de fazer essa aplicação nos generais
envolvidos no estudo de caso. Com essas ferramentas, este pesquisador identificará os
atributos relacionados aos traços de personalidade e da liderança estratégica para estruturar
o contexto e a narrativa da história, dos capítulos II ao VI. Por fim, o estudo dos resultados
da literatura e a identificação dos dados empíricos permitem a elaboração das considerações
finais do presente trabalho.
Com a intenção de se chegar ao objetivo selecionado para esta pesquisa, este trabalho
está constituído por sete capítulos, além desta introdução, destinada à apresentação do
desenho de pesquisa e da metodologia. No capítulo I, intitulado DISCUSSÃO
CONCEITUAL, pretende-se explicar os delineamentos com foco nos traços de personalidade
e de liderança estratégica dos cinco generais de Exército que vão compor os estudos de casos,
partindo-se de um estudo e de debate conceitual das principais definições e suas relações
sobre duas questões principais: personalidade e liderança. Dessa maneira, busca-se o estudo
da trajetória militar vivida pelos autores do presente trabalho, por aproximadamente quarenta
anos de serviço militar. Ao final dessas carreiras, os referidos generais foram chamados a
ocupar cargos do Executivo Federal, a despeito de suas carreiras serem eminentemente
20
militares. Este capítulo compõe a discussão teórica, que ampara o desenvolvimento da
pesquisa apresentada nos capítulos posteriores. Os capítulos II, III, IV, V e VI referem-se aos
ESTUDOS DE CASOS dos generais Cardoso, Felix, Elito, Etchegoyen e Heleno, quanto aos
traços de personalidade e de liderança estratégica. O capítulo VII mostra a COMPARAÇÃO
ESTRUTURADA E FOCADA dos casos empíricos escolhidos.
Finalizando, as CONSIDERAÇÕES FINAIS mostram o que foi identificado
empiricamente quanto aos traços de personalidade e da liderança, em sua tipificação
estratégica, por meio do estudo de caso, utilizando os generais-de-exército.
21
CAP. 1 DISCUSSÃO CONCEITUAL
1.1 Traços de Personalidade
No campo da psicologia, é importante salientar as pesquisas realizadas, pois indicam
caminhos imprescindíveis para a investigação proposta, no que se refere ao estudo da
personalidade (indivíduo), visto que, tal estudo marca o traço psicológico das autoridades
escolhidas para o estudo de caso do presente trabalho. Woodworth e Marquis (1959)
apresentam um estudo amplo da psicologia e passam pelos assuntos que interessam a essa
pesquisa, como o estudo do indivíduo (personalidade), em especial os fatores sociais da
personalidade, assim como a hereditariedade e o meio (ambiente social).
No que se referem à personalidade, os autores acima mencionados afirmam:
Se um amigo, ao candidatar-se a algum cargo, oferecer nosso nome como fonte de
informação será provavelmente solicitado a declarar o que sabemos sobre a
capacidade e experiência do candidato, bem como sobre sua personalidade. Ao
responder declaramos tão conscienciosamente quanto possamos que o indivíduo
em questão tem personalidade agradável mais enérgica; é ativo e persistente, mas
bem-humorado e emocionalmente equilibrado; tem confiança em si, sem ser
egoísta e, em trabalhos grupais, coopera satisfatoriamente com os outros membros. Existem inúmeros adjetivos que podem ser empregados para caracterizar certa
personalidade, e essas qualidades são realmente importantes quanto a atuação do
indivíduo em seu trabalho, à vida em família e todas as formas de relações sociais.
(WOODWORTH E MARQUIS, 1959, p. 107)
Em relação aos traços de personalidade, um dos componentes selecionados para o
estudo de caso dos cinco atores escolhidos no presente trabalho, verifica-se a visão de
Woodworth e Marquis (1959), que descrevem que o psicólogo identifica os traços mais
importantes do indivíduo, como o humor e a confiança em si mesmo. A personalidade total
seria a soma desses traços, mas certa qualidade total, uma como unidade característica. Por
exemplo: certo indivíduo não é simplesmente bem-humorado e confiante – é alegremente
confiante, enquanto o outro é dependente. Cada indivíduo tem seu próprio estilo ou
qualidade, apenas genericamente caracterizada pela enumeração de seus traços. Fadiman e
Frager (1986) abordam a psicologia individual e afirmam que o melhor lugar para o homem
é a sociedade e encontraram na filosofia holística uma confirmação para muitas de suas
próprias ideias, bem como uma base filosófica importante para a psicologia individual.
Fadiman e Frager (1986) enfatizam quanto ao objetivo de vida, citando o objetivo de
dominar o meio ambiente como sendo abstrato para satisfazer a necessidade da vida. Assim,
cada indivíduo desenvolve um objetivo de vida mais específico que funciona como centro de
22
realização. O objetivo de vida de cada indivíduo é influenciado por experiências
profissionais, valores, atitudes e personalidade. Trazendo esse pensamento para o presente
trabalho, observa-se que pode ser aplicado na carreira militar dos militares escolhidos para o
estudo de caso.
Já Gemelli e Zunini (1962) aprofundam o conceito de personalidade, a fim de buscar
a origem da expressão “personalidade” nas línguas clássicas, nas quais designava a máscara
dos atores. Por metáfora, passou a indicar a pessoa do ator, seja quando representa
determinado papel, seja enquanto se apresenta com determinado tipo. Entre os significados
extremos - a máscara, aparência em substância, e a característica individual, substância
considerada sem a sua aparência – há uma série quase infinita de gradações e especificações.
Em relação aos fatores da personalidade, Gemelli e Zunini (1962) concluíram que,
para produzir a personalidade humana, entram em jogo várias ordens de fatores. Não
obstante, convém precisar quais são esses fatores, para ilustrar como de sua averiguação, se
pode chegar ao diagnóstico da personalidade. São orgânicos e psíquicos tais fatores; não
bastam para explicar-nos a personalidade; é preciso reconhecer a influência do ambiente,
concebido principalmente como relação social e relação interindividual, que atua
determinando, como reação, modificações das maneiras de apresentar-se da personalidade.
Rápido exame dos citados fatores nos mostrará como deve efetuar-se o exame da
personalidade, mas principalmente nos levará a compenetrar-nos de seu significado biológico
e psicológico.
Importante destacar que para o estudo da personalidade dos atores escolhidos foi
pesquisado e decidida a aplicação da Bateria Fatorial de Personalidade (BFP). Segundo
Nunes (2010), um instrumento psicológico construído para avaliação da personalidade, a
partir do modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF), tem como dimensões a Extroversão, a
Socialização, a Realização, o Neuroticismo e a Abertura a experiências. Essa bateria de testes
foi desenvolvida no Brasil, levando em conta o linguajar no país, os valores culturais, as
diversidades regionais e especificidades dos quadros clínicos na realidade brasileira. Além
desses aspectos apontados, verifica-se que as dimensões presentes no BFP se alinham com
importantes atributos que o líder estratégico deve possuir.
A Personalidade é uma soma de características que inclui todos os traços, virtudes,
defeitos e peculiaridades que diferem uma pessoa de todas as outras. Para a psicologia, no
entanto, o conceito de personalidade é um pouco mais complexo do que isso. A definição
entendida por alguns pesquisadores pode não ser idêntica ao difundido pela Associação
Americana de Psicologia (APA), que classifica a personalidade como as diferenças
individuais nos padrões característicos de pensamento, sensação e comportamento. Qualquer
23
alteração nessas conceituações é capaz de impactar a maneira como a personalidade de uma
pessoa é vista e entendida. Todos os pesquisadores da psicologia, no entanto, devem
concordar com um detalhe: a personalidade exerce uma grande influência no cotidiano de
cada um de nós. Em relação à teoria dos traços, verificou-se que em 1936, o psicólogo Allport
(1961) encontrou um dicionário que continha mais de 4.000 palavras para explicar diferentes
traços de personalidade. Ele decidiu classificar todos esses princípios em três partes, como
se vê a seguir.
A primeira delas são os traços cardeais, que são definidos como as particularidades
que inspiram a personalidade de uma pessoa de tal forma, a ponto de tornar-se a pessoa
conhecida especificamente por esses traços. Inclusive, alguns personagens históricos são tão
conhecidos pelos traços cardeais que tiveram seus nomes associados a determinadas
características (maquiavélico, narcisista, Don Juan, etc.). Allport (1961) sugere que esses
traços são raros e tendem a ser desenvolvidos ao longo da vida.
Em segundo, vêm os traços centrais, que são identificados com características gerais,
que mesmo sem serem tão marcantes quanto os traços cardeais, também formam as noções
básicas da personalidade. Assim, são as principais qualidades que se pode utilizar para
reproduzir a personalidade de outra pessoa. Termos como criativo, honesto, tímido e
tranquilo são exemplos de traços centrais.
Por último, aparecem os traços secundários, que são aqueles traços de personalidade
que não são muito notórios por estarem associados às atitudes ou preferências. Eles
normalmente aparecem apenas em situações específicas. O exemplo está nas pessoas que são
aparentemente calmas e equilibradas, mas que se sentem ansiosas quando falam em público
ou tornam-se impacientes enquanto esperam em uma longa fila. O teórico Cattell (1965)
aproveitou o trabalho de Allport (1961) para reduzir o número de traços de personalidade de
sua lista (de 4.500 para apenas 171). Ele fez isso, principalmente, cruzando as suas principais
características comuns. Em seguida, Cattell (1965) ordenou grande amostra de pessoas com
esses novos traços diferentes. Usando uma técnica estatística, identificou os termos mais
convergentes e conseguiu reduzir sua lista para apenas 16 características-chave da
personalidade. Segundo ele, esses traços são a fonte de todas as personalidades humanas. Ele
também criou uma das avaliações de personalidade mais conhecidas atualmente,
chamada “questionário de 16 fatores de personalidade” ou “16PF”.
A teoria de Cattell (1965) tem sido motivo de muitas pesquisas na área da psicologia.
Isso conduziu alguns pesquisadores a crer que Cattell (1965) se concentrou em traços demais,
enquanto Allport (1961) focou em poucos. Tudo isso aliado às descobertas realizadas por
eles originou nova teoria mais sintética, que abrangia cinco traços de personalidade. Esse
24
resultado ficou conhecido como “teoria dos traços da personalidade”, “teoria do grande
cinco” ou apenas “Big Five”. O estudo característico da personalidade, nesse caso, é
constituído pela combinação de diversos traços, convergindo para uma identidade única para
cada indivíduo. A teoria dos traços de personalidade é, então, focada na identificação e
mensuração de todas essas características da personalidade individual. O Modelo dos Cinco
Grandes Fatores é muito utilizado pela Psicologia Cognitiva e Cognitivo-Comportamental e
fornecem uma visão geral da personalidade humana, tomando como base cinco dimensões,
dependendo do autor. Esse modelo é consagrado com a sigla: OCEAN do inglês, adaptado
para o português como: Abertura, Conscienciosidade, Extroversão, Simpatia e Neuroticismo.
A primeira delas é a Abertura (Opening) a novas experiências (também chamada às
vezes de “intelecto” ou “imaginação”), que diz respeito à energia e vontade de um indivíduo
para experimentar o novo, arriscar, sair da zona de conforto e “pensar fora da caixa”. Os
traços mais comuns relacionados à abertura estão nas pessoas imaginativas, originais,
criativas, curiosas, ecléticas e intelectuais. Um indivíduo que possui grande abertura é
provavelmente alguém que gosta de aprender, tem interesse pelas artes e se engaja em uma
carreira ou hobby criativo. Na outra ponta da escala, encontram-se os ordeiros, que preferem
a rotina à variedade e tem senso apurado sobre o que é “certo” e “errado” para si mesmo e a
sociedade.
O segundo traço, a Conscienciosidade (Conscientiousness) (não confundir com
“consciência”!) é uma dimensão que pode ser descrita como a tendência de controlar
impulsos e agir de maneira socialmente aceitável. Trata-se de características que facilitam o
alcance de metas e objetivos pessoais. As pessoas desse grupo destacam-se por sua boa
capacidade para seguir regras, planejar e organizar-se de forma eficaz. As pessoas que
apresentam alto nível de conscienciosidade geralmente também são persistentes, ambiciosas,
disciplinadas, confiáveis, previsíveis e enérgicas as pessoas que já possuem esse traço
dominante provavelmente serão bem-sucedidas nos estudos e em suas carreiras. Elas são
propícias a se destacarem em posições de liderança e a perseguir seus objetivos com
determinação. Quem tem baixa conscienciosidade, entretanto, é muito mais propenso a
procrastinar e ser impetuoso ou impulsivo.
O terceiro traço é a Extroversão (Extroversion), dimensão que possui duas
extremidades: a extroversão e a introversão. A extroversão diz respeito ao indivíduo que se
energiza por meio da interação com os outros, enquanto os introvertidos tendem a se cansar
com essa atividade e necessitam de um pouco mais de solidão para “recarregar” as energias.
As pessoas com traços associados a altos níveis de extroversão podem ser sociáveis,
assertivas, falantes e amigáveis.
25
O quarto traço é a Simpatia (Affection), fator que diz respeito ao bom relacionamento
das pessoas com os outros. Enquanto a extroversão é mais focada na busca de interações, a
simpatia é uma construção que se baseia em como essas interações acontecem. Sendo assim,
é totalmente possível ser introvertido e simpático ao mesmo tempo. As pessoas que
manifestam esse tipo de traço tendem a ser confiáveis, pacientes, polidas, sensíveis e
atenciosas. Muitos pontos de simpatia indicam pessoas com poucos inimigos, respeitadas e
sensíveis às necessidades dos outros. Por outro lado, as pessoas na extremidade baixa desse
espectro são menos propensas à popularidade, sendo mais retraídas e egocêntricas.
O quinto traço, Neuroticismo (Neuroticism), é a única dimensão do Big Five que
indica traços mais negativos. Não se trata de um fator de maldade ou incompetência, mas um
indicador de insegurança e falta de autoconfiança. Abrange a estabilidade emocional e o
temperamento geral. As pessoas que manifestam esses traços geralmente são pessimistas,
ansiosas, tímidas, inseguras e muito autocríticas. Os indivíduos que pontuam no extremo
inferior do neuroticismo são mais propensos a se sentirem confiantes, de fácil trato e
aventureiros. Eles também tendem a ser corajosos ou despreocupados devido ao seu
otimismo nato.
Quanto à abordagem da teoria dos traços de Personalidade, a maioria dos teóricos e
psicólogos concorda que as pessoas podem ser muito bem descritas com base apenas em seus
traços de personalidade. No entanto, muitos continuam a debater sobre o número de
dimensões que compõem a personalidade humana.
A teoria ajuda a identificar tendências de características e habilidades de um
indivíduo. Algumas das críticas mais comuns feitas à teoria dos traços de personalidade
devem-se justamente ao fato de que as dimensões frequentemente não são preditoras exatas.
Isso significa que, enquanto um indivíduo puder marcar uma alta pontuação nas avaliações
de um traço específico, ele nem sempre apresentará os traços descritos em todas as situações.
1.2 Liderança estratégica
Para autores como Vieira (2002), Bennis (1998), Jacob e Jaques (1990), liderança
estratégica se define por meio dos traços de personalidade de cada indivíduo. Vieira (2002)
define liderança como o processo de influenciar, para além do que seria possível por meio do
uso exclusivo da autoridade investida, o comportamento humano com vista ao cumprimento
das finalidades, metas e objetivos concebidos e prescritos pelo líder organizacional
26
designado. Segundo Bennis (1998), liderança é o que dá a uma organização sua visão e
capacidade para transformar essa visão em realidade. Já para Rauch e Behling (1984),
liderança é o processo de influenciar as atividades de um grupo organizado em direção à
realização de um objetivo. Para Jacobs e Jaques (1998) liderança é o processo de dar
propósito (direção significativa) ao esforço coletivo e provocar o desejo de despender este
esforço para se atingir o objetivo.
No pensamento de Bergamini (1994), em grande parte das definições de liderança é
comum a presença de dois elementos-chave: a liderança como um aspecto de grupo no qual
os traços de um determinado indivíduo acabam por colocá-lo em evidência; e a liderança
como influência, baseada na capacidade de um indivíduo de captar seguidores para aquilo
que ele define com meta.
Insere-se nesta discussão sobre liderança estratégica Drucker (2.000). Cidadão
sempre adiantado ao seu tempo, incluiu nos negócios o conceito de descentralização – na
década de 40. Nos dias atuais, esse método é um modelo para qualquer grande organização
no cenário mundial. Ele também modificou a forma que os líderes observavam os servidores.
Até os anos 50, um funcionário era visto como uma pessoa passiva, e não ativa. Nessa mesma
década, Drucker (2.000) inovou com a ideia de grupo, como comunidade humana. Tal fato
causou transformações profundas nas organizações e alterou a maneira como todos os
membros se enxergavam. A confiança e o respeito pelo empregado passaram a ser elementos
fundamentais para o crescimento. Empresas descartaram a visão de um servidor como
máquina utilizada para o lucro. O impacto dessa ideia no Japão fez com que Drucker tivesse
um reconhecimento quase de um deus.
Nos anos 60, Drucker defendeu a tese de que a substância do negócio é muito mais
importante que o estilo. Ele ainda afirmou que práticas institucionalizadas têm mais resultado
do que a influência de um líder carismático. Isso se tornou um fato óbvio com o passar do
tempo, quando as empresas começaram a adotar essa sistemática.
Durante os anos 70, muita inovação surgiu no meio empresarial. Uma delas foi a
importância que as empresas passaram a dar por trabalhadores capacitados. E, mais uma vez,
foi Drucker quem chamou a atenção para esse fato. Ele afirmou que um profissional com
conhecimento triunfa sobre a matéria-prima. Peter Drucker demonstrou como essa visão era
primordial para fazer frente a nova forma que a economia passara a ter. Mesmo sendo um
escritor sobre administração, o pensamento de Drucker (2.000) pode ser aproveitado também
no estamento militar, no que se refere à liderança estratégica, conforme abaixo:
Todos os líderes eficazes que encontrei – tanto aqueles com quem trabalhei como
aqueles a quem apenas observei – sabiam quatro coisas simples:
27
1. A única definição de líder é alguém que possui seguidores. Algumas pessoas são
pensadoras. Outras, profetas. Os dois papéis são importantes e muito necessários.
Mas, sem seguidores, não podem existir líderes.
2. Um líder eficaz não é alguém amado e admirado. É alguém cujos seguidores
fazem as coisas certas. Popularidade não é liderança. Resultados sim.
3. Os líderes são bastante visíveis. Portanto, servem de exemplo.
4. Liderança não quer dizer posição, privilégios, títulos ou dinheiro. Significa
responsabilidade. (DRUCKER, 2000, p. 11-12)
A liderança estratégica é uma das componentes selecionadas para fazer parte dos
estudos de casos dos cinco generais-de-exército escolhidos como atores. Antes de abordar
essa tipificação de liderança, faz-se necessário entender que o exercício da liderança
estratégica é considerado como o nível mais alto da liderança.
Segundo o Manual C20-10 (2011), a liderança militar é exercida basicamente de duas
formas: a direta e a indireta, conforme figura abaixo:
Figura 1: Formas de Liderança
Fonte: Manual de Liderança Militar (C20-10)
Segundo o Manual C20-10 (2011), a liderança, no nível de comando estratégico é
exercida pelos responsáveis por conduzir os destinos do Exército Brasileiro (EB). O
comandante militar preconiza a estrutura desejada, planeja a alocação de recursos
financeiros, comunica a sua visão estratégica, guia as mudanças pertinentes, age em ambiente
de incerteza e complexidade, interage com outras agências das diversas estruturas de poder,
toma decisões que envolvem grande número de pessoas, negocia com agentes externos e,
jamais, perde de vista os valores e crenças que são muito caros para a Instituição.
28
As competências desejáveis para os líderes estratégicos não são constantes; muito
pelo contrário, elas devem acompanhar o momento vigente para atender aos novos desafios
dos ambientes interno e externo do EB. Nem sempre são necessárias novas competências.
Muitas vezes, o que modifica é o grau de interesse de algumas em relação às outras. Para os
líderes estratégicos, independentemente das variações situacionais, há certos valores,
particularmente aqueles ligados à formação moral, ao caráter, à ética e ao pundonor militar,
que são basilares, ou seja, não há qualquer tipo de dúvida, eliminação ou diminuição de
importância (por exemplo: honestidade, lealdade, integridade, dentre outros). Esses valores
são perenes e constituem o pilar sobre o qual se desenvolverão as competências específicas
necessárias para o desempenho da liderança no nível estratégico.
Ainda, segundo o Manual C20-10 (2011), o líder militar, no nível estratégico, deve
saber conduzir os demais líderes subordinados. Para isso, deve ser exemplo de firmeza ao
tomar decisões, assumindo uma atitude que mostre seu caráter marcante, além de ser capaz
de convencer outras pessoas em relação a suas assertivas. Assim, para influenciar, o líder
deve possuir duas características essenciais: a habilidade de argumentação e a capacidade de
entusiasmar. A habilidade argumentativa utiliza a coerência, a lógica e o uso de dados
concretos como elementos de persuasão para convencer pessoas na aceitação de sua lógica
de argumentação. Por outro lado, a característica de entusiasmar influi no ânimo nas pessoas,
fazendo com que se sintam motivadas. Essa característica do líder, que o torna capaz de fazer-
se influente, deve ter como alvo a interação de suas motivações com os valores, desejos e
ideias das pessoas, ampliando a relação de confiança mútua e a sensação de bem-estar nesse
intercâmbio.
Assim, alguns valores e competências passam a ter maior relevância como
qualidades dos líderes militares nesse nível, tais como: a competência profissional, a
capacidade de estabelecer visão de futuro, a coragem moral, a capacidade de negociação, o
comprometimento, o senso de justiça, a direção, o caráter, a iniciativa, a visão estratégica, a
responsabilidade, a integridade, a honestidade de propósitos, a dedicação e a firmeza de
princípios.
Acrescenta-se, ainda, que é importante inserir outras competências às capacidades do
líder militar no nível estratégico, destacando-se a fixação e estreitamento de relacionamentos
funcionais externos, o conhecimento das expressões política e social, o relacionamento
interpessoal, a visão prospectiva, a persuasão estratégica, a capacidade de comunicação, a
flexibilidade para mudanças e a transformação dos desafios em ações estratégicas. No nível
estratégico, o líder militar deve estar motivado, ainda, para acumular conhecimentos nos
ramos da Geopolítica, da História Militar, da Administração, da Gestão Empresarial, da
29
Gestão de Recursos Humanos, das Relações Internacionais, dentre outras. Tais
conhecimentos servirão de apoio e, ao mesmo tempo, de aprimoramento de competências
importantes, tais como a argumentação, a persuasão, a comunicação e, em última instância,
a competência profissional, todas fundamentais para o exercício eficaz da liderança
estratégica nos mais altos níveis do EB, no Ministério da Defesa (MD) e, ainda, no nível
executivo federal.
No entanto, ainda que o líder, nesse nível de comando, utilize-se predominantemente
da liderança indireta, ele também deverá adotar a liderança direta. No contato com os seus
subordinados diretos (assessores, comandantes de organizações de mais alto nível, dentre
outros), essa forma de liderança estará muito presente. Em relação aos subordinados mais
afastados, o líder deverá buscar, sempre que possível, criar oportunidades de, ainda que
esporadicamente, exercer a liderança direta sobre parcela sensível de seus subordinados,
buscando fortalecer os laços de liderança estabelecidos de forma indireta. A figura 2 ilustra
a variação da proporção usada de duas formas de liderança, conforme varia o nível de
comando. Pode-se verificar que quanto mais alto o nível, ou mesmo o escalão, mais será
exercida a liderança indireta e menos a direta.
Figura 2: Proporção entre as Formas de Liderança e os Níveis de Comando
Fonte: Manual de Liderança Militar (C20-10)
Cardoso (2014) assinala as competências que um líder estratégico deve possuir
para levar sua organização ao sucesso, tais como: competência conceitual (marco de
referência, gerenciamento de problemas, visualizar o futuro), competência técnica
(pensamento sistêmico, capacidade interinstitucional, habilidade política e social) e
competência interpessoal (construção de consenso, negociação e comunicação). Júnior
30
(2017) faz importante destaque quanto à disciplina de liderança estratégica ministrada na
ECEME para todos os cursos regulares que funcionam anualmente.
Quanto à Liderança Estratégica e à estruturação da equipe, Júnior (2017) faz
importante abordagem dentro da definição e complexidade do exercício da liderança
estratégica. A equipe do líder estratégico, dependendo do nível que exercerá sua liderança,
será composta por elementos de segmentos da sociedade, sejam eles militares e/ou civis
dotados de diferentes capacidades, de maneira que a multidisciplinaridade da equipe traga a
diversidade adequada para a formulação criteriosa de cenários ou mesmo o somatório de
informações, dados e opiniões necessárias para a construção do assessoramento oportuno e
qualitativo ao comandante/chefe que receberá tal demanda. Para que a equipe de trabalho do
líder estratégico assuma essa configuração, como objetivo a ser atingido por este assunto em
estudo, esse líder deverá possuir a capacidade de identificar elementos-chave para compor
seu grupo ou mesmo identificar virtudes e capacidades naqueles componentes disponíveis,
sendo capaz de dividir as tarefas de sua equipe de trabalho de acordo com a
capacidade/aptidões de cada integrante.
Gonçalves (2005) compara a liderança militar com a empresarial, chegando à
conclusão de que existem aspectos semelhantes e dessemelhantes quanto à aplicação da
liderança estratégica no desenvolvimento para selecionar futuros chefes/diretores/gerentes.
Observa-se que, apesar de os perfis apresentados mostrarem diferenças, não há como deixar
de reconhecer que diversos aspectos de um são aplicáveis no outro. Todo o ferramental de
atributos inatos que um determinado líder estratégico possua irá favorecê-lo, qualquer que
seja o campo de direção em que atue. Portanto, a grande similitude está na condição inata.
A ética é outra semelhança que aparece com frequência sempre que se abarca o
assunto Liderança. Líderes estratégicos que conduzem sem postura moral e fora de padrões
éticos, independentemente do campo em que atuam, terão dificuldade em conduzir seus
grupos. Carnegie (2012) questiona onde foram parar os líderes, por entender que falta
liderança em todas as principais instituições mundiais como governos, educação, negócios,
religião e artes. Em sua abordagem, coloca a crise que afeta a todos, em parte, porque muitas
dessas instituições vêm se reinventando.
O caráter estratégico da obra de Mandelli e Loriggio (2016) reforça que o papel do
líder estratégico tem caráter proativo, ou seja, deve estar à frente, assumindo para si
responsabilidades pela condução ao futuro, antecipando possibilidades e caminhos, sem
deixar que o atropelo do dia a dia atrapalhe essa condição. Acrescentam, ainda, que são os
maiores desafios que necessitam dos melhores talentos, além de inferir que o líder que desejar
31
resolver sozinho todos os problemas, acaba por não amadurecer a equipe. Portanto, o que o
gestor deve fazer é gerenciar pessoas e tirar delas o melhor que cada uma possa proporcionar.
Após realizar a discussão teórica da literatura que discorre sobre os traços da
personalidade e do exercício da liderança estratégica, a seguir serão apresentados os estudos
de caso envolvendo os cinco generais-de-exército, constituindo dessa forma a aplicação
empírica.
32
Cap. 2 Estudo de caso do general Alberto Cardoso
2.1 Quanto aos traços de personalidade
O teste BFP aplicado no general Cardoso revelou o seu perfil quanto ao fator
Neuroticismo, verificando-se inicialmente a Vulnerabilidade (N1). O resultado foi
considerado baixo com percentil = 15. Escores baixos nessa faceta sinalizam uma tendência
de a pessoa ser independente emocionalmente em relação às demais. A opinião dos outros e
a necessidade de agradá-los exercem pouca influência em suas ações e escolhas diárias. Em
sequência, o teste prossegue avaliando quanto à faceta Instabilidade (N2), que revela
percentil = 5, classificado como muito baixo, isto é, escores muito baixos indicam pessoas
que apresentam pouquíssimas variações de humor, que geralmente não tomam decisões de
forma impulsiva e que apresentam alta tolerância a frustrações. O próximo aspecto constante
da avaliação foi Passividade (N3), com percentil > 10, considerado como muito baixo.
Escores muito baixos nessa faceta indicam pessoas que costumam ser altamente proativas,
iniciam e concluem tarefas importantes e usualmente tomam decisões de maneira ágil.
Indivíduos com esse perfil apresentam forte motivação intrínseca para realizar seus planos,
sem precisar de estímulos ou auxílio externo para iniciar e levá-los adiante. Em razão do
índice muito baixo, os dados devem ser analisados com atenção, pois pode tratar-se
de energia para ação em demasia, ou excesso de atividade. O próximo indicador abordado é
a Depressão (N4), com resultado de percentil = 5 apontado como muito baixo. Escores muito
baixos nessa faceta indicam elevada dificuldade para reconhecer eventos negativos e avaliar
problemas, minimizando-os. Pessoas com esse perfil tendem a ter uma expectativa muito
positiva em relação ao futuro, acreditando fortemente em sua capacidade de lidar com
eventuais dificuldades. Em níveis extremos, tal característica pode indicar dificuldade para
perceber quando estão diante de problemas reais, e isso pode prejudicá-los, em decorrência
da falta de atitudes quanto à solução de problemas que precisam ser enfrentados.
Quanto ao fator Extroversão (E), inicia-se a avaliação pelo Nível de Comunicação
(E1), com percentil = 65, avaliado como médio. Escores médios nessa faceta indicam um
padrão comportamental dentro da média no que se refere a quão comunicativas e expansivas
as pessoas acreditam ser. Não apresentam dificuldades em se expressarem em público e
falarem sobre si mesmas, agindo de forma flexível de acordo com as situações. A segunda
faceta é a Altivez (E2), com percentil > 20, classificado como baixo. Pessoas que apresentam
escores baixos nessa faceta tendem a não se vangloriar por seus bens e capacidades pessoais,
33
além de apresentarem pouca necessidade de chamar a atenção dos outros para si. Podem
apresentar alguma dificuldade em se perceberem como pessoas capazes e de valor. A faceta
seguinte (E3) é o Dinamismo, com assertividade de percentil = 65, considerado como médio.
Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se
refere a quanto as pessoas tomam a iniciativa em situações variadas, o quão facilmente
julgam colocar suas ideias em prática e seu nível de atividade é moderado, não demonstrando
proatividade, nem tão pouco apresentando dificuldade em tomar a iniciativa para a
realização. No que se refere às Interações Sociais (E4), pode-se verificar o percentil > 30,
classificado como médio o que revela que escores médios nessa faceta indicam um padrão
comportamental dentro da média no que se refere ao desejo e à necessidade por interações
sociais, indicando o quanto as pessoas buscam ativamente situações que permitam tais
interações, como festas, atividades em grupo, etc.
Dando continuidade ao estudo do BFP, o próximo fator é a Socialização, iniciando
pela faceta da amabilidade (S1), apresentando percentil = 65 (médio). Escores médios nessa
faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se refere a quão
atenciosas, compreensivas e empáticas as pessoas procuram ser com as demais. Além disso,
indica quão agradáveis as pessoas buscam ser com os outros, observando suas opiniões,
sendo educadas com elas e se importando com suas necessidades. Sequencialmente, a faceta
seguinte é a Pró-sociabilidade (S2), com percentil > 75 (alto). Escores altos nessa faceta
sugerem que o indivíduo procura evitar comportamentos que o coloquem em risco, bem
como transgressões às leis ou às regras sociais. Apresentam tendência a serem honestos com
os outros, dificilmente os induzindo a fazer algo contra a vontade. Em seguida aparece a
Confiança (S3), com percentil = 85 (alto). Escores altos nessa faceta sugerem uma tendência
do indivíduo em ser mais ingênuo, acreditando muito nas pessoas.
Próximo fator do BFP é a Realização, que analisa a faceta da competência (R1), com
percentil = 50 (médio). Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental
dentro da média no que se refere ao quão ativamente as pessoas buscam atingir seus objetivos,
bem como a predisposição para fazer sacrifícios pessoais para tanto. Sugere indivíduos com
uma percepção realista sobre si mesmo no tocante à sua capacidade de realização de acordo
com a situação. Não se mostram exageradamente confiantes, nem tão pouco desfavoráveis
sobre si próprios. Outra faceta analisada é a ponderação (R2), percentil = 65 (médio). Escores
médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média, no que se refere a
situações que envolvem o cuidado com a forma de expressar opiniões ou defender interesses,
bem como a avaliação das possíveis consequências de suas ações. Próxima faceta da
realização é o empenho (R3), com percentil = 15 (baixo). Escores baixos nessa faceta
34
sugerem pessoas com tendência a terem dificuldades em se dedicar às tarefas, podendo ser
um pouco descuidadas ao realizar um trabalho. Pode apresentar pouca disposição para
realizar atividades, o que poderia comprometer a qualidade do trabalho.
Próximo fator no estudo do teste BFP segue a Abertura (A), com a faceta abertura a
ideias (A1), com percentil = 55 (médio). Escores médios nessa faceta indicam um padrão
comportamental dentro da média no que se refere à abertura para novos conceitos ou ideias,
que podem incluir interesse por questões filosóficas, arte, fotografia, estilos musicais e
diferentes expressões culturais. O Liberalismo (A2) é a outra faceta que faz parte do fator
Abertura com percentil = 15, considerada baixo. Escores baixos nessa faceta sugerem pessoas
com tendência a serem pouco flexíveis com valores e conceitos diferentes dos seus. Pessoas
com esse perfil costumam ter mais dificuldade em aceitar que os valores mudam ao longo do
tempo. Por fim, no estudo do fator abertura, estuda-se a faceta busca de novidades (A3), com
percentil = 10 considerado Muito Baixo. Pessoas que apresentam escores muito baixos nessa
faceta relatam sentirem-se desconfortáveis com a quebra de rotina, possuem pouco interesse
para fazer coisas que nunca fizeram antes, de conhecer lugares novos e de se colocarem em
situações diferentes das que vivem usualmente.
Na discussão sobre a característica de sua personalidade mais determinante, o general
Cardoso comentou que as pessoas costumam serem muito rigorosas em relação a si mesmas
ou muito benevolentes. Talvez da sua personalidade, que tenha lhe caracterizado mais ao
longo desse tempo foi o equilíbrio emocional. Na sequência também comentou o traço do
seu perfil que não lhe agradava. Ele tem uma crítica em relação a esse traço, que não chega
a ser uma procrastinação, mas ele não toma suas providências imediatamente, porque pensa
muito no que deve fazer, como aquilo deve ser feito, e quando há tempo ainda sobrando, ele
procura utilizá-lo ao máximo para decidir. Nessa questão, ele gostaria de ser mais proativo.
Outro aspecto que foi discutido foi como ele supunha que seus liderados o percebe.
O general Cardoso abordou pelo que vê na reação das pessoas em relação a ele. Em sua
concepção, talvez tenha mais amigos do que propriamente ele seja amigo dessas pessoas. Ele
avalia que o que mais observa seja a camaradagem. Ele percebe a camaradagem como um
sentimento muito mais nobre até do que a amizade. Ele vê a amizade como um sentimento
egoística e a camaradagem não, já que esta é em si altruística porque tem significado muito
amplo, verificando que o militar é camarada de quem até mesmo não conhece. Então por
isso, ele acha que as pessoas lhe enxergam como benevolente e camarada.
No tocante ao atributo controle emocional, Carnegie (2012) observa que é diante de
uma crise que o líder é posto à prova, e realmente ele utiliza-se desse importante atributo para
contorná-la. Um líder estratégico está sempre diante de crises e precisa estar muito bem
35
emocionalmente para decidir e assessorar com acerto. O general Cardoso julga ter controle
emocional forte nas mais variadas situações pelas quais já vivenciou.
2.2 Quanto ao exercício da liderança estratégica
Nesta seção, aplica-se o Process Tracing com base no itinerário formativo militar do
general Cardoso, apoiando-se também na entrevista realizada e em documentos primários
que constam os seus atributos de liderança nos diversos níveis de atuação, antes de ser
escolhido para o cargo de ministro-chefe do GSI/PR.
O general Cardoso nasceu em agosto de 1940, na cidade de São Paulo. Cardoso
pertence à família de classe média, com aqueles altos e baixos que as famílias dessa classe
passam ao longo da vida, informação relevante que busca contribuir diretamente para o traço
de sua personalidade.
Graduou-se aspirante-a-oficial de infantaria em 1962, na Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN). Exerceu inúmeras funções de destaque ao longo de sua vida
militar. Foi o segundo colocado de suas turmas de Infantaria na AMAN e na Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO). Também foi o segundo colocado de sua turma da
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Foi instrutor-chefe do curso de
infantaria da AMAN. Como coronel, comandou o 11º Batalhão de Infantaria de Montanha,
em São João del-Rei e também o Corpo de Cadetes da AMAN. Como oficial-general, foi
comandante da 2ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Niterói, em 1994. Foi ministro-chefe
do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República durante os dois
mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Encerrou sua carreira militar na função
de chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército. (ALBERTO MENDES
CARDOSO, 2019).
Em relação à trajetória militar do ator deste estudo de caso, inicia-se com as escolas
em que, o então jovem Cardoso, frequentou. Cardoso estudou no Colégio Dom Bosco, em
Resende-RJ. Prosseguindo nos estudos, o jovem Cardoso seguiu para Escola Preparatória de
São Paulo por três anos, na rua da Fonte, em São Paulo.
Cardoso concluiu o antigo ginásio (atual ensino fundamental) em 1955 e não tinha
ideia de onde continuaria seus estudos. O jovem Cardoso almejava prosseguir no curso
científico (atual ensino médio) do Dom Bosco. A maior parte dos seus amigos e
companheiros de sala, entretanto, eram filhos de militares. Moravam nas casas destinadas
aos instrutores da AMAN, na vila militar, há algum tempo, porque muitos deles eram filhos
36
de professores que lecionavam permanentemente na AMAN. Tal fato acabou estimulando, o
então estudante Cardoso, a prestar concurso para Escola Preparatória de Cadetes de São
Paulo, logrando êxito e ingressando nessa escola, o que possibilitou a continuação de sua
trajetória de estudos.
O ator deste caso vinha de sucessão hereditária em relação à carreira militar. Seu avô,
seu pai, ele próprio, seu genro e seu neto, todos escolheram a arma de infantaria, mantendo
uma forte tradição sucessória de escolha de arma no âmbito do Exército Brasileiro. Portanto,
a sua família chega a 5ª linha de sucessão hereditária e com a exclusividade de todos
pertencerem à arma de infantaria.
Logo no início de sua formação militar, Cardoso já teve convicção de que era aquilo
que ele queria, constituindo-se como um marco na sua vida, isto é, seguir a carreira militar.
Na sequência, realizou os três anos em São Paulo, e sua turma foi para a AMAN, mas ele não
acompanhou seus colegas, porque ao terminar a Escola Preparatória, seu pai foi admitido,
por meio de concurso, para ser tradutor da Revista Military Review dos Estados Unidos da
América (EUA). Ele iria para a AMAN em seguida, mas sua mãe insistiu que ele
acompanhasse seu pai nos EUA. Assim, trancou a matrícula, ainda na Escola Preparatória,
já aprovado.
O jovem aluno, então, foi passar o ano nos EUA em 1959. Cardoso comentou sobre
a diferença que existia de hábitos, de costumes, até de valores na juventude, em tudo nos
EUA, em relação ao Brasil. Sua família foi residir no Fort Leavenworth, que ficava localizado
bem no centro dos EUA, onde há uma cultura muito conservadora e patriótica. Terminado
esse ano, ele voltou ao Brasil, matriculou-se na Escola Preparatória, que agora já estava
transferida para Campinas, e então seguiu para a AMAN. Na Academia escolheu a arma de
infantaria no segundo ano. Seu avô, pai dele, genro e neto foram para infantaria também
Seu rendimento escolar nas escolas militares teve uma coincidência bastante peculiar
e rara de ocorrer com qualquer aluno. Em termos de classificação nas escolas, o então aluno
/cadete Cardoso foi sempre o segundo colocado: na arma de Infantaria e também na
classificação geral da AMAN. O general Cardoso confidenciou que foi segundo lugar em
todos os cursos que realizou – Escola Preparatória de São Paulo, AMAN, EsAO e ECEME.
Inclusive fez uma confissão: “Meu Deus, eu não quero ser primeiro, mas não quero ser
segundo também, me joga mais lá para o terceiro, para trás. Mas aí deu segundo. Então, foi
isso”.
Em relação a cursos realizados na esfera civil, no contexto nas fileiras do Exército, o
general Cardoso respondeu que fez um curso de prospectiva, com duração de seis meses no
período da noite, enquanto estava realizando curso de Estado-Maior no Uruguai com duração
37
de um ano, cujo currículo e métodos lhe permitiam ter um tempo livre. O curso também era
de Estado-Maior em um ano apenas, assim tinha possibilidade de realizar outro curso à noite.
Continuando sua trajetória como militar, o oficial teve a oportunidade de renome de
servir em escolas militares. Tais estabelecimentos convidam os oficiais mais capazes de cada
arma e com perfil de ensinar no mais alto grau para fazerem parte dos seus quadros de
formação e especialização. Com o general Cardoso não foi diferente. Ele serviu na AMAN
em cinco oportunidades e mais quatro anos como instrutor na ECEME. Na primeira vez que
foi para a AMAN, como tenente, ele havia retornado da República Dominicana, chegando
em maio de 1966. A sua trajetória de vida, no que diz respeito à carreira, foi atípica, disse o
general, porque acabou servindo na AMAN muito cedo, como tenente. Inicialmente, na
AMAN, lidou com os cadetes que estavam muito próximos da sua faixa de idade, mas depois
voltou como capitão sem antes cursar a EsAO e, ainda, como capitão classificado ao final da
EsAO.
Foi quando teve a oportunidade de comandar a companhia de cadetes do quarto ano
de infantaria em 1973, após ter concluído a EsAO. Ali estavam personalidades que,
recentemente, deixaram seus legados de liderança estratégica, como Vilas Boas- antigo
Comandante do Exército, Ademar – antigo Comandante Militar do Sudeste e Rocha Paiva –
antigo Comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). O general
Cardoso ficou muito amigo daqueles 126 cadetes que estavam sob a sua responsabilidade.
Em seguida, retornou como instrutor chefe, e mais uma vez, comandando o Corpo de Cadetes
da AMAN, e ainda tinha a promessa do então saudoso ministro do Exército general Zenildo
de comandar a AMAN, o que acabou não ocorrendo, devido ao convite inesperado da
presidência da República. O general Cardoso comentou:
Olha a inflexão na minha trajetória de vida, no que diz respeito à carreira, uma
oportunidade dura para eu decidir, embora tenha decidido instantaneamente
praticamente, o convite para ser chefe da Casa Militar de um presidente que eu não
conhecia. Naquele momento eu falei: Puxa vida! Se eu aceitar isso aí, muda a
minha carreira. (CARDOSO, 2017).
Ainda no contexto das oportunidades, o general Cardoso serviu em órgão do
executivo federal como chefe da Casa Militar e na sequência GSI/PR. O sonho de comandar
a AMAN como general de brigada foi interrompido no momento em que foi escolhido para
desempenhar um cargo fora da Força Terrestre. É uma inflexão que Cardoso (2017)
raciocinou: “Onde é que eu posso ajudar mais o país?” Aí ele aceitou o convite para a Casa
Civil da Presidência da República. Então, assim decorreu sua carreira, quando ele diz atípico,
foi o seguinte: “os melhores anos de general de comando de tropa, comando e chefia de
diretorias, e essas atividades comuns do generalato eu não vivenciei”.
38
O general Cardoso (2017) comentou o seguinte, dentro da tipicidade da carreira: “A
promoção a oficial-general talvez tenha sido uma decorrência normal da carreira, dentro do
sentido de uma forma ou de outra, acabava também tendo influência, que é a classificação na
turma.”
No que se refere às competências que os liderados devem possuir para o alcance de
objetivos estratégicos, o general Cardoso comentou que é lógico que vai depender muito do
nível de estratégia em que o líder está, porque os subordinados - não se referiu aos imediatos-
imediatos de um líder de estratégia são a sua própria equipe de gestão da estratégia. Mas,
dependendo da natureza dela, e desses objetivos, o alcance, a tática pode resolver. Verificou-
se, nesse contexto, a estratégia operacional praticada no Teatro de Operações. Cardoso (2017)
complementou dizendo: o Exército de Campanha faz a tática, então, vai-se desde a tática do
escalão pequeno até a tática de Exército de Campanha. São ferramentas que lhe permitem
chegar aos objetivos estratégicos operacionais, da estratégia operacional.
Quando perguntado qual característica, quanto à personalidade, que seria mais
determinante nele, o general demonstrou dificuldade em responder, pois, em seu
entendimento, era difícil definir-se com exatidão. Disse que as pessoas costumam ser muito
rigorosas em relação a si mesmas ou muito benevolentes. Talvez sobre sua personalidade, o
que tenha lhe caracterizado mais ao longo desse tempo, foi o equilíbrio emocional.
O pesquisador também perguntou sobre quais traços do perfil do ator deste caso que
não lhe agradavam. Sobre tais traços, ele teve uma crítica: ele não toma suas providências
imediatamente, o que não julga ser procrastinação, porque pensa muito no que deve fazer,
como aquilo deve ser feito. E quando há tempo ainda sobrando, ele procura utilizá-lo o
máximo para tomar decisão. Nessa questão, ele gostaria de ser mais proativo.
Ao ser questionado sobre como supõe que as outras pessoas o percebem, o general
Cardoso respondeu que talvez ele tenha mais amigos do que propriamente ele seja amigo
dessas pessoas, pelo o que podia perceber na reação das pessoas em relação a ele. Ele avalia
que o que mais observa é a camaradagem. Percebe a camaradagem como um sentimento
muito mais nobre até do que a amizade; ele vê a amizade como um sentimento egoísta e a
camaradagem não são em si altruística porque tem significado muito amplo, verificando que
o militar é camarada de quem até mesmo não conhece. Então, por isso, ele acha que as
pessoas o enxergam como benevolente e camarada.
No entanto, se o líder raciocinar com outros tipos e objetivos estratégicos, objetivos
marcados para serem atingidos por algumas estratégias, então esse líder tem que ter, nos seus
subordinados, nos executantes da estratégia, o seguinte: o primeiro desafio é o chefe, líder da
estratégia, conseguir de seus subordinados a compreensão da estratégia, e daí, são muito
39
importantes à compreensão das metas da estratégia. Não só as metas finais, mais também as
metas intermediárias. As metas não devem ser vistas apenas como etapas a serem cumpridas,
mas como fator de motivação dos subordinados. São dois os papéis das metas: ajudar a não
perder o foco para se chegar à meta final e constante motivação do pessoal. Agora, essa é a
motivação, ela não nasce apenas no conhecimento das metas. Isso ajuda, mas não nasce daí.
A motivação nasce do comprometimento que deve ser antecedido pelo conhecimento da
estratégia. "O que vamos fazer? O que seria competência? Conhecimento? Motivação?
Comprometimento... Exatamente. O que vamos fazer? Qual é o meu papel nesse fazer? Qual
é a importância minha, como pessoa, e como colaborador, na condução, na execução dessa
estratégia, que vai levar a uma meta final? E aí vem, novamente, a liderança direta, a liderança
de pessoas”, disse o general Cardoso.
Então, se você está no nível de líder de uma estratégia, você não pode se limitar
apenas ao trabalho com a sua equipe de gestão da estratégia, mas você tem que orientar os
chefes subordinados a efetivarem o processo de comprometimento de obtenção, do
comprometimento dos executantes da estratégia. Tem que chegar até o final do objetivo
estratégico. Esse, realmente, é um papel importantíssimo do líder maior da estratégia, da
equipe que seria o seu estado-maior, por exemplo. Membros do estado-maior de uma Brigada
devem estar também muito presentes nas unidades subordinadas para levar a ideia do chefe,
quando este não pode estar lá. É importante que isso chegue em toda a cadeia de subordinação
e nem sempre a cadeia formal de comando mantém intacta a intenção do comando. Muitas
vezes chega lá na ponta da linha, quem vai executar, chega a ordem, com muita lealdade e
etc, mas o âmago da intenção pode não chegar. Isso é a essência.
Em suma, a compreensão da intenção naquela estratégia em questão direcionou para
o comprometimento, que não aparece de forma clara. Tem que observar essa sequência: é
conhecer a estratégia, conhecer as metas, que isso vai lhe servir de motivação também. Pelo
conhecimento, aderir às ordens que vêm e, finalmente, ter um quadro geral resultante desse
processo todo que é comprometimento. Além desse importante atributo, Cardoso acha
essencial o líder estratégico ter alinhamento com as ações estratégicas do seu escalão com as
do comando superior que o enquadra, e também acredita ser fundamental estabelecer visão
de futuro para todos os seus liderados saberem onde vão chegar (meta).
Em continuação ao itinerário formativo militar, seguiu-se a discussão do
relacionamento social no trato com o subordinado. O general Cardoso entende que a
interação social tem muita importância no sentido de a relação pessoal fortalecer a relação
funcional e institucional. Quando entra o conceito social, visualiza da seguinte forma: usar a
relação de amizade, a relação de camaradagem, a relação das famílias socialmente para isso
40
ser uma ferramenta. É bom e deve ser buscado, mas também, com a finalidade de ele ser o
“azeite da engrenagem” da organização. Ter a camaradagem e o relacionamento pessoa-
pessoa com os subordinados, se possível, o relacionamento das famílias (isso é muito possível
nas vilas militares), se possível relacionamento com as famílias, tudo isso que pode entrar no
campo de relação social, porque a camaradagem é uma relação social. É o “azeite” da
máquina toda.
Discutiu-se, também, a importância da comunicação entre o líder e o liderado. O
general Cardoso foi enfático, afirmando que essa comunicação é total. Ele falou sobre a
ordem, ou seja, o risco de a ordem chegar distorcida nas graduações mais baixas.
Na sequência, o general Cardoso comentou sobre os valores e crenças no
relacionamento entre líder e liderado. Os valores, crenças, costumes, normas, hábitos,
regulamentos, tudo isso compõe um todo que nos conduz a doutrina. Não é a doutrina de
ataque, de defesa, mais é a doutrina, de uma maneira geral. Chega ao ponto de os chefes e
subordinados se entenderem pelo olhar, porque estão ali comandando gerações e gerações de
camaradas no Exército, desde Guararapes. Foi-se formando esse conceito, essa maneira de
entender, de assumir a responsabilidade de uma missão que hoje em dia é constitucional.
Então, isso aí faz parte da importância que tem os valores e as crenças.
Voltando ao tema camaradagem, o general Cardoso (2017) afirma que é entusiasta
deste atributo, e não é tão entusiasta da amizade. Entenda o que ele quis dizer:
A camaradagem para nós, profissionalmente, tem um valor muito maior do que
amizade. O militar é camarada de pessoas que ele não conhece. Um militar entra
em qualquer quartel do Brasil, se identifica como oficial da reserva do Exército e
será recebido como se fosse daquela Unidade. A amizade é um vínculo mais
egoísta. A camaradagem é altruísta, é ampla. O militar se predispõe a ajudar o
camarada, e a camaradagem, fora o fato de ela ter nascido no campo de batalha e
nas agruras do treinamento para a batalha, ela incentiva a confiança e a lealdade.
(CARDOSO, 2017).
Sequencialmente, debateu-se sobre as capacidades que um líder de estratégia deve
possuir. O general Cardoso prossegue opinando que o líder deve ter consciência de que o
importante, antes de qualquer coisa, é a formação da equipe. E nessa formação da equipe que
o líder consegue fazer com que os objetivos sejam alcançados. Se o líder puder escolher a
sua equipe, monte uma equipe heterogênea. Se não puder, que ele conheça as tendências de
cada liderado para explorar o contraditório. O contraditório é fundamental na equipe.
Surgiu, então, ao debate sobre a empatia, que o líder estratégico constrói em si, vai
chegando e conhecendo os liderados. Segundo Mandelli e Loriggio (2016), empatia significa
entrar no sentimento, como sendo a capacidade de detectar emoções nas outras pessoas
(liderados). Não se trata de simpatia ou gostar dos outros, mas perceber e entender o que os
41
outros estão sentindo e sem perder a individualidade do líder. Cardoso aborda que, quando o
líder não monta a sua equipe, encontra as pessoas com as quais vai trabalhar, é importante
essa relação social, que não é necessariamente visitar a família. É conhecer a pessoa mais a
fundo e observar os aspectos que uma pessoa valoriza, como a sua própria dignidade. “Saber
o lado de montar de cada pessoa”, como diz o militar da arma de Cavalaria “Verificar a
temperatura da pólvora”, como diz o militar de Artilharia. Não ficar preso ao seu gabinete
nessa montagem da equipe. Estar sempre visitando, sempre perguntando, sempre presente. E
assim, o líder conhece as pessoas por meio da empatia. Conhecendo as pessoas, o líder
transforma aquela equipe numa nuvem azul, não aonde ele quiser, mas aonde a equipe tem
que chegar (meta final).
No contexto das oportunidades situacionais, o Gabinete do Comandante do Exército
é visto como um local que reúne os militares mais brilhantes do EB. Sendo assim, constatou-
se que o general Cardoso chefiou o gabinete do então ministro do Exército, general Tinoco.
Serviu na antiga Assessoria Três, que tratava de planejamento. Ele permaneceu no Gabinete
do Comandante do Exército mais de um ano, depois vagou o cargo de Subchefe do Exército
na Casa Militar, no ano de 1992. O Gabinete do Comandante do Exército tem relevância
para o presente trabalho, uma vez que os oficiais de maior destaque de cada turma de
formação da AMAN, normalmente são convidados para servir nesta OM em algum momento
da trajetória militar, com maior possibilidade para oficiais superiores, isto é, a partir do posto
de major.
O próximo assunto abordado na entrevista envolveu a definição liderança e o papel
do líder. Cardoso (2017) definiu liderança como:
Bom, liderança é a capacidade que tem um chefe de se fazer confiante ou confiável
para os subordinados. Para ser percebido pelos subordinados como aquela pessoa
que realmente tem o mérito para o chefiar numa estrutura de chefia das Forças
Armadas, como já lhe disse, autocrática. Por que autocrática? Porque, exatamente,
porque o chefe nas Forças Armadas ele não é eleito pelos subordinados. Então
nenhum subordinado delegou nada ao chefe que vai chefiá-lo. O subordinado chega para ser chefiado por alguém já encontra e esse alguém, ou ele está ali e
chega esse alguém que vai ser o seu chefe. E sem ele ter delegado nada e muito
menos ter elegido. (CARDOSO, 2017)
Então aí está um primeiro desafio para que um chefe se torne líder, ou seja, fazer-se
legítimo e legitimar-se. Ele já tem a investidura e está investido de legalidade. Cabe-lhe
conquistar a legitimidade, revestir-se de legitimidade ao ponto de ser visto pelos
subordinados como mais um do grupo. A legitimação que é fundamental para a liderança
consolidar-se, passa a ser um caminho a ser percorrido como o chefe, mostrando-se como
um livro aberto (transparente). O chefe tem que ser realmente conhecido, sem medo de se
expor, sem medo de que algum defeito dele, alguma fraqueza, algum ponto fraco, apareça.
42
Ele que cuide de seus pontos fracos, para que se tornem pontos fortes. Ele que saiba explorar
os seus pontos fortes, mas não lhe cabe esconder nada. Tem que ser percebido como uma
pessoa transparente, confiável, ressaltou o general.
O líder tem que ser persuasivo e essa capacidade não cai do céu. Persuasão passa por
um conhecimento com certa profundidade da lógica. A persuasão é decorrência da ciência
do argumento, que é a lógica. Passa pela empatia, o líder se coloca no papel dos outros
instantaneamente. Passa pela capacidade de convencer as pessoas por meio da persuasão, por
meio do exemplo, no sentido de aderirem às ideias. É um fenômeno muito interessante que
acontece com o líder: uma vez você chefe líder, você ter dado um conselho, um simples
conselho a um subordinado, você está perdido, porque você deixa de ser, dentro daquele
conselho que você deu, dono da sua vida. Passa a ser observado, se aquele conselho foi dado
com sinceridade, com os propósitos de verdade, realmente. O fenômeno que acontece que é
muito interessante mesmo, é nessa conquista da confiança, e nessa legitimação que vai sendo
conquistada se houver habilidade no líder. Ele passa a ser visto como mais um, ele é
considerado um dos integrantes do grupo.
Se o general Cardoso tivesse que escolher um líder, seria esse, com empatia, pois é o
grupo liderado por um gestor que fica próximo da sua equipe, o liderado passa a se sentir
como um avalista da indicação daquela figura humana que é o seu líder. Embora esse
subordinado não tenha tido influência naquela escolha do líder, passa a se comportar, como
se em termos de, por exemplo, obediência às ordens, esse servidor passa a se comportar como
se aquela ordem tivesse sido emitida por ele próprio. Outro atributo dentro desse fenômeno
maior é a ordem. A obediência à ordem parece ter sido originada na mesma matriz, porque a
pessoa líder que aceita o líder bem, passa a cumprir as ordens como se fossem delas mesmas.
Em todos os setores da vida na empresa o foco é a produtividade. Tal fato faz com
que os servidores de uma empresa se comprometam com os objetivos estratégicos a serem
atingidos. Com a participação e produção de todos atinge-se a produtividade esperada. Isso
é fabuloso, segundo Cardoso, que é apaixonado por esse fenômeno que acaba criando a
percepção nos liderados de que a liderança é democrática. Fica a impressão de que o processo
é democrático, como se ele tivesse escolhido, mas, na verdade, é porque o liderado aderiu de
tal forma, se comprometeu de tal maneira que esse fenômeno ocorre. Cardoso (2017)
confidenciou um fato ocorrido com ele mesmo, para exemplificar essa liderança:
Fui lá comandar o quarto ano do curso de infantaria, vindo da EsAO, e achava que
eles tinham sido muito bem comandados no terceiro ano por esse amigo que me
antecedeu na função. cheguei lá com a convicção do que mencionei acima. Resolvi praticar isso aí com os cadetes. Me legitimei, era chamado de sombra, porque onde
os cadetes do 4º ano estavam, eu também estava. Eu era um capitão atípico na
43
AMAN, porque eu não parava na sala do Posto de Comando (PC). De certa forma
isso desagradava a estrutura da AMAN. Eu ficava colado neles. E colado com que
sentido? No início eles ficaram desconfiados, que eu percebi. Tinha poucos
tenentes, e eles mal apareciam na companhia, não porque quisessem, porque eram
poucos. Os tenentes estavam muito envolvidos nos exercícios, nas suas instruções.
Bom, então eu ia. Mas com que finalidade eu ia? Observar cada um dos 126 cadetes
sob a minha responsabilidade. E no fim do dia, conversava com eles. Eu ia assistir
a aula no ensino universitário, e no fim do dia eu chamava alguns: "Eu observei o
seguinte em você hoje, você, quando o professor te chamou, você foi meio relaxado
em levantar, isso você não faz lá no parque com os tenentes, com os capitães, você tem que se reportar aos seus professores militares da mesma forma. Tipos de
conselhos que eu dava, coisas boas que eu observava eu enaltecia também. E eles
que achavam que eu estava procurando erros, eles estavam preocupados. "Que
capitão é esse aí que onde a companhia está, ele está? Será que ele está aí para
pegar a gente?" Então eu era considerado por eles como a sombra. A partir daí esse
apelido sombra passou a ser mais carinhoso porque eles perceberam que eu era
mais um deles. (CARDOSO,2017)
Finalizando a trajetória militar do general Cardoso, no que se refere ao exercício da
liderança estratégica, ele se mostrou realizado de uma maneira geral. Prontamente e sem
titubear, afirmou que se sentia totalmente realizado na profissão e na vida. Deixou uma
mensagem importante para os futuros líderes: “Espero que eles cheguem e assumam à chefia,
sejam líderes diretos de pessoas, sejam líderes de estratégias com esses atributos mais
evidenciados: visão de futuro e inovadores”.
44
Cap. 3 Estudo de caso do general Jorge Felix
3.1 Quanto aos traços de personalidade
O teste BFP aplicado ao general Felix revelou o seu perfil quanto ao fator
Neuroticismo, verificando-se inicialmente a Vulnerabilidade (N1), apresentando um
resultado de percentil > 30 = Médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão
comportamental dentro da média no que se refere a quanto o indivíduo vivencia o sofrimento
emocional em decorrência da sua percepção de como os outros o aceitam. É um indicativo
de maior flexibilidade em relação à dependência emocional e à dificuldade para tomar
decisões em função do medo de decepcionar as pessoas. Dando prosseguimento à análise do
perfil do General Felix, apresenta-se a faceta Instabilidade (N2), com percentil 30 = Médio.
Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se
refere a como cada pessoa se percebe irritável e nervosa, apresentando poucas variações de
humor em determinadas situações. Em continuidade ao fator Neuroticismo, segue-se a faceta
Passividade (N3), indicando um percentil 35 = Médio. Escores médios nessa faceta indicam
um padrão comportamental dentro da média no que se refere ao nível de atividade das pessoas
e seu empenho para resolver situações rapidamente. Tal faceta também se relaciona à
velocidade de decisão. Tende a não apresentar dificuldades para iniciar tarefas, nem
problemas em manter a motivação em afazeres longos ou difíceis. Tampouco se apresenta
como mais ágil em relação aos demais, demonstrando comportamento dentro da média em
relação a amostra investigada. Em seguida, analisa-se a faceta Depressão (N4), com percentil
45 = Médio. Pessoas que apresentam escores médios nessa faceta possuem um padrão
comportamental dentro da média com relação à percepção que possuem dos eventos que
ocorrem ao longo de suas vidas, mais especificamente a percepção que possuem sobre as
expectativas de futuro. Em algumas situações, confiam mais em sua capacidade para lidar
com dificuldades, e em outras, menos.
Próximo fator do BFP do perfil do general Felix a ser analisado é a Extroversão (E),
iniciando pela faceta Nível de Comunicação (E1), apresentando percentil 35 = Médio.
Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se
refere a quão comunicativas e expansivas as pessoas acreditam ser. Não apresentam
dificuldades em se expressarem em público e falarem sobre si mesmas, agindo de forma
flexível de acordo com as situações. No tocante à faceta Altivez (E2), apresenta o percentil
50 = Médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da
45
média no que se refere à percepção que as pessoas têm sobre sua capacidade e valor. Quanto
à faceta Dinamismo (E3), obteve-se o percentil 60 = Médio. Escores médios nessa faceta
indicam um padrão comportamental dentro da média no que se refere a quanto as pessoas
tomam a iniciativa em situações variadas, o quão facilmente julgam colocar suas ideias em
prática. Seu nível de atividade é moderado, não demonstram proatividade, tampouco
apresentam dificuldade em tomar a iniciativa para a realização. Em relação ao indicador
Interações Sociais (E4), verifica-se o percentil > 25 = Baixo. Escores baixos nessa faceta
sugerem tendência a preferir a companhia de poucas pessoas, demorando mais para construir
vínculos com aqueles ao seu redor. Costumam apresentar pouca necessidade de frequentar
lugares que propiciam a interação social.
Próximo fator analisado dentro do teste do BFP do general Felix é a Socialização,
iniciando-se pela faceta da Amabilidade (S1), com percentil > 40 = Médio. Escores médios
nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média, no que se refere a quão
atenciosas, compreensivas e empáticas as pessoas procuram ser com as demais. Além disso,
indica o quão agradáveis as pessoas buscam ser com os outros, observando suas opiniões,
sendo educadas com elas e se importando com suas necessidades. A faceta seguinte do fator
Socialização é a Pró-sociabilidade (S2), que apresenta o percentil 60 = Médio. Escores
médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se refere a
comportamentos de risco, concordância ou confronto com leis e regras sociais, moralidade e
agressividade. Não apresentam tendência a manipulação das pessoas ao seu redor, nem
hostilidade em demasia. Geralmente, possuem uma postura flexível, porém responsável
acerca das regras e leis sociais. Na sequência das facetas da Socialização, verifica-se a
Confiança (S3), que mostra percentil > 90 = Muito Alto. Escores muito altos nessa faceta
podem representar uma postura ingênua com os demais, chegando a colocar-se em situações
nas quais facilmente podem ser prejudicadas ou enganadas por pessoas mal-intencionadas e
manipuladoras.
Em sequência ao teste de BFP aplicado ao general Félix, apresenta-se o fator
Realização com suas respectivas facetas. A primeira delas é a Competência (R1), que mostra
percentil > 75 avaliado como alto. Escores altos nessa faceta indicam pessoas que tendem a
ser mais confiantes em relação à sua capacidade de realizar tarefas complexas e importantes.
Além disso, possuem objetivos definidos e esforçam-se mais para atingi-los. A faceta
Ponderação (R2), apresenta um percentil 35 = Médio. Escores médios nessa faceta indicam
um padrão comportamental dentro da média no que se refere a situações que envolvem o
cuidado com a forma de expressar opiniões ou defender interesses, bem como a avaliação
das possíveis consequências de suas ações. No que tange à faceta Empenho (R3), observa-se
46
para o General Félix o percentil 45 = Médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão
comportamental dentro da média no que se refere ao nível de exigência pessoal em relação à
qualidade das tarefas. Pessoas com esse perfil investem mais energia em algumas atividades
do que em outras.
Continuando o estudo dos traços de personalidade do general Félix, apoiado no teste
de BFP, segue-se com o fator Abertura, iniciando pela faceta abertura a ideias (A1), a qual
apresenta percentil > 80 = Alto. Escores altos nessa faceta indicam pessoas mais abertas a
novos conceitos e opiniões, demonstram mais curiosidade pelo novo. Pessoas com esse perfil
costumam usar mais a imaginação, interessando-se mais por atividades que propiciam
discussões filosóficas e que envolvam ideias abstratas. Em relação à faceta Liberalismo (A2),
o teste de BFP mostra um percentil 55, que é classificado como médio. Escores médios nessa
faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se refere à forma de lidar
com diferentes valores morais e sociais e a noção de que eles podem ser relativizados, que
podem mudar ao longo do tempo e ser diferentes em várias culturas e regiões. Prosseguindo
no estudo do fator Abertura, tem-se a faceta Busca por Novidades (A3), com percentil 80 =
Alto. Escores altos nessa faceta indicam pessoas com tendência a se interessarem mais pelo
o que é novo, evitando uma rotina muito estruturada. Podem desmotivar-se quando precisam
realizar tarefas monótonas e repetitivas.
3.2 Quanto ao exercício da liderança estratégica
Nesta seção, aplica-se o Process Tracing na sua essência mais simples, isto é,
narrativa histórica, sem evidências ou mecanismos causais, com base no itinerário formativo
militar do general Felix, apoiando-se em sua biografia pesquisada por meio de entrevista
focada e estruturada e em documentos primários, nos quais constam o seu exercício da
liderança nos diversos níveis de atuação ao longo da carreira militar antes de ser escolhido
par o cargo de ministro do GSI/PR.
Jorge Armando Felix é natural do Rio de Janeiro, nascido em 15 de fevereiro de 1939,
é general de exército e economista brasileiro. Foi declarado aspirante-a-oficial da arma da
artilharia em 1959, na AMAN. É bacharel em ciências econômicas pela Faculdade de
Ciências Econômicas do Rio de Janeiro. Foi promovido a general de exército em 25 de
novembro de 2000. Nomeado ministro de Estado chefe do GSI/PR em 2003, permaneceu no
cargo durante os 2 mandatos do então Presidente Lula (JORGE ARMANDO FELIX, 2019)
A explicação da trajetória militar do general Felix teve início pelo contexto das
escolas civis em que ele estudou antes de ingressar na carreira militar. O general Felix
47
informou que estudou o primário (ensino fundamental) numa escola pública no Rio de
Janeiro, escola Alagoas, na rua Alagoas, no bairro de Pilares, do primeiro ao quarto ano.
Quando ele estava no final do quarto ano, no dia 15 de agosto, matriculou-se num curso de
admissão para o Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ), porque tinha um primo que fazia
aniversário exatamente no mesmo dia que ele e era um ano mais velho. O primo resolveu
que faria um curso para o Colégio Militar e entrou para esse cursinho com vagas para civis.
Então, no dia 15 de agosto, ele ingressou no CMRJ e foi estudar junto com seu primo. Ele
não fazia a menor ideia do que era o colégio. Tinha 10 anos de idade, passou para o Colégio
Militar e, como seu primo faria o concurso, ele também queria fazer. Fizeram e passaram.
Ele era muito bom aluno na escola primária. Seu pai era comerciante libanês e desde muito
novo, o fez aprender a ler e, com quatro ou cinco anos, ele lia correntemente e entendia o que
lia. E então passou bem no concurso, se não se engana ele foi a quarta ou quinta nota do
Colégio Militar com poucas vagas ofertadas. Estranhou muito no início porque é uma vida
completamente diferente. Os professores da época eram, em sua maioria, militares. Eram
majores, tenentes-coronéis e coronéis que tinham vindo da Força Expedicionária Brasileira
(FEB) e tinham o direito de optar pelo magistério.
Sendo assim, tenentes e capitães, em pouco tempo, já ascendiam até o coronelato, até
tenentes-coronéis, e então faziam uma carreira rápida no Colégio Militar por serem
promovidos com o interstício menor que o normal. Mas alguns eram realmente neuróticos.
Já tinham retornado da guerra com sequelas. O fato é que havia professores aterrorizantes,
com histórias fantásticas, conforme relata o general Felix: “tinha aquelas canetas Parker 51,
caneta tinteiro, ponta de ouro, então tinha um professor que se você consultasse alguma coisa
enquanto ele tivesse falando, ele pegava a caneta, levantava e soltava, a caneta espetava na
mão. Aquilo era um terror para um garoto de 11 anos de idade. Quanto à classe social da sua
família, o general Felix confidenciou que era de classe média baixa e depois, numa fase
melhor, quando ele nasceu, pois, seu pai era comerciante. Não tinha parente militar. “Todos
da família eram civis, toda a geração do meu pai, sem exceção”, disse Felix (2019). A
vocação para ser militar foi criada no Colégio Militar. Este colégio o atraiu, porque a
tendência era ser civil, já que todos os seus primos e seu irmão fizeram universidade e, em
seguida, se tornaram profissionais liberais. Seu irmão é médico, tem primo advogado,
dentista e engenheiro. Ele foi uma exceção naquela geração. Inclusive, um os seus primos,
que fez concurso para o Colégio Militar, teve um problema de saúde e teve que sair do CM.
Em relação ao início da carreira militar, foi perguntado ao general Felix se realizou
algum curso civil fora do Exército. Ele comentou que realizou um curso de Economia -
48
bacharel em Economia - e fez cursos na área de Tecnologia da Informação, chegando a
realizar teste na IBM.
No tocante ao desempenho escolar no universo da sua turma de formação na AMAN,
o general Felix (2019) declarou que era “no meio da turma”. Eram 60 e poucos cadetes, ele
era 30º, rigorosamente no meio. Era muito pragmático, estudava para não entrar nas provas
orais precisando de nota e, de fato, nunca entrou. Nunca foi submetido à prova oral, já que
sempre teve notas boas para passar nas avaliações. Na EsAO, o general Felix foi o primeiro
da sua turma de Artilharia, conquistando o acesso direto ao curso de Estado-Maior da
ECEME, sem ter que prestar concurso de admissão - os chamados “biônicos”2 tinham essa
possibilidade. Na ECEME, terminou o curso com a menção Muito Bom (“MB”), sendo que
somente sete alunos alcançaram a menção máxima “MB”.
Quanto à parte de papel do indivíduo e da personalidade, procurou-se levantar a
competências que o general Felix acha que seus liderados devem possuir para atingimento
dos objetivos estratégicos. Então, ele destacou como primeira competência a aplicação. Em
seguida, ele afirmou que gosta e procura mostrar isso para seus liderados sempre: a
franqueza. Na visão do general, se a pessoa acha que ele está fazendo alguma coisa e na
opinião dela aquilo não vai dar certo, ele gosta que ela fale isso para ele. O contraditório ali
para assessoramento torna-se muito importante antes da decisão. Isto porque, às vezes, o
liderado tem razão, às vezes o líder não tem. Então, ele cobra muito a franqueza na hora de
externar e receber o assessoramento.
Na continuação do papel do indivíduo, abordou-se o relacionamento social no trato
com o subordinado, com a visão do general Felix:
É mais no relacionamento, no trato com eles, de dar atenção, de se misturar, ou não
manter distância. Eu gosto muito de primeiro, saber exatamente o que é que cada um faz para poder cobrar, não para poder, em determinados momentos, saber, ou
deixá-los satisfeitos por perceberem que eu estou querendo saber como o trabalho
deles está andando. (FELIX, 2019)
Ainda na parte de liderança, abordou-se a importância da comunicação entre o líder
e o liderado, que no entendimento do general Felix, é fundamental. Comunicação no sentido
de primeiro, fazer com que os subordinados entendam o que os líderes querem. Ele foi
secretário de Ciência e Tecnologia numa época, tentou colocar isso na cabeça dos
engenheiros militares. O papel mais importante do engenheiro militar é saber o que é que o
líder quer, porque o líder tem que conhecer bem o que é a organização.
2 Lei nº 6265 (Art.23), 19 nov.1975: a matrícula no Curso de Altos Estudos será concedida a oficiais
aperfeiçoados ou graduados, que sejam aprovados e classificados, segundo a classificação obtida nos cursos da
EsAO, e que tenham sido aprovados no Curso de Preparação da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
(CP/ECEME).
49
No caso, um exemplo citado por Felix:
O Estado-Maior do Exército (EME) exige que uma arma desenvolva várias
especificações, então o líder tem que entender, chegar lá e dizer: "Olha, é uma arma
que tem tais e tais características, a munição vai ser essa, a logística vai ser essa",
porque os liderados, no caso os engenheiros militares, não sabem o que deve ser
fabricado. O líder quer uma especificação, quer um instrumento que faça com que ele conquiste determinadas coisas, que tenha determinados efeitos. Então, o papel
mais importante do engenheiro militar (liderado) é explicar para o líder o que é que
ela deseja. O líder tem que ter muito clara essa relação com os
subordinados/assessores para o liderado entender aonde é que o líder quer chegar,
o que é que esse líder realmente quer fazer para seus liderados trabalharem.
(FELIX, 2019)
Portanto, o general Felix (2019) sempre procurava ser muito claro. Ele fazia muita
reunião curta e dizia com toda a franqueza: “Olha, está acontecendo isso, e, principalmente
nessa área, que é mais delicado, eu preciso que nós façamos isso. Ele tem a percepção que se
comunicava bem porque os subordinados, de uma maneira geral, entendiam o que ele
pretendia.”
No tocante a como valores e crenças podem atuar no relacionamento entre líder e
liderado, o general Felix comentou que é um detalhe até que, de certa forma, remete um
pouco à pergunta anterior. Falando especificamente de GSI, ele convivia com diversos tipos
de profissionais, como oficiais do Exército, da Marinha, da Força Aérea, civis de várias áreas
do conhecimento.
Felix explica que cada um tem uma cultura, e então o líder tem que entender isso, tem
que entender como é a cultura de cada organização de onde vêm os liderados, para esse líder
poder, de certa forma, perceber como é que seus servidores pensam, porque a carreira, o nível
de conhecimento, a profissão, a experiência de vida condiciona muito a maneira dos
subordinados serem e trabalharem. Além desse atributo, Felix destaca que o líder estratégico
deve possuir visão prospectiva para conduzir os destinos da instituição que trabalha, e ainda,
vê como fundamental que esse líder se mantenha alinhado com os escalões superiores a que
estiver subordinado, no que se refere às ações estratégicas que devem ser traçadas.
Em continuação à trajetória da carreira militar do general Felix, debateu-se sobe quais
capacidades um líder estratégico deve possuir para desempenhar sua função. Felix (2019)
explicou:
Primeiro, procurar conhecer todas as atividades, naturalmente com uma
profundidade de conhecimento compatível com o cargo que você está exercendo.
Mas procurar conhecer o melhor possível. Por quê? Porque você vai lidar com
pessoas que vão resolver aquele tipo de problema. Então, você tem que ter
capacidade para discutir e argumentar com eles. No seu nível, não é coisa muito
técnica, não, mas você tem que ter e tem que mostrar para eles que quando eles
notam que você conhece um pouco aquilo que eles estão fazendo, eles percebem
ou acham que você tem interesse naquilo. Se você for muito superficial, vão falar:
"Ah, ele não está dando muita bola para isso". Então, quando você entra um pouco
na característica do assunto, assim bem especificamente da atividade, do problema,
50
aí eles sentem confiança e respeito, pensam: "Amanhã ele vai me cobrar isso
porque ele tem condições de me cobrar." "Ele sabe o suficiente para me cobrar".”
(FELIX, 2019)
Quanto ao itinerário formativo militar, procurou-se saber se o general Felix havia
servido no gabinete do comandante do Exército quando alçou os postos de oficial superior.
Felix afirmou que foi convidado, no posto de tenente-coronel, mas primeiro, também foi
convidado para ser instrutor da ECEME. Ele se desculpou com o chefe do gabinete à época,
que até Felix (2019) fez um comentário: “Ah! Mas o gabinete precede tudo, isso não tem
problema, eu falo com o comandante da ECEME...". E Felix respondeu: "O senhor vai falar
com ele, mas eu não vou me sentir bem. Já empenhei a minha palavra, agradeci o convite, eu
respondi agradecendo. Senti-me honrado em ir para lá, então eu não tenho cara de agora
mudar porque o outro é melhor ou qualquer outro fato.”
Ainda seguindo a trajetória de carreira, indagou-se ao general Felix quais escolas
militares ele tinha servido como instrutor. Felix serviu na Escola de Artilharia de Costa e
Antiaérea (EsACosAAe) por duas vezes. A primeira quando era tenente, aperfeiçoou-se na
artilharia antiaérea, fazendo curso de radar. Na segunda oportunidade comandou o Primeiro
Grupo de Artilharia Antiaérea, o 1º GAAAe, na Vila Militar, Rio de Janeiro - RJ. Foi também
instrutor na ECEME durante quatro anos. O general Felix comentou, também, que serviu no
exterior, realizando curso de Estado-Maior na Alemanha, em 1985, voltando em 1986, no
posto de tenente-coronel.
Quanto aos aspectos da personalidade, buscou-se saber de Felix qual característica,
quanto à sua personalidade, é mais determinante. Felix declarou que gosta de ter um
relacionamento muito franco e aberto, ser acessível às pessoas e espera que elas confiem
nele, isto é, franqueza, para que elas tenham confiança nele. Felix foi diretor de
movimentação, na época, dois anos. Felix (2019) até comentou o maior elogio que recebeu:
“um sargento disse: ‘O general Felix diz não, mas a gente fica sabendo por que’. Eu
considerei isso um grande elogio, isso aí significava que eu estava fazendo bem o meu
trabalho. ‘Ele diz não, mas a gente fica sabendo porquê’. Cumpre-se a lei”.
No tocante à sua personalidade, pesquisou-se sobre os traços do seu perfil que não
lhe agradam. Felix afirmou que de uma certa forma, essa franqueza que ele tem para lidar
com os subordinados, ele também sempre teve para lidar com os superiores. Ele acha que
como se comporta perante seus chefes transmite franqueza e honestidade. Isso algumas vezes
lhe atrapalhou a vida. Felix coloca a sinceridade no ponto mais alto. Ele acha que o liderado
deve ser franco o tempo todo, ou seja, se o liderado está assessorando alguém e acha que o
51
que líder vai fazer vai dar errado, o subordinado tem a obrigação de dizer. E há líderes que
não gostam disso. Essa competência ele acha que é um traço positivo. Não é negativo, não.
No atributo estabilidade emocional Felix se considerou controlado e bom em lidar
com a crise. Nunca se estressou em função de ter que tomar decisões difíceis. Como exemplo,
Felix (2019) comentou sobre o GSI:
o gabinete de crise funcionou muito bem. A maior operação que a Força Aérea já
fez até hoje foi controlada pelo GSI. Foi a operação que foi deflagrada quando teve
o terremoto do Haiti. A Força Aérea realizou uma ponte aérea do Brasil para o
Haiti, uma operação inédita. Outro exemplo foi o incêndio em Roraima. Era a
Marina, a ministra do Meio Ambiente, teoricamente, ela teria que coordenar essa
crise. Porém, o presidente Lula determinou ao GSI/PR para fazer a articulação. A
minha ação foi : convidei a Marina para sentar-se na cabeceira da mesa e falei, "Marina, então eu vou dizer a informação que nós temos, depois você vê o que
cada um tem e diz para nós o que você tem para a gente poder trabalhar, todo
mundo aqui vai trabalhar junto". A partir dessa crise ganhei o respeito e a
admiração dela. (FELIX, 2019)
Em continuação aos assuntos que envolvem a personalidade, ao ser indagado como
supunha que as pessoas o percebiam, Felix confidenciou que sempre teve e sentiu muitas
comprovações de que seus subordinados sempre gostaram dele. Já o pessoal da sua geração
conviveu bem, sempre conviveram bem, e com os mais antigos também disse que nunca teve
problema. Serviu com generais que eram considerados complicados, ríspidos. Nunca teve
problema com nenhum deles. Talvez porque eles sentissem que o que ele falava para eles era
o que eu pensava- a franqueza. A franqueza e o cara saber que eu estou sendo fraco, não
estou sendo malcriado, estou querendo ajudar. Eu tive várias comprovações disso.
Quando foi promovido a general quatro estrelas, no quinto andar do Palácio Duque
de Caxias, compareceram em torno de vinte militares, antigos sargentos, de quando ele era
segundo-tenente, eles já eram segundo-sargento. Eram dez a quinze anos mais velhos que
Felix, alguns velhinhos já, foram lá para porque ele tinha sido promovido a quatro estrelas.
Aquele episódio foi um dos mais emocionantes na sua vida, ver aqueles militares que lhe
ajudaram a ser oficial junto eles, ele era recém-formado pela AMAN.
No que se refere ao controle emocional, Felix teve colegas de Academia que
planejavam a trajetória militar desde tenente, mas eles tinham uma experiência, pois eram
filhos de militares, planejaram a vida e seguiram aquilo, e deu certo para eles. Do início ao
fim. Com ele foi diferente, nunca fez projeto de longo prazo ou de médio prazo. Ele acha que
a vida foi generosa. Na sua turma de AMAN eram em torno 400 cadetes, e finalmente tinha
chegado à última promoção da carreira em tempo de paz: general de exército.
O seu conceito era de um rapaz que não precisava estudar para fazer prova. Dentro
da sua turma prestava atenção na aula. Felix (2019) tinha sensibilidade de dizer: "esse cara
vai cobrar isso, isso, isso", e então isso lhe facilitou a vida. No aspecto profissional
52
propriamente dito, sem ser na área de estudo, ele sempre fez o que tinha que fazer de modo
bem feito, inovando. Sempre procurou ser autêntico e brincava com o pessoal, explicou Felix:
“minha fantasia de carnaval, luxo eu não ganho, não, mas na originalidade eu disputo.”
Quanto ao aspecto originalidade, ele realizou vários projetos, sendo que sobre um deles, Felix
destacou: “eu fiz uma salva de canhão, falei com o militar do depósito de munição de
Paracambi, o militar não tinha ideia da quantidade de pólvora, aí falei então: você coloca
menos da metade, mais da metade, eu vou testar aqui, se a mais fraquinha der certo vai ser
ela...". Felix gostou, aliás, isso é uma atividade que ele sempre gostou. Desafios, aliás, isso
é um ensinamento que ele também procura transmitir ao pessoal, incentivando a invenção e
a inovação. Felix (2019) ainda destacou outros pontos com relação à originalidade, como:
Eu fazia a marcha, as marchas quando eu comandei o 1º Grupo de Artilharia
Antiaérea (1º GAAAe) usava muito o campo de instrução dos Fuzileiros Navais
em Campo Grande. Eu conheci o comandante de lá, era um conhecido meu, e então
ele me emprestava o campo de instrução, eu telefonava e ele me emprestava a área.
Eu levava o 1º GAAAe para realizar exercícios de campo. Ele ficava
impressionado, "Você, com um grupo de artilharia antiaérea, por que que esses
caras fazem isso tudo que você faz?". Eu realizava as marchas maiores, eu planejava marcha, chamava os tenentes que eram muito bons. Montava três
percursos pela região do Mendanha: um mais curto, mais difícil; um médio, menos
difícil; e um mais longo, mais fácil de todos. Cada tenente escolhe pontos de
controle, para o tenente passar ali com a tropa dele, cada um escolhe, podia
escolher, e aí você via direitinho a personalidade do oficial que era destemido:
"Não, é por aqui que a gente vai chegar", e eram os últimos a chegar. (FELIX,
2019).
Em relação aos componentes pessoais que levam generais a serem promovidos por
escolha, Felix não soube informar ao certo, pois de uma maneira geral, já era conhecido dos
generais do Alto Comando que faziam a escolha. Felix (2019) confidenciou: “Agora, quem
votou em mim, quem não votou, eu não fazia a menor ideia. Até dava para saber algo, mas
você fica sabendo depois, não dava para saber tudo, só algum general que contou alguma
algo.”
Quanto à definição de liderança e o papel do líder, Felix comentou que convencer as
pessoas a fazerem aquilo que elas têm que fazer e orientando para que aquilo que o líder quer
que seus liderados façam, seja exatamente o que o líder quer que elas façam, é um trabalho
de convencimento. Dificilmente, você consegue liderar um grupo, se não tiver todo mundo
pensando que aquilo é importante, deixando bem claro que o sucesso depende deles. Isso ele
acha que é fundamental. Por isso é que Felix (2019) relatou: “tem que conhecer um
pouquinho do que cada um faz”. Ele percorria as dependências do GSI, passava o dia
andando, entrava na sala dos seus assessores, ia numa mesinha e indagava: "O que está
fazendo aí?", "Está bom isso aí? Depois leva para despacho, para eu dar eu dar uma verificada
e ver como é que ficou".
53
Felix explicou que essas pequenas coisas que o líder faz desperta no subordinado o
sentimento de que o chefe dele - líder- se preocupa com ele. Ele se preocupa com o que eu
estou fazendo. Ele acha importante o que eu estou fazendo. Esses pequenos procedimentos
são fundamentais.
Felix aprendeu muito ao longo da sua trajetória de vida, primeiro lendo e, mais tarde,
quando foi realizar curso na Alemanha, ele conversava muito com os alemães. O curso era
ministrado junto a vários oficiais de países e continentes diferentes. Felix confidenciou que
no curso eles distribuíam o aluno durante dois meses, ele escolhe uma Organização Militar
(OM) para fazer, passar dois meses ligado a essa OM, passando o dia inteiro planejando ações
táticas. Ele escolheu uma brigada blindada no norte da Alemanha. Ele observava como era a
rotina dos batalhões, como era o da brigada.
Havia um exercício da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)3 e, nessa
fase, a brigada (por acaso a sua brigada) era uma parte da figuração inimiga (vermelhos).
Felix comentou que nessa reunião de manhã, chamada de “Briefing“4, estavam o capitão, o
major, o comandante da peça, o sargento e, às vezes, até um soldado que tem uma
responsabilidade: eles estão no mesmo nível falando com o comandante. Felix acrescentou
que eles têm a vantagem, todo mundo faz o primeiro e segundo graus, todo mundo com o
ensino médio concluído, no mínimo. Eles não têm academia militar, quando o militar alemão
incorpora, opta pela sua opção: ser oficial temporário ou ser de carreira, comenta Felix. O
militar alemão escolhe para ser sargento de carreira ou ser sargento temporário, somente o
soldado é que não tem essa opção. Após experiência na Alemanha, Felix retornou do exterior
para o EME.
Ainda abordando sobre a temática de liderança Felix (2019) deixou uma mensagem
final para os futuros líderes:
Eu acho que o mais importante é você ter a sensação de que o Exército é constituído
de agrupamentos, e que esses agrupamentos, para que eles funcionem, você tem
que usar essa, que você chama de as qualidades de chefia, de liderança, elas têm
que ser percebidas pelo subordinado. Eles têm que ter confiança em você, eles têm
que ter a percepção de que você acha que o trabalho deles é importante, que você
confia neles. Eles têm que confiar em você, mas eles têm que saber que você confia
neles também, que você depende deles. Têm que ter essa sensação de que se eu não
trabalhar bem, eu vou decepcionar o meu comandante, seja lá em que nível for.
(FELIX, 2019).
3 É um tipo de manobra militar realizada na Europa que simula guerra convencional levando-se em conta o
inimigo como “vermelho” e os integrantes das forças da OTAN como “azuis”. 4 Reunião realizada ao amanhecer com as forças envolvidas para o planejamento diário das ações que serão
executadas. Muito utilizada na Força Aérea para planejamento diário das missões de combate.
54
Cap. 4 Estudo de caso do general José Elito
4.1 Quanto aos traços de personalidade
O teste BFP aplicado ao general Elito revelou o seu perfil quanto ao fator
Neuroticismo, verificando-se inicialmente a Vulnerabilidade (N1), que apresentou percentil
> 5 considerado muito baixo. Escores muito baixos nesse aspecto caracterizam grande
independência emocional em relação aos outros. Pessoas com esse perfil geralmente tendem
a ser despreocupadas com as opiniões alheias e usualmente tomam decisões e enfrentam
problemas sem levar em conta os demais, o que pode afetar a qualidade de suas relações
interpessoais. Em prosseguimento ao teste, apresenta-se o aspecto Instabilidade (N2), com
percentual < 5, considerado muito baixo. Escores muito baixos nessa faceta indicam pessoas
que apresentam pouquíssimas variações de humor que, geralmente, não tomam decisões de
forma impulsiva e que apresentam alta tolerância a frustrações. Continuando a análise, vem
a Passividade (N3), com resultado percentual = 5, classificado como muito baixo. Escores
muito baixos nessa faceta indicam pessoas que costumam ser altamente proativas, que
iniciam e concluem tarefas importantes e usualmente tomam decisões de maneira ágil.
Indivíduos com esse perfil apresentam forte motivação intrínseca para realizar seus planos,
sem precisar de estímulos ou auxílio externo para iniciar e levá-los adiante. Em razão do
índice muito baixo, os dados devem ser analisados com atenção, pois pode tratar-se de
energia para ação em demasia ou excesso de atividade. Por fim, aplicou-se o último aspecto
do fator Neuroticismo, a Depressão (N4), com percentil = 5, classificado como muito baixo.
Escores muito baixos nessa faceta indicam elevada dificuldade para reconhecer eventos
negativos e avaliar problemas, minimizando-os. Pessoas com esse perfil tendem a ter uma
expectativa muito positiva em relação ao futuro, acreditando fortemente em sua capacidade
de lidar com eventuais dificuldades. Em níveis extremos, tal característica pode indicar
dificuldade para perceber quando estão diante de problemas reais, e isso pode prejudicá-los,
em decorrência da falta de atitudes quanto à solução de problemas que precisam ser
enfrentados.
O próximo fator do BFP do teste é a extroversão, tendo como primeiro aspecto o
Nível de Comunicação (E1) com percentil = 85, classificado como alto. Escores altos nessa
faceta sugerem facilidade para falar em público, com tendência a se sentirem íntimas dos
outros com mais rapidez. Costumam ser mais desinibidas ao expor suas opiniões e iniciar
conversas, poucas vezes apresentando desconforto nessas situações. Em continuação segue
55
a Altivez (E2) com percentil = 75, classificado como alto. Escores altos nessa faceta sugerem
uma tendência de fazer com que os outros saibam de seus bens e capacidades pessoais.
Indivíduos com esse perfil tendem a acreditar que os outros os invejam e costumam falar
sobre si, principalmente sobre suas qualidades e posses. Outro aspecto testado foi o
Dinamismo (E3) com assertividade de Percentil > 90, classificado como muito alto. Pessoas
que apresentam escores muito altos nessa faceta, em geral, são mais dinâmicas, envolvem-se
em várias atividades simultâneas e preferem, mesmo quando estão de folga ou de férias,
mantém-se ocupadas com atividades variadas. Altos níveis de dinamismo também são
associados a uma tendência à liderança e alto nível de assertividade. O último aspecto do
fator Extroversão é: Interações Sociais (E4) com percentil = 55, classificado como médio.
Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se
refere ao desejo e à necessidade por interações sociais, indicando o quanto as pessoas buscam
ativamente situações que permitam tais interações, como festas, atividades em grupo, etc.
Próximo fator do teste BFP é a socialização, contando com o aspecto Amabilidade
(S1) com percentil > 80 classificado como alto. Escores altos nessa faceta revelam tendência
a se preocupar com as necessidades dos outros, buscando ajudar a resolver seus problemas,
na medida do possível. Pessoas com esse perfil costumam importar-se com o bem-estar dos
demais, tentando criar um ambiente no qual a outra pessoa sinta-se à vontade. Geralmente,
esforçam-se para ser uma companhia agradável, expondo seu apreço pelo outro. Na
sequência do teste dos fatores, vem o aspecto Pró-Sociabilidade (S2) com resultado
percentual = 55, classificado como médio. Escores médios nessa faceta indicam modelo
comportamental dentro da média no que se refere a comportamentos de risco, concordância
ou confronto com leis e regras sociais, moralidade e agressividade. Não apresentam tendência
a manipulação das pessoas ao seu redor, nem hostilidade em demasia. Geralmente, possuem
uma postura flexível, porém responsável acerca das regras e leis sociais. Como último
aspecto da Socialização, apresenta-se a Confiança (S3) com percentil > 75, considerado alto.
Escores altos nessa faceta sugerem uma tendência do indivíduo em ser mais ingênuo,
acreditando muito nas pessoas, o que pode prejudicá-lo.
Na sequência dos fatores do BFP, segue-se a realização, tendo como primeiro aspecto
a Competência (R1) com percentil > 95, considerado muito alto. Pessoas que apresentam
escores muito altos nessa faceta geralmente acreditam no seu potencial de realizar várias
tarefas ao mesmo tempo e gostam de atividades complexas e desafiadoras. Frequentemente,
possuem clareza sobre seus objetivos de vida e estão determinadas a alcançá-los. Outro
aspecto avaliado é a Ponderação (R2) com percentil = 95, considerado como muito alto.
Pessoas que apresentam escores muito altos nessa faceta geralmente são mais ponderadas
56
quanto ao que dizem e fazem, conseguindo controlar a impulsividade ao solucionar
problemas. Tendem a tomar muito cuidado com a forma de expressar opiniões ou defender
interesses. Encerrando o fator Realização, aplicou-se o aspecto Empenho, com percentil > 95
avaliado como muito alto. Escores muito altos nessa faceta indicam elevada dedicação às
atividades profissionais/acadêmicas. São pessoas que geralmente gostam de obter
reconhecimento por seu esforço e que tendem ao perfeccionismo. Também descrevem uma
tendência a planejar detalhadamente os passos para a realização de alguma atividade e a
necessidade de revisões cuidadosas dos trabalhos antes de expô-los aos outros.
Como último Fator do teste BFP aplicou-se a abertura tendo como primeiro aspecto
a Abertura a ideias (A1) com percentil = 35 avaliado como médio. Escores médios nessa
faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se refere à abertura para
novos conceitos ou ideias, que podem incluir interesse por questões filosóficas, arte,
fotografia, estilos musicais e diferentes expressões culturais. Em sequência, aplicou-se o
aspecto Liberalismo (A2), com percentil = 45 classificado como médio. Escores médios
nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se refere à forma
de lidar com diferentes valores morais e sociais e a noção de que estes podem ser
relativizados, que podem mudar ao longo do tempo e ser diferentes em várias culturas e
regiões. Finalizando o teste, utilizou-se o aspecto Busca por Novidades (A3) com percentil
= 30 classificado como médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão
comportamental dentro da média no que se refere a quanto as pessoas gostam e buscam
vivenciar novos eventos e ações. Pessoas com esse perfil costumam lidar bem com a quebra
da rotina, apesar de também não se importarem quando essa mudança não ocorre.
4.2 Quanto ao exercício da liderança estratégica
Nesta seção, aplica-se o Process Tracing como metodologia, com base na sua
essência mais simples, isto é, narrativa histórica, sem uso de evidências ou mecanismos
causais, a partir do itinerário formativo militar do general Elito, utilizando-se da biografia de
um ator vivo e de documentos primários, os quais constam o seu exercício da liderança nos
diversos níveis de atuação, ao longo da carreira militar.
O general Elito nasceu em 26 de novembro de 1946, na cidade de Aracaju, Sergipe.
É filho de José Siqueira Aguiar e Ana de Carvalho Aguiar. Alistou-se ao Exército em abril
de 1964, quando ingressou na Escola preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), sediada
em Campinas. Cinco anos depois, graduou-se aspirante-a-oficial de Infantaria em 1969, na
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e exerceu inúmeras funções de destaque,
57
dentre elas a de Comandante Militar da MINUSTAH e a de Comandante Militar do Sul, que
exerceu entre 15 de agosto de 2007 e 28 de novembro de 2008. Foi promovido ao posto atual
em 31 de julho de 2007 e escolhido ministro de estado chefe do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República pela presidente-eleita Dilma Rousseff, em 21 de
dezembro de 2010 (JOSÉ ELITO CARVALHO SIQUEIRA, 2020)
A narrativa da trajetória militar do general Elito teve início pelo contexto das escolas
civis nas quais ele estudou antes de ingressar na carreira militar. O general, quando criança,
estudou na Escola Pública Joana D’Arc, no antigo primário (1º a 5ª ano); em seguida na
Escola Ateneu, antigo ginásio (6º ao 9º ano), essas localizadas em Aracaju, SE – ensino
fundamental. Mais tarde, ingressou, por meio de concurso, no Colégio Militar de Salvador
(CMS)- ensino médio. Durante toda a carreira militar, esse ator não realizou qualquer curso
civil fora da Força, somente os cursos militares previstos pela Força Terrestre (Paraquedismo
ainda como cadete em 1969; Curso de Comandos como 2º tenente em 1971; Cursos de Mestre
de Salto, Salto Livre e Forças Especiais como capitão em 1977).
Após cursar o CMS teve sua vaga assegurada na EsPCEx, Campinas-SP, em 1964.
Após concluir o ensino médio na escola preparatória, prosseguiu seus estudos militares por
meio do ingresso na AMAN (1966-1969), formou-se em 1969, ganhando a promoção a
aspirante-a-oficial de Infantaria. Sua família é de origem humilde e classificada como classe
média, sendo o general Elito o único militar de carreira da família, sem hereditariedade
militar.
No tocante ao desempenho escolar, verifica-se que Elito sempre esteve entre as
primeiras colocações nas escolas militares, revelando aptidões já na AMAN, conforme seu
assentamento no fim do curso, em 1969, assinado pelo subcomandante da referida escola:
INTELIGÊNCIA VERBAL: Apresenta muito boa aptidão para a realização de
trabalhos que envolvam interpretação de textos e expressão de ideias;
INTELIGÊNCIA ESPACIAL: Apresenta boa aptidão para realização de trabalhos
que dependem da percepção de formas geométricas a duas ou três dimensões;
INTELIGÊNCIA ABSTRATA: Apresenta muito boa aptidão para a realização de
trabalhos que envolvam operações numéricas. (MAIA, 1970).
Iniciando pela AMAN, o então cadete Elito escolheu a arma de Infantaria, ficando
em segundo lugar no universo de cinquenta infantes. Como capitão, frequentou a EsAO,
obtendo honroso primeiro lugar no universo de 108 infantes. Destaca-se que essa conquista
o deixou livre de prestar o concurso de admissão à ECEME, possibilitando acesso direto sem
concurso. Como oficial superior realizou o Curso de Altos Estudos Militares (CAEM) na
ECEME, obtendo o sexto lugar num universo de alunos de cento e dez militares. Portando,
58
verifica-se que o ator desse caso sempre obteve excelentes colocações nos principais cursos
de formação e aperfeiçoamento oferecidos pelo Exército Brasileiro.
No contexto das oportunidades situacionais, verificou-se a passagem do general Elito
pelo Gabinete do Ministro do Exército, na Assessoria/1, em 1990/92, como tenente-coronel/
coronel, e mais tarde foi Chefe da segurança do presidente Fernando Henrique Cardoso, em
1999, saindo da função por ter sido promovido a general de brigada, em 31 de março.
Em relação a função de instrutor/comandante nas escolas, Elito conseguiu o que
poucos oficiais buscam, isto é, servir nas três escolas mais importantes do Exército Brasileiro:
AMAN, EsAO e ECEME. Na AMAN serviu como tenente/capitão, no triênio 1973/75; na
EsAO serviu como capitão/ major, no triênio 1980/82 e na ECEME como tenente-
coronel/coronel, no triênio 1987/89. Elito também foi selecionado para três países distintos,
no tocante às missões no exterior. Foi para Inglaterra, como tenente-coronel, em 1988,
realizar curso de Estado-Maior em Camberley; seguiu para África do Sul como primeiro
adido do Exército e Aeronáutica no posto de coronel, em 1995/97 e no Haiti como
Comandante da Força de Paz na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti
(MINUSTAH), em 2006.
No contexto do papel do indivíduo, Elito abordou sobre as competências que seus
liderados devem possuir para o alcance dos objetivos estratégicos em funções executivas do
Governo Federal. Na visão dele, certamente, existem diversas competências, mas destacou a
responsabilidade que os integrantes do grupo devem possuir em relação ao cumprimento das
metas; comprometimento dos liderados manifestado por ações e comportamentos que
conduzam aos objetivos elencados; a motivação que começa pelo líder e se estende aos seus
liderados para o êxito da missão, além da lealdade em seguir junto com o líder e assessorando
com franqueza na busca dos interesses do grupo. Além desses atributos mencionados, Elito
ainda destacou a visão de futuro que a instituição deve estabelecer para todos os liderados,
sendo que tanto essa visão, como as ações estratégicas devem estar alinhadas com as ações
do escalão superior que a enquadre.
No prosseguimento da discussão, enfatizou-se a importância do relacionamento social
no trato com o subordinado. Elito foi categórico em afirmar que é absolutamente fundamental
esse relacionamento e ele próprio o buscou ao longo dos quarenta e sete anos no Exército,
bem como nos cinco anos em que foi Ministro de Estado do GSI/PR.
A capacidade de comunicação entre líderes estratégicos e liderados constitui-se em
um dos atributos mais relevantes, tendo em vista que o entendimento do que o líder traça
como objetivo estratégico e o que chega para os subordinados mais afastados na cadeia de
comando deve ser integralmente a mesma mensagem. A ideia força do líder não pode se
59
enfraquecer, à medida que a sua ordem vai sendo transmitida até chegar na ponta da linha.
Com base nessa premissa, Elito avalia como essencial a comunicação entre líder e liderados
e destaca esse atributo por meio da presença do líder em todas as atividades previstas,
transmitindo as suas diretrizes. Quando essa presença não for possível, o seu Estado-Maior
tem uma grande relevância em representar e fazer chegar as ordens emanadas pelo líder uma
vez que ele esteja ausente.
Quanto aos valores e crenças no relacionamento entre líderes e liderados, Elito afirma
que precisam ser permanentes e praticados a todo o momento, pois constituem-se como base
sólida para o sucesso. Na visão desse ator, o líder estratégico deve desenvolver e possuir
importantes atributos para desempenhar seu papel, como a competência, a responsabilidade,
o equilíbrio emocional e a capacidade de coordenação e controle. Com todos esses atributos,
seus liderados perceberão que esse líder faz parte do grupo e será respeitado e reconhecido
como tal.
Seguindo a narrativa histórica do general Elito e sua dedicada carreira, seguiu-se a
discussão dos traços de sua liderança estratégica e foi abordado que a sua característica mais
determinante é a lealdade. Elito faz questão de passar para todos os seus subordinados os que
lhe é mais caro: a honestidade, principalmente na transmissão das ordens e na execução dos
objetivos estratégicos, e enfatiza que nos momentos de crise essa capacidade deve ficar bem
evidenciada para transmitir confiança a todos os seus liderados. O general afirmou que
sempre esperou ser visto como um dos integrantes do grupo e como pessoa determinada,
motivada, camarada e fiel aos princípios de valores e crenças.
Sobre sua trajetória de vida, Elito confidenciou que se sente profundamente orgulhoso
pelo que realizou e é muito agradecido a Deus, à família e aos amigos pelo inestimável apoio
recebido. Além dessa capacidade, ele destaca outro importante atributo nos momentos de
conflitos: o controle emocional.
Quanto à escolha da promoção a general, Elito afirmou que é uma decisão natural e
resultante de um conjunto de valores e ações que o militar executa ao longo de trinta anos.
Os mais de cem coronéis que concorrem a essa promoção têm plenas condições para
consegui-la. Num somatório de valores e resultados são escolhidos os generais.
Em relação à liderança, são muitas as definições e, portanto, Elito (2020), no intuito
de defini-la, elucida que é: “a capacidade de conduzir pessoas – pelo exemplo e pela
perseverança - a atingir, de forma espontânea e confiante, importantes objetivos e resultados
positivos.” Fruto da definição anterior, ele afirma que o papel do líder estratégico é o de
antecipar – de forma ampla e contínua - os melhores cenários para o seu povo e o seu país.
60
De uma forma geral, o general Elito se sente plenamente realizado profissionalmente,
em todos os sentidos. Para um jovem de uma família humilde de Aracaju-SE ter passado
quarenta e sete anos no Exército Brasileiro, ter atingido os mais altos postos da carreira –
general de exército - e ter sido Ministro de Estado do GSI/PR.
Finalizando a biografia do general, Elito (2020) deixou a seguinte mensagem para os
futuros líderes: “sejam competentes no que fazem; se aperfeiçoem sempre; cobrem e
pratiquem valores; liderem pelo exemplo e presença; e sejam sempre autênticos.”
61
Cap. 5 Estudo de caso do general Sergio Etchegoyen
5.1 Quanto aos traços de personalidade
O teste BFP aplicado no General Etchegoyen revelou o seu perfil quanto ao fator
Neuroticismo (N), verificando-se inicialmente a Vulnerabilidade (N1), mostrando um
percentil 30 = Médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental
dentro da média, no que se refere a quanto o indivíduo vivencia o sofrimento emocional em
decorrência da sua percepção de como os outros o aceitam. É um indicativo de maior
flexibilidade em relação à dependência emocional e à dificuldade para tomar decisões em
função do medo de decepcionar as pessoas. Em sequência ao estudo do fator Neuroticismo,
apresenta-se a faceta Instabilidade (N2), com percentil > 10, considerado Muito Baixo.
Escores muito baixos nessa faceta indicam pessoas que apresentam pouquíssimas variações
de humor, que geralmente não tomam decisões de forma impulsiva e que apresentam alta
tolerância a frustrações. No que se refere à faceta Passividade (N3), o teste aplicado ao
General Etchegoyen mostra percentil 20 = Baixo. Escores baixos nessa faceta indicam
pessoas que tendem a ser proativas, que iniciam e concluem tarefas importantes e
frequentemente tomam decisões de maneira ágil. Indivíduos com esse perfil apresentam
motivação intrínseca para realizar seus planos, sem precisar de estímulos ou auxílio externo
para iniciar e levá-los a cabo. Dando sequência ao estudo dos traços de personalidade do
general Etchegoyen, a próxima faceta é a Depressão (N4), com resultado de percentil 25 =
Baixo. Pessoas que apresentam escores baixos nessa faceta podem apresentar dificuldade
para reconhecer eventos negativos e avaliar problemas. Geralmente, possuem uma
expectativa positiva acerca dos acontecimentos futuros, acreditando serem capazes de
resolver possíveis dificuldades que venham a encontrar.
Prosseguindo no estudo do teste do BFP do general Etchegoyen, apresenta-se o fator
Extroversão (E), com a faceta Nível de Comunicação (E1), observando-se o percentil 85 =
Alto. Escores altos nessa faceta sugerem facilidade das pessoas para falar em público, com
tendência a se sentirem íntimas dos outros com mais rapidez. Costumam ser mais desinibidas
ao exporem suas opiniões e iniciar conversas, poucas vezes apresentando desconforto nessas
situações. Quanto à faceta Altivez (E2), o estudo mostra percentil 10 = Muito Baixo. Escores
muito baixos nessa faceta revelam tendência a serem humildes, a não se vangloriarem pelos
bens e capacidades pessoais, além de pouca necessidade de receber atenção dos outros.
Pessoas com esse perfil podem, inclusive, ter muita dificuldade para reconhecer suas
capacidades e atributos favoráveis, mesmo que sejam evidentes. Em relação à faceta
62
Dinamismo - Assertividade (E3), o teste revela um percentil > 90 = Muito Alto. Pessoas que
apresentam escores muito altos nessa faceta, em geral, são mais dinâmicas, envolvem-se em
várias atividades simultâneas e preferem, mesmo quando estão de folga ou de férias, manter-
se ocupadas com atividades variadas. Altos níveis de dinamismo também são associados a
uma tendência à liderança e alto nível de assertividade. Prosseguindo o estudo do teste
aplicado ao general Etchegoyen, tem-se a faceta Interações Sociais (E4) com percentil 60 =
Médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média,
no que se refere ao desejo e à necessidade por interações sociais, indicando o quanto as
pessoas buscam ativamente situações que permitam tais interações, como festas, atividades
em grupo, etc.
Em continuidade ao teste BFP, segue sequencialmente o fator Socialização (S), como
inicialmente verificado pela faceta Amabilidade (S1), com percentil 75 = Alto. Escores altos
nessa faceta revelam tendência a se preocupar com as necessidades dos outros, buscando
ajudar a resolver seus problemas, na medida do possível. Pessoas com esse perfil costumam
importar-se com o bem-estar dos demais, tentando criar um ambiente no qual a outra pessoa
sinta-se à vontade. Geralmente, esforçam-se para ser uma companhia agradável, expondo seu
apreço pelo outro. A próxima faceta que se observa é a Pró-sociabilidade (S2), com percentil
50 = Médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da
média, no que se refere a comportamentos de risco, concordância ou confronto com leis e
regras sociais, moralidade e agressividade. Não apresentam tendência à manipulação das
pessoas ao seu redor, nem hostilidade em demasia. Geralmente, possuem uma postura
flexível, porém responsável acerca das regras e leis sociais. Quanto à faceta Confiança (S3),
mostra um percentil > 95 = Muito Alto. Escores muito altos nessa faceta podem representar
uma postura ingênua com os demais. As pessoas chegam a colocar-se em situações nas quais
facilmente podem ser prejudicadas ou enganadas por pessoas mal-intencionadas e
manipuladoras.
No desenvolvimento da aplicação do teste BFP aplicado no general Etchegoyen,
segue o fator Realização (R), começando pela faceta Competência (R1), que mostra um
percentil > 95 = Muito Alto. Pessoas que apresentam escores muito altos nessa faceta
geralmente acreditam no seu potencial de realizar várias tarefas ao mesmo tempo e gostam
de atividades complexas e desafiadoras. Frequentemente, possuem clareza sobre seus
objetivos de vida e estão determinadas a alcançá-los. Em continuidade do estudo do fator
realização, segue-se a faceta Ponderação (R2) com percentil 50 = Médio. Escores médios
nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se refere a situações
que envolvem o cuidado com a forma de expressar opiniões ou defender interesses, bem
63
como a avaliação das possíveis consequências de suas ações. Finalmente, a última faceta
estudada, quanto ao fator realização é o Empenho (R3), com percentil > 85 = Muito Alto.
Escores muito altos nessa faceta indicam elevada dedicação às atividades profissionais. São
pessoas que geralmente gostam de obter reconhecimento por seu esforço e que tendem ao
perfeccionismo. Também descrevem uma tendência a planejar detalhadamente os passos
para a realização de alguma atividade e a necessidade de revisões cuidadosas dos trabalhos
antes de expô-los aos chefes.
Concluindo o teste de BFP aplicado no general Etchegoyen, tem-se o fator Abertura
(A), tendo a primeira faceta a Abertura a ideias (A1), com percentil > 80 = Alto. Escores
altos nessa faceta indicam pessoas mais abertas a novos conceitos e opiniões, demonstram
mais curiosidade pelo novo. Pessoas com esse perfil costumam usar mais a imaginação,
interessando-se mais por atividades que propiciam discussões filosóficas e que envolvam
ideias abstratas. Em relação à faceta liberalismo (A2), o teste mostra um percentil 15 = Baixo.
Escores baixos nessa faceta sugerem pessoas com tendência a serem pouco flexíveis com
valores e conceitos diferentes dos seus. Pessoas com esse perfil costumam ter mais
dificuldade em aceitar que os valores mudam ao longo do tempo. Por fim, a última faceta do
fator abertura é a Busca por Novidades (A3), com percentil 85 = Alto. Escores altos nessa
faceta indicam pessoas com tendência a se interessarem mais pelo o que é novo, evitando
uma rotina muito estruturada. Podem desmotivar-se quando precisam realizar tarefas
monótonas e repetitivas.
5.2 Quanto ao exercício da liderança estratégica
Nesta seção, aplica-se o Process Tracing na sua essência mais simples, sem uso de
evidências ou casualidades, isto é, empregando-se a narrativa histórica, com base no
itinerário formativo militar do general Etchegoyen, apoiando-se também na aplicação de
método biográfico e tendo como referência documentos primários e entrevista que constam
o seu exercício da liderança nos diversos níveis de atuação ao longo da carreira militar.
O general Etchegoyen nasceu em fevereiro de 1952. É natural de Cruz Alta-RS, filho
do general de brigada Leo Guedes Etchegoyen e de Lúcia Westphalen Etchegoyen, ingressou
no Exército em março de 1971 na AMAN, sendo declarado aspirante-a-oficial da arma de
cavalaria em dezembro de 1974. Foi oficial do Estado-Maior da Missão de Verificação das
Nações Unidas em El Salvador, entre 1991 e 1992; comandante da Escola de
Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas (EASA), de 1993 a 1995; chefe da Comissão do
64
Exército Brasileiro em Washington (CEBW), EUA, de 2001 a 2003 e oficial do Gabinete do
Comandante do Exército, entre 2003 e 2004 (SERGIO ETCHEGOYEN,2019).
Como oficial-general, comandou a 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, a Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e foi Assessor Especial Militar do Ministro
de Estado da Defesa e Chefe do Núcleo de Implantação da Estratégia Nacional de Defesa, de
2009 a 2011. Como general de exército foi Chefe do Departamento-Geral do Pessoal (DGP),
em 2013 e 2014. Entre 12 de março de 2015 e 12 de maio de 2016, foi Chefe do Estado-
Maior do Exército (EME). (SERGIO ETCHEGOYEN, 2019).
A narrativa histórica teve início com informação sobre qual escola ele tinha estudado
antes de ingressar na carreira militar. Etchegoyen informou que estudou, inicialmente, numa
escola pública no Leblon-RJ e, em seguida, na escola pública Minas Gerais, na Praia
Vermelha. Depois foi para o Cristo Redentor, que era no interior do bairro da Urca. Após
isso, prosseguiu seus estudos em Porto Alegre-RS e estudou no colégio de Padre Anchieta,
um colégio jesuíta e no fim do ano, prestou concurso para ingressar no Colégio Militar.
Quanto à sua classe social, o ator deste caso declarou que era de uma família de classe
média. Seu pai era filho de militar e sua mãe era filha de médico, e sua família materna tinha
bem mais recursos que a sua família paterna, mas ele viveu com os recursos do seu pai, que
era um oficial do Exército.
No que se refere a cursos realizados fora da Força Terrestre, Etchegoyen comentou
que não sabia, mas os cursos que realizou foram todos pequenos estágios, funcionais. Cursos
que ele gostava, principalmente de lógica, mas sempre de pequena duração.
A narrativa biográfica prossegue e dessa vez abordou-se sobre as classificações
obtidas pelo general nas escolas militares. Etchegoyen informou que se classificou na AMAN
em sexto lugar na arma de Cavalaria. Mais tarde, no posto de capitão, na EsAO, foi o segundo
e na ECEME, como oficial superior, no posto de major, ele terminou em 11º lugar. Ele sabe
tudo isso porque o seu grupo de estudo era composto por general Brandão, Terra Amaral, o
mais novo, e o Jaques da sua turma, que faleceu. Então ele foi o 11º, o Terra Amaral foi 12º,
o Brandão, 13º e o Jaques, 15º.
Quanto à sucessão hereditária em relação à carreira militar, Etchegoyen afirmou que
o seu avô era militar. Toda a família paterna era militar, a partir de seu avô. Seu avô era de
Porto Alegre e a família era originariamente de Canoas, mas foram residir em Porto Alegre.
Seu avô não tinha pai, não conheceu o pai; o pai abandonou a mulher antes de ele nascer. Ele
tinha dois irmãos, o irmão que já existia, mais velho que ele; e o Nelson, que estava ainda na
barriga da mãe quando o pai sumiu, nunca mais se encontrou. O avô deles, como era veterano
do Paraguai, pôde matriculá-los quando criaram o Colégio Militar de Porto Alegre, em 1912.
65
Em 1912, seu pai e tio entraram no Colégio Militar de Porto Alegre e abriram a porta
de uma carreira que os dois seguiram. O seu avô teve três filhos homens, todos militares. Seu
tio-avô teve um casal, e o homem era militar. Na sua geração são, ao todo, seis homens e
uma mulher. Ele é o único militar e na geração abaixo não tem mais ninguém, ou seja, ele
não tem filhos e nem netos militares.
Quanto ao contexto do papel do indivíduo, discutiu-se sobre as competências que um
líder estratégico deve possuir para atingir os objetivos estratégicos. O general declarou que a
carreira de militar não privilegia a precocidade. Na trajetória militar tem que percorrer um
caminho longo. Etchegoyen deu exemplo que presenciou no Ministério da Defesa: “vamos
encontrar o secretário de pessoal, de Saúde de Desporto, que é Brigadeiro, que é um quatro
estrelas e ele, por sua vez, vai encontrar um secretário da Defesa, que é um rapaz com idade
de ser filho da gente (porque é civil, tem talento, tem curso, tem qualificação)”.
No âmbito do Exército, segundo Etchegoyen, se nós tivéssemos esse capitão, esse
major, eles jamais seriam secretários da Defesa por serem muito novos. Então, não tem
precocidade nas Forças Armadas. Nós não conseguimos ainda, a ferramenta para compensar
isso. Na carreira militar, parece ser bom não ter precocidade, mas falta dela até atrapalha um
pouco, nos retardando na formação de uma visão estratégica com posicionamento, no nível
político e no nível estratégico. Etchegoyen entende que uma das coisas que atrasa esse
desenvolvimento é o modelo de liderança que o Exército ensina, a forma como nos apegamos
ao ensino.
Na AMAN, temos um excelente resultado, segundo Etchegoyen, somos excelentes
militares para exercer a liderança direta, do contato direto, no olho no olho. Mas não
aprendemos ainda o momento em que isso deixa de ser liderança direta. Deve haver uma
mudança do tipo de liderança, conforme o militar vai galgando sua promoção. Isso tem que
ser transformado para o líder exercer a liderança institucional e estratégica, porque é um líder
que tem que cuidar mais da instituição. Se o líder estratégico serve a um tenente, como
exemplo, o comandante do Exército, denota que não está preocupado com os objetivos
estratégicos do Exército como um todo. O líder estratégico deve estar preocupado com os
interesses da Força Terrestre. Então na liderança estratégica, na opinião de Etchegoyen
(2019), a gente perde um pouquinho nisso, conforme ele mesmo elucida:
A liderança estratégica, que não é uma liderança arrebatadora, não é uma liderança
que é do tenente. Vamos pegar nosso antigo comandante do Exército, general
Villas Bôas: ele tem liderança, tem carisma, mas tem principalmente, a percepção
de liderança estratégica. Então, ou seja, ele é capaz de enxergar os objetivos da
instituição, imprimir o seu carisma para que aqueles objetivos sejam alcançados. (ETCHEGOYEN, 2019).
66
A ideia principal que o ator deste caso quer revelar como competência relevante que
o líder estratégico deve possuir é a visão estratégica no nível político, que no seu
entendimento, só é trabalhada no final da carreira, quando poderia ser melhor desenvolvida
antes, à medida que o oficial vai alçando os postos na carreira.
Ao ser perguntado, desde o ponto de vista da trajetória militar, sobre os principais
atributos que um líder estratégico deve possuir, Etchegoyen foi categórico em afirmar que a
cultura geral e profissional são fundamentais, assim como a flexibilidade, que conduz à
atualização permanente, ou seja, normalmente a pessoa que tem cultura geral e profissional,
mostra preocupação de autoaperfeiçoamento e da auto evolução. Ele sempre diz o seguinte:
dois atributos que são fundamentais para um líder estratégico: coragem e flexibilidade. O
líder estratégico deve ter coragem para dar um passo adiante, pois ninguém vai ajudá-lo a ter,
ninguém quer mudar a situação. Segundo ele, estamos vivendo um cenário complicado, cheio
de incertezas e ameaças. Etchegoyen também destacou o alinhamento de objetivos e o foco
que a instituição deve estabelecer para todos os seus liderados.
O mundo está mudando, as comunicações nos aproximam à realidade de hoje. “Como
é que se pode continuar adotando o mesmo processo decisório do passado, no nível
estratégico, se o mundo é tão cambiante? “comentou Etchegoyen (2019). Ele entende que
deve haver mais velocidade na ação que será adotada. Adiante temos o segundo atributo, a
flexibilidade, porque o líder pode errar, então, se tem na qualidade de gestor que começar a
caminhar sabendo que, provavelmente, vai ter que reajustar um dispositivo na frente, por
meio da conduta para correção de rumos. Esse líder não ficará esperando por um estudo
detalhado e completo para chegar a um determinado momento e aplicá-lo. O ator dessa seção
não tem nada contra o estudo, ele acha que é fundamental sua aplicação. Porém, achar que
vamos congelar a realidade naquele momento, é perder a oportunidade para decidir. O
profissional tem que entender e conhecer a sua instituição no cenário no qual está vivendo e
perceber quais são as tendências. Então, trabalha-se com fatos e com tendências. Quais são
as tendências? Bom, e nessas tendências, quais são as prioridades que serão estabelecidas e
vai-se caminhar? Então, praticamente, o estudo que o líder fizer vai acompanhar a própria
trajetória, mas sem descartar a velocidade das informações, considerou o general.
No tocante ao relacionamento social no trato com o subordinado, Etchegoyen percebe
que estamos vivendo numa outra sociedade muito diferente dos meninos que ele foi, dos
cadetes de sua época. O subordinado hoje tem um acesso à informação que ele não teve.
Hoje, quando o líder determina para um liderado fazer um estudo, esse assessor lhe traz um
estudo muitas vezes melhor do que qualquer um que ele tenha produzido na sua carreira, já
que seu subordinado tem acesso às fontes de conhecimento científico e técnica para chegar a
67
informações que a sua geração não teve. Assim sendo, esses liderados atuais passam a ser
subordinados por razões formais. Não obstante, do ponto de vista de conseguir trazer ao seu
colaborador, o uso das suas relações pessoais e da sua capacidade de liderança, e não se
importar de perceber que o subordinado está mais bem preparado do que o próprio líder.
Quanto ao debate da liderança estratégica, a importância da comunicação entre o líder
e o liderado, Sergio Etchegoyen opinou que se entrar no campo da liderança estratégica, essa
comunicação assume outra característica. Tem a ver com o que ele abordou sobre liderança
direta, ou seja, numa carreira que não privilegia a precocidade, a única coisa que se diferencia
do seu subordinado é a experiência. É a capacidade e o talento de saber usar essa experiência,
dois atributos: cultura e experiência, porque em nenhuma das duas se consegue com
precocidade, mas como não tem precocidade, pode-se citar, como exemplo, a experiência no
quartel: o líder participou de combate real e o liderado ainda não foi. Esse fato o faz ter mais
experiência de vida, circunstâncias que derivam disso tudo. O que o ator do caso pode chamar
de sabedoria (cultura e experiência) que o líder tem o liderado não tem. Portanto, o líder
ganha cultura e precisa de tempo para ser adquirida, precisa de tempo para ler e interpretar,
entender, ter a capacidade de pensamento crítico e, ao mesmo tempo, acumular experiência
e saber usar como ferramenta que vai diferenciar o líder do seu liderado.
Em relação a como valores e crenças podem atuar no relacionamento entre líder e
liderado, Etchegoyen (2019) informou o seguinte:
Uma área que eu gosto, que é valor. Uma instituição militar não fica em pé sem
valor. Os valores são o armamento mais barato que a instituição Exército Brasileiro
tem praticamente de graça, e eles são multiplicadores do poder de combate de
qualquer tropa. Com a tradição, o valor se traça a linha. Eles são, vamos dizer, os
fios condutores que garantem o cumprimento da nossa missão constitucional. Se
fomos para a constituição de 1822 e percorrer todas as outras seis até chegar em
1988, nós temos a mesma missão: defender a pátria e garantir a lei e a ordem.
Outros termos, na constituição do Império tinha que defender a Família Imperial, mas a Família Imperial era a própria nação. Não muda muito para os dias atuais.
Outros termos, outras palavras, outras circunstâncias, era isso. Para isso, os
mesmos compromissos de defender a lei. Ora, recebe-se hoje na AMAN jovens
com valores completamente diferentes dos nossos. A sociedade que vem de 1822
a 2017 foi a sociedade que vem em espiral subindo, dando cambalhota e
modificando seus valores, os não perenes muitas vezes. Mas conseguimos, desde
1822 até hoje, essa mesma sociedade, nessa sociedade, cumprir todas as missões
que nos deram, com sucesso até 2017.Um subordinado comprometido porque está
incutido dos valores militares. Ter valor é o fio condutor dessa história de sucesso,
é a ponte. Ele é essencial e fundamental. Essa é a primeira questão. A outra é o
valor como o multiplicador do poder de combate. Não é por outra razão que os
deveres militares, dos valores militares está no Estatuto, no capítulo 6. São valores militares: amor à pátria; o culto às tradições militares, entre outros.
(ETCHEGOYEN, 2019)
Sobre os atributos que o líder estratégico deve possuir para atingir os objetivos
estratégicos, Etchegoyen foi enfático ao dizer que o líder tem que ter percepção política,
68
atributo que não é desenvolvido na trajetória militar. Ao mesmo tempo, ele afirmou que os
militares que galgam a política chegam com dois atributos na mão que não são encontrados
na maioria dos civis que frequentam o ambiente político, que se chamam confiabilidade e
credibilidade. Qualquer militar que ocupa uma função estratégica na política traz da sua
formação a confiabilidade e credibilidade. Todos esses atributos nem sempre estão presentes
nas relações políticas, mas os militares têm o mesmo valor nas relações políticas.
Ainda na opinião do general, o fator agregador da relação do mundo político é o
poder. Houve um tempo que Lula abraçou Maluf, que eram inimigos políticos. O presidente
está brigando, pulando cambalhota para ganhar a eleição de quarta-feira. Garantir o apoio
dele. Os outros vão tentando de todas as formas para derrubar. As alianças se acomodam em
torno do poder. Alguém que passa a ter perspectiva de poder, ele vai ter capacidade de fazer
aliança. Foi o que aconteceu com a Dilma. Ela se enfraqueceu e o outro ocupou espaço,
porque a perspectiva de poder era outra forma de poder. As pessoas que incharam aqui não
chegaram novas no Congresso, elas estavam aqui. Apoiando e elogiando o governo anterior.
Isso é imoral? Não. Essa é a lógica da política, a política gira em torno de aliança que garanta
o poder. Não existe política que não for a maioria. A minoria quer ser maioria e a maioria
não quer deixar de ser, pela preservação do poder. Se a gente fizer uma analogia com um
empresário, qual o fator agregador, o aglutinador, no mundo empresarial? O lucro. Isso é
imoral? Não. É a lógica daquele trabalho, legítimo.
Prosseguiu o Etchegoyen que, no caso dos militares, o valor agregador são os valores,
é a moral que chamamos de valores militares. Pode chamar de moral, de ética. São todos
esses valores juntos. Se o líder tem, chega nessa função. Depois de quarenta e poucos anos
da sua vida, fica impregnado disso, não tira mais, não tem escova, caco de telha que tire essa
marca boa. O militar entra num mundo que não tem isso, o político. Não é da noite para o dia
que as pessoas percebem a sua boa-fé. Ele conclui que a coisa mais importante que tem que
ter para desempenhar essa função, é a capacidade de comprovar e preservar os próprios
valores para que os outros entendam rituais de boa-fé. Mas é necessário reforçar essa
relevância para a sua credibilidade.
Quanto às oportunidades na carreira militar, sabe-se que os militares mais capacitados
de cada turma são convidados a servir no Gabinete do Comandante do Exército. Com o
general Etchegoyen não foi diferente: ele serviu por duas vezes. Na primeira oportunidade,
ele foi chefe de uma assessoria do gabinete, e na outra, não foi chefe, e sim, um assessor da
assessoria três, numa função que hoje está na assessoria quatro, a parlamentar. Etchegoyen
(2019) ainda explicou:
69
Eu fiquei dois anos como assistente do general Josenildo Zoroasto de Lucena, que
era o ministro do Exército. Aí quando o General foi indicado, ele me convidou para
permanecer no gabinete, pois que era chefe de gabinete, quando fui promovido a
general de brigada. Quando ele foi ministro me convidou para entrar como
assistente dele. Eu fiquei lá dois anos. Depois eu fui para CEBW, nos EUA. Queria
voltar para Porto Alegre, porque meu pai estava doente, estava com 78 anos, e eu
queria ficar perto dele. Mas na véspera de eu passar na CBW, meu pai faleceu. O
general Bastos que era o chefe de Gabinete me ligou e perguntou se eu poderia
voltar para o gabinete. Voltei e depois fui chefe por dois anos. (ETCHEGOYEN,
2019).
Na trajetória militar, servir em escolas militares dá certo prestígio aos oficiais,
reconhecidos pela valorização do mérito, esses oficiais ganham pontuação diferenciada para
quem é instrutor. Além disso, os melhores oficiais com perfil de ensino são convidados para
servir nesses estabelecimentos de ensino. Confirmando o perfil do general Etchegoyen,
observou-se que ele serviu como instrutor na AMAN, em duas oportunidades distintas, na
EASA e na ECEME. Na AMAN foi instrutor do curso de Cavalaria, foi tenente no curso e
depois instrutor Chefe do quarto ano. Mais tarde, foi comandante da EASA, e da ECEME.
Serviu no exterior em El Salvador, numa missão de paz. Chefiou o CEBW, e fez um curso
de líder de missão da ONU, na África do Sul. No estudo da personalidade, indagou-se ao
general Etchegoyen sobre qual característica da sua personalidade é a mais determinante. O
general confidenciou que, às vezes, a sua característica mais determinante é o entusiasmo, o
otimismo. Ainda no campo da personalidade, sondou-se que traço do seu perfil não lhe
agrada e ele declarou que é a obsessão por fazer as coisas bem feitas. Ao ser perguntado
como acredita que seus liderados o percebem, ele respondeu que gostaria que as pessoas o
percebessem como uma pessoa de boa-fé, com todos os defeitos e dificuldades de um ser
humano normal, mas que faz as coisas com boa-fé.
Quanto ao controle emocional, o ator desse caso comentou que é fundamental, pois,
à medida que o chefe militar vai subindo na carreira, ele tem que aprender a se controlar. O
exercício de um atributo que não está nos atributos da área afetiva dos militares, que é a
temperança. A pior coisa do mundo é o chefe descontrolado ou emocionalmente afetado
diante de uma crise.
Mudando a temática, comentou-se com o general Etchegoyen sobre a relação que ele
faz da sua trajetória de vida. O ator desse caso revelou que é difícil dizer isso porque ele se
considera otimista. Ele tem uma vida muito feliz, viveu as dificuldades normais, as
ansiedades normais. Teve uma infância muito boa, de classe média. Ele sempre diz que não
teve que criar as suas oportunidades, ele não teve que trabalhar de dia para estudar de noite.
Sua família sempre proveu o que ele precisava para estudar. O seu grande mérito na vida foi
ter sabido aproveitar as oportunidades, mas Etchegoyen (2019) disse o seguinte: “pode ser
que o meu motorista, que eu já não tenho mais, tenha tido muito mais mérito para ser
70
motorista do que eu para chegar onde cheguei. Meu mérito foi aproveitar as minhas
oportunidades.”
Já chegando ao fim do estudo biográfico de Sergio Etchegoyen, foi perguntado como
ele atribuía a promoção a general, quanto às componentes pessoais. Ele começou dizendo
que depois de ter feito parte comissão de promoção (Alto Comando do Exército), as
componentes pessoais são importantes, mas são um conjunto, não é uma componente apenas.
Existem algumas componentes pessoais que podem desclassificar o profissional, mas não
tem uma que o classifique definitivamente, é o conjunto de uma vida, um filme. A pessoa diz
"Eu fui promovido a general", não é a fotografia do coronel, é o filme da vida do oficial. O
general seguiu explicando que um outro aspecto que as pessoas não levam em conta é a
necessidade do Exército naquele momento. Qual é o perfil que a instituição precisa para
aquele momento? A comissão tem no universo de promoção um militar com diversos
atributos, mas que tem uma incontinência verbal. Ele vai me ajudar? O Exército vai precisar,
por exemplo, de um general de engenharia no Alto Comando para ocupar o Departamento de
Engenharia e Construção (DEC). Portanto, o Exército vai promover um coronel engenheiro
com o perfil que o leve para o DEC. Tem momento que tem que focar para a instituição.
Olimpíadas, por exemplo, quem tinha experiência em grandes eventos esportivos no
momento das Olimpíadas, era importante estar entre os generais.
Quando perguntado sobre como ele definiria liderança, ele comentou que o líder
estratégico, na realidade, a liderança dele, não é dirigida aos seus liderados. Ela é uma
liderança, pelo que ele aprendeu, nas circunstâncias que viveu, em que o líder tem que
influenciar líderes para o foco da instituição e o conjunto. Isto é, se o líder está no Alto
Comando, todos são pares no Alto Comando. O integrante não vai liderá-los como chefe de
Estado-Maior, mas ele pode influenciá-los. Se o líder estratégico está no governo, ele é um
ministro, então ele só vai poder influenciar. A liderança do líder estratégico é uma liderança
horizontal, de influência. Porém, quanto à liderança estratégica exercida verticalmente, para
os seus liderados, os atributos são: o exemplo, a empatia, comunicabilidade e honestidade,
considerou o general.
O papel do líder estratégico é construir o futuro da instituição, mas em um contexto
muito maior que o da instituição. É visualizar a posição da instituição no País, para onde vai
o País e para onde o líder tem que levar a instituição para cumprir a missão.
Finalmente, encerrando a trajetória militar do general Etchegoyen, foi-lhe solicitado
a comentar se ele se sentia realizado profissionalmente. Ele prontamente afirmou, sem
titubear, que inteiramente realizado. Etchegoyen (2019) disse isso pensando no jantar de
despedida para a reserva remunerada:
71
Eu sempre olhava aquele jantar e ficava pensando como o sujeito vai chegar em
casa, depois daquele jantar e, pela última vez, despir o uniforme. Eu não senti
absolutamente nada. Eu não senti nada. Eu não pensei em nada, não fui me olhar
no espelho pela última vez. Porque foram tantas vezes que eu vesti o meu uniforme,
com tanto orgulho, com tanta alegria, que não me fez falta mais um dia. Não estava
fazendo falta. No dia seguinte, eu dei todos os meus uniformes. Não tenho nada,
não vou ficar ocupando espaço com isso. Acabou. Esse ciclo acabou.
(ETCHEGOYEN, 2019).
Por fim, o general deixou uma mensagem aos futuros líderes:
Duas coisas. Duas regrinhas. Uma que eu chamo de ‘regra de ouro’ e outra que
chamo de ‘ferramentas universais’, que elas servem em qualquer circunstância. A
‘regra de ouro’ é: ‘se tu queres liderar, você tem que estar entre as pessoas, ainda
mais na nossa profissão, que estamos sempre sucedendo um companheiro e serás
sucedido por companheiros’. A outra regra: ‘o lugar que eu estou servindo é o
melhor do mundo, quem me antecedeu estava certo e o meu sucessor é melhor do
que eu, porque aí conseguimos dar continuidade e não resvalar, escorregar eticamente.’ E o que eu chamo de ‘ferramentas universais’ são duas afirmações:
“firmeza de princípios e uma necessidade ou propósitos. Firmeza de princípios não
é intransigência. E se for por necessidade ou propósito. Se as coisas que eu fizer
forem por necessidade ou propósito, eu acho que estamos no caminho certo.
(ETCHEGOYEN,2019).
72
Cap. 6 Estudo de caso do general Augusto Heleno
6.1 Quanto aos traços de personalidade
O teste BFP aplicado no general Heleno mostra o seu perfil quanto ao fator
Neuroticismo (N), verificando-se inicialmente a Vulnerabilidade (N1), apontando um
percentil 75, considerado alto. Escores altos nessa faceta podem indicar baixa autoestima e
algum medo de que pessoas importantes venham a deixá-los em decorrência de seus erros.
Podem mostrar se são capazes de atitudes que vão contra a sua vontade, com o objetivo de
agradar aos outros. Tendem a relatar insegurança, dependência de pessoas próximas e certa
dificuldade ao tomar algumas decisões, mesmo em situações triviais do dia a dia. Em
sequência, o teste prossegue avaliando quanto à faceta Instabilidade (N2), que revela
percentil 15 (Baixo), isto é, escores baixos nessa faceta sugerem pessoas de humor
relativamente estável, com poucas manifestações de impulsividade e que apresentam elevada
tolerância a frustrações. Em continuidade ao fator Neuroticismo, segue-se a faceta
Passividade (N3), indicando um percentil 55, classificado como médio. Escores médios nessa
faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se refere ao nível de
atividade das pessoas e seu empenho para resolver situações rapidamente. Tal faceta também
se relaciona à velocidade de decisão. Tendem a não apresentar dificuldades para iniciar
tarefas, nem problemas em manter a motivação em afazeres longos ou difíceis. Tampouco se
apresentam como mais ágil em relação aos demais, demonstrando comportamento dentro da
média em relação a amostra investigada. A seguir, analisa-se a faceta Depressão (N4), com
percentil > 85, avaliado como muito alto. Escores muito altos nessa faceta indicam uma forte
tendência a relatar expectativas negativas em relação ao futuro e a ter uma vida monótona e
sem emoção. Além disso, tendem a sentir-se solitários, sem objetivos claros e consideram-se
incapazes de lidar com as dificuldades do cotidiano.
Próximo fator do BFP do perfil do general Heleno a ser analisado é a Extroversão
(E), iniciando pela faceta Nível de Comunicação (E1), apresentando percentil > 95,
classificado como muito alto. Escores muito altos nessa faceta denotam elevada facilidade
para falar em público, para conhecer novas pessoas e um maior senso de intimidade,
avaliando como profundas as relações relativamente recentes. Além disso, tendem a iniciar
conversas com os outros, expressar suas opiniões e interesses quando estão em grupo e
indicam que raramente sentem-se constrangidas em situações sociais. A segunda faceta da
Extroversão é a Altivez (E2), com percentil > 95 = muito alto. Escores muito altos nessa
73
faceta indicam necessidade de receber atenção dos outros; tendem a acreditar que os demais
os invejam e uma predisposição para falar excessivamente sobre si, suas qualidades e
posses. A faceta seguinte (E3) é o Dinamismo, com assertividade de percentil 55 = Médio.
Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se
refere a quanto as pessoas tomam a iniciativa em situações variadas, o quão facilmente
julgam colocar suas ideias em prática e seu nível de atividade é moderado, não demonstrando
proatividade, tampouco apresentando dificuldade em tomar a iniciativa para a
realização. Prosseguindo o estudo do teste aplicado ao general Heleno, segue-se a faceta
Interações Sociais (E4) com percentil > 15, avaliado como baixo. Escores baixos nessa faceta
sugerem tendência a preferir a companhia de poucas pessoas, demorando mais para construir
vínculos com aqueles ao seu redor. Costumam apresentar pouca necessidade de frequentar
lugares que propiciam a interação social.
Dando continuidade ao estudo do BFP, o próximo fator é a Socialização, iniciando
pela faceta da Amabilidade (S1), apresentando percentil > 60, considerado como médio.
Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no que se
refere a quão atenciosas, compreensivas e empáticas as pessoas procuram ser com as demais.
Além disso, indica quão agradáveis as pessoas buscam ser com os outros, observando suas
opiniões, sendo educadas com elas e se importando com suas necessidades. A faceta seguinte
do fator Socialização é a Pró-sociabilidade (S2), que apresenta o percentil 65, com resultado
médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média no
que se refere a comportamentos de risco, concordância ou confronto com leis e regras sociais,
moralidade e agressividade. Não apresentam tendência a manipulação das pessoas ao seu
redor, nem hostilidade em demasia. Geralmente, possuem uma postura flexível, porém
responsável acerca das regras e leis sociais. Em seguida, aparece a Confiança (S3), com
percentil 70, avaliado como médio. Escores médios nessa faceta indicam um padrão
comportamental dentro da média, no que se refere a quanto as pessoas confiam e acreditam
que os outros não as prejudicarão. Geralmente, possuem uma percepção realista sobre os
demais e conseguem desenvolver intimidade com as pessoas em que confiam.
Em sequência ao teste de BFP aplicado no general Heleno, apresenta-se o fator
Realização com suas respectivas facetas. A primeira delas é a Competência (R1), que mostra
percentil > 70, avaliado como alto. Escores altos nessa faceta indicam pessoas que tendem a
ser mais confiantes em relação à sua capacidade de realizar tarefas complexas e importantes.
Além disso, possuem objetivos definidos e esforçam-se mais para atingi-los. Outra faceta
analisada é a ponderação (R2), percentil 80, avaliado como alto. Pessoas que apresentam
escores altos nessa faceta apresentam tendência a ponderarem mais as suas atitudes, evitando
74
ser impulsivas ao resolverem problemas. Finalmente, a última faceta estudada, quanto ao
fator Realização, é o Empenho (R3), com percentil 55, classificado como médio. Escores
médios nessa faceta indicam um padrão comportamental dentro da média, no que se refere
ao nível de exigência pessoal em relação à qualidade das tarefas. Pessoas com esse perfil
investem mais energia em algumas atividades do que em outras.
Prosseguindo no estudo do teste BFP, segue o fator Abertura (A), com a faceta
Abertura a Ideias (A1), com percentil < 5, apontado como muito baixo. Pessoas que
apresentam escores muito baixos nessa faceta são pouco curiosas quanto a novos temas, são
mais conservadoras e fiéis a seus gostos artísticos. Possuem postura rígida quanto a
conceitos. Em relação à faceta Liberalismo (A2), o teste mostra um percentil 15 = Baixo.
Escores baixos nessa faceta sugerem pessoas com tendência a serem pouco flexíveis em
relação a valores e conceitos diferentes dos seus. Pessoas com esse perfil costumam ter mais
dificuldade em aceitar que os valores mudam ao longo do tempo. Por fim, a última faceta do
fator Abertura é a Busca por Novidades (A3), com percentil 25, considerado como baixo.
Escores baixos nessa faceta sugerem pessoas com tendência a serem pouco flexíveis com
relação a valores e conceitos diferentes dos seus. Pessoas com esse perfil costumam ter mais
dificuldade em aceitar que os valores mudam ao longo do tempo.
6.2 Quanto ao exercício da liderança estratégica
Nesta seção, aplica-se o Process Tracing na sua essência mais simples, ou seja,
itinerário formativo militar do general Heleno, apoiando-se na sua biografia pesquisada por
meio de entrevista focada e estruturada e documentos primários pessoais – assentamentos -
que constam o seu exercício de liderança nos diversos níveis de atuação ao longo da carreira
militar.
O general Heleno graduou-se aspirante-a-oficial de cavalaria em 1969, na Academia
Militar das Agulhas Negras (AMAN), sendo o primeiro colocado de sua turma de cavalaria.
Foi também o primeiro colocado de sua turma de cavalaria na Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (EsAO) e na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), recebendo
por isso a medalha Marechal Hermes de prata dourada com três coroas. No posto de major,
integrou a Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai. Como coronel, comandou a
Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas, e foi adido militar da
Embaixada do Brasil em Paris, acreditado também em Bruxelas. Como oficial-general, foi
comandante da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada e do Centro de Capacitação Física do
75
Exército (CCFEx), chefe do Centro de Comunicação Social do Exército (CComCEx) e do
Gabinete do Comandante do Exército (Gab Cmt Ex). (HELENO, 2020)
De junho de 2004 a setembro de 2005, foi o primeiro comandante militar da Missão
das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), constituída de um efetivo
de 6250 capacetes azuis de 13 países, dos quais sete latino-americanos. Como comandante
militar da Amazônia, o general Heleno integrou os povos indígenas com os efetivos militares
da região, no intuito de cada vez mais diminuir a influência de países com interesses escusos
na área. Sua última função no serviço ativo foi a de chefe do Departamento de Ciência e
Tecnologia. Em 9 de maio de 2011, numa cerimônia no Quartel General do Exército em
Brasília, passou para a reserva. (AUGUSTO HELENO, 2020)
Iniciando sua biografia, pesquisou-se as escolas que o ator desse caso estudou antes
de ingressar na carreira das armas. Heleno informou que estudou na escola Argentina, em
Vila Isabel, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, onde realizou seu curso primário (atual
ensino fundamental), e depois ingressou no Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Heleno veio de família de classe média. Seu pai era militar, então, sempre teve uma
vida muito regrada, dentro do salário. Sua mãe era professora, o que ajudava na época (era
uma ajuda bem considerável) e seu pai, depois, foi lecionar no Colégio Militar, e ainda
ministrava aula em vários lugares. Graças ao fato de seu pai ser professor e dar aula em três
lugares, que conseguiu comprar um carro. Não era fácil para um militar, àquela época, ter
carro.
Durante a carreira militar de Heleno, não realizou qualquer curso civil, até porque
não era incentivado isso no meio. Ele se lembra que na AMAN, já como instrutor, todos
tomaram um susto quando um subcomandante, que tinha acabado de chegar lá, tinha dois
cursos civis no currículo. E aquilo foi um susto para toda a oficialidade, porque era como se
fosse uma ofensa, comentou Heleno. Nos dias atuais, ter cursos civis é uma virtude. Hoje,
tem-se acesso muito grande a cursos de natureza civil, o que só acrescenta na bagagem
cultural do oficial, só os torna mais preparados e mais integrados à sociedade e o Exército
passou a estimular.
Quanto ao rendimento escolar do general Heleno na AMAN, ESAO e na ECEME,
verificou-se que sua mãe o ensinou a estudar, a ponto de Heleno confidenciar o seguinte:
Eu, realmente, se tiver prova para fazer, eu desequilibro, porque a
minha mãe me ensinou a fazer prova. Ela sempre foi muito exigente
e eu sempre estudei muito direcionado. Eu sempre fui muito
objetivo, minha mãe sempre foi muito objetiva no que eu estudava.
Eu aprendi a fazer resumo com ela, aprendi a estudar com ela e
aprendi a me cobrar. Eu sempre me cobrei muito, e o fato de me
cobrar acabava me tornando um estudante privilegiado, do ponto de vista de grau, porque eu me cobrava, eu não me contentava com o
76
limite, eu sempre queria chegar no máximo e fui o primeiro nas três
escolas. Logicamente, havia outros com a mesma e até maior
capacidade do que a minha, só que eu sabia fazer prova. (HELENO,
2019)
No que se refere à sucessão hereditária de militares na família, Heleno declarou que
seu pai era militar, seu avô era militar (seu avô era comandante da Escola Naval). Seu tio foi
general de divisão, irmão paterno. Teve um outro tio que foi general dentista na Marinha, seu
pai foi Coronel professor, morreu muito cedo. Então, ele sempre teve na família um incentivo
muito grande na carreira militar, sem que ninguém o tenha forçado, nem seu pai, nem a sua
mãe. Pelo contrário, eles sempre deixaram completamente ao seu critério sobre escolha da
carreira. Mas, naturalmente, ele ingressou no Colégio Militar e, sobretudo no Esquadrão de
Cavalaria do Colégio Militar, teve uma influência fundamental na escolha da carreira militar.
Talvez se ele não tivesse tido a oportunidade de ir para o Esquadrão de Cavalaria, não teria
escolhido a cavalaria como arma. O comandante que teve lá, teve uma influência muito
grande nessa sua escolha pela cavalaria, o Capitão Francisco Rabelo Leite Neto que, depois,
chegou a Coronel, foi comandante da Polícia Militar em Brasília e morreu quando era
comandante da Polícia Militar. Era um sujeito excepcional, uma liderança enorme. Da turma
de Heleno na cavalaria na AMAN, ele acha que dos 22, uns 15 passaram pela formação do
Rabelo.
Heleno seguiu do Colégio Militar direto para a AMAN. Uma parte da sua turma, que
está na cavalaria, foi para a Preparatória, foi oferecida a possibilidade de o aluno do colégio
ir para o segundo ano da Preparatória, e como muitos, viam na Preparatória já o
prosseguimento de carreira e, assim, seguiram. Ele considerava que tinha uma mordomia
grande por ser filho único, morava perto do Colégio Militar, ter pai e mãe muito dedicados a
ele, não quis perder essa mordomia e ficar afastado dos pais seguindo para a Preparatória.
Sua mãe era exigente em colocá-lo para estudar.
Nunca lhe fez falta esse aprendizado preparatório e acha que os que foram para
Campinas também ganharam muito, mas na época ele, inclusive, não tinha ainda decidido se
iria para a AMAN. Sobre seguir a carreira militar, Heleno do primeiro para o segundo ano,
na época o científico e, hoje, o ensino médio não tinha a decisão já consolidada. Se ele fosse
para a EsPCEx, estaria antecipando uma decisão. Preferiu esperar um pouquinho. Teve vários
incentivos na terceira série do científico que é hoje, a terceira série do ensino médio. Teve
oferta de muito curso vestibular, que lhe daria um carro se passasse em primeiro lugar no fim
do ano. Na época, havia uma indústria de cursinho no Rio de Janeiro. Então, ele teve essa
proposta, mas não seguiu nisso. Ele, enfim, decidiu na terceira série que iria para a AMAN e
partiu, teve um foco na sua vida.
77
Com a relação às competências que os liderados devem possuir para o atingimento
dos objetivos estratégicos, Heleno afirmou que eles devem ser competentes na atividade a
que se propõem. Cada um dentro de seu nível tem que ser competente, senão essa pirâmide
fica completamente enfraquecida. Heleno ressaltou dois importantes atributos essenciais que
o líder estratégico não pode abrir mão: o alinhamento dos objetivos estratégicos de sua
instituição os do escalão superior que é subordinado; e a visão de futuro que esse líder deve
estabelecer para todos os seus subordinados. Ele deu muita sorte ao longo da trajetória
militar. Só serviu em ambientes onde os seus subordinados eram competentes. Ele nunca teve
problemas com subordinados. Ele foi "frango"- tenente novo - na AMAN. Instrutor durante
cinco anos, puniu um cadete, seu amigo até hoje, já que a punição dele foi inevitável,
educativa total, O próprio punido mesmo, sabe. Heleno (2019) disse a ele: "Olha, você vai
ser o primeiro Cadete que viu eu punir aqui, talvez seja o último" e, realmente, foi o último.
Ele nunca teve necessidade de punir cadete, era visto como pacífico, apertava, mas sempre
teve muito cuidado com a história da punição. A punição precisa ser valorizada, se a punição
for aplicada indiscriminadamente, a todo momento, ela perde o valor, ela perde o efeito,
afirmou Heleno. Então, ele sempre teve muito cuidado com essa situação de punição e
elogio. Na visão dele, a punição e elogio são instrumentos fundamentais na mão do chefe. E,
quando se fala de liderança estratégica, esse conceito de punição e elogio, recompensa e
castigo, essas ferramentas têm de ser muito claras na cabeça do líder.
Na sequência, abordou-se com o general como ele enxerga o relacionamento social
no trato com o subordinado. Heleno opinou que o relacionamento social se estende da
sociedade, como um todo, para o estamento militar. Assim, o relacionamento social tem
diversas facetas. Há pessoas que por afinidade, por terem os mesmos gostos, às vezes até os
mesmos defeitos, relacionam-se melhor. Então, o líder acaba construindo com alguns
subordinados uma vida social mais próxima. Ele acha que isso é muito importante: o líder
estratégico entender a personalidade do seu subordinado e respeitá-lo (isso é fundamental).
Não existe liderança sem um respeito profundo entre o líder e o liderado. Essa história de
liderança é muito sensível, uma coisa que está sempre por um fio, esse relacionamento social
vai se estendendo, vai se tornando mais intenso, à medida que as pessoas vão se conhecendo,
como acontece em qualquer profissão e na sociedade em geral, comentou Heleno.
A discussão foi aprofundada até chegar na importância da comunicação entre o líder
e o liderado. A comunicação já tem que ser muito aperfeiçoada, senão esse termo é forçado.
Entre o comandante e o comandado, e entre líder e liderado, vai uma grande diferença. Na
opinião de Heleno (2019):
78
ser comandante e ter comandados é uma situação, agora, ser líder e ter liderados é
uma situação muito diferente que depende muito de outra coisa, não existe uma
regra, o líder pode ler todos os livros de liderança, assistir todas as palestras de
liderança, porém, isso é um exercício diário, permanente e não tem regra. Você
pega um sujeito, às vezes, que é duro, inflexível, às vezes até no limite do mal
educado, e ele lidera os seus comandados. E pega um outro sujeito que é muito boa
praça, não sei quê, mas o pessoal, quando comenta, quando senta para tomar
cerveja, diz "Com esse cara eu não vou para a guerra. É um cara muito querido,
mas para a guerra eu não vou com ele. (HELENO, 2019)
Portanto, segue a opinião de Heleno: “isso mostra bem que essa história da liderança
é uma ciência, mesmo. Ela é uma ciência e, em alguns pontos, é uma arte. Então, isso é um
ponto, fascinante da carreira militar, é a busca do exercício da liderança, que nem sempre se
consegue”. O líder estratégico não pode achar que sabe todos os princípios de liderança e
será líder. Esse líder pode saber todos os princípios de liderança de cor e não conseguir liderar
um grupo de combate. Outro líder, às vezes, contraria uma série de princípios de liderança e
lidera o Exército. Então, esses exercícios de liderança são atos, oportunidades. Esse
fenômeno é fascinante na carreira, ele acha isso sensacional, um desafio permanente e muito
gratificante.
Ainda no debate de liderança com esse ator do estudo de caso, discutiu-se como os
valores e crenças podem atuar no relacionamento entre líderes liderados. Heleno,
enfaticamente, respondeu que, principalmente, os valores são muito importantes. No entanto,
sem uma rigidez nesses valores. Há exemplos na história de homens como Churchill, que era
alcoólatra e mesmo assim, conseguiu liderar um país numa situação de extrema gravidade.
Assim, observa-se que o general inglês é exemplo típico que mesmo sem certos valores, ele
também pode liderar, de acordo com as oportunidades surgidas. Agora, tem valores que são
indiscutíveis. Heleno destaca a lealdade como um valor indiscutível, assim como a justiça é
inegociável. Segundo o general Heleno, é difícil você ter qualquer sujeito que tenha liderança
que não tem um enorme senso de justiça, porque isso influencia todos os outros valores, que
ficam completamente comprometidos quando o líder não tem senso de justiça.
Heleno percebe que a participação junto ao subordinado evoluiu muito. Nos últimos
tempos, até na AMAN, o instrutor pouco acompanhava os cadetes nas atividades diárias. Ele
lembra que na sua época de cadete, os capitães não faziam atividades acadêmicas em
conjunto com os cadetes, não realizavam nem Educação Física com o cadete. Ele não via o
capitão de calção e camiseta (uniforme usado para prática de treinamento físico). Hoje, o
capitão faz junto, o capitão na AMAN faz tudo com o cadete: pista de pentatlo, corrida e
exercícios de campo. Então, essa foi uma evolução provocada no desenvolvimento da
liderança na geração atual, pelo próprio conceito de liderança, ou seja, participação ativa nas
atividades diárias junto ao subordinado. O líder está na frente, ele não está mandando fazer,
está executando junto e isso foi sensacional, facilitou a escolha dos líderes. Ainda falando
79
sobre os valores, alguns são quase que obrigatórios na opinião de Heleno. O Ator dessa seção
de estudo de caso considera que o exemplo é fundamental, uma coisa que, se o líder relaxar,
perde toda a sua capacidade de liderar, quando ele não dá o exemplo.
Em relação às capacidades que o líder estratégico deve possuir para desempenhar a
sua função, o general Heleno mostra-se muito seguro em afirmar que esse entendimento do
líder estratégico, do líder operacional, que muita gente chama de "líder tático", mais ou
menos se confunde. No meio civil é muito mais o líder operacional. O líder que está ali,
desempenhando sua função, influenciando seus liderados. Observa-se que eles têm uma
diferença fundamental e que lhe parece que qualifica o líder estratégico. Se ele é líder
estratégico, não pode querer, ao mesmo tempo, ser o líder operacional. Seria muito fácil o
militar como general resolver ter atividade de tenente. Heleno deu um exemplo:
Teve uma época que todos os noticiários do Exército mostravam um general
olhando um cano de fuzil. Tudo que era general, fazia inspeção, olhava o cano do
fuzil, todo general fazia isso. Era meio que uma regra do cara ir para a inspeção e
olhar para o cano do fuzil. Mas até que um dia começou a crescer no Exército o comentário "Poxa, o general não é pra olhar cano de fuzil. Não é pra ver se a cama
de soldado está arrumada. O general tem que resolver os problemas no nível dele -
estratégico. Se ele for, hoje, comandar um pelotão no concurso de ordem unida, ele
acha que ganha. Mas, poxa, está completamente fora do meu raio de ação.
(HELENO, 2019)
O ator desse estudo de caso considera que essa é a primeira premissa do líder, a
postura de líder estratégico. Esse líder não pode querer, como líder estratégico, funcionar
como líder operacional, porque comprometerá a sua principal função, esse líder foi nomeado
para ser líder estratégico. Então, o líder tem que transmitir as suas ordens, tem que dar
importância (e muita) à liderança operacional, mas não pode querer facilitar a sua ação, como
líder estratégico, sendo o líder operacional e deixando a parte estratégica em segundo plano.
Isso acontece muitas vezes. É preciso ter a compreensão muito nítida do que é ser o líder
estratégico.
No contexto das oportunidades da carreira militar, sabe-se que os oficiais mais
brilhantes de cada turma, normalmente, são convidados para servir no Gab Cmt Ex. Com o
general Heleno tal fato ocorreu precocemente, ele começou como ajudante de ordem do
ministro do Exército, Sílvio Frota, um homem incorruptível, com uma retidão de caráter.
Depois foi assistente do general Leônidas, mas antes foi da assessoria um. Mais tarde, foi de
novo da assessoria um, saindo da Brigada Paraquedista. Numa outra oportunidade, veio para
a presidência, no governo Collor, dois anos e oito meses e, logo após, permaneceu um ano e
quatro meses no governo Itamar.
80
Ao regressar de missão no exterior na França, foi comandar a EsPCEx, em Campinas-
SP. Após esse comando, voltou para a assessoria dois, do gabinete do ministro, sendo
promovido a general. Sua primeira comissão foi o comando de uma Brigada. Na sequência,
foi designado para o Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx). De lá, retornou para
o Gab Cmt Ex, especificamente, no Centro de Comunicação Social do Exército (C Com Soc
Ex). Em sequência foi para o Haiti, e ao término da missão, mais uma vez voltou para o Gab
Cmt Ex como Ch de Gabinete.
No tocante às escolas militares, serviu na AMAM, ao término da ESAO. Era um
sonho dele, desde que tinha saído da AMAN como cadete. Heleno (2019) a considera um
templo e disse para o repórter Camarote da Globo News, em uma entrevista:
Olha você pode ir à AMAN e não precisa avisar, não precisa escolher o dia. Você
vai na academia qualquer dia. Cada pedaço de papel que você encontrar no chão,
eu te dou 100 reais. E aí depois disso o Comandante estava me dizendo que vai
muita gente de imprensa visitar a academia e comenta com o Comandante. “Poxa,
depois que o General Heleno falou, eu cheguei aqui e saí catando papel, não tem
nenhum. Eu não acho nenhum papel, tentei ganhar os 100 reais que ele prometeu,
e não tem”. (HELENO, 2019)
Nos anos seguintes, serviu na ECEME como instrutor, após sair da Brigada de
Infantaria Paraquedista (Bda Inf Pqdt). Heleno tem a percepção que na ECEME o instrutor
aprende mais que o aluno. Aliás, em todas as escolas é mais ou menos assim. Mas na
ECEME, particularmente, que é uma escola do saber diferenciado, outro nível, ratifica
Heleno
No tocante à personalidade, quando questionado sobre a característica que o general
Heleno achava mais determinante nele próprio, ele declarou que é persistência, porém se
acha também desorganizado demais, traço que sempre lhe incomodou, porque perde muito
tempo procurando coisas. Ainda dentro do universo dos traços de personalidade, procurou-
se saber do ator desse caso como ele acha que seus liderados o percebem. Heleno
confidenciou que sempre teve muita facilidade de relacionamento. Ele, apesar de ser filho
único, nunca foi criado como se fosse, até porque teve por muito tempo um primo que morou
com ele, com quem sempre teve um convívio muito grande. Ele levava seus amigos para
estudar na sua casa e isso o obrigava a ter essa sociabilização muito desenvolvida. Sempre
foi muito bem aceito pelo grupo e foi um fato que o ajudou muito ao longo da vida. Ele
entende que os seus companheiros sempre o perceberam como alguém que era um deles e
acho que ao se sentir num grupo como um deles é uma coisa fantástica, ajuda muito, de forma
natural.
81
Quanto ao aspecto do controle emocional em situações de crise, Heleno opinou que
sem chegar ao extremo, que ele conhece gente com essa característica mais ainda dominante
do que no caso dele, mas ele é capaz de ficar enfurecido com uma besteira, com uma televisão
que não liga, do que com a situação grave. Quando a crise se agravava, como no Haiti, por
exemplo, ele mantinha a tranquilidade total, mas é capaz de ficar nervoso com pequenas
coisas.
Já encerrando sua descrição de trajetória, o general falou sobre a sua, afirmando que
foi muito feliz e sempre foi muito vocacionado pelo que fazia, comentando que:
No dia eu entrei para o Exército, eu botei na minha cabeça que eu ia
ser general. Agora pode perguntar a todos os meus companheiros de turno, eu nunca trabalhei para isso. Foi uma coisa que foi natural até
pela minha classificação nos cursos. Isso foi facilitando a minha
chegada, lógico, mas eu nunca planejei isso, nunca. "Ah! Isso eu vou
fazer porque eu vou ser general", eu não tinha essas coisas na cabeça,
mas era uma coisa que eu, no dia que eu botei o pé na AMAN, meu
objetivo era ser general, não era ser capitão, era ser general. Agora
isso aí nunca influiu no meu comportamento. Meu comportamento
não mudou e por sorte, me julgo como tendo sido autêntico minha
vida inteira. (HELENO,2019)
Sobre as componentes pessoais que o levaram a ser escolhido a general, Heleno
informou que lealdade é uma coisa que influenciou muito, que inclusive na reunião de Alto
Comando ele viu que o sujeito que era atingido no atributo lealdade estava liquidado, estava
fora da disputa de escolha. Todos os generais de Alto Comando falavam: "Eu sou você
amanhã”. Portanto, a lealdade é um atributo de personalidade que não tem tolerância. “Ou
você é leal, ou você não é leal, para cima, para baixo e para os lados.”, comentou Heleno.
Outra competência pessoal que assinalou é a justiça. Além disso, considera também a
capacidade de trabalho. As funções que se ocupa depois de certo nível da carreira te exigem
muito. Quando chega no nível de estar assessorando um general, ou num estado-maior de
brigada, é muito exigido. Então, se você não for trabalhador e competente (capacidade de
trabalho) você não vai à frente, não tem jeito, a carreira é muito seletiva.
No tocante à definição de liderança e o papel do líder estratégico, o entendimento do
general Heleno é de que a liderança é a capacidade de do líder fazer os liderados seguirem
o que foi planejado, o que o líder orienta dentro dos padrões que são normais, quer dizer,
sem usar a sua autoridade em demasia e sem ser frouxo. É o líder conseguir conduzir um
grupo de pessoas na direção dos objetivos que foram estabelecidos. Isso não é muito simples,
é complicado. Na visão de Heleno, existem inúmeros livros, teorias, mas a liderança aparece
na prática, então acaba sendo ou não líder. Hoje, a teoria da liderança ser inata está muito
longe. Pouca gente acha isso o absoluto, mas é óbvio que alguns têm que estudar para ser
82
líder, aprender a ser líder, não agredir os princípios da liderança para chegar lá, outros têm
isso muito mais natural. Isso aparece desde cedo.
O general Heleno chegou ao final da sua entrevista dizendo que se sente totalmente
realizado profissionalmente e deixou uma mensagem aos futuros líderes do Exército:
Eu acho a primeira coisa: o exemplo como fundamental, não há concessão a isso.
Segunda coisa que é essencial, o respeito ao subordinado, respeito a todos,
superiores, e o subordinado principalmente. Eu não admito um cidadão que tem a
intenção de ser líder, por exemplo, chamar atenção do subordinado na frente dos
outros, sem necessidade. Ele perde o subordinado. O correto seria esse chefe
chamar o subordinado para ir à sua sala, líder e liderado, e o líder conversa com o
liderado. Agora, se o chefe chama atenção na frente dos companheiros, a tendência
é o sujeito reagir, e aí o chefe já pode ficar numa situação ruim. Outro exemplo: eu não consigo entender o comandante que chega no quartel, passa na Guarda, recebe
a continência da Guarda e é incapaz de cumprimentar o sargento comandante da
guarda, o oficial de dia. Ele entra nos lugares, não fala com seus subordinados.
Acho que isso é um total desrespeito ao subordinado, porque é o tipo do
procedimento que não custa nada e é um passo muito grande para ganhar a
admiração do liderado, nesse caso, o comandante está usando a chefia sem
liderança, e o respeito ao chefe depende disso. O respeito é uma mão dupla, se o
chefe não tem respeito pelo seu subordinado, o liderado finge que respeita o chefe
e na hora da verdade, o liderado vai puxar para trás, isso é fatal. (HELENO, 2019)
83
Cap. 7 Comparação Focada e Estruturada dos casos
7.1 Quanto aos traços de personalidade
Nesta seção, foram aplicadas as dimensões do teste BFP como fatores de comparação,
a saber: Neuroticismo, Extroversão, Socialização, Realização e Abertura.
7.1.1 Neuroticismo
O general Cardoso revelou comportamento independente em relação aos seus
liderados. Ele não toma decisão de forma impulsiva e apresenta alta tolerância a frustrações,
sendo altamente proativo. Toma decisões de maneira ágil e com forte motivação para levar
seus liderados aos objetivos estratégicos estabelecidos. Possui elevada dificuldade para
reconhecer eventos negativos e, ainda, apresenta facilidade em liderar eventuais crises.
Já o general Felix encontra-se dentro da média de quanto o indivíduo vivencia o
sofrimento emocional e de como os liderados o aceitam. Apresenta poucas variações de
humor (sem ficar irritado ou nervoso). Costuma resolver situações rapidamente por meio da
motivação, com ênfase em tarefas de longa duração e complexas. Tem boas expectativas
quanto ao futuro e confia na situação em lidar com dificuldades.
Por outro lado, observa-se que o general Elito sinaliza grande independência
emocional em relação aos outros. Conforme já mencionado no Cap. 4, pessoas com esse
perfil, geralmente, tendem a ser despreocupadas com as opiniões alheias e, usualmente,
tomam decisões e enfrentam problemas sem levar em conta os demais, o que pode afetar a
qualidade de suas relações interpessoais. Elito ainda apresenta pouquíssima variação de
humor, não toma decisões de forma impulsiva e apresenta alta tolerância a frustrações. É
altamente proativo, inicia e conclui tarefas importantes; usualmente, toma decisão de maneira
ágil. O general apresenta forte motivação intrínseca para realizar seus planos, sem precisar
de estímulos ou auxílio externo para iniciar e levá-los adiante. Ele possui elevada dificuldade
para reconhecer eventos negativos e avaliar problemas, minimizando-os. Elito tem
expectativa muito positiva em relação ao futuro, acreditando fortemente em sua capacidade
de lidar com eventuais dificuldades.
O general Etchegoyen revela padrão comportamental dentro da média, no que se
refere a quanto o indivíduo vivencia o sofrimento emocional em decorrência da sua
percepção de como os outros o aceitam. É um indicativo de maior flexibilidade em relação à
84
dependência emocional e à dificuldade para tomar decisões em função do medo de
decepcionar as pessoas. Ele apresenta pouquíssimas variações de humor; geralmente, não
toma decisões de forma impulsiva e apresenta alta tolerância a frustrações. Etchegoyen tende
a ser proativo, inicia e conclui tarefas importantes e frequentemente toma decisões de
maneira ágil. Ele ainda apresenta motivação intrínseca para realizar seus planos, sem precisar
de estímulos ou auxílio externo para iniciar e levá-los adiante. Apresenta dificuldade para
reconhecer eventos negativos e avaliar problemas. Geralmente, possui uma expectativa
positiva acerca dos acontecimentos futuros, acreditando ser capaz de resolver possíveis
dificuldades que venha a encontrar.
O general Heleno mostra que é capaz de aceitar atitudes que vão contra a sua vontade,
com o objetivo de agradar aos outros. O seu teste sugere que ele tem humor relativamente
estável, com poucas manifestações de impulsividade e que apresenta elevada tolerância a
frustrações. Indica também um padrão comportamental dentro da média no que se refere ao
nível de ação das pessoas e seu empenho para resolver situações rapidamente. Heleno tende
a não apresentar dificuldades para iniciar tarefas, nem problemas em manter a motivação em
afazeres longos ou difíceis. Tampouco se apresenta como mais ágil em relação aos demais,
demonstrando comportamento dentro da média em relação à amostra investigada.
7.1.2 Extroversão
O general Cardoso tem padrão comportamental dentro da média no que se refere a
quão comunicativas e expansivas as pessoas acreditam que ele seja. Não apresenta
dificuldade em se expressar em público e falar sobre si mesmo, agindo de forma flexível e
acordo com as situações. Cardoso tende a não se vangloriar por seus bens e capacidades
pessoais, além de apresentar pouca necessidade de chamar a atenção dos outros para si. Ele
pode apresentar alguma dificuldade em se perceber como pessoa capaz e de valor. O general
toma a iniciativa em situações variadas, o que facilmente julga colocar suas ideias em prática.
Cardoso tem padrão comportamental dentro da média no que se refere ao desejo e à
necessidade por interações sociais, como festas, atividades em grupo.
O general Felix é comunicativo e expansivo em relação às pessoas. Não apresenta
dificuldade em se expressar em público e falar sobre si próprio, agindo de forma flexível de
acordo com as situações. O general tem boa percepção em relação às pessoas têm sobre sua
capacidade e valor. Felix apresenta dificuldade em tomar a iniciativa para a realização. Seu
teste sugere tendência a preferir a companhia de poucas pessoas, demorando mais para
85
construir vínculos com aqueles ao seu redor. Costuma apresentar pouca necessidade de
frequentar lugares que propiciam a interação social.
O general Elito revela em seu teste facilidade para falar em público, com tendência a
se sentir íntimo das pessoas com mais rapidez. Costuma ser mais desinibido ao expor suas
opiniões e iniciar conversas, poucas vezes apresentando desconforto nessas situações. Ele
tem tendência de fazer com que os outros saibam sobre seus bens e capacidades pessoais.
Elito tende a acreditar que os outros os invejam e costumam falar sobre si, principalmente
sobre suas qualidades e posses. O general apresenta em seu teste dinamismo, envolve-se em
várias atividades simultâneas e prefere, mesmo quando está de folga ou de férias, manter-se
ocupado com atividades variadas. Altos níveis de dinamismo também são associados a uma
tendência à liderança e alto nível de assertividade. Elito demonstra, ainda, padrão
comportamental dentro da média no que se refere ao desejo e à necessidade por interações
sociais, indicando o quanto busca ativamente as situações que permitam tais interações, como
festas, atividades em grupo etc.
O general Etchegoyen sugere facilidade para falar em público, com tendência a se
sentir íntimo dos outros com mais rapidez. Costuma ser mais desinibido ao expor suas
opiniões e iniciar conversas, poucas vezes apresentando desconforto nessas situações. O
general revela tendência a ser humilde, a não se vangloriar pelos bens e capacidades pessoais,
além de pouca necessidade de receber atenção dos outros. Ele pode, inclusive, ter muita
dificuldade para reconhecer suas capacidades e atributos favoráveis, mesmo que sejam
evidentes. Etchegoeyn é mais dinâmico, envolve-se em várias atividades simultâneas e
prefere, mesmo quando está de folga ou de férias, manter-se ocupado com atividades
variadas. Ele possui altos níveis de dinamismo também associados a tendência à liderança e
alto nível de assertividade. O general tem padrão comportamental dentro da média no que se
refere ao desejo e à necessidade por interações sociais, indicando o quanto ele busca
ativamente situações que permitam tais interações, como festas, atividades em grupo, etc.
O general Heleno denota elevada facilidade para falar em público, para conhecer
novas pessoas e um maior senso de intimidade, avaliando como profundas as relações
relativamente recentes. Além disso, tende a iniciar conversas com os outros, expressar suas
opiniões e interesses quando está m grupo e indica que raramente sente-se constrangido em
situações sociais. Seu teste caracteriza-o como uma pessoa com necessidade de receber
atenção dos outros; tende a acreditar que os demais o invejam e possui uma predisposição
para falar excessivamente sobre si, suas qualidades e posses. Heleno toma a iniciativa em
situações variadas, o que facilmente decide colocar suas ideias em prática. Seu nível de
atividade é moderado, além de não presentar dificuldade em tomar a iniciativa para a tomada
86
de decisão. Heleno tem perfil que sugere tendência a preferir a companhia de poucas pessoas,
demorando mais para construir vínculos com aqueles ao seu redor. Costuma apresentar pouca
necessidade de frequentar lugares que propiciam a interação social.
7.1.3 Socialização
O general Cardoso indica padrão comportamental dentro da média no que se refere a
quão atenciosas, compreensivas e empáticas as pessoas procuram ser com as demais. Além
disso, indica quão agradáveis as pessoas buscam ser com os outros, observando suas
opiniões, sendo educadas com elas e se importando com suas necessidades. Sugerem que o
indivíduo procura evitar comportamentos que o coloquem em risco, bem como transgressões
às leis ou às regras sociais. Apresenta tendência a ser honesto com os outros, dificilmente os
induzindo a fazer algo contra a vontade e tem uma tendência em ser mais ingênuo,
acreditando muito nas pessoas.
O general Felix indica padrão comportamental compreensivo e empático com os
liderados. Além disso, o teste indica-o ser agradável com as pessoas. Observando a opinião
delas, sendo educado com seus subordinados e se importando com suas necessidades. Ele
possui um padrão comportamental normal no que se refere a comportamentos de risco,
concordância ou confronto com leis e regras sociais, moralidade e agressividade. Felix não
apresenta tendência à manipulação da sua equipe, nem hostilidade em demasia. Geralmente,
possui postura flexível, porém responsável acerca das regras e leis sociais.
O general Elito revela tendência a se preocupar com as necessidades dos seus
subordinados, buscando ajudar a resolver seus problemas, na medida do possível. Ele
costuma importar-se com o bem-estar dos liderados, tentando criar um ambiente no qual a
outra pessoa sinta-se à vontade. Elito, geralmente, esforça-se para ser uma companhia
agradável, expondo seu apreço pelo subordinado. Indica modelo comportamental dentro da
média no que se refere a comportamentos de risco, concordância ou confronto de leis e regras
sociais, moralidade e agressividade. Não apresenta tendência à manipulação das pessoas ao
seu redor, nem hostilidade em demasia. Usualmente, possui postura flexível, porém
responsável acerca das regras e leis sociais. O perfil revelado no teste do general sugere
tendência a ser mais ingênuo, acreditando muito nas pessoas, o que pode prejudicá-lo.
O general Etchegoyen revela tendência a se preocupar com as necessidades dos seus
liderados, buscando ajudar a resolver seus problemas, na medida do possível. O teste indica
que, por apresentar esse perfil costuma importar-se com o bem-estar dos subordinados,
tentando criar um ambiente no qual a outra pessoa sinta-se à vontade. O general, geralmente,
87
esforça-se para ser uma companhia agradável, expondo seu apreço pelo liderado. Etchegoyen
indica um padrão comportamental dentro da média, no que se refere a comportamentos de
risco, concordância ou confronto com leis e regras sociais, moralidade e agressividade. Não
apresenta tendência à manipulação dos seus subordinados, nem hostilidade em demasia. O
general usualmente possui uma postura flexível, porém responsável acerca das regras e leis
sociais. Ele pode representar uma postura ingênua com os seus pares.
O general Heleno apresenta padrão comportamental dentro da média no que se refere
a quão atencioso, compreensivo e empático o líder procura ser com seus liderados. Além
disso, o teste mostra o quão agradável esse líder busca ser com seus grupos de trabalho,
observando suas opiniões, sendo educado com elas e se importando com suas
necessidades. Heleno mostra, no que se refere a comportamentos de risco, concordância ou
confronto com leis e regras sociais, moralidade e agressividade. Ele não apresenta tendência
à manipulação dos liderados, nem hostilidade em demasia. O general normalmente possui
postura flexível, porém responsável acerca das regras e leis sociais. Seu perfil indica padrão
comportamental dentro da média, no que se refere a quanto escuta seus subordinados. Ele
denota confiança e acredita que os outros não as prejudicarão. Geralmente, possui percepção
realista sobre os demais e consegue desenvolver intimidade com seus liderados, em quem
confia.
7.1.4 Realização
O general Cardoso possui padrão comportamental de quem busca atingir seus
objetivos, bem como a predisposição para fazer sacrifícios pessoais. O teste sugere ser um
líder com percepção realista sobre si mesmo no tocante à sua capacidade de realização de
acordo com a situação. Ele não se mostra exageradamente confiante, nem desfavorável sobre
si próprio. Cardoso indica padrão comportamental normal em situações que envolvem o
cuidado com a forma de expressar suas opiniões ou defender seus interesses, bem como a
avaliação das possíveis consequências de suas ações.
O general Felix indica ser mais confiante em relação à sua capacidade de realizar
tarefas complexas e importantes. Além disso, ele tem objetivos definidos e se esforça mais
para atingi-los. O general mostra padrão comportamental dentro da média no que se refere a
situações que envolvem o cuidado com a forma de expressar opiniões ou defender interesses,
bem como a avaliação das possíveis consequências de suas ações. Felix apresenta padrão
comportamental dentro da média no que se refere ao nível de exigência pessoal em relação à
qualidade das tarefas, investindo mais energia em algumas atividades do que em outras.
88
O general Elito geralmente acredita no seu potencial de realizar várias tarefas ao
mesmo tempo e gosta de atividades complexas e desafiadoras. Frequentemente, possui
clareza sobre seus objetivos de vida e está determinado a alcançá-los. Elito geralmente é mais
ponderado quanto ao que diz e faz, conseguindo controlar a impulsividade ao solucionar
problemas. Ele tende a tomar muito cuidado com a forma de expressar opiniões ou defender
interesses. O general indica elevada dedicação às atividades profissionais/acadêmicas.
Geralmente, gosta de obter reconhecimento por seu esforço e que tende ao perfeccionismo.
Elito também descreve tendência a planejar detalhadamente os passos para a realização de
alguma atividade e a necessidade de revisões cuidadosas dos trabalhos antes de expô-los aos
seus chefes.
O general Etchegoyen revela no seu teste que, geralmente, acredita no seu potencial
de realizar várias tarefas ao mesmo tempo e gosta de atividades complexas e desafiadoras.
Frequentemente, possui clareza sobre seus objetivos de vida e está determinado a alcançá-
los. O general apresenta padrão comportamental satisfatório em situações que envolvem o
cuidado com a forma de expressar opiniões ou defender interesses, bem como a avaliação
das possíveis consequências de suas ações. Etchegoyen apresenta elevada dedicação às
atividades profissionais. Ele, usualmente, gosta de obter reconhecimento por seu esforço e
tende ao perfeccionismo. O general também descreve tendência a planejar detalhadamente
os passos para a realização de alguma atividade e a necessidade de revisões cuidadosas dos
trabalhos antes de expô-los aos chefes.
O general Heleno indica ser mais confiante em relação à sua capacidade de realizar
tarefas complexas e importantes. Além disso, ele possui objetivos definidos e esforça-se mais
para atingi-los. O general apresenta tendência a ponderar mais as suas atitudes, evitando ser
impulsivo ao resolver problemas. Heleno mostra perfil com padrão comportamental dentro
da média, no que se refere ao nível de exigência pessoal em relação à qualidade das tarefas.
Ele investe mais energia em algumas atividades do que em outras.
7.1.5 Abertura
O general Cardoso mostra padrão comportamental dentro da média no que se refere
à abertura para novos conceitos ou ideias, que podem incluir interesse por questões
filosóficas, arte, fotografia, estilos musicais e diferentes expressões culturais. Seu teste sugere
pessoa com tendência a ser pouco flexível com relação a valores e conceitos diferentes dos
seus. Cardoso costuma ter mais dificuldade em aceitar que os valores mudam ao longo do
tempo. O general sente-se desconfortável com a quebra de rotina, possui pouco interesse
89
para fazer coisas que nunca fez antes, de conhecer lugares novos e de se colocar em situações
diferentes daquelas que vive usualmente.
O general Felix indica ser pessoa mais aberta a novos conceitos e opiniões, demonstra
mais curiosidade pelo novo. Ele como demonstra esse perfil, costuma usar mais a
imaginação, interessando-se mais por atividades que propiciam discussões filosóficas e que
envolvam ideias abstratas. Felix apresenta bom padrão comportamental na forma de lidar
com diferentes valores morais e sociais. E tem a noção de que eles podem ser relativizados,
que podem mudar ao longo do tempo e ser diferentes em várias culturas e regiões. O general
apresenta tendência a se interessar mais pelo o que é novo, evitando uma rotina muito
estruturada. Ele pode desmotivar-se quando precisa realizar tarefas monótonas e repetitivas.
O general Elito indica padrão comportamental dentro da média no que se refere à
abertura para novos conceitos ou ideias, que pode incluir interesse por questões filosóficas,
arte, fotografia, estilos musicais e diferentes expressões culturais. O general tem tendência
a ser pouco flexível com valores e conceitos diferentes dos seus. Elito costuma ter mais
dificuldade em aceitar que os valores mudam ao longo do tempo. Ele tem predisposição a
sentir-se desconfortável com a mudança de rotina, possui pouco interesse para fazer
atividades novas, de conhecer lugares novos e de se colocar em situações diferentes daquelas
que vive habitualmente.
O general Etchegoyen apresenta um perfil mais aberto a novos conceitos e opiniões,
demonstra mais curiosidade pelo novo. O general costuma usar mais a imaginação,
interessando-se mais por atividades que propiciam discussões filosóficas e que envolvam
ideias abstratas. Mostra tendência a ser pouco flexível com valores e conceitos diferentes dos
seus. Etchegoyen costuma ter mais dificuldade em aceitar que os valores mudam ao longo
do tempo. Ele apresenta tendência a se interessar mais pelo o que é novo, conforme o Cap.
6, evitando uma rotina muito estruturada. Ele pode desmotivar-se quando precisa realizar
tarefas monótonas e repetitivas.
O general Heleno é pouco curioso quanto a novos temas, ele mais conservador e fiel
a seus gostos artísticos. O general possui postura rígida quanto a conceitos. Heleno mostra
tendência a ser pouco flexível em relação a valores e conceitos diferentes dos seus. Com esse
perfil, demonstra que costuma ter mais dificuldade em aceitar que os valores são sazonais.
Heleno é radical em aceitar valores e conceitos diferentes dos seus.
Conclui-se, parcialmente, que as dimensões presentes no teste BFP (ver Quadro 5 no
Anexo A) contribuíram para identificar o traço de personalidade de cada um dos cinco
generais (estudo de caso) e, ao mesmo tempo, cruzando esses perfis, verificou-se que todos
90
eles apresentaram altos potenciais para liderarem seus subordinados, o que explica de certa
forma a razão de terem sido escolhidos para função de Ministros do GSI/PR. (Ver figura 3)
Figura 3: Dimensões consolidadas
Fonte: o autor
7.2 Quanto ao exercício da liderança estratégica
Nesta seção, a comparação foi realizada com base nos seguintes fatores: Classe social/
Hereditariedade, instrutor nas Escolas Militares, Gab Cmt Ex/ Missão no exterior e Atributos
de Liderança Estratégica.
7.2.1 Classe Social/Hereditariedade
Nesta seção, observam-se dois aspectos importantes que ajudam a compreender as
trajetórias militares dos casos escolhidos e contribuem para a compreensão da chegada desses
generais a função de Ministro-Chefe do GSI/PR.
A classe social dos generais escolhidos é a mesma, isto é, todos eles vieram de
famílias de classe média, sendo que, quando crianças, os generais Elito e Heleno chegaram a
Neuroticismo Extroversão Socialização Realização Abertura
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
30
70
90
70
30
Dimensões Consolidadas
91
passar por dificuldades financeiras. A situação só melhorou quando se tornaram adolescentes
e tiveram acesso ao colégio militar. Já os generais Cardoso, Felix e Etchegoyen tiveram uma
situação financeira mais estável e não passaram por dificuldades.
No tocante à hereditariedade, verificou-se que os generais Cardoso, Etchegoyen e
Heleno vieram de famílias com tradição militar. Cardoso pertence à terceira linha sucessória
na árvore genealógica de sua família. Já Etchegoyen é o último na sucessão hereditária de
militares, pois seus filhos não seguiram a carreira militar. O mesmo acontece com o general
Heleno, que tem pai e tios militares, e não teve filhos seguindo a carreira militar.
Já os generais Felix e Elito vieram de famílias sem origem militares. O primeiro é
procedente de família libanesa, que se estabeleceu no Brasil como comerciante. O general
Elito tem procedência do interior nordestino, em Aracaju – SE.
7.2.2 Instrutor nas Escolas Militares
Em relação à participação dos generais escolhidos nas escolas militares, identificou-
se que todos eles foram convidados para serem instrutores, no mínimo, por mais de duas
escolas. O general Cardoso foi o que passou maior tempo servindo em escolas. Cardoso
serviu na AMAN-RJ, em cinco oportunidades, e na ECEME-RJ. Já o general Felix serviu na
EsACosAe-RJ no posto de tenente/capitão e na ECEME-RJ como tenente-coronel. O general
Elito serviu na AMAN-RJ como tenente/capitão; na EsAO-RJ como capitão/major; e na
ECEME-RJ como major/tenente-coronel. O general Etchegoyen serviu na EASA-RS e na
ECEME-RJ na qualidade de comandante nas duas escolas, a primeira como coronel; e a
segunda como general. O general Heleno serviu na ECEME-RJ (como tenente no curso de
cavalaria), na ECEME-RJ como tenente-coronel e no CCFEX-RJ, comandando como
general. Portanto, conclui-se parcialmente que todos os generais serviram nas escolas
militares de maior importância do Exército Brasileiro (EB).
7.2.3 Gab Cmt Ex/Missão no Exterior
O general Cardoso serviu no Gab Cmt Ex em 1991, antes de ser convidado para a
Gabinete Militar da PR, mais tarde GSI/PR. Cardoso participou de atividade no exterior
seguindo para Santo Domingo, na República Dominicana integrando um Batalhão de Força
Interamericana de Paz (FAIBRAS) como tenente. Em 1982 cursou a Escola de Comando e
Estado-Maior do Uruguai como major/tenente-coronel.
92
O general Felix é a única exceção de todos os demais casos. Ele foi convidado,
primeiramente, para ser instrutor da ECEME-RJ, e, em seguida, foi também convidado para
o Gab Cmt Ex. Como já havia aceitado o primeiro convite, declinou a possibilidade servir no
segundo. Portanto, Felix foi convidado mais não chegou a servir no Gab Cmt Ex. Em missão
no exterior, Felix foi enviado para fazer curso de Estado-Maior na Alemanha como major,
após ter concluído o curso da ECEME – RJ.
O general Elito serviu no Gab Cmt Ex nos anos de 1990, 91 e 92 no posto de tenente-
coronel/coronel e, logo em seguida, foi convidado para integrar a Casa Militar da Presidência
da República. Nos anos de 1997/99 foi escolhido para ser o Chefe da Segurança do Presidente
Fernando Henrique Cardoso. No exterior, Elito seguiu para a Inglaterra em 1988, onde foi
realizar o curso de Estado-Maior em Camberley, no posto de tenente-coronel. Nos anos entre
1995/1997, como coronel, Elito foi o primeiro adido do Exército e Aeronáutica na África do
Sul. Em 2006, como general de divisão foi designado para o cargo de Comandante da Força
de Paz na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH).
O general Etchegoyen serviu no Gab Cmt Ex em duas oportunidades. Na primeira,
ele foi chefe de uma assessoria do gabinete como coronel, e na outra, não foi chefe, e sim,
um assessor da assessoria três, numa função que hoje está na assessoria quatro, a parlamentar.
No exterior serviu em EL Salvador, em missão de paz. Chefiou o CEBW nos EUA e realizou
curso de líder de missão na ONU, na África do Sul.
O general Heleno serviu no Gab Cmt Ex muito cedo. Foi designado ajudante de ordem
do ministro do Exército, Sílvio Frota. Depois foi assistente do general Leônidas, mas antes
foi da assessoria um. Mais tarde, voltou para assessoria um, saindo da Brigada Paraquedista.
Numa outra ocasião, veio para a presidência, no governo Collor, dois anos e oito meses e,
logo após, permaneceu um ano e cinco meses no governo Itamar. No exterior serviu como
Adido do Exército na França como coronel. Após comandar a EsPCEx voltou para a
assessoria dois, do gabinete do ministro, sendo promovido a general. Após comandar o
CCFEx-RJ retornou para o Gab Cmt Ex, especificamente, no Centro de Comunicação Social
do Exército (C Com Soc Ex). Em sequência foi para o Haiti (MINUSTAH), e ao término da
missão, mais uma vez voltou para o Gab Cmt Ex como Ch de Gabinete.
93
7.2.4 Atributos de Liderança Estratégica
O general Cardoso elencou importantes atributos ao longo de sua entrevista,
destacando a empatia, a motivação, o comprometimento, a camaradagem, alinhamento com
o escalão superior e visão de futuro. Já o general Felix enumerou outros importantes
atributos, dando destaque ao comprometimento, à empatia, ao conhecimento profissional,
visão prospectiva e, o mais importante para um líder estratégico: o controle emocional.
O general Elito citou importantes atributos que, na sua visão, são cruciais para o êxito
do líder estratégico na condução dos objetivos estratégicos: a responsabilidade, o
alinhamento de objetivos da sua instituição com os objetivos do comando superior, o
comprometimento, foco, a motivação, a competência (capacidade profissional), o controle
emocional, visão de futuro e a capacidade de coordenação e controle.
O general Etchegoyen enfatizou, entre os principais atributos, a empatia (carisma), a
capacidade profissional, o foco na busca das metas, o equilíbrio emocional (temperança), a
credibilidade (exemplo), motivação (entusiasmo), boa-fé, cultura geral e profissional,
alinhamento com as instituições superiores, necessidade de propósitos, visão de futuro e
firmeza de princípios. Já o general Heleno ressaltou entre os mais importantes atributos a
visão prospectiva, alinhamento com o escalão superior, a competência (capacidade
profissional), a empatia (carisma), a cultura geral e profissional, foco na busca das metas e
exemplo para os seus liderados.
Do estudo comparativo dos cinco generais e após a enumeração de diversos
atributos, chegou-se aos comuns, isto é, todos os generais foram incisivos em destacar os
mais importantes que facilitam as ações dos líderes estratégicos na consecução dos objetivos
estratégicos que devem ser atingidos.
O mais importante deles é a empatia do líder com os seus liderados, procurando
sempre estar presente junto ao grupo de trabalho a que pertence, e quando isso não for
possível, que o seu Estado-Maior o faça da melhor maneira possível.
Outro importante atributo que faz com que o líder estratégico seja respeitado perante
os seus subordinados é a capacidade profissional (competência). Os subordinados sentem-se
mais confiantes quando percebem que o seu líder domina o assunto que está sendo
transmitindo para as ações estratégicas.
Destaca-se também como importantes atributos enumerados pelos generais, a visão
de futuro da instituição que o líder estratégico pertence e o alinhamento de propósitos com
os escalões superiores e foco na busca de atingir as metas.
94
Finalizando os atributos mais citados pelos generais, verificou-se que o
comprometimento foi um dos mais comentados, visto que o líder estratégico ao se
comprometer com a missão, certamente será visto pelos seus liderados como um dos
integrantes do grupo a que esse líder estratégico pertence.
Portanto, conclui-se de forma parcial que os fatores de comparação levantados no
presente trabalho ajudam a compreender de que forma esses generais (atores do estudo de
caso) foram escolhidos para o cargo de Ministro-Chefe do GSI/PR.
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho estuda os traços de personalidade e do exercício da liderança
estratégica presentes na formação pessoal e profissional dos generais Cardoso, Felix, Elito,
Etchegoyen e Heleno, com o intuito de compreender como todos eles foram alçados para o
cargo de Ministro-Chefe do GSI/PR. Pode-se identificar que os perfis de personalidade e a
presença de importantes atributos de liderança estratégica presentes nos generais
contribuíram para a convergência de como um líder estratégico pode ser formado.
Vale reforçar o imbricamento entre os estamentos político e militar abordados por
Clausewitzs (2010), trazido para esta pesquisa por meio da participação dos generais para o
cargo de Ministro Chefe do GSI/PR. Além disso, enfatiza-se a metodologia com o estudo de
caso de cinco generais (PT), por meio da narrativa histórica (biografia), seguida da
comparação focada e estruturada, conforme George e Bennett (2005) afirmam.
Este estudo mostra que todos os generais convergem nas características alinhadas
com as competências do líder estratégico por apresentarem alta tolerância às frustrações,
poucas variações de humor e afeto, grande equilíbrio emocional (principalmente nos
momentos de crise), proatividade (antecipar-se aos problemas) e interesse pelas tarefas
propostas (motivação), otimismo e expectativa positiva acerca dos acontecimentos. Também
apresentam facilidade de comunicação (levar com exatidão o objetivo estratégico), de forma
clara e objetiva, pois os generais se reportam ao público com boa expressão, não se
vangloriam por bens ou capacidades, conseguindo manter a humildade nos afazeres, buscam
o alinhamento de objetivos, o foco a ser atingido pela instituição e a visão de futuro
imprescindível para o êxito de qualquer instituição/empresa/direção.
Os generais são assertivos, manifestando ter um pensamento coerente com a ação,
facilidade em trabalhar em equipe (Estado-Maior), sem dificuldades de socialização,
interação e integração, conseguindo manter vínculos, além de considerarem importantes as
boas relações da vida prática e diária. Possuem empatia, são agradáveis e pacificadores,
tomando decisões com firmeza e confiança em si e no liderado. São, ademais, flexíveis e
ponderados, conseguindo, ainda, lidar com situações conflitantes e, mesmo assim, com uma
postura justa, sendo cuidadosos com a forma de emitir opiniões e de defender interesses
(estabilidade emocional). São abertos a novas ideias, com soluções novas, apesar de seguirem
regras e rotinas (inovadores). Por serem muito dedicados, organizados, críticos e exigentes,
lidam bem com as mudanças, mas tendem a realizar o planejamento das ações, controlando,
96
gerenciando e direcionando o investimento do tempo e energias nas atividades (capacidade
de coordenação e controle).
Após os resultados deste trabalho, que revelam importantes qualidades para um líder
desempenhar cargo de relevância no Executivo Federal, este estudo não tem a pretensão de
esgotar este tema, mas sim abrir a possibilidade para futuras pesquisas, inclusive no
prosseguimento de doutorado deste autor, no sentido de como estudar os generais que
ocuparam o Ministério da Defesa; os generais escolhidos para ocuparem cargos de segurança
pública federal e estadual. Outra possibilidade de novas pesquisas seria a verificação da
atuação desses generais, não como líderes, mas como se comportariam como liderados
(subordinados) ao longo de suas respectivas trajetórias militares.
97
REFERÊNCIAS
ALLPORT, G. W. Pattern and Growth in Personality. New York NY: Holt, Rinehart and
Winston, Inc.1961.
AUGUSTO HELENO. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. [São Francisco, CA:
Fundação Wikimedia], 2017. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Heleno. Acesso em: 6 jan. 2020
BARBOSA, Jeferson Rodrigues; GONÇALVES, Leandro Pereira; VIANNA, Marly de
Almeida Gomes; CUNHA, Paulo Ribeiro da (Org). Militares e a política no Brasil- 1.ed. -
São Paulo: Expressão Popular, 2018.
BENNIS, W. NANUS, B. Líderes: Estratégias para assumir a verdadeira liderança. São
Paulo: Harbra, 1988.
BERGAMINI, Cecília W. Liderança: administração do sentido. São Paulo: Atlas, 1994.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil;
promulgada em 5 de outubro de 1988: atualizada até a Emenda Constitucional nº 42, de 12-
12-2003. 4. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2004.
BRASIL. Estado-Maior. C 20-10: Liderança Militar. 1. ed. Brasília, DF, 2011.
BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Estado-Maior do Exército. Manual de
Campanha C 20-10 – LIDERANÇA MILITAR, 2.ed. Brasília, DF: MD, 2011.
BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Estado-Maior do Exército. Manual de
Fundamentos EB 20-MF-10.101 – O Exército Brasileiro, 1. ed. Brasília, DF: MD, 2014.
CARDOSO, Alberto Mendes. Entrevista m4a [out. 2017]. Entrevistador: Rogério de
Amorim Gonçalves. Brasília, 2016. 1 arquivo .mp3. Entrevista faz parte do questionário de
liderança estratégica. Estudo de Caso.
CARDOSO, José Carlos. O Líder Estratégico: sua importância e competências na era do
conhecimento - Rio de Janeiro: RJ, 2014. 41 p. Monografia apresentada à Escola Superior
de Guerra do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), Rio de Janeiro-RJ,
2014.
CARNEGIE, Dale. Liderança: como superar-se e desafiar outros a fazer o mesmo. Dale
Carnegie & Associates, Inc; tradução Emirson Justino. 2. ed. - São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 2012.
CARVALHO, Affonso de. Caxias. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1976.
98
CATELL, R. B. The scientific analysis of personality. Londres : Penguin Books, 1965. f
CLAUSEWITZ, Carl Von, 1780-1831. Da guerra / Carl Von Clausewitzs; [Tradução
Maria Teresa Ramos]. 3. ed. - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
CRESWELL, J. Educational research: Planning, conducting and evaluating quantitative
and qualitative research. 4. ed. Lincoln: Pearson, 2012.
DRUCKER, Peter F. Liderança para o século XXI. Rio de Janeiro: Editora Futura, 2000.
ETCHEGOYEN, Sergio. Entrevista m4a [out. 2017]. Entrevistador: Rogério de Amorim
Gonçalves. Brasília, 2017. 1 arquivo .mp3. Entrevista faz parte do questionário sobre
liderança estratégica. Estudo de Caso.
FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra,
1986.
FELIX. Jorge Armando. Entrevista m4a [jun. 2019]. Entrevistador: Rogério de Amorim
Gonçalves. Rio de Janeiro, 2020. 1 arquivo .mp3. Entrevista faz parte do questionário sobre
liderança estratégica. Estudo de Caso.
FIEDLER, Fred E. Cognitive Resources and Leadership Performance. Applied
psychology: an international review. Washington, v. 44 (1), p. 5-28, 1995.
GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL. Histórico. 2020. Disponível em:
https://www.gov.br/gsi/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/historico. Acesso em: 27
fev. 2020.
GEMELLI, Agostinho e ZUNINI, Giorgio. Introdução à psicologia. Rio de Janeiro: Livro
Ibero-americano, Ltda, 1961.
GEORGE, Alexander L. e BENNETT, Andrew. Case studies and theory development in
the social sciences/ BCSIA study and international Security, 2005.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1987.
GONÇALVES, Rogério de Amorim. Análise comparativa da liderança exercida por
pessoas que não ocupam cargo de chefia nos ambientes militar e empresarial. 2005.
112 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Rio de
Janeiro, 2005.
HELENO, Augusto. Entrevista 5[ago. 2019]. Entrevistador: Rogério de Amorim
Gonçalves. Brasília, 2019. 1 arquivo .mp3. Entrevista faz parte do questionário sobre
liderança estratégica. Estudo de Caso.
99
HELENO, Augusto. Gabinete de Segurança Institucional. [Entrevista concedida à
Globonews]. Entrevistador Gerson Camarote. 23[mai. 2019]. Brasília, 2019.
HERNÁNDEZ, R.; FERNÁNDEZ, C.; BAPTISTA, P. Metodología de la investigación. 5.
ed. Ciudad de México: McGraw Hill Interamericana, 2010.
JACOBS, T. O.; JAQUES, E. Military executive leadership. In: CLARK, K. E.; 1990.
JORGE ARMANDO FELIX. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. [São Francisco, CA:
Fundação Wikimedia], 2017. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Armando_Felix. Acesso em: 20 set. 2019.
JOSÉ ELITO CARVALHO SIQUEIRA. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. [São
Francisco, CA: Fundação Wikimedia], 2017. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Elito_Carvalho_Siqueira. Acesso em: 16 mar.
2020.
JÚNIOR, José Diderot Fonseca. Liderança- O papel das Escolas Militares na formação e
no amadurecimento do líder militar, oficial do Exército Brasileiro, nos seus diferentes
níveis: tático, organizacional e estratégico. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso
(Especialização em Política, Estratégia e Alta Administração Militar) da Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2017.
KENNEDY, Carrie e ZILMER, Eric A. Psicologia Militar - Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 2009.
LEBOWITZ, M. S., & Ahn, W.-k. Using personification and agency reorientation to
reduce mental-health clinicians’ stigmatizing attitudes toward patients. Article, 2016.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1037/sah0000020. Acesso em 12 jun 2019.
MAIA, Renato Pitaluga. Assentamentos da AMAN, 2º semestre de 1969, de José Elito
Carvalho Siqueira – Resende, Rio de Janeiro: alterações da AMAN, 1969.
MANDELLI, Pedro, LORIGGIO, Antonio. O papel central do líder, sua motivação,
proatividade e equilíbrio emocional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
MERTENS, D. Research and evaluation in Education and Psychology: Integrating
diversity with quantitative, qualitative, and mixed methods. 2. ed. Thousand Oaks: Sage,
2005.
MERTENS, D. Research and evaluation in Education and Psychology: Integrating
diversity with quantitative, qualitative, and mixed methods. 4. ed. Thousand Oaks: Sage,
2015.
100
NUNES, Carlos Henrique Sancineto da Silva. Bateria Fatorial de Personalidade (BFP):
manual técnico/ Carlos Henrique Sacinetoda Silva Nunes, Claudio Simon Hutz, Mariana
Farias Oliveira Nunes- São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.
NYE, Joseph S. O talento para liderar. Tradução: Rodrigo Alva. - Rio de Janeiro: Best
Seller, 2011.
RAUCH, C. F., e BEHLING, O. Functionalism: Basis for an alternate approach to the study
of leadership. In J. G. Hunt, D. M. Hosking, C. A. Schriesheim, & R. Stewart (Eds.), Leaders
and managers: International perspectives on managerial behavior and leadership(pp. 45-62).
New York: Pergamon Press.1984.
SALGADO, A. Investigación cualitativa: diseños, evaluación del rigor metodológico y
retos. LIBER, Lima, v. 13, n.13, p. 71-78,2007.
SERGIO ETCHEGOYEN. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. [São Francisco, CA:
Fundação Wikimedia], 2017. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Etchegoyen. Acesso em: 20 set. 2019.
SIQUEIRA, José Elito Carvalho. Entrevista m4a [mar. 2020]. Entrevistador: Rogério de
Amorim Gonçalves. Bahia, 2020. 1 arquivo .mp3. Entrevista faz parte do questionário
sobre liderança estratégica. Estudo de Caso.
VIEIRA, Belchior. Liderança militar. Academia Militar de Portugal. Estado-Maior do
Exército de Portugal, 2002.
WEBSTER, L.; MERTOVA, P. Using narrative inquiry as a research method: An
introduction to using critical event narrative analysis in research on learning and teaching.
Oxford: Routledge Taylor and Francis Group, 2007.
WOODWORTH, Robert S. e MARQUIS Donald G. Psicologia. Tradução de Lavínia
Costa Raymond. São Paulo. Companhia Editora Nacional, 1959.
101
ANEXO A: QUADROS
Quadro 1:Porcentagem de ministros militares, 1871-1930 (ministros efetivos)
1871-1889 1889-1894 1894-1910 1910-1918 1918-1930
6,06
(N=66)
35,00
(N=40)
40,00
(N= 50)
41,66
(N=24)
21,21
(N=33)
Fontes: Barão de Javari, Organizações e Programas Ministeriais, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1889 e Dunshee de Abranches, Governos e congressos da República dos Estados Unidos do Brasil
(1889-1917), op.cit.
“N” representa o número total de ministros em cada período.
Quadro 2: Lista de cargos no período de 1930 -1945
Cargos Nome Período
Estado-Maior do Governo
Provisório
General de Brigada Francisco
Ramos de Andrade Neves
1930-31
Capitão de Mar e Guerra Raul
Tavares
1931
General de Brigada João
Ferreira Johson
1931-32
Coronel Pantaleão da Siva
Pessoa
1932-34
Estado-Maior do Governo Coronel Newton de Andrade
Cavalcante
1935
Chefe do Gabinete Militar: General de Brigada Francisco
José Pinto
1938-42
General de Brigada Firmo
Freire do Nascimento
1942-45
Fonte: Estado-Maior do Governo Provisório, de 1930 a 1945.
Quadro 3: Lista de cargos no período de 1945-1964.
Cargos Nome Período
General de Brigada Francisco Gil Castelo
Branco
1945-46
General de Brigada Álcio Couto 1946-48
General de Brigada JoãoValdetaro de
Amorim e Mello
1948-50
102
Segurança Institucional
General de Exército Newton de Andrade
Cavalcante
1950-51
General de Brigada Ciro do Espírito
Santo Cardoso
1951-52
General de Brigada Aguinaldo Caiado de
Castro
1952-54
General de Divisão Juarez Távora 1954-55
General de Divisão José Bina Machado 1955
General de Divisão Floriano de Lima
Brayner
1955-56
General de Brigada Nélson de Melo 1956-60
General de Brigada Waldemar Pio dos
Santos
1960-61
General de Brigada Pedro Geraldo de
Almeida
1961
General de Brigada Ernesto Geisel 1961
General de Divisão Amaury Pio dos
Santos
1961
General de Divisão Aurélio de Lira
Tavares
1961-62
General de Divisão Amaury Kruel 1962
General de Brigada Albino Silva 1962-63
General de Divisão Aurélio de Lira
Tavares
1963
General de Brigada Argemiro de
Assis Brasil
1963-64
Fonte: Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de 1945 a 1964.
Quadro 4: Lista de cargos de 1985 a 2019
Cargo Nome Período
Chefe do Gabinete Militar
General de Divisão Rubens
Bayma Denys
1985-1990
General de Divisão Agenor
Francisco Homem de Carvalho
1990-1992
103
General de Brigada Fernando
Cardoso
1992-1995
General de Exército Alberto
Mendes Cardoso
1995-2002
Chefe do Gabinete de
Segurança Institucional da
Presidência da República
General de Exército Alberto
Mendes Cardoso
2002
General de Exército Jorge
Armando Félix
2003-2011
Chefe da Casa Militar
General de Exército José Elito
Carvalho Siqueira
2011-2015
General de Exército Marcos
Antonio Amaro dos Santos
2015-2016
Chefe do Gabinete de
Segurança Institucional da
Presidência da República
General de Exército Sérgio
Etchegoyen
2016-2018
General de Exército Augusto
Heleno
A partir de 2019
Fonte: Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de 1985-2019.
Quadro 5: Síntese das dimensões
Síntese das dimensões de personalidade dos casos
Atores do
estudo de caso
A B C D E
Neuroticismo
Extroversão
Socialização
Realização
Abertura
Gen Cardoso Muito baixo Médio Alto Médio Muito
baixo
Gen Felix Médio Médio Alto Médio Alto
Gen Elito Muito baixo Muito alto Alto Muito alto Médio
Gen Etchegoyen Baixo Alto Muito alto Muito alto Médio
Gen Heleno Médio Muito alto Alto Alto Baixo
Fonte: o autor
104
A- Características emocionais dos indivíduos. Alto índice são mais propensos a experimentar
sentimentos negativos.
B- Forma como os indivíduos interagem. Alto índice são mais propensos a lidarem de forma
positiva com os demais.
C- Qualidade das relações interpessoais. Alto índice são mais propensos a relações salutares.
D- Grau de motivação dos indivíduos. Alto índice são mais propensos na busca pelos
objetivos.
E- Comportamentos exploratórios. Alto índice são mais propensos a novas concepções e
experiências.
105
ANEXO B: CRONONOGRAMA
Evento
2019 2020
Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Preparação
do projeto X x X
Pesquisa
Bibliográfica X x X X x x
Qualificação x
Entrevistas X x x
Análise dos
dados x x X
Confecção
dos anexos x x
Defesa da
dissertação x
106
ANEXO C: QUESTIONÁRIOS DE ENTREVISTAS
1) No contexto do Exército Brasileiro
a. Quais escolas o senhor estudou antes de ingressar na carreira militar?
b. Durante a carreira militar, o senhor realizou algum curso fora da força?
c. Qual a classe social de sua família?
d. Como foi o rendimento escolar do senhor na AMAN, ESAO e ECEME?
e. O senhor vem de sucessão hereditária em relação à carreira militar?
2) No contexto do papel do indivíduo
a. Quais são competências que seus liderados devem possuir para atingirem os objetivos
estratégicos?
b. Como o senhor enxerga o relacionamento social no trato com o subordinado?
c. Qual a importância da comunicação entre líder e liderado?
d. Como os valores e crenças podem atuar no relacionamento entre líder e liderado?
e. Quais capacidades um líder estratégico deve possuir para desempenhar sua função?
3) No contexto das oportunidades situacionais
a. O senhor serviu no Gabinete do Cmt Ex em algum momento da carreira?
b. Quais escolas militares o senhor serviu como instrutor/Cmt?
c. O senhor serviu no exterior em algum momento da carreira? Em que locais?
d. O senhor serviu antes de ser ministro em algum órgão do governo federal?
4) Qual característica, quanto à sua personalidade, é mais determinante no Sr?
5) Quais traços do seu perfil não lhe agradam?
6) Como o senhor supõe que outras pessoas o percebem?
7) Qual a visão do senhor quanto ao controle emocional?
8) Qual reflexão o senhor faz de sua trajetória de vida?
9) O senhor atribui a promoção a general a quais componentes pessoais?
10) Como o senhor define liderança e líder estratégico?
11) O senhor se sente realizado profissionalmente?
12) Qual mensagem o senhor deixa para os futuros líderes?
107
ANEXO D: AUTORIZAÇÕES
108
109
110
111