TRANSTORNO COMPULSIVO-OBSESSIVO (TOC)
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FACULDADE PADRE JOÃO BAGOZZI
PÓS-GRADUAÇÃO BAGOZZI
NÚCLEO DE CIÊNCIAS DA VIDA E DA SOCIEDADE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO lato sensu – ESPECIALIZAÇÃO EM
ALFABETIZAÇÃO
TRANSTORNO COMPULSIVO-OBSESSIVO (TOC)
Ana Paula Demetrio
1. TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é uma doença psiquiátrica que
está classificada dentro dos transtornos de ansiedade e afeta aproximadamente
4% da população mundial, ou seja, uma em cada 25 pessoas apresenta esse
transtorno. (SILVA, 2004, p. 16). O transtorno atinge homens e mulheres de
diferentes países, culturas e níveis socioeconômicos. No entanto, os homens
apresentam os sintomas mais precocemente na infância. É mais frequente ver
meninos, na faixa etária entre 4 e 10 anos, com sinais de transtorno do que
meninas.
O TOC caracteriza-se pela presença de obsessões e/ou compulsões.
Obsessões são eventos mentais intrusivos, por exemplo, pensamentos, imagens e
impulsos que são evidenciados pelo indivíduo, ou seja, há o reconhecimento dos
pensamentos e impulsos, mas não há controle dos aparecimentos deles pelo
portador. As Compulsões (conhecida popularmente como manias) são
comportamentos repetitivos e, às vezes, irracionais executados física ou
mentalmente em respostas às obsessões, são formas de diminuir o desconforto
que estas causam.
O TOC é multifatorial, ou seja, pode ser determinado por fatores genéticos e
ambientais. O estresse, alterações hormonais e determinados casos infecciosos
podem aumentar as chances de a pessoa apresentar o transtorno. Em crianças e
adolescentes é muito semelhante ao de adultos em suas manifestações,
entretanto, o TOC com início na infância tem sintomas mais graves e persistentes,
apresenta mais comorbidades como Síndrome de Tourette, TDAH e transtornos
afetivos.
Na avaliação psiquiátrica da criança devem-se separar as manifestações do
TOC de comportamentos repetitivos ou ritualizados próprios das diferentes fases
evolutivas da criança. Tais comportamentos geralmente têm um caráter lúdico e
são prazerosos. As compulsões do TOC são mais estereotipadas e repetitivas; são
geralmente precedidas por obsessões e são executadas com a finalidade de
reduzir medos ou desconfortos. Os rituais ocupam um tempo significativo do dia,
pelo menos uma hora por dia, além de ser acompanhado por um sofrimento
subjetivo grande que interfira na vida pessoal.
Existe uma grande variedade de apresentação do TOC, mas as principais e
mais comuns obsessões envolvem medo de contaminação, dúvidas persistentes,
blasfêmias religiosas, desejos agressivos, obsessões simétricas e somáticas. Os
portadores nem sempre têm mais de um deles, alguns costumam ter apenas de
determinado tipo, que sempre estará relacionado a seus maiores medos e dúvidas.
Os rituais, compulsões e manias quase sempre vão se enquadrar nos mesmos
tipos de obsessões . Assim, há rituais e compulsões de limpeza e lavagem quando
o indivíduo tem, por exemplo, uma obsessão que envolva medo de contaminação.
Segundo SILVA (2004, p. 53):
Calcula-se que o paciente com TOC possa levar em média sete anos, a partir do início dos sintomas, para receber tratamento específico. Em alguns casos extremos esse tempo pode chegar a
vinte, trinta anos, e não raro o tratamento pode jamais ocorrer.
Os indícios indiretos podem ser decisivos no diagnóstico do transtorno, é
importante observar se o indivíduo passa uma longa permanência em banhos, está
com as mãos avermelhadas e pele descamativa, cabelos sempre molhados, gasto
exagerado com produtos de higiene pessoal e de limpeza, atrasos constantes,
repetição de algumas perguntas aparentemente sem sentidos, lentidão na
execução de tarefas cotidianas, alteração no rendimento escolar, profissional,
social e afetivo, conferência constante de gás, portas, janelas, luzes, interesse
exagerado por determinadas doenças.
Te
e
2. COMO IDENTIFICAR
O quadro tem início ainda na infância, geralmente, o portador do transtorno
passa muitos anos com o sintoma, às vezes muito grave, sem procurar ajuda
médica. Isso se deve pelo medo da crítica, ao revelar algo que pode ser
considerado absurdo, e pelo receio de que o medo possa se tornar realidade caso
seja revelado. Crianças descrevem suas obsessões como “maus pensamentos” e
por vezes elas têm muita dificuldade de relatar o que as incomoda. Em alguns
casos, as crianças apresentam sintomas de TOC num ambiente, mas não em
outro. Por exemplo, os sintomas aparecem em casa, mas não na escola ou vice-
versa. Isso dificulta o reconhecimento de potenciais casos de TOC. O medo da
punição ou ridicularização são motivos que levam algumas crianças e adolescentes
a suprimir ou esconder seus sintomas dos pais ou da escola.
Alguns sintomas que podem ser indícios de TOC: qualquer ritual diário de
higiene, repetitivo e exagerado como, por exemplo, lavar as mãos, escovar dentes
tomar banho; repetição de ações; checagens compulsivas; contagens de azulejos,
pisos em ladrilhos; simetria exagerada na arrumação de objetos. Normalmente,
essas “manias” obsessivas consomem muito tempo, gerando angústia e ansiedade
tanto para a criança quanto para seus familiares.
Para a confirmação do diagnóstico de TOC é importante avaliar, além da
presença de obsessões e/ou compulsões, o quanto os sintomas causam
acentuado sofrimento, consomem tempo - por exemplo, o DSM-IV-TR exige que as
obsessões ou os rituais estejam presentes em pelo menos uma hora por dia - ou
interferem de forma significativa nas rotinas diárias, no desempenho escolar e nos
relacionamentos sociais ou interpessoais (APA, 2002). O diagnóstico precoce do
transtorno gera condições mais adequadas de aprendizado, com melhor
aproveitamento do aluno e melhor inserção na comunidade escolar.
3. ENCAMINHAMENTOS
O tratamento do TOC inclui o uso de medicamentos - que agem como
inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) – antidepressivos, e a
Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC). Nos casos leves a moderados, a terapia
comportamental pode, por muitas vezes, eliminar os sintomas e melhorar a
qualidade de vida do portador. Em alguns casos é necessária a utilização da
combinação, casos em que a efetividade do tratamento é maior. É importante notar
que o paciente com TOC em geral apresenta um quadro de depressão devido à
incapacidade produzida pelos rituais, neste caso o médico tratará o paciente com o
mesmo medicamento.
Cinco medicamentos tiveram sua eficácia cientificamente comprovada em
estudos duplo-cego. São eles: Fluvoxamina, fluoxetina, sertralina, paroxetina e
clomipramina. Todos esses medicamentos têm efeitos potentes em um
neurotransmissor cerebral chamado serotonina. Esses medicamentos aumentam a
quantidade de serotonina no espaço intersináptico (espaço entre um neurônio e
outro) ao impedir que ela retorne para o neurônio que a liberou. Esse processo de
retorno, chamado de recaptação, se estiver inibido em função da ação de um
desses medicamentos fará com que mais serotonina fique entre um neurônio e seu
vizinho. Assim a transmissão do impulso elétrico neuronal flui melhor, facilitando o
funcionamento dos sistemas cerebrais, inclusive o sistema de pensar e agir.
(obsessões e compulsões) (SILVA, p.147). Esses medicamentos devem ser
prescritos pelo médico psiquiatra.
No caso da terapia cognitiva, o foco é nos processos de pensamento, em
como eles influenciam a visão de mundo e a interpretação dos acontecimentos,
refletindo-se nas emoções e comportamentos. A psicoterapia cognitivo-
comportamental busca a mudança de padrões disfuncionais de pensamento para
promover a melhora, que se refletirá nas emoções e nos comportamentos. As
técnicas comportamentais para o TOC envolvem justamente quebrar o círculo
vicioso que o paciente acredita ser seu porto de segurança. Os pensamentos
obsessivos (cognições) do paciente geram intensa ansiedade e medo (emoções),
ao quais ele responderá com rituais (comportamentos compulsivos) que acredita
firmemente capazes de impedir as consequências temidas. Como a origem dos
comportamentos está nos pensamentos obsessivos, os rituais trarão apenas um
alívio temporário da ansiedade. Dentro de um intervalo curto, os pensamentos
obsessivos voltarão juntamente com a ansiedade e a necessidade de praticar os
rituais. O desafio na TCC consiste em suportar esse período de ansiedade sem a
realização dos rituais.
A Psicoeducação realizada no início da TCC com a criança e com os pais é
essencial para melhorar o insight da criança sobre a doença, elucidar dúvidas,
reduzir a culpa dos pais, motivar a criança para o tratamento, diminuir a
acomodação familiar aos sintomas e consolidar o vínculo com o terapeuta. A
compreensão dos familiares é fundamental para o sucesso do tratamento.
4. SUGESTÕES DE ATUAÇÃO PEDAGÓGICA
Um estudante portador de TOC que não está recebendo tratamento pode
apresentar dificuldades no ambiente escolar, nas realizações de tarefas em classe ou em
casa. A extrema ansiedade provocada pelo TOC pode realmente sobrepujar o aluno.
Infelizmente, o alívio dessa ansiedade é normalmente um comportamento compulsivo que
pode ser extremamente perturbador para a aprendizagem do aluno e, possivelmente,
para a sala de aula.
Um aluno que tem TOC terá mais dificuldade de aprender, pois a mente pode ser centrada
sobre a sua obsessão em vez da realização da tarefa em questão. O TOC pode impactar
negativamente o desempenho do aluno por causa de conflitos que podem estar ocorrendo.
Por um lado, querem ser como os demais estudantes - capazes de prestar atenção na aula,
participar em debates ou apresentações e estudar ou fazer tarefas escolares; por outro lado,
sentem-se compelidos a responder às obsessões causadas pelo TOC, o qual ocupa uma
quantidade enorme de sua energia e foco. Pois, o cérebro fica recebendo mensagens que o
instiga para realizar as compulsões. Os pensamentos de medo e dúvidas intrusivas em sua
mente atrapalham a concentração na sala de aula. Alguns podem ter dificuldade em ficar
sentados, achar as explicações lentas e, devido à ansiedade, podem apresentar um
comportamento agitado e reativo. O TOC ainda pode comprometer as funções motoras e
psicológicas de crianças e adolescentes. Segundo o psiquiatra Fernando Asbahr,
coordenador do Ambulatório de Ansiedade na Infância e Adolescência do Hospital de Clínicas
de São Paulo, muitas vezes, o aluno pode apresentar mais de um transtorno
simultaneamente: “Não é incomum que um paciente com TOC apresente também a Síndrome
de Tourette ou tenha crises de pânico.”
Um ponto importante é não rotular o aluno de acordo com o distúrbio que ele
apresenta. Duas crianças que sofrem do mesmo problema podem ser bem diferentes uma da
outra. O diagnóstico ajudará o professor a entender melhor aluno, mas é preciso avaliar o
comportamento da criança no dia a dia.
Algumas atuações que os docentes podem realizar com alunos portadores de TOC,
segundo a ASTOC são:
Medir o progresso de acordo com o nível de funcionamento da pessoa.
Manter comunicação clara e simples.
Estabelecer limites, mas ser sensível às mudanças de humor da pessoa.
Um aluno com TOC, por exemplo, pode trabalhar bem em dupla.
Se os tiques ou obsessões impedem que o aluno escreva rápido, pode-se fazer
provas orais, ou escrita sem limite de tempo, ou com microcomputador,
conforme o mais adequado à situação e sempre com bom senso.
Se os tiques vocálicos atrapalham durante as provas, deve-se permitir, caso assim
solicite, que o aluno faça sua avaliação em uma sala separada.
Fornecer roteiro ou tópicos da aula para os alunos com TOC, pois ele pode
apresentar dificuldade de atenção devido aos pensamentos intrusivos.
Maior tolerância de tempo para realização das tarefas.
O aluno pode incluir mais detalhes nos trabalho do que o necessário ou pedir que
repita explicações para se certificar de que está fazendo a coisa certa.
4. REFERÊNCIAS
American Psychiatric Association (APA). DSM IV-TR: manual diagnóstico e estatístico dos
transtornos mentais. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.
Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo
(ASTOC) Disponível em: <http://www.astoc.org.br/source/php/015.php > Acesso em:
03/11/2013.
Associação Santista de Síndrome de Tourett e TOC (SITOC) Disponível em: <
www.sitoc.org.br> Acesso em 11/11/2013.
HUEBNER, D. O que fazer quando você tem muitas manias: um guia para as crianças
superarem o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Porto Alegre: Artmed, 2009.
O’Regan, F. Sobrevivendo e vencendo com necessidades educacionais especiais. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
Revista Educação. 85 ed. São Paulo: Maio, 2004.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes & Manias: entendendo melhor o mundo das pessoas
sistemáticas, obsessivas e compulsivas. 2. ed. São Paulo: Gente, 2004.