Transporte de Glicose

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TRANSPORTADORES DE GLICOSE: TECIDOS DEPENDENTES E INDEPENDENTES DE INSULINA* Transporte de glicose O transporte de glicose é fundamental para o metabolismo energético celular. A rota glicolítica é empregada por todos os tecidos para degradação de glicose e fornecimento de energia (na forma de ATP) e intermediários para outras rotas metabólicas. A glicose não pode difundir-se através dos poros da membrana, visto que seu peso molecular é de 180, e o máximo das partículas permeáveis é cerca de 100. Existem dois mecanismos de transporte de glicose através da membrana celular: transporte facilitado, mediado por transportadores de membrana específicos (GLUT) e o co-transporte com o íon Sódio (SGLT). Os transportadores de glicose mostram homologia significativa em sua seqüência primária, mas apresentam um padrão de expressão com especificidade tecidual.O peso molecular das moléculas carreadoras é de aproximadamente 45.000, podem transportar outros monossacarídeos, com estruturas semelhantes a da glicose, incluindo, especialmente a galactose. Co-transporte de glicose juntamente com íons sódio SGLT A glicose é transportada para dentro da maioria das células contra um grande gradiente de concentração. O mecanismo de co-transporte esta presente na parte apical da célula intestinal e túbulo proximal renal. Tem a função de captar a glicose da dieta para levar à corrente sangüínea e prevenir da perda urinária da glicose. Este transporte é independente da influência da insulina, processo que é mediado por um transportador, no qual o movimento da glicose é acoplado ao gradiente de concentração do sódio, que é transportado para o interior da célula ao mesmo tempo. A proteína carreadora responsável pelo transporte tem dois locais de fixação em seu lado externo, um para o sódio e outro para glicose. Além disso, a concentração dos íons sódio é muito alta no exterior e muito baixa no interior, o que proporciona a energia para o transporte (proveniente do gradiente de concentração do sódio). O gradiente de concentração do íon sódio é mantido pela Na/K ATPase. Uma propriedade especial da proteína responsável pelo transporte é a mudança de conformação que permite a movimentação do sódio para o interior, somente após a fixação de uma molécula de glicose, apos a fixação de ambas, a alteração conformacional ocorre * Seminário apresentado pelo aluno Cássio Eccker da Silva na disciplina BIOQUIMICA DO TECIDO ANIMAL, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no primeiro semestre de 2005. Professor responsável pela disciplina: Félix H. D. González.

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  • TRANSPORTADORES DE GLICOSE: TECIDOS DEPENDENTES E INDEPENDENTES DE INSULINA*

    Transporte de glicose O transporte de glicose fundamental para o metabolismo energtico celular. A rota

    glicoltica empregada por todos os tecidos para degradao de glicose e fornecimento de

    energia (na forma de ATP) e intermedirios para outras rotas metablicas.

    A glicose no pode difundir-se atravs dos poros da membrana, visto que seu peso molecular

    de 180, e o mximo das partculas permeveis cerca de 100. Existem dois mecanismos de

    transporte de glicose atravs da membrana celular: transporte facilitado, mediado por

    transportadores de membrana especficos (GLUT) e o co-transporte com o on Sdio (SGLT).

    Os transportadores de glicose mostram homologia significativa em sua seqncia primria,

    mas apresentam um padro de expresso com especificidade tecidual.O peso molecular das

    molculas carreadoras de aproximadamente 45.000, podem transportar outros

    monossacardeos, com estruturas semelhantes a da glicose, incluindo, especialmente a galactose.

    Co-transporte de glicose juntamente com ons sdio SGLT A glicose transportada para dentro da maioria das clulas contra um grande gradiente de

    concentrao. O mecanismo de co-transporte esta presente na parte apical da clula intestinal e

    tbulo proximal renal. Tem a funo de captar a glicose da dieta para levar corrente sangnea

    e prevenir da perda urinria da glicose. Este transporte independente da influncia da insulina,

    processo que mediado por um transportador, no qual o movimento da glicose acoplado ao

    gradiente de concentrao do sdio, que transportado para o interior da clula ao mesmo

    tempo.

    A protena carreadora responsvel pelo transporte tem dois locais de fixao em seu lado

    externo, um para o sdio e outro para glicose. Alm disso, a concentrao dos ons sdio

    muito alta no exterior e muito baixa no interior, o que proporciona a energia para o transporte

    (proveniente do gradiente de concentrao do sdio). O gradiente de concentrao do on sdio

    mantido pela Na/K ATPase.

    Uma propriedade especial da protena responsvel pelo transporte a mudana de

    conformao que permite a movimentao do sdio para o interior, somente aps a fixao de

    uma molcula de glicose, apos a fixao de ambas, a alterao conformacional ocorre

    * Seminrio apresentado pelo aluno Cssio Eccker da Silva na disciplina BIOQUIMICA DO TECIDO ANIMAL, no Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no primeiro semestre de 2005. Professor responsvel pela disciplina: Flix H. D. Gonzlez.

  • automaticamente, e o sdio e a glicose so transportados para o interior da clula ao mesmo

    tempo.

    H dois tipos de transportadores SGLT. A absoro intestinal de glicose mediada pela

    SGLT1 onde h o co-transporte de um on sdio para uma molcula de glicose, esse

    transportador tem alta afinidade pela glicose, mas baixa capacidade. A reabsoro renal de

    glicose feita pela SGLT1 e SGLT2 esta ultima possui baixa afinidade pela molcula de

    glicose, porem e alta capacidade, realizando o co-transporte de dois ons sdio para cada

    molcula de glicose.

    Defeitos em SGLT1 ocorrem pro expresso de um gen autossmico recessivo, causando

    diarria, desidratao, glicosria peditrica. O tratamento feito com a substituio de glicose

    por fructose e galactose na dieta, sendo os sinais clnicos minimizados. Os pacientes acometidos

    tm perda de peso e atraso no seu desenvolvimento na fase inicial da vida. Problemas no correto

    funcionamento do SGLT2 gera glicosria, no apresentando hiperglicemia, sua origem gentica

    no foi elucidada.

    Difuso facilitada Em todas as clulas a glicose transportada atravs de transportadores, de uma rea de maior

    concentrao para uma de menor, por difuso facilitada (exceo feita a clula intestinal e

    tbulo renal) que possvel devida as propriedades especiais de ligao da protena

    transportadora de glicose (GLUT) da membrana.

    A velocidade de transporte da glicose, bem como de alguns outros monossacardeos,

    acentuadamente aumentada pela insulina. Quando o pncreas secreta grande quantidade de

    insulina a velocidade de transporte aumentada em 10 a 20 vezes,em relao velocidade

    observada na ausncia da secreo de insulina

    A quantidade de glicose passvel de se difundir para o interior da maioria das clulas, na

    ausncia de insulina, a exceo dos hepatcitos e neurnios, insuficiente para o metabolismo

    energtico. Logo, nestas clulas o transporte de glicose no dependente da insulina.

    Transportadores de glicose GLUT

    A expresso dos transportadores de glicose nos tecidos est ligada aos diferentes

    metabolismos destes, conforme a demanda e utilizao a quantidade de transportadores pode

    variar. Cada grupo de transportadores possui propriedades cinticas nicas, caracterizando suas

    funes e sua distribuio por diferentes tecidos. A maioria das clulas expressa um nmero

    diferente de GLUTs em propores distintas. Com os recentes e constantes avanos na biologia

    molecular, so descobertas, ou desvendadas novas molculas. Atualmente proposta a presena

    de doze tipos de transportadores de glicose, ate pouco tempo essa famlia era composta apenas

    de cinco tipos.

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  • Transportadores de glicose GLUT1 Os transportadores de glicose tipo 1 esto amplamente difundidos por todo o corpo, sendo

    responsveis pelo nvel basal de glicose celular. Largamente difusos nos tecidos fetais, tendo

    diminuda sua expresso nos tecidos adultos. Possuem alta capacidade de transporte e alta

    afinidade pela molcula de glicose, mantendo rapidamente o nvel de glicose dentro da clula.

    No tem atividade alterada pela presena da insulina.

    Transportadores de glicose GLUT1-3 Os transportadores GLUT1 e 3 so considerados responsveis pelo transporte de glicose ao

    crebro. Como o transporte mnimo de glicose deve ser mantido a este rgo, seus

    transportadores de glicose so independentes de insulina. O GLUT1 expresso nas clulas

    endoteliais, sendo responsvel pelo transporte de glicose atravs da barreira hemato-enceflica.

    J o transportador GLUT3 proporciona o transporte da glicose do astrcito ao

    neurnio.Expresso de GLUT1 relaciona-se com o crescimento do crebro, sendo este

    transportador mais abundante na infncia e fase de desenvolvimento, j o GLUT3 esta associado

    maturao funcional, quanto mais maduro e evoludo maior a expresso deste transportador.

    Em situaes freqentes de hipoglicemia h um aumento na expresso de GLUT1 para maior

    captao de glicose. A hipxia e/ou isquemia com morte celular e conseqente baixa de GLUT3

    gera um incremento na expresso de GLUT1 nas proximidades rea afetada. Na doena de

    Alzheimer ocorre uma reduo nos transportadores tipo 1 e 3, principalmente nos lobos parietais

    e temporais.

    Transportadores de glicose GLUT2 O transportador de glicose tipo 2 possui a maior cintica entre os GLUT, esta presente nos

    hepatcitos, clulas pancreticas, mucosa intestinal e rins. A alta afinidade do transportador

    coma glicose promove que o transporte s essas clulas seja proporcional glicemia.Este

    transportador, p suas funes no tem sua atividade modulada pela insulina. Na clula

    intestinal aps a absoro e reabsoro de glicose no rim via GLUT2 que a molcula de

    glicose entra na circulao.

    Toda variao de glicemia detectadas pelas clulas , iniciando automaticamente o controle

    da secreo de insulina e captao ou liberao de glicose heptica. Alteraes na expresso de

    GLUT2 esta associada a um defeito de estimulao da insulina em diabticos, o que no permite

    a baixa na glicemia. H variaes na expresso em clulas pancreticas desses

    transportadores, o que explicaria em parte a baixa ou nenhuma liberao de insulina nos

    diabticos com a doena tipo I. Expresso de GLUT2 estimulada pela hiperglicemia, dietas

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  • ricas em carboidratos e suprimida pela hiperinsulinemia. Defeitos no GLUT2 resulta na

    Sndrome Fanconi-Bickel doena caracterizada por: raquitismo, acmulo glicognio heptico,

    glicosria, perda de aminocidos e acidose renal, sndrome descrita em humanos. Transportadores de glicose GLUT4

    Os GLUT4 so os transportadores insulina-dependente, mais abundante nas membranas

    celulares do msculo esqueltico, cardaco e tecido adiposo. No fgado: a insulina inibe

    glicogenlise e gliconeognese e estimula sntese de glicognio, na musculatura esqueltica

    estimula a: captao de glicose e sntese de glicognio, no tecido adiposo estimula a captao de

    glicose e reduo da liberao de cidos graxos e sntese de triglicerdeos. Tambm estimula a

    entrada de aminocidos nas clulas para promover a sntese protica. O transportador possui a

    menor cintica da famlia dos GLUT, mas grande afinidade.

    Sem estimulao a densidade do GLUT4 na membrana extremamente baixa, estando

    presente em vesculas citoplasmticas, a quantidade de vesculas varivel pela atividade do

    tecido. Aps a estimulao pela insulina, esses transportadores so translocados para a

    membrana e o transporte de glicose aumentado.

    A contrao muscular aumenta a taxa de transcrio e translocao do GLUT4 este processo

    mediado pelo AMP, formado em grande quantidade durante o esforo da musculatura.

    Como so vrios fatores envolvidos, no unicamente a presena ou no do receptor ou

    transportador, no h uma correlao simples entre resistncia a insulina e os GLUT4, qualquer

    defeito na rota de translocao das vesculas determina a resistncia ao estimulo da insulina,

    tornando assim o individuo um diabtico tipo II. O mecanismo de fuso vesicular esta envolvido

    na resistncia a insulina.

    Exerccio extenuante provoca leso celular, o que leva a inflamao tecidual, e resistncia a

    insulina, esse processo mediado pelo fator de necrose tumoral (TNF-) e demais substancias

    do processo inflamatrio, que diminuem a densidade dos GLUT na membrana e torna o

    msculo mais resistente captao de glicose. Em animais diabticos o nvel de GLUT4, tanto

    nos adipcitos e clulas musculares cardacas e esquelticas, esta diminudo. Essa citao reflete

    a deciso de iniciar um programa de exerccios leves em indivduos diabticos, sem contanto

    promover uma agresso aos tecidos musculares. Dietas ricas em gordura diminuem os nveis de

    GLUT4 nos adipcitos e msculos. Sendo assim a dieta um fator determinante para o

    tratamento de pacientes diabticos.

    No h relatos de identificao de defeitos em GLUT4, ratos knock-out GLUT4, onde esse

    gen foi suprimido, os animais so menores, apresentando cardiomegalia, e no possuem tecido

    adiposo. Porem no desenvolvem diabetes, mas evidenciam resistncia a insulina, que a longo

    prazo leva a uma diabetes tipo II. Experimentos feitos com ratos overexpressing GLUT4 que

    apresentaram baixo nvel de glicose sangunea, e marcado aumento na sensibilidade insulina

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  • com grande mobilizao cidos graxos ao tecido adiposo. Isso demonstra uma potencial terapia

    ao diabetes, que deve ser objetivo de maiores estudos, pois mais de 80% dos pacientes com

    diabetes tipo II so obesos, sendo resistentes insulina.

    Outros transportadores de glicose GLUT Com os avanos na biologia molecular, atualmente so propostos outros componentes da

    famlia dos transportadores de glicose, como sero brevemente descritas a seguir.

    O transportador GLUT5 j havia sido descrito h algum tempo, sendo uma protena

    transportadora de frutose, com pequena ou nenhuma afinidade pela glicose. Dois genes

    codificantes, denominados por alguns autores como pseudogenes no funcionais so

    responsveis pela expresso dos GLUT6, possivelmente encontrados nos leuccitos.

    Sugerido como transportador no reticulo endotelial dos hepatcitos o GLUT7 no

    caracterizado e reconhecido por parte da literatura.

    As mais novas protenas descritas so os GLUT9 presentes no fgado e rins, o GLUT11

    presente no corao e msculo esqueltico, GLUT8 expresso nos blastocistos, e o GLUT10 no

    fgado e pncreas.

    Todas estas molculas foram descritas, porem suas reais funes, se que sero relevantes

    devem ser esclarecidas com maiores pesquisas.

    GLUT e neoplasias Alguns tipos de neoplasias apresentam em suas membranas transportadores de glicose no

    expressos no tecido saudvel, estando ligada a expresso de alguns tipos de transportadores ao

    grau de malignidade das tumoraes. Clulas malignas possuem maior expresso de GLUT1 e

    3., quanto maior a expresso dessas estruturas, mais sombrio o prognstico.A expresso de

    GLUT1 esta relacionada ao potencial maligno de neoplasias mamrias, tumores hepticos,

    pancretico, esofagiano, cerebral, renal, ovariano e cutneo.J a presena elevada de GLUT3 em

    neoplasias gstricas, ovariana e pulmonar, revela um prognostico desfavorvel e alto nvel de

    atividade, mas estes transportador no comum nesses rgos quando estes so sadios. Os

    transportadores GLUT5 presente tumores mamrios, tambm no encontrado neste tecido

    normal.

    Recentemente descoberto o GLUT12 esta expresso em clulas prostticas e mamrias

    neoplsicas, e em adultos na musculatura cardaca, esqueltica e tecido adiposo normal.

    Tumores de ovrio, com maior produo de estradiol, podem estimular a expresso de GLUT no

    tecido neoplsico e piorar o prognstico. A hipxia tecidual estimula a expresso dos GLUT nos

    tumores, o que aumenta o aporte de glicose e debilita mais o quadro geral do paciente.

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    Transporte de glicoseTransportadores de glicose GLUTReferncias bibliogrficas