Transplantação do Daoismo ao Brasil: primeiras observações

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7/21/2019 Transplantação do Daoismo ao Brasil: primeiras observações http://slidepdf.com/reader/full/transplantacao-do-daoismo-ao-brasil-primeiras-observacoes 1/15 II Encontro de Pesquisa em História da UFMG  –  II EPHIS Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Federal de Minas Gerais 4 a 7 de junho de 2013 CORRÊA, B. C.; GALVAO, G. S.; LANARI, R. A. O.; LÉO, Fabiana; RODRIGUES, C. M.; SILVA, Paloma Porto; SOUZA, Débora Cazelato; (Org.). II ENCONTRO DE PESQUISA EM HISTÓRIA, 2013, Belo Horizonte.  Anais… Belo Horizonte: FAFICH, 2013. Vol. 3.        6        2        3  Taoísmo no Brasil: presença e modalidades de sua transplantação no século XX Matheus Oliva da Costa Mestrando  –  PUC-SP . [email protected] RESUMO: O taoísmo é uma tradição religiosa  de origem chinesa (Robinet, 1997). Granet (2008) observa que além de influenciar toda a história da China, fundamentou também práticas muito difundidas pelo mundo, como o taiji quan, qi gong,  feng shui e acupuntura , sendo que hoje todas elas podem ser encontradas no Brasil. Apesar de todas essas práticas serem de origem taoísta, essa tradição chegou aqui de forma um tanto dispersa e por vezes descontextualizada, nem sempre conectada a uma linhagem ou mestre taoísta, como afirma José Bizerril (2007). Este é o autor da única tese de doutorado sobre uma tradição taoísta no Brasil, fato que aponta para a lacuna que existe sobre o assunto. Aqui consideramos que a transplantação do taoísmo ao Brasil passa por duas fases: uma primeira presença indireta (especialmente literária) contando com práticas mais ou menos dispersas; e a segunda, após a chegada de linhagens taoístas por meio de mestres  e/ou sacerdotes chineses, marco que tem início na diáspora chinesa provocada pelo advento da China Socialista em 1949 (Apolloni, 2004). Destarte, nesta comunicação buscamos realizar uma investigação exploratória  da presença das tradições taoístas na paisagem religiosa brasileira. Fontes primárias e secundárias são analisadas, bem como estudos históricos e socioculturais sobre o taoísmo e teorias de transplantação religiosa foram usadas para lançar luz  ao nosso objeto de estudo –  às formas transplantação da tradição taoísta na sociedade brasileira durante o século XX. Assim, este estudo possibilita uma primeira sistematização dos estudos e da presença das tradições taoístas no Brasil.  PALAVRAS-CHAVE:  Transmissão, Literatura, Tradições religiosas.  “O que é precioso na história é que, expondo o passado, ela é uma mestra para o futuro”   Wang Fuzhi (1619-1692) que é taoísmo?  –  Uma revisão teórica Podemos dizer que os primeiros escritos da chamada daojia  (escola taoísta), estão centradas no dao (tao). O dao, segundo Jennifer Oldstone-Moore (2010, p.22), é “um poder e príncipio sem nome e sem forma que cria todas as coisas, sem esforço e espontaneamente”. Deve ser lembrado que o dao não é uma divindade ou deidade, mas um princípio a qual os taoístas acreditam que está em tudo e de que tudo veio dele. Conectado a isso existe o wu wei , que pode ser traduzido como não-ação, no sentido de um agir naturalmente, espontaneamente. Outra noção, de qi  ( chi  ), é entendida como o sopro vital, ou –  numa linguagem mais  próxima   –  energia vital presente em tudo e em todos (as). Dessa forma, podemos entender que no taoísmo, procura-se um “viver naturalmente”, de acordo com o fluir do dao e de forma espontânea ( wu wei  ). Mas, para além de conceitos elementares de taoísmo,  pensemos sobre como os taoístas o vivem . O taoísmo pode ser visto como uma tradição religiosa nativa da China, de acordo com a sinóloga Isabelle

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Meu Texto de 2013 - Iiephis_anais_v.03 - Matheus Costa

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II Encontro de Pesquisa em História da UFMG  –  II EPHISFaculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Universidade Federal de Minas Gerais4 a 7 de junho de 2013

CORRÊA, B. C.; GALVAO, G. S.; LANARI, R. A. O.; LÉO, Fabiana; RODRIGUES, C. M.; SILVA, PalomaPorto; SOUZA, Débora Cazelato; (Org.). II ENCONTRO DE PESQUISA EM HISTÓRIA, 2013, Belo Horizonte. Anais… Belo Horizonte: FAFICH, 2013. Vol. 3.

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Taoísmo no Brasil:

presença e modalidades de sua transplantação no século XX

Matheus Oliva da Costa

Mestrando –  PUC-SP [email protected] 

RESUMO: O taoísmo é uma tradição religiosa  de origem chinesa (Robinet, 1997). Granet (2008) observa quealém de influenciar toda a história da China, fundamentou também práticas muito difundidas pelo mundo, comoo taiji quan, qi gong,  feng shui e acupuntura , sendo que hoje todas elas podem ser encontradas no Brasil. Apesar detodas essas práticas serem de origem taoísta, essa tradição chegou aqui de forma um tanto dispersa e por vezesdescontextualizada, nem sempre conectada a uma linhagem ou mestre taoísta, como afirma José Bizerril (2007).Este é o autor da única tese de doutorado sobre uma tradição taoísta no Brasil, fato que aponta para a lacuna queexiste sobre o assunto. Aqui consideramos que a transplantação do taoísmo ao Brasil passa por duas fases: umaprimeira presença indireta (especialmente literária) contando com práticas mais ou menos dispersas; e a segunda,após a chegada de linhagens taoístas por meio de mestres   e/ou sacerdotes chineses, marco que tem início nadiáspora chinesa provocada pelo advento da China Socialista em 1949 (Apolloni, 2004). Destarte, nestacomunicação buscamos realizar uma investigação exploratória   da presença das tradições taoístas na paisagemreligiosa brasileira. Fontes primárias e secundárias são analisadas, bem como estudos históricos e socioculturaissobre o taoísmo e teorias de transplantação religiosa foram usadas para lançar luz  ao nosso objeto de estudo –  àsformas transplantação da tradição taoísta na sociedade brasileira durante o século XX. Assim, este estudopossibilita uma primeira sistematização dos estudos e da presença das tradições taoístas no Brasil. 

PALAVRAS-CHAVE: Transmissão, Literatura, Tradições religiosas. 

“O que é precioso na história é que, expondo o passado, ela é uma mestra para o futuro”  

 Wang Fuzhi (1619-1692) 

que é taoísmo? –  Uma revisão teórica

Podemos dizer que os primeiros escritos da chamada daojia  (escola taoísta), estão centradas no

dao (tao). O dao, segundo Jennifer Oldstone-Moore (2010, p.22), é “um poder e príncipio sem nome e

sem forma que cria todas as coisas, sem esforço e espontaneamente”. Deve ser lembrado que o dao não

é uma divindade ou deidade, mas um princípio a qual os taoístas acreditam que está em tudo e de que

tudo veio dele. Conectado a isso existe o wu wei , que pode ser traduzido como não-ação, no sentido de

um agir naturalmente, espontaneamente. Outra noção, de qi  ( chi  ), é entendida como o sopro vital, ou –  

numa linguagem mais próxima   –  energia vital presente em tudo e em todos (as). Dessa forma, podemos

entender que no taoísmo, procura-se um “viver naturalmente”, de acordo com o fluir do dao e de forma

espontânea ( wu wei  ).

Mas, para além de conceitos elementares de taoísmo,  pensemos sobre como os taoístas o vivem . O

taoísmo pode ser visto como uma tradição religiosa nativa da China, de acordo com a sinóloga Isabelle

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 Robinet (1997). A noção de tradição quer trazer à tona dois pontos: 1) a clássica diferenciação entre um

suposto taoísmo filosófico  e um oposto taoísmo religioso  é historicamente ilusória. Ou seja, não há essa

separação na história do taoísmo, e nem mesmo houve pretensão dos taoístas de ser uma escola de

 pensamento. E 2) é importante notar que, sendo uma tradição, o taoísmo abrange uma ampla gama de

crenças, práticas e tudo que as envolve: trajes, objetos, pensamentos, sincretismos, rituais, livros,

imagens, para citar alguns exemplos.

 A divisão entre um taoísmo filosófico e outro religioso advém, provavelmente, de preconceitos

tanto por parte de alguns (letrados) chineses, quanto de scholars europeus. Nesse sentido Oldstone-

Moore (2010, p.12, grifo nosso ) explica que

Influenciados pelo preconceito de alguns estudiosos chineses proeminentes, muitosdos primeiros estudiosos ocidentais da religião chinesa eram missionários que seescandalizavam com as tradições mágicas e exorcistas do taoismo. Para eles, o taoismopraticado pelos sacerdotes e pelo povo parecia uma versão degradante e supersticiosa   datradição eminente e filosófica da Antiguidade [chinesa].

No que se refere ao desprezo pelo aspecto mais visivelmente mágico-religioso do taoísmo, a

tradição oficial   da era imperial chinesa, predominantemente confucionista, já revelava tais opiniões.

 Talvez como uma reação ao que foi chamado de neoconfucionismo, onde houve um sincretismodeclarado com técnicas profiláticas e meditativas do taoísmo e budismo, houve uma revanche   dos

letrados oficiais. Anne Cheng (2008, p.642) explica que, de modo geral, a classe mandarinica dos Qing

(1644-1912) tentou rejeitar toda contribuição não-confuciana, ou seja, do taoísmo, budismo ou

influências externas recém-chegadas como o cristianismo; o letrado Yan Yuan (1635-1704) chegou

mesmo a considerar estas tradições como nocivas para a vida social (Cheng, 2008, p. 665).

 Já na sua versão outsider , a representação que foi construída sobre o taoísmo teve influência da

própria visão chinesa oficial . Como explica Phyllis Brooks (1997), no prefácio da tradução para o inglêsde Taoism: growth a religion , o “ocidente” teve relutância em ver o taoísmo como tradição religiosa.

 Autores da Europa explanaram sobre a daojia ou como uma  filosofia , ou como um conjunto de supertições

 populares , sendo a raiz de uma suposta divisão do taoísmo  –  entre filosófico e religioso. Tais noções

podem ser vistas até hoje em manuais   sobre religiões, como por exemplo,  As Religiões do Mundo  de

Huston Smith (2001), para citar um autor mais respeitável.

Contudo, devido a todos estas confusões a cerca da definição e classificação do taoísmo, este

nunca foi examinado de forma crítica e aprofundada até meados do séc. XX (nem mesmo na China).

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 Os poucos estudiosos europeus do taoísmo que surgiram no século XX se esforçam por demonstrar a

realidade do taoísmo com fontes empíricas e documentais, como afirma Phyllis Brooks (1997) no

prefácio do livro citado acima. O pioneiro sinólogo Marcel Granet (2008, p.306) já explicava que pode-

se reconhecer

(...) que o pensamento dos primeiros autores taoístas não pode ser explicado sem selevar em conta a prática do êxtase, corrente nos meios em que eles viviam. Issoequivale a admitir implicitamente que o taoísmo tem como ponto de partida não aespeculação pura, mas costumes religiosos.

Essa afirmação de Granet (idem) é seguida do questionamento sobre a possível desvalorização

de algumas práticas populares vistas como inferiores aos textos considerados taoístas (o Daodejing e oZhuangzi  ). Destaca, então, que as considerações dos textos primordiais do daojia  não se distanciam do

que magos   e  feiticeiros   da antiguidade faziam: as práticas de longevidade. Assim, Granet (2008, p.320)

resume que os taoístas tiveram a originalidade de juntar, em um corpo comum  teorias do conhecimento,

técnicas de quietismo naturalista e um ideal de santidade.

Corpo comum, ou mais precisamente um todo coerente , é justamente como Isabelle Robinet

(1997) caracteriza a tradição taoísta. Em um desenvolvimento da tradição baseada em elementos

nativos chineses, somado a empréstimos culturais do confucionismo e do budismo (e sua bagagem  cultural hindu) o taoísmo formulou uma síntese cultural religiosa. Mas isso “(...) sem nunca abandonar

sua identidade a coerência [interna]”.1  (Robinet, 1997, p.23). Esse espírito de síntese é apontado por

todos sinólogos e sinólogas citados acima como sendo uma característica cultural sínica. Sendo um dos

três ensinamentos , o daojia (escola do tao), ou melhor, o daojiao (ensinamento/religião do tao) mostra-se

como uma expressão cultural eminentemente chinesa.

Outra questão a deve ser posta em debate: em que sentido pode-se falar de taoísmo enquanto

religião ( daojiao)? Primeiramente, Robinet (1997) esclarece que esse todo coerente seria uma justaposiçãode elementos distintos, mas que foram incorporados em um só  corpo ao longo dos séculos. Este corpo de

tradições tem um objetivo comum: a busca por uma santidade, santidade que é também um estado de

imortalidade. Essa imortalidade não seria uma longevidade corpórea e material –  apesar de ter conexões

com a corporalidade. É, exatamente, a união com o Dao (Tao), o absoluto, a realidade última , quando não

existiria mais um ego individual.

1  Na tradução inglesa: “(...) without ever abandoning its own identity and coherence” (Robinet, 1997, p.23). Tradução livre minha. 

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 Por esse ideal de salvação e todo o arsenal de práticas mágicas é que Granet (2008) vê no taoísmo

uma tradição espiritual/religiosa. Todavia, essa “salvação não passa de um retorno à natureza” (Granet,

2008, p.314), de forma que pode-se ser lido o termo natureza   na sua concepção morfológica chinesa

(Cheng, 2008, p.32 e 50): imanente, vitalista, relacional e dotando o Céu-Terra (natureza) de certa

inteligência. Este autor reluta em ver nessa tradição uma religião organizada (Granet, 2008, p.329), com o

argumento de que sua história demonstrou certo sectarismo com a formação de seitas .

 Acreditamos que Granet (2008) foi muito exigente em sua concepção de organização religiosa.

 A própria noção de seita  usada por ele demonstra uma divisão arbitrária e pouco sistemática sobre o

assunto. Neste trabalho utilizamos tanto da concepção clássica de religião em Durkheim (1996, vide

Formas elementares da vida religiosa  ), como em recentes noções de religião, como em Geertz (1989) ou

Hanegraff (1996). Todos estes autores acima apontam para o caráter sociocultural e simbólico das

religiões, vendo-as como sistemas coletivos de produção de sentido. Destarte, consideramos aqui o

taoísmo como religião, chamando a atenção, entretanto, para sua realidade complexa e múltipla

enquanto tradição cultural.

Interessante ressaltar que essa reivindicação de tradição e de religião não é somente um discurso

acadêmico: o sacerdote da Ordem Ortodoxa Unitária ( Zheng Yi  ) que vive no Brasil desde a década de

1970, Wu Jyh Cherng (2000, p.31), afirma em sua Iniciação ao Taoísmo que “a tradição taoísta forma um

corpo único (...). assim, não seria correto interpretar o Taoísmo de forma fragmentada”. E dessa forma

“hoje pode-se encontrar dentro dele [do taoísmo,] elementos que correspondem ao que nós chamamos

de religião no Ocidente” (Cherng, 2000, p.9), explica.

Nesse sentido, nossa concepção de taoísmo segue a indicação do cientista da religião Hans-

 Jürgen Greschat (2005, p.80) para que o cientista da religião realize uma humanização do foco, de forma

que “as afirmações sobre uma religião são avaliadas como ‘cientificamente verdadeiras’ e confirmadas

pelos seguidores a que se referem”. Assim, a produção científica desse pautar pela realidade  dos sujeitos

pesquisados, e não apenas por especulações teóricas. Todavia, mais do que o aval dos fieis, a pesquisa

científica deve se firmar em dados empíricos para sua consolidação. Sendo assim, perguntamos: existem

registros da tradição taoísta no Brasil antes deste sacerdote? Quais seriam esses registros? De quais

tipos são as expressões dessa tradição em nosso país?

Contextualizando a relação taoísmo  –  Brasil 

 Antes de responder as questões referentes a registros do taoísmo no Brasil, devemos ter em

mente duas informações. Primeiramente, sendo uma tradição, a visão de mundo taoísta fundamenta ou,

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 no mínimo, serve de grande inspiração a muitos elementos da cultura chinesa. Para citar os mais

conhecidos no Brasil: acupuntura, Yi Jing  (I Ching), e taiji quan (tai chi chuan). Sendo assim, tais práticas

e objetos podem transmitir alguns elementos culturais chineses ou mais especificamente taoístas para

quem tem contato com eles.

Em segundo lugar, tradicionalmente a tradição taoísta foi transmitida através de linhagens

espirituais, ou seja, de mestres para discípulos diretos. Todo arsenal de técnicas taoístas é passado de

geração em geração dessa maneira, pelo menos oficialmente , com sacerdotes ou sacerdotisas. O que não

impede que um praticante leigo possa dominar algumas delas, sem necessariamente tornar-se sacerdote,

contanto que o conhecimento venha de um mestre.

Dessa maneira, leva-se em conta o alerta do antropólogo José Bizerril (2007) de que muitas daspráticas chinesas chegaram de formas descontextualizadas no Brasil, ou são vividas fora do seu

contexto original, de maneira livre e não muito criteriosa. Essa situação pode gerar significações bem

diferentes do que os ensinamentos queriam mostrar inicialmente, já que “o sentido de um termo

depende de sua relação com os demais termos de um sistema” (Bizerril, 2007, p.39). Isso, claro, não é

para identificar uma pretensa tradição legítima das não legítimas. Apenas queremos pontuar, que há

diferenças entre uma interpretação livre  e descontextualizada e interpretações das tradições pautadas por

critérios legitimados por essas mesmas tradições. Sendo assim, é uma distinção metodológica, e não

normativa, entre uma transmissão indireta e outra transmissão direta de uma mesma tradição.

Primeiras formas de divulgação do taoísmo no Brasil: esoterismos, literatura e new age  

Em nossa recente busca por fontes taoístas em sites, livros especializados e bibliotecas,

deparamos com uma ausência de material sobre história do taoísmo no Brasil . Mesmo sabendo que existem

chineses no Brasil desde a época colonial, de forma dispersa, e desde 1812 como um grupo oficial de

imigrantes, não encontramos referências diretas ao taoísmo em trabalhos acadêmicos brasileiros2. A

única exceção é o livro Retorno à raiz  do antropólogo José Bizerril (2007) e outros escritos do mesmoautor, sendo que este autor enfatizou a linhagem do mestre Liu Pai Lin  em uma perspectiva etnográfica.

Nutrimos de sua pioneira e relevante contribuição, mas pretendemos neste paper  ser mais abrangentes, e

ao mesmo tempo, focar no aspecto sócio-histórico do taoísmo no Brasil.

2 Ver por exemplo: LEITE, José Roberto Teixeira. 1999.  A China no Brasil. Influências, Marcas, Ecos e Sobrevivências Chinesas .Campinas, Editora da UNICAMP. Ou ainda: Silva, Marcos de Araújo. Guanxi nos trópicos: um estudo sobre a diáspora chinesa em

Pernambuco. Dissertação de mestrado em Antropologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2008.

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 Por outro lado, não é nada difícil encontrar traduções de clássicos taoístas, como o daodejing

(Tao Te Ching), o Zhungzi (Chuang tzu) ou o Yi jing   (I Ching), como afirma Bizerril (2007, p.37).

Qualquer pessoa que procure por estes livros poderá encontrar em uma grande biblioteca, ou menos

que isso. Livros como O tao da física  de F. Capra seria um exemplo de fontes literárias inspiradas ao

taoísmo que foram bastante lidas no Brasil, além de poder ser encontrado em muitas livrarias do país. E

para falar em ordem cronológica da difusão do taoísmo no Brasil, foram os movimentos esotéricos  –  

como a Teosofia –  que “pavimentaram o caminho para a posterior vinda de mestres e difusão de seus

ensinamentos” (Bizerril, 2007, p.38). Bizerril ( idem  ) chega a dizer que a difusão de tradições asiáticas “na

cultura religiosa brasileira já tem quase um século”. Posteriormente, esoterismos de origem asiática

também entraram no Brasil, como o grupo Ten Tao (grafia dada pelo próprio grupo).

Dentre essas primeiras formas de difusão do taoísmo no Brasil ainda não foi citada a influência

e/ou inspiração taoísta na obra do escritor João Guimarães Rosa. Duas fontes apontam essa relação:

como fonte primaria há a entrevista concedida a Günter Lorenz (1983, grifo nosso ) onde Guimarães Rosa

diz: “[...] Eu não sei o que sou. Posso bem ser cristão de confissão sertanista, mas também pode ser que eu

seja taoísta à maneira de Cordisburgo, ou um pagão crente à la Tolstoi.” Tal comentário, no mínimo, sugere

que ele teve contato indireto com o taoísmo!

Sabendo da fluência desse escritor em muitas línguas  –   como o alemão, numa época de

orientalismo efervescente –  e do seu oficio de diplomata, pode-se inferir que ele deve ter lido o daodejing  

ou o Yijing . Essas obras, tidas pelos taoístas como sagradas, foram traduzidas para idiomas europeus

desde o século XIX pelos chamados orientalistas. Na mesma entrevista Guimarães Rosa chega a dizer

que: “A religião é um assunto poético e a poesia se origina da modificação de realidades linguísticas.

Desta forma, pode acontecer que uma pessoa forme palavras e na realidade esteja criando religiões”

(Lorenz, 1983). Sabemos, pois, que os taoístas tinham uma opinião sobre a linguagem com certa

semelhança ao que foi dito acima, como pode ser visto no Zhuangzi (Merton, 1977, p.126).

 A relação de Guimarães Rosa com o taoísmo, e na verdade, com toda uma mística cristã, zen

budista e taoísta foi estudada no livro  João Guimarães Rosa: Metafísica no Grande Sertão de Francis Uteza

(1994). Neste livro, evidencia-se a relação que o escritor sertenejo  tem com uma mística taoísta. A

influência começa pelo título de uma das suas grandes obras: Grande ser-tao: veredas. O termo veredas  

pode ser usado para traduzir o termo tao, esse jogo de palavras é no mínimo curioso apontando várias

possibilidades interpretativas. Nesse sentido, já nos anos de 1950 pode-se dizer que, de forma bastante

indireta, temos registros de crenças e ideias taoístas no Brasil.

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  Ainda sobre as difusões indiretas do taoísmo, é significativa a contribuição do movimento new

age   para a divulgação de ensinamentos asiáticos, incluindo o taoísmo. Para falar da onda   novaerista

temos que lembrar que existem muitos elementos conectados a esse novo estilo de espiritualidade: o

ocultismo, o esoterismo e o orientalismo. Segundo José Guilherme Magnani (2000, p.16) esses últimos

fenômenos citados “já existiam por aqui, de longa data: [...] pode-se com certeza afirmar que algumas

sociedades iniciáticas estão presentes no Brasil desde pelo menos o século XVIII”, como a maçonaria.

E, recordando o que foi dito anteriormente com Bizerril (2007), essas sociedades iniciaticas abriram o

espaço para a entrada de tradições chinesas no Brasil, bem como para o próprio movimento new age .

Se o movimento new age  tem raízes nos esoterismos, ele não se reduz a estes últimos. Quando se

trata do movimento nova era, segundo Magnani (2000), podemos notar algumas tendências gerais que

norteiam as práticas e cosmovisões dos adeptos . Uma teodicéia imanente, a negação ou antipatia por

hierarquia centralizada, insatisfação com as religiões institucionalizadas e dominantes são as

características gerais de quem segue –  consciente ou não  –  um estilo nova era . Mas, talvez, um elemento

central desse estilo de espiritualidade é a liberdade de re arranjar os vários elementos de diversas

tradições religiosas, modificando-as de modo novo e sob a perspectiva de uma espiritualidade secular  

(Hanegraaff, 1999) e numa “condição permanente de busca” (Bizerril, 2007, p.40).

O boom  deste movimento foi entre as décadas de 1960 e 1980 no Brasil, passando por várias

fases de adaptação ao contexto sociopolítico brasileiro. Mas em todos esses momentos até a atualidade,

práticas chinesas apresentam aproximações com o estilo nova era de religiosidade. A acupuntura e os

exercícios corporais chineses, por exemplo, são divulgados no Brasil desde a década de 1960 (Apolloni,

2004; Magnani, 2000). Muitas vezes esses elementos da cultura chinesa são vistas como  práticas holísticas  

e ensinados em locais de tendência nova era, como a UNIPAZ  –  Universidade Holística de Brasília

(Bizerril, 2007; Costa, 2012b). Ou seja, tradições chinesas são vividas e divulgadas sob uma roupagem

novaerista.

No que concerne a tradição chinesa do taoísmo é interessante trazer à tona trechos do prefácio

à quarta edição da tradução do Daodejing (Tao Te Ching) feita por Humberto Rohden, um dos pioneiros

na tradução deste clássico taoísmo e de tendência nitidamente novaerista. Sobre a história dessa obra no

Brasil, ele afirma que “essa obra imortal recebeu várias traduções” (Rohden, 2003, p.12). Elas

começaram na década de 1970, tendo entre os primeiros tradutores um monge budista (!), tradutores

anônimos de grupos macrobióticos, e o próprio Rohden, esta última versão contendo comentários

 filosóficos  e ilustrações. Daí seguiram diversas traduções, algumas bilíngues desde os anos 1980 até hoje,

sendo que muitas traduziam somente trechos e outras tinham introduções  de sinólogos ou chineses.

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II Encontro de Pesquisa em História da UFMG  –  II EPHISFaculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Universidade Federal de Minas Gerais4 a 7 de junho de 2013

CORRÊA, B. C.; GALVAO, G. S.; LANARI, R. A. O.; LÉO, Fabiana; RODRIGUES, C. M.; SILVA, PalomaPorto; SOUZA, Débora Cazelato; (Org.). II ENCONTRO DE PESQUISA EM HISTÓRIA, 2013, Belo Horizonte. Anais… Belo Horizonte: FAFICH, 2013. Vol. 3.

       6       3       0

 De modo geral Ronden afirma que “todas estas edições [...] se encontram à disposição dos

leitores nas livrarias brasileiras” (Rohden, 2003, p.13). Este fato pode ser confirmando em uma consulta

em sites de grandes livrarias brasileiras ou no site estante virtual  (onde há venda de livros usados). Assim,

o movimento new age  contribuiu na difusão formal e informal de práticas chinesas como acupuntura,

taiji quan, oráculo Yi Jing e/ou traduções do Daodejing  (Rohden, 2003; Magnani, 2000; Bizerril, 2007). A

espiritualidade nova era tem sido, então, uma fonte de contato com o taoísmo que o público brasileiro

tem à sua disposição. Cabe lembrar apenas que essa forma de espiritualidade tende a selecionar e/ou

fragmentar as tradições que são divulgadas e seus ambientes (Magnani, 2000). Dessa forma, como é o

caso das traduções do Daodejing , o taoísmo foi ensinado de modo parcial, sem levar em conta todas as

expressões da tradição taoísta, como sua ritualística ou suas técnicas de meditação.

Da difusão autorizada das tradições taoístas no Brasil no sec. XX por fontes étnicas

 Já mostramos como o taoísmo foi expresso, e ainda o é, pelas mais diversas formas indiretas no

campo religioso brasileiro: por sociedades iniciaticas, literatura regional, movimento nova era e/ou

traduções de clássicos. Mas, ressaltamos: será que as pessoas que tiveram um contato

descompromissado e parcial com o taoísmo se autodefiniriam como taoístas? Essa é uma questão chave

nessa pesquisa, não exatamente pelo critério de autoafirmação, mas pelo critério de uma identidade

religiosa definida com clareza suficiente para um adepto se afirmar dentro do caminho taoísta , e não apenas

admirador. Dessa forma, Bizerril (2007) foi pioneiro em mostrar um primeiro caso de transmissão da

tradição taoísta no Brasil através de uma linhagem espiritual autorizada  e por fontes étnicas, já que o

taoísmo é eminentemente chinês.

O nosso papel, agora, é dar início ao registro do processo de transplantação religiosa de

tradições taoístas em geral, mas que seguem os critérios de uma tradição autorizada 3. No que se refere a

transplantação ou transnacionalização de uma tradição cultural religiosa, pontuamos agora algumas questões

que devem ser esclarecidas. Entendemos aqui o termo transplantação, primeiramente como um processo de

difusão e divulgação de uma tradição a um local geograficamente distinto. Sendo assim, trata-se de um

processo dinâmico que envolve muitos sujeitos que por sua vez estão inseridos em um sistema

sociocultural, mostrando certa complexidade.

O sociólogo Ronan Alves Pereira (2001) estudando a difusão de uma das Novas Religiões

 Japonesas (NRJ) utilizou o termo transplantação para designar este mesmo processo cultural. A partir de

3 Frisamos que não se trata de uma distinção normativa , de julgamento de valor em relação à espiritualidade nova era e o quechamamos aqui de tradição autorizada. Essa distinção metodológica tem uma função de compreender melhor a diferença

entre um adepto que se norteia por uma constante busca (não se fixando em nenhuma tradição) e o adepto que escolheu seguiruma determinada tradição com tudo que isso implica. 

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 uma discussão teórica com os autores Susumu Shimazono, o antropólogo Nakamaki Hirochika, Mark

R. Mullins e do sociólogo Martin Baumann, propôs sua própria noção de transplantação religiosa.

Ronan Pereira (2001, p.44) mostra que para entender o processo transplantação  de uma religião na

contemporaneidade devemos levar em conta: 1) o impacto do avanço tecnológico (comunicação e

transporte); 2) Movimentos como a Nova Era e a Contracultura; e 3) Postura do regime político dos

países envolvidos (contextos nacionais). Vamos continuar nosso debate sobre a transplantação já

utilizando os três pontos ressaltados por Pereira (2001).

Consideramos que os itens 1 e 3 estão mais conectados na realidade do nosso objeto de estudo,

assim optamos metodologicamente por primeiro destacar o ponto 2. Para o historiador Wouter J.

Hanegraaff (1999) o fenômeno new age   é uma mistura de espiritualidade esotérica e uma atitude

espiritual eminentemente moderna. Assim, esse todo chamado pelos autores contemporâneos de

movimento Nova Era tem raízes tanto em grupos como Rosa Cruz quanto na crença moderna na

ciência. Por isso mesmo, ele utiliza o termo secular religion   para designar essa religiosidade. Essa

religiosidade secularizada também tem sua inspiração e fonte nos movimentos de Contracultura dos

Estados Unidos, como os beatnick ou os hippies .

O fato interessante é que seguindo essa tendência, a Nova Era acabou criando uma complexa

constelação simbólica coletiva, mas sempre pautada pela interpretação pessoal dessa constelação. Isso

gerou a possibilidade de unir Jesus com Buda ou mesmo são Francisco com Laozi , como pessoalmente

observei em um professor de taijiquan  da cidade de Montes Claros-MG  (Costa, 2012b, p.50). Assim,

reforçando o que já foi dito anteriormente neste  paper , todos esses movimentos culturais semearam as

sementes e prepararam o solo para o público brasileiro em relação a tradições chinesas (entre outras

tradições de outras culturas). 

Mas um somente solo fértil não é capaz de fazer florescer um jardim, são necessárias vegetações

com raízes firmes. É, justamente, com essa metáfora de raízes que o antropólogo Bizerril (2007)

intitulou seu livro a tradição taoísta do mestre Liu Pai Lin  no Brasil: Retorno à Raiz . Observamos aqui

uma ambiguidade simbólica: é feita uma menção ao dao (tao, a fonte), que é o cerne do caminho taoísta,

e ao mesmo tempo alude ao estabelecimento da taoísmo através das práticas trazidas um mestre chinês

ao Brasil. Sabendo da vinda do mestre Liu Pai Lin  em 1975 (Bizerril, 2007, p.84), quando procuramos

saber de outros grupos taoístas percebemos que outro chinês que trouxe o taoísmo ao Brasil também

 veio morar aqui no ano de 1973. Trata-se de Wu Jyh Cherng , fundador da Sociedade Taoísta do Brasil.

Há, então, transplantação do taoísmo por mestres chineses detentores de linhagens a partir da

década de 1970. O mestre Liu Pai Lin  (1907-2000) teria vindo visitar uma filha em 1975 e resolveu ficar

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 no Brasil (Bizerril, 2007, p.84). Inicialmente deu aulas de taijiquan   e outros exercícios chineses, e

posteriormente de ensinamentos taoístas das tradições Longmen e Kun Lun  do taoísmo, principalmente

na cidade de São Paulo. Seus ensinamentos tiveram como foco a corporalidade: meditação taoísta, taiji

quan, e qi gong. Sendo que seu grupo de discípulos caracteriza-se por um taoísmo distinto “das formas

litúrgicas de taoismo, a transmissão de mestre Liu prescindiu de sacerdotes e do culto a deidades

taoistas, afirmou-se como movimento de leigos, pelo exemplo do próprio mestre, ele mesmo um

homem leigo”   (Bizerril, 2011, p. 10). Em nossa busca encontramos um grupo de prática ligado a

linhagem do mestre Pai Lin  na cidade de São Paulo4.

Sendo justamente esse taoísmo litúrgico com sacerdotes e deidades citado por Bizerril (2011), há

outra linhagem taoísta difundida no Brasil também por um mestre  chinês. Wu Jyh Cherng  (1958-2004),

 vindo de Taiwan, fundou em 1990 na cidade do Rio de Janeiro a Sociedade Taoísta do Brasil (STB). Wu

 Jyh Cherng , por sua vez, é filho do também mestre de taijiquan  Wu Chao Hsiang . Seu pai veio da China

continental para Taiwan na metade do século XX. Wu Jyh Cherng  “nasceu em Taiwan, em 1958, e em

1973 mudou-se com seus pais para o Brasil, onde foi viver no Rio de Janeiro”. Posteriormente tornou -

se “sacerdote Taoísta, fundador e regente da organização denominada Sociedade Taoísta do Brasil”

ligada a tradição Zheng Yi   (Ordem Ortodoxa Unitária), e escreveu vários livros em português sobre

taoísmo, segundo o site da STB5. A STB chegou a realizar dois cursos de formação de sacerdotes

taoístas para brasileiros ministrados por Cherng . Atualmente tem dois templos, um no Rio de Janeiro e

outro em São Paulo com atividades regulares e eventos internacionais.

Perguntemos: por que dois chineses ligados ao taoísmo teriam chegado exatamente na mesma

década no Brasil? Considerando também os pontos 1 e 3 a serem avaliados para a compreensão da

transnacionalização de uma tradição religiosa segundo Pereira (2001), devemos analisar  –  para além dos

motivos pessoais dos líderes  –  os fatores sociopolíticos e tecnológicos que envolvem esse processo.

 Alertamos os leitores e leitoras que a historia chinesa é rica e complexa, e a história chinesa depois do

fim do império (a partir de 1911) é também bastante complexa. Agora vamos realizar um breve recortepara elucidar o quadro sociopolítico em que duas lideranças taoístas vieram ao Brasil, fundamentados

no historiador John King Fairbank (2006).

De forma geral, a tomada de poder do Partido Comunista Chinês (PCC), liderado por Mao

Zedong, demorou pouco menos de meio século e foi bastante turbulenta. Entre o mar de fatos que

podem ser lembrados, pontuamos dois: Primeiramente, depois de uma relação ambígua, entre acordos,

4 Ver site http://www.centrotaoista.com.br/, do Centro Taoísta de Cultivo da Longevidade  que existe desde 1998. 5 Sobre as informações citadas veja: http://sociedadetaoista.com.br/blog/sociedade-taoista/mestre-wu-jyh-cherng/. 

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       6       3       3

 concessões e traições, quando o PCC começou a ganhar o poder, perseguiu os membros e apoiadores

do Guo min dang  (GMD) traduzido como Partido Nacionalista. Dessa forma, forçou muitos chineses a

fugir para a ilha de Taiwan em 1945 onde estabeleceram a República da China apoiada inicialmente

pelos EUA (Fairbank, 2006, p.313).

Um segundo ponto, ainda mais polêmico na historia moderna da China é a chamada Revolução

Cultural. Fairbank (2006, p.354) explica que a “Revolução Cultural durou três anos, do início de 1966 a

abril de 1969, contudo alguns afirmam que suas atividades continuaram durante toda uma década, até

1976”. Por todo este tempo houve um combate vigoroso e até violento contra os “Quatro Velhos

Conceitos  –   velhas ideias, velha cultura, velhos costumes, velhos hábitos” (Fairbank, 2006, p.360).

Podemos dizer, baseado no historiador citado acima, que esse foi um período de violência e terror na

China Comunista, com perseguições a tudo que era visto como burguês e/ou tradicional. Assim, as

religiões, incluindo o taoísmo, passaram por uma situação difícil, passando até mesmo a ter certa

concorrência com um culto a Mao Zedong (Fairbank, 2006, p.371).

O cientista da religião Rodrigo W. Apolloni (2004) usa o termo diáspora chinesa   para falar do

movimento de migração chinesa, principalmente no final do século XX. Sabemos que a Revolução

Cultural foi um fator importante para a expansão ultramarina de chineses nas ultimas décadas, mas já

havia viagens sínicas ao redor do mundo há muitos anos. Apolloni (2004, p.64), usando a tipologia de

 Wang Gungwu, mostra que a história da migração chinesa pode ser dividida da seguinte forma: 1) Tipo

coolie  ( Huagong  ), de exportação de mão de obra no século XIX; 2) O segundo seria Mercantil (Huashang),

mais restrito ao sudeste asiático; 3) Temporário (Huaqioa), seria os imigrantes que saíram do País do Meio

( Zhongguo ) devido às turbulências políticas do final do século XIX até meio do século XX; e, 4)

Remigrante (Huay), chinesas(es) que desde os últimos cinquenta anos saíram da China, sendo filhos de

imigrantes ou tendo filhos fora do seu país, sendo em geral mais capacitados profissionalmente.

O próprio Apolloni (2004) usa essa tipologia de Wang Gungwu para explicar a transplantação

de práticas marciais chinesas ao Brasil, estando numa linha teórica próxima à Pereira (2001) e sua teoria

da transplantação religiosa. Na linha de raciocínio dos dois autores acima, acreditamos que tanto a

diáspora chinesa  quanto a transplantação da tradição taoísta ao Brasil aconteceram nesse ultimo processo

de migração sínica  –   remigrante ou Huay . Dessa forma, a diáspora chinesa ocorreu mais

acentuadamente com a tomada de poder dos comunistas na China (continental), diáspora que

aumentou com a Revolução Cultural. Sobre a relação Brasil –  China, Apolloni (2004, p.71) afirma:

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 A partir da segunda metade do séc. XX, o movimento migratório não partiu de umademanda brasileira, mas de situações decorrentes do contexto internacional - avançodo comunismo na China e as revoluções que, na esteira da Guerra Fria, levaram àindependência das ex-colônias europeias na África - que implicaram no deslocamento

de milhões de chineses para vários países [...].

Paralelamente a este período conturbado para a população chinesa (ou até imediatamente após

isso), ocorreu o crescimento econômico de países asiáticos. Primeiro os chamados tigres asiáticos   –   e

depois a China com as reformas pós-Mao realizadas por Deng Xiaoping inspiradas nos seus vizinhos, –  

grande parte da Ásia entrou fortemente na economia mundial. Segundo Fairbank (2006) o crescimento

econômico da China comunista teve seu início exatamente aí, fato que dura até o dia em que

escrevemos este artigo. Segue agora algumas reflexões a serem ressaltados sobre a transmigração

chinesa ao Brasil.

Primeiramente, se o leitor for atento, perceberá que um dos líderes taoístas vindos ao Brasil tem

um trajeto pessoal que remonta exatamente o que foi dito acima. Wu Jyh Cherng é filho de chineses do

continente que foram para Taiwan após 1945, nasceu na ilha Formosa, depois veio (com seus pais) ao

Brasil exatamente quanto Taiwan e os outros tigres asiáticos emergiram na economia mundial. Nesse

primeiro ponto podemos arriscar duas reflexões: Taiwan seria, na contemporaneidade, um grande  filtro 

sociocultural do taoísmo, sendo o refúgio dessa tradição e ao mesmo tempo sua fonte de divulgação.

 Também podemos cogitar que a difusão do taoísmo, no caso da Sociedade Taoísta do Brasil de

Cherng , não seria fruto de uma diáspora, mas como fruto de certo orgulho das tradições chinesas.

Explico: a história da China mostra que a força política e econômica sempre rendeu certo orgulho da

própria cultura à sua população, mas após a Guerra do Ópio e a humilhação causada por países

europeus, sua população começou a procurar por elementos culturais estrangeiros em vários setores da

 vida6. O retorno às tradições, como a volta do estudo de Confúcio (Fairbank, 2006, p.401, 403 e 405),

 veio somente depois do crescimento econômico e da distribuição de renda. Atualmente pode ser

observado o reflorescimento de religiões na China, inclusive o taoísmo, que junto com oconfucionismo foi visto com certa “relevância” pelos jovens chineses (Fairbank, p.401). Assim,

enquanto uma hipótese a ser testada, cogitamos: uma situação econômica rica e estável é fator

determinante para um povo se interessar ou não por suas próprias tradições, e até mesmo para sua

divulgação.

No que concerne à transplantação do taoísmo ao Brasil no século XX, há ainda o ponto 1 da

teoria da transplantação de Pereira (2001). O avanço tecnológico dos meios de transporte e de

6 Ver a história da China moderna em Anne Cheng (2008) e John Fairbank (2006). 

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       6       3       5

 comunicação foram fatores preponderantes para a divulgação dessa tradição por aqui. Viagens

extracontinentais de Cherng   foram essenciais para sua formação de sacerdote e dos ensinamentos

trazidos por ele. O mestre Liu Pai Lin  tem discípulos espalhados por todo o Brasil e até na argentina

(Bizerril, 2007) devido às facilidades de transporte. Ambas as linhagens, bem como os admiradores do

taoísmo, usam da internet como meio de divulgação das ideias e práticas taoístas. A produção de livros

e traduções –  algumas diretas do mandarim –  também são frutos da rapidez dos meios de comunicação.

E poderíamos estender essa lista por várias páginas.

O taoísmo no Brasil contemporâneo (século XXI)

 As tradições taoístas que chegaram ao Brasil seguem expandindo seus espaços, mesmo que em

meio eletrônico. Além dos sites e das obras de Bizerril (2007, 2011) não temos dados empíricos para

mostrar a atual situação de expansão do taoísmo no Brasil. Ao contrário, apesar do recente esforço por

divulgação, o taoísmo ainda é numericamente pequeno no Brasil segundo os dados do IBGE. No

ultimo senso de 20107  o taoísmo nem chega a ser contado individualmente: está entre as “outras

religiões orientais”. Dessa forma, estão diluídos entre os 9.675 adeptos da categoria Outras Religiões

Orientais do senso 2010. Apesar disso, práticas e crenças conectadas a essa tradição estão difundidas de

 várias maneiras e em vários espaços, como tentamos mostrar neste trabalho.

 Apontamos agora algumas circunstancias de convergência   que possivelmente favoreçam o

crescimento dessa tradição no Brasil. Desde os anos 1990 o Brasil começou a ganhar espaço no cenário

internacional, quando estabilizou sua economia e sua política. Nos últimos anos do século XXI houve

uma aproximação política e econômica entre o Brasil e a China, sendo atualmente as maiores

economias da America latina e da Ásia segundo o professor da universidade de Hubei , Zhou Shixiu 8.

Devido às recentes aproximações dos países em desenvolvimento, tanto a China como Taiwan buscam

divulgar sua cultura (principalmente língua), e dessa forma abrem mais portas ao taoísmo.

Existem também alguns casos recentes de transplantação/transnacionalização da tradição

taoísta no Brasil. Bem recentemente, um brasileiro e uma brasileira se tornaram sacerdotes taoístas na

China (continental) pela tradição Longmen   (de um grupo distinto do Pai Lin  ). Desde 2007 ensinam

taoísmo em Goiânia sob autorização do seu mestre chinês, usando os seguintes nomes sacerdotais: Tian

 Xin Shan  e Tian Xin Jie . Em uma conversa por email, o sacerdote Tian Xin Shan  confirmou ter sido

motivado pelo seu mestre Tien Cheng Yang  para divulgar o taoísmo no Brasil , fato que pode confirmar

7ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/caracteristicas_relig iao_deficiencia.pdf  

8http://web.grupomaquina.com/maquinaNet/techEngine?sid=MaquinaNet&command=noticiaClippingSite&action=visualizar&RSS=true&idCliente=46&idNoticia=3346103613976&idClienteRSS=46 

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       6       3       6

 nossa reflexão sobre o atual orgulho chinês quanto as suas próprias tradições. No mesmo email ele  

afirmou que ensina “aspectos tradicionais do taoísmo tais como rituais,

treinamentos monásticos, talismãs, alquimia interior avançada e demais outros conteúdos ensinados em

templos” (04/5/2013). Estes sacerdotes fundaram recentemente a Associação Taoísta do Brasil. Não

sabemos informações relativas a um status jurídico dessa instituição, mas é possível observar um site na

internet que inclui vídeos com os sacerdotes9, o que já pode mostrar as atividades que eles vem

realizando.

Com este trabalho, esperamos ter contribuído para a construção da história e da compreensão

sociológica do taoísmo no Brasil, desejando que essa temática possa ser cada vez mais aprofundada e

debatida. Desejamos também que os estudiosos das religiões no Brasil, principalmente os cientistas da

religião, inspirem-se e estudem outros fenômenos religiosos como o taoísmo, expandindo o campo de

estudo das religiões no país.

Bibliografia

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COSTA, Matheus Oliva da. Garça Branca no Sertão: estudo sobre a (res)significação doselementos religiosos pelos praticantes de Taiji quan   em Montes Claros  –  MG. Monografia de

9 http://www.filosofiataoista.no.comunidades.net/index.php 

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