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A TRANSIÇÃO 1946-1957

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Dois fatores marcam a transição na música brasileira entre o período da Era de Ouro e a Modernização...

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A TRANSIÇÃO

1946-1957

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Dois fatores marcam a transição da música brasileira entre o período da Era de Ouro e a Modernização:

1. O revigoramento da música nordestina,

concretizado com o estrondoso sucesso do baião

2. O crescimento do samba-canção, assumindo o espaço da música romântica, até então ocupado pelo fox e pela valsa

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Baião (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira)Quatro Ases e Um Coringa - 1946

Eu vou mostrar pra vocêsComo se dança o baiãoE quem quiser aprenderÉ favor prestar atençãoMorena chega pra cáBem junto ao meu coraçãoAgora é só me seguirPois eu vou dançar o baiãoEu já dancei balancêXamego, samba e xerémMas o baião tem um quê

Que as outras dancas não têmOi quem quiser é só dizerPois eu com satisfaçãoVou dançar cantando o baiãoEu já cantei no ParáToquei sanfona em BelémCantei lá no CearáE sei o que me convémPor isso eu quero afirmarCom toda convicçãoQue sou doido pelo baião

Música manifesto do movimento Baião e primeiro sucesso do gênero, apresenta o novo estilo de forma didática. A melodia baseada no modo mixolídio pode levar algumas pessoas a associarem erroneamente o Baião com o Blues, mas na verdade isso remete ao ancestral mouro da música nordestina. Segundo Jairo Severiano, essas mesmas características associadas ao blues, podem também ser encontradas nas cantigas nordestinas e no canto da Andaluzia.

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Asa Branca - 1947

Quando "oiei" a terra ardendoQual a fogueira de São JoãoEu perguntei a Deus do céu, aiPor que tamanha judiaçãoQue braseiro, que fornaiaNem um pé de "prantação"Por farta d'água perdi meu gadoMorreu de sede meu alazãoInté mesmo a asa brancaBateu asas do sertão"Intonce" eu disse, adeus Rosinha

Guarda contigo meu coraçãoHoje longe, muitas léguaNuma triste solidãoEspero a chuva cair de novoPra mim vortar pro meu sertãoQuando o verde dos teus "óio"Se "espaiar" na prantaçãoEu te asseguro não chore não, viuQue eu vortarei, viuMeu coração

Asa Branca, uma toada, vem na verdade de um tema folclórico. “Asa Branca é um espécie de pomba brava que foge do sertão ao pressentir sinais de seca”. Humberto Teixeira adaptou a canção original, mexendo na letra e na melodia, fazendo desse o maior sucesso da dupla.

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Juazeiro (L. Gonzaga-H. Teixeira) - 1949

Juazeiro, juazeiroMe arresponda, por favor,Juazeiro, velho amigo,Onde anda o meu amorAi, juazeiroEla nunca mais voltou,Diz, juazeiroOnde anda meu amorJuazeiro, não te alembraQuando o nosso amor nasceuToda tarde à tua sombraConversava ele e euAi, juazeiroComo dói a minha dor,Diz, juazeiroOnde anda o meu amorJuazeiro, seje franco,

Ela tem um novo amor,Se não tem, porque tu choras,Solidário à minha dorAi, juazeiroNão me deixa assim roer,Ai, juazeiroTô cansado de sofrerJuazeiro, meu destinoTá ligado junto ao teu,No teu tronco tem dois nomes,Ele mesmo é que ecreveuAi, juazeiroEu num güento mais roer,Ai, juazeiroEu prefiro inté morrer.Ai, juazeiro...

Sucesso de 1949 da dupla Gonzaga-Teixeira. Como Asa Branca foi adaptado de um tema popular. O verbo “roer”, utilizado por duas vezes na música significa “remoer um dor de cotovelo”.

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Paraíba (L. Gonzaga- H.Teixeira) Emilinha Borba -1950

Quando a lama virou pedraE Mandacaru secouQuando o Ribação de sede Bateu asa e voouFoi aí que eu vim me emboraCarregando a minha dorHoje eu mando um abraço Pra ti pequeninaParaíba masculina,Muié macho, sim sinhôEita pau pereiraQue em princesa já roncouEita ParaíbaMuié macho sim sinhôEita pau pereiraMeu bodoque não quebrouHoje eu mando

Um abraço pra ti pequeninaParaíba masculina,Muié macho, sim sinhôQuando a lama virou pedraE Mandacaru secou

Quando arribação de sede Bateu asa e voouFoi aí que eu vim me emboraCarregando a minha dorHoje eu mando um abraço Pra ti pequeninaParaíba masculina,Muié macho, sim sinhôEita, eita

Os versos “Paraíba, mulher macho, sim senhor” referem-se na verdade ao estado da Paraíba, que em 1930 lançou a candidatura do seu governador (chamado à época de Presidente) à presidência da República contra Getúlio Vargas. É um dos maiores sucessos de Emilinha Borba, na época famosa cantora de rádio.

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Qui nem jiló (L.Gozaga- H.Teixeira)Marlene - 1950

Se a gente lembra só por lembrarO amor que a gente um dia perdeuSaudade inté que assim é bomPro cabra se convencerQue é feliz sem saberPois não sofreuPorém se a gente vive a sonharCom alguém que se deseja reverSaudade, entonce, aí é ruim

Eu tiro isso por mim,Que vivo doido a sofrerAi quem me dera voltarPros braços do meu xodóSaudade assim faz roerE amarga qui nem jilóMas ninguém pode dizerQue me viu triste a chorarSaudade, o meu remédio é cantar

Uma das mais sofisticadas canções da dupla que soube adaptar o ritmo à uma sonoridade mais urbana. O baião vive seu auge e diversos compositores e cantores aderem ao gênero. Aqui ouvimos Marlene, principal “rival”de Emilinha Borba na Era do Rádio.

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Kalu (H.Teixeira)Dalva de Oliveira - 1952

Kalu, Kalu Tira o verde desses olhos de riba deu Kalu, Kalu Não me tente se você já me esqueceu Kalu, Kalu Seu olhar depois do que me aconteceu

Com certeza só não tendo coração Fazer tal judiação Você ta mangando di eu Com certeza só não tendo coração Fazer tal judiação Você ta mangando di eu.

Após 1950, quando a dupla se separou, ambos passaram a compor sozinhos ou com outros parceiros. Luiz Gonzaga passou a compor principalmente com Zé Dantas. “Kalu” é o primeiro sucesso individual de Humberto Teixeira. Foi composta a pedido de Dalva de Oliveira que queria incluir uma música nordestina em seu repertório. A introdução lembra muito aquela de Qui Nem Jiló.

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Sebastiana (Rosil Cavalcanti)Jackson do Pandeiro - 1953

Convidei a comadre SebastianaPra cantar e xaxar na ParaíbaEla veio com uma dança diferenteE pulava que só uma guaribaE gritava: a, e, i, o, u, yJá cansada no meio da brincadeiraE dançando fora do

compassoSegurei Sebastiana pelo braçoE gritei, não faça sujeiraO xaxado esquentou na gafieiraE Sebastiana não deu mais fracassoMas gritava: a, e, i, o, u, y

Primeiro grande sucesso do paraibano Jackson do Pandeiro, esse coco é uma composição do antigo parceiro de Jackson, também pandeirista Rosil Cavalcanti, com quem formou a dupla “Café com Leite”

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O Menino de Braçanã (Luís Vieira e Arnaldo Passos) - 1954

É tarde, eu já vou indo Preciso ir embora, 'té amanhã Mamãe quando eu saí disse Filhinho não demora em Braçanã Se eu demoro mamaezinha Tá a me esperar Pra me castigar Tá doido

moço Num faço isso, não Vou-me embora, vou sem medo dessa escuridão Quem anda com Deus Não tem medo de assombração e eu ando com Jesus Cristo No meu coração

Com essa toada Luis Vieira se tornou conhecido e passou a ser conhecido como o “Príncipe do Baião” (Luiz Gonzaga era o rei e Carmélia Alves a rainha)

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Mulher Rendeira (popular)Adaptado por Zé do Norte - 1953

Tema antigo e muito popular com a lenda de que teria sido feita por Lampião. Foi incluída no filme “O Cangaceiro”, de Lima Barreto. Na ocasião foi adaptado por Zé do Norte e fez muito sucesso tanto no Brasil quanto no exterior.

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SAMBA-CANÇÃOO samba canção, variante lenta e romântica do samba, já existia desde “Linda Flor”, gravada por Araci Cortes em 1929. Levaria no entanto quase vinte anos para que o samba-canção tomasse o lugar da valsa como preferência do público para a canção romântica, fazendo também com que o fox praticamente desaparecesse. Três canções foram determinantes para essa mudança: “Copacabana” (João de Barro e Alberto Ribeiro) de 1946, “Marina” (Dorival Caymmi), 1947 e “Segredo” (Herivelto Martins e Marino Pinto), de 1947.

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A partir de 1948 a popularidade do bolero se intensifica muito no Brasil. Esse processo se iniciou a partir de 1945 com o grande sucesso do filme mexicano “Santa”, de Augustin Lara. A paixão do brasileiro pelo bolero contribuiu para incremento do prestígio do samba canção. Além das músicas estrangeiras que faziam sucesso aqui, várias versões em português também foram feitas, a maioria cantada por Francisco Alves.

(O bolero nasceu em Cuba na segunda metade do século XIX. No fim daquele século chegou ao México onde fincou o pé.)

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Boleros – Pout Pourri

• Jamais te esquecerei – 1949 – Antônio Rago• Sabes Mentir (Oton Russo) – 1951 – Ângela

Maria• Leviana (Bororó) – 1952 - Os Cariocas• Boneca Cobiçada – 1957 - Biá e Bolinha• Sonhando Contigo – 1957 - Anísio Silva

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A partir desse momento o samba canção divide-se em duas vertentes, a tradicional e a moderna. A primeira inspirada nos modelos consagrados na Época de Ouro, tendo como principais expoentes Herivelto Martins e Lupicínio Rodrigues. A moderna vinha com o espírito de renovação, tendo nos jovens cantores Dick Farney e Lúcio Alves suas figuras emblemáticas.

Uma parte grande da primeira vertente acabou desembocando em formas popularescas, depreciativamente chamadas de música brega, enquanto a segunda acabou gerando a bossa nova.

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Nelson Gonçalves (1918-1998)O Último Trovador

Nelson Gonçaves (1918-1998), conhecido como o “Último Trovador”, certamente seria incluído entre os grandes fazendo deles Cinco, caso tivesse nascido um pouco antes. Começou sua carreira em 1939 cantando na rádio e fez suas primeiras gravações em 1941 e teve como primeiro sucesso a música “Renúncia”, em 1942.

Ele gravou muitos discos, sendo superado apenas por Francisco

Alves nesse quesito. Só na década de 40 foram cerca de 150 fonogramas. Teve inúmeros sucessos nos anos 40, como “Normalista” (Benedito Lacerda – Nasser) e “Maria Betania” (Capiba).

Atingiu o ápice da carreira nos anos 50, especialmente após a parceria com o compositor Adelino Moreira, que entre outras músicas, compôs “A volta do boêmio”, um estrondoso sucesso de Nelson.

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Renúncia (Roberto Martins – Mário Rossi)Nelson Gonçalves

Hoje não existe nada mais entre nósSomos duas almas que se devem separarO meu coração vive chorando e minha vozJá sofremos tanto que é melhor renunciarA minha renunciaEnche-me a alma e o coração de tédioA tua renúnciaDá-me um desgosto que não tem remédio

Amar é viverÉ um doce prazer, embriagador e vulgarDificil no amor é saber renunciarA minha renúnciaEnche-me a alma e o coração de tédioA tua renúnciaDá-me um desgosto que não tem remedioAmar é viverÉ um doce prazer, embriagador e vulgarDificil no amor é saber renunciar

Essa gravação histórica projetou Nelson Gonçalves em 1942. O cantor mostrou um intérprete perfeito no gênero fox, que passou a ser uma marca registrada sua. A gravação contou com um time de primeira, que incluiu Luis Americano (sax), Garoto (violão) e Carolina Cardoso de Menezes (piano). Com medo de que o cantor errasse a melodia, o compositor Roberto Martins pediu que o saxofonista apresentasse a melodia antes da cantor.

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Maria Betânia (Capiba)Nelson Gonçalves - 1945

Maria Bethânia tu és para mim a senhora do engenhoem sonhos te vejoMaria Bethânia és tudo que eu tenhoquanta tristezasinto no peitosó em pensarque o meu sonho está desfeitoMaria Bethânia te lembras ainda daquele São Joãoas minhas palavras caíram bem dentro do teu coraçãotu me olhavascom emoçãoe sem quererpus minha mão em tua mão

Maria Bethânia tu sentes saudade de tudo, bem seiporém também sinto saudade do beijo que nunca te deibeijo que vivecom esplendornos lábios meuspara aumentar a minha dorMaria Bethânia eu nunca pensei acabar tudo assimMaria Bethânia por Deus eu te peço tem pena de mimhoje confessocom dissaborque não sabiaNem conhecia o amor.

Sucesso de 1945, o compositor de Pernambuco, Capiba, mais associado ao frevo e ao maracatu, que tornou-se conhecido mesmo sem ter vindo para o Rio de Janeiro. Essa canção fez o nome Maria Betania muito popular, fazendo com que a famosa cantora tivesse esse nome por insistência do irmão, Caetano Veloso.

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A volta da boemia (Adelino Moreira)Nelson Gonçalves - 1957

Boemia, aqui me tens de regressoE suplicante te peço a minha nova inscrição.Voltei pra rever os amigos que um diaEu deixei a chorar de alegria; me acompanha o meu violão.Boemia, sabendo que andei distante,Sei que essa gente falante vai agora ironizar:"Ele voltou! O boêmio voltou novamente.Partiu daqui tão contente. Por que razão quer voltar?"Acontece que a mulher que floriu meu caminho

De ternura, meiguice e carinho, sendo a vida do meu coração,Compreendeu e abraçou-me dizendo a sorrir:"Meu amor, você pode partir, não esqueça o seu violão.Vá rever os seus rios, seus montes, cascatas.Vá sonhar em novas serenatas e abraçar seus amigos leais.Vá embora, pois me resta o consolo e alegriaDe saber que depois da boemiaÉ de mim que você gosta mais".

Maior sucesso de Nelson Gonçaves, cantando um estilo que depois seria chamado de “brega-romântico”, esse samba-canção foi um estrondoso sucesso, tendo atingido a marca de um milhão de discos vendidos, marca inédita na época. Adelino Moreira tornou-se o principal compositor de Nelson Gonçalves.

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Dalva de Oliveira e Ângela Maria

O repertório mais tradicional ajudou o sucesso de duas cantoras que foram as mais populares intérpretes de samba canção dos anos 50, Dalva de Oliveira (1917-1972) e Ângela Maria (1928).

Dalva de Oliveira já era bastante conhecida pela sua participação no Trio de Ouro, mas alcançou o sucesso após a separação de Herivelto Martins e o início da carreira solo. Ângela Maria, que começou imitando Dalva, foi sua maior rival artística e se manteve fazendo sucesso até a década de 70.

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Que Será? (Marino Pinto e Mário Rossi)Dalva de Oliveira - 1950

Que SeráDa Minha Vida Sem o Teu AmorDa Minha Boca Sem Os Beijos TeusDa Minha Alma Sem o Teu CalorQue SeráDa Luz Difusa Do Abajour LilásSe Nunca Mais Vier a IluminarOutras Noites IguaisProcurarUma Nova Ilusão Não SeiOutro Lar

Não Quero Ter Além Daquele Que SonheiMeu AmorNinguém Seria Mais Feliz Que EuSe Tu Voltasses a Gostar De MimSe Teu Carinho Se Juntasse Ao MeuEu ErreiMas Se Me Ouvires Me Darás RazãoFoi o Ciúme Que Se DebruçouSobre o Meu Coração

Alimentada pela polêmica musical ocorrida após a separação com Herivelto, algumas canções foram feitas por essa razão, como esse bolero de Marino Pinto e Mário Rossi.

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Ângela Maria

“Sabes Mentir” (Oton Russo) – Bolero de 1951

“Vida de Bailarina” (Chocolate e Americo Seixas) – 1954

“Quem descerrar a cortina/ da vida de bailarina/

há de ver cheio de horror...”

Foi gravada também por Elis Regina

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Nora Ney – CantoraAntônio Maria – Compositor

Nora Ney (1922-2003) com sua voz de contralto foi uma importante intérprete do chamado samba de fossa, com forte influência do bolero. Sem exageros vocais, ela foi muito imitada no período. O principal compositor desse tipo de samba foi Antônio Maria, tendo em Nora Ney sua principal intérprete.

“Ninguém me ama” (Antônio Maria e Fernando) tornou-se um paradigma do subgênero “samba-de fossa”.

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“Ninguém me ama” (Antônio Maria e Fernando) – Nora Ney - 1952

Ninguém me ama, ninguém me querNinguém me chama de meu amorA vida passa, e eu sem ninguémE quem me abraça não me quer bem

Vim pela noite tão longa de fracasso em fracassoE hoje descrente de tudo me resta o cansaçoCansaço da vida, cansaço de mimVelhice chegando e eu chegando ao fim

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Cauby Peixoto (1931)

Vindo de uma família de músicos, incluindo o primo Ciro Monteiro, Cauby Peixoto foi uma das grandes revelações dos anos 50. Cauby, um ótimo intérprete de samba canção, principalmente na linha mais tradicional, fez grande sucesso com a música “Conceição” (Dunga e Jair Amorim), lançada em 1956. É ativo como cantor até os dias de hoje.

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Conceição (Dunga e Jair Amorim)Cauby Peixoto - 1956

ConceiçãoEu me lembro muito bemVivia no morro a sonharCom coisas que o morro não temFoi entãoQue lá em cima apareceuAlguém que lhe disse a sorrirQue, descendo à cidade, ela iria subir

Se subiuNinguém sabe, ninguém viuPois hoje o seu nome mudouE estranhos caminhos pisouSó eu seiQue tentando a subida desceuE agora daria um milhãoPara ser outra vez Conceição

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Elizeth Cardoso (1920-1990)

Embora nunca tenha alcançado o sucesso de Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, com sua bela voz de contralto foi considerada por muitos a maior cantora de sua geração, sendo chamada de “Divina”.

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“Canção de Amor (Chocolate e Elano de Paulo) - 1951

Saudade torrente de paixãoEmoção diferenteQue aniquila a vida da genteUma dor que não sei de onde vemDeixaste meu coração vazioDeixaste a saudadeAo desprezares aquela amizade

Que nasceu ao chamar-te meu bemNas cinzas do meu sonhoUm hino então componhoSofrendo a desilusãoQue me invadeCanção de amor, saudade !Saudade

Primeiro sucesso de Elizeth foi essa composição de Chocolate, com melodia considerada avançada na época.

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DÓRIS MONTEIRO (1934)

Apesar da pouca idade, Dóris Monteiro, começou a cantar em 1951 na boate do Copacabana Palace Hotel e fez sua estréia em disco, gravando, pela Todamérica, em 78 rpm, de um lado, Se você se importasse, de Peterpan, um dos compositores mais gravados por Emilinha Borba (na realidade, seu cunhado) e, do outro, Fecho meus olhos, vejo você (José Maria de Abreu).

Seu estilo de voz aveludada e sensual era muito semelhante ao das cantoras americanas Julie London e June Christie

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Se você se importasse (Peterpan)Dóris Monteiro - 1951

Se você se importasseCom meu triste viverSe você se importasseCom o meu padecerE me compreendesseTão feliz eu seriaSe você se importasse

Com a minha agonia. Tudo quanto padeçoE esquecer não consigoEu talvez esquecesseSe você se importasseUm pouquinho comigo.

Se você se importasse, quase que imediatamente, tornou-se um grande sucesso popular em todo o país, ficando nos primeiros lugares das paradas de sucessos do final de 1951 até meados de 52. Com uma bela melodia e uma letra simples, mas bem feita, a música proporcionou a Dóris uma estréia espetacular no mundo do disco, que lhe abriu as portas.

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Dick Farney (1921-1987)Do lado moderno, destacam-se principalmente Dick Farney e Lúcio Alves.

Dick Farney, que tinha como principais influências os cantores americanos Frank Sinatra e Bing Crosby, sentia-se desconfortável para cantar em português quando gravou “Copacabana”, o que lhe lançou para o estrelato.

Com o sucesso da música, Dick gravou uma sério de 12 músicas, 10 das quais sambas canções, incluindo “Marina”, de Dorival Caymmi.

O sucesso dele foi tão grande que foi criado até um fã-clube, o “Sinatra-Farney Fan Clube”.

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Ponto Final(José Maria de Abreu – Jair Amorim)

Dick Farney - 1949

Não me pergunte a razãoNão me atormente demaisFalo por meu coraçãoTudo acabou... nada mais.Sinto muito mulher,mas é tardeEsta chama de amor,já não ardeFaça de conta que euSou como alguém que morreu

Como a fumaça que passa eSe esgarça no ar.Uma história incolor,foi aquelaUm capitulo a mais de novelaNossa comédia acabouSem aplauso sequerQuando o pano baixouNuma cena banal,Pôs-se um ponto final!

O compositor José Maria de Abreu viveu sua melhor fase na segunda metade dos anos 40 e foi um dos precursores da moderna música brasileira. Foi o principal supridor do repertório de Dick Farney no período. A canção ainda conta com um dos mais apropriados recitativos da música brasileira.

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Valsa de uma Cidade (Ismael Neto – Antonio Maria) – Lúcio Alves - 1954

Vento do mar e o meu rosto no sol a queimar, queimarCalçada cheia de gente a passar e a me ver passarRio de Janeiro, gosto de vocêGosto de quem gostaDeste céu, deste mar, desta gente felizBem que eu quis escrever um poema de amor

E o amor estava em tudo o que viEm tudo quanto eu ameiE no poema que eu fizTinha alguém mais feliz que euO meu amorQue não me quis

Sucesso de 1954, a “Valsa de uma Cidade” é um crônica de amor ao Rio de Janeiro, e como o título diz é uma valsa, e não um samba, como é mais comum ocorrer.

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Em 1954 a gravadora Continental resolveu explorar a suposta rivalidade de Dick Farney e Lúcio Alves, ambos seus contratados e resolveu por ambos em uma mesma gravação onde fariam as “pazes”. A canção foi composta pelo então jovem compositor Tom Jobim em parceria com Billy Blanco, com quem havia acabado de compor a “Sinfonia do Rio de Janeiro”. O sucesso da canção ajudou a projetar todos os quatro envolvidos, compositores e cantores.

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Tereza da Praia (Tom Jobim e Billy Blanco) – Dick Farney e Lúcio Alves - 1954

LúcioArranjei novo amorNo LeblonQue corpo bonitoQue pele morenaQue amor de pequenaAmar é tão bomO DickEla temUm nariz levantadoOs olhos verdinhosBastante puxadosCabelo castanhoE uma pintaSo ladoÉ a minha TerezaDa praia

Se ela é tuaÉ minha tambémO verão passouTodo comigoO inverno perguntaCom quemEntão vamosA TerezaNa praia deixarAos beijos do solE abraços do marTereza

É da praiaNão é de ninguémNão pode ser tuaNem minha tambémTerezaÉ da praia

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Três nomes se destacam a partir da segunda metade dos anos 50, Maysa, Tito Madi e Dolores Duran. Suas composições, especialmente as letras estão entre as mais representativas do samba canção do período.

Maysa (1936-1977)

Juntamente com Nora Ney, foi a principal intérprete do samba de fossa. Maysa foi a primeira cantora a tirar proveito da televisão.

Com uma composição sua “Ouça”, Maysa tornou-se uma estrela ajudando a alavancar a nova gravadora RGE.

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Ouça (Maysa)1957

Ouça, vá viverSua vida com outro bemHoje eu já canseiDe pra você não ser ninguémO passado não foi o bastantePra lhe convencerQue o futuro seria bem grandeSó eu e vocêQuando a lembrançaCom você for morarE bem baixinhoDe saudade você chorar

Vai lembrar que um dia existiuUm alguém que só carinho pediuE você fez questão de não darFez questão de negarQuando a lembrançaCom você for morarE bem baixinhoDe saudade você chorarVai lembrar que um dia existiuUm alguém que só carinho pediuE você fez questão de não darFez questão de negar

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Dolores Duran (1930-1959)

De origem humilde, Dolores Duran começou cantando no rádio em boates com apenas 18 anos. Nos últimos anos de vida revelou-se uma grande compositora, deixando 30 composições, entre elas os clássicos “Por Causa de Você” (com Tom Jobim), 1957, “Castigo” (1958) e “A Noite do meu bem” (1959) e “Estrada do Sol” (com Tom Jobim)

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Tito Madi (1929)

Tito Madi, assim como Dolores Duran, tem uma obra que se situa entre o tradicional e a bossa nova, tendo inclusive composto uma canção para o movimento, “Balanço Zona Sul”. Seu maior sucesso no entanto foi uma valsa, “Chove Lá Fora”. Ele considera sua obra e a de Dolores Duran como “elo de união da música brasileira entre as fases de Chico Alves e a bossa nova”. Embora ainda suas composições se situem próximas da canção romântica tradicional, já contêm versos e harmonias que as identificam com a bossa nova.

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Dorival Caymmi

Um compositor vindo da Época de Ouro que soube se adaptar bem à fase do samba canção foi Dorival Caymmi, que compôs belos sambas como “Nunca Mais”, “Nem Eu” e “Só Louco”, “Sábado em Copacabana” além do já citado “Marina”. Em 1955 ele lançou o LP “Sambas de Caymmi”. Em 1957 lançou “Saudade da Bahia”, atingindo um recorde de vendagens.

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Antônio Carlos Jobim (1927-1994)

Tom Jobim começou sua carreira como pianista em 1951 tocando inicialmente na Rádio Clube e em seguida no noite carioca, atividade que exerceu até fins dos anos 50 quando se tornou conhecido. Até o estouro da bossa nova em 1958, Jobim teve cerca de 50 de suas composições gravadas. A maior parte dessas composições foi de samba-canção. Duas delas tiveram grande sucesso, “Foi a Noite” (com Newton Mendonça), gravada por Sylvinha Telles e “Se todos fossem iguais a você” (com Vinícius de Moraes).

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Foi a Noite(Tom Jobim – Newton Mendonça)

Sylvinha Telles - 1956

Gravada em 1956 pela ainda novata Sílvia Teles, com arranjo de Tom Jobim sob regência de Leo Peracchi, a canção causou forte impressão em Aloísio de Oliveira, então novo diretor artístico da Odeon. Ele, que desconhecia a canção, a intérprete e o arranjo depois declarou: “...eu estava diante de uma coisa que não esperava encontrar. Era a bossa nova na sua maior expressão”.

Alguns consideram a canção como um marco zero da bossa nova, embora ainda faltasse talvez o elemento principal: João Gilberto.

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Foi a Noite

Foi a noite, foi o mar eu sei Foi a lua que me fez pensar Que você me queria outra vez E que ainda gostava de mim Ilusão eu bebi talvez

Foi amor por você bem sei A saudade aumenta com a distância E a ilusão é feita de esperança Foi a noite Foi o mar eu sei Foi você

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“Se todos fossem iguais a você” foi a principal canção da peça de Vinícius de Moraes, “Orfeu da Conceiçao”. Em 1956 com a peça já pronta, Vinícius chamou Vadico para musicá-la, mas este não aceitou o convite. Então, seguindo a sugestão do crítico de música Lúcio Rangel, Vinícius convidou Tom Jobim, dando início a uma das melhores parcerias da música brasileira. Foi lançada por Roberto Paiva em 56, fazendo grande sucesso na sequência com a gravação de Maysa.

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“Se todos fossem iguais a você” (Tom Jobim – Vinícius de Moraes) – Maysa - 1957

Vai tua vidaTeu caminho é de paz e amorA tua vidaÉ uma linda canção de amorAbre os teus braços e cantaA última esperançaA esperança divinaDe amar em pazSe todos fossemIguais a vocêQue maravilha viverUma canção pelo ar

Uma mulher a cantarUma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedirA beleza de amarComo o sol, como a flor, como a luzAmar sem mentir, nem sofrerExistiria a verdadeVerdade que ninguém vêSe todos fossem no mundo iguais a você

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Johnny Alf

“Rapaz de Bem” talvez seja a mais bossa nova das músicas que antecederam o movimento.

A canção de harmonia sofisticada foi composta pelo compositor e pianista Johnny Alf em 1953. Ele já era conhecido pelos músicos da época que iam vê-lo tocar no bar do Hotel Plaza em Copacabana nos anos 50. A primeira gravação, de 1956 foi revolucionária principalmente pelo acompanhamento incomum, quase jazzístico do piano de Johnny Alf. Ele a regravou com um arranjo mais completo em seu disco de estreia em 1961.

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Rapaz de Bem (Johnny Alf) - 1956Você bem sabe eu sou rapaz de bemA minha onda é a do vai e vemPois com as pessoas que eu bem tratarEu qualquer dia posso me arrumarVê se mora!No meu preparo intelectualÉ o trabalho a pior moralNão sendo a minha apresentaçãoO meu dinheiro só de arrumação

Eu tenho casa Tenho comidaNão passo fome, graças a DeusE no esporte eu sou de morteTendo isto tudo eu não preciso de mais nada, é claro!Se a luz do sol vem me trazer calorE a luz da lua vem trazer amorTudo de graça a natureza dáPra que que eu quero trabalhar??

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Os Cariocas

Seguindo a tradição de grupos vocais como Quatro Ases e Um Curinga e Anjos do Inferno, Os Cariocas revolucionariam com arranjos e harmonias vocais muito sofisticados. Já em sua estreia em disco fizeram sucesso com “Adeus América”, composição de Geraldo Jacques e Haroldo Barbora que criticava a invasão da música americana no período, lembrando um pouco o estilo dos sambas-exaltação.

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Adeus América (Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa) – Os Cariocas – 1948

Não posso mais, ai que saudade do BrasilAi que vontade que eu tenho de voltarAdeus América, essa terra é muito boaMas não posso ficar porqueO samba mandou me chamarO samba mandou me chamarEu digo adeus ao boogie woogie, ao woogie boogieE ao swing também

Chega de rocks, fox-trotes e pinotesQue isso não me convémEu voltar pra cuíca, bater na barricaTocar tamborimChega de lights e all rights, good nights e faufaitsIsso não dá mais pra mimEu quero um samba feito só pra mim

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GarotoUm dos maiores violonistas brasileiros de todos os tempos, Aníbal Augusto Sardinha já era um veterano quando lançou “Duas Contas”, a única canção com letra e música que compôs, gravando-a com seu Trio Surdina (Fafá Lemos – Violino, Chiquinho – acordeon e Garoto). Única música cantada do disco (por Fafá Lemos), causou forte impacto nos músicos que viriam a participar do movimento da bossa nova. Tendo morrido pouco depois do lançamento do disco, a música causou grande comoção e foi muito cantada à época.

Garoto forma junto com Laurindo de Almeida, Luís Bonfá e Bola Sete os principais representantes do violão e da guitarra brasileira. Com exceção de Garoto, que ficou poucos meses nos EUA, os outros três acabaram se estabelecendo por lá.

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Duas Contas (Garoto) - 1955

Teus olhos são duas contas pequeninas Qual duas pedras preciosas Que brilham mais que o luar São eles guias do meu caminho escuro Cheios de desilusão e

dor Quisera que eles soubessem O que representam prá mim Fazendo que prossiga feliz Ai, amor... A luz dos teus olhos

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Samba O samba mais tradicional teve seu lugar na fase de Transição da música brasileira. Os compositores advindos da época de ouro continuaram emplacando sucessos, como Ataulfo Alves, Geraldo Pereira e Wilson Batista. Além disso surgiram no período Zé Ketti, com “A Voz do Morro”, de 1956; Nelson Cavaquinho com “Rugas”, 1946 e Adoniran Barbosa e seu grupo Demônios da Garoa, com inúmeros sucessos, tornando-se o compositor mais importante de São Paulo.

Nelson Cavaquinho não era exatamente um novato, tendo convivido com os “bambas” do Estácio. Tão pouco o era Adoniran, já em atividade desde os anos 30 como cantor de rádio e depois como comediante e ator. Adoniran foi único por ter trazido o “sotaque caipira” para o samba.

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Rugas (Nelson Cavaquinho)Ciro Monteiro - 1946

Se eu for pensar muito na vidaMorro cedo, amor.Meu peito é forte,Nele tenho acumulado tanta dor.As rugas fizeram residência no meu rostoNão choro pra ninguémMe ver sofrer de desgosto.

Eu que sempre soubeEsconder a minha mágoa.Nunca ninguém me viuCom os olhos rasos d'água.Finjo-me alegrePro meu pranto ninguém ver.Feliz aquele que sabe sofrer.

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Saudosa Maloca (Adoniran Barbosa)Demônios da Garoa - 1955

Si o senhor não "tá" lembradoDá licença de "contá"Que aqui onde agora estáEsse "edifício arto"Era uma casa véiaUm palacete assombradadoFoi aqui seu moçoQue eu, Mato Grosso e o JocaConstruímo nossa malocaMais, um diaNóis nem pode se alembráVeio os homi c'as ferramentasO dono mandô derrubáPeguemo todas nossas coisasE fumos pro meio da ruaAprecia a demoliçãoQue tristeza que nóis sentia

Cada táuba que caíaDuia no coraçãoMato Grosso quis gritáMas em cima eu falei:Os homis tá cá razãoNós arranja outro lugarSó se conformemo quando o Joca falou:"Deus dá o frio conforme o cobertor"E hoje nóis pega a páia nas grama do jardimE prá esquecê nóis cantemos assim:Saudosa maloca, maloca querida,Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidasSaudosa maloca,maloca querida,Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.

Primeiro sucesso de Adoniran, gravado pelos Demônios de Garoa em 1955. Adoniran já havia gravado antes como “Saudade da Maloca”. O grupo Demônios da Garoa conheceu a canção nos sets de filmagem de “O Cangaceiro”, quando Adoniran fazia um ponta no filme. Os Demônios formavam o coro dos cangaceiros.

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Samba do Arnesto (Adoniran Barbosa) - 1953

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no BrásNós fumos não encontremos ninguémNós voltermos com uma baita de uma reivaDa outra vez nós num vai maisNós não semos tatu!No outro dia encontremo com o ArnestoQue pediu desculpas mais

nós não aceitemosIsso não se faz, Arnesto, nós não se importaMas você devia ter ponhado um recado na portaUm recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperáAduvido que isso, num faz mar, num tem importância,Assinado em cruz porque não sei escrever"

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A voz do morro (Zé Keti)Jorge Goulart - 1956

Eu sou o sambaA voz do morro sou eu mesmo sim senhorQuero mostrar ao mundo que tenho valorEu sou o rei do terreiroEu sou o sambaSou natural daqui do Rio de JaneiroSou eu quem levo a alegria

Para milhões de corações brasileiros

Salve o samba, queremos sambaQuem está pedindo é a voz do povo de um paísSalve o samba, queremos sambaEssa melodia de um Brasil feliz

Foi o primeiro sucesso de Zé Keti, tendo sido incluída no filme “Rio 40 Graus”.